Gianfrancesco Guarnier

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    Gianfrancesco Guarn

    Um Grito Solto no A

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    Governador Geraldo Alckmin

    Secretrio Chefe da Casa Civil Arnaldo Madeira

    Fundao Padre Anch

    Presidente Marcos MendonaProjetos Especiais Adlia Lombardi

    Diretor de Programao Rita Okamura

    Imprensa Oficial do Es

    Diretor-presidente Hubert Alqures

    Diretor Vice-presidente Luiz Carlos FrigerioDiretor Industrial Teiji Tomioka

    Diretor Financeiro eAdministrativo Alexandre Alves Schneid

    Ncleo de ProjetosInstitucionais Vera Lucia Wey

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    Ficha catalogrfica elaborada pela Biblioteca da Impre

    Foi feito o depsito legal na Biblioteca Nacional (Lei n 1

    Roveri, SrgioGianfrancesco Guarnieri/ Srgio Roveri. So Pau

    do Estado de So Paulo : Cultura - Fundao Padre Anc224p. : il. - (Coleo aplauso. Srie perfil / coordenadEwald Filho)

    ISBN 85-7060-233-2 (obra completa) (Imprensa Of

    ISBN 85-7060-240-5 (Imprensa Oficial)

    1. Atores e atrizes de teatro 2.Dramaturgos brasilBrasil - Histria 4. Teatro Produtores e diretores 5Gianfrancesco 1934 - Biografia 6. Ewaldo Filho, RubII. Srie.

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    Introduo

    Quando ele nasceu, em seis de agos pais lhe presentearam com

    prncipe: Gianfrancesco Sigfrid

    Martinenghi de Guarnieri. Os no

    ele deixou esquecidos nos docum

    ou mo apenas do primeiro e do

    ainda adolescente, se aproximar, e

    pouco tempo o inconfundvel port

    gigantesca parcela da sociedade

    viveu a quilmetros de qualquer

    breza: os pobres, os favelados, os

    sedutores malandros do morro, oos perseguidos pelos regimes pol

    tos, as prostitutas, os grevistas e m

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    terceiro sinal, permitiu que as cortin

    sem para exibir a realidade de um tip

    at aquele momento pouco afeito

    es: o homem do povo. Com tudo

    ele podia reunir de mais sublim

    mesqunho, de mais corajoso e mais c

    mais divino e mais sorrateiramente hu

    heri que o pblico iria aprender a no ponto de nibus, na fila do desem

    piquetes, na casa ao lado, na que

    igreja e, acima de tudo, no espelho.

    O homem que escreveu mais de 20 pe

    em perto de 40 espetculos e igual

    novelas, hoje prefere viver tranqilauma casa escondida na Serra da C

    aonde se chega aps vencer um pequ

    d b d d d

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    Tmido, prefere continuar evitan

    concorridos, os fotgrafos e as ba

    Exemplo disso que, nas ltima

    primavera de 2003, sua preoc

    imediata era com a concluso de a

    no telhado da casa de dois andar

    os costumeiros transtornos anualmente pelas chuvas de ver

    Guarnieri vive ali ao lado da ex-at

    Vnia SantAnna, sua segund

    rodeado de outras incansveis e

    solcitas figuras femininas as cac

    Julieta e Dara, herdeiras de Vitrlinda e folgosssima que, durante

    praia de Toque-Toque, no mun

    S b i li l d S

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    Estou ficando velhinho e aprendend

    cachorros esto sempre certos em su

    No sei mais viver sem eles.

    Mesmo quando no est em cartaz

    ou participando de alguma novela,

    obrigado a descer a Serra da Cantare

    samente duas vezes por semanasubmeter a incmodas sesses de h

    no Hospital Srio-Libans, na regio

    So Paulo. Em 1994, durante a tem

    novela A Prxima Vtima, na Re

    Guarnieri descobriu um aneurisma

    precisou ser submetido a uma op

    emergncia. Na poca, o autor doSilvio de Abreu, precisou arrumar s p

    viagem para o personagem de Guarn

    Gi di i li i d

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    comearam em outubro de 2001

    to, Guarnieri no pde mais se a

    Paulo o tratamento no permite

    de interrupo.

    Se h 40 anos o dramaturgo era ob

    de toda sua criatividade e jogo d

    driblar a censura e conseguir com qfossem encenadas, hoje ele faz o

    encontrar algum prazer nas limita

    sade frgil lhe impe. J que a

    promete purificar todo o sangue

    ele aproveita a sesso da segun

    devorar alguns bombons Sonho d

    quinta-feira, para mergulhar noslatinhas de Coca-Cola, tentae

    passar longe do cardpio de

    di b i l

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    Embora os problemas de sade re

    para Guarnieri um respeitvel ob

    manuteno de uma agenda de tra

    regular, eles no parecem afetar o s

    e muito menos seu otimismo. No fin

    ele trabalhava em uma nova p

    transposio da vida do lder revoluc

    Guevara para os palcos, alm de tecontrato para participar de u

    telenovela, desta vez na Rede Reco

    encontrou tempo, e infinita dispo

    abrir os compartimentos de sua m

    trazer novamente luz as passa

    serviram de matria-prima para este

    Os relatos de Guarnieri, durante as

    no se submeteram rigidez da cro

    l d d i

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    Liberdade esta que ele comeou

    com maestria, no movimento e

    fileiras da Juventude Comunista

    Partido Comunista, e pouco m

    palcos do Teatro Paulista do E

    Arena, do Oficina e na luta pelas e

    para presidente da Repblica.

    Sobre os pais, revela: Meu pa

    pouco de tristeza. Ele no ag

    represso que se instalou aps o

    de 64. Minha me se deixou leva

    mais tarde, como se tivesse opt

    poucos. Ao falar deles durante a

    e de outros to caros e que tambcomo Oduvaldo Vianna Filho, o V

    raro Guarnieri recorria a pequena

    l f i d

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    Se tivesse de escolher entre as cred

    autor, ator, diretor ou msico para

    tar, muito provvel que Guarnieri

    com nenhuma delas. Na certa, optari

    a de sobrevivente. Sou um privil

    ter vivido o que vivi e chegado at aq

    histria.

    Com vocs, a histria de Gian

    Guarnieri.

    S

    Mar

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    Captulo I

    Joo Francisco Guarnieri

    Nasci em Milo por acaso. O mais

    eu nascesse em Veneza, cidade

    meus pais. Mas naquele incio de ageles estavam se apresentando em

    vim ao mundo antes que eles tiv

    de voltar para casa. Meu pai era

    um dos fundadores do quartetVittoriale, grupo com o qual viajo

    Europa. Minha me era uma ha

    grada, que usava o tempo livre estudar a fundo a filosofia das relig

    costumava dizer que era teloga

    d Mil i i i

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    16

    Quando eu contei esta histria para

    ele me disse que realmente havia um

    na nossa casa. Agora, tambm

    garantir que esta lembrana corr

    alguma coisa real. A gente inventa

    ? Nossa me! A gente inventa pra

    esta histria eu invento h tanto tem

    passei a acreditar cegamente nela. mesmo verdade.

    Eu mal tinha acabado de completa

    quando minha me foi convidada a v

    Orquestra Sinfnica Brasileira, no Rio

    O governo de Benito Mussolini estav

    o cerco contra os opositores do fascis

    pais j comeavam a sentir os primeda perseguio poltica. Minha m

    menos visada pelo regime, aceitou

    b i h il d i

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    Foi dela que partiu o convite, umtarde, para que meu pai viesse re

    de concertos no Rio de Janeiro. Pa

    italiano, era timo mandar embora

    as pessoas que fossem de esquerda

    eu acredito que naquela poca n

    esta diviso to ntida entre esqu

    A Itlia estava rachada entreantifascistas, isso sim. claro que o

    se aproximavam mais do que hoj

    como esquerda. Quando o convit

    que meu pai viesse reger uma orqufinalmente chegou Itlia, o

    Mussolini rapidamente autorizou

    do pas. Assim, seis meses aps minha me, eu e meu pai emba

    navio Conte Grande com desti

    i Ch i d i

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    centro da cidade. Ao abrir a janela pai nunca cansou de repetir mais

    levou um susto tremendo: h

    agrupamento de soldados que m

    gesticulava maneira do exrcito de

    Quando eu j era um pouco mai

    confessou que seu primeiro desej

    momento foi o de me tomar novabraos e fugir para outro pas. N

    governo de Getlio Vargas no es

    simpatia pelo fascismo e meu pai

    acreditar que havamos abandona

    para acabar em um pas onde iram

    cara com tudo aquilo que tnhamo

    para trs. Ele ficou realmente a

    porque achava que tinha sado de

    cado em outro igual. Para ele, deve

    l M l l f

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    Villa-Lobos, de quem se tornou aQuando o Brasil resolveu entra

    Guerra Mundial, ele escreveu um

    Getlio Vargas, dizendo que esta

    pegar em armas para combater

    italianos. Alguns dias depois

    comunicado vindo das Foras Ex

    Brasileiras, que agradecia sua inafirmava que no era o caso de

    Ele no foi para a Guerra, mas

    envolver em poltica aqui me

    dizendo, em uma batalha pessoa

    se afastaria at seu ltimo dia d

    naquela poca, no Rio de Janei

    pequena ligada ao Partido Com

    empenhava em fazer pichaes.

    este grupo e, aps os concertos

    i d i d d

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    A me dele era uma senhora toda chhoras, uma mulher assim, cheia d

    dades. E quando ela ia tomar ch com

    naqueles cafs da Piazza San Marco, e

    Sabe o que ele fazia? Ele vestia u

    xadrez, de cores berrantes, se recosta

    daquelas famosas colunas da praa e

    a chupar fatias de melancia. Para deas sementes em cima dela e das am

    dizer, naquela poca ele j era um b

    este tipo de coisa.

    O primeiro lugar em que morei no Rio

    foi num apartamento na Praia do

    qual eu me lembro muito pouco.

    apartamento era de uma senhora ch

    que nos hospedou por alguns mes

    fomos para uma casa na Rua

    l d i d h i lh

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    Eu regia o rdio, mas na minha cque havia? Uma orquestra inteira

    que tudo fazia parte da iluso da

    na hora em que a msica pde s

    mais srio na minha vida, eu sa co

    me sempre me incentivou e

    descobriu logo que minha voca

    msica. Eu regia de brincadeira, mcerteza de que se me colocas

    conservatrio, onde eu seria obrig

    escalas e aquela coisa toda, eu fari

    Eu tinha uns trs anos e meio qua

    comearam a me levar pera

    matins, porque noite a entrad

    era proibida. Eles me deixavam

    orquestra, sentadinho em cima

    contrabaixo ou do violoncelo. E

    ilh fi d

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    Depois da pera, eu acho que minha de influncia foi o cinema, princip

    neorealismo italiano. No fundo, eu s

    uma grande tendncia para o espet

    Daquela casa da Rua Almirante Al

    fomos para a Rua do Triunfo, tambm

    Teresa. Esta nova casa tinha um quint

    repleto de mangueiras. Eu me emtanto de mangas que acho que at

    ter algumas seqelas. Ns dividamos

    um casal de violinistas, o Oscar

    Borghetti. Minha famlia, sozinha, n

    ria arcar com o aluguel. Era uma ca

    projetada em cima de um morro, apo

    umas pedras colossais. Eu me lembro

    daquela casa por causa de uns lag

    ficavam esparramados no morro, to

    h i l l fi b

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    Renato Viana, mas no me recordoro, eu ia levado pela minha me

    aprendi o caminho, matava as a

    nho, quando j estava um pouq

    Nem sei quantas aulas eu deixei d

    ver o Jaime Costa nas matins do

    Eu me divertia horrores. Ele at c

    algumas coisas mais srias, mamesmo das comdias, daquelas

    confuses. Eu me recordo de u

    histria era a seguinte: uma fam

    substituir s pressas um grupo de

    E eles erravam todo o texto,

    ingenuidade tamanha. Se o texto

    o bonde de Santo Amaro, eles l

    conde de Santo Amaro. E eu me

    com isso, com coisas assim.

    di

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    No entanto, algumas coisas que eu cquela poca foram resgatadas mai

    meu trabalho de autor. Ns tnh

    cozinheira chamada Margarida.

    carrego comigo uma lembrana

    cicatriz no polegar, provocada por u

    faca. Um dia eu estava brincando co

    ela quis arranc-la da minha mo. Ppuxa dali e eu acabei ganhando um

    dedo. A Margarida costumava me l

    de alguns parentes dela, no Rio, uns c

    j comeavam a ganhar os morros.

    Margarida se chamava Romana, uma

    que se revelou a mulher mais sbia

    infncia. Quando escrevi Eles No U

    Tie, dei o nome de Romana ao prin

    feminino da pea. Um dos amigos da

    h id Gi b l

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    apartamento da Rua Ibitara, no Foi ali que eu vivi a melhor fa

    meninice, por volta dos dez ano

    descobri aquela sensao gostos

    turma, a turma da rua, as br

    quermesse.

    Comecei meus estudos n

    FrancoBrasileiro, logo aps ter feitou jardim da infncia, no sei que

    naquela poca, em uma escola lig

    Itlia. Eu odiava aquela escol

    professoras nos obrigavam a dor

    almoo. Em casa e nesta escola da

    eu s conversava em italiano, e q

    no primrio, no Franco-Brasileir

    aprender francs. Eu falava fra

    mente, mas depois perdi a prtic

    f l i d d

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    eu assinei Joo Francisco Guarnieri. Ochamou e disse que aquela prova no

    meu nome era Gianfrancesco. Aind

    usaria o nome de Joo Francisco em

    sies, talvez para me poupar um po

    por isso, no incio da minha carreira

    guns jornais chegaram a publicar

    como sendo Joo Francisco.Naquele primeiro ano de ginsio e

    um bom aluno, mas no segundo j

    com os estudos. Eu estava muito

    cupado em ficar na rua e entrar para

    Ibitara Futebol Clube. Eu era um p

    dor. E onde iam parar os pssimos

    No gol. Rapidamente eu descobri que

    coisa muito melhor para fazer d

    goleiro: era ser comentarista. Co

    i i d l i d

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    Dizia para mim mesmo: faltam unnesta partida. Depois mostrava pa

    Resultado: minhas colunas eram e

    mas repeti de ano.

    Pedi para mudar de escola. Disse

    pai que queria estudar no Colgio S

    Maria Zacaria, na Rua do Catete,

    padres. Isso foi um problemo em que foi comunista at morrer, diss

    voc quer mesmo estudar em col

    Colgio de padre? Por qu?Eu

    toda a minha turma da rua estuda

    de padre, ou no Santo Incio

    Antonio. Eu preferia o Santo Anto

    maioria dos amigos estava l. Me

    um homem cordato, no se ops

    severo, reprimir algumas coisas,

    di d

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    chamado Mrio Scolari, e pedi para daquela turma. Ele concordou e m

    trabalhar como ponto. Fiquei muito

    esta tarefa... Logo de cara ser o pont

    l, naquele buraquinho na frente

    mandando sempre as primeiras fa

    atores no se perderem. O padre, qu

    prestando ateno no meu trabadisse: est muito bom, agora voc va

    papel na nossa prxima produo. E

    protagonista. Fazer teatro no colg

    ser a coisa mais importante do mund

    O vice-reitor do Santo Antonio c

    Almir, um padre burocrtico e o

    mantinha os alunos debaixo de um

    de ferro e imbecil, a ponto de nos

    andar a uma distncia de 20 cm da

    i

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    Era um texto at que bem feitinhples, mas muito engraado tamb

    tria de um sujeito que tentava i

    da de uma casa que algumas pe

    ocupado. Ento, para afugentar

    compradores, ele resolveu assom

    eu criei este personagem para

    igualzinho ao padre Almir. Todescola, todos os alunos, os pais

    sabiam que o padre Almir era ga

    personagem falava em cena, ra

    turma ria. A platia vinha abaix

    cpia escarrada do padre. Aqu

    confuso. O padre, que era um

    infeliz, pediu no mesmo dia para

    me expulsasse do colgio. Ele n

    nenhum ensaio, nem passava pe

    M l di l i

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    Ao ouvir que sim, que eu estava sedado a me retirar daquele colgio

    meu pai disse apenas: graas a Deus

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    Captulo II

    O Companheiro Lus e sua Pasta

    Parecia sempre haver algum

    afastando dos bancos escolare

    futebol, depois o teatro e, logo a s

    da minha precoce atividade polt

    minha tradio jornalstica, in

    cronista esportivo do Ibitara Fu

    comecei a colaborar com um jorNovos Rumos, uma publicao d

    Comunista, em cujos quadros em

    logo aps minha expulso do c

    tarde, o Partido Comunista tamb

    jornal chamado Novos Rumos, ma

    no primeiro naquele feito pelo

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    ser apenas uma alcunha. O importanAlaor era um sujeito muito legal,

    muito dele, apesar de ele me es

    diariamente. Eu confesso que eu era

    garoto metido besta. Eu tinha feit

    primrio muito bom, e um prime

    ginsio igualmente bom. Apesar

    problemas na escola, das bombas quda minha expulso, eu sempre fu

    aluno, sempre gostei muito de estuda

    o Alaor eu aprendia as lies na bas

    Sempre que eu escrevia alguma co

    julgava sofisticada, l vinha ele me

    no era para fazer assim, no era

    assado. Eu achava bem legais as lie

    sempre aos berros comigo. Um dia

    cacfato e ele quase me matou. O A

    d i b

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    para eu preencher meu tempo atanos e me matricular no supletivo.

    me preparando para o supletivo e

    brilhantemente. Um dos profess

    preparatrio ao supletivo me obri

    uma frmula que carrego

    corcamoconfitem. Sabe o que

    conjunes: correlativas, causcondicionais, finais e temporais. P

    sai da minha cabea at hoje. Claro

    de passar, no ? Voltei para o Fra

    para fazer o primeiro ano do cursLevei muito a srio aquele prime

    no segundo j me danei de no

    Movimento Estudantil Secundarist

    quadros, gente para distribu

    convocar assemblias, conquistar n

    i b lh f ll i

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    e vice-presidente da Unio Nacionadantes Secundrios.

    Nesta poca meus pais se mudaram

    Paulo. Meu pai j regia alguns co

    Teatro Municipal de So Paulo e t

    Concertos Dominicais da Rdio Gazet

    ficar sozinho no Rio, eu tinha uma

    que no queria abandonar. Disse papais que no podia me separar da m

    rada e que iria arrumar um empreg

    sustentar no Rio. Eles ento foram e

    Arrumei emprego de auxiliar de esuma construtora. Uma das minhas inc

    era sair com uma pastinha de dinheiro

    o pagamento dos pedreiros e ser

    obras. Agora veja s: eu, um inte

    Juventude Comunista, indo fazer o p

    d i d i i ifi

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    mame. No dia em que cheguei a Sprimeiro programa foi passar

    boteco e arrumar uma baita de um

    Como as entidades estudantis d

    tambm viviam precisando de qua

    aqui j como secretrio-geral da U

    dos Estudantes Secundrios, sem

    porcaria nenhuma. Eu no conhcidade, no tinha amigos e no

    de nenhum estudante, aind

    colocaram num posto daqueles,

    cargo de confiana. Era comeo estava com pouco mais de 18 ano

    O entusiasmo que eu tinha pe

    Comunista fez com que eu des

    fazer teatro. A Juventude nos ob

    disciplina de exrcito, eu me sen

    ld d M b lh f

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    Eu achava que a Juventude tinha de ma coisa para melhorar a qualidade

    tambm, para fazer com que os est

    interessassem por estudar, ora essa.

    muito importante a realizao dos

    Estudantis, muitas lideranas foram

    naqueles congressos e esto a at h

    fizeram uma carreira brilhante na pfazia vrias reivindicaes aos dirige

    ventude, e ficava muito irritado q

    obrigado a admitir para mim mesm

    havia muita democracia nas decisemocracia era aquela?

    No era fcil fazer parte da Juvent

    nista, era uma atividade clandestina,

    o Partido Comunista. Em vrias tare

    obrigado a usar um nome de guer

    O f

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    Eu passei a dar assistncia ao Parta, que consistia basicamente em r

    po de pessoas e fazer dele uma c

    do. Era uma espcie de superviso

    a direo do partido e estes nov

    dava assistncia para as clulas fo

    mulheres, aprendi muito neste

    seguida, comecei a trabalhar em intelectuais, o que para mim rep

    espcie de universidade.

    Eu tambm tinha como funo, n

    organizar uma agenda cultural dantes. Eu percorria alguns teatro

    em busca de convites de cortesia

    aos alunos. Durante um Festival

    da Juventude, procurei o prod

    Sandro Polloni, que me convido

    C d C i l d l

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    etapas da gincana porque ela iria tQuando a gente fica um pouco m

    a entender as coisas, v que no

    Mas ainda agora, de uma forma

    acredito que seja necessrio abal

    mo. Abalar o capitalismo, sem d

    a nica forma de o homem pod

    Seno no sobrevive.Como todos os companheiros, eu t

    medo de ser preso. Era um temo

    no dizamos que um companhe

    preso, mas que ele tinha cado. Edura, mas nada semelhante ao q

    dava depois, aquele perodo de

    truculncia que veio aps o go

    revoluo mostrou um lado que n

    conhecia: o desrespeito total ao s

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    40

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    Captulo III

    Ao Povo o Que do Povo

    O palco nunca foi para mim

    sofrimento. engraado porque e

    artistas dizerem que sofrem mprocesso de criao muito d

    comigo isso no ocorre. Cine

    televiso, para mim, no tm nad

    eu no consigo ir para o palco com o sofrimento. Nunca me passo

    a idia de que eu tivesse de me t

    personagem e incorporar todas

    as suas angstias. Eu sempre me

    escrevendo e atuando. Claro que d

    i ifi fi d d i

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    42

    Hoje ns vivemos em um ritmo muitoacredito ser ditado pela televiso, m

    do que pelo cinema. A televiso se t

    coisa apressada, um ritmo de videoc

    que isso muda a cabea das pessoassabe mais apreciar uma cena um p

    lenta, demorada. o domnio da ativ

    da ao, compreende? O pblico estcada vez mais atividade, talvez para

    concluso de que pode estar dian

    grande bobagem. A culpa disso

    mdia, que passou a ver na velocsinnimo de modernidade. Para ser

    hoje, tem de ser veloz. Mas h artista

    fugindo disso, no cinema e na te

    fazendo um trabalho maravilhoso. P

    se consegue apreciar um filme tcheco

    l ? i

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    Eu sei que a televiso nem sempreveculo que busque a profun

    assuntos. Eu acredito que a televis

    a ser mais leve, embora terrvel

    ainda leve, para no sobrecarregpessoas. Pode at ser ftil em algu

    eu continuo fazendo com o ma

    delcia que pode ser a futilidade: coisa romntica, e principalmente

    humorada. Porque eu acho que a

    sempre manter o humor. E cada

    descobrir o seu humor. De repentefazendo uma cena muito trgica,

    que ali cabe uma pitada de humo

    mite pr esta pitada na cena. O re

    tstico, porque espontneo, e p

    dom do artista para o improviso.

    d d

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    44

    da descoberta, o momento em que encontrar o que realmente precisa se

    que chega o momento em que voc

    por a. E quanta alegria cabe nestas tr

    por a. Parece que voc atinge

    quando acha que finalmente desco

    voc quer dizer. Talvez voc no desc

    mas se sente bem mesmo assim, com

    realmente descoberto alguma co

    adquire um flego e vai escreve

    produzindo, tudo isso muito praze

    descoberta as coisas podem ser dolodepois compensa. Enquanto que, com

    no sinto dor alguma.

    Quando eu encontrei realmente o pa

    que ali seria o meu lugar, toda a m

    nheza desapareceu. Falam do meu n

    l d f

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    preendido. Mas minha tcnica ptuitiva. Eu trabalho muito com

    notar. Pausas maiores, pausinhas

    o tamanho, o fato que elas sem

    minha interpretao. que a pabusco, enquanto interpreto, nun

    um tijolo, ela vem suavemente, p

    Eu tenho dio das frases que s

    platia como se fossem um tijo

    bobas. Frases inteiras que do a

    tudo foi combinado. O ator preci

    valorizar cada palavra e, claro, a transmitem. Algumas palavras n

    pelo som, independentemente d

    que elas possuam. O som da pa

    importante. No fundo, tudo mui

    porque cada ator tem o seu jeito

    i h d d

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    46

    e de l seguiu para duas temporadaTeatro Brasileiro de Comdia e depoi

    Folha), eu tive apenas trs ensaios p

    pouqussimo. Em primeiro lugar, por

    texto que fique firme na boca doapenas trs ensaios. Depois porque

    entende todas as motivaes da pe

    Logo que entramos em cartaz, eu

    constrangido em alguns momentos,

    mas cenas meio encabulado, sem e

    porqu daquilo tudo. Mas aos pouc

    se apoderando da situao. Como htempo para ensaio, eu ficava em cas

    dizendo o meu texto, somente o m

    ou cinco vezes por dia. o que ns

    de exerccio com personagem ausen

    o meu texto e dava uma pausa corre

    d d

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    Porque eu o entendo, afinal, eu

    que eu fao, ento, para compree

    personagem que eu no escrev

    compreender o autor, isso. Sei q

    cesso emaranhado, mas eu tento.

    d h d f

    Com Greta Elefhteriou em O Pequeno Li

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    48

    no Dario Fo. Eu adaptei, dirigi e atutagem. Ele no acompanhou o proce

    consegui, por meio do texto, desen

    identidade muito grande com ele. Al

    soas que tinham visto a pea na Itl

    assistiram aqui tambm, disseram qu

    feito o personagem exatamente da m

    o Dario esperava que um ator fize

    muito feliz com os elogios, porque is

    minha sintonia com o autor.

    Embora eu tenha desenvolvido esta

    atravs do texto, vamos dizer assim, cFo, foi com Ruggero Jacobbi que eu

    grande entrosamento profissional.

    homem de uma cultura vastssima, e

    a vantagem de no dormir. Nunca

    que precisasse de to poucas horas d

    d d i l li d

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    Depois tive uma grande amizade cDAversa. O Adolfo Celli, por exe

    nheci, mas no passou muito disso.

    Ratto. Pelo Gianni eu tinha

    admirao, achava maravilhosas a

    que ele criava. Mas eu nunca fi

    mundo dos diretores italianos. N

    me dirigiu, nem mesmo o Jac

    DAversa eu cheguei a fazer rotei

    mos juntos no cinema, mas no tea

    Talvez isso tenha sido uma limi

    porque, desde moo, o que eu quteatro nacional, entende? O te

    brasileiro. Ento eu achava que os

    iriam me proporcionar o molh

    trabalho deveria ter. Foi por isso q

    Sandro Polloni pensou no Flamn

    di i i Gi b b i i i

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    50

    Foi uma loucura, porque ningum sera o Flvio Rangel. E, para falar a ve

    eu. Eu s tinha visto um espetculo d

    ti: esse diretor que eu quero para fa

    Apostei todas as minhas fichas no F

    dois podamos ter rodado. Felizmen

    valer cada ficha apostada nele.

    Apostei no Flvio naquela poca com

    mais recentemente, no Marcus Vinci

    o diretor da ltima montagem prof

    Eles No Usam Black-Tie (com os ator

    Moscvis e Ana Lcia Torre encaelenco). Mas no foram apostas gr

    via que eram diretores com sensibil

    entender muito bem tudo aquilo que

    peas. Em funo da montagem de

    eu conversava muito com o Faustini,

    S l l i i d

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    produo maravilhosa para manteapenas um ms? Foram quase qu

    ensaio e apenas um para apres

    pagando os ensaios de forma inte

    uma produo carssima com

    Petrobrs. Mais de um milho de

    que tudo aquilo era um absurdo.

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    52

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    Foi um espetculo que no teve a mde amadurecer no palco. O Faust

    sabendo disso, e conseguiu um re

    bom. Faltava s o pblico. Ento

    e, puxa, ficou realmente muito im

    Mas me irrita ver como as coisas

    Brasil. Ento voc tem uma em

    Petrobrs que te d um patrocn

    este patrocnio est certo que

    prego para trinta e tantas pe

    espetculo, depois, foi feito na ba

    Era uma distribuio de convites aeu comecei a achar que aquilo tu

    no era para o pblico, era para o

    para os formadores de opinio. Er

    questo de prestgio, ou de

    interesses mtuos. Se uma pea d

    l i d l

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    54

    e nada mais. No houve empenho nao do espetculo. Ento eu achei tu

    perdcio.

    Depois conseguimos apenas R$ 20 mi

    a pea ao Rio de Janeiro, porqueaceitaram fazer o espetculo d

    bilheteria. Eles agentaram este es

    15 ou 20 dias apenas, depois no d

    pea s foi para o Rio graas ao em

    atores e do Faustini. Na nossa realid

    para fazer aquele espetculo gasta

    menos. O problema foi que, durante atodos os pedidos eram atendidos. Os

    queriam que ns pensssemos gra

    artista que, tendo essas condie

    querer realizar uma superpro

    problema vem depois, quando no

    i

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    ser um jogo de prestgio em que gra satisfazer alguns interessad

    espetculo, voc passa a ter alg

    fazendo mdia.

    Justamente por pensar no pb

    fiquei muito melindrado. As pesso

    muito da pea, se tivessem tido

    assistir. A pea foi vista por uma

    alta e algumas pessoas mais intere

    Em um ms uma pea no conseg

    Nem com ingressos a preos popu

    desperdcio, porque o verdadeiro levar o teatro ao povo, no foi

    Mas eu sa com um saldo positiv

    saber que tinha valido a pena, pel

    na minha vida, apostar em direto

    Ainda no tenho um diretor defin

    i j l

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    56

    preocupao, e no s no palco, mascia. Estou sempre com a cabea niss

    esse negcio de ser povo. Eu fui proc

    cedo o que era ser povo, entende?

    tambm este grande contraste co

    sobrevivem alguns valores incrveis

    mano, a solidariedade, o companh

    confraternizao, por exemplo, em

    to cheio de privaes e dificuldades

    povo est sempre disposto a se ajud

    Voc sempre encontra solidarieda

    povo, e eu fui atrado por isso desdedesafio como autor foi sempre o de re

    povo, procurando identificar a con

    que ele representa como povo.

    procurei falar sobre o povo, mas n

    realismo terrvel. Eu quero ressalta

    i i d

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    teatro. Isso me d uma responsade, imensa, de ser fiel a esta causa

    estria de Eles No Usam Black-T

    de Arena, que foi um enorme su

    chamado para uma homenagem.

    mento, eu fiz um juramento para

    um pouco bombstico, mas fiz:

    jamais, jamais trairia a causa de

    arte para defender o povo.

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    58

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    Captulo IV

    A Sndrome de Robin Hood

    Eu no acredito que o homem te

    imagem e semelhana de Deus

    muito metido a besta, p! Dizesemelhante a esta porcaria que n

    isso no vai ser nunca. A minha rela

    assim: eu acho que a vida vai

    algum lugar. O problema que nsaber que est continuando, porq

    do mesmo jeito. A vida, da manei

    conhecemos, ela acaba, ou se tran

    alguns preferem dizer. Que a

    recomeo. E pode ser mesmo,

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    60

    o prprio Universo, que continua em uma aventura to grande. Ns so

    de uma composio que puramen

    mas existe um abismo desconhecido

    nossas cabeas.Eu no me detenho muito neste a

    reencarnao. Nem sei que nome da

    reencarnao, ressurreio, sei l. D

    a gente vive, ns vivemos em Deus e

    fora inominvel para ns, porque n

    quem ele realmente . Em toda teolo

    ningum conseguiu explicar quem Deus. No se tem nenhuma certeza,

    de que ele deve estar no centro de t

    deve ter as caractersticas e as feie

    que atribumos a ele.O problema que sempre carregam

    l l d

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    O conceito do pecado uma inveCatlica. E a gente sofre muito co

    crianas j carregamos essa culpa.

    relao a qu? Em relao a Deus

    Deus perdoa tudo, por que devealguma culpa? Isso me parece inc

    Eu me lembro de uma vez em q

    para participar de uma das min

    manifestaes aqui em So Pau

    seguinte ao suicdio do Getlio Va

    dia, a Margarida, a cozinheira filh

    que me apresentou aos morrosacordou para dizer que o Get

    matado. Eu pulei da cama e fui pa

    que estava acontecendo. Havia u

    carregando velas e fotos do Ge

    crianas estavam chorando. Corr

    d l i d d i

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    62

    tnhamos o direito de estar ali. Quavalo avanou sobre mim eu gritei pa

    dos: eu sou jovem e no tenho medo

    Vocs que so velhos. Nossa, el

    revoltadssimos. Primeiro porque eude velhos, e depois por dizer que no

    de morrer. No tem medo de morre

    eles responderam.

    Eu sempre tive um certo preconceito

    aos policiais. Mas naquele dia,

    manifestao, vi um soldado que des

    cavalo para proteger das bombas uque tinha se perdido da me. Ele

    menino do meio da confuso e o ab

    proteg-lo, at que a me aparecess

    A cena foi fotografada e, se no m

    acabou sendo capa da revista O Cruze

    i d l di d

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    representar o primeiro passo paComo poltico, o Getlio teve uma

    firme: ele se matou para revelar

    algumas coisas estavam sendo tra

    Ns fomos s ruas para manifestare ver at onde ia a culpa do imper

    americano no negcio todo. J e

    mado para que o Getlio fosse p

    mais iria permitir isso.

    Este episdio serviu para refor

    antiimperialista da minha atua

    Movimento Estudantil. Eu estavgritar palavras de ordem. Era mu

    os alunos das salas de aula, prin

    dos cursos noturnos. Eles j tinha

    o dia todo, estavam cansados e,

    vam sem hesitar nossos convites p

    d if

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    64

    Teatro Paulista do Estudante. Foi a pncleo que minha ligao com o te

    nou definitiva.

    As primeiras reunies do Teatro P

    Estudante foram feitas no apartaOduvaldo, o Oduvaldo Vianna, pai d

    na Rua Theodoro Bayma, centro de

    ao lado do Teatro de Arena. O Oduv

    tava um pouco afastado do teatro, e

    cava mais ao rdio e ao incio da te

    TPEeu comecei a trabalhar como at

    crevia ainda. A primeira pea montadpo foi Rua da Igreja, de Lennox Ro

    1955, que marcou a estria do Vian

    ator. Logo em seguida comeamos

    Est L Fora um Inspetor, de J.B. Pri

    me rendeu o Trofu Arlequim de m

    i l d d d S

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    gentilmente recusei. O problema ela no permitia que seus alunos

    de qualquer outra atividade te

    escola. Era uma questo de mto

    misturar as influncias. Eu at eestava por demais comprometid

    para abandonar tudo e ingressar

    TPE eu no era apenas um ato

    ajudando na formao de um gru

    largar tudo aquilo.

    At porque, na mesma poca, eu

    flertar com o Teatro de Arena, quser fundado, ali ao lado, pelo

    Renato. As coisas estavam aco

    forma muito rpida: numa cala

    ao lado, o Arena, nascendo pela

    Renato e de alguns formandos

    d E l d A D i

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    66

    palacetes das famlias mais abastadaMas se perguntavam: como que

    conseguir um teatro? Vamos faz

    apresentaes aonde? Ento surg

    pequena garagem na Theodoro Baybelezinha que se transformou no

    teatro de arena circular da Amr

    Parecia que tudo ali estava predesti

    certo. Era como um roteiro, em qu

    tinham de ocorrer com uma preciso

    nante. J vi alguns perodos de eferv

    teatro, mas o surgimento do Arenapraticamente no mesmo ano, foi rea

    acontecimento.

    Logo aps a abertura do Arena, o

    convidou a mim e ao Vianinha pa

    juntssemos ao grupo. Aquele c

    i d

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    Podia parecer traio. A sada encoacordo com o chefe de elenco do

    amos para l, mas oArena se com

    oferecer suporte tcnico para os

    lhos do TPE, inclusive atores. Acodois respondemos que sim e fomo

    A minha estria profissional com

    bm a do Vianinha, se deu no pa

    ainda em 1955. A pea era Escol

    do Molire. O papel do Sganarel

    nista, foi para as mos do Waldema

    Herbert e a Eva Wilma faziam pado Arena naquela poca. Acredit

    Rossi tambm.

    O TPE tinha inteno de co

    atividades, e no somente nos paonais. Eles queriam fazer apresen

    l l i l b i i l

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    68

    mos todos muito jovens. A ideologiarenciava os dois grupos. Eu acredito

    na no tinha uma ideologia determ

    ideologia poltica, eu quero dizer. E

    mos de sobra. Esta parceria permitiu grupos chegassem a algumas conclu

    meira coisa que ficou clara que n

    com enorme respeito ao que seria o

    fissional, queramos fazer teatro p

    como se fosse amador, com todos

    ousadias possveis. Dentro doArena p

    que todos os planos que reservvamTPE s seriam realizados se tivss

    estrutura profissional por trs. O

    principal, claro, era poder viver do

    viver o teatro. E deu certo, no ? O m

    teatral da poca nasceu a partir d

    d i

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    no podia ficar retesado em cenabros encolhidos. Mas o que cont

    do na poca era uma viso crtica

    conseguisse traduzir no palco a re

    leira daquele perodo. Quem cheencher este espao foi o Augusto

    do pelo Z Renato para dividir com

    artstica doArena, um pouco dep

    rada da pea Dias Felizes, uma

    muito simptica do francs Claude

    encenada em 1956.

    O Augusto Boal tinha se formadoria qumica e depois viajou para No

    foi estudar dramaturgia. L ele

    crtico maravilhoso, chamado Joh

    voltou dos Estados Unidos compl

    cidido a trabalhar com teatro e a

    i f i l

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    70Ratos e Homens, co

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    Esta pea, do Sean OCasey, foi

    pblico. Precisamos tirar rapidame

    para que uma crise que j comea

    Vianinha e Esther Guimares em Juno e o

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    72

    Talvez o Augusto Boal no imaginasse encontrar noArena um pessoal t

    do um material humano to bom p

    S o Fara tem Alma, com Sadi Cabral e Rom

    Fiq ei de anos no Arena De 19

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    Fiquei dez anos no Arena. De 19

    Arena no resistiu represso g

    golpe militar de 1964. O regime n

    turava ou tirava as pessoas de c

    fechava todas as possibilidades deo teatro. Eles impediam que a

    qualquer patrocnio. Eles secar

    estrangularam oArena.

    Fazer parte doArena passou a re

    perigo nossa integridade fsica.

    ameaas. O grupo no poderia s

    quelas condies. Como o tempo de provar, no sobreviveu mesmo

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    74

    Captulo V

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    Captulo V

    O Garoto est com Febre Nervosa

    Eu morava com meus pais na Rua

    Mariana, quando escrevi Eles No

    Tie, em 1956. Eu sentava mqui

    madrugada e no precisei de ma

    ms para concluir a pea toda. Alg

    se impressionam quando digo qu

    eu escrevi aquele texto. Mas eu escrever muito rpido, devo ser u

    por Deus. Porque basta eu me sen

    teclado para que as histrias jorr

    Parado no Ar, por exemplo, eapenas trs madrugadas. Se m

    f

    A maioria das minhas peas comea c

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    76

    A maioria das minhas peas comea c

    chamando algum. Em A Semente,

    uma mulher gritando: Manel, Man

    Manel, t apitando. Em Ponto de Pa

    o pastor dizendo: Birdo! Mestre Bbrinque assim, amigo. O mesmo oco

    Grito Parado no Ar, quando o pe

    Augusto entra no palco de um tea

    grita: Como , pxa! Ningum a!

    Eu acredito que, no fundo, sou eu

    chamando para o trabalho.

    Eu comecei a escrever para teatchegada do Augusto Boal ao Arena

    muito entusiasmado com esta descob

    estudo da dramaturgia brasileira. N

    tamos isso noArena, vivamos para esentia que precisava fazer alguma

    l b l

    Eu ia deitar muito tarde levanta

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    Eu ia deitar muito tarde, levanta

    ras, passava as tardes ensaiando

    zendo os espetculos. Terminei Bla

    anos. Se a gente no considerar a

    que eu fazia para o teatro do colJaneiro, Black-Tie foi minha prim

    Quando Black-Tie estreou, em 19

    uma responsabilidade terrvel. E

    mnima idia do que poderia aco

    pea. Ao

    da mont

    assustadcabea,

    apenas c

    mas cois

    em tom de protesto mesmo. Eu dvou escrever para botar para for

    i M d i

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    78

    Cenas da 1a montagem de Black-Tie, no Ar

    em excurso (abaixo)

    assustadora. Eu dizia apenas: a

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    assustadora. Eu dizia apenas: a

    estrear. Mas tambm sentia uma e

    fiana no resultado daquele traba

    Eu trabalhei como ator na primei

    de Black-Tie, no papel do Tio, fie Romana, o rapaz que decide fu

    para no perder o emprego e no

    o sustento do filho que est cheg

    sua noiva, est grvida. A direo

    do Z Renato. No elenco da prime

    da pea estavam o Eugnio Ku

    Abramo, Riva Nimitz, Celeste LiAssis, Flvio Migliaccio, Xand B

    Xavier, o Milton Gonalves e o He

    Mais tarde a Miriam Mehler e a

    namorada do Vianinha, tambm elenco. Na poca, no era um ele

    l l

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    80

    Com Eugnio Kusnet e Miriam Mehler em B

    Ela recebeu muitos prmios por es

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    p p

    Eu precisei abandonar o espetcu

    da temporada, por problemas de

    um cara que, saindo do teatro, ia

    varava as madrugadas escrevendoa maior alegria do mundo, dor

    trabalhava muito. Chegou uma ho

    quebrei. Em uma das apresentae

    branco horrvel. Simplesmente n

    nada, nada mesmo. Sumiu tu

    desmaiei, mas minha cabea ficou

    pane terrvel. Eu consegui sair dDa viram logo que eu no e

    chamaram um mdico que chegou

    para me atender. Pra com tud

    Este moo est com febre nervmeu diagnstico, febre nervos

    i i d f l

    A Maria Della Costa, lindssima, faz

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    82

    gra. Eram 40 atores em cena, um sho

    O espetculo via-jou para a Fran

    Portugal, sempre representado em

    Gimba foi a primeira pea brasileiraos tem

    convid

    ticipar

    Festiv

    es,

    Sarah

    em PaNoAre

    Tie c

    como

    cie de sistnc

    do Tio. O que ficou para mim, da

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    porada de Black-Tie, foi a enorm

    da montagem. Talvez por ter sido

    em que a classe operria tenha

    como protagonista. Muitos estuque conhecia bem a histria do te

    afirmaram, na poca, que nunca u

    operrios havia sido retratada daq

    nos palcos nacionais. Eram classe

    tendo sua histria contada sem ro

    acreditava que a sociedade j e

    para ouvir uma histria daquele tiestava mesmo, porque tudo com

    a partir daquele momento. O te

    expe-rimentar um processo de re

    fase de crescimento. Desde a diretores italianos ao TBCque o t

    f

    teatro no colgio do Rio, das pecin

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    84

    escrevia por l. Meu pai sabia que,

    maneira, ele tinha me tirado da msic

    sabia que rumo minha vida tomari

    ele viu o xito da montagem, comoque eu estava preparado para fa

    coisas. No fundo, acho que ele sentia u

    tamanho do Black-Tie que como

    tivesse sido escrita por ele. Na minh

    coisa funcionou de uma maneira

    diferente.

    O meu grande prazer foi ter escrito visto o texto ser montado foi uma con

    Eu nem pensava em montar a pea, n

    Escrever j est timo, era assim que e

    A passagem do tempo pode se conveinimigo de quem escreve, porque vai

    id d i i d

    barrando a espontaneidade. Sabe

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    te mais dolorosa do trabalho de

    Reconquistar a espontaneida

    consegue isso, s continu

    tranqilamente pelo caminhescolheu. E parar de ficar se pergun

    tem ou no talento. Esta dvida

    Os momentos de falta de inspir

    so terrveis, aquele branco qununca mais vai abandonar voc.

    constitua num peso para mim, t

    que eu me sentava para escreveque nunca mais ia fazer nada igu

    que nenhuma outra pea que eu

    teria o peso e a importncia daq

    Mas da eu conseguia escrever upumba! - espantava aquele fanta

    para que eu conseguisse fazer o que

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    86

    palmente a juventude, porque havia

    rosidade juvenil na minha produo

    Com Black-Tie eu nunca procure

    nenhum tipo de tese, em comunicverdade absoluta. Voc pode exami

    ainda hoje, com olhos crticos,

    encontrar nele qualquer sinal de pa

    Eu coloquei no personagem Tio as d

    eram minhas. Eu furaria uma greve pa

    meu emprego e assim poder sustenta

    que vai nascer? Ou no? A histria m

    que algumas decises no so

    tranqilas. No coletivo fcil dizer: va

    juntos, tudo bem, vamos enfrentar

    Mas as coisas no so to simples asera um personagem que pensava mu

    l f di d l

    defesa de um direito do trabalha

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    o Tio era um personagem que n

    fender este direito, e pronto. O p

    pela defesa deste direito, mas ele

    que ele ia ter um filho e queria repara poder deixar o morro. E isto

    dele, compreende? Ele tinha o di

    por seguir trabalhando e deixar o

    lado. s vezes, na luta entre o indivcoletivo, este ltimo perde. No cas

    deu. Tentei imaginar outros finai

    mas todos me soaram deprimente

    Se fosse haver uma seqncia par

    dito que ele continuaria a defen

    tar, mas no somente o dele, mas

    pessoas com as quais ele se preocmulher e para o filho. Mais adian

    b i i d f li

    soa: voc pode ter uma preocupa

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    88

    questes sociais e, ao mesmo temp

    maneira ferrenha pelos seus direito

    ais. Embora um deles parece estar se

    cendo. um choque interno, pois aum nunca destri o outro, a gente e

    mudando. Ns nunca seremos, ama

    somos hoje.

    Eu nunca admitia para mim mesmpudesse estar no lugar do Tio. Ma

    me coloquei no lugar dele, e expe

    sensao de lutar pelos meus prpr

    de ter um caminho de felicidade. Ma

    caminho utpico, sozinho voc pode

    perto da felicidade, mas nunca nela

    eu acho a respeito do Tio se resume simples: ele no quer nada demais, p

    f li di di

    grado com as propostas de drama

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    tavam em curso noArena, que n

    dar errado. No havia nada naqu

    tivesse sido tomado emprestado d

    de outra situao, era tudo integrado realidade brasileira

    segurou a minha barra aps o de

    o ltimo ensaio geral. Eu disse p

    nhia: ns precisamos estrear at

    Teatro de Arena da falncia. E se

    quiser. Ento veio a estria, que

    exatamente s minhas expectativ

    Eu fiquei eufrico porque houve u

    geral. Uma aceitao do outro, o

    A receptividade da crtica foi est

    no sei, at hoje, o que deu em toelenco, s sei que eles represent

    fi Q d l

    havia um ator querendo constrange

    d i d A

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    90

    todos estavam muito vontade. Aqu

    que eu senti ao escrever a pea est

    reproduzida durante os ensaios.

    Kusnet era quem mais se destacava ensaios. Ele era um estudioso, falava

    que a compreenso dele a respeito d

    maior do que a nossa. Ele entendia

    o que era a to famosa alma russa

    para que fossem gravadas as falas d

    pai do Tio, que era seu personagem

    montagem. Ele tinha um sotaq

    acentuado, ento ficava horas ouvin

    fitas para compreender como deve

    falas do Otvio. O cuidado dele era e

    para compreender o texto cada dia mcaptar as sutilezas de todas as frases

    i d i

    Romana, Otvio, Tio e o Chiqui

    i l d b A i

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    mia na sala do barraco. As coisas

    das, porque Black-Tie ficou tanto t

    taz e hoje, por mais que eu me esf

    sigo mais me lembrar como era aqImpressionante, no ?

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    93/226

    92

    Captulo VI

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    A Noite em que Black-tie foi ao C

    A verso para o cinema de Eles N

    Tie estreou em 1981, dirigid

    Hirzsman, com quem eu escrevi

    uma maravilha poder trabalhar

    que se props a dirigir um filme b

    histria que voc escreveu. Fique

    que participei at dos desenhos

    que foram feitos praticamente qua

    Havia um desenhista timo na equ

    aqueles quadros com uma perf

    sionante. Como o Leon visualizavo que ele queria, o filme foi mu

    d

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    95/226

    94 Cenas do filme, com Carlos Alberto Ricelli, BFernanda Montenegro

    aproveitava para fazer o docume

    da Greve que mostra o surgimento

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    da Greve, que mostra o surgimento

    to dos metalrgicos de So Paulo,

    te em So Bernardo, s vsperas

    Partido dos Trabalhadores.Estava em curso um momento h

    para a adaptao do Black-Tie par

    incio do movimento grevista no

    se encaixou perfeitamente his

    pela pea, forneceu uma atua

    grande ao tema. E o que estava

    em So Bernardo no era um epis

    histria estava sendo escrita naqu

    Foi um episdio importantssimo,

    vinte anos depois, na cheg

    exmetalrgico Presidncia da RA transposio da histria pa

    li i i d

    haveria uma contradio. Porque e

    ambientar a histria novamente num

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    97/226

    96

    ambientar a histria novamente num

    eu no queria mais isso. Eu queria

    dez, o cimento e a fumaa que So P

    ce como ningum. Ao mesmo temporealidade do operariado paulistano

    uma coisa rspida, pode tambm com

    esia e afetividade. Isto tambm est

    nagens da pea, que se gostam muit

    lo era o endereo. Cabia tudo direi

    era em So Paulo, naquele momento

    tos estavam ocorrendo.

    Captulo VII

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    O Sucesso Comea na Coxia

    Durante a temporada de Eles No

    Tie eu fui convidado pelo Sandro

    escrever uma pea que pudesse

    pela Maria Della Costa. Este c

    primeiro resultado do sucesso

    vamos chamar de um primeiro r

    Escrevi Gimba, que estreou em 19

    Maria Della Costa, com direo do

    No elenco, alm da Maria, estava

    Campos, fazendo Gimba, e o Osw

    um bruta de um ator, adoro o tMais tarde o Louzada voltaria

    i O i

    muito estimulante, porque eu anda

    com vontade de fazer um texto

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    98

    com vontade de fazer um texto

    encenado em palco italiano.

    experimentar a sensao de traba

    produo maior, ter preocupao coe tudo isso. Eu sempre tive fas

    mudanas de cenrio, desde os t

    criancinha, quando eu via aquelas

    Teatro Municipal do Rio, com tod

    jogos de luz. E, aceitando o convite

    eu poderia juntar as duas coisas: a gra

    de uma produo e o carter socia

    dramaturgia. Eu topei fazer e escr

    tambm. Na poca eu devo ter receb

    encomendas, mas que sou p

    tambm. Quem pede um texto parde me pegar no pulo. Eu preciso sabe

    d i

    uma encomenda da Fernanda M

    que acabou inaugurando o Teat

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    que acabou augu a do o

    na Barra Funda, em 1968.

    Os convites sempre traziam muita

    criao. Ningum me dizia que quminha para falar de determinado

    pediam uma pea e pronto, som

    tinha autonomia total para criar.

    cada espetculo eu tinha experimentar outras linguagens

    procurava fugir do realismo, em

    eu brincava com a cronologia. Era

    eu tinha de ser ousado. No caso

    Marta Sar a pea obedecia ao f

    branas da personagem, e este fl

    ordem cronolgica.O que aconteceu ento? O Fern

    id d d M

    Ele argumentava que no dava para f

    da maneira como eu havia escrito, qu

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    100

    , q

    no iria compreender nada. Eu n

    dificuldade ali coisa nenhuma, ma

    texto e fiz algumas mudanas para Eu entendia Marta Sar como um gra

    da personagem. Em um momento d

    que a personagem j tinha uma certa

    comea a escrever um dirio, que v

    tando os fatos de acordo com o grau

    tncia que eles tiveram na vida dela,

    cronologia dos fatos. Ento ela se lem

    coisa importante aqui, depois de ou

    tante mais l na frente, ou seja, no

    peito pela linha do tempo. Concord

    o pblico pode ser um pouco mais cacompanhar o fluxo das lembrana

    l b d

    nova na questo da narrativa e

    dos fatos.

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    102/226

    No caso de Gimba, a primeira cois

    cabea foi uma negra lindssim

    muita maquiagem, a Maria Dellapenas morena, nem mulata ela

    pouqussimos atores negros naqu

    Milton Gonalves foi um dos prim

    sucesso no teatro. A Ruth de conhecida, mas por sua participa

    no no teatro. Havia o Solano T

    mantinha um movimento artstico

    havia o Teatro Experimental do

    pelo Abdias do Nascimento.

    Acho que na poca de Gimba, a M

    ta e a Cacilda Becker eram duas dafamosas de So Paulo. Eram tamb

    f d

    sorvido pelo Arena, que tambm a

    surgir. Na seqncia, surge o Oficina

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    103/226

    102

    cimento do que a gente chamava d

    novo. Eu no sou um profundo con

    teatro brasileiro, como estudioso euzer, mas no tenho notcias de um o

    do que tenha sido to decisivo para a

    o de um teatro brasileiro mesmo.

    Foram aqueles grupos que deram umo teatro que estava sendo feito no Br

    na nasceu por fora da fuso do p

    de esquerda com a pesquisa de

    dramaturgia nacional. Esta preocupa

    velar novos autores que pudessem fa

    trato do Brasil no palco j era to evi

    ainda durante a temporada de Blackna criou os famosos seminrios de dr

    O d

    ta, trs no sbado e duas no do

    no era fcil.

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    104/226

    O Quarto de Empregada, do Robe

    revelado no Seminrio de D

    Chapetuba Futebol Clube, do Vbm. Na verdade, o Vianinha j h

    Chapetuba antes da criao do se

    ele mexeu muito no texto para a

    Mais tarde, Chapetuba Futebol Clutemporada, e o mesmo se deu com

    na Amrica do Sul, do Augusto Bo

    apresentado no seminrio na

    segunda-feira. Chapetuba tratava

    futebol, mas fazia uma radiogra

    sociedade brasileira naquele mom

    peas nascidas do seminrio e quepalcos foramA Farsa do Cangace

    d d Chi d i i

    Alguns autores discordavam das pr

    seminrio e caram fora depressa

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    105/226

    104

    Andrade foi um deles. Ele no aprec

    tipo de orientao e desistiu de pa

    crticas e as cobranas eram muito gprprio estaria perdido se Black-Tie

    sido um sucesso.

    Jorge Andrade j era um autor renom

    do foi participar do seminrio. A CMaria Della Costa j tinha montadoA

    que um texto que eu adoro. Eu viA

    antes da estria do Black-Tie, e n

    pessoalmente o Jorge. Na noite em

    Tie estreou, ele veio falar comigo

    minha mo e disse: Rapaz, voc

    animou, sabe? Acho que d para dramaturgia brasileira. Aquilo par

    l i b

    Escada, por exemplo, so textos,

    nio, mais fceis de serem assimil

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    106/226

    Eu tenho a impresso de que o

    participar do Seminrio de Dra

    Arena para ter a chance de discde texto especificamente comigo.

    escreveu Vereda da Salvao aps t

    Tie, aquilo o inspirou. Mas ele

    seminrio. Talvez ele tivesse criativo se continuasse por l.

    Naquela poca, a crtica se referia

    um moleque talentoso, ou u

    talentoso, como algum chegou

    maioria deles, ou ao menos os mai

    como Sbato Magaldi, Dcio de A

    e Delmiro Gouveia, parecia torcmim, para que eu continuasse a e

    i h i d d

    relao do tipo aluno-professor. Eu

    pre fui um autodidata, considerava

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    106

    ticos como mestres. Todo autodidat

    sente alguma insegurana em relao

    balho, e est sempre em busca de apossa dar uma beno. E eles me tra

    muito respeito, como se eu fosse m

    espcie de aluno deles.

    Era uma crtica muito digna, a feitempo. Talvez porque eles tivessem m

    para ir fundo na anlise dos espetcu

    tempo, isso tambm foi desaparece

    uma nota, nota de rodap. O esp

    crtica, atualmente, est uma lstim

    pena, pois por mais contraditria qu

    uma crtica, ela muito importanespetculo. Eu penso que a contrad

    bj i d i d 0 0

    peas, mesmo as de grande suce

    cartaz somente de sexta a domin

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    108/226

    o prprio teatro deve ter uma pa

    nisso, pois ele permitiu que mu

    autores fossem roubados pela teque a televiso uma mdia

    poderosa, e que se consolida cada

    o passar do tempo. O teatro hoj

    encruzilhada: para se levantar umrecomendvel ter no elenco um

    da televiso. S que este gran

    televiso est comprometido co

    durante a semana, e s pode sub

    partir da sexta-feira. H algu

    produtores comearam a excluir

    das temporadas, depois as quintat as sextas esto ameaadas. E o

    d ilh

    Eles tm a impresso que s se faz

    tando na televiso. o tipo de suce

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    109/226

    108

    to, pois a prpria pessoa pode perceb

    ficando famosa. Ento eles tm co

    chance de pousar direto na tev paraaval da popularidade. Por outro lad

    vens de um despojamento total,

    maior dedicao que continuam lut

    teatro.Um exemplo disso so os atores j

    quem eu atuei na pea infanto

    Pequeno Livro das Pginas em Bra

    garotes com quem eu mantive um

    mento maravilhoso nas coxias, eram p

    se respeitavam muito, que gostavam m

    das outras. O sucesso do espetculo coxia. Um elenco que no se d be

    l d d

    mais chato do que arestas nas co

    lidades difceis, carter duvidoso,

    b d i i h

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    110/226

    bate, tudo isso uma aporrinha

    infelizmente, a figura do sacana.

    te em qualquer lugar, no seriateatro.

    Eu sempre fiz questo de trab

    pessoas com quem eu gostaria

    mesmo na direo. Escolhi semprcom os quais eu acreditava que n

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    110

    Captulo VIII

    O it d S t F

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    112/226

    O xito da Semente e o Fracasso

    Eu passei a conhecer melhor o que

    a partir da pea A Semente, de

    sempre existiu, desde a poca do

    mas eu nunca tinha me aproximaseus mecanismos. A censura que e

    meio desta pea, no entanto, no e

    censura bem organizada, mantida

    como ela passaria a ser aps o go

    conheci a censura promovida por

    da sociedade, que fizeram press

    pea fosse proibida, j que ela ttema que, para muita gente, era

    i d P id C i

    Para nossa sorte, eram uma minoria

    tavam com o mnimo apreo do rest

    dade Mais tarde esses radicais forma

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    113/226

    112

    dade. Mais tarde esses radicais forma

    o terrvel Comando de Caa ao Comu

    tambm eram uma semente... Mas u

    te muito diferente da minha Semen

    Deus.

    Aquelas pessoas, que no entendiam

    no eram autores, no eram nada nser bem sincero, tentaram responder

    da minha pea com uma provoc

    fizeram uma pea chamada O Caro

    tada como uma pardia de A Seme

    brincadeira no deu certo, eles n

    pblico algum. No contentes, ch

    recorrer Censura Federal, exiginSemente fosse tirada de cartaz.

    f i l ibid

    Naquela poca havia uma prtica

    e desagradvel por parte da cen

    era obrigada a fazer o espetcul

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    114/226

    era obrigada a fazer o espetcul

    para uma comisso de censores. Er

    j montado, com tudo em p, um

    estria, sendo feito apenas para a

    corramos um risco absurdo, por

    exigiam que as cenas fossem

    reescritas, eles exigiam que elas fodo espetculo, cenas inteiras. O

    feitos de acordo com os critrios

    que era um grande absurdo. O

    Deus... Qual era a legitimidade

    Quer dizer, ele havia sido nomea

    isso mesmo, cortar as cenas. Mas

    quem? E por qu? Que poder erele exercia? Os anais da censura

    i b ilid d d i h

    Ele ia carinhosamente at a grvida

    o ouvido em sua barriga para perce

    se mexendo O que h de ofensivo

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    115/226

    114

    se mexendo. O que h de ofensivo

    eles cortaram. Era um absurdo, um pr

    pretexto poltico para impedir que a

    encenada, j que o texto falava da

    Partido Comunista e das lutas partid

    eles no podiam divulgar os verdadei

    da proibio, criavam estes mecanispara tentar implodir a pea. Tudo

    manto da moral e dos bons costum

    que eles diziam.

    O secretrio de Segurana Pblica de

    na poca da proibio de A Seme

    Virglio Lopes da Silva. Ele foi cora

    ofereceu cobertura e solidariedade. Eque quem daria um veredicto sobre

    i i d d l id

    O Virglio, ento, encontrou um

    diplomtica para garantir a

    sociedade sem desrespeitar a

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    116/226

    sociedade sem desrespeitar a

    censores federais: ele permitiu a

    pea, mas somente no Teatro

    Comdia. E nada, alm disso. P

    efeitos, A Semente estava proib

    territrio nacional. A primeira tem

    o Leonardo Villar como protasegunda, Juca de Oliveira, um jo

    fez valer todas as apostas que fiz

    nica apresentao da pea longe

    TBC ocorreu na sede do Si

    Ferrovirios de So Roque. Aprese

    l e no houve problema nenhum

    A Semente foi uma pea que deantecipou alguns movimentos so

    d

    Participei de ocupaes de terra, fu

    Ligas Camponesas de Pernambuco

    conviver com os camponeses eu pa

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    117/226

    116

    conviver com os camponeses eu pa

    certeza de que nunca eles iriam

    levante. A vida deles era terrvel,

    sendo, mas no fcil organizar um m

    Ficou ntido para mim que a

    preocupao deles era com a co

    passavam fome e estavam muito anveis educacionais e de sade t

    recomendados para o pas. Eu voltei d

    e disse: no d, se eles fizerem

    movimento, eles vo ser massacrado

    Eu escrevia minhas peas a partir de

    observaes, que no eram ob

    plsticas, mas de algum que punhmo na massa. Mas eu tambm n

    M i i b b

    Acho que minhas peas seguiam

    to histrico, elas acompanhavam a

    estava sendo vivida no pas em c

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    estava sendo vivida no pas em c

    at desembocavam em algum lug

    vejo nenhuma delas como um

    futurologia, eu nunca tive t

    descrever o futuro distante. O qu

    era a viso do homem, principalm

    do homem brasileiro, que era objpreocupao. Eu no tinha a m

    para falar de outra coisa.

    A Semente abriu um perodo mu

    para mim no TBC, no s para mi

    Juca de Oliveira, o Flvio Migliac

    Rangel tambm. Depois de A

    fizemosAlmas Mortas

    , uma pea romance do Nikolai Gogol que f

    i i i f

    balho no TBC, em 1962. Nesta poca

    to foi eleito presidente de honra do

    Arena e criou um grupo no qual ele

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    119/226

    118

    e a e c ou u g upo o qua e e

    luta confiana. Este grupo era formad

    pelo Augusto Boal, pelo Paulo Jos e

    Cotrin, entre outros. Ns ficamos

    espcie de diretores do Arena e

    semanas mais tarde, encena

    Mandrgora, do Maquiavel, a pea qnosso retorno velha casa.

    Quando A Mandrgora saiu de c

    promovemos um festival de autores

    mais antigos, como Arthur de Azeved

    Pena. O festival foi um sucesso e tanto

    estava voltando a dar certo e a se fi

    um eficiente produtor de espetproduo seguinte foi uma adapta

    l l d O lh i i d

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    Cenas de O Melhor Juz, o Rei (acima com Je Joana Fomm, abaixo todo o elenco)

    da populao. Um prato cheio para c

    graa diante dos olhos da revoluo

    sim que foi dado o golpe, a pea teve

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    120

    q g p p

    cartaz.

    Na noite de 31 de maro, a pea foi a

    normalmente. Depois da aprese

    comecei a coordenar um debate c

    estudantes de Medicina, ali na USP

    Antonia. Eles tinham estranhado muda pea, parece que no gostaram

    que eu fiz dos camponeses, to supe

    temerosos autoridade e s fig

    tucionais. Quando eu estava explicand

    que a figura do campons descrita n

    um retrato muito fiel dos campone

    conheci no Nordeste, entrou um care disse: Foi dado o golpe, a revo

    l i l

    Naquela poca eu era colunista do

    via historinhas bem populares. Co

    jornal para tentar descobrir qual s

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    122/226

    do general Amauri Kruel, coman

    gundo Exrcito, e do governado

    Barros. No fundo, ns espervamo

    recessem alguma resistncia, mas q

    houve resistncia. Ou melhor, que

    caiu ou foi cassado.No dia seguinte ns resolvemos fe

    Ns apenas nos antecipamos, po

    seria fechado de qualquer jeito. E

    cima mesmo. Ns tiramos O Filh

    cartaz, fechamos o teatro e fic

    dando uma de panaca. OArena p

    Eu acredito que os militares palguns dias para ver em cima de qu

    l i d

    pouco antes da minha casa, eu vi mu

    dos de uniforme fazenda ronda pela cando as proximidades da Rua ure

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    123/226

    122

    morava. No tive dvidas de que el

    atrs de mim. Conclu que no daria

    voltar para casa. Resolvi telefonar p

    pai, que foi me buscar e me levou pa

    de alguns amigos, aqui perto de So

    mo. O dono do stio na poca era Hotel So Bento, amigo ntimo do m

    sei alguns dias escondido naquele s

    andava muito inquieto. O que eu po

    ali, longe de tudo, sem saber direito va acontecendo com meus amigos?

    iria me levar para onde? Um dia, ac

    se: no. Vou sair para procurar alguas. O primeiro amigo que procurei fo

    b lh

    do Teatro Oficina um exemplo d

    turbaram muito o teatro, mas d

    ram que ele fosse reaberto. Mas

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    OArena permanecia fechado.

    O Ciro acreditava que a coisa ia

    para o nosso lado, que seria melh

    semos de circulao por algum te

    dele foi esse: colocou a mim e ao Ju

    dentro de um fusca e nos levou atTrs Lagoas, no Mato Grosso do

    emprestou algum dinheiro e d

    esquema o seguinte vocs vo p

    para Corumb e, de l, outro tre

    Cruz de La Sierra. Vocs vo se

    estvamos praticamente com a ro

    um esquema assim, sem leno semEu estava com 30 anos, casado e co

    l d d d i

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    124

    Captulo IX

    Juca, O Don Juan do Fome Zero

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    Este trem que ligava Corumb a

    La Sierra, na Bolvia, era o fam

    Morte, que costumava levar muito

    A distncia entre as duas cidadeto grande mas, se no me enga

    foi feita em quase trs dias, po

    parava muito. Eu sempre achav

    para embarcar mercadoria contrabuma aventura. s vezes o trem pa

    os funcionrios fossem buscar len

    funcionar a locomotiva. Era umfaroeste.

    f i di

    Fomos procurar uma estao de rdio

    sora de televiso e no encontramos

    havia porcaria nenhuma. O jeito en

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    127/226

    126

    correr aos estudantes, mas os c

    bobinhos tambm, eles no conhecia

    quem a gente era. Eles no sabiam

    Decidimos tomar um nibus, uma

    jardineira para a capital La Paz. Acho

    passei tanto frio na minha vida, aqusubindo para La Paz, subindo, at o

    Mas a gente s dizia: que beleza, n

    a. Quando chegamos a La Paz, p

    dinheirinho que havia sobrado e alu

    quarto de hotel a gente queria e

    dormir para caramba. A gente est

    cansado e no dia seguinte tinha deprocurar algum, algum contato qu

    j d j h

    um sobretudo muito elegante. U

    do instituto nos disse que ele daria

    naquele dia, e que ns poderam

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    assistir. Eu disse para o Juca: olha

    cara. Vamos l, ao menos um jant

    oferecer. Fomos conversar com e

    mos que era um cineasta. Um cinea

    Eu e o Juca nos olhamos e pens

    devia ser o nico cineasta do parealmente o nico, naquele mesm

    ficou sem cineasta, porque ele est

    o pas por falta de condies de tr

    tinha enviado toda a famlia para

    e estava indo se juntar a ela

    apresentar e ele ento comeou a

    situao da Bolvia. Ele quase cho

    que conseguia estar mais duro

    i i d

    Nas semanas seguintes comearam a

    exilados brasileiros, entre eles o Artue alguns sargentos que tinham se m

    l

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    129/226

    128

    contra o golpe. Nossa sorte que est

    chegaram com um pouco de dinheiro

    ram a ajudar no nosso sustento. O que

    sorte, porque havia alguns dias q

    comamos aji (espcie de piment

    picante, usado em diversos tipos de Era arroz com aji, sopa com aj

    agentava mais ver aquilo na minha f

    mim, o aji continua sendo um tempe

    tvel, nem o cheiro dele eu tolero.

    Por uma dessas ironias da vida, o qu

    nosso estmago foi um tersol que sur

    olho. O Juca de Oliveira saiu em bu

    oftalmologista e encontrou um que

    i l d

    trado algum sensvel, algum q

    posto a diminuir a dor que ele estClaro que o Juca encontrou uma m

    ti d d lh t

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    tinuar dando esses conselhos sent

    restaurante: assim, enquanto o sof

    roso do mdico ia diminuindo, a no

    bm ia desaparecendo. Enquanto

    sava com ele, eu s comia. Eu esta

    interessado no meu apetite no quconjugais daquele oftalmologista

    Com o estmago cheio, a gente e

    nemas, s vezes via o mesmo filme

    vez, s para ter alguma coisa par

    idia era conseguir meios de che

    algum contato que nos levasse at

    conseguimos nada. Depois decid

    Chile por Cuba. Fomos embaixad

    l d d C b l i i

    l. Um dia, eu e o Juca nos sentamos

    e dissemos: quer saber, ns vamos vdam ou no prendam, matem ou n

    lt A i

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    131/226

    130

    ns vamos voltar. Aqui que a gen

    mais. Porque o que a gente estava te

    bm no era vida. Depois me falar

    coisas por l melhoraram um pouco

    que no muito, no ? Eu estava c

    ver as pessoas passando fome nas ruUma das coisas mais preocupante

    aquele nosso perodo na Bolvia e

    de informaes sobre o que esta

    cendo no Brasil. Ns tentvamos e

    alguns contatos, mas no consegua

    O dia mais desesperador foi quan

    be, por meio de uma rdio de La Pa

    pai tinha sido preso. Mas a rdio

    i d i

    E eu ia conferir no banco se o d

    chegado, e nada.Meu pai havia sido preso mesmo,

    por algumas horas Ele foi leva

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    por algumas horas. Ele foi leva

    interrogatrio no DOPSe o mant

    meio dia talvez, mas logo ele fo

    no sabia como estavam meus pa

    filhos. Naquela poca eu j tinha

    Flvio, mas em relao s crianas etranqilo, pois sabia que eles es

    me, e que os avs maternos tam

    por perto.

    No final do terceiro ms decidimo

    de volta. E que surpresa ns tive

    mais o mesmo trem, agora era um

    litorina, mais confortvel e rpida

    que aquele golpe na Bolvia tinha

    f i Q d

    feijo, ovo frito e um pedao de lom

    eu estava com uma saudade daquevoc no faz idia.

    Meu primeiro contato com o Brasi

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    132

    Meu primeiro contato com o Brasi

    meses de exlio, foi atravs de um pra

    com feijo. E um copo de cachacinh

    momento eu senti que eu estava vol

    casa. Eu e o Juca decidimos ento

    conduo que nos levasse at So Pacerteza de que, ao botarmos os ps

    seramos presos.

    Mas que nada. Chegamos a So Pau

    nh, eu e o Juca nos despedimos e c

    para sua casa. Estvamos com medo,

    do que havia muita gente mobilizad

    ajudar.

    Captulo X

    Por Favor, Ocupem seus Lugar

    reguem suas Armas

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    reguem suas Armas

    Fazia algumas semanas que eu es

    a So Paulo quando fui informad

    delegado do DOPSqueria conve

    Minha audincia foi marcada pajulho. Fui sozinho ao prdio do DO

    de So Paulo, e no encontrei nin

    nem sentinela guardando o port

    porta aberta e entrei em uma d

    tinha at um jornal atirado no ch

    o prdio estava inteiro vazio. Ach

    estava cheirando a emboscada. P

    eu sasse dali naquele momento,

    l l i fi

    Depois desta passagem eu comecei a

    do movimento pela reabertura doAugusto Boal estava no Rio de Ja

    voltou para nos ajudar na produo

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    134

    voltou para nos ajudar na produo

    de Molire. A pea era um pouco cabe

    de hipocrisia, no enfrentou muitos

    com a censura. Na poca, Tartufo era

    possvel de um grupo de artistas q

    voltando ao trabalho. A temporadsatisfatria, ficando em cartaz at pr

    o final de 1964. No final daquele

    decidimos que havia chegado a hora

    falar um pouco mais da histria d

    percebemos que o personagem hist

    indicado para abrir este ciclo era Zum

    do Quilombo dos Palmares. Foi nesta

    eu conheci o Edu Lobo. Ele foi at m

    l i i

    muito tempo, pois a liberdade de

    tava desaparecendo num ritmo aA dificuldade de pr este ciclo em

    com a liberao pela censura de

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    com a liberao pela censura de

    Zumbi, cujo texto eu havia feito em

    o Augusto Boal, e as msicas tin

    cargo do Edu Lobo. Foi um proje

    mente integrado. O Edu Lobo no

    positor de fora que chegou apenum trabalho, sem compromisso.

    ele participou mesmo, mergulhou

    cesso de produo e entrou par

    maravilhoso poder trabalhar com

    ali do lado, acompanhando tudo

    Ns chegvamos a varar as madr

    do msica. Ento chegou o mom

    sentar o trabalho, totalmente pro

    d Q lib

    de cartaz, porque seno ela teria m

    blemas. Ela j estava sendo pres-siosuperiores. Todo ms eu era obrigad

    der para ela a mesma coisa: Mas mi

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    136

    der para ela a mesma coisa: Mas mi

    ra, veja se isso possvel. Ns temos

    todos os dias, ns no podemos, em

    ncia, tirar a pea de cartaz. A meno

    nhora proba a pea, a senhora tem

    no tem?. Mas da ela ficava npobrezinha, no queria assumir soz

    ponsabilidade de proibir o espetc

    apenas um exemplo das contradies

    sura sempre enfrentou. Ela no qu

    pea de cartaz, mas de certa forma

    do obrigada a fazer isso. Mas obriga

    maneira indireta, percebe? Ningum

    ordem especfica para que ela

    l d f i b

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    De repente, era como se o Ar

    sediando um movimento da jo

    platias lotadas, animadas. O x

    tinha deixado a censura em um

    Como mexer naquilo?

    Cena de Arena Conta Zumbi

    prdio. Vrias vezes eu fui obrigado

    DOPSpara ver se havia mesmo bArena. Os agentes do DOPS sabiam

    havia bomba coisa nenhuma, eu tin

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    138

    ,

    disso. Mas quando eles chegavam, e

    alguns atores ficassem ao lado deles

    eles realizavam a percia. Eles no a

    da presena de uma testemunha

    buscas. E a gente ficava ao lado dequ? E nunca foi encontrada nenhu

    Ento eles nos provocavam, dizendo

    de a bomba no ter sido encontrada

    dizer que ela no tivesse sido coloca

    poderia estar muito bem escondida

    isso explodir, como que vai ser? E

    eles nos perguntavam. Essas provo

    tinham fim.

    O i f i

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    140

    s vezes eles ficavam obstruindo a

    levava aos camarins, ou a passagem

    para a caixa de luz. S que os atores utilizar estas passagens e, sempre q

    isso, acabavam roando nos soldado

    armas. Detalhe: as armas estavam ca

    os agentes eram umas figuras realme

    d d b lh

    Renato Consorte e Jairo Arco e Flex em

    Tiradentes

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    142/226

    como ter a garantia disso? Estes

    tos estimularam minha conscinc

    duo seguinte, Arena Conta T

    1967. Nada mais iria me surpreend

    va preparado para enfrentar tem

    As ameaas de bomba no se re

    Teatro de Arena. Uma noite, du

    Apresentao da Feira Paulista de Opini

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    142

    bom vocs sarem da, vocs tm

    pressa porque vai estourar uma bom

    quiser se livrar melhor sair correndopara a mesa de discusses, que est

    presidida pela Llia Abramo, e conte

    que havia ocorrido. A Llia ouviu e, c

    calma dela, dirigiu-se platia e

    Olha o seguinte: ns vamos ter

    Elenco de Roda Viva

    Este episdio antecedeu em algun

    cio da luta armada, que foi quaendureceu para valer. O episd

    deste perodo foi o ataque ao el

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    144/226

    Viva, no dia 18 de julho de 1

    invadiram o Teatro Ruth Escobare

    artistas. Foi uma das aes m

    promovidas pelos rapazes do Com

    aos Comunistas. Eu vi esta ao, Os caras do CCC eram inconfun

    jovens, robustos, muito chegados

    Eles estavam hospedados num ho

    que existia ali pertinho do Ruth Esdos Ingleses.

    Naquela noite, eles esperaram pe

    espetculo e a sada do pblico p

    teatro. Eram mais de 70 pessoas. E

    d i i

    nando cada vez mais intensa, recrud

    mo. Ento foi instalado um disposou pseudo-legal, para dar apoio a e

    so, comearam a surgir os atos inst

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    145/226

    144

    at que o mais daninho deles, o fa

    acabou com tudo. Usando como pre

    cessidade de acabar com a luta arm

    foi capaz de enforcar o nosso mov

    tstico. Depois do AI-5 oArena

    aiguiu produzirA Resistvel Ascenso

    Ui, de Bertolt Brecht, tambm dir

    Augusto Boal. Este foi meu ltimo t

    Arena, que fecharia as portas, de lanclica, no incio dos anos 70. O

    Boal foi preso e depois se mudou

    gentina. Houve um pessoal que ain

    resistir e manter o teatro em funci

    i i i i l

    como dar certo, o Arena foi est

    clusive economicamente. QuebrVoltei para os palcos em 1970, m

    Oficina, para participar do elenco

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    146/226

    de Molire, com direo do Fern

    O Oficina tambm foi vtima da p

    censura, mas o motivo ali era out

    perseguidos do ponto de vista m

    nncias de consumo de drogas, eponto de vista poltico. O Of

    apresentou outros objetivos est

    o grupo no tenha sido poupado

    es. Ainda assim, eles levaram aposta de colocar em p todo o r

    eles tinham, at para conseguir fu

    truir o teatro destrudo por um in

    Em 1971 eu comecei a trabalha

    hi d O h M h O

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    146

    Hamlet. Alm do Othon e da Ma

    no elenco de Um Grito a Liana DuvCarvalho. A pea contava a histria

    ensaiando, a pouco mais de uma

    i bli

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    148/226

    tria, uma pea que o pblico nun

    do qual . Durante o espetculo,

    porque a companhia estava end

    aparecendo para levar embora

    refletores e todos os equipament encenao. Ou seja, eu procu

    como o teatro estava sendo de

    perdendo as condies de se man

    Nesta pea eu usei algumas cenaforas da tortura que corria solta n

    minha inteno: eu achava que u

    leiro tinha de mostrar o que esta

    do no Brasil. A este exerccio eu d

    i O b

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    149/226

    148

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    150/226

    Era qu

    brincadTamb

    mostra

    verso

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    151/226

    150

    verso

    que est

    tendo

    mostra

    que quecusto, q

    lha de

    namor

    quantogarota,

    interes

    sexo. N

    eu tam

    b

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    152/226

    Elenco de Um Grito Parado no Ar

    Um deles era O Botequim, tambm d

    to com um elenco do Rio de Janeirtarde veio para So Paulo. A pea

    agonia dos freqentadores de um ba

    podiam deixar o local em virtud

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    153/226

    152

    podiam deixar o local em virtud

    tempestade que caa l fora. E depois

    de Partida, que todo mundo,

    desconfiava ter sido inspirada na

    jornalista Wladimir Herzog, assassinanas dependncias do DOPS. E as p

    podiam desconfiar disso, no: elas

    ter certeza. A pea foi baseada e in

    morte do Herzog, sim. Era uma peaterrvel, terrivelmente triste, eu que

    produo foi novamente da com

    Othon Bastos. Na primeira montagem

    pretava um personagem chamado

    h j h i did d

    uma bomba sempre as bombas, m

    mania de bomba que o regime explodir no teatro. Mas as pessoas

    o medo e iam ver a pea, e isso

    batizei este meu ciclo de peas sob

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    154/226

    batizei este meu ciclo de peas sob

    de teatro de ocasio, ou seja, o t

    fui obrigado a fazer durante aq

    especfico do Brasil.

    Eu no queria provar nada com as

    Eu era apenas um resistente. E

    resistir, do meu jeito. Cada pes

    poca, estava resistindo de uma m

    da minha. Mas a gente sentia um em fazer aquilo naquele perodo,

    mos muita coisa por meio da dram

    muito bom, no ? Examinando h

    daquelas peas eu percebo que e

    i f i b

    tro, sobre uma companhia de teatro

    com dificuldades de levantar uma prono era. Quer dizer, era um micro

    produzindo um mundo macro. Mas i

    para o pblico o que era indireto che

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

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    154

    para o pblico, o que era indireto che

    direto cabea das pessoas. Com O

    se deu da mesma maneira: aquela chu

    acabava nunca e todo mundo preso

    gar, sem poder ir embora. Dentro do

    de um botequim eu procurei mostra

    edade dividida em classes, proibida d

    mentar. At que chegam uns caras

    de higiene e comeam a retirar dali rigosos. P, precisa dizer mais alguma

    exatamente o que tinha acontecido

    de 64. Mas no era uma metfora do

    Era a metfora de tirar as pessoas co

    i d i f

    estes movimentos para restabelec

    cia, e ns conseguimos abalar o mo. Ah, abalamos. Abalamos tan

    abrir.

    No final dos anos 70 eu j

  • 7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier

    156/226

    No final dos anos 70 eu j

    concentrado na televiso e pescrever o roteiro para as filmage

    Usam Black-Tie. Sabe o que eu p

    e que me deixou muito chatea

    pessoas tinham interiorizado os

    golpe militar. Eu j estava notando

    o tempo ficou muito claro. O golp

    ac