HANSENÍASE
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HANSENASE:
Descrio: Doena crnica granulomatosa, proveniente de infeco causada pelo Mycobacterium leprae. Esse bacilo tem a capacidade de infectar grande nmero de indivduos (alta infectividade), no entanto poucos adoecem (baixa patogenicidade); propriedades essas que no so em funo apenas de suas caractersticas intrnsecas, mas que dependem, sobretudo, de sua relao com o hospedeiro e o grau de endemicidade do meio, entre outros aspectos. O domiclio apontado como importante espao de transmisso da doena, embora ainda existam lacunas de conhecimento quanto aos provveis fatores de risco implicados, especialmente aqueles relacionados ao ambiente social.
O alto potencial incapacitante da hansenase est diretamente relacionado ao poder imunognico do M. leprae. A hansenase parece ser uma das mais antigas doenas que acomete o homem. As referncias mais remotas datam de 600 a.C. e procedem da sia, que, juntamente com a frica, podem ser consideradas o bero da doena. A melhoria das condies de vida e o avano do conhecimento cientco modicaram signicativamente o quadro da hansenase, que atualmente tem tratamento e cura. No Brasil, cerca de 47.000 casos novos so detectados a cada ano, sendo 8% deles em menores de 15 anos.
Agente etiolgico: O M. leprae um bacilo lcool-cido resistente, em forma de bastonete. um parasita intracelular, sendo a nica espcie de micobactria que infecta nervos perifricos, especicamente clulas de Schwann. Esse bacilo no cresce em meios de cultura articiais, ou seja, in vitro.
Reservatrio: O ser humano reconhecido como a nica fonte de infeco, embora tenham sido identicados animais naturalmente infectados o tatu, o macaco mangabei e o chimpanz. Os doentes com muitos bacilos (multibacilares-MB) sem tratamento hansenase virchowiana e hansenase dimorfa so capazes de eliminar grande quantidade de bacilos para o meio exterior (carga bacilar de cerca de 10 milhes de bacilos presentes na mucosa nasal).
Modo de transmisso: A principal via de eliminao dos bacilos dos pacientes multibacilares (virchowianos e dimorfos) a area superior, sendo, tambm, o trato respiratrio a mais provvel via de entrada do M. leprae no corpo.
Perodo de incubao: A hansenase apresenta longo perodo de incubao; em mdia, de 2 a 7 anos. H referncias a perodos mais curtos, de 7 meses, como tambm a mais longos, de 10 anos.
Perodo de transmissibilidade: Os doentes com poucos bacilos paucibacilares (PB), indeterminados e tuberculides no so considerados importantes como fonte de transmisso da doena, devido baixa carga bacilar. Os pacientes multibacilares, no entanto, constituem o grupo contagiante, assim se mantendo como fonte de infeco, enquanto o tratamento especco no for iniciado.
Diagnstico clnico: O diagnstico essencialmente clnico e epidemiolgico, realizado por meio da anlise da histria e condies de vida do paciente, do exame dermatoneurolgico, para identicar leses ou reas de pele com alterao de sensibilidade e/ou comprometimento de nervos perifricos (sensitivo, motor e/ou autonmico).
Paucibacilar (PB) casos com at 5 leses de pele;
Multibacilar (MB) casos com mais de 5 leses de pele.
Diagnstico laboratorial:
Exame baciloscpico a baciloscopia de pele (esfregao intradrmico), quando disponvel, deve ser utilizada como exame complementar para a classicao dos casos em PB ou MB. A baciloscopia positiva classica o caso como MB, independentemente do nmero de leses.
Exame histopatolgico indicado como suporte na elucidao diagnstica e em pesquisas.
SINAIS E SINTOMAS DERMATOLGICOS: A hansenase manifesta-se atravs de leses de pele que se apresentam com diminuio ou ausncia de sensibilidade.
As leses mais comuns so:
Manchas pigmentares ou discrmicas: resultam da ausncia, diminuio ou aumento de melanina ou depsito de outros pigmentos ou substncias na pele.
Placa: leso que se estende em superfcie por vrios centmetros. Pode ser individual ou constituir aglomerado de placas.
Infiltrao: aumento da espessura e consistncia da pele, com menor evidncia dos sulcos, limites imprecisos, acompanhando-se, s vezes, de eritema discreto. Pela vitropresso, surge fundo de cor caf com leite. Resulta da presena na derme de infiltrado celular, s vezes com edema e vasodilatao.
Tubrculo: designao em desuso, significava ppula ou ndulo que evolui deixando cicatriz.
Ndulo: leso slida, circunscrita, elevada ou no, de 1 a 3 cm de tamanho. processo patolgico que localiza-se na epiderme, derme e/ou hipoderme. Pode ser leso mais palpvel que visvel.
SINAIS E SINTOMAS NEUROLGICOS: A hansenase manifesta-se, alm de leses na pele, atravs de leses nos nervos perifricos. Essas leses so decorrentes de processos inflamatrios dos nervos perifricos (neurites) e podem ser causados tanto pela ao do bacilo nos nervos como pela reao do organismo ao bacilo ou por ambas. Elas manifestam-se atravs de:
dor e espessamento dos nervos perifricos;
perda de sensibilidade nas reas inervadas por esses nervos, principalmente nos olhos, mos e ps;
perda de fora nos msculos inervados por esses nervos principalmente nas plpebras e nos membros superiores e inferiores.
Esquema Paucibacilar (PB): Neste caso utilizada uma combinao da rifampicina e dapsona, acondicionados numa cartela, no seguinte esquema:
medicao:
- rifampicina: uma dose mensal de 600 mg (2 cpsulas de 300 mg) com administrao supervisionada,
- dapsona: uma dose mensal de 100mg supervisionada e uma dose diria autoadministrada;
durao do tratamento: 6 doses mensais supervisionadas de rifampicina.
critrio de alta: 6 doses supervisionadas em at 9 meses.
Esquema Multibacilar (MB):
Aqui utilizada uma combinao da rifampicina, dapsona e de clofazimina, acondicionados numa cartela, no seguinte esquema:
medicao:
- rifampicina: uma dose mensal de 600 mg (2 cpsulas de 300 mg) com administrao supervisionada;
- clofazimina: uma dose mensal de 300 mg (3 cpsulas de 100 mg) com administrao supervisionada e uma dose diria de 50mg auto-administrada; e
- dapsona: uma dose mensal de 100mg supervisionada e uma dose diria autoadministrada;
durao do tratamento: 12 doses mensais supervisionadas de rifampicina;
critrio de alta: 12 doses supervisionadas em at 18 meses (Figura 22).
Recomendaes BCG:
A aplicao de duas doses da vacina BCG-ID a todos os contatos intradomiciliares dos casos de hansenase independentemente de ser em PB ou MB;
a aplicao da 1 dose da vacina est condicionada na realizao do exame dermatoneurolgico;
na ocasio do exame dermatoneurolgico o contato deve ser bem orientado ao perodo de incubao, transmisso, sinais e sintomas da hansenase e retorno ao servio, se necessrio;
todo contato deve tambm receber orientao no sentido de que no se trata de vacina especfica para a hansenase e que prioritariamente est destinada ao grupo de risco, contatos intradomiciliares. Em alguns casos o aparecimento de sinais clnicos de hansenase, logo aps a vacinao, pode estar relacioando com o aumento da resposta imunolgica em indivduo anteriormente infectado;
a vacina BCG ser administrada na dose de 0,1ml e sem necessidade de prova tuberculnica prvia;
a aplicao da vacina ser efetuada por via intradrmica, no brao direito, na altura da insero inferior do msculo deltide. Essa localizao permite a fcil verificao da existncia da cicatriz e limita as reaes ganglionares regio axilar;
a segunda dose dever ser feita prximo ao local da 1 aplicao para mais fcil reconhecimento.