Marketing de Relacionamento

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E COMUNICAÇÃO Karina Carey Fröhlich MARKETING DE RELACIONAMENTO: Estudo sobre as estratégias de fidelização do Clube do Assinante de Zero Hora Porto Alegre 2010

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Marketing de Relacionamento

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

    FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E COMUNICAO

    Karina Carey Frhlich

    MARKETING DE RELACIONAMENTO:

    Estudo sobre as estratgias de fidelizao do Clube do Assinante de Zero Hora

    Porto Alegre

    2010

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

    FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E COMUNICAO

    Karina Carey Frhlich

    MARKETING DE RELACIONAMENTO:

    Estudo sobre as estratgias de fidelizao do Clube do Assinante de Zero Hora

    Trabalho de Concluso de Curso, apresentado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para a obteno do ttulo de bacharel em Comunicao Social Relaes Pblicas. Orientadora: Prof. Dra. Helenice Carvalho

    Porto Alegre

    2010

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    Karina Carey Frhlich

    MARKETING DE RELACIONAMENTO:

    Estudo sobre as estratgias de fidelizao do Clube do Assinante de Zero Hora

    Trabalho de Concluso de Curso, apresentado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para a obteno do ttulo de bacharel em Comunicao Social Relaes Pblicas.

    Aprovado em _____ de _____________________ de _______

    Banca Examinadora:

    ___________________________________

    Prof. Dra. Helenice Carvalho

    Orientadora

    ___________________________________

    Prof. Me. Denise Avancini Alves

    Avaliador

    ___________________________________

    Prof. Me. Mnica Pieniz

    Avaliador

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    A Deus,

    Pelo dom da vida;

    A meus queridos pais,

    Pelo exemplo de famlia, pelo amor e dedicao;

    A meus irmos,

    Pelo carinho, apoio e companhia.

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    Dedico este trabalho, primeiramente, a meus pais, Carlos e Lcia, pelo amor, apoio e

    confiana; por me ensinarem os verdadeiros valores da vida e serem exemplos de pais.

    Agradeo a eles por todo o esforo e sacrifcio dispensados para oferecer a mim e a meus

    irmos uma educao de qualidade. Cheguei onde estou hoje graas a eles.

    Agradeo a toda a minha famlia - irmos, tios e primos - pelo carinho, unio e pelos

    momentos de confraternizao; mas em especial a meus avs e tambm padrinhos, Hary e

    Vilma, pelo amor, preocupao e dedicao desde quando eu era criana. Agradeo aos meus

    verdadeiros amigos, pelas muitas risadas, pelo companheirismo e pacincia neste momento

    em que estive um pouco mais ausente.

    Agradeo a minha amiga, cumadre e quase irm, Priscila Grevinel, por estar ao meu

    lado em todos os momentos, me aconselhando e acreditando nos meus sonhos. Ao meu

    pequeno afilhado, Joo Gabriel, por deixar a minha vida ainda mais alegre e feliz. Meu

    agradecimento, tambm, a minha amiga de infncia Vanessa Mantovani, pela amizade sincera

    e pela importante ajuda na concluso deste trabalho.

    Agradeo minha querida orientadora Helenice Carvalho, por estar sempre

    disponvel, pela pacincia e dedicao; e Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pela

    oportunidade de concluir o curso de graduao em Relaes Pblicas.

    Agradeo ainda, de forma muito especial, ao Clube do Assinante de Zero Hora,

    principalmente nas pessoas de Ari Lopes, por ter recebido a idia deste projeto de braos

    abertos e me auxiliado na busca pelo histrico do Clube; de Lisandra Rigo, por gentilmente

    ter se disposto a conversar sobre o tema deste trabalho, concedendo entrevista e

    disponibilizando materiais fundamentais para a realizao deste estudo de caso; e de Daniela

    Palma e Janice Oliveira, pela gentileza de terem respondido s entrevistas sobre suas

    respectivas reas de coordenao.

  • 5

    O sucesso est na nossa capacidade de

    aprender com o passado,

    adotar novas idias e aes no presente e

    desafiar o futuro.

    Ronald S. Swift

  • 6

    RESUMO

    O presente trabalho de concluso aborda o tema Marketing de Relacionamento como uma estratgia para a fidelizao de clientes, cujo objetivo desenvolver um conjunto de valores que levaro satisfao e longevidade do relacionamento entre a organizao e seus clientes. Para isso, tomou-se como objeto de estudo o Clube do Assinante de Zero Hora, no qual o objetivo geral foi analisar as suas estratgias de marketing, avaliando as aes de relacionamento no processo de fidelizao dos assinantes do jornal Zero Hora. Os objetivos especficos do trabalho foram investigar o histrico do Clube do Assinante de Zero Hora, analisar a imagem da instituio, atravs da percepo de seus clientes, avaliar as suas estratgias de marketing de relacionamento e verificar a importncia dessas aes na fidelizao dos clientes. A metodologia empregada para tanto foi o estudo de caso das estratgias de fidelizao do Clube. A principal concluso a que se chegou foi de que as estratgias de marketing de relacionamento utilizadas pelo Clube do Assinante contribuem para a fidelizao dos seus clientes, os assinantes do jornal Zero Hora. Porm, precisam ser ampliadas e mais bem planejadas para tornarem-se mais eficientes.

    Palavras-chave: marketing, relacionamento, Clube do Assinante de Zero Hora, fidelizao, clientes.

  • 7

    LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1 - Representatividade de assinaturas com carto 50

    Figura 2 - Tempo de Relacionamento 50

    Figura 3 - Tempo at adquirir o carto do Clube 51

    Figura 4 - Tempo de Relacionamento x Tempo de Clube 51

    Figura 5 Localizao Scios Clube 51

    Figura 6 - Sexo e Faixa Etria 51

    Figura 7 - Taxas de Reteno 52

    Figura 8 - Organograma da primeira dcada 55

    Tabela 1 - Amostra utilizada na pesquisa sobre benefcios 56

    Tabela 2 - Balano Social da primeira dcada: Empresas Associadas 58

    Figura 9 - Organograma atual 60

    Tabela 3 - Balano Social da segunda dcada: Eventos Culturais 62

    Tabela 4 - ISA do Clube do Assinante ZH em 2006 66

    Tabela 5 - ISA do Clube do Assinante ZH em 2007 66

    Tabela 6 - ISA do Clube do Assinante ZH em 2008 67

    Tabela 7 - Recebimento e utilizao do carto - ISA 2008 67

    Tabela 8 - Frequncia de utilizao do carto - ISA 2009 68

    Tabela 9 - Satisfao geral com o Clube do Assinante - ISA 2009 68

    Figura 10 - Evoluo da satisfao com o Clube do Assinante - ISA 2009 69

  • 8

    SUMRIO

    1 INTRODUO 10

    2 CONHECENDO O MARKETING DE RELACIONAMENTO 13

    2.1 Conceitos de Marketing 13

    2.2 O Marketing de Relacionamento em sua Essncia 18

    2.3 Fidelizao de Clientes 23

    3 ESTRATGIAS DE MARKETING DE RELACIONAMENTO 27

    3.1 A Tecnologia da Informao e as Ferramentas de Marketing de

    Relacionamento

    27

    3.2 Marketing de Relacionamento na Era Digital 33

    4 CLUBE DO ASSINANTE ZERO HORA 40

    4.1 Procedimento Metodolgico 40

    4.2 Coleta de Dados 42

    4.2.1 Grupo RBS 42

    4.2.2 Jormal Zero Hora 45

    4.2.3 O Clube do Assinante de Zero Hora 47

    4.2.3.1 Primeira Dcada 52

    4.2.3.2 Segunda Dcada 58

    4.2.3.3 Clubinho ZH 62

    4.2.3.4 Entrada nas Redes Sociais 63

    4.2.3.5 ndice de Satisfao de Assinantes (ISA) 65

    4.3 Anlise dos Dados 69

    5 CONSIDERAES FINAIS 75

    REFERNCIAS 80

    ANEXO A 84

    ANEXO B 85

    ANEXO C 86

    ANEXO D 87

    ANEXO E 88

    ANEXO F 89

    ANEXO G 90

  • 9

    ANEXO H 91

    ANEXO I 92

    ANEXO J 93

    ANEXO K 94

    ANEXO L 95

    ANEXO M 96

    ANEXO N 97

    ANEXO O 98

    ANEXO P 99

    ANEXO Q 100

    ANEXO R 101

    ANEXO S 102

    ANEXO T 103

    ANEXO U 104

    ANEXO V 105

    ANEXO X 106

  • 10

    1 INTRODUO

    O mercado est mudando cada vez mais rpido e, para garantir sua permanncia nele,

    as empresas confrontam-se com as novas exigncias, disputando com a concorrncia a

    conquista e reteno de clientes. Juntamente com essas transformaes, em funo do

    desenvolvimento da economia e evoluo da tecnologia, o comportamento dos consumidores

    tambm est mudando. O consumidor ganhou uma nova posio no mercado; ele quem dita

    as regras de consumo, j que detm cada vez mais informao e seduzido por inmeras

    marcas a todo momento.

    Hoje, no basta oferecer somente um produto ou servio de qualidade a um preo

    acessvel, as organizaes precisam focar sua ateno e centrar seus esforos no

    relacionamento com os clientes. Compreender e satisfazer s suas necessidades - conceitos do

    marketing tradicional - so premissas bsicas do mercado. As empresas necessitam se

    diferenciar por meio de estratgias que busquem a fidelizao dos clientes.

    Nesta busca que surge o marketing de relacionamento, considerado uma vertente

    importante do marketing, que visa atrair, realar e intensificar o relacionamento com a rede de

    clientes, por meio de uma viso de longo prazo na qual h benefcios mtuos. Suas aes tm

    o objetivo de desenvolver um conjunto de valores que levaro satisfao e longevidade do

    relacionamento entre a organizao e seus clientes.

    A utilizao de estratgias de marketing de relacionamento vem crescendo ao longo

    dos anos e sendo implementadas com o auxlio da tecnologia da informao. H diversas

    ferramentas, como Customer Relationship Management (CRM) e Database Marketing

    (DBM), para gerenciar a comunicao e o relacionamento da empresa com os clientes. A

    Internet, tambm vem auxiliando neste processo, permitindo a aproximao, a colaborao e a

    interao em tempo real.

    O presente trabalho de concluso de curso possui como tema principal o marketing de

    relacionamento e utiliza como objeto de pesquisa e estudo o Clube do Assinante de Zero Hora

    (ZH), um programa de fidelizao, com foco na cultura e entretenimento, formado por

    assinantes do jornal Zero Hora. Alm de se relacionar com scios e empresas parceiras, o

    Clube do Assinante ZH apresenta-se como um objeto interessante de estudo por ser um clube

    de vantagens presente h 22 anos no mercado.

  • 11

    A escolha do tema para este trabalho fundamenta-se, principalmente, no interesse

    pessoal e profissional da autora pelas questes de relacionamento entre fornecedor e

    consumidor. Alm disso, a autora comeou a atuar recentemente como assistente de

    marketing e eventos na empresa em anlise.

    O marketing de relacionamento possui grande importncia para o campo da

    Comunicao, ganhando maior relevncia neste trabalho em funo da rea de graduao da

    pesquisadora, uma vez que as Relaes Pblicas tem, dentre suas principais funes, o

    desenvolvimento de estratgias de relacionamento entre pblicos e organizaes, a fim de

    construir uma imagem institucional positiva.

    A questo de pesquisa que norteou este trabalho monogrfico foi descobrir a eficincia

    das aes de relacionamento do Clube do Assinante ZH na fidelizao dos seus clientes. Para

    esse estudo, foram definidos objetivos, geral e especficos. O objetivo geral era analisar as

    estratgias de marketing do Clube do Assinante ZH, avaliando as aes de relacionamento no

    processo de fidelizao dos assinantes do jornal Zero Hora. A partir da, foram construdos os

    seguintes objetivos especficos: 1) investigar o histrico do Clube do Assinante de Zero Hora,

    estudando o posicionamento mercadolgico da instituio e seu processo de comunicao; 2)

    analisar a imagem da instituio, atravs da percepo de seus clientes; 3) avaliar as

    estratgias de marketing de relacionamento praticadas pelo Clube do Assinante ZH, a fim de

    conquistar e manter seu cliente ativo; 4) verificar a importncia das aes de marketing de

    relacionamento na fidelizao dos clientes.

    A metodologia utilizada no presente trabalho foi a pesquisa bibliogrfica, que explica

    um problema a partir de referenciais tericos publicados em documentos1, principalmente

    livros e artigos cientficos, e o estudo de caso, no qual so reunidas informaes numerosas e

    detalhadas de uma entidade ou fenmeno, utilizando uma variedade de procedimentos de

    coleta de dados2.

    Os captulos esto divididos de acordo com a metodologia, apresentando

    primeiramente a teoria e em seguida a parte prtica. Dessa forma, o segundo captulo faz a

    introduo dos conceitos bsicos de marketing, por meio das definies de alguns autores,

    principalmente de Kotler (1995; 1999; 2010) e McKenna (1992; 1999). O tpico aborda a

    evoluo mercadolgica e a consequente modificao no comportamento do consumidor, at

    chegar adoo do marketing personalizado. Aps a contextualizao de marketing de

    1 Fonte: Cervo e Bervian (1983). 2 Fonte: Creswell (1994) apud Gil (2009).

  • 12

    relacionamento, cujos tericos centrais so Madruga (2006) e Grnroos (2009), inicia o

    subcaptulo referente a fidelizao de clientes, um dos principais benefcios advindos do

    emprego e aplicao adequados de aes de relacionamento.

    O terceiro captulo apresenta as estratgias de marketing de relacionamento atravs da

    utilizao de algumas tcnicas e programas com a influncia da tecnologia da informao.

    Neste contexto, aparecem as definies e atribuies de CRM, DBM e Call-Center,

    especialmente explicadas por Swift (2001), Bretzke (2000) e Madruga (2006). Prosseguindo,

    o captulo trata a construo de relacionamentos na era digital, ou seja, de que maneira as

    estratgias de marketing podem ser praticadas na Internet para desenvolver relacionamentos

    de longo prazo. Nesta segunda parte, os referenciais tericos foram Karsaklian (2001), Lemos

    (2002) e Recuero (2009), por abordarem a influencia da web nas relaes sociais, estudando,

    respectivamente, o cibermarketing, a cibercultura e as redes sociais.

    O captulo quarto aborda o estudo de caso sobre o Clube do Assinante ZH,

    inicialmente contextualizando o Grupo RBS e o jornal Zero Hora e em seguida apresentando

    as informaes a respeito do objeto: conceito, histrico, objetivos, funcionamento,

    relacionamento e comunicao. A partir da coleta de dados e com base na bibliografia de

    marketing de relacionamento constante nos captulos anteriores, analisam-se as estratgias de

    fidelizao do Clube do Assinante de Zero Hora.

    Por ltimo, realiza-se um resgate da teoria com a anlise do objeto de estudo. As

    consideraes finais, portanto, apresentam as caractersticas potenciais do Clube do Assinante

    ZH e seus aspectos positivos e negativos no relacionamento com os clientes, assim como

    sugestes de mudana e melhoria nas estratgias de fidelizao.

  • 13

    2 CONHECENDO O MARKETING DE RELACIONAMENTO

    O presente captulo tem como inteno introduzir, primeiramente, conceitos bsicos de

    marketing e a evoluo dos estudos sobre a rea, para, posteriormente, conhecer um dos seus

    principais instrumentos e subdivises, o marketing de relacionamento. Pretende-se conceitu-

    lo, identificar as principais caractersticas desta ferramenta e estudar algumas tcnicas de

    fidelizao de clientes.

    2.1 Conceitos de Marketing

    Os conceitos, estratgias e ferramentas de marketing so amplamente utilizados pelas

    empresas de todos os nveis. Segundo Kotler e Armstrong (1995), todas as companhias que

    desejam obter sucesso em seus negcios apresentam um ponto em comum: so fortemente

    centradas no cliente e comprometidas com o marketing. Elas so voltadas a compreender e

    satisfazer as necessidades dos clientes em mercados-alvo bem definidos.

    A conceituao de marketing utilizada e discutida por muitos estudiosos e

    pesquisadores da rea. Um dos principais tericos do assunto, Philip Kotler, definiu

    marketing como a arte de conquistar e manter clientes e desenvolver relacionamentos

    lucrativos com eles. [...] a tarefa de avaliar necessidades, medir sua extenso e intensidade

    e determinar se existe oportunidade para lucros (KOTLER, 1999, p. 155; p. 33). Para o autor,

    o marketing continua por toda a vida do produto ou servio, no se resumindo apenas ao

    momento da venda. O seu objetivo atrair novos clientes, melhorar o poder de atrao e o

    desempenho do produto, avaliar os resultados das vendas, gerenciando-as, e manter a atual

    clientela satisfeita.

    Carvalho (1999) por sua vez conceituou marketing como a arte de criar e distribuir um

    produto ou servio de forma econmica e rentvel, de maneira a atender plenamente as

    necessidades e aos desejos de um consumidor. O autor afirma que marketing significa

    satisfazer pessoas de forma tica e verdadeira, fidelizar o cliente e transformar o produto em

    um bem acessvel a todos que o desejam. As empresas precisam ter um sistema de trabalho

    que propiciem todos a fazerem marketing: vendas organizadas sistematicamente, banco de

  • 14

    dados e tecnologia para oper-los com eficincia no atendimento ao cliente, visando sempre

    busca de seus clientes potenciais.

    De acordo com Kotler (1995), o marketing eficaz comea com a pesquisa em um

    mercado, na qual so definidos vrios segmentos de compradores com diferentes

    necessidades. Nos segmentos em que a empresa pode atender com eficincia, ela determina

    seu pblico-alvo e posiciona seus produtos e servios a fim de diferenci-los dos seus

    concorrentes. A partir da a empresa desenvolve, em nvel ttico, o mix de marketing e, aps

    implement-lo, utiliza medidas de controle para monitorar e avaliar resultados. O mix de

    marketing, conforme o autor, consiste em todas as aes da empresa com a inteno de

    influenciar a demanda do seu produto (KOTLER, 1995, p. 31). Essas aes podem ser

    reunidas em quatro grupos, conhecidos como os quatro Ps: produto, preo, praa e

    promoo.

    O marketing uma das mais poderosas ferramentas empregadas pelas organizaes

    em sua luta eterna pelo crescimento e sobrevivncia (DALRYMPLE; PARSONS, 2003, p.

    1). Os autores salientam que o conceito de marketing uma filosofia de negcio, no qual

    sustenta que a chave para se alcanarem as metas organizacionais determinar as

    necessidades dos mercados-alvo e entregar a mercadoria desejada de modo mais eficiente do

    que a concorrncia.

    O fato de os consumidores procurarem solues para seus problemas , para Honorato

    (2004), a razo de o marketing buscar atender suas necessidades e desejos por meio de aes

    mercadolgicas reunidas no composto de marketing (ou mix de marketing): O grande desafio do marketing atingir o consumidor e para isso, ele precisa ser integrado de forma que as variveis que os compem interajam sincronicamente, como uma engrenagem, identificando e definindo grupos de pessoas, ou seja, o produto ou os servios oferecidos precisam atender plenamente aos desejos e necessidades dos consumidores e estar dispostos no ponto, disposio destes, por meio de um bem elaborado do canal de distribuio. Paralelamente, necessrio o desenvolvimento de estratgias de estmulo ao consumo, o que se d pela promoo, ou composto promocional, e pelo preo, que nos dias de hoje tem sido com mais intensidade, uma ferramenta estratgica decisiva na venda (HONORATO, 2004, p. 7).

    Observa-se que os ltimos autores citados possuem uma percepo semelhante a

    respeito do tema. Eles abordam a estratgia de marketing e utilizam os 4Ps na identificao

    das necessidades dos consumidores e no posicionamento do produto ou servio no mercado.

    Percebe-s, tambm, que a maioria dos conceitos encontrados na literatura da rea no foge ao

    conceito de Philip Kotler, e grande parte dos tericos baseia-se em seus livros e artigos como

    ponto de partida para escrever sobre o assunto.

  • 15

    A crena de que metas organizacionais podem ser alcanadas satisfazendo-se aos

    desejos e necessidades dos clientes tornou-se o conceito geral de marketing. No entanto, a

    tecnologia evoluiu e est transformando as escolhas dos consumidores e as escolhas esto

    transformando o mercado; como conseqncia, est surgindo um novo paradigma de

    marketing. Conforme McKenna, passamos de uma era de artigos produzidos em srie para uma era de produtos feitos por encomenda. Ao contrrio dos automveis pretos da linha de montagem de Henry Ford, os novos produtos vm em variedades, cores, tamanhos e modelos diferentes. Hoje, a diversidade no custa mais que a uniformidade (MCKENNA, 1999, p. 6).

    Maior veiculao de anncios e emisso de maior nmero de comunicados

    imprensa no solucionaro os atuais problemas de marketing. Os clientes j esto saturados de

    informaes. (MCKENNA, 1999, p. 8). Para o autor, o marketing baseado no

    conhecimento e na experincia. As empresas esto dispostas a modificar seu produto para

    atender s exigncias dos clientes e estabelecer, assim, uma relao entre eles. O marketing

    uma forma de fazer negcios, com o objetivo de ganhar o mercado; uma atividade

    difundida, parte do trabalho de todos os colaboradores da empresa, desde o recepcionista

    at a diretoria. Sua tarefa no enganar o cliente, muito menos mascarar ou falsificar a

    imagem da empresa, mas, sim, integrar o cliente elaborao do produto e desenvolver um

    processo sistemtico de interao que dar uma estabilidade relao.

    Madruga (2006) argumenta que o marketing tradicional aquele baseado mais nos

    produtos do que no entendimento e implementao de contatos que atendam s necessidades

    dos clientes, que foi o que se props solucionar prioritariamente. O autor questiona: Se os

    consumidores apresentam aspectos subjetivos prprios da natureza humana e tm

    necessidades individualizadas, como atend-las com produtos standardizados e comunicao

    massificada? (MADRUGA, 2006, p. 46). O marketing tradicional tambm no resolveu a

    questo da comunicao com os clientes, que esto exigindo cada vez mais dilogo com as

    empresas, ao invs de monlogo.

    Porm, vivel utilizar uma comunicao de forma massificada com um determinado

    pblico, seja ele amplo ou restrito, e adotar, concomitantemente, uma prtica mais direta e

    especfica como o marketing de relacionamento, que ser analisado no subcaptulo 2.2. De

    acordo com Munhoz (2007), h empresas, por exemplo, que adotam uma campanha de

    publicidade vistosa assim que entram em um novo mercado, com o intuito de comunicar s

    pessoas sua existncia. Depois desta fase inicial, a propaganda de massa descartada,

    restando aes promocionais e outros meios de comunicao com seus clientes que tenham

  • 16

    caractersticas mais individualizadas, podendo, assim, melhor atender s suas necessidades e

    expectativas.

    Os avanos na tecnologia provocaram mudanas nos consumidores, nos mercados e no

    marketing ao longo do ltimo sculo, segundo Kotler (2010). O marketing evoluiu, passando

    por trs fases definidas como Marketing 1.0, 2,0 e 3.0. Na primeira e segunda fase, ele era

    orientado pelas vendas e pelo relacionamento, respectivamente. J na terceira fase, os

    consumidores participam do desenvolvimento de produtos da empresa e de suas

    comunicaes. A era do Marketing 1.0 teve incio com o desenvolvimento da tecnologia de produo durante a Revoluo Industrial. O marketing 2.0 surgiu em decorrncia da tecnologia da informao e com o advento da Internet. Agora, a nova onda tecnolgica torna-se o maior propulsor do nascimento do Marketing 3.0 (KOTLER, 2010, p. 7).

    A onda de tecnologia, evidenciada desde o ano 2000, permite a conectividade e a

    interatividade entre indivduos e grupos, que se expressam e colaboram entre si, ou seja, os

    consumidores no so mais indivduos isolados. Suas decises so to fundamentadas em

    informaes, que os consumidores passaram de passivos a ativos, oferecendo importante

    feedback s empresas. Essa mudana definida por Kotler, como o Marketing 3.0: Em suma, a era do Marketing 3.0 aquela em que prticas de marketing so muito influenciadas pelas mudanas no comportamento e nas atitudes do consumidor. a forma mais sofisticada da era centrada no consumidor, em que o consumidor demanda abordagens de marketing mais colaborativas, culturais e espirituai. (KOTLER, 2010, p. 22).

    A nova definio de Marketing criada pela American Marketing Association, em 2008,

    inclui o conceito de interesse pblico: Marketing a atividade, conjunto de instituies e

    processos para criar, comunicar, oferecer e trocar ofertas que tenham valor para

    consumidores, clientes, parceiros e para a sociedade como um todo. Essa nova definio

    reconhece que o marketing tem impacto na sociedade e demonstra preocupao com os

    interesses das comunidades de consumidores, demandando que profissionais de marketing

    equilibrem os desejos dos clientes, os lucros da empresa e o interesse pblico, como as

    questes ambientais, por exemplo. Em vez de apenas maximizar os lucros, os gerentes de

    marketing esto comeando a considerar os interesses da sociedade ao tomar decises

    (DALRYMPLE; PARSONS, 2003, p. 15).

    Analisando todos os conceitos, verifica-se que o marketing gira em torno de trs

    disciplinas importantes: gesto do produto, gesto de clientes e gesto da marca (KOTLER,

    2010, p. 29). De acordo com o terico, outros Ps se juntaram aos 4Ps originais, que continuam

  • 17

    existindo: pessoas, processo, provas fsicas, opinio pblica (public opinion) e poder poltico.

    O marketing passou, ento, de um nvel unicamente ttico para um nvel mais estratgico.

    O marketing, mais do que outra funo do negcio, lida com os clientes. Empresas

    avanadas buscam fazer com que todos os seus departamentos sejam orientados para o

    cliente: Criar valor e satisfao para o cliente o ponto central do pensamento e da prtica

    do marketing moderno (KOTLER; ARMSTRONG, 1995, p. 3). Os profissionais de

    marketing de ontem consideravam a habilidade de conquistar novos clientes como a mais

    importante, e no se preocupavam em cultivar o relacionamento com os j existentes. Hoje

    ocorre o inverso: o consenso entre eles manter os clientes atuais e desenvolver cada vez

    mais o relacionamento, j que custa muito mais caro para a organizao conquistar um novo

    cliente.

    Em sua extensa bibliografia sobre o marketing, Kotler identificou o perfil dos clientes

    de hoje. Eles esto mais sofisticados e mais sensveis a preos, dispem de pouco tempo e por

    esse motivo querem mais convenincia; tambm esto menos sensveis marca do fornecedor

    percebendo maior equiparao entre os fornecedores e esto mais abertos a marcas de

    revendedores e marcas genricas; tm altas expectativas quanto a servios e atendimento e so

    menos fiis aos fornecedores. J na era do marketing 3.0, os consumidores adquiriram maior

    confiana nos relacionamentos horizontais do que nos verticais. Os consumidores acreditam

    mais uns nos outros do que nas empresas (KOTLER, 2010, p. 34). Com o crescimento das

    mdias sociais, os consumidores esto exigindo cada vez mais qualidade, servios superiores e

    customizao, alm de estarem adotando a comunicao boca a boca como uma maneira nova

    e confivel de propaganda.

    Conforme Madruga (2006), a tecnologia vem auxiliando as organizaes no

    desenvolvimento de outra forma de fazer marketing, na qual preferncias individualizadas do

    cliente podem ser capturadas e utilizadas para o seu benefcio prprio. Os profissionais de marketing de gesto do relacionamento com o cliente j perceberam a urgncia de estratgias de proximidade com seus consumidores e a utilizao de ferramentas tecnolgicas que podem trazer benefcios para o relacionamento. Benefcios no relacionamento podem significar empresas com maior estabilidade e clientes mais prximos de suas aspiraes (MADRUGA, 2006, p. 39).

    O autor afirma que para as empresas alcanarem a intimidade com os clientes, perdida

    em funo do crescimento do mercado competitivo, e realmente aproximarem-se deles

    preciso revolucionar a forma de se relacionar. Ao se aplicar o marketing de relacionamento

  • 18

    combinado com o CRM, o efeito produzido ser a elevao de valor do relacionamento,

    satisfao mtua e credibilidade do cliente com as empresas (MADRUGA, 2006, p. 51).

    Bretzke (2000) tambm destaca que, nessa nova era em que o indivduo ganha nova

    dimenso, o marketing precisa aperfeioar as formas de comunicar-se e de estabelecer um

    relacionamento duradouro e gratificante com os clientes atuais e os clientes em potencial. O marketing de relaes essencial ao desenvolvimento de liderana, fidelidade do consumidor e rpida aceitao de novos produtos e servios no mercado. A criao de relaes slidas e duradouras uma tarefa rdua, de difcil manuteno. Mas acredito que, em um mundo onde o cliente tem tantas opes, mesmo em segmentos limitados, uma relao pessoal a nica forma de manter a fidelidade do cliente (MCKENNA, 1992, p. 105).

    Grnroos (2009) faz uma comparao interessante entre o marketing tradicional e o

    marketing de relacionamento: No marketing de transao, o cliente visto como um opositor ou antagonista que tem de ser persuadido a escolher uma determinada opo, ao passo que no marketing de relacionamento o cliente visto como um recurso juntamente com o qual a empresa pode criar uma soluo de valor que atende s necessidades do cliente e resolve seus problemas (GRNROOS, 2009, p. 26).

    Observa-se, portanto, um consenso entre os autores da disciplina, de que o marketing

    de relacionamento apresenta uma abordagem diferenciada em relao ao marketing

    tradicional, trazendo a tona o foco no relacionamento de longo prazo e benefcios tanto para

    os clientes, quanto para as organizaes. O prximo subcaptulo explicar o porqu.

    2.2 O Marketing de Relacionamento em sua Essncia

    A sociedade uma complexa rede de relacionamentos, assim como o setor de

    negcios. Gummesson (2005) afirma que os relacionamentos esto no ntimo do

    comportamento humano. Todo e qualquer cidado vive cercado de relacionamentos, seja na

    famlia, na rua onde mora, no trabalho ou na escola; cada ser faz parte de uma rede social que

    interage com indivduos de outras redes sociais. Para o autor, relacionamentos, redes e

    interaes tm um papel muito importante, mas reduzido na administrao de marketing

    tradicional.

    Nesse contexto, surge o conceito de marketing de relacionamento, que, segundo

    McKenna (1992), a resposta para as empresas enfrentarem o desafio imposto ao marketing

  • 19

    pelas mudanas no ambiente competitivo e no comportamento do consumidor, j que se

    baseia na experincia e exige o domnio do conhecimento sobre a tecnologia inerente a sua

    atividade, seus concorrentes, seus clientes e sua prpria organizao como um todo. O

    marketing de relacionamento enfatiza a interdependncia entre o comprador e o vendedor

    (DALRYMPLE; PARSONS, 2003, p. 1). Os autores destacam a importncia de as

    organizaes passarem de uma mentalidade de transaes repetidas para a de marketing de

    relacionamento, na qual possvel identificar clientes e entender suas necessidades da melhor

    forma.

    Grnroos (2009) afirma que o marketing de relacionamento surgiu como um novo

    paradigma. J Madruga (2006) fala que o marketing de relacionamento considerado uma

    evoluo e que precisou absorver diversas outras formas de conhecimento que acabaram por

    lhe serem complementares. Apesar de pensarem diferente neste ponto, os dois autores

    concordam que o valor criado para clientes somente em relacionamentos de longo prazo.

    Alguns estudiosos relatam que o surgimento do marketing de relacionamento ocorreu

    na dcada de 80, de forma mais tmida, e foi ganhando importncia nas organizaes ao longo

    do tempo, quando comeou a ser influenciado por outras correntes do marketing, como o

    marketing industrial e o marketing de servios. Para Grnroos, entretanto, no um fenmeno

    novo: O termo marketing de relacionamento foi introduzido na literatura do gerenciamento de servios por Leonard Berry em 1983; o interesse em uma orientao para relacionamentos no marketing surgiu cerca de 10 anos depois (GRNROOS, 2009, p. 23).

    Quanto definio, Gordon (2001) sustenta que o marketing de relacionamento o

    processo contnuo de identificao e criao de valores com clientes individuais e o

    compartilhamento de seus benefcios, envolvendo compreenso, concentrao e

    administrao de uma contnua rede de colaborao entre fornecedores e clientes

    selecionados. O marketing de relacionamento, para o terico, baseado na criao de valor

    atravs de interaes entre o fornecedor ou provedor de servio e o cliente; a cooperao

    requerida para criar o valor que o cliente est buscando. Pelo fato de haver uma

    interdependncia entre as duas partes, a cooperao a fora propulsora do marketing.

    Na opinio de Stone e Woodcock (1998), o marketing de relacionamento o uso de

    tcnicas e processos de marketing, vendas, comunicao e cuidados com o cliente a fim de

    identific-los de forma individualizada e nominal, criar um relacionamento que se prolongue

    por muitas transaes entre a empresa e os clientes, e administrar esse relacionamento para o

  • 20

    benefcio de ambas as partes. Com a tecnologia disponvel, segundo os autores, possvel e

    aconselhvel que as empresas tratem seus clientes de forma personalizada, dando a eles um

    carto de fidelidade para recompens-los, oferecendo descontos por sua lealdade, e

    fornecendo incentivos especficos.

    No artigo sobre as estratgias de marketing de relacionamento, Arajo escreveu que o objetivo principal do marketing de relacionamento construir e/ou aumentar a percepo de valor da marca, de seus produtos e servios, e a rentabilidade da empresa ao longo do tempo a partir de estratgias de comunicao e de relacionamento propriamente dito com todos os seus stakeholders, integrando suas aes, desde o projeto de um produto ou servio, desenvolvimento de processos, venda e ps-venda (ARAJO, 2009).

    Para que a empresa adquira vantagem competitiva e ganhe destaque junto

    concorrncia, imprescindvel que se administre o relacionamento com o cliente. O autor

    expe que o objetivo maior ainda manter o cliente atravs da confiana, da credibilidade e

    da sensao de segurana transmitida pela organizao. Atravs desses aspectos, possvel

    construir relacionamentos duradouros que contribuam para o aumento do desempenho. O

    marketing individualizado e personalizado permite um grande diferencial competitivo,

    principalmente por que desta forma a organizao pode entender melhor seu mercado e

    antecipar-se as aes da concorrncia (ARAJO, 2009).

    Apesar de o marketing de relacionamento ser bastante difundido atualmente e

    praticado por grande parte das empresas, muitas vezes no bem interpretado, nem praticado

    corretamente. De acordo com Grnroos (2009), uma empresa pode at enviar malas-diretas

    personalizadas, oferecer adeso a um clube de fidelidade ou coisas semelhantes, no entanto,

    para o cliente, isso pode significar o mesmo servio lento e o mesmo pessoal desinteressado,

    nenhuma resposta ou uma resposta tardia a e-mails e telefonemas, ou demora na

    administrao de reclamaes. Essas atitudes no significam marketing de relacionamento, e

    nenhum relacionamento foi desenvolvido. Um relacionamento s pode se desenvolver

    quando todos ou, no mnimo, a maioria dos contatos e interaes importantes com clientes so

    orientados para relacionamentos (GRNROOS, 2009, p. 33).

    Para Madruga (2006), o marketing de relacionamento privilegia a interao com o

    cliente, com o objetivo de desenvolver um conjunto de valores que o levaro satisfao e

    longevidade do seu relacionamento com a empresa. atrair, realar e intensificar o

    relacionamento com sua rede de clientes, por meio de uma viso de longo prazo na qual h

    benefcios mtuos. Quanto sua aplicao, o autor destaca algumas possibilidades: foco em

    estratgias empresariais para a longevidade da relao com clientes, comunicao

  • 21

    personalizada e bidirecional, estabelecimento de mltiplos pontos de contato, novas formas de

    segmentao de mercado, estrutura organizacional descentralizada e mensurao em tempo

    real da satisfao dos clientes.

    Os benefcios mtuos, como Madruga (2006) menciona, so aqueles gerados para

    ambas as partes clientes e empresas a partir de estratgias bem estruturadas. Para ele,

    projetos de marketing de relacionamento efetivamente focados no cliente tm condies de

    gerar no mnimo oito benefcios mtuos: aumento da longevidade do relacionamento;

    aumento da produtividade dos canais de relacionamento e vendas; reduo da diferena

    entre os aspectos tcnicos dos produtos e aqueles que so esperados pelo consumidor;

    reduo da barganha por preos; reduo do tempo dos negcios, como por exemplo, o

    tempo gasto no atendimento; reduo de decises incorretas e a consequente reduo de

    conflitos; reduo dos custos de relacionamento; e sustentao de vantagens

    competitivas.

    Um modo de pensar mtuo significa que h um compromisso de duas vias

    (GRNROOS, 2009, p. 33). O autor trata dos benefcios mtuos como um processo do

    desenvolvimento de interaes e comunicao entre a empresa e o cliente. S se desenvolve

    um relacionamento quando o cliente percebe que existe um modo de pensar mtuo; e, para

    que o cliente perceba, faz-se necessrio que a empresa demonstre-o continuamente por meio

    de aes.

    Gummesson (2005) estabeleceu alguns valores mais fundamentais do marketing de

    relacionamento, tais como: nfase em colaborao e criao de valores mtuos. Isso inclui considerar os fornecedores, clientes e outros como parceiros, ao invs de oponentes. Estender a durao do relacionamento se torna um objetivo maior do marketing. Tem-se enfatizado muito a conquista de novos consumidores e muito pouco a ateno com os consumidores j existentes. [...] O marketing de relacionamento no deve ser confundido com as vendas tradicionais, que representam a perspectiva do fornecedor e no pem o consumidor nem o relacionamento interativo em foco. [...] O marketing de relacionamento exige valores diferentes baseados em relacionamentos e servios para o consumidor. Esses valores estabelecem que todos os consumidores so indivduos sendo diferentes em certos aspectos; [...] e a tarefa dos fornecedores criar valores para o consumidor (GUMMESSON, 2005, p. 33 e 34).

    Depreende-se que os trs ltimos tericos consideram a mutualidade inerente na

    perspectiva de relacionamento uma das principais propriedades do marketing de

    relacionamento. A empresa deve agir com o objetivo de criar uma rede de colaborao, de

    confiana e de cooperao com seu cliente.

  • 22

    Madruga (2006) fala ainda das funes do marketing de relacionamento, que so

    muito numerosas e podem ter como uma das estratgias um programa especfico de

    fidelidade. Para o autor, a empresa deve praticar, pelo menos, seis funes para desenvolver

    com xito o marketing de relacionamento: 1. Elaborao conjunta de uma nova viso e cultura empresarial voltada para os

    clientes e parceiros; 2. Construo de objetivos de marketing de relacionamento conectados viso e

    sempre de natureza lmpida; 3. Estabelecimento das estratgias de marketing de relacionamento voltadas para a

    criao de valores em conjunto com os clientes; 4. Implementao de aes tticas com foco no relacionamento colaborativo com

    clientes; 5. Obteno de benefcios mtuos, isto , empresas e clientes tiram proveito da

    cooperao ocorrida em vrios momentos de contato; 6. Direo da ao, capacitao e envolvimento dos colaboradores da empresa para

    relacionamentos superiores (MADRUGA, 2006, p. 22).

    Barnes (2002) defende que existem outros quatro conceitos que representam uma

    viso atual do marketing de relacionamento e que devem ser considerados to seriamente

    quanto os 4Ps ou mix de marketing: os 4Rs - relacionamento, reteno, referncia e

    recuperao. Para o autor, o relacionamento existe quando o cliente voluntariamente dispe a

    trabalhar com a empresa por um perodo longo de tempo e continua entusiasmado por causa

    da maneira como tratado. Construir relacionamentos significa estar prximo dos clientes em

    uma tentativa de entender e servi-los bem, podendo ir alm da suas expectativas. A natureza

    do relacionamento requer confiana: comprometimento, comunicao e entendimento.

    J a reteno significa manter os clientes que a empresa deseja atravs de um trabalho

    diferenciado que exceda as suas expectativas. Segundo Barnes (2002), a reteno custa bem

    menos que a aquisio de novos clientes, e o foco deve estar na reteno voluntria por meio

    de um conjunto de aes continuadas e monitoradas, e no baseadas na falta de alternativa ou

    no fato de os clientes estarem vinculados a um programa de premiao. A referncia diz

    respeito ao poderoso efeito da propagao de uma satisfao resultante de um trabalho bem

    feito com um cliente especfico. Quando os clientes esto completamente satisfeitos com um

    servio ou produto, eles estaro mais propensos a disseminar a notcia e recomendar aos seus

    amigos e familiares. E, por fim, a recuperao de um cliente que recebeu um tratamento fraco

    deve ser parte da administrao de uma carteira de clientes. Deve-se mostrar a ele o quanto

    importante dentro do contexto da organizao. Esse restabelecimento possibilita a lealdade ao

    comprometimento do cliente.

  • 23

    Verifica-se que Barnes prope uma nova organizao aos conceitos utilizados por

    outros autores sobre o marketing de relacionamento, permitindo estabelecer um programa de

    marketing mais efetivo com essa nova abordagem. Todavia, assim como Barnes, Grnroos e

    Madruga tambm enfatizam a questo do relacionamento ativo a longo prazo, com

    monitoramente constante, e a reteno de clientes.

    2.3 Fidelizao de Clientes

    Os benefcios advindos da implementao e da aplicao adequada das aes do

    marketing de relacionamento ocorrem em longo prazo. Para Stone e Woodcock (1998), esses

    benefcios dizem respeito ao aumento da reteno e da lealdade do cliente, ou seja, os clientes

    permanecem com a empresa por perodos mais longos, compram mais e com maior

    freqncia, ficam mais satisfeitos e proporcionam boas referncias. Alm disso, h uma maior

    lucratividade por cliente, no apenas porque cada cliente compra mais e usa mais seus

    servios, mas em funo de custos menores para seduzir os clientes e reduo do custo de

    venda e publicidade. O aspecto-chave do marketing de relacionamento a capacidade de

    coletar, analisar e rastrear as informaes acerca dos clientes (STONE; WOODCOCK, 1998,

    p. 93). Todos os seus objetivos e estratgias so baseados no conceito de aquisio e reteno

    de clientes. Segundo os autores, A administrao da fidelidade do cliente um componente crtico do marketing de relacionamento [...] A exposio de clientes a convites para se associar a esse ou aquele clube atingiu um pico recorde. Mas a fidelidade no uma questo de jogar dinheiro em programas de marketing, produzir revistas, criar clubes ou lanar cartes de crdito, na vaga esperana de que a fidelidade seja estabelecida. A fidelidade ser desenvolvida ao longo do tempo, se os parmetros do relacionamento forem planejados e implementados corretamente (STONE; WOODCOCK, 1998, p. 95).

    A fidelidade, portanto, desenvolvida por meio de abordagens que desencadeiam e

    reforam um estado mental positivo e comportamentos associados. Os autores salientam que a

    inteno no tornar todos os clientes fiis, mas aumentar a fidelidade daqueles clientes mais

    propensos a reagir. Stone e Woodcock (1998) ainda descrevem seis passos na estratgia de

    relacionamento baseada na fidelizao: definir objetivos, identificar as necessidades dos

    clientes, desenvolver a abordagem, ou melhor, descobrir os melhores aspectos

    reforadores da fidelidade e os mais valorizados, definir nveis e segmentos de

  • 24

    qualificao, implementar a infra-estrutura de apoio necessria para estabelecer o

    marketing de relacionamento e, por fim, medir a eficcia da estratgia.

    Tornar um cliente mais forte e fiel requer lev-lo atravs de vrios estgios de

    desenvolvimento de sua fidelidade. De acordo com Kotler (1999), os principais estgios so o

    comprador, o cliente eventual, o cliente regular, o defensor, o associado, o parceiro e o co-

    proprietrio. No caso do associado3, a empresa lana um programa de associao que conceda

    privilgios, para tornar os clientes ainda mais fiis. Os associados ficaro relutantes em partir

    e abrir mo dos privilgios enquanto houver benefcios suficientes como resultados da adeso.

    Empresas que agregam valor j desenvolveram uma oferta de preos ou pacote de

    benefcios mais fortes para conquistar a preferncia do cliente, oferecendo um ou mais

    benefcios, que, segundo Kotler (1999), podem ser de customizao, maior convenincia,

    servio mais rpido, mais e/ou melhores servios, orientao, treinamento ou consultoria, uma

    garantia extraordinria, ferramentas teis de software e hardware e associao a um programa

    de benefcios. Esse ltimo benefcio4 considerado, pelo terico, um modo eficaz de

    conquistar, manter e aumentar o relacionamento com clientes e tem o objetivo de

    recompens-los.

    Kotler ainda distingue quatro tipos de programas para associados: os de premiao de

    clientes freqentes, o clube de associados com pacote de benefcios, programa VIP5 aos

    clientes mais importantes da empresa e programa especial de reconhecimento de clientes. No

    caso do clube de associados6, o autor destaca: Empresas interessadas em lanar um programa para associados devem pensar cuidadosamente sobre que benefcios oferecer, o custo dessa oferta, a anuidade a ser cobrada dos associados, o nmero mnimo de membros necessrio e o custo de um possvel encerramento do programa. Se adequadamente constitudo, um clube pode ser uma poderosa ferramenta para aumentar a fidelidade; mal constitudo, poder resultar em custos pesados e constrangimentos (KOTLER, 1999, p. 201).

    Conforme Santos (2006), para facilitar a fidelizao, primeiramente preciso conhecer

    os clientes, associando as suas identidades s transaes efetuadas por eles. Deve haver um

    conjunto de procedimentos preliminares que permita captar informaes para a identificao

    do cliente. Para a situao em que o cliente tende a ficar annimo durante e depois da

    transao, pode-se recorrer a concursos, criao de clubes, cupons de descontos,

    3 O estgio de associado o que mais interessa descrever, em funo do assunto de anlise deste trabalho. 4 O programa de benefcios para associados o que mais interessa descrever, em funo do assunto de anlise deste trabalho. 5 Very Important People 6 O clube de associados com pacote de benefcios o que mais interessa descrever, em funo do assunto de anlise deste trabalho.

  • 25

    preenchimento de garantias (SANTOS, 2006, p. 13). A utilizao de programas associados

    ao marketing de relacionamento e de cartes de fidelidade permite obter dados relevantes

    sobre os produtos adquiridos, pontos de venda, momento da compra, forma de pagamento e

    outras informaes importantes para a empresa.

    No entanto, h autores com uma viso diferente sobre os programas de fidelizao

    com cartes de desconto ou recompensa por utilizao. Para Bretzke (2000), eles no tm

    objetivo de gerenciar o relacionamento e, sim, de padroniz-lo, estabelecendo regras e

    fazendo a entrega do benefcio assim que a condio for cumprida. Isso significa que as

    empresas que agrupam os clientes que satisfazem a certa condio em determinado segmento

    no esto praticando o relacionamento personalizado, mas um relacionamento impessoal.

    Madruga (2006) tambm defende que, embora os programas tradicionais de descontos

    aumentem as compras em alguns casos, eles no garantem a compra sucessiva, tampouco a

    preferncia permanente. A sugesto de que as empresas busquem a reteno pelo maior

    tempo possvel de seus consumidores mais valiosos.

    No artigo Investigando as Relaes entre Satisfao, Reteno e Lealdade do

    Consumidor, os estudiosos Espinoza e Larn (2004) argumentam que a satisfao de clientes

    tem sido tratada como uma premissa necessria para a reteno de clientes e seus

    conseqentes benefcios. De acordo com um estudo realizado por Reichheld (1996), os lucros de uma empresa podem aumentar de 35 a 95% caso seja possvel operacionalizar uma reduo de evaso de clientes em apenas 5%, dependendo das peculiaridades do setor. Entre os fatores que aumentam a lucratividade, esto a queda do custo de servir um cliente leal, a menor sensibilidade ao preo e a propaganda boca a aboca positiva, alm da prpria recompra (ESPINOZA; LARN, 2004, p. 111).

    A definio de fidelidade ou lealdade do consumidor uma prtica do marketing de

    relacionamento. Espinoza e Larn (2004) definem a lealdade como um estado emocional do

    cliente, cujo alto grau de comprometimento em relao marca o leva ao de recompra. ,

    portanto, um conjunto de interaes que sinalizam motivao para manter um relacionamento

    com a empresa. Atravs de um estudo profundo, os pesquisadores confirmaram que a

    satisfao pode ser o principal determinante da lealdade, ou seja, para as empresas que

    desejam estabelecer estratgias de fidelizao, torna-se evidente a necessidade de tomar

    conhecimento e entender os aspectos que deixam os clientes satisfeitos (ESPINOZA;

    LARN, 2004, p. 120).

    Todo cliente espera sair satisfeito de uma transao comercial e tambm espera que a

    empresa esteja empenhada em satisfaz-lo. Mas ter um cliente satisfeito no garante sua

  • 26

    fidelidade (Moutella, 2003). Para a especialista em comunicao, a satisfao no est

    intimamente ligada fidelizao, j que a primeira pode ser obtida em uma nica transao e

    a segunda s se conquista em longo prazo. Nada garante que um cliente satisfeito recusar as

    ofertas da concorrncia. J um cliente fiel pensar duas vezes antes de trair (Moutella,

    2003). Somente atravs de uma relao de confiana entre clientes e empresa podem-se criar

    barreiras para a ao da concorrncia. As pessoas confiam em quem as respeita, as ouve e as

    surpreende, e so fiis quando e enquanto confiam.

    Observa-se que as duas ltimas opinies so contraditrias a respeito da relao

    satisfao e fidelidade. Espinoza e Larn (2004) defendem que, quanto mais satisfeito um

    cliente com o produto ou servio oferecido pela empresa, mais fiel ele se torna. J Moutella

    (2003) argumenta que um cliente satisfeito no necessariamente um cliente fiel. No entanto,

    todas as definies chegam a um ponto comum: a grande vantagem competitiva que uma

    empresa possui o conhecimento de seus clientes.

    Para Kotler, atender s expectativas do cliente ir apenas satisfaz-lo; porm, exced-

    las ir encant-lo. Clientes maravilhados com um fornecedor tm muito mais probabilidade

    de continuar clientes (KOTLER, 1999, p. 22). O problema que, quando as expectativas de

    um cliente so superadas, ele as eleva na prxima compra e a tarefa de superar ainda mais as

    expectativas torna-se mais difcil e onerosa. Por esse motivo e pela grande oferta de produtos

    no mercado to competitivo como o de hoje, que os consumidores esto cada vez mais

    exigentes: desejam a mais alta qualidade, mais servios, grande convenincia, customizao,

    privilgios para repetir a compra e garantias, tudo pelo preo mais baixo.

    A fidelizao um estgio do relacionamento a ser atingido e no apenas condies

    promocionais de curta durao, uma vez que, quanto maior o tempo de durao da relao,

    maiores so as chances de benefcios mtuos. E como abordou o subcaptulo 2.2, os clientes

    esperam que haja vantagens no relacionamento com a organizao e um verdadeiro dilogo

    com ela. A fidelidade, na prtica, ser a conseqncia de estratgias duradouras de agregao

    de valor, confiana e benefcios entre clientes e empresas. O prximo captulo apresenta as

    ferramentas de marketing de relacionamento offline e online e como o seu uso pode auxiliar

    na busca pela fidelizao.

  • 27

    3 ESTRATGIAS DE MARKETING DE RELACIONAMENTO

    Uma nica soluo no pode suprir a necessidade de gerenciamento do

    relacionamento. Com a mudana de comportamento da sociedade e a evoluo da tecnologia

    da informao, houve o surgimento de um grande nmero de solues disposio da

    empresa para aumentar o nvel de reciprocidade e comunicao com os clientes, como:

    marketing de relacionamento, CRM, DBM, Call Center, entre outros. Analisam-se algumas

    dessas ferramentas neste captulo, assim como a utilizao do marketing de relacionamento na

    internet.

    3.1 A Tecnologia da Informao e as Ferramentas de Marketing de Relacionamento

    A moderna tecnologia da informao proporciona empresa amplas oportunidades

    para desenvolver maneiras de mostrar a um cliente que ele conhecido e valorizado. Segundo

    Bretzke, A utilizao dos produtos e servios gerados pela tecnologia da informao no s altera a forma de administrar a empresa e seus processos internos, mas tambm, o ambiente no qual ela opera: a atuao da concorrncia e o estilo de vida, necessidades e preferncias de seus clientes. A tecnologia da informao influencia profundamente a maneira de pensar e fazer negcios, pois possibilita que a empresa implante uma estratgia de gerenciamento do relacionamento do cliente, adotando definitivamente o marketing de relacionamento (BRETZKE, 2000, p. 27 e 28).

    Porm, a tecnologia por si s no traz os resultados de encantamento necessrios para

    manter os clientes. preciso saber utiliz-la isso que os autores descritos a seguir exploram

    em seus estudos: como a empresa deve implementar a estratgia de relacionamento e adotar

    novas formas de comunicao para desenvolver um dilogo efetivo e construtivo com o

    cliente.

    Grnroos (2009) recomenda utilizar sempre contatos face a face com os clientes ou

    meios fornecidos pela tecnologia para chegar o mais prximo possvel deles. Como o

    marketing opera tradicionalmente com informaes limitadas e incompletas de clientes,

    necessrio seguir uma estratgia de marketing de relacionamento. Para isso, o autor prope a

    criao de um banco de dados, consistindo em arquivos de informaes sobre os clientes.

  • 28

    Alm da sua utilizao primria para manter relacionamentos com os clientes, os bancos de dados podem ser utilizados para vrias atividades de marketing, como segmentar a base de clientes, personalizar atividades de marketing, gerar perfis de tipos de clientes, apoiar atividades de servio e identificar provveis compradores. Um arquivo de informaes de clientes para finalidade de marketing de relacionamento tambm deve incluir informaes sobre lucratividade, para que se conhea a lucratividade de longo prazo dos clientes registrados no banco de dados (GRNROOS, 2009, p. 31).

    No basta apenas um cadastramento dos clientes, preciso uma verdadeira

    identificao desses clientes para fazer a gesto do conhecimento. Poser (2005) questiona o

    que identifica em valor ou interesse para a empresa saber nome completo, RG, CPF,

    endereo, telefone, sexo e estado civil do cliente. Cadastro necessrio, todavia precisa-se de

    dados pertinentes para fazer as importantes anlises de comportamento e potencial

    comportamento de consumo dos segmentos mais lucrativos.

    O marketing de relacionamento requer informaes de alta qualidade acerca dos

    clientes. Stone e Woodcock (1998) afirmam tambm sobre a importncia da coleta de

    informaes em vrios bancos de dados, desde a entrada de pedidos de venda, o atendimento

    realizado ao cliente, passando pelos arquivos de vendedores, at as reaes das campanhas de

    marketing. Um banco de dados totalmente funcional tambm permite que a equipe de

    marketing avalie a eficcia das campanhas anteriores para direcionar as campanhas futuras de

    forma mais precisa (STONE; WOODCOCK, 1998, p. 111).

    Um dos sistemas mais utilizados no relacionamento das empresas com seus clientes

    o CRM - Customer Relationship Management, que significa Gerncia de Relacionamento

    com Clientes. Ronald Swift (2001) definiu CRM como uma abordagem empresarial

    destinada a entender e influenciar o comportamento dos clientes, por meio de comunicaes

    significativas para melhorar as compras, a reteno, a lealdade e a lucratividade deles

    (SWIFT, 2001, p. 12).

    Madruga (2006) apresenta o CRM como uma ferramenta tecnolgica que nasceu das

    empresas de softwares, em meados dos anos 90, para gerenciar custos de previso de vendas e

    auxiliar as empresas no gerenciamento das interaes com os clientes. Ao longo de pesquisas,

    o autor descobriu que muitas funcionalidades do CRM foram inspiradas no marketing de

    relacionamento e, ao mesmo tempo, outras foram inovadoras. Para ele, o CRM ajuda a

    viabilizar o marketing de relacionamento e vice-versa. Ambos so complementares e

    sinrgicos (MADRUGA, 2006, p. 25). O autor destaca que, apesar de ser possvel existir

    marketing de relacionamento sem CRM, o esforo para a gesto do relacionamento com o

    cliente com qualidade da informao, controle e inteligncia seria muito prejudicado com a

  • 29

    ausncia de CRM. O contrrio tambm seria praticamente impossvel: o CRM seria mal

    aproveitado sem viso, cultura, estratgias, tticas e pessoas engajadas para realizar o

    marketing de relacionamento.

    A tecnologia de CRM enfatizada por Bretzke (2000) por oferecer uma infra-estrutura

    com foco na manuteno da flexibilidade e por integrar o marketing e a tecnologia da

    informao. O objetivo do CRM, para a autora, prover a empresa de meios mais eficazes e

    integrados para atender, reconhecer e cuidar do cliente, e transformar esses dados em

    informaes que permitam que o cliente seja conhecido e cuidado por todos na organizao.

    O CRM, portanto, deve fazer parte de toda a empresa e de tudo que ela faz, j que

    um processo interativo que transforma informaes sobre os clientes em relacionamentos

    positivos com eles. Em geral, por meio desta tcnica, a organizao descobre e conhece seus

    clientes, mantm a comunicao com eles, alm de assegurar que eles recebam o que desejam

    ou que recebam o que lhes foi prometido e que o cliente seja mantido em longo prazo. Para

    Swift (2001), os objetivos do CRM so gerenciar os relacionamentos com os clientes por

    meio de seus ciclos de vida, realizar o potencial do cliente aumentando a participao na

    carteira, trazer efetivamente clientes reais e em potencial para sua empresa e para seus

    produtos e servios, personalizar as ofertas para cada cliente, coordenar as comunicaes em

    cada ponto de contato com o cliente, estar capacitado para se comunicar pelo canal preferido

    do cliente, capturar e analisar as informaes de canais, de modo a se aprender continuamente

    e comunicar-se eficientemente com os clientes com base na relevncia de tempo.

    Bretzke (2000) ressalta que o CRM composto em parte pela soluo tpica de Call

    Center7 mais a informatizao de outras atividades de marketing e vendas que, por sua vez, se

    integram aos demais sistemas operacionais. As empresas precisam concentrar-se em entregar

    valor a seus clientes em vez de servios, deslocando o diferencial competitivo de preos para

    a lealdade do cliente (BRETZKE, 2000, p. 30). Ela ainda adverte que adotar uma estratgia

    de CRM muito importante em relao competitividade, visto que os clientes aumentaram

    suas expectativas e esto cada vez mais exigentes, no se contentando apenas com um

    programa de pontuao ou descontos e, muito menos, com o acesso facilitado e gil s

    centrais de atendimento.

    Os benefcios em potencial de um Customer Relationship Management, de acordo

    com Bretzke (2000), so 1. aumentar o conhecimento sobre o cliente;

    7 A anlise deste canal de relacionamento ser realizada mais adiante no captulo.

  • 30

    2. registrar, manter e tratar um grande volume de informaes sobre o cliente e fazer a recuperao em tempo real, para estabelecer um relacionamento diferenciado e gratificante, quando este est ocorrendo por qualquer meio;

    3. aumentar a reteno e fidelidade do cliente pela experincia de marca positiva; 4. aperfeioar o processo decisrio mercadolgico e empresarial; 5. racionalizar e melhorar o fluxo do pedido, atendimento ps-venda e as vendas por

    meios alternativos como o telemarketing e Internet; 6. aperfeioar servios e produtos para clientes por meio da customizao em massa; 7. diferenciar seus servios e produtos dos concorrentes, entregando exatamente o

    que o cliente deseja; 8. estabelecer uma comunicao prxima e sistemtica com os clientes atuais e

    potenciais, como parte do marketing mix; 9. diminuir os custos da venda, do atendimento ps-venda e do prprio pedido

    (BRETZKE, 2000, p. 31).

    Dentre os principais benefcios alcanados pelo processo de CRM esto a reteno, a

    obteno e a lucratividade dos clientes. Swift (2001) afirma que esse processo se inicia

    descobrindo conhecimento sobre o cliente, ou seja, faz-se uma anlise das informaes

    detalhadas dos clientes histrico interno e externo, caractersticas pessoais, etc. para

    identificar oportunidades de mercado e estratgias de investimento. O sistema precisa coletar

    dados detalhados de diversas fontes de interao e transao com os clientes, em todos os

    locais da empresa [...] (SWIFT, 2001, p. 40).

    Aps a descoberta do conhecimento para entender os comportamentos de compra dos

    clientes, ocorre o planejamento de mercado, no qual so definidas as ofertas especficas para

    os clientes, os canais de distribuio e os programas de comunicaes. Seguindo o processo,

    acontece a fase de interao com clientes, em que se estabelecem e se gerenciam

    comunicaes com clientes existentes em potencial com informaes e ofertas relevantes e

    convenientes (SWIFT, 2001, p 41). Conforme o autor importante conhecer onde os clientes

    interagem e os tipos de tecnologias que eles preferem utilizar (vendas, agente, central de

    atendimento, e-mail). A ltima fase do processo chamada de anlise e refinamento. A partir

    de dilogos com os clientes, analisam-se os dados de interaes e procura-se entender as

    respostas especficas aos estmulos dados aos clientes.

    Depreende-se que alguns autores qualificam o CRM como um conceito parte, outros

    como estratgia de marketing de relacionamento e outros ainda como tecnologia. Madruga

    (2006) recomenda que o conceito de CRM seja estendido a todas as possibilidades e no

    signifique apenas um software. O sistema deve ser a integrao de tecnologia e processos de

    negcios para satisfazer s necessidades dos clientes durante qualquer interao.

    Outra tcnica muito conhecida e utilizada no marketing h anos o Data Base

    Marketing (DBM) marketing por banco de dados que diversas empresas tm

  • 31

    implementado separadamente ao CRM, apesar dos aplicativos de CRM j possurem um

    banco de dados com todos os recursos de um DBM. Segundo Bretzke, DBM o sistema de banco de dados com os arquivos dos clientes e recursos para tratar estatisticamente essas informaes, para conhecer e predizer o comportamento dos mesmos (BRETZKE, 2000, p. 23).

    De acordo com Madruga,

    O database marketing, como precursor da transformao de dados em conhecimento dos clientes para a organizao, foi um dos responsveis pela flexibilizao da forma de marketing relacional, mudando seu foco de venda a distncia com pouco conhecimento a respeito do cliente para o foco de relacionamento a partir de estratgias integradas (MADRUGA, 2006, p. 87 e 88).

    Ao tratar sobre DBM, Rosenfield (1995 apud Madruga, 2006) descreve seu objetivo

    como sendo a identificao e classificao de clientes de acordo com o lucro em potencial

    para, posteriormente, reforar a relao atravs de vendas cruzadas (cross-selling), elevao

    de categoria (up-selling), incentivos, promoes e outras atividades. O objetivo final do DBM

    deve ser o de chegar at a viso do consumidor, na qual as aes de marketing de

    relacionamento so baseadas no conhecimento.

    O sucesso do data base marketing em conhecer e prever o comportamento dos clientes

    depende de que dados so capturados e do uso efetivo de um relacionamento vivel com os

    clientes, ou seja, o valor que a empresa empregar em cada segmento, assim como a

    proximidade e a intimidade que ela manter com esses segmentos. Segundo Poser (2005),

    alguns elementos bsicos devem ser levados em conta para a construo e a utilizao do

    DBM: objetividade, quanto mais qualificada for a lista, mais eficiente ser o esforo;

    seletividade, levando em considerao o objetivo do relacionamento; personalizao,

    personalizar o contato e a mensagem, tornando-os relevantes para o cliente; envolvimento,

    envolver o cliente na histria do relacionamento; arte da venda, relacionamento baseado na

    emoo e na razo, tornando-o justo e honesto para ambos (empresa e cliente); experincias,

    experimentar vrios meios de comunicao para se relacionar com cliente; mensurabilidade,

    incluir um procedimento para determinar a resposta mensagem ou comunicao inicial com

    o cliente e aos esforos posteriores; capacidade de resposta, oferecer ao cliente todas as

    informaes necessrias para que o retorno da informao, assim como o relacionamento, seja

    o mais eficiente, rpido e eficaz possvel; e formao do relacionamento, isto , o

    relacionamento entre a empresa e o cliente comea quando a compra concluda e deve se

    tornar um crculo virtuoso, que, conforme a autora, ocorre quando a empresa investe em

  • 32

    relacionamento sadio, buscando sempre trabalhar de forma pr-ativa, construtiva, objetivando

    a melhoria contnua (POSER, 2005, p. 38).

    Um problema corriqueiro entre as empresas, diagnosticado por Bretzke (2000), no

    utilizar as informaes, cadastradas no DBM aps o atendimento ou contato telefnico, no

    prximo contato com o cliente. No caso especfico do Call Center, as atendentes no tm o

    hbito de usar as informaes para enriquecer o relacionamento ou para direcionar o

    atendimento (BRETZKE, 2000, p. 24). Outro erro bem freqente a respeito do DBM, na

    viso da autora, o no armazenamento de informaes pontuais dos clientes entre perodos.

    O registro mostra apenas a situao nos pontos, porm no relata como o relacionamento do

    cliente movimentou-se do ponto A para o ponto B, tampouco os pontos altos e baixos do

    relacionamento do cliente com a empresa.

    Um canal de relacionamento que precisa estar muito bem alinhado s estratgias de

    marketing de relacionamento da empresa o Call Center. Hoje, muitas organizaes j

    trabalham com modernos Contatc Centers e Relationship Centers, no entanto, segundo

    Madruga (2006), foi o telemarketing que consolidou a forma de se fazer marketing

    distncia, atravs do desenvolvimento de tecnologia de telecomunicaes. O telemarketing,

    portanto, por possuir pouco ou nenhum recurso de tecnologia e reduzida integrao com

    outros servios da empresa, recebeu o upgrade necessrio: o call center que iria revolucionar

    a forma de se ouvir e dialogar com os clientes (MADRUGA, 2006, p. 97). Os Calls Centers

    surgiram na dcada de 90 e so estruturas com grande suporte tecnolgico e organizao de

    processos. Madruga fala tambm da diferena entre o Telemarketing e o Call Center: Enquanto o telemarketing privilegia contatos para gerao de leads ou negcios imediatamente, o call center busca oferecer mltiplos servios para os clientes, tornando a experincia do contato mais assertiva e satisfatria para ambas as partes (MADRUGA, 2006, p. 98).

    Todas as reas da empresa precisam estar alinhadas com a misso do canal de

    relacionamento. Conforme Bretzke (2000) fundamental a integrao do Call Center com o

    databse marketing e com a fora de vendas para que o ciclo do atendimento seja completo. J no basta ter um 0800 atendendo a qualquer hora. preciso agregar mais valor, interagindo com o cliente de maneira uniforme e integrada, com os outros esforos de comunicao, para que a percepo de marca no seja diluda (BRETZKE, 2000, p. 37).

    A autora destaca que no atendimento ao cliente que o Call Center se torna o centro

    da estratgia de CRM, em que a empresa oferece a oportunidade de comunicao ao cliente

    para obter mais informaes, comprar ou reclamar sobre algum problema. Atualmente, a

  • 33

    Internet e o Call Center so os meios mais utilizados para promover a satisfao do cliente e

    obter um feedback do nvel de satisfao com o produto ou servio (Bretzke, 2000, p. 40).

    Contudo, o Call Center o que permite a troca imediata de informaes, sendo esse um

    grande diferencial em relao a outro meio de interao no canal de relacionamento.

    O Call Center encontra-se em sua quarta fase evolutiva, conforme identificao de

    Bretzke: a fase em que a internet assume um papel importante no processo de atendimento e

    fidelizao. Como um canal de relacionamento, o Call Center ter a misso de interagir com

    os clientes, visando conquistar a lealdade, agregando valor extra, transformando

    oportunidades em receitas (BRETZKE, 2000, p. 43). A integrao do Call Center com a

    internet permitiu uma revoluo, segundo Madruga (2006): o cliente pode entrar na pgina da

    empresa, customizar os seus servios e revelar as suas preferncias, que sero capturadas em

    tempo real.

    Porm, verifica-se em algumas organizaes o desconhecimento do potencial para

    aplicar tcnicas de marketing de relacionamento na internet, quando, de acordo com Madruga

    (2006), contratam timos profissionais (designers) para fazer um excelente layout para o site,

    mas negligenciam outras estratgias, como processamento de pedidos, atendimento a

    problemas, etc. Alm disso, importante estabelecer feedback constante durante uma compra

    online: Mesmo que ele tenha acesso a um sistema de consulta apurado, o cliente ainda tem

    traos de insegurana e quer falar com uma pessoa (MADRUGA, 2006, p. 101).

    A Internet, portanto, tornou-se revolucionria na questo do relacionamento com o

    cliente; resta s empresas aproveitar toda essa estrutura para gerar benefcios mtuos. O

    mesmo cliente que continua utilizando o Call Center da empresa para saber informaes,

    fazer uma solicitao de produto ou servio e registrar uma reclamao, tambm est

    utilizando as vantagens oriundas da era digital para se comunicar e interagir com a empresa

    por meio dos sites de redes sociais.

    3.2 Marketing de Relacionamento na Era Digital

    medida que aprofundado o conhecimento sobre os fatores que geram e mantm

    relacionamentos duradouros, surgem novos questionamentos respeito da construo de

    relacionamentos slidos em plataformas online. Preocupados em entender como as estratgias

    de marketing devem ser implementadas na Internet para desenvolver relacionamentos de

  • 34

    longo prazo, profissionais e estudiosos da rea esto buscando cada vez mais compreender

    esse ambiente e o comportamento do consumidor na web.

    De acordo com Karsaklian (2001), at uma dcada atrs, as empresas operavam no

    mercado real com seus clientes baseadas nos meios de comunicao de massa e agora esse

    mercado real, que ainda existe, est diretamente interligado com o mercado virtual, sendo

    complementares e ao mesmo tempo concorrentes. Na internet, a informao to imediata

    que a empresa vencedora no mais a que dispe de informaes mais precisas, mas a que

    obtm a informao antes de seus concorrentes (KARSAKLIAN, 2001, p. 12). Ter acesso

    informao tornou-se mais fcil por um lado, mas por outro, utiliz-la e gerenci-la tornou-se

    muito mais complexo, j que a rapidez substitui aos poucos o detalhamento e a profundidade,

    o que no significa a perda da qualidade.

    Portanto, do ponto de vista do indivduo, o contedo de um servio interativo tem trs

    dimenses, que segundo Karsaklian (2001) so sua qualidade intrnseca ele quer ver e

    ouvir algo que seja coerente com o que ele pensa e deseja; seu valor comunitrio mesmo

    querendo um tratamento personalizado, o indivduo deseja sentir-se parte de uma comunidade

    com a qual possui aspectos em comum; e suas possibilidades de personalizao ou seja,

    importante propor ao internauta, diferentes vias de acesso a uma mesma informao, para que

    ele possa traar seu prprio caminho. Karsaklian (2001) lembra que a Internet somente uma

    mdia a mais na estratgia de comunicao da empresa e o que se faz no mundo virtual deve

    ser coerente com a imagem e o posicionamento da empresa difundidos pelas outras mdias.

    preciso considerar trs fatores fundamentais: 1. tudo imediato o contedo do site pode ser modificado, atualizado a todo

    momento em funo dos acontecimentos. Assim, as novidades ou flashes dirios fazem com que o pblico-alvo fique mais interessado pelo site do que pelos anncios de jornal, por exemplo;

    2. possvel personalizar a mensagem em funo dos clientes e ter uma abordagem menos massificada do que nas outras mdias;

    3. Internet uma mdia interativa e no unidirecional como as outras. Quanto mais prximo do internauta e mais vontade tiver este de interagir, mais fcil de fideliz-lo (KARSAKLIAN 2001, p. 28).

    A Internet cumpre uma relao direta com a possibilidade de interatividade, agregando

    pessoas independentemente de localidade geogrfica e tornando, dessa forma, a comunicao

    extremamente prxima e pessoal. Este tambm um dos pontos mais importantes na

    construo do relacionamento entre uma empresa e seu cliente. Conforme afirma Lemos, O ciberespao um ambiente de circulao de discusses pluralistas, reforando competncias diferenciadas e aproveitando o caldo de conhecimento que gerado dos laos comunitrios, podendo potencializar a troca de competncias, gerando a coletivizao dos saberes. (LEMOS, 2002, p. 145)

  • 35

    O ciberespao hoje um espao (relacional) de comunho, colocando em contato, atravs do uso de tcnicas de comutao eletrnica, pessoas de todo o mundo (LEMOS, 2002, p. 148).

    Segundo Recuero (2009), o advento da internet trouxe diversas mudanas para a

    sociedade e uma das mais significativas foi possibilitar a expresso e a sociabilizao atravs

    de ferramentas de comunicao mediada pelo computador, contribuindo para expandir as

    formas de comunicao entre indivduos. Essas ferramentas proporcionaram, assim, que atores pudessem construir-se, interagir e comunicar com outros atores, deixando, na rede de computadores, rastros que permitem o reconhecimento dos padres de suas conexes e a visualizao de suas redes sociais atravs desses rastros (RECUERO, 2009, p. 24).

    O estudo das redes sociais na Internet ganhou grande perspectiva nos ltimos anos, em

    funo do crescimento da comunicao mediada por computador. Para Recuero (2009) uma

    rede social composta de dois elementos: os atores, que so pessoas, instituies ou grupos

    envolvidos na rede, atuando de forma a moldar as estruturas sociais; e as conexes,

    compreendidas pelas interaes ou laos sociais. A interao a matria-prima das relaes e

    dos laos sociais, ou seja, a interao mediada pelo computador gera e sustenta as relaes

    complexas e de tipos de valores que, por sua vez, constroem e mantm as redes sociais na

    Internet, de acordo com a autora. J as relaes sociais atuam na construo dos laos sociais: O lao a efetiva conexo entre os atores que esto envolvidos nas interaes. Ele resultado, deste modo, da sedimentao das relaes estabelecidas entre agentes. Laos so formas mais institucionalizadas de conexo entre atores, constitudos no tempo e atravs da interao social (RECUERO, 2009, p. 38).

    O terceiro elemento relativo qualidade das conexes de uma rede social na Internet

    o capital social, cujo conceito refere-se a um valor constitudo a partir das interaes entre os

    atores sociais. Dentre vrias discusses sobre seu conceito, Recuero (2009) considera o

    capital social um conjunto de recursos de um determinado grupo que pode ser usufrudo por

    todos os membros do grupo, ainda que individualmente, e que est baseado na reciprocidade;

    estando embutido nas relaes sociais e sendo determinado pelo contedo delas. A autora

    concluiu que, para que se estude o capital social dessas redes, preciso estudar o contedo

    das mensagens que so trocadas atravs de suas relaes.

    Um dos aspectos mais importantes para compreender as redes sociais na Internet

    estudar os sites de redes sociais, que, como defende Recuero, so frutos da apropriao pelos

    atores sociais das ferramentas de comunicao mediada pelo computador. Eles so sistemas

    que permitem a construo de uma persona atravs de um perfil ou pgina pessoal; a interao

  • 36

    atravs de comentrios; e a exposio pblica da rede social de cada ator (RECUERO, 2009,

    p. 102). Para a autora, existe uma grande diferena entre sites de redes sociais e outras formas

    de comunicao mediada pelo computador: o modo como permitem a visibilidade e a

    articulao das redes sociais, a manuteno dos laos sociais estabelecidos no espao off-line

    (RECUERO, 2009, p. 102 e 103). Dentre os sites de redes sociais, destacam-se atualmente

    fotologs, weblogs, Twitter, Orkut, Facebook e Plurk.

    Tratando-se do marketing na era digital, Kotler (2010) examina o impacto das mdias

    sociais no mundo, primeiramente classificando-as em mdias sociais expressivas - blogs,

    Twitter, Facebook, Youtube e MySpace - e mdias sociais colaborativas - Wikipedia,

    Craigslist e InnoCentive. O autor conclui que o futuro das comunicaes de marketing ser

    das mdias sociais, visto que so de baixo custo e pouco tendenciosas. medida que as mdias sociais se tornarem cada vez mais expressivas, os consumidores podero, cada vez mais, influenciar outros consumidores com suas opinies e experincias. A influncia que a propaganda corporativa tem em moldar o comportamento de compra diminuir proporcionalmente (KOTLER, 2010, p. 9).

    Os negcios mundiais foram afetados pela crescente existncia de consumidores

    colaborativos dentro das redes sociais. Hoje, os profissionais de marketing no tm mais

    controle total sobre suas marcas, pois agora esto competindo com o poder coletivo dos

    consumidores (KOTLER, 2010, p. 11). De acordo com Kotler, pesquisas apontam que a

    indicao de um produto por outro usurio tem maior credibilidade e relevncia do que a

    comunicao feita diretamente pela marca. No momento presente, so os prprios

    consumidores que classificam um produto, que dizem se o servio foi bom ou ruim e que

    estimulam a compra de um determinado produto. O terico defende ainda que as empresas

    precisam colaborar com seus consumidores, ou seja, os gerentes de marketing devem ouvir a

    voz dessas pessoas para entender sua mente e as tendncias do mercado.

    Assim, cumpre-se o que Lemos, j em 2002, to bem antecipou, quando afirmou que Muitos entre ns j participamos on-line de mltiplas trocas de idias, de informaes e de servios. Ns estabelecemos conversaes em comunidades virtuais de todo tipo ao longo das redes mveis em reconfigurao contnua. Em pouco tempo, teremos todos nossos sites web. Em alguns anos imprimiremos nos coletivos humanos nossas memrias, nossos projetos e nossas vises sob a forma de avatares, ou de anjos numricos que dialogaro no ciberespao. Cada indivduo, cada grupo, cada forma de vida, cada objeto se tornar seu automdium, seu prprio emissor de dados e de interpretaes em um espao de comunicao onde a transparncia e a riqueza se opem e se estimulam (LEMOS, 2002, p. 15).

    Para Lemos (2002), as novas tecnologias da informao devem ser consideradas em

    funo da comunicao bidirecional entre grupos e indivduos, escapando da difuso

  • 37

    centralizada da informao massiva. Diante dessas tecnologias, os indivduos no so mais

    somente leitores ou espectadores, agora eles veem e interagem, simultaneamente, com a obra;

    e este agir acontece atravs da interatividade digital a interatividade como uma ao

    dialgica entre o homem e os objetos tecnolgicos. O autor defende que possvel, tambm, a

    manipulao de cada uma das formas mediticas vontade, de forma independente (som,

    imagens, textos), pois os indivduos tornaram-se no mais leitores, mas atores, exploradores,

    navegadores, etc. As redes digitais se constituem numa estrutura comunicativa de livre circulao de mensagens, agora no mais editada por um centro, mas disseminada de forma transversal e vertical, aleatria e associativa. A nova racionalidade dos sistemas informatizados age sobre um homem que no mais recebe informaes homogneas de um centro editor-coletor-distribuidor, mas de forma catica, multidirecional, entrpica, coletiva e, ao mesmo tempo, personalizada (LEMOS, 2002, p. 85).

    Com a chegada do comrcio eletrnico e digital, a estratgia de marketing vai muito

    alm dos 4Ps tradicionais. Segundo Karsaklian, ela integra dois Ds: o dilogo e o database.

    Como a interao uma das palavras-chave na web, o dilogo estabelecido graas a

    utilizao de banco de dados, nos quais so armazenados vrios tipos de informaes sobre os

    clientes. Entramos na era do marketing interativo, em que a comunicao bilateral e o

    cliente responde em tempo real (KARSAKLIAN, 2001, p. 68). A empresa observa o cliente,

    compreende aquilo que ele diz e deseja, adapta sua mensagem em funo disto e observa a

    reao dele ao estmulo recebido. Dessa forma, a organizao dialogar com seus clientes

    mais facilmente, favorecendo uma relao mais prxima e procurando fideliz-los,

    possibilitando tambm a conquista de prospects.

    A Internet, deste modo, ao possibilitar diversas formas de interatividade, proporcionou

    a criao de diferentes tipos de abordagens e estratgias de marketing, tornando-se um

    importante canal de comunicao para as empresas atingirem seus clientes. Estas novas

    formas de interatividade na Internet, despertaram alguns comportamentos e desejos que

    estavam adormecidos em funo das restries da comunicao em massa e da presso da

    sociedade moderna sobre o indivduo (TORRES, 2009, p. 62).

    Para Torres (2009), a consolidao da web 2.08 resultou no alcance do estgio mais

    avanado: o da interao, da participao e da colaborao. Hoje possvel que os pblicos se

    comuniquem em tempo real com as empresas por meio de suas prprias ferramentas na web e

    8 O termo web 2.0 utilizado para descrever a segunda gerao da World Wide Web, tendncia que refora o conceito de troca de informaes e colaborao dos internautas com sites e servios virtuais. A idia que o ambiente on-line se torne mais dinmico e que os usurios colaborem para a organizao de contedo. Fonte: Folha Online, 2006.

  • 38

    redes sociais (e-mail, Twitter, Facebook, blog, chat). A interatividade contribui para a criao

    e fortalecimento da imagem da empresa, alm de ser positiva para sua lembrana na mente

    dos consumidores.

    O site Midiatismo9, atravs do autor Dennis Altermann, identifica trs razes para se

    investir em marketing digital: presena online: fundamental que a empresa esteja presente

    na Internet para facilitar a vida daqueles que a procuram (estimula a viralizao da empresa);

    feedback: uma importante funo da internet criar relacionamento com os seus clientes e

    dar-lhes a opo de feedback sobre o seu trabalho; alm disso, a empresa pode fazer o

    monitoramento e a mensurao do que esto falando dela na web de forma indireta e por meio

    de diversas ferramentas acessveis, como o prprio Google e o Twitter; e interao: alm de

    der uma das principais maneiras de se obter feedback, uma das melhores formas de

    humanizar a empresa, ou seja, ficar acessvel aos consumidores, fortalecendo a marca na web.

    Embora os estudos referentes ao impacto e ao uso da Internet no marketing de

    relacionamento sejam recentes, alguns autores so destaques no artigo de Lages (2004):

    Shankar, Smith e Rangaswamy identificaram a quantidade de informaes disponveis nos

    websites como o nico fator a exercer impacto positivo sobre a satisfao do consumidor,

    enquanto a interatividade considerada uma caracterstica positiva do meio online no teve

    efeito significativo na satisfao. No entanto, os autores reforam que possvel a

    interatividade exercer papel mais significativo no aumento da satisfao dos consumidores,

    caso haja uma maior personalizao dos contedos dos web sites.

    Por outro lado, Hoffman, Novak e Peralta perceberam que a Internet possui trs

    importantes aspectos que podem causar efeito positivo sobre o desenvolvimento de

    relacionamentos e at mesmo da lealdade: disponibilidade de informaes, convenincia de

    compra e ateno/fixao que o website pode exercer sobre o consumidor (LAGES, 2004, p.

    88). J Beri concluiu que a confiana no website est relacionada com a confiana nas prticas

    e polticas da empresa: A confiana influencia positivamente tanto o desenvolvimento de um relacionamento duradouro, quanto a lealdade do cliente para com a empresa. Alm disso, observou que a percepo dos consumidores sobre a competncia operacional do website no est relacionada positivamente com a confiana no mesmo (LAGES, 2004, p. 89).

    Com a rpida evoluo da tecnologia, vive-se a revoluo da comunicao, no qual os

    consumidores no so mais meros consumidores que desejam que seus interesses sejam

    atendidos. Eles passaram as ser percebidos como pessoas que colaboram com as prticas da 9 www.midiatismo.com.br

    http://www.midiatismo.com.br/quemhttp://www.midiatismo.com.br/

  • 39

    empresa no mercado. Na era da participao, as pessoas criam e consomem notcias, idias e

    entretenimento (KOTLER, 2010, p. 7).

    O que h hoje uma cultura da colaborao: os consumidores herdaram a posio de

    geradores de informao, influenciando na produo de contedo e na gesto do

    conhecimento pelas organizaes. Conclui-se, a partir disso, o quanto imprescindvel a

    empresa estar presente no ambiente online e desenvolver aes de relacionamento, a fim de

    estreitar laos com seus seguidores, amigos, fs e internautas e fortalecer os laos j

    existentes no ambiente offline com seus clientes.

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    4 CLUBE DO ASSINANTE ZERO HORA

    Com a finalidade de estudar as estratgias de fidelizao do Clube do Assinante do

    jornal Zero Hora, buscou-se por meio de uma penetrao no ambiente da empresa, de

    pesquisas, de entrevistas e de materiais cedidos por ela, coletar dados suficientes para realizar

    um estudo de caso. Porta