Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana ... · urbe. Revista Brasileira de Gestão...

20
urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun. 2012 eISSN 2175-3369 Licenciado sob uma Licença Creative Commons Carlos Smaniotto Costa Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana: aspectos urbanísticos, ecológicos e sociais dos jardins arrendados na Alemanha Allotment gardens – a component of green infrastructure: allotment gardens in Germany and their urban, ecological and social aspects Doutorado em Arquitetura da Paisagem e Planejamento Ambiental pela Universidade de Hannover (Alemanha), professor, com atuação em ensino e pesquisa nos cursos de Pós-Graduação em Urbanismo da Universidade Lusófona em Lisboa, membro do Centro de Estudos do Território, Cultura e Desenvolvimento (Lisboa) e gerente-pesquisador da rede DialogUrban, Hannover - Alemanha, e-mail: [email protected] Resumo O presente trabalho traz a conceituação dos chamados kleingärten, um sistema de jardins arrendados, pre- sentes nas cidades alemãs, e enfoca o seu relevante caráter social, bem como o seu potencial na integração à infraestrutura de espaços verdes, como uma alternativa para melhorar a qualidade do ambiente urbano. Esses espaços, que poderíamos chamar de pulmões verdes, pertencem, na maioria dos casos, às prefeitu- O movimento para a implementação desses jardins, sustentado por uma estrutura institucional, surgiu ini- cialmente para melhorar a qualidade de vida dos operários nas grandes cidades industriais. Hoje, quase 150 anos mais tarde, o movimento se transformou em uma manifestação cultural, por oferecer uma opção de lazer e recreação ao ar livre para uma boa parte da população e por ser um elemento marcante da paisagem urbana na Alemanha. Isso faz com que os kleingärten, pela sua natureza utilitária, seu interesse paisagístico Palabras-clave: Kleingärten. Alemanha. Jardins arrendados. Paisagem urbana. Espaços verdes. Abstract This paper discusses the concept of the kleingärten, a system of allotment gardens present in almost all German cities. It focuses on their social relevance and on their potential for building the green infrastructure, as a way to improve the quality of urban environment. These gardens, which could be called green lungs, are in most ca- The movement of kleingärten, supported by a strong institutional framework, created these gardens initially to help workers in large industrial cities to increase food security and improve outdoor leisure opportunities, insuring an improvement in their quality of life. Today, almost 150 years later, the movement has become a

Transcript of Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana ... · urbe. Revista Brasileira de Gestão...

Page 1: Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana ... · urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun.

urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun. 2012

eISSN

217

5-33

69Lic

encia

do so

b uma

Lice

nça C

reat

ive Co

mmon

s

Carlos Smaniotto Costa

Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana: aspectos urbanísticos, ecológicos e sociais dos jardins arrendados na Alemanha

Allotment gardens – a component of green infrastructure: allotment gardens in Germany and their urban, ecological and social aspects

Doutorado em Arquitetura da Paisagem e Planejamento Ambiental pela Universidade de Hannover (Alemanha), professor, com atuação em ensino e pesquisa nos cursos de Pós-Graduação em Urbanismo da Universidade Lusófona em Lisboa, membro do Centro de Estudos do Território, Cultura e Desenvolvimento (Lisboa) e gerente-pesquisador da rede DialogUrban, Hannover - Alemanha, e-mail: [email protected]

ResumoO presente trabalho traz a conceituação dos chamados kleingärten, um sistema de jardins arrendados, pre-sentes nas cidades alemãs, e enfoca o seu relevante caráter social, bem como o seu potencial na integração à infraestrutura de espaços verdes, como uma alternativa para melhorar a qualidade do ambiente urbano. Esses espaços, que poderíamos chamar de pulmões verdes, pertencem, na maioria dos casos, às prefeitu-

O movimento para a implementação desses jardins, sustentado por uma estrutura institucional, surgiu ini-cialmente para melhorar a qualidade de vida dos operários nas grandes cidades industriais. Hoje, quase 150 anos mais tarde, o movimento se transformou em uma manifestação cultural, por oferecer uma opção de lazer e recreação ao ar livre para uma boa parte da população e por ser um elemento marcante da paisagem urbana na Alemanha. Isso faz com que os kleingärten, pela sua natureza utilitária, seu interesse paisagístico

Palabras-clave: Kleingärten. Alemanha. Jardins arrendados. Paisagem urbana. Espaços verdes.

AbstractThis paper discusses the concept of the kleingärten, a system of allotment gardens present in almost all German cities. It focuses on their social relevance and on their potential for building the green infrastructure, as a way to improve the quality of urban environment. These gardens, which could be called green lungs, are in most ca-

The movement of kleingärten, supported by a strong institutional framework, created these gardens initially to help workers in large industrial cities to increase food security and improve outdoor leisure opportunities, insuring an improvement in their quality of life. Today, almost 150 years later, the movement has become a

Page 2: Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana ... · urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun.

urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun. 2012

SMANIOTTO COSTA, C.104

sociedade usa os espaços públicos e as suas razões para tal, cria-se o que chamo de cultura de uso.

Segundo dizem, os alemães, pelos seus invernos ri-gorosos, têm um prazer imenso em estar drau en – ao ar livre. E passar o tempo fora de suas casas signi-

sombra dos jardins e parques.

Compreendendo a essência dos kleingärten

Literalmente, o termo kleingarten -queno jardim”. Dependendo da região na Alemanha, outros termos como Schrebergarten, Familiengarten ou Heimgarten são usados. É importante obser-var que não se trata de hortas comunitárias, o que também existe na Alemanha, porém com menos incidência.

A Alemanha dispõe de uma longa tradição na cul-tura do jardim e do espaço livre (GRÖNING, 2006),

-vre para atividades de lazer e recreação, mas é tam-bém um importante fator urbanístico e econômico (BUNDESMINISTERIUM FÜR VERKEHR, BAU UND STADTENTWICKLUNG – BMVBS, 2008; SMANIOTTO COSTA, 2008; GALK, 2005). Calcula-se que o setor da indústria de móveis de jardim, de ferramentas e utensílios de jardinagem, plantas e viveiros movi-mentou em 2011 pelo menos 16 bilhões de euros. O setor se encontra em alta e vive seu melhor mo-mento na história recente (THUIMM, 2011). O setor de meio ambiente como um todo vive um boom na Alemanha, com forte tendência de bater novos recor-des nos próximos anos. Uma boa parte deste boomadvém da manutenção de jardins e dos kleingärten.

Os Kleingärten são, há décadas, um importante componente da paisagem urbana do país (Figura 1).

Motivação e considerações preliminares

Este artigo discorre sobre os kleingärten – o sis-tema de jardins arrendados presente em todas as cidades alemãs. Como não há uma expressão corres-

o termo em alemão: kleingarten e, no plural, klein-gärten1. Alguns países onde também não existem ex-pressões que transportem o conceito dos kleingärtenadotam igualmente o termo em alemão. Os japone-ses, ao importarem a ideia dos kleingärten, também não encontraram na sua língua um vocábulo adequa-do e, por isso, adotaram o termo em alemão.

Muitos brasileiros, ao passearem por cidades alemãs, se admiram com esse fenômeno comum em todo o país: grandes áreas verdes, diferentes de parques, ao longo das ferrovias ou autoestradas. As suas pequenas construções chamam a atenção en-tre as densas áreas habitacionais. Muitos acham, a princípio, tratar-se de algo semelhante a barracos ou favelas e se surpreendem ao descobrir que são jardins e hortas arrendados.

Os kleingärten são um elemento importante da cultura alemã, com inestimáveis valores urbanísti-cos, sociais e ecológicos. Como menciona Gröning (2006, p. 155), com o movimento kleingärten, a Alemanha prova, há mais de cem anos, que jardina-gem numa associação pode ser uma poderosa face-ta política e social na cultura urbana.

Como professor de paisagismo e de ecologia ur-bana, ocupo-me principalmente dos espaços livres e das interdependências entre esse espaço e o cons-truído no ambiente urbano. E isso não só do ponto de vista ecológico-ambiental, mas também pelo as-pecto recreativo e da interação social; da maneira como as pessoas se apoderam do espaço para ati-vidades diárias e de lazer. Pela maneira como uma

the population kleingärten became a striking element of the urban landscape in Germany. Due to the leisure

gaining a deeper insight.

Keywords: Kleingärten. Germany. Allotment gardens. Urban landscape. Green spaces.

¹ kleingärten

Page 3: Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana ... · urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun.

urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun. 2012

Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana 105

os interesses de três milhões de arrendatários. Em

Método de pesquisa e objetivos

Este trabalho é essencialmente baseado em um levantamento feito no âmbito do projeto GreenKeys (Urban Green as a Key for Sustainable Cities). Esse

metodologia para a implementação de estratégias voltadas ao desenvolvimento de espaços verdes.

No intuito de obter uma visão geral sobre a ti-pologia de áreas verdes existentes na Europa, foi realizado um levantamento, não só junto àquelas cidades diretamente envolvidas no projeto, como também em várias outras cidades. Por meio de uma coleta estruturada, foram levantados dados sobre cada tipo de espaço, suas características, potenciali-

Esse levantamento, por sua vez, criou um imen-so conjunto de ideias e possibilidades, o que levou à

Pool for Strategies, além do inicialmente previsto e-Learning Module. O e-Learning Module é uma apresentação preparada para promover a ideia de desenvolver es-tratégias para a gestão urbana, tendo como destina-

-

exemplo: políticos, urbanistas, construtores de ruas e estradas), mas carecem de informações mais pro-

verdes podem trazer ao ambiente urbano. Maiores informações sobre o projeto GreenKeys e os seus re-sultados podem ser obtidos no site do projeto2.

As características dos kleingärtene das kleingartenkolonien

Um kleingartendestinado ao lazer e à recreação ao ar livre e para ofe-recer a possibilidade às famílias de cultivarem fru-tas e legumes (GALK, 2005). Os kleingärten são for-mados, a princípio, por várias unidades ou parcelas,

Hoje existem em toda a Alemanha mais de um mi-lhão de kleingärten, cobrindo uma área de mais de 46 mil hectares. Eles estão presentes, embora com pequenas variações formais ou locais, em todas as cidades alemãs (BUNDESVERBAND DEUTSCHER GARTENFREUNDE – BDG, 2011). Cinco milhões de pessoas os usam para atividades quotidianas de la-zer (BMVBS, 2008; GALK, 2005).

A Alemanha não mantém o monopólio em klein-gärten. Eles podem ser encontrados em diversos países europeus, com maior ou menor incidência, sendo, no entanto, mais comuns na Europa Central e Escandinávia. Somente a título de ilustração: os kleingärten encontram seus correspondentes em kolonihave, na Dinamarca, koloniserade trädgårdar,na Suécia, jardin familiaux, na França; na Holanda e Bélgica, são chamados de volkstuin, e na Inglaterra, de allotment garden. No sul da Europa são encontra-dos com menos frequência. Na Espanha ou Itália, por exemplo, parecem ser totalmente desconhecidos. Em Lisboa, Portugal, foram criados os primeiros lotes – chamados de hortas urbanas – em outubro de 2011.

Ainda há muita discussão sobre em que país os kleingärten -provado. Mas já em 1926 é fundada em Luxemburgo

Coin de Terre et des Jardins Familiaux (2011), que en-globa as federações nacionais de 14 países e defende

Figura 1 - Um kleingarten na colônia Rudolphia, criada em 1902 na cidade de Dresden

Foto: Lutz Reiter (2010).

² No site do projeto estão à disposição, além do manual GreenKeys @ your city, os instrumentos desenvolvidos, bem como o Pool for Strategies, e o e-Learning Module mencionados (GREENKEYS, 2008).

Page 4: Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana ... · urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun.

urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun. 2012

SMANIOTTO COSTA, C.106

são, em média, 25 euros/hora (HARBART, 2011). Os kleingärten podem ser parte integrante da

infraestrutura verde pública. Assim, para gozar dos incentivos e da proteção da lei, as colônias devem permitir o livre acesso da população às áreas co-muns. Os portões principais devem estar abertos das 8 às 18 horas. Em muitos casos, a sede da as-sociação também funciona como bar/restaurante, o que aumenta a atratividade.

O tamanho de uma parcela deve estar entre 200 e 400 m2. Cada arrendatário se compromete a se-guir e observar as leis e normas ambientais e de proteção da natureza, previstas nas leis estaduais e municipais. Algumas colônias vão além e, por exem-plo, proíbem o uso de agrotóxicos, incentivando o controle biológico de pragas, ou estimulam o cultivo de variedades antigas de frutas e plantas ornamen-tais (GALK, 2005).

Nas parcelas somente é permitido o mínimo ne-cessário de pavimentação e uma construção simples de, no máximo, 24 m2 de área total. Essa constru-ção, uma espécie de gazebo, chamado de Laube, tem

jardinagem. Pelas suas características, equipamen-tos e instalações, o gazebo não pode ser adequado para uma habitação permanente (Figura 3). Assim, um kleingarten não deve ser usado como substitu-to de uma moradia. Alguns kleingärten permitem

Porém, tanto este aspecto quanto a metragem má-xima construída, sem uma inspeção rigorosa, é de

arrendadas por tempo indeterminado. O conjunto de parcelas em um determinado local forma o que em alemão é denominado de colônia (Kolonie ouKleingartenkolonie) (Figura 2). As parcelas devem somente ser usadas para recreação e para a produ-ção própria de alimentos, isto é, elas não podem ser usadas para uma produção comercial.

Os kleingärten são encontrados principalmente em áreas urbanas e periurbanas, já que a população des-sas áreas é geralmente aquela mais afetada pela escas-sez de espaços livres e áreas propícias ao lazer ao ar livre. Normalmente, os kleingärten estão instalados em terrenos públicos ou de entidades autárquicas. Na cidade de Hannover, por exemplo, 75% dos kleingär-ten estão instalados em áreas comunais (BDG, 2011).

É muito comum encontrá-los em áreas não edi-

rodovias ou junto ao leito de rios ou lagos. Esses ter-renos são cedidos às associações, que, por sua vez, fazem o parcelamento e os arrendam a interessa-dos. Cada colônia deve ser composta, além das vá-rias parcelas, por áreas de uso comunitário, como as vias internas, playgrounds e a sede da associação. Muitas têm ainda um espaço para festas, estaciona-mentos etc. Todos os arrendatários são obrigados a prestar uma quantidade de horas de trabalho para

-as comuns ou a organização de eventos. A quantida-de de horas, bem como o tipo de serviço, varia em cada associação, cabendo ao conselho a organização dessa tarefa. Evidentemente, existem exceções e isenção para pessoas incapacitadas. Algumas asso-ciações cobram uma taxa de indenização por horas

Figura 2 - Vista da colônia Am Wasserturm, na cidade de MühlheimNota: Aqui, percebe-se a estrutura das parcelas, com os seus gazebos e as

áreas comuns de circulação. Foto: SMANIOTTO COSTA, 2008.

Figura 3 - Uma típica parcela de kleingarten em Dresden, onde se vê a plantação de hortaliças e árvores frutíferas e o gazebo da parcela vizinha

Fonte: BARBARA SCHÖN, 2011.

Page 5: Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana ... · urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun.

urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun. 2012

Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana 107

Para não facilitar o uso permanente, ou para coi-kleingärten não estão liga-

dos às redes de água tratada nem de esgotos, o que torna o seu uso diário menos cômodo. Nesses casos, se usa a fossa séptica e água de poços artesianos. Na cidade de Hannover está também proibida a insta-lação de telefones ou antenas de qualquer espécie, bem como de máquinas de lavar pratos ou roupas (STADT HANNOVER, 2004b). A manutenção de cada parcela está a cargo do seu arrendatário. A contra-tação de terceiros para este serviço não é permitida.

O valor médio que um arrendatário paga por ano pela sua parcela é 276 euros, com extremos que va-riam bastante. Nas grandes cidades, esse valor pode subir até 450 euros. Em média, outros 190 euros são gastos em plantas, sementes, ferramentas, ma-teriais de construção, livros e revistas sobre jardi-nagem (BMVBS, 2008).

Na cidade de Hannover, a taxa de arrendamento de um kleingarten está na faixa de 250 a 300 euros anuais. Além disso, o arrendatário também deve arcar com outras taxas (luz e água). Muitas vezes, quando o novo arrendatário assume uma parcela, este tem que ressarcir as benfeitorias feitas pelo antecessor, como, por exemplo, a construção do gazebo, a pavimentação ou mesmo as árvores e plantas ornamentais. Muitas vezes, porém, acontece o contrário: quando a parcela estiver muito descaracterizada, o arrendatário atual deve indenizar o novo. Normalmente, a federação re-gional faz um levantamento da situação e uma estima-tiva dos custos. Em geral, calcula-se o valor de entre 2 mil e 4 mil euros como indenização pelas benfeitorias em uma parcela (HARBART, 2011).

Somente é permitido plantar árvores frutíferas, restringindo-se o plantio àquelas de porte pequeno ou médio. Outras espécies arbóreas estão proibidas. Árvores frondosas, quando encontradas em alguma colônia, são muito provavelmente remanescentes de usos passados. A proibição se deve, primeiro, a um fator histórico, já que as espécies não frutíferas não são compatíveis com a ideia de plantar o seu próprio alimento, e, segundo, porque as árvores na Alemanha, acima de um determinado porte, estão automaticamente protegidas por lei (as frutíferas es-tão excluídas desta proteção). Árvores sob proteção

Com o tempo, a criação de animais tornou-se incô-moda e indesejada e está proibida na maioria dos

kleingärten. Em algumas colônias, exceções são feitas para a criação de abelhas para a produção de mel.

Outra característica dos kleingärten está ligada à educação, pois todas as federações regionais ofere-

cursos de formação e treinamento, que abrangem os mais diversos temas relacionados à jardinagem, ecologia, uso de plantas endêmicas, proteção am-biental, questões jurídicas e relações públicas.

Dentro das colônias está proibido o uso de veícu-los motorizados de qualquer natureza, porém a bi-cicleta é permitida. Muitas pessoas alheias às colô-nias usam as vias internas para encurtar seu trajeto,

-datários em reclamações (GALK, 2005).

Estrutura institucional

A característica principal de um kleingarten é a sua organização, sendo a associação dos arrendatários a representação máxima de uma comunidade. As as-sociações, por sua vez, estão organizadas em 20 con-federações regionais e na poderosa Federação Alemã dos Amigos dos Jardins (Bundesverband Deutscher Gartenfreunde – BDG), fundada em 1921, e que repre-senta as 15 mil associações existentes atualmente.

Cada associação é dirigida por um conselho eleito -

crativos. Cada uma cria as suas regras de convivência e rege por meio de um estatuto. Dentre as tarefas da associação estão a concessão das parcelas e o con-trole do seu uso. O estatuto, assim como a própria colônia em si, não pode, porém, colidir com os dis-positivos da Lei Federal de 1983, que rege o sistema Kleingärten (Bundeskleingartengesetzt). Daí pode-se deduzir a importância dos kleingärten, já que uma lei federal dispõe sobre as regras gerais e a sua utilidade pública, além de disciplinar a questão dos contratos de arrendamento e da integração dos kleingärten ao planejamento urbano. A lei de urbanização alemã (Baugesetzbuch), também federal, permite às cida-des estabelecer kleingärten como uso permanente do solo (BUNDESMINISTERIUM DER JUSTIZ – BMJ, 2011a, b). Para tanto, essas áreas devem ser sinaliza-das nos planos diretores e estabelecidas nos planos de uso do solo e planos de pormenor. Para que esse

Page 6: Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana ... · urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun.

urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun. 2012

SMANIOTTO COSTA, C.108

estereotipada dos arrendatários de kleingärten como conservadores e pedantes. Essa postura assustou, por muito tempo, potenciais usuários mais jovens.

Num período em que o Estado cada vez mais se afasta das suas atribuições sociais, os kleingärtenpodem assumir um importante papel nesta esfera. Para tanto, as associações exigem de muitas cidades a garantia de sua existência e reconhecimento como parte da infraestrutura urbana. O próprio estudo do BMVBS (2008) levanta a questão se a lei federal que dispõe sobre os kleingärten ainda é necessá-ria. A resposta dos entrevistados foi unânime em favor de sua manutenção, já que somente ela pode garantir que o sistema Kleingärten possa manter e expandir plenamente as suas funções urbanísticas, sociais e ecológicas, além de garantir a própria exis-tência dos kleingärten como uma importante heran-ça cultural.

A dimensão dos kleingärten e a sua influência sobre o ambiente urbano

Pela sua importância social, os kleingärten as-sumem um relevante papel em todas as camadas da sociedade alemã, já que há arrendatários pro-venientes de todas as classes sociais (GALK, 2005). Em relação ao planejamento urbano e ao meio am-biente, a sua característica essencial está na sua contribuição para a arborização e para abrandar os efeitos negativos das áreas construídas no ambien-to urbano. Efeitos de sinergia surgem quando os kleingärten estão conectados a outros espaços natu-rais, ampliando ou criando corredores verdes, como demonstram as Figuras 4 e 5 da cidade de Dresden.

Como área de lazer, eles atuam como um substi-tuto à falta de outros espaços verdes vicinais. Ainda hoje, em muitos bairros, as colônias são o único grande espaço verde disponível. A maioria das co-lônias mantém playgrounds nas suas áreas comu-nitárias, muitas vezes longe do perigo e dos ruídos provocados pelo tráfego.

O levantamento feito em 2008 revelou que exis-tem na Alemanha cerca de 1.240.000 parcelas de kleingärten, cobrindo uma área de mais de 46.000 hectares (BMVBS, 2008). Além disso, há uma esti-mativa de outras 150.000 parcelas espalhadas pelo país, que estão organizadas de formas diferentes ou, em parte, nem mesmo organizadas.

caráter seja permanente, é necessário que o proprie-tário do terreno esteja de acordo.

Essa proteção, porém, nem sempre é permanen-te. Não raro, os kleingärten têm que ceder seu espa-ço para construções ou para a ampliação de infra-

naqueles municípios que não possuem uma estraté-gia para a aquisição de terrenos, podendo chegar às vezes até o protesto político organizado (GRÖNING, 2006). Ao contrário, também existem outros casos em que a razão para a proteção permanente de cer-

-lítica de suas associações.

Na Alemanha, ao contrário da maioria dos outros países, a rescisão de um contrato de arrendamen-to entre uma colônia e o proprietário do terreno é uma tarefa árdua e cara, mesmo que seja de comum acordo (STADT HAMBURG, 2007). A lei federal Bundeskleingartengesetzt determina que o proprie-tário coloque à disposição da associação uma área substituta com qualidades semelhantes àquela que

-tentes. Tal proteção jurídica permite que nos klein-gärten na Alemanha haja mais investimentos tanto por parte da associação em equipamentos comu-nitários como dos arrendatários nas suas parcelas (BDG, 2011).

Muitos kleingärten têm regras rígidas para a ma-nutenção e composição das parcelas; dispõem, por exemplo, sobre a proporção entre áreas destina-das ao plantio de hortaliças e plantas ornamentais, quais espécies de plantas podem ser usadas, sobre a cor das cercas, a quantidade de árvores frutíferas ou a que altura as cercas vivas devem ser mantidas. A regra geral dita que pelo menos um terço da parcela deve ser usado como horta (GALK, 2005). A questão da produção de verduras e hortaliças é questiona-da atualmente, já que adquiri-las no supermercado, além de sair mais barato, é, para muitos, também

-to” de áreas gramadas. Esse tipo de cobertura vege-tal não estava previsto na ideia original dos klein-gärten, mas hoje são importantes para a recreação, principalmente de crianças (GALK, 2005).

Para muitos, essas regram interferem em de-masia na esfera pessoal, extrapolando os limites do

-xíveis, aliadas a um controle rigoroso pelos mem-bros do conselho, criaram com o tempo a imagem

Page 7: Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana ... · urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun.

urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun. 2012

Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana 109

O estudo também revela que mais de cinco mi-lhões de pessoas usam os kleingärten para suas ativi-dades quotidianas de lazer (BMVBS, 2008), número que não considera aqueles que usam os kleingärtenindiretamente como amigos ou conhecidos de arren-datários ou aquelas pessoas que os utilizam para um simples passeio. Além disso, outros 100 mil voluntá-rios trabalham em atividades relacionadas aos klein-gärten (BMVBS, 2008). Sem eles, a ideia dos kleingär-ten como uma entidade comunitária não poderia ser realidade. Dentre outras atividades, eles fazem trei-namentos e dão assistência social, técnica e jurídica aos associados, atuando como um importante elo entre a sociedade e as associações.

Segundo BDG (2011) e BMVBS (2008), a idade média dos arrendatários é de 60 anos, e grande par-te deles são aposentados; 94% dos arrendatários de kleingärten moram em prédios de apartamentos, sem disponibilidade de jardins. Em média, as parce-

mais de 30 anos.Na questão da distância entre a moradia do ar-

rendatário e o kleingarten, o estudo do BMVBS (2008) constatou que 84% dos kleingärten se en-contram em um raio de mais de cinco quilômetros de distância; 96% dos arrendatários precisam de, no máximo, meia hora para ir até a sua parcela, en-quanto 60% gastam menos de 15 minutos a pé ou menos de bicicleta (os dois modos mais comuns usados para o deslocamento). A distância entre a residência do arrendatário e a parcela é um fator importante. Todos buscam uma parcela onde se

sem a necessidade de enfrentar tráfego, já que, prin-cipalmente no verão, muitos arrendatários usam os kleingärtentarde, depois de um dia de trabalho.

A despeito das diferenças regionais, os kleingär-ten são encontrados em todas as cidades alemãs (BDG, 2011). O estudo do BMVBS (2008), porém, revelou que existem grandes diferenças regionais no que se refere ao tamanho das cidades3. Os kleingär-ten são mais frequentes nas cidades grandes que

13

17

17

4

4

4

4

WeixdorfSchönborn

Langebrück

Themenstadtplan DresdenKlotzsche

PieschenCossebaude

Oberwartha

Gompitz

Alfranken

Cotta Altstadt

Neustandt Loschwitz

Blasewitz Schönfold Weifsig

Lëuben

Prohlis

Plauen

17

0 2.5 5 7.5 10 km

Themenstadtplan Dresden Hellerberge

Albert

Pieschen-Nord

6

170 97

6

Trachenberge

Pieschen-

Leipziger

Vorstandt

Äußere

Neustadt

Süd

0 0.5 1 1.5 2 km

Figura 4 - Mapa temático gerado pelo Serviço de Urbanismo do Município de Dresden contendo as subprefeituras e as 366 colônias de kleingärten

Fonte: STADT DRESDEN, 2012.

Nota: Na cidade existem 23.428 parcelas cobrindo um total de 763,9 ha.

Figura 5 - Pormenor da região noroeste da cidade de Dresden, com as colônias de kleingärten

Fonte: STADT DRESDEN, 2012.

³Estatisticamente é usada a seguinte escala: cidade-rural (menos de 5 mil hab.), cidade pequena (menos de 20 mil), cidade média (menos de 100 mil), cidade grande (acima de 100 mil) e metrópole (com mais de um milhão de hab.). Muitas vezes, as cidades gran-

com uma população acima dos 300 mil hab. As estatísticas apontavam em 2010 três metrópoles (Berlim, Hamburgo e Munique) e 80 cidades grandes; em 2006 eram 82 (STATISTISCHES BUNDESAMT DEUTSCHLAND, 2010).

Page 8: Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana ... · urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun.

urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun. 2012

SMANIOTTO COSTA, C.110

Considerando as parcelas em si, o estudo do BMVBS (2008) revelou que 36% da área de cada uma ainda é usada como horta, porém essa propor-ção vem decrescendo paulatinamente. De 1997 a 2008, baixou de 40% aos 36% mencionados. Um ga-zebo é encontrado em 97% das parcelas, com uma média de 21,5 m2 de área construída, com tendência crescente. Em 1997, essa média era de 19 m2. Ainda assim, a média se encontra abaixo do total permiti-

-

transformar em uma sala de estar. Outra tendência se refere ao número de prefeituras que aceitam a li-gação das parcelas às redes de serviço público como água encanada, coleta de esgoto e energia elétrica: 88% das colônias já contam com água encanada. No entanto, dessas, somente 37% contam com água en-canada nos gazebos. Todas as colônias já têm acesso à energia elétrica.

aos kleingärten cresce como nunca (BDG, 2011).

naquelas médias ou pequenas. Tomando como pa-râmetro a quantidade de kleingärten em relação à população (densidade de kleingärten), a análise da BDG (2011) nas 15 maiores cidades do país eviden-ciou esta disparidade. Em média existem 2,0 parce-las para cada 100 habitantes – mas com extremos que variam de 6,2 na cidade de Leipzig (12ª maior cidade e berço dos kleingärten) e 0,6 em Munique, a terceira cidade mais populosa do país4. Na capital alemã, Berlim, a média é de 2,0 parcelas para cada 100 habitantes. No total, só a capital conta com 74 mil parcelas agrupadas em 934 associações.

Na cidade de Hannover5, com uma média de 3,2, havia em 2009, segundo os dados da cidade, 20.370 parcelas, das quais 14.455 se encontram em pro-priedades do município e organizadas em 270 co-lônias e em 102 associações. O número de parcelas subiu para algo acima de 21.000 em 2011. Das 102 colônias, 90% têm caráter permanente, garantido pelo plano diretor. Essas parcelas cobrem o total de 1.009 ha, ou 5% da área do município (STADT HANNOVER, 2004a), onde as colônias de kleingär-ten estão distribuídas como um cinturão verde ao redor do centro da cidade (Figura 6). Na cidade de Leipzig, as 278 colônias com 39 mil parcelas co-brem uma área de, aproximadamente, 1.240 ha, o que corresponde a 7% da área urbana e a 30% do total de áreas verdes. Os kleingärten formam, assim, um dos principais componentes do pulmão verde da cidade (STADT LEIPZIG, 2011b).

Em média, as áreas comunitárias tomam de 14% a 17% do total da área das colônias. Segundo o es-tudo do BMVBS (2008), um quarto de todas as as-sociações tem uma sede construída, 60% delas dis-põem de um espaço ao ar livre para festas e 50% de um playground.

Em muitas cidades, a prefeitura dá subsídios para a realização de projetos, para medidas visando à conservação do meio ambiente e da natureza, bem como para treinamento, relações públicas e come-morações importantes.

Figura 6 - Na cidade de Hannover, há atualmente mais de 21 mil unidades de kleingärten, agrupados em 270 colônias e organizados em 97 associações

Fonte: HARBART, 2011.

Na página da Wikipedia sobre os kleingärten está publicada a tabela sobre a relação entre a população e a quantidade de kleingärten nas 15 maiores cidades alemãs. Disponível em: <http://de.wikipedia.org/wiki/Kleingarten>. Acesso em: 25 abr. 2011.

Lá, o Departamento do Meio Ambiente e Espaços Verdes é responsável pelos kleingärten. No site deste Departamento há um banco de dados onde todo o tipo de informação sobre cada uma das colônias pode ser visto.

Page 9: Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana ... · urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun.

urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun. 2012

Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana 111

A demanda por parcelas, principalmente nas grandes cidades, atualmente está excedendo a oferta; 40% das associações mantêm listas de espera, nos estados do leste, esse número sobe a 60%6. Nas regiões caracterizadas pela redução da população, é possível encontrar algumas parcelas sem uso. Com essa intensa procura, muitas asso-ciações podem escolher os novos arrendatários, dando preferência àqueles que provavelmente se-guirão mais tradicionalmente as normas das as-sociações. Mas algumas estão mudando, e já acei-

onde a cerca viva não é mantida a exatamente 1,50 m de altura, nem a grama cortada todo o fim de semana.

Esse fenômeno também fornece um diagnósti-co sociológico. Sociólogos veem a causa do boomdos kleingärten como uma reação aos efeitos da globalização e da crise econômica mundial. Para muitos, o mundo está se tornando complexo de-mais, criando um sentimento de perda, fazendo crescerem os anseios por valores familiares e tra-dicionais (BMVBS, 2008). Estar em um ambiente considerado natural, trabalhar a terra e cuidar do próprio alimento devolve a sensação de segurança. De acordo com Thimm (2011), os alemães veem os jardins como se fossem o único lugar seguro do mundo, como uma alternativa à agitação e mobili-dade, um lugar onde as pessoas estão incólumes às ameaças de terrorismo, aos perigos de radiação e substâncias químicas.

De um clube de pedantes a atores políticos

Os kleingärten criam um espaço especial: geral-mente situados no meio do aglomerado urbano, com localização privilegiada, eles oferecem tranquilida-de e relaxamento; e se tornaram muito mais do que um oásis para os pequenos burgueses e amantes da natureza. Hoje, os kleingärten são também uma questão política, a qual não deve ser subestimada. Poucos políticos e administrações públicas ousam ir contra as associações, em razão de sua capacidade de mobilizar eleitores.

Nos últimos anos, a geração entre 25 e 40 anos está redescobrindo os kleingärten e, assim, segundo a

-ção é questionável, se observarmos que na cidade de Hannover somente 20% dos arrendatários têm crianças pequenas, o que corresponde à situação nacional. Na Alemanha, a proporção de famílias com crianças pequenas é de somente 23%. Esse índice é alcançado principalmente porque as famílias de

(STADT HANNOVER, 2004a). Mesmo assim, a des-coberta dos kleingärten pelos mais jovens vai con-tribuir para a redução da idade média dos arrenda-tários (Figura 7).

Figura 7 - As colônias de kleingärten muitas vezes têm que compensar a falta de playgrounds públicos

Foto: Lutz Reiter (2010).

Nota: Ao oferecer às crianças e adolescentes um espaço propício para aventuras, desperta

o interesse por processos naturais e percepção pela natureza. Assim como todo

espaço verde, os kleingärten nos dão uma lição de biologia.

Disponível em: <http://www.hannover.de/de/umwelt_bauen/umwelt/nah_park/naherh/klgakult/índe.html>; <http://www.han-nover-gis.de/GIS/?thema=6>. Acesso em: 4 jul. 2011.

Page 10: Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana ... · urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun.

urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun. 2012

SMANIOTTO COSTA, C.112

Partido Socialista Alemão (SPD) manifesta o apoio à permanência desse kleingarten. Essa disputa tem um agravante: o prefeito da cidade é deste partido, mas o Partido Democrata Cristão está no governo estadual. Essa disputa ainda vai demorar muito até ser resolvida, podendo causar um desgaste político.

Kleingärten e o verde urbano como um paliativo e uma solução para a má condição de saúde da população

A origem dos kleingärten está intrinsecamente li-gada ao processo de industrialização da Alemanha. Com o surgimento das grandes indústrias, nos sécu-los XVIII e XIX, a demanda de mão de obra operária fez com que a população urbana crescesse explosi-vamente, o que gerou um grande habitacional. Na esteira da crescente urbanização, prevaleceu o

do terreno: três prédios paralelos germinados por uma ala transversal, em torno de dois pátios minús-culos – o mínimo obrigatório para o combate a incên-dios. Apenas esses pátios ofereciam alguma luz, ar e sol. Em Berlim, desde então a maior concentração ur-bana do país, uma boa parte da população, na maio-ria famílias operárias, vivia em cortiços pouco salu-bres. Essa situação, no entanto, não se restringia aos

Embora a maioria dos kleingärten tenha a sua existência garantida, há também exemplos que con-testam essa garantia. A cidade de Hannover tem um plano (Kleingartenbedarfsplan), ainda da década de 1990, que tenta prever a futura demanda de parce-las e deliberar sobre possíveis locais para a instala-ção de novas colônias. Uma versão mais atual desse plano não existe, o que deixa acirrado o debate so-bre a conversão de kleingärtenpara a construção”. Como sempre, o interesse maior

kleingärten estão muitas ve-zes bem localizados, com toda a infraestrutura dis-ponível; e isso desperta interesses. Muitas cidades

kleingärten,fato que levanta questões que podem ser interpre-tadas como uma ameaça (BDG, 2011).

Na cidade de Hannover corre atualmente um processo de desapropriação de uma colônia, situada privilegiadamente junto a um grande bosque públi-co. Um grupo imobiliário comprou a área de 45.000

como de uso permanente para kleingärten, e na pre-

status. Mesmo assim, os investidores vêm lutando

a longo prazo, o direito de construir na área. Há um agravante que só veio à tona nos últimos dias: o gru-po imobiliário faz parte do conglomerado de uma das grandes montadoras alemãs7, que é também a maior empregadora da cidade. Com isso, cresce o receio de que o poder de uma empresa deste porte mobilize a classe política e consiga a necessária al-teração nos planos urbanísticos. Um forte argumen-to a favor da construção é o fato de que na frente da colônia passa uma linha de bonde, construída para conectar o centro da cidade à área da exposição uni-versal, que a cidade sediou em 2000 (Figura 8).

É uma briga acirrada, e que divide não só as duas partes diretamente envolvidas, mas também os par-tidos políticos – enquanto a esquerda e o Partido

--

preendente que um kleingarten, depois da mudança de proprietário, possa ser simplesmente destruído,

o atual plano de uso do solo” – com esta frase, o

Figura 8 - Vista aérea do bairro Bishofshol em Hannover, onde às margens da ferrovia existem várias colônias

Fonte: GOOGLE MAPS (2011a).

Nota: A colônia demarcada pela linha pontilhada corresponde à área cuja construção vem

sendo discutida.

No site da DBG funciona uma bolsa de parcelas. Disponível em: <http://www.kleingarten-bund.de>. Acesso em: 4 jul. 2011. Também em sites de comércio eletrônico são frequentes as ofertas de parcelas.

Page 11: Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana ... · urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun.

urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun. 2012

Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana 113

Na cidade de Magdeburg foi inaugurado, em 1828, o primeiro volksgarten8, um espaço público

acesso à natureza e um espaço de recreação para a população operária. Algumas características dos volksgärten são: a malha viária simples, mas exten-sa, própria para longas caminhadas, e grandes áreas

vezes, esses exercícios eram organizados pelas pró-prias cidades ou, em alguns casos, pelas indústrias locais. Esses parques proliferaram em várias outras cidades. No entanto, com o mercado imobiliário aquecido e o elevado preço dos terrenos urbanos, se perpetuou a histórica escassez desses espaços nas áreas centrais adensadas. Quando existentes, trata--se de áreas remanescentes mais por motivos de pouca compatibilidade para uso para construções. Os primeiros parques foram normalmente insta-lados em áreas de valor do terreno mais baixo ou

inundáveis ou longe das áreas habitacionais.Para contornar a precária situação de alimen-

tação, algumas famílias usavam terrenos baldios ou rurais, principalmente na periferia das cidades industriais, para plantar as suas verduras; a partir daí surgem as chamadas armengärten – hortas dos pobres (DRESCHER, 2001). Muitas dessas hortas eram irregulares e sujeitas a atos de vandalismo. Nesse período, viveu na cidade de Leipzig o médico Moritz Schreber (1808/1861), que se dedicou prin-cipalmente à saúde de crianças e adolescentes e às consequências sociais da vida urbana no início da industrialização.

Embora também conhecidos como schrebergär-ten, os kleingärten não foram criados pelo próprio Schreber, mas por iniciativa do Diretor Municipal da Educação de Leipzig, Ernst Innozenz Hauschild. Em 1864, ele torna realidade uma ideia de Schreber: criar um grande espaço, propício para as crianças brincarem e fazerem ginástica – tirando-as da rua e dando-lhes uma ocupação saudável ao ar livre. Esse espaço, que ele denominou de Praça Schreber (BDG, 2011), era na realidade um playground, onde as crianças podiam brincar sob adequada supervi-são. Entenda-se aqui por brincar a prática ativa de exercícios, como corridas, corridas de saco, cabo de

operários dos grandes centros industriais. O mesmo se passou com mineiros na região do Ruhr e os tra-balhadores do porto de Hamburgo (BMVBS, 2008).

Hähner-Rombach (2000) cita o exemplo do Estado de Baden-Würtenberg, no sudeste alemão, onde a proporção da população urbana aumentou de 24%, em 1834, para 30% em 1871, para 43% em 1910 e para 54% em 1939. O número de cidades aumentou apenas ligeiramente, de 132 em 1834 para 150 em 1939, ou seja, o aumento da população urbana ocor-reu principalmente naquelas cidades já existentes.

Em virtude da poluição, do crescimento e aden-samento rápidos, as cidades industriais se tornaram insalubres. Além disso, as condições nos locais de trabalho não eram melhores, o que colocava os tra-balhadores em iminente risco de saúde. Nos bairros operários, em função dos baixos salários, da po-breza, da má nutrição, das precárias condições de higiene e da falta de insolação e ar fresco, impera-vam as anomalias sociais. Essa população vivendo em condições precárias torna-se mais suscetível a doenças, principalmente às endêmicas, como a tu-berculose. Aliás, a tuberculose, assim como outras doenças pulmonares, é considerada classicamente uma doença social (COSTA, 1988) e é um indicador da qualidade de vida. Na Alemanha, a tuberculose foi denominada de doença dos pobres (HÄHNER-ROMBACH, 2000), já que ela atingiu principalmente as classes menos abastadas. Na Inglaterra, segundo Costa (1988), a taxa de mortalidade por tuberculose foi muito alta em torno de 1650, caindo então, len-tamente, por muito tempo, até subir novamente – e de maneira explosiva – na primeira metade do sécu-lo XIX, em decorrência da conhecida degradação do padrão de vida durante a revolução industrial.

Neste contexto, reivindicam-se cada vez mais veementemente espaços com luz, ar e sol. Assim,

-paços verdes urbanos começa exatamente com a percepção de sua falta nas cidades, quando a bucó-lica paisagem rural foi transformada em uma paisa-

momento, os grandes defensores do verde urbano foram médicos sanitaristas, que lutavam por condi-ções de habitação mais saudáveis para a população operária.

Ver SPD-STADTVERBAND HANNOVER, 2011.

Page 12: Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana ... · urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun.

urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun. 2012

SMANIOTTO COSTA, C.114

potência industrial. Durante as guerras e nos perí-odos que as seguiram, os kleingärten tiveram um papel crucial para assegurar o suprimento de ali-mentos para a população urbana. No período pós--guerra, Berlim chegou a contar com 200 mil par-celas. Hoje elas somam menos de 80 mil (BMVBS, 2008).

Como todo o processo de industrialização, na Alemanha ele também foi baseado na disponibilida-de de mão de obra, na intensa exploração desta força de trabalho e no pagamento de baixos salários; po-rém, ao mesmo tempo, investimentos em educação e infraestrutura melhoraram a qualidade de vida da população. Comparada a outros países desenvolvi-dos, a Alemanha teve algumas particularidades no seu processo de industrialização. Desde cedo, o país

uma forte interferência do Estado na economia. Tal política, além de incentivar o desenvolvimento das técnicas de produção mediante a aplicação de

também as bases para criar um alto nível de instru-

sociais para melhorar a renda da classe operária. Por meio dessa política, foram feitos investimentos em infraestrutura, como ferrovias, serviços postais

comercialização dos bens produzidos, mas que tam-

Benefícios – múltiplos e cumulativos

Indubitavelmente, os kleingärten tornam as cida-des e comunidades mais atraentes. Eles contribuem

ao arborizar áreas densamente construídas e al-kleingärten não são apenas

uma adição valiosa à vegetação urbana, mas tam-bém o espaço cultural para muitas pessoas. Quando o primeiro kleingarten surgiu há mais de 200 anos, ele deveria permitir o livre acesso à natureza para aqueles que não podiam ter um jardim na sua casa (BDG, 2011). E essa ideia está sobrevivendo a todas as mudanças e tempos.

guerra etc. (STADT LEIPZIG, 2011a). Três anos mais tarde, para que as crianças aprendessem a assumir responsabilidades, apreciar e valorizar a natureza, foi implantado um canteiro – a princípio, somente

considerado a semente da qual a ideia dos kleingär-ten germinou.

A própria praça, porém, não teve vida longa. Já em 1876, ela teve que dar lugar a um empreendimento imobiliário. No mesmo ano, em uma área um pouco mais distante, foi criado um novo local para jogos infantis. Ao redor dele, desenvolveu-se a primeira colônia, que ainda hoje existe (Figura 9). Fazendo jus a este valor histórico, funciona aí, na sede da as-sociação, a mesma fundada em 1864, um museu de-dicado aos kleingärten (Kleingärtnermuseum)9. Essa primeira colônia era formada por famílias operá-rias, que, apoiadas pelo o sistema de arrendamento, gozavam de maior segurança e com treinamentos/capacitações técnicas que asseguraram melhores colheitas e alimentos saudáveis e baratos.

Além do cultivo das próprias hortas, era tam-bém incentivada a criação de pequenos animais para suprir as famílias com um pouco de carne. Criar pombos, galinhas e coelhos nos kleingärtenfoi bastante comum até os anos 1950, quando a Alemanha se recupera da guerra e volta a ser uma

Figura 9 - Vista área da colônia “Dr. Schreber”, na cidade de Leipzig, considerada a primeira Kleingartenkolonie

Fonte: GOOGLE MAPS, 2011b.

Nota: Em sua estrutura, pode-se perceber a área central comunitária, primeiramente usada

para jogos e esportes – hoje como área para festas.

Literalmente jardim público, este Volksgarten Kosterberge representa a primeira área verde constituída pelo poder público na

deste espaço, com 30 ha, leva a assinatura de Joseph Lenné (NEHRING, 1979).

Page 13: Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana ... · urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun.

urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun. 2012

Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana 115

os kleingärten têm efeitos positivos na redução de

integrados à infraestrutura verde da cidade, pela co-nectividade de habitats, possibilitam a propagação e proteção de espécies e a preservação da biodiversi-dade. Por se tratar de áreas que contribuem para a permeabilidade dos espaços urbanos, têm efeitos cli-

-ção de água, redução da erosão, resfriamento do ar e importante efeito para atenuar os efeitos das ilhas de calor. Além disso, na maioria dos kleingärten a com-postagem e a reutilização da água da chuva já é uma prática corriqueira há bastante tempo.

Muitos autores consideram os kleingärten como áreas naturais dentro do ambiente urbano, aspec-to com o qual o autor deste artigo não concorda, já que esses espaços, por sofrerem fortes alterações antropogênicas, não podem ser mais considerados espaços naturais. Ainda assim, a sua contribuição ambiental e suas funções psicológicas e recreativo--sociais permanecem inquestionáveis.

Se, por um lado, os kleingärten trazem vários be-

por outro, o próprio espaço urbano é causa de pro-blemas. Muitas vezes usados para conter a expan-são urbana ou como zonas tampão, com o intuito de amenizar os efeitos negativos da urbanização, os próprios kleingärtenA poluição sonora, gerada principalmente pelo trá-fego, é o problema mais comum, segundo estudo do BMVBS (2008). Talvez porque esse tipo de poluição seja mais facilmente percebido; mas outros estudos (STADT HANNOVER, 2004a; GALK, 2005) contes-tam a localização dos kleingärten, principalmente junto às rodovias, o que os torna mais suscetíveis a problemas como fuligem e gases. Outros problemas são consequências do clima urbano. Nas grandes cidades, por exemplo, em virtude das temperatu-ras mais altas e do ar mais seco, usa-se mais água que em cidades pequenas. Esses fatores criam um paradoxo: justamente os grandes centros urbanos e aquelas zonas mais densamente habitadas, pelo

-paços verdes, mas são também aquelas que ofere-cem condições menos propícias.

É importante salientar que nem os kleingärtennem os jardins e quintais nas residências são um substituto para os espaços verdes públicos. Um es-tudo realizado na cidade de Dresden (SMANIOTTO COSTA et al., 2006) revelou que 90% das pessoas que têm oportunidade de estar ao ar livre dentro do seu próprio terreno usam os espaços verdes públi-cos com a mesma frequência que aqueles que não os têm. Assim, no sentido recreativo, social e psicológi-

que os públicos. Como outros espaços verdes, os kleingärten são

reconhecidos por trazerem valiosas contribuições para o meio ambiente e para o bem-estar social no âmbito urbano. Essa variedade e multifuncionalidade

kleingärten podem prover os mais

diferentes e com resultados diversos. Como as áreas verdes urbanas, os kleingärten têm um papel impor-tante em relação à qualidade de vida e um relevante papel na cultura dos alemães (GRÖNING, 2006).

Apenas para facilitar a compreensão na des-

selecionados entre aqueles ecológico-ambientais, sociais, econômicos e estruturantes. Evidentemente,

um aspecto único, já que os efeitos são cumulativos e múltiplos.

Com relação às funções ecológico-ambientais, os kleingärten assumem papel semelhante àquele de outros espaços verdes. Em geral, os kleingärten ofe-recem uma melhor qualidade de vida nas cidades pela arborização e estruturação do espaço constru-ído; contribuem para o conforto ambiental e exe-cutam função compensatória em relação ao clima, temperatura e umidade do ar. Em virtude do baixo grau de impermeabilização do solo, eles têm um im-pacto positivo no balanço hídrico e na manutenção e melhoramento da qualidade do solo (SMANIOTTO COSTA, 2010). Esses dois últimos fatores são impor-tantes na Alemanha, que sofre com os efeitos negati-

e com sua compactação e impermeabilização10. Com grande proporção de áreas cobertas por vegetação,

Ver DEUTSCHES KLEINGÄRTNERMUSEUM, 2011.

Page 14: Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana ... · urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun.

urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun. 2012

SMANIOTTO COSTA, C.116

-

baixa renda para o arrendamento e manutenção de uma parcela. A preocupação social está anco-rada nos princípios dos kleingärten, que protegem legalmente os menos abastados, seja pela limita-ção das taxas, ou pelos contratos de arrendamento (GALK, 2005).

As funções sociais devem ser analisadas se-

apropriação do espaço são diferentes. Embora se-melhantes e complementares, existem aquelas que

-

Observando o arrendatário e suas famílias, vis-tos aqui como jardineiros e produtores dos próprios vegetais, os kleingärten oferecem uma oportunida-

-sistência (Figura 11). Segundo Thimm (2011), tra-balhar a terra nos ensina devoção, senso de dever, paciência e paixão. A sequência de atividades, tais

e colher vegetais nos proporciona uma experiência pessoal saudável. Um jardineiro é um criador, é o se-nhor, ele determina o que e onde pode crescer. Pelo menos até que a própria natureza o puna e lhe mos-tre os seus limites, por meio de plantas invasoras, ervas daninhas e parasitas.

O mesmo estudo revelou que aproximadamente 2% dos kleingärten estão localizados em áreas con-sideradas com risco de contaminação do solo, por terem sido instalados em áreas industriais desati-vadas. Embora se trate de uma pequena parcela, o próprio estudo reclama que pouco ou quase nada vem sendo feito para minimizar tal situação, já que uma análise mais profunda do grau de contamina-ção e a remediação do solo seriam muito onerosos (BMVBS, 2008).

As funções sociais estão ligadas ao uso desses espaços pelos seres humanos, e incluem funções que estão intimamente relacionadas à possibilida-de de lazer (ativo ou contemplativo) e aos bene-

kleingärten proporcionam ao indivíduo e à cole-tividade. A psicologia nos ensina que para a saú-

contato com a natureza (BARTON; PRETTY, 2010). Os kleingärten podem suprir o desejo de se estar num ambiente saudável e em contato direto com a natureza, em especial para aqueles que vivem em zonas urbanas densas (Figura 10). Essa oportuni-dade está aberta basicamente a todas as pessoas, mesmo àquelas que não tenham renda alta ou que

Figura 10 - Plantio de verduras e plantas ornamentais em uma parcela na cidade de Dresden

Foto: Barbara Schön (2011).

Figura 11 - Muitas famílias jovens estão descobrindo os kleingärten como uma fonte de alimentos seguros e como opção de lazer ativo e saudável

Foto: Lutz Reiter (2010).

Page 15: Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana ... · urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun.

urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun. 2012

Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana 117

população em geral, observamos que as atividades mais comuns são caminhar ou passear e andar de bicicleta. Os kleingärten, como outras áreas verdes, também cumprem uma função educativa e estética ao oferecerem a oportunidade de contemplar a na-tureza e apreciar uma paisagem peculiar.

Os kleingärten são espaços integradores, para arrendatários e visitantes. Eles também podem funcionar como uma importante plataforma para o diálogo entre as gerações, para a integração de imi-grantes e, especialmente para as famílias com crian-

e adolescentes, os kleingärten oferecem oportu-nidades de diversão e espaços para comunicação: muitas vezes os kleingärten precisam compensar a falta de playgrounds, áreas para esportes inexisten-

Considerando a questão dos imigrantes, o es-tudo do BMVBS (2008) mostra, e Harbart (2011)

-gem dos arrendatários: o número de imigrantes, principalmente vindos da Rússia, Turquia e outros países do leste europeu, que arrendam uma parce-

uma diferença no uso da parcela entre os alemães e os imigrantes. Enquanto os últimos as usam pri-mordialmente para a produção de frutas e verduras, os alemães as usam mais para o lazer e, consequen-temente, nas suas parcelas a proporção de plantas ornamentais é maior.

Por meio de outras atividades, não somente di-rigidas aos membros da colônia, muitos kleingärtenprocuram contato com a comunidade dos bairros próximos ou com instituições sociais. Em particular, muitos kleingärten mantêm estreito contato com jardins de infância e escolas. Muitas colônias, usan-do as áreas comuns ou as parcelas não arrendadas, criam espaços interessantes como biótipos, lagos, áreas úmidas ou jardins especiais, por exemplo,

-suais, ou oferecem a essas instituições espaço para a instalação de hortas escolares.

urbanos e ambientais, mas também por ser um tipo de atividade recreativa exercida por uma boa parte da população do país, o movimento Kleingärten se tornou um importante componente da cultura ale-mã. Para valorizar este fato foi até criado um museu

Recentes estudos demonstram uma maior re-lação entre o espaço verde e a saúde (BARTON; PRETTY, 2010; BARTON; GRANT, 2006; SUNDBERG; SJÖSTRÖM, 2009). É cada vez mais evidente que a frequente utilização de espaços verdes melhora não

estudos mostram que pessoas que têm na jardinagem uma atividade quotidiana sofrem menos de estresse. Atividades ao ar livre ajudam a reduzir os problemas associados à inatividade, obesidade e doenças crôni-cas. A jardinagem auxilia na redução da pressão arte-rial, a manter a frequência normal dos batimentos car-díacos e a relaxar os músculos. O simples fato de olhar uma planta sinaliza ao cérebro uma situação relaxante e de aconchego. Um jardim, segundo médicos e psicó-logos, evoca uma experiência positiva de paz e ordem. Barton e Pretty (2010) demonstram que apenas cin-

-nagem, caminhar, ou andar de bicicleta, melhoram o humor e aumentam a autoestima. O contato com a na-tureza pode levar a um melhor estado emocional e, a longo prazo, prevenir doenças (Figura 12).

Pela própria natureza, os kleingärten são es-truturados com base na ideia de criar uma comu-nidade: arrendar uma parcela numa colônia sig-

fortalece a interação entre pessoas com interesses comuns. O estudo do BMVBS (2008) revelou que somente 20% dos arrendatários acham que os tra-balhos comunitários são incômodos e lhes roubam tempo demasiado. Assim, pode-se supor que os tra-balhos comunitários são bem aceitos.

Figura 12 - Na horta comunitária do Parque Quinta das Granjas, em Lisboa, Portugal

Foto: Smaniotto Costa (2012).

Page 16: Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana ... · urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun.

urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun. 2012

SMANIOTTO COSTA, C.118

Quase como um efeito colateral, porém positivo, esse espaço valoriza o seu entorno. Ele gera um be-

kleingarten, como -

rios e de suas famílias, gerando consequentemente economia para o orçamento familiar, já que reduzirá gastos com médicos e remédios. Os seguros de saú-de também ganham, já que este segurado usará me-nos os seus serviços. O mesmo acontece com as me-lhorias ambientais, que fazem com que as cidades acabem gastando menos na solução de problemas e na reparação de danos ambientais.

Neste contexto, os kleingärten, como todo espa-ço verde, têm um relevante papel na percepção da qualidade urbana. Na acirrada concorrência entre as cidades europeias, este pode ser um fator deter-

-presas, indústrias e mão de obra especializada.

Talvez o fator mais importante da valorização que estes espaços proporcionam, pelo diferencial

-vos empreendimentos imobiliários, seja o fato que a mera proximidade de um espaço verde já cause um aumento no valor das propriedades vizinhas, in-

incipientes mostram que neste campo ainda há mui-to a ser investigado, mas a pouca evidência existen-te revela dados importantes. Um estudo realizado em Berlim (LUTHER et al., 2002) prova que 20% do valor de um aluguel, bem como o valor de um terre-no, estão ligados diretamente à existência e à quali-dade dos espaços verdes em um raio de 600 metros.

a qualidade ambiental e as oportunidades de recre-

no valor do imóvel ou no de seu aluguel. O mesmo estudo revela que a qualidade da vizinhança onde se encontra o imóvel é fator relevante para 85% dos entrevistados na decisão por alugar ou comprar imóvel num determinado bairro, quer para uso re-sidencial, quer para uso comercial.

que funciona num lugar histórico – onde surgiu a primeira colônia na cidade de Leipzig11 (Figura 9).

espaços verdes vêm sendo bem estudados, o seu valor econômico tem sido alvo de muito pouca pes-quisa ou, quando examinado, é limitado a determi-

de serem usados como argumentos políticos ou ur-banístico-ambientais. A falta de evidências fundadas

também consideradas razões que levam ao não re-conhecimento dos espaços verdes em sua plenitude econômica, principalmente pela classe política e por empreendedores imobiliários (GREENKEYS, 2008).

exemplo. Em 2003, no âmbito do Projeto URGE12, foi feita uma análise da situação dos espaços verdes em

ecológicos e, especialmente, as funções sociais das áreas verdes, que já foram objetos de extensa pes-quisa, são amplamente considerados na prática, en-

muitas cidades nem é levado em consideração.Embora, como todos os outros espaços verdes,

os kleingärten sejam normalmente entendidos como um fator de custo principalmente no que se refere a gastos com sua manutenção, eles trazem imensos be-

tais como as diversas empresas que atuam no setor -

de empregos. Assim, eles oferecem um campo de tra-balho, desde mão de obra especializada (urbanistas e

gerados diretamente, eles são originados por uma -

didos” sob um único aspecto. Uma abordagem mo-nofuncional não é, portanto, razoável ou viável. Isso

interpretação. Nenhum espaço verde é implantado

¹¹-

sumidas” todos os dias. Isso corresponde a 180 campos de futebol e mais da metade desapareceu sob concreto ou asfalto – perdendo, com isso, todas as qualidades biológico-ambientais. O objetivo do governo federal é reduzir a taxa média diária para 30 ha até 2020.

baixado a 113 ha/dia em 2010, ainda é alto demais para atingir a meta (UMWELTBUNDESAMT, 2010).¹² Ver DEUTSCHES KLEINGÄRTNERMUSEUM, 2011.

Page 17: Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana ... · urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun.

urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun. 2012

Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana 119

e valor estético, essas colônias atraem muitos vi-sitantes. Isso não traz somente vantagens para o comércio local, mas também prestígio para a cida-de e, no caso de Nærum, até para o órgão dinamar-quês gestor do patrimônio cultural. Mesmo que os espaços verdes nem sempre representem o alvo direto do turista, estes desempenham um papel importante nas estratégias de marketing da indús-tria do turismo.

A função estruturante se refere ao uso dos kleingärten na organização e na composição da malha urbana. Como outro tipo de uso do solo, os kleingärtenurbana, dando-lhe forma e conteúdo. Cuidar bem do grande patrimônio em espaços livres e áreas verdes é um dos diferenciais que caracterizam as cidades da Europa Central. Assim como as exposi-ções de paisagismo, (SMANIOTTO COSTA, 2008), as cidades usam esses espaços para estruturar o tecido urbano e criar uma infraestrutura verde, garantindo uma contiguidade maior. A somatória

mais amplos às condições ambientais das cidades e à qualidade de vida da população.

Como um elemento da paisagem urbana, os kleingärten permitem a legibilidade do espaço, quebram a monotonia, tornando essa paisagem

novo parque de Lisboa (Figura 15). Essa função es-tética, com a inclusão de diferentes tipos de verde e elementos paisagísticos, contribui para a valo-rização visual da cidade. Os kleingärten também

bem como marcar o caráter e a imagem de um bairro ou de uma cidade.

Muitas vezes, os kleingärten são usados como -

entre uma zona industrial e uma residencial. Em Hannover, são usados como zona tampão entre o espaço rural e o urbano, fazendo com que haja

-dencia esse fato, mostrando como os kleingärtenestão distribuídos quase de forma radial ao centro urbano.

Os kleingärten podem também ser um fator turístico, como é o caso de Leipzig ou Nærum13

(Figuras 13 e 14). Pela sua linguagem arquitetônica

Figura 14 - Com frequência, arquitetos e designers se debruçam sobre os kleingärten e contribuem com ideias interessantes, mas estas nem sempre são bem aceitas pelas colônias mais tradicionais

Foto: Lothar Mattejat (2010).Nota: Aqui, o artista Lothar Mattejat, de Hamburgo, criou o seu próprio ga-

zebo. O próprio artista relata que os vizinhos tiveram que se acostumar a essa obra curiosa14.

Figura 13 - Carl Theodor Sørensen (1893–1979), um dos grandes pais-agistas do século XX, criou em 1948 na cidade de Nærum (Dinamarca) uma Kleingartenkolonie peculiar e que se tornou uma de suas mais importantes obras

Fonte: ANDERSSON; HØYER, 1993. Nota: Ao todo, são 40 parcelas ovais, formadas por cercas vivas e distribuí-

das aleatoriamente sobre o “tapete verde”, a área gramada de uso comum. A colônia está situada perto de um grande conjunto de hab-itações sociais, Nærumvænge, com apartamentos e casas geminadas, caracterizados por sua arquitetura uniforme e homogênea.

¹³ Disponível em: <http://www.urge-project.ufz.de>. Acesso em: 12 maio 2011.Outros exemplos podem ser vistos em: Hille, Nils. Gartenhaus ohne Graus. Disponível em: <http://www.dabonline.de/2008-05/gartenhaus-ohne-graus>. Acesso em: 22 maio 2011.

Page 18: Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana ... · urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun.

urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun. 2012

SMANIOTTO COSTA, C.120

-recerem a todos os cidadãos, de todas as classes so-ciais, a oportunidade para a prática de jardinagem e para se dedicarem a um lazer ativo e atraente, base-ado no contato com a natureza.

Pelos seus estatutos, as associações de kleingär-tenportanto, servem também para moldar a consciên-cia ecológica e a preocupação com a natureza de cada arrendatário. As oportunidades de educação e treinamento oferecidas também servem para ques-tionar a própria atitude perante o meio ambiente, talvez o fator mais importante para se ganhar a cumplicidade da população.

As cidades se transformam; algumas crescem, outras encolhem. Algumas passam pelo processo de desenvolvimento racionalmente, enquanto outras, pela ausência de planejamento, controle e interes-se político, o fazem sem priorizar a qualidade am-biental. O desconhecimento e a falta de informação já não podem ser mais usados como argumento. O mundo globalizado e a era da internet trazem as vantagens da informação imediata, de se poder co-nhecer virtualmente outros lugares e observar ou-tras situações. Conhecer exemplos de outros países, mesmo com experiências e pontos de partida dife-rentes, nos fornece um excelente instrumento para avaliar a própria situação.

Este trabalho não questiona se a experiência ale-mã com os kleingärten pode ser um exemplo para o nosso país. Embora exista potencial, já que aqui há também a necessidade de reduzir as taxas de pobreza e melhorar as condições de lazer da população (fora dos shoppings), este estudo tem a intenção de discur-sar sobre uma experiência interessante, proporcio-nando a possibilidade de se abrir novos horizontes.

O reconhecimento das funções e valores das -

volvimento do verde urbano goze de uma posição privilegiada na agenda política. A batalha pela qua-lidade ambiental das cidades tem que ser ganha todo dia.

Referências

ANDERSSON, S.-I.; HØYER, S. C. Th. Sørensen: En Havekunstner. Copenhagen: Arkitektens Forlag, 1993.

Considerações finais

Em função da grande preocupação com a saúde ambiental, a Alemanha hoje é uma referência mun-dial. O país se vê diante de um alto índice de cons-cientização ecológica em todas as camadas da popu-

que as cidades oferecem a seus habitantes. Um cri--

lidade de vida é a proporção de espaços verdes e a qualidade da paisagem urbana. E as cidades alemãs são, em geral, ricas não só em espaços, mas também em diversidade, estruturas e qualidade dentro dos tecidos urbanos.

Os kleingärten, como um sistema de objetivos, normas e padrões, surgiram na Alemanha com a intenção de propiciar segurança alimentar e uma opção de lazer. E contribuíram para melhorar a qua-lidade de vida de uma grande parte da população urbana, desprivilegiada e pobre, numa época em que ainda nem se pensava em justiça ou igualdade social no discurso político.

Neste contexto, pela sua dimensão, os kleingär-ten assumem um importante papel na composição da infraestrutura verde, além de prestarem à função

Figura 15 - Em Lisboa está sendo instituído o primeiro conjunto de hortas organizado de forma semelhante aos kleingärten

Foto: Smaniotto Costa (2012).Nota: Quando da inauguração da 2ª fase da obra do Parque Urbano da

Quinta da Granja, em outubro de 2011, foi entregue a primeira bateria de kleingärten. Esse Parque, além de conter equipamentos recreativos, é caracterizado pela existência de uma bacia de retenção, a qual per-mite sua utilização como área de lazer informal. Interessante aqui é a inserção dessas hortas como um complemento de um parque urbano.

Page 19: Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana ... · urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun.

urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun. 2012

Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana 121

GRÖNING, G. Aspectos da cultura do jardim e do desen-volvimento dos espaços livres na Alemanha. RA’E GA: O

, v. 11, p. 143-170, 2006.

HÄHNER-ROMBACH, S. -: Medizin, Gesellschaft und Geschichte. Stuttgart:

Franz Steiner Verlag, 2000.

HARBART, F. Der parzielle Ärger mit den Kleingärten in Hannover. , p. 15, 20 jul. 2011. Disponível em: <http://www.haz.de/Hannover/Aus-der-Stadt/Uebersicht/Der-parzielle-Aerger-mit-den-Kleingaerten-in-Hannover>. Acesso em: 22 jul. 2011.

LUTHER, M.; GRUHN, D.; KUNNEWEG, H.

. Berlim: TU Berlin, 2002.

NEHRING, D. . Hannover: Platzer Verlag, 1979. v. 4.

OFFICE INTERNATIONAL DU COIN DE TERRE ET DES JARDINS FAMILIAUX. : Verbandsnachrich-ten. 2011. Disponível em: <www.jardins-familiaux.org>. Acesso em: 12 jul. 2011.

SMANIOTTO COSTA, C. O verde como propulsor do de-senvolvimento urbano: exemplos das exposições de pai-sagismo na Alemanha.

, v. 6, n. 6, p. 1-21, jan./dez. 2008.

SMANIOTTO COSTA, C. Áreas verdes: um elemento cha-ve para a sustentabilidade urbana – A abordagem do Projeto GreenKeys. , ano 11, n. 126, nov. 2010. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/re-vistas/read/arquitextos/10.126/3672>. Acesso em: 12 jul. 2011.

SMANIOTTO COSTA, C.; SCHERZER, C.; SUTTER-SCHURR, H. Tage im Grün: Nutzerwünsche und Nutzungsverhalten im öffentlichen Freiraum – eine Untersuchung in Dresden.

, n. 11, p. 12-19, Nov. 2006.

SOZIALDEMOKRATISCHE PARTEI DEUTSCHLANDS – SPD-STADTVERBAND HANNOVER. : Besuch beim Bezirksverband der Kleingärtner. 2011. Disponível em: <http://www.spd-hannover-stadt.de/aktuell/na-chrichten/2011/331889.php>. Acesso em: 12 jul. 2011.

STADT DRESDEN. . 2012. Disponível em: <http://stadtplan.dresden.de>. Acesso em: 13 jun. 2011

BARTON, H.; GRANT, M. A health map for the local human habitat.

, v. 6, n. 126, p. 252-261, 2006.

BARTON, J.; PRETTY, J. What is the best dose of nature and green exercise for improving mental health? A multi-study analysis. ,n. 44, v. 10, p. 3947-3955, 2010.

BUNDESMINISTERIUM DER JUSTIZ – BMJ. -. 2011a. Disponível em: <http://www.gesetze-

-im-internet.de/bbaug/index.html>. Acesso em: 17 jul. 2011.

BUNDESMINISTERIUM DER JUSTIZ – BMJ. -. 2011b. Disponível em: <http://www.ge-

setze-im-internet.de/bkleingg/index.html>. Acesso em: 17 jul. 2011.

BUNDESMINISTERIUM FÜR VERKEHR, BAU UND STADT-ENTWICKLUNG – BMVBS.

. Ber-lin: BMVBS, 2008.

BUNDESVERBAND DEUTSCHER GARTENFREUNDE – BDG. . 2011. Disponível em: <http://www.kleingarten-bund.de>. Acesso em: 22 jun. 2011.

COSTA, D. C. Comentários sobre a tendência secular da tu-berculose. , v. 4, n. 4, p. 398-406, out./dez. 1988. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-311X1988000400005&script=sci_arttext>. Acesso em: 13 jan. 2012.

DEUTSCHES KLEINGÄRTNERMUSEUM. .2011. Disponível em: <http://www.kleingarten-museum.de>. Acesso em: 4 jul. 2011.

DIE STÄNDIGE KONFERENZ DER GARTENAMTSLEITER BEIM DEUTSCHEN STÄDTETAG – GALK. Kleingärten

. Köln: GALK, 2005.

DRESCHER, A. Allotment gardens and other urban agri-culture in Germany. In: SUB-REGIONAL EXPERT MEET-ING ON URBAN HORTICULTURE, 1., 2001, Stellenbosch.

… Stellenbosch: FAO; University of Stellen-bosch, 2001.

GREENKEYS. : a guide for ur-ban green quality. Dresden: IOER, 2008. Disponível em: <www.greenkeys-project.net>. Acesso em: 13 jan. 2012.

Page 20: Kleingärten – um componente da infraestrutura urbana ... · urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun.

urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 1, p. 103-122, jan./jun. 2012

SMANIOTTO COSTA, C.122

STATISTISCHES BUNDESAMT DEUTSCHLAND. -. 2010. Disponível em: <http://www.desta-

tis.de>. Acesso em: 13 jun. 2011.

SUNDBERG, C. J.; SJÖSTRÖM, M. Improve your health with exercise. , p. 6-8, 2009. Disponível em: <http://ki.se/content/1/c4/04/13/MedicalScience09.pdf>. Acesso em: 13 jul. 2011.

THIMM, von K. Jeder ein lieber Gott. , n. 23, p. 118-120, Juni 2011. Disponível em: <http://www.spie-gel.de/spiegel/print/d-78832479.html>. Acesso em: 13 jul. 2011.

UMWELTBUNDESAMT. : a need based approach for the future. Dessau:

Umweltbundesamt, 2010.

Recebido: 04/08/2011Received: 08/04/2011

Aprovado: 31/01/2012Approved: 01/31/2012

STADT HAMBURG. -. Dokumentation Kongress, 11 Mai

2007. Hamburg: Behörde für Stadtentwicklung und Umwelt, 2007.

STADT HANNOVER. Fachbereich Umwelt und Stadt-grün. Kleingärten . 2004a. Disponível em: <http://www.hannover.de/de/umwelt_bauen/umwelt/ nah_park/naherh/klgakult/datfakkl.html>. Acesso em: 17 jul. 2011.

STADT HANNOVER. .Hannover: Stadt Hannover, 2004b.

STADT LEIPZIG. . 2011a. Dispo-nível em: <http://www.leipzig-lexikon.de/WALDFLUR/swv1.htm>. Acesso em: 19 jul. 2011.

STADT LEIPZIG. -

2011b. Disponível em: <http://www.leipzig.de/de/buer-ger/freizeit/leipzig/kleingaerten/index.shtml>. Acesso em: 18 ago. 2011.