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123 R E S U M O Pretende‑se, com o presente trabalho, apresentar um conjunto de dados que se crê virem permitir um melhor enquadramento das ocupações do Castelo dos Mouros da Graça do Divor, no contexto da ocupação romana regional. A B S T R A C T This work will present new information regarding the architecture and cera‑ mic collection from the site of Castelo dos Mouros, Graça do Divor, Portugal. This new information will allow for a better understanding of the Roman occupation and better cla‑ rify the context of this site within the region. 1. Castelo dos Mouros: implantação e arquitectura 1 O Castelo (ou Cabeço) dos Mouros da Graça do Divor localiza‑se em pleno Alentejo Central, no concelho de Évora, a noroeste da cidade, junto da aldeia de N.ª Sr.ª da Graça do Divor (Fig. 1). Implanta‑se numa pequena, mas destacada, elevação de encostas suaves, com ampla visibilidade de Sudoeste a Nordeste, sobre a extensa planície da Ribeira do Divor (Figs. 2 e 3). Entre pequenos afloramentos graníticos, são bem visíveis dois troços de uma estrutura, cons‑ truída em grandes blocos “megalíticos” de granito, correspondentes, genericamente, aos lados sudeste e sudoeste, do que deveria ter sido um amplo recinto de planta quadrangular (Fig. 4). Os restantes lados ou foram completamente desmantelados, ou nunca foram efectivamente cons‑ truídos, tendo em conta que o afloramento emerge à superfície na maior parte da área onde se O Castelo dos Mouros (Graça do Divor, Évora): a arquitectura “ciclópica” romana e a romanização dos campos de Liberalitas Iulia Ebora RUI MATALOTO* A meu pai, João da Silveira, que partiu enquanto estas linhas eram escritas… S.T.T.L. REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 1. 2008, pp. 123-147

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R E S U M O Pretende‑se, com o presente trabalho, apresentar um conjunto de dados que se crê

virempermitirummelhorenquadramentodasocupaçõesdoCastelodosMourosdaGraça

doDivor,nocontextodaocupaçãoromanaregional.

A B S T R A C T Thisworkwillpresentnewinformationregardingthearchitectureandcera‑

mic collection from the site of Castelo dos Mouros, Graça do Divor, Portugal. This new

informationwillallowforabetterunderstandingoftheRomanoccupationandbettercla‑

rifythecontextofthissitewithintheregion.

1. Castelo dos Mouros: implantação e arquitectura1

OCastelo(ouCabeço)dosMourosdaGraçadoDivorlocaliza‑seemplenoAlentejoCentral,noconcelhodeÉvora,anoroestedacidade,juntodaaldeiadeN.ªSr.ªdaGraçadoDivor(Fig.1).Implanta‑senumapequena,masdestacada,elevaçãodeencostassuaves,comamplavisibilidadedeSudoesteaNordeste,sobreaextensaplaníciedaRibeiradoDivor(Figs.2e3).

Entrepequenosafloramentosgraníticos,sãobemvisíveisdoistroçosdeumaestrutura,cons‑truída em grandes blocos “megalíticos” de granito, correspondentes, genericamente, aos ladossudeste e sudoeste, do que deveria ter sido um amplo recinto de planta quadrangular (Fig. 4).Osrestantesladosouforamcompletamentedesmantelados,oununcaforamefectivamentecons‑truídos,tendoemcontaqueoafloramentoemergeàsuperfícienamaiorpartedaáreaondese

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RUIMATAlOTO*

A meu pai, João da Silveira, que partiu enquanto estas linhas eram escritas…

S.T.T.L.

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Fig. 1 localizaçãodoCastelodosMourosnoAltoAlentejo.

Fig. 2 localizaçãodoCastelodosMourosnaCMP448–1:25000.

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Fig. 3 VistageraldocabeçodoCastelodosMouros.

Fig. 4 levantamentotopográficodoCastelodosMouros(CME–2005).

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Fig. 5 VistageraldoladosudestedoCastelodosMouros(escalacom2m).

Fig. 6 VistageraldocantoestedoCastelodosMouros.

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implantam.Apenasumaintervençãoarqueológicapoderá,eventualmente,confirmarouinfirmarqualquerdestashipóteses.

Aestruturateria,aparentemente,umaplantarectangular,atendendoqueseconservamaindatrêsdoscantos,apresentando21,50mnoladosudeste(Figs.5e7)epertode25mnoladosudo‑este(Fig.8).Asparedesapresentamumaespessurabastanteconsiderável,comcercade1,70m,contandomaisde2,10mdealturamáximaconservada.

Oaparelhoutilizadoé,narealidade,oelementomaiscaracterísticodestaconstrução,aointe‑grarblocosdemuitograndedimensão(megalíticos),algunsdosquaisverdadeiramente“ciclópi‑cos”,apresentandomedidascomo:3mx1,80mx1,50m.Nogeral,osblocosforamapenastosca‑mente afeiçoados, de modo a obter um lado plano, utilizado nas faces da estrutura. Por vezes,algunsdelessurgemmaistrabalhados,nomeadamenteosdoscantos, tendosidoafeiçoadosdemodoaobterem‑seduasfacesplanas(Fig.6).Algunsblocosdoladosudesteparecemestarafei‑çoadosnabase,perfazendoumfrisoderemate.Osmurosseguematécnicadoduploparamento,preenchendo‑seoespaçorestantecomterraepedramenor;nalgunscasosaespessuradosblocosédetalordem,queestessurgememperpianho.

Aconstrução,apesardoseuarrobusto,érealizadaempedraseca,semrecursoaqualquerargamassaouligante,sendoosgrandesblocosniveladosporoutrosmenores,ousimplesmenteafeiçoadosdemodoaencaixarem.

Aescassezdemateriaiscerâmicosàsuperfície,talcomoaausênciadetaludesdederrubes,deixaescassamargemàcompreensãodomodocomooedifíciosedesenvolveriaemaltura,podendoterutilizadooumateriaisperecíveis,oumesmoterra.

Fig. 7 AlçadoSudestedoCastelodosMouros.

Fig. 8 AlçadosudoestedoCastelodosMouros.

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Emtornodoedifícioprincipal,esemfazerrecursoaumaparelho“megalítico”,épossívelobservarindíciosdeestruturas,emparticularnoladoPoente,quedãoaentenderqueaconstrução“megalítica”seintegrarianumconjuntoedificadomaisvastoediverso.

Emtodaaáreaimediataàconstrução,mesmoatendendoàfracavisibilidadedosolo,énotó‑riaaescassezdecerâmicaàsuperfície,dificultandoqualquertentativadirectadeintegraçãohistó‑ricadolocal.

2. Castelo dos Mouros: proposta de integração histórica

SeosindíciosarqueológicosrecolhidosnocerrodoCastelodosMourossãoescassos,jáasuaenvolventeimediataentregouumconjuntorelevantededados,quepermitemperspectivarumalongaocupaçãodeépocaromana,adjacenteaosítioqueaquinosocupa.

Numpequenointerflúvio,nãomaisde150a200masudoestedoCastelodosMouros,equeseestendeatépróximodeste,detectou‑seumaimportanteocupaçãoromana,dispersaporuma

Fig. 9 Fotografiaaérea(GoogleEarth),commanchadedispersãodosmateriaisarqueológicosemtornodoCastelodosMouros.

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vertentemuitoligeira.Asduaslinhasdeáguajuntodasquaisseverificaaocupaçãoencontram‑seactualmenteadesmontaraestratigrafiaarqueológica,indiciando,eventualmente,algumaaltera‑ção dos seus cursos, possivelmente provocada pela construção, a montante, das captações doDivor,queabasteceramacidadedeÉvora.

Adistribuiçãodoselementoscerâmicosàsuperfíciepermiteassinalarumaclaradiferencia‑çãonaáreadedispersãodaspresenças,entreumazonamaisasudoestedorecinto,relacionadacomumaocupaçãotardo‑republicana,eoutramaisasul,ondenossurgemmaisevidênciasdeépocaimperial(Fig.9).Comece‑seentãopelaáreamaisasudoeste.

Nestaáreaosmateriaisdeconstruçãoestãoquasetotalmenteausentes,sendonotóriaapre‑sençafrequentedecerâmicaregionalmorfologicamenteafimdascaracterísticasnofinaldaIdadedoFerro(Fig.10).

Fig. 10ConjuntocerâmicodeproduçãoregionalrecolhidonoCastelodosMouros.

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Aoníveldacerâmicaimportadaédedestacarapresençadecerâmicacampaniensedo“Cír‑culodaB”(Fabião,2001),aindaquenãosejapossíveldeterminaraforma,talcomoacontececomas cerâmicas de paredes finas. As presenças anfóricas encontram‑se mais bem representadas,estandodocumentadasproduçõesdaáreabética,querdovaledoGuadalquivirquerdabaíadeCádiz,mastambémlusitanas,aparentementedoTejo/Sado,quesetratarãomaisempormenoremseguida.

AáreaasuldoCastelodosMouros,aindaqueabsolutamentecontíguaàanterior,apresentaassinaláveisdiferençasaoentregarumconjuntobastantemaisafimdasbaixelascerâmicasroma‑nasdeépocaimperial(Pinto,2003),paraalémdaspresençasdeterrasigillatadeproduçãogálicaehispânica.Apresençademateriaisdeconstrução,ausentesnaáreaanterior,emesmorarosjuntoaorecinto,parecereforçarestedesfasamentocronológicoentreosváriosespaços.

OprocessohistóricodoCastelodosMouros,atendendoàsocupaçõesdetectadasnasimedia‑ções,parecedesenrolar‑seentreosfinaisdaRepúblicaeoprimeiroséculodoImpério,acompa‑nhandoainstalaçãodomundoprovincialromanonoagerdeLiberalitas Iulia Ebora.

3. As produções anfóricas do Castelo dos Mouros no contexto dos fortins alentejanos: breve perspectiva

DeentreoconjuntodemateriaisrecolhidonasimediaçõesdoCastelodosMourosdestaca‑seumconjuntodeânforasque,pelasuadiversidade,significadocronológicoeeconómicoimportatratarcommaiordetalhe.

NasimediaçõesdoCastelodosMourosrecolheram‑se,emtrabalhosdeprospecçãodesuper‑fície,maisdeumadezenadefragmentosdebordodeânforaseoutrostantosfragmentosdeasasefundos,aindaquetratemosaquiapenasdosprimeiros.

Asproduçõesbéticasparecemcorresponder,principalmente,àsmaisantigasânforasovóidesoleícolasprovenientesdoGuadalquivir(Fabião,2000,p.667)(Fig.11).Asmaisfrequentesaproxi‑mam‑seda“unusualsmallvariant”daHaltern70(Classe15),aoapresentarempequenoslábiosdefita(Peacock&Williams,1986,p.115),enquadráveisnoGrupoIXdeAlmeida(2006,p.82),demarcada heterogeneidade. Esta variante tem vindo a ser assinalada como uma produção autó‑noma,associávelàClasse24,paralelaàsmaisusuaisHaltern70,aindaquesejabastantecomplexaasuaidentificaçãorecorrendoapenasaosfragmentosdebordo.Apardestas,documentou‑seumaoutraânfora,provavelmenteenquadrávelnaClasse24,masdebordodistinto,peroladoenãoemfitacomoosanteriores,afimdasânforasOberaden83,associáveisaosmaisantigoscontentoresoleícolasbéticos(Almeida,2006,p.85)(Fig.11,1).

AsânforasHaltern70(Classe15)ouGrupoVIdeAlmeida(2006,p.59)estãoigualmenteaquiregistadas,indiciando,provavelmente,aimportaçãodevinhoemcontentoresproduzidosnabaciadoGuadalquivir(Fig.11,3e5).

AsproduçõesanfóricasdaBéticacosteira,nomeadamentedabaíadeCádis,estãodocumen‑tadasapenasporfragmentosdebojo,nãosendopossívelreconhecerotipodecontentor.

Asrestantesânforascorrespondemaproduçõeslusitanas,aparentementedoTejo/Sado(Fig.12),integráveisnasmaisantigasproduçõesanfóricasdestaregiãocommorfologiadetiporomano,quetêmvindoasersistematizadasmuitorecentemente(Morais&Fabião,2007),apesardosdiver‑sosindíciosjáassinalados(Fabião,2004).

Aindaqueregistegrandesemelhançarelativamenteadiversostiposdecontentor,aoníveldobordoepartedodesenvolvimentodocolo,nomeadamenteafinsdasClasse15e16,emparticular

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dasHaltern70eDressel7(Morais&Fabião,2007),estáaindabastanteinseguraadefiniçãodascaracterísticasespecíficasdosdiferentesmorfótipos,longedeseresumiremàformalusitana12de Diogo (1987, p. 182); assim, e dada a escassez de exemplares inteiros, o que, a par de umaenormevariabilidadedosbordos(Pimenta&al.,2007,304),impõesériasrestriçõesàatribuiçãodeumadesignaçãoespecífica,sendoconvenienteasuareuniãosobadesignaçãogenéricade“ânforasovóides”lusitanas(Pimenta&al.,2007,p.304).

Julgoimportanteassinalarque,nocasodoCastelodosMouros,mesmotratando‑sedeumdiminutoconjuntodesuperfície,semqualquerpretensãoderepresentatividade,nãodeixadesersignificativoque,nummomentoaparentementeantigoaspresençaslusitanasseequiparememnúmero às importações da Bética. Por outro lado, se as presenças béticas parecem resultar da

Fig. 11ÂnforasproduzidasnaBética(Guadalquivir)recolhidasnoCastelodosMouros.

Fig. 12ÂnforaslusitanasprovenientesdoCastelodosMourosdaGraçadoDivor.

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importaçãodevinhoe/ouazeite,jáaspresençaslusitanaspoderãoestarassociadasàimportaçãodeprodutospiscícolas,indiciandodesdemomentosantigosumaimportanteáreaprodutoranafachadaatlântica.

Estemesmopanoramadepresençastemvindoaserregistadoemdiversosfortinsalentejanos(Mataloto,2002,2004),paraalémdafortificaçãodoCastelodalousa,ondeseencontrambemdocumentadas(Morais&Fabião,2007,p.130),tudoemcronologiasqueapontamparaasúltimasdécadasdoséculoIa.C.,talvezmesmoemmomentospré‑augustanos.

Comoseafirmou,noessencial,osrestantesfortinsalentejanosacompanhamgenericamenteopanoramatraçadoparaoconjuntodeânforasdoCastelodosMouros.Noentanto,esemesque‑cermosqueestamosatratarcomrealidadesmuitoparcelares,resultantesderecolhasdesuperfície,épossívelvislumbraralgumasdiferençasnosdiversosconjuntosanfóricosreunidos.

Destemodo,osítiodosSoeiros(Arraiolos)apresentaumarealidade,aparentemente,maispróximadosmeadosdoséculoIa.C.,justamenteporseroúnicoondeseregistouapresençadeânforas da Classe 67, a par de diversos exemplares genericamente enquadráveis na Classe 24 e

Fig. 13ÂnforasproduzidasnaBética(Guadalquivir)recolhidasnofortimdoCaladinho.

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Classe15(Haltern70)(Calado,Deus&Mataloto,1999;Mataloto,2002),todasprovenientesdoscentrosprodutoresdoGuadalquivir.Todavia,tambémaquifoipossívelregistarapresençadeumoudoisexemplaresdeproduçõeslusitanas,debordotriangular,afimdasDressel7(Fig.14,7).

OfortimdoCaladinho(Redondo)parece,efectivamente,reportar‑seaummomentoligeira‑menteposterior,estandodominadopelaspresençasanfóricasbéticasdoGuadalquivir,dasClasses15(Haltern70),dasânforas“ovóides”daBética,odesignadoGrupoIXdeAlmeida(2006,p.82)afinsdaClasse24ou“unusualsmallvariant”dasHaltern70eClasse16(Dressel7‑11);surgeaindaumexemplardeumaClasse5(Dressel1C),igualmenteproduzidonoscentrosoleirosdoGuadalquivir(Fig.13).Apardestasdocumentam‑sediversosfragmentosdebordo,mastambémasasefundos,deânforasdeproduçãolusitanaque,atendendoaoscaracterísticosbordosmolduradoseemfita,clara‑menteseintegramnasprimeirasproduçõeslusitanas(Morais&Fabião,2007)(Fig.14).

Nosrestantescasosconhecidos,aspresençasanfóricasestãomuitoescassamentedocumen‑tadas,casodoMontedoAlmoouSantaJusta,comapenas1exemplarcadaque,todavia,seinte‑

Fig. 14Ânforaslusitanasprovenientesdosfortinsalentejanos(1‑5–Caladinho;6–Sempre‑Noiva;7–Soeiros;8–MontedoAlmo;9–OuteirodaMina(seg.Boaventura&Banha,2006,p.391).

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gram igualmente dentro destas produções antigas da lusitânia. No sítio do Penedo do Ferrorecolheu‑seapenasumaânforadaClasse15(Haltern70),produzidanoscentrosdoGuadalquivir.Importanteserá,igualmente,mencionaraidentificaçãonorecinto‑torredoOuteirodaMinadeumfragmentodebojocomamarcaSIlVIapostajuntoàbasedeumaasa(Boaventura&Banha,2006),característicaquepareceacompanharasmaisantigasproduçõeslusitanas(Morais&Fabião,2007),tendosidointegradapelosautoresnaClasse20/21.

As presenças anfóricas nos fortins alentejanos parecem traçar‑nos um panorama, para osúltimosdecéniosdoséculoIa.C.eaviragemdaEra,ondeéclaroodomíniodasproduçõesbéticasdoGuadalquivir,quedeveriamasseguraradistribuiçãoregionaldeprodutosimportadoscomoovinhoouoazeite(Fig.13).Julgoaindapertinenteefectuarumbreveapontamentosobreasredesde distribuição actuantes nesta região. Em Scallabis (Santarém), importante colónia e porto nointeriordoestuáriodoTejo,documentou‑seumclaropredomíniodasimportaçõesdaBéticacos‑teira nestes momentos derradeiros do século I a.C., e mesmo durante grande parte do séculoseguinte(Arruda,Viegas&Bargão,2005,p.295),enquantoosdadosrecolhidosnosfortinsdoAltoAlentejoevidenciamumfluxocomercialclaramentedevedordoscentrosprodutoresdoGua‑dalquivir,oqueacabapornostraduzirosdiversosritmosecanaisdedistribuiçãopresentesnoSuldafachadaatlânticapeninsular,eventualmenterelacionadoscomocarizdecadacentroreceptor.

Apardestasproduçõescomeçaaemergirumanovarealidade,queganhaforçamaispróximodaviragemdaEra,ondeasânforasdeorigemlusitanasetornarãomaispresentes,provavelmenterelacionadas com a distribuição de preparados piscícolas, produzidos já em ampla escala nafachadaatlântica(Fig.14).

Narealidade,aindaqueestafaseantigadeproduçãosejadeidentificaçãoevaloraçãorelati‑vamenterecente,têm‑semultiplicadoostrabalhosondeestesmorfótipostêmvindoaserregista‑dos, um pouco por todo o território nacional, desde Braga e foz do Douro (Morais & Fabião,2007),aSantarém(Arruda,Viegas&Bargão,2006),VilaFrancadeXiraeCoruche (Quaresma,2005;Quaresma&Calais,2005),AlcácerdoSal(Pimenta&al.,2006)atéaointerioralentejano,noCastelodalousa(Morais&Fabião,2007),paraalémdosexemplaresagoradadosaconhecer.EstaspresençasnoscentrosdeconsumoforamantecedidaspeladocumentaçãodasmaisantigasfasesdeproduçãolusitanaemalgunscentrosprodutoresdoSado,principalmenteemAbul,nadesig‑nadafasedeensaio(Mayet&Silva,2002),Setúbal(Fabião,2004,p.392)ouPinheiro,apesardemenosbemdocumentada(Mayet&Silva,1998).ParaalémdoBaixoSadoestasproduçõesantigas,afinsdasClasses15e16daBética,surgemdocumentadasnosfornosdoMorraçaldaAjuda,emPeniche(Fabião,2004,p.388),sendobastanteprovávelasuaproduçãoigualmentenoTejo(Fabião,2004,p.402).

Estepanorama,declaropredomíniodasproduçõesdoGuadalquivir,sofreráalterações,comoevidentedecréscimodasuapresençanasrealidadesruraisdomundoprovincialromano,estuda‑dasnoAlentejo.Nestesentidoapontaoestudorealizadoemtrêsvillaedoterritórioalentejano(Tourega,MontedaCegonhaeSãoCucufate)(Pinto&lopes,2006,p.220),nãodesmentidoemoutrostrabalhossobreconjuntosmenosnumerosos(Boaventura&Banha,2006;Almeida&Car‑valho,1998).Efectivamente,estaalteração,comobemsustentamaquelasautoras,naesteiradeoutras(Mayet&Schmitt,1997),deveráemboamedidaresultardaconsolidaçãodeumaeconomiaprodutora, onde os principais produtos originários do Guadalquivir, vinho e azeite, passam adesempenharumpapelrelevantenaproduçãoagrícolaregional.Poroutrolado,aconsolidaçãodafachadaatlânticadoactualterritórioportuguêscomoumagrandeáreaprodutoradepreparadospiscícolas(Fabião,2004),desdecedosetraduziránocrescendodaspresençasanfóricasqueenva‑samestesprodutos,ganhandoapartirdaviragemdaEraumefectivodomínio.

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Todavia,apresençadeimportaçõesorigináriasdaBéticamanter‑se‑áaindalongamente,parti‑cularmenterelacionadacomadistribuiçãodeprodutosoleícolas,mastambémpiscícolas,comofoipossíveltestemunharparaasjácitadasvillae,principalmentedoBaixoAlentejo,sendoaspresençasmenossignificativasnoterritórioalto‑alentejano(Pinto&lopes,2006,p.218),deixandoclaroosdiversosritmoseredesdedistribuiçãodoscitadosprodutosnoSuldoactualterritórionacional.

Noentanto,seoenormedomíniodaspresençaslusitanasnavilladaTouregaéinterpretadocomoresultantedaproximidadequerdadesembocaduradoTejo/Sado,querdaviaOlisipo–Eme-rita,jáosdadoscoligidosnoconcelhodeRedondo,ondesesituamdiversosdosfortinsaquiapon‑tados,aindaquenãocontrariemestatendência,parecemapontarparaumapresença,noAltoeBaixoImpério,deumimportanteafluxodeânforasorigináriasdoSulpeninsular.Assim,aindaqueapresençadecontentoresdepreparadospiscícolasproduzidosnalusitâniapredominenocontextodasrecolhasefectuadasnasdiversasvillaedoconcelho,foipossíveldocumentaremboapartedelasânforasdeimportaçãodoGuadalquivir,eemmenornúmerodaBéticacosteira,casodoAzinhalinho,SantaSusana,Capela,MontedaIgreja,entreoutras(Calado&Mataloto,2001)(Fig.15).NocasodoscontentoresoleícolasdaBéticaasuamaiorpresençajátinhasidoefectiva‑

Fig. 15Ânforasproduzidasnalusitânia(1a6)enaBética(Guadalquivir7a11ecosteira12e13)recolhidasemdiversasvillaedosarredoresdeÉvora(Faia,Redondo–1,2e4;Azinhalinho,Redondo–3,512e13;SantaSusana,Redondo–6,10e11;SantaJusta,Arraiolos–7;MontedaIgreja,Redondo–8;Capela,Redondo–9.ÂnforasClasse23(Almagro51c)–1e2;Classe22(Almagro50)–3,12(?)e13;Classe20/21(Dressel14)–5e6;Classe25(Dressel20)–7a11.

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menteproposta,querparaoscontextosurbanos,quermesmorurais(Fabião,1993‑1994).Estesencontram‑semesmopresentesemtodasasvillaeondeseefectuaramrecolhassignificativas(SantaSusana,Capela,AzinhalinhoeMontedaIgreja).

Destemodo,eaindaqueapartirdaviragemdaErasereconheçaoefectivodomíniodaspre‑sençasanfóricasdepreparadospiscícolaslusitanos,continuamaafluiraestasparagensdointe‑rior alentejano diversos produtos originários do Sul peninsular, perpetuando antigos fluxoscomerciaisque,porvezes,emalgumasregiões,casodaáreadeSerpa(Norton,Cardoso&Carva‑lhosa,2006),talvezpelaproximidadedeumGuadiananavegávelatéMértola,assumempresençasverdadeiramenteinusitadas,assinalandoosdiversosritmosefluxosdequeserevesteoabasteci‑mentodeprodutosaomundoprovincialromanodoSudoestepeninsular.

4. Arquitectura “megalítica” romana: os arredores de Évora e o seu contexto peninsular

OCastelodosMourosdaGraçadoDivorfoirecentementeintegradoeinterpretadonocon‑textodaquiloquesedesignouporfortinsalentejanos(Mataloto,2002,2004).Estescorrespondemaumconjuntodeinstalaçõesdecarizdiversoquepartilhamcaracterísticascomoapresençadeumedifícioquadrangularemposiçãocentraloudestacadaeáreasrelativamentemodestas,instaladosemmeioruralapartirdoterceiroquarteldoséculoIa.C.Segundoaúltimaproposta(Mataloto,2004),poderíamossubdividirestasrealidadesarquitectónicasemquatrotiposdistintos:redutosfortificados,torres,casasforteserecintos‑torre,ondeseenquadraosítioaquiemestudo.Nestemomento,conhecem‑semaisdetrêsdezenasdestesfortinsemtodooAltoAlentejo,estandocons‑cientedoenormetrabalhodeidentificaçãoqueaindanosrestaporfazer.

OCastelodosMourosencontra‑se,então,profundamenteintegradonumcontextolocaleregionaldensamenteocupadoporinstalaçõesdotipofortim,queassumemumamanifestadiver‑sidadearquitectónica(Mataloto,2002,2004).

Se,narealidade,creiotratar‑sedeumúnicofenómenodepovoamento,nãodeixamdereves‑tircaracterísticasmuitoespecíficas,quepermitemumaabordagemparcelar,compreendendo‑osnassuasespecificidadeseidiossincrasias.

Osrecintos‑torreconstituem,pelassuascaracterísticasconstrutivasepeloseuaparelhodegrandedimensão,entidadesarquitectónicasbastantepeculiaresedegrandevisibilidadequeentraram,toda‑via,tardenabibliografiadaregiãodeÉvora(Calado,1996).NoSulpeninsular,concretamentenaAltaAndaluziaeBaixaExtremadura,pelomenosdesdeosanos70quesevinhadandoaconhecerumcon‑juntoderealidadesemtudosemelhantesàsconhecidashojenaregiãodeÉvora.OstrabalhosdeFortea&Bernier(1970)sobreosrecintosdaBéticaforamverdadeiramentepioneiros,abrindoumcaminhoqueapenasanosmaistardeseviriaaalargaraoSuldaExtremadura,comostrabalhosdesenvolvidosnaáreadelaSerena(RodríguezDíaz&OrtizRomero,1989),ondeseregistaramváriosrecintos“cicló‑picos”.Terásidojustamentecomestestrabalhosquesecomeçouainstituiradesignaçãoderecintos‑‑torre,que,apesardascríticas(Moret,1995,1999),creioaindasemanteroperativa.

Noterritórioalto‑alentejanosãoconhecidos,atéaomomento,quatrooucincodestesedifí‑cios: Outeiro da Mina (Monforte), Mariano (Sousel), Sempre‑Noiva (Arraiolos), Castelo dosMouros(Évora)eoCastelodoMauVizinho(Arraiolos)(Fig.16)cujaintegraçãonestegruponãoépacífica(Mataloto,2002,p.209).Numprimeirotrabalhosobreos“recintosciclópicos”daregiãode Évora (Calado, 1996) surgiram ainda registados outros edifícios (Vale d’El Rei, Santa Justa,Cortes,etc.)que,emminhaopinião,nãoseintegramnesteconjunto,masemoutrostiposdefor‑tins,talcomojátiveoportunidadedeassinalar(Mataloto,2002,p.196).

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Estando dois destes monumentos no concelho de Évora (Castelo dos Mouros e Sempre‑‑Noiva),umnoconcelhodeSousel(Mariano)eoutronoconcelhodeMonforte(OuteirodaMina),poucosepodealegarsobreumaqualquerrelaçãogeográficaefectiva,quefizessepressuporumaestratégiadeocupaçãocomumaestasrealidadesarquitectónicas.

Osrecintos‑torresão,talcomooCastelodosMouros,estruturasdeplantaquadrangulareáreareduzidaquesecaracterizampelautilizaçãodeumaparelhodemuitograndedimensão,emgeraltoscamenteafeiçoado,fazendoporvezesusodeblocosapenasreajustadosdasualocalizaçãooriginal.Osedifíciosdestetipolocalizam‑sesempreemsítiospoucodestacados,ligeiraslombasnoterrenooupequenasrechãs,semqualquerpreocupaçãodefensivamas,comalgumdomíniodepaisagem;ocasodoOuteirodaMinaé,todavia,distinto,aosituar‑senofundodeumvale,quelherestringebastanteavisibilidadeenvolventeedificultaadefensibilidade.

Aarquitecturadosrecintos‑torresegue,genericamente,oconceitoeaorganizaçãoqueencon‑tramosnosrestantesfortins,principalmentenastorres(Mataloto,2002,2004),aindaqueautili‑zaçãodosingularaparelhodegrandesdimensõesconfiraumenormedestaqueerobustezaoedi‑fíciocentral.Emdiversassituaçõesosblocossãoapenasafeiçoadosnumaúnicafaceou,nolimite,apenasremobilizadosdoseulocaldeorigemeintegradosnaestruturasemqualquertratamento,comoficabempatentenorecintodoMariano,emSousel.NorecintodaSempre‑Noiva foramdetectadosentalhesdeencaixe,quevisavamofortalecimentodaestrutura,realizada,emqualquercaso,semqualquerauxíliodeargamassas.

Apesardasuaespecificidadearquitectónica,osrecintos‑torreapresentamdimensõesrelativa‑mentesimilaresaosrestantesfortins,oscilandoasuaáreainternaentreos180eos500m2,excepto

Fig. 16Recintos‑torredoAltoAlentejo:1–OuteirodaMina(Monforte);2–Mariano(Sousel);3–Sempre‑Noiva(Évora);4–CastelodoMauVizinho(Arraiolos).

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noOuteirodaMina,ondeorecintodeaparelho“megalítico”abrangequase1500m2;nestecasoconcreto,nointeriordaáreaconstruída,regista‑seapresençadeumapossíveltorre,cujasdimen‑sõesseassemelhambastanteàáreainternadosrestantesrecintos.

Emtornodagrandeestruturadetectam‑secomfrequênciaindíciosdeocupação,porvezesassociadosaestruturasdemenorentidadevisível,demonstrandoquenãoseencontravaisolada,antescentralizavaoespaçoedificado,querarasvezesexcederiaomilhardemetrosquadrados.

Estasestruturassãobemvisíveisnosrecintos‑torredoCastelodoMourosedoMariano,indi‑ciandoapresençadeedificaçõesenvolventes.

Ostrabalhoslevadosaefeitonosrecintos‑torredaExtremadura,emparticularemHijovejo,permitiramconfirmarapresençadeváriasestruturasedificadasemtornodatorrecentral(OrtizRomero&RodríguezDíaz,1998,p.269)que,todavia,nocasovertente,pertencememboaparteaummomentotardiodaocupação,quandoorecintoseapresentavajádesactivadodasuafunçãoinicial(RodríguezDíaz&OrtizRomero,2003,p.245).

Aorigemdestepeculiarmododeconstruir (“ciclópico”)foi járastreadaqueremcontextopeninsular,quernocontextomaisalargadodoOcidentemediterrâneo(Moret,1999).Esteautor,bastanteconhecedordasrealidadesindígenas,afastaterminantementequalorigemlocaldo“ciclo‑peísmo” construtivo (Moret, 1999, p. 67), assinalando a grande proximidade das construçõespeninsularescomalgumasedificaçõesdapenínsulaitálica(Moret,1999,p.67).Noentanto,nãocreio que a utilização deste aparelho construtivo resulte de uma qualquer intenção ditada porqualquercânoneconstrutivoqueseconsigarastrear,sendoessencialmenteprodutodaeconomiadamatéria‑prima,istoé,dadisponibilidadelocaldegrandesblocos,queapenastoscamenteafei‑çoados e ligeiramente deslocados, permitiriam a edificação de estruturas com esta dimensão erobustez(Fabião,1998,p.286).Estamesmaadaptaçãoàscondiçõeslocaisépropostaparaascons‑truções itálicas(Moret,1999),peloquesepodedepreendertratar‑semaisdeumdeterminismogeográficoqueummododeconstruçãoculturalmenteenraizado.

Todavia,comooúltimoautorbemrealça,existemclarasafinidadesentreestasdiversasreali‑dades,paraalémdoaparelho,comosãoaplantacompacta,aenormerobustezdaconstrução,ainstalaçãoemáreasperiféricaseoespectrocronológico,atransiçãoentreaRepúblicaeoImpério(Moret,1999,p.67),peloquepodeefectivamenteexistirumaraizcomumentreasconstruçõesitálicaseaspeninsulares.

Afuncionalidadedestesedifíciosédifícildediscernir,emgrandemedidadevidoàausênciadetrabalhosaprofundadosdeescavação.Ascaracterísticasarquitectónicaseaimplantaçãotopo‑gráficasãovariáveisquepodempermitirumaaproximaçãoàfuncionalidadedecadaumdeles,todavia,adiversidadedesoluçõesapresentadaseaescassezderecintos‑torreconhecidos,limitadesobremaneiraasleituraspossíveis.Aimponênciadoaparelhoconstrutivoconfere‑lheumaspectofortificado,turriforme,bastantecoerentecomumaprovávelfunçãodefensivaoudevigilância,aqualsecoadunapoucocomaimplantaçãotopográficaemlocaispoucoelevados.Autilizaçãodeumaparelhodegrandesdimensões,comblocosgeralmentepoucoafeiçoados,efectivandoumaestruturabastantesólida,deexecuçãoaparentementeexpedita,poderiaapontarparaperíodosdegrandeinstabilidade,ondesejustificasseaconstruçãorápidadeestruturasrobustas,comintuitodefensivo.

Umafunçãodecaráctermais“civil”,parece‑mecoadunar‑sepoucocomumaparelhodegran‑desdimensõeseumaconstruçãopoucocuidada,comoaconteceemváriosdeles.Poroutrolado,asuaimplantaçãoemáreaspoucodeclivosastornadesnecessáriaapresençadepotentesembasa‑mentosoumurosdecontençãodeterras,queemoutrassituaçõesparecemjustificarorecursoatãoimponenteaparelho.Asuaimplantaçãoemligeiraselevaçõesouáreasaplanadas,fronteirasa

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bonssolosagrícolas,poderáindiciarumafunçãocivil,agrícola.EstespoderãoserasverdadeirasvillaefortificadasquetantosequisvernoCastelodalousaounoscastellabaixo‑alentejanos(Wahl,1985; Alarcão, 1988); todavia, esta interpretação parece‑me demasiadamente linear, na justamedidaquenãodisponibilizaumaclaraleituradetodasasrealidadesidentificadas,nãojustifi‑cando, igualmente, a sua ausência em áreas de grande fertilidade agrícola, que posteriormenteviriamaconhecerumintensopovoamentoruralaolongodetodooImpério.Aproximidadedebonssolosagrícolasfavoreceu,certamente,aintegraçãodesteslocaisemgrandesvillae,masjánumcontextosocialeeconómicocompletamentediferentedaquelequepareceterassistidoàsuafun‑dação.OcasoespecíficodoOuteirodaMina(Monforte),situadonofundodovale,juntodeumvau,numpequenoesporãocomalgumadefensabilidadeparaSul,demonstraclaramentequeainstalaçãoderecintos‑torredeveriaresultardaconjugaçãodediversasvariáveis,aindadifíceisdeisolar,enãounicamentedapresençadebonssolosagrícolas.

Nos casos onde, efectivamente, se encontram vestígios de amplas villae na envolvente dosrecintos‑torre (caso da Sempre‑Noiva), pode‑se estar perante um fenómeno de aglutinação daestrutura central, enquanto edificação de prestígio, tal como parece ter acontecido no caso daTorredeCentumCelas(Frade,1993‑1994).Noentanto,ofactodealgunsrecintos‑torrealenteja‑nosnãoseencontraremintegradosemamplosconjuntosarquitectónicosdotipovillae,casodoMarianooudoOuteirodaMina,deixabemclaro,creio,queomóbildaconstruçãodeedifícioscom estas características não estaria, obrigatoriamente, associado à componente áulica da pars urbanadasvillaealentejanas.

Assituaçõesondesedeuasoluçãodecontinuidadenaocupaçãopoderiamevidenciarumatentativafalhadadeexploraçãodoterritório.OsítiodoOuteirodaMina,aoimplantar‑sejuntodeumimportantevaudaRibeiradeAlmuro, sobreoqualdetémalgumadefensabilidade,poderáevidenciarumafunçãodiversaparaosrecintos‑torre.Esterecintopareceimplantar‑se,apardosfortinsdoPenedodoFerro,MalhadadasPenaseBeiçudos,aolongodeumaviadetransitabilidadenaturalSE‑NW,acompanhandoocursodaRibeiradoAlmuro/RibeiraGrande,dosquaisconsti‑tuiriam pontos de controlo em lugares‑chave. Assim, numa perspectiva geral, os recintos‑torrepoderão ter desempenhado funções diversas, respondendo a estímulos distintos e localizados,variando em função das condicionantes imediatas. Deste modo, a sua distribuição não deveráassociar‑seaqualquerrealidadeúnica,ouemrespostaaumafunçãoespecífica,antesrepresentaumdosmodospossíveisdeinstalaçãoemmeiorural,apardosrestantesfortins,nummomentoprecoceda“romanização”doscampos.Aúnicacondicionantequepareceinfluenciaradistribui‑çãodestesedifícioséadisponibilidadedematéria‑prima,nãosetendoregistadoqualquercasodedescontextualizaçãogeológicadestasedificações.

Aanálisedafunçãodesempenhadapelosrecintos‑torreestácertamenterelacionadacomasuacronologiadeocupação,tornando‑se,então,absolutamentefulcraldeterminarocontextohis‑tóricoespecíficoemquesedesenvolvem.

Creioquesecomeçaadispordeumconjuntosuficientementesólidodedadosquepermitaassegurarasuainstalaçãodosrecintos‑torreaolongoda2.ªmetadedoséculoIa.C.,talvezcommaiorincidêncianosfinaisdo3.ºenoúltimoquartel,acompanhandoatendênciageralreconhe‑cidanoconjuntodosfortinsalentejanos(Mataloto,2002).

OsdadosdisponíveisparaaenvolventedoCastelodosMourosparecemcoadunar‑secomestatendência,bastantemaisbemdefinidanorecintodoMariano,comidênticoperfilcronoló‑gico(Mataloto,2002,2004).

Seoiníciodofenómenoconstrutivoapresentaapenasalgunsindícios,ofinalnãoparecesermenosproblemático,devidoàescassezdedadosmanifestadapelamaioriadestesedifícioseaofacto

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deváriosdelesestaremintegradosemvillae.Aodesconhecer‑seoseumomentodefundaçãotorna‑seextremamentedifícil,semrecursoaescavações,isolaromomento,seéquealgumavezexistiu,emqueperdemafuncionalidade iniciale, talcomocreio,são integradosnumaestruturaprodutiva/habitacionalmaisampla,avilla.Orecinto‑torredoMarianopareceser,comojáseapontou,paradig‑mático,aoentregarumconjuntodemateriaisexclusivamentedofinaldoperíodorepublicano,evi‑denciandoumaocupaçãomuitocurtanotempo.Peranteestefacto,épossívelqueosrecintos‑torreperdessemasuafuncionalidadeespecíficamuitorapidamente,permanecendoalgunsocupadosporrazõesdistintasdaoriginal.Orecinto ‑torredeHijovejo,naExtremaduraespanhola,pareceterconhe‑cidoumprocessoidêntico,encontrando‑seabandonadoeparcialmentedesmanteladoquandofoiintegradonocomplexohabitacionalimperial(RodríguezDíaz&OrtizRomero,2003).Alocalizaçãodestasedificaçõesemáreasdegranderiquezaagrícolapoderiajustificarnãosóasuafundação,mastambémacontinuidadedeocupação,mesmoquetalimplicasseligeirasdeslocaçõesdosconjuntosedificados,comoparecemapontarosdadosaquiavançados.

Osrestantesfortins,talvezàexcepçãodascasasfortes,nãoparecemteracompanhadoesteprocessodeintegraçãonoMundoprovincialromano,sendonasuamaioriaabandonadosdefini‑tivamenteantes,ounaviragemdaEra,apósocupaçõescronologicamenterestritas.Asualocaliza‑çãoemásperosalcantiladosrochososouemdestacadasserranias,poucosecoadunacomainsta‑laçãodoMundoruralromano,declaravertenteagropecuária.

Julgoaindarelevanteefectuarumabrevemençãoàsrealidades“megalíticas”romanasemmeioruralconhecidasnoSulpeninsular,principalmentenaáreameridionaldoterritórioextremenhoedoAltoGuadalquivir,favorecendoummelhorenquadramentodoconjuntoaltoalentejano.

Aindaantesdeavançarparaoterritórioextremenhoseránecessárioassinalarapresença,porenquanto isolada, de um destes recintos em território baixo‑alentejano, em Ferreira do Alentejo(Fabião,Norton&Cardoso,1997),indiciandocomclarezaummaiorespectrodedistribuiçãodestasrealidadesnoactualterritórionacional,aindalargamenteencobertopelageografiadainvestigação.

OrecintodaCasaBranca,talqualodescrevemosseusautores,apresentaclarassemelhançascomosaltoalentejanos,aindaqueassumadimensõesbemsuperiores.Oaparelhodeconstruçãoéigualmente de grande dimensão e pouco afeiçoado, assumindo um espectro cronológico clara‑mentetardo‑republicano(Fabião,Norton&Cardoso,1997,p.39),talcomovemsendopropostoparaosrecintos‑torrealto‑alentejanos.

Aáreaextremenhatemassumidoumpapeldevanguardanoestudodestasrealidades“cicló‑picas”deépocaromana,apresentandooúnicodestesmonumentosescavadoemextensãoatéaomomento,Hijovejo (RodríguezDíaz&OrtizRomero,2003).Trata‑sedeumgranderecintodeplantaquadrangularinstaladosobreumenormebatólitogranítico,dotadodeumconjuntodeconstruçõesperiféricasqueseforaminstalandoprogressivamente.Osautoresremetemasuafun‑daçãoparaoprimeiroquarteldoséculoIa.C.,relacionando‑ocomoprimeiroperíododasGuerrasCivisromanas,aindaquesedesconheçaemquesebaseiamparatãorecuadadatação.Poroutrolado,assumemqueosmaisdetrintarecintosconhecidosnaregiãoextremenhadelaSerenacor‑responderão, na sua maioria, a um único movimento de instalação desenvolvido durante essemomento, decorrente de um qualquer plano de patrulhamento de toda esta comarca mineira(RodríguezDíaz&OrtizRomero,2003).

Estaé,defacto,umapropostabastantesugestiva,quepermitiriaenquadrarglobalmenteosrecintos “ciclópicos” da área de la Serena, dando‑lhe uma unidade crono‑funcional difícil deentrever,destaforma,noterritórioalentejano.

Noentanto,avisitaquetiveoportunidadedeefectuaradiversosdesterecintosextremenhos2

deixouumaimagemsobejamentedistintadacoerênciadogrupo.Nestemomento,julgomanifes‑

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tamenteprementeumarevisãoeseriaçãoefectivadetodooconjunto,quepermita,talcomoacon‑teceu em território alentejano, uma maior caracterização por grupos, na justa medida em quediversasdestasinstalaçõesnãosão,detodo,construções“ciclópicas”,sendopatenteadiferençaentreedifíciosdotipoHijovejoouDehesaBoyal,faceaoutroscomoAvenosooumesmoRincónPorquero1e2,quemuitodificilmentesepoderãosequer incluirnacategoriaderecintos‑torre(Fig.17).

Destemodo,creioqueseráderever,oudocumentarmelhor,apretensaunidadedoconjunto,easuafuncionalidadeprimáriaenquantorededepatrulhamentoevigiadetodaaregião.Narea‑lidade,nostrabalhosmaisantigosestaunidadedoconjuntoerabemmenospatente,deixando‑seentrever a enorme diversidade de soluções arquitectónicas inerentes aos recintos de la Serena(OrtizRomero,1991).

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Fig. 17Recintos‑torredaExtremadura(laSerena):1–Hijovejo;2–DehesaBoyal;3–CanchoRoano;4–Avenoso;5–RincónPorquero2;6–RincónPorquero1.

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AsedificaçõesandaluzasdoAltoGuadalquivirsofrem,creio,deidênticoproblema.Apesardosintensoserelevantesestudosdesenvolvidosnosúltimosanos(Moret,1995,1999,2004),queemmuitocontribuíramparaaintensificaçãododebate,eparaumesclarecimentomaiscabaldopossívelenquadramentohistóricodestasedificações.

Asconstruçõesandaluzasapresentam,geralmente,umamuitomaiorqualidadeconstrutivaqueascongéneresmaisocidentais,integrandoumverdadeiroopus quadratum,maisraronoAlen‑tejo,aindaquesigamummesmoconceitoarquitectónico.SegundoP.Moret(1995,1999),opro‑cessodeinstalaçãodosrecintosandaluzesemmeioruralteriadecorridoapardaimplantaçãoedesenvolvimentodomundoprovincial,apartirdaviragemdaEra,constituindoumfenómenomaistardioqueoreconhecidonoterritórioextremenhoealentejano.Estemodelodeinstalaçãoocuparia,essencialmente,terrenosmaisdifíceiseparcelados,menospropíciosaexploraçõesdotipovillae,quefloresceriamnasáreasdemelhoressolos,rioabaixo(Moret,1999,p.82).

Todavia,comojáemoutrolocalapontei,tenhoalgumasreservasquantoaestedesfasamentocronológico,emparticularporsetratardeumaamplaregiãoqueterásidoocupadaepacificadaanteriormenteaoOcidentepeninsular(Mataloto,2002).Asminhasreservasdecorrem,principal‑mente,do factodeser sistematicamente ignoradaamenção,nos trabalhosdeForteaeBernier(1970),darecolhadecerâmicacampanienseemsítioscomoTorreMorana,Calderón,CuevasdeSequeira,Cornicabra,Sastre,entreoutros(Fortea&Bernier,1970,p.33,passim),oquepermite,creio,entreverumafasedearranquedestasinstalaçõesemmomentosmaispróximosaospropos‑tosparaosterritóriosocidentais.

5. Os recintos‑torre e a romanização dos campos de Liberalitas Iulia Ebora no contexto histórico do Sudoeste peninsular

AestabilizaçãodoImpérioeareorganizaçãodoespaçoprovincialnosfinaisdoséculoIa.C.constituiu um novo momento da instauração do poder de Roma; todavia, o modo titubeantecomosurgiramasnovasprovíncias(PérezVilatela,2000),poderáconstituirumbomindíciosobreadificuldadesentidaemreorganizarumespaçoque,apesardehámuitocontrolado,aindanãoseriadevidamenteconhecidoeocupado.

Afundaçãodecidades,colóniasounão,seráumpassoabsolutamentedeterminantenanovapolíticadeocupaçãoeapropriaçãoterritorialdoImpério,traçadaentreCésareAugusto.

Afundação,provavelmenteexnihilo,dacidadedeLiberalitas Iulia Ebora (entre31e27a.C.:Faria,2001,p.355)edacapitaldaprovínciadalusitânia,Augusta Emerita(22a.C.:PérezVilatela,2000,p.82),marcará,semmargemparadúvida,todaadinâmicadainstalaçãoromananoterritó‑rioalto‑alentejano.

ApesardequaseduasdécadasdeintensostrabalhosarqueológicosnacidadedeÉvora,inten‑sificadosnosúltimosanos,poucoounadasesabe,efectivamente,daevoluçãodacidaderomanaàmargemdoesboçadoemtornodealgunsgrandesedifícios,casodotemplo (Hauschild,1994)oudastermas(Correia,1993;Sarantopoulos,1994).Nada,oumuitopouco,sesabedasdinâmicascomerciaisdacidadeedomodocomoserelacionavacomoseuager,aindaquesejadesuporquenãofossesubstancialmentedistintodoreconhecidoparaoutrascidadesinteriores.

Acronologiadefundaçãopropostaparaosfortinsemgeral,eosrecintos‑torreemparticular(Mataloto,2002,p.218),pareceacompanhar,ouantecederligeiramente,afundaçãodestasentida‑desurbanas,preconizadorasdeumaverdadeiraintegraçãodoespaçoalentejanonaconstruçãodomundoprovincialromano.

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Creioqueterásidoanecessidadedeconhecerecontrolaroterritório,previamenteàsuarees‑truturação,queterájustificadoainstalaçãodestasunidadesdepovoamentoaindamuitomarca‑daspelaarquitecturamilitar.Adispersãodosfortinsnestavastaregiãointegrar‑se‑ianumalógicadereconhecimento,apropriaçãoeexploraçãodoterritório,nummomentoonde,apósainstabili‑dadegeradapelosdiversosepisódiosdasGuerrasCivis,secomeçariaaesboçarumnovoquadroinstitucionaldeocupaçãoeordenamentodasvelhasprovíncias(Fig.18).

Demomento,apenasseconheceminstalaçõesdestetipoparanordestedeÉvora,situadasnomáximoaduasdezenasdequilómetrosdacidade,apesardeoseuterritóriojátersidointensiva‑menteprospectado(Calado,2003).

OsfortinsreconhecidosnasimediaçõesdeLiberalitas Iulia Eborasituam‑setodosnumaenvol‑ventealargadadaGraçadoDivor,talcomoacontececomoCastelodosMouros.ligeiramenteparaOestedeste,sobreumapequenaelevaçãodevertentesbemvincadas,implanta‑seatorredeValed’ElRei.Orecinto‑torredaSempre‑Noivalocaliza‑seaescassosquilómetrosparanascentedoCastelodosMourosutilizando,comoeste,umimponenteaparelhociclópico.Paranordeste,jánoconcelhodeArraiolos,localiza‑seacasafortedeSantaJusta,deaparelhorelativamentecuidado,masdegrandedimensão.OCastelodoMauVizinho,umpossívelrecinto,situa‑seigualmentenestaárea.TambémnasimediaçõesdestesselocalizaapequenaocupaçãodoValedoPereiro,tidacomodaIdadedoFerro(Calado&Rocha,1997,p.105),masquecreiotratar‑se,narealidade,deumrecintofortificadotardo‑‑republicano,queseenquadratotalmentenocontextodosfortinsalentejanos(Mataloto,2002).

Oestudodopovoamentotardo‑republicanoedeiníciosdoperíodoImperialnoterritórioaltoalentejanoencontra‑seaindanumafasemuitoembrionária, limitandosobremaneiraqual‑quertentativadeenquadramentoterritorialdosfortins.

Noentanto,énecessárioteremosemlinhadecontaqueainconstânciadopoderdeRomaaolongodetodaaprimeirametadedoséculoIa.C.,comosdoisepisódiosdasGuerrasCivis,

Fig. 15FortinsromanosdoAltoAlentejo.

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acabouporsereflectirnoespaçopeninsular,provocandobastanteinstabilidadequeveioaafec‑tardirectamentetodooSuldapenínsulaemgeral,eoOcidenteemparticular,comonostrans‑mitem as fontes clássicas (Varrão, R. R., I. 16.2, apud Fabião, 1998, p. 520; Bellum Hispaniense,passim, apud Moret,1999),enosdeixamentreverascelebraçõesdetriunfoemRoma,pelosgover‑nadoresdaHispânia(Fabião,1992,p.227).Ainstabilidadeacabariaporgerarumcenárioaparen‑tementehostileincertoquepoderiajustificarautilizaçãodeumaarquitecturadecarizdefensivonumanovarededeocupaçõesestimuladapelopoderdeRoma,atémomentosmuitoavançadosdoséculoIa.C.

OpovoamentoindígenaparecesofrerumafortereestruturaçãonosfinaisdoséculoII/iníciosdoséculoIa.C.,detectando‑seacontinuidadedeocupaçãoemalgunsdosquesão,ousetornam,os maiores povoados da região, caso de Vaiamonte (Monforte), Castelo Velho de Veiros (Estre‑moz),SerradeSegóvia(CampoMaior),ÉvoraMonte(Estremoz),CastelosdoMonteNovo(Évora)ouCasteloVelhodoDegebe(Reguengos).Estefactonãoinvalidaqueoutrosdemenoresdimen‑sões,comooAltodoCastelinhodaSerra(Montemor‑o‑Novo),Granja(Estremoz)ouCastelodasJuntas(Moura),permaneçamocupadosduranteesteperíodo,tornandoevidentequenãofoiumprocessolinear.

Aausênciadeestudosaprofundadosnãopermitecaracterizarefectivamenteaocupaçãoeadiacroniadestespovoados,limitandoaavaliaçãodoseupapelcomograndescentrospopulacio‑nais.NãoécertoquetodoselespermaneçamocupadosatéaoiníciodoperíodoImperial,podendo,comoéocasodeVaiamonte,delongeomaisbemconhecido,cobrirapenaspartedadiacroniarepublicana(Fabião,1996,p.60).

Apesardoescassoconhecimentoquedetemossobreeles,creioquecontinuaramaserosprin‑cipaiscentroshabitacionaisatéàfundaçãodasnovascidadesromanas,permanecendoalgunsocu‑padosmuitoparaalémdestemomento.Aexemplodestefactoseráimportantereferirque,nocasoconcretodoCasteloVelhodoDegebeosvestígiosmateriaisdaocupaçãorepublicanasãopoucosignificativossecomparadoscomaabundânciade terra sigillata itálicaedaGália,evidenciandoumavitalidadeabsolutamenteinusitada3noarranquedoperíodoimperial.

Numa perspectiva geral, a presença destes focos de povoamento não parece ter desempe‑nhadoumpapelrelevantenadistribuiçãodosfortinsnoAltoAlentejo,namedidaemque,comojásereferiu,nãoaparentamtercentralizadoqualquertipodeconcentraçãonasuaenvolvente,amododepoliciamento,oquenãoobstaque,porvezes, estejamestreitamente relacionadosemtermosvisuais,comoaconteceentreofortimdosBeiçudoseVaiamonteouentreoCaladinhoeopovoadofortificadodoMontedoOuteiro.Todavia,éimportanteressalvarquearecentereavalia‑çãodasantigasocupaçõesdeÉvoraMontepeloProf.Dr.ManuelCaladoeaassociaçãodestelocalàimportantecidadedeDipo(Guerra,1998;Alarcão,1988,2001)poderiamfazerrecentraraques‑tão,najustamedidaemquemuitosdosfortinssedispõemnumarconãomuitoalargadodesta;noentanto,certamentequenãosedisporiamtodosemfunçãodestelocal,queterásidoumdoscentroscapitaisdoperíodotardo‑republicanonoterritórioalentejano.

Seasestruturasdepovoamentoderaizindígenaseencontrammuitomalconhecidas,jáasrealidades de aparente fundação romana disponibilizam um conjunto de dados ligeiramentemaior.ArecenteintervençãonosítiodoMontedaNora(Gonçalves,Morán,Posselt&Teichner,1999)eareavaliaçãodopapeldesempenhadopeloCastelodalousaclarificamumpoucomelhorocontextotardo‑republicanoregionalemmeadosdoséculoIa.C.Ambasasinstalaçõesapresen‑tamcaracterísticas,naminhaperspectiva,eminentementemilitares(Mataloto,2002,p.213),dei‑xandoentreverumcontextolocalaindabastanteinseguronosmeadosdoséculoIa.C.,quandosãoaparentementefundados,quejustificasseapresençadeimportantesdestacamentosmilitares

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O Castelo dos Mouros (Graça do Divor, Évora): a arquitectura “ciclópica” romana e a romanização dos campos de Liberalitas Iulia Ebora

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naregião.Estasinstalaçõesmilitaresparecemtersurgido,segundopropostarecente(Fabião,1998,p.264),numcontextodereinstalaçãodopoderdeRoma,apósafortedesestabilizaçãoqueosepi‑sódiossertorianoscriaramnoOcidentepeninsular.Estefactotraz‑nosdenovoàcolaçãoacidadedeDipo,e logoÉvoraMonte,na justamedidaemquefoiumdospalcosdestemesmoconflito(Fabião,1998,p.55;Alarcão,2001,p.39).

Esteprocessode“reconquista”,marcadoporfortificaçõesbastantemenoresqueosgrandesacampamentos,constituiriaoprimeiropassodeumanovaestratégiadeocupação,daqualviriaaresultar,menosdeumséculodepois,asociedadeprovincialromana.Osfortinsalentejanosseriam,então, em minha opinião, um segundo momento deste processo, prévio à ocupação rural doscampos(Mataloto,2002,2004).

Oiníciodaocupaçãoruraldecarizagrícolaé,praticamente,desconhecidonoAltoAlentejo,aindaqueemalgumasvillaetenhamsidoidentificadosmateriaisdecronologiatardo‑republicanaedoiníciodoperíodoimperial.RecentestrabalhosdeescavaçãonavilladeSantaVitóriadoAmei‑xial(Estremoz)permitiramidentificarumprimeiromomentodeocupaçãoaugustano,atestadopela presença de terra sigillata itálica, paredes finas e ânforas da classe 15/Haltern 70 (Gomes,Macedo&Brazuna,2000,p.61).

NoterritóriodePax Iulia(fundadaentre31‑27a.C.:Faria,2001,p.352),oiníciodaocupaçãoruralromanapareceefectivar‑se,atravésdainstalaçãodecolonos,aindaantesdamudançadaEra,comosepôdeverificarnaáreadaVidigueira(Sillières,1994,p.92)ounavilladasNeves(CastroVerde)(Maia&Maia,1996,p.92).ÉbastanteplausívelsuporquenoAltoAlentejoainstalaçãoruralromanadecarizagrícolapossateracompanhadooprocessobaixoalentejano,àsemelhançado parece acontecer com a fundação das entidades urbanas, veja‑se o caso da villa da Tourega(Pinto&lopes,2006,p.213).

Aconfirmar‑seestapossibilidade,osfortinsemgeral,eosrecintos‑torreemparticular,esta‑riamcertamenteemactividadenodesenrolardesteprocesso,partilhandooespaçocomasocupa‑çõesdecarizeminentementeagrícola,quemarcarãoapaisagemruralaolongodetodooperíodoimperial.

Na realidade, desta coexistência decorrerá, essencialmente, um processo de adaptação ouabandono,perceptívelpelaintegração,ounão,dealgumasdestasestruturasmegalíticasromanasemamplasvillae,comofoijáapontado.

Redondo,IdosdeMarçode2008,revistoeampliadonoOutonode2008

nOTAS

* RuiMataloto–MunicípiodeRedondo;[email protected];serápublicadaumaversãoreduzidadestetextonarevistaA Cidade de Évora.

1 GostariadeinserirumanotadegratidãoaSusanaEstrela,CatarinaAlves,HelenaBarranhão,Pedrolourenço,BrunoFernandesentreoutros,queparticiparamnodesenhodosalçados,aquiapresentados.

2 GostariadeagradeceraoscolegaseamigosV.MayoraleE.Cerrillo,doInstitutodeArqueologiadeMérida(CSIC),aoportunidadequefoiconcedidaamimeaMáriodeCarvalhodeintegrarasequipasdeprospecçãoporelescoordenadasnaregiãodelaSerena.

3 Estesdadosresultamdeumaabordagempreliminar,efectuadapormimepeloDr.PedroBarros,aoconjuntodemateriaisdaíprovenientesemdepósitonaEDIA–EmpresadeDesenvolvimentodaInfraestruturadeAlqueva.

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