Gianfrancesco Guarnier
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Gianfrancesco Guarn
Um Grito Solto no A
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Governador Geraldo Alckmin
Secretrio Chefe da Casa Civil Arnaldo Madeira
Fundao Padre Anch
Presidente Marcos MendonaProjetos Especiais Adlia Lombardi
Diretor de Programao Rita Okamura
Imprensa Oficial do Es
Diretor-presidente Hubert Alqures
Diretor Vice-presidente Luiz Carlos FrigerioDiretor Industrial Teiji Tomioka
Diretor Financeiro eAdministrativo Alexandre Alves Schneid
Ncleo de ProjetosInstitucionais Vera Lucia Wey
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Ficha catalogrfica elaborada pela Biblioteca da Impre
Foi feito o depsito legal na Biblioteca Nacional (Lei n 1
Roveri, SrgioGianfrancesco Guarnieri/ Srgio Roveri. So Pau
do Estado de So Paulo : Cultura - Fundao Padre Anc224p. : il. - (Coleo aplauso. Srie perfil / coordenadEwald Filho)
ISBN 85-7060-233-2 (obra completa) (Imprensa Of
ISBN 85-7060-240-5 (Imprensa Oficial)
1. Atores e atrizes de teatro 2.Dramaturgos brasilBrasil - Histria 4. Teatro Produtores e diretores 5Gianfrancesco 1934 - Biografia 6. Ewaldo Filho, RubII. Srie.
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Introduo
Quando ele nasceu, em seis de agos pais lhe presentearam com
prncipe: Gianfrancesco Sigfrid
Martinenghi de Guarnieri. Os no
ele deixou esquecidos nos docum
ou mo apenas do primeiro e do
ainda adolescente, se aproximar, e
pouco tempo o inconfundvel port
gigantesca parcela da sociedade
viveu a quilmetros de qualquer
breza: os pobres, os favelados, os
sedutores malandros do morro, oos perseguidos pelos regimes pol
tos, as prostitutas, os grevistas e m
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terceiro sinal, permitiu que as cortin
sem para exibir a realidade de um tip
at aquele momento pouco afeito
es: o homem do povo. Com tudo
ele podia reunir de mais sublim
mesqunho, de mais corajoso e mais c
mais divino e mais sorrateiramente hu
heri que o pblico iria aprender a no ponto de nibus, na fila do desem
piquetes, na casa ao lado, na que
igreja e, acima de tudo, no espelho.
O homem que escreveu mais de 20 pe
em perto de 40 espetculos e igual
novelas, hoje prefere viver tranqilauma casa escondida na Serra da C
aonde se chega aps vencer um pequ
d b d d d
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Tmido, prefere continuar evitan
concorridos, os fotgrafos e as ba
Exemplo disso que, nas ltima
primavera de 2003, sua preoc
imediata era com a concluso de a
no telhado da casa de dois andar
os costumeiros transtornos anualmente pelas chuvas de ver
Guarnieri vive ali ao lado da ex-at
Vnia SantAnna, sua segund
rodeado de outras incansveis e
solcitas figuras femininas as cac
Julieta e Dara, herdeiras de Vitrlinda e folgosssima que, durante
praia de Toque-Toque, no mun
S b i li l d S
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Estou ficando velhinho e aprendend
cachorros esto sempre certos em su
No sei mais viver sem eles.
Mesmo quando no est em cartaz
ou participando de alguma novela,
obrigado a descer a Serra da Cantare
samente duas vezes por semanasubmeter a incmodas sesses de h
no Hospital Srio-Libans, na regio
So Paulo. Em 1994, durante a tem
novela A Prxima Vtima, na Re
Guarnieri descobriu um aneurisma
precisou ser submetido a uma op
emergncia. Na poca, o autor doSilvio de Abreu, precisou arrumar s p
viagem para o personagem de Guarn
Gi di i li i d
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comearam em outubro de 2001
to, Guarnieri no pde mais se a
Paulo o tratamento no permite
de interrupo.
Se h 40 anos o dramaturgo era ob
de toda sua criatividade e jogo d
driblar a censura e conseguir com qfossem encenadas, hoje ele faz o
encontrar algum prazer nas limita
sade frgil lhe impe. J que a
promete purificar todo o sangue
ele aproveita a sesso da segun
devorar alguns bombons Sonho d
quinta-feira, para mergulhar noslatinhas de Coca-Cola, tentae
passar longe do cardpio de
di b i l
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Embora os problemas de sade re
para Guarnieri um respeitvel ob
manuteno de uma agenda de tra
regular, eles no parecem afetar o s
e muito menos seu otimismo. No fin
ele trabalhava em uma nova p
transposio da vida do lder revoluc
Guevara para os palcos, alm de tecontrato para participar de u
telenovela, desta vez na Rede Reco
encontrou tempo, e infinita dispo
abrir os compartimentos de sua m
trazer novamente luz as passa
serviram de matria-prima para este
Os relatos de Guarnieri, durante as
no se submeteram rigidez da cro
l d d i
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Liberdade esta que ele comeou
com maestria, no movimento e
fileiras da Juventude Comunista
Partido Comunista, e pouco m
palcos do Teatro Paulista do E
Arena, do Oficina e na luta pelas e
para presidente da Repblica.
Sobre os pais, revela: Meu pa
pouco de tristeza. Ele no ag
represso que se instalou aps o
de 64. Minha me se deixou leva
mais tarde, como se tivesse opt
poucos. Ao falar deles durante a
e de outros to caros e que tambcomo Oduvaldo Vianna Filho, o V
raro Guarnieri recorria a pequena
l f i d
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Se tivesse de escolher entre as cred
autor, ator, diretor ou msico para
tar, muito provvel que Guarnieri
com nenhuma delas. Na certa, optari
a de sobrevivente. Sou um privil
ter vivido o que vivi e chegado at aq
histria.
Com vocs, a histria de Gian
Guarnieri.
S
Mar
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Captulo I
Joo Francisco Guarnieri
Nasci em Milo por acaso. O mais
eu nascesse em Veneza, cidade
meus pais. Mas naquele incio de ageles estavam se apresentando em
vim ao mundo antes que eles tiv
de voltar para casa. Meu pai era
um dos fundadores do quartetVittoriale, grupo com o qual viajo
Europa. Minha me era uma ha
grada, que usava o tempo livre estudar a fundo a filosofia das relig
costumava dizer que era teloga
d Mil i i i
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Quando eu contei esta histria para
ele me disse que realmente havia um
na nossa casa. Agora, tambm
garantir que esta lembrana corr
alguma coisa real. A gente inventa
? Nossa me! A gente inventa pra
esta histria eu invento h tanto tem
passei a acreditar cegamente nela. mesmo verdade.
Eu mal tinha acabado de completa
quando minha me foi convidada a v
Orquestra Sinfnica Brasileira, no Rio
O governo de Benito Mussolini estav
o cerco contra os opositores do fascis
pais j comeavam a sentir os primeda perseguio poltica. Minha m
menos visada pelo regime, aceitou
b i h il d i
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Foi dela que partiu o convite, umtarde, para que meu pai viesse re
de concertos no Rio de Janeiro. Pa
italiano, era timo mandar embora
as pessoas que fossem de esquerda
eu acredito que naquela poca n
esta diviso to ntida entre esqu
A Itlia estava rachada entreantifascistas, isso sim. claro que o
se aproximavam mais do que hoj
como esquerda. Quando o convit
que meu pai viesse reger uma orqufinalmente chegou Itlia, o
Mussolini rapidamente autorizou
do pas. Assim, seis meses aps minha me, eu e meu pai emba
navio Conte Grande com desti
i Ch i d i
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centro da cidade. Ao abrir a janela pai nunca cansou de repetir mais
levou um susto tremendo: h
agrupamento de soldados que m
gesticulava maneira do exrcito de
Quando eu j era um pouco mai
confessou que seu primeiro desej
momento foi o de me tomar novabraos e fugir para outro pas. N
governo de Getlio Vargas no es
simpatia pelo fascismo e meu pai
acreditar que havamos abandona
para acabar em um pas onde iram
cara com tudo aquilo que tnhamo
para trs. Ele ficou realmente a
porque achava que tinha sado de
cado em outro igual. Para ele, deve
l M l l f
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Villa-Lobos, de quem se tornou aQuando o Brasil resolveu entra
Guerra Mundial, ele escreveu um
Getlio Vargas, dizendo que esta
pegar em armas para combater
italianos. Alguns dias depois
comunicado vindo das Foras Ex
Brasileiras, que agradecia sua inafirmava que no era o caso de
Ele no foi para a Guerra, mas
envolver em poltica aqui me
dizendo, em uma batalha pessoa
se afastaria at seu ltimo dia d
naquela poca, no Rio de Janei
pequena ligada ao Partido Com
empenhava em fazer pichaes.
este grupo e, aps os concertos
i d i d d
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A me dele era uma senhora toda chhoras, uma mulher assim, cheia d
dades. E quando ela ia tomar ch com
naqueles cafs da Piazza San Marco, e
Sabe o que ele fazia? Ele vestia u
xadrez, de cores berrantes, se recosta
daquelas famosas colunas da praa e
a chupar fatias de melancia. Para deas sementes em cima dela e das am
dizer, naquela poca ele j era um b
este tipo de coisa.
O primeiro lugar em que morei no Rio
foi num apartamento na Praia do
qual eu me lembro muito pouco.
apartamento era de uma senhora ch
que nos hospedou por alguns mes
fomos para uma casa na Rua
l d i d h i lh
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Eu regia o rdio, mas na minha cque havia? Uma orquestra inteira
que tudo fazia parte da iluso da
na hora em que a msica pde s
mais srio na minha vida, eu sa co
me sempre me incentivou e
descobriu logo que minha voca
msica. Eu regia de brincadeira, mcerteza de que se me colocas
conservatrio, onde eu seria obrig
escalas e aquela coisa toda, eu fari
Eu tinha uns trs anos e meio qua
comearam a me levar pera
matins, porque noite a entrad
era proibida. Eles me deixavam
orquestra, sentadinho em cima
contrabaixo ou do violoncelo. E
ilh fi d
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Depois da pera, eu acho que minha de influncia foi o cinema, princip
neorealismo italiano. No fundo, eu s
uma grande tendncia para o espet
Daquela casa da Rua Almirante Al
fomos para a Rua do Triunfo, tambm
Teresa. Esta nova casa tinha um quint
repleto de mangueiras. Eu me emtanto de mangas que acho que at
ter algumas seqelas. Ns dividamos
um casal de violinistas, o Oscar
Borghetti. Minha famlia, sozinha, n
ria arcar com o aluguel. Era uma ca
projetada em cima de um morro, apo
umas pedras colossais. Eu me lembro
daquela casa por causa de uns lag
ficavam esparramados no morro, to
h i l l fi b
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Renato Viana, mas no me recordoro, eu ia levado pela minha me
aprendi o caminho, matava as a
nho, quando j estava um pouq
Nem sei quantas aulas eu deixei d
ver o Jaime Costa nas matins do
Eu me divertia horrores. Ele at c
algumas coisas mais srias, mamesmo das comdias, daquelas
confuses. Eu me recordo de u
histria era a seguinte: uma fam
substituir s pressas um grupo de
E eles erravam todo o texto,
ingenuidade tamanha. Se o texto
o bonde de Santo Amaro, eles l
conde de Santo Amaro. E eu me
com isso, com coisas assim.
di
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No entanto, algumas coisas que eu cquela poca foram resgatadas mai
meu trabalho de autor. Ns tnh
cozinheira chamada Margarida.
carrego comigo uma lembrana
cicatriz no polegar, provocada por u
faca. Um dia eu estava brincando co
ela quis arranc-la da minha mo. Ppuxa dali e eu acabei ganhando um
dedo. A Margarida costumava me l
de alguns parentes dela, no Rio, uns c
j comeavam a ganhar os morros.
Margarida se chamava Romana, uma
que se revelou a mulher mais sbia
infncia. Quando escrevi Eles No U
Tie, dei o nome de Romana ao prin
feminino da pea. Um dos amigos da
h id Gi b l
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apartamento da Rua Ibitara, no Foi ali que eu vivi a melhor fa
meninice, por volta dos dez ano
descobri aquela sensao gostos
turma, a turma da rua, as br
quermesse.
Comecei meus estudos n
FrancoBrasileiro, logo aps ter feitou jardim da infncia, no sei que
naquela poca, em uma escola lig
Itlia. Eu odiava aquela escol
professoras nos obrigavam a dor
almoo. Em casa e nesta escola da
eu s conversava em italiano, e q
no primrio, no Franco-Brasileir
aprender francs. Eu falava fra
mente, mas depois perdi a prtic
f l i d d
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eu assinei Joo Francisco Guarnieri. Ochamou e disse que aquela prova no
meu nome era Gianfrancesco. Aind
usaria o nome de Joo Francisco em
sies, talvez para me poupar um po
por isso, no incio da minha carreira
guns jornais chegaram a publicar
como sendo Joo Francisco.Naquele primeiro ano de ginsio e
um bom aluno, mas no segundo j
com os estudos. Eu estava muito
cupado em ficar na rua e entrar para
Ibitara Futebol Clube. Eu era um p
dor. E onde iam parar os pssimos
No gol. Rapidamente eu descobri que
coisa muito melhor para fazer d
goleiro: era ser comentarista. Co
i i d l i d
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Dizia para mim mesmo: faltam unnesta partida. Depois mostrava pa
Resultado: minhas colunas eram e
mas repeti de ano.
Pedi para mudar de escola. Disse
pai que queria estudar no Colgio S
Maria Zacaria, na Rua do Catete,
padres. Isso foi um problemo em que foi comunista at morrer, diss
voc quer mesmo estudar em col
Colgio de padre? Por qu?Eu
toda a minha turma da rua estuda
de padre, ou no Santo Incio
Antonio. Eu preferia o Santo Anto
maioria dos amigos estava l. Me
um homem cordato, no se ops
severo, reprimir algumas coisas,
di d
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chamado Mrio Scolari, e pedi para daquela turma. Ele concordou e m
trabalhar como ponto. Fiquei muito
esta tarefa... Logo de cara ser o pont
l, naquele buraquinho na frente
mandando sempre as primeiras fa
atores no se perderem. O padre, qu
prestando ateno no meu trabadisse: est muito bom, agora voc va
papel na nossa prxima produo. E
protagonista. Fazer teatro no colg
ser a coisa mais importante do mund
O vice-reitor do Santo Antonio c
Almir, um padre burocrtico e o
mantinha os alunos debaixo de um
de ferro e imbecil, a ponto de nos
andar a uma distncia de 20 cm da
i
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Era um texto at que bem feitinhples, mas muito engraado tamb
tria de um sujeito que tentava i
da de uma casa que algumas pe
ocupado. Ento, para afugentar
compradores, ele resolveu assom
eu criei este personagem para
igualzinho ao padre Almir. Todescola, todos os alunos, os pais
sabiam que o padre Almir era ga
personagem falava em cena, ra
turma ria. A platia vinha abaix
cpia escarrada do padre. Aqu
confuso. O padre, que era um
infeliz, pediu no mesmo dia para
me expulsasse do colgio. Ele n
nenhum ensaio, nem passava pe
M l di l i
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Ao ouvir que sim, que eu estava sedado a me retirar daquele colgio
meu pai disse apenas: graas a Deus
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Captulo II
O Companheiro Lus e sua Pasta
Parecia sempre haver algum
afastando dos bancos escolare
futebol, depois o teatro e, logo a s
da minha precoce atividade polt
minha tradio jornalstica, in
cronista esportivo do Ibitara Fu
comecei a colaborar com um jorNovos Rumos, uma publicao d
Comunista, em cujos quadros em
logo aps minha expulso do c
tarde, o Partido Comunista tamb
jornal chamado Novos Rumos, ma
no primeiro naquele feito pelo
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ser apenas uma alcunha. O importanAlaor era um sujeito muito legal,
muito dele, apesar de ele me es
diariamente. Eu confesso que eu era
garoto metido besta. Eu tinha feit
primrio muito bom, e um prime
ginsio igualmente bom. Apesar
problemas na escola, das bombas quda minha expulso, eu sempre fu
aluno, sempre gostei muito de estuda
o Alaor eu aprendia as lies na bas
Sempre que eu escrevia alguma co
julgava sofisticada, l vinha ele me
no era para fazer assim, no era
assado. Eu achava bem legais as lie
sempre aos berros comigo. Um dia
cacfato e ele quase me matou. O A
d i b
-
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para eu preencher meu tempo atanos e me matricular no supletivo.
me preparando para o supletivo e
brilhantemente. Um dos profess
preparatrio ao supletivo me obri
uma frmula que carrego
corcamoconfitem. Sabe o que
conjunes: correlativas, causcondicionais, finais e temporais. P
sai da minha cabea at hoje. Claro
de passar, no ? Voltei para o Fra
para fazer o primeiro ano do cursLevei muito a srio aquele prime
no segundo j me danei de no
Movimento Estudantil Secundarist
quadros, gente para distribu
convocar assemblias, conquistar n
i b lh f ll i
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e vice-presidente da Unio Nacionadantes Secundrios.
Nesta poca meus pais se mudaram
Paulo. Meu pai j regia alguns co
Teatro Municipal de So Paulo e t
Concertos Dominicais da Rdio Gazet
ficar sozinho no Rio, eu tinha uma
que no queria abandonar. Disse papais que no podia me separar da m
rada e que iria arrumar um empreg
sustentar no Rio. Eles ento foram e
Arrumei emprego de auxiliar de esuma construtora. Uma das minhas inc
era sair com uma pastinha de dinheiro
o pagamento dos pedreiros e ser
obras. Agora veja s: eu, um inte
Juventude Comunista, indo fazer o p
d i d i i ifi
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mame. No dia em que cheguei a Sprimeiro programa foi passar
boteco e arrumar uma baita de um
Como as entidades estudantis d
tambm viviam precisando de qua
aqui j como secretrio-geral da U
dos Estudantes Secundrios, sem
porcaria nenhuma. Eu no conhcidade, no tinha amigos e no
de nenhum estudante, aind
colocaram num posto daqueles,
cargo de confiana. Era comeo estava com pouco mais de 18 ano
O entusiasmo que eu tinha pe
Comunista fez com que eu des
fazer teatro. A Juventude nos ob
disciplina de exrcito, eu me sen
ld d M b lh f
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Eu achava que a Juventude tinha de ma coisa para melhorar a qualidade
tambm, para fazer com que os est
interessassem por estudar, ora essa.
muito importante a realizao dos
Estudantis, muitas lideranas foram
naqueles congressos e esto a at h
fizeram uma carreira brilhante na pfazia vrias reivindicaes aos dirige
ventude, e ficava muito irritado q
obrigado a admitir para mim mesm
havia muita democracia nas decisemocracia era aquela?
No era fcil fazer parte da Juvent
nista, era uma atividade clandestina,
o Partido Comunista. Em vrias tare
obrigado a usar um nome de guer
O f
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Eu passei a dar assistncia ao Parta, que consistia basicamente em r
po de pessoas e fazer dele uma c
do. Era uma espcie de superviso
a direo do partido e estes nov
dava assistncia para as clulas fo
mulheres, aprendi muito neste
seguida, comecei a trabalhar em intelectuais, o que para mim rep
espcie de universidade.
Eu tambm tinha como funo, n
organizar uma agenda cultural dantes. Eu percorria alguns teatro
em busca de convites de cortesia
aos alunos. Durante um Festival
da Juventude, procurei o prod
Sandro Polloni, que me convido
C d C i l d l
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etapas da gincana porque ela iria tQuando a gente fica um pouco m
a entender as coisas, v que no
Mas ainda agora, de uma forma
acredito que seja necessrio abal
mo. Abalar o capitalismo, sem d
a nica forma de o homem pod
Seno no sobrevive.Como todos os companheiros, eu t
medo de ser preso. Era um temo
no dizamos que um companhe
preso, mas que ele tinha cado. Edura, mas nada semelhante ao q
dava depois, aquele perodo de
truculncia que veio aps o go
revoluo mostrou um lado que n
conhecia: o desrespeito total ao s
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Captulo III
Ao Povo o Que do Povo
O palco nunca foi para mim
sofrimento. engraado porque e
artistas dizerem que sofrem mprocesso de criao muito d
comigo isso no ocorre. Cine
televiso, para mim, no tm nad
eu no consigo ir para o palco com o sofrimento. Nunca me passo
a idia de que eu tivesse de me t
personagem e incorporar todas
as suas angstias. Eu sempre me
escrevendo e atuando. Claro que d
i ifi fi d d i
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Hoje ns vivemos em um ritmo muitoacredito ser ditado pela televiso, m
do que pelo cinema. A televiso se t
coisa apressada, um ritmo de videoc
que isso muda a cabea das pessoassabe mais apreciar uma cena um p
lenta, demorada. o domnio da ativ
da ao, compreende? O pblico estcada vez mais atividade, talvez para
concluso de que pode estar dian
grande bobagem. A culpa disso
mdia, que passou a ver na velocsinnimo de modernidade. Para ser
hoje, tem de ser veloz. Mas h artista
fugindo disso, no cinema e na te
fazendo um trabalho maravilhoso. P
se consegue apreciar um filme tcheco
l ? i
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Eu sei que a televiso nem sempreveculo que busque a profun
assuntos. Eu acredito que a televis
a ser mais leve, embora terrvel
ainda leve, para no sobrecarregpessoas. Pode at ser ftil em algu
eu continuo fazendo com o ma
delcia que pode ser a futilidade: coisa romntica, e principalmente
humorada. Porque eu acho que a
sempre manter o humor. E cada
descobrir o seu humor. De repentefazendo uma cena muito trgica,
que ali cabe uma pitada de humo
mite pr esta pitada na cena. O re
tstico, porque espontneo, e p
dom do artista para o improviso.
d d
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da descoberta, o momento em que encontrar o que realmente precisa se
que chega o momento em que voc
por a. E quanta alegria cabe nestas tr
por a. Parece que voc atinge
quando acha que finalmente desco
voc quer dizer. Talvez voc no desc
mas se sente bem mesmo assim, com
realmente descoberto alguma co
adquire um flego e vai escreve
produzindo, tudo isso muito praze
descoberta as coisas podem ser dolodepois compensa. Enquanto que, com
no sinto dor alguma.
Quando eu encontrei realmente o pa
que ali seria o meu lugar, toda a m
nheza desapareceu. Falam do meu n
l d f
-
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preendido. Mas minha tcnica ptuitiva. Eu trabalho muito com
notar. Pausas maiores, pausinhas
o tamanho, o fato que elas sem
minha interpretao. que a pabusco, enquanto interpreto, nun
um tijolo, ela vem suavemente, p
Eu tenho dio das frases que s
platia como se fossem um tijo
bobas. Frases inteiras que do a
tudo foi combinado. O ator preci
valorizar cada palavra e, claro, a transmitem. Algumas palavras n
pelo som, independentemente d
que elas possuam. O som da pa
importante. No fundo, tudo mui
porque cada ator tem o seu jeito
i h d d
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e de l seguiu para duas temporadaTeatro Brasileiro de Comdia e depoi
Folha), eu tive apenas trs ensaios p
pouqussimo. Em primeiro lugar, por
texto que fique firme na boca doapenas trs ensaios. Depois porque
entende todas as motivaes da pe
Logo que entramos em cartaz, eu
constrangido em alguns momentos,
mas cenas meio encabulado, sem e
porqu daquilo tudo. Mas aos pouc
se apoderando da situao. Como htempo para ensaio, eu ficava em cas
dizendo o meu texto, somente o m
ou cinco vezes por dia. o que ns
de exerccio com personagem ausen
o meu texto e dava uma pausa corre
d d
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Porque eu o entendo, afinal, eu
que eu fao, ento, para compree
personagem que eu no escrev
compreender o autor, isso. Sei q
cesso emaranhado, mas eu tento.
d h d f
Com Greta Elefhteriou em O Pequeno Li
-
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no Dario Fo. Eu adaptei, dirigi e atutagem. Ele no acompanhou o proce
consegui, por meio do texto, desen
identidade muito grande com ele. Al
soas que tinham visto a pea na Itl
assistiram aqui tambm, disseram qu
feito o personagem exatamente da m
o Dario esperava que um ator fize
muito feliz com os elogios, porque is
minha sintonia com o autor.
Embora eu tenha desenvolvido esta
atravs do texto, vamos dizer assim, cFo, foi com Ruggero Jacobbi que eu
grande entrosamento profissional.
homem de uma cultura vastssima, e
a vantagem de no dormir. Nunca
que precisasse de to poucas horas d
d d i l li d
-
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Depois tive uma grande amizade cDAversa. O Adolfo Celli, por exe
nheci, mas no passou muito disso.
Ratto. Pelo Gianni eu tinha
admirao, achava maravilhosas a
que ele criava. Mas eu nunca fi
mundo dos diretores italianos. N
me dirigiu, nem mesmo o Jac
DAversa eu cheguei a fazer rotei
mos juntos no cinema, mas no tea
Talvez isso tenha sido uma limi
porque, desde moo, o que eu quteatro nacional, entende? O te
brasileiro. Ento eu achava que os
iriam me proporcionar o molh
trabalho deveria ter. Foi por isso q
Sandro Polloni pensou no Flamn
di i i Gi b b i i i
-
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50
Foi uma loucura, porque ningum sera o Flvio Rangel. E, para falar a ve
eu. Eu s tinha visto um espetculo d
ti: esse diretor que eu quero para fa
Apostei todas as minhas fichas no F
dois podamos ter rodado. Felizmen
valer cada ficha apostada nele.
Apostei no Flvio naquela poca com
mais recentemente, no Marcus Vinci
o diretor da ltima montagem prof
Eles No Usam Black-Tie (com os ator
Moscvis e Ana Lcia Torre encaelenco). Mas no foram apostas gr
via que eram diretores com sensibil
entender muito bem tudo aquilo que
peas. Em funo da montagem de
eu conversava muito com o Faustini,
S l l i i d
-
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produo maravilhosa para manteapenas um ms? Foram quase qu
ensaio e apenas um para apres
pagando os ensaios de forma inte
uma produo carssima com
Petrobrs. Mais de um milho de
que tudo aquilo era um absurdo.
-
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52
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Foi um espetculo que no teve a mde amadurecer no palco. O Faust
sabendo disso, e conseguiu um re
bom. Faltava s o pblico. Ento
e, puxa, ficou realmente muito im
Mas me irrita ver como as coisas
Brasil. Ento voc tem uma em
Petrobrs que te d um patrocn
este patrocnio est certo que
prego para trinta e tantas pe
espetculo, depois, foi feito na ba
Era uma distribuio de convites aeu comecei a achar que aquilo tu
no era para o pblico, era para o
para os formadores de opinio. Er
questo de prestgio, ou de
interesses mtuos. Se uma pea d
l i d l
-
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54
e nada mais. No houve empenho nao do espetculo. Ento eu achei tu
perdcio.
Depois conseguimos apenas R$ 20 mi
a pea ao Rio de Janeiro, porqueaceitaram fazer o espetculo d
bilheteria. Eles agentaram este es
15 ou 20 dias apenas, depois no d
pea s foi para o Rio graas ao em
atores e do Faustini. Na nossa realid
para fazer aquele espetculo gasta
menos. O problema foi que, durante atodos os pedidos eram atendidos. Os
queriam que ns pensssemos gra
artista que, tendo essas condie
querer realizar uma superpro
problema vem depois, quando no
i
-
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ser um jogo de prestgio em que gra satisfazer alguns interessad
espetculo, voc passa a ter alg
fazendo mdia.
Justamente por pensar no pb
fiquei muito melindrado. As pesso
muito da pea, se tivessem tido
assistir. A pea foi vista por uma
alta e algumas pessoas mais intere
Em um ms uma pea no conseg
Nem com ingressos a preos popu
desperdcio, porque o verdadeiro levar o teatro ao povo, no foi
Mas eu sa com um saldo positiv
saber que tinha valido a pena, pel
na minha vida, apostar em direto
Ainda no tenho um diretor defin
i j l
-
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56
preocupao, e no s no palco, mascia. Estou sempre com a cabea niss
esse negcio de ser povo. Eu fui proc
cedo o que era ser povo, entende?
tambm este grande contraste co
sobrevivem alguns valores incrveis
mano, a solidariedade, o companh
confraternizao, por exemplo, em
to cheio de privaes e dificuldades
povo est sempre disposto a se ajud
Voc sempre encontra solidarieda
povo, e eu fui atrado por isso desdedesafio como autor foi sempre o de re
povo, procurando identificar a con
que ele representa como povo.
procurei falar sobre o povo, mas n
realismo terrvel. Eu quero ressalta
i i d
-
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teatro. Isso me d uma responsade, imensa, de ser fiel a esta causa
estria de Eles No Usam Black-T
de Arena, que foi um enorme su
chamado para uma homenagem.
mento, eu fiz um juramento para
um pouco bombstico, mas fiz:
jamais, jamais trairia a causa de
arte para defender o povo.
-
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58
-
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Captulo IV
A Sndrome de Robin Hood
Eu no acredito que o homem te
imagem e semelhana de Deus
muito metido a besta, p! Dizesemelhante a esta porcaria que n
isso no vai ser nunca. A minha rela
assim: eu acho que a vida vai
algum lugar. O problema que nsaber que est continuando, porq
do mesmo jeito. A vida, da manei
conhecemos, ela acaba, ou se tran
alguns preferem dizer. Que a
recomeo. E pode ser mesmo,
-
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60
o prprio Universo, que continua em uma aventura to grande. Ns so
de uma composio que puramen
mas existe um abismo desconhecido
nossas cabeas.Eu no me detenho muito neste a
reencarnao. Nem sei que nome da
reencarnao, ressurreio, sei l. D
a gente vive, ns vivemos em Deus e
fora inominvel para ns, porque n
quem ele realmente . Em toda teolo
ningum conseguiu explicar quem Deus. No se tem nenhuma certeza,
de que ele deve estar no centro de t
deve ter as caractersticas e as feie
que atribumos a ele.O problema que sempre carregam
l l d
-
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O conceito do pecado uma inveCatlica. E a gente sofre muito co
crianas j carregamos essa culpa.
relao a qu? Em relao a Deus
Deus perdoa tudo, por que devealguma culpa? Isso me parece inc
Eu me lembro de uma vez em q
para participar de uma das min
manifestaes aqui em So Pau
seguinte ao suicdio do Getlio Va
dia, a Margarida, a cozinheira filh
que me apresentou aos morrosacordou para dizer que o Get
matado. Eu pulei da cama e fui pa
que estava acontecendo. Havia u
carregando velas e fotos do Ge
crianas estavam chorando. Corr
d l i d d i
-
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62
tnhamos o direito de estar ali. Quavalo avanou sobre mim eu gritei pa
dos: eu sou jovem e no tenho medo
Vocs que so velhos. Nossa, el
revoltadssimos. Primeiro porque eude velhos, e depois por dizer que no
de morrer. No tem medo de morre
eles responderam.
Eu sempre tive um certo preconceito
aos policiais. Mas naquele dia,
manifestao, vi um soldado que des
cavalo para proteger das bombas uque tinha se perdido da me. Ele
menino do meio da confuso e o ab
proteg-lo, at que a me aparecess
A cena foi fotografada e, se no m
acabou sendo capa da revista O Cruze
i d l di d
-
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representar o primeiro passo paComo poltico, o Getlio teve uma
firme: ele se matou para revelar
algumas coisas estavam sendo tra
Ns fomos s ruas para manifestare ver at onde ia a culpa do imper
americano no negcio todo. J e
mado para que o Getlio fosse p
mais iria permitir isso.
Este episdio serviu para refor
antiimperialista da minha atua
Movimento Estudantil. Eu estavgritar palavras de ordem. Era mu
os alunos das salas de aula, prin
dos cursos noturnos. Eles j tinha
o dia todo, estavam cansados e,
vam sem hesitar nossos convites p
d if
-
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64
Teatro Paulista do Estudante. Foi a pncleo que minha ligao com o te
nou definitiva.
As primeiras reunies do Teatro P
Estudante foram feitas no apartaOduvaldo, o Oduvaldo Vianna, pai d
na Rua Theodoro Bayma, centro de
ao lado do Teatro de Arena. O Oduv
tava um pouco afastado do teatro, e
cava mais ao rdio e ao incio da te
TPEeu comecei a trabalhar como at
crevia ainda. A primeira pea montadpo foi Rua da Igreja, de Lennox Ro
1955, que marcou a estria do Vian
ator. Logo em seguida comeamos
Est L Fora um Inspetor, de J.B. Pri
me rendeu o Trofu Arlequim de m
i l d d d S
-
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gentilmente recusei. O problema ela no permitia que seus alunos
de qualquer outra atividade te
escola. Era uma questo de mto
misturar as influncias. Eu at eestava por demais comprometid
para abandonar tudo e ingressar
TPE eu no era apenas um ato
ajudando na formao de um gru
largar tudo aquilo.
At porque, na mesma poca, eu
flertar com o Teatro de Arena, quser fundado, ali ao lado, pelo
Renato. As coisas estavam aco
forma muito rpida: numa cala
ao lado, o Arena, nascendo pela
Renato e de alguns formandos
d E l d A D i
-
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66
palacetes das famlias mais abastadaMas se perguntavam: como que
conseguir um teatro? Vamos faz
apresentaes aonde? Ento surg
pequena garagem na Theodoro Baybelezinha que se transformou no
teatro de arena circular da Amr
Parecia que tudo ali estava predesti
certo. Era como um roteiro, em qu
tinham de ocorrer com uma preciso
nante. J vi alguns perodos de eferv
teatro, mas o surgimento do Arenapraticamente no mesmo ano, foi rea
acontecimento.
Logo aps a abertura do Arena, o
convidou a mim e ao Vianinha pa
juntssemos ao grupo. Aquele c
i d
-
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Podia parecer traio. A sada encoacordo com o chefe de elenco do
amos para l, mas oArena se com
oferecer suporte tcnico para os
lhos do TPE, inclusive atores. Acodois respondemos que sim e fomo
A minha estria profissional com
bm a do Vianinha, se deu no pa
ainda em 1955. A pea era Escol
do Molire. O papel do Sganarel
nista, foi para as mos do Waldema
Herbert e a Eva Wilma faziam pado Arena naquela poca. Acredit
Rossi tambm.
O TPE tinha inteno de co
atividades, e no somente nos paonais. Eles queriam fazer apresen
l l i l b i i l
-
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mos todos muito jovens. A ideologiarenciava os dois grupos. Eu acredito
na no tinha uma ideologia determ
ideologia poltica, eu quero dizer. E
mos de sobra. Esta parceria permitiu grupos chegassem a algumas conclu
meira coisa que ficou clara que n
com enorme respeito ao que seria o
fissional, queramos fazer teatro p
como se fosse amador, com todos
ousadias possveis. Dentro doArena p
que todos os planos que reservvamTPE s seriam realizados se tivss
estrutura profissional por trs. O
principal, claro, era poder viver do
viver o teatro. E deu certo, no ? O m
teatral da poca nasceu a partir d
d i
-
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no podia ficar retesado em cenabros encolhidos. Mas o que cont
do na poca era uma viso crtica
conseguisse traduzir no palco a re
leira daquele perodo. Quem cheencher este espao foi o Augusto
do pelo Z Renato para dividir com
artstica doArena, um pouco dep
rada da pea Dias Felizes, uma
muito simptica do francs Claude
encenada em 1956.
O Augusto Boal tinha se formadoria qumica e depois viajou para No
foi estudar dramaturgia. L ele
crtico maravilhoso, chamado Joh
voltou dos Estados Unidos compl
cidido a trabalhar com teatro e a
i f i l
-
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70Ratos e Homens, co
-
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Esta pea, do Sean OCasey, foi
pblico. Precisamos tirar rapidame
para que uma crise que j comea
Vianinha e Esther Guimares em Juno e o
-
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Talvez o Augusto Boal no imaginasse encontrar noArena um pessoal t
do um material humano to bom p
S o Fara tem Alma, com Sadi Cabral e Rom
Fiq ei de anos no Arena De 19
-
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Fiquei dez anos no Arena. De 19
Arena no resistiu represso g
golpe militar de 1964. O regime n
turava ou tirava as pessoas de c
fechava todas as possibilidades deo teatro. Eles impediam que a
qualquer patrocnio. Eles secar
estrangularam oArena.
Fazer parte doArena passou a re
perigo nossa integridade fsica.
ameaas. O grupo no poderia s
quelas condies. Como o tempo de provar, no sobreviveu mesmo
-
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Captulo V
-
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Captulo V
O Garoto est com Febre Nervosa
Eu morava com meus pais na Rua
Mariana, quando escrevi Eles No
Tie, em 1956. Eu sentava mqui
madrugada e no precisei de ma
ms para concluir a pea toda. Alg
se impressionam quando digo qu
eu escrevi aquele texto. Mas eu escrever muito rpido, devo ser u
por Deus. Porque basta eu me sen
teclado para que as histrias jorr
Parado no Ar, por exemplo, eapenas trs madrugadas. Se m
f
A maioria das minhas peas comea c
-
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A maioria das minhas peas comea c
chamando algum. Em A Semente,
uma mulher gritando: Manel, Man
Manel, t apitando. Em Ponto de Pa
o pastor dizendo: Birdo! Mestre Bbrinque assim, amigo. O mesmo oco
Grito Parado no Ar, quando o pe
Augusto entra no palco de um tea
grita: Como , pxa! Ningum a!
Eu acredito que, no fundo, sou eu
chamando para o trabalho.
Eu comecei a escrever para teatchegada do Augusto Boal ao Arena
muito entusiasmado com esta descob
estudo da dramaturgia brasileira. N
tamos isso noArena, vivamos para esentia que precisava fazer alguma
l b l
Eu ia deitar muito tarde levanta
-
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Eu ia deitar muito tarde, levanta
ras, passava as tardes ensaiando
zendo os espetculos. Terminei Bla
anos. Se a gente no considerar a
que eu fazia para o teatro do colJaneiro, Black-Tie foi minha prim
Quando Black-Tie estreou, em 19
uma responsabilidade terrvel. E
mnima idia do que poderia aco
pea. Ao
da mont
assustadcabea,
apenas c
mas cois
em tom de protesto mesmo. Eu dvou escrever para botar para for
i M d i
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Cenas da 1a montagem de Black-Tie, no Ar
em excurso (abaixo)
assustadora. Eu dizia apenas: a
-
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assustadora. Eu dizia apenas: a
estrear. Mas tambm sentia uma e
fiana no resultado daquele traba
Eu trabalhei como ator na primei
de Black-Tie, no papel do Tio, fie Romana, o rapaz que decide fu
para no perder o emprego e no
o sustento do filho que est cheg
sua noiva, est grvida. A direo
do Z Renato. No elenco da prime
da pea estavam o Eugnio Ku
Abramo, Riva Nimitz, Celeste LiAssis, Flvio Migliaccio, Xand B
Xavier, o Milton Gonalves e o He
Mais tarde a Miriam Mehler e a
namorada do Vianinha, tambm elenco. Na poca, no era um ele
l l
-
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80
Com Eugnio Kusnet e Miriam Mehler em B
Ela recebeu muitos prmios por es
-
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p p
Eu precisei abandonar o espetcu
da temporada, por problemas de
um cara que, saindo do teatro, ia
varava as madrugadas escrevendoa maior alegria do mundo, dor
trabalhava muito. Chegou uma ho
quebrei. Em uma das apresentae
branco horrvel. Simplesmente n
nada, nada mesmo. Sumiu tu
desmaiei, mas minha cabea ficou
pane terrvel. Eu consegui sair dDa viram logo que eu no e
chamaram um mdico que chegou
para me atender. Pra com tud
Este moo est com febre nervmeu diagnstico, febre nervos
i i d f l
A Maria Della Costa, lindssima, faz
-
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82
gra. Eram 40 atores em cena, um sho
O espetculo via-jou para a Fran
Portugal, sempre representado em
Gimba foi a primeira pea brasileiraos tem
convid
ticipar
Festiv
es,
Sarah
em PaNoAre
Tie c
como
cie de sistnc
do Tio. O que ficou para mim, da
-
7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier
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porada de Black-Tie, foi a enorm
da montagem. Talvez por ter sido
em que a classe operria tenha
como protagonista. Muitos estuque conhecia bem a histria do te
afirmaram, na poca, que nunca u
operrios havia sido retratada daq
nos palcos nacionais. Eram classe
tendo sua histria contada sem ro
acreditava que a sociedade j e
para ouvir uma histria daquele tiestava mesmo, porque tudo com
a partir daquele momento. O te
expe-rimentar um processo de re
fase de crescimento. Desde a diretores italianos ao TBCque o t
f
teatro no colgio do Rio, das pecin
-
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84
escrevia por l. Meu pai sabia que,
maneira, ele tinha me tirado da msic
sabia que rumo minha vida tomari
ele viu o xito da montagem, comoque eu estava preparado para fa
coisas. No fundo, acho que ele sentia u
tamanho do Black-Tie que como
tivesse sido escrita por ele. Na minh
coisa funcionou de uma maneira
diferente.
O meu grande prazer foi ter escrito visto o texto ser montado foi uma con
Eu nem pensava em montar a pea, n
Escrever j est timo, era assim que e
A passagem do tempo pode se conveinimigo de quem escreve, porque vai
id d i i d
barrando a espontaneidade. Sabe
-
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te mais dolorosa do trabalho de
Reconquistar a espontaneida
consegue isso, s continu
tranqilamente pelo caminhescolheu. E parar de ficar se pergun
tem ou no talento. Esta dvida
Os momentos de falta de inspir
so terrveis, aquele branco qununca mais vai abandonar voc.
constitua num peso para mim, t
que eu me sentava para escreveque nunca mais ia fazer nada igu
que nenhuma outra pea que eu
teria o peso e a importncia daq
Mas da eu conseguia escrever upumba! - espantava aquele fanta
para que eu conseguisse fazer o que
-
7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier
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86
palmente a juventude, porque havia
rosidade juvenil na minha produo
Com Black-Tie eu nunca procure
nenhum tipo de tese, em comunicverdade absoluta. Voc pode exami
ainda hoje, com olhos crticos,
encontrar nele qualquer sinal de pa
Eu coloquei no personagem Tio as d
eram minhas. Eu furaria uma greve pa
meu emprego e assim poder sustenta
que vai nascer? Ou no? A histria m
que algumas decises no so
tranqilas. No coletivo fcil dizer: va
juntos, tudo bem, vamos enfrentar
Mas as coisas no so to simples asera um personagem que pensava mu
l f di d l
defesa de um direito do trabalha
-
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o Tio era um personagem que n
fender este direito, e pronto. O p
pela defesa deste direito, mas ele
que ele ia ter um filho e queria repara poder deixar o morro. E isto
dele, compreende? Ele tinha o di
por seguir trabalhando e deixar o
lado. s vezes, na luta entre o indivcoletivo, este ltimo perde. No cas
deu. Tentei imaginar outros finai
mas todos me soaram deprimente
Se fosse haver uma seqncia par
dito que ele continuaria a defen
tar, mas no somente o dele, mas
pessoas com as quais ele se preocmulher e para o filho. Mais adian
b i i d f li
soa: voc pode ter uma preocupa
-
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88
questes sociais e, ao mesmo temp
maneira ferrenha pelos seus direito
ais. Embora um deles parece estar se
cendo. um choque interno, pois aum nunca destri o outro, a gente e
mudando. Ns nunca seremos, ama
somos hoje.
Eu nunca admitia para mim mesmpudesse estar no lugar do Tio. Ma
me coloquei no lugar dele, e expe
sensao de lutar pelos meus prpr
de ter um caminho de felicidade. Ma
caminho utpico, sozinho voc pode
perto da felicidade, mas nunca nela
eu acho a respeito do Tio se resume simples: ele no quer nada demais, p
f li di di
grado com as propostas de drama
-
7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier
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tavam em curso noArena, que n
dar errado. No havia nada naqu
tivesse sido tomado emprestado d
de outra situao, era tudo integrado realidade brasileira
segurou a minha barra aps o de
o ltimo ensaio geral. Eu disse p
nhia: ns precisamos estrear at
Teatro de Arena da falncia. E se
quiser. Ento veio a estria, que
exatamente s minhas expectativ
Eu fiquei eufrico porque houve u
geral. Uma aceitao do outro, o
A receptividade da crtica foi est
no sei, at hoje, o que deu em toelenco, s sei que eles represent
fi Q d l
havia um ator querendo constrange
d i d A
-
7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier
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90
todos estavam muito vontade. Aqu
que eu senti ao escrever a pea est
reproduzida durante os ensaios.
Kusnet era quem mais se destacava ensaios. Ele era um estudioso, falava
que a compreenso dele a respeito d
maior do que a nossa. Ele entendia
o que era a to famosa alma russa
para que fossem gravadas as falas d
pai do Tio, que era seu personagem
montagem. Ele tinha um sotaq
acentuado, ento ficava horas ouvin
fitas para compreender como deve
falas do Otvio. O cuidado dele era e
para compreender o texto cada dia mcaptar as sutilezas de todas as frases
i d i
Romana, Otvio, Tio e o Chiqui
i l d b A i
-
7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier
92/226
mia na sala do barraco. As coisas
das, porque Black-Tie ficou tanto t
taz e hoje, por mais que eu me esf
sigo mais me lembrar como era aqImpressionante, no ?
-
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92
Captulo VI
-
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A Noite em que Black-tie foi ao C
A verso para o cinema de Eles N
Tie estreou em 1981, dirigid
Hirzsman, com quem eu escrevi
uma maravilha poder trabalhar
que se props a dirigir um filme b
histria que voc escreveu. Fique
que participei at dos desenhos
que foram feitos praticamente qua
Havia um desenhista timo na equ
aqueles quadros com uma perf
sionante. Como o Leon visualizavo que ele queria, o filme foi mu
d
-
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94 Cenas do filme, com Carlos Alberto Ricelli, BFernanda Montenegro
aproveitava para fazer o docume
da Greve que mostra o surgimento
-
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da Greve, que mostra o surgimento
to dos metalrgicos de So Paulo,
te em So Bernardo, s vsperas
Partido dos Trabalhadores.Estava em curso um momento h
para a adaptao do Black-Tie par
incio do movimento grevista no
se encaixou perfeitamente his
pela pea, forneceu uma atua
grande ao tema. E o que estava
em So Bernardo no era um epis
histria estava sendo escrita naqu
Foi um episdio importantssimo,
vinte anos depois, na cheg
exmetalrgico Presidncia da RA transposio da histria pa
li i i d
haveria uma contradio. Porque e
ambientar a histria novamente num
-
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96
ambientar a histria novamente num
eu no queria mais isso. Eu queria
dez, o cimento e a fumaa que So P
ce como ningum. Ao mesmo temporealidade do operariado paulistano
uma coisa rspida, pode tambm com
esia e afetividade. Isto tambm est
nagens da pea, que se gostam muit
lo era o endereo. Cabia tudo direi
era em So Paulo, naquele momento
tos estavam ocorrendo.
Captulo VII
-
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O Sucesso Comea na Coxia
Durante a temporada de Eles No
Tie eu fui convidado pelo Sandro
escrever uma pea que pudesse
pela Maria Della Costa. Este c
primeiro resultado do sucesso
vamos chamar de um primeiro r
Escrevi Gimba, que estreou em 19
Maria Della Costa, com direo do
No elenco, alm da Maria, estava
Campos, fazendo Gimba, e o Osw
um bruta de um ator, adoro o tMais tarde o Louzada voltaria
i O i
muito estimulante, porque eu anda
com vontade de fazer um texto
-
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98
com vontade de fazer um texto
encenado em palco italiano.
experimentar a sensao de traba
produo maior, ter preocupao coe tudo isso. Eu sempre tive fas
mudanas de cenrio, desde os t
criancinha, quando eu via aquelas
Teatro Municipal do Rio, com tod
jogos de luz. E, aceitando o convite
eu poderia juntar as duas coisas: a gra
de uma produo e o carter socia
dramaturgia. Eu topei fazer e escr
tambm. Na poca eu devo ter receb
encomendas, mas que sou p
tambm. Quem pede um texto parde me pegar no pulo. Eu preciso sabe
d i
uma encomenda da Fernanda M
que acabou inaugurando o Teat
-
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que acabou augu a do o
na Barra Funda, em 1968.
Os convites sempre traziam muita
criao. Ningum me dizia que quminha para falar de determinado
pediam uma pea e pronto, som
tinha autonomia total para criar.
cada espetculo eu tinha experimentar outras linguagens
procurava fugir do realismo, em
eu brincava com a cronologia. Era
eu tinha de ser ousado. No caso
Marta Sar a pea obedecia ao f
branas da personagem, e este fl
ordem cronolgica.O que aconteceu ento? O Fern
id d d M
Ele argumentava que no dava para f
da maneira como eu havia escrito, qu
-
7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier
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100
, q
no iria compreender nada. Eu n
dificuldade ali coisa nenhuma, ma
texto e fiz algumas mudanas para Eu entendia Marta Sar como um gra
da personagem. Em um momento d
que a personagem j tinha uma certa
comea a escrever um dirio, que v
tando os fatos de acordo com o grau
tncia que eles tiveram na vida dela,
cronologia dos fatos. Ento ela se lem
coisa importante aqui, depois de ou
tante mais l na frente, ou seja, no
peito pela linha do tempo. Concord
o pblico pode ser um pouco mais cacompanhar o fluxo das lembrana
l b d
nova na questo da narrativa e
dos fatos.
-
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No caso de Gimba, a primeira cois
cabea foi uma negra lindssim
muita maquiagem, a Maria Dellapenas morena, nem mulata ela
pouqussimos atores negros naqu
Milton Gonalves foi um dos prim
sucesso no teatro. A Ruth de conhecida, mas por sua participa
no no teatro. Havia o Solano T
mantinha um movimento artstico
havia o Teatro Experimental do
pelo Abdias do Nascimento.
Acho que na poca de Gimba, a M
ta e a Cacilda Becker eram duas dafamosas de So Paulo. Eram tamb
f d
sorvido pelo Arena, que tambm a
surgir. Na seqncia, surge o Oficina
-
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102
cimento do que a gente chamava d
novo. Eu no sou um profundo con
teatro brasileiro, como estudioso euzer, mas no tenho notcias de um o
do que tenha sido to decisivo para a
o de um teatro brasileiro mesmo.
Foram aqueles grupos que deram umo teatro que estava sendo feito no Br
na nasceu por fora da fuso do p
de esquerda com a pesquisa de
dramaturgia nacional. Esta preocupa
velar novos autores que pudessem fa
trato do Brasil no palco j era to evi
ainda durante a temporada de Blackna criou os famosos seminrios de dr
O d
ta, trs no sbado e duas no do
no era fcil.
-
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O Quarto de Empregada, do Robe
revelado no Seminrio de D
Chapetuba Futebol Clube, do Vbm. Na verdade, o Vianinha j h
Chapetuba antes da criao do se
ele mexeu muito no texto para a
Mais tarde, Chapetuba Futebol Clutemporada, e o mesmo se deu com
na Amrica do Sul, do Augusto Bo
apresentado no seminrio na
segunda-feira. Chapetuba tratava
futebol, mas fazia uma radiogra
sociedade brasileira naquele mom
peas nascidas do seminrio e quepalcos foramA Farsa do Cangace
d d Chi d i i
Alguns autores discordavam das pr
seminrio e caram fora depressa
-
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104
Andrade foi um deles. Ele no aprec
tipo de orientao e desistiu de pa
crticas e as cobranas eram muito gprprio estaria perdido se Black-Tie
sido um sucesso.
Jorge Andrade j era um autor renom
do foi participar do seminrio. A CMaria Della Costa j tinha montadoA
que um texto que eu adoro. Eu viA
antes da estria do Black-Tie, e n
pessoalmente o Jorge. Na noite em
Tie estreou, ele veio falar comigo
minha mo e disse: Rapaz, voc
animou, sabe? Acho que d para dramaturgia brasileira. Aquilo par
l i b
Escada, por exemplo, so textos,
nio, mais fceis de serem assimil
-
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Eu tenho a impresso de que o
participar do Seminrio de Dra
Arena para ter a chance de discde texto especificamente comigo.
escreveu Vereda da Salvao aps t
Tie, aquilo o inspirou. Mas ele
seminrio. Talvez ele tivesse criativo se continuasse por l.
Naquela poca, a crtica se referia
um moleque talentoso, ou u
talentoso, como algum chegou
maioria deles, ou ao menos os mai
como Sbato Magaldi, Dcio de A
e Delmiro Gouveia, parecia torcmim, para que eu continuasse a e
i h i d d
relao do tipo aluno-professor. Eu
pre fui um autodidata, considerava
-
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106
ticos como mestres. Todo autodidat
sente alguma insegurana em relao
balho, e est sempre em busca de apossa dar uma beno. E eles me tra
muito respeito, como se eu fosse m
espcie de aluno deles.
Era uma crtica muito digna, a feitempo. Talvez porque eles tivessem m
para ir fundo na anlise dos espetcu
tempo, isso tambm foi desaparece
uma nota, nota de rodap. O esp
crtica, atualmente, est uma lstim
pena, pois por mais contraditria qu
uma crtica, ela muito importanespetculo. Eu penso que a contrad
bj i d i d 0 0
peas, mesmo as de grande suce
cartaz somente de sexta a domin
-
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o prprio teatro deve ter uma pa
nisso, pois ele permitiu que mu
autores fossem roubados pela teque a televiso uma mdia
poderosa, e que se consolida cada
o passar do tempo. O teatro hoj
encruzilhada: para se levantar umrecomendvel ter no elenco um
da televiso. S que este gran
televiso est comprometido co
durante a semana, e s pode sub
partir da sexta-feira. H algu
produtores comearam a excluir
das temporadas, depois as quintat as sextas esto ameaadas. E o
d ilh
Eles tm a impresso que s se faz
tando na televiso. o tipo de suce
-
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108
to, pois a prpria pessoa pode perceb
ficando famosa. Ento eles tm co
chance de pousar direto na tev paraaval da popularidade. Por outro lad
vens de um despojamento total,
maior dedicao que continuam lut
teatro.Um exemplo disso so os atores j
quem eu atuei na pea infanto
Pequeno Livro das Pginas em Bra
garotes com quem eu mantive um
mento maravilhoso nas coxias, eram p
se respeitavam muito, que gostavam m
das outras. O sucesso do espetculo coxia. Um elenco que no se d be
l d d
mais chato do que arestas nas co
lidades difceis, carter duvidoso,
b d i i h
-
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bate, tudo isso uma aporrinha
infelizmente, a figura do sacana.
te em qualquer lugar, no seriateatro.
Eu sempre fiz questo de trab
pessoas com quem eu gostaria
mesmo na direo. Escolhi semprcom os quais eu acreditava que n
-
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110
Captulo VIII
O it d S t F
-
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O xito da Semente e o Fracasso
Eu passei a conhecer melhor o que
a partir da pea A Semente, de
sempre existiu, desde a poca do
mas eu nunca tinha me aproximaseus mecanismos. A censura que e
meio desta pea, no entanto, no e
censura bem organizada, mantida
como ela passaria a ser aps o go
conheci a censura promovida por
da sociedade, que fizeram press
pea fosse proibida, j que ela ttema que, para muita gente, era
i d P id C i
Para nossa sorte, eram uma minoria
tavam com o mnimo apreo do rest
dade Mais tarde esses radicais forma
-
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112
dade. Mais tarde esses radicais forma
o terrvel Comando de Caa ao Comu
tambm eram uma semente... Mas u
te muito diferente da minha Semen
Deus.
Aquelas pessoas, que no entendiam
no eram autores, no eram nada nser bem sincero, tentaram responder
da minha pea com uma provoc
fizeram uma pea chamada O Caro
tada como uma pardia de A Seme
brincadeira no deu certo, eles n
pblico algum. No contentes, ch
recorrer Censura Federal, exiginSemente fosse tirada de cartaz.
f i l ibid
Naquela poca havia uma prtica
e desagradvel por parte da cen
era obrigada a fazer o espetcul
-
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era obrigada a fazer o espetcul
para uma comisso de censores. Er
j montado, com tudo em p, um
estria, sendo feito apenas para a
corramos um risco absurdo, por
exigiam que as cenas fossem
reescritas, eles exigiam que elas fodo espetculo, cenas inteiras. O
feitos de acordo com os critrios
que era um grande absurdo. O
Deus... Qual era a legitimidade
Quer dizer, ele havia sido nomea
isso mesmo, cortar as cenas. Mas
quem? E por qu? Que poder erele exercia? Os anais da censura
i b ilid d d i h
Ele ia carinhosamente at a grvida
o ouvido em sua barriga para perce
se mexendo O que h de ofensivo
-
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114
se mexendo. O que h de ofensivo
eles cortaram. Era um absurdo, um pr
pretexto poltico para impedir que a
encenada, j que o texto falava da
Partido Comunista e das lutas partid
eles no podiam divulgar os verdadei
da proibio, criavam estes mecanispara tentar implodir a pea. Tudo
manto da moral e dos bons costum
que eles diziam.
O secretrio de Segurana Pblica de
na poca da proibio de A Seme
Virglio Lopes da Silva. Ele foi cora
ofereceu cobertura e solidariedade. Eque quem daria um veredicto sobre
i i d d l id
O Virglio, ento, encontrou um
diplomtica para garantir a
sociedade sem desrespeitar a
-
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sociedade sem desrespeitar a
censores federais: ele permitiu a
pea, mas somente no Teatro
Comdia. E nada, alm disso. P
efeitos, A Semente estava proib
territrio nacional. A primeira tem
o Leonardo Villar como protasegunda, Juca de Oliveira, um jo
fez valer todas as apostas que fiz
nica apresentao da pea longe
TBC ocorreu na sede do Si
Ferrovirios de So Roque. Aprese
l e no houve problema nenhum
A Semente foi uma pea que deantecipou alguns movimentos so
d
Participei de ocupaes de terra, fu
Ligas Camponesas de Pernambuco
conviver com os camponeses eu pa
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116
conviver com os camponeses eu pa
certeza de que nunca eles iriam
levante. A vida deles era terrvel,
sendo, mas no fcil organizar um m
Ficou ntido para mim que a
preocupao deles era com a co
passavam fome e estavam muito anveis educacionais e de sade t
recomendados para o pas. Eu voltei d
e disse: no d, se eles fizerem
movimento, eles vo ser massacrado
Eu escrevia minhas peas a partir de
observaes, que no eram ob
plsticas, mas de algum que punhmo na massa. Mas eu tambm n
M i i b b
Acho que minhas peas seguiam
to histrico, elas acompanhavam a
estava sendo vivida no pas em c
-
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estava sendo vivida no pas em c
at desembocavam em algum lug
vejo nenhuma delas como um
futurologia, eu nunca tive t
descrever o futuro distante. O qu
era a viso do homem, principalm
do homem brasileiro, que era objpreocupao. Eu no tinha a m
para falar de outra coisa.
A Semente abriu um perodo mu
para mim no TBC, no s para mi
Juca de Oliveira, o Flvio Migliac
Rangel tambm. Depois de A
fizemosAlmas Mortas
, uma pea romance do Nikolai Gogol que f
i i i f
balho no TBC, em 1962. Nesta poca
to foi eleito presidente de honra do
Arena e criou um grupo no qual ele
-
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118
e a e c ou u g upo o qua e e
luta confiana. Este grupo era formad
pelo Augusto Boal, pelo Paulo Jos e
Cotrin, entre outros. Ns ficamos
espcie de diretores do Arena e
semanas mais tarde, encena
Mandrgora, do Maquiavel, a pea qnosso retorno velha casa.
Quando A Mandrgora saiu de c
promovemos um festival de autores
mais antigos, como Arthur de Azeved
Pena. O festival foi um sucesso e tanto
estava voltando a dar certo e a se fi
um eficiente produtor de espetproduo seguinte foi uma adapta
l l d O lh i i d
-
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Cenas de O Melhor Juz, o Rei (acima com Je Joana Fomm, abaixo todo o elenco)
da populao. Um prato cheio para c
graa diante dos olhos da revoluo
sim que foi dado o golpe, a pea teve
-
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120
q g p p
cartaz.
Na noite de 31 de maro, a pea foi a
normalmente. Depois da aprese
comecei a coordenar um debate c
estudantes de Medicina, ali na USP
Antonia. Eles tinham estranhado muda pea, parece que no gostaram
que eu fiz dos camponeses, to supe
temerosos autoridade e s fig
tucionais. Quando eu estava explicand
que a figura do campons descrita n
um retrato muito fiel dos campone
conheci no Nordeste, entrou um care disse: Foi dado o golpe, a revo
l i l
Naquela poca eu era colunista do
via historinhas bem populares. Co
jornal para tentar descobrir qual s
-
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do general Amauri Kruel, coman
gundo Exrcito, e do governado
Barros. No fundo, ns espervamo
recessem alguma resistncia, mas q
houve resistncia. Ou melhor, que
caiu ou foi cassado.No dia seguinte ns resolvemos fe
Ns apenas nos antecipamos, po
seria fechado de qualquer jeito. E
cima mesmo. Ns tiramos O Filh
cartaz, fechamos o teatro e fic
dando uma de panaca. OArena p
Eu acredito que os militares palguns dias para ver em cima de qu
l i d
pouco antes da minha casa, eu vi mu
dos de uniforme fazenda ronda pela cando as proximidades da Rua ure
-
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morava. No tive dvidas de que el
atrs de mim. Conclu que no daria
voltar para casa. Resolvi telefonar p
pai, que foi me buscar e me levou pa
de alguns amigos, aqui perto de So
mo. O dono do stio na poca era Hotel So Bento, amigo ntimo do m
sei alguns dias escondido naquele s
andava muito inquieto. O que eu po
ali, longe de tudo, sem saber direito va acontecendo com meus amigos?
iria me levar para onde? Um dia, ac
se: no. Vou sair para procurar alguas. O primeiro amigo que procurei fo
b lh
do Teatro Oficina um exemplo d
turbaram muito o teatro, mas d
ram que ele fosse reaberto. Mas
-
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OArena permanecia fechado.
O Ciro acreditava que a coisa ia
para o nosso lado, que seria melh
semos de circulao por algum te
dele foi esse: colocou a mim e ao Ju
dentro de um fusca e nos levou atTrs Lagoas, no Mato Grosso do
emprestou algum dinheiro e d
esquema o seguinte vocs vo p
para Corumb e, de l, outro tre
Cruz de La Sierra. Vocs vo se
estvamos praticamente com a ro
um esquema assim, sem leno semEu estava com 30 anos, casado e co
l d d d i
-
7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier
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124
Captulo IX
Juca, O Don Juan do Fome Zero
-
7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier
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Este trem que ligava Corumb a
La Sierra, na Bolvia, era o fam
Morte, que costumava levar muito
A distncia entre as duas cidadeto grande mas, se no me enga
foi feita em quase trs dias, po
parava muito. Eu sempre achav
para embarcar mercadoria contrabuma aventura. s vezes o trem pa
os funcionrios fossem buscar len
funcionar a locomotiva. Era umfaroeste.
f i di
Fomos procurar uma estao de rdio
sora de televiso e no encontramos
havia porcaria nenhuma. O jeito en
-
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126
correr aos estudantes, mas os c
bobinhos tambm, eles no conhecia
quem a gente era. Eles no sabiam
Decidimos tomar um nibus, uma
jardineira para a capital La Paz. Acho
passei tanto frio na minha vida, aqusubindo para La Paz, subindo, at o
Mas a gente s dizia: que beleza, n
a. Quando chegamos a La Paz, p
dinheirinho que havia sobrado e alu
quarto de hotel a gente queria e
dormir para caramba. A gente est
cansado e no dia seguinte tinha deprocurar algum, algum contato qu
j d j h
um sobretudo muito elegante. U
do instituto nos disse que ele daria
naquele dia, e que ns poderam
-
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assistir. Eu disse para o Juca: olha
cara. Vamos l, ao menos um jant
oferecer. Fomos conversar com e
mos que era um cineasta. Um cinea
Eu e o Juca nos olhamos e pens
devia ser o nico cineasta do parealmente o nico, naquele mesm
ficou sem cineasta, porque ele est
o pas por falta de condies de tr
tinha enviado toda a famlia para
e estava indo se juntar a ela
apresentar e ele ento comeou a
situao da Bolvia. Ele quase cho
que conseguia estar mais duro
i i d
Nas semanas seguintes comearam a
exilados brasileiros, entre eles o Artue alguns sargentos que tinham se m
l
-
7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier
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128
contra o golpe. Nossa sorte que est
chegaram com um pouco de dinheiro
ram a ajudar no nosso sustento. O que
sorte, porque havia alguns dias q
comamos aji (espcie de piment
picante, usado em diversos tipos de Era arroz com aji, sopa com aj
agentava mais ver aquilo na minha f
mim, o aji continua sendo um tempe
tvel, nem o cheiro dele eu tolero.
Por uma dessas ironias da vida, o qu
nosso estmago foi um tersol que sur
olho. O Juca de Oliveira saiu em bu
oftalmologista e encontrou um que
i l d
trado algum sensvel, algum q
posto a diminuir a dor que ele estClaro que o Juca encontrou uma m
ti d d lh t
-
7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier
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tinuar dando esses conselhos sent
restaurante: assim, enquanto o sof
roso do mdico ia diminuindo, a no
bm ia desaparecendo. Enquanto
sava com ele, eu s comia. Eu esta
interessado no meu apetite no quconjugais daquele oftalmologista
Com o estmago cheio, a gente e
nemas, s vezes via o mesmo filme
vez, s para ter alguma coisa par
idia era conseguir meios de che
algum contato que nos levasse at
conseguimos nada. Depois decid
Chile por Cuba. Fomos embaixad
l d d C b l i i
l. Um dia, eu e o Juca nos sentamos
e dissemos: quer saber, ns vamos vdam ou no prendam, matem ou n
lt A i
-
7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier
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130
ns vamos voltar. Aqui que a gen
mais. Porque o que a gente estava te
bm no era vida. Depois me falar
coisas por l melhoraram um pouco
que no muito, no ? Eu estava c
ver as pessoas passando fome nas ruUma das coisas mais preocupante
aquele nosso perodo na Bolvia e
de informaes sobre o que esta
cendo no Brasil. Ns tentvamos e
alguns contatos, mas no consegua
O dia mais desesperador foi quan
be, por meio de uma rdio de La Pa
pai tinha sido preso. Mas a rdio
i d i
E eu ia conferir no banco se o d
chegado, e nada.Meu pai havia sido preso mesmo,
por algumas horas Ele foi leva
-
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por algumas horas. Ele foi leva
interrogatrio no DOPSe o mant
meio dia talvez, mas logo ele fo
no sabia como estavam meus pa
filhos. Naquela poca eu j tinha
Flvio, mas em relao s crianas etranqilo, pois sabia que eles es
me, e que os avs maternos tam
por perto.
No final do terceiro ms decidimo
de volta. E que surpresa ns tive
mais o mesmo trem, agora era um
litorina, mais confortvel e rpida
que aquele golpe na Bolvia tinha
f i Q d
feijo, ovo frito e um pedao de lom
eu estava com uma saudade daquevoc no faz idia.
Meu primeiro contato com o Brasi
-
7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier
133/226
132
Meu primeiro contato com o Brasi
meses de exlio, foi atravs de um pra
com feijo. E um copo de cachacinh
momento eu senti que eu estava vol
casa. Eu e o Juca decidimos ento
conduo que nos levasse at So Pacerteza de que, ao botarmos os ps
seramos presos.
Mas que nada. Chegamos a So Pau
nh, eu e o Juca nos despedimos e c
para sua casa. Estvamos com medo,
do que havia muita gente mobilizad
ajudar.
Captulo X
Por Favor, Ocupem seus Lugar
reguem suas Armas
-
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reguem suas Armas
Fazia algumas semanas que eu es
a So Paulo quando fui informad
delegado do DOPSqueria conve
Minha audincia foi marcada pajulho. Fui sozinho ao prdio do DO
de So Paulo, e no encontrei nin
nem sentinela guardando o port
porta aberta e entrei em uma d
tinha at um jornal atirado no ch
o prdio estava inteiro vazio. Ach
estava cheirando a emboscada. P
eu sasse dali naquele momento,
l l i fi
Depois desta passagem eu comecei a
do movimento pela reabertura doAugusto Boal estava no Rio de Ja
voltou para nos ajudar na produo
-
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135/226
134
voltou para nos ajudar na produo
de Molire. A pea era um pouco cabe
de hipocrisia, no enfrentou muitos
com a censura. Na poca, Tartufo era
possvel de um grupo de artistas q
voltando ao trabalho. A temporadsatisfatria, ficando em cartaz at pr
o final de 1964. No final daquele
decidimos que havia chegado a hora
falar um pouco mais da histria d
percebemos que o personagem hist
indicado para abrir este ciclo era Zum
do Quilombo dos Palmares. Foi nesta
eu conheci o Edu Lobo. Ele foi at m
l i i
muito tempo, pois a liberdade de
tava desaparecendo num ritmo aA dificuldade de pr este ciclo em
com a liberao pela censura de
-
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136/226
com a liberao pela censura de
Zumbi, cujo texto eu havia feito em
o Augusto Boal, e as msicas tin
cargo do Edu Lobo. Foi um proje
mente integrado. O Edu Lobo no
positor de fora que chegou apenum trabalho, sem compromisso.
ele participou mesmo, mergulhou
cesso de produo e entrou par
maravilhoso poder trabalhar com
ali do lado, acompanhando tudo
Ns chegvamos a varar as madr
do msica. Ento chegou o mom
sentar o trabalho, totalmente pro
d Q lib
de cartaz, porque seno ela teria m
blemas. Ela j estava sendo pres-siosuperiores. Todo ms eu era obrigad
der para ela a mesma coisa: Mas mi
-
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136
der para ela a mesma coisa: Mas mi
ra, veja se isso possvel. Ns temos
todos os dias, ns no podemos, em
ncia, tirar a pea de cartaz. A meno
nhora proba a pea, a senhora tem
no tem?. Mas da ela ficava npobrezinha, no queria assumir soz
ponsabilidade de proibir o espetc
apenas um exemplo das contradies
sura sempre enfrentou. Ela no qu
pea de cartaz, mas de certa forma
do obrigada a fazer isso. Mas obriga
maneira indireta, percebe? Ningum
ordem especfica para que ela
l d f i b
-
7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier
138/226
De repente, era como se o Ar
sediando um movimento da jo
platias lotadas, animadas. O x
tinha deixado a censura em um
Como mexer naquilo?
Cena de Arena Conta Zumbi
prdio. Vrias vezes eu fui obrigado
DOPSpara ver se havia mesmo bArena. Os agentes do DOPS sabiam
havia bomba coisa nenhuma, eu tin
-
7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier
139/226
138
,
disso. Mas quando eles chegavam, e
alguns atores ficassem ao lado deles
eles realizavam a percia. Eles no a
da presena de uma testemunha
buscas. E a gente ficava ao lado dequ? E nunca foi encontrada nenhu
Ento eles nos provocavam, dizendo
de a bomba no ter sido encontrada
dizer que ela no tivesse sido coloca
poderia estar muito bem escondida
isso explodir, como que vai ser? E
eles nos perguntavam. Essas provo
tinham fim.
O i f i
-
7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier
140/226
-
7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier
141/226
140
s vezes eles ficavam obstruindo a
levava aos camarins, ou a passagem
para a caixa de luz. S que os atores utilizar estas passagens e, sempre q
isso, acabavam roando nos soldado
armas. Detalhe: as armas estavam ca
os agentes eram umas figuras realme
d d b lh
Renato Consorte e Jairo Arco e Flex em
Tiradentes
-
7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier
142/226
como ter a garantia disso? Estes
tos estimularam minha conscinc
duo seguinte, Arena Conta T
1967. Nada mais iria me surpreend
va preparado para enfrentar tem
As ameaas de bomba no se re
Teatro de Arena. Uma noite, du
Apresentao da Feira Paulista de Opini
-
7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier
143/226
142
bom vocs sarem da, vocs tm
pressa porque vai estourar uma bom
quiser se livrar melhor sair correndopara a mesa de discusses, que est
presidida pela Llia Abramo, e conte
que havia ocorrido. A Llia ouviu e, c
calma dela, dirigiu-se platia e
Olha o seguinte: ns vamos ter
Elenco de Roda Viva
Este episdio antecedeu em algun
cio da luta armada, que foi quaendureceu para valer. O episd
deste perodo foi o ataque ao el
-
7/27/2019 Gianfrancesco Guarnier
144/226
Viva, no dia 18 de julho de 1
invadiram o Teatro Ruth Escobare
artistas. Foi uma das aes m
promovidas pelos rapazes do Com
aos Comunistas. Eu vi esta ao, Os caras do CCC eram inconfun
jovens, robustos, muito chegados
Eles estavam hospedados num ho
que existia ali pertinho do Ruth Esdos Ingleses.
Naquela noite, eles esperaram pe
espetculo e a sada do pblico p
teatro. Eram mais de 70 pessoas. E
d i i
nando cada vez mais intensa, recrud
mo. Ento foi instalado um disposou pseudo-legal, para dar apoio a e
so, comearam a surgir os atos inst
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at que o mais daninho deles, o fa
acabou com tudo. Usando como pre
cessidade de acabar com a luta arm
foi capaz de enforcar o nosso mov
tstico. Depois do AI-5 oArena
aiguiu produzirA Resistvel Ascenso
Ui, de Bertolt Brecht, tambm dir
Augusto Boal. Este foi meu ltimo t
Arena, que fecharia as portas, de lanclica, no incio dos anos 70. O
Boal foi preso e depois se mudou
gentina. Houve um pessoal que ain
resistir e manter o teatro em funci
i i i i l
como dar certo, o Arena foi est
clusive economicamente. QuebrVoltei para os palcos em 1970, m
Oficina, para participar do elenco
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de Molire, com direo do Fern
O Oficina tambm foi vtima da p
censura, mas o motivo ali era out
perseguidos do ponto de vista m
nncias de consumo de drogas, eponto de vista poltico. O Of
apresentou outros objetivos est
o grupo no tenha sido poupado
es. Ainda assim, eles levaram aposta de colocar em p todo o r
eles tinham, at para conseguir fu
truir o teatro destrudo por um in
Em 1971 eu comecei a trabalha
hi d O h M h O
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Hamlet. Alm do Othon e da Ma
no elenco de Um Grito a Liana DuvCarvalho. A pea contava a histria
ensaiando, a pouco mais de uma
i bli
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tria, uma pea que o pblico nun
do qual . Durante o espetculo,
porque a companhia estava end
aparecendo para levar embora
refletores e todos os equipament encenao. Ou seja, eu procu
como o teatro estava sendo de
perdendo as condies de se man
Nesta pea eu usei algumas cenaforas da tortura que corria solta n
minha inteno: eu achava que u
leiro tinha de mostrar o que esta
do no Brasil. A este exerccio eu d
i O b
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Era qu
brincadTamb
mostra
verso
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150
verso
que est
tendo
mostra
que quecusto, q
lha de
namor
quantogarota,
interes
sexo. N
eu tam
b
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Elenco de Um Grito Parado no Ar
Um deles era O Botequim, tambm d
to com um elenco do Rio de Janeirtarde veio para So Paulo. A pea
agonia dos freqentadores de um ba
podiam deixar o local em virtud
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podiam deixar o local em virtud
tempestade que caa l fora. E depois
de Partida, que todo mundo,
desconfiava ter sido inspirada na
jornalista Wladimir Herzog, assassinanas dependncias do DOPS. E as p
podiam desconfiar disso, no: elas
ter certeza. A pea foi baseada e in
morte do Herzog, sim. Era uma peaterrvel, terrivelmente triste, eu que
produo foi novamente da com
Othon Bastos. Na primeira montagem
pretava um personagem chamado
h j h i did d
uma bomba sempre as bombas, m
mania de bomba que o regime explodir no teatro. Mas as pessoas
o medo e iam ver a pea, e isso
batizei este meu ciclo de peas sob
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batizei este meu ciclo de peas sob
de teatro de ocasio, ou seja, o t
fui obrigado a fazer durante aq
especfico do Brasil.
Eu no queria provar nada com as
Eu era apenas um resistente. E
resistir, do meu jeito. Cada pes
poca, estava resistindo de uma m
da minha. Mas a gente sentia um em fazer aquilo naquele perodo,
mos muita coisa por meio da dram
muito bom, no ? Examinando h
daquelas peas eu percebo que e
i f i b
tro, sobre uma companhia de teatro
com dificuldades de levantar uma prono era. Quer dizer, era um micro
produzindo um mundo macro. Mas i
para o pblico o que era indireto che
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para o pblico, o que era indireto che
direto cabea das pessoas. Com O
se deu da mesma maneira: aquela chu
acabava nunca e todo mundo preso
gar, sem poder ir embora. Dentro do
de um botequim eu procurei mostra
edade dividida em classes, proibida d
mentar. At que chegam uns caras
de higiene e comeam a retirar dali rigosos. P, precisa dizer mais alguma
exatamente o que tinha acontecido
de 64. Mas no era uma metfora do
Era a metfora de tirar as pessoas co
i d i f
estes movimentos para restabelec
cia, e ns conseguimos abalar o mo. Ah, abalamos. Abalamos tan
abrir.
No final dos anos 70 eu j
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No final dos anos 70 eu j
concentrado na televiso e pescrever o roteiro para as filmage
Usam Black-Tie. Sabe o que eu p
e que me deixou muito chatea
pessoas tinham interiorizado os
golpe militar. Eu j estava notando
o tempo ficou muito claro. O golp
ac