Monografia Vitis Vinifera

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    INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOSHOMEOPTICOS

    FACULDADE DE CINCIAS DA SADE DE SO PAULO

    RODOLFO SCHLEIER

    CONSTITUINTES FITOQUMICOS DE

    Vit is vin i fera L. (UVA)

    SO PAULO - SP

    2004

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    INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS HOMEOPTICOS

    FACULDADE DE CINCIAS DA SADE DE SO PAULO

    RODOLFO SCHLEIER

    CONSTITUINTES FITOQUMICOS DE

    Vit is vin i fera L. (UVA)

    SO PAULO - SP

    INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS HOMEOPTICOS2004

    Monografia apresentada para obteno

    do ttulo de Especialista em Fitoterapia no

    IBEHE / FACIS. Orientadores: Prof

    . Dr. JosCarlos Tavares Carvalho e Profa Dra. Amlia

    Vernica Mendes da Silva

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    SUMRIO

    RESUMO...........................................................................................................5

    1 INTRODUO................................................................................................6

    1.1 Aspectos botnicos de Vitis viniferaL.........................................................6

    1.2 Importncia econmica e cultural................................................................7

    1.3 O vinho.........................................................................................................8

    1.4 Uso medicinal e popular..............................................................................91.5 Uva e vinho como alimentos funcionais.....................................................10

    2 REVISO BIBLIOGRFICA.........................................................................13

    2.1 Cultivo da videira.......................................................................................13

    2.2 Compostos fenlicos de Vitis vinifera L. e vinhos......................................16

    2.3 Biossntese................................................................................................21

    2.4 Fatores ambientais....................................................................................22

    2.5 Controle de qualidade...............................................................................27

    2.6 Atividade farmacolgica.............................................................................30

    3 CONCLUSO...............................................................................................39

    4 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.............................................................42

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    RESUMO

    A espcie vegetal Vitis viniferaL., denominada videira ou parreira, cultivada

    h milnios, produz um fruto de grande valor alimentcio e cultural para a espcie

    humana: a uva, amplamente consumida, in natura ou na forma de sucos e doces. A

    fermentao do suco de uva produz um lquido alcolico, o vinho, conhecido desde a

    Antiguidade. Recentemente, por volta de 1980, grande destaque na mdia passou a

    ser dado para as possveis correlaes entre consumo de vinho e sade humana,

    verificadas a partir de estudos cientficos envolvendo populaes consumidoras da

    bebida. Vrios compostos vm sendo descritos na literatura, presentes na uva e

    conseqentemente nos vinhos, aos quais se atribuem diversas aesfarmacolgicas. As doenas cardiovasculares so uma importante causa de

    mortalidade em todo o mundo. Em virtude disso natural o interesse da cincia e da

    mdia, diante da possibilidade de preveno atravs de medidas que incluem a

    adoo de hbitos alimentares saudveis e prtica de exerccios fsicos. H

    evidncias de que o consumo regular de vinho tinto, dentro de certos limites, capaz

    de prevenir doenas cardiovasculares e assim contribuir para aumentar a

    longevidade humana, por mecanismos ainda no totalmente esclarecidos. A partir deento a uva e o vinho vem sendo estudados em todo o mundo, e o vinho entrou para

    a lista dos chamados alimentos funcionais, consumidos com a finalidade de

    prevenir doenas e manter a sade.

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    1 INTRODUO

    1.1 Aspectos botnicos de Vit is vini feraL.

    Constituda de 700 espcies, divididas em 12 gneros, a famlia Vitaceae

    distribui-se nas regies tropicais e subtropicais do planeta, at algumas reas

    temperadas, como o vale do Reno, na Europa (HEYWOOD, 1993). A maior parte

    dos membros da famlia so espcies trepadeiras, dotadas de gavinhas (brotos ou

    inflorescncias modificadas, que podem ter ventosas na extremidade). H tambm

    algumas espcies de arbustos eretos cujos ns so freqentemente articulados ou

    dilatados. Vrios gneros so ornamentais, como Cissus, Parthenocissus, e Vitis. Nognero Vitis, as gavinhas crescem inserindo-se nas fendas da estrutura que a

    suporta, devido ao fototropismo negativo. Uma vez inseridas, estas intumescem e

    aderem ao suporte, mantendo a planta erguida.

    O gnero Vitis o principal representante desta famlia, devido importncia

    econmica da uva (Vitis viniferaL.), largamente consumida in natura ou empregada

    como matria prima para a fabricao de sucos, vinhos, uvas passas, gelias, etc.,

    bem como para uso ornamental.O nome Vitis designava as gavinhas que se recurvam e se agarram ao

    suporte, passando a designar a videira (RENN, 1963). Ele expressa idia de

    ductilidade e flexibilidade que tambm est em vime; etimologicamente, no

    cognato de vinum. A palavra vinifera uma referncia ao vinho.

    O nome cientfico da videira ou parreira Vitis viniferaL., com sinonmia Vitis

    sativa L. A fruta conhecida pelo nome popular de uva, em portugus; grape e

    grapevine, em ingls; vid, uva, em espanhol; vite, em italiano; Weinstock, Weintraubem alemo; vigne, em francs. Na Homeopatia designada pelo nome latino Vitis

    vinifera. o principal representante da famlia botnica Vitaceae. So utilizadas na

    medicina as folhas, fruto e semente.

    A uva (Vitis viniferaL.) uma planta trepadeira com gavinhas, lenhosa e de porte

    arbustivo, suas folhas so alternas, pecioladas, cordiformes, com cinco lbulos

    sinuados dentados, glabras na parte superior e tomentosas na parte inferior. As

    flores so pequenas e de cor branco esverdeada, dispostas em rcimos. Os frutos

    so bagas reunidas em cachos, contendo cada uma duas ou trs sementes,

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    variando de cor de acordo com o tipo de uva. (FONTE: Informe do fornecedor).

    A droga descrita na Farmacopia Francesa.

    1.2 Importncia econmica e cultural

    A uva (Vitis viniferaL.) cultivada desde o incio da domesticao de plantas

    e animais h cerca de 11.000 anos, na rea conhecida como Crescente Frtil do

    Mediterrneo oriental, em terras que hoje constituem o Lbano, Sria, Turquia, Ir,

    Jordnia, Iraque e Israel (RAVEN, 2001). Ao lado das outras espcies vegetais que

    comearam a ser cultivadas nessa poca, como o trigo (Triticum), a cevada

    (Hordeum vulgare), lentilha (Lens culinaris), ervilha (Pisum sativum), gro de bico(Cicer arietinum ), fava (Vicia spp.), oliveira (Olea europaea), tamareira (Phoenix

    dactylifera), rom (Punica granatum) e linho (Linum usitatissimum ), estava a videira

    (ou parreira), como conhecida a planta. O vinho de uvas e a cerveja feita de

    cereais foram usados j naqueles tempos. Atravs da seleo de determinadas

    linhagens dessas plantas pelo homem, suas caractersticas foram se alterando

    gradualmente, tornando-se mais adequadas para coleta, armazenamento e

    utilizao. medida que o processo de seleo se desenvolvia, criava-se um vnculoentre o homem e a planta.

    A atividade da viticultura sempre foi carregada de simbologia na tradio

    ocidental (BAUMGARTEN, 2001). Para judeus e cristos, a videira representa o

    povo (de quem Deus cuida, assim como o homem cuida da videira), e as uvas

    simbolizam as promessas de Deus. Nos tempos do Antigo Testamento, uvas e vinho

    eram levados ao altar na celebrao das colheitas, e o vinho era parte integrante

    das ofertas de sacrifcio no templo. Na Bblia o vinho smbolo de alegria e deplenitude de ddivas de Deus, sendo inclusive indicado para alegrar a vida. Mas no

    mesmo livro tambm h mensagens de alerta para os exageros do vinho e da

    bebida em geral.

    No Novo Testamento, o vinho adquiriu significado especial para a celebrao

    e f crists, nas parbolas de Jesus e nos textos de instituio da Santa Ceia. No

    Evangelho de Lucas, encontramos a mistura de leo e vinho com funo curativa.

    H indcios de que no incio do cristianismo, cachos de uvas eram inscritos sobre

    sarcfagos, como smbolo da esperana da vida vindoura.

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    A uva, ao lado do po, considerada um dos smbolos da alimentao

    humana (BURKHARD, 1984a). J existiam representaes egpcias da colheita da

    uva e do fabrico do vinho em 3.500 a.C. A videira atingiu grande importncia na

    cultura greco-romana, que a difundiu por toda a regio da sia Menor e Europa. Na

    Idade Mdia surgiram na Europa importantes centros vincolas, vrios destes ligados

    a mosteiros, que deram suas contribuies para o melhoramento das tcnicas de

    cultivo da uva e produo de vinho. A viticultura foi posteriormente levada por

    imigrantes europeus para a Amrica e demais continentes.

    1.3 O vinho

    O vinho um lquido alcolico obtido a partir da fermentao do suco dos

    frutos de uvas, cuja cor pode passar por vrias tonalidades que vo do amarelo ao

    violeta. Possui odor aromtico caracterstico, e sabor suavemente adstringente e

    irritante. Sua densidade situa-se entre 0,990 e 1,010 (The Japanese Pharmacopoeia

    thirteenth edition 1996).

    O vinho por definio obtido da uvas europias (Vitis vinifera L.) ou

    americanas (Vitis labrusca L.), ou hbridas. Outras frutas podem ser usadas nofabrico do vinho, sendo ento obrigatrio citar a fruta (vinho de amora, de abacaxi,

    etc.).

    Do ponto de vista nutricional, os principais constituintes do vinho so: gua,

    etanol, acares, minerais (potssio, fsforo, magnsio, clcio, sdio, silcio, ferro,

    mangans, zinco, cobre, nquel, molibdnio, cromo, cobalto), vitaminas (cido

    pantotnico, nicotinamida, vitamina B2, B6, biotina, cido flico), cidos orgnicos

    (ltico, tartrico, actico, mlico entre outros), aminas bioativas (histamina, beta-feniletilamina, tiramina), e traos de protenas (SCHERZ & SENSER, 2000).

    Em 2002, a produo mundial de vinhos foi de 26,8 bilhes de litros, sendo a

    Frana o maior produtor mundial com 5,2 bilhes de litros, seguida pela Itlia com

    4,5 bilhes de litros, Espanha com 3,4 bilhes de litros, Estados Unidos 2,5 bilhes

    de litros e a Argentina 1,2 bilhes de litros. O Brasil figura como o 16. produtor

    mundial. Chamam a ateno a China e a Austrlia, que na ltima dcada deram um

    salto importante na produo de vinhos.

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    A Itlia figura como o maior exportador mundial considerando a mdia

    dos anos de 1998 a 2001, seguida da Frana. A Itlia exporta cerca de 32% de sua

    produo e a Frana em torno de 27 % dos vinhos produzidos. (Fonte: Embrapa Uva

    e Vinho, RS).

    A produo brasileira de vinho embora no a de uva est muito

    concentrada em uma regio relativamente pequena do Rio Grande do Sul. Alm

    disso, a maior parte da produo de vinho no pas no obtida de videiras

    europias (Vitis vinifera L.) como ocorre em praticamente todos os pases

    produtores, mas sim de uvas americanas (Vitis labrusca L.) e hbridas. Aqui, o

    consumo de vinhos obtidos da Vitis vinifera cada vez mais dependente das

    importaes. Enquanto o consumo nacional per capita de uvas de mesa crescente,o de vinho manteve-se estvel, seguindo uma tendncia mundial (BNDES, 2004).

    A cultura da videira est satisfatoriamente adaptada ao Brasil, o que

    comprovado pelas exportaes de uvas de mesa. A produo de vinho, por outro

    lado, enfrenta atualmente problemas de competitividade no mercado. Mais de 80%

    da produo nacional consistem de produtos considerados inferiores e praticamente

    sem similar no mercado internacional.

    1.4 Uso medicinal e popular

    Em muitos pases, notadamente em algumas partes da Alemanha, Sua e

    Frana, faz-se a chamada cura de uvas, que consiste na ingesto de grandes

    quantidades da fruta como meio teraputico para combater a dispepsia, atonia

    intestinal, fermentaes intestinais, nefrite, bronquite crnica, tuberculose, molstias

    do fgado entre outras. BALBACH (1995) refere-se recomendao de at trsquilos ao dia, na forma de suco ou em bagos, por um perodo de oito a vinte dias.

    A cura de uvas utilizada em clnicas naturalistas de todo o mundo, na

    obesidade, para desintoxicao, eliminao de edemas, doenas cardiovasculares

    crnicas. Como a maioria das frutas, acredita-se que ela reconstitui e fluidifica o

    sangue. A dieta de uvas indicada na medicina natural para obesos ou

    desintoxicao geral, podendo ser feita por perodos de 3 a 30 dias. Usa-se de incio

    1 kg de uva em baga ou suco. Pode-se aumentar a quantidade at 3 kg ao dia,

    distribudas em cinco ou seis refeies dirias. Pode ser ingerida com ou sem casca.

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    Diz-se que seu teor de potssio e magnsio beneficia os cardacos e ajuda na

    eliminao de edemas (BURKHARD, 1984).

    1.5 Uva e vinho como alimentos funcionais

    O interesse pela preveno e cura de doenas atravs da alimentao vem

    aumentando a cada dia, e cada vez com mais embasamento cientfico.

    A alimentao tpica dos povos do litoral do Mar Mediterrneo h milnios

    acompanhada de generosas doses de vinho e de azeite de oliva, de preferncia

    extra-virgem. A chamada dieta do Mediterrneo passou a ser amplamente

    difundida por volta dos anos 80, a partir de estudos cientficos comprovando aexistncia de uma relao direta entre alimentao e ocorrncia de doenas

    cardiovasculares e cncer (SALGADO, 2001). Tais populaes sempre tiveram

    menores taxas de colesterol e conseqentemente de doenas coronarianas, do que

    os do norte da Europa. Uma justificativa estaria na enorme quantidade de frutas,

    legumes e saladas (ricos em antioxidantes) que o povo mediterrneo ingere. Outra

    explicao seria o menor consumo, por estas populaes, de gordura animal, acar

    e produtos industrializados. Alm disso, a cultura de toda a regio at hoje d muitovalor ao ritual de preparar e saborear um prato, o que certamente contribui em muito

    para a qualidade de vida.

    No entanto, os franceses, com uma culinria rica em manteiga, creme de

    leite e queijos gordos, ainda assim vinham apresentando menos casos de morte por

    problemas cardacos do que americanos, ingleses, dinamarqueses, finlandeses e

    alemes (SALGADO, 2000). O fato dos franceses beberem mais vinho do que

    aqueles outros povos citados sugeria a existncia de relao direta entre o consumode vinho e a ocorrncia de doenas cardiovasculares. Teve incio ento o interesse

    da comunidade cientfica pelos compostos da uva com atividade no sistema

    cardiovascular. Um grande destaque na mdia nos ltimos vinte anos vem sendo

    dado ao chamado paradoxo francs. Os vinhos tintos desde ento vinham se

    mostrando superiores aos brancos, provavelmente por sua quantidade 20 a 50

    vezes maior de compostos fenlicos, de intensa atividade antioxidante.

    Vrios estudos populacionais j vinham investigando se o lcool por si s teria

    algum sobre o risco de doenas cardiovasculares, e que consumo moderado de

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    bebidas (10-30 g/dia de lcool puro) seria benfico. A relao ingesto de

    lcool/risco de doena cardiovascular em tais estudos comumente tinha uma forma

    de U, onde: num estgio inicial, de aumento moderado no consumo de lcool, havia

    um decrscimo no risco at um certo patamar; a partir deste ponto de inflexo,

    porm, o aumento no consumo acarretava aumento no risco sade (SHIBAMOTO,

    1998).

    H estudos relacionando o consumo de bebidas alcolicas diferentes (vinho,

    cerveja e destilados) e risco de morte por doena cerebrovascular e cardiovascular,

    em uma populao dinamarquesa de aproximadamente 13.000 indivduos, no

    decorrer de um ano, demonstrando que o consumo dirio de vinho reduziu

    significativamente o risco de morte por tais doenas, enquanto o consumo de cervejae destilados acarretou pouca ou nenhuma alterao. Os autores ainda relatam que,

    a partir de um certo patamar de consumo dirio, o vinho exerce efeito contrrio, isto

    , aumentando o risco de morte por cirrose e outras causas. A descoberta de que

    somente o vinho reduzia claramente os risco de doena cardio- e cerebrovascular

    sugeria que outros compostos, alm do lcool, poderiam estar envolvidos

    (KUMPULAINEN & SALONEN, 1996). O fato de este estudo ser conduzido na

    Dinamarca, um pas do Norte da Europa cuja dieta tradicional bem diferente dadieta mediterrnea, pode ser um indicativo de que o efeito benfico do vinho

    independe da alimentao da populao.

    Nas ltimas dcadas houve grande aumento do interesse cientfico pelos

    compostos antioxidantes de alimentos. Como visto em diversos estudos

    populacionais, uma alimentao rica em vegetais capaz de proteger o organismo

    humano da ao dos radicais livres.

    So necessrios estudos mais aprofundados dos principais constituintesfitoqumicos de Vitis viniferaL. com ao antioxidante, visando o desenvolvimento de

    suplementos, ou mesmo estabelecer cotas de ingesto diria da fruta e derivados,

    para obter um efeito teraputico desejado. Em vista do grande consumo de vinhos

    obtidos de uvas americanas (Vitis labruscaL.) seria aconselhvel estudar tambm

    os compostos fitoqumicos destas e de outras variedades de uva.

    Sabe-se que importantes sinergismos esto envolvidos no mecanismo de

    preveno de doenas, por exemplo entre compostos diferentes, ou entre

    compostos e outros fatores externos, como hbitos de vida saudveis. Diversas

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    medidas de preveno j so bem conhecidas e precisam ser bem difundidas

    entre a populao.

    Os constituintes fitoqumicos de uvas abrem perspectivas de estudo de

    compostos similares em outras frutas. Sabe-se que amoras, jabuticabas, e outras

    frutas vermelhas so igualmente ricas em antocianinas, que provavelmente tambm

    tm alguma ao medicinal ainda no conhecida.

    Para um correto emprego do vinho como alimento funcional, relacionado com

    a preveno de doenas cardiovasculares, importante que se faam estudos mais

    aprofundados, com o objetivo de estabelecer dosagens e posologia. O

    conhecimento cientfico obtido at agora no justifica o consumo indiscriminado da

    bebida.Tambm deve-se levar em conta a possvel presena de fatores que possam

    diminuir ou mesmo anular os efeito benficos do vinho: agrotxicos empregados no

    cultivo da videira; contaminantes qumicos, intencionais ou no; metanol;

    adulterantes (corantes entre outros), e contaminantes de origem biolgica, como

    toxinas de fungos. A longo prazo o consumo de vinhos contaminados pode ser mais

    prejudicial do que benfico.

    At agora, a viticultura tinha como principal objetivo a satisfao sensorial, ouseja, uma importncia do ponto de vista gastronmico. As descobertas recentes

    apontam novos caminhos para essa atividade. Poderiam ser fornecidos selos de

    aprovao aos vinhos, como j ocorre com margarinas, sal e outros produtos

    destinados a dietas especficas.

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    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1 Cultivo da videira

    As videiras preferem climas secos com temperaturas entre 10 e 40C. Em

    regies de temperatura mais baixa, o ciclo de produo permite uma safra por ano,

    enquanto sob temperaturas mais elevadas, podem-se ter duas safras/ano. As uvas

    so muito sensveis a ventos fortes. A videira adapta-se a diversos tipos de solos,

    desde que sejam ricos em matria orgnica, e no muito midos.

    A escolha da cultivar (variedade) depende do destino da produo (mesa,

    vinho ou suco).Figura 1.: tabela de cultivares de uva e principais caractersticas:

    CULTIVARFINALIDAD

    ECACHOS BAGAS

    Itlia(Pirvano 65) mesa

    cnicos esemi-soltos

    grandes, decor verde-amarelado ealongadas

    Nigarabranca

    Mesa,alguns vinhosbrancos de grandeaceitao no Brasil

    pequenos amdios, com 12 a15

    cm decomprimento, deaspecto cilndrico

    esfricas ebranco-

    esverdeadas.

    Nigararosada

    mesa,tambm para vinhorosado doce

    pequenos amdios, com 12 a15

    cm decomprimento, deaspecto cilndrico

    esfricas erosadas

    Rubi (Itlia) mesa cnicos esemi-soltos

    coloraorosada e alto teorde acar.

    Diamantenegro (Pirvano87)

    mesagrandes e

    alongados, muitosensveis ao sol

    bagasgrandes,arredondadas ede cor preta.

    Ferral roxa mesagrandes e

    longos

    grandes,ovaladas e de corrosa-escuro, altoteor de acar

    quando maduras.Isabel mesa, grandes pequenas,

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    (Isabella) a cultivar

    mais difundida noBrasil,

    especialmente no Rio Grandedo Sul para aproduo devinhos.

    gelias, vinho ousuco

    ecilndricos.

    pretas e esfricas.

    Couderc 13 vinhobranco

    mdios agrandes, semi-soltos e deformato cnico

    branco-esverdadas, deformato esfrico

    Rieslingitlico

    vinhobranco

    pequeno amdio, cilndricosa cnicos

    brancas,com pontuaes

    Trebiano vinhobranco

    mdios ougrandes

    mdias eesfricas, branco-

    esverdeadas.

    Cabernetfranc

    vinho tinto grandespretas,

    esfricas epequenas

    Concord

    (Nigara preta)

    mesa, vinho

    tinto e suco

    mdio a

    grande

    mdias,

    redondas e pretasFolha defigo (Bord)

    vinho tintoe suco

    pequenoa mdio

    mdias epretas

    Jacques ouJacquez

    vinho tintotamanho

    mdio a grandeesfricas,

    de cor preta

    Merlot

    bastantecultivada no RioGrande do Sul,considerada umadas melhores paraa produo de

    vinho tinto

    mdio apequeno e cnico

    tamanhomdio,

    redondas epretas.

    A rea para viticultura deve estar distante de reas midas, baixadas, aclives

    acentuados (acima de 20%), solos compactados e rasos. Em solos muitos arenosos,

    recomenda-se incorporar matria orgnica para melhorar a reteno de umidade e

    dos fertilizantes. O terreno deve ser preparado por meio de: limpeza da rea (no

    mnimo, seis meses antes do plantio); subsolagem ou arao profunda; anlise do

    solo (pelo menos trs meses antes); calagem (dois meses antes) procurando atingir

    o pH a 6,0. O espaamento entre as mudas depende da topografia do terreno,

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    exposio ao sol, vigor da cultivar/porta-enxerto, fertilidade do solo e sistema de

    conduo.

    A poda uma prtica que deve sempre ser utilizada na cultura da videira,

    tanto para a formao da planta quanto para a formao dos ramos produtivos. A

    poda objetiva manter o equilbrio entre as partes vegetativas e produtivas da planta,

    regulando a produo e melhorando as condies fitossanitrias.

    A videira necessita de dois tipos bsicos de adubao: a de correo (para

    corrigir a fertilidade do solo e repor os nutrientes absorvidos pela planta durante o

    ano) e a de manuteno ou de produo (para repor os nutrientes extrados pela

    planta, compreendendo nitrognio, fsforo e potssio). A adubao orgnica pode

    ser utilizada, pois favorece tanto as caractersticas qumicas quanto fsicas ebiolgicas do solo, alm de reduzir a quantidade de fertilizantes qumicos.

    A videira pode ser propagada por via sexual (semente) ou via assexual por

    meio de estacas, mergulhia e enxertia. A propagao por via sexual usada em

    programas de melhoramento, no sendo indicada para plantios comerciais, pelo

    longo tempo que leva para a formao das plantas e pela variabilidade.

    A irrigao do vinhedo fundamental para o aumento da produo. So

    recomendados mtodos de irrigao localizada, tais como o gotejamento e amicroasperso, que permitem a aplicao controlada de gua e nutrientes com

    menor risco de problemas fitossanitrios, alm de poderem ser automatizados. A

    falta de gua durante a fase de formao e crescimento dos cachos e das bagas

    afeta diretamente a produo dos frutos.

    A maturao dos cachos ocorre de 110 a 130 dias do incio da vegetao ou

    de 85 a 90 dias do incio da florao. Os cachos devem ser colhidos maduros, sendo

    o ponto de colheita um dos aspectos fundamentais para a obteno de frutos dequalidade adequada a cada finalidade. A colheita feita manualmente, com

    cuidados no manuseio do cacho. O manuseio inadequado e grosseiro dos frutos

    provoca rachadura das bagas, propiciando a entrada de fungos. Aps a colheita

    deve-se transportar a produo a um local (barraco) a fim de eliminar os cachos

    contaminados por fungos e danificados; separar os cachos por peso e dimetro das

    bagas; embalar adequadamente os cachos em caixas com uma folha de papel

    glassine ou de seda para proteg-los. A produtividade mdia da uva pode chegar a

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    30 ou 40 t/ha/ano, dependendo das condies climticas, irrigao e manejo.

    (FONTE: UNIV. FEDERAL DE LAVRAS, MANUAIS TCNICOS.)

    2.2 Compostos fenlicos de Vit is vini fera L. e vinhos

    As propriedades antioxidantes de certos compostos encontrados em

    alimentos tm atrado a ateno para a nutrio preventiva, por sua j comprovada

    ao contra o dano oxidativo, relacionado a importantes doenas como

    envelhecimento, cncer e doenas cardiovasculares. Os flavonides so osantioxidantes vegetais mais representativos, presentes em frutas, legumes,

    sementes, flores e folhas, constituindo assim parte da dieta humana. Apesar da

    atividade in vivodos flavonides ainda no estar bem esclarecida, uma vez que

    difcil estabelecer correlaes entre os estudos farmacolgicos de flavonides

    (envolvendo experimentos com animais) e o seu consumo atravs da alimentao,

    existe a possibilidade a mdio e longo prazo, do emprego de concentrados ricos em

    flavonides pela populao (YUNES & CALIXTO, 2001). Alguns flavonides soobtidos do consumo como alimento da uva e do vinho como: flavonis (kaempferol,

    quercetina, miricetina), flavanis ( catequinas e derivados), antocianidinas

    (malvidina, cianidina).

    Aos compostos fenlicos de uva, como os cidos fenlicos (cidos

    hidroxibenzicos e hidroxicinmicos), os polifenis e os flavanides, so atribudas

    diversas atividades biolgicas no ser humano. Os taninos, de alto peso molecular,

    esto presentes nos vinhos e do o sabor adstringente. Os de baixo peso moleculartendem ao sabor amargo. As flavonas, flavanonas, flavanis, catequinas e

    antocianinas formam o grupo dos flavanides. Protegem contra a oxidao do LDL-

    colesterol atravs da reduo de radicais livres, quelao de ons metlicos e

    regenerao de alfa-tocoferol. Atuam tambm contra radicais livres, alergias,

    inflamaes, lceras, virose, tumores e hepatotoxinas. Inibem agregao

    plaquetria, reduzindo as cardiopatias e tromboses e a sntese de estrgeno. As

    antocianidinas so flavanides solveis em gua e so consideradas antioxidantes

    in vitro, podendo apresentar propriedades antioxidante e antimutagnica in vivo.

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    Catequinas, flavanides, antocianinas e cidos fenlicos esto presentes no

    vinho e apresentam ao antioxidante (ANJO, 2004).

    Proantocianidinas so uma classe de bioflavonides polifenlicos diferentes

    quanto estrutura qumica e farmacologia, amplamente distribudos em frutas,

    legumes, castanhas, sementes, flores e cascas. So antioxidantes naturais que

    possuem comprovada ao contra radicais livres e stress oxidativo. Para uma

    proantocianidina ou um bioflavonide ser considerado um antioxidante este deve

    satisfazer duas condies bsicas (KUMPULAINEN & SALONEN, 1999): 1. quando

    presente em baixas concentraes em relao ao substrato a ser oxidado, ele pode

    retardar ou prevenir a autooxidao ou o dano oxidativo causado por radicais livres;

    2. o produto formado pode ser estabilizado atravs de ligaes intramoleculares.Apesar das proantocianidinas serem comuns nos alimentos, faltam dados

    sobre o consumo das mesmas atravs da dieta. Estatsticas norte-americanas de

    consumo de alimentos estimam uma ingesto diria mdia de proantocianidinas pela

    populao dos EUA na faixa de 57.7 mg/pessoa (GU e col., 2004). Do total de

    proantocianidinas contidas nos alimentos, a contribuio de monmeros, dmeros,

    trmeros e polmeros superiores aos trmeros foi de 7,1, 11,2, 7,8 e 73,9%,

    respectivamente. As maiores fontes de proantocianidinas no estudo norte-americanoforam: ma (32%), chocolate (17,9%) e uvas (17,8%). Crianas na faixa de 2 a 5

    anos de idade, e homens acima dos 60 anos foram os que apresentaram maior

    ingesto diria de proantocianidinas (68,2 e 70,8 mg/pessoa), devido ao maior

    consumo de frutas por esses dois grupos. Baseado em recomendaes da

    Academia Americana de Pediatria, para crianas de 4 a 6 meses de idade foi

    recomendada uma ingesto diria de proantocianidinas de 1,3 mg, e de 26,0 mg

    para crianas de 6 a 10 meses. O estudo ainda refora que as proantocianidinasrespondem pela maior parte dos flavonides ingeridos na dieta ocidental.

    Os compostos fenlicos dos alimentos originam-se de uma das principais

    classes de metablitos secundrios nas plantas, e sua ocorrncia em tecidos

    animais devida ingesto de alimentos vegetais. So essenciais para o

    crescimento e reproduo das plantas, alm do efeito contra patgenos. So

    importantes para a pigmentao das plantas. Plantas feridas podem secretar

    compostos fenlicos para a defesa.

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    A presena de polifenlicos em produtos vegetais confere a estes

    propriedades, tais como a adstringncia, poder antioxidante, ou mesmo poder

    antinutricional. Antocianinas polifenlicas so responsveis pelas cores laranja,

    vermelho, azul, violeta e roxo de muitas espcies vegetais e derivados.

    Vrios flavonides de alimentos inibem crescimento tumoral, por vrios

    mecanismos provveis: modulao de isoenzimas do citocromo P450 levando

    inibio da ativao metablica de agentes carcinognicos; inibio de agentes

    carcinognicos em si; inibio da gerao de espcies de oxignio reativas e

    seqestro das mesmas; inibio da cascata do cido araquidnico; inibio da

    atividade da protena quinase C e outras quinases; reduo da biodisponibilidade de

    agentes carcinognicos.Os compostos fenlicos so componentes importantes nos vinhos,

    contribuindo para as caractersticas sensoriais como cor, sabor, adstringncia e

    dureza do vinho, por ao direta ou por interao com protenas, polissacardeos ou

    outros compostos fenlicos. Tambm so considerados importantes para a higiene

    do vinho, por sua ao bactericida, e so importantes para o envelhecimento do

    vinho.

    A composio fenlica do vinho depende do tipo de uva usada paravinificao, extrao do suco, processo de vinificao e de reaes qumicas que

    ocorrem durante o envelhecimento. Barris de madeira como o carvalho tambm

    respondem pelo contedo de fenis do vinho, j que no contato com a madeira

    vrios fenis simples e taninos hidrolisveis passam para o vinho. A composio

    fenlica tambm alterada pela levedura, como resultado de converso de

    substncias no fenlicas, e solubilizao e extrao de fenlicos pelo etanol

    produzido durante a fermentao.Os compostos fenlicos de vinho incluem comumente derivados dos cidos

    hidroxibenzico e hidroxicinmico, flavonides tais como flavan-3-is, flavan-3,4-

    diis, antocianinas e antocianidinas, flavonis, flavonas e taninos condensados.

    Vinhos brancos tendem a apresentar menor teor de fenlicos se comparados aos

    tintos. A proporo das diferentes classes de compostos no vinho depende

    primariamente da idade do vinho.

    Vinhos jovens contm principalmente fenlicos de baixo a mdio peso

    molecular, enquanto vinhos mais velhos contm mais fenlicos polimerizados. Entre

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    os compostos fenlicos simples presentes nos vinhos encontram-se

    predominantemente catequinas, epicatequinas, procianidinas B2, B3 e B4,

    quercetina e cido glico.

    O contedo total de fenlicos no vinho depende de uma srie de fatores como

    variedade da uva (vermelha ou branca); tipo da extrao; incluso ou eliminao de

    partes especficas como casca, polpa ou sementes, na etapa anterior fermentao;

    se houve ou no aquecimento das cascas; processo de vinificao (temperatura e

    tempo de maturao), e envelhecimento. Longos perodos de fermentao, em que

    sementes e casca ficam imersos, levam obteno de nveis mais altos de

    fenlicos, com o lcool produzido agindo como lquido extrator.

    A vinificao comea com o esmagamento das uvas, que expe as partesslidas da fruta ao seu prprio suco. A extrao de fenlicos mnima na

    manufatura de vinhos brancos, em que o contato do suco com as cascas, talos e

    sementes justamente um fator indesejvel e deve ser evitado. Os polifenis so os

    principais responsveis pela adstringncia e amargor em vinhos brancos, e agem

    como substratos em processos de oxidao. Na produo de vinhos vermelhos, as

    cascas so deixadas, sendo que esta diferena responsvel pelo maior teor de

    compostos fenlicos. Porm, o esmagamento excessivo com grande desgaste daspartes slidas leva extrao de fenlicos adstringentes, prejudicando a qualidade

    do vinho.

    Durante o envelhecimento do vinho, os nveis de antocianidinas tendem a cair

    de forma progressiva e irreversvel, devido polimerizao com taninos. Formam-se

    pigmentos polimricos que so menos sensveis s mudanas de pH. As formas

    polimricas de pigmentos respondem por cerca de 50% da densidade de colorao

    de vinhos jovens (no primeiro ano), mas esta porcentagem sobe para 85% em dezanos (SHAHIDI & NACZK, 1995).

    O termo antocianina originalmente designava a substncia responsvel pela

    colorao de algumas flores (do grego anthos, flor, e kuanos, azul). Hoje o nome se

    aplica a um grupo de pigmentos solveis em gua, que conferem colorao

    vermelha, azul, roxa, rosa, ou violeta da maioria das flores e frutos. Estes pigmentos

    ocorrem na natureza como glicosdeos (as antocianinas). Suas agliconas (as

    antocianidinas) derivam do ction 2-fenilbenzopirlio (tambm conhecido por flavlio).

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    Quimicamente, estas molculas fazem parte do vasto grupo dos flavonides. Na

    origem biossinttica, as antocianinas derivam do metabolismo dos flavonides.

    As antocianinas podem ser utilizadas na indstria alimentcia em substituio

    aos corantes sintticos, devido ao seu alto poder de colorao e sua relativa baixa

    toxicidade. Na prtica mdica, as aplicaes teraputicas das antocianinas se

    limitam ao tratamento de distrbios vasculares. O mercado oferece extratos de

    drogas ricas em antocianinas para a preparao de formulaes destinadas ao

    tratamento de sintomas ligados fragilidade venosa e capilar.

    As antocianinas so solveis em gua e lcoois, insolveis em solventes

    apolares orgnicos, e instveis em meio neutro ou alcalino. Geralmente so

    extradas com um lcool (de preferncia etanol, se for destinado para uso medicinalou alimentcio), na presena de cido clordrico em baixa concentrao (0,1 a 1 %).

    Tambm pode ser empregado um cido fraco (actico, tartrico ou ctrico), quando

    se quer evitar a desacetilao ou esterificao do pigmento. Solues de

    antocianinas so bastante instveis, e devem ser mantidas sob atmosfera de

    nitrognio, no escuro e a baixa temperatura. Antocianinas so sensveis ao oxignio,

    calor, luz e so susceptveis a ataques nucleoflicos.

    Extratos contendo antocianidinas podem ser obtidos industrialmente pormtodos de extrao em meio aquoso na presena de dixido de enxofre, seguido

    de acidificao para regenerar as antocianinas. A separao obtida por tcnicas

    de cromatografia. A anlise qumica das antocianidinas pode ser feita por HPLC.

    Testes em animais demonstram que as antocianinas diminuem

    permeabilidade e fragilidade capilares (assim como os flavonides em geral). A

    atividade dos glicosdeos parece estar ligada participao do colgeno no controle

    da permeabilidade da parede vascular. Isto pode ocorrer em parte devido a umainibio das enzimas proteolticas (elastase, colagenase), o que de fato vem sendo

    comprovado in vitro.

    A cor das folhas de uva tambm est relacionada a uma alta concentrao de

    antocianinas, que mxima quando os frutos esto maduros (podendo chegar a 0,3

    % do peso seco, em alguns cultivares). Os principais constituintes so 3-O-

    glicosdeos de cianidina e peonidina (BRUNETON, 1999).

    O resveratrol possui frmula molecular C14H12O3, peso molecular 228,2,

    apresenta-se no estado slido a 25 C. solvel em DMSO. Desempenha vrios

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    papis farmacolgicos incluindo: atividade antiproliferativa de clulas epiteliais

    de mamas humanas; agonista para receptores estrognicos; Inibe ribonucleotideo

    sintetase e sntese de DNA; inibe sntese de eicosanides; induz apoptose, inibe

    protena quinase D in vitro e in vivo. Por se tratar de produto em estudo para

    avaliao das atividades farmacolgicas e toxicolgicas, devem-se tomar cuidados

    no uso e manuseio. (Fonte: Nota da Internet. Disponvel em:

    http://www.biomol.com/SiteData/docs/productdata/fr104.pdf -

    acesso em 09/09/2004).

    2.3 Biossntese

    Os compostos fenlicos tm importantes funes na planta: atraem animais,

    para polinizao ou disperso de sementes; so importantes para proteger as

    plantas contra os raios UV, insetos, fungos, vrus e bactrias; acredita-se tambm

    que as ligninas tenham sido fundamentais para o desenvolvimento do sistema

    vascular vegetal, dando rigidez aos vasos. Esses compostos so sintetizados a partir

    da via do cido chiqumico (principal) e a via do cido mevalnico, menos

    significativa.O cido chiqumico formado pela condensao de dois metablitos da

    glicose, o fosfoenolpiruvato e a eritrose-4-fostato. No prximo passo o cido

    chiqumico e o fosfoenolpiruvato se unem formando cido corsmico que por sua vez

    gera os aminocidos aromticos (triptofano, fenilalanina e tirosina) que so

    precursores de vrios alcalides. Um dos primeiros grupos de compostos fenlicos

    formados a partir do cido corsmico so os fenilpropanides, tambm precursores

    da lignina (que na verdade um polmero altamente ramificado de fenilpropanos).A via do cido chiqumico presente em plantas, fungos e bactrias, e sua

    principal enzima a fenilalanina amnio liase (PAL). Essa enzima retira uma amnia

    da fenilalanina formando o cido cinmico. A PAL regulada por fatores ambientais

    como o nvel nutricional, a luz (pelo efeito dofitocromo) e infeco por fungos.

    Os flavonides representam uma importante classe de compostos derivados

    da PAL, de importncia muito grande nas angiospermas, principalmente na

    sinalizao entre plantas e outros organismos e na proteo contra UV. Entre os

    compostos que as plantas utilizam para colorir suas flores so as antocianinas, uma

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    classe de flavonides. As antocianinas so glicosdeos de flavonides. A

    aglicona (molcula sem o acar) conhecida como antocianidina. As antocianinas

    so bastante solveis e se acumulam nos vacolos das clulas das ptalas. Elas

    so transportadas para os vacolos por intermdio de glutationa-S-transferase

    (GST) e os transportadores ABC. Para que haja biossntese de flavonides, alm da

    ao da PAL necessria a atuao da chalcona sintase (CHS). Algumas espcies

    vegetais sofreram uma mutao nessa enzima, o que deu origem a acumulao de

    estilbenos, uma classe de compostos relacionados aos flavonides; um estilbeno de

    grande importncia o resveratrol.

    A enzima CHS necessria para que haja formao de antocianinas, os

    flavonis, os taninos condensados e os isoflavonides. Os flavonis so os prpriosprecursores de antocianinas e dos taninos condensados, contudo, por si s

    absorvem a radiao UVB (280-320 nm) para proteo das plantas. Um conhecido

    exemplo de flavonol a quercetina. Os isoflavonides so tambm conhecidos como

    fitoalexinas, uma classe de compostos com ao antipatgenos ou inseticida.

    Os taninos condensados so compostos fenlicos solveis em gua com

    massa molecular entre 500 a 3.000 Daltons. Esses compostos so responsveis

    pela adstringncia de muitos frutos. Taninos so defesas contra pragas pois eles seligam a protenas digestivas dos insetos. Esses compostos tambm so

    denominados protoantocianidinas devido ao fato de produzirem pigmentos

    avermelhados (antocianidinas), aps degradao.

    2.4 Fatores ambientais

    A produo de compostos fenlicos pela videira sofre forte influncia do clima,como tem sido observado por exemplo em regies produtoras de vinhos de altitude

    no sul do Brasil. A altitude elevada, na latitude de 28, propicia a ocorrncia de

    condies climticas diferenciadas em relao ao restante do pas o que proporciona

    um deslocamento de todo o ciclo vegetativo da videira. Em tais condies os nveis

    pluviomtricos so bem menores que nas regies tradicionalmente produtoras,

    permitindo com isso uma maturao, principalmente fenlica, mais completa.

    O clima particular responsvel por uma srie de fenmenos metablicos

    que por sua vez respondem pela diferenciao dos vinhos destas regies,

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    principalmente no que diz respeito composio fenlica das uvas e

    conseqentemente dos vinhos. As variaes hormonais nas plantas durante o ciclo

    vegetativo induzem o incio ou trmino das diferentes fases do desenvolvimento, e

    estas regem a produo e a armazenagem dos diversos compostos qumicos

    presentes nos vinhos. As baixas temperaturas noturnas determinam a parada de

    crescimento vegetativo e o incio da maturao com acmulos de acar e de

    substncias fenlicas assim como de alguns precursores de aroma.

    No perodo que antecede a mudana de cor das bagas ocorre uma reduo

    da concentrao dos hormnios do crescimento, como as auxinas, e a partir desta

    fase que inicia o surgimento do cido abcsico, determinante da colorao das

    bagas. Caso isto ocorra paralelamente ao crescimento dos ramos (por exemplodevido ocorrncia de temperaturas elevadas, indisponibilidade hdrica e nitrognio

    no solo), as bagas se colorem tardiamente; conseqentemente o perodo de

    maturao reduzido, produzindo uma uva de menor qualidade. No caso dos

    vinhedos de altitude, a reduo drstica do crescimento vegetativo exerce efeito

    contrrio.

    A sntese de compostos fenlicos est ligada ao metabolismo dos acares e

    do nitrognio, sendo o acar de importncia vital no acmulo de compostosfenlicos. Depois da mudana de cor das bagas, que marca o incio da maturao, a

    principal mudana metablica a reduo da via da gliclise e conseqentemente

    da produo de cido mlico. A partir deste momento o acar armazenado pela

    clula e no mais consumido; compostos fenlicos podem ento se acumular por

    vias metablicas alternativas.

    Alteraes hormonais na planta fazem com que, pela via das pentoses (onde

    normalmente a fenilalanina direcionada para o acmulo de protena, e portanto aocrescimento vegetativo), haja a formao da fenilalanina-amonialiase (PAL) que a

    enzima ligada ao aparecimento da colorao das bagas.

    Esta via metablica, agora alterada, leva formao de lignina para reserva

    da planta, e para a chalcona, precursor comum dos taninos, flavonides e

    antocianidinas, que sem a concorrncia do crescimento vegetativo, recebem sua

    cota de energia de forma redobrada, via gliclise e via pentose. A fenilalanina

    portanto concorre tanto para a proteossntese durante o crescimento da planta como

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    para a formao fenlica via chalcona. A reduo do crescimento vegetativo,

    graas ao desequilbrio hormonal, favorece assim o acmulo de compostos

    fenlicos.

    As uvas da cultivar Cabernet Sauvignon cultivadas nos climas de altitude

    apresentam como caractersticas marcantes e diferenciadas a maturao fenlica

    completa. Observou-se tambm tonalidade escura nas sementes, o que pode ser

    uma evidncia da maturao completa dos taninos. O acmulo de acar das uvas

    nos locais de altitude foi equivalente ao dos demais locais de produo de uva do sul

    do Brasil, uma vez que as baixas temperaturas no final do perodo de maturao no

    estimulam a produo de acar pela via das hexoses, favorecendo a via das

    pentoses na produo de compostos fenlicos. Anlises cromatogrficas desteselementos esto em fase de execuo. Os vinhos de altitude apresentam colorao

    de boa intensidade, com valores de 1,4 a 3,6 vezes mais antocianinas considerando-

    se a soma de cianidina, malvidina e delfinidina, se comparados com vinhos

    provenientes de uvas produzidas a 650 m de altitude (ROSIER, X Congresso

    Brasileiro de Viticultura e Enologia).

    A produo de resveratrol e outros estilbenos, entre os quais o piceatanol e

    viniferina, induzida pela radiao solar. Mtodos de irradiao ps-colheita de uvascom raios UV-C vem sendo utilizados para avaliar a capacidade produtora de

    diferentes variedades de uva, permitindo detectar as variedades com potencial de

    produo de vinhos com alto teor destes compostos (CANTOS e col., 2003).

    A sntese do resveratrol ocorre particularmente na casca, durante infeco

    fngica, ferimento ou radiao UV, e apenas traos esto presentes na polpa da

    uva. Vinho tinto contm muito mais resveratrol que vinho branco, devido ao contato

    da casca durante a fermentao. Um estudo piloto foi conduzido para investigar aviabilidade de desenvolver leveduras com a habilidade de produzir resveratrol

    durante a fermentao, tanto no vinho tinto quanto no branco, por meio de

    alteraes na via metablica dos fenilpropanides em Saccharomyces cerevisiae

    (BECKER e col., 2003).

    As videiras sofrem o ataque de uma srie de doenas fngicas, algumas das

    quais foram enumeradas na 7. Reunio Itinerante de Fitossanidade do Instituto

    Biolgico, em Indaiatuba, SP, 2002.

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    Antracnose: conhecida como olho de passarinho, negro, varola ou

    carvo; causada pelo fungo Elsinoe ampelina (de Bary) Shear (Sphaceloma

    ampelinum de Bary); ataca toda a parte area da planta, provocando pequenas

    manchas castanho escuras nas folhas com aspecto de queimadas nas

    extremidades; leva morte dos ramos e finalmente enrugamento com rachaduras de

    bagas.

    Mldio: doena de maior importncia para a viticultura, conhecida como mofo

    branco; causada pelo fungo Plasmopara viticola (Berk & Curtis) Berl & de Toni.

    Ataca todos os rgos verdes e tenros da planta tais como ramos, brotos, flores,

    bagas e principalmente as folhas, onde aparecem inicialmente manchas com

    aspecto de mancha de leo; posteriormente h um crescimento pulverulento de corbranca na face inferior da folha, que no sai ao toque do dedo. Em ataques intensos

    leva desfolha da planta. Os ramos se deformam, as flores secam e caem. As

    bagas ficam cobertas de um p acinzentado conhecido como podrido parda.

    Odio: doena de relativa importncia causada pelo fungo Uncinula necator

    (Schw.) Burril (Oidium tucheri Berk), ataca todos os rgos verdes e tenros da

    planta, nas folhas ocorre um p branco acinzentado em ambas as faces, que sai

    com o toque do dedo (ao contrrio do mldio). A frutificao reduzida em funo daqueda de flores, e os frutos racham.

    Manchas das folhas: Ocorre no final do ciclo da videira, levando desfolha.

    Causada pelo fungo Mycosphaerella personata Higgins (Pseudocercospora vitis

    (Lv.) Speg. sinonmia de Isariopsis clavispora(Berk & Curtis) Sacc.). Aparecem

    nas folhas manchas irregulares de 2 a 20 mm de dimetro, inicialmente

    avermelhadas e depois escuras, circundadas por um halo amarelo; estas levam

    necrose do limbo foliar.Declnio da Videira: Causada pelo fungo Eutypalata (Pers.:Fr.) Tul. & C. Tul.

    (Libertella blepharisA. L. Smith). Ocorre um encurtamento dos interndios podendo

    levar ao secamento das folhas basais dos ramos; os brotos no se desenvolvem e

    as folhas ficam pequenas e deformadas; nos troncos e ramos ocorre uma podrido

    seca, apresentando em corte transversal uma colorao escura em forma de V. O

    patgeno penetra na planta atravs de ferimento, causado por capina, poda, etc.

    Podrido Amarga: Causada pelo fungo Greeneria uvicola (Berk & Curtis)

    Punithalingam (sinonmia de Melanconium fuligineum(Scribner & Viala) Cav.).Tpica

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    das uvas maduras, provoca manchas pardas que evoluem para anis

    concntricos, levando ao apodrecimento e queda das bagas, com um sabor amargo.

    Podrido da Uva madura: causada pelo fungo Glomerella cingulata(Stonem.)

    Spauld. & Schrenk (Colletotrichum gloeosporioides (Penz), Penz e Sacc).

    Caracteriza-se por pequenas manchas circulares de cor marrom, passando a pardo-

    avermelhadas, apresentando massas de condios (o que a diferencia da Podrido

    amarga); as bagas apresentam enrugamento e desprendem-se do cacho.

    Podrido Negra: causada pelo fungo Guignardia bidwelli, afeta todos os

    rgos verdes. Aparecem manchas irregulares nas folhas com centro castanho e

    bordas com margem avermelhada. Nos ramos aparecem manchas ovaladas,

    alongadas e deprimidas, com condios de cor escura.Mofo cinzento: causada pelo fungo Bortyotinia fuckeliana (de Bay) Whetzel

    (Botrytis cinerea Pers.: Fr.). Pode infectar os botes de ramos novos, tornando-os

    marrons e secos.

    Seca dos ramos (Botriodipladiose): Causada pelo fungo Botryodiplodia

    theobromae Pat (sin. Diplodia natalensis Pole Evans.); leva a um definhamento

    progressivo das videiras, que culmina com a morte dos ramos no incio do vero.

    Murcha de fusarium: causado pelo fungo Fusarium oxysporumSchl. F. sp.Herbemontis Tocchetto. Causa reduo no crescimento das plantas, seca de

    ponteiros, amarelamento das folhas, escurecimento dos vasos do xilema.

    Cancro da Videira: causada pelo fungo Dothiorellasp. Causa o aparecimento

    de cancros nos troncos, nos ramos, superbrotamento e folhas deformadas, podendo

    se confundir com o Declnio da Videira.

    Excoriose: causada pelo fungo Phomopsis viticolae ocorre em casos em que

    na poca da brotao a planta fica molhada por vrios dias. Surgem pequenasmanchas circulares nas folhas, que escurecem.

    Podrido das razes: Causada por Armillaria melleaou Phytophthora sp. As

    plantas ficam debilitadas, apresentando encurtamento de entrens dos ramos,

    brotos murchos que secam e finalmente morrem.

    Como visto, uma larga variedade de fungos patgenos atacam a videira

    causando prejuzos ao crescimento e afetando a qualidade do vinho. Alternativas

    naturais vm sendo estudadas visando o combate de tais pragas.

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    Nesse sentido o estudo mais extensivo das reaes de defesa da videira

    poderiam fornecer uma melhor compreenso dos mecanismos envolvidos, e assim

    aproveit-los na agricultura.

    As fitoalexinas, o resveratrol e seus derivados, parecem ser uma importante

    reao de defesa. Genes ligados estilbeno sintase (enzima chave na sntese do

    resveratrol) isolados do genoma da videira j foram transferidos para outras plantas

    como tabaco, arroz, trigo, e tomate. Foram relatados aumentos significantes na

    tolerncia dessas plantas a vrios patgenos como Botrytis cinerea, Pyricularia

    oryzaee Phytophthora infestans. O gene citado foi tambm instalado em videiras

    geneticamente modificadas, cujas folhas foram inoculadas com esporos de Botrytis.

    Foram encontrados nveis de resveratrol 20 a 100 vezes superiores aos das plantascontrole, em testes in vitro, o que estaria relacionado maior resistncia, com

    reduo dos sintomas macroscpicos e queda na evoluo da doena, comparado

    s plantas normais. Esta tcnica de modificao gentica tem sido uma ferramenta

    interessante no estudo da relao entre diferentes espcies de plantas e fungos

    contaminantes.

    2.5 Controle de qualidade

    O trans-resveratrol (trans-3.4,5-trihidroxiestilbeno) o ismero mais ativo,

    relacionado preveno do cncer, e o vinho vermelho a principal fonte. O

    emprego de HPLC c/ deteco no UV foi descrito como um mtodo que permite uma

    anlise de vrias amostras em pouco tempo (RATOLA e col. 2004), o que

    fundamental para laboratrios de controle de qualidade. So observados nveis

    claramente maiores de trans-resveratrol nos vinhos tintos, enquanto que nosbrancos os teores situam-se abaixo do limite de deteco do mtodo. Ocorre uma

    notvel variao nos teores de resveratrol em funo das condies de cultivo

    (fatores ambientais e locais), variedade das uvas e tcnicas de processamento.

    Um mtodo aprimorado de HPLC de fase reversa foi descrito para detectar

    ismeros livres de resveratrol (KOLOUCHOVA-HANZLIKOVA, 2004). Fatores

    importantes relativos anlise qumica do resveratrol foram investigados, como a

    isomerizao da soluo padro de resveratrol luz difusa (que atua como

    catalisador da reao). O equilbrio entre as formas isomricas trans- e cis- foi

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    atingido aps 5h de exposio luz solar difusa, e no foi influenciado

    significantemente pela temperatura (30-60 C). Foi observada linearidade na faixa

    de concentrao de 0,01 a 10 mg/l. O limite de deteco foi de 3 mg/ml para o trans-

    resveratrol e de 15 mg/ml para o cis-resveratrol.

    Polifenis podem facilmente sofrer reaes de oxidao de origem qumica ou

    enzimtica. Ambas reaes podem induzir uma polimerizao progressiva dos fenis

    levando, nos estgios avanados, a um escurecimento do produto. Em muitos

    casos, a oxidao dos polifenis deve-se em grande parte ao modo de

    processamento. Por esta razo poder-se-ia supor que frutas processadas tenham

    menor poder antioxidante in vivo, e portanto tragam menos benefcios sade do

    que os frescos. O escurecimento enzimtico e qumico, causado pelas operaes deprocessamento como corte, retirada da casca, triturao, armazenamento, etc. pode

    levar diminuio das propriedades antioxidantes dos compostos fenlicos em

    diversos graus. Qualquer tratamento tecnolgico visando inativao enzimtica

    pode inibir o escurecimento e manter a atividade inicial inalterada. No entanto, so

    necessrios mais estudos para que essa correlao seja esclarecida mais a fundo

    (JOHNSON & FENWICK, 2000).

    O risco de contaminao por ocratoxina A pode ocorrer em vrios vinhos, dediversas origens, mesmo em pases desenvolvidos (MICELI e col., 2003).

    Ocratoxina A, presente em suco de uva, polpas de uvas congeladas, e vinhos,

    tm importncia em sade pblica, devido aos danos sade humana. ROSA e col.

    (2004), analisando diversos produtos derivados de uva do comrcio, encontraram

    nveis de ocratoxina A dentro dos limites aceitveis. A ocorrncia da ocratoxina A e

    outros contaminantes importantssima para a sade pblica, pois alm de ser

    txica pode anular os efeitos benficos do vinho.

    Fig. 2: principais compostos fitoqumicos de Vitis viniferaL.

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    2.6 Atividade farmacolgica

    FENG e col. (2002) realizaram um estudo da interao entre o resveratrol e o

    etanol sobre a produo de fatores pr-inflamatrios de macrfagos peritoniais

    murinos ativados por endotoxinas. O resveratrol e o etanol agem sinergicamente

    inibindo a produo de xido ntrico. O resveratrol a doses maiores inibiu a produo

    de interleucina 6, e este efeito foi potencializado pelo etanol. O resveratrol suprime a

    produo de xido ntrico de modo dose-dependente; quando associado o etanol, o

    efeito sinrgico. A mesma dose de resveratrol que inibe de modo significativo a

    produo de xido ntrico, tem fraco efeito sobre a produo de interleucina-6,

    contudo pode aumentar o efeito inibidor do lcool sobre a produo de interleucina-6. Uma explicao para o sinergismo entre os compostos seria o fato que o etanol

    aumenta a incorporao de resveratrol pelas clulas. Outro ponto importante que o

    efeito inibidor do etanol sobre a produo de TNF-alfa no foi aumentado por

    maiores concentraes de etanol; ao contrrio, etanol a maiores doses pode

    promover aumento da produo de TNF-alfa; o etanol tem o mesmo comportamento

    sobre a produo de outra citocina inflamatria, interleucina-12. Os componentes do

    vinho resveratrol e etanol podem agir juntos diminuindo fatores inflamatrios comoxido ntrico e interleucina-6. Entretanto, eles tambm aumentam a produo de

    outros fatores inflamatrios/imunoestimulatrios, como interleucina-1.

    Efeitos de uma dieta rica em fibra de uvas sobre as concentraes de

    antioxidante (glutationa), atividades de enzimas antioxidantes (catalase, glutationa

    redutase, glutationa peroxidase, superxido dismutase) em preparados de fgado, e

    capacidade antioxidante no fgado e plasma por meio de ensaios FRAP e ABTS

    (cido 2,2-azinobis-3-etilbenzotiolina-6-sulfnico) foram investigados em ratosWistar (ALIA e col. 2003). Os potenciais efeitos protetores contra stress oxidativo da

    fibra diettica antioxidante (AODF) de uva foram testados em ratos submetidos ao

    stress oxidativo agudo induzido por paracetamol. Alimentando os ratos com AODF

    por 3 semanas no houve modificao da atividade antioxidante do plasma. Houve

    aumento da atividade da glutationa peroxidase, mas no afetou a atividade das

    outras enzimas, nem das concentraes de glutationa no fgado.

    O uso de produtos dietticos de origem botnica visando a proteo da pele

    dos efeitos biolgicos adversos da radiao UV solar vem recebendo interesse

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    considervel. A suplementao diria de proantocianidinas extradas de

    sementes de uva (GSP) (0.2 e 0.5%, peso/peso) em AIN76 dieta controle a

    camundongos sem plos SKH-1 resultou na preveno da fotocarcinognese, em

    termos de incidncia de tumor (20-95%), multiplicidade de tumor (46-95%), e

    tamanho do tumor (29-94%) contra os estgios de iniciao e promoo da

    fotocarcinognese induzida por raios UVB (MITTAL e col. 2003). O fornecimento de

    GSP (0,5% peso/peso) tambm resultou na preveno da transformao maligna

    dos papilomas induzidos por raios UVB em carcinomas, em termos de incidncia de

    carcinoma (45%), multiplicidade de carcinoma (61%), e tamanho do carcinoma

    (75%), comparado com os camundongos controle (que no receberam GSP), ao

    final do protocolo completo de carcinognese de 30 dias. Anlise bioqumica revelouque o tratamento com GSP in vivoe in vitro inibiu significantemente a peroxidao

    lipdica induzida por UVB ou Fe3+ em 57-66% e 41-77%, respectivamente, portanto

    sugerindo o mecanismo antioxidante de fotoproteo do GSP. Suplementao por

    longo prazo de GSP no mostrou sinais aparentes de toxicidade nos camundongos,

    em termos de peso corporal, consumo de rao, e caractersticas fisiolgicas de

    rgos internos como bao, fgado e rim. A suplementao com GSP tambm no

    mostrou sinais aparentes de toxicidade em termos de massa corprea total (massamagra + gorda), densidade mineral ssea e contedo mineral total sseo. A

    suplementao com GSP diminuiu significantemente os nveis de tecido adiposo (24-

    27%), sem alterar a massa corprea total dos animais, comparando com os animais

    que no receberam GSP. Isto pode ser atribudo a um aumento da liplise, ou

    diminuio da sntese de gordura, devida administrao de GSP.

    O efeito anti-aterosclerose e antioxidante do extrato de semente de uva foi

    estudado por YU e col. (2003). Camundongos foram divididos aleatoriamente em 4grupos: grupo controle, grupo modelo de hiperlipidemia, grupo que recebeu baixa

    dose de extrato de semente de uva, e grupo que recebeu alta dose do extrato.

    Triglicrides sricos, colesterol, superxido dismutase, dialdedo malnico, e

    lipoprotena oxidada de baixa densidade foram mensuradas nas primeiras 21

    semanas, e a forma das vlvulas articas foi monitorada. Comparado com o grupo

    do modelo de hiperlipidemia, os nveis de dialdedo malnico e lipoprotena oxidada

    de baixa densidade no soro dos animais que receberam extrato de semente de uva

    foram mais baixos, enquanto que a atividade da superxido dismutase nos

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    camundongos que receberam o extrato encontrava-se aumentada. A espessura

    das vlvulas articas nos camundongos alimentados com extrato de semente de uva

    era menor, e o nmero de clulas esponjosas menor do que aquele do modelo de

    hiperlipidemia.

    SHI e col. (2003) fizeram uma reviso de literatura, citando que o extrato de

    semente de uva benfico em muitas reas da sade, por causa do seu efeito

    antioxidante, na ligao com o colgeno, promovendo pele jovem, sade celular,

    elasticidade, e flexibilidade. Outros estudos mostraram que proantocianidinas

    ajudam a proteger o corpo do dano pelo sol, aumentar a viso, aumentar

    flexibilidade nas articulaes, artrias, e tecidos como o corao, e melhora a

    circulao sangunea por fortalecimento de capilares, artrias e veias. Os fenlicosmais abundantes isolados da semente de uva so catequinas, epicatequinas,

    procianidinas, e outros dmeros e trmeros.

    Atividades antioxidantes de fraes de casca, polpa e sementes de 28 frutas

    comumente consumidas na China (GUO e col. 2003) foram determinadas por

    ensaio FRAP (poder redutor/antioxidante frrico). Tambm foi considerada a

    contribuio da vitamina C para a atividade antioxidante das polpas de frutas. O

    maior valor FRAP foi mostrado pela polpa do fruto do pilriteiro (hawthorn pulp),seguido de tmara, goiaba, kiwi, amora roxa, morango, rom branca, tangerina. A

    maior parte das fraes de casca e semente de frutas foi mais forte em atividade

    antioxidante baseada nos valores FRAP. A contribuio da vitamina C para a

    atividade antioxidante variou grandemente de uma fruta para a outra.

    GARCIA-ALONSO e col. (2003) analisaram 28 diferentes frutas quanto s

    atividades antioxidantes, por 2 mtodos distintos: TBARS (substncias reativas ao

    cido tiobarbitrico) e ABTS. No houve correlao significativa entre atividadeantioxidante e os contedos de flavanol das amostras. O efeito antioxidante das

    frutas analisadas no pode ser atribudo apenas ao teor de flavanol, mas ao

    resultado da ao de diferentes compostos presentes nas frutas, e a possveis

    efeitos de sinergismo e antagonismo ainda no conhecidos.

    Utilizando mtodos simples e sensveis para medio de atividade varredora

    de radicais livres, suco e vinho obtidos a partir de uvas silvestres (Vitis coignetiaeL.)

    foram avaliados, e tiveram quantificados os nveis de polifenis, por correlao

    (KOHAMA, 2003). Foram empregados trs mtodos: atividade varredora do radical

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    DPPH, oxidao lipdica induzida por AAPH, e capacidade de absorbncia de

    radical oxignio (ORAC). Este ltimo foi adequado para testar pequenas amostras,

    devido a sua alta sensibilidade. Uma mistura de casca e semente de uvas

    demonstrou poder de preveno da glicao de protena in vitro.

    Foram investigados por VIGNA e col. (2003) os efeitos da formulao

    padronizada de extrato polifenlico de uvas sobre a susceptibilidade oxidao de

    lipoprotena de baixa densidade (LDL) em 24 indivduos fumantes freqentes, com

    idade de 50 anos. Os indivduos receberam 2 cpsulas, 2 vezes ao dia, por 4

    semanas, na fase 1. Cada cpsula continha 75 mg de extrato de procianidinas de

    uva, e fosfatidilcolina de soja; cada cpsula placebo continha 75 mg de lactose, e

    fosfatidilcolina de soja. Aps 3 semanas de descanso, seguiram-se 4 semanas dafase 2, em que os tratamentos foram trocados. Foram coletadas amostras de sangue

    no incio e no fim de cada fase, as quais foram submetidas a anlise dos lipdeos

    plasmticos, e da susceptibilidade oxidao. No houve modificaes significativas

    no colesterol total, triglicrides, lipoprotenas de alta densidade (HDL), e de baixa

    densidade (LDL) durante o tratamento. Entre os ndices oxidativos, as concentraes

    de substncia reativa ao cido tiobarbitrico diminuram nos indivduos tratados com

    o extrato polifenlico de uvas.O metabolismo de polifenis da semente de uva (GSP) foi investigado em

    ratos (NAKAMURA, 2003), por meio de anlise cromatogrfica por HPLC, das

    concentraes sricas e urinrias dos principais metablitos dos GSP. A

    concentrao srica de 4 metablitos atingiu o pico mximo aps 3h da

    administrao oral. Da dose administrada de 1,0 g/kg, 0,254% kg/kg foram

    excretados por via urinria, a maior parte nas 25 h aps a administrao. A

    concentrao srica e excreo urinria dos metablitos foi comparada aps aadministrao de diferentes monmeros de GSP (cido glico, catequina e

    epicatequina), GSP normal, e a polmeros de GSP de alto peso molecular (GSPH).

    Metablitos de GSPH no foram detectados no soro dos ratos. A excreo urinria

    dos metablitos de GSP derivados dos respectivos monmeros no mostrou

    variao com a administrao de diferentes substncias (cido glico, catequina ou

    epicatequina). Juntos estes dados sugerem que apenas os monmeros de GSP so

    absorvidos e metabolizados.

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    HUANG e col. (2003) investigaram os efeitos da catequina e de seus

    polmeros isolados de sementes de uva sobre a gerao de radicais livres induzida

    por etanol em camundongos, por meio de microdilise cerebral acoplada a HPLC

    com deteco eletroqumica. Foi demonstrado que a catequina e seus polmeros da

    semente de uva, a doses de 50 e 100 mg/kg, inibem a formao do radical hidroxila

    por estmulo da liberao de cido ascrbico endgeno no striatum, que pode

    consistir em um dos importantes mecanismos pelos quais a catequina tem efeitos

    neuroprotetores contra dano oxidativo no crebro. A catequina isolada mais efetiva

    que seus polmeros, e os polmeros de baixo peso molecular so mais efetivos que

    aqueles de alto peso molecular.

    O trans-resveratrol possui maior atividade antioxidante in vivo do que oismero cis. O crebro particularmente susceptvel ao dano por radicas livres,

    devido alta taxa de consumo de oxignio e baixos nveis de enzimas de defesa

    antioxidantes. O principal mecanismo de neuroproteo do resveratrol seria a sua

    capacidade varredora de radicais livres. ZHUANG e col. (2003) testaram se a

    enzima neuroprotetora heme oxigenase poderia ser estimulada aps tratamento com

    resveratrol. Utilizando culturas de neurnios, o resveratrol foi capaz de induzir a

    heme oxigenase 1, enquanto a soluo controle no mostrou nenhum efeito. No foiquantificada toxicidade detectvel. bem conhecido que os nveis de heme

    intracelular aumentam aps ataque ou choque, num mecanismo de defesa celular.

    A fonte de heme livre vem principalmente de muitas enzimas contendo heme. Heme

    (ferro-protoporfirina IX) um pr-oxidante e sua rpida degradao pela heme

    oxigenase considerada um mecanismo protetor. Alm disso, seus metablitos

    gerados podem tambm conter suas propriedades celulares intrnsecas. O aumento

    dos nveis de heme oxigenase um mecanismo potencial pelo qual o resveratrolpode exercer seu efeito protetor.

    LOSA (2003) investigou o efeito do resveratrol isolado, e do resveratrol

    incubado com a 2-deoxi-D-ribose (dR), oxidante, sobre a apoptose e status oxidativo

    metablico de clulas normais mononucleares perifricas humanas (PBMNCs),

    isoladas ex vivo de doadores saudveis. Nenhum parmetro tanto de apoptose

    como de oxidao foi afetado, numa cultura de PBMNCs em meio contendo

    resveratrol (at 20 mM por 5 dias). Foi observada uma leve toxicidade em

    concentraes maiores (de resveratrol 50 mM), mas ainda assim sem a ocorrncia

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    de apoptose. Em outra cultura de PBMNCs em meio contendo dR (um acar

    oxidante txico para linfcitos humanos), o efeito apoptognico foi contrabalanado

    pela presena do resveratrol de modo dose-dependente, na faixa de concentrao

    que vai de 5 mM a 50 mM (fora desta faixa a resposta no foi linear). As clulas

    incubadas com resveratrol adquirem capacidade antioxidante, sugerindo que

    suplementos nutricionais podem ser desenvolvidos para minimizar o dano oxidativo

    em estados de imunodeficincia e doenas degenerativas crnicas.

    Baseado na sua eficcia e segurana como preventivo da carcinognese em

    modelos animais, o resveratrol foi estudado como preventivo do cncer de prstata

    (STEWART e col., 2003). Considerando a importncia do resveratrol devido sua

    abundncia na natureza, razovel esperar que haja outros estilbenos igualmenteimportantes para a sade, aguardando identificao. O resveratrol pode representar

    o topo do iceberg de uma srie de compostos polifenlicos relacionados. Os

    autores propem a hiptese do resveratrol ser um adequado agente preventivo do

    cncer de prstata, devido sua capacidade de 1) inibir cada um dos estgios da

    carcinognese; 2) eliminar clulas prostticas cancerosas andrgeno-dependentes

    incipientes por antagonismo a receptor andrognico, e 3) eliminar clulas prostticas

    cancerosas no andrgeno-dependentes por ligar-se aos receptores de fator decrescimento.

    KWEON e col. (2003) investigaram os efeitos, em ratos, de uma dieta

    contendo extrato de uvas sobre a formao de focos preneoplsicos no fgado,

    induzidos por dietilnitrosamina (DEN), bem como de enzimas hepticas

    relacionadas. Os ratos foram divididos em 2 grupos, um dos quais recebeu uma

    dieta contendo 15% de extrato de uva concentrado. Os ratos alimentados com o

    extrato, por sua vez, foram divididos em outros 2 grupos, um recebendo extratodurante todo o experimento, e outro recebendo o extrato somente aps a induo

    dos focos de cncer. Houve decrscimo significativo da atividade da cido graxo

    sintetase (que se encontra aumentada nos tecidos neoplsicos), sugerindo um dos

    mecanismos de preveno do cncer heptico.

    A fabricao do vinho gera subprodutos (semente, casca, galhos) que

    geralmente so descartados ou empregados como adubo. Este resduo contm

    compostos fenlicos, com elevada ao antioxidante. Extratos aquosos a 5% de

    resduos da vinificao de Vitis labruscaL. e Vitis viniferaL. na Serra Gacha foram

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    avaliados quanto atividade antioxidante, pela capacidade de varredura do

    radical DPPH* (1,1-difenil-2-picrilhidrazil). Os extratos das sete variedades de uvas

    empregadas possuem ao antioxidante superior de soluo aquosa de vitamina

    C 0,01%. A presena de compostos tnicos e flavonicos nesses extratos foi

    confirmada pelo screening fitoqumico (BERGAMINI & SALVADOR, 2004).

    BARTOLOME e col. (2004) demonstraram a atividade antioxidante das

    cascas de uva roxa, que contribuem em grande parte composio fenlica do

    vinho vermelho. A atividade varredora de radicais livres (valores C50) contra 2,2-

    difenil-1-picrilhidrazil (DPPH*) das cascas de uva roxa foi relativamente alta (3.2 a

    11.1 mg de casca/mg DPPH*) em relao a outros alimentos, e conforme esperado,

    foi influenciado pela variedade de uva, estado de maturao da uva e safra. Opotencial antioxidante das cascas de uva transferido para o vinho produzido a

    partir das mesmas. Correlaes estatisticamente significantes entre atividade

    antioxidante e contedo fenlico (polifenis totais, catequinas, e antocianinas) foram

    encontradas tanto para cascas e vinhos.

    Sementes e cascas de uva so boas fontes de flavonides antioxidantes tais

    como catequina, epicatequina e cido glico, e so matrias primas convenientes

    para a produo de suplementos nutricionais. YILMAZ & TOLEDO (2004)comparando cascas e sementes de diferentes cultivares de uva, obtiveram

    concentraes de cido glico, catequina monomrica, e epicatequina de 99, 12 e

    96 mg/100 g de matria seca em sementes de uvas Muscadine, 15, 358, e 421

    mg/100 g em sementes Chardonnay, e 10, 127, e 115 mg/100 g em sementes de

    uva Merlot, respectivamente. As concentraes destes 3 compostos foram menores

    em derivados da casca do que das sementes. Estes 3 principais constituintes

    fenlicos das sementes de uva contriburam juntos para 26% da capacidadeantioxidante de derivados da uva. A atividade varredora de radicais perxido, em

    ordem decrescente, foi: resveratrol > catequina > epicatequina = galocatequina >

    cido glico = cido elgico. Portanto, procianidinas dimricas, trimricas

    oligomricas ou polimricas explicam muito da capacidade antioxidante superior das

    sementes de uva.

    SELGA e col. (2004) conduziram estudos relacionando variedades de uva,

    contedo em polifenis, poder antioxidante, e composio em procianidinas, por um

    mtodo eficiente de extrao e despolimerizao e purificao, levando obteno

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    de um composto tio-conjugado de uvas, o 4b-(2-aminoetiltio) epicatequina

    acetato, entre outros.

    Ateno particular vem sendo dada explorao das proantocianidinas,

    derivadas do processamento da uva, na obteno de compostos fenlicos bioativos

    com aplicao potencial como antioxidantes em alimentos, e como agentes

    preventivos contra cncer e outras doenas. Vrios subprodutos da vinificao

    estudados por GONZALEZ-PARAMAS e col. (2004) mostraram-se boas fontes de

    flavanis, no importando o grau de processamento. Importante concluso foi o fato

    de que as sementes de uva desidratadas, aps a destilao alcolica do bagao,

    ainda mantm altos nveis de flavanol, e atividade antioxidante significativa, mesmo

    aps estas serem submetidas a altas temperaturas. Tais subprodutos podem serconsiderados fontes baratas para a extrao de flavanis antioxidantes, que podem

    ser usados como suplementos dietticos ou na produo de fitoterpicos.

    Compostos polifenlicos incluindo cido elgico, seus derivados, e

    antocianinas foram caracterizados e quantificados por mtodo ultra-moderno de

    cromatografia (LEE, 2004), em 8 cultivares de uvas Muscadine (Vitis rotundifoliaL.),

    e avaliados quanto capacidade antioxidante, esta influenciada pelo estgio de

    maturao e parte da fruta empregada (casca, polpa, suco). Todos os polifenlicosgeralmente aumentaram com a maturao, e a maior concentrao foi observada

    nas cascas. As concentraes de cido elgico livre, glucosdeos do cido elgico, e

    cido elgico total, aumentaram de 8 para 162, de 7 para 115, e de 587 para 1900

    mg/kg, respectivamente, na casca das uvas maduras. Sucos obtidos a quente

    continham concentraes consideravelmente mais baixas do que nas uvas inteiras.

    A capacidade antioxidante foi apreciavelmente influenciada pelo cultivar, maturao,

    e localizao no fruto, com boas correlaes com os fenlicos solveis, encontradostanto nos extratos em metanol como em acetato de etila.

    Num estudo para avaliao de processo extrator de compostos fenlicos de

    subprodutos do vinho (LOULI e col., 2004) obteve-se um extrato com poder

    antioxidante comparvel ao BHT (butilhidroxitolueno, antioxidante sinttico usado

    comumente na indstria) e ao extrato de alecrim (Rosmarinus officinalisL.).

    O resveratrol demonstrou ter propriedades imunossupressoras, atravs do

    mecanismo de regulao da diferenciao e maturao das clulas dendrticas

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    derivadas da medula ssea (KIM e col., 2004). Este mecanismo poderia ser

    usado na teraputica para o controle de doenas auto-imunes e/ou inflamatrias

    crnicas.

    Resveratrol tem se mostrado um fitoestrgeno no flavonide, atuando como

    um superagonista de receptor estrognico (RE). Vrios outros hidroxiestilbenos,

    como o dietilestilbestrol (DES), mostraram agonismo para RE, mas o superagonismo

    foi observado especificamente no resveratrol (GEHM e col., 2004). Para examinar o

    papel da funo de ativao de transcrio pelo resveratrol em REs, foi comparado o

    efeito do resveratrol e estradiol (E2) sobre a expresso de genes exgenos e

    endgenos, havendo comprovao da atividade estrognica.

    A cisplatina um composto metlico usado no tratamento de tumoresmalignos de pele, que apresenta graves efeitos txicos hematolgicos. Um

    composto de selnio e cisplatina conjugados tem um efeito txico menos

    pronunciado. OLAS e col. (2004) examinaram como o resveratrol age sobre os

    nveis in vitro de glutationa (GSH) e outros compostos contendo grupamentos tilicos

    de plaquetas sanguneas, e como seu efeito antioxidante protege as plaquetas

    contra o stress oxidativo causado por compostos de platina. Os resultados indicam

    que os compostos de platina causaram diminuio tanto da glutationa reduzida(GSH) como grupamentos tilicos livres de cistena (CSH) e cisteinilglicina (CGSH).

    A aplicao de resveratrol sobre as plaquetas foi capaz de reduzir

    consideravelmente o efeito txico dos compostos de platina sobre as plaquetas.

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    3 CONCLUSO

    Revises anteriores de literatura citam o benefcio da uva e do vinho paramuitas reas da sade, por causa do seu efeito antioxidante e antiinflamatrio,

    devido em grande parte aos seus componentes fenlicos (tais como catequinas,

    epicatequinas, procianidinas, e outros dmeros e trmeros), e a estilbenos como o

    resveratrol.

    Cascas e sementes de frutas como pilriteiro (cratego), casca de rom,

    semente de uva, semente de lichia e outras possuem poder antioxidante

    relativamente alto, e podem ser fontes ricas de antioxidantes naturais. O efeito

    antioxidante das frutas analisadas no pode ser atribudo apenas ao teor de

    compostos fenlicos, mas ao resultado da ao de diferentes compostos presentes

    nas frutas, e a possveis efeitos de sinergismo e antagonismo ainda no conhecidos.

    Uma mistura de casca e semente de uvas demonstrou poder de preveno da

    glicao de protena in vitro.

    O extrato de semente de uva teve efeito inibitrio contra aterosclerose em

    camundongos, e o mecanismo possvel pode estar relacionado com o decrscimo

    nos nveis de triglicrides sricos, colesterol, e lipoprotena oxidada de baixa

    densidade (LDL) e com a anti-peroxidao. Os extratos de diferentes variedades de

    uvas empregadas possuem ao antioxidante superior vitamina C, devido

    presena de compostos tnicos e flavonicos nesses extratos.

    O potencial antioxidante das cascas de uva transferido para o vinho

    produzido a partir das mesmas. Correlaes estatisticamente significantes entre

    atividade antioxidante e contedo fenlico (polifenis totais, catequinas, e

    antocianinas) foram encontradas tanto para cascas e vinhos. Todos os polifenlicos

    geralmente aumentaram com o grau de maturao, e a maior concentrao foi

    observada nas cascas.

    Procianidinas dimricas, trimricas oligomricas ou polimricas explicam

    muito da capacidade antioxidante superior das sementes de uva. Os 3 principais

    constituintes fenlicos das sementes de uva (catequina, epicatequina e cido glico)

    contriburam juntos para 26% da capacidade antioxidante de derivados da uva.

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    Subprodutos da vinificao mostraram-se boas fontes de flavanis, no

    importando o grau de processamento. Sementes de uva desidratadas, aps a

    destilao alcolica do bagao, ainda mantm altos nveis de flavanol, e atividade

    antioxidante significativa, mesmo aps submetidas a altas temperaturas. Tais

    subprodutos podem ser considerados fontes baratas para a extrao de flavanis

    antioxidantes, que podem ser usados como suplementos dietticos ou na produo

    de fitoterpicos. Os resduos da vinificao fornecem um extrato com poder

    antioxidante comparvel ao BHT e ao extrato de alecrim (Rosmarinus officinalisL.).

    O extrato de semente de uva atua diminui os ndices oxidativos em indivduos

    fumantes.

    No mecanismo de inibio de dano oxidativo cerebral, as catequinas isoladasso mais efetivas que seus polmeros, e os polmeros de baixo peso molecular so

    mais efetivos que aqueles de alto peso molecular. Em estudos farmacolgicos, a

    excreo urinria dos metablitos de GSP derivados dos respectivos monmeros

    no mostrou variao com a administrao de diferentes substncias (cido glico,

    catequina ou epicatequina), sugerindo que apenas os monmeros de GSP so

    absorvidos e metabolizados.

    O decrscimo significativo da atividade da cido graxo sintetase, em animaisportadores de focos neoplsicos, alimentados com extrato de semente de uva,

    sugerem um mecanismo de preveno do cncer heptico.

    No foi visto efeito protetor dos polifenis de uva sobre o metabolismo

    heptico, uma vez que no houve mudana da resposta do sistema antioxidante

    heptico ao stress oxidativo induzido por acetaminofem.

    A inibio da peroxidao lipdica sugere um mecanismo antioxidante de

    fotoproteo para o extrato de semente de uva (GSP). Tambm, pode-se supor quea inibio da fotocarcinognese pelo tratamento com GSP pode estar associado

    reduo no dano oxidativo induzido por UVB e no contedo de tecido adiposo.

    O resveratrol interfere na sntese e liberao de mediadores da inflamao,

    tais como xido ntrico e interleucinas, e esta interferncia pode ocorrer de forma

    sinrgica com etanol. Tais estudos fornecem dados para se avaliar mais

    racionalmente os efeitos do consumo de vinho, e sua influncia sobre a sade

    humana.

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    Alm do efeito antioxidante intrnseco do resveratrol, tambm o aumento

    dos nveis de heme oxigenase um mecanismo potencial pelo qual o resveratrol

    pode exercer seu efeito protetor.

    As demonstraes da capacidade antioxidante do resveratrol sugerem que

    suplementos nutricionais podem ser desenvolvidos para minimizar o dano oxidativo

    em estados de imunodeficincia e doenas degenerativas crnicas.

    O resveratrol est sendo estudado como um provvel agente preventivo do

    cncer de prstata, devido sua capacidade de inibir estgios isolados da

    carcinognese e de eliminar clulas prostticas cancerosas (andrgeno-

    dependentes ou no).

    O resveratrol demonstrou ter propriedades imunossupressoras, atravs domecanismo de regulao da diferenciao e maturao das clulas dendrticas

    derivadas da medula ssea, podendo ser usado na teraputica de doenas auto-

    imunes e/ou inflamatrias crnicas. Resveratrol tem se mostrado um fitoestrgeno

    no flavonide, atuando como um superagonista de receptor estrognico (RE). A

    aplicao de resveratrol foi capaz de reduzir consideravelmente o efeito txico de

    compostos de platina sobre clulas sanguneas.

    A pesquisa farmacolgica realizada em diversos pases vem explicando emmaiores detalhes as aes teraputicas e preventivas da uva e do vinho, j citadas

    no passado pela tradio popular, e comprovando o emprego desta fruta e seus

    derivados como importante auxiliares na manuteno da sade.

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