Jason Tercio - Segredo de Estado, O Desaparecimento de Rubens Paiva

8/17/2019 Jason Tercio - Segredo de Estado, O Desaparecimento de Rubens Paiva

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Nota da digitalização:Este livro foi digitalizado e corrigido por Angela Moraes em junho de2011

!aginação: superior

"egredo de Estado

# desaparecimento de $u%ens !aiva

&A"#N '($)*#Editora #%jetiva

+++#relhas do livro:

$io de &aneiro, verão de 1-.1 A casa do e/deputado e pai de cinco filhos$u%ens !aiva invadida por agentes do serviço secreto do governo militar Ele levadopara prestar depoimento e não volta maisAmigos e familiares se lançam numa mo%ilização fe%ril para tentar localizlo edesvendar o 3ue est por trs do s4%ito acontecimento !or 3ue ele foi preso5!araonde foi levado5 6uando voltar5)om uma estrutura narrativa não linear, &ason 'rcio associa tcnicas deromance, %iografia e reportagem 7 cr8nica hist9rica, para conduzir o leitor pelola%irintode incertezas e intrigas 3ue envolveram esse caso, ao mesmo tempo em 3ue revelaos principais momentos da vida de $u%ens !aiva como poltico, empresrio e paidefamlia ;ma trajet9ria marcada pelo esprito inconformista e por um determinadoanseio de li%erdade e justiçaA dramtica e/periist9ria%rasileira A o%ra esclarece vrios pontos deste 3ue o mais controvertido dosdesaparecimentos polticos ocorridos durante o regime militar

&A"#N '($)*# autor de vrios livros, entre eles A !tria 3ue o !ariu e ?rfãoda 'empestade @#%jetiva )omo jornalista, tra%alhou na BB) de Condres, &ornaldoBrasil, # Dlo%o e Movimento #rganizou uma coleção de livros de cr8nicas de &os)arlos de #liveira, e j pu%licou contos em antologias, jornais e sitesliterrios'am%m tradutor e ganhou vrios pr


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num permanente temporal Drupos desarvorados e desavindos se chocavam com umaindita %rutalidade, fisica e mental, como se a sociedade estivesse contaminadaporum miasma E estava ou caminhando para o metr8 e vinte minutos depois desço na estação ilaMadalena "u%o com disposição de atleta amador a Jngreme ladeira, no fim da 3ual

encontroo prdio onde mora Eunice !aiva "ua apar


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a ousadia de sepultar seu irmão, inimigo do rei !elo mesmo motivo, os poderosostentaram dei/ar insepulto o corpo de Sja/, mitol9gico her9i da guerra de 'r9ia "entado num %anco do calçadão, de costas para o mar, o%servo o %elo prdioresidencial na es3uina em frente Era a3ui >avia um casarão de dois pavimentos,parecidocom diversos outros 3ue ainda resistiam ao avanço dos prdios a tomarem conta da

orla &anelas azuis !aredes %rancas ;m muro co%erto com telhas francesas$isose risadas rever%erando nas paredes )heiros de charuto e maresia Fias de praia,noites de carteado "im, a3ui foi onde tudo começou Anoitece olto pelo calçadão pensando no 3ue disse o general e deputadoconstituinte Euclides Gigueiredo ao re3uerer a criação de uma )omissão de*n3urito parainvestigar os crimes polticos cometidos pela ditadura do Estado Novo: LAo menosse conheçam os responsveis pelas %ar%aridades, a fim de 3ue outros, 3ue possamvir mais tarde, tenham receio de ver seus nomes citados, como desejo 3ue sejamconhecidos os da3ueles %r%aros 3ue tanto maltrataram o povo do $io de &aneiro,dacapital da $ep4%lica, de todo o BrasilL Em casa, apanho uma lata de suco na geladeira, vou para a sala e %e%o doisgoles seguidos #lho para a mesa a%arrotada de papis com anotaç=es, fotoc9piasdejornais e revistas, in3uritos, ofcios, cartas, fotografias, livros,depoimentos gravados e escritos, documentos oficiais e particulares, %ilhetes# 3ue fazercom tudo isso5 Feglutir, digerir, regurgitar, recriar cenasfatos hist9ricos compersonagens reais, alguns com pseud8nimos, outros fictcios, mas nem tanto 3ual3uersemelhança pode não ser mera coincid


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)om o passar das horas, o n4mero de pessoas no terraço diminui ( 3uase meianoite 3uando o mulato ergue o %in9culo novamente e avista um Boeing da arigta/iandoem direção ao ptio de desem%ar3ue Ele pu/a a manga es3uerda do casaco e olha orel9gio de pulso "eu colega apro/ima um Ualietalie da %oca L)hegou Estamos indoL

Fescem apressados uma escada estreita, atravessam o portão de acesso 7 pistae entram num jipe azulmarinho com uma logomarca nas duas portas: uma espadaentreduas asas a%ertas # moreno entra ordenando Lamo l ! na t%uaL L#, capitãoL # motorista, com capacete %ranco e camisa azulclaro de mangascurtas, acelera em direção ao ptio Atrs seguem dois outros jipes de reforço,para dar co%ertura, caso necessrio 6uatro homens empurram uma escada so%re rodas para junto da porta dianteirado avião, en3uanto um 8ni%us estaciona perto para transportar os passageiros1R L( o seguinte, sargento: eu entro no avião, tu fica na porta 6ual3uermovimento estranho, pode meter %ala Não d< molezaL, ordena o capitão su%indo aescadacom o mulato )umprimentam o comandante do avião e mostram suas carteiras deagentes do )entro de *nformação e "egurança da Aeronutica, o )*"A #s passageiros se levantam para desem%arcar, mas são surpreendidos pela vozdo piloto no altofalante pedindo 3ue todos retomem seus assentos por algunsminutosEm seguida o capitão aparece na frente de todos e ergue a voz LEst tudo %em, s9 3ueremos falar com duas passageiras %rasileiras 3ueem%arcaram em "antiagoL Ele tira do %olso do casaco um papelzinho e l


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( a sede do )*"A, serviço secreto do governo, chefiado pelo %rigadeiro )arlosAfonso Fellamora, 3ue diariamente transmite ao ministro da Aeronutica,%rigadeiroMrcio de "ouza Mello, um informe das pris=es efetuadas e eventuais informaç=eso%tidasLoc


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#utra carta, destinada a L&osL, e/plica em detalhes como sair do Brasilclandestinamente, falsificação de documentos, rota de fuga, onde %uscar apoio eesconderijo&acar interrompe a leitura, coloca a carta dentro do envelope e junta com asoutras Lamos dei/ar pro pessoal da Anlise de Focumentos ' na cara 3ue umes3uema

do pessoal da luta armada "ão mensagens pros terroristas da3ui oc< sa%edissoL"elene titu%eia LEu não ;ns %rasileiros 3ue moram no )hile pediram pra gentetrazer essas cartas pras famlias delesLNuma sala adjacente, Marlia est sendo interrogada pelo tenente )oiote, magro,dentuço e tam%m 7 paisanaL# 3ue voc< faz5LL"ou estudante, vou começar a faculdade este anoLL6ue curso5LL)i


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Loc


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Engenheiro com muitos prdios e pontes construdos, não podia morar na casasem antes fazer uma reforma, at para ade3ula 7s necessidades da famlia ;madasalteraç=es foi transferir a entrada para a rua lateral A praia faz a alegria diria das crianças e um vnculo sentimental entreele e a sua pr9pria infPncia, vivida em "ão icente, tam%m numa casa em frente

aomar Em%ora tenha ido morar em "ão !aulo 21a partir dos 1W anos e seja descendente de alemães pelo lado materno, adaptousefacilmente ao $io "eu temperamento e/trovertido e %emhumorado ajudou )ultivaat o h%ito carioca de colocar apelido nas pessoas Em casa s9 Eunice não temapelido Ela se ergue da cama e veste um ro%e de seda %ranco ( uma mulher magra e dealtura mediana, aparentando fragilidade, impressão 3ue se desfaz na voz firme enostraços e/pressivos da face Fepois de fazer a a%lução no %anheiro e escovar seusca%elos castanhos e longos, desce para dar instruç=es 7s duas empregadas $u%ens permanece de%ruçado na janela, os olhos azuis contemplando as ondasvindo avançando e se avolumando at arre%entarem espumantes na areia Banhistasdãoseus primeiros mergulhos, outros chegam sozinhos ou em grupos e estendem astoalhas coloridas, as esteiras de palha Daivotas planam em frente 7 casa porinstantese saem revoando suavemente Mas ele não totalmente feliz LBom dia, doutorVL !arado na calçada em frente ao so%rado, um mulato alto de meiaidade e%ermuda, camisa do Glamengo no peito magro, com um carrinho de algodãodoce LBom dia, #sUaldo )omo est5L Laise indo Algum a 3uer algodãodoce5L LAinda muito cedo Mais tarde, t5 E o Mengo, ganha hoje5L L)laro, tr


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Acostumada 7s ra%ugices do marido, Elizete não o leva a srio L( tudo gentesimples, mas com muita f no coração ( importante ter f, pra tudo na vidaEu voupedir uma graça a "ão "e%astião, pra engravidarLLEu não acredito em milagre, sinceramenteLEla v< uma freira idosa parada num dos port=es e pu/a 'igre pelo %raço

L'odo ano isso, n madre5L diz ElizeteLDraças a Feus, missa desde as seis da manhã Essa das dez a mais importante& est começando Mas s9 tem lugar de pL'igre empina a ca%eça LN9s temos lugar reservado # atraso foi por causa delaGicou uma hora se em%elezandoL2T LMeia horaL corrige Elizete, e sorri para a freira LMeia hora voc< passou escolhendo a roupaL LAinda d tempoL diz a freira LA missa começou ainda h poucoL Elizete fica ansiosa LEntão vamos entrar logoL L!reciso %e%er um refrigerante primeiro Estou morrendo de sedeL L( %om mesmo, por3ue l dentro est um fornoL A freira sai do portão e vaipara dentro do templo # casal segue para uma %arraca Em meio ao rumorejo circundante, 'igre pededois guarans e o casal fica %e%endo em sil


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com papis escritos 7 mão: L$eservadoL # casal se persigna diante do altar e ocoronel inclina levemente a ca%eça cumprimentando o frei, 3ue retri%ui e a%reumaB%lia no p4lpito Lamos iniciar lendo um trecho do "ermão da Montanha, %em ade3uado ao dia donosso padroeiro: Bemaventurados os perseguidos por causa da justiça, por3ue

deles o reino dos cus Bemaventurados sois 3uando, por minha causa, vos injuriareme vos perseguirem e, mentindo, dizerem todo mal contra v9s $egozijai e e/ultai,por3ue grande o vosso galardão nos cus\ pois assim perseguiram aos profetas3ue viveram antes de v9sL Elizete faz o sinal da cruz, apanha na %olsa um alfinete e prende o cravo nagola do seu vestido Fepois olha sutilmente para as mulheres no seu %anco,talvez3uerendo localizar alguma conhecida, ou verificando se o seu vestido novo atraiua atenção delas ;ma criança chora "em denotar inc8modo, o frei prossegue ahomilia: L'odos conhecem a imagem de "ão "e%astião, o santo flechado, com o peitodesnudo, amarrado a uma rvore Mas muitos não conhecem a hist9ria desse her9ida f3ue viveu e morreu no sculo ***, durante o *mprio $omano Ele era chefe daguarda pretoriana,2Wsofreu perseguição e foi morto por ordem do imperador Fiocleciano irou mrtir,por3ue era um cristão convicto # cristianismo era proi%ido pelas autoridadesromanas,os cristãos eram considerados inimigos do Estado, como se fizessem parte de ummovimento su%versivoL # frei faz uma pausa e lança um olhar rpido para o coronel, como se 3uisessever a sua reação & o coronel pensa se o frei a%usa da ironia ou apenas tenta,mediante uma analogia, ser melhor entendido pelos fiis L"e%astião ajudava os cristãos perseguidos, visitava os presos, era solidriocom eles, e falava de )risto aos soldados romanos Muitos se converteramsecretamentepor influ


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L# imperador ficou admirado e muito irritado com a ousadia de "e%astião,mandou seus guardas prend


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L& 3ue voc< est contando o tempo pra ser deputado de novo, sa%e 3ual vaiser o grande acontecimento do ano 3ue vem5L pergunta Eunice

T0$u%ens apanha mais uma trufa e a dissolve na %oca aos poucos, para prolongar osa%or

L# grande acontecimento de 1-.25 ejamosL !ensa uns segundos L#s 1W0 anos da*ndepend


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Fepois de dei/ar o gato no chão, $u%ens estica os %raços para a frente,espreguiçandose Lou chamar o Yaldir pra ir 7 praia # $Zff tam%m 6uer ir5LEunice sai da cama L'enho um monte de coisa pra fazer Nem a%ri as malasaindaLT2L6uando voc< descer, pede pra Maria &os fazer um sanduche de presunto e 3ueijo

pra mim No pão de formaLLE pra %e%er5LL#utro suco, com %astante geloLEunice desce a escada 3ue d para o salão e a cozinha, $u%ens entra no %anheiroFe%ai/o da gostosa gua fria do chuveiro so%re a %anheira, ele pensa em comprarum presente de porcelana para Eunice >um, muito 9%vio talvez, mas apropriadoNa cela de Marlia entra um soldado com um capuz nas mãosLemLEncapuzada e conduzida pelo %raço at uma saleta, ela fica de p, sem sa%er ondeest, respirando com sofreguidão Fa a pouco chega "elene, trazida por ;rso,3uelogo retira os capuzes das duas L!odem sentar # doutor &acar vem conversarcom voc


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$u%ens chega de %ermuda, sandlia de couro, jornal na mão L)ad< a Nalu5LEunice despeja leite na /cara de caf LFormiu na casa do "e%astião NerZLTRLEla amiga da enteada dele, a )ristinaL diz ElianaLE eu não sei5 At mandei um presente de aniversrio pra elaLL!recisamos telefonar pra eroca A essa hora deve estar toda encapotada l em

Condres, coitadaL Eunice sopra o caf com leite na /cara antes de %e%er$u%ens passa geleia de morango num pedaço de pão e junta uma fatia de 3ueijo L^tarde a gente telefona amos mandar um pouco do calor carioca pra elaLFescendo a escada, numa camisolinha corderosa e trazendo LBeijocaL penduradapelo %raço, a caçula Ba%iu, de 10 anos e 9culos de grandes lentes redondas, d%eijinhosnas faces de $u%ens e Eunice, ergue a %oneca para fazer o mesmo, sentase e nãodemonstra interesse nas comidas da mesaL"a%e do 3ue 3ue eu t8 com vontade5 Fe chupar um )hica%onLL!icol5 A esta hora5L admirase $u%ens LFe jeito maneiraLL)hica%on muito legal, mor85L Ba%iu ergue o polegar direito com a mão fechada,num jeitinho desafiador e graciosoEliana sorri LA pirralha t toda cheia de ginga cariocaLL)om ginga ou sem ginga, não hora de )hica%onLL' muito calorL Ba%iu faz %eicinhoL"9 depois do cafL determina Eunice, sria L"enta aLA arrumadeira Maria do )u aparece na porta:LFona Eunice, 3uando a senhora terminar a, eu 3ueria falar um neg9cioLL# 3ue , Maria do )u5 !ode falar A3ui ningum tem segredoL, diz $u%ens,gaiatoMaria do )u ri, acanhada L( 3ue t faltando anil pra lavar roupaLLFepois a gente vai ao mercado comprar, se estiver a%erto )omo hoje feriadoL diz EuniceL*h, mesmo, eu tinha es3uecidoL Maria do )u sorri colocando a mão na ca%eçaTW$u%ens come mais uma fatia de pão LAh, então esse o seu grande pro%lema,n, Maria do )u5 Anil oc< 3ue feliz "eu nome j diz tudoL Ele se virapara Eunice:L)omo 3ue Ldo cuL em latim5LL)aelestisLLFe hoje em diante seu nome Maria )aelestis, ou melhor, Maria )elesteL $u%ensvoltase para Eliana e Ba%iu: L"ua mãe sempre foi cra3ue em latim, sa%iam5 Goiporisso 3ue a gente se conheceu, não , amor5 Ela foi na minha casa ensinar latim 7minha irmã Maria C4cia As duas eram colegas de turma no "ion 6uando me viu, seapai/onou na horaLLBo%ãoL Eunice j terminou de comer, mas permanece na mesaLEu tam%m me apai/onei 7 primeira vista ;ma mulher %onita e inteligente, 3uemnão se apai/onaria5 oc< ainda sa%e latim5LL)laro "ei uns ditados tam%m Gallitur visio: as aparum, essa %oa, pode anotar Eu tam%m aprendi latim no colgio "ão Bento !ore/emplo: in vino veritasLLEssa 3uem não sa%e5L diz ElianaL*njuriarum remedium est o%livio A maior vingança o desprezoLLE o maior desprezo o sil


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L6uando a gente se conheceu, voc< dei/ou crescer o %igode dizendo 3ue era praimpor respeito, por3ue tinha cara de garoto E tinhaTKmesmo "ua cara era meio infantil, cara de anjo de igreja, lourinho, olhosazuis )omo voc< j não tem cara de garotoLLEu tinha cara de garoto, mas o meu apelido em casa era sa%e o 3u


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L!ai, o senhor fala muito em ditadura Eu 3ueria entender o 3ue issoL dizBa%iu ap9s %e%er um gole de leite 3ue dei/a um filete %ranco no seu l%iosuperior $u%ens segura na mão es3uerda de Ba%iu L( o seguinte, %enzinho, em sntese:ditadura falta de li%erdade ( um governo de poucas pessoas 3ue não dei/am opovo

votar pra presidente No Brasil assim E na escola voc< não deve falar emditadura, senão o seu papai pode entrar pelo cano, e em cana Em resumo, isso,capisce5,como diria o seu vov8 DiuseppeLTOLEntendiLL"a%em 3ual a diferença entre o )osta e "ilva e o Mdici5L pergunta ElianaEunice responde sem muito interesse, desconfiando ser alguma piada LNão, contapra genteLL( 3ue a %urrice do )osta e "ilva não se media, e a do Darrastazu medeseLLBoazinha essaL $u%ens sorri LMas o Mdici não %urro não !elo contrrioEle sa%e enrolar o povo, usa o tricampeonato da "eleção pra fazer mdia noMaracanã,tenta passar uma imagem popular, paternal, de um presidente identificado com opovo, 3ue gosta de fute%ol 'udo fachada Ele tem o desplante de dizer 3ue nãoe/istetortura no Brasil, diz 3ue no fim do seu governo a democracia vai estarimplantada )onversa mole pra %o%o dormirL'oca o telefone afi/ado na parede da cozinha Maria do )u atendeLFoutor $u%ens, pro senhor ( uma mulher, 3uer falar com o dono da casaLL' Não precisa fica olhando pra Eunice, ela não tem ci4me, confia em mimL Elesai da sala de jantar e vai ao escrit9rio para atender na e/tensão, um telefonevermelho, vertical e %ojudo 3ue fica so%re a escrivaninhaLEu trou/e duas cartas do )hile pro senhor !eguei seu telefone num envelope eeu 3ueria o endereço pra levar aLLEst %em ( avenida Felfim Moreira, n4mero O0, no Ce%lon Não prdio, umacasa, de es3uinaLL# nome no envelope L$aulL "eu nome esse mesmo5LLNão, $u%ens E a entrada da casa pela rua lateral, Almirante !ereiraDuimarãesLFepois de desligar, ele volta para a sala de jantar Eunice fica curiosa:L6uem era5LL;ma mulher 3uerendo sa%er o endereço da3ui pra entregar umas cartas 3ue elatrou/e do )hile Feve ser do AlminoLT- L!ronto, comi tudo Agora posso comprar meu )hica%on5L pergunta Ba%iuestendendo a mão L"e o senhor não me der dinheiro e li%erdade pra comprar meupicol, entãoessa casa t virando uma ditaduraL $u%ens d uma risada e enfia a mão no %olso da %ermuda LAprendeu rpido,hein5L A menina apanha o dinheiro e sai correndo toda fagueira portão afora Num 3uartel da Aeronutica no centro da cidade, o %rigadeiro [arlos Brennerest ansioso Elegantemente trajado com a farda de gala 3uepe %ranco, t4nicaazulferretee calça da mesma cor , ele fica parado junto ao mastro da %andeira %rasileirahasteada na !raça dArmas da *** Xona Area, um comple/o de prdios cercado pormuroalto na avenida Deneral &usto Fe %raços para trs, e/amina atentamente todo o piso do ptio e conversa como oficial de dia )hegou mais cedo hoje para supervisionar a organização de umaimportantesolenidade

L# ministro vai chegar de helic9ptero ao meiodia e ser rece%ido com honramilitar 6uero tudo impecvel, perfeito, at as fardas Ele vai fazer inspeçãoL


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#s dois j verificaram os alojamentos, os avi=es de pe3ueno porte noshangares e a pista em 3ue pousar o helic9ptero do ministro Mrcio de "ouzaMello, paraa cerim8nia comemorativa dos T0 anos de criação do Ministrio da Aeronutica Afvel na intimidade da famlia e simptico anfitrião para os amigos 3uerece%e em sua casa no Draja4, protegida dia e noite por sentinela, o %rigadeiro

Brennerrevela seu temperamento irascvel no 3uartel ou em 3ual3uer lugar 3uando oassunto poltica 'em 9dio ao comunismo e não admite 3ual3uer crtica aogoverno 'am%mR0odeia hippies, roc, maconheiros, homosse/uais e )inema Novo prefere osmusicais de Gred Astaire )ostuma gritar com su%ordinados e manda prender at3uem nãoentende suas ordens 3uando são dadas, o 3ue não raro, de modo ata%alhoado,aparentemente para testar a capacidade de retenção e rapidez de raciocnio dointerlocutor)om pouco mais de W0 anos de idade, os ca%elos misturam tons %rancos e louros,indicando a ascendoje ele 3uer causar a melhor impressão ao ministro, de 3uem j foi chefe dega%inete, da nascendo uma amizade 3ue se fortaleceu por causa das ideiassemelhantes L)hame o capitão A%elhaL pede Brenner ao oficial de dia L6uero falar com elena minha salaL L"im, senhorL # oficial de dia %ate contin


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L!ortanto, 3uando chegar com o preso, se a cerim8nia ainda estiver emandamento, entre discretamente Eu chamei o pessoal do )*"A pra começar ointerrogat9riopreliminar sem mim, por3ue depois da cerim8nia ainda vai ter um almoço norestaurante dos oficiaisL # %rigadeiro se levanta e pela janela olha para umanesga da

Baa de Duana%ara L!egou o endereço da casa5L L"im senhor ( um aparelho na %eira da praia !rimeira vez 3ue euL # %rigadeiro d alguns passos e fica de frente para o mapa do $io na paredeLA maioria dos su%versivos mora na Xona "ul "ão de classe mdia ou filhinhos depapai metidos a revolucionrios #utros são da es3uerda festiva, mas não menosperniciosos, como o pessoal desse jornaleco pseudohumorstico, !as3uim!assaramdois meses em cana, agora em novem%ro e dezem%ro amos ver se aprenderam a secomportar A festiva s9 faz revolução nos %ares de *panema, Ce%lonL Ele coça o3uei/oL"ão comunistas %e%edores de us3ue escoc


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LA gente estudou esse manual no !anam ( um material precioso Goi oprimeiro lançado pela )*A pra Amrica Catina, em julho de 1-KT, oito meses antesda $evolução!arece ter sido feito pro Brasil Eu te chamo a atenção pra duas refer


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$u%ens sai do escrit9rio com um chapupanam na ca%eça e um charuto apagadoentre os dedos Lou dar uma caminhada na praia Mar3uei com o BocaL LEu vou 7 praia mais tardeL Eliana levantase da mesa na sala de jantarRWFa cozinha vem a voz de Eunice LEu tam%mLL#, 7 tarde a gente vai 7 praia >oje o velho pai não 3uer fazer a%solutamente

nadaL Ele vai 7 cozinha, d uma piscadela para Eunice e ergue a voz, com umae/pressãogaiata LMas acho 3ue vou dar um pulo no Moraes tam%m, chupar uns picolsLL`%aVL grita Ba%iu, e Eliana ergue os %raços LEu tam%m 3ueroVL$u%ens d um %eijinho nos l%ios de Eunice, um na testa de Ba%iu e outro na%ochecha de Eliana LE o Marcelo, ainda t dormindo5LL)omo sempreL diz EuniceL^ noite t8 pensando em ir ao cinema, 3ue tal5LLer o 3u


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L6ue nada !ra ele um elogio, do jeito 3ue ele gosta dos milicos E pareceum coronel mesmo, at no jeitão de andar ;m dia voc< vai conhec


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roupas e os o%jetos de %anho e uso pessoal eram trazidos diariamente pelos seusrespectivos motoristas Falal pensou numa forma de comunicar a sua mãe onde BocaZuva estava, para 3ueela avisasse os amigos e eles se mo%ilizassem 6uando o motorista levou arefeiçãodo dia, Falal enfiou na garrafa trmica um %ilhete: L)ompre o disco do Dil%erto

Dil, A3uele a%raço, a3uele 3ue diz Al8 al8$ealengoL Ba%Z gosta muito Estamos %em,não se preocupeL Mas não resolveu muito, por3ue estavam todos incomunicveis ea imprensa não podia noticiar a prisão Ap9s sete dias, Falal escreveu uma longa carta ao comandante do Batalhãoe/plicando 3ue não havia motivo para ela estar ali e precisava ir 7 Bahia parauma apresentaçãode sua companhia no 'eatro )astro Alves No dia seguinte as trelloL ;m jovem de %ar%a ruiva e ca%elos louros a%ai/o das orelhasinterrompe sua caminhada no calçadão para cumprimentar BocaZuva no 3uios3ue L>ello, sirL, retri%ui BocaZuva e o apresenta a $u%ens LEsse o !addZ,jornalista, cola%orador da BB), stringer, como eles dizem E s4dito %ritPnico,mas faz3uestão de dizer 3ue irland


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Lamos ao Glag logo mais 7 noite5L prop=e BocaZuva L# &ohnnZ Alf esttocando l, com participação do Cus Eça e do 'rio Mocot9 Feve ser um tremendoshoU Agente toma um Fimple pra comemorar o anonovo, com um pouco de atraso )hama aEunice, eu levo a Falal, vamos n9s 3uatroL LEu tinha com%inado ir ao cinema, ver Brasil %om de %ola, mas posso dei/ar

pra s%ado ai ficar muito tempo em cartaz ou falar com a Eunice e mais tardeagente com%ina o horrioL Ao se despedir, $u%ens pergunta a BocaZuva: LE a )armina5 & te deu algumanotcia5L LNão Ela sa%e 3ue fi3uei muito chateado com a3uela confusão toda Mas deveter entrado em contato com a mãe dela E com voc


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raramente saa 7s ruas, circulava mais na Xona Norte, 3ue conhecia %em Draja4,ila *sa%el, "ampaio, Engenho de Fentro, Engenho Novo, onde nascera $u%ens lhe apresentou o rapaz como Ernesto, 3uadro do !)B 3ue participaria damissão, e garantiu 3ue providenciariam a fuga de )armina, conseguiriam umpassaportefalso Ela ficaria escondida

W2no apartamento de $u%ens em "ão !aulo at o momento propcio de sair do Brasil LA rota ser pelo !araguai A do ;ruguai est 3ueimada Ela vai pra Goz do*guaçu acompanhada, atravessa a !onte da Amizade, pode pegar um 8ni%us atAssunci9n,e de l um avião at o )hileL disse Ernesto LEst %em organizado o es3uemaL disse Adriano Alm de sair do pas, outra prioridade de )armina era o%ter a guarda de seufilho de T anos, 3ue morava com o pai, de 3uem estava separada Adriano iriatentarmant


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Entrando em sua casa pelo portão lateral, $u%ens não repara num #pala amarelocom teto de vinil preto estacionado no meiofio a poucos metros de distPncia,comtr


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No rdio uma vinheta anuncia: L# Dlo%o no arVL LEscuta aL diz A%elha L#s 9rgãos de segurança continuam promovendo uma intensa caçada aosse3uestradores do em%ai/ador suço Diovanni Enrico Bucher # diplomata, 3ue foili%ertado3uatro dias atrs, reassumiu seu cargo na em%ai/ada, mas pretende viajar na

pr9/ima se/tafeira para a "uça #s 9rgãos de segurança não informaram detalhesso%reas investigaç=es "a%ese 3ue o cativeiro onde o em%ai/ador passou 3uarenta diasem poder dos terroristas foi uma casa em $ocha Miranda, Xona Norte do $ioL A%elha diminui o volume e atira na calçada o toco do cigarro Ele desconheceos antecedentes do homem 3ue veio prender Fisseramlhe apenas 3ue tem ligaç=escom su%versivos %rasileiros e/ilados no )hile, e portanto deve ter ligação com ose3uestro do em%ai/ador Nunca su%estima um suspeito "empre atri%ui altapericulosidadea todos Fuas peruas [om%i estacionam atrs do #pala, uma em cada lado da rua )hacalcoloca o %raço es3uerdo para fora, acena para os ocupantes das peruas fazendosinalde positivoWK A%elha gira o %otão do rdio, LA co%ertura chegou "9 falta o Fum%oL, nãoencontra nada 3ue o agrade "ua atenção atrada pelo letreiro pichado no murodo outrolado da rua: !#$ ;M B$A"*C C*$E E *NFE!ENFEN'E LEsses idiotas falam em li%erdade e 3uerem transformar o Brasil numa grande)u%a C não tem li%erdade nem ordem nem progresso Mas os su%versivos estãoperdendoa guerra 'u precisava ver, )hacal, como foi moleza desco%rir essa redeterrorista entre o Brasil e o )hile Bastou pegarmos duas mulheres 3ue traziamumas cartasL LE/iste mesmo uma rede5L pergunta Ceão A%elha d um sorriso de superioridade L?%vio Agora 3ue o Allende viroupresidente, o )hile o "hangril da canalha comunista %rasileira !or 3ue os%anidostrocados pelo em%ai/ador suço 3uiseram ir pra l5 ( uma rede, cara Estãomontando uma %ase, fazendo treinamento l, como fazem na $4ssia, em )u%a Masvão se foder,temos informantes 7s pampas Esses terroristas %rasileiros são muito otriosGicam mandando cartinha pros camaradas no $io amos ter muito tra%alho pelafrente( %om pra voc


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)hacal v< pelo retrovisor uma %ela mulata 3ue vem pela calçada, de %atacolorida at o meio das co/as e ca%elo %lac poUer LEspera, olha s9 o 3ue vemvindo a!elo amor de Feus, meu irmão, isso atrapalha 3ual3uer campanaL Ceão estica o pescoço LFemais "eria %om prender umas duas dessa acusando desu%versão e levar pra casa A gente ia se divertir legal # 3ue tu acha da

ideia,capitão5L LEs3ueçam isso agora, o mais importante pra n9s darmos tudo nesta missão Econseguir depois uma promoçãozinha de leve 'enho f em Feus "9 o fato deacontecerno dia de "ão "e%astião j um %om sinalL L"e sair a promoção, tu vai continuar no mesmo tra%alho5L pergunta Ceão LNão estou a fimL, responde A%elha, e escarra pela janela do #pala # catarro3uase %ate na perna de um garoto de short 3ue passa na calçada, %ola na mão, comum amiguinho L6uero ir pra e3uipe de interrogat9rio ( disso 3ue eu maisgostoL)hacal acende um cigarro L# 3ue eu menos gosto do horrio 'ra%alhar 2R horassem parar e folgar .2 não pra 3ual3uer cristãoL L( 3ue tu ainda não t acostumadoL A%elha tira os 9culos escuros paracontemplar uma morena de %ermuda 3ue vem da praia LE o nosso asco5 Danha de3uanto hoje,Ceão5L L"ei l Eu sou Glamengo tenho uma nega chamada 'eresa "e a gente fosseenfrentar voc


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Barros )Pmara, e pelo governador Negrão de Cima, com seus secretrios eassessores Grei Elias cumprimenta as duas autoridades e apresenta o coronel'igre e suaesposa ;m fot9grafo clica os apertos de mãos *mediatamente o coronel pede otelefone dele, dizendo 3uepretende depois solicitar uma foto

"uando, $u%ens entra na cozinha, %e%e um copo de gua gelada e so%e a escada dasala para o segundo pavimento Eunice est no 3uarto desfazendo mais uma malaL)onheci na praia um jornalista ingl


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L!assamos na fazenda do meu pai amos ver o 3ue este ano nos reserva aiser mais calmo do 3ue o ano passado Não vamos ter )opa do Mundo comtricampeonatonem eleiç=es & se3uestro de diplomata %em possvel 3ue continue "eja o3ue for, vamos continuar falando e fazendo o 3ue pudermos, senão a gente cai numpessimismo

in4til, 3ue não leva a nada # 3ue h de novo5LK1 L>oje 7 tarde estou de plantão no jornal amos ver 3uantas matrias a)ensura vai mandar cortar ou vetar Na !es3uisa eles não se metem muito Fe3ual3uer maneira, uma merda escrever um te/to pensando se algum vai telefonar pra redação oumandar um %ilhete proi%indo a pu%licação Eles estão muito de olho agora emnotciaso%re o )hile e os se3uestradores do suçoL LGalando nisso, o seu jornal deu hoje 3ue as empresas chilenas j estão empolvorosaL L( verdade Estão se organizando pra enfrentar as mudanças econ8micas, commedoL L# BocaZuva acha 3ue se o Allende avançar muito, vai ser derru%ado pelosmilitares, como aconteceu a3ui Não sei, não, o Allende tem muito mais apoiopopulardo 3ue o &ango tinha amos ver no 3ue vai dar o socialismo com empanadas evinho tinto, como eles dizemL Loc< esteve l, não 5L pergunta $Zff LEm novem%ro !u/a, h 3uanto tempo 3ue a gente não se via, hein5 Gui poucodepois da posse do AllendeL LE o 3ue voc< achou5L L;ma coisa incrvel !rimeiro fui a Nova or visitar meu irmão )arlos, eleest em tratamento mdicoL L'eve alguma melhora5L $u%ens %ai/a os olhos, entristecido LNão Ele est desenganado Feram nom/imo seis meses de vida )oisa chata pra %urro, nem gosto de pensarL Cogo sereco%raLBem, de Nova or fui passar dois dias em "antiago #s chilenos estão muitoanimados, deu pra sentir nas ruas, na cara das pessoas # pas vive uma alegriasemtamanho, muitas passeatas de apoio ao governo, a palavra de ordem Allende,Allende el pue%lo te defende_ # povo tem um nvel de consci


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e d uma gargalhada estrondosa e prolongada 3ue ecoa na casa inteira ;magargalhada dionisaca $Zff se levanta LEu vou l falar com ele en3uanto voc< termina seu %anhoL 6uando $u%ens desce a escada, Yaldir !ires est sentado numa poltrona da salaconversando com Eunice e $Zff L"alve, doutor Yaldir !iresVL $u%ens o a%raça calorosamente Lamos pro

escrit9rioL 'am%m com os direitos polticos cassados, Yaldir era consultorgeral da$ep4%lica do presidente &oão Doulart, encarregado de e/aminar os aspectosjurdicose constitucionais dos projetos do governo, como os decretos de nacionalizaçãodas minas de ferro, a encampação das refinarias, a reforma agrria e a Cei de$emessade Cucros, 3ue disciplinou os investimentos das multinacionais no pas Em vez de ligar o arcondicionado no escrit9rio, $u%ens a%re a janela paraarejar o am%iente Em seguida retira de uma gaveta daKTescrivaninha uma cai/a de charutos e um cortador de prata Yaldir e $Zff sentamse no sof de couro pretoLão %e%er o 3u


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L!or en3uanto Eu conheci o em%ai/ador Bucher pessoalmente ( uma %ichalouca muito simptica "em %rincadeira, deve ter sido terrvel para ele ficar3uarentadias num cativeiro Eu pensava 3ue o governo não fosse ceder Mas desta vez asnegociaç=es foram mais complicadas do 3ue nos se3uestros anterioresL Yaldir %e%e um gole de vinho LEsse neg9cio de assaltar %anco, se3uestrar

em%ai/ador, um e3uvoco total "9 fortalece a repressão "9 no ano passado,3uantosse3uestros5 'r


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L# %sico, o pilar de 3ual3uer eleição a li%erdade "e não aca%arem com acensura 7 imprensa, aos livros, aos filmesL diz $Zff $u%ens coloca mais gelo no copo L( isso mesmo Fe 3ue adianta lançar umacandidatura, ganhar e ser cassado de novo5 A cada hora o Medici fala uma coisa6uandotomou posse, falou 3ue pretendia dei/ar o governo com a democracia

definitivamente instaurada Alis, o )astello Branco e o )osta e "ilva falaram amesma coisaEsse pessoal %om de %ico Não 3uero ser pessimista, mas tam%m não vou ser umsonhadorL L& sei, voc< um sonhador realistaL sorri Yaldir LEscuta essa, uma historinha %oaL $u%ens tilinta as pedras de gelo no copode )ampari com soda L;m ministro telefonou pro )anecão e pediu pra falar com ogerenteL$u%ens imposta a voz LEu 3uero reservar 1W lugares para assistir ao shoU destanoiteL Be%e um gole L# gerente respondeu, muito educado, seria uma honra paraanossa casa rece%er o ministro e seus amigos, mas infelizmente não possvelconseguir 1W lugares esta noite, se 3uiser pra amanhã # ministro falou com aesposaao lado e depois disse ao gerente: N9s j com%inamos com nossos amigos Algunspodem ir outro dia, mas tem dois casais de "ão !aulo 3ue vão em%ora amanhã cedo!odereservar seis lugares então5 # gerente ficou meio irritado "enhor ministro, nãoposso reservar nem seis nem dois lugares, nenhum A lotação est esgotadssimaparahoje # ministro falou de novo com a esposa e depois com o gerente, a j estavameio nervoso: est %em, n9s vamos outro dia, eu estava 3uerendo ir ao )anecão s9por curiosidade, não costumo sair 7 noite Mas fi3ue sa%endo, %ar 3ue não temlugar pra mim, eu fecho, ouviu %em5 Eu fechoVL Entre risos, $u%ens continua L# gerente se acalmou e ainda disse: est %em,senhor ministro, mas o )anecão não um %ar, uma casa de espetculosL No seu 3uarto, Eliana est deitada na sua cama lendo uma revista en3uantoBa%iu %rinca com L'ippZL uma %oneca 3ue anda de velocpede Fe repente Ba%iuaspiraprofundamente o ar.0L# pai t l em%ai/oV ' sentindo o cheiro do charuto5LAs duas vão 7 janela $u%ens e Yaldir prestam atenção em $ZffL"9 acredito em a%ertura a partir do dia em 3ue aca%ar a )ensura 7 imprensa, 7sartes A gente gato escaldado e tem 3ue ficar com um p atrsLL)laroL concorda $u%ens L!or3ue 3uando aca%arem os dez anos da cassação denossos direitos polticos, o governo, se continuar nessa marcha, pode criar umalei praimpedir as candidaturas dos e/cassados, pelo menos dos mais perigosos, comon9sLL#u dei/ar voc< se eleger e impugnar a posse, so% 3ual3uer prete/to, prahumilhar mais aindaL diz YaldirL( possvel mesmoL diz $u%ens LA cada hora o governo fala uma coisaLL#iL Ba%iu acena sorridente na janela$u%ens ergue a ca%eça L#i, meninasVL Yaldir e $Zff tam%m olham para cima Asduas acenam para elesL#lha 3uem t a3uiVL $u%ens aponta $Zff LA Ba%iu deu um apelido a voc


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#uvese uma risadinha de Ba%iuLMas voc< estava falando no %anheiro 3ue encontrou o FarcZ $i%eiro e o Almino em"antiagoL diz $ZffLAh sim Encontrei os dois no )hile, alis fui l pra v


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aliados de estarem infiltrados de comunistas E e/atamente num momento em 3ue oministro da Gazenda, "an 'iago Fantas, fora a Yashington para renegociar dvidase %uscar crditos junto ao Gundo Monetrio *nternacional >avia sim algunses3uerdistas no governo e comunistas a%rigados em partidos legais, mas nenhumcom vocaçãorevolucionria 6ueriam o reformismo gradual, dentro das regras democrticas e

capitalistas Mas &ango estava encurralado e sa%ia disso Ap9s cumprimentar os empresrios um por um, ele ocupou seu lugar na ca%eceirade uma grande mesa, ao lado do ministro da Gazenda, Nei Dalvão # primeiro afalarfoi Gernando Dasparian, mem%ro do )onselho Nacional de Economia e presidente do"indicato das *nd4strias de Giação e 'ecelagem do Estado de "ão !aulo Era.Tacionista majoritrio da Amrica Ga%ril, uma das maiores ind4strias t


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da bltima >ora em Belo >orizonte foi fechada, seu diretor foi preso, os 8ni%usforam re3uisitados pelo governo estadual, a gasolina foi re3uisitada, as casasdecomrcio e os %ancos estão fechadosL Aplausos dos deputados oposicionistas da ;nião Femocrtica Nacional @;FN,partido da %urguesia ur%ana e das classes mdias conservadoras Dritos

revoltados na%ancada do !artido 'ra%alhista Brasileiro @!'B, formado por e/getulistas,socialistas, nacionalistas, reformistas e comunistas, com %ase maior nosindicalismour%ano Firigia a sessão o presidente da )Pmara, deputado $anieri Mazzilli, do!artido "ocial Femocrtico @!"F, de centrodireita, representante dasoligar3uias ruraise do interior do pas Ele apertou repetidamente a campainha de advert um orador natri%una!eço a cola%oração para 3ue a presid


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.K $u%ens apaga o charuto no cinzeiro em cima da mesa LEu não era de discursar,gostava mais das articulaç=es nos %astidores Mas o Almino era um autist9ria, o 3ue fazem osrepresentantesdas elites dirigentes5 !reocupamse com os pro%lemas do povo5 Fiscutem asgrandes teses ou caem num moralismo farisaico, como fez ainda hoje 7 tarde odeputado Ant8nio)arlos Magalhães, sem nenhuma visão, sem nenhuma grandeza, sem nenhumaperspectiva do momento 3ue estamos vivendo Elites demissionrias, elitescaducas, elitessem perspectivas, sem mensagens, sem razes, sem fundamentoL Yaldir %e%e um gole de vinho LEu me lem%ro 3ue o )ongresso estava todocercado de soldados 3uando eu e FarcZ voltamos pro !alcio, depois de nosdespedirmosdo &ango na Base Area "u%imos correndo at o 3uarto andar do !alcio, sa%endo3ue podamos ser presos Estvamos recolhendo papis das gavetas 3uando chegou ogeneral Gico Eu disse a ele: LDeneral, o senhor não cumpriu a promessa 3ue fezao presidente da$ep4%licaL Ele perguntou: L6ue promessa5L # FarcZ se encrespou:LNão permitir o cerco ao )ongresso, generalV Não se pode cercar o parlamento comtropas militaresV )omo o senhor faz uma coisa dessa contra o pas, contra ademocracia5L# general disse Lestou apenas cumprindo ordensL, e nos mostrou um..telegrama assinado pelo general )osta e "ilva, j autodenominado ministro daDuerra # telegrama determinava ao E/rcito 3ue assegurasse o funcionamento dos'r


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$u%ens gira o copo para derreter o gelo no )ampari, engole outro pedaço de3ueijo e acende de novo o charuto LEu fui com o BocaZuva pra uma reunião noapartamentodele )omo e/lder do !'B, ele ainda tinha influora foi totalmente depredada, e sedes de sindicatos tam%m ( o fascismose instalando no BrasilVL ;m udenista %errou: LGoram os comunistas 3ue incendiaram a ;NEVL Em seguida o pete%ista "rgio Magalhães transmitiu um comunicado dramtico: LAtenção, colegas nossos aca%am de ser presos, o deputado Neiva Moreira, odeputado Ma/ da )osta "antos e o deputado El9i Futra, homens 3ue t


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3ue mister 3ue o chefe de Estado permaneça 7 frente do seu governo A%andonouo governo @protestos indignados, e esta comunicação faço ao )ongresso Nacional@!rotestos 'umulto Aurofaz soar a campainha Esta acefalia, esta acefaliaconfigura a necessidade de o )ongresso Nacional como poder civil imediatamentetomara atitude 3ue lhe ca%e nos termos da )onstituição %rasileira @palmas misturadas

a gritos, para o fim de restaurar nesta ptria contur%ada a autoridade dogovernoe a e/ist


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tan3ues de guerra parados na Esplanada dos Ministrios Em frente a um prdio naAsa "ul ele estacionou e su%iu para o apartamento de um amigo 3ue tinha dadoref4gio7 sua famlia Encontrou olanda deitada, mas acordada não conseguira dormirLou pra !orto Alegre, com o FarcZ amos ajudar na resist


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L( mais 3ue provvelL disse Gernando "ant_Anna, e lem%rou uma das decis=estomadas na 4ltima reunião com &ango na Dranja do 'orto: LMas por en3uanto, 3uemtem mandatoparlamentar tem imunidade, teoricamente, e deve ficar em Braslia, tentandoresistirLL# FarcZ e o Yaldir não t


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a MonteviduL, e saiu com $u%ens #s dois entraram num fusca dirigido por Cuiz Gilardi, e/secretrio de AlminoAffonso no Ministrio do 'ra%alho Fepois de apanhar FarcZ numa casa no Cago"ul,o carro entrou solavancando na estradinha de terra e mal iluminada por poucospostes de luz Ainda não tinha amanhecido Cuiz estacionou no trecho marcado com

oar%usto, desligou o motor e os far9is e permaneceu no carro, en3uanto os tr


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Na torre de controle, o operador suspeitou: por 3ue a3uele aviãozinhonecessitava de tanta pista para decolar5 >avia parado5 Estava com pro%lematcnico5 !elordio, ordenou ao piloto 3ue retornasse # piloto tinha sido instrudo a seguirpara uma fazenda no MatoO.

Drosso, perto da fronteira com a Bolvia Não sa%ia 3ue a fazenda era do e/presidente &oão Doulart, desconhecia tam%m os dois passageiros 3ue transportavae omotivo da viagem & no ar, começou uma mano%ra de retorno, mas FarcZ o agarroupelo %raço: LNão volteV amosV amos em%oraVVL # avião su%iu $u%ens ficou agachado atrs da moita, o%servando, at o aviãose tornar um ponto no cu Na fazenda, um outro avião iria rea%astecer o monomotor e de l Yaldir eFarcZ seriam levados para o ;ruguai Eles apertaram os cintos e suspiraramprofundamente)omeçava a maior aventura de suas vidas )om o charuto na %oca, $u%ens despeja gua t8nica no )ampari LEu aindaachava 3ue não seria preciso me e/ilar Afinal de contas, eu não era da c4pulado governo,não era uma liderança nacional, tinha pouco mais de um ano de mandato E ningumhavia sido cassado ainda Mas como a gente era da linha de frente do governo,sempreem contato direto com o &ango nos almoços no Alvorada, o Almino e o BocaZuvaacharam melhor se esconder uns dias, at a poeira %ai/ar Gomos os tr


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LNão h a menor d4vida, rasgouse a )onstituição de nosso pas )omeçaram asar%itrariedades Não %astou a esse )omando 3ue se diz revolucionrio, 3ue alegaestardefendendo a legalidade, 3ue prendesse deputados, governadores, lderessindicais Agora os chefes militares anunciam a cassação de mandatos dedeputados e senadores

E todos n9s sempre fomos a favor de 3ue se fortalecessem as Gorças Armadas%rasileiras 'odos n9s a3ui sempre votamos os orçamentos militares, por3uetnhamos imprimidonos nossos coraç=es, com o orgulho de patriotas e de %rasileiros, 3ue as GorçasArmadas eram dignas doesforço 3ue todo o povo %rasileiro fazia para mant


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um novo comunicado, com a lista completa dos cem primeiros cassados, incluindoos deputados anunciados na vspera e o acrscimo de mais 3uatro, $u%ens entreeles BocaZuva telefonou a todos os cassados para uma reunião no seu apartamento, afim de decidirem o 3ue fazer # deputado pete%ista "an 'iago Fantas tam%mcompareceu,

sendo rece%ido com a reveromem de isão 1-KTLApesar dessecurrculo, ele tam%m temia ser degolado Mal cumprimentou BocaZuva, foi logoindagando: LEu tam%m estou na lista5L LNão, professorL respondeu Almino L!ode ficar sossegado, o senhor não estna lista !elo menos nessa primeira Mas cuidado, a )ampanha da Mulher pelaFemocracia3uer a sua ca%eça ;m grupo dessas senhoras procurou o general "Zseno "armento,o novo chefe de ga%inete do )osta e "ilva, e pediu a sua cassação )onsideram osenhorum serviçal de Moscou, por3ue promoveu nossas relaç=es diplomticas com a$4ssiaL "an 'iago sorriu e p8s a mão no om%ro de Almino, paternalmente LNão se dei/eprender ;m homem p4%lico 3ue se preza não deve se dei/ar prender ( humilhante, negativo pro e/lio Esse regime a vai durar no m/imo uns dois anos #smilitares não sa%em governar, não entendem de poltica, s9 entendem de guerraL L( disso 3ue eu tenho medo, professorL disse BocaZuva LEu vou a "ão !aulo, com uma missãoL continuou "an 'iago LEles decidiram 3ueo novo presidente da $ep4%lica vai ser eleito-1pelo )ongresso, não 5 !ois eu vou convidar o general [ruel a se candidatarLAlmino ficou surpreso L# [ruel nos traiu, professor, ele aderiu aos golpistaslogo no primeiro diaLL( verdade, mas com ele n9s ainda temos condiç=es de dilogo Nele eu confioNão um gorilaLNa3uela mesma noite, Almino e BocaZuva correram para a em%ai/ada da *ugoslvia,onde j estavam outros refugiados $u%ens não 3ueria irABa%iu %rinca de pulapula em cima da cama, 3uase dei/ando cair seus 9culosEliana dança um roc 3ue toca no rdioLirou festa l em cimaL $u%ens ergue a ca%eça para a janela Yaldir esvaziaseu clice e se levanta L!reciso ir Não por causa da m4sica nãoLLGica pro almoçoLLAgradeço, mas com%inei com a olanda 3ue almoçaria em casa hoje "e eu não for,levo uma %roncaL desculpase Yaldir $u%ens o leva para dentro da casa a fim dedespedirse de Eunice, 3ue aca%a de chegar do mercado com Maria do )u trazendoduas sacolas cheias de mercadorias: LA gente estava numa sessão nostalgia)onversade saudosista "ão as mesmas hist9rias, 3ue a gente nunca es3uece de lem%rarL$u%ens o a%raça LEntão o almoço fica pro fim de semana "%adoLL)om%inadoLL'raga a olanda e as criançasL pede EuniceLamos comer um pato no tucupi, t certo5 )hega mais cedo pra gente ir 7 praiaNão gosto de ficar no sol muito 3uente, senão viro um camarãoL$u%ens leva Yaldir at o portão lateral da casa e diz: L"a%e 3uem est nacidade5 # !io )orreia, a3uele em%ai/ador fascista 3ue não-2dei/ou o Almino e outros e/ilados ficarem no ;ruguai ai almoçar hoje comempresrios no )ountrZLL6ue tenha uma %oa indigestãoL Yaldir sorri e os dois apertam as mãosNo 3uarto, Ba%iu amarra um lenço de seda na ca%eça e continua dançando com

Eliana, alegres e %rincalhonas A porta se a%re e aparece a ca%eça de $u%ensLGestinha %oa, hein5L


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Lem dançar, paiL diz Eliana$u%ens entra no 3uarto LEu s9 danço %olero, valsaL Ele me/e o corpodesajeitadamente, tentando acompanhar a dança solta das meninas LE o Marcelo,não acordouainda5LL6ue nadaL diz Eliana L"9 vai acordar uma hora da tarde Ainda mais 3ue

feriadoLLEsse mole3ue t muito folgado )hega & dancei demaisL;ma eraneio azulclaro estaciona na frente do #pala e dela sai um homem %ai/o,gordo e suado Fentro permanecem o motorista e um terceiro agenteL!orra, Fum%o, 3ue demora foi essa5L reclama A%elhaL# trPnsito no )entro estava meio engarrafado, por causa de uma procissãoLL& saram dois caras da casa !odamos ter pegado eles tam%m Mas eu precisavado reforço pra invadir ( prefervel não atacar do 3ue entrar numa fria e ter%ai/asLLCamento, não foi culpa minha Bota a culpa no "ão "e%astiãoLL#, j perdemos muito tempo, vamos entrar Metraca na mão, se preparem pra umpossvel confronto Não sa%emos 3uantas pessoas estão l dentro, podem, devemterarmas, fuzil, metralhadora, granada-Te o escam%au 6ual3uer movimento suspeito, a ordem passar fogo e falar 3ue foitroca de tirosL A%elha tira os 9culos escuros, guarda no %olso da camisa, apanha umasu%metralhadora no %anco de trs e desce do #pala com )hacal e Ceão, armados depistolas#s tr


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Fum%o e Besouro se apro/imam com pistolas apontadas, $u%ens ergue um %raçopara tentar impedir a entrada deles, mas os dois empurram a porta e invadem oescrit9rio#s outros se posicionam nos cantos da sala e no p da escada, armas em punho,olhando para todos os lados e para o alto da escada Ceão fica junto 7 porta dasala

"ozinha em seu 3uarto, Ba%iu est pulando corda 3uando escuta o zumzum lem%ai/o *nterrompe a %rincadeira por alguns segundos, mas não pensa em nada"eu pairece%e amigos 3uase diariamente, como os dois 3ue estiveram conversando durantea manhã "ua ca%ecinha de 10 anos ainda est impregnada de recordaç=es dasdivertidasaventuras nas frias 3ue passou na fazenda do av8, os pulos na piscina com osprimos e primas, as %rincadeiras com as galinhas e os cachorros, os passeios acavaloe no jipe do av8 pelas plantaç=es de %ananananica e tangerina, v9 )eci tocandoa sineta pra avisar 3ue o almoço estava pronto e todos correndo para devorar acomidagostosa Ela apanha L'ippZL e vai ao 3uarto de Nalu e era Eliana est deitadasozinha na cama lendo uma revista LAmanhã vou chamar minhas amigas pra vir a3ui Ainda falta 3uase um m


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No escrit9rio, )hacal e Ceão reme/em na estante, as gavetas da escrivaninha,retiram livros, uma agenda telef9nica, papis tim%rados-Kda empresa, cart=es de visita oltam para a sala e mostram a A%elha os livrosde capa vermelha apreendidos: # senhor em%ai/ador, de Erico erissimo, ;mretrato

do artista 3uando jovem, de &ames &oZce, uma edição antiga de "aneamento ur%anoe rural, de E Y "teel\ apreendem tam%m # ano vermelho, de Moniz Bandeira, #vermelhoe o negro, de "tendhal, e )hapeuzinho ermelho, de )harles !errault, comilustraç=es de Dustave For L#, %ota tudo num saco pra gente levarL pede A%elha Aos poucos $u%ens se recomp=e e encara A%elha LE a intimação para odepoimento5L LNão tem nada escritoVL e/clama A%elha, e em seguida suaviza o tom L#depoimento s9 uma formalidade ai ser rpido Não se preocupeL LEu não estou preocupado oc


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LBem Ela veio comigo, est na sala amos 7 praia im s9 pegar um %i3unieL Nalu sorriLE5L $u%ens olha para ela L& sei: dinheiroLLNão Me empresta uma camisa sua5 !ra usar como sada de praia Est se usandomuitoLLEst %em não camisa novaL Ela e/amina o guardaroupa e escolhe uma camisa

estampada# "e%astião trou/e a gente de carro Ele disse 3ue na volta da praia vem a3uifalar com o senhorL-O$u%ens disfarça o em%araço L( melhor assim Não posso falar com ele agora,estou de sadaL"eu amigo "e%astião NerZ, jornalista, e/deputado estadual, cassado, e padrastode )ristina, tam%m visado pelos 9rgãos de segurança e se entrar na casa podeserlevado junto$u%ens apanha na gaveta do criadomudo sua carteira com documentos e dinheiro,dois charutos 3ue ele coloca no %olsinho superior do palet9, respira fundo edescepara a sala com os dois agentes Eunice continua sentada na poltrona, agora comBa%iu no colo e Eliana no sof mordiscando o l%io inferiorL#i, )ristinaL $u%ens d um %eijinho no rosto dela L& usou o presente deaniversrio 3ue eu te dei5LL& A saia linda # senhor tem %om gosto #%rigada mais uma vezLL# senhor vai tra%alhar5L pergunta Ba%iuLNão ou s9 resolver uns neg9cios olto logo Gica a %em comportadinha comsua mãe e a Eliana, est %em5L E se vira para o capitão A%elha: LEu gostaria deirno meu carroLA%elha concorda L!ode ir ( mais confortvel, n doutor5LEm vez de ir no seu carro, $u%ens pede a Eunice a chave do carro dela Fepois deapanhar a chave so%re o aparador, ele acena dando tiauzinho a todos, Ba%iu correat ele, cinge seu pescoço com as mãos e d um %eijo na testa"em e/plicação, A%elha comunica a $u%ens 3ue 3uatro homens permanecerão na casa,chefiados por Fum%oLNão assustem as criançasL pede $u%ens, e sai com A%elha e )hacal pela porta dafrente, 3ue d para o estacionamento desco%erto onde ficam os dois carros dafamlia)hacal leva um saco de estopa com o material apreendido na casa$u%ens a%re o portão, entra no #pel [adett gren, conversvel, com capota devinil preto, e assume o volante ao lado de A%elha, 3ue colocou os 9culosescuros )hacalsentase no %anco de trsL!ra onde a gente vai5L pergunta $u%ens-- L!ode seguir por *panema at )opaca%ana Fepois eu e/plicoL diz A%elha $u%ens acelera e vira 7 es3uerda na avenida Felfim Moreira, do%rando aes3uina, seguido pelas duas [om%is Maria do )u fecha o portão, ao lado de umagenteNum dos 3uartos l em cima, Marcelo dorme o sono dos inocentesNa movimentada rua isconde de !iraj, $u%ens pergunta de novo a A%elha L!raonde a gente vai e/atamente5LL!ode seguir direto pra )opaca%ana at o Ceme e pegar o '4nel NovoLL6ual o nome do lugar onde eu vou prestar depoimento5 E 3ual o assunto5LA%elha vira o rosto para fora da janela LNão sa%emos de nada Nossa missão apenas te levarLL# 3ue 3ue voc


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A%elha se cala $u%ens ultrapassa carros, muitos com adesivos nos vidrostraseiros, Brasil: ameo ou dei/eo, em letras verdes e amarelas Ele pensa notelefonemada mulher 3ue disse ter trazido cartas do )hile 6uem seria5 # 3ue sa%em a meurespeito5 "e for a ajuda 3ue dei a algumas pessoas, não podem provar nada;m congestionamento interrompe o trfego na avenida N " de )opaca%ana

Autom9veis e 8ni%us enfileirados $u%ens afrou/a o n9 da gravata, tenta rela/arolhandopara a calçada onde passeiam jovens ca%eludos e %ar%udos de macacão jeans, )ruzde Nero no pescoço, garotas de minissaias ou saias compridas at os ps, um%igos7 mostra Numa parede um cartaz em letras pretas anuncia Fei/a "angrar Dal)osta e "om *maginrio 'eatro #pinião A fila de veculos vai aumentando Eletam%orilaos dedos no volante100 LNão estou entendendo, engarrafamento em pleno feriado # comrcio todo estfechado e 3ue eu sai%a não tem procissão por a3uiL A%elha e )hacal continuam 3uietos ;m mendigo se apro/ima da janela de$u%ens, estende a palma da mão encardida $u%ens tira da carteira uma nota dedez cruzeirose d para ele # mendigo arreganha seus dentes podres: L6ue "ão "e%astião o ajude, patrãoL Fois 3uarteir=es adiante, a causa do engarrafamento: soldados do E/rcito comcapacetes na ca%eça e fuzis pendurados nos om%ros, policiais civis e agentes dos9rgãos de segurança %lo3ueiam a avenida Estão pedindo documentos aosmotoristas, revistando carros com cães farejadores, entrando nos 8ni%us em %uscade suspeitos %asta um passageiro ser jovem com apar


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a atrs dando co%ertura, e eles podem te dar uns tiros e ainda prender a suafamlia todaL$u%ens olha enviesado para A%elha, sai do carro, v< as duas [om%is paradasatrs, a poucos metros de distPncia, e sentase no %anco de trs;m 3uarteirão depois, )hacal lhe pede: LBai/a a ca%eçaLL!ra 3u


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LAh, vem gente de tudo 3uanto tipo e idade &ovem, velho, criança, amigos enamorados das meninas, e gente assim 3ue nem voc


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LEstamos te ouvindo muito %emLLNão estou podendo respirar direito Me disseram 3ue eu vinha prestar umdepoimento de rotinaL&acar troca sorrisos sard9nicos com seus colegas LE um depoimento de rotina"9 3ueremos umas informaç=es e te li%eramos em seguidaL;rso retira a gravata de $u%ens L# homem %acana, a, gravatinha de sedaL

Loc< tem filhos, $u%ens5L pergunta &acar, num tom falsamente amistosoL'enho, cincoLL)inco5 !u/aV Gamlia grande, hein5L )oiote e/amina a carteira de motorista e odocumento do carroLoc< tra%alha em 3u


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Em março de 1-W2, 3uando nos reunimos no audit9rio da ;niversidade Macenziepara o * )ongresso da ;nião Estadual dos Estudantes, a gente estava confiantenasmedidas nacionalistas do governo Det4lio Eu não gostava muito dele, tinha sidoum ditador no Estado Novo Mas no segundo mandato ele melhorou, enviou 7 )Pmarados

Feputados um projeto de lei pra criar a !etro%rs #utro projeto importantenessa linha criava a Eletro%rs e tam%m tramitava na )Pmara 3uando realizamos ocongresso!or isso eu estava vi%rando 3uando discursei para a estudantada LNossa prioridade nestes dias hist9ricos de mudança tem 3ue ser areorganização da ;EE !recisamos aca%ar com a crise interna, com as divis=es, erecon3uistaros colegas dos centros acad


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# pessoal 3ue a gente chamava de entreguista, em%ora minoria entre ospolticos, tinha o apoio dos grandes empresrios e da imprensa Eles 3ueriam aparticipaçãototal das multinacionais na e/ploração das ri3uezas estratgicas do pas E n9snacionalistas defendamos o Estado como propulsor do desenvolvimento "e oBrasil

não criasse uma empresa estatal para o petr9leo, essa ri3ueza iria cair nas mãosdos testas de ferro das grandes corporaç=es estrangeiras 'nhamos muitosaliados,uma influente parcela de oficiais do )lu%e Militar )omcios se sucediam nasprincipais cidades, com discursos dos generais >orta Bar%osa, Estilac Ceal eCe8nidas)ardoso, e os estudantes plantavam torres sim%9licas de petr9leo A vit9ria de Dasparian pra presidir a ;EE tam%m aumentou a minha liderança,ramos do mesmo grupo Mas eu não podia assumir muitos compromissos na polticaestudantilMeu projeto mais importante então era pessoal: estava de casamento marcado,mesmo ainda faltando dois anos pra me formar & durava cinco anos o meu namorocom EuniceGacciolla, estudante de Cetras Neolatinas tam%m na Macenzie Era a primogigien9polis, %airro com mans=es e palacetes art noveau,ruas largase ar%orizadas #s %ar=es do caf e seus filhos tinham os 4ltimos modelos decarros importados, passeavam ao lado de madames com chapus, luvas ecachorrinhos depedigree, sem faltar o guardachuva pra proteger da garoa Eram paulistanos3uatrocent=es do caf societZ e se consideravam aristocratas de sangue,esno%avam osnovosricos, especialmente imigrantes como os carcamanos sem estirpe Eunice foidiscriminada 3uando começou a estudar no colgio110"ion, 3ue ficava perto de sua casa Mas conseguiu se impor, era uma das melhoresalunas, fluente em latim, um predicado admirvel na dcada de 1-R0 Fepois do casamento ficamos no mesmo apartamento em 3ue eu morava, no centrode "ão !aulo, e continuamos a nossa vida amos juntos para a faculdade demanhã,de vez em 3uando eu tinha aulas de tarde e de noite Nossa felicidade aumentoucom o nascimento de era, em setem%ro de 1-WT, e então mudamos para um so%radonoCargo de !inheiros No ano seguinte, 3uando eu estava cursando o 4ltimo ano na faculdade, fuieleito presidente do )entro Acadorcio Cane, e uma das minhas primeirasiniciativasfoi reativar a Golha Macenzista Nessa poca fiz um curso de piloto, sempregostei de avião, estreei voando num monomotor da universidade Goi um ano de grandes emoç=es nacionais Em "ão !aulo comemoramos, no começode julho, o R" )entenrio da cidade, com tr


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nos clu%es, carnaval nas principais avenidas, festival internacional de cinemano )ine Marrocos com a presença dos maiores artistas de >ollZUood, desfiles decarrosantigos, inauguração do Monumento 7s Bandeiras no !ar3ue do *%irapuera Na4ltima noite teve uma ines3uecvel chuva de estrelas, a multidão se deslum%rouno iaduto

do )h com os triPngulos de papel prateado atirados de avi=es da GAB eiluminados por gigantescos holofotes Gogos de artifcios encerraram a festacolorindo o cu !ouco mais de um m


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LE a3ui no $io5LLNão sei do 3ue voconra e gl9ria vos renderemos em todos os dias de nossas vidasAmmL )om um lenço corderosa, Elizete limpa uma lgrima, cuidadosamente, para nãotocar no rmel11O "em capuz, $u%ens olha em volta ;m cu%culo 3uadrado !aredes pretas ;maporta de ferro com janelinha gradeada Fo sanitrio turco emana um cheiro ardido

de


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urina e fezes Nem tapando o nariz ele consegue evitar a nusea "entase nocolchão de palha estirado num canto, sem lençol nem travesseiro !ernasesticadas, costasna parede, intrigado # 3ue 3uerem5 # 3ue sa%em dele5 "er por3ue ajudouperseguidos polticos5 Menos por piedade ou ideologia 3ue por solidariedadehumana, generosidade,

e/ig


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aduaneiros instalada na rua ] de Novem%ro )entenas de sacas de caf chegavamde trem aos armazns das docas de "antos e eram em%arcadas por estivadoressuadospara dentro de navios com destino aos mercados norteamericano e europeu &aZmeganhou muito dinheiro fazendo despachos de e/portação, importação, ca%otagem,intermediando

serviços de transporte e armazenamento At alugava projetores de filmes,importados dos Estados ;nidos Em 1-T1 comprou no ale do $i%eira uma chcara demil al3ueires3ue foi transformada na Gazenda )arait120 LNão demora e tu vai 3uerer socializar nossas empresas e tomar a fazenda pradar aos pe=esL $u%ens riu L!ode ficar tran3uilo, pai Afinal de contas, como diz a mamãe, a!aiva )ompanhia a va3uinha onde toda a famlia vem mamando a vida inteiraamosdei/lo com seu latif4ndio e suas empresas Não s9 as suas, de todos # !"B uma es3uerda democrtica, não 3uer nacionalizar nada Nosso lema socialismocomli%erdade ( um partido pe3ueno, mas tem muita dignidade e coer


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democracia li%eral Não demorou muito para o grupo de $u%ens perce%er 3ue, apesar de pe3ueno, o!"B tinha muitas divis=es internas: havia uma facção 7 es3uerda, minoritria masinfluente,liderada por Ge%us Diovate, G4lvio A%ramo, !lnio Domes de Melo e Cvio ]avier,todos e/trotsistas, alm de !aul "inger e Eveline !ape\ uma facção radical

com laivos stalinistas\ outra eleitoralista, liderada pelo deputado estadual$og< Gerreira Mas uma facção 7 direita era dominante, ligada a &Pnio 6uadros,eleitoprefeito de "ão !aulo e governador com apoio do partido Apesar das diverg


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*gnorando os apelos, o soldado vira as costas e continua sua ronda nocorredor LEstou com sede e fome, p9V 6uero telefonarVL #s passos se distanciam e o corredor fica silencioso novamente $u%ens voltaa sentarse no colchão Minutos depois, um outro militar discursa l em%ai/o,mas

$u%ens não distingue suas palavras )oloca os %raços so%re os joelhos Estão3uerendo me dar um susto, s9 pode ser, não t


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um aut


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$etirado o capuz, ele sente no rosto o ar gelado de uma sala em penum%ra euma lPmpada ofuscante so%re sua ca%eça &anelas fechadas "9 se ouve o zum%idodo arcondicionado;ma voz rspida ordena: L"enta aL $u%ens %ai/a os olhos para acostumarse 7 luminosidade e consegue perce%er,

num vislum%re o%l3uo, tr


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L6uem são seus amigos do )hile5LL6uais livros voc< l


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)onduzida para a sala de onde vieram os gritos, ela v< sentado atrs de uma mesaum homem corpulento, de %igode e sem camisa, rosto suado com marcas dee3uimoses,olhos vermelhos Marlia sente compai/ão e temorL)onhece ele5L pergunta &acarEla %alança a ca%eça negativamente

L$esponde com a %ocaVLLNão conheçoL)amelo se dirige a $u%ens L)onhece ela5LLNão Nunca vi essa moça antesL "ua voz est entrecortada e roufenhaL)omo não conhece5L e/orta &acar LEssa a Marlia, estudante de "ociologia,sua companheira de su%versão Goi ela 3ue telefonou pra sua casa dizendo 3uetinhacartas pra voc


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L"9 Feus sa%e #u "ão "e%astião Est tendo uma cerim8nia l, talvez depoisdisso eu saiaLLAcho 3ue eu vou com a procissão at a Dl9ria, ver a encenação do martrio dosantoLAp9s um %eijinho na %o)a, ele entra no seu AeroYillZs, parte em alta velocidadee do%ra ;ma es3uina Elizete segue em direção ao Cargo da )arioca, entra num

%ar,compra uma ficha telef8nica no cai/a, d uma olhadinha furtiva para a rua edisca um n4mero no aparelho preto fi/o na paredeEmpertigado, %raços para tras, pisando devagar com os sapatos envernizados, o%rigadeiro Brenner entra na sala acompanhado de um soldado armado de fuzil e 3ueflca junto 7 portaLAhV o deputadozinhoL o %rigadeiro sorri ao se apro/imar de $u%ens, sentadona cadeira,algemado, dorso inclinado e os cotovelos apoiados nas pernas No instanteseguinte o %rigadeiro retifica, dedo em riste: LE/deputado, Ginalmente tenho asatisfação deconhec


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# povo %rasileiro pacfico, cordial, e o governo tra%alha para o povo Mas ossu%versivos como voc< ficam 3uerendo atrapalharL $u%ens tenta ser cauteloso: L# senhor inteligente e sa%e 3ue o golpe deKR não veio e/atamente pra defender as causas do povoL # %rigadeiro 3uase encosta a %oca no rosto de $u%ens e grita pausadamenteLNão foi golpeVL Ele d uma volta em torno da cadeira, nervoso LGoi o

cumprimentoda vontade popularV oc


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L# Brasil era um regime democrtico funcionando normalmente E faltava poucomais de um ano pro &ango terminar o mandato !or 3ue não esperaram5 A voc


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L6uem incendiou o prdio da ;NE no dia do golpe não foi gente de es3uerdaL # %rigadeiro guarda o %loco e a caneta no %olso, levantase, estufa o peito,%raços para trs LEu mandei incendiar a ;NE, e tenho1TOmuito orgulho disso Estava passando na praia do Glamengo num com%oio de carros,tan3ues e jipes, estava indo ocupar o Ministrio da Aeronutica, no centro da

cidade6uando vi uns estudantes na frente do prdio da ;NE, parei meu carro, chamei umoficial e mandei ele ir com um grupo tocar fogo na3uela meleca Eles foram etocaramfogo, 3ue%raram janelas, cadeiras, tudo Goi um %elo espetculo Fepoiscontinuamos nosso caminhoL # %rigadeiro %e%e mais dois goles de gua olhando para $u%ens L& posso %e%er tam%m5L LFepoisL # %rigadeiro coloca o copo vazio so%re a mesa Lamos ao 3ueinteressa )omo voc< sa%e, os terroristas 3ue se3uestraram o em%ai/ador suçosão da !$,a turma do Camarca !ediram a li%ertação de setenta presos, 3ue foram para o)hile, h poucos dias, %anidos # )hile virou o paraso dos comunas %rasileirosMasnão demora e o Allende tam%m vai cair, pode estar certo disso Fuas mulherestrou/eram do )hile algumas cartas com seu nome N9s 3ueremos sa%er duas coisasapenasFe 3uem são essas cartas e o nome do contato de Camarca no $ioL # %rigadeiroo%serva a reação de $u%ens L"9 tinha uma carta pra mim Fe uma moça 3ue eu mal conheço As outras nãosei pra 3uem sãoL L;ma era pra voc< entregar ao Adriano, e nesse envelope havia um documentopoltico de terroristas ( ele o seu contato5 ( ele o contato entre voc< e oCamarca5L $u%ens %ai/a o olhar LNão conheço nenhum Adriano Fevem ter enviado pra mimpor engano oc


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L)laro Fecida o 3ue for melhor para o Brasil )omo chefe de interrogat9rio,pode fazer o 3ue 3uiser, %ota pra 3ue%rarL# %rigadeiro entra numa sala ane/a para assistir ao interrogat9rio atravs de umvidro falsoDavião fecha a cortina de renda %ranca na janela da sala L!ena 3ue da3ui não dpra ver o mar # muro atrapalhaL Besouro est diante de um 3uadro de Bonadei na

parede, com a mão no 3uei/o LAt eu seria capaz de pintar issoL L*sso artemoderna, seu ingnoranteL ironiza Davião L!ra mim não arte coisa nenhuma ( ummontede risco e %orrão Meu filho de 11 anos desenha melhor do 3ue issoL1R0L'u tem filho, 5 Eu não sa%iaLL'enho Espertinho pra caram%a !u/ou o paiLMarcelo desce a escada apressado e segue para a cozinha ( um garoto de 12 anos,ca%elo na testa, traços fision8micos de $u%ens >a%ituouse a acordar mais tardetodos os dias, por3ue estuda 7 tarde Ele a%re a geladeira a fim de preparar seudesjejum Antes 3ue ele v para a sala de jantar, Eunice o leva ao 3uintal e,paranão dei/lo assustado, fala 3ue esses homens são amigos esperando $u%ens chegarde um compromisso na rua'erminado o caf, Marcelo mostra aos policiais seu l%um completo de figurinhasdos jogadores da seleção tricampeã na )opa do Mundo no M/icoL# asco joga hojeL Fum%o %oceja lendo uma revista na poltronaMarcelo %ate a mão no peito LEu sou GlamengoLLA garoto, esse dos nossosL Ceão d um tapinha nas costas deleMarcelo sorri, envaidecido L'enho at a camisaLL!8, então veste, o Mengo vai jogar na preliminarL incentiva CeãoMarcelo não se anima LFepois Eu tenho um time tam%mLL"rio5 )omo 3ue chama5L pergunta BesouroLas3uinhoLCeão faz um mu/o/o de reprovação L*h, 3ual 5 'u Mengo e o time chamaas3uinho5 6ue neg9cio esse5LLAh, meus colegas 3ue deram o nome A gente joga a na rua 'em campeonato etudoLFum%o para de folhear a revista L6ue horas vai ser o jogo5LL^s cinco Eu vou torcer pelo AmricaL responde Davião, 3uerendo fazer graçaNo meio da tarde, a campainha toca "ão dois adolescentes: $enato, namorado deera, e $onaldo, amigo de Eliana #s 3uatro policiais sacam as pistolas e ficam7espera Maria &os a%re a porta, os dois jovens entram dizendo 3ue vieramconvidar Eliana para uma festa "ão agarrados pelos %raços1R1LMais dois su%versivos na gaiolaL proclama Besouro e faz um telefonema para o)*"A, pedindo uma eraneio e sanduches com refrigerantes Meia hora depois aeraneioestaciona em frente 7 casa, seus dois ocupantes entregam os lanches e levam osadolescentes para uma delegacia no Alto da Boa istaFepois 3ue eles saem, os homens começam a comer, sentados no sof da salaEunice vem da cozinha e fala com Fum%o Loc


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Eunice desce a escada, com a mão direita fechada, segue para a cozinha, apanhauma cai/a de f9sforos e enfia dentro um pedacinho de papel do%rado Aproveitandoumadistração dos homens, ela chama Marcelo com a mão Ele vai 7 cozinha e Eunicelhe passa sorrateiramente a cai/a de f9sforos, pedindo 3ue ele pule o muro eentregue

7 vizinha do lado "em poder sair da casa pela porta lateral, muito menos pelaporta da frente, Marcelo se esgueira para o fundo da casa, pula o muro para o3uintalda vizinha e toca a campainha A dona da casa, >elena Arro/eias, a%re a porta,estranhando a presença dele ali no fundo da casaLMinha mãe mandou entregarLEla apanha a cai/a de f9sforo, sem entenderL'em um papel a dentroL1R2>elena desdo%ra o %ilhete e l


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Fei/ando as pastas so%re a escrivaninha, 'igre sentase em sua poltrona e retirada primeira gaveta um rdio porttil Ele sempre faz isso antes de iniciar seutra%alhoCiga o aparelho, sintonizado na rdio ME) A voz de um tenor cantando FonDiovanni invade a sala # coronel acende um cigarro, d uma tragada e rela/a napoltrona,

com a ca%eça virada para cima, fecha os olhos, deleitandose com a m4sicaA%elha pu/a uma cadeira, sentase perto dele e a%ai/a a vozL)oronel, sei 3ue o senhor um dos melhores oficiais da Aeronutica, o chefeda e3uipe de interrogat9rio, conhece %em as tcnicas !or isso eu 3uero umesclarecimento:eu sou%e 3ue num am%iente de interrogat9rio não pode haver nenhum aparelho desom ou imagem nas paredes 3ue distraiam o interrogadoL'igre a%re os olhos com frieza LEm primeiro lugar, nunca me interrompa 3uandoeu estiver meditando Est entendido5LL"im, senhor FesculpeLL6uem te falou isso de som e imagem na sala do interrogat9rio5L1RR A%elha tira do %olso da calça um livreto LEste manual da )*AL LAh, voc< est lendo isso5L 'igre aparenta indiferença L)omecei hoje Ci alguns captulosL LEu estudei esse manual de ca%o a ra%o na Escola das Amricas Aprenditcnicas de interrogat9rio, mtodos de vigilPncia e a%ordagem de esconderijo,criptologiae produção de informaç=es Estou careca de sa%er o 3ue o manual recomenda, e umadas coisas eliminar o estmulo sensorial do interrogado, pra dei/ar ele maisdesamparadoMas são orientaç=es gerais, entende5 Não precisam ser seguidas ao p da letraFepende muito da situação )ada pas adapta de acordo com seu gosto enecessidadeAlis, pra mim, esse manual est ultrapassado em muitas coisas Goi escrito hsete anos !or e/emplo, diz 3ue a ameaça de dor num interrogat9rio pode ser maiseficazdo 3ue a dor em si Eu aplico a ameaça e a dorL A%elha sorri 'igre continua,circunspecto L"9 lamento não termos a3ui todos os instrumentos 3ue a gente usalna Base pra fazer um preso falar depressa Apesar de minhas ressalvas, essemanual tem seu valor !elo menos at sair a segunda edição, atualizada, eampliada, 3uemsa%e !ra 3uem t começando a3ui, como voc


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$u%ens desa%otoa a camisa, devagar L!ensei 3ue meu depoimento j tivesseterminado e eu seria li%eradoL 'igre coloca a arma so%re a escrivaninha LNemcomeçamosaindaL, e sentase na sua poltrona olhando para os colegas Morcego d um safanão em $u%ens, Landa logoVL, e pu/a sua camisa pelas mangascompridas, arrancando dois %ot=es # coronel a%re um dos envelopes e rel< a

carta,em seguida folheia um relat9rio LA3ui tem tudo so%re a sua vida pregressa "a%emos 3ue seu codinome AlemãoL 'emos registro de todos os seus movimentos desde 3uando era deputado!or issonão venha com em%romação 6uanto mais rpido falar, melhor ser pra voc< e suafamlia 6ueremos o AdrianoL $u%ens despe a calça LMe chamam de LAlemãoL desde a poca de estudante ( umapelido 3ue amigos me deram na faculdade Não tem nada a ver com codinome nosentidopoltico E eu não conheço Adriano, não tenho o telefone dele A moça 3ue trou/eessa carta com meu nome cometeu um enganoL 'igre liga o gravador na mesa, a%re a carta de )armina e l< um trecho em vozalta: L"a%e se o Adriano tem novidade so%re a3uele meu caso5L LE então, vai continuar negando5 6uem o Adriano5 ( do M$O ou da !$5Lpergunta o coronel LEla se confundiu Alis, eu mal conheço essa )armina Eu a vi uma, duasvezes, no m/imoL1RKA%elha se apro/ima com disposição LAs duas mulheres 3ue trou/eram as cartasfalaram 3ue voc< da luta armada e faz parte da !$ #nde est o Camarca5L'irando as meias, $u%ens responde: LNão sei do 3ue voc


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LEscuta, voc< j mostrou 3ue corajoso Eu pessoalmente admiro a sua valentiaMas sei 3ue voc< deve estar arrependido por ter se envolvido com a su%versão!rejudicouseu tra%alho, sua famlia Agora pode confessar tudo 3ue n9s te soltamos hojemesmo, voc< volta pra casa e n9s vamos continuar te achando valente A decisão sua

amos, diga, onde est o Camarca ou algum contato deleL$u%ens encolhe os om%ros L"into muito, não tenho a mnima ideiaLLoc< vai sentir muito realmenteL # coronel apanha a Yalther so%re a mesa,$u%ens fica ru%orizado, fecha as duas mãos e ouve apenas um cli3ue do gatilho'igrefica histricoLoc< da rede de apoio da luta armada, seu comunistaV oc< e seus amigosterroristas 3uerem tirar a li%erdade deste pasV Não vamos dei/arV Não vamosdei/arVLLoc


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L!ra j, comandante5 Eu estou s9 começandoLLManda agoraL'igre desliga, pu/a A%elha pelo %raço at a sala ao lado, onde estão "elene eMarliaLamos mandar os tr


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LNão # $u%ens viajouL "ua voz sai fria, como 3uem fala a um desconhecido e3uer desligar logo Liajou5 Não entendi Eu estive com ele hoje cedo e ele não me falou nadaiajou pra onde5L LNão seiL BocaZuva empalidece, faz uma pausa LAh, t, entendi Gica pra outro dia, e

desliga !ensa um pouco e telefona para o amigo Cino Machado Gilho, advogadocriminalistae e/periente defensor de presos polticos Em seguida BocaZuva telefona para$aul $Zff, 3ue telefona para Yaldir !ires, 3ue telefona para &os Aparecido,e/deputado, tam%m cassado !or 4ltimo, BocaZuva telefona para Marclio Mar3uesMoreira, outro amigo da famlia !aiva, vicepresidente de um grande %anco ediplomatadecarreira 6uando foi vicepresidente de uma empresa p4%lica de crdito, o%tevefinanciamento para a construção, pela empresa de $u%ens, de um conjuntoresidencialno %airro da !avuna BocaZuva lhe pede para tentar desco%rir onde $u%ens estpreso e Marclio telefona para &oão CZra Gilho, reitor da ;niversidade do EstadodaDuana%ara e irmão de um e/ministro do E/rcito, general CZra 'avares BocaZuva telefona tam%m para Gernando Dasparian, em Condres, e Yilson Gadul,e/ministro da "a4de no governo &ango &os Aparecido vai com "e%astião NerZ 7casade BocaZuva A notcia se espalha, em c9digo: $u%ens foi internado "oturnos repi3ues de um sino vi%ram sete vezes numa igreja pr9/ima 7 *** XonaArea $u%ens empurrado para o %anco traseiro de uma eraneio azul,estacionadano ptio Ele força os olhos na janela tentando identificar detalhes do lugar,mas o tempo fechado1W2e as gotas finas da chuva escorrendo pelo vidro em%açam a visi%ilidade Minutosdepois entra "elene trazida por um agente e sentase ao seu lado Ao reconhec


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L# trPnsito deve estar ruim na !residente argasL sup=e o motorista daeraneio1WTL'u muito pessimistaL reclama o cara de cavalo a seu ladoL!or causa da procissãoLL#, eu tinha es3uecido 'am%m, p8, nosso dia t muito cheioL Ele liga o rdio

de comunicação e fala no microfone L)avalo Branco chamando $aposa )inzenta Aprocissãoj aca%ou5 )Pm%ioLL> muito tempo, )avalo Branco 'rPnsito sem pro%lema na 'ijuca )Pm%ioLEm outra chamada, o agente contata um colega so%re uma operação numa casa naXona "ul $u%ens fica atentoL6uem est dentro não sai 6uem chegar, manda pro AltoLFepois de dei/ar a avenida !residente argas, a eraneio atravessa a !raça daBandeira e o agente no %anco traseiro fala com "elene e $u%ensLA%ai/em a ca%eçaLEm seguida co%re a ca%eça deles com as toalhasLMinhas costas estão doendoL reclama $u%ens LFei/a eu me levantar um poucoLLNão, não Gica assim Estamos chegandoLEst começando a escurecer 3uando os tr


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Entram na sala mais dois homens: o capitão )alango, atarracado, olhos azuis,ca%elo louro 7 escovinha, e o sargento Buldogue, um negro %arrigudo de sorriso%onachão,sem camisa, peito %rilhando de suor 'odos em trajes civis, mas usando coturnos "elene empurrada para uma cadeira diante de uma escrivaninha )alango tiralhe o capuz LEst ouvindo esses gritos5 #s pr9/imos serão voc


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numa cadeira e vai conversar com )alangoL"er 3ue ela aguenta5L pergunta )alango em voz %ai/aLMelhor dei/ar pra amanhãL# jovem sai Buldogue e Dafanhoto desferem mais pontaps de coturno em $u%ens,no peito, nos %raços, na %arriga, nas costasLoc


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rosto cadavrico ( o coronel Dirafa)alango sorri ao cumprimentlo L)omo vai, doutor5LLNão temos tempo a perder 6uero ouvir o jogo do ascoL diz DirafaDafanhoto se apro/ima com um gravador na mão, para registrar as informaç=es 3ue$u%ens fornecerLE a, comunistoide, vai falar ou 3uer mais porrada5L pergunta Dirafa, com

furorL!ela milsima vez, eu não sou comunistaLLMas foi se e/ilar num pas comunistaLLEra a 4nica opção Em Braslia havia tr


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Aos poucos o pessoal foi acordando e cumprimentando o mais novo asilado comalegria "eus principais amigos e colegas de partido estavam l: Almino,BocaZuvae outros e/deputados "alvador Cosacco, 'emperani !ereira, NeZ #rtiz Borges,Ccio >auer, &oão F9ria, Camartine 'vora, Benedicta )er3ueira, Gerro )osta,Darcia

Gilho, Gernando "antAnna, um dos mais destacados deputados e 3ue agora estendiasua roupa para secar num varal improvisado no terreno dos fundos Estavam ltam%mo e/senador e e/ministro do 'ra%alho AmaurZ "ilva, o ar3uiteto paisagistaXanine )aldas, demitido como professor da ;niversidade de Braslia, e osjornalistas$aul $Zff, sua mulher Beatriz, FAlam%ert &accoud, Feodato $ivera e Maria daDraça Futra A maioria aguardava salvoconduto para dei/ar o pas, outrosaguardavamapenas uma oportunidade propcia para sair e continuar no Brasil A em%ai/ada fora inaugurada durante uma visita oficial do presidente 'ito, emsetem%ro de 1-KT $u%ens at saudara a visita num pronunciamento na )Pmara: LA*ugoslviatem dado demonstração de independ


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ou faziam ginstica ao ar livre Xanine, fiel 7 sua vocação, cuidava do jardim,fazia desenhos de casas e m9veis, montava curiosas ma3uetes com pedaços det%uase outros materiais 3ue haviam so%rado da construção da em%ai/ada Ainda sesentia cheiro de tinta em algumas paredes 6uando não havia nada a fazer,ficavam conversando

so%re os motivos do golpe, os erros cometidos, o 3ue poderia ter sido feito$u%ens era um dos mais indignados, tendo interrompido seu primeiro mandatoprematuramente,de modo tão ar%itrrio E ainda tinha perdido sua carteira com documentos nomatagal durante a correria

1K2 # muro alto em volta da em%ai/ada e a sua inviola%ilidade não tran3uilizavamos asilados Eles temiam uma invasão policial, por3ue na frente do portãoagentesdo F#!" @Fepartamento de #rdem !oltica e "ocial e uma rdiopatrulha serevezavam dia e noite # mais tenso era AmaurZ Feprimido, se 3uei/ava muito,ameaçandosair de 3ual3uer maneira Almino, 3ue chegara se achando vitorioso por terevitado ser preso, j começava a se sentir sitiado A 4nica pessoa realmente feliz na em%ai/ada era a filhinha do zelador !araela os dias de tdio e solidão haviam finalmente terminado Antes passava o diainteiros9 com seus pais na3uelas depend


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Algum comparou essas palavras com um discurso de Doe%%els em Berlim em 1-TT,meses depois da posse de >itler: LEsta revolução não chegou de cima, senão de%ai/o Não foi ditada, o povo a 3uis A revolução o cumprimento da vontadepopular no melhor sentido da palavraL #utro colega viu e/agero na comparaçãoAfinal,)astello Branco era um militar moderado, com uma formação intelectual, e no seu

discurso havia dito tam%m: L# remdio para os malefcios da e/trema es3uerdanãoser o nascimento de uma direita reacionria, mas o das reformas 3ue se fizeremnecessriasL, e prometera realizar a eleição presidencial prevista para 1-KW #s mais otimistas acreditaram at 3ue em poucos dias as perseguiç=esterminariam e todos iriam poder sair ilesos da em%ai/ada Mas essa e/pectativarefluiu 3uandoo deputado Bilac !into, presidente nacional da ;FN, declarou 3ue o asiloiugoslavo era ilegtimo, por3ue a em%ai/ada ainda não tinha estatuto jurdico,suas atividadesoficiais continuavam no $io de &aneiro e, portanto, os asilados estavam sujeitos7 prisão "o%revieram dias e noites de apreensão Fois colegas se revezavam na viglianoturna, in4til no caso de uma invasão policialmilitar Mas não aconteceu1KR #utra ansiedade 3ue dominava a maioria era o futuro pecunirio Feputados semmandato, jornalistas sem emprego, todos haviam perdido tam%m seus salrios enãotinham nenhuma esperança de tra%alho imediato no e/terior $u%ens e BocaZuvatinham %oa situação financeira, mas temiam se afastar dos neg9cios por tempoindeterminado Numa das visitas de Eunice, $u%ens entregoulhe uma procuração pararepresentlo eventualmente depois 3ue sasse do pas Ela levou alimentos nãoperecveis,roupas, charutos e cartinhas de era, Eliana e Nalu, 3ue tinham 10, O e . anos,respectivamente, desenhos de Marcelo, R anos, e de Ba%iu, T "entado numapoltronana frente do prdio da chancelaria, ele escreveu uma resposta, tratandoos pelosapelidos eroca )uchim%as Cam%ancinha Ba%iu e )acasão $ece%i suas cartinhas, desenhos etc, fi3uei muito satisfeito de ver 3ue osnens não es3ueceram o velho pai A3ui estou fazendo %astante ginstica, fumando meus charutos e lendo meusjornais oc


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o papai e os amigos dele da )Pmara e do governo e agora 3uerem dividir tudo o3ue o nosso pas tem

Jason Tercio - Segredo de Estado, O Desaparecimento de Rubens Paiva

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