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    Fernandes.. E. M. & . Maia, A. (2001). Grounded Theory. In E. M. Fernandes & l. s.AI'meida (Eds), Metodos e Tecnicosde Avoliofiio. Contributos para C I pr6tica einvestiga~ao (pp. 49-76). Braga: Centro de estudos em Educa~ao e Psicologia.

    \~$GROUNDED THEORYEugenia lV{ . FernandesAngela Mata

    IntroducaoA grounded theory e uma das metodologias qualitativas que tern vindoprogressivamente a ser mais utilizada pelos investigadores no ambito das cienciassocials e humanas, nomeadamente em diferentes areas da psioologia. Ela decorre daevolucao das formas de pensar 0 conhecimento e os pr6prios processos de construcaode conhecimento, nao podendo entender-se os seus pressupostose caracterfsticas semtermos em conta 0 contexto mais global da hist6ria da ciencia no ultimo seculo,As rupturas nos paradigmas cientfficos estao associadasa impossibilidade deuma perspectiva dominante compreender eexplicar novos conhecimentos, exigindoassim uma reforrnulacaoao nivel dos quadros conceptuais que os possam suportar, Se,porum lado, os desenvolvimentos teoricos fundamentamo desenvolvimento de novasmetodologias, por outro lado tambem elespodem emergir pela forca das producoesderivadas das novas metodologias. Apesar desta dinamica responsavel pelas rupturas,cada paradigma podeser classificado, segundo Guba (1990), pel a forma comoconceptualiza a n().t\l~~:t:t;l~

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    melhor se adequam aos pressupostos que referirnos, encontramos por parte de algumasmetodologias qualitativas esforcos para se aproximarem dos padroes por que se regemos modelos quantitativos.Os desenvolvimentos mais recentes da investigacao qualitativa tendem aadoptar 'uma posicao epistemologica nao positivista, recorrendo a procedimentosmetodo16gicos que envolvem uma analise mais detalhada e flexfvel de material escrito,verbal ou visual, que nao e convertido em pontos ou escalas numericas, nem econsiderado urn espelho de uma realidade externa objectiva. Ela nao procura encontrarmodelos abstractos de conhecimento nem produz conhecimento nomotetico, sendoparticularmente utilizada para a cornpreensao das experiencias e dos significados queos seres humanos constroem em interaccao. A epistemologia subjacente esta de acordocom 0 pressuposto construtivista de que "... 0 conhecimento cientifico do rnundo naoreflecte directamente 0mundo tal como ele existe externamente ao sujeito conhecedor,mas e produzido ou construfdo pelas pessoas e dentro de relacoes historicas, sociais eculturais" (Henwood & Nicolson, 1995, p.109).Por isso, a metodologia qualitativa e utilizada em estudos que contextualizamo conhecimento, tomando 0 proprio processo de construcao de conhecimento comouma dimensao importante a considerar. Este posicionamento suporta-se na crenca deque nao existe producao de conhecimento independente do sujeito conhecedor,assumindo-se que 0 investigador deve incorporar e assumir na sua producao cientificaa sua propria subjectividade, Esta perspectiva assume, ainda, que os relatos seguemregras e tradicoes, nao sendo isentos de valores e, por isso, nao sao objeciivos, Umaoutra crenca que suporta estas metodologias qualitativas e a de que nao e possivel teracesso a uma realidade extern a sem ter em conta as caracteristicas do observador e asmetodologias de observacao,Segundo Denzin e Lincoln (1994), a investigacao qualitativa tern ja uma longahistoria que pode ser compreendida em cinco momentos diferentes. Nurn primeiroperiodo, que se iniciou por volta do ana 1900 e que decorreu ate 1950, designado porperfodo tradicional, os investigadores das areas da sociologia e antropologiacomecaram a utilizar os metodos qualitativos para estudarem diferentes gruposhumanos, fazendo relatos objectives que eram descritos segundo os valores da culturaocidental. Este posicionamento tinha subjacente 0 principio que ha formas deconhecimento que sao superiores as outras e mais proximas da verdade, e que esta"verdade" poderia ser escrita de modo "cientifico''. Num segundo momento, designadopor modernismo, que se situa entre 1950 e 1970, a preocupacao continuou a centrar-sena procura do rigor, de tal modo que as alternativas de investigacao qualitativaspropostas continuam a orientar-se pelos principios de validade defendidos pelasmetodologias ql1antitativas, ainda que os objectos estudados fossem privilegiadamentedefinidos pela diferenca (e.g. estudo das comunidades homossexuais). 0 terceiromomenta foi designado por generos misturados precisamente por representar urnperiodo de emergencia de diversidade de paradigmas, metodos e estrategias, motivadapela crise social, politica e de valores que dominou os fins dos anos 60. Urn quartomomento, designado por crise da representacao, decorreu entre 1986 e 1990,sublinhando 0 questionamento dos criterios de validade, generalizacao e fidelidade dainvestigacao qualitativa. As teorias interpretativas ganhararn neste perfodo maiorimportancia e desafiaram cada vez mais a nocao de verdade absoluta.

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    A partir dos anos 90, a investigacao qualitativa tern recebido maisaceitacaoexpandindo-se a disciplinas em que tradicionalmente nao foram tao utilizadas, Paraalem disso evidencia-se urna tendencia para ler as teorias em termos contextuais elocais, a amplitude das teorias e de menor escala, as teorias sao para problemas esituacoes especfficas,Embora se possam diferenciar fases em que predominam determinadasorienracoes, cada momenta historico ainda actua no presente, existindo urn maiorleque de. escolha dentro das metodologias / paradigmas e estrategias, Actualmentereconhece-se a existencia de momentos de descoberta e re-descoberta, a investigaeaonao e vista como neutra ou objective, estuda-se os fenomenos no seu meio natural, ainvestigacao e entendida como urn processo interactivo, dependente do poder e dosvalores.Apesar da crescente aceitacao e abertura a investigacao qualitativa,esta sofreue continua a sofrer algumas resistencias por parte dos investigadores mais tradicionaisdescrentes e criticos dos estudos qualitativos. as investigadores qualitatlvos foramapelidados de Soft Scientists, e a investigacao qualitativa foi considerada como urntrabalho nao cientffico, exploratorio, inteiramente pessoal, com muito vies, como urndesafio a razao e a verdade. No outro extremo, alguns autores tern vindo a chamar aatencao para a necessidade de a psicologia se libertar da "ortodoxia metodologica"(Valsiner, 1991), ou da "narrativa progressiva" (Gergen & Gergen, 1986), que daoorigem a modelos e estrategias empfricas cada vez mais abstractas e refinadas, mascada vez mais distantes do ser humano. A este proposito, podemos lembrar as palavrasde Wittgenstein (citado por Santos, 1993, p. 137) "Sentimos que mesmo depois deterem sido respondidas todas as questoes cientfficas possiveis, os problemas de vidapermanecem completamente intactos". Esta necessidade de uma reformametodologica, correspondera a defesa da substituicao da "artilharia metodologica" comque as ciencias sociais e humanas se muniramseguindo os canones das cienciasnaturais, pelas estrategias qualitativas.A nossa postura, tal como defendeu Polkinghorne (1991), e de que estareforma nao deve corresponder a substituicao de uma verdade por outra. Ainvestigacao qualitativa nao deve ser entendida como superior a quantitativa, mas simcomo uma alternativa de que os investigadores podem dispor, permitindo estas duasmetodologias dar oportunidade de responder a questoes de investigacao diferentes,tendo consciencia que a escolha de metodos diferentes da origem a formas deconhecimento diferentes. Ao contrario da defesa de uma exclusividade metodologica,o panorama actual da investigacao permite escolher, sabendo que nao ha urn metodouniversal, ou que qualquer discurso tern urn lugar privilegiado. Estas metodologias naosao necessariamente incompatfveis, podendo mesmo set conciliadas em diferentesmomentos do processo de investigacao, obedecendo a principios de validacaodistintos. Como veremos posteriormente, as metodologias qualitativas seguem canonesde validacao diferentes, dando azo a uma reflexao sobre os criterios mais adequadospara julgar a validade desta investigacao e substituindo os significados de conceitoscomo validade, fidelidade e generalizacao,No ambito da investigacao qualitativa podemos encontrar uma diversidade deestrategias metodologicas, como por exemplo os estudos ideograficos, etnografia,etnometodologia, grounded theory, analise de discurso, analise da conversacao, analise

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    narrativa, etc. Cada uma destas metodologias olha para os dados qualitativos comquadros de referencia distintos dando por isso origem a formas de conhecimentodiferentes. 0Handbook of Qualitative Research (Denzin & Lincoln, 1994) constituiuma obra de referencia para os investigadores atraidos por estas metodologias,apresentando uma boa diversidade das alternativas disponfveis.

    Na area da psicologia,o percurso da investigacao psicologica cedeutradicionalmente a seducao das metodologias quantitativas, numa tentativa deaproximacao dos parametres da cientificidade das ciencias naturais. 0 metodocientffico, 0 rigor experimental, 0 controlo de variaveis bem operacionalizadas, aformulacao e verificacao de hip6teses tem orientado tradicionalmente a investigacao napsicologia. No entanto, e reportando-nos aos iiltimos anos, a investigacao qualitativatem recebido uma crescente aceitacao e reconhecimento por parte de investigadores emdiferentes areas de conhecimento psicologico', Apesar da forte tradicao dasmetodologias quantitativas na psicologia, a recolha de dados qualitativos nao e algonovo no contexto da investigacao nesta disciplina. 0 que parece ser mais inovador e 0valor e tratamento que estes dados qualitativos mereceram recentemente no ambito dainvestigacao em psicologia. De facto, sendo 0 objecto de estudo da psicologia 0comportamento humano, e este tornado nas suas dimensoes mais discretas ouinteractivas e hist6ricas, nao pode 0 investigador nesta area deixar de dar importanciaaos dados qualitativos que se relacionam com a experiencia, 0 discurso ou a hist6ria,mais com palavras do que com digitos. Como concluem Henwood e Nicolson (1995,p.109) "os dados qualitativos tern sido sempre uma parte do repert6rio metodol6gicoda psicologia".

    Procuramos enquadrar as metodologias qualitativas no ambito do percursohist6rico da investigacao, mas sendo este capitulo dedicado a grounded theory,passaremos agora a abordarestametodologia, comecando por falar acerca da suaorigem e objectivos e debrucando-nos depois sobre os procedimentos.Grounded theory

    A grounded theory surgiu ha rnais de 30 anos e, tal como outros modelos deinvestigacao qualitativa, teve a sua origem no contexto dos estudos sociol6gicos. Atradicao do interacionismo simb6lico ligada a Escola de Chicago teve como um dosseus aspectos distintivos a valorizacao do envolvimento do investigador no processode investigacao, ou seja, na forma como 0 investigador se ve neste processo e naocomo 0 mundo exterior se the apresenta (Layder, 1993). Como veremos mais tarde, osauto res da grounded theory van salientar esta dimensao na formulaeao do seu modelo,

    ele surgiq iguaimente como reaccao a sua insatisfacao com os modelosprevalecentes na sociologia (teorias de Merton, Parsons e Blau) pelo facto de seremdemasiado especulativos, isto e , nao terem uma relacao com 0 pr6prio processo deinvestigacao, apresentado-se com problemasQe.v~Iiclade por falta

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    A grounded theory foi proposta por Glaser e Strauss (1967) na obra Thediscovery of Grounded theory: Strategies for qualitative research. Esta obra apresentaainda sinais de alguma enfase numa epistemologia positivista, que podem serencontrados no proprio titulo e na crenca q u e " f f a n s m n e m " " " a e ' " ' q u e os resultados saoobtidos atraves do metodo da 4~,sobenfl e que esses resultados sao independentes doinvestigador. Importa referir que obras posteriores destes autores (Glaser, 1978;Strauss & Corbin, 1990; 1998) tern vindo a afastar-se do paradigma positivistaassumindo uma postura mais proxima do paradigma construtivistaBtrauss e Corbinfazem mesmo questao de sublinhar na obra editada em 1998 que "teQilza_~J!lDaftQq~Gonstru~aQ" (p. 25).A aplicacao da grounded theory a diferentes dominies de investigacao ternevidenciado esta postura por parte dos investigadores. Os diferentes estudos reflectemurn processo que e funcao do contexto e dos objectives de investigacao, criandoalguma diversidade na utilizacao desta metodologia. No entanto, apesar dadiversidade, os diferentes auto res que se debrucam sobre a grounded theory partilhamo abandono da crenca na existencia de uma verdade sobre uma realidade externa quepode ser descoberta, valorizando .as__fQ!!~,i!",,,&9,Dkt1{ltP.w.,!ism. g1J.e.os fen6menosocorrem, ou seja, a teoria e "enacted" num processo em que co-existern interpretacoesde TIiilltiplos actores. Como afirma Rennie (1998, p. 101) a grounded theory tern umalogica de justificacao hermeneutica "envolvendo uma reconciliacao do realismo com 0relativismo e uma teoria nao fundamentalista de verdade, sendo por isso atractiva paraquem prefere mergulhar nos dados antes de se lancar para a teoria".o facto de os I?~2I&.os terem ~~E()!!C:l.~oS!~._~m()!!~.!9e investigac;ao estarelacionado com 0 facto de a grounded theory, e contranamente aos metodos que talcomo este tinham surgido antes na sociologia, se C~!!~!C:l.Lnaimensaohumana da.,sQfi.~gaQ.e,nElLsignincCiQOSque as pessoas atribuem as suas vidas e nos~.~~t()s )S1!~j~2!ivg~",davida social (Layder, 1993). Julgamos que esta preocupacao esta mais Iproxima das actuais preocupacoes da psicologia relativamente a compreensao da lexperiencia e da construcao de significados. Uma outra razao da sua crescente )aceitacao na psicologia decorrera do facto de haver urn paralelismo na ruptura entre 0positivismo e 0 pos-positivismo na investigaeao sociol6gica e psicologica, Ao verpostos em causa os canones das ciencias naturais sobre os quais se tinha baseado apsicologia cientffica, foi possivel valorizar perspectivas te6ricas e de investigacao quetinham sido afastadas pelo paradigma dominante. Esta metodologia veio contribuirassim para dar resposta as necessidades de investigacao mais coerentes com osparadigmas p6s-modernos na psicologia,A grounded theory, enquanto metodologia qualitativa, partilha os principiosontologico e epistemoI6gico que referimos anteriormente acerca das metodologiasqualitativas. Apresenta, por isso, algumas similaridades com outras metodologiasqualitativas, nomeadamente quanta aos materiais que podem ser analisados, comoentrevistas, observacoes de campo assim como documentos de todos os tipos (diaries,cartas, autobiografias, biografias, relatos hist6ricos, jornais, videos e outros materiaisdos media), entre outros. 0 grounded teorist, tal como outros investigadores-qualitativos, assume a r~nsa_bni

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    Existem, no entanto, algumas diferencas em relacao a outras metodologiasqualitativas. Uma delas, como veremos posteriormente, e a possibilidade de osprocedimentos de grounded theory poderem combinar tecnicas qualitativas equantitativas. Uma outra diferenca e a centracao desta metodologia na construcao (enao na verificacao) de teoria.Porque a nocao de teoria e central e distintiva neste metodo, procuraremos aquitransmitir 0 que e que os autores que se tern debrucado sobre a grounded theoryentendem por "teoria". Teoria e diferente de uma descricao de dados, constmindo-secom base num conjunto de procedimentos de conceptualizacao e no estabelecimentode relacoes plausfveis entre conceitos e conjunto de. conceitos. Os investigadores dagrounded theory nao estao interessados em criar teoria sobre os acto res individuais,mas sobre os padroes de accao e interaccao entre varies tipos de unidades sociais,sobre processos decorrentes das mudancas nas condicoes quer internas, quer externas,ao fenomeno em estudo. Por isso, a teoria baseada nesta metodologia e informada porurn modelo paradigmatico (Strauss & Corbin, 1990) que especifica as consequencias econdicoes particulares do fen6meno; e ela toma-se preditiva no sentido em que seocorrerem condicoes similares, poderao ocorrer consequencias similares.Apesar de a complexidade conceptual desenvolvida no processo de groundedtheory permitir niveis de abstraccao, as teorias sao sempre traeaveis aos dados que lhesdao origem, dentro do contexto interactivo da colecta e analise dos dados, em que 0investigador e tambem urn interactuante significative. As teorias compreendem apossibilidade da exploracao de cada nova situacao para ver se se adequam, como sepodem adequar e como podem nao se adequar, exigindo uma abertura do investigadorpara 0 caracter provisorio de qualquer teoria.ometodos Grounded Analysiso metoda da grounded theory consiste num conjunto de procedimentossistematicos e rigorosos de analise de dados, organizados numa sequencia que tendepara uma maior complexidade e integracao. Neste ponto, restringir-nos-emos a fazeruma descricao muito sumaria e geral dos tipos de procedimentos analiticos (groundedanalysis) inerentes a cada fase desta sequencia, atendendo a especificidade de cadaprocedimento .e a complexidade de todo 0 processo de analise e tomando comoreferenda as indicacoes de Strauss e Corbin (1990; 1998). Para uma aprendizagem eaprofundamento deste metodo, aconselhamos 0 leitor a consultar as fontes dos seusautores originais (Glaser & Strauss, 1967; Strauss & Corbin, 1990; 1998) bern comode outros autores de referencia no uso desta metodologia (Rennie, Phillips &Ouartaro,1988; Charmaz; 1990, 1997; Henwood & Pidgeon, 1992).Como referimos antes, a metodologia da grounded theory tern como objectiveultimo gerar teoria que e construida com base na recolha e analise sistematica erigorosa dos dados e na orientacao dos investigadores atraves de um processo indutivode producao de conhecimento. Com efeito, se, por urn lado, os procedimentos dagrounded theory sao bem definidos no sentido de conduzir a interpretacao com rigor eprecisao, por outro permitem a criatividade necessaria a ocorrencia de urn dosprincipios basicos na construcao de teoria: a interpretacao e conceptualizacao dosdados. A criatividade suporta a sensibilidade te6rica, ou seja, a capacidade para darsentido e significado aos dados, e estimula a formulacao de questoes, sendo assim

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    tambem favoravel ao metodo de comparacao constante que, como veremos, e urn"instrumento' central ao longo de todo 0 processo. Durante 0 processo dequestionamento e importante que 0 investigador se preocupe com p d~esenyQ!y!m~!l:!9dll~~.~ibili?af!~,JeQ!i~, de modo a criar aberturapara desafiar os propriospressupostos, aprofundar a experiencia e olhar para alem da literatura. As Ieituras"cientfficas r t a experiencia e conhecimentos do investigador sao, segundo Strauss e .Corbin (1990), algumas das fontes desta sensibilidade, embora sugiram varias tecnicas tpara se desenvolver 0processo de questionamento tao caro a g ro un de d th eory . ".!,

    Definictio do problema de investigafiioo primeiro passo para se iniciar uma g ro un de d an alysis e q~!!!!!I9J?!91:Jl~maou a~.9~~~~t~~J_!!~_2E~~'!!!~!~9,(lj!1Y~~lig(;l~~0.mbora ocorra numa fase muito inicial, eimportante nao descurarmos os cuidados que merece. 0 uso desta metodologia podeficar comprometido, logo de inicio, pel a !Q!!!l~'i.~QmQ."~,QIQ,camQs,~.,~'i.,,,queSUles.!?~~::!g~~o~::~m~~~ f:Z:~t~3~~~0i!~Q~~I:nia~~:;:!~Q~~~~i:17~;Wo~,~~!~~if.g~

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    Constructio da amostraOs estudos que usam a metodologia da grounded theory, constroem umaamostra teorica, ou seja, a amostra vai sendo definida pel a propria analise e naoseleccionada na Integra previamente. Na pratica, vai-se diferenciando em funcao dasquestoes e ideias que vao surgindo durante a analise, nao se tratando de uma amostrarepresentativa das caracterfsticas dos participantes, mas uma amostra II relevante" parao fenomeno em estudo, que pretend e ser representativa das variacoes e tipicidades dofenomeno , e que, por isso, e dirigida intencionalmente pelo processo de analise dedados (Strauss & Corbin, 1990). Por exemplo Matos e Goncalves (2000), ao usarem agrounded theory para estudar os processos de construcao da identidade da mulherassociados a violencia conjugal, utilizaram dois grupos contrastantes de mulheresvitimas demaus tratos Ga em processo de divorcio ou em inicio da procura de ajuda)com variedade de posturas face a experiencia de vitirnizacao,Embora 0 mimero de pessoas ou casos utilizados dependam do acesso, tempo erecursos disponiveis, para satisfazer os requisitos da construcao de uma amostrateorica 0 procedimento adequado e ir analisando as entrevistas a medida que elas saorealizadas, terminando quando se atinge uma saturacao teo rica, ou seja, quando ascategorias encontradas comecam a estabilizar e os casos novos nao trazem nada denovo ao investigador,

    Procedimentos de codificagiioPodemos distinguir na grounded analysis tres tipos de codificacao: aberta, axial

    e selectiva. 0 proced im e nto de codificaciio aberta consiste na "4ecomposi~0, analise,C

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    o passo seguinte consiste em agrupar os conceitos em categorias. A construcaodestas categorias resulta do estabelecimento de relacoes de similaridade entre conceitosque parecem associar-se ao mesmo fenomeno. A associacao de cada conceito a umacategoria nao so e provisoria, como nao e mutuamente exclusiva, ou seja, 0 mesmoconceito pode associar-se a outros conceitos para integrar diferentes categorias. Assim,o nome atribuido a categoria conceptual deve ser mais .abstracto, de forma acompreender os conceitos mais especfficos que com ela se relacionam,o processo que conduz dos conceitos as categorias conceptuais a ssen ta denovo na alternancia entre 0 questionamento e a comparacao, Strausse Corbin (1990)sugerem duas formas de proceder neste processo de categorizacao conceptual, e quesao, ou questionar cada urn dos conceitos, ou questionar a totalidade com quest6es dotipo: 0 que" e isto? ou A que tipo de fenomeno pertence'l, identificando relacoes desimilaridade e contribuindo para a construcao de categorias abstractas. Neste processode questionamento e comparacao constante, 0 investigador identifica relacoes desimilaridade que unem alguns conceitos e que, ao serem nomeadas, formam umacategoria conceptual. A nomeacao da categoria pode surgir quer por influencia dosconceitos identificados e da sua ligacao lexical aos dados, quer da sensibilidade teoricado investigador, ou ainda remeter para outros significados frequentemente veiculadosna literatura. Neste ultimo caso e importante clarificar 0 significado que a categoriaassume no estudo em causa, e diferencia-lo dos significados tradicionalmenteassociados. No entanto, 0 procedimento de conceptualizacao e urn pouco maiscomplexo do que nomear. Identificar uma categoria exige a sua especificacao, ou seja,implica a definicao das suas caracteristicas no contexto do fenomeno em estudo, Deacordo com o metodo da grounded analysis, definir uma categoria passa por identificarpropriedades bern como as suas respectivas dimens6es. As dimens6es definem urncontinuo da propriedade em relacao a qual 0 fenomeno se posiciona. ,.~

    A codificacao aberta centra-se quer na identificacao de categorias, quer naldefinicao flexivel de propriedades e dimens6es. Tanto as propriedades como asdimensoes sao aspectos importantes para 0 estabelecimento de relacoes entre asrespectivas categorias e contribuem, portanto, para a identificacao de uma categoria denivel mais abstracto, em fases posteriores. A definicao de propriedades e respectivasdimens6es permite, com a continuidade do processo de analise sobre nov osacontecimentos, identificar perfis para as categorias e, eventual mente, definir perfispadronizados. Este processo de identificacao de propriedades e dimens6es podecomplexificar-se em diferentes niveis hierarquicos, dando origem a uma estruturaconceptual complexa e densa. De qualquer forma, esta deve ter possibilidade de serverificada nos dados analisados.o processo da grounded theory sup6e que cada propriedade (sendo eia propriauma categoria) pode ter em si propria as suas sub-propriedades (ou caracterfsticas),cada uma delas susceptivel de ser dimensionalizada. Por exemplo, num estudorealizado por uma das autoras, a propos ito das rnemorias dos terapeutas (Fernandes,1999), uma das categorias inserida no dominic da experiencia dessa memoria noambito da sessao terapeutica era resposta interna. Esta categoria tinha diferentespropriedades (ou caracterfst ias): cognitiva, emocional, sensorial. Cada uma destaspropriedades tinha dimens6es especificas. A dimensao cognitiva poderia definir-senum continuo entre a complexidade e a simplicidade cognitiva; a dimensao emocional

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    poderia situar-se num continuo entre a emocionalidade positiva, neutra ou negativa;enquanto a propriedade da experiencia sensorial definia-se num continuo entre intensae leve,Segundo Strauss e Corbin (1990), a identificacao das propriedades pode fazer-se por urn processo de questionamento dedutivo, partindo de propriedades gerais eposterior verificacao junto dos dados relativos ao fenomeno em estudo, ou por urnprocesso de questionamento indutivo, Identificando e notando no discurso ou relatosanalisados as propriedades das categorias que remetem para 0 seu posicionamento numcontinuo dimensional. Por exemplo, quando urn adolescente diz: "vou passar grandeparte das minhas ferias a passear", grande parte remete para uma dimensao temporalque caracteriza a categoria ferias.Dependendo do objective subjacente ao estudo, 0 investigador pode parar a suaanalise nesta fase, se, por exemplo, 0 objective for apenas identificar temas sobre 0assunto em estudo. No entanto, Strauss e Corbin (1990) advertem para a necessidadede continuar 0 processo de analise se se pretender fazer urn "verdadeiro" estudo degrounded theory, ou seja, construir teoria. Em suma, 0 processo da codificacao abertaassenta num questionamento constante dos dados, na conceptualizacao das respostasencontradas, voltar atras no sentido de detalhar as analises efectuadas e especificar ascategorias construidas, questionando e verificando ate i t saturacao deste processo.Tal como referimos antes, esta metodologia permite a articulacao com metodosquantitativos. Rennie, Philips e Quartaro, (1988), dao indicacoes sobre as formas derealizar estes procedimentos. Por exemplo, a identificacao da categoria central desta

    fase, especial mente numa perspectiva mais classica da grounded theory, pode decorrerda quantificacao das relacoes que ela estabelece com as outras, permitindo definir umaestrutura hierarquica a partir da frequencia dessas relacoes entre categorias. Foieste 0procedimento utilizado por Fernandes (1993).A codificadio axial e urn outro procedimento que, em geral, decorre numa faseposterior a codificacao aberta, Ela consiste num conjunto de procedimentos atraves dosquais os dados ja conceptualizados sao reorganizados com base no estabelecimento deligacoes entre as categorias, indo para alem das suas propriedades e dimensoes. Istosignifica que e um procedimento que permite a especificacao das categorias queemergem da codificacao aberta em termos de urn conjunto de condicoes que the daosuporte e precisao, salientando uma das categorias como representando a ideia centrale em rela

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    codificacao aberta surjam diversas categorias que nao denotam necessariamente umacondicao, uma estrategia ou uma consequencia. Assim, a identificacao destascondicoes pode exigir um esforco de orientacao do investigador.Em suma, este modelo paradigmatico organiza as diferentes categoriasanteriormente identificadas na codificacao aberta, estabelecendo relacoes entre elas.Neste recurso constante ao questionamento indutivo sobre os dados e as categoriasentretanto codificadas, define-se 0 fen6meno de estudo. Para 0 estabelecimento destasrelacoes e atribuicao de condicoes especificas a determinadas categorias, 0investigador recorre de novo aos procedimentos analiticos inerentes a codificacaoaberta, ou seja, questionamento sistematico dos dados e cornparacao constante entreconceptualizacao e dados, 0 questionamento deve reenviar para a natureza relacionaldo vinculo potencial entre as categorias. As categorias construidas para definir estasrelacoes devem ser referenciadas ao modele axial, e devem ser verificadas emconfronto com os dados. Para alem disso, se esta codificacao axial tern na sua baseuma codificacao aberta, cada uma das categorias que representam estas condicoesorganizadoras tambem podem ter propriedades e dimensoes, a que 0 investigador devecontinuar a dar uma atencao, permitindo a renovacao da estrutura conceptual jaconstruida quando outros acontecimentos novos sao analisados.Do mesmo modo que na fase da codificacao aberta, nesta fase 0 investigadordeve estar atento a diversidade de padroes que emergem da codificacao axial, e notar adiversidade ou desvio da tipicidade, tomando-os como indicadores titeis para 0 estudoda variabilidade do fenomeno ou do que no ambito do fenomeno em estudo ediferente. Este sera entao mais urn momenta de enriquecimento da amostra te6ricacujo desenvolvimento vai acompanhando a analise de grounded theory. Comoafirmam Strauss e Corbin (1990, p.109) "seguir atraves das diferencas acrescentadensidade e variacao a teoria".Embora a codificacao aberta e a codificac;ao axial sejam procedimentos deanalise distintos, durante 0 processo global de analise 0 investigador altema entre estesdois tipos de procedimentos. De facto, durante 0 processo de codificacao axial 0investigador move-se constantemente entre 0 pensamento indutivo e dedutivo. Se, porurn lado, 0 investigador define categorias que subentendem uma relacao entre outrascategorias, por outro tern de proceder a urn movimento de verificacao destas relacoesjunto dos dados. Portanto este processo de estabelecimento de relacoes entre categoriasinerente a codificacao axial tambem obedece ao principio do metodo de comparacaoconstante, pelo que as construcoes sao sempre provis6rias. E esta estrutura hierarquicadas categorias, definida por relacoes diferenciadas e complexas, que da suporte a teoriaconstruida com base nos dados analisados. Na figura 1, procuramos representar 0resultado hipotetico de uma codificacao axial acerca do fen6meno "tristeza".

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    Metodos e tecnicas de avaliacao: Contributos para a pratica e investigacaopsicologicas

    FenomenoTristeza

    Condicoes causaisConflito interpessoalPropriedades do conflito

    cumulativorepentinoverbal

    Contexto da tristeza56 e em casa, com pouca ocupacao, nos dias cinzentos

    Estrategias para lidar com a tristezaajuda psicoterapeutieatelefonema a uma col ega

    comer chocolate e fazer compras

    ConsequenciasParalisia

    isolamento social

    Dimensiies especificas do isolamentoIntensidade: altaDuracao: continuainfcio: precoce

    Condiciies intervenientesbaixa auto-estima

    falta de suporte socialpassividade

    Consequenciasmaior fragilidademaior inseguranca

    Figura 1: Exemplo de uma codificacao axialA codificaciio selectiva (categorizacao hierarquica lestabelecimento derelacoes, identificacao de categorias centrais) consiste num processo de seleccao dacategoria central, ou seja, do fenomeno a volta do qual todos os outros sao integrados.Embora nao sendo muito diferente da codificacao axial, este processo de codificacao ede nivel mais abstracto, derivando do estabelecimento de um relacionamento

    sistematico entre a categoria central e as outras categorias, e pela validacao destasrelacoes. E nesta fase que 0 investigador constroi a hist6ria ou narrativa descritiva dofen6meno central de estudo.

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    Depois de analisar e codificar os dados que sistematicamente e de urn modoinformado pela analise vao sendo recolhidos, 0 investigador confronta-se com tarefa deintegrar as categorias na forma de teoria. Esta integracao exige de novo 0 recurso aometodo da comparacao constante, incidindo nesta fase sobre as propriedades edimensoes das varias categorias ja organizadas por meio do modelo paradigmatico.Durante este processo de comparacao, 0 investigador continua numa atitude dequestionamento a formular concepcoes acerca do fenomeno em estudo, que precis amde ser validadas.Strauss e Corbin (1990) sugerem urn conjunto de o rie nta co es ' para proceder a~~~P~;~~::~,_~:~:~:i:~,rj:,~~~~~t~l,o d:::r~ir~s ~ ; : i : ~~~::~~s'*}~''''~~%frt~aas:no sentido de explicar 0 que aqueles autores identificam como "a linha da historia",Vma forma de identificar a categoria que representa 0 fenorneno e contar uma historiaescrevendo algumas linhas sobre 0 essencial da historia, procurando responder a"}questoes como: 0 que parece mais importante na diversidade de categorias? Qual melparece ser 0 problema principal? Trata-se, portanto, de um a fase de seleccao e Idescricao geral do foco mais importante ou saliente ao longo da analise dos diferentes'relatos. 1-~,g,,,,~t.a,,,,,d.~s,cJ;iGao,i,!!Y~,~"~S,~2S~!J?_

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    (" Precipitante Resposta Objectivo Ac~6es Resultado Fiminterna

    Espac;;o. Perda/ Incredulidade, Compreender e Paralisia, Prostracao e Fragilidadeintetior/casa decepc;;ao tristeza, raiva aceitar situac;;ao isolamento, abandono

    choro__j_ 1-

    A noffcia foi-me dada inesperadamente quando estava em casa, Essa pessoa tinha acabado de morrer. Assaltou-me urnsentimento de incredulidade. Nao poderia ser verdade 0 que acabava de ouvir. Quando la cheguei percebi que era defacto verda de. Fiquei paralisado a procurar perceber 0 que se estava a passar, tentando a todo 0 custo aceitar a notfcia.Comecei entao a sentir uma profunda tristeza acompanhada de uma grande revolta. Foi entao que decidi ficar sozinho ecomecei a chorar. Estava so, triste e tambem revoltado. Nao me apetecia fazer nada, mas simplesmente ficar sozinhonaminha tristeza a procurar aceitar e compreender a situac;;iio.Fiquei com a sensacao de que 0mundo desabava sobre mimdeixando-me apertado contra mim proprio, incapaz de dar urn passo que fosse. Desde esse momento senti-me mais emais fragiJ para enfrentar 0mundo, com uma grande vontade de desaparecer.Figura. 2- Exemplo de codificacao select iva na construcao de uma narrativa

    o relacionamento das categorias ao nfvel dimensional e a validacao destasrelacoes, no confronto com os dados, constituem outras duas sugestoes. Ainda queposteriormente voltemos a abordar esta questao de validacao, referimos ja que validaras relacoes pode implicar que 0 investigador se envolva num processo dequestionamento centrado na aplicabilidade da construcao conceptual aos relatos decada participante. Por fim, os autores recomendam que se de atencao a necessidade decompletar as categorias que possam precisar de urn maior refinamento edesenvolvimento.Por mais complexa e densa que seja a construcao conceptual subjacente anarrativa construida, nem sempre eia consegue esgotat a complexidade e variabilidadeobservada nos dados. A construcao de padroes e uma das formas de organizar estadiversidade. Jit na codificacao axial 0 investigador vai anotando algumas redundanciasquando estabelece relaeoes entre categorias ao nivel das propriedades e dirnensoes. 0recurso constante a questoes e comparacoes numa atitude de suporte a construcao everificacao permite sistematizar e solidificar as conexoes que 0 investigador faz. Eneste processo que 0 investigador chega a identificacao de padroes que resultam daidentificacao da variabilidade ou consistencia das propriedades e dimensoes dascategorias. A organizacao e apresentacao destes padroes e sequencias narrativas podeser feita quer atraves de diagramas, quer atraves de narrativas orientadas pelo modeloparadigrnatico,Em suma, os estudos de grounded theory sao orientados para a organizacao deuma sequencia de accoes e para a compreensao de urn processo, que nem sempre eexplicitado na analise. 0 proprio modelo paradigmatico que os autores da groundedtheory propoem para organizar as relacoes entre as categorias sugere uma naturezadinamica e processual da teoria construfda, No entanto, nem sempre no decorrer daanalise subjacente as codificacoes aberta, axial e selectiva 0 processo emerge, podendoser necessario analisa-lo intencionalmente. Alguns fenomenos, como os que apsicologia estuda, justificam e ficam beneficiados com uma analise de grounded

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    theory focalizada na analise do processo. Por exemplo quando se estuda questoesrelacionadas com mudancas ou desenvolvimento, a analise do processo deve serintencionalizada. Neste caso 0 investigador deve identificar as condicoes e accoescorrespondentes que movem 0 processo, identificando os pontos de viragem, Paraalem desta descricao do movimento 0 investigador deve tambem estar atento asvariacoes do processo atraves das fases e estadios, Mesmo quando a categoria central eformulada de uma forma dinamica, deve ser tratada como qualquer fenomeno central edeve ser desenvolvida em termos de paradigma.Para finalizar, gostariamos de salientar algumas ideias que nos parecemcentrais e se tornam cada vez mais claras a medida que aprofundamos os estudos degrounded theory. Uma das primeiras ideias refere-se ji escolha e utilizacao dosprocedimentos, 0 que ocorre normal mente num percurso de analise sequencial deprocedimentos mais simples de codificacao para procedimentos cada vez matscomplexos de organizacao e integracao das analises anteriores. Embora as tenhamosapresentado numa sequencia cumulativa, tal como sao deseritos por Strauss e Corbin(1990), temos vindo a verificar que elas podem ser usadas de modos distintos. Osproprios autores sugerem que estas fases podem ser alternadas ou recorrentes e que naotern que ser sempre todas usadas. E, de facto, especialmente na investigacao empsicologia, nao so frequentemente elas nao se organizam sempre numa sequencialinear, como podem mesmo funcionar como procedimentos de analise independentes(Rennie, Phillips & Quartaro, 1988), ou seja, temos verificado, na consulta de diversosrelatos de investigacao em psicologia com referencia ao uso da grounded theory, queos diferentes investigadores constroem e seleccionam procedimentos especificos emais relevantes para os seus objectivos e objectos de estudo. Esta atitude deinvestigacao se, por urn lado, pode ser criticada e entendida como irreverente face assugestoes classicas da grounded theory, indica tambem alguma flexibilidade eevolucao das respostas que esta metodologia oferece. Esta particularidade econtextualizacao do usa desta metodologia surge como uma resposta possivel paralidar com 0 dificil problema da integracao conceptual que a grounded theory coloca,De qualquer modo e essencial estudar e compreender bern todos os procedimentosantes de realizar a analise. Diesing (1971, p.14, citado por Strauss & Corbin 1990, p.59) defende que "os procedimentos nao sao mecanicos e automaticos, nem constituemurn algoritmo garantido para dar resultados. Eles tern de ser aplicados comflexibilidade de acordo com as circunstancias. A sua ordem pode variar e asalternativas estao disponfveis em qualquer fase". Na pratica, os seus usos variam comas especificidade da area sob estudo, 0 proposito e 0 foco da investigacao, ascontingencias encontradas durante 0 projecto e talvez aspectos particularesrelacionados com a sensibilidade teorica e a abertura do investigador. Com aexperiencia, os investigadores reconhecem que as informacoes e recomendacoes aproposito dos procedimentos da grounded theory recebidos, quer nas obras dereferencia, quer em sessoes de formacoes, sao orientacoes importantes mas requeremalguma adaptacao as circunstaneias particulares. Apesar desta abertura e aceitacao daflexibilidade no usa dos procedimentos, os autores de referencia para esta metodologiaacreditam que 0 desenvolvimento e a conceptualizacao da grounded theory nao mudounos seus elementos centrais, especial mente no respeito pelo questionamento ecornparacao constante.

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    Uma outra ideia que gostariarnos de salientar, e que se torna mais clara amedida que prosseguimos e aprofundamos os estudos de grounded theory, e a ideia dagrande complexidade subjacente aos seus procedimentos. Esta complexidade deriva docaracter provisorio dos resultados da analise que exige ao investigador 0 cuidadoconstante de verificacao da analise junto dos dados. Quando 0 investigador secompromete com urn estudo com esta metodologia, compromete-se com urn percursode analise sujeito a novidade que 0vaivem entre os dados e a analise pode trazer, e queinclusivamente pode exigir a reformulacao das analises ja efectuadas anteriormente.Urn dos princfpios que caracteriza este metodo, e que esta na base de qualquerprocedimento, desde os procedimentos de codificacao aos procedimentos deintegracao, e 0 metodo de comparacao constante, que se define por urn movimentoentre um questionamento constante e recursivo a proposito dos dados que saorecolhidos e a comparacao constante entre as respostas que sao encontradas para asquest6es e os dados que as suscitaram. Para alem disso, este metodo da cornparacaoconstante tern em consideracao uma dimensao de temporalidade da analise, exigindouma cornparacao entre a conceptualizacao que vai sendo construida e os dadosrecolhidos nos diferentes momentos do processo de analise, informando a propriarecolha de dados, na medida em que 0 resultado da analise de dados ja recolhidosinforma sobre a necessidade de outras fontes de dados pertinentes para a clarificacao eespecificacao da analise ja realizada. Por exemplo a recolha de casos contrastantes oude casos negativos (que contrariam os padr6es que vao sendo construfdos) pode ser urnprocedimento que enriquece a teoria construida pois contribui para a cornpreensao dasua variabilidade. Mas toda esta complexidade dificulta por vezes as conclusoessimples e claras e exige alguns cuidados que 0 investigador deve ter, nomeadamentecom a escrita dos estudos. Para alem disso, toda a complexidade causa nosinvestigadores iniciados muita inseguranca e confusao. A este proposito Strauss eCorbin (1990) aconselham 0 estudo e treino previo dos procedimentos, bern como asupervisao de investigadores mais experientes com 0metodo.Todos estes procedimentos podem ser utilizados com a ajuda de software. Autilizacao de software como um instrumento titil para as analises qualitativas remontaaos anos 60 quando os investigadores da area da literatura os usaram para finsestatfsticos do tipo contar 0mimero de vezes que uma determinada palavra aparecia naobra de urn autor (Seale, 2000). Nestes estudos eles apresentavam a vantagem derealizar a tarefa de uma forma muito mais rapida, So a partir dos anos 80, com aevolucao dos computadores pessoais e 0 desenvolvimento rapido de softwares,surgiram programas suficientemente rigorosos e flexiveis, constituindo urn auxilio asofisticacao das analises qualitativas. Flick (1998) refere a existencia de mais de 25programas, aindd que reconheca que muitas vezes nao e claro 0 que e que algunstrazem de novo. Seale (2000) identifica como principais vantagens da utilizacao deanalise de dados qualitativas assistidas por computador (ADQAC) a rapidez, 0 rigor, afacilitacao do trabalho em equipa pelo desenvolvimento de esquemas de codificacaoconsistentes; e a ajuda nas decis6es de amostragem, por assegurar que todos os casosrelacionados com urn fenomeno serao incluidos na analise. Abordamos brevementetres programas de software que podem ser utilizados como auxilio da realizacao degrounded analysis: 0 ETNOGRAPH, 0NUD*DIST eo ATLAS.

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    o ETNOGRAPH (http://www.QualisResearch.com) surgiu nos anos oitenta efoi urn dos primeiros programas a ser desenvolvido para auxiliar nas analisesqualitativas. Uma das razoes do seu sucesso deveu-sea sua simplicidade. Exige, comoos outros programas, que os dados entrem a partir de processamento de texto, e umavez importado, as linhas sao numeradas. As codificacoes dos segmentos de texto ficamassociadas a esses mimeros, permitindo ainda .associar memos. Por outro lado tambempermite fazer analises seleccionando so um interlocutor de entrevistas, ou em funcaodas caracterfsticas das entrevistas (selecciona algumas entrevistas, mas outras nao) (cf.Seale, 2000).o NUD*IST (http://www.qsr.com.au) surgiu mais tarde do que 0ETNOGRAPH, e foi sempre mais completo do que 0 seu antecessor, mas e maiscomplicado para aprender. Permite que os resultados de procuras anteriores sejamarmazenados e sejam encontrados em procuras posteriores, bern como comentarios queo investigador faca na sua interaccao com os dados podem ser guardados e entraremposteriormente em pesquisa, oferecendo igualmente uma apresentacao visual dacodificacao numa estrutura hierarquica em arvore, que vai mudando a medida que acodificacao vai evoluindo. Este programa tern sido utilizado por alguns investigadoresda Universidade do Minho (e.g. Matos & Goncalves, 2000).o ATLAS foi desenvolvido especificamente para apoiar a investigacaorealizada com base na grounded theory, e baseou-se na obra de Strauss (1987). E urnprograma sofisticado, e permite a utilizacao de palavras, mas tambem de imagens ,Permite ainda criar diagramas conceptuais, que representam ligacoes entre ideias quevao surgindo. Tern interface com 0 SPSS e outros programas estatfsticos,mas paraalguns utilizadores a sua sofisticacao pode nao justificar a sua complexidade (cf. Seale,2000; Flick, 1998).Estes e outros programas podem ajudar, por arquivarem os comentarios e ascategorias que 0 investigador vai associando aos dados. No entanto, e 0 investigadorque tem de realizar 0 trabalho criativo e sistematico de procurar conceptualizar osdados. Alias na escolha do suporte informatico 0 investigador deve avaliar quais assuas potencialidades, nomeadamente quais as suas funcoes especfficas (e.g ..codificacao de dados, pesquisae organizacao, memoing, construcao de matrizes,construcao de redes, construcao de teoria) e a sua adequacao aos objectivos e analisesplaneadas para 0projecto de investigacao.Exemplo de um estudo segundo os procedimentos da grounded theory

    Neste ponto apresentaremos um estudo de investigacao com 0 propos ito deexemplificar a utilizacao dos procedimentos da grounded theory. Atendendo acomplexidade que a descricao de urn estudo de grounded theory exige, informamosque a apresentacao que aqui faremos sera muito simplificada, Alem disso, 0 leitorpodera notar que a aplicacao desta metodologia a urn domfnio especffico, ainvestigacao em psicoterapia, privilegiou a opcao por alguns procedimentos dosanteriormente apresentados.No estudo realizado por Fernandes (1999) sobre a co-construcao empsicoterapia, a autora pretendia estudar como as memorias do terapeuta eram activadaspelo processo de recordacao do cliente, durante a sessao psicoterapeutica, bern comocompreender a experiencia subjectiva destes episodios terapeuticos.

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    Para prosseguir este objectivo foram realizadas entrevistas a 18 psicoterapeutascom formacao no "modelo de psicoterapia cognitiva narrativa" (Goncalves, 1998).Estes participantes foram seleccionadoscom base num criterio teorico, ou seja arelevancia da sua formacao narrativa (em particular 0 treino na atitude de recordacaonarrativa) para 0 processo de co-construcao terapeutica, que se procurava explorar, 0grupo de participantes comecou por integrar psicoterapeutas com formacao e praticacom 0 referido modele, sendo progressivamente alargado aos terapeutas recemformados (sem pratica) no mesmo modelo. Este alargamento teve em consideracao 0facto de ambos os subgrupos de terapeutas poderem constituir-se como gruposcontrastantes relativamente ao criterio teorico (desenvolvimento de uma atitudenarrativa) inerente a construcao da amostra e, portanto, permitirem definir quer atipicidade, quer a variabilidade na co-construcao narrativa.

    As entrevistas focalizaram-se na identificacao de episodios mnesicos doterapeuta durante a sessao terapeutica em analise, e por meio de urn procedimentometodologico especffico, 0 processo de recordaciio interpessoal, foram estruturadasde acordo com uma estrutura narrativa. Assim, 0 guiao daentrevista compreendiaalgumas questoes gerais: Qual 0precipitante da memoria"; Qual a memoria em sir;Como [oi a experiencia subjectiva dessa memoriar; e Como ocorreu a finalizaciio damemoria no ambito da sessiio?Foi feita a transcricao verbatim de todas as entrevistas e seguiu-se a groundedanalysis dos dados. 0 primeiro passo da analise consistiu na seleccao do materialrelevante para analise, ou seja considerou-se util manter para analise todo 0 materialque se referia aos domfnios da sequencia narrativa (precipitante, memoria, experienciae finalizacao), Os dados soltos, sem uma referencia clara a urn dos dominios,comentarios paralelos ou que saiam fora do contexte da entrevista foram retirados domaterial para analise.De seguida iniciou-se a codificacao aberta, ou seja decompos-se cada uma dasentrevistas em unidades de analise, sendo que 0 criterio usado para as definir foi 0facto de representarem uma ideia tinica, Cada urn dos protocolos de entrevista podiaconter diferentes extractos pertencentes a mesma unidade de analise, assim comoincluir diferentes unidades de analise. Estas foram tambem colocadas no respectivodominic narrativo (precipitante, memoria, experiencia ou finalizacao), tendo-seutilizado cores distintas para representar a unidade de analise de cada urn, ao longo dotexto. Cada unidade de analise foi codificada com tres algarismos, sendo 0 primeirorelative ao mimero da entrevista, 0 segundo referia-se ao mimero do episodic mnesicoe 0 terceiro dizia respeito ao mimero de ordem na sequencia do texto. Por exemplo 0codigo 01-01-0~,refere-se a primeira entrevista, primeiro episodic mnesico e segundaunidade de analise identificada, Na mesma entrevista era possivel identificar outrossegmentos do texto que pertenciam tambem a esta unidade, como por exemplo 01-05-02, ou seja e a mesma unidade mas presente num outro episodic mnesico relatado namesma entrevista. Esta codifieacao facilitou posteriormente a identificacao dos dados,aquando da verificacao da correspondencia das categorias construidas aos dados.Deste modo, os textos das entrevistas foram decompostos e as unidades deanalise foram categorizadas dentro dos respectivos dominies previamenteidentificados. Comeeou-se por fazer uma categorizacao descritiva, ou seja a cadaunidade de analise foram atribuidas tantas categorias descritivas quantas as que era

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    possivel construir, quando a investigadora perguntava por exemplo: 0 que e que istorepresenta?, ou A que se refere esta unidade de analisei, ou Sobre 0 que e isto? Estacategorizacao era ainda muito proxima das proprias palavras que os psicoterapeutasusaram. Assim, cada unidade de analise podia estar associada a uma ou variascategorias descritivas, assim como cada uma das categorias descritivas podia vir aintegrar diferentes unidades de analise, identificadas ao longos de cada uma ou dasvarias entrevistas.Para facilitar esta tarefa (e uma vez que nao foi usado qualquet software pararealizar esta analise) a autora organizou a informacao em quadros do tipo do Ouadro I,que apresentamos como urn exemplo.

    Q dIEa ro - xempio e cons rucao e ca egonas escn ivasDomfnio Unidade de analise Codigo Categorias descritivasprecipitante Quando ela falou das fotografias 03-01-01 contetido do discurso

    discurso da clientefotografias

    memoria Lernbrei-me de ver assim uma serie de 03-01-02 f lashfotografias ... fotografias de mim em ver fotografiasmiiida ...preto e bran co ... s6 assirn urn f lash recordacoesde ver uma serie de fotografias

    experiencia foi urn flash ... 03-01-03 sentido de liga~aocontinuei ligada, urn rnisto de saudade, urna 03-01-04 ernocionalcerta nostalgia ...

    finalizacao E daquelas coisas que vao e que vern, ja 03-01-05 vai e vernnao me lernbro do que ela disse, mas rnovirnentolembro-rne de vol tar af... voltar

    I d t - d t d 'f

    A medida que as entrevistas foram sendo feitas e analisadas de acordo com osprocedimentos descritos acima, 0 processo de analise continuou em dois sentidos: (i)deu-se continuidade aos procedimentos de categorizacao, nomeadamente acategorizacao conceptual, e (ii) sempre que uma nova entrevista era analisadaverificava-se se surgiam novas categorias, e se a comparacao destas com os dados jaanalisados justificava a reformulacao da analise ja efectuada.A categorizacao conceptual consistiu em construir categorias mais abstractas ecompreensivas das categorias descritivas, atendendo as inter-relacoes entre elas. Cadacategoria descritiva podia relacionar-se com varias categorias conceptuais, assim comocada uma destas podia integrar varias categorias descritivas. Neste processo decategorizacao conceptual, seguiu-se, tal como anteriormente uma postura dequestionamento aberto constante. A proposito de cada categoria descritiva e atendendoao dominio da sua insercao, perguntava-se: 0 que e isto?, A que se referei, Com queoutras categorias esta se relaciona e como? Nesta fase eram feitas outras questoesrelacionadas com as propriedades das categorias ja construidas, quer porque 0 textofornecia indicacoes nesse sentido, quer porque de urn ponto de vista teorico se tornavapertinente faze-las. Responder as estas questoes obrigava a recorrer de novo asunidades de analise e ao contexto global do episodic mnesico em analise, no sentidode verificar que fosse rnantido urn sentido de coerencia entre os dados e a hierarquia de

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    categorias em construcao. 0 criterio para acabar a categorizacao conceptual foidefinido pela impossibilidade de construir novas categorias, ou seja, mesmo quandoera analisada uma nova entrevista as categorias repetiam-se, nao acrescentandoqualquer novidade. Considerava-se entao que 0 processo de categorizacao tinhaatingido a sua saturacao. No quadro II apresentamos urn exemplo da aplicacao destesprocedimentos em rela'5aoao mesmo episodic mnesico apresentado no quadro I.Q d II S' t d t t 1 b o 'do 03 01a ro - intese a ca egonza

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    organizado segundo 0 tipo de experiencia e 0 tipo de resposta a activacao, Finalmenteo dominio da finalizacao organizou-se segundo fonte, forma e mecanisme. Aidentificacao destas propriedades comuns a diferentes categorias permitiu reorganizarnuma hierarquia as categorias descritivas e conceptuais de acordo com alguns eixoscentrais em cada dominio. Este ultimo procedimento refere-se a codificacao axial que,tal como a codificacao aberta, exigiu a comparacao constante com os dados, no sentidode manter a coerencia com os mesmos.Como resultado desta codificacao axial, construiu-se urn diagrama para cadadominic narrative (precipitante, memoria, experiencia e finalizacao), dQ~quais a titulode exemplo apresentamos 0 relativo ao domfnio da finalizacao, na figura 3.

    inte rna gradua l a c~ ao d o c lie nteexterna vaga ac~ao d o te rapeuta

    indefinida esgotamentoin te r rom p ida

    corteFigura 3- Domfnio da finallzacao da memoria

    Como vemos na figura 3, a finalizacao dos episodios mnesicos activadosdurante 0processo de recordacao do cliente pode seguir diferentes percursos, definidospor tres categorias centrais, que representam as propriedades da finalizacao: (i) a fonte(intema ou externa ao psicoterapeuta - ex. 0 terapeuta podia dizer respectivamente:"pensei para mim proprio que nao me podia distrair" ou "0 cliente comecou a chorar";(ii) a forma como a memoria finalizou (gradual- ex. "foi acabando", vaga - ex. "ja naome lembro do que ela disse, mas lembro-me de voltar", indefinida- ex. "nao sei muitobern'', interrompida- ex.- "quando ela comecou a falar do tio", e corte- ex. "penseitenho que acabar com isto, tenho que dar 0meu melhor"), e (iii) 0mecanismo (aq;iiodo cliente- ex. "com a risada dele acabamos por nos rirmos e acabou" , accdo doterapeuta - ex. "fiz urn esforco para desligar", esgotamento- ex. acabou por eu nao melembrar de mais informacao"). Em suma, este estudo utilizou essencialmente osprocedimentos de codificacao aberta e axial da grounded analysis. Esta analisepermitiu criar urn modelo compreensivo da co-construcao terapeutica, construindopercursos narrativos alternativos para as mernorias dos terapeutas activadas nocontexto da sessao psicoterapeutica.Escolha, validacao e escrita de metodologia qualitativaQuando os investigadores tern de tomar decisoes sobre a metodologia que lhesparece mais apropriada para estudar uma determinada area, muitas vezes vern-seconfrontados com uma diversidade de metodologias que, por tratarem dados de tiposdiferentes, ou serem, mesmo dentro do mesmo tipo de dados, abordagens tao

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    incomparaveis, tornam a decisao acerca da metodologia mais dificil do que a escolhado tema. Urn dos nossos objectivos neste capitulo f01 oferecer urn enquadramentoontol6gico e epistemol6gico para as metodologias qualitativas, de modo que estaescolha seja feita com a consciencia de que 0 conhecimento que e produzido nao eindependente das metodologias utilizadas e dos quadros te6ricos com que lhe e dadosignificado. Procuramos por isso inicialmente dar alguma informacao de backgroundsobre a analise qualitativa em geral e sobre a grounded theory em particular, de modoa ajudar urn investigador que queira decidir que tipo de metodologia utilizar, a ter maisclaros quais os fundamentos ontol6gicos e epistemologicos que estao subjacentes aesta metodologia.Algumas das questoes que os estudantes de mestrado e doutoramento colocamsao sobre a possibilidade de realizarem, em contexto das provas academicas, projectosde investigacao que recorram as metodologias qualitativas. A maioria das licenciaturascontinuam a pautar os seus conteudos, particularmente visfveis nas disciplinas de carizmetodologico, pela racionalidade positivista/objectivista, e, por isso,perseguem 0objective que dominou a ciencia pelo menos desde 0 renascimento: a descoberta,pondo em causaa validade dos estudos qualitativos do tipo grounded theory. A outrosinvestigadores, as dtividas podem surgir numa fase diferente, quando ja tern dados dotipo qualitativo e se questionam acerca do modo como podem dar sentido a todos essesdados; ou como podem ter uma interpretacao te6rica baseada nessa realidade empirica,tendo a certeza de que os seus dados e iaterpretacoes sao validos e fieis?A construcao de conhecimento esta associada ao desenvolvimento deestrategias que procuram aferir ate que ponto ele se adequa ao fen6meno a que seaplica. No paradigma positivista, os conceitos de validade e fidelidade sao os criteriosa partir dos quais se procura analisar a fiabilidade com que urn modele podera serconsiderado 4IDa representacao adequada da realidade.A utilizacao de metodos de analise qualitativos, intencionalizados para aQQI!ll?r~~!!~QQQwf~IlQm~!19subjectivos, conduziu a em~~genci(l de~}lm~ rl?tIexaosobre os criterios que poderao ser.utilizados neste tipo de ]nvesHga~ao, tendo algunsautores defendido que os padr6es ou canones pelos quais os estudos quantitativos saojulgados sao inadequados para os estudos qualitativos, Nesse sentido eles devem sermodificados para poderem ser aplicados a investigacao qualitativa (e.g. Agar, 1986;Guba, 1981; Kirk &Miller, 1986). Por exemplo, Guba e Lincoln (1989) sugeriram quea nocao de y~J!g~Q~eve ser substituida pel a noo .de .autenticidade e rejeitaram anocao de g~!1~~(lE~(l~~oquedeve ser substituida pela no~ao de transferibilidade, Outrosautores teIll procurado propor criterios que assegurem a validacao do conhecimentoproduzido atraves de analises qualitativas. Reissman (1993), debrucando-se sobre 0conceito de validade na analise narrativa, defende que este deve ser reconceptualizadouma vez que a validade de uma narrativa decorre de tres caracteristicas: ser persuasiva,no sentido ern que se apresenta como plall~ivel; correspondencia, que-slf]'efereaomodo como a populacao a partir da qual foiam recolhidos os resultados da analisenarrativa '.~.E~Y~!1-(le()!!~..S()!1-str u ida(0 que exige que, ap6s 0 tratarnento do material,ele seja devolvido aos indivrauos, proporcionando meios para avaliar se eles sereconhecem no tratamento dos dados); e cQ~!~ci.,(lJ?i~e.~(l!?ocal e telIl~t~.cacom que anarrativa e apresentada. Por seu lado, Connely e Clandinin (1990)sugerem que noprocesso de avaliacao de uma narrativa os criterios de fidelidade e validade devem ser

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    substituidos pelos de aparencia. e_.Y!2ln1!1!!!!!!sa.Ou seja, uma narrativa deve fazersentido para aqueles que esta"o envolvidos no fenomeno estudado, mostrando-seadequada e plausivel em relacao ao assunto que procura abarcar; e oferecer urn sentidode totalidade que, sem se perder em detalhes, desperte nos leitores uma conexao com 0particular, convidando a estabelecer relacoes com a sua experiencia subjective. "Urnrelato plausivel e urn relata que tende a toear a verdade. E urn relata do qual se poderiadizer "Eu posso imaginar isto a acontecer" (Connely & Clandinin, 1990, p.8).o trabalho inicial de Glaser e Strauss (1967), surgido no amb~to da sociologia,decorria da necessidade sentida pelos autores de elaborar uma metodologia quepermitisse gerar teoria, atendendo ao enfase que julgavam excessive na decada desessenta no sentido exclusivo da verificacao de teorias dos fundadores da sociologia eda utilizacao de metodos quantitativos. Mas outro dos objectivos centrais da obra eraoferecer uma metodologia de investigacao nao especulativa, cuidadosamentelegitimada, de modo a combater 0 estatuto desvalorizado que as metodologiasqualitativas tinham por nao garantirem uma verificacao adequada. Por isso dedicaramurn espaco consideravel dessa primeira obra (urn capitulo designado por "Acredibilidade da Grounded theory") as questoes de verificacao, salientando as questoesde cr~gip!liclede, plalIsi~iE~ilcl~ e con!iil~~~.que devem ser assegura~

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    fenomeno foi estudado. A s palavras de Glaser e Strauss (1967) sao a este propos itobern ilustrativas:

    "Neste livro levantamos dtividas sobre a aplicabilidade dos canones de rigorcomo criterios apropriados para julgar a credibilidade de teoria baseada no usodesta metodologia. Nos sugerimos que os criterios de julgamento sejam baseadosnos elementos detalhados das estrategias usadas para colectar, codificar, analisar eapresentar os dados aquando da "geracao" da teoria, e na forma como as pessoas aleem" (p.224).AU seja, a apresentacao detalhada de todas as estrategias e procedimentos

    utilizados na recolha, codificacao, analise e apresentacao da teoria, nomeadamente aexplicitacao das questoes orientadoras da interaccao entre 0 entrevistador e os sujeitos,dos contextos em que as entrevistas foram realizadas, das regras de transcricao, ossistemas de notacao e as interpretacoes feitas, constitui urn garante do cui dadosistematico que foi colocado ao longo de todo 0processo, 0que permite uma avaliacaoexterna da teoria construfda.Em suma, e 0 rigor dos procedimentos de analise e a sua descricao exaustivaque permite a outro investigador compreender e avaliar 0 conhecimento construido.Ele sera considerado "valido" e "fidedigno" se os casos estudados forem berndescritos, e a descricao das analises deixar transparecer coerencia e consistencia (cf.Silverman, 2000). Esta questao conduz-nos directamente ao problema do relato escritode investigacoes baseadas em metodologias qualitativas do tipo grounded theory.Descri~aode uma investiga~ao groundedA parte da escrita de urn documento (artigo, monografia ou tese) baseado numametodologia qualitativa do tipo grounded theory obriga 0 investigador a utilizar asensibilidade teorica que foi adquirindo ao longo de leituras e contacto com os dados,de modo a poder contar uma historia sobre 0modo como 0 problema alvo do estudoemergiu, como as metodologias e os dados foram escolhidos e recolhidos, e comoforam analisados, bern como as conclusoes que 0 investigador elaborou paracompreender ao fenomeno em estudo.Aqui abordaremos especial mente os desafios relacionados com a escrita doscapftulos metodologicos e empirico quando se utilizam metodologias qualitativas dotipo grounded theory, que levantam a questao de como dar sentido, em forma escrita, atodos os procedimentos e analises realizados durante 0 processo de investigacao,A escolha da metodologia das investigacoes qualitativas tern de serteoricamente furidamentada. Murcott (1979, citado por Silverman, 2000, p. 235),sugere que 0 capitulo de metodologia de urn estudo qualitativo deve responder asseguintes questoes: "Como e que se chegou a investigacdor; Que estrategia geral foiescolhida e porquer; Que design e tecnicas foram escolhidas?; Porqu estas escolhase niio outras?". No caso de se ter escolhido uma metodologia de grounded theory, 0autor tern de explicitar por que razao escolheu esta metodologia para aumentar acompreensao ou criar uma teoria acerca do problema que constitui 0 centro do seuestudo, e porque e que acredita que esta metodologia e a que melhor viabiliza 0 seuobjective. Para isso deve descreve-la e fundam enta-la ,

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    Alguns autores (e.g. Alasuutari, 1995) sugerem ainda que sejam relatadas asdificuldades e as tentativas infrutfferas (dead-ends) (nomeadamente as mudancas demetodologia) que fazem parte do percurso de qualquer investigacao, e que mostram asaprendizagens do investigador.Depois da descricao e justificacao da metodologia geral, e necessarioespecificar os procedimentos. Por exemplo, se foram realizadas entrevistas, 0guiao daentrevista deve ser apresentado. As questoes das entrevistas devem ser decididas apartir da definicao do problema e, por vezes, esse guiao vai sen~o enriquecido amedida que 0 proprio processo de analise evolui. De qualquer modo, antes daelaboracao do guiao da entrevista aconselhamos a leitura de Smith (1997). Devemainda ser descritos os participantes, os criterios que presidiram a sua escolha inicial, eaqueles que, ao longo da analise, contribuiram para a seleccao de uma amostra"relevante" .Quanto a apresentacao dos dados em si, a realizacao de umfndice do capitulo,com a especificacao das sessoes e sub-sessoes que ele contera ajuda a orientar e darordem as ideias. A questao seguinte e decidir 0 que e que se vai escrever de toda aanalise, ou seja, como comprimir muito do que fOIfeito e conclufdo, A resposta deStrauss e Corbin (1990) e que tern de se ter cl~~~q~~l~~,12!!!!i.p.al ..m e n s a g e ma,!!,e!!!!,~? dar SUfi~!~!1!~.,Q~!;;tlh~,. Q J l ~ t < p . t . u a i s . : : : : . p a r . a . . . .a : ~ : : t i a n s m i t i I . A forma doscapitulos deve ser coerente com a mensagem analitica e seus componentes.Nesta fase os dados estao ainda muito presentes, e sabemos onde reencontra-los, assim como as notas ou entrevistas. Mas a escrita exige um nfvel conceptual, ondea descri~ao!,ainda que importante, e ~_~uIl:,9!!"ia.trauss e 'cofbi'ii-(IWOr'sugeremmesmo que quando se comeca a pensar em escrever, se deve rever osultimosdiagramas integrativos e classificar os memos ate nao existir dl1:~;:ig~.w.~,.2EI~..gJ !~ t...~...lprincipal historia analfticaque se deseja transmitir. No fundo 0 que e essencial e aespe~~!!~~Q.'....a:as..', i i ~ I a G o . e s ' ,~ n ! r ~ . . e ~ ! ~ g Q l i a s ; onde aparecerii......'os',ofveisdeconceptualizacao e a especificacao de variacoes e condicoes e consequencias,incluindo as mais amplas (cf. Strauss & Corbin, 1990, 1998).Urn manuscrito acaba quando 0 investigador aceita que nao ha manuscritosperfeitos, e que outro ou outros poderao ainda ser elaborados, nomeadamente para darsentido a novas ideias...Terminamos lembrando a riqueza e complexidade dos procedimentos degrounded theory. Elas decorrem de procedimentos que ao longo do processo searticulam de forma cumulativa, integrativa e altemativa. Queremos com isto dizer queos tres tipos centrals de analise (codificacao aberta, axial e selectiva) sao usados de urnmodo flexivel no ambito da grounded theory. Embora 0 procedimento que conduz ateoria os integre numa sequencia em que os procedimentos mais complexes integram eacumulam resultados dos procedimentos mais simples, 0 uso dos procedimentos maissimples nao se esgota numa primeira fase sendo recorrentes e alternados comprocessos mais complexos. Toda esta flexibilidade e uma condicao que garante adensidade da teoria, mas torna 0 processo de analise diffcil, especialmente para quemesta a iniciar-se no uso deste tipo de procedimento.Dada a sua flexibilidade, podem ser diversos os usos da grounded theory emfuncao dos diferentes objectivos do investigador, tornando este panorama dosprocedimentos analiticos muito diversificado, No entanto, dentro da complexidade

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    Metodos e tecnicas de avaliacao: Contributos para a pratica e investigacao psicologicas

    inerente a esta diversidade analitica, existem algumas dimensoes de coerencia quemarcam a especificidade dos procedimentos desta metodologia. Referimo-nos aexigencia em qualquer estudo de grounded theory, qualquer que seja 0 tipo e 0 nfvelde analise, do recurso ao metodo de comparacao constante. Este principio, se por urnlado revela a atitude de abertura a novidade e ao provisorio, assenta na preocupacaocom 0 rigor, a precisao e a validacao das construcoes conceptuais ou teoricas.Ouanto a complexidade conceptual, decorre do caracter hermeneutico einterpretativo da teoria construfda. Se por urn lado a complexidade conceptual epromovida pela complexidade e densidade analitica, ela e tambem fruto da atitudeepisternologica subjacente a grounded theory, nomeadamente a aceitacao de que 0conhecimento e sempre contextual e provisorio, e apesar de nao ser independente dasensibilidade teorica do investigador e dos procedimentos analiticos que eleselecciona, ele permite urn nivel de construcao conceptual que e uma mais valia nacompreensao dos fenomenos humanos. Por isso nos agrada a afirmaeao dePolkinghome (1988) de que 0 trabalho qualitativo procura "urn conhecimento queaprofunda e alarga a compreensao da existencia humana" (p. 159).NOTASI Por exemplo, no Departamento de Psicologia da Universidade do Minho, tern sido desenvolvidos estudos deinvestigacao com 0 suporte de diversas metodologias qualitativas, alguns deles com vista a obtencao de grausacademicos, nomeadamente mestrados e doutoramentos. Esta diversidade metodol6gica contempla por exemploestudos que usaram a Grounded theory (ex. Maia, 1998; Fernandes, 1999; Machado, 2000), analise de conversacao (ex.Bastos, 1998), a analise do discurso (ex. Nogueira, 1997) ou analise narrativa (ex. Ferreira-Alves, 2000; Henriques,2001).Ii"grounded" remete para a ideia de fundamentado ou enraizado na especificidade da realidade a investigar.

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    Metodos e tecnicas de avaliacao: Contributos para a pratica e investigacao psicologicas

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