In a silent way (& improvisos)
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Transcript of In a silent way (& improvisos)
in a silent way (& improvisos)
querino
in a silent way
(I) In a silent way
a sensação de impossíveis realizados
tomando forma
– percebo
que tudo está perto o bastante
para dizermos das coisas
Distância
– há, sim, um pouco de loucura em tudo isso
e há ainda quem simplesmente passa
(queremos apenas o que podemos ter
e não temos mais
do que somos).
Shh...
Isso é sobre os dias até aqui
sobre o tinto, as bacantes
sobre o corpo sobre o chão
mais uns passos e... Por que
o céu nessa distância
?
Não é necessário qualquer pergunta
Caminhamos todo o tempo até aqui
e talvez seja este o lugar que tanto ansiamos
(II)
In a silent way:
nos sabemos na noite primordial,
jardim de silêncios.
Há aqui qualquer coisa que se move,
que
tal
vez
nos
per
ca a
razão: Eu sei, e
nesse instante
eu sou aquele que teu nome mais secreto guarda
que(m) diz tua palavra mais aguda
que(m) refaz teus começos
e te inventa
a poesia –
quero antes o teu olhar mais puro, a tua
verdade não dita: vontade de apenas ser,
vontade de apenas ser o que apenas é:
Eu sou
(III)
In a silent way.
Eis, agora, um não-manifesto
para
a Arte (o que estremece):
o gosto da língua
nessa fala de multidões
lugar comum
veredas / a cura
quero antes o possível, não uma imagem: um sim.
(o que isso diz)
Na verdade, o que pretendo é a voz do mistério,
essa coisa louca que chama o nome: Poesia
à beira de (vontade de)
uma distância nada – imerso
intermezzo;
e pouco me importa a realidade (basta!)
quero antes a verdade de nossos dias mais felizes
(I)
– o que importa dizer:
atravessamos o halo de nossa presença
e nos encontramos nesse instante
feito quem soubesse a verdade
e não há verdade alguma,
sabemos
(improvisos)
(para ser lido na parte I, após o verso “tomando forma”)
a construção do labirinto
há esses corredores que se formam
há cada vez menos espaço
há algo que
estranhamente
reconheço: formas e visões
e uns primeiros passos
rumo a essa investida mais perspicaz –
palavra, diz cá aquela que sob o nome importa
dizer – há caminhos
cada
vez
mais
regrados. há estranhos
do lado de fora: para dentro, para dentro!
(esqueço
que certa feita
estivemos por aqui, mas nada sabíamos
a respeito. uma coisa ou duas, talvez)
há certas complicações,
certas considerações – percebo
que nada disso tem lá muito sentido,
mas nada impede que continuemos:
observo
o que ainda mal distancio na paisagem
(a calma)
– há, enfim, algo de instante em tudo isso
(para ser lido na parte II, após o verso “a poesia –”)
terminal
A cidade reflui em sua hora mais exata
um silêncio cor de bruma:
Eu não reconheço esses passos, ela diz
: eu não reconheço esses passos
corro tantas ruas, vidas
eu não reconheço esses passos
enquanto atravesso alamedas no caso de nossa fuga
eu não reconheço esses passos
mas a diante um velho toca a sua panela de mola
eu não reconheço esses passos
por tudo o que nos espera exatamente aqui
eu não reconheço esses passos
e o que será então
eu não reconheço esses passos
volta e meia olho para trás
eu não reconheço esses passos
o sol no asfalto bate em minha testa que estilhaça o mundo
eu não reconheço esses passos
uma gilete rasga entre os dentes o calor de meio-dia
eu não reconheço esses passos
da corisa escorre sangue na retina do pesadelo
eu não reconheço esses passos
tanto faz se agora jogo, se agora mato
eu não reconheço esses passos
encontro palavras que me lançam ao desconhecido
eu não reconheço esses passos
e nessa galeria o Amor
eu não reconheço esses passos
a realidade é demasiada
eu não reconheço esses passos
vejo o tráfego a pressa a fome
eu não reconheço esses passos
vejo meninas que nunca dizem Sim
eu não reconheço esses passos
vejo a certeza e pés ao chão
eu não reconheço esses passos
e há ainda essa conversa de futuro
eu não reconheço esses passos
mas percebo que por aqui há também qualquer coisa que se move
eu não reconheço esses passos
há algo que chama o meu nome
eu não reconheço esses passos
in a silent way
eu não reconheço esses passos
in a silent way
eu não reconheço esses passos
in a silent way
eu não reconheço esses passos
eu escrevo um poema
eu...
(para ser lido na parte III, após o verso “(...) de nossos dias mais felizes”)
e então é isso
(essas ruas são de teu nome o leitmotiv
– observo agora por entre as frestas
que portas e janelas apresentam
e penetro intensamente: Somos estrangeiros para qualquer amor,
o desejo (somos o que quer que seja
um cigarro que se apaga sob a luz do candeeiro
movimento que se desenha através dos lençóis da memória
corpo intenso, vazio pleno
e esses objetos todos dispersos por sobre o chão cor de poeira
a reivindicar cada qual para si
um lugar de precisão
nesse confuso novelo, labirinto em que nos perdemos
enquanto o batuque, a dança; saliva e dentes
rasgam, e também sob as unhas
os muros todos que se levantam e não somos
Publicado em Maio de 2012 (1ª edição, ebook)
Capa, fotografia: Giselli Moreira
candeeirocafe.wordpress.com