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NUTRICIONISTAS ENQUANTO BUROCRATAS DE NÍVEL DE RUA NO
PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR
NUTRITIONERS AS STREET LEVEL BUROCRATES IN THE NATIONAL
SCHOOL FOOD PROGRAM
Patricia Teresinha Wille1
Etho Robério Medeiros Nascimento2
Resumo O processo de implementação do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é complexo, uma vez que apresenta uma série de especificidades, multiplicidade de atores e arranjos institucionais, diversidade na clientela e na infraestrutura, bem como a existência de características regionais, sociais e econômicas. O profissional nutricionista no âmbito do PNAE é considerado ator social fundamental para o êxito da execução do Programa e alcance do seu objetivo, principalmente no que diz respeito a sua contribuição para promover hábitos alimentares saudáveis e Segurança Alimentar e Nutricional para a comunidade escolar. Nessa perspectiva, com base em revisão da literatura, o presente artigo tem por objetivo refletir sobre a atuação do nutricionista no âmbito PNAE mostrando a dinâmica do profissional, de modo mais específico, procurar focar na sua atuação como burocrata de nível de rua para incutir mudanças na política pública. Concluiu-se com esta pesquisa que o nutricionista atuando no PNAE envolve-se em um contexto de alto grau de discricionariedade, demandando autonomia em suas ações frente às diferentes realidades encontradas para alcance dos objetivos e diretrizes do Programa, principalmente no que se refere ao processo que envolve as compras de alimentos oriundos da agricultura familiar. Dessa forma, enquanto profissional na linha de frente de uma política pública, o nutricionista do PNAE se configura como “burocrata a nível de rua”. Palavras-chave: políticas públicas, alimentação escolar, nutricionista, burocratas de nível de rua.
Abstract The implementation process of the National School Feeding Program (PNAE) is complex, as it presents a series of specificities, multiplicity of actors and institutional arrangements, diversity in clientele and infrastructure, as well as the existence of regional, social and economic characteristics.Keywords: tradução fiel. Dietitians in the PNAE is considered fundamental social actor for the success of the Program and scope of your goal, especially as regards their contribution to promoting healthy eating habits and food and nutrition security for the school community. From this perspective, based on literature review, this article aims to reflect on the dietitian's role under PNAE showing the dynamics of the professional, more specifically, seek to focus on his role as street-level bureaucrat to instill changes in public policy. The conclusion of this research was that the dietician working in PNAE engages in a context of high degree of discretion, demanding autonomy in their opposite actions to the different situations encountered in achieving the objectives and guidelines of the program, especially with regard to the process
1 Nutricionista, Mestranda; Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
[email protected]. 2Zootecnista, Doutorando; Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
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involving purchases of food from family farms. Thus, as a professional in front of a public policy line, the nutritionist PNAE is configured as "bureaucrat at street level." Keywords: public policy; school feeding, nutritionist, street level bureaucrats.
1. Introdução
Ao completar 64 anos de existência em 2019, o PNAE continua sendo
referência mundial na área de alimentação escolar e se consolida com uma das
principais políticas públicas na área da educação para acesso a alimentação
saudável e promoção da saúde no Brasil (BRASIL, 2019; NOGUEIRA et al.,
2016). Logo, o PNAE pode ser caracterizado como o programa mais antigo do
país na área de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), contribuindo para
universalização do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) (BRASIL,
2019b; BRASIL, 2015; FAO, 2019; MALUF, 2015; RECINE, 2017; SANTOS et
al., 2007; VASCONCELOS, 2005).
Criado em 1955 para enfrentar problemas graves de saúde pública no
Brasil identificado na época, como doenças nutricionais relacionadas à miséria
e a pobreza (PEIXINHO; ABRANCHES; BARBOSA, 2010; VASCONCELOS,
2005); ao longo dos anos, o PNAE foi sendo ampliando e modernizado de acordo
com as diferentes conjunturas socioeconômicas e em decorrência do avanço de
debates nas arenas e fóruns de política pública (BRASIL, 2019b). Desse modo,
o programa procurou incorporar ao seu escopo, temas ligados a promoção da
saúde, educação alimentar e nutricional, SAN, valorização sociocultural e o
reconhecimento das dinâmicas voltadas a compra de alimentos locais e oriundos
da agricultura familiar.
Atualmente, o PNAE tem como objetivo principal contribuir para o
crescimento e o desenvolvimento biopsicossocial, aprendizagem, melhor
rendimento escolar e formação de hábitos alimentares saudáveis do alunado,
por meio de ações de educação alimentar e nutricional e da oferta de refeições
que atendam às suas necessidades nutricionais durante o período letivo
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(BRASIL, 2009). O processo de implementação do PNAE mostra-se complexo,
e apresenta uma série de especificidades como: multiplicidade de profissionais
e arranjos institucionais, diversidade na clientela e na infraestrutura, diversos
contextos regionais, e diferentes dinâmicas sociais e econômicas (NOGUEIRA
et al, 2016; STOLARSKI, 2005).
Nesse sentido, para que a operacionalização seja satisfatória, é
fundamental o alinhamento e a articulação de ações desenvolvidas pelos
diversos atores que compõem a política pública. Assim, destacam-se que os
diversos atores sociais do PNAE, são personagens essenciais para a execução
e/ou adoção de mudanças no Programa; tendo sendo esse universo composto
por gestores públicos, nutricionistas, funcionários escolares, pais de alunos,
sociedade civil organizada, agricultores familiares, manipuladores de alimentos,
conselheiros de alimentação escolar, dentre outros (BRASIL, 2015).
A interação entre os diferentes atores sociais no PNAE, através das suas
múltiplas funções, interesses, regras e decisões; interfere na forma como a
política será implementada, podendo sofrer transformações ao longo da sua
execução, causando dinâmicas distintas de implementação nos municípios
(FREITAS, 2017; NOGUEIRA et al., 2016; TRICHES; KILIAN, 2016).
Lipsky (2010) sustenta que os atores mais próximos da efetiva
implementação de uma política pública são capazes de causar interferências a
estas. O autor criou a expressão street-level bureaucrats, ou burocratas de nível
de rua, que caracteriza aquelas pessoas que representam o Estado na linha de
frente da implementação, sempre em contato direto com os cidadãos. Nessa
perspectiva, assume-se que o comportamento humano interfere na
implementação das políticas públicas, e a forma com que os indivíduos
compreendem a política e se engajam com sua implementação é essencial para
seu alcance. Por conseguinte, destaca-se o poder discricionário e decisório dos
burocratas de nível de rua (LIPSKY, 2010; OLIVEIRA, 2012). Esse poder refere-
se ainda a autonomia que os burocratas possuem nas decisões tomadas no
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contexto político, institucional e econômico em que operam, causando mudanças
na implementação de uma política pública (LOTTA, 2012).
No âmbito do PNAE, destaca-se a atuação do profissional nutricionista,
uma vez que este é considerado um ator social fundamental para o êxito da
execução do Programa e alcance do seu objetivo (BRASIL, 2019b; CHAVES et
al., 2013; NICOLETTI, 2017; PEIXINHO, 2013). Esse protagonismo se dá
principalmente no que diz respeito a sua contribuição para promover hábitos
alimentares saudáveis e segurança alimentar e nutricional para a comunidade
escolar (MELLO et al. 2012; CORRÊA et al., 2017). Além disso, este profissional
é responsável direto pela articulação entre diferentes elos e setores da política
pública, exercendo por vezes, competências que vão além daquelas
preconizadas pelas diretrizes legais da atuação profissional.
Nesse contexto, e com base em revisão da literatura, o presente artigo
tem por objetivo refletir sobre a atuação do nutricionista no âmbito PNAE
mostrando a dinâmica do profissional, de modo mais específico, procurar focar
na sua atuação como burocrata de nível de rua para incutir mudanças na política
pública.
2. Metodologia
As reflexões deste trabalho, foram realizadas a partir de uma revisão de
literatura nacional e internacional sobre o Programa Nacional de Alimentação
Escolar e a atuação dos burocratas a nível de rua, com foca na atuação do
profissional nutricionista. Com isso, as ideias e os argumentos estão organizados
de forma que possam subsidiar as abordagens apresentadas por meio do
arcabouço teórico presente na literatura.
3. A trajetória do Programa Nacional de Alimentação Escolar e a
inserção do nutricionista
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A subnutrição foi reconhecida como um grave problema de saúde pública
no Brasil na década de 1930, quando o perfil epidemiológico nutricional
brasileiro se caracterizava, especialmente, pela elevada ocorrência das doenças
nutricionais relacionadas à miséria, à pobreza e ao subdesenvolvimento
(PEIXINHO; ABRANCHES; BARBOSA, 2010; VASCONCELOS, 2005).
A partir desse período se identifica a criação dos primeiros cursos para
formação de profissionais para atuação no campo da Alimentação e Nutrição
(nutrólogos, nutricionistas/dietistas, auxiliares de alimentação, economistas
domésticas, dentre outros) (VASCONCELOS, 2002). Além disso, houve o
surgimento das primeiras ações governamentais direcionadas à alimentação e
nutrição no país, como a criação do salário mínimo e do Serviço de Alimentação
da Previdência Social (SAPS) em 1940, destinado à melhoria dos hábitos
alimentares do trabalhador brasileiro (PEIXINHO; ABRANCHES; BARBOSA,
2010; VASCONCELOS, 2002).
Em 1945 foi criada a Comissão Nacional de Alimentação, responsável
pelo Primeiro Plano Nacional de Alimentação e Nutrição constituído em 1953,
que deu início ao planejamento nutricional brasileiro. Suas ações se voltavam,
prioritariamente, à assistência alimentar e nutricional do grupo materno infantil e,
em segundo plano, aos escolares e trabalhadores (COIMBRA; MEIRA;
STARLING, 1982; VASCONCELOS, 2005). Em 1955, constituiu-se a Campanha
Nacional da Merenda Escolar pelo Decreto nº 37.106/1955, subordinada ao,
então, Ministério da Educação e Cultura. Em 1965, com a edição do
decreto, passou a se denominar Campanha Nacional de Alimentação Escolar
(CNAE) (BRASIL, 2019b; VASCONCELOS, 2005).
Em meio a esse cenário, outras ações se consolidavam de forma paralela
as políticas adotadas no Brasil. Entre os anos de 1955 a 1970, se observou uma
conjuntura marcante de intervenção internacional na estruturação do Estado
brasileiro, inclusive no PNAE, por meio da atuação da: Organização das Nações
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Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO); Fundo das Nações Unidas para a
Infância (UNICEF); Programa de Alimentos para a Paz, da Agência do Estados
Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID); e pelo Programa Mundial
de Alimentos (PMA/WFP) (BRASIL, 2019b; PEIXINHO; ABRANCHES;
BARBOSA, 2010; PEIXINHO, 2013; VASCONCELOS, 2005). O grande
questionamento acerca dessas ações era o caráter assistencialista e limitação
da abrangência geográfica e de público dessas intervenções.
Embora se destaque os objetivos alcançados por essas ações ao longo
desses anos, ainda era nítida a escassez da cobertura da alimentação escolar
em todo território nacional, bem como a regularidade do fornecimento
de alimentos. Também não havia uma atenção especial com a adequação
cultural dos cardápios escolares ou com a aceitabilidade dos alimentos
oferecidos aos alunos (PEIXINHO; ABRANCHES; BARBOSA, 2010).
A partir de 1970, os gêneros alimentícios passaram a ser adquiridos no
mercado interno de maneira centralizada, através do Ministério da Educação
(NOGUEIRA et al., 2016). Eram alimentos pré-preparados, industrializados, com
custo mais elevado, aceitabilidade menor e sem acréscimos nutricionais em
comparação com alimentos básicos e mais frescos (NOGUEIRA et al.,
2016; PEIXINHO; ABRANCHES; BARBOSA, 2010; PEIXINHO, 2013).
De 1972 a 1976, surgem os primeiro e segundo Planos Nacionais de
Desenvolvimento (PND), incorporando ao planejamento econômico
instrumentos de políticas sociais. Dentro desse contexto, foi criado o Instituto
Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN) que coordenou o I Programa
Nacional de Alimentação e Nutrição (I PRONAN), instituído em 1973, e o II
Programa Nacional de Alimentação e Nutrição (II PRONAN) em 1976
(NOGUEIRA et al., 2016; PEIXINHO; ABRANCHES; BARBOSA, 2010;
VASCONCELOS, 2005).
O II PRONAN através do INAN visou aumentar o foco dado aos
programas de nutrição por meio de programas de suplementação alimentar com
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iniciativas de modernização do sistema de produção e comercialização de
alimentos básicos, incentivando os pequenos produtores, garantindo preços
melhores, entre outros feitos. Esta suplementação alimentar para os escolares
foi financiada pelo Ministério da Educação e Cultura e administrada pela
Campanha Nacional de Alimentação Escolar, tornando-se conhecido em 1979
como o Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE (NOGUEIRA et al.,
2016; PEIXINHO; ABRANCHES; BARBOSA, 2010; VASCONCELOS, 2005).
Com a promulgação da Constituição Federal em 1988, o direito à
alimentação escolar a todos os alunos do ensino fundamental ficou
assegurado e, diante disso, a oferta da alimentação escolar pelas escolas
públicas foi aperfeiçoada, sendo o cardápio diversificado. Além disso, práticas
de respeito aos hábitos alimentares regionais e fortalecimento de uma economia
local passaram a ser estimulados (MARTÍNEZ; PINHO, 2016; PEIXINHO;
ABRANCHES; BARBOSA, 2010; VASCONCELOS, 2005).
No decurso de mais de 60 anos de criação, o PNAE sofreu uma série
de modificações de acordo com as diferentes circunstâncias socioeconômicas,
e veio a contribuir na redução da desnutrição, melhorando o acesso à alimentos
saudáveis e produzindo mudanças nos hábitos alimentares (FAO, 2019). Logo,
o PNAE constitui-se como uma política pública que contribui para a realização
do DHAA e atende às múltiplas dimensões da segurança alimentar e
nutricional (BRASIL, 2019b; BRASIL, 2015; FAO, 2019; MALUF, 2015; RECINE,
2017; SANTOS et al., 2007; VASCONCELOS, 2005).
Conforme Peixinho (2013), os avanços do Programa que se sobressaem,
são importantes no que concerne à alocação de recursos financeiros e de
cobertura populacional. Demais progressos dizem respeito ao estabelecimento
de aspectos técnicos e operacionais, tais como a descentralização da gestão
ocorrida em 1994, o fortalecimento do papel dos Conselhos de Alimentação
Escolar (CAE) no controle social, as normativas para as ações do nutricionista
como Responsável Técnico, instituição dos Centros Colaboradores em
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Alimentação e Nutrição do Escolar (CECANE), ampliação do PNAE para toda a
rede pública de educação básica e de jovens e adultos, e a
recomendação do mínimo de 30% dos recursos do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE) sejam utilizados na compra de produtos
da agricultura familiar (CHAVES et al., 2013; PEIXINHO, 2013).
É importante destacar que desde o princípio do processo de construção
da política de alimentação escolar no Brasil, identificou-se relevante participação
de médicos nutrólogos e nutricionistas, sendo a contribuição de Josué de Castro
essencial, uma vez que apontava os flagelos sociais que a fome desencadeava
em todo o território nacional, afirmando que o problema não era apenas um
fenômeno biológico, mas sobretudo econômico e social (CHAVES et al., 2013;
COIMBRA; MEIRA; STARLING, 1982; PEIXINHO, 2013; PEIXINHO;
ABRANCHES; BARBOSA, 2010; VASCONCELOS, 2005). Segundo Chaves et
al. (2013), a institucionalização da inserção do nutricionista no PNAE se inicia
pela Lei n° 8.913/1994, que definia que o cardápio deveria ser realizado e
acompanhado por um nutricionista, e que deveriam ser respeitados os hábitos
alimentares locais a serem desenvolvidos de acordo com o CAE.
Com a implantação do Programa Fome Zero em 2003, a alimentação
escolar no Brasil se tornou associada a uma política de Estado, visando à
promoção da saúde e da SAN dos escolares (NOGUEIRA et al., 2016;
PEIXINHO; ABRANCHES; BARBOSA, 2010). Cabe ressaltar que nesse período
a coordenação geral do Programa, junto ao FNDE, passou a ser de um
nutricionista, trazendo contribuições significativas para êxito do PNAE (CHAVES
et al., 2013; PEIXINHO, 2013).
Em 2005, visando orientar e normatizar as atribuições que concernem ao
nutricionista que atua no âmbito do PNAE, foi publicado pelo Conselho Federal
de Nutricionistas (CFN) a Resolução do CFN nº 358/2005. Posteriormente, o
nutricionista foi inserido como responsável técnico do Programa em
2006, mediante a Resolução do FNDE nº 32, ou seja, o profissional ficou
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responsável por acompanhar a execução do PNAE, desde a aquisição dos
alimentos até a sua distribuição ao escolar.
Atualmente, as normativas que determinam os princípios e as diretrizes
do PNAE são a Lei nº 11.947/2009 e a Resolução CD/FNDE nº 26/2013. A Lei
n° 11.947/2009 ampliou o PNAE para toda a rede pública de educação básica e
estabeleceu que, do total dos recursos financeiros repassados pelo FNDE, no
mínimo 30% deve ser utilizado na aquisição de gêneros alimentícios oriundos da
agricultura familiar. Além disso, reforça que a coordenação das ações de
alimentação escolar deve ser realizada por nutricionista, dispõe também que o
profissional deverá estar vinculado ao setor de alimentação escolar da Entidade
Executora (EEx.) e cadastrado no FNDE.
Mediante a publicação da nova legislação do PNAE, foi necessário
modificações nas usuais atribuições do nutricionista vinculado ao Programa.
Dessa forma, no ano de 2010, o CFN publicou a Resolução n°465, atualizando
as atribuições do profissional, em consonância com as normativas federais em
vigor e estabeleceu os parâmetros numéricos mínimos de referência no âmbito
PNAE (CFN, 2010).
Atualmente, ao nutricionista vinculado ao PNAE é atribuída, dentre outras
funções, a responsabilidade de “coordenar o diagnóstico e o monitoramento do
estado nutricional dos estudantes, planejar o cardápio da alimentação escolar de
acordo com a cultura alimentar, o perfil epidemiológico da população atendida e
a vocação agrícola da região, acompanhando desde a aquisição dos gêneros
alimentícios até a produção e distribuição da alimentação, bem como propor e
realizar ações de educação alimentar e nutricional nas escolas” (BRASIL, 2009).
Assim, se observa que ao longo do processo de evolução e modernização
do PNAE, o profissional nutricionista passou a ser um dos agentes de maior
atuação dentro dos espaços ligados a alimentação escolar. Certamente, o seu
desempenho e articulação local, contribuem para o formato que a política tomará
em seus contextos locais. Em virtude desse protagonismo, se destaca a
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importância de uma abordagem teórica acerca da atuação desse profissional no
âmbito das políticas públicas. Para isso, será utilizada a perspectiva apresentada
por Lipsky (2010) sobre a atuação dos burocratas a nível de rua, realizado uma
correlação da atuação dos nutricionistas no processo de implementação do
PNAE.
4. Implementação de Políticas Públicas e burocratas de nível de rua
Compreender o que é política pública é essencial para se entender como,
por que e para quem os governos e o Estado atuam. Contudo, ao mesmo tempo
em que existe uma diversidade de pontos de vista sobre políticas públicas, não
há uma única e nem uma melhor definição sobre a temática (SOUZA, 2006).
Independentemente de serem políticas públicas de educação, saúde ou
assistência, a literatura converge para uma discussão em que as políticas
públicas obedecem a um ciclo político, que define a dimensão e os rumos de
cada política, sendo constituídos por etapas (SOUZA, 2006).
O ciclo de políticas públicas é dividido em vários estágios que podem ser
concomitantes, ou ter sua ordem alterada: agenda (quando as temáticas que
serão trazidas e debatidas na esfera pública são definidas); formulação
(são definidas as alternativas e formulados os planos de ação); implementação
(as políticas são empregadas), e avaliação (quando os resultados das políticas
implementadas são processados) (LOTTA, 2010; LOTTA 2014; SOUZA, 2006).
No que diz respeito a fase de implementação de políticas públicas, os
primeiros estudos sobre a temática geralmente focavam nos processos de
tomada de decisão, assumido que a implementação era um processo
hierárquico, que vinha de cima para baixo (BARRETT, 2004), sem
intercorrências e desconsiderando a inserção de outros atores no processo
(LOTTA, 2010). Contudo, foram sendo percebidos alguns fatores que levavam o
processo de implementação a ter falhas. Nessa perspectiva os estudos de
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implementação começaram a observar o que acontecia na base, buscando
identificar elementos que influenciavam a ação e o comportamento das pessoas,
originando duas perspectivas analíticas sobre a etapa de implementação das
políticas públicas, os modelos top-down e botton-up (BARRETT, 2004).
A perspectiva top-down, ou seja, de cima para baixo, compreende a
implementação de uma política como um processo hierárquico e de controle,
separando política e administração, formulando a política do “topo” e executando
através de agentes sob um processo fiel aos objetivos dos formuladores das
políticas (LOTTA, 2010; NICOLETTI, 2017).
No que se refere ao modelo bottom-up, ou seja, de baixo para cima,
argumenta-se que o processo de implementação transforma e adapta as
políticas púbicas originais, sendo necessário observar a origem e as mudanças
da política ao longo das etapas (LOTTA, 2010). A implementação de políticas
é compreendida como um processo dinâmico e interativo, de adaptação das
políticas públicas durante a sua execução, entre os implementadores da linha de
frente e os usuários dos serviços públicos, sendo realizada em nível local
(FERREIRA; MEDEIROS, 2016; LOTTA, 2010; LOTTA; PAVEZ, 2010). Ferreira
& Medeiros (2016) afirmam que é nessa fase que o Estado alcança os cidadãos
que demandam seus serviços, alterando uma política pública que foi
planejada em serviços e que poderá ser encaminhada aos cidadãos.
Conforme Lipsky (2010), os profissionais que interagem diretamente com
os cidadãos representando o Estado na linha de frente da implementação de
uma política pública, são os street-level bureaucrats ou burocratas de nível de
rua. Para esse autor, os implementadores podem, ao implementar a política,
definir sua direção, causando mudanças significativas na vida das pessoas que
têm alguma associação com a política. Para Lotta e Pavez (2010) esses
profissionais possuem grande impacto na vida dos indivíduos, pois possuem a
capacidade de transformar, adaptar, interpretar e criar regras que vão
transformando as políticas centralmente definidas.
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A literatura tem abordado essas decisões tomadas pelos
implementadores como exercício da discricionariedade, sendo que Lipsky (2010)
aponta que os burocratas de nível de rua possuem grande impacto sobre as
políticas públicas devido à autonomia que possuem no momento da
implementação. Sobre a temática, atualmente os estudos não partem do
princípio se a discricionariedade é boa ou ruim para a implementação de políticas
públicas, mas sim, levam em consideração que é um ponto de controvérsia que
necessita atenção dos pesquisadores (LOTTA, 2014).
Lima e Ascenzi (2017), por exemplo, ao analisar a implementação da
Política Nacional de Humanização em âmbito municipal, identificaram o papel
exercido pela discricionariedade dos burocratas quando eles foram adaptando
as atividades tradicionalmente desenvolvidas a suas respectivas compreensões
do que fosse a política. O mesmo ocorre com Lotta (2014), que reconheceu o
exercício da discricionariedade entre os agentes comunitários de saúde que são
os implementadores do Programa Saúde da Família. Oliveira (2012) traz que
o poder discricionário dos operadores que atuam nos guichês, nas enfermarias,
nas salas de aula e nas ruas, é decisivo na execução das políticas públicas.
Faz parte ainda da discussão sobre a discricionariedade a ideia de que
ela é influenciada na medida em que os burocratas de nível de rua atuam em
constante interação com sistemas políticos, organizacionais, profissionais e
comunitários, além dos próprios valores pessoais (FERREIRA; MEDEIROS,
2016; LIMA; D’ASCENZI, 2017; LOTTA, 2010; OLIVEIRA, 2012). Conforme
Lipsky (2010), as condições de trabalho também possuem desdobramentos
importantes na discricionariedade dos burocratas de nível de rua, podendo
moldar seu comportamento para melhor desempenharem seu papel estratégico
na implementação da política pública ou justificar a recorrente inabilidade desses
profissionais para a prestação de um serviço apropriado.
Em relação ao PNAE, Nogueira et al. (2016) afirmam que os atores sociais
através das suas múltiplas funções, interesses e regras compõem a estrutura
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substantiva da política pública até o momento em que a alimentação escolar
chega aos alunos. Triches e Kilian (2016) ao analisarem a compra de produtos
da agricultura familiar para a alimentação escolar, afirmam que a interação dos
atores leva a mobilizações constantes nas regras e recursos do Programa, sendo
capazes de causar modificações nos processos de acordo com os seus
interesses. Corroborando com os argumentos apresentados, Freitas (2017), ao
compreender como os processos de implementação local do PNAE se
configuram; reitera que implementação do Programa compreende um complexo
enredo de atores sociais que tomam decisões e estão postos em diversos
contextos sociopolíticos, sendo que a forma que a política será implementada
pode sofrer transformações ao longo da sua execução, causando distintas
dinâmicas de implementação nos municípios.
Ainda, Figueiredo (2017) aponta que os cursos de capacitação sobre
o PNAE podem alinhar informações e adequar a implementação à política
elaborada, mas não se mostraram capazes de inibir a interferência do
implementadores. São encontradas influências dos agentes implementadores
nas ações de Educação Alimentar e Nutricional (EAN), a quantidade de
alimentos servida pelas “merendeiras”, preparação dos alimentos de acordo
com a realidade de cada escola, entre outras. Sobre a discricionariedade entre
atores do PNAE, está também foi identificada por Cardillo (2018) entre as
“merendeiras” na realização de seu trabalho, caracterizada principalmente pelo
controle exercido na quantidade de comida a ser colocada no prato de cada
aluno, e na frequente modificação dos cardápios executada por estas
trabalhadoras.
Oliveira (2012) argumenta que a quantidade e a qualidade dos serviços
públicos dependem do poder discricionário do burocrata de nível de rua, o que
enseja a necessidade de se conhecer seus determinantes e as consequências
destes. O autor aponta ainda que esses agentes sãos responsáveis pela
tradução dos Programas em produtos e serviços e precisam ir além do que
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os formuladores concebem, uma vez que muitas vezes as políticas têm objetivos
e significados vagos, gerais ou inconsistentes; ou seja, os burocratas não só
executam as políticas, mas por meio de suas interpretações, decisões e ações
também constroem as políticas públicas. Desse modo, partindo dos argumentos
teóricos apresentados até aqui, a próxima seção apresentará as principais
interpretações que envolvem o processo decisório do profissional nutricionista
como burocrata de rua do PNAE.
5. O nutricionista do PNAE enquanto um burocrata de nível de rua
O nutricionista vinculado ao PNAE foi destacando-se à medida que o
Programa evolui como instrumento institucional, sendo considerado ator social
fundamental para o êxito da execução e alcance do objetivo do Programa
(BRASIL, 2019b; CHAVES et al., 2013; PEIXINHO, 2013); especialmente no que
tange as ações para promoção de hábitos alimentares saudáveis para os
escolares e na busca constante da SAN e DHAA (MELLO et al., 2012; CORRÊA
et al., 2017). Vários autores trazem dados referentes ao exercício do nutricionista
no âmbito do PNAE, identificando avanços, potencialidades e dificuldades no
que diz respeito a atuação e as atribuições do profissional (CHAVES, 2013;
CORRÊA et al., 2017; MELLO et al., 2012; SCARPARO et al. 2013).
O trabalho do nutricionista na área da alimentação escolar torna-se
bastante complexo, visto que abrange a necessidade de atender os escolares
com uma alimentação nutricionalmente equilibrada e adequada, abrangendo
questões administrativas da gestão, de recursos financeiros e do atendimento
de normas legais na aquisição de produtos e materiais para a produção de
refeições. Além disso, este contempla aspectos ligados a qualidade
microbiológica e nutricional dos alimentos servidos e dos hábitos alimentares e
dinâmicas locais onde o alunado está inserido (BRASIL, 2009).
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Nicoletti (2017) ao analisar os arranjos institucionais do PNAE em
Natal/RN, afirma que o papel do nutricionista na execução do Programa é
primordial, constituindo-se um implementador central através de sua
discricionariedade. O estudo aponta ainda, o envolvimento do profissional na
sensibilização dos demais atores sobre a importância do PNAE, na elaboração
dos cardápios adequados nutricionalmente, atendimento das diretrizes do
Programa, visitas nas escolas para análise higiênico-sanitária, treinamento dos
manipuladores de alimentos, dentre outras atividades.
No que se refere ao processo de compras de alimentos oriundos da
agricultura familiar para o PNAE, a Resolução do CFN nº 465/2010 atribui
ao nutricionista “estabelecer a interação com os agricultores familiares com o
objetivo de obter conhecimento sobre a produção local de alimentos e a
introdução desses produtos nos cardápios da escola” (CFN, 2010). Além disso,
esse profissional é responsável ainda, por estabelecer e calcular cardápios
baseados na disponibilidade e na sazonalidade dos produtos locais, de forma
que contemple alimentos mais frescos, com menor utilização e agrotóxicos e que
privilegie cadeias mais curtas e dinâmicas de comercialização.
Lima (2018), em estudo realizado em Minas Gerais, detectou o
protagonismo por parte da nutricionista do PNAE nos processos de compras de
produtos da agricultura familiar, nos quais suas ações estavam envolvidas em
um cenário de alto grau de discrição, identificando a profissional como uma
burocrata a nível de rua. Machado et al. (2018) caracterizaram os municípios
brasileiros quanto à compra de gêneros alimentícios da agricultura familiar
e identificaram que a compra se mostrou relativamente maior nos municípios
com a presença do nutricionista como responsável técnico.
Em municípios catarinenses, Mossmann e Teo (2017) identificaram que a
iniciativa da implementação da Lei n. 11.947/2009 foi basicamente articulada
pelos profissionais nutricionistas responsáveis pelo PNAE, que assumiram a
busca pelos agricultores, o mapeamento da produção local e todas as demais
16
etapas do processo de aquisição dos alimentos, incluindo a articulação
intersetorial no âmbito do município. Além disso, os autores destacam que em
alguns municípios, é o nutricionista quem elabora o edital de chamada pública,
a pesquisa de preços, os cronogramas e a supervisão da entrega dos alimentos,
além de prospectar e desenvolver fornecedores, sendo considerado essencial
na execução da legislação em todas as suas etapas (MOSSMANN; TEO, 2017).
Rockett et al. (2019) corroboram com esses achados tendo em vista que
observaram que o envolvimento dos atores, como nutricionistas, conselheiros de
alimentação escolar e técnicos de extensão rural, são fundamentais para
aumentar a aquisição de produtos alimentícios da agricultura familiar. A
interação entre nutricionista, agricultores e suas organizações foi relatada por
88,8% dos profissionais no estudo realizado por Corrêa et al. (2017) na região
sul do Brasil. Toyoyoshi et al. (2013) também identificaram em alguns municípios
brasileiros que houve articulação conduzida pela nutricionista entre os
agricultores familiares e o setor da educação. Assim, Souza et al. (2017) indicam
que os principais aspectos positivos na atuação dos nutricionistas, está na
participação destes na aquisição de alimentos da agricultura familiar para a
alimentação escolar. Para Abreu (2014) os atores envolvidos nesse processo,
como nutricionistas, são essenciais para atendimento dos objetivos do
Programa.
Em relação às ações de EAN no PNAE, estas são representadas pelo
conjunto de ações formativas, de prática contínua e permanente, transdisciplinar,
intersetorial e multiprofissional, que objetivam estimular a adoção voluntária de
práticas e escolhas alimentares saudáveis que colaborem para a aprendizagem
e qualidade de vida dos escolares (BRASIL, 2013). Silva et al. (2018), revelam
que na maioria dos municípios estudados havia a realização de ações de EAN
com presença do professor, coordenador pedagógico, gestor local do Programa
ou direção escolar. Contudo, o nutricionista mostrou-se predominantemente
atuante na coordenação e execução das ações. Figueiredo (2017) constatou
17
que a figura do nutricionista é fundamental nas ações de educação alimentar e
nutricional e montagem dos cardápios. O profissional é visto pelos entrevistados
de modo geral, como indispensável para garantir o equilíbrio e qualidade da
alimentação escolar.
Somado as afirmações apresentadas, como resultado da aplicação do
projeto “Monitoramento e assessoria às EEx. do RS”, o CECANE/UFRGS
verificou que em vários municípios o profissional nutricionista é o responsável
pelo alcance dos objetivos e diretrizes do PNAE, bem como a realização das
atribuições profissionais. Além do mais, o trabalho intersetorial e de interação
com demais atores sociais se dá fundamentalmente a partir do engajamento dos
nutricionistas, sendo estes atores implementadores da política pública de acordo
com a realidade de cada EEx. Cabe ainda destacar, que se observa que o perfil
dos profissionais e a instrução acadêmica de caráter interdisciplinar, interferem
na forma de execução do programa (SCARPARO et al., 2013).
Importante salientar que as decisões dos implementadores são
influenciadas por vários fatores na medida em que os burocratas de nível de rua
atuam em constante interação com sistemas políticos, organizacionais,
profissionais e comunitários (LIMA; D’ASCENZI, 2017; LOTTA, 2010;
OLIVEIRA, 2012). Para Ferreira e Medeiros (2016), as ações do servidor público
no processo de implementação das políticas públicas apontam que o
comportamento do burocrata de nível de rua é pautado por fatores pessoais,
profissionais, gerenciais e político.
As condições de trabalho também têm um papel central no exercício da
discricionariedade dos implementadores de políticas. São elas que
possibilitam a atuação dos burocratas podendo moldar seu comportamento para
melhor desempenharem seu papel estratégico ou justificar a recorrente
inabilidade desses profissionais para a prestação de um serviço apropriado na
implementação da política pública (LIPSKY, 2010).
18
Nessa perspectiva, embora tenha aumentado expressivamente o número
de nutricionistas vinculados ao PNAE nos últimos anos, o quantitativo de
profissionais ainda está aquém do recomendado pelos parâmetros vigentes,
causando prejuízos na consecução das atribuições e atuação do profissional,
bem como alcance do objetivo do Programa (CHAVES et al., 2013; CORRÊA, et
al, 2017; MACHADO et al, 2018; SCARPARO et al., 2013). Lima e
D’ascenzi (2017) destacam que o fato de uma política possuir reduzido quadro
de recursos humanos pode auxiliar no insucesso da implementação da política.
Scarparo et al. (2013) identificaram que os nutricionistas relatavam muitas
dificuldades com gestores que não possuem o entendimento adequado sobre o
programa, e tão pouco sobre o trabalho do profissional de nutrição, gerando
ausência de autonomia e falta de apoio da administração. Côrrea et al. (2018)
apontam ainda, a necessidade dos gestores de fornecerem as condições de
trabalho preconizadas na legislação para que o profissional possa exercer suas
atividades conforme planejado.
Assim, ainda que o planejamento do PNAE em nível central exerça grande
influência na execução e implementação, o programa possui grande
complexidade, visto que apresenta uma série de especificidades, multiplicidade
de profissionais e arranjos institucionais. Esses fatores sugerem uma resposta
da ação discricionária dos burocratas de nível de rua, sendo aqui representado
pelo nutricionista, por meio da autonomia que seu cargo lhe oferece, a partir das
suas atribuições, condições de trabalho, fatores pessoais, profissionais,
gerenciais e políticos.
6. Considerações finais
Dentre as conclusões que esta trabalho permite, destaca-se o fato do
profissional nutricionista no âmbito do PNAE, envolve-se em um contexto de alto
grau de discricionariedade, demandando autonomia em suas ações frente as
diferentes realidades encontradas para alcance dos objetivos e diretrizes do
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programa, principalmente no que se refere ao processo que envolve as compras
de alimentos oriundos da agricultura familiar. Dessa forma, enquanto profissional
na linha de frente de uma política pública, o nutricionista do PNAE se configura
como “burocrata a nível de rua”.
Conforme Lotta e Pavez (2010), no que se remete ao burocrata a nível de
rua, sua autonomia pode contribuir para minimizar ou maximizar (des)avanços
quanto à inclusão social e ao diálogo da política pública em relação às
características locais de seu contexto de implementação. Essa ideia acaba por
se relacionar à perspectiva bottom-up, a partir da qual é constatado um viés
sobre a implementação das políticas públicas bastante diverso, o qual é
influenciado pelos burocratas a nível de rua.
Ressalta-se também, a necessidade de formação de parcerias entre os
distintos atores e o trabalho intersetorial para o fortalecimento da execução do
PNAE. Verifica-se a necessidade dos gestores em garantir as condições de
trabalho preconizadas na legislação para que o nutricionista possa exercer suas
atividades conforme planejado, bem como o número adequado de profissionais.
Além disso, é necessário atentar para o fato desse estudo realiza uma
análise da atuação do nutricionista do PNAE como burocrata de nível de rua, e
que a literatura a este respeito ainda é escassa, necessitando mais pesquisas
sobre a temática, sendo esse ponto, uma perspectiva que viabiliza outros
trabalhos sobre o tema.
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