National Geografic - O Evangelho de Judas
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Perdido durante quase 1.700 anos, um manuscrito empapiro já se desfazendo apresenta a história do homemmais odiado da história sob nova luz.
AUTOR: Andrew CockburnFOTÓGRAFO: Kenneth Garrett
Com um ligeiro tremor nas mãos, causado pela doença dParkinson, o professor Rodolphe Kasser pegou o textoantigo e começou a ler com voz firme e clara: “Pe-di-ahkawn-aus ente plah-nay”. Essas palavras estranhas eramem copta, a língua fa-lada no Egito no alvorecer do
cristianismo. Não eram ouvidas desde que a Igrejanascente declarara o documento proibido aos cristãos.
Esta cópia, não se sabe como, sobreviveu. Escondida pouma eternidade no deserto egípcio, finalmente foidescoberta no fim do século 20, para depois novamentedesaparecer no submundo dos negociantes de antigui-dades Quando chegou às mãos de Kasser o papiro – um
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enlouquecido de remorso, Judas se enforcou. Ainda hojeele é o símbolo supremo da traição. Nos abatedouros, obode que conduz os outros animais ao abate é chamado Judas. Na Alemanha, autoridades podem proibir os paisde dar o nome Judas a um recém-nascido. Na IgrejaSuspensa, um templo cóptico na Cidade Velha do Cairo,os guias apontam uma coluna negra na colunata branca digreja – Judas, é claro. O cristianismo não seria o mesmosem o seu traidor.
Um contexto sinistro permeia as descrições tradicionaisde Judas. À medida que o cristianismo desvinculou-se dsuas origens como uma seita judaica, os pensadorescristãos foram julgando cada vez mais conveniente culpos judeus, como povo, pela prisão e execução de Cristo,assim pintar Judas como o judeu arquetípico. Os quatroevangelhos, por exemplo, tratam com brandura ogovernador romano Pôncio Pilatos, mas condenam Judae os altos sacerdotes judeus.
O manuscrito secreto mostra-nos um Judas muito
diferente. Ele é um herói. Ao contrário dos outrosdiscípulos, realmente compreende a mensagem de CristoQuando entrega Jesus às autoridades, está fazendo o queseu mestre pediu, sabendo o destino que irá acarretar pasi mesmo. Jesus o avisa: “Serás amaldiçoado”.
A mensagem é chocante o suficiente para despertarsuspeitas de fraude, coisa comum em se tratando deartefatos que se dizem bíblicos. Foi o caso de uma caixavazia de calcário que supostamente continha os ossos deTiago, irmão de Jesus. Ela atraiu multidões quando foiexibida em 2002, mas logo se revelou uma engenhosafalsificação.
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concepções sobre Jesus que diferiam das apresentadaspela Igreja tradicional. Entre os que ele criticou estava ugrupo que reverenciava Judas, “o traidor”, e que criarauma “história fictícia” à qual “chamam Evangelho deJudas”.
Pelo visto, décadas antes de o manuscrito hoje nas mãosde Rodolphe Kasser ser escrito, o irado bispo sabia sobro texto original em grego.
Irineu estava às voltas com uma profusão de heresias. Nprimeiros séculos do cristianismo, o que chamamos deIgreja, operando por meio de uma hierarquia de padres ebispos, era apenas um de muitos grupos inspirados porJesus. O estudioso da Bíblia Marvin Meyer, daUniversidade Chapman, que ajudou na tradução doevangelho, resume a situação com uma frase: “Ocristianismo em busca de seu estilo”.
Um grupo chamado ebionitas, por exemplo, pregava queos cristãos deviam obedecer a todas as leis religiosas judaicas, enquanto outro, os marcionitas, rejeitavaqualquer relação entre o Deus do Novo Testamento e oDeus judaico. Alguns afirmavam que Jesus forainteiramente divino, contradizendo outros, para quem elfora completamente humano. Dizem que uma outra seitaos carpocracianos, praticava a troca de casais ritualizada
Muitos desses grupos eram gnósticos, seguidores damesma linha do cristianismo nascente refletida noEvangelho de Judas.
“Gnose, em grego, significa conhecimento”, explicaMeyer. “Os gnósticos acreditavam que existe uma fontesuprema de bondade, que chamavam de mente divina,fora do universo físico Os humanos trazem uma centelh
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encontrar seu rebanho em Lyon sendo subvertido por umpregador gnóstico chamado Marcus, que estavaincentivando seus iniciados a demonstrar o contato diretcom o divino por meio de profecias. Quase tãoescandaloso era o visível sucesso de Marcus entre asmulheres do rebanho. A “iludida vítima” do pregador,escreveu Irineu, irritado, “impudentemente proferealgumas bobagens” e “então se considera profeta!”
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Décadas atrás, as doutrinas desse tipo eram vislumbradasobretudo por meio de críticas feitas por antagonistascomo Irineu, mas em 1945 camponeses egípciosencontraram um conjunto de textos gnósticos, perdidoshavia muito tempo, enterrados em um jarro de cerâmicapróximo à cidade de Nag Hammadi. Entre eles havia made uma dúzia de versões totalmente novas deensinamentos de Cristo, incluindo os evangelhos de Tome Felipe e um Evangelho da Verdade. Agora temos oEvangelho de Judas.
No passado distante, algumas dessas versões alternativaspodem ter sido mais divulgadas do que os evangelhosconhecidos, Marcos, Mateus, Lucas e João. Mas, hoje, aidéia de textos que contradizem os quatro evangelhos
canônicos do Novo Testamento é profundamenteperturbadora para algumas pessoas, como fui lembradoquando almoçava com Marvin Meyer em um restauranteem Washington, D.C. Transbordante de entusiasmo, oeufórico acadêmico limpou um prato de salada de frangoenquanto discorria sem parar sobre as crenças contidas nEvangelho de Judas. “É sensacional”, exclamou. “Explicpor que Judas é apontado por Jesus como o melhor entreos discípulos. Os outros não entenderam.”
A multidão da hora do almoço se fora e estávamos sós n
restaurante quando o maître, hesitante, veio entregar umbilhete a Meyer. Dizia simplesmente: “Deus ditou umlivro”. A mensagem enigmática fora passada por telefoncom instruções para que fosse entregue ao cliente quepedira salada de frango. Alguém que se sentara perto denós pensou que Meyer estava lançando dúvida acerca daBíblia como a palavra de Deus.
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fato é, mas eles não o olham.
A passagem mais importante é aquela em que Jesus diz aJudas:“Sacrificarás o homem que me veste”. Em outraspalavras, Judas matará Jesus – e com isso lhe fará umfavor. “Enfim ele se livrará de seu invólucro material, acarne de seu corpo, e libertará o verdadeiro Cristo, o serdivino que ela contém”, diz Meyer.
O fato de essa tarefa ter sido confiada a Judas é um
indicador de sua posição especial.“Levanta os olhos, vê a nuvem e a luz dentro dela e as estrelas ao redor”, Jesus lhediz para encorajá-lo.“A estrela que mostra o caminho é a tua estrela.” Finalmente, Judas tem uma revelação, naqual ele entra em uma“nuvem luminosa”. As pessoas
abaixo ouvem uma voz saída da nuvem, embora o que ediz possa não vir jamais a ser conhecido, pois nesse trechá um rasgo no papiro. O evangelho terminaabruptamente com um comentário afirmando que Judas“recebeu dinheiro” e entregou Jesus aos que o vinhamprender.
Para Craig Evans, esse relato é uma ficção, escrita emapoio a um sistema de crença que não vingou. “Não hánada no Evangelho de Judas que nos diga alguma coisaque possamos considerar historicamente confiável”, ele
declara. Outros estudiosos, contudo, acham que odocumento é uma nova e importante janela para a mentedos primeiros cristãos. “Ele muda a história dosprimórdios do cristianismo”, diz Elaine Pagels, professode religião na Universidade Princeton. “Não procuramosdados históricos nos evangelhos, e sim os fundamentos dfé cristã.” Bart Ehrman, da Universidade da Carolina doNorte completa: “Isso vai incomodar muita gente”
http://nationalgeographic.abril.com.br/ngbonline/evangelho/manuscritos.shtmlhttp://nationalgeographic.abril.com.br/ngbonline/evangelho/manuscritos.shtmlhttp://nationalgeographic.abril.com.br/ngbonline/evangelho/manuscritos.shtmlhttp://nationalgeographic.abril.com.br/ngbonline/evangelho/manuscritos.shtmlhttp://nationalgeographic.abril.com.br/ngbonline/evangelho/manuscritos.shtmlhttp://nationalgeographic.abril.com.br/ngbonline/evangelho/manuscritos.shtmlhttp://nationalgeographic.abril.com.br/ngbonline/evangelho/manuscritos.shtmlhttp://nationalgeographic.abril.com.br/ngbonline/evangelho/manuscritos.shtmlhttp://nationalgeographic.abril.com.br/ngbonline/evangelho/manuscritos.shtmlhttp://nationalgeographic.abril.com.br/ngbonline/evangelho/manuscritos.shtmlhttp://nationalgeographic.abril.com.br/ngbonline/evangelho/manuscritos.shtmlhttp://nationalgeographic.abril.com.br/ngbonline/evangelho/manuscritos.shtmlhttp://nationalgeographic.abril.com.br/ngbonline/evangelho/manuscritos.shtmlhttp://nationalgeographic.abril.com.br/ngbonline/evangelho/manuscritos.shtml
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escriba anônimo pegara uma pena de junco e uma folha papiro e começara a copiar o “Relato secreto…” Não deter feito isso muito longe dali; a área onde se afirma tersido encontrado o códice fica 65 quilômetros a oeste domosteiro. O escriba pode ter sido um monge, comoaqueles que reverenciavam os textos gnósticos e osmantinham em suas bibliotecas.
No fim do século 4, porém, possuir livros desse tipo erauma imprudência. Em 313, o imperador romano
Constantino legalizara o cristianismo. Mas sua tolerânciabrangia apenas a Igreja organizada, a quem eleprodigalizava riquezas e privilégios, sem falar dasisenções de impostos. Os hereges, cristãos quediscordavam das doutrinas oficiais, não tiveram apoio,foram punidos e por fim proibidos de reunir-se.
Irineu indicara os quatro evangelhos canônicos como osúnicos que os cristãos deveriam ler. Sua lista, por fim,tornou-se a política da Igreja. Em 367, Atanásio, opoderoso bispo de Alexandria e admirador de Irineu,
emitiu uma ordem a todos os cristãos do Egito com umalista de 27 textos, entre eles os evangelhos atuais, quedeveriam ser considerados os únicos livros sagrados doNovo Testamento. Essa lista perdura até hoje.
Não há como saber quantos livros foram perdidos à
medida que a Bíblia tomou forma, mas sabemos comcerteza que alguns foram escondidos. O achado de NagHammadi fora enterrado em um jarro de cerâmica degargalo alongado, talvez por monges dos mosteiros deSão Pacômio, nas proximidades. Um homem apenas teribastado para esconder o Evangelho de Judas, que estavaencadernado junto com três outros textos gnósticos.
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negociar. Emmel estava autorizado a oferecer no máxim50 mil dólares; os vendedores pediam 3 milhões, nem umcentavo a menos. “Ninguém pagaria tudo aquilo”, dizEmmel, hoje professor na Universidade de Münster,Alemanha, que recorda, com tristeza, que o papiro estav“bonito” e lamenta sua deterioração desde esse encontroEnquanto os dois lados almoçavam, ele saiu de mansinhe anotou tudo o que conseguiu lembrar. Foi a última vezque um especialista viu esses documentos nos 17 anosseguintes.
O egípcio naquele quarto de hotel em Genebra era umnegociante de antiguidades do Cairo chamado Hanna. Elcomprara o manuscrito de um negociante de aldeia queganhava a vida procurando material desse tipo. Não sesabe exatamente onde ou como a coleção foi parar nasmãos desse negociante. Ele está morto agora, e seusparentes, no distrito de Maghagha, 150 quilômetros ao sdo Cairo, mostram-se reticentes quando são instados arevelar o local da descoberta.
Logo depois de Hanna adquirir o manuscrito, todo o seuestoque desapareceu em um roubo. Ele afirma que osprodutos roubados foram contrabandeados para fora dopaís e acabaram nas mãos de outro negociante. Temposdepois, contudo, Hanna conseguiu recuperar parte de suamercadorias, inclusive o evangelho.
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Houve um tempo em que pouca gente indagaria como éque uma antiguidade de valor inestimável saiu do país qa abrigava. Qualquer visitante podia coletar artefatos emandá-los para o exterior. Foi assim que grandes museucomo o Louvre e o Museu Britânico, adquiriram muitosde seus tesouros. Hoje, países ricos em relíquias histórictendem a ter uma atitude de dono, proibindo a propriedaprivada e controlando as exportações do patrimônio queherdaram. Os compradores respeitáveis, como os museutentam assegurar-se da legitimidade da procedência dosartefatos, ou origem, verificando se eles não foramroubados ou exportados ilegalmente.
No início da década de 1980, quando ocorreu o roubo, oEgito já proibira a posse de antiguidades não registradas
sua exportação sem licença. Não está claro como essa lese aplica ao códice. Mas, devido às questões sobre suaprocedência, sua situação vem sendo nebulosa desdeentão.
Hanna, porém, estava decidido a ganhar o máximo dedinheiro possível com ele. Como os acadêmicos deGenebra, com sua animação, confirmaram que odocumento era valioso, Hanna partiu para Nova York àprocura de um comprador com dinheiro de verdade. Aincursão foi infrutífera, e Hanna, desanimado, regressou
ao Cairo. Em 1984, antes de partir de Nova York, alugouum cofre em uma agência do Citibank em Hicksville,Long Island, onde guardou o códice e outros papirosantigos. Ali eles permaneceram, mofando, enquantoHanna fazia tentativas intermitentes de despertar ointeresse de compradores. Seu preço, se diz, foi semprealto demais.
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dona do lendário Evangelho de Judas.
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Os gregos falam em moira – destino –, e nos mesesseguintes Frieda começou a sentir que sua moira enredase terrivelmente com a de Judas, “como uma maldição”.A biblioteca Beinecke ficou com o documento por cincomeses, mas no fim se recusou a comprá-lo – apesar daempolgação de Babcock –, em parte devido às dúvidassobre sua procedência. Assim, Frieda desistiu dos círculacadêmicos de elite e foi procurar Bruce Ferrini, cantor ópera que virara negociante de manuscritos antigos emAkron, Ohio.
A rejeição de Yale fora desalentadora, e a viagem aAkron, um pesadelo. “Meu vôo do aeroporto Kennedy fcancelado, e precisei decolar de La Guardia em um aviãpequeno. Eu estava levando o material acondicionado em
caixas pretas, mas não me deixaram entrar com elas nacabine.” Judas voou para Ohio no compartimento debagagem. Em troca de Judas e outros manuscritos, Ferrideu a Frieda um contrato de venda com uma empresachamada Nemo e dois cheques pré-datados de 1,25milhão de dólares cada um.
Ferrini não deu retorno a numerosos telefonemas nosquais foi pedida a sua versão da história. Mas pessoas quviram o manuscrito sobre Judas nessa época afirmam quele embaralhou as páginas. “Queria fazê-lo parecer mais
completo”, supõe o especialista em copta Gregor Wurst,que está ajudando a restaurar o documento. Maisfragmentos estavam se desprendendo. Frieda começara preocupar-se com a transação dias depois de voltar paracasa. Suas dúvidas aumentaram quando um amigo, MariRoberty, comentou que nemo, em latim, significa“ninguém”.
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deu uma guinada e começou a fazer críticas ferozes aRoberty e Frieda em seu site. “Acho que acabou amunição dele”, explica Roberty. Em fevereiro de 2001,Frieda recuperou o código de Judas e o levou para aSuíça, onde, cinco meses depois, encontrou Kasser.
Naquele momento, ela conta, Judas transformou-se demaldição em bênção. Enquanto Kasser ia capturando osignificado do código nos fragmentos, Roberty atinoucom uma solução criativa para o problema da
procedência: vender os direitos de tradução e dedivulgação pela mídia, prometendo, ao mesmo tempo,devolver o material original ao Egito. A fundação deRoberty, que hoje está em posse do manuscrito, assinouum acordo com a National Geographic Society.
Livre agora das preocupações comerciais, a própria Friecomeça a parecer um tanto mística. “Tudo épredestinado”, murmura. “Eu mesma fui predestinada poJudas para reabilitá-lo.”
Às margens do lago Genebra, no andar de cima de umprédio anônimo, um especialista manipula um pedaço depapiro, coloca-o em seu lugar, e parte de uma sentençaantiga é restaurada. Judas, renascido, está prestes a nosencarar.
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Códice página 33:“O relato secreto…” “O relato secreto da revelação que Jesus fez emconversa com Judas Iscariotes…”
Lendo da esquerda para a direita, esta passagemencontra-se entre as primeiras linhas. “Judas” é aúltima palavra no final da segunda linha, bastaseguir o pequeno rasgo vertical que começa na
parte superior direita da página. Na maior parte detexto fragmentado que se segue, lê-se “Iscariotes”.
O Evangelho de Judas contém texto com perspectiva bem diferente da exposta nos escritosdo cristianismo ortodoxo seguidos hoje. Essas
idéias pouco convencionais, permeadas demitologia dos judeus gnósticos, refletem-se nos
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Códice página 34: “… [ele]riu.” Estas palavrasencontram-se logo abaixo daúltima palavra da primeiralinha. Partes faltantes do
papiro Forçaram os tradutoresa inferir certas palavras como“ele”, com base em seusconhecimentos e ainterpretação do restante dotexto.
Evangelhos do Novotestamento retratam Jesuscomo um homemreservado, que raramentedemonstrava bom humor. Mas, no Evangelho d
Judas, Jesus ri bastante, especialmente frente aoabsurdos que ditam as regras da vida humana. Maele também ri da maneira séria – e sem
questionamento – de como os discípulos aceitamcoisas como preces, oferecendo-a não apenas poterem vontade, mas por acreditar que seu Deurealmente quer ser louvado desta maneira. É comse Jesus observasse de longe, sacudisse a cabeça
pensasse: “O que posso dizer?” .Por que o filho de Deus riria de algo assim? OEvangelho de Judas é considerado um evangelhgnóstico, uma forma primitiva de espiritualidadque se foca na gnose, palavra grega que signific
“sabedoria”. Os gnósticos acreditam em umconhecimento místico, um conhecimento de Deu
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Códice página 37:Fragmento de NovaYork “… outras
forças (…) por [meiodas quais] vocêgoverna. Quando osdiscípulos [dele]ouviram isto, cada um
ficou com o espíritoinquieto. Não podiamdizer palavra. Outrodia, Jesus veio a
[eles]. Disseram a [ele]: ‘Mestre, vimos o senhor em
uma [visão], porque tivemos [sonhos] notáveis [à]noite (...)’. [Ele disse:] ‘Por que foram se esconder?’”Esta passagem ocupa todo este fragmento, uma porção da página 37 encontrada em Nova Yorkdepois de a descoberta ter sido noticiada pelaimprensa. Os pesquisadores, que esperamencontrar outros fragmentos, foram capazes detraduzi-lo e incorporá-lo à tradução do textomaior.Com base na especulação a respeito do significado possível deste texto fragmentário, pesquisadoresacreditam que a passagem possa descrever osdiscípulos relatando sua premonição a respeito da prisão de Jesus no jardim do Gethsêmani. Por suavez, ficam atordoados e em silêncio quando Jesus prevê ainda que vão fugir aterrorizados quando elefor preso, cena descrita nos evangelos de sãoM t ã M N T t t
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Códice página 39:“... árvores semfrutos...”
“E plantaramárvores sem frutos,em meu nome, de
maneiravergonhosa.”
Conte 14 linhas para cima a partirda parte de baixoda página. Esta passagemcomeça logoantes da grandeinterrupção emforma de curvano centro, à
direita, e continua por mais duas linhas até umsinal de pontuação grego que se parece com dois pontos.Jesus parece estar criticando aqueles que pregamem seu nome, mas com proclamações semsubstância ou conteúdo frutífero. Isto fazia parte d polêmica da época entre os gnósticos e a novaIgreja Ortodoxa, com um grupo questionandoabertamente as opiniões do outro.Dê uma olhada mais de perto nesta página do
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Códice página
40:
“… ministro deerros.”
A cinco linhasinteiras a partir da
parte de baixo da página, esta passagem começalogo à direita dainterrupção
vertical e continuana linha seguinteno símbolo que parece dois pontos, à esquerdado rasgo.
O conflito entre os gnósticos e a Igreja Ortodoxa sreflete na maneira como Jesus enxerga a igreja esua doutrina questionável. Os discípulos têm umavisão do templo, que Jesus explica em termosalegóricos. Ele compara o que eles vêem no templocom a mensagem errônea que vem da Igrejadominante em surgimento. Os discípulos, eleexplica são assemelhados a um sacerdote detemplo, ou um “ministro de erros”: aquele queexpõe ensinamentos imprecisos.Dê uma olhada mais de perto nesta páginad i g ífi t d id
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Códice página56:“... você vai sedestacar sobretodos eles...”
“… você vai sedestacar sobretodos eles.
Porque vaisacrificar ohomem que meveste.”Olhe para o
segmento maisextenso de tex-to na parte de baixo desta página altamen-
te fragmentada.À direita do pedaço de papiro no topo e de umcaractere grego que parece um “Y”, está a palavra“você” . A linha seguinte diz: “ ... vai se dês-tacarsobre todos eles” . O restante desta passagem com-
tinua nas duas linhas seguintes e no início da terceira, logo depois do primeiro rasgo em ângulo reto.As palavras de Jesus a Judas descrevem como elevai se destacar entre os outros discípulos depois desua morte. De acordo com o Evangelho de Judas, oSalvador é o ser espiritual dentro de Jesus, que vivna dimensão espiritual. O ser físico de Jesus não
d b lh d
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Códice página57: “Erga seusolhos...”
“Erga seusolhos e olhe
para a nuvem ea luz dentro
dela e asestrelas que arodeiam. Aestrela queindica o
caminho é anossa estrela. Judas ergue osolhos e viu anuvem
luminosa, e entrou nela.”
Esta passagem começa oito linhas ara baixo dofragmento maior e continua mais sete linhas até ofim dos dois caracteres gregos que parecem “OC”à direita da página.Ao confiar a Judas a difícil tarefa de cumprir aordem e entregá-lo às autoridades, Jesusconfirma a posição de destaque de Judas entreos discípulos.Este exemplo de pensamento gnóstico tem amesma base da premissa de Platão de que o criadoda humanidade designou uma alma e uma estrelpara cada pessoa e que seguimos esta estrela com
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Códice página 34: “… [ele]riu.”
Estas palavras encontram-selogo abaixo da última
palavra da primeira linha.Partes faltantes do papiro
forçaram os tradutores ainferir certas palavras como
“ele”, com base em seusconhecimentos e ainterpretação do restante dotexto.Evangelhos do Novo
testamento retratam Jesuscomo um homem reservado, que raramentedemonstrava bom humor. Mas, no Evangelho dJudas, Jesus ri bastante, especialmente frente aoabsurdos que ditam as regras da vida humana. Ma
ele também ri da maneira séria – e semquestionamento – de como os discípulos aceitamcoisas como preces, oferecendo-a não apenas poterem vontade, mas por acreditar que seu Deurealmente quer ser louvado desta maneira. É com
se Jesus observasse de longe, sacudisse a cabeça pensasse: “O que posso dizer?” .Por que o filho de Deus riria de algo assim? OEvangelho de Judas é considerado um evangelhgnóstico, uma forma primitiva de espiritualidad
que se foca na gnose, palavra grega que signific“sabedoria”. Os gnósticos acreditam em um
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Marvin Meyer - Tradução do depoimento
Segmento 1 Estou trabalhando no Evangelho de Judas e no restante do
Códice de Tchacos desde mais ou menos agosto de 2005.E a maneira como eu me envolvi no projeto é um dosexemplos mais maravilhosos de coincidência feliz. Estavadando uma palestra a respeito de alguns papiros antigos,textos de Nag Hammadi, textos mágico etc. em um eventopatrocinado pela embaixada egípcia. Era em Washington,no Kennedy Center, e havia algumas pessoas da NationalGeographic Society participando do evento. Depois daminha palestra, muita gente sentada na frente queria fazerperguntas sobre os textos gnósticos e os papiros mágicosetc. Algumas pessoas vieram até a frente e me entregaram
cartões de visita da National Geographic e disseram:“Vamos procurar você”. Algumas semanas depois,ligaram e disseram: “Precisamos conversar com vocêsobre um assunto”. E eu disse: “Bom, qual é a idéia devocês?” Então começamos a falar sobre isso e a entenderos parâmetros da discussão etc. E, em setembro, pediramque eu fosse até a sede em Washington para dar umaolhada no texto, porque não estavam compreendendo oque acontecia no Evangelho de Judas. Tem títuloprovocativo e deve ser muito emocionante, mas o quesignifica? Está fragmentado, e há algumas passagens
difíceis e bastante obscuras etc. Então fiquei trancado emuma sala com o texto em cóptico por cerca de umasemana com meus dicionários e meus léxicos e minhasfontes cópticas que trouxe da Califórnia e, depois disso,saí da sala trancada, encontrei-me com as pessoas e disse:“O texto é sobre o seguinte: é um evangelho gnósticobrilhante que apresenta Jesus e apresenta a figura de Judascomo o apóstolo mais perspicaz e mais leal de todos”
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Marvin Meyer - Tradução do depoimento
Segmento 2O Códice de Tchacos na verdade inclui quatro textos
diferentes. É um manuscrito cóptico, com linguagemcóptica escrita em páginas de papiro. Há quatro textosdistintos que se encontram neste códice em particular. Ucódice é um livro, chamado de códice porque esta à apalavra antiga em latim para livro, e não é um rolo, masum livro encadernado. Os quatro textos encontrados nescódice são: a carta de Pedro a Felipe; um livro ou textointitulado Jaime, que é uma versão de algo que jáconhecíamos – o primeiro Apocalipse ou revelação deJaime; tem, é claro, o Evangelho de Judas; e então tem utexto em fragmentos no fim que estamos chamando de
Livro de Alughenes, ou o Livro do Estranho, que é umtexto fascinante a respeito de Jesus e o desconhecido queaparece em forma humana e dá a revelação ao mundo.
Quando vi este texto pela primeira vez, pensei na hora qdevia ser autêntico. Está escrito em cóptico, e o tipo decóptico encontrado aqui está muito próximo do que seencontra na biblioteca de Nag Hammadi – eu conheçobem esse tipo de cóptico. Trata-se de um dialeto chamadSehedic, mas tem certas características que são típicas dEgito Médio e que também adicional autenticidade aopróprio cóptico. E, depois, esses textos são bemcomplicados, mas representam muito bem o ponto devista gnóstico. E o Evangelho de Judas é um beloexemplo de texto gnóstico setiano. E a maneira como oscaracteres se apresentam, com claridade e também demodo complicado. Representa completamente esse tipo ponto de vista gnóstico setiano – é um exemplo brilhantedisso Agora além disso o que é muito interessante é o
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Marvin Meyer - Tradução do depoimento
Segmento 3Todos os quatro textos do códice de Tchacos e a maior
parte dos documentos da biblioteca de Nag Hammadipodem ser descritos como gnósticos. Textos gnósticos sãotextos místicos, e isto quer dizer que eles têm a ver com ofato de que existe um pouco da luz divina, que existe afagulha divina, dentro de toda pessoa que tenhaconhecimento, e se esta pessoa for capaz de jogar foratoda a ignorância e chegar à essência deautoconhecimento que ele ou ela de fato é, então essapessoa vai reconhecer que existe um pouco de Deusdentro da pessoa. Estes textos são a respeito disto. Este éo conhecimento – a “gnosis”, em grego – que os textos
gnósticos buscam transmitir. Quem se autodenominavagnóstico e se considera como detentor de “gnosis”, ouconhecimento, tinha acesso direto a Deus. Não precisavapassar por um sacerdote ou um bispo ou um rabino. Nãoprecisava de um intermediário. Mas na Igreja Ortodoxaque surgia, havia sacerdotes e havia bispos que levavamsua autoridade muito a sério. E parte do conflito entre osgnósticos e as pessoas que faziam parte do início daortodoxia era o fato de que os gnósticos dançavam aoritmo de sua própria música. Eles não escutavam ossacerdotes, não escutavam os bispos, porque escutavam
Deus e a voz d’Ele encontrava-se dentro de cada um.
Continua > Segmento 4
http://nationalgeographic.abril.com.br/ngbonline/evangelho/marvin_traducao04.shtmlhttp://nationalgeographic.abril.com.br/ngbonline/evangelho/marvin_traducao04.shtml
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Marvin Meyer - Tradução do depoimento
Segmento 4No Evangelho de Judas, aquele discípulo que realmente
compreende a essência de Jesus e que realmente é fiel eleal a Jesus é Judas Iscariotes. Os outros discípulossimplesmente não compreendem. Mas Judas sim. É elequem escuta Jesus, ele aprende com Jesus, e faz tudo quJesus quer, e no final do evangelho, quando Jesus diz“Judas: Você tem que me ajudar a libertar minha alma dolimites deste corpo por meio de uma traição”, Judasobedece. O que mais ele poderia fazer por seu amigo aléde ajudá-lo a se libertar das amarras de seu corpo?
A idéia de que Judas de fato está ajudando Jesus, aocontrário de se voltar contra ele, é uma maneira muitodiferente de encarar a traição de Jesus e a crucificação dJesus e assim por diante. Aqui, a traição acaba sendo algmuito bom. É algo que Jesus queria e que Judas faz emobediência a Jesus, porque a morte não é uma coisa ruimpara Jesus; para ele, é a libertação – a libertação da almado espírito de Jesus de seu corpo.
Continua > Segmento 5
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Marvin Meyer - Tradução do depoimento
Segmento 5Acho que existem dois trechos que são especialmente
significativos no Evangelho de Judas e são esses que voucomentar. Um ocorre bem cedo no evangelho, quandoJesus diz a todos os discípulos: “Ouçam, se foram capazesde fazê-lo, permitam que o ser humano que existe dentrode vocês, quer dizer, a verdadeira essência do quesignifica ser uma pessoa dentro de vocês, permitam queesta pessoa saia e se apresente perante mim”. E os outrodiscípulos tentaram, e não conseguiram. E Judas disse:“Eu farei isso”. Mas ele agiu com modéstia perante Jesus;Então ele se levantou perante Jesus mas virou os olhospara baixo. Então, disse: “Eu sei quem você é, Jesus, e de
onde você veio. Você veio do reino imortal, o reinoimortal de Barbelo. E a minha boca não é digna dedescrever e dar nome àquele que o enviou”. E estaconfissão, esta profissão de fé, sugere que Jesus veio doreino de Deus – que é o que o reino imortal eterno deBarbelo significa –, que Jesus na verdade não faz partedeste mundo, mas é um espírito ou uma entidadeassemelhada a uma alma que veio a este mundo. Essa é averdadeira origem de Jesus. E aquele que enviou Jesus é oDeus indescritível, impronunciável, absolutamentetranscendente que está além de qualquer descrição e além
de qualquer nome, e a boca de Judas não é capaz depronunciar o nome e a essência daquele Deusmaravilhoso.
A tradução cóptica que temos do Evangelho de Judas nãoé o original. Estamos convencidos de que este Evangelhona verdade foi composto em grego. Há tudo que é tipo del t i di i t ti d ó ti
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Marvin Meyer - Tradução do depoimento
Segmento 6O Evangelho de Judas é um evangelho que
classificaríamos não apenas como evangelho gnóstico,mas como representativo de um certo tipo de gnosticismo:podemos nos referir a ele como integrante de uma“escola” do gnosticismo que chamamos de gnosticismosetiano; E a razão por que recebe este nome é devido aofato de que Set, filho de Adão e Eva, tem papel muitoespecial, de um tipo muito particular, neste Evangelho enos textos parecidos com ele. Pensando bem sobre ahistória, o fato é que a família de Adão e Eva eradisfuncional. Os dois primeiros filhos, Caim e Abel,meteram-se em confusão e Abel foi assassinado e Caim
foi exilado e houve mais um filho que nasceu depois disso– Set. E com Set foi possível recomeçar, e Set era o bomgaroto. E os gnósticos percebera, isso e acharam que, dealgum modo, eram aparentados a Set, que tinham vindode Set, que os seres humanos que verdadeiramente tinhamo conhecimento de Deus eram derivados de Set. E entãoeles se autodenominaram a geração ou a semente ou afamília de Set. E Set era seu pai, seu pai espiritual. Nostextos gnósticos setianos, isso se torna particularmenteinteressante para os cristãos que compram esta maneira deolhar para o mundo e para eles mesmos; e o fato de
enxergar essa fagulha do divino dentro de si é o queprecisam para relacionar Jesus à figura de Set. E o pessoalcristão setiano acreditava que Jesus na verdade é a mesmacoisa que Set, que o espírito e o poder de Set encarnam nafigura de Jesus, de modo que, de certa maneira, Setrenasce na figura de Jesus. E quando Jesus anuncia ocaminho até Deus, na verdade está proferindo as palavrasde Set e trazendo as boas notícias o evangelho de Set
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Craig Evans - Tradução do depoimento
Segmento 1 Acho que o elemento mais interessante do Evangelho de
Judas é quando Jesus pede a Judas que o traia paracompletar sua missão. E acho isso interessante porque opróprios evangelhos canônicos – são Mateus, são marcosão Lucas e são João – não nos dizem por que Judas fez que fez. Ele fez alguma coisa por trás dos panos, e nosevangelhos temos outros personagens que fazem coisaspor trás dos panos. Como adquirir o animal em que Jesumontou para entrar na cidade, ou adquirir a sala ondeJesus e seus discípulos fizeram a última ceia junto. Épossível que Judas também estivesse fazendo algo do tippor trás dos panos, mas como a coisa acabou com a prisã
e a morte de Jesus, então seu ato é lembrado comomaldade? Considero esta questão muito interessante, e éalgo que o Evangelho de Judas abriu para nós. Então, naminha opinião, esta é a coisa mais importante dodocumento recém-descoberto.
De acordo com o Evangelho de Judas, Jesus realmentepede a Judas que o traia para que Jesus complete seuministério. Seu ministério está completo, agora ele preciretornar ao céu. E, para tanto, precisa deixar seu corpocarnal, e assim poderá retornar ao céu e os discípulospoderão seguir em frente com sua própria missão. Judas o único discípulo entre os doze que compreende isto e qutem a coragem de fazê-lo. E é por isso que Jesus pede aJudas que o traia.
Continua > Segmento 2
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Craig Evans - Tradução do depoimento
Segmento 2Nos evangelhos do Novo Testamento, não fica claro por
que Judas fez o que fez. Nenhuma explicação real éapresentada. Mas o Evangelho de Judas nos dá umaexplicação: na verdade, está agindo de acordo com asinstruções de Jesus. Perceba que vemos, em são Mateus,são Marcos e são Lucas, exemplos de pessoas que agemsegundo as ordens de Jesus, mas não conhecemos osdetalhes completos. Por exemplo quando Jesus pede adiscípulo para que arrume um animal para ele montarquando entrar em Jerusalém. Não conhecemos todos osdetalhes. Quem era esse discípulo? Não conhecemos ascombinações. Quando foram feitas? Esses detalhes foram
excluídos dos evangelhos. Jesus também diz a seusdiscípulos que sigam uma pessoa que carrega um jarro eesta pessoa vai levá-los à sala do andar de cima onde ele eseus discípulos farão sua última ceia juntos. Osevangelhos não explica como essas coisas foramcombinadas. Então, preciso perguntar a mim mesmo: Seráque Jesus tinha combinado alguma coisa com Judas semos outros discípulos saberem e algo deu muito errado e,quando Jesus foi preso, os discípulos só puderaminterpretar o fato como traição, mas na verdade nuncasouberam por que Judas fez o que fez. No Evangelho de
Judas, pode ser que haja esta explicação. E é isso que euacho tão intrigante neste evangelho perdido recém-descoberto e recém-publicado. Será que ele finalmente vaipoder explicar para nós por que Judas fez o que fez? Nãofoi um verdadeiro ato de traição, mas sim a tentativa deseguir as instruções de Jesus, sendo que hoje nãoconhecemos os detalhes? Seja qual fossem as instruções,resultaram com a prisão de Jesus Acho que algo deu
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Segmento 3Os evangelhos do Novo Testamento foram recebidos
pelos primeiros chefes da Igreja Católica e setransformaram em canônicos porque, neles, acredito,estão as primeiras palavras de Jesus, transmitidas damaneira mais fiel. Tradições encontradas em são Mateus,são marcos, são Lucas e são João remontam à época devida de pessoas que ouviram Jesus falar. Isso significa quehouve controles, que um corpo de tradição foi preservadono início da comunidade cristã – a primeira geração. SãoMateus, são Marcos, são Lucas e são João refletem estecorpo inicial de tradição. Mas, na medida em queentramos no século 2, quando evangelhos como o de são
Tomás e de são Pedro e de Judas e de Mary são escritos,chegamos em outra geração, há duas de distância, ealgumas idéias estranhas aos primeiros ensinamentoscristãos começam a ser propagadas e colocadas na boca deJesus e na boca dos discípulos; Essas tradições nãorefletem o primeiro século, mas o segundo. E é por issoque eu acho que sempre é necessário dar prioridade paraos evangelhos do Novo Testamento se quisermos entenderaquele que é conhecido como o verdadeiro e históricoJesus de Nazaré.
Continua > Segmento 4
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Segmento 4Iraneus, pai da Igreja que surgiu no final do século 2,
reconheceu o valor dos quatro evangelhos que seencontram no Novo Testamento. Ele sabia que eramantigos, e mais antigos do que outros evangelhos quecomeçaram a surgir no século 2. Então ele argumentouque apenas esses quatro deviam ser considerados, e nãoquatro outros. Então, ele está invocando um argumentoque a maior parte de nós consideraria bastante curioso,porque, na época do Antigo Testamento e do judaísmo edo início do cristianismo, existe uma coisa que podemoschamar de geografia teológica. Isto é muito estranho parnós, mas o mundo podia ser entendido como um
afastamento de Jerusalém que era uma espécie de centrosagrado do mundo todo, e então de lá era possível is paranorte, sul, leste ou oeste. Até mesmo Jesus ressuscitadomenciona isto quando diz a seus discípulos que devempregar primeiro em Jerusalém e, depois disso, em círculode expansão que se afastassem cada vez mais, até pregarevangelho nos pontos mais afastados do mundo. Bom,acho que isso é que se refletia na afirmação de Iraneusquando ele diz: “Assim como existem quatro ventos ouquatro pontos em uma bússola, existem quatroevangelhos. Para ir de encontro, para combinar com lest
oeste, norte sul”. É por causa desta característicaquádrupla dos evangelhos, das quatro testemunhas doevangelho, que ele faz esta argumentação. Se houvessecinco evangelhos, suspeito que ele teria dito: “Assimcomo há cinco dedos na sua mão”, ou qualquer coisa dotipo. Então, não acho que os quatro pontos da bússola noderam os quatro evangelhos; o argumento dos quatropontos da bússola existe porque temos quatro evangelho
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Craig Evans - Tradução do depoimento
Segmento 5Bom, se tivesse sido Iraneus, e não outros cristãos
anteriores... Porque Iraneus não estabeleceu isto por contaprópria, foram os primeiros cristãos que o fizeram – osevangelhos que eles escolheram ler e que pagaram paraser copiados, esses eram os que eles valorizavam. E osevangelhos que valorizavam acima de todos eram os desão Mateus, são Marcos, são Lucas e são João. Mas haviaalguns outros evangelhos que algumas das primeirascomunidades cristãs liam. O Evangelho de são Tomásseria um deles. O Evangelho de são Pedro – temos até umdos primeiros padres da Igreja que fala sobre ele e pedeque as paróquias deixem de lê-lo. Mas havia também os
evangelhos judeus, no cristianismo judeu, como oEvangelho dos Nazarenos, ou o Evangelho dos Ebionitas.E então poderia ter havido outros evangelhos incluídos noNovo Testamento, mas acho que os quatro queterminaram ali são os primeiros, e os mais consistentescom a memória dos primórdios da Igreja de sua maisantiga proclamação oficial do evangelho de são Pedro ede são Paulo e de outros discípulos e apóstolos.
Continua > Segmento 6
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Segmento 6Existe um método para datar documentos como esses da
antiguidade, porque não temos os originais – não adiantafazer um teste com carbono 14 porque não temos ooriginal. Então, ninguém pode de fato datar são Mateusem um ano específico ou são Marcos em um anoespecífico. Mas o que temos em são Mateus, são Marcos esão Lucas é um Jesus consistente com o judaísmo quesabíamos existir antes [do ano] 70. Jesus não aparece emsão Mateus, são Marcos e são Lucas falando sobre“aeons” e sete camadas do céu e mistérios gnósticosespeciais e assim por diante. Temos um Jesus consistentecom todas as fontes que conhecemos, tais como Josephus
ou os pergaminhos do mar morto e outros textos dasinagoga sobre como o judaísmo era compreendido antesdo ano 70. Mas, quando consultamos evangelhos como oEvangelho de Judas ou o Evangelho de são Tomás ou oEvangelho de Maria, deparamos com idéias novas e bemposteriores. Elas não representam o of judaísmo pré-70 damaneira como o vemos em são Mateus, são Marcos e sãoLucas. São diferentes, são estranhos, vieram de algumoutro lugar. Vêm de um lugar posterior, e é isso quechamamos, que os padres da Igreja chamam de“gnosticismo”.
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Segmento 1O Evangelho de Judas foi mencionado pela primeira vez
por um padre da segunda metade do século 2 chamadoIraneus, que escreveu uma obra de cinco volumesatacando diversos grupos de hereges, pessoas que seguiamem crenças falsas. Um dos grupos que ele atacou foi o doschamados cainitas, de uma religião gnóstica que entendiaque Caim, filho de Adão e Eva, na verdade não era umdos vilões da história bíblica, mas sim um herói da fé. Eleera herói da fé porque Caim teve o bom senso de se voltarcontra do Deus dos judeus que, é claro, o puniu peloassassinato do irmão, Abel.Mas esta não foi uma ação má,foi uma boa ação porque mostrou que Caim estava, de
fato, do lado do verdadeiro Deus, e não do Deus que crioueste mundo e no fim convocou Israel para ser seu povo.Os cainitas se batizaram em homenagem a Caim porqueviram que o Deus deste mundo não era o Deus verdadeiro,que havia um Deus acima do Deus deste mundo quedeveria ser adorado e, para adorar este Deus verdadeiro,era preciso desrespeitar as leis estabelecidas pelo Deuscriador. Este grupo de contrariadores, este grupo decainitas, tinha um evangelho, de acordo com Iraneus, queera o evangelho batizado em homenagem ao maiorcontrariador da história da religião, especificamente o
próprio homem que traiu Jesus: Judas Iscariotes. Damesma maneira como celebravam a vida de Caim, a vidados homens de Sodoma e Gomorra, celebravam a vida deJudas e afirmavam que Judas era aquele que guardava averdade real, que sabia realmente quem era Jesus. Ele erao único discípulo que compreendia Jesus, e foi ele,portanto, que realizou o desejo de Jesus ao entregá-lo paraseus inimigos para que Jesus pudesse ser morto porque
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Barth Ehrman - Tradução do depoimento
Segmento 2Os gnósticos defendiam que as pessoas deste mundo
tinham sido aprisionadas aqui em matéria, que de fatodentro de algumas pessoas existe uma fagulha divina queficou aprisionada no corpo, e esta fagulha divina precisaser libertada. Ela é libertada por meio do aprendizado dequem ela realmente é – quem é, como chegou ali e comopode escapar. Esta verdade é dada pelo próprio Jesus emconhecimento secreto que ele transmite a seus discípulos;Este grupo gnóstico, os cainitas, acreditava que oconhecimento secreto transmitido por Jesus foitransmitido especificamente a Judas, e de Judas então parao leitor deste evangelho. Iraneus, no entanto, achava esta
uma afirmação completamente absurda. Iraneus achavaque essa idéia de as pessoas terem uma fagulha dentro desi era completamente errada. E Iraneus achava que ocriador deste mundo era de fato o único Deus verdadeiro,de modo que este evangelho supostamente escrito porJudas ou sobre ele era de fato um evangelho herege quedeveria ser proscrito e nunca lido. E então Iraneus proibiua leitura deste livro e, com o tempo, então, o resultado foique ele se perdeu.
Continua >
Segmento 3
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Barth Ehrman - Tradução do depoimento
Segmento 3Quando este evangelho foi descoberto, achei que só pod
ser uma entre duas coisas, e sua importância dependeriade qual dessas coisas fosse. Uma coisa que o evangelhopoderia ser é uma revelação gnóstica a respeito de comomundo passou a existir e como aparecemos aqui, comoficamos presos na matéria como espíritos divinos. Se oevangelho contivesse este tipo de revelação, umevangelho gnóstico, seria muito importante para oshistoriadores do início do cristianismo que estudam ognosticismo e querem conhecer as variedades decristianismo [existentes] nos séculos 2 e 3 da era cristã.Mas eu achei que, por outro lado, podia ser um tipo
diferente de evangelho. Possivelmente seria um evangelhem que Judas e Jesus interagem várias vezes e isto seriacontar a história de Jesus do ponto de vista do seu traidoSe fosse esse tipo de evangelho, seria ainda maissignificativo. E não só para os estudiosos dos primórdiosdo cristianismo, mas para qualquer pessoa que se interespelo cristianismo. Porque teríamos um evangelhocontando os feitos de Jesus da perspectiva de seu traidorSe fosse esse tipo de coisa, achei que seria uma enormedescoberta, a mais importante dos últimos 60 anos. Masna época, eu não esperava descobrir que ele era as duas
coisas. É tanto uma revelação gnóstica a respeito de comchegamos até aqui e como este mundo foi criado etambém é um evangelho em que Jesus e Judas interagemÉ as duas coisas ao mesmo tempo, então, é um evangelhde enorme importância.
Continua > Segmento 4
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Segmento 4Acho que a divulgação do Evangelho de Judas pode ter
impacto significativo sobre a maneira como as pessoascompreendem o cristianismo e como compreendem seumundo. E acho que isto vai ser algo positivo, não achoque exista qualquer coisa de negativo nisto. As pessoasprecisam compreender que, no início, o cristianismo eranotavelmente diversificado. Havia grupos distintos depessoas que diziam coisas radicalmente diferentes epraticavam a religião de modos radicalmente diferentesnos primeiros séculos do cristianismo. Não erasimplesmente um monólito em que todo mundoencontrava “a verdade”. Em realidade, havia várias
versões da verdade flutuando no ar. O Evangelho de Judasnos mostra uma compreensão bem diferente da verdade,uma compreensão bem diferente da religião cristã, emrelação à que se tornou dominante. A razão por que éimportante compreender esta diversidade no início docristianismo é porque ainda existe diversidade hoje. Eseria um erro achar que o cristianismo é apenas uma coisahoje se, de fato, o cristianismo é uma ampla gama decoisas. A minha visão é que, uma vez que alguémcompreende e diversidade desta religião que remonta aseus primeiros séculos, esta pessoa se torna mais tolerante
em relação a essa diversidade. Em vez de insistir que vocêtem um pedaço da verdade, faz com que você percebaque, de fato, existem muitas versões da verdade quemerecem nosso respeito e admiração. Então, em vez deinsistir que você está certo e todo mundo está errado, emvez disso é preciso compreender que o cristianismo é esempre foi um movimento amplamente diverso.
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Barth Ehrman - Tradução do depoimento
Segmento 5Todos os evangelhos que temos – estejam eles no Novo
Testamento ou fora do Novo Testamento – sãoevangelhos escritos em contextos históricos específicos,tratando de questões históricas específicas. Isto é verdadea respeito de são Mateus, de são Marcos, de são Lucas ede são João. Também é verdade em relação ao Evangelhode são Tomás, o Evangelho de são Pedro, e agora oEvangelho de Judas. A maior parte desses evangelhos nãoé útil para os historiadores que desejam lê-los apenas parasaber o que de fato Jesus diz e faz. Na verdade, essesevangelhos podem conter informação histórica a respeitodo que Jesus disse e fez, mas são mais úteis não para
compreender o Jesus histórico, mas para compreender oautor que escreve o livro, dá para ver quais eram osinteresses do autor. Então, isto é verdade em relação a sãoJoão, tanto como é verdade a respeito de Judas. A maneirade abordar o Evangelho de Judas, então, provavelmentenão é perguntar se Judas realmente fez isso ou se Jesus defato disse aquilo, se os discípulos fizeram ou não tal e talafirmação. A pergunta é por que o evangelho os retratadesta maneira e que mensagem está tentando passar para oleitor. Então, a abordagem literária a essas coisas quelevam a sério o contexto histórico é provavelmente a
melhor abordagem para este evangelho, não parareconstruir o que aconteceu na vida de Jesus, mascompreender o que aconteceu no cristianismo nas décadassubseqüentes à morte dele.
Continua > Segmento 6
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Barth Ehrman - Tradução do depoimento
Segmento 6Então, existe a questão de por que existiam tantos
evangelhos no início do cristianismo, e acho que aresposta é porque existiam muitos grupos de cristãos. Ocristianismo se disseminou pelas áreas urbanas doMediterrâneo; e a comunicação naquele tempo não era oque é hoje. A comunicação de massa não existia, acomunicação era lenta, uma comunidade se comunicavapor carta com outra e isso envolvia alguma pessoa quecarregava a carta fisicamente até a outra comunidade.Então, comunidades diferentes tinham pontos de vistadiferentes espalhados por todo o Mediterrâneo, e todosesses grupos, é claro, queriam ter sua própria literatura
sagrada porque eram comunidades sagradas devotadas aoculto de Deus. Então, queriam ter evangelhos, e epístolas,e apocalipses, e tudo o mais. Os livros eram adquiridos namedida que circulavam, com comunidades distintasvenerando autores distintos e textos distintos. Então temosalgumas comunidades que achavam que o Evangelho desão Pedro era o evangelho real, outras diziam que era oEvangelho de são Tomás, outras que era o Evangelho desão João, outras que diziam que era o Evangelho de Judas.Como esses grupos eram muito isolados uns dos outros edispersos, demorou muito tempo para trazer alguma
coesão aos grupos. Parece que a coesão aconteceu quandoum grupo acabou se estabelecendo como dominante.Walter Bauer, quando escreveu seu livro “Orthodoxy andHeresy in Earliest Christianity” (ortodoxia e heresia nosprimórdios do cristianismo), argumentou que este grupoque acabou se estabelecendo como dominante era o grupoque por acaso se localizava na cidade de Roma – Roma,que era a capital do império Os cristãos romanos eram
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Elaine Pagels - Tradução do depoimento
Segmento 1O mais fascinante a respeito do Evangelho de Judas é a
noção de que Jesus e Judas agem em cooperação e queJudas tem destino especial, e uma estrela particular, comé colocado no texto, que ele tem um destino especial euma compreensão espiritual que ultrapassa a dos outrosdiscípulos. Independentemente de acreditarmos se éverdade ou não, é uma perspectiva sobre a história deJesus de que nunca ouvimos falar. É como a perspectivarespeito de Maria Madalena que obtivemos no Evangelhde Maria ou como a perspectiva de são Tomás queobtivemos no Evangelho de são Tomás, ou a perspectivade são Paulo ou são Pedro que encontramos nesses outro
evangelhos secretos. É que, sabe como é: sabemos muitopouco a respeito da vida e da morte de Jesus de Nazaré.Talvez tenhamos quarenta e cinco páginas de evangelhono total no Novo Testamento, e o Evangelho de são Joãodiz que se tudo que Jesus disse e fez fosse escrito, omundo não comportaria todos os livros. Bom, sabemosque a vida de um homem tão notável quanto ele teriamuito mais facetas que não conhecemos. Agora, pelaprimeira vez, na história, temos vislumbres que noschegam de fontes de quase dois mil anos atrás que nosapresentam pontos de vista diferentes. É como se
pudéssemos voltar e enxergar do ponto de vista depessoas diferentes como aqueles dizeres e aqueles atos eque aconteceu naquela época pareceram para as pessoasque os presenciaram. Ou que ouviram essas coisas daboca de gente que presenciou.
Continua > Segmento 2
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Elaine Pagels - Tradução do depoimento
Segmento 2É muito difícil saber se o Evangelho de Judas contém
mesmo palavras reais de Jesus e de Judas. Nesse caso,sabemos mesmo muito pouco a respeito da composição qualquer um dos evangelhos do Novo Testamento, entãomelhor nem comentar sobre os outros evangelhos. Entãonão sabemos se essas foram palavras e ditos de Jesus. Épossível que possam ter sido tradições secretas, ou coisaque foram transmitidas para uma pessoa e não para outraÉ isso que o Evangelho de Judas afirma, mas não temoscerteza. Acho que é bem improvável. Mas como saber?Quer dizer, a minha sensação é provável, é muitocondicionada pelo que me é conhecido. E esta é uma
tradição muito estranha e desconhecida. Então, dá paraentender por que a maior parte das pessoas, eu inclusiveteria algum tipo de preconceito contra isso. Pensamos:“Bom, esta não parece ser a história certa. Nunca ouvimfalar disso”.
Continua > Segmento 3
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Segmento 3Se você olhar para o Evangelho de são Marcos no Novo
Testamento, em são Marcos 4:11, diz a seus seguidores:“A vós é concedido saber o mistério do reino de Deus”.Mas para os de fora, tudo em parábolas, eles não vãocompreender. E, então, quando se olha para as tradiçõesde são Marcos, por exemplo, são Marcos sugere que Jesusensinava algumas coisas publicamente e outra emparticular, mas ele não fala muito sobre os ensinamentosprivados. O Evangelho de são João no Novo Testamentoapresenta ensinamentos de uma espécie de nível avançadosecreto nos capítulos 13-18. O Evangelho de são Tomássugere que ele ensina que, se você compreender Jesus
como salvador do mundo, Jesus como filho de Deus,agora pode vê-lo como alguém que manifesta a luz deDeus como você também poderá manifestar. O Evangelhode são Tomás descreve Jesus como alguém criado àimagem de Deus que brilha com a luz divina, mas sugereque você também poderia brilhar com a mesma luz. Existeapenas uma sugestão da idéia em, digamos, são Mateus,em são Lucas e em são João. E, aqui, transforma-se notema dominante.
Continua >
Segmento 4
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Segmento 4O que chamamos de textos gnósticos são de fato um
apanhado bem variado de fontes dos primórdios docristianismo. Nós os chamamos assim porque os primeirospadres da igreja o chamavam de “gnósticos” e, com isso,queriam dizer que eram os textos errados, sabe. E comfreqüência sugeriram que todos eles compartilham de umponto de vista comum. Isto não é verdade. Existem maisde 55 textos e evangelhos conhecidos dos primórdios docristianismo que ficaram de fora do Novo Testamento, enão são todos iguais, são bem diferentes entre si. Mas oque foi reunido e considerado parte do Novo Testamentoé uma pequena amostra dos primeiros evangelhos cristãos
e os primeiros textos cristãos do mundo antigo. Sabemoshoje que existiram dúzias de outros. Durante o final doséculo 2, alguns líderes da Igreja estavam preocupadosque os cristãos estivessem divididos em muitos grupos,lendo diversos tipos de tradição, algumas das quaisconflitantes, e queriam uma única história unânime queunisse os cristãos do mundo todo. Deste modo, Iraneus,que era bispo na França, resolveu e declarou que apenasquatro dos muitos evangelhos disponíveis seriam osverdadeiros evangelhos, os autênticos. Todos os outros,chamou de “evangelhos secretos ilegítimos”, e
especificou muitos deles, inclusive o Evangelho de Judase o Evangelho de são Tomás e o Evangelho da Verdade –todos encontrados no alto Egito no decorrer do últimoséculo – e declarou que eram todos os evangelhos erradose os certos são os quatro incluídos no Novo Testamento.Então, o que temos e o que sabemos há milhares de anosna verdade é uma amostra bem pequena e agora estamosconseguindo acesso a muitos outros pontos de vista a que
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Elaine Pagels - Tradução do depoimento
Segmento 5Sempre nos surpreendemos ao descobrir quantos textos
existem. É interessante, sabe, achávamos que sabíamostudo sobre judaísmo no século 1 ao ler as fontes dosrabinos. Mas os pergaminhos do mar morto foramdescobertos e vimos que existiam vários tipos de grupos judaicos no século 1 sobre os quais não fazíamos idéia.Na verdade, grupos judeus que parecem muito maisafinados com as pessoas que ensinavam o que são JoãoBatista ou Jesus de Nazaré ensinavam. Nós realmenteachamos, eu acho, que são João Batista pode seroriginário de uma desses outros grupos judeusapocalípticos e místicos que escreveram os pergaminhos
do mar Morto, e que Jesus de Nazaré e o que ele ensinoufoi influenciado por grupos assim. Então temos uma visãcompletamente diferente de como eram os grupos judeuno século 1 por causa dos pergaminhos do mar Morto.Sem eles, tínhamos uma imagem bem mais uniforme dorabinos no final do século 1. Agora que temos essesoutros evangelhos, nossa imagem unificada do início domovimento cristão, algumas pessoas estão incomodadasporque esta visão unificada foi estraçalhada e ficou bemmais complicada e bem mais fragmentada e interessantePara mim, é um quebra-cabeça fascinante. Algumas
pessoas acham desconcertante. Algumas pessoas achamridículo, heresia, posterior, subversivo.
Continua > Segmento 6
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Elaine Pagels - Tradução do depoimento
Segmento 6Quando estudiosos começaram a perceber que os
evangelhos de são Mateus e de são Lucas tinham sidoescritos, cada um, por um autor que tinha na frente de siuma cópia do Evangelho de são Marcos, escrito em sualíngua original, que era grego, e são Mateus e são Lucas,ou os autores que chamamos de são Mateus e são Lucas –não sabemos o nome deles, mas pode ter sido este –usaram todo o Evangelho de são Marcos, palavra porpalavra, e simplesmente o inseriram em cada um dosevangelhos. Então é possível conferir que o Evangelho desão Marcos está incluído no de são Lucas e quase todoincluído em são Mateus. Mas são Mateus também
expandiu seu evangelho, não apenas com são Marcos, mascom outros dizeres, listas de dizeres. E são Lucas tambémexpandiu seu evangelho com outros dizeres, histórias eanedotas e narrativas de curas etc. Então, em alguns casos,há grandes trechos em comum em são Mateus e sãoLucas, não apenas em são Marcos, mas há dizerestotalmente repetidos. E entre eles temos, por exemplo,“Jesus disse: ‘Abençoados sejam os pobres, porque édeles é o Reino dos Céus’”, por exemplo. Citam aspalavras idênticas em grego. Sabemos que Jesus nãofalava grego como primeira língua, se é que falava. Falava
aramaico com seus discípulos, até onde sabemos. Então,se citarmos os dizeres de Jesus em grego, e estou citando-os em grego. E temos as mesmas versões dos mesmosdizeres, então provavelmente podemos concluir que,depois de examinar cerca de 50 dizeres, que temos umafonte escrita em comum. Porque, se não, você não teria amesma tradução do que eu. Então, é preciso concluir,portanto que você usou uma fonte dos dizeres de Jesus
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Ken GarrettTranscrição de som e imagem
CAPÍTULO UM (01:22) - Uma outra história
Eu me chamo Ken Garrett e sou fotógrafo da revistaNational Geographic. Há um ano e meio, estoutrabalhando em um projeto que publicamos agora como Evangelho de Judas. Segundo a tradição, Judas era aliaddos soldados romanos e foi até o Jardim do Gethsêmani,até um grupo de discípulos, e beijou Jesus para que elessoubessem quem era o homem que devia ser preso; Judarecebeu 30 moedas de prata pelo serviço, Jesus foi presocrucificado. A história conta que Judas foi o traidor porter entregado Jesus. No nosso manuscrito, o Evangelho dJudas, a história se inverte: fala do trato secreto que Jesu
fez com Judas Iscariotes. Muito bem, para mim, o maisimportante ali é a parte em que ele diz a Judas que “vocêvai superar todos eles”. Então Jesus diz a Judas: “Vocêvai ser o discípulo mais importante porque vai entregarminha carne, mas não faz mal, porque o meu espírito vaisobreviver à eternidade. Você só vai entregar a carne. Nãvai entregar o espírito de Jesus. E, por isso, você vai setransformar no maior entre todos os discípulos”. É nesteponto que o Evangelho de Judas difere dos relatos doNovo Testamento.
CAPÍTULO DOIS (1:25) - Retraçando a históriaO documento em si é um manuscrito em papiro do sécul3 ou 4 depois de Cristo, e é um papiro marrom com letragregas em língua cóptica com a qual a maior parte dosnossos leitores não conseguirá se identificar. Então, comé que se fotografa uma reportagem para que ela sejainteressante ao leitor quando o assunto é um documentoem papiro do século 3? Então, delineamos um plano que
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mosteiro. Então, se ele o viu ou não, o manuscritocirculou enquanto ele estava lá, então quisemos ir aomosteiro e, quando chegamos lá, o padre Maximus tinhaacabado de terminar escavações no piso da igreja antigapara uma reforma e encontrou câmaras incluindo umacozinha e áreas de dormir nos primeiros níveis domosteiro, que datam aos primeiros anos do século 4depois de Cristo. Então, da época de Santo Antônio, daépoca do nosso manuscrito, tínhamos as estruturas físicaonde os teólogos cristãos, os monges eremitas viviam,
exatamente na mesma época, e isso é notável. Assimcomo Santo Antônio está próximo da nossa reportagem,eu quis ir a Santa Catarina, no Sinai, que é a igreja cristãmais antiga em funcionamento contínuo no mundo, e foinaquela área, na base da montanha de Santa Catarina, quMoisés recebeu os Dez Mandamentos de Deus. E, dentrodo mosteiro de Santa Catarina, há um arbusto quepertenceu à capela da sarça ardente. Segundo a tradição,remonta à época de Moisés, e é um arbusto que se renovcontinuamente, como uma framboeseira.
CAPÍTULO QUATRO (01:38) - Nos passos de Jesus Então, de Santa Catarina, eu quis continuar a jornada atéJerusalém, porque é lá que a história se desdobra. Então,fui pesquisar a história e descobri, sabe, que Jerusalém fsaqueada pelos romanos, e eram histórias orais, e eu quiir lá pessoalmente ver o que tinha sobrado da época deJesus. Bom, toda sexta acontece uma procissão que passpela via crucis na Villa Dolorosa, em Jerusalém, do lugaonde Pôncio Pilatos deu a sentença e a cruz a Jesus e disa ele para atravessar a cidade carregando a cruz paradepois ser erguido e crucificado. A procissão passa por
toda a Jerusalém e termina na igreja do Santo Sepulcroque foi, segundo a tradição, construída no local da
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aprende, mais interessante fica. E o evangelho de Judas um elemento disso, e é um bom ponto de partida paraquem quiser estudar por conta própria a origem docristianismo.
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1 de 6Despedaçado Foto de Kenneth Garrett
Perdido durante quase 1.700 anos, o evangelho de Judas veio àluz na forma de um manuscrito em papiro que se desmanchavadentro de uma capa de couro, escavado no Médio Egito nadécada de 1970 e comprado em 2000 por um antiquário deZurique. Cinco anos de restauração, transcrição e traduçãorevelaram a visão radicalmente diferente de Judas Iscariotes –geralmente visto como vilão – e dos ensinamentos de Cristo.Escrito por cristãos denominados gnósticos décadas depois dotestemunho canônico de são Mateus, são Marcos, são Lucas esão João, este evangelho afirma que Jesus pediu a Judas que o
traísse: Jesus queria ser morto para que sua alma escapasse daprisão de seu corpo. Outras partes do evangelho de Judas
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afirmam que o mundo não foi criado pelo verdadeiro Deus, cujasfagulhas divinas existem dentro de todos os seres humanos,mas por uma divindade menor – o Deus vingativo do AntigoTestamento. É por isso, explica o evangelho, que a criação temfalhas e o mal existe.
Câmera: Nikon D2X
Formato: DigitalLente: 60 mmVelocidade e abertura: 1/8 f/9Condições do tempo: InternoHora do dia: Meio da manhãTécnicas de iluminação: Refletores para luz do dia
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Momento da verdade Foto de Kenneth Garrett
Sacrificando um pedacinho do manuscrito à ciência, arestauradora Florence Darbre corta fora uma amostra minúsculado papiro para Tim Jull, da Universidade do Arizona, à direita,testar sua idade por meio da datação de carbono-14. Osresultados indicam que o papiro remonta ao ano 280 d.C., maisou menos 60 anos. Teste na tinta e a análise da escrita apontamque o exemplar do evangelho data de mais ou menos o mesmoperíodo. Especialistas estimam que a versão original doevangelho foi escrita por volta do ano 150 da era cristã.
Câmera: Nikon F6
Formato: Fujichrome ProviaLente: 17-35mm f 2.8 Nikkor zoom
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Velocidade e abertura: 1/8 f/4Condições do tempo: InternoHora do dia: Fim da tardeTécnicas de iluminação: Iluminação de vídeo portátil
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Um lugar único Foto de Kenneth Garrett Toda noite, o padre Lazarus, monge do mosteiro de SantoAntônio no deserto oriental do Egito, diz suas últimas orações dodia em uma caverna para onde, segundo a tradição, santoAntônio se retirou por volta do ano 300 d.C. para se concentrarem Deus. Com este ato, santo Antônio ajudou a dar início àspráticas monásticas, que prosperou durante séculos. Mongesdos primeiros mosteiros preservaram e copiaram textos cristãos,inclusive, talvez, o evangelho de Judas que foi encontrado.
Câmera: Nikon D2XFormato: DigitalLente: 10.5 mm, f/2.8
Velocidade e abertura: 1 3 f 5.6
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Condições do tempo: InternoHora do dia: AnoitecerTécnicas de iluminação: Luz de velas e cabeças de flash
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A última ceia Foto de Kenneth Garrett
A segunda página do Evangelho de Judas apresenta um relatomuitíssimo diferente da última refeição que Jesus compartilhoucom seus discípulos. “Quando ele [se aproximou de] seusdiscípulos, [que tinham] se reunido e [estavam] sentados eoferecendo uma prece de agradecimento pelo pão, [ele] riu”, dizo manuscrito. “Os discípulos disseram a ele: ‘Mestre, por que rida [nossa] prece de agradecimento? Nós fizemos o que é certo’.Ele respondeu e disse a eles: ‘Não estou rindo de vocês. [Vocês]não estão fazendo isto por vontade própria, mas porque [é pormeio disto que] o seu deus [será] glorificado’.” Jesus ri, dizemos estudioso, porque os discípulos não compreendem que o
Deus do Antigo Testamento, a quem dirigem suas preces, não é
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o Deus verdadeiro. Neste evangelho. Apenas Judas, o discípuloque os cristãos ortodoxos desprezam, compreende a verdadeiranatureza de Deus.
Câmera: Nikon D2XFormato: DigitalLente: 105mm
Velocidade e abertura: 1/13 f/11Condições do tempo: InteriorHora do dia: ManhãTécnicas de iluminação: Refletores
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A pedra da agonia Foto de Kenneth Garrett Os cristãos reverenciam a Igreja de Todas as Nações emJerusalém, construída sobre a pedra onde, segundo a tradição,Jesus suou sangue à espera da traição de Judas no jardim doGethsêmani. Os evangelhos canônicos pregam que Jesus pediua Deus para não ter que morrer. Em contraste, o evangelho deJudas diz que Jesus queria morrer para passar à amplitude deDeus.
Câmera: Nikon D2XFormato: DigitalLente: 16mmVelocidade e abertura: 1/15 f/5.6
Condi ões do tem o: Interno
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Hora do dia: Meio da manhãTécnicas de iluminação: Lâmpadas de tungstênio
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Chão sagrado Foto de Kenneth Garrett Fiéis russos no mosteiro de Santa Catarina, no Sinal, tocam emum pedaço da história ao tocar nos ganhos mais baixos de umarbusto a partir do qual Deus falou com Moisés pela primeiravez, de acordo com a tradição. Na luta entre as versõesconcorrentes do cristianismo que se deram nos primeirosséculos depois da morte de Jesus, idéias ortodoxas venceram asgnósticas. Estes fiéis são herdeiros dos cristãos queconsideraram o evangelho de Judas uma heresia.
Câmera: Nikon D2XFormato: DigitalLente: 160mm
Velocidade e abertura: 1 80 f 4.5
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Condições do tempo: Quente e ensolaradoHora do dia: Meio-diaTécnicas de iluminação: Luz natural
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VOCÊ SABIA? Os primeiros cristãos, conhecidos como gnósticos, cujas crençasse refletem no evangelho de Judas, não eram um grupohomogêneo – estudiosos até debatem se as diversasramificações dos gnósticos devem mesmo ser agrupadas sob umsó título. A idéia gnóstica de que os indivíduos carregam dentrode si uma fagulha divina pode muito bem ter existido antes docristianismo. Mas, depois da época de Cristo, vários gnósticosadotaram Jesus como seu salvador – como o homem que contoua verdade sobre Deus para a humanidade – e portantopassaram a se considerar cristãos. No entanto, eles enxergavamo papel e os ensinamentos dele de modo bem distinto doscristãos ortodoxos.
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Então, onde Jesus se encaixava na cosmologia gnóstica?
Muitos gnósticos acreditavam que Jesus foi enviado à Terra parafalar à humanidade sobre um Deus gentil, amoroso econdescendente, muito diferente do Deus severo, vingativo ecriador do Antigo Testamento. Como os gnósticos nãoconseguiam harmonizar os dois aspectos opostos do divino em
um único Deus, acreditavam que devia existir outro deus alémdo criador.
Chegaram a enxergar este segundo Deus maior como a mentedivina que, no início dos tempos, teve idéias que ganharam vidaprópria e se transformaram em entidades divinas conhecidascomo Aeons. Os Aeons viviam no Pleroma, ou amplidão deDeus, que era um tipo de éter celestial ou reino de luz. Umadessas idéias transformadas em substância era a Sabedoria,chamada “Sophia”. Ela começou a pensar e a ter idéias próprias,então criou um novo ser sem consultar a mente divina, e semsua aprovação. Este ser ficou conhecido como Yaldobaoth, e foichamada de demiurgo, ou criador.
Os gnósticos acreditavam que Yaldobaoth era o responsável porcriar Adão e Eva a partir do barro de dar-lhes o sopro da vida. Oespírito do criador, uma aberração no mundo puro da mentedivina, introduziu a maldade no mundo. Mas também carregavaa essência de Sophia, e exalou um pouco dessa divindade emAdão e Eva quando os trouxe à vida. Toda a humanidade herdouesta fagulha divina.
O papel de Jesus na Terra, de acordo com os cristãos gnósticos,
era explicar à humanidade sua descendência do divino. Comesta informação, e olhando para dentro de si para descobrir afagulha divina, um gnóstico é capaz de ser reunir com o divino eviver na amplitude de Deus.
Elizabeth Snodgrass
LINKS The Catholic Encyclopedia (A Enciclopédia Católica) www.newadvent.org/cathen Indexada por letras e pesquisável por palavra-chave, aEnciclopédia Católica (em inglês) é uma referência onlinevaliosíssima para tudo relativo ao catolicismo. Faz parte de um
site católico mais amplo, o New Advent (Novo Advento), quetambém inclui a Summa Theologica, a obra-prima teológica desão Tomás de Aquino além de cartas discursos e livros dos
http://www.newadvent.org/cathenhttp://www.newadvent.org/cathen
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Codex Sinaiticus www.bl.uk/onlinegallery/themes/asian africanman/codex.html Por que o Codex Sinaiticus, o mais antigo exemplar do NovoTestamento que existe até hoje, é tão importante para a históriado cristianismo? Conheça os detalhes no site da Biblioteca
Britânica (que abriga a maior porção do Codex Sinaiticus.) Sigao link para o projeto da biblioteca de disponibilizar a íntegra docodex online.
Irenaeus Against Heresies (Irenaeus contra as heresias) wesley.nnu.edu/biblical_studies/noncanon/fathers
/ante-nic/irenaeus/02-ag-he.htm O Wesley Center for Applied
Theology (Centro Wesley de Teologia Aplicada) apresenta umatradução do Livro 2 do tomo anti-herético de Irenaeus, um bispode Lyon no século 2. O link acima leva diretamente a umacondenação vigorosa dos gnósticos, apesar da linguagemponderada.
The Gnosis Archive (O arquivo da gnose) www.webcom.com/gnosis Este arquivo, organizado pela GnosticSociety (sociedade Gnóstica), abriga informações relativas atudo que é gnóstico. Encontre aqui explicações detalhadas dacrença gnóstica sob o título “The Gnostic Viewpoint: Essays onContemporary Gnosticism”(O ponto de vista gnóstico: ensaiossobre o gnosticismo contemporâneo). Há também palestrasvirtuais e livros.
BIBLIOGRAFIA Cross, F. L., and E. A. Livingstone. The Oxford Dictionary of theChristian Church, 3rd ed. revised. Oxford University Press, 2005.
Ehrman, Bart D. The New Testament. Oxford University Press,2004.
Ehrman, Bart D. Lost Christianities. Oxford University Press,2003.
Jenkins, Philip. Hidden Gospels. Oxford University Press, 2001.
Johnson, Luke T. “The New Testament’s Anti-Jewish Slander andthe Conventions of Ancient Polemic.” Journal of BiblicalLiterature, 108/3 (1989), 419-41.
Meyer, Marvin. The Gnostic Gospels of Jesus: The DefinitiveCollection of Mystical Gospels and Secret Books About Jesus of
http://www.bl.uk/onlinegallery/themes/asianafricanman/codex.htmlhttp://www.bl.uk/onlinegallery/themes/asianafricanman/codex.htmlhttp://wesley.nnu.edu/biblical_studies/noncanon/fathers/ante-nic/irenaeus/02-ag-he.htmhttp://wesley.nnu.edu/biblical_studies/noncanon/fathers/ante-nic/irenaeus/02-ag-he.htmhttp://www.webcom.com/gnosishttp://www.webcom.com/gnosishttp://wesley.nnu.edu/biblical_studies/noncanon/fathers/ante-nic/irenaeus/02-ag-he.htmhttp://wesley.nnu.edu/biblical_studies/noncanon/fathers/ante-nic/irenaeus/02-ag-he.htmhttp://www.bl.uk/onlinegallery/themes/asianafricanman/codex.htmlhttp://www.bl.uk/onlinegallery/themes/asianafricanman/codex.html
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Tushingham, A. Douglas. “The Men Who Hid the Dead SeaScrolls: Ancient Manuscripts Found in Judean Caves Open a NewWorld to Biblical Scholarship.” National Geographic (December1958), 784-80
> Se você quiser ver a versão americana desta página,clique aqui .
http://www9.nationalgeographic.com/ngm/gospel/index.htmlhttp://nationalgeographic.abril.com.br/ngbonline/http://nationalgeographic.abril.com.br/ngbonline/lojanational/http://publicidade.abril.com.br/homes.php?MARCA=30http://assineabril.com/index.html?destino=telanatgeo&origem=sr/ng/home/barramailto:[email protected]://nationalgeographic.abril.com.br/ngbonline/expediente.shtmlhttp://www9.nationalgeographic.com/ngm/gospel/index.html
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Tesouro no deserto Conservado pelo clima seco do deserto do Egito,a cópia restante do Evangelho de Judas foi descobertaem algum momento da década de 1970 ao norte dacidade de El Minya.
> Se você quiser ver a versão americana desta página,clique aqui .
http://www9.nationalgeographic.com/ngm/gospel/index.htmlhttp://www9.nationalgeographic.com/ngm/gospel/index.html
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ANOTAÇÕES DE CAMPO DO FOTÓGRAFOKENNETH GARRETT
O MELHOR Eu nunca me interessei muito porhistória bíblica, mas esta reportagemme deu uma oportunidade incrível deexaminar as origens tumultuadas docristianismo nos primeiros 400 anosdepois da morte de Cristo. Acheifascinante o fato de as histórias sobreJesus serem transmitidas oralmente ede ninguém ter começado escrevê-lasaté cerca de 30 anos depois de sua
morte. De ois os teólo os da é oca
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demoraram séculos para destrincharas histórias durante o processo deedição da Bíblia.
Vai ser interessante ver o tipo de debate que nossasdescobertas a respeito de Judas vão suscitar, porque enxergá-locomo o discípulo em que Jesus mais confiava com certeza
modifica a história. Eu sei que algumas pessoas vão rejeitar aidéia de cara, porque os primeiros estudiosos declararam oevangelho uma heresia. Mas quem tem curiosidade intelectualvai pensar: “Isto aqui é bacana demais”.
O PIOR O trabalho nesta reportagem começou em dezembro de 2004, e
todos os envolvidos tiveram que assinar um termo de sigilo paraque a informação não vazasse. Além dos integrantes destepequeno grupo, eu não pude conversar sobre o assunto comninguém – nem com meus familiares. Eu só dizia às pessoas queestava trabalhando em uma reportagem sobre as origens docristianismo. Para quem queria saber mais, eu tinha que me aterao bordão: “Se eu contar, vou ter que te matar”.
O MAIS BIZARRO Quando recebemos a primeira tradução do evangelho de Judas,ficamos arrepiados ao ler sobre a revelação que Judas teve aoentrar em uma nuvem. Dizia assim: “Quem estava no chãoouviu uma voz vinda de uma nuvem, dizendo...”. Então, quandoachamos que iríamos descobrir o que a voz disse, lemos “...Lacuna”. As palavras estavam faltando devido a um fragmento
desaparecido do papiro.
> Se você quiser ver a versão americana desta página,clique aqui .
http://www9.nationalgeographic.com/ngm/gospel/index.htmlhttp://www9.nationalgeographic.com/ngm/gospel/index.html