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REVOLUÇÃO DIGITAL É O QUE ESTÁ A DAR! DIAS LI QUE O EDITOR DO NEW YORK TIMES ANUNCIAVA QUE, DENTRO DE POUCO TEMPO, O JORNAL DEIXARIA O SUPORTE PAPEL E PASSARIA A SER DIGITAL. RECORDEI-ME, ENTÃO, DE ALGUMAS PALAVRAS QUE DISSE AQUANDO DO LANÇAMENTO D”O SUL”, EM QUE, MODESTAMENTE, APRESENTEI ALGUMAS SUGESTÕES NESSE SENTIDO. HOJE RETOMO ALGUMAS DAS IDEIAS E REFRESCO-AS COM NOVOS DADOS. RECORDO-ME DE TER DITO NO REFERIDO LANÇAMENTO(APRESENTAÇÃO) QUE ESTÁVAMOS A FALAR DE UMA MUDANÇA TOTAL DE PARADIGMA E QUE ESTAMOS AGORA A VIVER NUMA SOCIEDADE DE PRODUTORES- CONSUMIDORES DE CONTEÚDOS CULTURAIS. O CONSUMIDOR JÁ NÃO É UM SER PASSIVO, QUE RECEBE INFORMAÇÃO EMPACOTADA. AGORA A INFORMAÇÃO CHEGA-LHE EM UNIDADES JÁ ABERTAS, QUE SÃO OS FLUXOS QUE PERCORREM A REDE. “ESTAMOS A ATRAVESSAR UMA REVOLUÇÃO SEM PRECEDENTES, COMPARÁVEL À QUE SE PRODUZIU COM GUTTENBERG”, DIZ-NOS ROSENTHAL C. ALVES, UM GURU BRA- SILEIRO DA NOVA INFORMAÇÃO, EM ENTREVISTA AO EL PAIS. MAS ELE DIZ-NOS MAIS: QUE A PUBLICIDADE ENTRARÁ EM FORÇA NOS MEIOS DIGITAIS, NOS PRÓXIMOS TRÊS ANOS E ISTO VAI DAR-LHE MUITO PODER. A REVOLUÇÃO A QUE ESTAMOS A ASSISTIR NÃO É LINEAR, É UM PROCESSO COMPLEXO DE ALTOS E BAIXOS, MAS, NA VERDADE, ELA VAI POR FIM, PAULATINAMENTE, AO JORNALISMO COM SUPORTE PAPEL. ESTE VAI PASSAR A SER UM SUPORTE SECUNDÁRIO DE UMA PLA- TAFORMA DIGITAL MULTIMÉDIA NA REDE. TALVEZ A INVERSÃO DO QUE ACONTECE HOJE. ESTAMOS, AO MESMO TEMPO, A PARTICIPAR NUM PROCESSO DE DEMOCRATIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO ATRAVÉS DE FENÓMENOS, COMO A WIKIPÉDIA, REDES SOCIAIS OU O E-GO- VERNO, QUE PODE SER UTILIZADO TANTO NO PODER CENTRAL COMO LOCAL, MAS QUE PERMITE UM MAIOR CONTROLO E TRANSPARÊN- CIA NAS DECISÕES DO PODER, SEM FALAR NO MOVIMENTO DE SOF- TWARE ABERTO, GRATUITO E LIVRE, O OPENSOURCE. EVIDENTEMENTE, TAMBÉM HÁ QUE CONTAR COM OS PERIGOS PERVERSOS DAS FORÇAS QUE TENTAM, COM AS MESMAS FERRA- MENTAS, TUDO TORPEDEAR. O NOVO FENÓMENO QUE PARTILHAMOS É A PASSAGEM DOS MEDIA DE MASSAS PARA A MASSA DE MEDIAS, OU SEJA, DE UMA SOCIEDADE MÉDIO-CENTRAL, PARA UMA CULTURA DE EGOCEN- TRO, EM QUE O INDIVÍDUO É O CENTRO DE TUDO, COM O PODER DE CONSEGUIR COMUNICAR E DISTRIBUIR TODA A ESPÉCIE DE INFORMAÇÃO QUE LHE APETECER. PARA ALGUNS, ESTA REVOLUÇÃO OFERECE PERIGOS: ACABAR COM O JORNALISMO DE INVESTIGAÇÃO E NÃO HAVER AINDA UMA LINGUAGEM PRÓPRIA PARA O JORNALISMO DIGITAL, COMO HÁ PARA A IMPRENSA ESCRITA. QUANTO AO PRIMEIRO CASO, NOS EUA, O JORNALISMO “SEM LUCRO” ESTÁ A FAZER CAMINHO, E NISSO “O SUL” ESTÁ À LA PAGE. NO TEXAS TRIBUNE, UM MECENAS PÔS À DISPOSIÇÃO UM MILHÃO DE DÓLARES E DEPOIS ANGARIOU TRÊS MILHÕES, PARA PÔR A FUNCIONAR UMA EQUIPA DE JORNALISTAS DE ALTA QUA- LIDADE. ENTRETANTO, 1600 PESSOAS DOARAM, CADA UMA, 70 EUROS, PARA GARANTIR A INDEPENDÊNCIA DO JORNAL ON LINE. O MESMO ACONTECEU COM O VOICE OF SAN DIEGO OU COM O WALL STREET JOURNAL, QUE CRIOU O PRÓ PUBLICA. REFERIREI AINDA AS POSSIBILIDADES ABERTAS PELO JORNALISMO DE BUSCA, NAS GRANDES BASES DE DADOS DOS GOVERNOS, PERMITINDO PERCE- BER COMO É QUE AS ADMINISTRAÇÕES NOS GOVERNAM. QUANTO À LINGUAGEM ON-LINE, ELA VAI ACABANDO POR SER DESCOBERTA COM A PRODUÇÃO DA REDE. O GOOGLE, POR EXEMPLO, TRABA- LHA A PARTIR DA POSTURA DO UTENTE E UMA NOVA LÓGICA ACA- BARÁ POR SAIR DAQUI. TERMINO COM DOIS DESAFIOS À NOSSA ESCALA “(G)LOCAL”: - PARA QUANDO UM E-GOVERNO A NÍVEL DA AUTARQUIA DE SETÚBAL? - QUANDO PODERÁ “O SUL” COMEÇAR A SER CADA VEZ MAIS UMA PLATAFORMA DIGITAL, COMO MERECE E PRECISA SETÚBAL, PROSSEGUINDO COM A SUA FORMATAÇÃO EM PAPEL? SE TIVERMOS MAIS ANÚNCIOS VAMOS INDO! ANTÓNIO SERZEDELO DIRECTOR D’O SUL Ano: 2010 . nr 08 . Mês: Setembro . Mensal . Director: António Serzedelo . Preço: 0,01 € 09 . 10 NR 08 WWW.JORNALOSUL.COM

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ações Nos goverNam . quaNto de feNómeNos , como a wikipédia, s, comparáve l à que se produziu ão e Não Haver aiNda uma oferece perigos: acabar complexo de altos e à Nossa escala “(g)local” : redes sociais ou o e-go- ber como é que as admiNistr se tivermos mais aNúNcios Há dias li que o editor verNo, que pode ser utilizado secuNdári o de uma pla- um meceNas pôs à disposição a ser cada vez mais setúbal? - quaNdo poderá “o sul” começar ela vai por fim, paulatiNam como

Transcript of NR 8_O SUL_SET_10

Revolução Digital é o que está a DaR!

Há dias li que o editor do New York times aNuNciava

que, deNtro de pouco tempo, o jorNal deixaria o suporte

papel e passaria a ser digital.

recordei-me, eNtão, de algumas palavras que disse aquaNdo

do laNçameNto d”o sul”, em que, modestameNte, apreseNtei

algumas sugestões Nesse seNtido.

Hoje retomo algumas das ideias e refresco-as com Novos

dados.recordo-me de ter dito No referido laNçameNto(apreseNtação)

que estávamos a falar de uma mudaNça total de paradigma

e que estamos agora a viver Numa sociedade de produtores-

coNsumidores de coNteúdos culturais. o coNsumidor já Não

é um ser passivo, que recebe iNformação empacotada. agora

a iNformação cHega-lHe em uNidades já abertas, que são os

fluxos que percorrem a rede. “estamos a atravessar uma

revolução sem precedeNtes, comparável à que se produziu

com gutteNberg”, diz-Nos roseNtHal c. alves, um guru bra-

sileiro da Nova iNformação, em eNtrevista ao el pais.

mas ele diz-Nos mais: que a publicidade eNtrará em

força Nos meios digitais, Nos próximos três aNos e isto

vai dar-lHe muito poder. a revolução a que estamos a

assistir Não é liNear, é um processo complexo de altos e

baixos, mas, Na verdade, ela vai por fim, paulatiNameNte,

ao jorNalismo com suporte papel.

este vai passar a ser um suporte secuNdário de uma pla-

taforma digital multimédia Na rede. talvez a iNversão do

que acoNtece Hoje. estamos, ao mesmo tempo, a participar

Num processo de democratização da iNformação através

de feNómeNos, como a wikipédia, redes sociais ou o e-go-

verNo, que pode ser utilizado taNto No poder ceNtral como

local, mas que permite um maior coNtrolo e traNsparêN-

cia Nas decisões do poder, sem falar No movimeNto de sof-

tware aberto, gratuito e livre, o opeNsource.

evideNtemeNte, também Há que coNtar com os perigos

perversos das forças que teNtam, com as mesmas ferra-

meNtas, tudo torpedear.

o Novo feNómeNo que partilHamos é a passagem dos

media de massas para a massa de medias, ou seja, de uma

sociedade médio-ceNtral, para uma cultura de egoceN-

tro, em que o iNdivíduo é o ceNtro de tudo, com o poder

de coNseguir comuNicar e distribuir toda a espécie de

iNformação que lHe apetecer.

para alguNs, esta revolução oferece perigos: acabar

com o jorNalismo de iNvestigação e Não Haver aiNda uma

liNguagem própria para o jorNalismo digital, como Há

para a impreNsa escrita.

quaNto ao primeiro caso, Nos eua, o jorNalismo “sem

lucro” está a fazer camiNHo, e Nisso “o sul” está à la

page. No texas tribuNe, um meceNas pôs à disposição um

milHão de dólares e depois aNgariou três milHões, para

pôr a fuNcioNar uma equipa de jorNalistas de alta qua-

lidade. eNtretaNto, 1600 pessoas doaram, cada uma, 70

euros, para garaNtir a iNdepeNdêNcia do jorNal oN liNe. o

mesmo acoNteceu com o voice of saN diego ou com o wall

street jourNal, que criou o pró publica. referirei aiNda

as possibilidades abertas pelo jorNalismo de busca, Nas

graNdes bases de dados dos goverNos, permitiNdo perce-

ber como é que as admiNistrações Nos goverNam. quaNto

à liNguagem oN-liNe, ela vai acabaNdo por ser descoberta

com a produção da rede. o google, por exemplo, traba-

lHa a partir da postura do uteNte e uma Nova lógica aca-

bará por sair daqui.

termiNo com dois desafios à Nossa escala “(g)local”:

- para quaNdo um e-goverNo a Nível da autarquia de

setúbal?

- quaNdo poderá “o sul” começar a ser cada vez mais

uma plataforma digital, como merece e precisa setúbal,

prosseguiNdo com a sua formatação em papel?

se tivermos mais aNúNcios vamos iNdo!

aNtóNio serzedelo

director d’o sul

Ano: 2010 . nr 08 . Mês: Setembro . Mensal . Director: António Serzedelo . Preço: 0,01 €

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www.jornalosul.com

As respostas às perguntas que a mim próprio, e a vós, co-loco, resumem-se assim – os nossos Magistrados Judiciais, vulgo Juízes, julgam bem? São confiáveis? Pela última comu-nicação oficial conhecida e segundo a entidade que fisca-liza os Juízes, o Conselho Su-perior da Magistratura (CSM) vivemos no paraíso. Mais de noventa deles são óptimos ou bons. Não há um único medí-ocre. No mínimo, face a tantas e de tal gravidade dúvidas que constatamos e temos, o assun-to é, no mínimo, controverso.

Vejamos.Os juízes, constitucional-

mente, e individualmente, são titulares de um órgão de soberania. A Constituição, no seu artº 203 é clara:“Os tribunais são independen-tes e apenas sujei-tos à lei”. Formal-mente, os juízes são avaliados por um órgão pró-prio, chamado Conselho Su-perior da Magistratura (CSM), integrado por magistrados judiciais e outros representan-tes não juízes, sob indigitação do Presidente da República ou eleição da Assembleia da República.Formalmente - in-

sisto: formalmente - os juízes estão em minoria neste CSM. Mas apenas formalmente. Na prática, é sempre um pequeno grupo (de juízes) que tudo pre-para, tudo agenda e tudo deci-de – os não juízes, na esma-gadora maioria dos Plenários do CSM, limita-se a assinar de cruz aquilo que o tal pequeno grupo já preparou (“papinha feita”, diz o jargão), pelo que é possível afirmar que a magis-tratura judicial está totalmente fora do controlo e do escrutí-nio da entidade em nome da qual exercem a sua função – eles administram, importa relevar, segundo a Constitui-ção da República, a justiça “em nome do povo”.

Afirmar que os juízes são avaliados – julgados, para simplificar – por um órgão, o CSM, em que são minoritá-rios, é um em-buste e, mais

que isso, uma flagrante ma-nifestação de desonestidade intelectual, muitas vezes, e bem, denunciada pelo Bas-tonário da Ordem dos Advo-gados Marinho Pinto, ou por outros juristas reconhecidos, desde Miguel Júdice a Pro-

ença de Carvalho. Vale a pena perseguirmos este raciocínio.

O Conselho Superior da Magistratura funciona em Plenário e em Conselho Per-manente. Ao Presidente do C.S.M. (Presidente do Su-premo Tribunal de Justiça Noronha do Nascimento), compete exercer as funções que lhe foram delegadas por este organismo com a facul-dade de as subdelegar no Vi-ce-Presidente, dar posse ao Vice-Presidente, aos Inspec-tores Judiciais, ao Secretário e por exemplo coordenar os serviços de inspecções, fun-ções estas que sempre delega

no vice, como perceberão.O Vice-Presidente substitui

o Presidente nas suas faltas ou impedimentos e exerce as funções que lhe forem delega-das, como efectivamente são, bastando para isso conhecer a praxis do organismo ou o seu próprio site na internet.O Con-selho Permanente, emanado do plenário do CSM, é com-posto pelo Presidente ( já afir-mei que apenas formalmente) pelo Vice-Presidente, por um Juiz da Relação, dois juízes de Direito, um dos vogais indi-cados pelo Presidente da Re-pública e dois vogais de entre os eleitos pela Assembleia da

República – estes últimos três membros do CSM percebem tanto daquilo como eu en-tendo de lagares de azeite e ocupam-se da tarefa o mesmo tempo que eu dedico a caçar perdizes. Deste Conselho Per-manente, restam portanto, em termos de operacionalidade e eficácia, 5 membros – todos juízes e em maioria.

Este pequeno grupo avoca todas as competências e de-tém, na prática, todo o poder executivo.

Convém, ainda, aludir ao jul-gamento do mérito dos juízes.

Quem o faz? Também for-malmente, é o CSM. Sucede

Quem julga os juizes?Num momento em que a justiça está na ordem do dia, sobretudo pelas piores razões, esco-lho este tema,que frequentemente me ocorre acompanhando a vida dos tribunais como jor-nalista, há décadas, ou frequentando-os seja como testemunha ou arguido.

Fresken in der Galerie des Palazzo Medici-Riccardi in Florenz, Szene: Justiziao, 1684-1686, Luca Giordano, técnica de fresco

“ Quem escolhe, selecciona ou indi-gita estes obscuros inspectores?

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que os juízes são inspecciona-dos regularmente por um dos seus pares, que se desloca de tribunal em tribunal a verificar o trabalho de todos os juízes e, quando é caso disso, a instruir processos disciplinares contra magistrados.É aqui que está também o busílis, uma vez que, concluído o trabalho de inspecção, as respectivas con-clusões transitam para o CSM a fim de ser tomada uma de-cisão. Os chamados inspecto-res limitam-se, por exemplo, a contabilizar as pendências – processos em atraso – daí decorrendo a nota que poste-riormente propõem para cada juiz ao CSM, a tal instância do-minada por 5 membros juízes. Sucede que existem tribunais, como os cíveis de Lisboa ou do Porto, em que é material e humanamente impossível aos magistrados darem conta do recado em matéria de volume de processos acumulados, tal como noutros tribunais, como por exemplo os das comarcas do interior, em que os proces-sos são escassos e, portanto, os juízes estão em condições de ter a casa arrumada. Sucede, ainda, que nestas avaliações – que equivalem a uma nota, da qual fica prisioneiro todo o futuro dos magistrados – os inspectores nunca se ocupam do essencial, que é no final de contas saber do mérito ou de-mérito das sentenças judiciais, ou até, e porque não, ocupar-se de apurar das decisões que são, ou não, frequentemente chumbadas pelos tribunais superiores de recurso, muitas vezes daí resultando graves danos morais e patrimoniais para os arguidos. As sentenças dos tribunais de primeira ins-tância – imaginemos o Tribu-nal de Setúbal – estão muitas vezes inquinadas e qualificadas por erros grosseiros pelos Tri-bunais Superiores – Relação, Supremo e Constitucional – e nessa matéria os inspectores pura e simplesmente assobiam para o ar, posto que aos que eles vão é às já referidas “pen-dências”. Dito de outra manei-ra, trata-se de simplesmente verificar se um juiz é expedito a despachar processos ou não, independentemente das con-dições em que trabalha. Não precisaria de ler as colectâneas

de jurisprudência publicadas regularmente onde são revela-dos casos arrepiantes de péssi-mo exercício da Justiça. Basta que me atenha às dezenas de sentenças que conheço e algu-mas das quais acompanhei na fase de produção da prova – o julgamento - para verificar a impunidade quase absoluta de que gozam estes profissionais. Dispenso-me de aludir aos fa-migerados processos Casa Pia, Freeport, Apitos Dourados e afins. Os factos são demasia-damente aterradores para que percamos tempo com (mais) comentários.

Pergunta final. Quem es-colhe, selecciona ou indigita estes obscuros inspectores?

Que critérios éticos e de competência subjazem às suas nomeações?Ninguém sabe.Nem a generalidade dos juízes faz a mais pe-quena ideia.Sou amigo e admirador de vários ma-gistrados deste país, pelos quais nutro consideração pessoal e em muitos casos Amizade.

. Mas a questão não reside na generalidade dos juízes, individualmente considera-dos, mas na corporação em si. Auto-enclausurada nos seus quintalecos obscuros e impenetráveis, em regime de auto-governo e sem prestar contas sobre a sua activida-de, trata-se de um assunto que, mais cedo ou mais tarde, será resolvido.De preferên-cia, com os juízes.Em caso limite, contra os juízes.Em nome do POVO – acrescento. O mesmo Povo que, em Abril, saiu, em festa, à rua, talvez devesse ser informado que a Revolução libertadora dos capitães de Abril não chegou aos tribunais. Alguns dos ju-ízes algozes que perseguiram e prenderam a torto e direi-to nos famigerados tribunais plenários dominados pela PIDE, não viram as suas car-reiras beliscadas e, pasme-se, alguns deles ainda acabariam desabridamente sentados nos cadeirões do Supremo Tribu-nal de Justiça que Abril fez. Citando Ary, não foram estas as portas que Abril abriu.

Guilherme Pereira,

Jornalista e Professor Universitário

PUBL

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AD

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SUL – A relação do PS com a Margem Sul, mais que um mar de rosas, parece ter sido, muitas vezes, um caminho de espinhos. A relação entre Mário Soares e D. Manuel Martins, bispo D. Manuel Martins era, no mínimo, difí-cil. É com Soares que se des-membra o tecido industrial de Setúbal, lançando centenas de famílias para o desemprego e sem sustento…Victor Ramalho – Eu sou, como toda a gente sabe, amigo do Dr. Mário Soares. Com ele aprendi que todos os homens, mesmo as grandes figuras, para além de qualidades, tam-bém têm defeitos. Ninguém é perfeito. O Dr. Mário Soares tem uma característica invul-gar. É um homem de gran-des princípios e de coragem, é inteligente. Não é homem

de intriga, de bastidores, de passos perdidos em cafés, de conversas, de dizer mal. É um homem frontal. Digo-lhe isto porque aprendi muito com ele, tanto na questão da coragem, como na distinção entre a amizade e a política. Por estranho que lhe pareça, conheço também bem o D. Manuel Martins. Reconheço

nele um homem que respon-deu ao des-tino. O que é que aconteceu na altura? O Dr. Mário Soa-res era Primei-ro-Ministro e tinha uma visão para o país que

não era resolúvel no ime-diato. Era necessário salvar o país da bancarrota. Isso exigia sacrifícios enormes às pessoas. Quando o Dr. Mário Soares tomou posse, em Junho de 1983, o país não

tinha dinheiro para pagar os empréstimos que tinha con-traído. O que sucede, é que quando ele deixou o governo, em 7 de Novembro de 1985, os salários reais tinham cres-cido 2,5% nesse ano, estando o país numa rota de desen-volvimento de tal maneira assombrosa que assinou em Junho de 1985 o Tratado de adesão à União Europeia. Isto foi o esforço patrió-tico fundamental, que levou natural-mente a grandes descontentamen-tos, que D. Manuel Martins encarnou. Porém, a história veio a dar razão ao Dr. Mário Soares. O país saiu da bancarrota, con-seguiu recuperar e entrou na CEE. Portanto, foi uma situa-ção que pertence ao passado, que o Dr. Mário Soares nunca lhe ligou, tal como D. Manuel

Martins. É um capítulo da his-tória que o tempo mostrou quem tinha razão na altura. Contudo, o que interessa é olhar para o futuro.

S – Mário Soares, n’ “O elo-gio da política”, publicado recentemente, diz-nos que o modelo social europeu está sob ataque. Aliás, afirma mesmo que o PS não o tem defendido, mercê da introdu-ção das cartilhas e práticas políticas neoliberais no seu seio. O que lhe parece essa análise?VR – As influências nefastas do neoliberalismo nos par-tidos europeus, em geral e nos partidos socialistas, em particular, foi um erro terrí-vel. Os partidos socialistas europeus foram fascinados

pelo endeusa-mento do mer-cado, pela pri-vatização sem a t e n d e r a o s sectores estra-tégicos e com cedências ao liberalismo em todas as fren-tes. Os parti-

dos socialistas não cuida-ram do seu ideário e dos seus partidos, e tal deve ser subli-nhado para que, na crise que estamos a viver, se veja que é necessário reforçar o ideá-rio e o dever de pertença dos militantes ao partido. Repug-na-me completamente esses

sindicatos do voto que sur-gem em eleições, em que as pessoas, do tipo “pica-mio-los”, só cuidam de contar as espingardas, enlameadas que estão nisso até aos ossos. Isto não é ser socialista.

S – Que relação tem Victor Ramalho com a Margem Sul?VR – Honro-me de ser o res-ponsável pela recuperação da Lisnave, que estava com-pletamente falida, em 1996. A Lisnave tem hoje 400 tra-balhadores directos, 2 500 indirectos e não deve nada a ninguém. Factura cerca de 7 milhões de €/ano. Recor-do-me de um telefonema que José Manuel de Melo, a 6 de Maio de 1996, fez para o gabi-nete do Eng. António Guterres, a dizer que a Lisnave estava falida. E eu disse: “Está falida mas vai erguer-se!” e, imedia-tamente, o ministro Sousa Franco também se envolveu e encetámos um processo de reestruturação. Foi das coisas que mais me marcou e pra-zer me deu. Envolvi-me muito nas causas e os trabalhadores conheciam-me e sabiam bem o meu nome. A minha relação com o distrito não é por ser presidente da distrital, é orgâ-nica, forjada pelas lutas, como ainda agora na Auto-Europa e tantas outras.

S – Quais as perspectivas do

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“A história veio a dar razão ao Dr. Mário Soares”, diz Victor Ramalho em entrevista

Victor Ramalho é uma figura de relevo do PS. Afirmasse como “um cidadão que procurou sempre responder aos anseios dos seus conci-dadãos e estar com eles”. É licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa. Foi membro do governo de Mário Soares entre 1984 a finais de 1985, tendo ocupado a Secretaria de Estado do Trabalho. Pertenceu à assessoria económico-social da sua Casa Civil, de 1986 a 1996, aquanto da sua Presidência. Foi ainda assessor de António Guterres, para a mesma área e voltou a ser nomeado Secretário de Estado, desta feita Adjunto da Economia, entre 1997 e 2000. Nasceu em Angola, daí afirmar que “a relação com o mundo lusófono é-me muito cara”. No Estado Novo, a pertença ao movimento Resistência Popular Anti-Colonial valeu-lhe a prisão na Trafaria e em Caxias. Como afirma, “fui como todo o jovem, um rebelde, um inconformado, que não aceitava o regime anterior e nunca o aceitou. Paguei por isso.”

“ O Dr. Mário Soares tem uma característica invulgar. É um homem de gran-des princípios e de coragem

“ Neste mundo é preciso haver um mínimo de consci-ência e de respon-sabilidade.

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“A história veio a dar razão ao Dr. Mário Soares”, diz Victor Ramalho em entrevista

PS para o Distrito?

VR – O Partido Socialista em Setúbal traduz-se nisto: O aeroporto de Alcochete, o prolongamento do Metro a sul do Tejo, a maior zona de dis-tribuição do país que é a Pla-taforma Logística do Poçei-rão, uma nova maquinaria que reforça a produção da pasta de papel da Portucel, tornan-do-a no maior produtor. Toda a península de Tróia benefi-ciou de um investimento de tal maneira avultado, que o torna o primeiro do país e, em que para além disso, os maiores investimentos turísticos do país, nos próximos sete anos, ainda serão na península de Tróia. A ligação de Sines a Beja por auto-estrada, encurtando a proximidade das duas cida-des, é uma realidade. Tudo isto se fez num distrito que se chama Setúbal, não foi num que não existe. Foi aqui! Se ouve respostas capazes do PS foi aqui, com investimentos capazes de alavancar não só Setúbal, mas todo o país. Eu queria chamar à atenção do seguinte. Ouve desperdícios sérios, incluindo pelas Câmara Municipais deste Distrito, que durante anos a fio estiveram no domínio da CDU. A CDU não aprovou, malbaratou e desperdiçou os apoios que a União Europeia deu, no âmbito dos Quadros Comu-nitários.Mesmo aqui em Setúbal, onde se identifica tão forte-

mente o PS com a sua popu-lação, se bem que com erros na parte final, se ainda hoje há uma ETAR deve-se ao PS, se existe uma ponte desnive-lada deve-se ao PS, se exis-tem piscinas deve-se ao PS, se existem arruamentos alcatro-ados em grande parte deve-se ao PS, para não dizer na tota-lidade, nomeadamente na cidade e em Azeitão. Eu acho que é um enorme desrespeito ao povo de Setúbal, que como se sabe elegeu livremente o PS para o governar ao longo de 16 anos, 8 deles em maio-ria absoluta, que a CDU rei-teradamente (em conluio de alguns alegados socialistas), faça injúrias continuadamente ao antigo presidente Mata Cáceres. Compreendendo que, como todo o ser humano, teve erros sérios na parte final do seu último mandato, mas não é legítimo injuriá-lo, até da forma como é feito, desrespei-tando também as pessoas que o elegeram, porque é disso que se trata. E eu sou socia-lista, publicamente condeno estes comportamentos inqua-lificáveis, inaceitáveis, sabe porquê?! Porque eles levam a que a CDU, tendo o poder há mais de 8 anos nesta câmara, diga que tudo o que existe de malefício neste concelho é por obra e graça do Espírito Santo, chamado Mata Cáceres, como se o Partido Comunista não governasse, não tivesse res-ponsabilidade e estivessem

ancorados ao passado.Oito anos, na vida de um país e de um distrito, é muito ano. Eu pergunto às pessoas, o que é que o PCP fez? Eu respon-do-lhe, concretizou um Pólis que é uma coisa sem sentido nenhum, onde a possibilidade de parqueamento automóvel é coisa que não existe, na ânsia de fazer qualquer projecto que servisse aparentemente

a cidade e mais digo, com toda a sinceridade, incluindo que a escola hoteleira que aí está, a CDU durante anos boico-tou-a. Repito, boicotaram-na! E foi mercê deste governo que esta escola importantíssima para a formação hoteleira, fundamental para o país, foi aberta. No outro dia estive a fazer as contas das reivindicações que o

PCP faz em geral ao país e che-guei à conclusão que se nós as atendêssemos e as satisfizés-semos precisaríamos de mais de 30 Orçamentos de Estado para as regularizar. E, portanto, o Estado rebentava pelas cos-turas. Neste mundo é preciso de haver um mínimo de consciên-cia e de responsabilidade. Aliás, neste Orçamento do Estado, que não sei como vai ser nem o conheço, será, de um lado, o PCP a bater forte e feio e, do outro, o PSD e o CDS. O CDS tem uma forma de agir que é berrar muitos nas feiras, faz-me lembrar aqueles mercadejores de feira que procuram vender por boa uma mercadoria com-pletamente estragada. Todos nós os conhecemos, são aque-les que vendem medicamen-tos que curam tudo. Quanto ao PSD, que sabemos o peso que tem neste distrito, estamos falados, mas queria dizer-lhe que o PSD defende hoje uma coisa e amanhã o seu contrá-rio e é por essa razão (e eu sou amigo do seu presidente, mas isto é política e não amizade) que ele teve esse gesto patrió-tico de apoiar o Plano de Esta-bilidade e Crescimento, subiu nas sondagens mais de 10%, quando enveredou pela via do neoliberalismo, desceu 11% e já está abaixo do PS outra vez. Estas titubeações saem sem-pre caras.

Leonardo da [email protected]

96 24 000 17

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A antiga Acrópole de Setúbal

O bairro de S. Domingos foi tornado na freguesia de S. Se-bastião em meados do Século XVI, com o seu característico traçado urbanístico rectilíneo. Nele se instalaram os frades pregadores no Século XVI, construindo o convento de S. Domingos, seguidos, um sé-culo depois, pelos Jesuítas e, por último, os Agostinhos já no Século XVIII, que completaram o seu cerco e contiveram a sua expansão. Trata-se da ocupação humana do mon-te contíguo ao de Santa Maria, dele separado por um desfiladeiro, actual-mente denominado como ladeira de S. Sebastião, antigo braço de rio, que enchia de água o actual Largo do Quebedo, a fazermos fé na planta de Fillipo Terzi, de 1582. A ocupação mais antiga que dele temos notícia é a da necrópole romana de S. Sebastião (Séculos II – V d.

C.), descoberta por António Inácio Marques da Costa, na primeira década do Século XX, aquando da escavação do tú-nel ferroviário que o atravessa mas só publicitada nos anos 60 por Carlos Tavares da Sil-va. Deste então a zona não foi alvo de qualquer intervenção arqueológica, uma vez que as mesmas são feitas ao ritmo dos salvamentos, facto que reflecte mais as prioridades

do investimento em reabilitação urbana, do que o real potencial patrimonial do centro histórico de Setúbal. Tratando-se de um monte des-tacado da antiga

área urbana por um pequeno desfiladeiro, ficou separado da urbe na construção da muralha medieval, que data do Século XIV. Já no Século XVI, abre-se a porta de S. Sebastião, bem dis-tinta pelo traçado maneirista, coadjuvada de uma pequena

ponte de modo a vencer o des-nível, o que permite então a ex-pansão urbanística dessa zona. Não é, portanto, de estranhar o traçado recti-líneo do bairro. Em expansão a partir de mea-dos do Século XVI, os frades p r e g a d o r e s vêm neste bair-ro novo a me-lhor zona para se implantarem em Setúbal. A implantação dos dominicanos nesta vila, que leva ao entendimento entre Frei Luís de Granada, geral dos mesmos e D. Sebastião, patrocinador das obras, encontra a sua justifica-ção na expansão da urbe que, nesse século, assiste a uma fase de crescimento económi-co derivado do sal, bem como demográfico, absolutamente notável. A escolha pelo morro de S. Sebastião fica a dever-se à estratégia da mesma, que se coloca em oposição geográfica clara à do convento de S. Fran-

cisco, a única ordem religiosa masculina então presente em Setúbal, tendo a sua instalação forte impacto visual. Com esta

implantação define-se e contêm-se a expansão do bairro a nascente. A poente esta já estava feita pelo desfiladeiro. O cerco vai tornar-se mais evidente com a implantação do Colégio dos Jesu-ítas, no prolonga-

mento do desfiladeiro. Estes instalam-se nesta zona após te-rem tentado junto do convento de Jesus, o que lhes foi frustrado pelas freiras. Como alternativa foram para junto do morro de S. Sebastião, decisão essa que se vai revelar auspiciosa para a definição das características do bairro, oferecendo-lhe mais um edifício monumental. Tanto os dominicanos, como os jesuítas, são ordens dedicadas ao apos-tolado, ou seja, viradas para a acção pastoral junto dos fiéis. Daí estarem vocacionadas para

os meios urbanos e para o saber. De facto, quer em S. Domingos, quer nos Jesuítas funcionavam as escolas que ensinavam a ler, a escrever, o latim, entre outras e que antecediam o ensino uni-versitário, que em Setúbal não existia. Por último juntam-se-lhes ainda os padres descalços de Santo Agostinho, que leccio-navam filosofia racional e moral, retórica e teologia e que contêm a expansão do bairro a Norte, em conjugação com o Largo do Trigo (actual Largo do Quebe-do). Assim definido, este morro destacou-se da restante malha urbana por razões geográficas que, pelo seu aproveitamento, levaram à criação de razões cul-turais específicas, conferindo uma unidade característica a esta zona que a torna distinta da restante malha urbana an-tiga. Essa unidade é a de uma espécie de acrópole, ou como já lhe chamei anteriormente, o Mons Cognosci.

José Luís NetoArqueólogo

“ (...) os frades pregadores vêm neste bairro novo a melhor zona para se implantarem em Setúba

“ A ocupação mais antiga que dele temos notícia é a da necrópole romana de S. Se-bastião

Vista das Fontainhas - arquivo américo ribeiro

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Nos 100 anos da República como estão a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade? II

Coincidente com a divulga-ção da tríade acima referida, no período republicano vivia-se também em Portugal o ad-vento do positivismo de Au-gusto Comte, que foi pensado e ensinado principalmente pelo ilustre patriota e presidente da Republica Teófilo de Braga, pas-sadas que estavam as obscuras idades teológicas e metafísicas da humanidade. Perseguia-se cegamente o teísmo, em muitos casos por rancor à memória dos terríveis actos da inquisição e divinizou-se a Humanidade e a República numa espécie de deusa feminina de belo perfil com um barrete frígio, mais próxima das Senhoras do Ó ou das deusas da fertilidade, do que das Virgens católicas. A nova religião estava instituída. Num país mariano e panteísta, a substituição foi fácil. A divul-gação da obra de Henri Bergson oposta ao positivismo, com a importância dada por alguns dos membros da geração da Re-nascença Portuguesa à intuição Intelectual, ainda estava no seu começo, não chegando a ser a devida, pelo triunfo da geração da Seara Nova e do racionalismo de António Sérgio.

Neste ambiente de turbulência ideológica e, simultaneamen-te, de esperança de redenção, muitas foram as almas gene-rosas que se entusiasmaram e entregaram as suas fortunas e vidas ao ideário patriótico e republicano.

Virgílio de Mes-quita Lopes, que muito justamen-te tem hoje o seu nome inscrito numa rua que atravessa o coração da vila de Sesimbra, foi uma dessas almas. Maçon de grau 33 ; Grande Tesoureiro do Grande Oriente Lusitano no perío-do do Grão Mestre Magalhães Lima; Presidente da Câmara Municipal de Sesimbra, de 1913 a 1917, pelo Partido De-mocrático republicano, num período extremamente difícil da vida do País: o envolvimento na 1ª Grande Guerra, a fome, o poder da rua, as lutas internas dos republicanos entre demo-cratas, evolucionistas, unionis-tas e monárquicos (na época apenas tolerados). Num perí-

odo de enormes dificuldades económicas, Mesquita Lopes soube segurar o leme da Câ-mara, vindo a executar parte das obras de abastecimento de água potável à vila de Sesim-bra (lembre-se a Fonte Nova situada no largo com o mes-mo nome). Homem da razão prática, progressista e activo, viveu o tempo de abertura à sociedade e de exposição pú-blica do Grémio Lusitano, em sessões de beneficência ditas brancas, onde participavam todas as famílias no exercício da virtude da generosidade. Cabe aqui referir o seu papel na resolução da epidemia da pneumónica que assolou Se-simbra no período da guerra, e que foi debelada pela contri-buição decisiva de um homem seu contemporâneo e amigo, o Dr. Aníbal Esmoriz, o qual veio a falecer por contágio, num episódio de santidade civil tão raro e que revelou o mais alto espírito de liberdade, igualdade e fraternidade. Nas cerimónias fúnebres, quem fez o discurso in memoriam foi Virgílio Mesquita Lopes, num registo apartidário e humanista que muito revela da grandeza do seu carácter e das suas qualidades como ser humano, e do qual não posso deixar de transcrever alguns elevados trechos ilustrativos .

Mais tarde, já depois de ter sido Presidente da Câmara, veio a envolver-se num projecto de

desenvolvimen-to do distrito, que dirigiu: a linha de caminho de fer-ro Tejo-Oceano-Sado (também uma tríade!) que ligaria Cacilhas, Sesimbra e Se-túbal. Por razões que escaparam à sua vontade e que se devem à deslealdade de alguns amigos

próximos, e também ao esta-do de balbúrdia das instituições que exerciam o poder no País, o projecto não se chegou a re-alizar, tendo ficado apenas pela colocação de umas primeiras linhas em Cacilhas. (Hoje, pas-sados quase 100 anos, ainda só existe a ligação a Setúbal). Por esta razão, a família de Mesquita Lopes vem a perder todas as suas posses e, no alvor da im-

plantação da ditadura do Ge-neral Gomes da Costa, é preso e condenado ao degredo na ilha do Sal. Um conjunto sig-nificativo de pessoas das mais diferentes origens e dos mais diferentes credos interessaram-se pela situação e, in extremis, quando Virgílio já estava na fila de embarque, é-lhe conseguido o indulto, sendo absolvido. É nesta altura que escreve um texto de agradecimento, no qual, perante a possibilidade da perda objectiva da sua liber-dade, os valores da igualdade e da fraternidade sofrem uma ascensão para um plano ético onde se verifica que, afinal, a fraternidade, numa hierarquia insuspeitada, também abrange os inimigos políticos (na reso-lução do seu caso, a intervenção de um aristocrata terá sido de-cisiva), e não apenas os do seu partido, que, por sinal – e sem, por pudor, os referir –, foram alguns dos que o traíram:

“Mal pensava eu que ao atin-gir esta altura da vida, teria de pôr o meu coração a sangrar de agradecimento nas mãos de centenas de pessoas, no núme-ro das quais avultam os dos meus inimigos políticos.

A minha prisão a que por

falsas e desleais denúncias fui submetido ultimamente deu-me ensejo a conhecer a magnanimi-dade de pessoas que, inúmeras pessoalmente, por telegramas, por cartas e por outras formas me protestaram a sua amizade ou muito simplesmente a sua cativante simpatia.

As horas amargas do encar-ceramento sobretudo as do Domingo 20 do corrente, do-mingo magro, em que já estava na formatura para embarcar, nunca mais as olvidarei; e por este mesmo motivo as demons-trações de afecto e de carinho que recebi trazem-me a alma a transbordar de gratidão.

Nunca a política me serviu para meu lucro pessoal.

Não me faltaram ofereci-mentos e alguns de incontes-tável valor.

Renunciei a conveniências e servi sempre princípios.

Se incomodei amigos foi para servir amigos que, para mim, contem mais do meu es-forço do que do favor alheio.

A situação penosa em que me encontrei, trouxe-me re-velações e desenganos. Gentes a quem nada fiz encheram-me de atenções; pelo contrário outros me fizeram o vácuo…

Não lembrarei estes.Para todos os que se lem-

braram de mim, vai neste mo-mento renunciando a todo o partidarismo, quero ser e ficar só republicano., a minha mais viva gratidão.

Á Ex.mª.Camara Municipal de Cezimbra protótipo da dignidade administrativa; às agremiações aos amigos e aos antigos correligionários; aos inimigos políticos; á Direcção da Companhia Tejo- Ocea-no-Sado, etc. aqui fica o meu cumprimento de profunda e sincera gratidão já que não posso fazer pessoalmente

...Obrigado, muito obriga-

do.Lisboa 28 de Fevereiro de

1927

Não obstante o carácter dis-creto deste escrito, considerei ser a sua divulgação uma exi-gência, porque muito do que está expresso neste agradeci-mento deveria servir de guia para a actividade política em Portugal, e para as gerações que hão-de vir a exercer o poder.

Luís Paixão,Arquitecto

“ Virgílio de Mesquita Lopes, que muito justa-mente tem hoje o seu nome inscrito numa rua que atravessa o co-ração da vila de Sesimbra, foi uma dessas almas.

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Senhor Director,Ao escrever o texto publi-

cado na vossa edição de Agosto de 2010, a senhora Ana Guerra fá-lo, transversalmente e quase desde o início ao fim, de forma arrogante e com um palavre-ado estupidamente critico a uma instituição da cidade de Setúbal como o trissemanário «O Setubalense», assim como à autora do texto publicado na edição deste trissemanário do dia 5 de Junho de 2010, afec-tando a reputação e boa fama da jornalista em causa.

1-Escreve a senhora Ana Guerra que um morador terá dito haver “vozes dissonantes como ‘as criticas do setuba-lense e de 2 vizinhas daqui”.

O artigo publicado em «O Setubalense» (e não setuba-lense) não é uma critica deste jornal, nem da jornalista que assina o artigo. Trata-se de uma reportagem onde somente está descrito o que de facto, e na ocasião em que a mesma esteve no local, aquela lá encontrou uma vez que, e segundo vários moradores naquela área da cidade, a situação tem-se vindo a agravar de dia para dia.

2- Escreve a senhora Ana Guerra não querer “rebater aquilo que, para mim, é uma posição medíocre, tendenciosa e demagógica” e que “gostava, no entanto, de pôr cá para fora, a título de desabafo, algumas reflexões resultantes do con-flito entre o artigo do setuba-lense e a minha sensação ao visitar o espaço em questão: O artigo reproduz e defende esta sociedade industrializada, que especifica as tarefas até ao extremo, produzindo especia-listas de tudo e mais alguma coisa – para intervir no espaço público só as pessoas cujas profissões são essas!”.

Não tenho o prazer de conhe-cer a senhora Ana Guerra. Res-peito a sua opinião, como a de

qualquer outra pessoa, por mais descabida que seja! Quanto ao facto do que está escrito no meu texto, da referida edição de «O Setubalense», ser “uma posição medíocre, tendenciosa e demagógica”, essa já é uma outra questão: volto a expli-car à senhora Ana Guerra que o texto publicado é uma repor-tagem – o que me vou escusar de explicar à senhora o que é! -, que ao longo de mais de 20 anos de profissão nunca tive posições medíocres, até porque não o sou, muito menos tenden-ciosas ou demagógicas, atitu-des incompatíveis quer com a minha personalidade, quer com a actividade jornalística e com o Código Deontológico dos Jor-nalistas Portugueses que, desde sempre, cumpri com rigor facto pelo qual, neste meu direito de resposta, reservo para mim – e não o escrevo – o que penso de pessoas como a senhora Ana Guerra que defendem a utili-zação do espaço público (que é exactamente aquilo que a desig-nação indica) como um espaço onde tudo é permitido, em com-pleto desrespeito pelos direitos dos restantes cidadãos, o que me leva a pensar ser também, a senhora Ana Guerra, defensora dos actos de vandalismo prati-cados nesta cidade, dos graffitis, do lixo deitado para o chão, dos cocós dos cães espalhados por tudo o que é lado, etc.etc.

Li o artigo da senhora Ana Guerra e, sinceramente, não pensava encontrar na publica-ção que o senhor Director dirige um artigo desta natureza. Não é correcto, é ofensivo do bom nome deste jornal centenário e da jornalista em causa, e é pelas razões apontadas que solicito o direito de resposta na vossa próxima edição.

Sem mais

Ana Maria SantosCarteira Profissional n.º 4696

Direito de resposta

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O Sul – Com a nova legislação relativa aos bombeiros pro-fissionais, o batalhão de Setú-bal terá de passar a contar com 400 elementos. Quan-tos profissionais têm?Bombeiro Profissional – Neste momento temos 118, sendo que 14 elementos se vão refor-mar brevemente.

S - então a corporação vai ficar com ¼ dos efectivos exi-gidos por lei?BP - Exactamente!

S - Apesar de autónomos os bombeiros têm vinculação à Câmara Municipal de Setúbal. Como se vai resolver isto?BP - A CMS tem estado muito reticente em abrir novas recrutas. Fala-se muito da corporação integrar os bom-beiros voluntários nos seus serviços, para intervir conjun-tamente, como forma de mis-turar as duas corporações.

S - Será que essa solu-ção representa uma nota de reconhecimento pelo

excelente trabalho desen-volvido pelos voluntários, ou uma nota de reprovação aos sapadores?BP - Parece-me a mim que é mais uma nota de reprovação aos sapadores, pois estes exi-gem maiores gastos.

S - Qual a diferença de forma-ção entre bombeiros voluntá-rios e bombeiros sapadores?BP - Os voluntários têm cerca de 600 horas, distribuídas por 9 meses em regime pós-la-boral, enquanto os sapado-res têm uma formação con-tínua de 6 meses com mais de 1500 horas de formação, seguida de um estágio profis-sional de mais 6 meses.

S - O regime misto, com sapado-res e voluntários, não é ilegal?BP - Sim. As companhias de bombeiros profissionais não prevêem voluntários nos seus quadros.

S - Não será compreensível numa autarquia com um enorme passivo, esta solu-ção, como forma de econo-mizar recursos?BP - Compreensível é, mas temos de ter em conta que a autarquia tem um contrato onde atribui 61 000€ anu-ais aos voluntários, para eles prestarem serviços de apoio que não cumprem, ao passo que as verbas para reequipa-mento nos sapadores são de

10 000 a 15 000€. Entre gas-tos e poupanças, não se vêm critérios.

S - esta situação coloca em perigo as populações de Setúbal?BP - Ao serem integrados ele-mentos estranhos ao corpo dos sapadores, vai haver um período de adaptação. Os sapadores têm um nível téc-nico especializado, ao passo que os voluntários não. Para as pessoas terem noção, por Setúbal circulam diariamente 600 camiões com produtos perigosos. A cintura indus-trial de Setúbal, pela sua natureza, é de alto risco. Só os profissionais têm profis-

sionais especializados e equi-pamento para enfrentar este tipo de combate.

S - Porquê 400 profissionais para 100 000 habitantes?BP - Os critérios foram defi-nidos pelo Estado, a partir dos números habitualmente utilizados pelas empresas especializadas em seguros. Sem o preenchimento total dos quadros profissionais, vai haver, para industriais e comerciantes de Setúbal, um agravamento automá-tico dos prémios que pagam às seguradoras.

Leonardo da [email protected]

Quando os Soldados da Paz são obrigados a erguer o Machado de Guerra

Num Verão trágico, como já não existia memória recente, os bombeiros viram-se expostos aos mais variados perigos. Aos poucos, vamos sendo informados dos re-sultados das reestruturações internas das corporações e das novas linhas de comunicação e articulação, que eviden-temente claudicaram, expondo a nu a es-tratégia de desinvestimento público em serviços fundamentais para a protecção das populações, o que se revelou dema-siado caro para o que todos estávamos dispostos a pagar.As denúncias efectuadas por um bombeiro profissional de Setúbal a O SUL, revelam um mal-estar latente, uma situação ex-plosiva, que opõe os Soldados da Paz ao actual executivo camarário, que, segundo as declarações efectuadas, se prepara para juntar num só regimento os sapadores (bombeiros profissionais) e a associação humanitária dos bombeiros voluntários, como forma de disfarçar a não abertura de concursos públicos para a carreira, num efectivo que conta pouco mais dos 25% dos profissionais requeridos por lei. A por vezes difícil relação entre os pro-fissionais e os voluntários recebe nova acendalha. A factura desta poupança na segurança das populações prepara-se para ser paga por todos nós!

entrevista exclusiva a O SUL

Novembro de 2008Pta Afonso Paiva n.º 13A explosão de um prédio que desalojou centenas de famílias, contou com a intervenção rápida dos Sapadores de Setúbal, que foram louvados pelos moradores.

Fevereiro de 2009Incêndio na PortucelO incêndio das aparas poderia ter-se revelado catastrófico, mas a inter-venção rápida dos Sapa-dores foi salientada pela empresa, que agradeceu à corporação em comu-nicado público.

Julho de 2010Afogamento no SadoPor insistência da Polí-cia Marítima, é o corpo especializado de mergu-lho dos Sapadores selec-cionado para proceder às buscas do menino que se afogou em Alcá-cer do Sal.

Agosto de 2010SomincorNo cais de carga da Sociedade Mineira de Neves Corvo, junto à Central Termoeléctrica de Setúbal, deu-se um i n c ê n d i o a l t a m e n t e perigoso.

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Projecto VAI.Pe – Vai. Pela escol(h)a

O VAI.PE, em parceria com a Escola Secundária D. João II, surge enquanto proposta de trabalho, com vista a contrariar os índices de abandono, absen-tismo e insucesso escolar do 3.º ciclo do Ensino Básico, por via de uma complementaridade entre a acção pedagógica da escola e uma intervenção inte-grada na área psico-social e de promoção da cidadania.

O projecto VAI.PE está a implementar, desde Janeiro de 2010, um Programa de Desenvolvimento Pessoal e Social que incide sobre 3 sis-temas: “Escola, Família, Co-munidade”, dando resposta às necessidades específicas de cada aluno.

Através da implementa-ção do Programa de Desenvolvi-mento Pessoal e Social, o VAI.PE busca promover a educação e o desenvolvimento não só dos jovens destinatários, mas também das suas famílias, da escola e da comunidade.

O trabalho de-s e n vo l v i d o n o primeiro semestre deste pro-jecto passou pelos habituais momentos de apropriação por parte da equipa, envolvimen-

to do Consórcio e, sobretudo, por um grande investimento na conquista de relação com os jo-vens, bem como com a restante comunidade educativa onde o projecto está inserido.

Durante o primeiro trimes-tre do Projecto, a intervenção centrou-se:

a) Ao nível dos jovens – em actividades lúdico-pedagó-gicas com o objectivo de aproximação e de captar o seu interesse pelo trabalho que o projecto irá desenvol-ver ao longo dos próximos três anos;

b) Ao nível da comunidade escolar – a participação do co-ordenador nas reuniões periódi-cas de avaliação nos diferentes concelhos de turma e nas reu-

niões de Projec-tos Curriculares de Turma, com o objectivo de divulgar as po-tencialidades do projecto, e, sobretudo, imer-gir na cultura organizacional desta escola, le-vou a apropriar-se da linguagem da comunidade

escolar, conhecer as aspirações e preocupações dos alunos, da comunidade escolar e dos en-carregados de educação.

c)Ao nível das turmas – na criação de condições para a implementação de soluções para problemas diagnostica-dos pelos professores.

No segundo trimestre, as relações de confiança estabe-lecidas possibilitaram que, na sequência do insucesso escolar dos destinatários, se iniciasse uma reavaliação diagnostica da intervenção do projecto, envolvendo a direcção da es-cola e professores, escutando também as preocupações dos encarregados de educação. Esta reavaliação tornou-se um recurso efectivo da escola na construção de soluções.

O Projecto surge como um aliado dos professores e dos directores de turma no senti-do em que os pretende apoiar em múltiplas frentes. Tanto na dinâmica de trabalho com os encarregados de educação, como na procura de soluções alternativas para os Jovens. Estamos empenhados na exis-tência de um apoio social e psicológico de forma continu-ada e, através da parceria com a Escola Superior de Saúde de Setúbal, fornecer um apoio ao nível dos problemas de comu-nicação e linguagem.

Podemos dizer que dos 81 destinatários do Projecto, classificados enquanto jovens com planos de recuperação no

inicio do 2.º período escolar (Abril), 28 transitaram para o 8.º ano.

Dos restantes 53 (10 estavam em abandono ou absentismo escolar prolongado) foi desen-volvida uma articulação estrei-ta com a família, respectivos directores de turma, direcção da escola, serviço de psicolo-gia e orientação e restantes re-cursos da comunidade, tendo em vista uma procura activa e objectiva de percursos edu-cacionais que viabilizassem a continuidade do progresso escolar destes jovens.

Foi dada resposta a 26 destes jovens. 15 integraram a turma de Percursos Curriculares Al-ternativos. 11 frequentam actu-almente Cursos de Educação e Formação de Jovens.

Podemos dizer que o Pro-jecto, em conjunto com a Es-cola, possibilitou a continui-dade de um percurso escolar a 54 jovens em risco.

Cumpre ainda referir que esti-veram presentes em sessões de acompanhamento psicológico individual 15 destinatários e ao nível da terapia da fala, foram sinalizados e diagnosticados 16 destinatários. No que diz respei-to ao acompanhamento social foram acompanhados 17 Jovens e seus familiares.

Para além deste trabalho personalizado e individualiza-

do, o VAI.PE desenvolve ainda momentos de grupo, que pro-movem a ocupação saudável dos tempos livres dos jovens. Durante as pausas lectivas, realizam-se actividades diárias que possibilitam o alargar os seus horizontes através de vi-sitas culturais e artísticas, acti-vidades desportivas e de novas aprendizagens não formais, que potenciam a abertura de um leque de escolhas que se constituem enquanto novas possibilidades e alternativas.

O Projecto VAI.PE é um pro-jecto financiado pelo Programa Escolhas 4.ª Geração, tendo como entidade gestora e exe-cutora a SEIES – Sociedade de Estudos e Intervenção em En-genharia Social e uma parceria constituída pela Escola Secun-dária D. João II, Direcção Geral de Reinserção Social, Comissão Protecção Crianças e Jovens de Setúbal, Direcção Regional de Lisboa e Vale do Tejo do Instituto Português da Juventude, Agru-pamento de Escolas Lima de Freitas, Centro de Formação de Professores, Instituto Politécni-co de Setúbal – Escola Superior de Saúde, Câmara Municipal de Setúbal e Junta de Freguesia de S. Sebastião.

Vasco CaleiraCoordenador de Projecto VAI.PE

“ o VAI.PE busca promover a educação e o desenvolvimento não só dos jovens destinatários, mas também das suas famílias, da escola e da comunidade.

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Projecto VAI.Pe – Vai. Pela escol(h)a Paz sim! Militarização não!No passado dia 21 de Se-

tembro festejou-se o Dia Internacional da Paz, que coincidiu com o Dia da De-fesa Nacional para o qual o Governo mobilizou as mu-lheres pela primeira vez, e com a brevidade da realiza-ção da Cimeira da Nato em Portugal, o MDM denuncia os reais perigos e ameaças aos povos mas também o desvirtuamento conserva-dor dos ideais de Igualda-de, Desenvolvimento e Paz que sob a égide das Nações Unidas congregaram milhões de mulheres e milhares de organizações feministas e de mulheres em prol dos direitos e da dignificação das mulheres.

O mundo e o planeta atra-vessam neste primeiro decé-nio do Séc. XXI, um perigoso e instável equilíbrio, face às ameaças de nova corrida aos armamentos, do fabrico de novas armas de destruição massiva e quando no hori-zonte se vislumbram ameaças de instalação de novos arma-mentos na Europa por parte da NATO.

As várias Conferências da ONU sobre as questões das mulheres foram um passo gi-gantesco no reconhecimento da relação indissociável en-tre os direitos das mulheres, o Desenvolvimento social e humano e a Paz.

Segundo a Pla-taforma de Acção aprovada na Con-ferência de Pequim, em 1995,

Constitui um im-portante factor de progresso para as mulheres um am-biente que mantenha a paz mundial e que promova e proteja os direitos humanos, a democracia e a solução pa-cífica dos conflitos, em con-formidade com os princípios de não agressão e uso da força contra a integridade territorial ou a independência política, e de respeito pela soberania, enunciados na Carta das Na-ções Unidas.

15 anos depois da Confe-

rência de Pequim, numa li-

nha de seguidismo obediente e cego à estratégia da Nato, o Ministério da Defesa convoca este ano, as mulheres para o Dia da Defesa Nacional, com o pretexto de que pela primeira vez a Igualdade de direitos, sem diferença

d e g é n e r o , es tá sendo c u m p r i d a . Independen-temente de se c o n s i d e r a r que mulhe-res e homens deverão de-sempenhar t a r e f a s d e responsabi-lidade e de parti lha de

poder, o MDM reafirma que não só os dados estatísticos desmentem que a igualdade entre mulheres e homens es-teja sendo cumprida como até tem aumentado no plano da discriminação do trabalho, da feminização da pobreza e de muitos outros indicadores como são as desigualdades nos salários, a hierarquização profissio-nal ou a sua inserção na vida política numa demonstração

de real desvalorização do es-tatuto da mulher portugue-sa. Contrariamente ao que diz o Ministro da Defesa, a igualdade das mulheres está longe de estar cumprida e as desigualdades não param de aumentar e para o MDM, elas tenderão a aumentar mais se não forem travados os desígnios belicistas e arma-mentistas dos detentores do poder económico centrado na indústria militar.

O que é preciso afirmar é que a luta pelos direitos das mulheres e pela igualdade em Portugal e no Mundo foi e será sempre indisso-ciada da luta pela Paz, sendo certo que as guerras e a crescente milita-rização tem sido o obstáculo maior à igualdade e ao de-senvolvimento dos povos e causas da pobreza, da fome e indignidade em que milhões de famílias vivem

O MDM exige ao Governo português que tenha uma

postura de defesa trans-versal da soberania , da independência, da não in-gerência, da não agressão, da resolução pacífica dos conflitos, da igualdade entre Estados e entre povos; uma postura de pôr fim a quais-quer formas de agressão, não só do domínio privado mas sobretudo do domínio público que violentam a dig-nidade das mulheres; uma postura que ponha termo ao desarmamento e se enca-minhe para a dissolução dos

blocos políti-co-militares, cumprindo e fazendo cum-prir a Cons-t i t u i ç ã o d a R e p ú b l i c a e também a Car-ta das Nações Unidas.

No Seminá-r io do MDM "Mulheres pela Paz" a realizar no dia 23 de O u t u b r o e m Lisboa, pro-curaremos a

convergência de Mulheres, apelando às mulheres, ci-

dadãs, trabalhadoras, de credos e ideologias diver-sas para que dêem as mãos pela paz - porque as guerras são indissociáveis da fome, das desigualdades sociais, económicas e de género. As guerras e as despesas com os armamentos estão de braço dado com a crescente exploração e com a domi-nação humilhante de uns sobre os outros. As guerras e o militarismo são entraves maiores à luta de libertação das mulheres em Portugal e no Mundo.

O MDM apela às mulheres que, no dia 20 de Novembro, engrossem a Manifestação em Lisboa, de repúdio pela Cimeira da NATO em Portu-gal, e contra o envolvimento de tropas portuguesas nas missões militares da NATO, que têm um carácter cada vez mais agressivo, militarista e expansionista incompatível com o desejável equilíbrio de género e de segurança que tanto apregoa.

Regina MarquesDirigente do Movimento

Democrático de Mulheres

“ O que é preci-so afirmar é que a luta pelos direitos das mulheres e pela igualdade em Portugal e no Mundo foi e será sempre indissocia-da da luta pela Paz “ As várias

Conferências da ONU sobre as questões das mu-lheres foram um passo gigantesco no reconhecimento da relação in-dissociável entre os direitos das mulheres, o Desen-volvimento social e humano e a Paz.

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Manifesto por um País livre de PobresPOBReS, NÃO! eStRANGeIROS, NUNCA! ANARQUIStAS, JAMAIS!

Acabou, finalmente, a pobreza, a pedincha e a anarquia dos mesmos de sempre.Nasce uma Nova Sociedade, inspirada pelo pequeno gran-de Sarkozy e regida pela ciên-cia aritmética dos mercados, pelas inspiradas leis da indús-tria, comércio e finança!Agora, todos os pobres, to-dos os estrangei-ros, os anarquis-tas, iconoclastas, ateus, revoltosos e inadaptados terão um rumo a seguir. Criaremos novas normas, uma na-ção nova, leis que todos terão de se-guir, de forma or-deira e exemplar, segundo o modelo 2177-A do Diário da Republica - IIª série. Os pobres, os estrangeiros, os anarquistas e os demais, serão examinados cuidadosamente nos Laboratórios da Direcção Geral dos Assuntos Fiscais, para avaliar do seu estado físico, mental e, sobretudo, financeiro.Os que merecerem a apro-vação dos Serviços serão devidamente normalizados, desinfectados e hermetica-mente fechados!O critério fundamental para a aprovação prende-se com a saúde financeira de cada espécimen, de acordo com as seguintes regras:1 – Só é permitida a estadia em Portugal, aos estrangeiros com emprego, que não tenham

dívidas de qualquer espécie, como por exemplo, renda de casa, merceeiro, água, luz, te-lefone, prestações de carro e electrodomésticos. Também incorrem em expulsão os indivíduos de nacionalidade estrangeira que procurem eximir-se ao pagamento do transporte colectivo, da quo-

ta do seu clube de futebol ou qualquer outro pagamento.2- Todos os po-bres nacionais que não tenham emprego, ou incorram em dívidas descri-tas no ponto 1, perderão a nacionalidade portuguesa.

3 – Não é permitida a estadia em Portugal a indivíduos sem nacionalidade definida.4 – Todos os anarquistas, ico-noclastas, ateus, revoltosos e inadaptados, serão submeti-dos a exames periódicos por parte do Observatório de Segurança. 5 – Todos os indivíduos referi-dos em 4, que não correspon-derem aos parâmetros esta-belecidos pelo Observatório de Segurança, particularmente por representarem um perigo para a ordem pública e a tran-quilidade dos espíritos ou se revelarem pobres, perderão a nacionalidade portuguesa.Todos os indivíduos que sejam expulsos do país, terão direito a uma passagem de avião, só

de ida.Os processos de expulsão de-mocrática serão integrados num nível de gestão industrial, organizada e gerida como uma fábrica de enchidos!!!Expulsões sim; mas muito humanas, com licença e au-torização.Expulsões, sim; mas homolo-gadas pela ASAE e restantes organismos oficiais

Expulsemos os pobres, os he-réticos, os anarquistas e de-mais espécimen deste tipo e marchemos, cantando e rindo, com as carteiras recheadas!Mais uma vez daremos o exemplo ao mundo. Construi-remos um mundo asséptico e inodoro, onde não cabem os pobres, os estrangeiros se forem pobres, e todos os re-voltosos. Todos aqueles que

não dão garantias de solvabi-lidade não interessam à nossa Pátria.Todos terão de se submeter às leis supremas do mercado. Só importam os úteis, produ-tivos e rentáveis!!!

DIRECÇÃO GERAL DA COLO-NIZAÇÃO DAS MENTES

José Luís Fernandes Félix

“ Os proces-sos de expulsão democrática serão integrados num nível de gestão industrial, organi-zada e gerida como uma fábrica de enchidos!!!

Retirantes, 1944, Candido Portinari, óleo sobre tela - 180x220cm

NIB 0035 0235 0000 2063 6303 4

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Mudar o paradigma - Porquê? Para quê?

Algumas das principais experiências organizadas de teatro profissional do pós-25 de Abril, integradas no mo-vimento do Teatro Indepen-dente e da Descentralização, incorporaram um legado do passado (isto é, da Ditadura) contra o qual em muitos casos tinham, efectivamente, lutado e resistido.

A necessidade de reco-nhecimento público no novo quadro político democrático conduziu em larga medida a uma guerra pela conquista de territórios, tendo apenas um pequeno grupo de criadores vindo a impor-se localmen-te. A pequena dimensão das elites cultas emergentes da revolução, fora de Lisboa e (à distância) de Coimbra e Porto, permitiu e sustentou a instala-ção de monopólios regionais, em alguns casos, na prática, ao estilo do pensamento único do regime anterior, embora sob o disfarce jurídico do estatuto de cooperativa ou associação cultural, mais consonante com os novos tempos.

As circunstâncias em que se encontrava o teatro por-tuguês, na década de 70 do século XX, resultaram tam-bém da baixa qualificação profissional de um sector que, para preservar a sua li-berdade criativa, individual e colectiva, recusou sempre a formação instituída pelo regi-me, através dos cursos minis-trados no antigo Conservató-rio Nacional. Esta realidade alimentou durante décadas o movimento de teatro de amadores, verdadeira escola das artes dramáticas, onde os melhores encontravam o seu espaço de traba-lho menos sujei-to às imposições externas , quer fossem as estéti-cas vigentes, con-dicionadas pelo regime, quer se configurassem nos constrangimentos decorrentes das necessidades bá-sicas de subsistência. Grupos como a Ribalta, a Presença, a Teia, o Sobe e Desce e ou-tros, cumpriam activamente as expectativas das diversas gerações que participaram e assistiram (que é outra forma

de participar) em/a muitos dos mais importantes eventos

culturais pro-movidos na e pela cidade.

N o s a n o s oitenta a moti-vação no cam-po da política externa portu-guesa tomou, então, uma di-recção particu-lar, que acalen-

tou um conjunto de medidas e investimentos do Estado: a integração no clube dos países europeus ocidentais. Para tal foi necessário modi-ficar, internamente, hábitos e costumes. Sobretudo, alterar

a imagem pobre e de baixos índices de desenvolvimento social, económico e cultural que do nosso país tinha essa parte da Europa.

A inexistência de um sis-tema nacional de teatro (a exemplo dos criados para as áreas da Protecção Social, da Saúde ou na Educação), a fraca qualificação dos seus profissionais e a sua concen-tração nos grandes centros urbanos, bem como mui-tas quezílias ou rivalidades extremadas publicamente expostas e empoladas, con-tribuíram para pôr em risco a vida normal de um tecido teatral endemicamente frágil e economicamente irrelevan-

te, na perspectiva dos novos dirigentes políticos da época: o centrão. O paradigma era o industrialismo pós-moderno, a nova aurora tecnocientífica em que todos os problemas se transformariam em oportuni-dades de negócio (subsidiado pela CEE).

Setúbal seguiu a par e pas-so as lógicas e dinâmicas na-cionais dos finais do século passado. Projectos como o do (H)ORAVIVA, o grupo de teatro do Círculo Cultural, o ETC ou o Alcaide Forreta, entre outros, marcaram a vida cultural da cidade em demasiado curto espaço de tempo. A juventude dos in-tervenientes, a proximida-

de e o apelo da capital (tão próxima fisicamente, mas tão longe em tantos aspec-tos do quotidiano…), a que se juntaram a indiferença camarária e as políticas lo-cais (dos anos 80 e 90) de patrocínio do pimba e do mais aberrante popularu-cho, foram os factores que sustentaram um dos mono-pólios mais degradantes do teatro português (o mesmo fenómeno se passou nos do-mínios da dança e do des-porto, mais concretamente no futebol), o TAS liderado por Carlos César.

Fernando Casaca [email protected]

“ Setúbal seguiu a par e passo as lógicas e dinâmicas nacio-nais dos finais do século passado.

Um olhar para trás, para avançar com passos certos.

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teatro Público O teatro de rua é das “artes

populares”, assim designadas no seculo XX, mais antigas.

A origem do teatro, na Gré-cia antiga, remonta a esta prática quando os ditirambos homenageavam, no espaço rua, o Deus Dionisio através dos seus cantos.

Na época mediaval o te-atro era realizado nos mais variados lugares descontí-nuos espalhados pela aldeia, com os padres e mon-ges impedidos de representar nos templos, come-çaram a trans-mitir a palavra de Deus através do teatro no es-paço rua. Desen-volveu-se assim um fenómeno de criatividade onde começa-ram a existir os sa l t imbancos , narradores, cómicos; e o fervilhar de arte nos mais variados espaços publicos, nomeadamente em feiras, praças, etc.

A burguesia no séc. XIX apodera-se do teatro e mi-nimiza o seu espaço atra-vés do arquitectar edificios. Torna-se num espaço fecha-do, um lugar concreto para as suas proprias dinâmicas condicionando assim a rela-ção entre actores e público, entre cena e espectadores. Património privado que ain-da hoje impera.

É na necessidade de ruptura com o edifício construído e com esta burguesia, é no que-rer partilhar com a comunida-de e com os mais variados pú-blicos nos seus mais diversos estratos sociais que o teatro de rua se reestruturou.

O século XX a p r e s e n t a - s e com a prát ica do teatro de rua de autores como Meyerold, Ber-told Brecht com teatro popular e político ou mes-mo Augusto Boal com o teatro do oprimido. Os anos 60 e 70 apareceram nos espaços públicos os happenings,

revitalização de projectos que cruzavam o ritual, a identidade e as diversas co-munidades. Foram espaços marcados pelo teatro polí-tico, pelas reinvidicações, pelo comunitário, pelo ex-perimental.

Ao reflectir sobre teatro de rua dirigimo-nos direc-tamente à questão do espa-ço cidade, espaço habitado

e publico que tanto é respei-tado com as regras sociais i m p l e m e n -tadas como é um espaço de liberdade de acção, de rupturas nos ritmos quo-tidianos, rico a r q u i t e c t ó -nicamente e dinâmico ar-tisticamente com grandes

potencialidades criativas. “Tomando a Rua como ma-téria do próprio espectáculo” (Carreira, 2008).

Quem actua na rua deve ter em conta os seus signos e significados, os desafios, as estruturas arquitectónicas e urbanísticas, as relações existentes com os cidadãos, os sentidos antropológicos e relacionais, as dinâmicas sociais e culturais que o envolvem.

Este espaço segundo Ar-taud é constituído “além da linguagem auditiva dos sons, a linguagem visual dos ob-jectos, dos movimentos, das atitudes e dos gestos, porém com a condição de que o seu sentido, a sua fisionomia e as suas combinações sejam levadas ao ponto de se tor-narem signos, constituin-

do com estes s ignos uma e s p é c i e d e alfabeto”.

O público do teatro de rua é extre-mamente he-terogéneo, fle-xível e móvel multiplicando

assim os significados do es-paço cénico. É um público li-bertador na posição física, na

expressão, na representação, na criação, na improvisação, na linguagem do corpo.

O corpo do actor e do “es-pec-actor” é um corpo que dialoga, que está preparado a transformações repentinas, que se movimenta, dança e actua; que transporta ener-gias, expressões, interdisci-plinaridade e complexidade; que comporta várias áreas do saber e do ser.

Nesta comunicação, inte-racção e articulação entre actor e público, nesta liber-

dade de criação, na democra-cia apresentada, o teatro de rua conjuga-se com as me-todologias e práticas de uma outra área do teatro, Teatro Comunitário.

É neste lugar de liberdade de criação que o encenador, dinamizador, artista de ambos os teatros podem-se denomi-nar, segundo uma expressão de Bim Mason, de “provoca-dores”. É um “provocador” de intenções, de liberdade criativa e artística, de novas estéticas e aprendizagens, no

“mexer” com públicos, no in-vadir espaços.

Ambos os teatros não devem ter só em atenção o respeito pelas comunidades, pela relação com o publico, pela liberdade artística, pela inclusão, descentralização, aproximação e comunica-ção mas também a sua arte, estética, técnica, rigor e dis-ciplina artística.

Elsa Ferreira

“Provocadora” do grupo de teatro Comunitário Arte Clandestina

“ O século XX apresenta-se com a prática do teatro de rua de autores como Meyerold, Bertold Brecht com teatro popular e político ou mesmo Augusto Boal com o teatro do oprimido.

“ A burguesia no séc. XIX apodera-se do teatro e mini-miza o seu espaço através do arquitec-tar edificios.

teatro de rua em inglaterra, 1676

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FIChA TÉCNICA:Propriedade e Editor: Prima Folia - Cooperativa Cultural, CRL Morada: Largo António Joaquim Correia, nr 7 1º dto, 2900-231 Setúbal Telefone: 96 388 31 43 NIF: 508254418 director: António Serzedelo Subdirectores: Anita Vilar e José Luís Neto Consultor Especial: Fernando dacosta e Raul Tavares Conselho Editorial: Catarina Marcelino, Fernaanda Rodrigues, Leonardo da Silva, Luís Paixão, Maria Madalena Fialho, Patrícia Trindade Coelho, Paulo Costa e Regina bronze directora de Arte: Rita Oliveira Martins Consultor Artístico: João Raminhos Morada da redacção: Rua Fran Pacheco n.º 176 1.º andar 2900-374 Setúbal E-mail: [email protected] Site: http://www.jornalosul.com Registo ERC: 125830 depósito Legal: 305788/10 Periodicidade: Mensal Tiragem: 10.000 exemplares Impressão: Tipografia Rápida de Setúbal Morada da tipografia: Travessa Gaspar Agostinho, nr 1 - 2º - 2900-389 Setúbal Telefone: 265 539 690 Fax: 265 539 698 E-mail: [email protected]

ella Palmer

Os Ella Palmer são uma das bandas emergentes da cidade nos últimos anos. Ao longo dos seus cinco anos de existência, os Ella Palmer per-correram o país de norte a sul, lançaram um EP e um álbum, e encantaram todas as multi-dões por onde passaram.

A banda formou-se em 2005, mas de lá para cá sofreu vá-rias transformações. Primeiro a nível musical, a banda passou a ser mais rock, menos scre-amo (est i lo mais pesado), e assim a abran-ger um público maior, segundo a nível de ima-gem, a banda tem até uma música em português, o que muda o sentido da banda, para um lado mais nacionalista. A formação actual conta com

Eduardo Nunes (vocalista), mais conhecido como Dado; Luís Soares (baterista); Bruno Letras (guitarrista); Bernardo Pereira (guitarrista) e João Descalço (baixista). A força da banda reside no núcleo, na coesão enquanto grupo e na qualidade técnica de cada um. São sem dúvida grandes músi-cos, com uma enorme capaci-dade de tocarem músicas rock

ou músicas mais calmas, chegando assim a públicos diversos. Este fac-to verificou-se em eventos como as últimas edições do Festival Alter-nativo do Liceu, em que as idades eram maioritaria-mente entre os 15

e os 25, e o concerto no Clube Setubalense, com idades entre os 15 e os 50. Para quem os conhece, sabe que são exce-

lentes músicos, bastante em-penhados no que fazem, com um enorme talento.

Os Ella Palmer têm sido uma banda que tem carre-gado a alma da cidade pelo país fora e isto é algo extremamente importante. Esta forma de divulgar Setúbal pelo país é essencial, pois chega aos jovens de uma forma di-recta, ficando as-sim com vontade de visitar a cida-de. Aliás, a cultura de uma cidade é isso mesmo, um meio de trazer pessoas de fora cá. Não podemos deixar que tudo o que é bom fuja “lá para fora”, temos que agarrar o bom produto da cidade e dar-lhe hipóteses para crescer, ferramentas, neste caso espa-ços para actuações e meios de

promoção. Os Ella Palmer têm sido uma das fontes culturais da cidade nos últimos anos, a par de grandes bandas como os More Than A Thousand, The

Doups e Hills H a v e E y e s . Quantas pes-soas vêm de Lisboa, Alma-da e outras só para verem es-tas bandas na nossa cidade?

Para pessoas como eu, que com 18 anos conheceram esta banda, é

um enorme orgulho vê-los crescer. Agora, quatro anos depois, sei também que são capazes de mais ainda, só precisam de algumas opor-tunidades. Os Ella Palmer são parte do futuro risonho de Setúbal, esse futuro cul-tural tão apoiado nas bandas

de nossa cidade. Certo é que temos algumas das bandas mais importantes na músi-ca portuguesa underground (não-comercial). Resta-nos agora tornar esse núcleo maior e mais forte. Sabemos que é com bandas como os Ella Palmer que a cidade tem hipóteses de evoluir, porque a cultura atraí público e o pú-blico consome, dando assim oportunidade à cidade de crescer em vários aspectos. Temos que colaborar ao má-ximo com a cultura, principal-mente a que é feita na nossa cidade. Só assim podemos al-cançar um estatuto que está mesmo ao virar da esquina, o de sermos uma das maiores cidades culturais de Portugal. Os Ella Palmer estão a ajudar, venha você também ajudar e apoie a cultura setubalense!

João Miguel [email protected]

“ Os Ella Palmer têm sido uma banda que tem carregado a alma da cidade pelo país fora e isto é algo extrema-mente importante.

“ Os Ella Palmer são parte do futuro risonho de Setúbal, esse futuro cultural tão apoiado nas bandas de nossa cidade.

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A sessão terá A durAção AproximAdA de 1 horA e poderá contAr com pArticipAção de Ambos os pAis.

A inscrição tem um vAlor de 13€ por sessão pelo bebé e AcompAnhAntes, que poderão ser pAgos no diA, cercA de 15 minutos Antes de começAr.