Livro Viarco 208-233

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7 210 211 FBAUP Maus Hábitos VIARCO 212 Atelier Rato Fusível Espaço Ilimitado Extéril 213 “Não me dou com ninguém, por isso não passei o lápis (…) eu faço a minha história, ao passar o testemunho a outros numa acção colectiva, estou a falsificar o meu entendimento sobre as coisas.” “I don’t have many close relations, so I didn’t hand on the pencil (…) I make by own history, by handing down my testimony in a collective action, I am falsifying my understanding of things”. 214 [DP] 215 [JMCA]

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If it depended on the first name on the list, this would undoubtedly be the shortest of the journeys. From the first, Pedro Cabrita Reis assumed that he would not pass the pencil. Why? In his own words: “(…) firstly, because nobody gave it to me; secondly, passing the evidence to others in a collective action would be to falsify my understanding of things. This [complicity and affection] is freaky. Cabrita Reis is thus revealed as direct, honest and intransigent, a major name in Portuguese contemporary art. One of the most coherent and complex journeys on the national scene, the road travelled by Pedro Cabrita Reis is at all levels extremely personal, as well as one of the most complete. He is a multi-faceted artist who moves around with agility and intelligence equally in painting and in sculpture, in installation and in photography.

Given the refusal of Cabrita Reis to enter into the game, it was up to Daniel Pires, director of Maus Hábitos, to restart the process. This is, in fact, the closest pencil to this space, since all the following artists have passed through it. From its initial moment in 2001 that Maus Hábitos has revealed itself to be a fundamental player in the process of solidifying the independent artistic scene that emerged at the end of the 20th century in Porto and has been reaching maturity in recent years. It was in this space and other unavoidable havens around it that, in their formative years, the following names turned.

In a process that denotes the implicit synergies of the VIARCO Express project, it was decided to pass the pencil to Ricardo Pistola, artist born in São João da Madeira, where he also works. The passing to Mafalda Santos and Mariana Moraes and the subsequent journey of the pencil shows strong ties of friendship and complicity of a group in which they all know each other well, having shared projects, ideas and spaces for years. Mafalda Santos and Mariana Moraes have known each other since adolescence, when they were students at the Soares dos Reis Art School. All of these artists have in common a passage through FBAUP. The Faculty of Fine Arts of Oporto is, among other things, common to seven of the nine names that make up this second part of the list; only Isaque Pinheiro and João Baeta have no direct connection with this institution.

The pencil reaches Isaque Pinheiro after being passed by Mariana Moraes. Being one of the three partners of Maus Hábitos, his presence and contact with the rest of the names is everlasting. The bridge between FBAUP and Maus Hábitos is a two way highway, constantly crossed; Isaque passes the pencil to Rute Rosas, assistant professor of sculpture at FBAUP, who sends it to João Baeta, one of the founders of Maus Hábitos. Baeta also works as a programmer for Espaço Ilimitado, one of the projects linked to the artistic diffusion that marks out the medium in Oporto. The pencil then reaches Samuel Silva, sculptor of the new generation of FBAUP, whose work was exhibited at Espaço Ilimitado (Retrospectiva, 2009). Samuel Silva will pass the pencil to Luís Figueiredo; both attended the collective Está a Morrer e Não Quer Ver (2009), commissioned by Manuel Santos Maia for Espaço Campanhã. The pencil will end up with Pedro Barbosa, who with Luís Figueiredo runs the collective project Atelier do Rato Fusível.

The map constructed for this pencil’s journey is an example of the type of artistic dynamic that has been developing in Porto over the last ten years, following a logic of collectivism and own initiatives, creating autonomous spaces and an intricate network of contacts which is not restricted to Porto or Portugal. It is interesting to note something that is, certainly, the institutionalisation of independence as a paradigm of work. The archipelago as response to the island, the network as response to the direct line, in what can be prefigured as a possible future for contemporary art in Portugal.

Individual and collective

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Se dependesse do primeiro nome da lista, este seria sem dúvida o mais curto dos percursos. Pedro Cabrita Reis assumiu desde o primeiro momento que não passaria o lápis. Porquê? Nas palavras do próprio: “ (…) primeiro, porque não me dou com ninguém; segundo, ao passar o testemunho a outros numa acção colectiva estaria a falsificar o meu entendimento sobre as coisas. Isso [a cumplicidade e a afectividade] é uma fricalhada.” Directo, honesto e intransigente, assim se revela Cabrita Reis, um nome maior da arte contemporânea portuguesa. Um dos percursos mais coerentes e complexos do panorama nacional, o caminho trilhado por Pedro Cabrita Reis é a todos os níveis extremamente pessoal, bem como um dos mais completos, sendo um artista multifacetado que se move com igual agilidade e inteligência na pintura como na escultura, na instalação como na fotografia.

Dada a recusa de Cabrita Reis em entrar no jogo, coube a Daniel Pires, director do Maus Hábitos, reiniciar o processo. Este é, de resto, o lápis mais próximo desse espaço, tendo todos os artistas seguintes passado por lá. Desde o momento inicial em 2001 que o Maus Hábitos começou a configurar-se como uma peça fundamental no processo de solidificação da cena artística independente que emergiu no fim do século XX na cidade do Porto e que tem vindo a atingir a maturidade nos últimos anos. Foi à volta deste e de outros abrigos incontornáveis que, nos seus anos formativos, orbitaram os nomes que se seguem.

Num processo que denota as sinergias implícitas do projecto VIARCO Express, decidiu-se passar o lápis a Ricardo Pistola, artista natural de São João da Madeira, onde desenvolve o seu trabalho. A passagem a Mafalda Santos e Mariana Moraes e o percurso subsequente do lápis denota os fortes laços de amizade e cumplicidade de um grupo em que todos se conhecem bem, partilhando projectos, ideias e espaços ao longo dos anos. Mafalda Santos e Mariana Moraes conhecem-se desde a adolescência, período durante o qual foram colegas na Escola Artística Soares dos Reis, e todos têm em comum a passagem pela FBAUP. A Faculdade de Belas Artes do Porto é, aliás, comum a sete dos nove nomes que compõe esta segunda parte da lista; apenas Isaque Pinheiro e João Baeta não têm uma ligação directa com esta instituição.

É justamente a Isaque Pinheiro que o lápis chega após passar por Mariana Moraes. Sendo um dos três sócios do Maus Hábitos, a sua presença e contacto com os restantes nomes é perene. A ponte entre a FBAUP e o Maus Hábitos é uma via de dois sentidos constantemente cruzada; Isaque passa o lápis a Rute Rosas, professora assistente do departamento de escultura da FBAUP, a qual o transmite a João Baeta, um dos fundadores dos Maus Hábitos. Baeta trabalha também como programador para o Espaço Ilimitado, um dos muitos projectos ligados à difusão artística que marcam o meio na cidade do Porto. O lápis chega então a Samuel Silva, escultor da novíssima geração da FBAUP, cujo trabalho esteve exposto justamente no Espaço Ilimitado (Retrospectiva, 2009). Samuel Silva passará o lápis a Luís Figueiredo; ambos coincidiram na colectiva Está a Morrer e Não Quer Ver (2009), comissariada por Manuel Santos Maia para o Espaço Campanhã. O lápis chegará a bom porto com Pedro Barbosa, que em comum com Luís Figueiredo tem o projecto colectivo Atelier do Rato Fusível.

O mapa construído pelo percurso deste lápis é exemplar do tipo de dinâmica artística que tem vindo a ser desenvolvida no Porto nos últimos 10 anos, seguindo uma lógica colectivista e de iniciativa própria, criando espaços autónomos e uma rede intrincada de contactos que não se restringe nem ao Porto, nem a Portugal. É interessante notar aquilo que é, de certa forma, a institucionalização da independência como paradigma de trabalho. O arquipélago como resposta à ilha, a rede como resposta à linha directa, naquilo que se prefigura como um futuro possível da arte contemporânea em Portugal.

Individual e colectivo

212

FBAUP

MausHábitos

VIARCO

Pedro Cabrita Reis

Ricardo Pistola

Mafalda Santos

Mariana Moraes

Isaque Pinheiro

213

EspaçoIlimitado

Atelier Rato Fusível

Extéril

Condomíniofechado

Rute Rosas

João Baeta

Samuel Silva

Luís Figueiredo

Pedro Barbosa

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Caixa de charutos de madeira com foto a preto e branco, com inscrição a grafiteGraphite on b/w photo in wooden cigar box28,5 x 16 x 5,2 cm

Pedro Cabrita Reis

“O desenho é uma disciplina mental, algo que te faz regressar a um ponto de focagem, interno. Um ponto de focagem que tem de ser permanentemente apurado, limpo, reajustado. E o desenho tem essa capacidade extraordinária de te obrigar a isso, de o simples gesto de fazer um risco nos dar uma ligação límpida e cristalina com mundo.”

“Não me dou com ninguém, por isso não passei o lápis (…) eu faço a minha história, ao passar o testemunho a outros numa acção colectiva, estou a falsificar o meu entendimento sobre as coisas.”

“Drawing is a mental discipline, something that makes you return to a focal point, internally. A focal point that has to be permanently calibrated, cleaned and readjusted. And drawing has this extraordinary capacity to get you to do this; the simple gesture of making a mark gives us a crystal clear connection to the world”.

“I don’t have many close relations, so I didn’t hand on the pencil (…) I make by own history, by handing down my testimony in a collective action, I am falsifying my understanding of things”.

[DP]

215

[JMCA]

216

s/título untitled70 x 100 cmGrafite sobre papel Graphite on paper

Ricardo Pistola

“O desenho ocupa um papel fulcral no meu trabalho, é através deste que todo o pensamento se desenvolve.”

“Drawing plays a central part in my work - this is the way that all my thinking evolves.”

[DP]

217

[JMCA]

218

Viarco Express38 x 62 cmGrafite sobre papel Graphite on paper

Mafalda Santos

[DP]

219

[JMCA]

220

Uma bela receita A lovely recipe76 x 56 cmGrafite sobre papel Graphite on paper

Mariana Moraes

“Não é um desvio porque eu acima de tudo desenho. Usei o lápis como um instrumento de escrita e desenhei amores perfeitos com os sarrabiscos resultantes da invenção de uma bela receita.”

“It is not a distraction because above all I draw. I used the pencil as a writing instrument and I drew pansies with the scribbles that result from the invention of a beautiful recipe.”

[DP]

221

[JMCA]

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O lápis The pencil100 x 70 cmGrafite sobre papel Graphite on paper

Isaque Pinheiro

“Sendo que o meu trabalho está muito direccionado para a escultura, uso o desenho como ferramenta no meu processo criativo e construtivo. O uso do desenho no meu trabalho segue uma sequência bastante lógica e serve normalmente para registar algumas ideias. Não costumo usar o desenho como um fim em si mesmo, no entanto este desafio exigiu que eu o encarasse dessa maneira e dados os resultados confesso que fiquei com vontade de explorar esta ideia.”

“Since my work is largely directed towards sculpture, I use drawing as a tool in my creative and constructive process. The use of drawing in my work follows a very logical sequence and is normally used to record some ideas. I don’t normally use drawing as an end in itself, however this challenge demanded that I face up to it, and given the results I confess I feel tempted to explore this idea”.

[DP]

223

[JMCA]

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Um crime perfeito #3 A perfect crime #330 x 25 x 7 cmCaixa de madeira com coluna de som Wooden box with loudspeaker

Rute Rosas

“Partilhamos a memória da Viarco com todos aqueles que na infância tiveram estojos de escola com os lápis com numeração para definir a dureza, ou ainda os lápis com a tabuada, ou lápis de cor com embalagens ilustradas.”

“We share our memories of VIARCO with all those who in infancy had in their pencil cases black and yellow pencils, with numbers defining their grading, or pencils with times tables, or coloured pencils in boxes with pictures.”

225

[JMCA]

226

s/título untitled50 x 65 cmGrafite sobre papel Graphite on paper

João Baeta

“O desenho é um meio estruturante no meu trabalho, uma disciplina constante.”

“Drawing provides a structure to my work, a constant discipline.”

[DP]

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[JMCA]

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O deschapelado the unhatted65 x 50 cmGrafite sobre papel Graphite on paper

Samuel Silva

“Ainda adolescente, fiz uma visita à fábrica da Viarco. Lembro-me do chão negro sujo de grafite, das argamassas moles pigmentadas, das máquinas antigas, dos milhares de lápis arrumados que geravam um padrão de cor aleatório. Tudo num espaço labiríntico e com pouca luz.”

“When I was a teenager, I visited the VIARCO factory. I remember the black floor, dirty with graphite, the soft pigmented pastes, the old machines, the thousands of laid out pencils that generated a random pattern of colour. All this within a labyrinthine space with very little light”.

[DP]

229

[JMCA]

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s/título untitled70 x 100 cmGrafite sobre papel – Graphite on paper

Luís Figueiredo

[DP]

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[JMCA]

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Auto-Retrato self-portrait50 x 65 cmGrafite sobre papel Graphite on paper

Pedro Barbosa

“O desenho é a base de todo o trabalho técnico e artístico. Uma linguagem com a capacidade especial de poder ser técnica e artística.”

“Drawing is the basis of all technical and artistic work. It is a language with the special ability to be simultaneously technical and artistic”.

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[JMCA]