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ELEVEN FINANCIAL RESEARCH | 1 Instituições Financeiras 17/04/2019 Non bank is the new bank? Instituições Financeiras Enquanto os novos entrantes rompem as barreiras da indústria, os incumbentes tentam se adaptar ao ambiente digital e mais competitivo, cujo foco deixou de ser o produto e se voltou para o cliente. Na última década, enquanto os bancos direcionavam esforços para o fortalecimento da base de capital, dada a crise de 2008, e, especificamente no Brasil, para o aprimoramento de modelos de crédito e readequação de carteiras ao cenário de desaceleração econômica, novos participantes ganhavam espaço no setor financeiro. Bancos digitais emergiram focados na jornada de clientes mais exigentes e complexos, com modelos multicanais e estrutura de custos mais enxuta, que possibilita a isenção de tarifas. Já as fintechs, identificaram na indústria bancária, altamente concentrada, pouco penetrada, com clientes insatisfeitos e custos elevados, oportunidades para inserção de novos modelos de negócio, que utilizam tecnologia para suprir ineficiências de nichos específicos do mercado. Em paralelo, empresas gigantes de tecnologia, as big techs, avançaram no ciclo tecnológico, expandindo seus negócios para outros setores e construindo a ferramenta mais importante do século XXI: base de dados de clientes. A velocidade da conquista e o nível de satisfação dos clientes destes players têm provocado bancos incumbentes a repensar a tecnologia e a digitalização, reconstruindo seus modelos de negócios para se tornarem mais eficientes e adequados ao cenário de aumento da competição e spreads pressionados. Em um setor em intenso processo transformacional (tanto pela ótica da oferta como do perfil da demanda), há espaço para incumbentes, digitais, fintechs e big techs coexistirem no mesmo ecossistema? Figura 01 – Bancos com modelo tradicional, digital e fintechs Fonte: Elaborado pela Eleven Financial Research Ticker Recom. Target Atual ABCB4 C 22,00 18,52 BBDC4 C 45,00 34,90 BBAS3 N 48,00 46,73 BIDI4 N 45,00 55,20 BPAC11 N 30,00 37,39 BPAN4 C 6,00 3,11 BRSR6 N 24,00 23,45 ITUB4 C 44,00 32,95 SANB11 C 50,00 44,69 Data base: 12/04/2019 Ajustado por proventos Fonte: Economática Tatiana Brandt Analista, CNPI

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Instituições Financeiras

17/04/2019

Non bank is the new bank? Instituições Financeiras

Enquanto os novos entrantes rompem as barreiras da indústria, os incumbentes tentam se

adaptar ao ambiente digital e mais competitivo, cujo foco deixou de ser o produto e se voltou

para o cliente.

Na última década, enquanto os bancos direcionavam esforços para o fortalecimento da base

de capital, dada a crise de 2008, e, especificamente no Brasil, para o aprimoramento de

modelos de crédito e readequação de carteiras ao cenário de desaceleração econômica, novos

participantes ganhavam espaço no setor financeiro.

Bancos digitais emergiram focados na jornada de clientes mais exigentes e complexos, com

modelos multicanais e estrutura de custos mais enxuta, que possibilita a isenção de tarifas. Já

as fintechs, identificaram na indústria bancária, altamente concentrada, pouco penetrada,

com clientes insatisfeitos e custos elevados, oportunidades para inserção de novos modelos

de negócio, que utilizam tecnologia para suprir ineficiências de nichos específicos do mercado.

Em paralelo, empresas gigantes de tecnologia, as big techs, avançaram no ciclo tecnológico,

expandindo seus negócios para outros setores e construindo a ferramenta mais importante

do século XXI: base de dados de clientes.

A velocidade da conquista e o nível de satisfação dos clientes destes players têm provocado

bancos incumbentes a repensar a tecnologia e a digitalização, reconstruindo seus modelos

de negócios para se tornarem mais eficientes e adequados ao cenário de aumento da

competição e spreads pressionados.

Em um setor em intenso processo transformacional (tanto pela ótica da oferta como do perfil

da demanda), há espaço para incumbentes, digitais, fintechs e big techs coexistirem no

mesmo ecossistema?

Figura 01 – Bancos com modelo tradicional, digital e fintechs

Fonte: Elaborado pela Eleven Financial Research

Ticker Recom. Target Atual

ABCB4 C 22,00 18,52

BBDC4 C 45,00 34,90

BBAS3 N 48,00 46,73

BIDI4 N 45,00 55,20

BPAC11 N 30,00 37,39

BPAN4 C 6,00 3,11

BRSR6 N 24,00 23,45

ITUB4 C 44,00 32,95

SANB11 C 50,00 44,69

Data base: 12/04/2019 Ajustado por proventos

Fonte: Economática

Tatiana Brandt Analista, CNPI

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Sumário

1. O Universo é digital ...................................................................................... 3

2. ...os bancos também .................................................................................... 3

3. ...e os clientes, ainda mais!.......................................................................... 5

4. Incumbentes, digitais e fintechs .................................................................. 7

5. Big techs: a verdadeira ameaça bate à porta ........................................... 10

5.1 Big techs: China e Japão ................................................................. 11

5.2 Big techs: Estados Unidos .............................................................. 12

6. Nossa visão ................................................................................................. 14

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1. O Universo é digital

A população mundial atual apresenta uma idade média de 30 anos. Das 7,7 bilhões de pessoas

no planeta, 67% já são usuárias de celular e 57% acessam a internet.

Figura 02 – Digitalização global

Fonte: We Are Social; data base: janeiro/2019. Elaborado pela Eleven Financial Research

Com o avanço da tecnologia, desde 2014 até janeiro de 2019, os usuários de internet cresceram

a uma taxa média de 12,2% ao ano, gastando, em média, 6 horas e 42 minutos do seu dia

conectados (no Brasil, o tempo gasto médio alcançou cerca de 9 horas). Neste mesmo período,

os usuários de smartphones aumentaram, em média, 6,2% ao ano.

Visando acompanhar essa evolução da tecnologia, bem como as alterações nos hábitos dos

consumidores, cada vez mais conectados ao meio digital, principalmente considerando o

envelhecimento da população e as características das novas gerações, empresas de todo o

mundo e de diversos setores têm investido no aprimoramento tecnológico e na digitalização,

principalmente para expandir sua capilaridade, atingir o consumidor contemporâneo,

oferecendo mais comodidade e uma jornada de relacionamento mais satisfatória, além de

buscar uma maior eficiência operacional.

2. ...os bancos também

Se analisarmos a população global com mais de 15 anos, verificamos que 69% possui conta

bancária*. Deste montante, considerando as pessoas usuárias de internet, 41% acessam suas

contas via celular. Neste ponto, os brasileiros estão à frente de muitos países desenvolvidos,

apresentando uma penetração de 61% de usuários de mobile banking, conforme o gráfico

abaixo.

Gráfico 01 – Pentração de mobile banking

Fonte: *We Are Social; data base: janeiro/2019. Elaborado pela Eleven Financial Research

Apesar da penetração de mobile banking no Brasil ser superior à média global, a população

efetivamente desbancarizada ainda é elevada no País. Cerca de 30% dos brasileiros não

possuem conta bancária.

74

%

71

%

68

%

68

%

66

%

66

%

64

%

64

%

61

%

61

%

61

%

57

%

57

%

57

%

56

%

54

%

54

%

54

%

53

%

52

%

52

%

51

%

51

%

51

%

51

%

51

%

48

%

47

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47

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45

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43

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43

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41% média

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Seja pelo avanço da tecnologia, alteração dos hábitos dos consumidores ou aumento da

competição, principalmente com a entrada de bancos digitais e fintechs nos últimos anos,

conforme mencionamos, quando analisamos os grandes bancos brasileiros, verificamos

aumento das iniciativas voltadas para tecnologia, não apenas para se tornarem digitais e

alcançarem as novas gerações, mas, principalmente, para melhorar processos internos e

buscar uma maior eficiência operacional, o que irá contribuir para manutenção de resultados

em um ambiente mais competitivo e com spreads pressionados.

Segundo a Febraban, no Brasil, o setor bancário foi o que mais investiu em tecnologia nos

últimos anos, se igualando ao patamar do setor que, historicamente, é o que mais investe - o

Governo (15% do total investido em tecnologia em 2017).

Figura 03 – Bancos com modelos tradicionais e iniciativas digitais

Fonte: Website dos bancos. Elaborado pela Eleven Financial Research

No Brasil, a viabilização da abertura de contas 100% digital, sem a necessidade de o cliente se

deslocar até uma agência bancária, foi possibilitada pelas regras estabelecidas pela Resolução

Nº 4.480 do Banco Central, em abril de 2016. Desde então, temos visto crescer o número de

instituições bancárias com iniciativas digitais, tanto os incumbentes como novos players

totalmente digitais e, também, a utilização destes canais pelos clientes.

Ainda de acordo com a Febraban, as transações realizadas via mobile banking e internet

banking representaram mais da metade do total de transações bancárias no Brasil em 2018,

35% e 22%, respectivamente, superando as transações em agências (8%).

Entre os grandes bancos, o Bradesco é o que está mais avançado no processo de digitalização,

em nossa visão. O Banco criou sua própria fintech, o Next, um banco 100% digital, voltado para

atender as necessidades das novas gerações, tendo alcançado 800 mil clientes, com

importante captura (80%) de clientes que anteriormente não possuíam contas em bancos ou

que migraram de outros bancos digitais. Adicionalmente, o Bradesco também mantém

parcerias com outras fintechs para oferecer serviços para pequenas e médias empresas, como

forma de complementar seus serviços. Ainda, possui sua própria aceleradora de projetos

voltados para inovação, a Inovabra.

Já o Santander, passou a oferecer contas digitais por meio da aquisição da fintech ContaSuper,

hoje denominada ‘SuperDigital’. Recentemente, o Banco também lançou uma plataforma

digital independente para investimentos (‘Pi’), que segue o conceito de ‘shopping de

investimentos’ com incentivo em pontos para os agentes autônomos.

O Itaú, por meio da XP, se tornou líder do segmento de plataformas para investimento digital

(tendo a XP já sinalizado o seu projeto para se tornar um banco completo digital).

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3. ...e os clientes, ainda mais!

Em paralelo à transformação da indústria bancária, importantes alterações são observadas,

também, sob a ótica da demanda.

Com o aumento do uso da tecnologia, avanço da internet (rede 5G), maior acesso à informação

e facilidade para mudanças (portabilidade de salário e de dívidas, por exemplo), o perfil do

consumidor contemporâneo tem sido alterado. Globalmente, estes ‘novos clientes’ estão

mais complexos, exigentes e buscam, cada vez mais, conveniência.

Na indústria bancária, o produto tornou-se uma commodity e ganha quem oferecer a melhor

experiência ao consumidor. Neste contexto, o modelo chamado ‘C2B’ (Consumer to business),

que engloba conceitos de ‘customer centricity’ e ‘user experience’, colocando o cliente e seu

nível de satisfação, de fato, no centro do negócio, está em ascensão. Sua adoção deixou de ser

uma possibilidade de escolha e passou a ser um requisito para sobrevivência das instituições,

principalmente considerando o aumento da oferta, dada a entrada de novos participantes no

setor.

Assim como estes clientes consomem mais informações, eles também geram

substancialmente mais dados para as empresas, principalmente no meio digital. Essa nova

geração de consumidores acessa contas bancárias e realiza os mais diversos tipos de

transações de forma online, apresentando um volume maior de interação com as empresas

comparado ao perfil de cliente tradicional.

Gráfico 02 – Aumento da interação online... (milhões de transações)

Fonte: Febraban. Elaborado pela Eleven Financial Research

Gráfico 03 – ...favorecido pelo aumento de contas digitais (milhões de contas)

Fonte: Febraban. Elaborado pela Eleven Financial Research

27 31 42 465912

25

3340

59

2013 2014 2015 2016 2017

Mobile banking Internet banking

2731

4246

59

2013 2014 2015 2016 2017

12

25

33

40

59

2013 2014 2015 2016 2017

Mobile banking

118

86 75

56

39

Internet banking

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O cliente digital acessa mais vezes a sua conta bancária do que o cliente tradicional se desloca

até a agência para conversar com o gerente. Não apenas por possibilitar a redução da

estrutura física (número de agências) e de pessoal, pois, em contrapartida, exige mais

investimentos em tecnologia e mão de obra qualificada em áreas específicas, mas por permitir

o enriquecimento constante da base de dados de clientes, alimentando-as por meio do

monitoramento diário dos hábitos e das buscas realizadas, dada a maior veiculação (que

possibilita uma oferta mais assertiva de produtos e serviços), o cliente digital é muito mais

rentável para o banco que o cliente ‘tradicional’.

Segundo o Santander, os clientes multicanais são 2 vezes mais rentáveis, 2,2 vezes mais leais

e apresentam 3 vezes mais oportunidades de negócios para o Banco em relação aos clientes

que se relacionam por meio da agência.

Neste contexto, também impactadas pelo cenário econômico mais desafiador dos últimos

anos, o que provocou os bancos a reduzirem custos e se tornarem mais eficientes, a rede de

agências bancárias tem sido gradualmente reduzida no Brasil, enquanto cresce o número de

agências virtuais.

Gráfico 04 – Redução do número de agências bancárias (mil)

Fonte: Banco Central. Elaborado pela Eleven Financial Research

Além de não demandar o custo elevado para manutenção física, sem contar um ponto

importante que é a segurança, a agência digital interage mais e de forma mais rápida com os

clientes, seja via chat, telefone, vídeo-chamada, Whatsapp ou redes sociais.

Além do encerramento ou redimensionamento de agências físicas, outra estratégia observada,

como é o caso do Santander Brasil, é a de transformar agências em pontos de atendimento

(lojas) especializadas (no caso do Banco, são voltadas para o agronegócio), com tamanho

reduzido e maior valor agregado, considerando o tipo de produto/serviço que é oferecido.

De forma geral, notamos que os bancos incumbentes têm reconstruído seus modelos de

negócios olhando para as oportunidades que a transformação tecnológica oferece. Estes

modelos estão se tornado não apenas menos engessados, como mais colaborativos, com

estruturas que incentivam o engajamento dos funcionários e a inovação, direcionados para o

cliente.

Ainda segundo o Santander, o Banco conseguiu elevar sua rentabilidade por meio da alteração

do modelo de negócio. Anteriormente, o foco estava em metas individuais, projetos

segmentados e em produtos. Hoje, a estratégica está centrada na colaboração de equipes

multidisciplinares, com foco no cliente. Já o Bradesco, tem se apoiado em tecnologia para

alocar mais funcionários nas áreas front office, aumentando a automação de processos em

áreas middle-back office, o que possibilita maior agilidade e redução de riscos atrelados às

falhas humanas e problemas de absenteísmo.

23,0 23,122,6

21,5

20,9

2014 2015 2016 2017 2018

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4. Incumbentes, digitais e fintechs

Apesar do avanço verificado nas instituições com modelos de negócio tradicional, o processo

de transformação tecnológica tem impulsionado mudanças no setor financeiro e

desconcertado o costume dos grandes bancos em ditar as regras do jogo.

Acomodados pelo poder da escala, concentração e barreiras elevadas para entrada no setor,

os bancos brasileiros têm aprendido a conviver nesse ecossistema digital enquanto assistem à

entrada de bancos digitais e fintechs, que chamam atenção pelo rápido crescimento

operacional apresentado, principalmente atrelado à base de clientes.

Gráfico 05 – Bancos digitais/fintechs no Brasil (número de clientes)

Fonte: Dados das companhias. Elaborado pela Eleven Financial Research. | Nota: Nubank: número de clientes com conta digital.

Figura 04 – Comparativo Bancos digitais/fintechs no Brasil

Conta digital

sem tarifa ✓ ✓ ✓ ✓

Cartão débito * ✓ ✓ ✓

Cartão crédito

(anuidade) ✓ R$ 0,00 ✓ R$ 0,00 ✓ R$ 0,00

✓ R$ 4,99 a

R$12,99/mês

Saques ✓ R$ 6,50 ✓ R$ 6,90 ✓ R$ 0,00 ✓ R$ 6,49

Pagamentos e

transferências ✓ R$ 0,00 ✓ R$ 3,50 ✓ R$ 0,00 ✓ R$ 1,90

Poupança ** X ✓ X

Depósitos X ✓ ✓ ✓

Empréstimos *** X ✓ ✓

Seguros X X ✓ ✓

Câmbio X X ✓ X

Consórcio X X ✓ ✓

*cartão de débito disponível para clientes selecionados; **remuneração de 100% do CDI do saldo em conta

corrente; ***produto disponível para alguns clientes. Fonte: Dados das companhias. Elaborado pela Eleven Financial Research

No Brasil, o crescimento destes novos entrantes, bancos digitais e fintechs, tem sido

favorecido pela concentração e spreads elevados do setor e pela baixa penetração dos

bancos, com concomitante aumento da digitalização pela população. Entre estes players,

destaca-se o Nubank, considerado a maior fintech da América Latina.

4.000.000

1.600.000 1.452.035 1.090.070

800.000 720.000

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O Nubank foi fundado em 2013 por David Velez. Em 2014, começou com a oferta de cartão de

crédito, cujo diferencial é a isenção de anuidade, gerenciado inteiramente por aplicativo

móvel. Atualmente, segundo a Empresa, 6 milhões de clientes possuem o cartão de crédito

(de um total de 20 milhões de pessoas que solicitaram o cartão, além de 500 mil indivíduos

que aguardam em fila para obter o produto).

A fintech busca oferecer uma experiência totalmente digital através do seu aplicativo, com

versões para IOS e Android, mas com atendimento humanizado via chat, e-mail, redes sociais

e telefone, voltada para a chamada geração Y (70% dos usuários Nubank têm menos de 36

anos).

Mais recentemente, ao final de 2018, a Empresa disponibilizou o produto de conta corrente e

cartão de débito e, em março deste ano, já havia alcançado 4 milhões de clientes (2/3 da base

de clientes têm a chamada ‘NuConta’). Trata-se de uma conta digital sem tarifa e com

rendimento automático (100% do CDI) com liquidez diária. Como qualquer outra conta, a

NuConta disponibiliza serviços de transferências, pagamentos de boletos e de faturas de

cartão, além de portabilidade de salários.

Até o momento, o Nubank já captou cerca de US$ 420 milhões em sete rodadas de

investimentos.

Figura 05 – 42 fintechs Unicórnios no mundo e o Nubank é uma das

Fonte: CB Insights. Elaborado pela Eleven Financial Research

Além do Nubank, há cerca de 450 fintechs no Brasil.

Gráfico 06 – Evolução das fintechs no Brasil (unidades)

Fonte: ABFintechs até 2017 e Fintechlab para 1S18. Elaborado pela Eleven Financial Research

28 41 5781

121

176219

453

2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 1S2018

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A seguir, mostramos o crescimento anual por segmento, com destaque para fintechs

oferecendo serviços de banco digital.

Gráfico 07 – Crescimento anual por segmento

Fonte: Finnovation e BID; jun/2018 vs 2016. Elaborado pela Eleven Financial Research

Olhando para o rápido crescimento das fintechs, à primeira vista, pode parecer uma ameaça

aos bancos. Contudo, elas têm apresentado oportunidades de parcerias estratégicas para

complementar, expandir ou aprimorar os negócios de bancos com modelos tradicionais.

Ainda que o crescimento de fintechs oferecendo serviços de banco digital tenha crescido acima

dos outros ramos (Gráfico 06), em quantidade de players, a maior parte das fintechs atua em

nichos específicos do mercado.

Segundo pesquisa realizada pela Finnovation e Banco Internacional de Desenvolvimento, os

ramos do mercado com maior quantidade de fintechs são: pagamentos e remessas (25%),

gestão financeira empresarial (17%) e empréstimos (15%).

Já com relação a entrada de bancos digitais no setor, apresentando um rápido crescimento da

base de clientes nos últimos dois anos, também não representa, neste momento, uma ameaça

aos grandes bancos, ao nosso ver, principalmente pelo público alvo destes participantes (a

população desbancarizada brasileira está em torno de 40 milhões de pessoas, um robusto

mercado endereçável, em nossa visão).

Enquanto os grandes bancos, apresentam escala elevada, capitalização confortável e portfólio

mais amplo de produtos para segmentos mais abrangentes, além de, importante, conseguirem

acessar fundings mais competitivos e, portanto, ter maior poder de barganha (‘price makers’),

os bancos digitais têm trabalhado na conquista das gerações mais novas, os millennials, ou dos

desbancarizados.

Mais do que isso, o aumento da competição no setor nos leva à temas importantes

relacionados a desconcentração bancária, redução de spreads e tarifas, especialização e

aumento da eficiência (detalhados no item 6 deste relatório).

147%

95%

77%

73%

65%

50%

44%

31%

28%

7%

Bancos digital

Trading

Empréstimos

Seguros

Gestão Financeira Empresarial

Prevenção e ident. à fraude

Wealth

Crowdfunding

Pagtos e remessas

Gestão Financeira Pessoal

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5. Big techs: a verdadeira ameaça bate à porta

Nascidas em meio à tecnologia, solidamente capitalizadas, com alcance global e centenas de

milhares de clientes navegando por seus ecossistemas diariamente, fornecendo-as a mais

importante ferramenta do século XXI, base de dados de clientes, as big techs têm expandido

rapidamente para outros segmentos do mercado.

Enquanto muitos bancos ainda estão se adaptando ao novo cenário digital e aos

consumidores contemporâneos, estas gigantes empresas já estão em um estágio mais

avançado no ciclo de desenvolvimento tecnológico e centricidade do cliente, com maior

capacidade de processamento das informações que eles geram diariamente e uso das mais

completas ferramentas para análise.

Muitas das big techs iniciaram sua jornada com foco em tecnologia, muitas vezes atuando com

e-commerce/marketplace, como é o caso da Alibaba, Tencent e Amazon, ou com

softwares/hardware, como a Apple. Com o tempo, expandiram seus horizontes de atuação,

passando a atuar com serviços de meios eletrônicos de pagamento e, até mesmo, para outros

serviços financeiros como empréstimos, seguros e gestão de recursos.

A seguir, apresentamos o valor de mercado de algumas das maiores empresas de tecnologia

do mundo, com alguma vertente voltada para serviços financeiros. Juntas, essas empresas

somam um valor de mercado de US$ 2,9 trilhões, montante superior ao PIB da maioria dos

países.

Gráfico 08 – Valor de Mercado (US$ bilhões)

Fonte: Bloomberg; data base: abril/2019. Elaborado pela Eleven Financial Research

Gráfico 09 – Total de Ativos (US$ milhões)

Fonte: Release das companhias; data base: dezembro/2018. Elaborado pela Eleven Financial Research

927.448 893.429

475.788 462.252

123.756

13.815

Apple Amazon Alibaba Tencent Paypal Rakuten

373.719

162.648 133.509

75.398 65.730 43.332

Apple Amazon Alibaba Tencent Rakuten Paypal

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5.1 Big techs: China e Japão

Na China, as duas maiores empresas em valor de mercado, Alibaba e Tencent, ganharam

espaço por meio da exploração da imensa base de dados de clientes, possibilitando a

migração para outros segmentos de mercado, como meios de pagamentos, crédito, gestão de

recursos, seguros e outros.

A Tencent é uma empresa de tecnologia, fundada em 1998, com mais de 1 bilhão de usuários,

que passou a oferecer serviços diversificados, entre eles, o WeChat, aplicativo mais baixado do

País, utilizado para troca de mensagens instantâneas e que possibilita realizar transações

através de QR code, senha digital ou autenticação por biometria, além de transferências e

divisão de contas via contatos telefônicos.

Além disso, a Empresa tem o QQ Wallet, aplicativo para pagamentos via QR code ou

aproximação de cartão virtual, o Tenpay, plataforma para pagamentos entre pessoas e

empresas, o LiCaiTong, plataforma de wealth management, já acumula ~US$ 90 bilhões de

ativos, e o WeBank, para financiamentos de pequenas empresas.

Figura 06 – Tencent: rápido processo evolutivo baseado em tecnologia

Fonte: Tencent. Elaborado pela Eleven Financial Research

A Alibaba é outra gigante chinesa de tecnologia, com um ecossistema que reúne consumidores,

varejistas e comerciantes, marcas e outros parceiros por meio de e-commerce, cloud

computing, mídia digital, entretenimento e serviços financeiros.

Figura 07 – Alibaba: rápido processo evolutivo baseado em tecnologia

Fonte: Alibaba. Elaborado pela Eleven Financial Research

Fundação Tencent

Lançamento ‘QQ’: plataforma de

mensagens instantâneas

Lançamento do portal QQ (website)

Entrada no mercado degames

Criação da ‘Fundação Tencent’

1998

1999

2003

2007

2005

2004

2011

Lançamentos: ‘Qzone’ (maior plataforma social

na China) e Tenpay(plataforma para

pagamentos)

IPO

Lançamento do Weixin/WeChat (app de

mensagens, vídeo, entretenimento social)

Valor de mercadoalcança US$ 100 bilhões

Usuários Weixin & Wechat: 300 milhões

Lançamento de games

2013

Solução de pagamentos via mobile (WeChat)

+200 milhões usuáriosInício educação online

(Tencent Classroom)

2014 - 2015 2016

2017

2018

Líder em serviços de streaming na China

Investimentos empagamentos, cloud,

vídeo e varejo

Lançamento de games (líder do setor)

Aumento do mkt shareem pagamentos

via mobile

Games: expansão global Maior liderança empagamentos mobileEnriquecimento dos serviços de Fintech

Fundação do Alibaba

(marketplace)

2 aumentos de capital; 1 MM usuários registrados

Fundação do ‘Taobao’ (shopping online)

1999

2001 - 2003

2004

2008

2006 - 2007

2005

2009

Parceria com Yahoo! (Alibaba adquiriu

operação do Yahoo! na China)

Taobao UniversityIPO

Lançamento Alimama: plataforma tecnológica

de marketing

Taobao Mall(plataforma para marcas

de terceiros

Alipay: pagamentos de contas de luz/telefone

2010

Criação Alibaba CloudAquisição: HiChina(infraestrutura de TI)

Pagamento por mobile

2011 - 2013 2014

2018

Novos segmentos:Telecom, TV e filmes

IPO nos EUAAnt Financial: expansão

em serv. financeiros

App de mídia socialRecebeu ‘Licença para

pagamentos’Novos produtos: wealth

management

+ data centers e hubsLançamento programa

de pesquisa globalPrograma de Fidelidade

Lançamento Startup

Entrada de private equity

ALIPAY: plataforma criada para

pagamentos online

Expansão global: AliExpress. Aquisição de

e-commerce nos EUA Lançto: ‘Taobao mobile’Alipay + Bank of China

2015 - 2016

Aquisição Lazada(e-commerce)

Data centers: Dubai, Frankfurt, Sydey e Tokyo

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Através da sua vertente financeira, a Ant Financial, com o aplicativo Alipay, oferece em ~70

países, serviços de pagamento eletrônico através de QR code, para mais de 700 milhões de

usuários. Além disso, oferece crédito quase que instantâneo (3 minutos para aplicação e 1

segundo para aprovação), além de seguros para PF e PJ, asset management, financiamentos e

cash management para empresas.

Ao final de 2018, a Alibaba havia alcançado cerca de 600 milhões de consumidores. A meta

da Companhia, para 2036, é de atingir 2 bilhões de usuários através de produtos e serviços

digitais oferecidos pelo seu ecossistema de negócios.

No Japão, a Rakuten, fundada em 1997, presente em 30 países e regiões, alcançou 1,3 bilhão

de usuários nos negócios de e-commerce, pagamentos, seguros, cartões de crédito, moeda

eletrônica e outros (são mais de 70 ramos de negócios). Segundo a Companhia, um volume

massivo de dados é gerado a cada minuto a partir da interação dos usuários com a Empresa

em seu ecossistema, que conta com Institutos de Tecnologia (Rakuten Institute of Technology)

baseados em cinco pontos no mundo, com profissionais especializados, pioneiros em

inteligência artificial e big data.

Ao final de 2018, o CEO, Hiroshi Mikitani, afirmou sua intenção em expandir os negócios

globalmente, com serviços que vão além do e-commerce: a Rakuten está construindo o

‘Global ID Plataform’, plataforma para fornecer aos usuários de todo o mundo um número

para acesso ao seu ecossistema.

Figura 08 – Rakuten: rápido processo evolutivo baseado em tecnologia

Figura 09 – Rakuten: expansão para serviços financeiros

Fonte: Rakuten. Elaborado pela Eleven Financial Research

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5.2 Big techs: Estados Unidos

Nos Estados Unidos, as maiores empresas em valor de mercado são de tecnologia: Apple, que

passou a oferecer cartão de crédito digital (Apple Card) recentemente, e a Amazon, que tem

expandido seus negócios para outros segmentos do mercado além do e-commerce, como o

crédito e pagamentos eletrônicos.

Marcando oficialmente a entrada da Apple no mercado de cartões, em março de 2019, o

Apple Card foi lançado, nos Estados Unidos, pela Apple em parceria com o Goldman Sachs e a

MasterCard, como forma de complementar e acelerar o serviço de pagamento Apple Pay.

Trata-se de um cartão de crédito digital, isento de tarifas, que fica armazenado em um

aplicativo do Iphone (chamado Wallet), local onde as transações são realizadas (solicitação do

cartão, uso para pagamentos, consulta de limite, de extratos e pagamento da fatura).

Os pagamentos são feitos por aproximação ou de forma online e a autenticação se dá por

biometria, inclusive facial (face ou touch ID). Ainda, o uso de aprendizado de máquina

possibilita a segmentação das compras realizadas por categorias (alimentação,

entretenimento, transporte e etc). Uma tecnologia que ainda não vemos na maioria dos

cartões brasileiros.

Como nem todos os terminais possuem a tecnologia necessária para pagamento por

aproximação (o chamado ‘NFC’ - near field communication), há, também, a possibilidade de se

obter um cartão físico, de titânio, sem número e dados de clientes, para aumentar a segurança

em caso de perda ou roubo (também não encontramos essa tecnologia por aqui, nos cartões

físicos). Ainda, o Apple Card oferece sistema de benefícios, cashback, realizado diariamente

(um dos diferenciais), que varia de 1%-3%, de acordo com o cartão e estabelecimento da

compra.

Já a Amazon, outro case de sucesso de expansão para serviços financeiros tomando como

base o uso da tecnologia, através de uma parceria com a Hitachi Capital, passou a oferecer

empréstimo online, com possibilidade de parcelamento, sem juros, em até cinco vezes,

realizado no próprio site da Empresa (um diferencial para transações realizadas nos EUA).

O serviço é chamado de Amazon Pay Monthly e a análise de crédito para aprovação da

transação é feita de forma quase que imediata. Em um primeiro momento, apenas os produtos

da Amazon poderão ser adquiridos desta forma e apenas nos EUA.

Outro exemplo é o Paypal, empresa também americana, fundada em 1998, que oferece uma

plataforma tecnológica para pagamentos online (com cartão de crédito, débito ou créditos do

Paypal), em mercados virtuais de 200 países, principalmente através de parcerias (já é aceito

em mais de 19,5 milhões de estabelecimentos).

Além da plataforma, seguindo a estratégia de expansão dos negócios, o Paypal lançou seu

cartão de crédito pré-pago, em parceria com a MasterCard, tendo como público alvo a

população desbancarizada, e o cartão de débito, para usuários do Venmo (aplicativo de

pagamentos da Empresa), gratuitos e isento de tarifas.

Embora essas empresas de tecnologia ainda atuem com mais relevância em alguns ramos do

mercado financeiro, a tendência é continuarem expandindo a oferta de produtos/serviços

financeiros a medida em que este negócio se consolidar.

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6. Nossa visão

De forma geral, esperamos: (i) rápido crescimento das fintechs e bancos digitais,

principalmente relacionado a conquista de clientes, (ii) diminuindo a concentração bancária no

longo prazo e (iii) aumentando a inclusão financeira no Brasil, (iv) o que deve favorecer a

lucratividade do setor como um todo; (v) redução de spreads e tarifas praticados pelos

incumbentes, compensados pelo (vi) aumento da eficiência do setor, além de (vii) novas

parcerias firmadas entre incumbentes + fintechs.

Alta concentração + baixa penetração + tecnologia = novos entrantes

Ainda não está clara a velocidade que o ciclo de transformação da indústria bancária seguirá e

o quanto a entrada de novos players no setor irá impactar o posicionamento, a concentração

bancária e os spreads praticados no País.

Vemos o Brasil como um dos mercados mais atrativos para o desenvolvimento de bancos

digitais e fintechs. Além da concentração, spread e tarifas elevados, acima mencionado, o País

passa por uma importante transformação do perfil da demanda, com consumidores cada vez

mais digitais, dada a rápida evolução da internet e tecnologia e o espaço que estes têm

conquistado na vida das pessoas (o brasileiro passa mais tempo na internet que a média da

população mundial), sem contar a oportunidade em trabalhar com o público desbancarizado,

devido à baixa penetração da indústria em relação aos Estados Unidos ou a China, por exemplo,

além do estágio mais favorável para crescimento da atividade do setor, sob o ponto de vista

macroeconômico.

Quando comparamos a indústria bancária brasileira em 2015 e 2018, o aumento da

concentração foi impulsionado pelas fusões e aquisições no setor, além da saída/redução de

exposição de bancos estrangeiros e de pequeno/médio porte, como resultado do período de

desaceleração econômica.

Gráfico 10 – Concentração bancária no Brasil

Fonte: Banco Central. Elaborado pela Eleven Financial Research

Mudanças nos hábitos dos clientes, com aumento de acesso de contas via internet e mobile e

das transações realizadas nestes canais, tem possibilitado a existência de modelos de negócios

voltados para serviços financeiros sem a necessidade de agências, uma das antigas barreiras

de entrada do setor.

Neste sentido, entendemos que o avanço da internet tem possibilitado a entrada e atuação

de novos participantes que, por sua vez, irão contribuir para a desconcentração bancária,

redução de spreads e tarifas (atualmente entre os maiores do mundo), aumento da inclusão

financeira e maior satisfação dos clientes.

Top 578%

Outros22%

Top 582%

Outros18%

20182015

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Conforme mencionamos, um ponto bastante positivo a ser considerado, é que a entrada de

novos players focados em segmentos específicos, como a população desbancarizada e as

gerações mais jovem, muitas vezes universitários ou recém-formados, por exemplo, contribui

para a inclusão financeira no País.

Atualmente, cerca de 40 milhões de pessoas não possuem conta bancária no Brasil. Neste

relevante mercado endereçável, a fintech Nubank já alcançou 6 milhões de clientes (nem todos

desbancarizados e 2 milhões apenas com cartão de crédito), enquanto o digital Banco Inter, já

apresenta 2 milhões de correntistas em sua base (mas apenas 14% possuí o Banco Inter como

principal instituição financeira).

Ou seja, ainda há muito espaço para ser explorado, tanto sob a ótica de conquista de clientes

como monetização destes em um segundo momento, o que fundamenta nossa visão de que

estes ‘novos’ participantes continuarão crescendo e atraindo mais competidores para o

setor.

Apesar dessa nossa visão, de que as fintechs conseguirão ganhar share dos grandes bancos,

estes integrantes também oferecem oportunidades de parcerias com os incumbentes, que

podem complementar e aprimorar seus negócios com as tecnologias disruptivas e soluções

desenvolvidas por estas empresas.

Diferente das big techs, não vemos as fintechs como ameaça para os bancos com modelos

tradicional, uma vez que não possuem a ampla base de dados de clientes, ou o reconhecimento

global e potencial ganho de escala ou, ainda, mais importante, o acesso ao funding competitivo

que as big techs possuem. Ainda, ressaltamos a importância em monitorar a evolução da

participação de players com menor experiência e track record de clientes em nichos como

concessão de crédito, por exemplo, uma vez que o aumento da inadimplência pode causar

instabilidade no Sistema Financeiro.

O comportamento dos incumbentes em relação à imersão das fintechs e digital

Como mencionamos, a entrada destes participantes, mais voltados à tecnologia, não apenas é

positiva no sentido da inclusão financeira, desconcentração e redução de spreads, mas,

também, pelo fato de provocarem os incumbentes a aprimorarem seus modelos de negócios,

focando cada vez mais em inovação, especialização, maior foco no cliente e o aumento da

eficiência.

Em conversas com management de um grande banco de varejo e, também, com uma

instituição financeira de médio porte, que atua no mercado de crédito corporativo,

identificamos aumento dos esforços direcionados para inclusão da tecnologia no dia a dia

destes bancos, como forma de melhorar a eficiência, com mais automação e, portanto,

possibilidade redução de funcionários ou de maior foco destes para o cliente. Entre as principais

ferramentas tecnológicas utilizadas, destacam-se: uso de big data, com aumento e melhorias

nos CRMs, automatização de tarefas anteriormente manuais em áreas de back office, com a

inclusão de novos sistemas operacionais mais abrangentes, no atendimento ao cliente (uso de

chatbot), no departamento jurídico, a partir do uso de sistemas para desenvolvimento de

contratos de forma mais ágil, em tarefas comerciais como, por exemplo, no uso de dispositivos

eletrônicos que possibilitam a identificação de oportunidades de cross sell entre diversas áreas

do banco a partir de uma visita comercial para um cliente, além de outras.

Food for thought

Com relação as big techs, uma possível atuação no Brasil também poderia oferecer

oportunidades de parcerias com instituições financeiras locais, como é o caso da Ant Financial

e da Tencent, na China, o que poderia resultar em incremento de negócios para ambos os

lados.

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As gigantes de tecnologia possuem elevada expertise nos negócios em que atuam, trabalhando

com as mais complexas ferramentas de tecnologia, processamento de dados, além da base de

clientes e do poder da marca que carregam consigo.

Em contrapartida, há o risco de conflitos legais, uma vez que a regulamentação destas

empresas pode vir a divergir com a do País. Adicionalmente, o uso de imensas bases de dados

possuídas por estas empresas toca em um ponto delicado que é a da privacidade dos dados

de usuários, extrapolação de publicidade e segurança cibernética, o que, novamente, exige

reforço da regulamentação e posicionamento de órgãos reguladores.

Como exemplo, relembramos o episódio ocorrido com o Fabebook e o vazamento de dados de

cerca de 90 milhões usuários, em 2018. Neste contexto, nos Estados Unidos, a senadora

Elizabeth Warren já fala sobre a importância de ‘quebrar’ os ecossistemas das big techs em

alguns segmentos de negócios, uma vez que, segundo ela, essas empresas têm abusado do

poder e dificultado o desenvolvimento de empresas menores do setor. Outros fatores a serem

considerados.

Oportunidade de parceria ou ameaça, o que de fato entendemos, neste momento, é que

para os grandes bancos, a possibilidade de chegada efetiva de novos participantes no setor

é mais um fator de impulso para mudanças mais vigorosas e reconstrução do modelo de

negócios.

Desde a forma de se relacionar com o cliente, englobando a agilidade do atendimento, a

capacidade de antecipar necessidades de consumo, a conveniência oferecida até a eficiência

bancária, a movimentação do setor no sentido da digitalização, aprimoramento tecnológico

e sustentabilidade dos negócios, com bancos se preparando para o aumento da competição,

fundamentam nossa visão positiva para a indústria bancária brasileira.

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