Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

26
Capítulo 6 PERCEPÇAO ArENçÂo Srrsrrve IrusÕEs PpRcsmrves OnceNzeçÃo PEncnrrrve Percepção da Forma Percepção de Profundrdade Percepção de Movimento Constância Perceptiva INrrnrneraçÃo Ppncsr,rwa Privação Sensorial e Visão Restaurada Adaptação Perceptiva Conjunto Perceptivo A Percepção e o Fator Humano Exrsrp Prncnr,çÃo Exrna-sENsoRrAL? Alegações Referenles à PES PremoniçÕes ou Pretensões? Submetendo a PES à Verrficação Experimental §§*á 2.400 anos, Platão observou corretamente que nós per- -§...§{-cebemos os objetos através dos sentidos, com a mente. Para construir o mundo exterior no interior de nós mesmos, pre- cisamos detectar a energia física do meio ambiente e depois codificá-la como sinais neurais (um processo tradicionalmen- te denominado sensaçtio). Também precisamos selecionar, or- ganizar e interpretar nossas sensações (um processo tradicio- nalmente denominado percepção). Nós não apenas sen:,: as paisagens e os sons, os sabores e cheiros, nós também percebemos. Nós não ouvimos tão-somente uma misturr notas e ritmos, mas sim o choro de uma criança, o ruíd,: trânsito, o crescendo de uma sinfonia. Em resúmo. tr;n. mamos as sensações em percepções. Nós criamos o :r:- cado. ') ATENÇAO SELETIVA AlnnsnNraçÃo PnÉue: A todo momento, nossa consciência focahza, como um flash de luz, um aspecto limrtado de nossa experiêncra A percepção chega até nós de momento a momento (uma per- cepção desaparecendo enquanto outra surge). Note como a Fi- gura 6.1 evoca mais do que uma percepção. Os círculos podem ser organizados em várias imagens coerentes, cada uma igual- mente plausível, e a mente muda para trás e para Íiente, de um círculo para o outro. Vocô sabe que interpretações altemativas para esse cubo de Necker são possíveis, mas você pode experienciar conscientemente uma em cada momento. lsso ilustra um princí- pio importante: nossa atenção consciente é seletiva. Atenção seletiva significa que a qualquer momento nós fo- calizamos nossa consciência em apenas um aspecto limitado da totalidade de nossa experiência. Na verdade, vm aspecto muito Iimitado: por uma estimativa, nossos cinco sentidos recel,e: I I .000.000 bits de informações por segundo, das quais con rr - entemente processamos em torno de quarenta (Wilson. 20irl Porém, intuitivamente, nós aproveitamos muito oS ourrr: 10.999.960 bits. Até ler esta frase. você não tinha consciêncr. de que seus sapatos fazem pressão contra seus pés ou de que .'e - nariz está em sua linha de visão. Agora, repentinamente. o se: foco de atenção muda. Você sente os pés cobertos e seu narir entremetido na página à sua frente. E enquanto prestava arei- ção a estas palavras, você também estava bloqueand,r. ,. consiência, informações oriundas de sua visão periféricr. )'.1_ você pode mudar isso. Enquanto olha fixamente para ,- ' .,, abaixo, note o que circunda o livro (as bordas das pá_sin".. tampo da escrivaninha etc.). x

Transcript of Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

Page 1: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

Capítulo 6

PERCEPÇAO

ArENçÂo Srrsrrve

IrusÕEs PpRcsmrves

OnceNzeçÃo PEncnrrrvePercepção da Forma

Percepção de Profundrdade

Percepção de MovimentoConstância Perceptiva

INrrnrneraçÃo Ppncsr,rwaPrivação Sensorial e Visão RestauradaAdaptação PerceptivaConjunto PerceptivoA Percepção e o Fator Humano

Exrsrp Prncnr,çÃo Exrna-sENsoRrAL?Alegações Referenles à PES

PremoniçÕes ou Pretensões?

Submetendo a PES à Verrficação Experimental

§§*á 2.400 anos, Platão observou corretamente que nós per--§...§{-cebemos os objetos através dos sentidos, com a mente.Para construir o mundo exterior no interior de nós mesmos, pre-cisamos detectar a energia física do meio ambiente e depoiscodificá-la como sinais neurais (um processo tradicionalmen-te denominado sensaçtio). Também precisamos selecionar, or-ganizar e interpretar nossas sensações (um processo tradicio-

nalmente denominado percepção). Nós não apenas sen:,:as paisagens e os sons, os sabores e cheiros, nós tambémpercebemos. Nós não ouvimos tão-somente uma misturrnotas e ritmos, mas sim o choro de uma criança, o ruíd,:trânsito, o crescendo de uma sinfonia. Em resúmo. tr;n.mamos as sensações em percepções. Nós criamos o :r:-cado.

')

ATENÇAO SELETIVAAlnnsnNraçÃo PnÉue: A todo momento, nossa consciênciafocahza, como um flash de luz, um aspecto limrtado de nossaexperiêncra

A percepção chega até nós de momento a momento (uma per-cepção desaparecendo enquanto outra surge). Note como a Fi-gura 6.1 evoca mais do que uma percepção. Os círculos podemser organizados em várias imagens coerentes, cada uma igual-mente plausível, e a mente muda para trás e para Íiente, de umcírculo para o outro. Vocô sabe que interpretações altemativas paraesse cubo de Necker são possíveis, mas você só pode experienciarconscientemente uma em cada momento. lsso ilustra um princí-pio importante: nossa atenção consciente é seletiva.

Atenção seletiva significa que a qualquer momento nós fo-calizamos nossa consciência em apenas um aspecto limitado datotalidade de nossa experiência. Na verdade, vm aspecto muito

Iimitado: por uma estimativa, nossos cinco sentidos recel,e:I I .000.000 bits de informações por segundo, das quais con rr -

entemente processamos em torno de quarenta (Wilson. 20irlPorém, intuitivamente, nós aproveitamos muito oS ourrr:10.999.960 bits. Até ler esta frase. você não tinha consciêncr.de que seus sapatos fazem pressão contra seus pés ou de que .'e -nariz está em sua linha de visão. Agora, repentinamente. o se:foco de atenção muda. Você sente os pés cobertos e seu narirentremetido na página à sua frente. E enquanto prestava arei-ção a estas palavras, você também estava bloqueand,r. ,.consiência, informações oriundas de sua visão periféricr. )'.1_

você pode mudar isso. Enquanto olha fixamente para ,- ' .,,abaixo, note o que circunda o livro (as bordas das pá_sin"..tampo da escrivaninha etc.).

x

Page 2: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

&§ff

ffiM%o

d*#&qffi

%*

Fig. 6.1 Atenção seletivaO que você vê: cÍrculos contendo linhas brancas ou um cubo? Sevocê olhar atentamente para o cubo, poderá notar a reversâo nalocalização dele, movendo o pequeno X que se encontra no centroda aresta frontal para a aresta de trás. Algumas vezes o cubo pare-ce flutuar na ftente da página, com os cÍrculos localizados atrás dele;outras vezes, os círculos podem se transformar em buracos napágina, através dos quais o cubo aparece, como se ele estivesseflutuando atrás da página. Uma vez que a atenção é seletiva, só épossÍve1 ver uma interpretação de cada vez. (De Bradley eú afti,1e76.)

Outro exemplo de atenção seletiva, o efeito cocktail party, éa capacidade de atentar seletivamente para apenas uma voz en-tre muitas. Imagine ouvir duas conversas em um fone de ouvi-do, um em cada orelha, e lhe pedirem que repita a mensagem daorelha esquerda enquanto ela é falada. Enquanto presta atençãoao que está sendo dito na orelha esquerda, você não perceberá oque é dito na orelha direita. Se mais tarde the peÍguntarem quelíngua era falada na orelha direita, você pode não lembrar (em-bora possa dizer o gênero do locutor e a intensidade da voz). Nonível da percepção consciente, qualquer coisa que chame suaatenção receberá sua atenção por inteiro. Isso explica por que,

PERcEpÇÃo 167

em um experimento na University of Utah, os estudantes quefalavam ao celular eram mais lentos para detectar e responderaos sinais de trânsito durante uma simulação de direção (Strayer& Johnston,200l).

Isso também é verdade para os outros sentidos. Da imensacoleção de estímulos visuais à nossa frente, nós selecionamosapenas alguns para processar. Ulric Neisser (1919) e RobertBecklen e Daniel Cervone (1983) demostraram essa seletivida-de por meio de um experimento. Eles mostraram a algumas pes-soas um videoteipe de um minuto em que imagens de 3 homensde camisas pretas lançando bolas de basquete eram sobrepostasàs imagens de 3 homens de camisas brancas fazendo a mesmacoisa. Eles solicitaram aos espectadores que apertassem umbotão toda vez que os jogadores de camisas pretas passassem abola. Na metade da fita, uma jovem portando uma sombrinhapasseou pela tela. A maioria das pessoas havia prestado tantaatenção aosjogadores de camisas pretas que não notaram ajo-vem. Quando os pesquisadores reprisaram a fita, elas ficaramsulpresas ao ver a moça.

Em outros experimentos, as pessoas também exibem uma sur-preendente falha na percepção em tomar ciência dos aconteci-mentos situados em seus campos de visão. Depois de uma bre-ve intem.rpção visual, uma garrafa grande de Coca-Cola podedesaparecer da cena, um parapeito pode subir, as roupas podemmudar de cor, e, quase sempre, os espectadores não notam(Resnick et alii,1997; Simons, 1996; Simons & Levin, 1998).Essa cegueira para mudança também ocorre entre pessoas queestão orientando trabalhadores da construção civil: dois terçosdeles não percebem quando tais trabalhadores são substituídospor outros (Figura 6.2).Longe dos olhos, longe do coração.

Será que os estímulos que não notamos podem nos afetar?Na verdade, podem. Em um expedmento, estudantes do sexofeminino ouviram com fones de ouvido parte de uma conver-sa transmitida para uma das orelhas. Sua tarefa era repetir aspalavras em voz alta e checá-las com a versão escrita (Wilson,i979). Enquanto isso, aigumas canções recentes tocavam naoutra orelha. As canções não eram subliminares - as estudan-tes podiam ouvi-las facilmente. Mas com as atenções seleti-vamente centradas na conversa, as estudantes não estavam maiscientes das canções do que você normalmente está de seus sa-patos. Portanto, quando elas ouviram essas canções mais tar-de, entremeadas com outras canções novas, elas não puderamreconhecê-las (assim como não podemos lembrar de conver-

e%reW

&re7

*§k*.W

Fig. 6.2 Cegueira para mudançaEnquanto um homem (usando óculos) dá tnstruçÕes para um trabaihador da construção civi1, dois pesquisadores passam ruclementeentre eles carregando uma porta. Durante essa interrupção, o trabaihador original é substituído por outra pessoa usando roupas dife-rentes. A maioria dos sujeitos, concentrados nas instruçÕes que estão dando, não nota a mudança.

t-/

Page 3: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

168 CAPÍruLo SErs

sas às quais não prestamos atenção). No entanto, quando lhessolicitaram que avaliassem o quanto gostaÍam de cada canção,elas preferiram as cançóes tocadas previamente. Suas prefe-rências revelaram o que suas memórias conscientes não pude-ramfazer.

Em outros experimentos, ouvintes atentam para uma men-sagem ambígua soprada em uma de suas orelhas (tal como "Nósficamos perto do banco"). Quando uma palavra perlinente Qtraça

ott dinheiro) é enviada simultaneamente para a outra orelha -não atenta - os ouvintes não a percebem conscientemente. Noentanto, a palavra influencia suas interpretações das frases am-bíguas (Baars & McGovern, 1994). Embora a percepção exijaatenção, às vezes até estímulos para os quais não se está atentopossuem efeitos sutis. Além disso, se alguém em uma festa ba-rulhenta diz seu nome em tom audível, seu sistema perceptivopode trazer a voz à consciência.

ArexÇÃ* §srs:iivaA lri:lo rrt:i:rclto nó§ eslamos co:tscienies cle r_rr:a quenl.iila.de niúiiúlimilada de tuclc aciui]c q, '; ; úrr . F Jdl:.ar:-í s ;.: l.,pei:imer:i,aL. IJmexemplc dessa aienção seleiiva. é o sÍe:to r:ocktaii party ou seja,o iiiiecicnariienic di,r i,riençào parã uiÍtit única vrz etlre inuliasTcste a §i §,{esmc: Sei; amigc lnsili.e em rllzel cr-la çi:a.rr:ou vocâpâia jaxlar Çn(pa"nlo voc;ô assislia à lele'risãc ateniamente. C fai,c i.levccô uão iê-1o p-sp*1ir;.o é un cxen:llo cJ.e eslirurlacno siibliirtnai?

Pergu-nte a §i Mes:na: Vi:cê ci.,niiegrre se lerebrat cie algiir-.Il]c:lÊrrr! tec-Êare q'rianilo você não i]ercelteu algum accniect-i,erlo i:a,vez r-ina icr, a ai;icxiilaÇão cre a1g,;érl cr: a rn-iisicacie furrclcr rar êsiâ,r coni s'i.â âleriÇãc voharia lara ouiro fail:riuakiuet?

lisspcsii,: ;1, r'esie a Sr ii,I.rstr,, , -r sÊr -r ,t-'r : L, : r.t rpêlr;ice stiualria t :liJr;r i irrr l:vr i:

§EVBJA E REF'LT?.*,

ILUSÕES PERCEPTIVASUma vez atentos a cefios estímulos, como nós os organizamosem percepções significativas? No final do século XIX, quandoa psicologia surgia como uma disciplina distinta, as ilusões per-ceptivas fascinavam os cientistas: por que vemos ilusões mes-mo sabendo que são ilusões? E elas ainda fascinam os cientis-tas, porque as ilusões revelam o modo como nós normalmenteorganizamos e intetpretamos nossas sensações. Considere es-tes sete quebra-cabeças perceptivos:

Quebra-cabeça 1 A seguir temos uma adaptação de umailusão clássica crrada em 1889 por Franz Müller-Lyer. Umdos segmentos - AB ou BC - parece mais longo? para amaioria das pessoas os dois segmentos parecem ter o mes_mo tamanho. Surpresal Eles não têm. Como sua régua podeconfirmar, o segmento AB é mais iongo do que o segmentoBC. Por que os seus olhos iludiram você? (Mais adianie vocêpoderá descobrir a razão.)

Quebra-cabeça 2 A seguir temos duas fotos sem retoquesdas mesmas meninas, no mesmo ambiente. A câmera mos-tra a você essas cenas do mesmo modo que você as veria se

estivesse olhando para dentro da sala através de um olho-mágico. Por que as meninas parecem mudar de tamanhoquando trocam de lugar? (Aguarde um pouco, pois o estudoda Figura 6.15, mais adiante, permitirá a você descobrir a res-posta.)

Quebra-cabeça 3 Será que o Arco da Entrada de St. Louis- a maior ilusão do mundo construída por homens - é maisalto do que largo? Ou mais largo do que alto? Para a maioriaele parece mais alto. Na verdade, a altura e a largura sãciguais. Novamente, a visão é enganadora. por quê? (A seç:;sobre Percepção de Profundidade retomará esse fenômeno.

§oc6E!C

I

,9cc

E

o

_soU

ó!oço

tsx@ó

õ=>=

Page 4: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

Luz do sol ao meio-dia

Quebra-cabeça / Pilotos de aviões, capitães de navios ernotoristas de automóveis percebem seus aredores submeti-dos a visibilidades variadas. Quando suas percepções ou rea-cões er:ram - como acontece em muitos acidentes com aviõescomerciais (Adler, 1989) - os resultados podem ser devasta-dores. Para estimular os julgamentos de distâncias, a psicó-ioga Helen Ross (1975) tincou discos brancos no gramadoda Hull Univesity, na Inglaterra. e pediu a transeuntes queestimassem as distâncias ertre eles. Aqueles que julgaramasdistâncias no nevoeiro denso da manhã acharam que os dis-cos estavam mais afastados do que acharam aqueles que fi-zeram suas estimativas ao meio-dia com luz do sol. Da mes-ma forma, as pessoas superestimam a distância das luzes tra-seiras dos carros em condições de nebulosidade (Cavallo eralii, 2001 ). O que isso sugere a respeito do modo como nósnormalmente julgamos as distâncias? (A seção sobre percep-

ção de Profundidade explica a percepção de distância.)

Experimento de julgamento de distância de Ross

PERCEpÇÀo 169

ii

Quebra-cabeça 6 Os verdadeiros criadores da realidadevirtual não são os cdadores de software,r, Ílas os cérebros quedesenvolvem truques, construindo realidades virtuais. A on-dulação, da Visual Intelligence (1998) de Donald Hoffman,é um desenho bidimensional plano. Mas você o percebe comosendo plano? Não facilmente. Seu cérebro insistirá em criaruma ondulação que não se encontra 1á. E irá construí-la deum modo bem diferente se você virar o livro de cabeça parabaixo. "Será que seu sistema visual enlouqueceu?", pergun-ta Hoffman. "Com um papel plano ele constrói uma ondula-ção no espaço e ainda o decora com par-tes modificáveis. Seráque daqui por diante devemos desconfiar de testemunhasoculares, sabendo agora que podem prestar falsos testemu-nhos?" (p. 3). A ilusão de ondulação é, em parte, uma supo-sição acerca das fontes de luz.

Quebra-cabeça 7 As ilusões ocorrem com os outros senti-dos também, conforme o psicólogo alemão Wilhelm Wundt in-dicou há mais de um século. Wundt ficou intrisado com o fatode as pessoas ouvirem as batidas constantes dJum metrônoÀoou relógio como se fossem uma repetição de um ritmo de dois,três ou quatro compassos. Em vez de ouvirem um cliqr,re-clique-clique-clique não acentuado, alguém poderia, por exem-plo, ouvir CLIQUE-clique CLIQUE-ctique CLIeUE-ctique.Embora uma batida constante chegue à orelha, cada ouvintemodela inconscientemente um padrão auditivo. eue princípioperceptivo opera neste caso? (Ver Percepção da Forma.)

A ênfase da psicologia sobre ilusões visuaís reflete a pree-minência da visão entre nossos sentidos. euando a visão com-pete com outras sensações, a visão normalmente ganha - um fe-nômeno denominado captação visual. Pessoas usando prismasque descolam o mundo visual para um lado percebem suas màosonde elas as yêem e não onde elas realmente estão. Elas tam-bém podem sentir um toque onde vêem o toque acontecendo enão onde e1e realmente aconteceu (Pavani et a/li, 2000). Se osom de um filme vem de um projetor que está localizado às

ollI.\\l/,/, EÊE\ \ ' / eõ-.tll, ,/, Sl:

rN\ §r t//.- 2 3gFr\\ ,\. /-'/ Êetr \ / , R=çt\\' ,/ :;"F3I \ @ o c;

35ã"5

oTE

triC

_q

Io.§

to

oôL

35

qLoBao

U o;oiiÊl**,õ; :

,E ;6Eõê

a, ooõv

Y< 9

Distânciapercebida

em metrosA distância percebidaé maior no nevoeiro

"' Nevoeiro damanhã

Luz do solao meio-dia

5 .Í0 15 20 25 30Distância real em metros

Quebra-cabeça 5 Temos aqui outra construção cerebralde realidade virtual, descrita em 1935 por Hans Wallach.Você vê, na ilustração a seguir, uma cobrinha serpenteandoatravés das retas? A cobrinha ilusória é simplesmente as re-tas curtas da figura à esquerda às quais se acrescentaram asretas maiores. Qualquer outra coisa que você perceba é umproduto de sua "mente criativa" (Hoffman, 1998). (Estude adefinição dos princípios de agrupamentos na seção Organi-zação Perceptiva.)

'15

10

Nevoeiro da manhã

Page 5: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

170 CAPiTlrr-o SÊrs

nossas costas, nós mesmo assim o percebemos como vindo datela, onde yemos os atores falando (muito similar ao que acon-tece quando nós percebemos uma voz do boneco do ventrílo-quo). Ao assistir a um passeio em uma montanha-russa em uma

tela grande e circular, nós podemos nos agarraÍ ao assento,embora nossos outros sentidos nos digam que não estamos nosmovendo. Em cada caso aqui citado a visão capta os outros sen-tidos.

modo ascendente a partir de células detectoras especializadas e

de modo descendente apartir de nossas suposições. O córtex deum macaco, por exemplo, possui células especializadas que res-pondem a contornos ilusórios semelhantes àqueies mostradosna Figura 6.3 (Wenderoth, 1992; Winckelgren,1992).

Ao fazer leituras adicionais sobre os princípios organizacio-nais dos psicólogos da Gestalt, tenha em mente a verdade fun-damental que eles ilustram: a função do cérebro é mais do queregistrar informações sobre o mundo. A percepção não é ape-nas a impressão de uma imagem no cérebro. Nós estamos cons-tantemente filtrando informações sensoriais e inferindo percep-

ções de modo que façam sentido para nós. E, nesse contexto, a

mente exerce um papel fundamental.

PEncEr,çÃo DA FoRMAImagine projetar novos sistemas de vídeo/computadores que,como o seu sistema olho/cérebro, possam reconhecer rostos de

relance. Que competências eles precisam ter?

Figura e FundoPara começar, os sistemas precisam reconhecer os rostos comodistintos de seus panos de fundo. Da mesma forma. nossa pri-meira tarefa perceptiva é perceber qualquer objeto (figura) comodistinto de seus arredores (fundo). Entre as vozes que você ouveem uma festa, aquela que the chama a atenção se torna a figura;todas as outras tornam-se parte do fundo. Enquanto lê, as paia-vras são a figura; o papel branco, o fundo. Na Figura 6.4, are-lação figura-fundo reverte continuamente - mas nós sempreorganizamos o estímulo em uma figura vista contra um fundo.Tais ilustrações de figura e fundo reversíveis demonstram no-vamente que o mesmo estímulo pode disparar mais de uma per-cepção.

AgmpamentoTendo discriminado a figura do fundo, nós (e nosso sistema devídeo/computador) precisamos organizar a figura em uma for-ma significativa. Alguns aspectos básicos de uma cena - comocor, movimento e contrastes claro/escuro - são processadosautomática e instantaneamente (Treisman, 1987). Para trazer

O RGANIZAÇAO PERCEPTIVAArnnsrNreçÃo Púvu: Para transformar informaçÕes senso-riais em percepçÕes signÍficativas, nos precrsamos organízá-las.nós devemos perceber os objetos como dlferenles de seu meio,vê-los como tendo forma constante e sigruficatrva, e dÍscernirsuas drstâncias e movrmentos. A hlpótese de que o cérebro con-tem reglas para a construção de percepçÕes explica os quebra-cabeças perceptivos citados anteriormente.

No início do século XX, um grupo de psicólogos alemães ficouintrigado com o modo como a mente organiza sensações empércepções. A partir da multiplicidade de sensações, o observa-dor humano as organiza em Llma gestalt * termo alemão quesignifica "forma" ou "totalidade". Os psicólogos da Gestalt for-neceram demonstrações indiscutíveis da percepção de gestalt e

descreveram os princípios pelos quais organizamos nossas sen-sações e percepções. Por exemplo, observe novamente a Figura6.1. Note que, na realidade, os elementos individuais da figurasão apenas oito círculos, cada um contendo três linhas brancasconvergentes. No entanto, quando vemos linhas e círculos reu-nidos em uma configuração, vemos tma totalidade, tma for-ma, um cubo de Necker.

Os psicólogos da Gestalt afirmam que, na percepção, o todopode exceder a soma de suas pafies. Combine sódio, um metalcorrosivo, com cloro, um gás venenoso, e algo muito diferenteemerge - o sal de cozinha. Do mesmo modo, uma forma singu-lar percebida emerge dos componentes de um objeto (Rock &Palmer, 1990).

Nossa ânsia para unir traços visuais em formas completas en-volve um processamento inferior (.bottom-up), começando comuma análise sensorial no nível de entrada, bem como um pro-cessamento superior (top-down') que usa nossas experiências e

expectativas para interpretar essas sensações. Mas quanto maisaprendemos sobre esse sistema de processamento de informa-ção, mais vaga fica a distinção etÍre sensaçdo e percepçtio. Asensação não é apenas um processamento inferior, e a percep-

ção não é apenas um processamento superior. Sensaçào e per-cepção se misturam em um processo contínuo, processando de

Fig. 6.3 Contornos ilusoriosVocê precisa olhar atentamenle para ver que não há linha verticalno meÍo desta figura. O cortex visual primário do cérebro dos ma-cacos contém células que respondem a tars contomos ilusórlos. Fig. 6.4

oi

@

,=

Figura e fundo reversíveis

Page 6: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

Proximidade

!i lii§llii

Serneihanca

HHH

e

I

,E

Ea@aÀ

.9

Oai

É

@U

o

ill

E'

Boa continuidade(ou seqüência)

Ligação

Fig. 6.5 Organizando os estímulos em grupos-,Jós poderiamos perceber os estímulos moslrados aqui de várias:nanerras, ainda que as pessoas. onde quer que estejam, os velamle maneira simrlar. Os gestahistas sustenlavam que essa slmrla-:rdade demonstra que o cérebro faz uso de "regras" para organlzara informação sensoriai em totalidades.

ordem e forma para essas sensações básicas. nossa mente obe-dece a certas regras de agrupamento de estímulos (Figura 6.5).Essas regras, identiÍlcadas peios psicólogos da Gestalt e aplica-da até por bebês de 6 meses, ilustram a idéia de que o tocio per-cebido difere da soma de suas partes (Quinn er allr, 2002: Rock& Palmer. 1990):

Proximidade Nós reunimos em grupos as figuras que sãopróximas. Nós não vemos seis Iinhas separadas, mas trêsgrupos de duas linhrs.

Semelhança Nós reunimos em grupos as figuras que sãosemeihantes. Nós vemos os triângulos e os círculos comocolunas verticais de formas semelhantes. não como filas ho-rizontais de formas diÍ'erentes.

Boa continuidade (ou seqüência) Nós percebernos pa-drões contínuos e suaves em vez de padrões descontínuos.Esse padrão poderia ser uma série de semicírculos altema-dos, mas nós o percebemos como duas linhas contínuas - umaondulada, outra reta.

Ligação Nós percebemos linhas, áreas ou pontos comouma única unidacie quando eles são unitbrmes e encadeados.

Fechamento (ou closura) Nós preenchemos espaços embranco para criar um objeto completo. inteiro. Assim, assu-mimos que os círculos da ilustração estão completos masparcialmente obstruídos pelos (ilusórios) triângu1os. Se vocêacrescentar pequenos segmentos de linhas que Í'echem oscírculos seu cérebro não construirá triânsulos.

PERCFPCÀo 17l

Fig. 6.6 Princípios de agrupamentoVocê provavelmente p-orcebe essa casinha de cachorro como umaGeslalt, ou seja, como uma estrutuia completa (en-rbora rmpossÍ-ve1). De fato. seu cérebro rmpÕe esse senso de tolahdade à figura.De acordo com o que a foto da casinha de cachorro situada maisachanle rrá most:rar, os prrncÍpios gestaltistas de agrupamento (fe-chamento ou closura e conlinuidade) esÉo atuando neste caso

Normalmente, esses princípios de agrupamento nos ajuclama construir a realidade. As vezes. porém, eles podem nos en_qa-nar, coilro aconteceu corn nossa percepção da cobrir.rhar de néonno quebra-exposta cabeça -5, ciu quando olhantos para a casinhade cachorro na Figura 6.6.

PEncEr,çÃo DE PRoFUNDTDADElmagens bidimensionais entram em nossas retinas, porém nósde algum modo organizarllos percepções tridimensionais. Avisão dos objetos em três dimensões. denominada percepçãode profundidade, possibilita-nos estimar suas distâncias emrelacão a nós. Com uma rápida olhadela, estimamos a distânciade um caro vindo em nossa direção ou a altura de uma caser.Essa competência é parciahnente inata. Eleanor Gibson eRichard Walk (1960) descobriram isso usando a miniatura cieum penhasco cont o declive coberto por um vidro grosso. Ainspiracão para esses experimentos ocorreu a Gibson enquantoela fazia um piqueniclue à beira do Grand Canyon. Ela imagi-nou: serii que ao olhar por cima da beira c1e um penhasco umacriança peqllena perceberia o perigo do penhasco e recuaria?

De volta ao laboratório na Universidade de Cunell. Gibson e

Walk colocaram bebês de 6 a 14 meses na beira de um clesÍlla-deiro seguro r-rnt penhasco visual (Figura 6.7). As mães entãopersuadiam as crianças a engatinhar para o tampo de vidro. Arnaioria se recusou a fazê-lo. indicando qLre podiam perceber pro-fi-Lndidade. Supõe-se que, na idade de engatinhar. os bebês renhamttprendido a perceber profundidade. Porém, anirnais recém-nas-cidos com quase nenhuma experiência visr:al - incluindo gatos.cabritos com um dia de vida e pintos recém-saídos da casca -respondem de modo semeihante. Sob circunstâncias norm;ris. cadaespécie. quando alcança a mobilidade, possui a cornpetência

\R )l\\rlo

o

-a

Page 7: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

172 C.qpírur-o Srrs

Fig. 6.7 Penhasco visualEleanor Glbson e Rrchard Walk projetaram essa minialura de um penhasco com r-rm declive coberto por um vrdro para determinar se

bebês que já engatinhavam e anrmais recém-nascidos podram perceber profr-Lndidacie Mesmo quando persuadrdos, os bebês reluta-

vam em avenlulal-se sobre o vidro e alravessar o penhasco

õI

perceptive de que precisa. Além disso, durante o primeiro mês de

vida, os bebês humanos giram para evitar objetos que venham em

sua direção, mas peÍrnanecem imperlurbáveis por qualquer coisa

que se aproxime por um ângulo que não os atingiria (Ball &Tronick, 1971). Com 3 meses de idade eles estão usando os prin-

cípios gestaltistas da percepção, olhando mais tempo para os no-

vos agrupamentos de objetos (Quinn et alíi,2002).A maturação biológica predispõe nossa precaução contra al-

turas e a experiência a amplitica. A precaução dos bebês aumenta

com as experiências do engatinhar, independentemente de quan-

do comecem a engatinhar. Quando os bebês passam de

engatinhar para andar, eles ficam ainda mais cautelosos com

alturas (Carnpos et alii,1992).Como fazemos isso? Como transfomramos duas imagens reti-

nianas bidimensionais diferentes em uma únicapercepção tridimen-

sional? Alguns indicadores de profundidade - indicadoresbinoculares - requerem ambos os olhos. Outros - os indicadoresmonoculares - estão disponíveis em cada olho separadamente.

Indicadores BinocularesTente fazer isto: com os olhos abertos, segure dois 1ápis diante

de seu rosto e encoste as pontas dos lápis uma na outra' Agora

§§&SS' l;**5o;ç;Sii§r

faça o mesmo com um olho fechado. A tarefa deve Íicar bem

mais difíci1, demonstrando a importância dos indicadoresbinoculares ao julgar as distâncias de objetos próximos. Dois

olhos são melhores do que um.Como nossos olhos estão a uma distância de aproximadamente

6 centímetros um do outro, nossas retinas recebem imagens ligei-

ramente diferentes do mundo. Quando o cérebro compara essas duas

imagens, a diferença entre elas - sua disparidade retiniana - for-

n"cé urn indicador imporlante para a distância relativa de objetos

diferentes. Quando se coloca o dedo diretamente em fiente do na-

riz, as retinas recebem imagens bem diferentes. (Você pode ver isso

se f-echar um olho e depois o outro, otl criar um dedo salsicha como

na Figura 6.8.) A uma distância maior - digamos, quando o dedo

está à distância de um braço - a disparidade é menor.

Os produtores dos fiimes em 3-D (tridimensionais) simulamou exageram a disparidade retiniana as fotografarem uma cena

com duas câmeras posicionadas a poucos centímetros de distân-

cia (uma característica que podemos querer construir em nosso

computador dotado de percepção). Quando vemos o filme atra-

vés de um dispositivo que permite ao olho esquerdo ver apenas

a imagem da câmera à esquerda e ao olho direito ver apenas a

imagem da câmera à direita, o efeito 3-D imita a disparidade

Fig. 6.8 A "salsicha de dedos"Manienha os dors dedos indicadores cel-ca de 12,5 centÍmetros à fiente de se-solhos, deixando um intervalo de 1 cen:,-rne-ro dê disLâncja enLre as sUâs p00 c:Agora olhe para além deles e obsetve :

estranho resultado. Mova seus dedos pa:..

mais longe e a disparidade retiniana -..

"salsicha de dedos" diminulrá.

Page 8: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

::g 6.9 Dois olhos * cérebro : profundidade. rcê tiver difrculdade para ver a imagem em 3-D, tente manter

. ,-"iJra proxima de seu rosto, de modo que o centro dela toque seu:-.ariz, então desloque-a lentamente para trás sem mudar o foco deseus olhos. A imagem en.r 3-D deve surgrr a uns 30 cenlímetros de

seu rosto A imagem aparece porque a figura contém duas pers-peclivas da letra psr, a partir de ângulos ligerramenle diferentes.Ouando o cérebro funde essas duas perspectivas da lelra em uma,você vê a imagem em três dimensÕes (Algumas pessoas conseguem reverter a profundrdade ao relaxar e olhar atraves da ima-gem como se estlvesse fixando o olhar em um ponto atras dela.)

retiniana normal. As imagens de "estereograma" ern 3-D gera-das por computador Íàzem o mesmo ao tornarem disponíveis,para o cérebro fundir, duas imagens ligeiriimente diferentes.Câmeras gêmeas em aviões podem tirar fotografias cle terrenos:estas fotos se integrarn para produzir mapas em 3-D.

Você consegue descobrir a letra grega tridimensional psi (y)no estereograma da Figura 6.9? Tente cruzar ligeiramente osolhos (ou olhe para a ponta de um Iápis situado a cerca de 7 cen-tímetros acima cla página), r,eja se conse-que perceber a imagemda letra "psi" (em um ponto em que você não sente muis queseus olhos estão cruzados). A imagem parece tão real que é

possível medir com uma régua sua distância da página.Mas observe que não é possível traçar o contorno da imagern

em 3-D na página porque ela não está na página. Observe tam-bém que. se você f-echar: um olho, a imiigem desaparecerá ime-.iiatamente, conÍ-irmando que e1a existe apenas em seu cérebro.\ profundidade percebida, de duas imagens ligeiramente dife-rcntes e sobrepostas, ocorre quando cada olho Íbcaliza umar ima-:em e o cérebro integra as cluas versões eil) uma única imagerri:n.r 3-D. Isso ilustra precisamente a 1ição Íundarnental deste:lpítulo: a percepção não é a rnera projeção do mundo cm nos--. cérebro. Ao contrírrio. as sensrrções sào convertjdas em par-i;ulas de intbrmações que o cérebro reagrupa em seLl própriorodelo funcional do mundo exterior. Nosso cérebro c'ottstrói u't rcepção.

PERCIT.PC.Ão 173

Outro indicador binoctúar-para a distância é a convergência, um

indicadorneuromuscular gerado pela curva interior maior dos olhospara quando estes vêem um objeto próximo. O cérebro nota o ân-gulo de convergência, depois calcula se você está fociilizando nes-ta página escrita ou em outra coisa nas imediaçôes. Quanto maiorÍbr a pressão interior dentro, mais próximo se encontra o objeto.

Indicadores MonocularesDe que modo j ul-earnos se uma pessoa está a 1 0 ou a I 00 metrosde distância? Em ambos os casos, a disparidade retiniüna, ao se

olhar clireto para a frente, é pequena. Em tais circunstâncias nósdependemos de indicadores monoculares colno os seguintes:

Tamanho relativo

Tamanho relativo Se pressupornos que dois objetos possu-em tamanhos semelhantes. nós perceberemos aquele que pro-jeta a menor imagem retiniana como sendo o mais distante. PararLm motorista, os pedestres distantes parecem menores o quetambérn signiÍica qrie pedestres que parecem menores (crian-

ças) podem. às vezes, ser mal intelpretados como se estivessenrmais distantes do qr-re realmente se encontram (Stewat. 2000).

interposição

Interposição Se um objeto bloqueia parciaimente nossavisão de outro objeto. nós o percebemos como se estivessernais próximo. A figura da mulher sobre o cavalo confundepropositadamente a figura e o fundo pela interposição.

l

I

-e

o

o

õào-qã

:ÍFoõ!E9

-qtrP-aE9

"§§daio

tocrõ

õ-q

qi 9-

9=2Sõ

ot 6r<o

-a

Page 9: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

174 CAPÍrr,I-o SErs

P Convergência uma evrdência binocular para pelceber pro-

fundrdade; até que ponlo os olhos conveÍgem pala dentlo quan-

do olham pa'a .r'n obj'ro.

Claridade relativct Porque a luz de objetos distar.rtes passa

através de mais atr.nosfera, nós percebemos objetos nebulosos

como se estivessem mais distantes do que os objetos bem defi-nidos. (Retome o Quebra-cabeça 4. neste capítulo, para recor-

clar-se dos efeitos da neblina sobre o jlrlgamento da distância.)Gradiente de texturu A modiÍicação gladual c1e uma textura

áspera e distinta para uma textura fina e ildistinta ildica o atlmento

de distância. Objetos distantes pal-ecem menores e mais densos.

Gradiente de texturaAgur, o artrsta aplicou o gradienle de lextura para replesenlar a

profundrdade

Altura relativct Nós percebemos os objetos mais altos emnossos ciimpos de visão como se estivessem ntais afastados.

Ao percebermos a parte int-erior de urna il-rstração Íigura-fun-do como próxima, nós também a perceberemos como figura

(Vecera et alii,2002). Observe a primeira iiustração retete:-. .à altura relativa. lnverta a ilustração e a porção colorida de pr:,se toma o fundo. assemelhando-se ao cétt notulxo.

Imagine issoGraças à altura relativa. os obietos mais baÍxos parecen-r mars prÓ

xrmos e, pollanto. são normalmente percebidos como figura

Altura relativa

A altura relativa pode contribuil para a ilusão de que di-rnensões verticais são mais longas do que dimensões hori-zontais idênticas (conÍbrme vimos no Quebra-cabeça 3, oArco da Entrada de St. Lotiis). Observe a segunda ilustraçãoreferente à altura relativa. Será que a linha vertical do dia-

>oEtr=-

otises 3§ oP

oà É

b ,H

:L 6

ú!

õ.§

Su

O

de,,tixâçêq

i i§...rli l .lr ô rSrr'..i.rr..

I ii'. .) | ii l. .a'',r"\!i

li: ll §l ''r,li ii.'

ii

Movimento relativo Direção de movimento da passageira ri*§iiliii

Page 10: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

grama é maior, menor ou iguai ao comprimento da linhahorizontal? Meça e veja.

Movimento relativo (paralaxe de movimento) Conformenos movimentamos, os objetos que estão (realmente) está-veis parecem estar em movimento. Se você estiver viajandode trem e fixar o olhar em aigum objeto - digamos, llma casa- os objetos que estão mais próximos do que a casa (o pontode fixação) parecem estar se movendo para trás. euanto maisperto o objeto estiver, mais rápido ele parecerá estar se mo-vendo.

Os objetos qlte estão situados além do ponto de fixaçãoparecem estar se movendo com você: quanto mais distante oobjeto estiver, mais lenta será sua velocidade aparente. Seucérebro usa esses indicadores de velocidade e direção pzuacomputar as distâncias relativas dos objetos.

Perspectiva linear

PERCEPÇÀo L75

Luz e sombra. (A reprodução colorida desta figura encontra-se no encarte em cores.)

Perspectiva lineqr As linhas paralelas, tais como os tri-thos de um trem, pal'ecem convergir com a distância. Quan-to mais as linhas convergem, maior a distância percebida. Aperspectiva linearpode contribuir peLra a ocorrência de aciden-tes nos cruzamentos que compõem a estrada de ferro, ao levaras pessoas a superestimarem a distância do trem (Leibowitz,1985). (O tamanho maciço do trem também Íàz com que elepareça mover-se mais lentamente do que de fato está.)

Luz e sombra Os objetos que estão próximos refletemmais luz para os olhos. Assim, clados dois objetos idênticos,o objeto mais escuro parece estar mais distante. Essa ilusãotambém pode contribuir para a ocorrência de acidentes; porexemplo, um veículo no meio da neblina ou só com as luzestraseiras de estacionamento ligadas, parece estar mais distante

Fig. 6.10 Técnicas de perspectivaNa época em que o "Bristol, BroadOuay" foi prntado (c 1730, anônimo),as técnicas de representação pictó-nca das lrês dimensÕes em uma su-perficie plana já eslavam bem esta-belecidas. Observe o uso eficaz dasprstas de dislância, tais como o gra-drenre de texu*ra. a ,nterposiÇào. a

perspecliva linear, e altura e tama-nho relativos.

!,§ànAo

6!ta

JEÊoots

oi

cooE

EE;

oRó'o;(5t oto,d=B- aôÔOL

a-

a1a1

=

D

a

=.J

a

\-\ T-l ,r-7\-J L_-/ / -,/St]D/\§U1:7..-\uL!/.J/-

\ \ H á'-l-\\Hl"-,-

§s§,ii§rar,

Page 11: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

176 CAPÍruLo SEIS

Profundidade ilusóriaOue rndicio de profundidade monocular o fotógrafo usou para crt-

ar a foto desta escada ilusoria? (Ver adiante.) [A reprodução colo-

rida desta figura encontra-se no encarle em cores].

do que está. A sombra também produz um sentido de pro-

fundidade de acordo com a fonte de luz presumida. (Recor-

de a ondulação do Quebra-cabeça 6.) Observe a ilustraçãoreÍ'erente à luz e sombra. Inverta a ilustração e a cavidade

côncava se tornará relevo, porque nosso cérebro obedece a

uma regra simples: ele presume que a luz vem de cima.

Os artistas utilizam esses indicadores monoculares para cri-ar profundidade em uma tela plana (Figura 6.10). E também as

pessoas que precisam medir a profundidade com um olho só.

Em 1960, o time de futebol norte-americano da Universidadede Washington venceu o maior jogo do ano, graças em parte ao

magnífico passe de Bob Schloredt. Schloredt, que obviamenteÍbi muito habilidoso ao julgar a distância de seu recebedor, usou

os indicadores monoculares para distância. Ele era cego do olhoesquerdo.

PEncnr,çÃo DE MoUMENToImagine que você possa perceber o mundo como tendo cor, for-ma e profundidade, mas não possa ver o movimento. Você não

só não poderia andar de bicicleta ou dirigir, como também po-

deria ter problemas para escrever, comer e andar.

Felizmente, você pode perceber movimento. Seu cérebro

computa o movimento com base na suposição de que os obje-

tos que diminuem de tamanho estão se afastando (não ficandomenores), e os objetos que aumentam de tamanho estão se apro-

ximando. Mas vocô de forma alguma é preciso no que diz res-

peito à percepção de movimento. Os objetos grandes, como umtrem, parecem mover-se mais lentamente do que os objetosmenores, como um carro que esteja se deslocando na mesma

velocidade - essa ilusão contribui para colisões de canos e trens.

No entanto, se você for um jogador habilidoso de beisebol,

críquete ou soJiball, você perceberá movimento com uma velo-cidade e uma exatidão surpreendentes. Quando a bola deixa amão do arremessador, o cérebro do rebatedor detecta a veloci-dade, a rotação e a direção da bola, computa em um piscar de

olhos onde ela vai estar 0,4 segundo depois, e, antes que trans-

corra 0,1 5 segundo, direciona os braços para rebater ou não. Amedida que a bola faz um arco em direção à área fora do qua-

drado, o cérebro do Jielder Qogador de campo) inconscientemen-

te computa a trajetória dela, o que the possibilita correr até o

ponto de retomo da bola exatamente quando ela chega (McBeath

et alii, 1995). Um físico matemático trabalhando em umsupercomputador dificilmente poderia computar com mais ra-

pidez ou exatidão.

P R..ord" u famosa manobra de persuasão subliminar COMA

PIPOCA/BEBA COCA-COLA. Por várias razÕes, sabemos que

tai experlmente nunca poderia tel ocorrido. O 1ocal menciona-

do da experiência, por exemplo - o cinerna Fort Lee em Nova

Jersey , não comportaria o número de pessoas supostamente

tesaáas; o gerénte do cinema na época negou que la1 experi-

menLo tivesse ocorrido, mas nào sÓ por isso devemos const-

derar tambem o gue sabemos §obre movimento estloboscÓpr

co A imagem mais breve possÍve1 de um hlme, 1l24de segun-

do cie uma imagem indivictuai; não seria sublimrnar (Rogers,

1994)

Como os artistas de filmes de animação sabem muito bem, o

cérebro também interpretará uma série de imagens com poucaS

variações como um movimento contínuo (um fenômeno deno-

mitado mov imento estrobo scópíc rt:). Através da projeção instan-

tânea de 24 imagens por segundo, um filme cria o movimentopercebido. O movimento que você vê não está no filme, que

simplesmente apresenta uma série de slides super-rápídos. O

movimento é construído em nossas cabeças.

As propagandas luminosas às vezes criam outra ilusão de mo-

vimento usando o fenômeno'!hi". Quando duas luzes próximas

e paradas acendem e apagam em seqüência rápida, nós percebe-

mos uma única luz movendo-se para a frente e para trás. Os sinais

de trânsito iluminados exploram o fenômeno "phi" com uma su-

cessão de luzes que criam a impressão de uma seta em movimento.

CoNsrÂNcIA PERCEPTIVA

Até agora nós já notamos que nosso sistema vídeo/computador

deve primeiro perceber os objetos tal como nós os percebemos -como tendo forma distinta, posição e talvez movimento. Sua pró-xima tarefa é ainda mais desafiadora: reconhecer o objeto sem ser

enganado por mudanças em seu tamanho, forma, claridade ou cor.

A constância perceptiva nos pertnite perceber um objeto como

imutável mesmo através dos estímulos que recebemos de sua

mudança. Assim, nós podemos identificar os objetos apesar do

ângulo, da distância e da iluminação através dos quais o enxersa-

mos. Você vê alguém de relance à sua frente na calçada e instan-

taneamente reconhece um colega de classe. Em uma quantidade

de tempo menor do que levamos para respirar, a informação que

alcançou seus olhos foi enviada para o cérebro, onde equipes de

trabalho compostas por milhões de neurônios extraíram as carac-

terísticas essenciais, essas características compararam com as

imagens aÍrnazenadas e identificaram a pessoa. Reproduzir esse

desempenho perceptivo humano, que vem intrigando pesquisa-

''!

i'3t,i.,-r., !,É...... =

i.::,, ú ci

EFO-.F

ÊEo

.. -BEs

r' 9B,..'ã >B!o§

rq',,õa,!;

Ooaa

Page 12: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

dores de percepção há décadas, é um desafio monumental paranosso computador dotado de competência perceptiva.

Constância da Forma e de TãmanhoÀs vezes, um objeto cuja forma atual não pode ser modificadaparece mudar de forma de acordo com o ângulo de visão (Fi-gura 6.11). Quase sempre, graças à constância da forma, nóspercebemos a forma de objetos familiares como constante mes-mo enquanto as imagens retinianas desses objetos mudam.Quando uma porta se abre, ela proteja na retina uma forma emmodificação, mas ainda assim conseguimos perceber a portacomo tendo a forma constante de uma porta (Figura 6.12).

Graças à constância de tamanho nós percebemos os objetoscomo tendo um tamanho constante, mesmo enquanto nossa dis-tância deles varia. A constância de tamanho nos leva a perceberum carro como grande o bastante para carregar pessoas, mes-mo quando vemos sua pequena imagem a dois quarteirões dedistância. Isso ilustra a ligação próxima entre adistâncíaperce-bida de um objeto e o seu tamanho percebido. Perceber a dis-tância de um objeto nos dá pistas acerca de seu tamanho. Damesma forma, saber seu tamanho natural - que o objeto é, diga-mos, um caÍro - nos dá pistas a respeito de sua distância.

RcuacÃqt Tr\§{ÀN}I{}-{}i§'i'ÂNCL{ A facilidade com que ocoffea percepção de tamanho ó uma verdadeira maravilha. Dada a dis-tância percebida de um objeto e o tamanho de sua imagem naretina, nós, inconsciente e instantaneamente, deduzimos o tama-

É

@

-e

ts

q

Fig. 6.11 Percepção da formaSerá que as drmensÕes dos tampos destas mesas são drferentes?Parece que sim. Mas - acredrte ou não - elas são rdêntlcas (Meçae veja.) Com as duas mesas nós alustamos nossa percepÇão relatr-va ão nosso ânguro de visâ0.

ffi r:ffit ffiliffiL_lffiL_§r

Fig. 6.12 Constância da formaConforme a pofta se abre, e1a projeta uma imagem cada vez maistrapezoidal em nossa retina. Todavia. nós ainda a percebemoscomo retangular.

PERCEPCÃo 177

nho do objeto. Embora os monstros da Figura 6.13a pojetemas mesmas imagens retinianas, a perspectiva linear informa aonosso cérebro que o monstro perseguidor está mais distante.Sendo assim, nós o percebemos como maior.

Essa interação entre tamanho percebido e distância percebi-da ajuda a explicar viirias ilusões conhecidas. Por exemplo, vocôpode imaginar por que a Lua parece aÍé 50a/o maior quando estáper-to do horizonte do que quando está alta no céu? Durante pelomenos 22 séculos, os estudiosos questionaram e argumentaramsobre as razões para a ocorrência d a ilustio da Lua (Hershenson,

@

o

@

E

E.a

(b)

Fig, 6.13 A interação entre tamanho percebido e distânciapercebida(a) As pistas monoculares para drslância fazem o monstro perse-guidor parecer maior do que o perseguido. No entanto ele não o é.(b) Esse truque vrsual, denomlnado ilusão de Ponzo, baseia-se nomesmo princÍpio do monstro persegutdor (a). As duas barras pro-jetam rmagens de tamanho idêntico em nossa relina. E, no entan-to, a experiência nos drz que um objeto mats distante cna umaimagem de lgua1 tamanho do objeto mais próximo apenas se e1e

for realmente malor. Como resultado, nós percebemos a barra queparece mais dtstante como maior, (A reprodução colorida desta fi-gura enconLía-se no encarue em cores.)

-1

Page 13: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

178 CAPÍruLo SErs

Expiicação do truque óptico em Profundidade IlusóriaO fotógrafo Walter Wick recorlou pedaços de papel com formas que rmitavam os padrÕes de uma escada e os coloriu para stmuiar 1uz

e sombra. (A reprodução colorida desta figura encontra-se no encafie em cores )

oo5

§ô!

ao!

,>!

Efui

ooõc

=EOoê

üa

=E.9õ

=9tre=

EErY>

,R

1989). IJma razáo é que os indicadores para as distâncias dosobjetos dispostos no horizonte fazemalua, que está atrás deleparecer mais distante do que a Lua no céu à noite em seu pontomáximo de altura (Kaufman & Kaufman, 2000). Assim, a Luano horizonte parece maior, tal como o monstro da Figura 6. 13ae a bana distantenallusão de Ponzo, mostrada na Figura 6.13b.Remova esses indicadores de distância - olhando para a Lua nohorizonte (ou para cada monstro ou cada bara) através de umcanudo de papel - e o objeto diminuirá imediatamente.

A relação tamanho-distância nos ajuda a entender duas ilusõesdemonstradas anteriormente. O Quebra-cabeça 1, a ilusão de

Müller-Lyer referente aos comprimentos das liúas retas que estão

situadas entre as extremidades dos aros, já foi tema de mais de 1.250publicações científicas, e, ainda hoje, os psicólogos debatem sua

explicação. Uma explicação é que nossa experiência com quinasde interiores ou fachadas nos prontifica a interpretar as linhas gri-fadas na Figura6.14 da seguinte forma: a linha verlical da bilhete-ria de teatro está mais próxima e seria, portimto, menor, e a linhaverlical próximo à porta e com o mesmo comprimento da linhavertical da bilheteria, está mais afastada e seria, portanto, maior.Assim, o que aparece como ilusão a partir do momento em que éisolado em um desenho de linhas nos permite corrigir a percepção

de profundidade em nosso mundo tridimensional.A experiência demonstra essa teoria. As pessoas são mais susce-

úveis à ilusão de Müller-Lyer se, ao contrário dos camponeses afri-canos, elas viverem em um mundo urbano composto por fomas re-tangulares (Segall et alii,1990). O fenômeno reflete a experiênciacultural, e não a raça, pois os africanos que vivem nas cidades sãomais vulneráveis à ilusão do que os africanos que vivem em ambien-

Fig. 6.14 A ilusão de Mü11er-LyerRrchard L. Gregory (1968) sugeriu que as quinas de nosso mundoretangular nos ensinam a interpretar o vetor "para fora" ou "para

dentro" das setas que se formam nas extremidades das linhas comouma pista da distância exlslente entre a linha e nós e, conseqüen-temente, do seu comprimento. A linha preta definrda pela quinada bilheterra parece menor que a linha definida pela qurna da anle-saia. Mas se você for medr-la, verá que ambas possuem o mesmotamanho.

Page 14: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

PERCEPÇÃo 179

Fig. 6.15 A ilusão das meninas que encolhem e crescemEsia sala distorclda, projeta por Adelbert Ames, parece ter uma forma retangular normal quando vlsta através de um olho-mágtco com

um olho so. A menina no canto mais próximo parece desproporcionalmente grande porque nos iulgamos seu tamanho com base na

falsa suposição de que ela está à mesma dislâncra cle nÓs que a menlna no canto mals afastado

E

-s

Uiló

3Q@>o=ô=

tes rurais. Nossa experiência em contextos retangulares nos ajuda aconstruir noss as percepções, de citna para baixo (top-down).

As relações tamanho-distância também explicam o Quebra-cabeça 2, referente às garotas que diminuem e aumentam detamanho. Ao retomar o quebra-cabeça na Figura 6.15, observa-mos que a sala é distorcida. Vista com um só olho através de umolho-mágico, suas paredes trapezóides produzem as mesmas ima_gens que aquelas de uma sala retangular normal vista com ambosos olhos. Apresentada com a vista de um só olho da câmera, océrebro elabora a suposição razoável de que a sala y'normal e queportanto cada garota está à mesma distância de nós. E, devido áostamanhos diferentes das imagens na retina, nosso cérebro acabacalculando que as garotas são muito diÍêrentes em tamanio.

Nossa eventual percepção equivocada revela a atuação de nos_sos processos perceptivos normalmente eficazes. A reláção perce_bida entre distância e tamanho é geralmente válida, mas em circuns-tâncias especiais ela pode nos enganar _ como na criação da ilusãoda Lua, da ilusão de Müller-Lyei e da ilusão da sala áistorcida.

Constância de ClaridadeO papel branco reflete 90Va da luz que incide sobre ele; o papelpreto, apenas I\Vo. )t luz do sol o papel preto pode refletir 100vezes mais luz do que reflete o papei brànco ôrn ,- ambientefechado, mas ele continua preto (McBumey & Collings, 19g4).Isso ilustra a constância dã luminosidacte (íambémdeiominadacons.tância de brilho); nós percebemos um objeto como tendoluminosidade constante mesmo enquanto sua iluminação varia.A_claridade percebida depende da liminância relativa'_a quan_tidade de lrrz.que um objeto reflete em relação a suas adjacênci-as. Se.você olhasse um papel preto iluminado pelo sol através deum tubo estreito de modo que nada mais estivesse visível, elepoderia parecer cinza,porque sob a luz brilhante clo sol ele refle_te uma quantidade razoárver de ruz. olhe-o sem o tubo e ele estápreto novamente, porque ele reflete muito menos h"rz do que osobjetos à sua volta. O fenômeno é semelhante ao da consiânciada cor. À medida que a luz muda, a -uçAuàr-àfi,a na frureiraretém seu avermelhado, porque nosso céiebro computa alrrz re_fletida por Uu1l.Ou9r objeto em relação aos objetos âdjacentes.

A luminosidade percebida pe[nanece qru'r. "onrturte,

dadoum contexto imutável. Mas o que aconteCe quando o contexto

adjacente muda? Como mostra a Figura 6.16, o sistema visualcornputaluminosidade e cor em rclação aos objetos adjacentes.Assim, a luminosidade percebida muda com o contexto.

A percepção da forma, da profundidade, do moyimento e daconstância perceptiva nos revelam o modo como organizamosnossa experiência visual. A organização perceptiva se aplica aoutros sentidos também. EIa explica por que agrupamos empadrões os tiques constantes do relógio (conforme Quebra_ca_beça7). Ao escutarmos uma língua estrangeira, nós temos difi_cuidade para determinar onde uma palavrá termina e outra co_meça. Ao escutarmos nossa própria língua, nós automaticamenteouvimos palavras distintas. Isso, tam6ém, é uma forma de or_ganização perceptual. Mas vai além, pois nós até organizamosuma série de Ierras - OCÃOCOMECARNE _

"- pu'iur.u, qu"formam uma frase compreensível, mais parecidaiom .,O

óaocome carne" do que com "Oc àoc omec arne.' (McBurney &Collings, 1984). Fs5s processo não só envolve organização íasinterpretação - discernindo significado naquilo que pe..éb"-o..

õ

-U

O

Fig" 6.16 Contraste de brilhoAcredite ou não, os quadrados A e B são idênticos. (Se você nãoacreditar, cofte os quadrados e compare-os ) No enlanto, nós per_cebemos o quadrado B como sendo mais claro. .

Page 15: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

180 CAPÍruLo SErs

R§V§"}A § R§FLI?AIlusÕus FrRcxpr:;r,as s üEGÂi§rzÂÇÃc FsncurxvaA p.e.ri,u de uina p-.ispectiva supenor (rcp-rJcy,r;:), nós vemos ccmc,auxjiiaclcs pol r;cnhecirnenlo e expeciarivas, nós tlansíormariosir:lormaçÕes sen;otiais em percepçÕes significalivas.

As ilusÕes o.uriilivas e visrrais 1á fascinavam os ciettrstas mes-mc rguaido a psicolql:a surqiu. Explicar ilusÕes exrge .,11-ru aon:t-:Jr1r'liüLr:(",'r:;. iO'rCrL,ClíIC',iirrs.ü ,r,rn ;.r.(; 'S,r!i,i)eit,nCcepçôes s1gn1íicaiiva:^; assim, o esludo ria percepção rje lcrnou umâl6-t piimeilas pieocutaçÕos da psicoioqla O conlljic enlre as iíl-folilaçÕes visuais -ô outra; -l l ',rl1l:i.ce( stnsclja.,s é nornaimentelesoivido corn a aceilação dos cladcs visuais pela menle. uma tejt-iiôncia ct:ii:ecida conlo cai:lação visual.

Cs,orineiros psrcólogcs da Geslalt íicaram impressicnadcs como n:odo al.larentemenle ina.lc r.le ciganizarmos riacics fragmeniári,os senscrrais en percepções cornoietas. lVossa menle esirLllura ütniorm;rção que checra aré nos de vários modcs rlemcnslrá.reis.

A soiuçãoUm outro olhar sobre a casinha de cachorro impossível mostradana Figura 6.6 revela o segredo desta ilusão. A partir do ângu1o dafoto, que está na figura em questão, o princíplo de Íechamento (ouclosura) nos levou a perceber as ripas de madeira como se elas tj-vessem contrnuldade.

Pereepção da §ormaPara leconh-.cÊr um objeto, prlnejrc ncs Frecisamos percei:ê-1.:(vê-lc cono uma figura) üonlo uira Ílrma Cis:tnia cie seus airertc-les (c iundo). Nós ia;li:Én. 1,r:eL'r;a:nos or;aniz;r ..i figura" em umafcr ma s ignifi catirra. Vános pi ir: clp Los Geslaii proxinrriacle, seme-ihanÇa, lcnitlurdade, fccham-.nio e ccnexjdaue - desr:reven esseprocesso.

Percepção de Profundida<leA pesqilisa sobre o perihasco rrisual revelou r.iue muii,as espeltespercel:em o :nundc eÍn irôs tiimensoer nc nascin:enio. üu trloucotempo rlelois. Nos lransfolrcantos irnagens ieirn:anas biiinelr:i-cnais eür l:--rcçpçoes iridinensionais usanio inciicros binocuiats

cúmo a r"hspariclade reijnia.na - e incícics monccula.ies - comoos lamanhcs re;ativos dos cl:jelcs.

Percepção cle Mevime::.tcÜ ncsso cérebrc conlpuia o fiovilnenlo quanCo os cbjeLos itassemem ÍÍente r;'ir vêin en.i rliteçào à relina. Uina sucessÕ.o rápida dcimagens, conlo lllirn Írhle ou i:r_un siral iluminedo, iarnbérl poder:riai: a ilusão cie movlr,ento.

Constância PereeptivaTenCo percebic.ll um ob3eto ccr::c irma iioura coerenle e a lencjoiocalizaclo no espaÇo. corno enlão nós a reconhecemos, a despet[crdas várias imageirs gue-. eia possa 1ançil em nossas relinas? .{sccnsláncias de tanar:hc, fçrma e claridade descievem como üsoblÊtos parect:nr tÊr faracierisiiias rrr:uláveis .lpesar ce suas dis-tânc:as, lorn:as cLt mcvi::tenio§ Essas constâncLas expiicarn vári-as tias ilusÕec vtsuais born coni:ecidas Por oxornr:ic. a famrliari-Cade com a relacâo ti;n-ianho-t1istância em urn nunCo r_rri:anc iefcr,rnas retangulares iorna as pessoâs inais susceilveis à iir_isão rieL{iiiier-L,yer.

Teste a §i }Uesmo: Conlo o eslu{j.o cie il,.isÕes possibilita â ncssecomrreensê.o de percopçôes norrnais?

?ergu::te a §i Mesmo: Tente i:iesenfier ufi1a rei:roscntacão lea-lista da cena -;lsta de sua 1ane1a usanclo r.árÍ:s du.s rnrlicacioiesrnonccuiares q Lre rrccê aprencleu.

As lesilosias ac Tôijtí. i-.1 Si \ioslIto 1lcx.1ein sr:r encoui.radas no apânilire sii.tailo :roflnal tio lira.o

Ooi.ç

@U

(,ô.q

ãd

="ú

=a*LpB

I NTE RPRETAÇAO P E RC E PTIVAArnrsENraçÃo PnÉvn: Até que ponto nós aprendemos a per-ceber? Se os olhos de um ser humano fossem cobertos por umavenda ou sofressem de catarata durante os pnmeiros anos devida, será que terÍamos percepçôes normais quando lais res-trlçÕes fossem removidas? Se usássemos óculos que chstorces-sem ou lnvertessem o mundo, será que poderíamos nos adap-tar? Até que ponto nossas suposiçôes e crenÇas modelam nos-sas interpretaçÕes e, por conseguinte, nossas percepçÕes?

Os filósofos já debateram a origem de nossas habilidades per-ceptivas: é anaturezaou a educação? O filósofo alemão Imma-nuel Kant (1724-1804) sustentou que o conhecimento vem denossos modos inatos de organizar experiências sensoriais. Defato, nós viemos equipados para processar informação sensori-al. Mas o filósofo britânico John Locke (1632-1i04) argumen-tou que por meio de nossas experiências nós também aprende-

mos aperceber o mundo. De fato, nós aprendemos a associar adistância de um objeto a seu tamanho. Então, qual é a impor-tância da experiência? De que modo radical ela molda nossasinterpretações perceptivas ?

PnrveçÃo SpNsoRrar E VrsÃo REsrauneoaAo escrever para John Locke, William Molyneux questionou se"umhomem que nasceu cego,e tornou-se adulto aprendendo adistinguir um cubo de uma esfera através do tato" poderia, sevoltasse a ver, distinguir visualmente os dois. A resposta deLocke foi negativa, porque o homem ntnca aprendera ayet adiferença.

Desde então o caso hipotótico de Molyneux tem sido testadoem dezenas de adultos que, embora cegos de nascença, recupe-raÍam a visão (Gregory,1978; von Senden, 1932). A maiorianasceu com cataratas, com cristalinos embaçados que lhes per-

Page 16: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

mitiam ver apenas luz difusa, parecido com o que você e eu po-deíamos ver através de uma bola de pingue-pongue cortada aomeio. Quando suas cataratas foram removidas, os pacientes pu-deram distinguir a figura do fundo e perceber cores - sugerindoque esses aspectos de percepção são inatos. Mas como Locke pre-viu, os pacientes anteriomente cegos quase sempre não conse-guiam reconhecer, pela visão, os objetos conhecidos pelo toque.

Talvez, nesses casos, a cirurgia não tivesse restaurado com-pletamente o equipamento visual dos pacientes. Buscando ob-ter um maior controle do que o fornecido pelos casos clínicos,os pesquisadores conduziram o experimento imaginário deMolyneux com gatos e macacos recém-nascidos. Em um expe-rimento, eles equiparam os animais com óculos para natação quelhes permitiam ver apenas luz difusa e não padronizada (Wiesel,1982). Já crescidos, quando seus óculos foram removidos, es-ses animais exibiram limitações perceptivas muito parecidas comaquelas dos humanos nascidos com Çataratas. Eles podiam dis-tinguir cor e luminosidade, mas não a forma de um círculo daforma de um quadrado. Seus olhos não degeneraram; suas reti-nas ainda transmitiam sinais para seus córtex visuais. Mas, semestimulação, as células corticais não desenvolveram conexõesnormais. PoÍanto, os animais permaneceram funcionalmente ce-gos à forma.

Tanto em humanos quanto em animais. um período semelhan-te de privação sensorial não causa dano permanente se ocoÍrermais tarde na vida. Cubra o olho de um animal por viírios me-ses durante a vida adulta, e sua visão náo terá sido afetada de-pois da remoção da venda. Remova cataratas de alguém que se

desenvolveram depois do início da infância, e ele, também, terávisão normal. Os efeitos das experiências visuais durante a in-fância em gatos, macacos e humanos sugerem haverumperío-do crítico (Capítulo 4) para o desenvolvimento perceptivo esensorial normal. A experiência orienta e sustenta a organiza-ção neural do cérebro.

Os bebês humanos que nascem com cristalinos opacos (ca-taratas) normalmente passarão por cirurgia corretiva dentro dealguns meses. A rede cerebral responsável pelos olhosjá entãocorrigidos rapidamente se desenvolverá, possibilitando a melho-ra da acuidade visual dentro de um tempo tão curto como umahora de experiência visual (Mauer et alii, 1999). Os gatinhos ebebês com surdez congênita ao receberem implantes de cócleasexibem um "desperlar" semelhante da átrea cerebral pertinente(Klinke et alii,1999; Sirenteanu, 1999). A educação constrói oque foi dotado pelanatureza.

Nós também podemos ver os efeitos profundos da experiên-cia visual inicial em experimentos com filhotes de animais cri-ados com informações visuais alteradas ou restritas. Com baseno trabalho de Richard Held e Alan Hein, os pesquisadores daUniversidade de Cambridge, Colin Blakemore e GrahameCooper (1970), criaram filhotes de gatos no escuro, exceto du-rante cinco horas por dia quando eram colocados em um ambi-ente com listras horizontais ou vefticais (como naFigura 6.17).De forma notável, os filhotes criados sem exposição às listrashorizontais tiveram mais tarde dificuldade para perceber barrashorizontais, e os filhotes criados sem as listras verticais tiveramdificuldade para ver barras verticais. Enquanto dois desses fi-thotes brincavam, um pesquisador sacudia de forma brincalho-na um longo bastão preto à frente de1es. O filhote criado nummundo de listras verticais só brincava com o bastão quando esteera segurado verticalmente. Quando o bastão era segurado nahorizontal, esse filhote o ignorava enquanto seu companheiro -

PERCEPÇÀo 181

Fig. 6.17 O aparato experimental para os estudos deBlakemore e CooperDesde o primeiro momento em que seus olhos úriram até a idadede crnco meses, fllhotes de gatos foram retirados da escuridão acada dra para passarem cinco horas isolados em um cilindro comlistras verticais em preto e branco e cujo fundo era de vidro trans-parente. Um colar de material rijo impedia os Íilhotes de veremqualquer outra corsa, inclusive os próprios corpos. Posterlormen-te, esses filhotes apresentaram dificuldade para perceber formashorizontais, quando comparados com outros filhotes expostos so-mente a formas horizontais. (De Blakemore & Cooper, 1970.)

criado num mundo de listras horizontais - corria para brincarcom ele. A cegueira visual deles diminuiu um pouco, mas osfilhotes nunca readquiriram a sensibilidade normal. Por meio deamostras da atividade das células que detectam traços dos cére-bros dos filhotes, Blakemore e Cooper descobriram que o fatode tais células responderem principalmente a listras horizontaisou verticais dependia da experiência visual inicial dos filhotes.

Os experimentos sobre as limitações e vantagens percepti-vas produzidas pela privação sensorial em tenra idade fornecemuma resposta parcial para a questão em debate no Capítulo 4: oefeito da experiência no início da vida dura a vida inteira? Paraalguns aspectos da percepção visual", a resposta é claramentesim: "Use-a logo otr perca-a." Nós retemos as impressões dasprimeiras experiências visuais futuro afora.

AnarrreçÃo PnncprrrveAo recebermos um novo par de óculos, podemos nos sentir umtanto desorientados, até um pouco tontos. Mas dentro de um oudois dias, adaptamo-nos. Nossa adaptação perceptiva à infor-mação visual modificada faz o mundo parecer normal novamen-te. Mas imagine um novo par de óculos - um que mude o localaparente dos objetos paru 40 graus à esquerda. Seguindo emfrente para dar um aperto de mão em alguém, você desvia paraa esquerda.

Você poderia se adaptar a esse mundo distorcido? Pintinhosnão podem. Quando equipados com tais lentes, eles continuama bicar onde os grãos de alimento parecem estar (Hess, 1956;Rossi, 1968). Mas nós humanos nos adaptamos rapidamente alentes distorcidas. Dentro de alguns niinutos nossos lances se-

;;il,

i,

;,-/

Page 17: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

182 CAPÍruLo sErs

rão novamente precisos e nossos passos acertados. Remova as

lentes e sofreremos os efeitos secundários: a princípio, eÍrare-mos os lances na direção opostcL, desviando para a direita; mas,novamente, dentro de alguns minutos, nós nos readaptaremos.

Agora, imagine um par de ócu1os ainda mais radical - umque literalmente vira o mundo de cabeça para baixo. O chão estáacima, e o céu, abaixo. Você poderia se adaptar? Peixes, sapose salamandras não podem. Quando Roger Sperry (1956) inver-teu os olhos deles cirurgicamente, daí em diante eles reagiramaos objetos se movendo na direção errada. Mas, acredite ou não,gatos, macaÇos e humanos podem se adaptar a um mundo in-vertido. O psicólogo George Stratton (1896) passou por essa

experiência quando inventou, e usou durante oito dias, um ca-pacete óptico que invertia o lado esquerdo para o direito e a partede cima para baixo, fazendo dele a primeira pessoa a experimen-tar uma imagem retiniana com o lado direito para cima enquan-to estava de pé.

A princípio, Stratton ficou desorientado. Quando queria an-dar, ele procurava os pés, que agora estavam para "cima". Co-mer era quase impossível. E1e se sentiu nauseado e ficou depri-mido. Mas Stratton persistiu e, no oitavo dia, conseguiu alcan-

çar confortavelmente os objetos na direção cefia e andar semesbarrar em nada. Quando Stratton finalmente removeu o capa-cete, ele se readaptou rapidamente.

A experiência de Stratton foi repetida em experimentos pos-teriores (Dolezal, 1982; Kohler,1962). Depois de um período deadaptação, pessoas usando equipamentos ópticos consegutram atéandar de motocicleta, esquiar nos Alpes e pilotar um avião. Mascomo? Será que durante a experiência eles "reinverteram"perceptualmente seus mundos que estavam de cabeça para bai-xo? Na verdade, não. A estrada, as rampas de esqui e a pista dedecolagem ainda pareciam estar acima de suas cabeças. Mas aomoverem-se ativamente nesse mundo distorcido, eles se adapta-ram ao contexto e aprenderam a coordenar os movimentos.

Recentemente, os psicólogos demonstraram adaptaçã,o aoutros tipos de mundos distorcidos. Kaoru Sekiyama (2000)convidou quatro estudantesjaponeses para viver durante um mêscom visão invertida - da esquerda paÍa a direita. Assim comoStratton, inicialmente eles ficaram desorientados e nauseados.Dentro de algumas semanas, porém, eles conseguiram andar debicicleta. Quando o experimento terminou, eles, também,readaptaram-se rapidamente. Eles se tomaram "biperceptuais",

explicou Sekiyama, comparando seus participantes a imigran-tes bilíngües que, depois de voltarem a seus países, podem fa-zer a transição da língua nova paÍa a língua de origem rapida-mente. Depois de viver um ano na Grã-Bretanha, onde, depoisde alguns meses, dirigir do lado esquerdo se toffrou automático,eu achei que levaria um bom tempo para me readaptar a dirigirdo lado direito. Mas não levou. Motoristas que revezam entremundos do lado esquerdo e do lado direito são iguais às pesso-as bilíngües e biperceptuais; quando seus mundos mudam, elessem demora desperLam novamente seus esquemas latentes paradirigir do outro lado.

Assim como Stratton, Sfuart Anstis (2000) participou do pró-prio experimento. Ele via o mundo por meio de uma câmera devídeo que invertia alruz e mostrava o mundo como se fosse onegativo de uma fotografia. O que era preto ficava branco e as

sombras escuras ficavam claras. Em certa ocasião ele deu umtapa em uma mosca preta que andava na testa de um colega. Amosca era na verdade um ponto de 1uz do sol que dançava nacareca de seu colega aborrecido. Anstis conseguiu ler as expres-sões faciais das pessoas rapidamente, mas durante os três diasque passou no mundo invefiido ele quase sempre não conseguiareconhecer as pessoas.

CoNluNro PsncnrrrvoComo todos sabem, é preciso ver para crer. Como muitos tam-bém sabem, mas não apreciam inteiramente, ó preciso crer paraver. Nossas experiências, suposições e expectativas podemnosdar um conjunto perceptivo, ou predisposição mental, que in-fluencia, e muito, o que percebemos. As pessoas percebem umadulto e uma criança como sendo mais parecidos quando alguémlhes diz se tratar de pai e filho (Bressan & Dal Martello, 2002). Econsidere: a imagem no desenho do centro na Figura 6.18 é umhomem tocando saxofone ou o rosto de uma mulher? O que ve-mos em tal desenho pode ser influenciado ao olharmos primeiropara qualquer das duas versões não ambíguas (Boring, 1930).

Depois de formarmos uma idéia errônea sobre a realidade, é

mais difícil para nós vernos a verdade. Até os cientistas, empe-nhados na objetividade, percebem a realidade através das len-tes de suas teorias. Quando os "canais" de Marte foram vistospela primeira vez affavés de telescópios, algumas pessoas os per-ceberam como sendo produtos de vida inteligente. Eles eram -mas a inteligência estava atrás da lente ocular do telescópio.

<>

@

ô

Fig. 6.18 Conjunto perceptivoO que você vê no desenho do centro: um saxofonista ou o rosto de uma mulher? Fixar-se primeiro em uma das duas versÕes não ambi-guas do desenho pode influenclar sua interpretação. De Shepard (1990)

rlillli,lllt,rlil,llll

;

Page 18: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

Exemplos diários de conjunto perceptivo são abundantes. Em1912, um jornal britânico publicou Íbtografias genuínas e semretoques de um "monstro" no Lago Ness da Escócia - "as foto-grafias mais surpreendentes jamais tiradas", dizia ojornal. Seessa informação criar em você o mesmo conjunto perceptivo quecriou na maioria dos leitores do jomal, você, também, irá ver omonstro na Íbto reproduzida na Figura 6.19a. Mas quandoSteuart Campbell (1986) abordou as fotos com um conjuntoperceptivo diÍ'erente. ele viu o tronco de uma árvore retorcido -muito semelhante ao tronco visto por outras pessoas nas mesmaságuas no dia em que a Íbto foi tirada. Além disso, com esse con-junto perceptivo diferente, você agora pode notar que o objeto estáflutuando imóvel, não há ondulações na água em tomo dele -dificilmente o que esperaríamos de um monstro vivo. Aparente-mente ajudadas pelo conjunto perceptivo, milhares de pessoas semaravilharam com o rosto na Lua, Madre Teresa em um pão-doce,Jesus em uma panqueca e apalavra Allalr em uma batata cortada.

PERCEPÇ.Io 183

no céu, pessoas diferentes podem aplicar esquemas diferentes: "Éum pássaro." "E um avião." "E o Super-homeml"

Os desenhos das crianças podem nos dar uma idéia do desen-volvimento de seus esquefitas. Uma criança em idade pré-escolarpode deseúar círculos e linhas anguladas, mas não pode combiná-los para formar uma figura humana elaborada. A dificuldade dacriança não se deve à Íalta de jeito. Se solicitarmos a um aclulto destropara desenhar com a mão esquerda ele criará um desenho desajei-tado, mas será um desenho diferente do desenho infantil na Figura6.20.Parte da diferença está no desaÍlo para a criança de represen-tar visualmente o que ela vê. A principal diferença, enffetanto, esláno esquema simplificado da criança para as caracteísticas huma-nas essenciais. Para uma criança de três ou quatro :uros, um rosto éuma caracteística humana mais imporlante do que um corpo. Dostrês aos oito anos, os esquemas das crianças para colpos se tomamelaborados, e também seus desenhos.

Nossos esquemas para rostos nos preparam para ver padrõesfaciais até em configurações ocasionais. como na paisagem da

'. r'. :§§d* '"§§*

{*} (b)

Fig. 6.19 Crer é verO que você percebe nessas fotos? (a) Serla Nessie. o monstro do Lago Ness, ou um tronco? (b) Seriam discos voadores ou nuvens'1Geralmenle nós percebemos o que esperamos ver.

E,9ô

E

aàÉ

§

-

õ-,NU ^A il.^ /Y,l-/i\!ei \??§§JLà>gr\\à'.. ,o t"\ "rõ:X'= V-\õi L.Ê .,:l .:r ili3.1!.\

§ Ao 1er a frase"Rl melhor quemrl por último"

mui,as pessoas percebem o que esperam, sem se dar conta dapalavra reperida. Tsso iá aconreceu corn vocô?

O nosso conjunto perceptivo pode inÍluenciar o que ouvimosasslm como o que vemos. Considere um atencioso piloto de aviãoque, na pista de decolagem, olha para o co-piloto que está deprimi-doediz: "Cheerup!" (5ime-se!) O co-piloto ouveohabitual "Gearup" (Levantar trem de pouso) e rapidamente levanta as rodas - antesde saírem do chão (Reason & Mycielska, 1982). pessoas que ou-vem discos de rock tocados de trás paÍa a trente quase sempre per-cebem uma mensagem maléfica.çe thes disserem especificamenteo que esperam ouvir (Vokey & Reacl, 1985). Claramente, muito doque percebemos não vem do munclo "1á fora", mas também do queestá aÍ'ás de nossos olhos e entre nossas orelhas.

O que determina nosso conjunto perceptivo? pela experiêncianós formamos conceitos. ou esquentos. que organizum e interpre-tam informações desconhecidas. Nossos esquemas preexistentesp;ra saxofbnistas e rostos fernininos, monstros e troncos de árvo-res, luzes de aviões e discos voadores. todos influenciam o modocomo interpretamos sensações ambíguas com pr-ocessamentosuperi or (rop- d ow n). Confiontadas com um obj eto em tnor i mento

Fig. 6.20 EsquemasOs desenhos das crianças refletem seus esquemas a respeito darealidad e, bem como suas habilidades para represenlar o que vêem.Esse di'.senho, feito por Anna, de 4 anos, iluslra que o roslo assu-me muilo mais importância do que o corpo em seus esquemassobre as caraclerÍslicas humanas essenciais das criancas

-1

Page 19: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

M%lAnticaricatura

o

oÀ o

o-E offi%§

Verdadeiro

Fig. 6.21 Reconhecendo rostosOuando exibrda rapidamenle, uma carrcatura de Arnoid Schwarzenegger Íoi Ieconhecrda mais pronlamenle do que o plópr.Schwarzenegger. O mesmo aconteceu com oulras faces masculinas famiiiares

184 CAPÍruLo SErs

Percentagem de 66estudantes oue ^,t',4reconneceremcorretamente 62

o rosio6O

58

56

54

.Z

50

Lua. Kieran Lee, Graham Byatt e Gillian Rhodes (2000) demos-traram como reconhecemos as pessoas pelos traços faciais queos caftunistas podem caricaturar. Durante uma fração de segundoeles mostraram aos estudantes da Univer:sidade do Oeste daAustrália três versões de rostos conhecidos o rosto verdadei-ro, uma caricatura Í'eita por computador que acentuava as dife-renças entre esse rosto e um rosto comum, e uma "anticaricatura"que suavizava os traços distintivos. Como mostra a Figura 6.21,os estudantec reconheceram mais pronlarnente os rostos carica-turados do que os verdadeiros. Um Arnold Schwarzeneggercaricaturado é um Schwarzenegger mais reconhecível do que opróprio Schwarzenegger I

Verdadeiro Caricatura

Peter Thompson ( 1980) na University of York descobriu que

nosso reconhecimento de rostos está diretamente ligado à

expressividade dos olhos e da boca. Os pintores de retratos pa-

recem entender isso. Dois terços dos retratos pintados nos úiti-mos cinco séculos possuem um olho na linha central - ou den-tro de 57c da linha central - do quadro (Figura 6.22).

Efeitos de ContextoUm determinado estímulo pode disparar percepções radrc;--mente diferentes, em parte por causa de nossos esquema\ . -

ferentes, mas também por causa do contexto imediato. A1-sui.exemplos:

Fi1.6.22 Olho por olhoChristopher Tyler (1998) descobriu que os arlistas quando tenlam captar a essência de uma pessoa, colocam, conscrenre c:entemente, um olho na llnha centrai do quadro

CaricatuÍa

Page 20: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

PERcEPÇÃo 185

Fig. 6.23 Efeitos de contexto: a caixa do mágicoA caixa que se encontra na figura mais à esquerda está no chão ou pendurada no teto? E aquela que está mais à direita? Em cada caso,o contexto definido pelos coelhos curiosos orienta nossa percepÇão. (De Shepard, 19g0.)

. Imagine ouvir um som interrompido pelas palavras "o undogira '. Provavelmente, você perceberia a segunda palavra comomundo.Interrompido por "o undo do poço", você ouvinafun-do. Esse curioso fenômeno, descoberto por Richard Warren,sugere que o cérebropode retrocederno tempoparapermitir queum estímulo anterior determine como percebemos um estímu-1o posterior. O contexto cria uma expectativa que, descendente-mente, influencia nossa percepção quando comparamos nossosinal ascendente com ele (Grossberg,1995).

. O monsffo perseguidor na Figura 6.13a, parece agressivo? O queesú sendo perseguido parece assustado? Em caso de uma respostaafiÍrnativa, você estará experienciando um efeito de contexto.

. A "caixa do mágico" na Figura 6.23 está no chão ou pendu-rada no teto? O modo como percebemos isso depende docontexto definido pelos coelhos.

. O orador disse "cults and sects" ("cultos e seitas") ou "cults andsex" ("cultos e sexo")? O crítico defende "attacks" (ataques) ou"aÍax" (um imposto ) para os políticos? Em ambos os casos,devemos considerar o significado das palavras adjacentes.

'Efeitos da cultura e do contextoO que está acima da cabeça da mulher? Em um estudo, quase todosos afrlcanos do leste da Africa responderam que a mulher estavaequilibrando uma lata na cabeça e que a famÍlia estava sentadasob uma árvore. Os ocldentais, para quem a arquitetura de quinase em forma de caixa são mais comuns, estavam mais predispos-tos a perceber uma famí[a dentro de casa, com a mu]her sentadasob uma janela. (Adaptado de Gregory & Gombrich, 1973.)

O diretor de cinema Lew Kulechov acreditava que diretoreshabilidosos proyocavam emoção no público ao definir um contex-

to no qual os espectadores interpretavam as expressões dos atores.Uma vez ele produziu três filmes curlos, cada um representandoum de três contextos, seguidos por clipes idênticos de um ator comuma expressão neutra (Wallbott,1988). Ao verem o filme de umamulher mofta, os espectadores do clipe ficaram impressionadoscom a ffisteza do ator. Ao verem um prato de sopa, eles acharamo atorpensativo. Ao veremuma criançabrincando, eles disseremque o ator pareciafeTiz. Mesmo ouvir uma música triste em vezde alegre pode predispor as pessoas para perceberem um signifi-cado triste em palavras homófonas faladas - mouming (luto) emy ez de mo rning (manhã), die (morte) eÍrl y ez de dy e (tingilr), p ain(dor) em vezdepane (vidraça) (Halberstadt et alii,1995).

No hospital do condado de Seattle onde, por um tempo, eufui atendente, nós ocasionalmente enfrentávamos a tarefa detransportff um corpo morto pelos corredores cheios de gente,sem alarmar os pacientes ou visitantes. Nossa solução era usaro "efeito Kulechov", criando um contexto parecido com os es-quemas das pessoas para pacientes que estão sedados ou dor-mindo: com o rosto do morto descoberto e o lençol amrmadode modo normal, nós podíamos passar com o colpo "dormin-do" pelas pessoas que não suspeitavam.

Na vida cotidiana, os conjuntos perceptivos - por exemplo, es-tereótipos sobre sexo ou cultura - podem realçar o contexto. Semas pistas óbvias das cores rosa ou azul, as pessoas não sabem sechamam o bebê de "ele" ou "ela". Mas ao saberem que o bebê sechama "David", as pessoas (especialmente as crianças) podem"percebê-lo" como maior e mais forte do que se o bebê fossechamado "Diana" (Stem & Karraker, 1989). Parece que algumasdiferenças entre os sexos existem apenas nos olhos de quem vê.

Os efeitos dos conjuntos perceptivos e do contexto mostramcomo a experiência nos ajuda a construir a percepção. "Nósouvimos e entendemos apenas o que já sabemos pela metade",disse Thoreau. O rio da percepção é alimentado por dois aflu-entes: sensação e cognição. Voltando àpergunta- apercepçãoé inata ou aprendida? - podemos responder: os dois. As percep-

ções "simples" são os produtos criativos do cérebro.

A PEncnpÇÃo E o Faron HuueNoEu adoro meu videocassete, embora ainda não tenha descobertocomo fazê-lo gravar. Nosso fogão é maravilhoso, exceto pelo tem-po que gasto tentando descobrir que botão acende que boca. As portascom barras de empurrar dos prédios de nosso campus são fortes,embora frustrantes quando empurradas do lado errado. Os botõesextras em meutelefone são funcionais, emboraeu aindaprecise con-sultar que botão aperlar quando quero üansfeú uma chamada.

Os ergonomistas ajudam a desenhar utensflios, máquinas eestruturas de trabalho que se encaixem em nossas percepçôesnaturais. O psicólogo Donald Norman (1988) sugere como al-gumas mudanças simples nos desenhos podem reduzir algumas

§r\s

Page 21: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

(o)

(o)

*w.

[̂3,/

(a )

.*@,**

(a) Rótulo tradicional

186 CapÍruro Sers

(b) Mapa natural

de nossas frustrações. Por exemplo, explorando o "mapeamen-to natural", nós podemos desenhar botões de controle de fogõesque não precisem de etiquetas descritivas (Figura 6.24).};4á-quinas ATMs são internamente mais complexas que videocas-setes, porém, graças aos psicólogos ergonomistas trabalhandocom os engenheiros, as ATMs são mais fáceis de operar. TiVoresolveu o problema de gravação da TV com um simples siste-ma de menu aponte-e-clique ("grave este programa").

Norman (2001), que possui um site naWeb (nd.org) sobre de-senho de equipamentos que se ajustam às pessoas, lamenta a com-plexidade de montar sua nova televisão de alta definição, apare-tho receptor, caixas acústicas, gravador digital, DVD, vídeocassetee sete controles remotos em um home theather system usável.Como ex-aluno do MIT com Ph.D., "eu fui vice-presidente doDepartamento de Tecnologia Avançada da Apple", diz Norman."Eu posso programar viirios computadores em várias línguas. Euentendo de televisão, realmente entendo... Isso não importa: euestou desolado." Se ao menos os criadores de equipamentos paraentretenimento doméstico minimizassem os fios e cabos, juntan-do os controles de áudio, vídeo e os dispositivos conectores emum único cabo. Se ao menos um único controle pudesse operarummenu aponte-e-clique. Se ao menos os engenheiros trabalhas-sem de forma rotineira com psicólogos ergonomistas para testarseus designs e instruções em pessoas de verdade.

Com freqüência, os criadores de tecnologia sofrem da "mal-dição do conhecimento", o que os fazem presumir que os ou-tros compartilham os seus conhecimentos (Camerer et alii,1989Nickerson, 1999). (Recorde do Capítulo 1 que uma vez queconhecemos a solução de um anagrama - AROS ---> ROSA -ele parece ser óbvio para os outros também.) Os criadores qua-se sempre interpretam, erroneamente, que o que é claro para elesserá claro para os outros. EIes sabem que os outros não possu-em seus conhecimentos, porém subestimam o quanto suas ex-plicações e instruções podem ser confusas. Quando você conhecealgo, é difícil simular mentalmente como seria não conhecer.

Entender os aspectos ergonômicos pode fazer mais do quenos capacitar para criar designs que reduzam frustrações; podeajudar a evitar desastres. Depois de iniciar os vôos comerciaisno fim da década de 1960, o Boeing 721 sofret vários acidentesao aterrissar, causados por erros dos pilotos. O psicólogo Conradkaft (1978) observou um padrão comum nesses acidentes: to-dos aconteceram à noite e todos envolveram aterrissagem antesda pista de pouso depois de cruzarem um rio escuro ou terrenonão iluminado. Kraft percebeu que, além da pista de pouso, as

luzes da cidade projetavam uma imagem retiniana maior se es-

Fí9. 6.24 Mapeamento natural(a) Com os controles do fogão posrcionados tradicional-mente, uma pessoa precisa ler os rótulos para descobrirqual dos controles acende determinada boca do fogà0.(b) Ao posrcionar os controles em um mapa natural, ra-prdamente compreensÍve1 pelo cérebro, podemos eLim:-nar a necessrdade de decifrar instruçÕes escritas só paraferver uma chaieira de água.

tivessem num tereno em elevação. Isso faria o solo parecer estarmais distante do que de fato estava. Ao recriar essas condiçõesem simuladores de vôos, Kraft descobriu que os pilotos foramlevados apensar que estavam voando de modo seguro, mais altodo que as altitudes reais (Figura 6.25). Auxiliadas pelas desco-bertas de Kraft, as companhias aéreas começaram a exigir queos co-pilotos monitorassem o altímetro - informando as altitu-des durante a descida - e os acidentes diminuíram.

Os psicólogos atuais da Boeing estão atuando em outros pro-blemas de ergonomia (Murray, 1998): de que modo as Çompa-nhias aéreas poderiam treinar e gerenciar melhor os mecânicospara reduzir os eÍros de manutenção que são a origem de apro-ximadamente 507o dos atrasos nos vôos e de l5Vo dos aciden-tes? Que iluminação, tamanho e estilo dos caracteres tornariamos dados de vôos na tela mais fáceis de ler? De que modo as

mensagens de aviso seriam mais eficazmente recomendadas -como uma declaração de ação ("pull-up" - "anemeter") em vezde uma declaração de problema ("group proximity" - "proxi-midade do solo")? Ao estudar essas e outras questões referen-

Altitude(milhares

de pés)

20181614121086420.Distância da pista (milhas)

Fig. 6.25 O fator humano em erros de percepçáoSem pistas a respeito da dislância quando estão sobre uma super-fÍcie escura e se aproximam de uma pista de aterrissagem, os pi-lotos que simulam um pouso noturno tendem a voar muito baixo.(De Kraft, 1978.)

A altitude parece

Page 22: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

tes à ergonomia, os psicólogos trabalham para aumentar tanto asegurança quanto a produtividade.

Como psicólogos, sua ferramenta mais poderosa é a pesqui-sa. Se uma organização quer saber que tipo de Web design (et-fatizando conteúdo? velocidade? gráficos?) irá atrair mais visi-tantes e tentá-los a retomar, um psicólogo ergonomista vai que-rer testar a resposta para várias altemativas. Se a NASA quersaber que tipo de projeto de aeronave melhor facilitará o sono,o trabalho e o estado de espírito, seus psicólogos especializa-dos em ergonomia vão querer testar as alternativas.

Considere, finalmente, as tecnologias disponíveis para "au-xiliar a audição" em vários auditórios, igrqas e teatros. Uma tec-nologia, comumente disponível nos Estados Unidos, requer quepessoas com perda auditiva usem um aparelho especial: fonesde ouvido presos a um receptor portátil que detecta os sinaisinfravermelhos ou FM do sistema de som do ambiente. As pes-soas bem-intencionadas que desenharam, compra.ram e instala-ram esses sistemas corretamente entendem que a tecnologia põeo som diretamente na orelha do usuiírio. Mas, infelizmente, pou-cas pessoas com problemas auditivos escolhem experimentar oaparelho e passar pelo constrangimento de usar um chamativofone de ouvido. A maioria de tais aparelhos, portanto, fica semuso nos armários. E,m vez disso, os países britânicos e

escandinavos instalaram "sistemas de loop" que transmitem somindividual diretamente para os próprios aparelhos auditivos daspessoas. Quando devidamente equipadas, um toque discreto nobotão pode transformar os aparelhos auditivos em alto-falantesnas orelhas. Um sistema de loop (um amplificador especial li-gado a um circuito que circunda a audiôncia) pode funcionar emcasas também, possibilitando que os sons da televisão ou de con-versas telefônicas sejam transmitidos diretamente para os apa-relhos auditivos (ver www.hearingloop.org). Quando lhes sãooferecidos sons personalizados, convenientes e inconspícuos,muito mais pessoas escolhem usar aparelhos que auxiliam a

audição.

PERCEPÇÃo 187

Como não ficar louco a caminho de MarteOs futuros astronautas a caminho de l\,{arte... serão confinados emcondlçoes de monotonia, estresse e ausência de gravidade durantevários meses. Para ajudar a planejar e a avaliar um ambiente hu-mano funcionai, como é o caso deste Modulo de Habltação Ttan-sitável (Transhab), a NASA contrata psicó1ogos especraltzados em

ergonomia (Weed, 2001; Wichman 1992)

O ponto que deve ser lembrado: designers e engenheiros de-vem considerar os aspectos ergonômicos e desenhar projetos que

sejam adequados às pessoas, atualizando-se com os últimosconhecimentos e testando suas invenções em usuários antes daproduçào e da distribuiçào.

I:trlIII TÂ E I}TIET ÍTÁ

Trtrrnpp;rncÀn PFECFT';r,ro

Os iesies rnais riireios sobre a quesião na,tureza-educaçâo vêm ie-oxpleriment<ts que uiccifirr,lr ãs .reicÊllç,-'e3 l'r rànas.

Frivação §ensoriai c Visãc §.estaurada?:rrtrrri-:,-, .rÁ.:,\i : ,nii:1.'ia.' ,'r -..r -.,lr,l r. ^ 'i "".^'..rJ'/:t'!.. .,,,r.u' .r:.1.,i ! u^rP'_

riôncr.a deve ailti:r its inec.iriisn.a,s t'i[,,]ai.J -iicr'LL;i::c cérr:bro. Se a,.l^ají',1, , r,1D í i.lill.ri,ji tÊ,:.cl1lil a visão rie arl,"rlcc gti3 nAsÍlelâ.il Ce-

gos, eles permanecerão inci;p;rzes ci-. perceber c rnurCo normatmen-',., 'ue,Jme,r " -l ,;,1,.,r1-'!:.,1..:.rg.ri" i'i.. t .l,r^lit ;e1, d.,.t:-'r,.,Lr .C' " -:^.;r,.iC .t :;l)t:.:t I .,-, C:'.,r.. . -r ..f. I I,ir{ll-., ,'- r

.uj r i il,';,,1,.s ori.ila.r.lO::'1.. r:.,1,,O.."Ct, _t:, ll,.C ,1^r r':q,- ,i., .,;ilrlarxelie seveias. Or.tantlr sJa,c :.1)rr3i,;t(-r. r,'rql.1;s sao reiclna,-1asao nonnaL, eles, larrbénr, soliem ciesvar lagi:ns vlsuarr pârmalenies.À,^lantrnÀn llar;'an{ i*rr!ruqpLuluv r u:LçpLr!u.1 -,i-,À^ ,-..-^-- Á ^.-+,,---i\V::jii; iuj dI c..(.\..iú.',.i,-u:Iif :|1C.",i...'jl'^,,.,.i'.' 1. i,1 ;,,.: l.'. '.,:-óculos que cioslocam i,irn poricc o munrio à esgL;e rria ou à ciirel;a,cu ató o vire de cal:eÇa paral:aixo, as il*ssoe.§ ccrihê|, re-l eaiu::-;.1.qí], i-,ía,l{Fi,1,ô\r:...,. .,1..' 1,. ,.. ,rt :t:Í,1 ,1 !,L G P!-..11 ü q-1,:ct' j('JL. I.',. ur - u ),i- ,

con {aciliciacle.

^ -,-l--,-Á- n---. --,,i---uuLll urtlu rul uel.-rti JU

A',e','d" ru,l;C,, rêl.,lr,r,,C l ii" -()JCJü : :l -Llr r* o1"-...5 . ;

sas experiôncias nossa.s ir' Â,rÇJs e s- rp rsiçr--:s :r1.:.elcircia-s i:el:l

ccmo p-o1as iniolmaçÕes renscriais vêm rias muii:as ijemcnslraçôesc.e conjunlcs perceptuais e c1e efeilos ccniextue"is Cs esquemasque já. apreildÊmos nos aji celt a -:rteri-,reral e.irriruhs quÊ üü ci.i-

tra Íorna se:lram a;:nliquos, ilrn Íal,: üue a,1r-rda a exi:rl.tcâr Lroi {lucaillulnâs possoag "-;Ôem' t't.tonÍiiros, iosrloij Ê órin.L-{ e oulras nào.

 Percepçâo e 0 Fetsr Huma:roAr percepçces veiiiur: er p, , i - - là'- :c. o ,{l.rú rn- Jesigner supô<;.

Assin, oii ir$uói0gos {rrijcnümistê,s esliLciarn cornÍJ as pessoas pei -

ce bem e ilsarn âs ináglli:as, e üilmo üs mácr"rinãs e enil:renies li-srcos poclen ser meihol a,lepradüs e esse lrsü. Tirs estutics jámelhrraraír a selirlanÇe ein aeionevss e !e rararr tecírclcgia a{re

a,-ixilra o r.isuario.

Tcste a $i i!{*sulc: Cue lipc de er,'rcência. ncslra que, Ce íatc."hi1 niiis coisas pcr trás cia percepÇãc i:o rlue cs senlroos podamíiiüa..ÇaÍ"?

Jiergunle a Si 1\{es ":ro; .,'ocê

Fodc se lcmbiar ile un inorrlinlc ,ir'n

quO su⧠exlec[ellvâs píociisiillÊelaÍi: O modo lonc vr;i:ô pelce-

| ,-,. J,' l.; r, -:. -r :i l iÍ , r:i-,J J.. p .<gJ.:) l

As resllcsias Ía'1'esie :: Sr irlestro lcdeln s--t --::lctolr"tacias tic apê:rtlic;e sii,u.lcic niírlal dc rir.ric.

Page 23: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

188 CAPÍruLo SEIS

"grandes médiuns" revelampoucaexatidão. Entre 1978 e 1985,

das 486 profecias de Ano Novo do médium favorito da Natio-nal Enquirer apenas duas se realizaram (Strentz, I 986). Duran-

te a década de 1990, os médiuns de tablóides americanos esta-

vam todos errados ao prognosticar eventos surpreendentes:

Madonna não se tomou uma cantora de gospel; Bill Cosby não

se torÍrou embaixador da África do Sul; a rainha Elizabeth não

abdicou do trono para entrar num convento. E, os médiuns do

novo século não previram os grandes eventos que invadiram os

noticiários como a controversa eleição presidencial na Flóridae o horror do 11 de setembro. Onde estavam os videntes no dia

10 de setembro quando precisávamos deles?

As análises de visões mediúnicas oferecidas aos departamen-

tos de polícia revelam que estas, também, não são mais exatas

do que suposições feitas por outras pessoas (Reiser, 1982). Os

médiuns que trabalham com a polícia, entretanto, fazem inúme-

ras predições. Isso aumenta as chances que uma adivinhação

ocaiional venha a ser correta, que os médiuns, então, podem

relatar à mídia. Além disso, predições vagas podem mais tarde

ser interpretadas ("retroajustadas") para se ajustarem a eventos

que forneçam um conjunto perceptivo para interpretá-las.Nostradamus, um médium francês do século XVI' explicou cefta

vez em um momento de ingenuidade que suas profecias ambí-

guas "não poderiam ser entendidas até que fossem interpreta-

áas depois do evento e pelo evento". Os departamentos polici-ais estáo cientes de tudo isso. Quando Jane Ayers Sweat e MarkDurm (1993) perguntaram aos departamentos de polícia das 50

maiores cidades dos Estados Unidos se eles alguma vez usaram

médiuns, 657o responderam que nunca usaram' Dos que havi-

am usado, nenhum achou que foi útil. Sabe-se que centenas de

médiuns sobrecarregaram a polícia com predições erradas so-

bre o paradeiro de Chandra Levy, residente de medicina em

Washington D.C., cujo corpo foi descoberlo por um corredor no

mato de uma colina um ano depois de seu desaparecimento

(Radford,2002).Será que "visões" espontâneas de pessoas comuns são mais

exatas? Considere nossos sonhos. Será que eles predizem o fu-turo, como quase metade dos estudantes universitários acredi-

tam (Messer & Griggs, 1989)? Ou será que eles parecem fazer

isso porque estamos mais predispostos a lembrar ou a recons-

truir sonhos que parecem ter se realizado? Há mais de 60 anos,

dois psicólogos de Harvard (Munay & Wheeler, 1973) testaram

os poderes proféticos dos sonhos. Depois do seqüestro e morte

do filho do aviador Charles Lindbergh, mas antes de o corpo ser

descoberto, os pesquisadores convidaram o público para relatar

seus sonhos com a criança. Dos 1.300 sonhos relatados, quan-

tos visualizaram corretamente a criança mofia? Apenas 5%. Equantos também anteciparam corretamente o local do corpo,

enterrado entre árvore? Apenas quatro dos 1.300. Embora esse

número cefiamente não tenha sido mais do que por acaso, para

as quatro pessoas que sonharam a exatidão de suas aporentes

visões deve ter parecido fantástica.Durante o dia, todos nós imaginamos uma série de eventos.

Ocasionalmente uma imaginação improvável está fadada a acon-

tecer e a nos surpreender quando acontece. Se você disser a to-

das as pessoas em um grupo de 100 para pensar em "cara" antes

de cada uma delas 1ançar uma moeda seis vezes, é provável que

alguém tire caras todas as vezes (quer pense em cara ou não) e

se sinta estranho depois. Como o Capítulo I explicou, seqüên-

EXISTE PERCEPÇÁO EXTRA-SENSORIAL?ApnrsENreçÃo PRÉvIA: Será que nós so podemos perceber o

que sentimos? Ou, sem informação sensorial, será que poderÍ-

amos ter percepção extra-sensorial?

A metade ou um pouco mais dos adultos norte-americanos e

britânicos e dos estudantes universitários japoneses acreditam

em percepção extra-sensorial (PES), e um quarto deles não está

seguro sobre o tema (Blackmote, l99l; Newport & Strausberg,

2001; Nishizawa, i996). A mídia está repleta de relatos sobre

fenômenos psíquicos: crimes resolvidos, sonhos realizados, pro-

fecias. Programas de televisão com paranormais (como o

"Unsolves Misteries" e "Arquivo X") e filmes çomo O Sexto

Sentido e As Bruxas de Blair são campeões de audiência. No

seu auge, a indústria do disque-médium chegou a um bilhão de

dólares por ano, a maior par-te adquirida de pessoas com baixa

renda (Nisbet,l998).Será que existem mesmo pessoas - qualquer pessoa - que

possam ler mentes, ver através de paredes ou predizer o futuro?

Nos experimentos em laboratórios, os parapsicólogos - aque-

les queêstudam ocorrências paranormais (literalmente, a1ém do

normal) - por vezes ficaram sulpresos com médiuns que pare-

cem capazes de descobrir os conteúdos de envelopes selados,

influenciar o rolar de um dado, ou fazer um desenho do que al-guém está vendo em um local remoto e desconhecido. Cinco uni-

versidades britânicas agora possuem unidades de parapsicologia

com pessoal graduado em Ph.D pelo programa de parapsicologia

da Universidade de Edinburgh (Morris, 2000)' Mas outros psi-

cólogos pesquisadores e cientistas -incluindo 967a dos cientis-tas dá Nátional Academy os Sciences - são cópticos (McConnell,

1991). Se a PES for verdadeira, nós precisaremos pôr de lado acompreensão científica de que somos criaturas cujas mentes

estão ligadas aos nossos cérebros físicos e cujas experiências

perceptivas do mundo são construídas de sensações. No entan-

to, novas evidências, às vezes, colocam de lado nossas pré-con-cepções científicas. Vamos avaliar, então, alegações advindas

dos estudos de PES.

ArEceçóEs RnpEnnNrES À PESAlegações a repeito dos fenômenos paranormais incluem predi-

ções astrológicas, curas mediúnicas, comunicação com os mor-tos e experiências fora do corpo. De todas, as mais testadas e (para

um capítulo sobre percepção) mais relevantes são estas três:

Telepatia, ou comunicação de mente para mente * uma pes-

soa enviando pensamentos para outra pessoa ou percebendo os

pensamentos de outra.Clarividência, ou percepção de eventos remotos, tais como

ver que a casa de um amigo está pegando fogo.Premonição (precognição), ou percepção de eventos futuros,

tais como a morte de um líder político ou o resultado de um

evento esportivo.

Intimamente ligadas a essas estão as alegações de psicocinese

ou "mente sobre matéria", tais como levitar uma mesa ou influ-enciar o lance de dados. (A alegação é ilustrada pelo seguinte

pedido distorcido: "Todos aqueles que acreditam em psicocinesequerem, por favor, levantar minha mão?")

PnnuoNrçoss ou PnsrpNsoPs?Será que os médiuns podem ver o futuro? Embora muitos pos-

sam desejar ouvir suas previsões, os prognósticos feitos por

Page 24: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

cias ocasionais irão às vezes conter conjunções ou traços estra-nhos. Considerando os bilhões de eventos diiários, e uma mar-gem suficiente de dias, algumas coincidências atordoantes cer-tamente ocorrerão. Com tempo suficiente, o improvável se tor-na inevitável.

Um céptico, o mágico James Randi, há muito ofereceuUS$10.000 a qualquer um que pudesse demonstrar "qualquercapacidade paranormal" diante de um grupo de especialistascompetentes. Outras pessoas uniram-se a ele e sua oferta- "paraqualquer um que demonstre possuir um genuíno podermediúnico, sob condições adequadas de observação" - subiupara US$1 milhão, depositados em uma conta no Goldman-Sachs (Randi,1999). Por maior que seja essa soma de dinheiro.o selo científico de aprovação seria muito mais valioso paraqualquer um cuja alegação pudesse ser autenticada. Para refu-tar aqueles que dizem que não há PES, alguém só precisa en-contraÍ uma única pessoa que possa demonstrar um único e re-produzível fenômeno de PES. (Para refutar aqueles que dizemque porcos não podem falar só é preciso um porco falante.) Atéagora, tal pessoa não apareceu. A oferla de Randi vem receben-do publicidade há três décadas e dezenas de pessoas foram tes-tadas, às vezes sob o escrutínio de um grupo de juízes indepen-dentes. E, no entanto, até o momento, nada.

SusÀanrnNDo A PES À VnrurrcaçÃoExpBRrunNrarFinalmente, considere essa afirmação céptica: se a PES existis-se, então, com certeza, alguém no mundo poderia, quaÍldo sen-tisse os sinais do espírito mediúnico, vir a escolher os númerosvencedores da loteria ou saber os resultados dos jogos de azar(tornando-se fabulosamente rico ou generoso). Se alguém *qualquer um - no mundo possui uma premonição espontâneà eprecisa, por que não predisse (por amor à caridade se não à co-biça) o resultado do maior prêmio de 2002, os US$331 milhõesdo Big Game? Várias pessoas cefiamente tentaram. Mais de 150milhões de bilhetes foram comprados, cada um deles num es-forço de premonição. Com uma chance de uma em 76 milhõesde acertar os números coffetos, esse número de bilhetes nos le-varia a esperar dois ou três ganhadores, apenas por sorte. E, re-almente, só houve três ganhadores, incluindo Erika Greene, queganhou em sua primeira tentativa na loteria.

Depois da realidade de milhares de experimentos, um fenô-meno de PES replicável nuncafoi descoberto, nem qualquer pes-soct ctpresentou algum indivíduo que possa demonstrar habili-dades mediúnicas de maneira convincente. Uma investigaçãodo National Research Council sobre a PES concluiu de modosemelhante que "a melhor evidência disponível não sustenta aalegaçáo de que esse fenômeno exista" (Druckman & Swets,1988). E em 1995, um relatório oficial da CIA avaliou dez anosde testes militares com espiões mediúnicos. Vinte milhões dedólares foram investidos. O resultado? O programa não produ-ziu nada. Devido aos muitos resultados laboratoriais desapon-tadores e às visões mediúnicas erradas ou vagas, o programa deespiões mediúnicos foi, por fim, descartado (Hyman, 1996;Waller, 1995).

No passado, havia todo tipo de idéias estranhas * que protu-berâncias na cabeça revelavam traços de personalidade, que asangria curava tudo, que cada espermatozóide continha uma pes-soa em miniatura. Quando enfrentamos tais alegações - comoas de leitores da mente ou viagens fora do colpo ou comunica-

PERCEpcÃo 189

ção com os mortos - como podemos separar as idéias bizarrasdaquelas que parecem bizarras mas são verdadeiras? No cora-

ção da ciência há uma simples resposta: teste-as para ver se fun-cionam. Se funcionarem, tanto melhor para as idéias. Se nãofuncionarem. tanto melhor para nosso cepticismo.

Essa atitude científica levou ambos, crentes e cépticos, a con-cordar que a credibilidade que a parapsicologia precisa ofere-cer é um fenômeno reproduzível e uma teoria para explicá-lo.Em busca de um fenômeno, de que modo testamos alegaçõesde PES em um experimento conúolado? Um experimento dife-re de uma demonstração encenada. No palco, o "médium", cornoo mágico, controla o que a audiência vê e ouve. Os "efeitos"normalmente são surpreendentes. No laboratório, o experimen-tador controla o que o médium vê e ouve. Repetidamente, no-tam os cépticos, os chamados módiuns exploram platéias passi-vas com proezas surpreendentes nas quais parecem estar emcomunicação com os espíritos dos mortos, ler pensamentos oulevitar objetos - só para ter revelado que seus atos são uma far-sa, nada mais que ilusões de mágicos em palcos. E por que pelomenos um médium não ganhou bilhões na bolsa de valores?

Testando os poderes psíquicos na população britânicaO psicólogo Richard Wiseman, da Hertfordshire Umversity, criouuma "máquina da mente" para ver se as pessoas podiam influen-ciar ou predizer um lance de moeda. Usando uma tela sensÍvel aotoque, as pessoas que visitavam a redondeza tinham quatro chan-ces para dizer se a moeda mostraria cara ou coroa. Usando umgerador de número ao acaso, um computador decidia o resultado.Ouando o experimento terminou em janeiro de 2000, quase 28 mi1pessoas haviam feito a predição de 1 10.972 lances - com 4g,B% deacerto.

Sabendo com que facilidade podemos ser enganados, e semresultados reproduzíveis, a maioria dos psicólogos pesquisado-res permanecem cépticos. Mas alguns ficaram recentemente in-trigados com as descobertas publicadas pelo psicótogo DarylBem e pelo parapsicólogo Charles Honofion (1994), usando o

IoõO

.g

-g

o

-a

Page 25: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

CAPÍTULO SEIS

procedimento ganzfeld. O procedimento coloca você em uma

cadeira reclinável, faz tocar um ruído sibilante puro em tone de

ouvido e irradia uma luz vertnelha difusa através das metades

de umabola de pingue-pongue presâs sobre os seus olhos. Apa-rentemente, essa redução dos destratores externos coloca você

em um estado ideal para receber pensamentos de outra pessoa,

os quais você pode ouvir como pequenas vozes do aiém.

O procedimento ganzfeldNa esperança de detectar srnais lelepáticos indistlntos, alguns

parapslcó1ogos utrlizaram a privação sensorial para mtnrmizar as

distrações.

Com base em estudos anteriores usando esse procedimento,Bem e Honofion isolaram um "transmissor" e um "receptor" em

câmaras separadas e à prova de som; então, pediram ao trans-

missor que ficasse meia hora concentrado em uma de quatro ima-gens visuais selecionadas ao acaso. Depois perguntaram aos

receptores qual das quatro imagens mais se assemelhava à ima-gem que experimentaram durante a sessão. Em mais de 11 es-

tudos, os receptores superaram as probabilidades (257o respon-

deram acefiadamente) por uma margem pequena mas estatisti-

camente significante (32% responderam acertadamente).Recorde que a investigação crítica gira em tomo de duas per-

guntas: o que você quer dizer? E como você sabe (qual é a sua

evidência)? Os parapsicólogos dizem que os testes ganzfeld de

PES oferecem respostas claras para as duas perguntas. O céptico

Ray Hyman (1994, 1996) admite que a metodologia deles su-

pera as metodologias dos experimentos anteriores de PES, mas

questiona certos detalhes de procedimento que podem ter intro-duzido tendenciosidades. Intrigados, outros pesquisadores co-

meçaram a trabalhar reproduzindo esses experimentos. Seria

esse o primeiro fenômeno de PES confiável? Ou mais uma es-

perança frustrada?A compilação estatística de 30 experimentos ganzfeld acom-

panhados por Julie Milton e Richard Wiseman não obteve efei-to. "Nós concluímos que a técnica ganzfeld no momento não ofe-

rece um método replicável para produzir PES em laboratório."Mas - espere - os estudos e o debate continuam (Bem et alii,2001; Storm & Ertel, 2001,2002).

Fique atento, e lembre-se: a atitude científica combina o

cepticismo curioso com a humildade de uma mente aberta. Elademanda que alegações extraordinárias sejam sustentadas por

evidências claras e fidedignas. (Se eu, com 58 anos e 1,75m

de altura, alegar que posso fazer uma cesta de basquete, o ônus

da prova será meu. que devo mostrar que posso fazê-lo, e não

."rr, qo" não precisa provar que eu não posso') Dada tal evi-dêncià, a ciência está aberta para as surpresas ocasionais da

natureza.Recorde do Capíru1o 1 que a atitude científica envolve o es-

crutínio céptico, porém aberto, das idéias rivais. Como pensa-

dores críticos, nós podemos estar disponíveis a novas idéias sem

sermos ingênuos, perspicazes sem seÍTnos cínicos. Nós podemos

ser pensadores cíticos. porém - sabendo que nossa compreen-

são cla natureza é incompleta - nós podemos concordar comHamlet de Shakespeare em que "há mais coisas entre o céu e a

terra, Horácio. do que sonha a sua vã filosofia".Algúmas coisas que supomos ser verdadeiras - a realidade

do amor de alguém, a existência ou não existência de Deus, a

finalidade da molte ou a realidade da vida depois da morle - estão

além da ciência. Depois de limpar os tombadilhos dos pseudo-

mistérios testados e rejeitados, nós, por esse motivo, podemos

reter o senso de humildade e admiração em relação aos mistéri-os intestáveis da vida.

Por que, então, há tantas pessoas predispostas a acreditar que

a PES, que deveria ser testável pela ciência, existe? Em pafie,

tais crenças podem surgir de equívocos compreensíveis, inter-pretações erradas e recordações seletivas' Mas algumas pesso-

as também têm uma fome insaciável pelo que é encantado, umprurido para experimentar o sobrenatural. Na Grã-Bretanha e nos

Estados Unidos, os fundadores da parapsicologia foram em sua

maioria pessoas que, tendo perdido sua fé religiosa, deram iní-cio a uma busca com base científica para acreditar no significa-do da vida e na vida após a morte (Alcock, 1985; Belofl 1985).

Na convulsão política após o colapso do governo autoritário na

Rússia, surgiu uma "avalanche do que era considerado místico,oculto e pseudocientífico" (Kapitza, 1991). Na Rússia como em

todo lugar, os curadores e videntes "extra-sensoriais" têm fas-

cinado o público estupefato. "Muitas pessoas", afirmava a de-

claração de 32 grandes cientistas russos em 1999, "acreditam

em clarividência, astrologia e outras superstições para compen-

sar o desconforto psicológico de nosso tempo".Para nos sentirmos admirados e reverentes diante da vida, não

precisamos olhar além de nosso próprio sistema perceptivo e de

sua capacidade de organizar impulsos nervosos informes em

visões coloridas. sons vívidos e cheiros evocativos. Em nossas

experiências perceptivas comuns está muito do que é verdadei-

ramente extraordinário - ceftamente muito mais do que foi so-

nhado por nossa psicologia até agora. Um século de pesquisa

revelou muitos dos segredos das sensações e percepções. con-

tudo, para as futuras gerações de pesquisadores ainda restam

mistérios genuínos a serem resolvidos.

Nós examinamos até agora as primeiras etapas de nosso pro-cessamento de informação - de receber informações sensoriais

a construir percepções significativas. Mas o sistema de proces-

samento de informação de nosso crânio (de quase um quilo e

meio) faz muito mais: sob a influência de sono, hipnose ou dro-gas ele construirá imagens ir:reais (Capítulo 7). Ele aprende comnossas experiências, lembrando-as muito tempo depois (Capí-

tulos 8 e 9). Ele pensa e faz planos (Capítulos 10 e 11)' Entre o

nosso sentir e agtr jaz um inimaginavelmente complexo siste-

ma de informação que, mais do que nunca, atrai os explorado-res do espaço interior de nossas mentes.

,E

É.>

Page 26: Livro- Psicologia - Cap 6 - Percepcao

PERCEPÇÃo l9l

REVEJA E REF'IT?A

§xrsrs FnncatçÃo Exrna-sulTscatar,?Mujlos acreCitarn em ou alegam uossuir percepção exua-sensori-al (PES). Os parapsicólogos ieniaram i1ocunentar várias formas dePES - teiepat.ia, clarividência e premonição -, mas por rrárias ra-zÕes, especialmente por faita de efeiios reproduzíveis de pES,tu'iuilcs psicóiogos pesqr.;isadores permanecem cépticos. lrlovosostllcios, usando o procedimento ganzfeld, levantaran: espeÍanÇasde um Íenômeno telepálico mensuráve], mas estudos supiemen-[ares não susientaram a lidedigmdade do ienômeno.

Teste a Si Mesmo: Vccê conhece alg'uém. gr"ie aiega ier habilida-de medrúnica? Tente ieslá-lo em um ambienle controlario porVOCE 1

Pergunte a Si Mesmo; O que vccê acha das aiegeçÕes de PES,e ülre evrdência pode coníirlxar (ou nâc) seu ponio cle visla?

As resüostas aô Tcste a Si llcs:::Lo pôdem ser encontradas no apênCic(] sjtuado aoiual do livrc.

Y§]&&,{S§ § C&NCEX?ü§ pA&A I§&*§RARatenção seletivacaptaçáo visualGestaltfigura-fundoagrupamentopercepção de profundidade

penhasco visualindicadores binocularesindicadores monocularesdisparidade retinianaconvergênciafenômeno phi

constância perceptivaadaptação perceptivaconjunto perceptivopsicologia ergonômicapercepção extra-sensorial (PES)parapsicologia

irvôcêê-rcôCIhárá,restê§l,Étlxicô§;:êiêtçjo1o§ .iiêíjsâô;rnúitôs,âitimà,jniótessáoús,.êjinkélqúei,0úm:p.' mênúàião.ô,,iêsrúdô,dô§,rrópicóílô1áóióíádró§:álestà,,c.àp:rulô].,,.,l'::,: