Lingüística gerativa - Desenvolvimento e Perspectivas uma Entrevista com Noam Chomsky

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    DELTA: Documentao de Estudos em LingsticaTerica e AplicadaPrint version ISSN 0102-4450

    DELTA vol.13 special issue So Paulo 1997

    doi: 10.1590/S0102-44501997000300007

    Lingstica gerativa: Desenvolvimento ePerspectivas uma Entrevista com Noam Chomsky***

    Mike DILLINGER (Universidade Federal de Minas Gerais)Adair PALCIO (Universidade Federal de Pernambuco e

    Universidade Federal de Alagoas)

    A Prof Denilda Moura, Presidente da Associao Brasileira de Lingstica, abriudando as boas vindas ao Prof. Chomsky e apresentou a seguinte pergunta paradiscusso:"As investigaes sobre a lngua falada nos forneceram dados empricos interesuso da linguagem. O modelo de Princpios e Parmetros tornou possvel constrsatisfatrias para muitos dos fenmenos deste uso. Qual o papel dos dados emuso da linguagem na teoria de hoje?"

    Adair Palcio: Professor Chomsky, como a Gramtica Transformacional evoluiStructures1 para The Minimalist Program2? Parece-me que a sua Cartesian Lingdelineou um plano geral que o senhor desenvolveu durante esses anos.

    Noam Chomsky: Este um comentrio realmente muito perspicaz e tambmcomum.

    Acho que uma perspectiva histrica importante, mas quase ningum mais fazns. No o tipo de tema que interessa s pessoas na Lingstica ou na Filosofmesmo queles que estudam Histria da Lingstica ou Histria da Filosofia. Na

    na Filosofia, geralmente as pessoas esto interessadas em questes mais atuaiexemplo, em idias no publicadas, que ainda esto sendo trabalhadas. Assim, um pouco mais antiga, mesmo tendo sido importante nos anos 60 e 70, rara

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    discutida, o que pode s vezes levar a erros srios. Para alguns, parece que sealguns sculos, voc est em outro mundo. H razes interessantes para se peassim.

    Na Histria da Lingstica, para a maioria, as pessoas no esto interessadas eem detalhes da interao humana, tais como, que livros David Hume tinha em

    quem falou com quem, quem emprestou idias de quem, e assim por diante. Ncompartilha algumas das piores caractersticas de partes da Histria das Idias.como as idias so remodeladas, redescobertas, reformuladas ou abordadas soperspectiva ou como elas reaparecem em diferentes contextos, simplesmente ninvestigado. No uma questo de como historiadores so formados, j que nFsica, por exemplo, o foco est nas idias. Nas cincias humanas, entretanto,trabalho no tem sido muito feito.

    Por exemplo, na poca em que eu estava trabalhando na Cartesian Linguistic,textos disponveis. Eu tive que ir ao Museu Britnico para encontrar uma cpiatraduo inglesa da Gramtica de Port Royal, que teve grande influncia nos fil

    britnicos, pelo menos em Locke e nos neo-platonistas britnicos. Simplesmenttradues disponveis nos Estados Unidos. Quando comecei a observar as tradude Leibniz, por exemplo, descobri que elas estavam cheias de erros. Podia-se vque no era o que Leibniz dizia e quando voc voltava aos originais, descobriadiziam o oposto. Eram textos clssicos no sentido de que eles eram os nicos dsituao muito melhor agora: pelo menos h materiais bem editados, e assitipo de coisa que me interessa, entretanto, ainda no muito estudado.

    Ento, voc est certa sobre a importncia de um ponto de vista histrico e eusua perspectiva sobre isso. Para muitos, a Cartesian Linguisticparece um cami

    desenvolvimento da lingstica moderna, mas para mim no .Quanto histria da Gramtica Gerativa, devo comear dizendo que extremaenganoso iniciar com Syntactic Structures. Nos anos 50, no havia lingstica daparentemente no existia. Contudo, ela realmente tem uma tradio que se inanos com a gramtica de Panini, mas que foi completamente esquecida. Este tiressurgiu no sculo 17, 18 e 19, mas tambm foi esquecido juntamente com lisculo 20 como Otto Jespersen que, em certo sentido, foi a ltima pessoa quetradio.

    Nos meus tempos de estudante, nunca ouvimos falar sobre este trabalho. De f

    foi de tal modo esquecido, que mesmo alguns trabalhos de Bloomfield no foraBloomfield, um dos fundadores da rea, era meio esquizofrnico; numa metadcrebro, ele era um acadmico que conhecia a histria da lingstica germnicandica e como as coisas tinham sido praticadas durante centenas de anos. Na ode seu crebro ele foi muito influenciado pelo positivismo lgico, pelo behaviorique se chamava "idias modernas". Se voc olhar seu trabalho, ento, h doisseparados.

    Na sua cincia comportamental, no trabalho positivista, por exemplo, ele ridiculde regras ordenadas como um tipo de mentalismo fora de moda ao qual nenhus conscincia podia prestar qualquer ateno, porque ns no podemos obserdelas e portanto, elas no so reais. Ao mesmo tempo, enquanto ele estava esLanguage por volta de 1930 e fazendo o que as pessoas ento consideravam ctrabalho cientfico obstinado na lingstica estrutural, Bloomfield tambm estav

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    com questes gramaticais no estilo de Panini. Por exemplo, em 1939 ele publicmonografia muito interessante sobre Menomini, uma lngua Indgena Algonquiado Norte - Menomini Morphophonemics4 -, que teve como modelo a gramticade Panini, escrita por volta de 2500 anos antes e que inclua regras ordenadas,de coisas e assim por diante. Bloomfield publicou o trabalho que ele fez nessessomente na Europa e embora ningum tenha explicado por que, minha suspeit

    no queria que o trabalho fosse visto pelos seus obstinados amigos cientistas nUnidos. De alguma maneira, entretanto, ele sabia que aquilo era a verdadeira lique o estruturalismo no o era, mesmo que naquela poca ele parecesse mais

    Eu era aluno iniciante por volta de 1946, uns seis ou sete anos mais tarde, e toprofessores eram lingistas ilustres e amigos ou alunos de Bloomfield. Havia atacadmico ndico. Entretanto, nunca nos disseram que Bloomfield, proeminentlingstica do sculo 20, tivesse feito qualquer trabalho nesta linha, que de certmuito semelhante gramtica gerativa. Por sorte, comecei a trabalhar com a liqualquer conhecimento anterior e fiz o que me pareceu bvio: a gramtica ger

    trabalho final de graduao foi uma gramtica rudimentar, na realidade, um tana fonologia e morfologia e contendo alguma coisa de sintaxe rudimentar, masuma gramtica gerativa. Somente fiquei sabendo sobre Menomini Morphophonanos mais tarde, quando estava me interessando por histria. Isto s um exeo passado era desconhecido.

    Voltando, ento, a Syntactic Structures. Bem, tive vrios anos de tempo livre pem Harvard e trabalhei no livro que apareceu 20 anos mais tarde como The Loof Linguistic Theory5. Inicialmente, tinha cerca de 800 pginas e era completaimpublicvel. Foi escrito somente para alguns amigos. Minha esposa e eu o rodmimegrafo (no havia cpia xerox naquela poca), fazendo cerca de 30 cpiaalguns amigos que estavam interessados neste estranho tema.

    Ento fui para o MIT e comecei a ensinar. O MIT, que um centro de cinciasincorporou o entusiasmo da poca: as cincias comportamentais, computadorecomunicao, ciberntica. Havia grandes expectativas em relao intelignciamuita euforia tecnolgica em geral, e o MIT estava frente disso. Ficou muitopoca, entretanto, que todas as coisas maravilhosas com a inteligncia artificialrealmente acontecer e de fato, nunca aconteceram. Os alunos do MIT so cientengenheiros e matemticos e eu estava ministrando um curso introdutrio de Leles. Comecei o curso com o que eles estavam interessados, que eram as fonte

    automata finita, modelos matemticos, etc. A primeira metade de Syntactic Stento, um tentativa de mostrar que nada disso fazia qualquer sentido para asegunda metade de Syntactic Structures inicia com o que eu considerava certo:gerativa transformacional. Nunca pensei em publicar o livro; era simplesmentede anotaes de sala de aula para um curso de graduao no MIT. Na poca Mpublicando qualquer coisa, ento eles decidiram public-lo juntamente com umoutras coisas inteis que estavam aparecendo. Esta a histria de Syntactic Stanotaes de um curso para alunos de graduao em cincias, publicadas acidEuropa.

    Embora a primeira parte de Syntactic Structures no tivesse nada a ver com linexerceu grande influncia. Conseqentemente, a discusso representa de maninadequada a rea. Por exemplo, a diviso entre sentenas gramaticais e agratem nada a ver com lingstica. A linguagem no tem essas propriedades. A qu

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    mostrar que, embora os sistemas simblicos inventados, como a programaotenham essas propriedades, a linguagem no as tem. A segunda metade do livporque assim, mas a primeira metade que foi influente, inclusive na lingsdisso, muito tempo foi gasto em lingstica nos anos 70 estudando-se o que asconsideravam problemas, coisas como o fato das gramticas transformacionaisricas, porque permitem que uma grande variedade de lnguas possa ser gerada

    que isto seja um problema porque se deseja que a classe de sentenas bem-fode um tipo especial, na qual cada membro pode ser determinado por algoritmovoc precisaria de uma gramtica livre de contexto e assim por diante. Nada disentido, simplesmente porque no existe alguma coisa do tipo, uma classe de-formadas, pelo que sabemos.

    Muitos lingistas profissionais perderam um tempo sem fim debatendo questede uma m interpretao dos primeiros captulos de Syntactic Structures, ondedistines foram feitas de fato, mas somente para refut-las e para mostrar qumaneira como as lnguas naturais funcionam, por exemplo, o ingls. No h neentre sentenas gramaticais e agramaticais: cada expresso que voc produz tinterpretao. Se um falante do ingls ouve uma sentena em portugus, ele vela uma interpretao, com certeza no a maneira que foi pretendida, mas eledeixar de dar alguma interpretao. A mente impe interpretaes reflexivameimpe uma interpretao fonolgica e escolhe frases e provavelmente l de maalgumas palavras. A interpretao ir com certeza refletir a estrutura do ingls,

    japons, se ele for um falante do japons. Isto significa que cada sentena dotambm uma sentena do ingls e portugus, a no ser que tal sentena recebinterpretao estranha, que no seja aquela dada por um falante do portugus.simplesmente no pode ser evitado. A mente trabalha da mesma maneira queolha para algum objeto. Voc no pode evitar de v-lo, pode ser uma iluso, vestar vendo o que est l, mas voc est vendo alguma coisa, porque assimfunciona.

    Portanto, no h diviso entre sentenas gramaticais e agramaticais. No faz sprocurar por uma gramtica que gere sentenas gramaticais e no faz absolutanenhum sentido estudar em termos matemticos o poder gerativo de sistemassentenas gramaticais. Todo este trabalho completamente sem sentido e sem-interpretao de anotaes de um curso de graduao, cujo objetivo era tecientistas de mal-entendidos, confuses e erros que estavam surgindo neste peuforia tecnolgica sobre as perspectivas de se usar tecnologia moderna para e

    natureza da mente. Tudo isso era errado e a maioria das pessoas das cincias fdeixou de lado essas questes Essa discusso teve efeito muito negativo na lin

    Assim, iniciar gramtica gerativa a partir de Syntactic Structures um grandedeveria se iniciar com Panini e ento continuar atravs da histria. Se voc quiacompanhar seu percurso atravs do perodo moderno, poderia iniciar com minmestrado6, depois prosseguir com The Logical Structure of Linguistic Theoryeque estavam sendo feitas naquela poca. A primeira gramtica gerativa descrita do Hidatsa, uma lngua indgena norte-americana;foi feita por Hugh Matthewno final dos anos 507. A partir da, voc deve continuar com o trabalho de pess

    Robert Lees, que fez uma livro sobre a lngua turca8

    e Edward Klima e ento asdesenvolveram. Esta a verdadeira histria, embora no seja contada dessa m

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    Para onde a gramtica gerativa foi a partir da? Bem, a partir do momento emcomeava a estudar as lnguas sob este ponto de vista, instantaneamente vocas gramticas e dicionrios existentes estavam completamente errados, mesmlnguas mais estudadas como ingls, alemo e francs. Mesmo nas gramticasabrangentes e extensas faltava quase tudo que estava acontecendo na lngua.as pessoas estudam hoje em dia, como restries na extrao de palavras inte

    eram encontradas nas gramticas tradicionais. Ningum falava de coisas assimconsideradas pressupostas. As pessoas que escreviam as gramticas sabiam asbem que nem mesmo notavam as coisas que estavam acontecendo.

    como se um pssaro tivesse que escrever a Biologia dos Pssaros: ele no devo, porque automtico; ele iria discutir diferenas marginais entre os pssarexemplo, estetem um tom de voz mais alto que aquele, oualguma coisa assiestudamos os pssaros, estudamos o vo porque o que nos parece mais impinteressante, mas no interessante para os pssaros porque para eles, voarautomtico. Os pombos, por exemplo, no discutiriam como eles se orientam ucampo magntico da terra porque, para eles, lgico, que isso seja feito assimmaneira um pombo chegaria onde ele quer chegar? Por outro lado, quando estpombos, ficamos impressionados pelo fato de que eles podem fazer coisas quepodemos, como por exemplo, encontrar o caminho usando o campo magnticoAcontece o mesmo com as pessoas que estudam a si mesmas: as coisas bviadiscutidas. O que voc realmente estuda so as coisas que parecem diferentes.

    Assim, se voc olhar uma gramtica bem abrangente, voc perceber que elaexcees: h grandes partes sobre verbos irregulares e flexes incomuns. claque memorizar o vocabulrio porque ele feito de excees: qual som correspsignificado rbitrrio. Na realidade, mesmo as maiores gramticas e dicionri

    maioria listas de excees, de coisas que voc no poderia saber s porque uhumano. De fato, quando se ensina uma segunda lngua, o que voc ensina isso: excees. Os verbos irregulares, por exemplo, tm que ser memorizados,possa tentar encontrar algumas regularidades. Se voc der uma olhada nos madicionrios, a mesma situao. Eles no lhe dizem quase nada a respeito do spalavras. Logo que voc comea a pensar sobre o que cada criana de quatro avoc v que muito pouco est no dicionrio. Se voc pensar em uma palavra si"livro", "rvore", "rio" e perguntar o que uma criana realmente sabe sobre issque no h nada disso no dicionrio. O que o dicionrio inclui so coisas que nque so excepcionais ou que diferem no ingls e portugus, no as coisas que

    como pressupostas. De fato, estamos apenas comeando a entender essas coisA gramtica gerativa teve um efeito positivo, disciplinar: como tnhamos que eexplcitas, tnhamos que entender os fatos corretamente. E no momento em qua escrever as regras, vimos que estvamos entendendo os fatos de maneira erpercebia isso na gramtica tradicional porque ela no era suficientemente explestavam tomando como certo o que as pessoas normalmente sabem, de maneiaos pombos, que tomam como certo que no se pode encontrar o caminho semagntico da Terra. De repente, comeou a aparecer todo o tipo de coisa quenotava; milhares de dados novos. Imediatamente, tornou-se bvio que tinha dtudo de novo, fazer novos tipos de perguntas, mesmo sobre as lnguas mais esmomento em que se comeou a descobrir propriedades diferentes que no havinotadas antes, comearam a aparecer tambm perguntas que os lingistas no

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    fazer, sobre como as coisas realmente funcionam, o que levou a um novo tipoinvestigao emprica.

    Continuando com esta histria detalhada, voc descobre que a maior parte do um esforo cooperativo, no uma questo de pessoas isoladas, cada uma eescritrio, tendo algumas idias e escrevendo sobre elas. Isto quase nunca aco

    realmente acontece que h seminrios acontecendo que envolvem grandes gem minhas aulas, que podem ter por volta de 100 pessoas. s discusso emalguma sugesto, algum se levanta e me diz porque est errada e ento vamdireo. Desta interao, as melhores coisas permanecem e as piores so descvez em quando as idias se cristalizam e comeam a se assemelhar a uma novnova abordagem, mas na verdade, o resultado de muita interao, anos de clmodificao, mudanas, e assim por diante.

    O prximo nvel de "cristalizao" aconteceu por volta de meados dos anos 60,como Toward an integrated theory of linguistic description9de Katz e Postal, oof the Theory of Syntax10, e outros trabalhos, que levaram ao que mais tarde vchamado de Teoria Padro, uma certa concepo de como a linguagem funcionAspects foi publicado em 1965, j era completamente bvio que estava erradocrucial. De fato, minhas palestras de 1964 e 1965 foram sobre o que havia deteoria e durante alguns anos, estudantes e outras pessoas continuaram a estudestava errado com ela. Desse trabalho veio o que mais tarde passou a ser chaPadro Ampliada.

    Houve um problema crtico que apareceu bem no incio da gramtica gerativa.tenso crucial, ainda no resolvida, que de certo modo direcionou a rea desdetenso entre o que chamamos tecnicamente de adequao descritiva e explicat

    gramtica de, digamos, Hidatsa deve ser descritivamente adequada, ento temapresentar os fatos de maneira correta. As gramticas tradicionais no so desadequadas porque elas nem mesmo tentam descrever os fatos. No o objetivobjetivo descrever propriedades um tanto gerais e excees, e talvez elas sejde maneira precisa. Mas a maneira como as coisas realmente funcionam, era almesmo elas tentaram descrever. No era considerado problema; ento no dperguntar se as gramticas tradicionais possuem a condio de adequao descaso de uma gramtica explcita - a gramtica gerativa simplesmente uma grexplcita - to logo as regras se tornem explcitas, pode-se questionar se elas eapresentando os fatos corretamente, e claro que isso nunca acontece. Os fat

    complicados demais; no entendemos suficientemente deles. Mesmo a Qumicaconseguem apenas descrever parcialmente os fatos. Ento, voc pode tentar efatos essenciais da melhor maneira possvel. A partir do momento em que vocentend-los, a gramtica passa a ser descritivamente adequada. Quando se teos fatos, no incio eles parecem ser incrivelmente complexos. Cada lngua parediferente das outras e dentro de uma mesma lngua, parece no haver duas cosemelhantes. Por exemplo, em ingls, oraes relativas no se parecem com inelas tm propriedades bem diferentes e as passivas tambm no se parecem cinterrogativas. Todas as coisas parecem ser to diferentes umas das outras, qutem sistemas de regras muito ricos para determinadas construes em determi

    O mesmo verdadeiro para a parte fonolgica ou para a parte semntica: vocdescries muito extensas e detalhadas que so muito complicadas e variam mpara lngua, e mesmo dentro de uma mesma lngua.

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    H outra considerao que mostra de imediato que esta abordagem no pode sfato das crianas aprenderem uma lngua. Elas aprendem e o fazem rapidamendados. Na aprendizagem de vocabulrio, fcil demonstrar que as crianas nredor dados suficientes para saber o que sabem. Quando se vai estudar sintaxcoisas, v-se que as crianas no ouvem muita coisa, mas elas sabem muito, phaver algum mtodo pelo qual a mente constri uma gramtica descritivament

    com base em dados limitados e ambguos. Este o segundo grande problemaexplicado satisfatoriamente: adequao explicativa. Uma teoria de linguagem das condies de adequao explicativa na medida em que explica este problemmedida em que mostra como a mente pode construir uma teoria de linguagemdescritivamente adequada (o que ela faz de alguma maneira), usando somenteesto prontamente disponveis para a criana.

    A procura pela adequao explicativa instantaneamente levou percepo de qdevem ser todas semelhantes. No pode haver muita variao entre elas, porqcriana pode aprender qualquer lngua. Em qualquer lugar em que a criana esinstantaneamente desenvolver ("aprender" realmente no a palavra certa nlngua daquela comunidade. Ento a mente deve ser capaz de desenvolver qualno possvel que desenvolver esta ou aquela lngua seja algo pr-determinadsignifica basicamente que as lnguas devem ser todas semelhantes, porque muirapidamente e baseada em muito pouca evidncia, a criana desenvolve a lngda comunidade, com todas suas propriedades detalhadas, que vo muito almamais descreveu.

    Assim, por um lado, sabemos que as lnguas tm que ser semelhantes e que elsimples, pois de outro modo elas no poderiam ser adquiridas. Por outro lado,analisadas descritivamente, parecem muito complicadas, muito variadas. Esse

    uma tenso real e esta a questo bsica na rea: tentar mostrar que possesta tenso. Da dcada de 60, quando estes problemas tornaram-se bvios, at1980 essa foi a questo fundamental. Se voc olhar o trabalho daquele perodosobre-A,ascondies de ilhas-QU,a recuperao de apagamentos,ilhas de Rbarra, a hiptese da preservao da estrutura de Emond, as condies sobre tr- tudo isso eram tentativas de ver se era possvel abstrair princpios muito geracomplicadas, deixando um resduo mais simples para a criana adquirir. Ento,dizer que os princpios bsicos interagem para produzir os fenmenos e a criansimplesmente adquire o resduo, as excees, como verbos irregulares e assim

    Essa abordagem finalmente comeou a funcionar. As conferncias de Pisa

    11

    repperodo muito interessante. Passei alguns meses em Pisa e houve um SeminriNormale. A Itlia um pas do sul, do tipo do Brasil: nada funciona. Mas eles tuniversidade avanada, a Scuola Normale, principalmente em cincias e matepara ser honesto, a nica parte do sistema de educao superior l que parecHavia lingistas muito bons de toda a Europa no Seminrio, pessoas como LuigGiuglielmo Cinque, Giuseppe Longobardi, Adriana Belletti, pessoas dos pases dtivemos um seminrio bem dinmico. Todos trabalhamos, dia aps dia e as coise encaixaram. Depois, houve um seminrio internacional em abril, aquele emesteve, Denilda. Foi o encontro dos Lingistas Gerativos do Velho Mundo (GLOLinguists of the Old World'), a sociedade europia de lingstica gerativa.

    O GLOW era composto praticamente de pessoas muito jovens, pois elas tinhammesma coisa que fizemos: trabalhar fora da instituio acadmica dashumanid

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    cincias sociais. Essas reas so muito resistentes a novas idias, diferentemencincias que acolhem as novas idias, porque sabem que assim que crescemdesenvolvemos. As cincias em geral tambm recebem bem os desafios: nessaespera-se que os alunos se levantem e digam ao professor porque ele est errahumanidades e as cincias sociais ainda tm carter pr-cientfico em certo senautoritrias. Os alunos simplesmente aceitam o que lhes dizem e no desafiam

    desse modo, essas reas no permitem que novas idias se desenvolvam. Esteambiente perigoso e os lingistas sempre se desenvolveram fora dele. Os Estaum caso tpico: os lingistas desenvolveram-se no em Harvard, mas no MIT,apenas a 3200kms. O MIT uma grande universidade baseada em cincias eenquanto Harvard uma grande universidade baseada em humanidades e cinAs diferenas so muito acentuadas e o padro se repete atravs dos E.U.A. ePortanto, o GLOW formado principalmente por ovens, que de alguma maneirafastaram do sistema tradicional.

    No encontro do GLOW, houve um seminrio muito intenso onde passamos o diconversando etc. e muitos resultados surgiram da. Mais tarde, eu escrevi sobrLectures on Government and Binding, mas esse livro foi basicamente os resultadiscusses e de outras no MIT. Representou uma grande mudana, e na poca,no percebi quo grande foi essa mudana. Depois de um ou dois anos, entretclaro que representou uma mudana radical: foi a primeira teoria genuna, apeerrada, mas pelo menos uma com as propriedades certas. Foi a primeira teoriagenuna a ser produzida nesses 2500 anos, porque mostrou como possvel, eat um certo ponto mesmo na prtica, superar o conflito entre adequao descexplicativa.

    A abordagem delineada nesse livro a de Princpios e Parmetros. Pressupe-s

    princpios sejam uniformes, isto , que eles sejam apenas parte da mente. Ostambm so fixos, mas eles permitem escolhas: por exemplo, uma lngua exproutra no, ou em uma lngua voc expressa as flexes e em outra no, emboraem sua mente da mesma maneira. As diferenas entre as lnguas, ento, so paudveis: uma criana pode ouvi-las. Os princpios simplesmente esto l e eleos princpios da teoria de ligao, teoria de casos, teoria theta, e assim por diainteragem de um modo que produz o que parecem ser fenmenos superficialmdiferentes, embora sejam, na verdade, quase todos idnticos, do ponto de vistorganismo, por exemplo, um marciano olhando para ns da mesma maneira qupara os pombos. H basicamente uma lngua nica com algumas pequenas dife

    dialetais: essa lngua nica so os princpios; as pequenas diferenas dialetaisdos valores para parmetros. Essa parece ser uma maneira muito produtiva decoisas. preciso satisfazer a adequao descritiva, essa a principal condio:fatos corretamente. Esta, entretanto, foi uma maneira de satisfazer tanto a addescritiva como a condio para a adequao explicativa, o que levou a uma etrabalhos descritivos porque havia novas perguntas a fazer, e agora as pessoaspartes do mundo estavam interessadas em estudar sua prpria lngua em profu

    Acontece que o MIT um centro, talvez um dos maiores centros do mundo, deaborgena australiana porque Ken Hale est l e nisso que ele trabalha. Comprograma sob sua direo para ensinar os princpios bsicos da lingstica paranativos tais como falantes de Navajo ou Hopi. Trouxemos essas pessoas para oelas tenham tido muito menos educao formal do que a maioria dos que entracom a idia de que seria mais fcil ensinar lingstica para eles do que ns apr

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    lngua. Parece que estvamos certos. Como eles no tinham formao em cinmatemtica, tivemos que ensin-los o que significa fazer um trabalho cientficopossvel ensin-los e eles realmente aprendem.

    Ento, eles comearam a trabalhar com suas lnguas. claro que eles descobritipo de coisaque nenhum dos lingistas antropolgicos nunca havia notado, po

    detalhes muito sutis e preciso realmente ter um domnio completo da lnguaseriamente. H alguns lingistas que conseguem adquirir algo parecido com ocompleto de outras lnguas e realmente estudam-nas seriamente. Se voc sabest procurando, mesmo se for algum que tenha muito pouco talento para lnpode fazer perguntas que levaro a respostas interessantes. Isto acontece porqperguntas corretas, no porque eu saiba alguma coisa sobre a lngua.

    Quando as pessoas comeam a estudar suas prprias lnguas, descobrem todocoisa, principalmente se o fizerem em grupos. Se estiverem sozinhas, pode sera concluses errneas, pois no se tem a correo que vem ao experimentar soutra pessoa. O estudo do ingls, italiano, francs, alemo, japons etc. avan

    rpido, em parte porque havia grupos de pessoas fazendo pesquisa. Uma pess assim que funciona na minha lngua materna" e a outra na carteira prxima derrado. No assim que ocorre na sua lngua e aqui est o porqu". Ento, qugrupos de pessoas trabalhando pode-se progredir rapidamente e obter novas idVoc v claramente o quanto as teorias tm que mudar, e assim por diante.

    Este tipo de pesquisa explodiu na dcada 80, que foi um perodo muito rico. Prse aprendeu mais sobre linguagem nos anos 80 do que nos 2500 anos anteriorcrescendo, e to rapidamente, que est ficando impossvel acompanhar o ritmotrinta anos, no meu prprio Departamento, qualquer membro da faculdade pod

    qualquer banca de dissertao. Isto impossvel agora. Voc tem que estar nadissertao que verse sobre algum tpico que voc conhea; caso contrrio, talpossa aprender alguma coisa, mas realmente no poder contribuir muito. Noporque tudo est se tornando mais especializado: quanto mais se entende sobrmais fcil fica de acompanhar, porque voc consegue pegar os princpios e o qum monte de excees acaba caindo em um padro. Assim, ambas as coisas asimultaneamente, como nas cincias.

    Isto nos traz para o Programa Minimalista, que uma tentativa de procurar moestes grandes sucessos no so nada slidos. Isto , eles se baseiam em umadescritiva que funciona, mas que est errada porque no motivada e deve se

    Quando uma rea torna-se suficientemente avanada, voc pode comear a fabaseadas em princpios sobre ela e mesmo nas cincias isso no feito com frmaioria das cincias e na matemtica, voc faz o melhor que pode em condiMesmo na matemtica, at cerca de um sculo e meio atrs, as pessoas estavatrabalho extremamente avanado com sistemas que eles sabiam que possuaminternas. Os sistemas no funcionavam, mas eles continuavam sendo usados,havia nada melhor. Portanto, fazer perguntas realmente baseadas em princpioraro e talvez prematuro. Tenho a impresso, juntamente com algumas outrasdiria que consensual), de que agora uma boa hora para fazer isso. Voc pofazer essas perguntas em lingstica e voc pode aprender muito com elas, em

    estejamos nem um pouco perto de poder dar respostas razoveis. Novamente,efeito positivo, disciplinar. Quando voc olha para as descries das coisas quecomo extrao de sujeitos, percebe que, algumas vezes elas so to complicad

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    fenmenos em si. So chamadas de teorias, mas no so teorias verdadeirameexplicativas porque no se baseiam em princpios independentemente justificadteorias tm freqentemente o mesmo nvel de complexidade dos fenmenos qudescrever, e na medida em que isso verdadeiro, elas so basicamente tecnolapresentada como teoria. O modelo Minimalista o fora a olhar para as descrie perguntar "Onde tenho realmente uma explicao ?" "Onde a descrio foi m

    algo que est fora da teoria ?" Perguntas como essas levaram ao Programa Minainda est em seus primeiros estgios; temos que ver onde ele nos levar.

    Adair Palcio: Muito obrigado, Professor Chomsky. Agora a Nbia vai fazer su

    Nbia Rabelo Baker Faria: Professor Chomsky, estou aqui representando ospergunta est relacionada s qualificaes acadmicas de um lingista, ento aver com a primeira parte da sua resposta pergunta de Adair e pergunta da

    Observando a histria da gramtica gerativa, podemos ver que alguns lingistapsicolingistas aplicaram a gramtica gerativa sem levar em considerao suas

    pressuposies tericas e conseqncias. O que normalmente parece aconteceepistemolgica da teoria mal compreendida por aqueles que afirmam ser a faa teoria, especificamente em relao ao uso da teoria para lidar com problematentativas feitas em meados dos anos 60 para se escrever as gramticas das cexemplo disso. A partir dessas consideraes, o que o senhor julga necessrioacadmico como conhecimento prvio para estudantes de lingstica, para quelingstica possa ser avaliada em bases mais slidas ?

    Noam Chomsky: Deixe-me primeiro dizer que h diferentes opinies sobre esEnto, o que eu vou falar o que eu penso; no o consenso. Na verdade, noDepartamento, que consiste de cerca de 10 professores, eu sou claramente umvem tona todos os anos quando estamos admitindo novos alunos de ps-gradiscordo de quase todos os meus colegas sobre o tipo de aluno que devemos ameu ponto de vista individual, voc no o ouviria em outros lugares, nem mescolegas mais prximos, quanto mais de outras pessoas; portanto, no leve mui

    Uma qualificao importante, no sei se acadmica ou pessoal, o ceticismo.tudo, voc no deve levar muito a srio qualquer coisa que ouvir de qualquer pseja uma autoridade. Este o requisito nmero um. No sei de onde vem isso,qualidade muito boa da mente. Nas cincias voc de certa maneira treinadose voc est fazendo um curso de ps-graduao em fsicano MIT, no se esp

    tome notas, espera-se que desafie o professor e descubra o que est errado. Evoc tenha idias novas e diga aos mais velhos porque eles esto errados. ascincias avanadas funcionam, mas isso no ocorre nas outras disciplinas, e motivos pelos quais elas no progridem muito. A primeira qualidade o ceticisque lhe mostrem as coisas, no que lhe digam como elas so. No suficientedizer alguma coisa, voc quer as razes para poder avali-las. Ento, voc devque eu vou dizer agora com muito ceticismo.

    Daqui a um ms, no MIT, teremos uma reunio para admitir alunos para o prTalvez uma centena de alunos se inscrevam, os melhores alunos de todo o mualtamente qualificados, tm bom preparo e muito difcil escolher entre eles. Pcomo ser a discusso porque tem sido assim h 30 anos. Vou discordar de todDepartamento sobre quem devemos escolher, baseado numa questo especficdia, j h cursos de lingstica oferecidos em nvel de graduao, em todo mun

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    temos alunos com 22 anos de idade que estudaram 4 anos, durante os quais sconcentrao foi em lingstica. E eles realmente sabem muito; eu no sei a meles sabem sobre muitas coisas. Entretanto, logo que eles entram descobrimosque comear desde o incio. No importa o que fizeram, mesmo que tenham pulivros sobre temas tcnicos, eles tm que iniciar pelos cursos introdutrios porqfeito de maneira diferente na ps-graduao. Voc olha os problemas de uma

    diferente. Em parte o que voc disse: as pessoas aplicam coisas sem realmenalgumas vezes isso feito em grande detalhe, com uma certa sofisticao, maentendimento real. Ento, ns sempre achamos que temos de comear do incialunos que tm o equivalente a PhD de outra instituio.

    Tenho a impresso de que as pessoas no deveriam dedicar toda sua atenolingstica quando tm entre 18 e 22 anos de idade. H um mundo muito maisdo que esse. Acho que elas deveriam estar estudando outras coisas e vir paraconhecimentos: matemtica, histria, alguma coisa que no seja lingstica. Isdeveriam vir para a lingstica com uma bagagem cultural mais rica. Mas eu acnico no departamento que pensa assim e como um departamento democrtiestudantes cujas qualificaes acadmicas principais esto na lingstica. Pessoacho que seja uma boa idia, embora algumas das melhores pessoas venhamassim que fazemos.

    Eu pessoalmente acho que nesta poca da vida - na graduao, as pessoas deexplorando o mundo de maneira mais ampla, e somente na ps-graduao fazconcentrar em um tpico especfico. Na ps-graduao, faz sentido trabalhar insobre um tpico, aprender alguma coisa sobre ele, prestando ateno a outrasclaro, mas no antes disso. Talvez esta opinio seja influenciada pela minha prexperincia pessoal. Eu vim para a rea sem nenhum conhecimento prvio. Na

    um pequeno segredo conhecido entre lingistas profissionais e eles so suficieneducados para no falar sobre isso. que mesmo agora, no tenho qualificaprofissionais. Nunca conseguiria entrar num bom curso de ps-graduo em linnunca me admitiriam. Certamente, eu no passaria no nosso prprio exame. Ispessoal, mas para mim tem valor e eu acho que pode ter para outras pessoas t

    Vamos para outro extremo: o programa que eu mencionei com os falantes natiamericanos de, digamos, Navaho ou Hopi. Eles vm com conhecimentos acadlimitados. Alguns deles fizeram faculdade, mas no fizeram faculdade de primei-se dizer que tiveram uma formao acadmica razoavelmente limitada. No enconseguem aprender lingstica e so capazes de fazer um trabalho muito bomhoje, muitas pessoas que fazem um trabalho mais avanado em lingstica tiveformao intensiva em lingstica durante o perodo equivalente ao programa dnorte-americano, isto , entre as idades de 18 e 22 anos. Se essa uma boa idm idia, pode-se discutir, mas essa a situao.

    Qualquer que seja a base acadmica do aluno, acho que a coisa mais importande esprito, um esprito exploratrio, vontade de mudar as coisas, isto , uma ique coisas que lhe disseram faam sentido e se elas no fizerem, voc no temlas. Esse ponto de vista se desenvolve nas pessoas de maneiras diferentes e cincias comprovadamente til e acho que na lingstica, isso definitivamen

    Quando olho para os ltimos 35 anos, durante os quais preparamos alunos degraduao, vejo que todos eles entraram para o programa com qualificaes ealtas. So todos muito inteligentes, os melhores alunos das melhores universid

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    se separam rapidamente. Normalmente, voc pode sentir quais vo se dar bevo, e na maioria das vezes isso tem a ver com essas qualidades. Portanto, bqualidades, no importa de onde elas venham.

    Quanto formao acadmica, acho que pode variar muito. Atualmente, em sutal formao fortemente profissional. Mas por outro lado, as pessoas tm de

    quando voc faz uma pesquisa sobre um tema, voc faz porque interessa saberesposta, no s porque voc est curioso.

    Por exemplo, eu acabei de vir de helicptero de Recife para Macei e vi muitasDigamos que algum do Departamento de Biologia proponha uma tese na qualcontar o nmero de palmeiras que h entre Recife e Macei. Ningum no deparbiologia permitir que ele faa isso, porque no interessa saber a resposta. Siresposta e talvez algum ache que ela est errada e tente faz-lo melhor. Masnenhuma diferena, ento por que faz-lo ? Muitos trabalhos em lingstica sotambm: no h razo para faz-los. No interessa se a resposta vem de umaoutra. No se pode fazer nada com os dados e voc provavelmente descobrir

    fez a pergunta errada.

    Ento, acho que uma parte da formao acadmica deveria tornar as pessoascticas mas tambm auto-crticas. Pergunte a si mesmo: "Vou investigar esta qimportncia saber a resposta? "Se no tiver, voc deve se perguntar porque esisso. S por curiosidade ? Contar o nmero de palmeiras que existem entre aq

    O que voc disse sobre as pessoas em outras reas absolutamente correto. Ofoi feito em lingstica aplicada, com ensino de lnguas, com a linguagem da criprocessamento de linguagem, em patologia e em outras reas foi realmente bacompreenso muito superficial. Na maioria das vezes, eles olharam para a tecndescritiva sem entender do que se tratava e porque estava provavelmente errarelao a isso, o incio da histria da psicolingstica muito interessante. A psicomo as cincias, embora esteja mudando. Em fsica, por exemplo, no h umreal entre fsica experimental e fsica terica. Algumas pessoas passam mais teexperimentos e outras mais tempo em suas mesas, mas todas elas interagem.experimental no espera que lhe digam qual teoria aplicar para depois fazer usobre ela. A coisa funciona nas duas direes: os experimentos so inovadorestem que mudar sua opinio e assim por diante.

    Na psicologia foi diferente: os psiclogos queriam que lhes dissessem a verdad

    linguagem para depois aplic-la ao processamento da linguagem ou linguageEles pegaram a ltima coisa que publicamos, por exemplo,Aspects, e decidiraexperimentos com ele. Experimentos, entretanto, so difceis de fazer e quandningum mais acreditava no modelo deAspects, porque ele estava em transicom que os psiclogos ficassem muito aborrecidos. Algumas vezes era muito epara os experimentos. Eram estudos sobre processamento baseados na idia dnegao, a formao de interrogativas e a formao da passiva eram transforindependentes que de alguma maneira contriburam para tornar as coisas aindde processar. Os experimentos tinham resultados confusos, o que levou os psicalgumas concluses muito estranhas e pr-cientficas. Por exemplo, eles conclu

    como os experimentos chegaram a resultados confusos, a teoria deveria estardisso, disseram eles, os lingistas ficavam mudando a teoria, ento ela realmeerrada. Assim, durante um perodo de 15 anos, os psiclogos no fizeram nada

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    lingstica. Tais crenas simplesmente acabaram com a pesquisa psicolingsticagora ela est ressurgindo com pessoas que tm mentalidade cientfica.

    claro que no se pode simplesmente pegar a ltima publicao em lingsticaexperimentos com ela. preciso entender por que a pessoa colocou as coisas dse suas razes foram motivadas, que partes provavelmente sofrero mudanas

    apenas palpites, que partes foram colocadas l apenas para aproveitar os dado mo (embora voc no saiba por que os dados so daquele jeito), e que partprincpio importante por trs. Voc tem que acreditar que seu prprio trabalhomaneira de olhar as coisas. Voc est l para ser criativo sua maneira, no pos lingistas dizem. Ao ver o que acontece quando se trabalha com idias lingdiferentes contextos, como a linguagem da criana ou afasia, voc pode ter no

    De maneira geral, esse problema foi contornado: cada vez mais h uma troca nlingistas e psiclogos. Mas por um bom tempo esta interao no foi possveleram exatamente como voc as descreveu: mecnicas, sem propsito e algumprejudiciais.

    No caso das aplicaes em educao, foram realmente prejudiciais. O pior danopinio, foi causado pela lingstica estrutural. Os lingistas estruturais no ajuprofessores a serem cticos; apenas disseram "esta a verdade" e os professoacreditaram, desenvolvendo mtodos de ensino com base nessas teorias. As tesua maioria erradas, mas mesmo na medida em que esto certas, a aplicaoirremediavelmente tediosa. Se voc tiver que aprender uma lngua usando oslingstica estrutural, voc tem que memorizar padres. insuportavelmente e

    Uma vez, minha esposa e eu fomos convidados para ir a Porto Rico, uma colnionde todos falam espanhol e aprendem ingls. Ns descobrimos, simplesmentepelas ruas, que se voc quisesse encontrar um restaurante perguntando em intinha que encontrar um pessoa que tivesse mais de 25 anos. Se voc falasse cpessoa mais nova, que tivesse estudado ingls no sistema escolar durante 12 aera capaz de dizer a voc como encontrar um restaurante na esquina mais prquando fomos s escolas, descobrimos por qu. Os alunos estavam aprendendmtodos estruturalistas, principalmente anlise estrutural: estudando padres,estruturas de sentenas, repetindo coisas inmeras vezes. Depois de cinco mincrianas estavam jogando coisas umas nas outras, correndo pela sala, colocancho ou fazendo algo parecido, porque aquilo era chato demais. Sem mencionaintelectualmente no tem sentido algum. Qualquer professor sabe que talvez 9

    problema esteja em manter o aluno interessado. Se eles estiverem interessadoaprendero. Se no estiverem, no aprendero, no importa o mtodo. A apargramticas transformacionais e elas produziram uma outra coisa que era igualDesta vez, em vez de estudar padres, estudavam-se transformaes. Os aluncomo se formam sentenas pela regra da passiva, algo em que ningum maisque era chato demais, de qualquer maneira.

    Este o tipo de aplicao de teoria com a qual voc deve se preocupar. Em psiesses mal-entendidos interromperam a pesquisa por cerca de 15 anos. Na edurealmente prejudicaram as pessoas e isso srio. Voc tem que ter responsabi

    suficiente como profissional para dizer ao professor: "Olhe, ns no sabemos aVoc tem que descobrir a resposta que a melhor para a sala de aula. Ns podvoc como achamos que a lngua funciona e realmente faz sentido saber o que

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    pensam. Mas voc tem que descobrir o que funciona tendo em vista os seus obeducacionais e sua situao". Os profissionais tm a responsabilidade de deixarclaro. Nas cincias eles o fazem. Voc no v um fsico no MIT dizendo s pessensinar crianas de 12 anos. Eles dizem: "Olhe, isto o que sabemos sobre fsiexplicar num nvel adequado, para que seus alunos entendam". Na lingstica,assim, infelizmente. Na psicologia ainda pior. Os psiclogos tm verdadeiram

    responsabilidade de dizer: "Olhe, aqui esto algumas coisas que achamos queProvavelmente vo mudar amanh, se a rea da psicologia ainda estiver viva.refletir sobre elas e us-las, se elas fizerem sentido para voc. No as use se atm sentido. Modifique-as e diga-nos como mudar nossas teorias, porque vocexperimentando-as." Esse o tipo certo de interao e na maioria das reas difcil transpor essa barreira. A formao acadmica simplesmente no funcionmaneira nas cincias. Nas humanidades e nas cincias sociais, tudo muito maento voc toma atitudes erradas, o que pode ser um tanto prejudicial algumacomo eu disse, essa apenas a minha viso pessoal e voc deve ser ctica em

    Adair Palcio: Muito obrigada. O senhor nos deu muito sobre o que refletir. A

    vai perguntar sobre o futuro.

    Mike Dillinger: Eu gostaria de retomar a pergunta da Denilda sobre o papel dlinguagem dentro da teoria lingstica e formul-la um pouco. No incio dos anoprops uma distino entre uso e competncia dizendo: "Estamos nos concentrcoisas no presente momento (competncia), e h outras que podero ser levadconsiderao mais tarde (desempenho)". Uma das coisas que eu tenho dificuldum lugar nessa dicotomia o processamento da linguagem, principalmente opcoisas que a Denilda mencionou, o uso e a variao da linguagem, so ainda msituar. O senhor poderia falar um pouco mais sobre isso?

    Noam Chomsky: A diferena entre saber alguma coisa e fazer alguma coisa H uma diferena: voc sabe coisas e voc faz coisas. Voc pode estudar o queestudar o que faz: so temas diferentes, no importa o que voc esteja estudaestiver estudando o uso do sistema visual, digamos, a maneira como voc v apossvel estudar o que voc faz e quais so os mecanismos internos. So simplestudos diferentes, embora obviamente relacionados.

    Num mundo sensato, que no o mundo em que vivemos, chamaramos o des"conhecimento". Nosso mundo no sensato: basta dizermos "conhecimento"soterrados por idias dbias provenientes da epistemologia, da psicologia e da

    mente que tentam explicar o que o conhecimento. preciso afastar essas id"Estou apenas me referindo ao que as pessoas sabem e queremos descobrir osaber". Utilizei a palavra "competncia" apenas para evitar discusses, emborasimplesmente "conhecimento" . No entanto, "competncia" levou a outras intererrneas, pois as pessoas possuem conotaes de competente e no-competenextremamente difcil encontrar uma palavra que as pessoas no interpretem er

    Novamente, isso no problema nas cincias. Se um fsico fala de, por exemplningum reclama que ele no tem emprego. Sabemos que eles esto apenas ucomo um conceito tcnico e que, para eles, essa palavra tem um significado es

    ponto, os lingistas esto num estgio semelhante ao das cincias no incio doquando essas coisas foram estabelecidas.

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    Os debates sobre competncia versus desempenho e dados versus teoria, sodisso. No sculo XVII, foi desenvolvido o conceito moderno de racionalidade qunas cincias. Embora no tenha sido muito difundido, tal conceito desenvolveu-significativamente em algumas reas, e extremamente importante, pois noao desenvolvimento das cincias, mas tambm foi um dos principais fatores naIndustrial. Uma das razes pelas quais a Revoluo Industrial aconteceu na Ing

    do outro lado do Canal, na Frana, foi porque a mentalidade cientfica estava mestabelecida na Inglaterra do que na Frana.

    Houve muitos outros efeitos desse conceito de racionalidade. Considere Descarexemplo, que comprava animais mortos em aougues e retirava seus olhos porinteressado na teoria da viso. Isso foi considerado chocante. Cavalheiros nocoisas; eles sentavam e estudavam Aristteles para saber o que ele dizia sobreDepois, verificavam o que Toms de Aquino disse sobre Aristteles, e era assidesenvolvia uma teoria da viso. Na poca, isso era considerado a verdadeira c

    Descartes superou isso, dizendo: se voc quiser desenvolver a teoria da viso,

    o olho de um carneiro, e ter que faz-lo sozinho, ao invs de mandar o criado.provocou uma grande mudana, e o mesmo aconteceu com o estudo da linguaperodo que o estudo das lnguas vernculas realmente comeou. Foi muito imde pessoas como Descartes escreverem em francs, ao invs de em latim, coisno era comum naquela poca. Eles no apenas escreveram em francs, mas cestudar francs.

    A Gramtica de Port-Royal12 foi chamada de "Gramtica Racional e Filosfica",pessoas acharam que isso queria dizer que ela era meio que deduzida de altosalgo como a geometria. No entanto, ela no era nada disso. Por exemplo, eles

    estudando algo que permaneceu um grande enigma durante 150 anos: algunssobre o francs falado, chamados de Regra de Vaugelas. Vaugelas foi um gramdescritivo francs que publicou a primeira gramtica do francs falado realmenEle descobriu algumas coisas muito interessantes sobre as oraes relativas, cquando voc pode colocar um artigo e quando no pode. Era nisso que estavano Monastrio de Port-Royal, e grande parte dos seus esforos foram empregatentativa de explicar coisas como essa. As teorias resultantes tm algo de baste foram as primeiras a envolver noes mais ou menos do tipo de transformafrasal . Na rea semntica, as idias que surgiram tambm so bastante modeDesenvolveram uma viso que exatamente a mesma das noes desenvolvid

    de sentido e referncia14

    e usaram-na para explicar a Regra de Vaugelas: ondecolocar uma orao relativa, onde no pode, quando ela delimita um sintagma,expande, a diferena entre expandir a referncia e expandir o significado, e assTudo isso foi desenvolvido por eles, mas no foi deduzido dos primeiros princpiatravs da anlise de alguns fatos interessantes sobre o francs falado que, atmomento, no haviam sido estudados por ningum. assim que as coisas funccincias. No d para distinguir os dados da teoria; tudo integrado. At muitrecentemente, os nicos dados que tnhamos vinham do uso da linguagem. Agestamos comeando a obter dados exticos como as imagens mentais/cerebraiimagery'), o que tornar as coisas mais interessantes.

    Mike Dillinger: O senhor diria, ento, que o processamento e oparsing passaconsiderados parte da competncia?

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    Noam Chomsky: No, o processamento o que voc faz, o que voc e eu efazendo agora: processando as sentenas um do outro. algo que fazemos, eestudar como fazemos. De algum modo, eu tenho que ter, na minha cabea, cde ingls e muito mais, porque o que voc est falando no o que eu falo. Sediferenas, e s vezes elas podem ser muito grandes, o que significa que eu temente conhecimento da minha prpria lngua, mas tambm capacidade de me

    memria estruturada, habilidades analticas e muitas outras coisas de vrios tiA teoria doparsing um pouco artificial, pois baseada na pressuposio de qapenas a gramtica, e isso certamente no verdade. Quando voc est proceusando seus conhecimentos, mas tambm est adaptando-os. preciso adaptmesmo para entender a pronncia de outra pessoa, quase reflexivamente, e adiferena seja enorme, voc nem mesmo nota que est adaptando. Isso faz padesempenho, que envolve conhecimento e muitas outras coisas. Se voc estudprocessamento, voc estuda todas essas coisas.

    Mike Dillinger: Mas muitos estudos parecem indicar que pelo menos algumasparsing utilizam apenas informaes gramaticais, e no necessitam de outros tiinformao.

    Noam Chomsky: Isso deve ao fato de as pessoas estarem estudando situaeidealizadas, o que faz sentido quando se est fazendo um experimento. Por qufazem experimentos, ao invs de simplesmente retratarem o que est acontecmundo? A resposta que o est acontecendo no mundo complicado demais,entender. Se os fsicos, os qumicos ou os bilogos tivessem que estudar os fenos cercam, no entenderiam nada, porque so complexos demais. Ento, fazeexperimentos para eliminar coisas. Um experimento nada mais que uma teori

    acho que isso no relevante, portanto, s vou olhar para aquilo". Nos primrquando Galileu estava comeando a fazer seus experimentos, foi criticado por sartificiais demais. Afinal, o que tem de importante numa esfera deslizando porIsso no acontece na vida real, o que acontece bem diferente. Quem se impolinhas retas ? No h nenhuma linha reta na natureza. Voc est apenas estudcoisinha artificial que no faz sentido algum.

    Hoje, as pessoas fazem o mesmo tipo de crtica lingstica: muito artificial,estudando toda a riqueza e a complexidade da linguagem, exatamente o que sGalileu.

    Se voltarmos no tempo e analisarmos a histria cuidadosamente, veremos quedos primeiros a perceber que a idealizao necessria, era, de certo modo, uGalileu inventava dados porque sabia que precisava convencer os aristocratasapoio, uma espcie de CNPq, mas que naquela poca eram duques e lordes. Elconseguiam perceber a serventia desse tipo de coisa, e Galileu precisava convevalia a pena. Quem est interessado em saber por que as coisas caem para baipara cima? bvio que elas caem para baixo, para onde mais elas poderiam cadifcil convencer as pessoas de que havia algo para ser estudado.

    Ele distorceu os fatos quando inventou o telescpio; uma histria interessantgeralmente aprendemos que Galileu inventou o telescpio, viu as quatro luastodo mundo ficou empolgado. No foi bem assim que as coisas se passaram. um telescpio; voc tem que aprender a entender o que v. O telescpio de Gaprimitivo e quando as pessoas olhavam atravs dele, viam apenas coisas intei

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    o que estavam vendo. Mas descobriram que, se olhassem para uma casa do ouvale, ela ficava maior. Hoje entendemos por qu: nossa mente capaz de suprriqueza de compreenso que a imagem visual no pde proporcionar. Ento, q- o representando do CNPq - olhava para as coisas das quais ele entendia, comexemplo, casas, ele conseguia v-las. Mas quando olhava para Jpiter, no conenxergar nada, e Galileu fez com que ele acreditasse que estava vendo quatro l

    Galileu teve que empregar muitos truques para fazer com que as pessoas acreessas coisas eram importantes, e alguns casos so muito engraados.

    Pode-se compreender isso com a leitura de seus Dilogos15, onde ele descreveexperimentos. Galileu no realizou a maioria daqueles experimentos famosos;alis, so impossveis de realizar. O que ele realmente fazia era deduzir coisase depois forjava experimentos para provar suas concluses. Um experimento faquele de soltar duas esferas de cima da Torre de Pisa. Seria impossvel obterapropriados soltando duas esferas, todo tipo de coisa interferiria e nunca dariaapenas contou uma histria sobre soltar esferas de cima da Torre, mas o que e

    verdade foi muito mais interessante: deduziu seus resultados a partir de princSe voc ler o argumento dele com ateno, ver que ele diz que se voc pegargrande e uma pequena, elas cairo numa determinada velocidade, qualquer quvoc aproxim-las um pouco, elas continuaro a cair na mesma velocidade. Seaproxim-las de maneira que elas passem a se tocar, isso no mudar a velocielas caem. Como isso possvel? Agora elas so apenas uma massa, uma masportanto, o que se depreende da que no importa o tamanho da massa, a esa mesma velocidade. Esse foi o argumento de Galileu na verdade, mas com esele nunca convenceria os duques, por isso ele contou a histria das esferas caide Pisa.

    Hoje conseguimos superar esses problemas e realizamos apenas os experimennecessrios. Sabemos que um experimento uma teoria que assume que alguirrelevantes, e que se elas forem postas de lado, talvez possamos encontrar uexplique parte do fenmeno. Em ltima anlise, esperamos poder voltar e explicomplexidade de fenmeno.

    O mesmo ocorre com oparsing. O motivo pelo qual as pessoas estudamparsinsituaes artificiais, sob circunstncias especiais, e no no discurso comum, esperam que se voc conseguir se livrar dos outros fatores, talvez consiga encprincpios. E depois, voc pode voltar e olhar os outros fatores. Mas so criticad

    sociolingistas e pelas pessoas que trabalham com a chamada lingstica "da vise abstrarem da complexidade, quando na verdade, esto apenas sendo racion

    Mike Dillinger: Ento isso um tipo de idealizao, no ?

    Noam Chomsky: , mas "idealizao" um termo que pode provocar algunsentendidos, porque seu verdadeiro significado : se mover em direo realidavoc fala em idealizao ou abstrao, um esforo para encontrar a realidadefazemos uma esfera deslizar por um plano sem atrito, isso se chama idealizaestamos realmente fazendo buscando o princpio real pelo qual as coisas atraoutras. Os fenmenos que so inconvenientes: de certo modo eles no so r

    so complicados demais. como se a realidade se escondesse por trs dos fennecessrio se livrar de grande parte dos fenmenos para encontr-la.

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    Mike Dillinger: O senhor est dizendo, ento, que os estudos deparsing nosuficientemente abstratos?

    Noam Chomsky: Provavelmente no so. Mas eu gostaria de salientar que prlembrar de que quando as pessoas empregam a palavra "idealizao", empregsentido de uma tentativa de encontrar a realidade. realmente um termo estr

    Os cientistas entendem esse significado, mas em outras reas ele mal comprAlgumas pessoas acham que voc est estudando algo de outro mundo quandoidealizaes. Foi isso o que os duques disseram a Galileu, e se eles tivessem vehaveria cincia hoje. Estamos apenas estudando a coisa real: descrevemos o qfazem quando conversam umas com as outras.

    A cincia comea quando voc entende que, para encontrar a realidade, ter qdos fenmenos. Precisamos olhar para as coisas simples que podem revelar osprincpios, e depois talvez possamos voltar e compreender algo dos fenmenosSe concentrarmos nossa ateno apenas nos fenmenos, no entenderemos narealidade. As pessoas que olham para os fenmenos acabam obtendo uma por

    mas fazem muitas perguntas cujas respostas simplesmente no interessam.

    A teoria doparsing interessante e tem fornecido resultados interessantes poraltamente idealizada, ou seja, altamente racional, o que significa que est tentos verdadeiros princpios, os quais certamente envolvero conhecimento. Nooutra maneira. Quando eu ouo voc falar, eu uso o meu conhecimento de inglusando vrias outras coisas tambm, e queremos tentar descobrir que outras cessas.

    Mike Dillinger: O senhor acha possvel estabelecermos um paralelo entre as tanatmica e fisiolgica dos sistemas biolgicos de um lado e as teorias gramatiparsing de outro? Seria razovel fazer esse paralelo?

    Noam Chomsky: Na verdade no, porque elas no recortam o objeto de estudmaneira. Quando estudamos a fisiologia do crebro, estudamos como os neurofuncionam, como as substncias qumicas se movimentam entre os neurnios.chamado de fisiologia, mas paralelo gramtica gerativa. Podem-se estudarmecanismos, tanto na sua anatomia como sua fisiologia, e tambm possvelse usam os mecanismos. As Cincias do Crebro como um todo so como a gragerativa: no estudam como os mecanismos so usados.

    Considere o estudo da viso, por exemplo. Quando eu olho para essa sala, posminha ateno em um ou em outro aspecto da sala, e ela parecer diferente. Aimpresso ser gravada na minha retina, mas eu enxergarei coisas diferentes,do que eu estiver procurando. Isso est dentro da minha mente: eu escolho oprocurar. A imagem da retina permanece a mesma, como se eu estivesse proccoisa, mas eu vejo coisas diferentes. As pessoas no estudam isso, pois com

    Vejamos outro exemplo: na verdade, muito difcil explicar como eu consigo ee pegar isto. Ningum consegue compreender muito bem como isso possvel,grande problema para a robtica. Tentar entender como construir um rob queisso um problema bastante complicado. preciso saber as instrues que v

    e o cotovelo, preciso planejar, ter um feedback etc. As pessoas estudam isso,estuda por que fazer isso e no aquilo. Esse o tipo de problema que no d ntentar estudar.

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    Portanto, a maioria dos problemas relativos ao uso dos sistemas nem mesmo fcincia. No estudo da linguagem, pelo menos tenta-se fazer com que isso sejacincia, mas apenas uma pequena parte. Lembre-se de que voc estuda oparsproduo; h uma teoria deparsing, mas no h uma teoria de produo. Exissobre produo, obviamente, como Speaking, de Willem Levelt, mas no h mporque estudar a produo como tentar entender por que eu estico o brao p

    para aquilo. Est muito alm do que a cincia pode fazer. Mas oparsing, e a pspercepo em geral, podem ser estudados. Voc pode fazer algum progresso psimplifica o suficiente para tentar aprender alguma coisa.

    Mike Dillinger: O senhor mencionou que a psicolingstica est ressurgindo. Nque direes parecem ser mais promissoras para a pesquisa psicolingstica?

    Noam Chomsky: H muitos trabalhos interessantes. O meu prprio Departamexemplo. Cerca de metade dos nossos alunos fazem parte de um programa conDepartamento de Cincias Cerebrais e Comportamentais, com durao de cincbasicamente, Psicologia Cognitiva. Os alunos fazem cursos e desenvolvem proj

    pesquisa nas duas reas. Sempre quisemos aproximar esses dois campos, e agprograma est tomando caminhos interessantes, e eles fazem de tudo, desde eprocessamento at estudos das imagens cerebrais.

    Um dos grandes problemas de se estudar a linguagem que ela prpria doshumanos; no d para fazer experincias com outros organismos. Uma das maimportantes que as pessoas descobriram para estudar a viso, por exemplo, foigatos e macacos, colocar eletrodos em seus crebros, cri-los em ambientes cassim por diante. H discusses sobre se isso correto ou no, mas as pessoae aprendemos muito com essas pesquisas. No caso dos seres humanos, isso si

    no pode ser feito, e torturar macacos no ajuda muito, porque eles no tm lialgo parecido. Estimular o crebro humano eletricamente durante uma cirurgiaque acontecia, algo que era feito anos atrs - isso foi feito em McGill, alis16- npermitido. Hoje isto considerado apropriadamente antitico. Voc no pode sirealizar experimentos intrusivos com humanos, o que dificultou saber mais soblinguagem. Por outro lado, h tcnicas no-intrusivas sendo desenvolvidas, coexemplo, registrar a atividade eltrica do crebro. Hoje em dia, possvel regisdo que ocorre: pode-se ver que partes do crebro esto ativas enquanto vocprocessando (estudos do fluxo sangneo cerebral regional - rCBF = 'regional cflow'), voc pode ver algumas reaes qumicas acontecendo (com espectrosco

    ressonncia magntica nuclear (NMR = 'nuclear magnetic resonance'), e assimpossvel at mesmo ver que partes do crebro so ativadas quando voc ouveirregular. Alis, o ltimo nmero de Language tem um longo editorial sobre a fimagens cerebrais com resultados sobre processamento de verbos regulares e iDescobriu-se que eles envolvem o uso de partes diferentes do crebro. At agosabe o porqu, est muito alm da nossa compreenso, mas estamos comeanalgumas evidncias sobre isso. Portanto, h desde estudos como esse at estuprocessamento, e muito trabalho na rea de aquisio de linguagem, que uminteressante.Tudo isso est acontecendo, e muitos de nossos alunos esto envdesenvolvendo at suas dissertaes sobre esses temas.

    Mike Dillinger: Eu gostaria de passar para o Minimalismo e perguntar: Nessequais seriam os melhores candidatos a princpios da linguagem e como eles po

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    parametrizados? As pessoas perguntam isso freqentemente, e s vezes difcprincpios especficos que sobreviveram passagem do tempo.

    Noam Chomsky: Eu acho que muitas coisas sobreviveram passagem do tem que h dois tipos bsicos de operaes: a Juno18('Merge') e a Atrao ('AttEssas so operaes recursivas, voc as usa para construir coisas e uni-las.

    A Juno parece ser inevitvel. Parece ser assimtrica: se voc juntar uma coisresultado tem exatamente as propriedades do alvo.

    Outra coisa a idia de que grande parte do conjunto de operaes transformarealidade se reduz a componentes atrativos para apagar componentes no-inteEste me parece um princpio muito poderoso, embora no seja possvel afirmarsobreviveu passagem do tempo, porque novo, tem apenas cerca de dois antipo de resultado que realmente parece estar correto.

    A idia de que o movimento aberto um reflexo das propriedades sensrio-mo

    mais controversa, mas eu acho que deve estar certa, embora no possa ser prmomento. possvel demonstrar isso em casos muitos simples, como algumasdo movimento -QU, mas o tpico geral bastante complicado. Infelizmente, nitrabalhando nisso, talvez porque seja complicado demais. Faz anos que sugiropara as dissertaes dos alunos, sem resultados, ainda. um problema compleitaliano funciona diferentemente do espanhol? Voc acha que os sintagmas queformados funcionariam da mesma maneira, mas no isso que ocorre. Ainda adescobriro que isso verdade, como a teoria de Galileu sobre as esferas caindPisa. Sua lgica est correta.

    Quanto aos outros princpios, como o da teoria da ligao, por exemplo, ainda

    totalmente compreendidos, mas penso que resistiram razoavelmente bem patempo.

    Mike Dillinger: Mas eles no esto fora do componente computacional?

    Noam Chomsky: Acho que sim. A questo de onde eles esto importante,so, no est bem entendido ainda. A nossa compreenso deles no est bemainda, muitas questes quanto aos mecanismos, embora as idias bsicas estejestabelecidas. Minha opinio de que eles so interpretados na interface, comem The Minimalist Program, mas parece que h evidncias contra isso. Ento,analisar, descobrir que as coisas acontecem como se estivessem nos primeiroderivao. O que temos de demonstrar que isso um reflexo dos traos de cestruturas anteriores. Acho que isso sim, funciona.

    Muitas dessas questes tcnicas relacionam-se reconstruo em cadeias-A. Aexemplo, as opinies so bastante diferentes. Norbert Hornstein tem algumas isobre isso que diferem das minhas. Elas esto num artigo no-publicado, em qa reconstruo19. Porm, eu no acredito nisso. Essas questes so bastante aestrutura bsica bem estvel.

    Com relao teoria theta, tambm h muita polmica. Tenho a impresso de

    acabar sendo mais adequado, algo como a teoria de Hale e Keyser20

    , mas nse deve mais a razes conceptuais do que devido s evidncias. A teoria delesfortemente a variedade dos papis theta, mas parece ser possvel encontr-la

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    grande quantidade tipolgica de lnguas que parecem ser totalmente diferentesparecem ser mais ou menos iguais em termos dessas estruturas semnticas;que Hale e Keyser esto no caminho certo. Meu outro motivo para acreditar nisHale tem um instinto milagroso sobre a lngua. Ento, quando ele tem algum pgeralmente est certo. Minha experincia diz que ele provavelmente est certo,no tenha nenhuma razo para tal; eu acredito nele, apesar de contradizer o q

    anteriormente sobre ser ctico.A Teoria dos Casos comeou h mais ou menos dezessete anos, com uma propque realmente revolucionou a rea. Quando Howard Lasnik e eu escrevemos FiControlem 197721, o qual juntou muitas coisas de forma interessante, ficamossatisfeitos. Mas a eu recebi uma carta do Jean-Roger Vergnaud, mostrando questvamos tentando explicar poderia ser explicado mais facilmente se assumsingls possua os mesmos casos do latim22. Ningum havia pensado nisso, porqobviamente, o ingls no tem nenhum caso, mas quando voc analisa a idia dque ela funciona. Muito do que estvamos descrevendo funcionaria melhor se fi

    que o ingls era como o latim. Essa sugesto foi muito valiosa, e provocou umexploso de estudos sobre a Teoria dos Casos. Os resultados desse trabalho pabastante estveis, embora eu ache que haver mudanas radicais quando as pcomearem a analisar dados provenientes de um conjunto mais rico de lnguas.desse trabalho baseou-se em lnguas indo-europias, mas se voc analisar as lamaznicas ou as lnguas da Nova Guin e outras, encontrar uma grande varicoisas que lembram os sistemas de caso, mas funcionam de modo completameAcho que, quando essa informao for melhor compreendida, provavelmente trdramaticamente o que pensamos sobre os sistemas de caso. Mesmo assim achmuitos aspectos estveis nesse princpio.

    No entanto, h algumas propriedades que no se encaixam no Programa MinimDurante muito tempo, por exemplo, as pesquisas concentravam-se em coisas cprincpio da categoria vazia: quando voc pode extrair, ilhas, barreiras, e tudono consigo ver uma maneira melhor de lidar com isso. Os mecanismos que foregncia, regncia apropriada e assim por diante, operavam descritivamente,daqueles casos em que a tecnologia descritiva quase da mesma complexidadque se est descrevendo. No uma explicao verdadeira, apenas um modpor enquanto no vemos nenhuma maneira melhor de explic-lo. por isso qusobre esse tema atualmente.

    Quando voc se volta para a variao paramtrica, esta tambm uma questinteressante. Por exemplo, qual o significado do QU-in situ ('wh-in situ') em cprincpio interpretativo? um movimento coberto?

    Mike Dillinger: No seria uma parametrizao da Atrao ('Attract-feature')?

    Noam Chomsky: H alguma parametrizao acontecendo a, sim, mas o qu e onde ela ocorre no est claro, e isso a chave do problema. O que exatapara a criana se ela vai ocorrer ou no? A melhor idia que eu conheo, aindapor Lisa Cheng em sua dissertao23, em que ela tentou relacionar isso presealguns casos de morfemas abertos de interrogativas; isso parece ser um bom t

    acionamento. Pelo menos a proposta dela parece ser bem ampla em termos deAcho que coisas como sujeito nulo, porm, ainda esto muito no ar.

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    Mike Dillinger: O senhor poderia nos dar um exemplo de parametrizao da oJuno ('Merge')?

    Noam Chomsky: Espero que no exista nenhum. Na verdade, h algumas perbastante interessantes como essa, que esto sendo feitas agora, pela primeiraperguntas sempre se baseiam em idias tericas, no h outra maneira de faz

    no importa quo superficiais elas sejam. medida que as teorias vo sendo aas perguntas tambm melhoram.

    Considere a Juno. Se voc analisar a teoria segundo a qual as operaes funJuno e Atrao, quando voc olha o movimento aberto, voc descobre que combinao das duas. Alis, isso no foi colocado corretamente no Captulo 4 dMinimalist Program.Se voc estudar mais detalhadamente, perceber que o maberto vai envolver tanto a juno como a atrao e portanto, uma opo maIsso, por sua vez, leva-nos a predizer que, se a teoria deve ser elegante, no cucomputao voc sempre vai fazer uno, se puder; e far o movimento abertno existir nenhuma outra maneira da derivao convergir.

    Isso traz conseqncias importantes para a ordem relativa nas quais as coisasaparecer, por exemplo, no sintagma verbal. Assumindo que o sujeito seja SV-ia ordem padro, o que deveria ocorrer que quando voc tem o movimento aobjeto, o objeto ficar acima do sujeito, porque o sujeito ser introduzido primsujeito introduzido simplesmente pela Juno e o objeto se move s depois, tAtrao como Juno, a ordem que voc esperaria encontrar seria objeto sobreno quarto captulo de The Minimalist Program h muita discusso sobre por quocorre, pois todo mundo achava que era o contrrio. A principal evidncia veiogermnicas. Em japons, isso no ocorre exatamente assim: a evidncia no e

    porque h muita mistura. Mas em islands, as evidncias so extremamente clliteratura - uma literatura muito rica, desenvolvida por lingistas excelentes -uma coisa era certa: o sujeito estava acima do objeto. Mas a teoria prediz queque ser outra: o objeto tem que estar acima do sujeito.

    No Captulo quatro h um grande esforo para explicar por que encontramos odo objeto, que foi o que eu pressupus. Descobri que foi uma falsa pressuposiJonas, uma aluna de Harvard, que concluiu sua dissertao recentemente, estue o faros e descobriu que todos os lingistas estavam errados24. Os testes dasujeito/objeto que eles utilizavam so muito complicados porque na verdade, npermanece no sintagma verbal. O que permanece no sintagma verbal so apenelementos ficam todos fora. A questo : em que ordem eles apareceram no siverbal? A ordem determinada pela colocao relativa aos advrbios; assimtestar. Todos os testes que haviam sido usados baseavam-se nos advrbios quocorrer no final da sentena. Na realidade, eles so forados a isso quando hIsso que estava produzindo os resultados errados. Essa aluna pegou um novadvrbios, que no possuam essa propriedade, e descobriu, para surpresa gerobjeto est acima do sujeito. O que foi muito bom, pois fornece suporte empriprincpio razoavelmente abstrato, ou seja, que as nicas operaes so JunoQuando voc forado por motivos acidentais, voc pode fazer as duas, produmovimento aberto.

    A outra evidncia emprica principal para isso tem a ver com alguns problemassobre alamento cclico sucessivo. O fato que voc no pode ter, em ingls o

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    coisas como "There seems a man to be in the room" e a questo , por qu ? Sque a Juno precede a Atrao, temos a um novo conjunto de argumentos e

    Na verdade, em islands diferente. preciso analisar questes muito complicinfinitivos, e essa a diferena. H casos em que as operaes fundamentais pparametrizadas. Meu palpite que ocorre um alamento do objeto, no-param

    ocorre em todas as lnguas. A diferena entre o francs e o ingls de um lado eoutro a riqueza do sistema flexional. Quando se tem especificadores mltiploeqidistantes do tempo verbal numa lngua cujo sistema flexional seja rico (isstotalmente compreensvel para ns). Ambos so visveis e isso que permite oaberto do objeto, pois mesmo se ele for movido abertamente, ainda possvelsujeito e al-lo. assim que funciona em islands. Por outro lado, o escandinae o ingls possuem sistemas flexionais menos ricos. Apenas o especificador mavisvel, o que significa que se o objeto ficar in situ, a derivao falha, mas se omovido a derivao converge. o que acontece com o movimento-QU. O objetalado, recebe o caso e continua a se mover, para que o elemento flexional posujeito. Ento, o que realmente ocorre em francs e em ingls o alamento dseguido de um outro movimento, ao passo que em islands, o objeto no precimover. Parece haver uma diferena paramtrica dentro do escandinavo, entreescandinavo e outras lnguas, mas tenho a impresso que isso pode ser reduzioutra coisa: uma propriedade do tempo verbal. a que voc gostaria que essapropriedades estivessem. E como vrias coisas esto se movendo dessa forma,supor que essas diferenas sero determinadas por aspectos um tanto abstratoverbal, e no por diferenas paramtricas de Atrao.

    Mike Dillinger: Muito obrigado, Professor Chomsky.

    Adair Palcio: Obrigado, Professor Chomsky.Noam Chomsky: Foi um prazer.

    * Entrevista dada na UFAL (Universidade Federal de Alagoas) em Macei, a 3 d1996. Traduzido por Maria Aparecida Caltabiano-Magalhes & Carolina Siqueira

    ** A Associao Brasileira de Lingstica (ABRALIN) gostaria de agradecer o Pr

    Chomsky pela entrevista e pela autorizao para public-la na revista D.E.L.T.1 CHOMSKY, N. (1955) SyntacticStructures. The Hague: Mouton.

    2 CHOMSKY, N. (1996) TheMinimalistProgram. Cambridge, MA: MIT Press

    3 CHOMSKY, N. (1968) CartesianLinguistics. New York: Harper & Row

    4 BLOOMFIELD, L. (1939) Menomini Morphophonemics. TravauxduCercleLingPrague, vol. 8 , pp. 105-115. Reprinted in: C. HOCKETT (Ed.) (1970)A LeonarAnthology(pp. 351-362). Bloomington, IN: Indiana University Press.

    5 CHOMSKY, N. (1955-56/1975) The Logical Structure of Linguistic Theory. NePress.

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    6 CHOMSKY, N. (1951/1979) The Morphophonemics of Modern Hebrew. Master'University of Pennsylvania.

    7 MATTHEWS, G.H. (1965) Hidatsa Syntax. The Hague: Mouton.

    8 LEES, R.B. (1961) The Phonology of Modern Standard Turkish. The Hague: M

    9 KATZ, J. & P. POSTAL (1964) Toward an integrated theory of linguistic descriCambridge, MA: MIT Press.

    10 CHOMSKY, N. (1965)Aspects of the Theory of Syntax. Cambridge, MA: MIT

    11 CHOMSKY, N. (1981) Lectures on Government and Binding. Dordrecht: Foris

    12 LANCELOT, C. et A. ARNAULD (1660) Grammaire gnrale et raisonne. [ThGrammar]

    13

    VAUGELAS, C. (1647) Remarques sur la langue franaise14 FREGE, G. (1892) On sense and reference. In: ZABEEH, F. E. KLEMKE & A. J(Eds.) (1974) Readings in Semantics (pp. 117-140). Urbana, IL: University of I

    15 GALILEI LINCEO, G. (1638) Discorsi e dimonstrazioni matematiche, intornoscienze. Leiden: Elsevirii. Edio em Portugus: Duas novas cincias. [TraduLetizio Mariconda e Pablo Mariconda.] So Paulo: Nova Stella, sem data.

    16 PENFIELD, W. & L. ROBERTS (1959) Speech and brain mechanisms. PrincetoPrinceton University Press.

    17 JAEGER, J. et alii. (1996) A positron emission tomography study of regular averb morphology in English. Language, 72 (8): 451-497

    18 Outras tradues do termo merge tm sido utilizadas: concatenao (por Jaicomposio (por Eduardo Raposo) (N. do T.)

    19 HORNSTEIN, N. (1996) Existentials, A-chains and reconstruction. UnpublisheUniversity of Maryland, College Park.

    20 HALE, K. & KEYSER, S. (1993) On argument structure and the lexical expressyntactic relations. In: HALE, K. & J. KEYSER (Eds.), The view from Building 20 MA: MIT Press.

    21 CHOMSKY, N. & H. LASNIK (1977) Filters and Control. Linguistic Inquiry, 8:

    22 VERGNAUD, J-R. (1985) Dpendence et niveaux de representation en syntaxAmsterdam: J. Benjamins

    23 CHENG, L. (1991) On the typology of wh-questions. Unpublished dissertation

    24 JONAS, D. (1996) Clause Structure and Verb Syntax in Scandivanvian and EUnpublished PhD Dissertation, Harvard University, Cambridge, MA.s

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