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  • 8/14/2019 Inducao Popper

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    K. POPPERO PROBLEMA DA INDUONa raiz das teses nucleares de Popper est uma nova concepo do conhecimento e da cincia.

    Tradicionalmente, considerava-se que o trabalho da cincia consistia sobretudo na programao erealizao de experincias que permitiam efectuar observaes rigorosas, observaes que se voregistando at que se consiga formular uma hiptese explicativa, eventualmente uma lei, do fenmenoem estudo. A partir daqui, e uma vez aceite a plausibilidade daquela hiptese, o trabalho cientficoorienta-se para a sua verificao, isto , para a tentativa da sua aplicao a casos novos mas similares. O

    procedimento cognitivo que est no cerne deste processo a induo, que conduz a passagem de umcerto nmero de observaes particulares para enunciados universais.

    Este processo rodeia ou oculta vrias dificuldades. Uma delas de resto a dificuldade central havia sido j formulada por David Hume1 quando observou que a passagem das observaes particulares

    para um enunciado universal no pode serracionalmente justificada apenas pelo seu nmero. Fazemosprevises baseadas na nossa experincia anterior porque possumos uma disposio, um hbito, para ofazer, no porque seja possvel garantir a sua validade racional.

    Popper reformular inteiramente os dados do problema: dir que a cincia no indutiva. Substituio procedimento indutivo pelo de conjecturao e a exigncia de verificabilidade pela defalsificabilidade;as conjecturas devem levar ousada formulao de hipteses sem preocupao com qualquer tipo de

    exaustividade observacional; e a falsificabilidade inverte a anterior ordenao metodolgica porque agoratrata-se de ver se a observao falsifica, ou no (neste caso dir-se- que corrobora), a hiptese formulada.

    Assim, e recorrendo a um exemplo corrente, ao afirmar que "todos os cisnes so brancos" estou aafirmar tambm que a observao de um s cisne negro basta para afirmar que "nem todos os cisnes so

    brancos", portanto para refutar aquele enunciado universal. Dito de outro modo, as generalizaesempricas no so, no tm de ser, verificveis, mas falsificveis. , pois, na assimetriaverificabilidade/falsificabilidade que se encontra a chave da soluo popperiana. A preocupao com averificao substituda pela da possibilidade da sua refutao; e esta ser tanto maior quanto maior for ocontedo do que se afirma. Se eu disser que "todos os planetas tm orbitas elpticas" estou a produzir umenunciado com um determinado contedo; mas se afirmar que "todos os corpos celestes tm rbitaselpticas" estou a produzir um enunciado com mais informao e contedo que, portanto, se expe mais falsificabilidade. Em termos simples: quanto mais uma hiptese diz sobre o mundo, maiores so as

    possibilidades de errar.

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    " Segundo uma perspectiva largamente difundida, as cincias empricas podem caracterizar-se pelofacto de utilizarem mtodos ditos indutivos. (...) corrente designar por indutiva uma inferncia seela passa de enunciados singulares/particulares, tais como os resultados de observaes, a enunciadosuniversais, tais como hipteses ou teorias.

    Est longe de ser evidente que, de um ponto de vista lgico, haja justificao para inferirenunciados universais a partir de casos particulares, por mais numerosos que estes sejam; qualquerconcluso obtida por este processo pode sempre, com efeito, revelar-se falsa: pouco importa o grande

    nmero de cisnes brancos que possamos ter observado, pois ele no justifica que todos os cisnes sejambrancos."K. Popper

    1 David Hume (1711-1776), filsofo escocs, mostrou que, sendo a experincia sensorial a origem dos dados doconhecimento, e sendo essa experincia, sempre, apenas vlida para cada caso particular, no h legitimidade nainduo. Assim, nada justifica a esperana de uma causa produzir no futuro um determinado efeito, s por isso tersucedido antes. Questionando o princpio da causalidade, Hume declara impossvel o conhecimento universal enecessrio da cincia. Afirma que s por hbito e crena (factores psicolgicos) admitimos a validade doconhecimento cientfico.