Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf ·...

107
Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre graus WC-Co submicrométricos

Transcript of Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf ·...

Page 1: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

Universidade de Aveiro

Ano 2011

Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

Filipe de Sousa Pires

Diamante nanocristalino CVD sobre graus WC-Co submicrométricos

Page 2: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

Universidade de Aveiro

Ano 2011

Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

Filipe de Sousa Pires

Diamante nanocristalino CVD sobre graus WC-Co submicrométricos

Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos

requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Engenharia dos

Materiais – 2º Ciclo, realizada sob a orientação científica do Dr. Filipe José

Alves de Oliveira, Investigador Auxiliar do Laboratório Associado CICECO da

Universidade de Aveiro, e sob a co-orientação científica da Dra. Flávia

Aparecida de Almeida, estagiária de pós-doutoramento do Departamento de

Engenharia Cerâmica e do Vidro da Universidade de Aveiro.

Page 3: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro
Page 4: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

o júri

Presidente Prof. Doutor Joaquim Manuel Vieira

professor catedrático do Departamento de Engenharia Cerâmica e do Vidro da Universidade de

Aveiro

Prof. Doutor Augusto Barros Lopes

professor auxiliar do Departamento de Engenharia Cerâmica e do Vidro da Universidade de Aveiro

Prof. Doutor João Miguel Maia Carrapichano

professor adjunto do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra

Doutor Filipe José Alves de Oliveira

investigador Auxiliar do CICECO, Departamento de Engenharia Cerâmica e do Vidro da

Universidade de Aveiro

Doutora Flávia Aparecida de Almeida

bolseira de pós-doutoramento do CICECO, Departamento de Engenharia Cerâmica e do Vidro da

Universidade de Aveiro

Page 5: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro
Page 6: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

agradecimentos

Gostaria de agradecer ao professor Filipe Oliveira e à Doutora Flávia Almeida

pela orientação ao longo deste trabalho.

Ao professor Cristiano Abreu do Instituto Superior de Engenharia do Porto, a

ajuda técnica nos ensaios de tribologia.

Ao professor José Gomes da Universidade do Minho, pela disponibilidade para

a utilização do laboratório de tribologia.

Aos meus colegas do laboratório, a ajuda e os conhecimentos que me

transmitiram.

A todos os meus amigos que me acompanharam e deram apoio, mas

principalmente, aos meus pais, irmã e namorada Odete.

Obrigado.

Este trabalho foi financiado por Fundos Feder através do Programa

Operacional Factores de Competividade – COMPETE e por Fundos Nacionais

através da FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia no âmbito do projecto

PTDC/EME – TME / 100689 / 2008, Tribosystems based on multilayered micro

/ nanocrystalline CVD diamond coatings – MULTIDIACOAT.

Page 7: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro
Page 8: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

palavras-chave

diamante CVD, WC-Co, tribologia, adesão

resumo

O diamante possui propriedades mecânicas, térmicas e eléctricas

excepcionais que o tornam um material de eleição para várias aplicações. A

deposição de filmes finos de diamante CVD encontrou uma das suas mais

promissoras aplicações na área das ferramentas de corte. Devido à elevada

dureza, estes revestimentos são muito interessantes para aplicações

tribológicas. O objectivo deste trabalho consistiu no estudo da adesão de

revestimentos de diamante obtidos pela técnica de HFCVD em substratos de

metal submicrométricos. Estudou-se o efeito de diferentes teores de cobalto e

tamanhos de grão de WC. Foram realizados ataques químicos de modo a

preparar a superfície de WC-Co para a deposição de diamante, minimizando

assim o efeito prejudicial do cobalto e melhorando a ancoragem mecânica do

diamante. Produziram-se assim amostras com vários tipos de revestimento,

nomeadamente, diamante microcristalino (MCD) e diamante nanocristalino

facetado (f-NCD).

Através das técnicas de microscopia electrónica de varrimento,

espectroscopia de Raman, perfilometria e microscopia de força atómica, foi

possível caracterizar os diferentes substratos e filmes de diamante. Foi

estudado o comportamento tribológico dos diversos filmes, na forma de pares

homólogos do tipo movimento linear alternativo esfera-sobre-disco, na

ausência de lubrificação.

O revestimento MCD mostrou ter uma rugosidade superficial maior,

proporcionando valores de atrito inicial superiores mas cargas críticas de

delaminação maiores. O substrato MD22 (combinação do maior tamanho de

grão WC e maior teor de cobalto) apresentou os melhores resultados na

avaliação da adesão através de testes de indentação estática (cargas

superiores a 1000 N) e apresentando os valores mais altos de cargas

suportadas nos ensaios tribológicos (30N e 50N para os filmes f-NCD e MCD,

respectivamente).

Os coeficientes de desgaste obtidos nas placas em testes curtos (2 h)

foram na ordem de grandeza de 10-7

mm3 N

-1 m

-1 para os filmes MCD e f-NCD

sobre os diferentes graus de metal duro, denotando um regime de desgaste

suave. Nos ensaios longos (16 horas), verificou-se uma tendência da

diminuição dos valores de coeficiente de desgaste para uma ordem de

grandeza de 10-8

mm3 N

-1 m

-1.

Page 9: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro
Page 10: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

keywords

CVD diamond, WC-Co,tribology, adhesion

abstract

Diamond possesses mechanical, thermal and electrical properties that

make it an elegible material for several applications. The deposition of of thin

CVD diamond films has founded one of its most promising applications in the

cutting tools field. Due to the high hardness, these coatings are very interesting

for tribological applications. The objective of this work was to study the

adhesion of diamond coatings, by the HFCVD technique on substrates with

submicrometric degrees of WC-Co, i.e., with different cobalt content and WC

grain sizes. Chemical attacks were made in order to prepare the WC-Co

surface for the diamond deposition, therefore minimizing the harmful effect of

cobalt and improving the mechanical anchoring of the diamond. Several

samples with different coating types were produced, namely microcrystalline

diamond (MCD) and faceted nanocrystalline diamond (f-NCD).

The several coatings were characterized by SEM, Raman spectroscopy,

perfilometry and AFM. Thus the tribological behavior of the different coating

was studied in homologous pairs of the type linear alternative movement

sphere-on-disc, in the absence of lubrication.

The MCD coating revealed a higher surface roughness, which provided

for higher initial friction but critical delamination load values. The MD22

substrate (combination with higher WC grain size and higher cobalt content)

presented the best adhesion values by static indentation tests and the higher

load bearing values on the tribological essays (30 N and 50 N for the f-NCD

and MCD, respectively).

The wear coefficient values obtained in the plates on short tests (2 h)

were of the order of 10-7

mm3 N

-1 m

-1 for the films f-NCD and MCD about the

different grades of carbide, therefore denoting a soft wear regime. On long

tests (16 h), there was a trend of drecrease in Kd values for an order of

magnitude of 10-8

mm3N

-1m

-1.

Page 11: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro
Page 12: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

ÍNDICES

Page 13: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro
Page 14: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

iii

Índice geral

ÍNDICE DE FIGURAS ........................................................................................................................ V

ÍNDICE DE TABELAS ..................................................................................................................... VII

ABREVIATURAS .............................................................................................................................. IX

1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................................................... 1

1.1. METAL DURO ........................................................................................................................ 3

1.1.1. Sinterização e aspectos microestruturais do WC – Co .............................................. 4

1.1.2. Propriedades mecânicas do metal duro ..................................................................... 7

1.1.2.1. Dureza .................................................................................................................... 7

1.1.2.2. Tenacidade à fractura............................................................................................. 8

1.2. TRATAMENTOS DE SUPERFÍCIE EM WC-CO PARA DEPOSIÇÃO DE DIAMANTE ............................. 9

1.3. FILMES DE DIAMANTE .......................................................................................................... 10

1.3.1. Principais técnicas de deposição CVD..................................................................... 11

1.3.1.2. Deposição química de diamante a partir da fase vapor assistida por filamento

quente (HFCVD) ................................................................................................................... 13

1.3.2. Tamanho dos cristais de diamante .......................................................................... 16

1.3.3. Interface diamante / WC-Co – Tensões residuais ................................................... 17

1.3.4. Efeito do cobalto na adesão dos filmes de diamante em WC-Co ............................ 19

1.3.5. Comportamento tribológico de filmes de diamante CVD micro e nanocristalino .........

.................................................................................................................................. 20

2. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................................... 23

2.1. PRODUÇÃO DE SUBSTRATOS EM METAL DURO ...................................................................... 25

2.1.1. Densidade ................................................................................................................ 26

2.1.2. Propriedades mecânicas - Dureza e tenacidade à fractura ..................................... 27

2.2. TRATAMENTO SUPERFICIAL DAS AMOSTRAS DE METAL DURO ................................................. 28

2.2.1. Caracterização das amostras por MEV e DRX após sinterização ........................... 28

2.2.2. Tratamentos químicos e preparação dos substratos para o crescimento de

diamante .................................................................................................................................. 30

2.3. DEPOSIÇÃO DOS FILMES DE DIAMANTE ................................................................................. 32

2.4. TESTES DE RESISTÊNCIA MECÂNICA – INDENTAÇÃO ............................................................. 34

2.5. TESTES TRIBOLÓGICOS ....................................................................................................... 34

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................... 37

3.1. PROPRIEDADES MECÂNICAS E TÉRMICAS DOS SUBSTRATOS DE METAL DURO ......................... 39

3.2. TRATAMENTOS QUÍMICOS DO METAL DURO ........................................................................... 41

3.3. DEPOSIÇÃO DOS FILMES DE DIAMANTE ................................................................................. 44

Page 15: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

iv

3.3.1. Testes preliminares .................................................................................................. 44

3.3.2. Filmes de diamante micro e nanocristalinos ............................................................ 46

3.3.3. Caracterização morfológica - AFM ........................................................................... 49

3.3.4. Caracterização Morfológica - Espectroscopia de Raman ........................................ 50

3.4. TESTES DE INDENTAÇÃO ..................................................................................................... 55

3.5. COMPORTAMENTO TRIBOLÓGICO ......................................................................................... 59

3.5.1. Valores de carga máxima suportada ........................................................................ 59

3.5.2. Regimes de atrito...................................................................................................... 62

3.5.3. Caracterização do desgaste das amostras .............................................................. 65

4. CONCLUSÕES ........................................................................................................................ 71

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................ 75

Page 16: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

v

Índice de figuras

Figura 1.1. Microestrutura típica de metal duro com as fases de carboneto de tungsténio a cinza

escuro e o cobalto a branco. .............................................................................................................. 4

Figura 1.2. Diagrama de fases binário WC-Co ................................................................................. 6

Figura 1.3. Esquema do processo de crescimento CVD ............................................................... 12

Figura 1.4. Possível mecanismo de crescimento de diamante CVD ............................................. 12

Figura 1.5. Representação esquemática de um reactor HFCVD .................................................... 13

Figura 1.6. Ilustração de crescimento de diamante por HFCVD ..................................................... 14

Figura 1.7. Evolução da resistência do filamento com o tempo ...................................................... 15

Figura 1.8. Esquema dos planos de orientação da cristalografia do diamante .............................. 17

Figura 1.9. Representação esquemática do desenvolvimento de tensões térmicas ou extrínsecas,

quando o coeficiente de expansão térmica do filme é inferior ao do substrato. .............................. 18

Figura 1.10. Representação esquemática do modelo proposto de geração de tensões intrínsecas.

.......................................................................................................................................................... 18

Figura 2.1. Imagem obtida por microscopia óptica de uma indentação Vickers na amostra MD12.

As grandezas a e c são identificadas na equação 7. ....................................................................... 28

Figura 2.2. Micrografias MEV das diferentes amostras de metal duro após polimento: A- MD11; B-

MD12; C- MD22................................................................................................................................ 29

Figura 2.3. Espetro de difração de raios X das diferentes amostras (A- MD11; B- MD12; C- MD22).

.......................................................................................................................................................... 30

Figura 2.4. Imagem do reactor HFCVD. .......................................................................................... 32

Figura 2.5. Vista de topo das amostras no interior do reactor HFCVD. .......................................... 32

Figura 2.6. Fotografia do tribómetro. ............................................................................................... 34

Figura 3.1. Gráfico das curvas dilatométricas dos diferentes substratos de metal duro. ............... 40

Figura 3.2. Aspecto morfológico das superfícies observados por MEV após ataque com reagente

Murakami a) MD11; b) MD12; c) MD22, e após ataque com Áqua-Régia d) MD11; e) MD12; f)

MD22. ............................................................................................................................................... 42

Figura 3.3. Espectro EDS de superfície após polimento e tratamentos químicos dos substratos de

metal duro. ........................................................................................................................................ 43

Figura 3.4. Imagem MEV da superfície de uma zona delaminada referente ao filme MCD sobre o

substrato MD11 e respectivo espectro EDS. ................................................................................... 45

Figura 3.5. Micrografia obtida por MEV de um filme MCD sobre o metal duro MD11 com 40

minutos de arrefecimento e 30 segundos com Áqua-Régia. ........................................................... 45

Figura 3.6. Aspecto morfológico das superfícies dos filmes MCD observados por MEV

depositados em simultâneo sobre os substratos: A) MD11; B) MD12; C) MD22. ........................... 46

Page 17: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

vi

Figura 3.7. Aspecto morfológico das superfícies dos filmes f-NCD observados por MEV

depositados em simultâneo sobre os substratos: A) MD11; B) MD12; C,D) MD22. ....................... 47

Figura 3.8. Fotomicrografias MEV mostrando as espessuras dos filmes de diamante MCD e f-NCD

sobre os substratos: A,D) MD11; B,E) MD12; C,F) MD22. ............................................................. 48

Figura 3.9. Imagem 3D obtida por AFM dos filmes MCD e f-NCD sobre os substratos de metal

duro MD11 (A,D), MD12 (B,E) e MD22 (C,F)................................................................................... 50

Figura 3.10. Espectros Raman referentes à deposição de filmes MCD sobre os graus de metal

duro: A) MD11; B) MD12; C) MD22. ............................................................................................... 51

Figura 3.11. Espectros Raman referentes à deposição f-NCD sobre os substratos: A) MD11; B)

MD12; C) MD22 referentes à deposição f-NCD. .............................................................................. 54

Figura 3.12. Micrografias obtidas em microscópio óptico das marcas de indentação com ponta

Brale e carga de 300N, para os filmes MCD e f-NCD sobre os substratos A,D) MD11; B,E) MD12;

C,F) MD22. ....................................................................................................................................... 56

Figura 3.13. Imagem MEV mostrando a zona de ancoragem entre os filmes f-NCD e os substratos

MD11 (A), MD12 (B) e MD22 (C). .................................................................................................... 57

Figura 3.14. Micrografias obtidas em microscópio óptico das marcas de indentação para avaliação

das CCD das amostras A,D) MD11; B,E) MD12; C,F) MD22. ........................................................ 58

Figura 3.15. Imagem MEV mostrando as pistas de desgaste do filme f-NCD das amostras A)

MD11; B) MD12; C) MD22 para as cargas críticas. ......................................................................... 61

Figura 3.16. Imagem MEV da pista de desgaste do substrato MD22 (A) e da esfera (filme f-NCD)

para uma carga de 40 N (B). ............................................................................................................ 61

Figura 3.17. Gráfico representativo da evolução do coeficiente de atrito em função da distância

percorrida, referente ao filme f-NCD sobre o substrato MD22. ........................................................ 62

Figura 3.18. Valores de coeficiente de atrito inicial para os diferentes revestimentos para uma

carga de 10 N num teste curto (2 horas). ......................................................................................... 63

Figura 3.19. Evolução do coeficiente de atrito com a distância do filme f-NCD (MD22) para uma

carga de 10 N. .................................................................................................................................. 64

Figura 3.20. Imagem MEV numa vista geral (A) e central (B) duma pista de desgaste de um teste

longo, sob uma carga de 10 N do revestimento f-NCD (MD22). ..................................................... 65

Figura 3.21. Micrografias MEV das pistas de desgaste de testes curtos e longos dos filmes f-NCD

sobre os substratos: A,D) MD11; B,E) MD12; C,F) MD22 para uma carga de 10 N. ...................... 66

Figura 3.22. Imagens 3D obtidas por AFM das pistas de desgaste de testes curtos e longos para

uma carga de 10 N de filmes f-NCD sobre os substratos: A,D) MD11; B,E) MD12; C,F) MD22. .. 67

Figura 3.23. Evolução do volume de desgaste das amostras para o filme MCD. .......................... 68

Figura 3.24. Evolução do volume de desgaste das amostras para o filme f-NCD.......................... 68

Figura 3.25. Valores de Kd para o filme MCD. ................................................................................ 69

Figura 3.26. Valores de Kd para o filme f-NCD. ............................................................................... 69

Figura 3.27. Valores de Kd em testes longos (16 horas) para os filmes MCD e f-NCD nos

diferentes graus de metal duro. ........................................................................................................ 70

Page 18: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

vii

Índice de tabelas

Tabela 1.1. Temperaturas de sinterização típicas para diferentes graus de WC-Co ........................ 5

Tabela 1.2. Relação entre a composição química, a granulometria e as propriedades finais de

sinterização de graus de metal duro .................................................................................................. 8

Tabela 1.3. Relação entre a composição química, a granulometria e os valores de tenacidade à

fractura ............................................................................................................................................... 9

Tabela 2.1. Designação das amostras. ........................................................................................... 25

Tabela 2.2. Espessura do filme intergranular. ................................................................................. 26

Tabela 2.3. Densidade dos diferentes substratos utilizados. .......................................................... 27

Tabela 2.4. Parâmetros utilizados durante a carburização e a deposição dos filmes MCD e f-NCD.

.......................................................................................................................................................... 33

Tabela 2.5. Valor das espessuras e taxa de crescimento dos filmes MCD e f-NCD para os

diferentes substratos de metal duro. ................................................................................................ 33

Tabela 2.6. Valores dos módulos de Young e coeficiente de Poisson das esferas e das placas. . 35

Tabela 3.1. Valores de dureza e tenacidade à fractura dos diferentes substratos. ........................ 39

Tabela 3.2. Coeficiente de dilatação térmica e tensão de origem térmica entre o filme de diamante

e os diferentes substratos. ............................................................................................................... 40

Tabela 3.3. Rugosidades média superficiais (Ra) registadas através de um perfilómetro mecânico.

.......................................................................................................................................................... 44

Tabela 3.4. Espessuras dos filmes MCD e f-NCD para os diferentes substratos de metal duro. ... 48

Tabela 3.5. Tensão criada nos filmes MCD sobre os diferentes substratos de metal duro. ........... 52

Tabela 3.6. Tensão criada nos filmes f-NCD sobre os diferentes substratos de metal duro. ......... 55

Tabela 3.7. Cargas críticas para os filmes MCD e f-NCD sobre os diferentes substratos. ............. 57

Tabela 3.8. Valores de carga máxima suportada e espessuras dos filmes. ................................... 59

Tabela 3.9. Pressão hertziana média em função da carga aplicada............................................... 60

Tabela 3.10. Variação do coeficiente de atrito inicial e estacionário com a carga dos filmes MCD e

f-NCD sobre o substrato MD22. Na tabela são também apresentados as rugosidades dos filmes

após os ensaios................................................................................................................................ 64

Page 19: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro
Page 20: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

ABREVIATURAS

Page 21: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro
Page 22: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

Abreviaturas

xi

Abreviatura Designação

a Valor médio das medidas das quatro fissuras causadas pela indentação

α Coeficiente de expansão térmica

BEN Nucleação reforçada por aplicação de uma diferença de potencial (do

inglês Bias Enhanced Nucleation)

c Metade da diagonal da impressão do indentador

CICECO Centro de Investigação em Materiais Cerâmicos e Compósitos

CVD Deposição química em fase vapor (Chemical Vapor Deposition)

DC Corrente contínua

DECV Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

DRX Difracção de raios X

E Módulo de Young

EDS Espectroscopia de energia dispersiva de Raios X

f-NCD Diamante nanocristalino facetado

G Tamanho de grão

HV Dureza Vickers

HFCVD Deposição química na fase de vapor por filamento quente (Hot Filament

Chemical Vapor Deposition)

K1C Tenacidade à fractura

Kd Coeficiente de desgaste

HIP Prensagem isostática a quente (Hot Isostatic Pressing)

MCD Diamante microcristalino (do inglês Microcrystalline Diamond)

MPCVD Deposição química na fase de vapor por micro-ondas (Microwave Chemical

Vapour Deposition)

MEV Microscopia electrónica de varrimento

Page 23: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

Abreviaturas

xii

µ Coeficiente de atrito

NbC Carboneto de nióbio

NCD Diamante nanocristalino (Nanocrystalline Diamond)

P Carga aplicada

PECVD Deposição química na fase de vapor assistido por plasma (Plasma

Enhanced Chemical Vapour Deposition)

Ra Rugosidade média

sccm Centrimetros cúbicos por minuto

Tsub Temperatura no substrato

Tfil Temperatura do filamento

Vd Volume de desgaste

σ Desvio padrão

σr Tensão residual

σfil Tensão no filamento

η Fase eta

Coeficiente de Poisson

WC-Co Metal duro

Caminho livre médio (Mean Free Path)

Page 24: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Page 25: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro
Page 26: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

1. Revisão bibliográfica

3

1.1. Metal duro

Em 1923 surge a primeira patente sobre ligas de metal duro na qual era referido o carboneto

de tungsténio (WC) combinado com cobalto ou níquel numa percentagem de 4 a 10%. Passado

pouco tempo (1927), F. Krupp lança no mercado o primeiro metal duro, o qual foi utilizado em

matrizes de trefilagem e peças de desgaste [1].

O metal duro pertence à classe dos materiais compósitos formado por uma fase dura, WC,

que fornece dureza e resistência ao desgaste, e por um ligante metálico (geralmente o cobalto),

que confere tenacidade [2]. Estes materiais são produzidos geralmente por metalurgia de pós,

através da sinterização em fase líquida acima dos 1320ºC, sendo esta a temperatura de fusão da

composição eutéctica formada pelos principais componentes. Em alguns casos específicos é

usada a sinterização em vácuo convencional ou prensagem isostática a quente (hot isostatic

pressing - HIP) para a produção de peças em metal duro [3].

A sinterização da mistura carboneto/ligante metálico é largamente determinado pela

molhabilidade do carboneto pelo ligante fundido. O cobalto é um metal muito usado como fase

ligante, uma vez que promove uma boa molhabilidade com o WC [2].

As propriedades do metal duro podem variar através da modificação da composição, isto é, da

alteração da proporção de carbonetos e da fase ligante e das características microestruturais

como o tamanho médio de grão, distribuição de tamanhos de grão e grau de contiguidade de

carbonetos. Os pós finos são usados para optimização da microestrutura, tendo por isso um

contributo marcante nas propriedades mecânicas e de resistência ao desgaste do metal duro. A

procura deste tipo de materiais com graus submicrométricos de WC-Co (tamanho de grão de WC

de aproximadamente 0,8 µm) tem vindo a crescer rapidamente, principalmente devido às novas

tecnologias de processamento de ligas metálicas, as quais requerem materiais com propriedades

melhoradas. A produção de graus submicrométricos de WC-Co possui algumas dificuldades de

processamento, devido ao tamanho de grão reduzido de WC, à alta área superficial das partículas

de pó, que favorece a oxidação, ao difícil ajuste do teor de carbono e ao crescimento anormal de

grão de WC durante a sinterização. Assim, é de extrema necessidade a correcta homogeneização

durante a moagem, assegurando uma dispersão uniforme do metal ligante. A adição de inibidores

de crescimento de grão juntamente com um teor de carbono controlado e um tempo ajustado de

temperatura de sinterização permite um maior controlo do crescimento de grão de WC para este

tipo de graus submicrométricos de WC-Co. Assim, são adicionadas pequenas quantidades (< 0.5

% em peso) de outros carbonetos, de forma a proporcionar grãos de WC uniformes e finos durante

a sinterização em fase liquida do WC-Co. Os inibidores de crescimento de grãos mais eficientes

são VC, Cr2C3, NbC e TaC [4].

A Figura 1.1 ilustra a microestrutura típica do metal duro com os seus constituintes.

Page 27: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

1. Revisão bibliográfica

4

Figura 1.1. Microestrutura típica de metal duro com as fases de carboneto de tungsténio a cinza escuro e o

cobalto a branco [4].

1.1.1. Sinterização e aspectos microestruturais do WC – Co

O processo de produção de peças de metal duro por via da metalurgia de pós consiste na

preparação de um pó granulado seguido da sua compactação, sinterização e maquinagem. Ao pó

de carboneto de tungsténio é misturado um metal ligante (Co, Ni, Fe) e um lubrificante, num

moinho para produzir o compósito. Após a homogeneização e granulação, o pó é compactado na

geometria desejada. A densidade em verde após a prensagem é aproximadamente de 45 a 65%

do valor teórico [5]. As peças em verde são pré-sinterizadas para maquinagem e durante esta

etapa, procede-se também à remoção por queima do lubrificante. As peças maquinadas são então

sinterizadas, geralmente sob vácuo (ou em alternativa sob uma atmosfera de hidrogénio) a uma

temperatura ligeiramente superior à do ponto eutéctico. A sinterização HIP é frequentemente

utilizada de forma a garantir a remoção da porosidade residual [5]. Assim, de forma a obter um

material com propriedades reprodutíveis, é vital ter um grande controlo nas várias etapas de

processamento [6].

As taxas de aquecimento e de arrefecimento, o tempo e temperatura de sinterização e a

atmosfera e pressão aplicadas são variáveis determinantes nas propriedades das peças

sinterizadas. A etapa inicial consiste no aquecimento até à temperatura de sinterização com vista

à eliminação parcial de porosidade e promover a máxima retracção de material [7 ]. Com o

aumento da temperatura inicia-se o processo de sinterização no estado sólido até atingir a

temperatura eutéctica, após o qual começa a sinterização na presença de fase líquida [8]. Estes

dois processos são capazes de densificar total ou parcialmente a estrutura, sendo que com a

sinterização na fase sólida apenas é possível obter-se uma estrutura com porosidade controlada,

enquanto que o fechamento total da porosidade é obtido através da sinterização na presença de

fase líquida.

Page 28: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

1. Revisão bibliográfica

5

O processo de sinterização é normalmente conduzido até temperaturas na ordem de 1350-

1640ºC (dependendo do teor de cobalto), quando a fase ligante rica em cobalto está em fase

líquida [9]. Com o aumento do teor de cobalto, a temperatura de sinterização para a densificação

completa tende a decrescer (Tabela 1.1).

Na tabela seguinte estão representadas as temperaturas de sinterização de WC-Co com

diferentes teores de cobalto.

Tabela 1.1. Temperaturas de sinterização típicas para diferentes graus de WC-Co [3].

Grau (% Co em peso) Temperatura de Sinterização (ºC)

WC-6Co (6) 1540

WC-11Co (11) 1460

WC-20Co (20) 1400

WC-30Co (30) 1350

A sinterização em fase líquida do metal duro, geralmente é realizada em forno a vácuo ou

com atmosfera controlada [10].

Para se obter a densificação completa através de sinterização em fase líquida, são

requeridas usualmente 3 condições, nomeadamente, a) quantidade apreciável de fase líquida, b)

solubilidade do sólido no líquido c) e molha completa do sólido pela fase líquida. Além disso, a

densificação através deste sistema é normalmente dividido em 3 estágios, re-arranjo das

partículas (I), dissolução-reprecipitação (II) e coalescimento do esqueleto definido pelas partículas

sólidas (III) [4].

No estágio de re-arranjo (I), ocorre uma densificação rápida devido às forças capilares

exercidas sobre as partículas sólidas pelo líquido (molha intergranular). Ao mesmo tempo ocorre a

eliminação dos poros quando o sistema tenta minimizar a sua energia livre superficial total.

Apenas é possível atingir-se nesta etapa a densificação total se houver cerca de 35% de líquido

em volume [ 11 ]. Na Figura 1.2 está representado um diagrama de fases binário WC-Co,

mostrando a reacção eutéctica em 1245ºC.

Page 29: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

1. Revisão bibliográfica

6

Figura 1.2. Diagrama de fases binário WC-Co [12].

A presença de uma fase líquida com boa molhabilidade permite que as partículas do pó se

ordenem, ou penetrem nos poros existentes ou até que se desloquem umas em relação às outras

sob influência de forças capilares.

A retracção linear durante a sinterização de WC-Co apresenta tipicamente um valor entre 18-26%

[3], correspondente à eliminação da porosidade intergranular existente nas peças em verde. Em

determinados casos, quando a molhabilidade é favorável e existe líquido suficiente, este

mecanismo de re-arranjo das partículas densifica totalmente a estrutura [13].

No segundo estágio, conhecido por solução-reprecipitação (II), o coalescimento que

ocorre é devido à distribuição de tamanho de grãos. Isto só é possível se a fase sólida for solúvel

na fase líquida [13]. Os grãos pequenos dissolvem-se mais rapidamente no líquido em relação aos

grãos mais grosseiros. O gradiente de concentração resultante causa um fluxo por difusão de

material dos grãos pequenos para os grãos grosseiros, formando-se grãos maiores à custa dos

mais pequenos. Este processo é o segundo que mais contribui para a densificação da estrutura.

No terceiro estágio (III), a densidade máxima atingida é dependente das características

dos poros e dos gases internos aprisionados nos poros. Este mecanismo é responsável pela

densificação final, quando os mecanismos anteriormente citados não conseguem densificar

totalmente a estrutura. Ela envolve a formação de um esqueleto sólido contínuo por toda a parte

da estrutura e não permite mais o re-arranjo das partículas [13]. A força motriz do processo de

sinterização tem origem na redução da área superficial específica, a qual produz a minimização da

energia superficial total. As alterações microestruturais observadas no final deste estágio

influenciam as propriedades do material sinterizado, como a resistência ao desgaste, a tenacidade

à fractura, o comportamento magnético e a ductilidade [11].

Page 30: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

1. Revisão bibliográfica

7

1.1.2. Propriedades mecânicas do metal duro

O metal duro WC-Co tem sido largamente utilizado para a produção de ferramentas

resistentes ao desgaste, devido à sua elevada dureza, resistência e tenacidade à fractura [2].

Estudos recentes têm mostrado um aumento do desempenho destas ferramentas ao nível das

propriedades mecânicas com o uso de tamanhos de grãos ultra-finos de WC (0.6 µm) e sub-

micrométricos (0.8 µm) [14, 15], devido a diferentes quantidades e tipos de fases ligantes e a

adição de segundas fases duras como o TiC e TiN [16].

Devido à diferença no coeficiente de expansão térmica entre os carbonetos e o cobalto,

surgem elevadas tensões residuais nos carbonetos sinterizados após o arrefecimento [ 17 ].

Também a rectificação pode introduzir tensões no material [18]. As inclusões e a porosidade têm

um acentuado efeito prejudicial na tenacidade do material, podendo esta última ser controlada por

uma sinterização a elevadas pressões. O mecanismo de fractura do WC-Co depende do tamanho

de grão de WC e da espessura da camada de cobalto ligante.

1.1.2.1. Dureza

A dureza do metal duro depende principalmente do tamanho de grão de WC e do teor de

cobalto, aumentando com o decréscimo do tamanho de grão e do teor de cobalto [19,20,21],

desde que a fase ligante esteja em quantidade suficiente para assegurar a sinterização completa

[22]. Na Tabela 1.2 estão ilustrados diferentes valores de dureza para diferentes composições de

metal duro, quer no teor de cobalto, quer no tamanho de grão de WC.

Page 31: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

1. Revisão bibliográfica

8

Tabela 1.2. Relação entre a composição química, a granulometria e as propriedades finais de sinterização de

graus de metal duro [4].

Composição (% em massa)

WC 94-97 90,5-96,5 80-93,5 70-85

Co 6,0-3,0 9,5-3,5 20,0-6,5 *

Ni * * * 8,0-15,3

Propriedades

Tamanho de grão médio,μm

0,4-1,5 1,2-2,8 4,3 1,2-5

Densidade, g/cm3 15,10-14,85 15,20-14,50 14,85-13,50 14,60-12,70

Dureza, GPa 18,5-22,5 12,1-17,5 9,0-18,5 6,0-13,7

Resistência à flexão, MPa

3400-2500 3000-1900 3400-2700 2700-1500

1.1.2.2. Tenacidade à fractura

A tenacidade à fractura (K1C) é uma medida da resistência do material à iniciação e

propagação de fractura. Esta é uma propriedade importante para aplicações de engenharia,

quando o material em causa tem que possuir uma elevada capacidade para resistir ao impacto

sem ocorrer fractura [4]. A tenacidade à fractura do metal duro aumenta com a fracção volúmica

da fase ligante e com o aumento do tamanho médio de grão de carboneto [22]. O teor de carbono

é outro factor que influencia a tenacidade à fractura destes materiais. Qualquer excesso ou

deficiência do teor de carbono reduz o valor de K1C pelo aparecimento de grafite ou da fase eta (η),

respectivamente [23]. Na Tabela 1.3 estão ilustrados diferentes valores de tenacidade à fractura

para diferentes composições de metal duro, quer no teor de cobalto, quer no tamanho de grão de

WC.

Page 32: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

1. Revisão bibliográfica

9

Tabela 1.3. Relação entre a composição química, a granulometria e os valores de tenacidade à fractura [24].

Composição (% em massa)

WC 94 92 94 92 94 90

Co 6 8 6 8 6 10

Propriedades

Tamanho de grão médio,μm

0,3 0,3 1,2 1,2 4 4

Tenacidade à fractura, MPa.m

1/2

12,5 12,8 10,9 10,9 15,8 15,7

1.2. Tratamentos de superfície em WC-Co para deposição de diamante

Os tratamentos de superfície são essenciais para a deposição de diamante em substratos

de metal duro. Consistem essencialmente na remoção do cobalto superficial e na criação de uma

rugosidade superficial adequada para o crescimento de filmes de diamante com uma boa adesão

[25].

Como foi dito anteriormente, a presença do ligante cobalto em substratos de metal duro,

tipicamente em percentagens de 6-10%, no caso de ferramentas para processamento mecânico,

tem uma influência prejudicial no processo de deposição de filmes de diamante. Os materiais

ligantes como o cobalto suprimem o crescimento de diamante e favorecem a formação de fases

de carbono não-diamantadas, como a deposição de grafite, que proporciona uma fraca adesão do

filme formado [26]. Assim, existe a necessidade de criar métodos que permitam remover o cobalto

da superfície do substrato. Existem algumas variáveis a ter em conta aquando da remoção do

cobalto superficial no tratamento das superfícies, tais como: profundidade de remoção, método

adequado em termos de eficácia e uniformidade da remoção, retorno do cobalto por difusão à

superfície durante o processo de crescimento de diamante e fragilização da superfície. A

fragilização da superfície sucede quando o cobalto é removido excessivamente em profundidade

[27]. Vários tratamentos de superfícies têm sido efectuados para minimizar este efeito, tais como:

ataque químico com reagente Murakami, seguido de um ataque com Água-Régia (remoção do

cobalto superficial) [28] e modificação da superfície por descarburização do WC (activação da

superfície) [27], etc. O ataque químico com o reagente Murakami efectua um ataque aos grãos de

WC, aumentando a rugosidade superficial e revelando a rede de cobalto. A descarburização do

WC consiste na exposição da amostra de metal duro a um plasma de H2 ou O2 ou a uma

atmosfera rica em hidrogénio atómico [ 29 ]. Nestas condições, os átomos de carbono serão

atacados selectivamente, deixando os átomos de W na superfície [27]. A camada de W formada

Page 33: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

1. Revisão bibliográfica

10

pela descarburização será recarburizada no estágio inicial do processo de crescimento, devido à

introdução de CH4 na atmosfera gasosa. No processo de recarburização, são formados pequenos

grãos facetados de WC, provocando aumento da rugosidade superficial, o que resulta numa maior

adesão pelo aumento da resistência mecânica da interface WC-Co / filme de diamante [30].

Existem outros tratamentos de superfície, como a remoção do ligante cobalto superficial

(ataque selectivo do cobalto), irradiação com iões de alta energia, formação de compostos

estáveis de cobalto e interposição de barreiras à difusão do cobalto para a superfície, que têm sido

aplicados para aumentar a nucleação de diamante pela remoção do cobalto superficial e/ou

restrição da migração do cobalto para a superfície do substrato [31].

A baixa densidade de nucleação de diamante provoca problemas de adesão do revestimento,

devido à criação de vazios interfaciais que actuam como pontos de nucleação de fissuras [32].

Este problema poderá ser reduzido através de um processo denominado por riscagem com uma

suspensão de diamante ou por um método conhecido por BEN (Bias Enhanced Nucleation). Este

último consiste na aplicação de uma diferença de potencial entre o substrato e a região de

activação do reactor CVD [33].

1.3. Filmes de diamante

Na década de 1980 demonstrou-se ser possível depositar diamante a baixas pressões e

baixas temperaturas, o que gerou um grande interesse em estudar a técnica de deposição química

na fase vapor (CVD). A evolução desta técnica ao longo do tempo foi grande, e actualmente, é

possível depositar diamante em diversos materiais ou substratos através do controlo das variáveis

do processo.

O diamante é o material mais duro conhecido na natureza (10000 Kg.mm-2

), capaz de

riscar qualquer outro material, sendo utilizado em ferramentas de corte e abrasão [34]. Tem ainda

a vantagem de ter um coeficiente de atrito semelhante ao do Teflon (PTFE - politetrafluoroetileno),

como par homólogo, isto é, 0,03. Possui igualmente uma condutividade térmica cinco vezes maior

que a do cobre (20 W.cm-1

K -1

), tornando-o ideal para o uso em dissipadores de calor. É

quimicamente inerte até 1627 ºC na ausência do oxigénio e até 827ºC na presença deste. Devido

a estas propriedades, os revestimentos em diamante poderão ser uma grande vantagem para o

aumento do desempenho e do tempo de vida das ferramentas de WC-Co [35].

As propriedades exigidas para o substrato de WC-Co para posterior deposição de

diamante em aplicações para maquinagem são: elevada dureza e tenacidade, compatibilidade

química com o diamante, coeficiente de expansão térmica semelhante ao diamante e boa

capacidade de dissipação de energia [36].

A deposição de diamante em substratos com grãos submicrométricos ou graus com grãos

ultra-finos de WC e/ou altos teores de cobalto (> 8% em peso) é mais difícil do que graus

Page 34: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

1. Revisão bibliográfica

11

convencionais, de grão de WC mais grosso [37]. A redução de tamanho de grão de WC implica

uma maior área superficial específica, e por isso, existem mais pontos de nucleação para as

partículas de diamante. No entanto, quanto menor for o tamanho de grão de WC menor é a

capacidade para a ancoragem mecânica dos revestimentos de diamante. Assim, com o aumento

de tamanho de grão de WC e/ou menor teor de cobalto no metal duro, a deposição sobre este tipo

de material é menos problemática [37].

1.3.1. Principais técnicas de deposição CVD

O crescimento de filmes de diamante a taxas industrialmente relevantes tornou-se

possível com o desenvolvimento dos métodos de crescimento CVD (Chemical Vapour Deposition)

activados termicamente ou por plasma. Estes filmes podem ser depositados por processos

químicos a baixas pressões (1-100mbar) por métodos CVD, tais como, HFCVD (Hot Filament

Chemical Vapour Deposition), MPCVD (Micro-Wave Chemical Vapour Deposition), PECVD

(Plasma Enhanced Chemical Vapour Deposition), entre outros. Os diversos métodos de activação

actualmente utilizados apresentam algumas características comuns, tais como:

a) O crescimento é efectuado em presença de hidrogénio de forma a facilitar a erosão

selectiva da grafite pelo hidrogénio atómico.

b) Activação das espécies contendo carbono – nos diversos processos CVD activados,

as espécies contendo carbono (ex: CH4) são submetidos a uma activação, que pode

ser térmica (por plasma ou filamento quente) ou por processos de combustão, para

produzir as espécies responsáveis pela nucleação e crescimento do diamante.

c) Crescimento a uma temperatura moderada do substrato – a temperatura do substrato

é mantida sempre entre 500ºC e 1200ºC.

A Figura 1.3 mostra um esquema ilustrado do processo de crescimento de diamante CVD.

Page 35: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

1. Revisão bibliográfica

12

Figura 1.3. Esquema do processo de crescimento CVD [38].

A Figura 1.4 mostra um possível mecanismo de crescimento de diamante onde os átomos

de hidrogénio estão directamente relacionados com a formação de radicais contendo carbono.

Figura 1.4. Possível mecanismo de crescimento de diamante CVD [39].

Page 36: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

1. Revisão bibliográfica

13

1.3.1.2. Deposição química de diamante a partir da fase vapor assistida por

filamento quente (HFCVD)

O processo HFCVD (Figura 1.5), que foi inicialmente desenvolvido por Matsumoto e

colaboradores na década de 50 do século XX, é provavelmente a forma mais simples e

reprodutível de crescer diamante a baixas pressões. Este processo permitiu obter uma nucleação

contínua e homogénea de diamante em vários substratos [18].

Figura 1.5. Representação esquemática de um reactor HFCVD [40].

Esta técnica permite o crescimento de filmes de diamante sobre grandes superfícies,

através do uso de vários filamentos, e utilizando um equipamento de fácil manuseamento e de

baixo custo, sendo uma técnica interessante para aplicação ao nível industrial [41]. O processo de

crescimento dos filmes por HFCVD inicia-se quando uma mistura gasosa é introduzida no reactor

a uma pressão de 10 a 100 torr. Essa mistura é normalmente composta por hidrogénio molecular,

com pequenas percentagens de hidrocarbonetos. O metano é um dos hidrocarbonetos usados,

com concentrações que variam entre 0,3 e 5 % em volume. A mistura é activada através do

filamento quente, onde os gases reagem para produzir as espécies precursoras, responsáveis

pelo crescimento. Dá-se então a dissociação do hidrogénio molecular em hidrogénio atómico e a

dissociação das espécies de hidrocarbonetos. O filamento (temperatura superior a 1800 ºC) deve

ser capaz de produzir hidrogénio atómico em grandes quantidades, a ponto de criar uma sobre-

saturação de hidrogénio atómico na região de crescimento, para que este possa estabilizar a

superfície do diamante e fazer a erosão preferencial da grafite. Os reagentes podem atingir o

substrato com uma combinação de processos de transporte como o fluxo convectivo ou fluxo

difusivo [40]. Os radicais e outras espécies reagem sobre a superfície do substrato, iniciando o

processo de crescimento do filme, através de processos de adsorção e desorção. Através do

processo de convecção algumas espécies são transportadas para outras partes do reactor. Na

Figura 1.6 está ilustrado o crescimento de diamante por HFCVD.

Page 37: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

1. Revisão bibliográfica

14

Figura 1.6. Ilustração de crescimento de diamante por HFCVD [39].

O hidrogénio atómico (H*) formado após passagem pelo filamento reage com o metano da

mistura gasosa e origina a formação de radicais, como o radical metilo (CH3*), segundo as

seguintes reacções:

Eq.1

Eq.2

Das reacções anteriormente referidas, resultam as espécies mais importantes no crescimento

de filmes de diamante por filamento quente. Para além da presença de CH3*, a presença de H* é

responsável por diversos mecanismos:

a) A deposição de carbono ocorre simultaneamente em estrutura sp3 (estrutura do diamante)

e estrutura sp2 (estrutura da grafite). A competição entre as ligações do carbono e as diversas

reacções químicas possíveis que podem acontecer resultam num sistema muito complexo e

determinam a taxa de deposição e a qualidade do filme de diamante. No entanto, foi demonstrado

que durante a deposição, a grafite é eliminada sob a acção do hidrogénio atómico pois a cinética

da reacção química entre o H* e a estrutura sp2 é cerca de 500 vezes mais rápida que a reacção

entre H* e a estrutura sp3 [42];

b) Pode surgir formação de H2 após recombinação de H* na superfície do substrato. Esta

reacção é exotérmica e conduz ao aquecimento do substrato durante a deposição de diamante. A

determinação da taxa de crescimento do diamante e considerando como variáveis do processo a

Page 38: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

1. Revisão bibliográfica

15

temperatura do gás na vizinhança do substrato, a concentração de H*, H2 e de CH3* na vizinhança

da superfície do substrato, verificou-se que a taxa de crescimento aumenta com a concentração

das espécies activas determinantes para a deposição de diamante. O controlo da temperatura do

substrato é também de extrema importância [18].

Segundo estudos realizados, revelou-se que a formação de H* aumenta quando a

temperatura do filamento é elevada e a pressão da mistura é baixa [34]. Devido à saturação da

atmosfera em hidrocarbonetos, os filamentos reagem num processo de carburização, que afecta a

estrutura e a microestrutura do filamento e influencia o processo de nucleação de filmes de

diamante [38]. Com o processo de carburização, a resistência do filamento aumenta de maneira

gradual até atingir um patamar. O tempo de carburização do filamento está ligado directamente

com a concentração de CH4 na fase gasosa. A Figura 1.7 mostra o gráfico de um teste em que foi

analisado a resistência do filamento em função do tempo. Neste sentido, o tempo mínimo de

carburação a partir do qual a resistência do filamento é constante, é de 10 minutos a temperaturas

acima de 2300ºC.

Figura 1.7. Evolução da resistência do filamento com o tempo [18].

A deposição dos filmes de diamante por HFCVD ocorre em dois estágios fundamentais: a

nucleação e o crescimento.

Nucleação

O fenómeno de nucleação é importante na determinação das características dos filmes,

tais como, morfologia, homogeneidade, adesão ao substrato e formação de defeitos. O aumento

da densidade de nucleação pode ser realizado através de um método denominado “riscagem” com

uma suspensão de diamante e/ou pelo processo BEN.

Page 39: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

1. Revisão bibliográfica

16

Para os filmes de diamante microcristalino (MCD), uma elevada taxa de nucleação no

início do processo de deposição é fundamental para a obtenção rápida de um filme contínuo,

sendo o seu crescimento normalmente colunar.

Crescimento

O processo de crescimento dos filmes de diamante ocorre em duas etapas: o crescimento

das partículas oriundas da nucleação e o crescimento dos filmes propriamente ditos [43]. Nos

filmes de diamante nanocristalino (NCD) ocorre nucleação secundária apenas dependente dos

parâmetros de processamento e não da densidade de nucleação inicial. Neste tipo de filmes, o

tamanho da cristalite não aumenta com o aumento de espessura do filme, não havendo por isso

crescimento orientado como no MCD [44].

Para o crescimento de filmes NCD, são também usados gases inertes, nomeadamente, o

árgon. Este gás é frequentemente usado, combinado com o metano e hidrogénio, para melhorar a

estabilidade do plasma [38].

O aumento da razão CH4/H2 favorece a nucleação secundária do diamante, conduzindo ao

aparecimento de diamante nanocristalino [45]. O árgon pode inibir o crescimento facetado do

diamante após a nucleação, permitindo a formação de novos centros de crescimento e

aumentando a taxa de re-nucleação do diamante, evitando-se assim o indesejado crescimento

colunar. Mas, a partir de uma determinada razão de CH4/H2 poderá ocorrer formação de grafite

que impede a nucleação do diamante [46].

Por outro lado, o diamante microcristalino pode ser obtido utilizando baixas quantidades

de hidrocarbonetos (~ 1 % de CH4 em H2) e uma temperatura de substrato na gama de 700-1000

ºC [47].

1.3.2. Tamanho dos cristais de diamante

O tamanho da cristalite de diamante durante o crescimento de diamante CVD é variável,

podendo assumir um tamanho micrométrico (ordem de microns) até um tamanho nanométrico (5-

100 µm).

Os filmes de diamante microcristalinos (MCD) depositados por métodos CVD

convencionais possuem uma estrutura colunar de cristais grosseiros e facetados e por isso,

possuem uma superfície rugosa, que tende a ser directamente proporcional ao tamanho dos

mesmos (mediante o tempo de deposição ou razão dos gases CH4/H2). Exibem uma orientação

cristalográfica <110>, <111> e <100> [48], mostrada na Figura 1.8.

Page 40: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

1. Revisão bibliográfica

17

Figura 1.8. Esquema dos planos de orientação da cristalografia do diamante [49,50].

Uma alta rugosidade superficial dos revestimentos de diamante conduz a um aumento da

taxa de desgaste, influenciando a eficiência da ferramenta em serviço. Em resultado, o tempo de

vida das ferramentas é encurtado e reduz-se a precisão da ferramenta em operações de

maquinagem [51].

Com o desenvolvimento da técnica CVD para o crescimento de filmes de diamante, a

síntese e a caracterização dos filmes de diamante nanocristalino (NCD) ganharam um especial

interesse de investigação. Os filmes nanocristalinos possuem cristais de diamante numa faixa de

tamanhos de grão de algumas dezenas de nanómetros, entre 1-100 nm [52]. Em comparação com

os filmes microcristalinos, os filmes nanocristalinos possuem uma dureza mais baixa, devido à

presença de carbono amorfo nestes filmes [35]. No entanto, estes possuem uma superfície lisa e

um baixo coeficiente de atrito, o que os torna particularmente ideais para aplicações tribológicas.

Os filmes de diamante nanocristalino contêm usualmente um alto nível de tensões

intrínsecas [34], que afectam directamente a sua adesão aos substratos de WC-Co [35], mas à

semelhança do diamante microcristalino são compatíveis com substratos de metal duro (WC-Co),

cerâmicos e ligas metálicas [53].

As misturas de gases usadas para obtenção de filmes NCD podem ser H2/CH4, como para

o diamante microcristalino, podendo também ser utilizados Ar/H2/CH4, H2/CH4/N2, CH4/N2, citando

apenas alguns exemplos [54].

1.3.3. Interface diamante / WC-Co – Tensões residuais

Os filmes de diamante em substratos de WC-Co têm por vezes uma baixa adesão e esse

facto deve-se a razões como as tensões residuais e a interacção entre o carbono e o cobalto

durante a deposição CVD.

A importância de entender a origem do desenvolvimento das tensões residuais nos filmes

de diamante tornou-se cada vez mais importante. As possíveis origens destas tensões residuais

incluem as de origem térmica (extrínseca), e intrínsecas [17]. A maior parte dos revestimentos

Page 41: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

1. Revisão bibliográfica

18

estão sujeitos a estas tensões residuais que influenciam as propriedades mecânicas dos filmes,

como a resistência à fadiga e a ruptura do filme por falhas na interface e perda de adesão [55].

As tensões de origem térmica (Figura 1.9) são formadas durante a fase de arrefecimento

depois da deposição e são devidas à diferença de coeficientes de expansão térmica entre o filme

e o substrato [17], originado tensões compressivas nos filmes [34]. As tensões originadas pelo

efeito térmico contribuem apenas com uma fracção da tensão residual total.

Figura 1.9. Representação esquemática do desenvolvimento de tensões térmicas ou extrínsecas [56],

quando o coeficiente de expansão térmica do filme é inferior ao do substrato.

Na Figura 1.10 é mostrada uma representação esquemática de diamante CVD e carbono

não diamante sobre uma superfície de deposição [57].

Figura 1.10. Representação esquemática do modelo proposto de geração de tensões intrínsecas [56].

As tensões compressivas (intrínsecas) no filme têm também origem durante a

coalescência dos grãos de diamante (crescimento de diferentes planos cristalinos), aquando do

estágio de nucleação [58]. Além disso, a falta de coerência entre os parâmetros de rede do

material que constitui o substrato e os do diamante também é fonte de tensão residual, ocorrendo

assim distorção da rede cristalográfica [34].

Page 42: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

1. Revisão bibliográfica

19

1.3.4. Efeito do cobalto na adesão dos filmes de diamante em WC-Co

O cobalto ligante constituinte do metal duro dissolve os átomos de carbono e actua como

um agente grafitizante, catalisando a formação de ligações sp2 em detrimento das ligações sp

3,

típicas do diamante [55]. A alta solubilidade e difusividade do carbono no cobalto retardam a

nucleação de diamante [26]. O sucesso de obtenção de boa adesão e uma alta nucleação de

diamante depende da capacidade de supressão da interacção entre o cobalto e o carbono, o que

se consegue através de pré-tratamentos químicos.

A utilização de grãos WC sub-micrométricos potencia o aumento da molhabilidade dos

grãos de WC, e assim a utilização de uma menor quantidade de cobalto sem que as propriedades

mecânicas sejam prejudicadas.

Alguns resultados publicados [59] indicam que o desempenho das ferramentas de corte de

metal duro revestidas com diamante está fortemente relacionado com a força de adesão (entre o

substrato e o filme) e o coeficiente de atrito do filme no contacto com a peça a maquinar. No

entanto, a força de adesão também é dependente do teor de cobalto à superfície e da rugosidade

superficial do substrato, sendo o coeficiente de atrito do filme função da rugosidade superficial e

da qualidade e tamanho dos cristais de diamante. Existe um intervalo de valores de rugosidade

superficial no substrato (Ra) para o qual a força de adesão é óptima (Ra= 0.06-0.25 μm), para

qualquer grau de metal duro [60]. Portanto, substratos com baixos teores de cobalto e dentro

desta faixa de rugosidades resultaria num melhor desempenho em ferramentas de corte, devido a

favorecer a formação de filmes com coeficientes de atrito mais baixos [60]. O aumento da

rugosidade superficial do substrato é benéfica para a adesão do filme, uma vez que funciona como

encravamento mecânico para o filme [61].

Alguns trabalhos realizados referem que outros carbonetos podem afectar a adesão dos

filmes de diamante. Ito et al. relatam que a presença de 5-15% de TiC e/ou TaC nos substratos de

WC-Co conduz à delaminação dos filmes de diamante [62,63]. Estes autores atribuem o efeito do

coeficiente de expansão térmica destes carbonetos, superior ao de WC, resultando numa alta

tensão de compressão térmica na interface de diamante/substrato.

Com altas temperaturas de substrato durante a deposição (tipicamente 950ºC), os

inibidores de crescimento de grão como VC e TaC segregam na interface entre o diamante e o

substrato com grãos finos de WC. O nível de adesão é fortemente dependente da segregação dos

aditivos usados como inibidores de crescimento de grão e na formação de uma camada interfacial

grafítica. A formação desta camada de carbono sp2 correlaciona-se facilmente com a segregação

de VC e TaC. Na interface diamante/WC-Co, estas fases catalisam a transformação de diamante a

carbono sp2

e aumentam o efeito prejudicial do cobalto [62].

Page 43: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

1. Revisão bibliográfica

20

1.3.5. Comportamento tribológico de filmes de diamante CVD micro e

nanocristalino

Os filmes de diamante podem melhorar várias propriedades superficiais dos substratos,

incluindo a resistência à erosão, corrosão e desgaste. Além disso, as superfícies de diamante

exibem um dos coeficientes de atrito mais baixo de qualquer material conhecido, tornando-as

ideais para as aplicações tribológicas [34].

Os requisitos tribológicos de sistemas que envolvem superfícies revestidas com diamante

CVD normalmente obedecem às seguintes condições:

- Cada sistema tribológico tem curvas típicas de rodagem, estas devendo entrar num

regime estacionário e apresentar uma estabilidade ao longo do seu comportamento;

- A perda de material por desgaste da superfície revestida não deve ultrapassar valores

estabelecidos;

- O tempo de vida do tribossistema deve ser maior do que a duração requerida [49].

Para satisfazer estes requisitos tribológicos, as superfícies revestidas devem ter uma

adequada combinação de propriedades, como dureza, tensão de ruptura, adesão ao substrato,

tenacidade à fractura, elasticidade e baixa expansão térmica [49]. Existem ainda outras variáveis

que condicionam o desgaste e o coeficiente de atrito, tais como os materiais envolvidos, existência

de lubrificante, a temperatura, a carga, o tipo de movimento, a velocidade relativa, o meio

ambiente e o acabamento superficial [64].

O coeficiente de atrito inicial (µinicial) tende a aumentar com a carga aplicada [65], como

resultado de uma maior pressão de contacto máxima durante o regime inicial. Revestimentos com

uma elevada rugosidade superficial irão gerar um elevado desgaste em superfícies oponentes de

menor dureza. Assim, o coeficiente de desgaste (Kd) é altamente dependente do tamanho de grão

ou da rugosidade superficial inicial dos filmes de diamante.

Em revestimentos de diamante microcristalino, a fractura das pontas das cristalites e/ou a

escala das asperidades superficiais são os mecanismos dominantes nos primeiros instantes do

movimento. Uma grande quantidade de energia é despendida no deslizamento das superfícies

rugosas, devido ao facto de as pontas das cristalites terem de fracturar. Isto leva ao aumento dos

níveis de coeficiente de atrito inicial, especialmente no caso do diamante microcristalino que é

substancialmente mais rugoso do que o nanocristalino [66].

Devido à menor rugosidade superficial dos filmes nanocristalinos em comparação aos

filmes MCD, os filmes NCD são candidatos promissores para aplicações tribológicas. Os filmes

NCD podem encontrar inúmeras áreas de aplicação como: rolamentos, ferramentas de corte e

processamento de ligas metálicas. Este tipo de filmes possui um baixo atrito e uma alta resistência

ao desgaste em várias condições de deslizamento. Neste tipo de filmes (NCD), o regime de atrito

Page 44: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

1. Revisão bibliográfica

21

inicial é igualmente caracterizado pela interacção entre as asperidades superficiais, através de um

mecanismo de fragmentação e deformação das asperidades de contacto, no entanto, com menos

preponderância em comparação aos filmes mais rugosos (MCD) [67,68]. Segue-se um curto

regime de transição associado ao achatamento das asperidades e à acomodação das superfícies

opostas. A micro-abrasão é o mecanismo de desgaste predominante nos filmes NCD, que resulta

em superfícies lisas com uma muito baixa rugosidade superficial.

Após estes regimes, é alcançada uma fase de equilíbrio caracterizado pelo desgaste das

asperidades de tamanho nanométrico. Os mecanismos de bloqueio oferecido pelas asperidades

perdem gradualmente relevância, alcançando-se valores de atrito muito baixos (0,02 – 0,03) [68].

Page 45: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro
Page 46: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Page 47: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro
Page 48: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

2. Materiais e Métodos

25

2.1. Produção de substratos em metal duro

As matérias – primas para produzir os diferentes graus de metal duro foram fornecidos

pela empresa Durit. As designações das diferentes amostras são apresentadas na Tabela 2.1. O

primeiro dígito numérico da designação corresponde ao tamanho de grão de WC usado (“1”- 0,8

µm; “2”- 2,5 µm), ao passo que o segundo dígito corresponde ao teor de Co (“1”- 3,5 % Co; “2”- 8

% Co).

Tabela 2.1. Designação das amostras.

Designação Tamanho de grão WC (μm) Teor de ligante Co (% em peso)

MD11 0,8 3,5

MD12 0,8 8

MD22 2,5 8

Os substratos foram produzidos por prensagem e sinterização em vácuo, usando WC com

granulometrias distintas com o intuito de desenvolver diferentes graus submicrométricos e

igualmente estudar o efeito do teor de cobalto no estudo da adesão de filmes de diamante. Os

diferentes graus de metal duro proporcionam valores distintos de espessuras do filme intergranular

- (Tabela 2.2). Estes valores foram calculados segundo a equação 3:

Eq.3

onde V é a fracção volúmica da fase ligante e G o tamanho de grão de WC. A amostra MD22, de

maior tamanho de grão de WC e teor mais elevado de Co possui um valor mais alto de , uma

ordem de grandeza superior ao substrato MD11. Estas diferenças resultam em diferentes valores

de dureza e tenacidade à fractura, podendo afectar tanto a deposição de diamante como a adesão

dos filmes. A diferença microestrutural dos diversos graus de metal duro poderá ter também

influência na promoção de distintas ancoragens mecânicas na interface entre os filmes de

diamante e os substratos.

Page 49: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

2. Materiais e Métodos

26

Tabela 2.2. Espessura do filme intergranular.

Amostras Espessura do filme intergranular (nm)

MD11 51,5

MD12 135,2

MD22 422,6

A mistura e homogeneização dos pós foram efectuadas na empresa Durit. A prensagem

dos pós foi realizada por prensagem unidireccional seguida por prensagem isostática a frio. As

amostras foram conformadas num molde cilíndrico através de uma prensagem uniaxial sob uma

força de 500 Kgf que corresponderão a uma pressão de 50 MPa (Carver Laboratory Press – Model

C) durante aproximadamente 50 segundos. A prensagem isostática a frio (Stansted Fluid Power)

foi realizada posteriormente a uma pressão de 140 MPa durante 5 minutos, com o objectivo de

garantir uma melhor uniformidade da densidade em todos os pontos da peça e aumentar a sua

resistência mecânica em verde.

O ciclo de sinterização (1460 ºC, 90 min) foi realizado na empresa Durit. A rectificação foi

efectuada com uma mó diamantada (63 µm) numa rectificadora Jones & Shipman 540 Series.

Após rectificação, os discos foram polidos usando uma suspensão de diamante de 15μm (Kemet,

Diamond Suspension, 15-WP), utilizando uma polideira metálica industrial (KEMET 15 - Diamond

Flat Lapping / Polishing Machine), e posteriormente polidos num pano de polimento duro (Struers

MD-Plan) com o uso da mesma suspensão durante 15 minutos. De seguida, procedeu-se à

limpeza das pastilhas num banho de ultra-sons com acetona durante 10 minutos e em etanol

durante 5 minutos.

2.1.1. Densidade

A densidade das amostras obtidas por sinterização foi calculada pelo método de imersão

em etilenoglicol, utilizando a equação de Arquimedes:

Eq.4

onde d é a densidade calculada, Pseco o peso da amostra. Pimerso o peso da amostra imersa

e detg a densidade do etilenoglicol (1,11 g/cm3).

Page 50: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

2. Materiais e Métodos

27

As medidas foram realizadas numa balança digital (A & D Instruments Lda, GR-200-EC),

com uma resolução de 0,0001 g.

Na Tabela 2.3 apresentam-se as densidades calculadas através do método de imersão e

as densidades teóricas determinadas através da equação 5:

Eq.5

Onde mA e mB são a massa de WC e Co, respectivamente. As densidades teóricas do WC (ρWC) e

do Co (ρCo) foram respectivamente, 15,7 g/cm3 e 8,90 g/cm

3.

Tabela 2.3. Densidade dos diferentes substratos utilizados.

Designação Tamanho de

grão WC (μm)

Teor de

ligante Co

(% em peso)

Densidade

(g/cm3)

Densidade teórica (g/cm

3)

% Densificação

MD11 0,8 3,5 15,1 15,3 98,69

MD12 0,8 8 14,6 14,8 98,65

MD22 2,5 8 14,6 14,8 98,65

2.1.2. Propriedades mecânicas - Dureza e tenacidade à fractura

A dureza e tenacidade à fractura das amostras foram determinadas através de

indentações Vickers (Zwick/ Roell ZHU). Os valores de dureza foram determinados por 5

indentações para cada amostra, com uma carga aplicada de 30Kgf, durante 15 segundos. Para o

cálculo da dureza foram medidas as 2 diagonais de cada indentação e feita a média para cada

uma delas. A dureza Vickers foi calculada através da seguinte equação [4]:

Eq.6

Hv representa a dureza Vickers (GPa), P é a carga aplicada (N) e d é a média do tamanho das

diagonais das indentações (m).

Os valores de tenacidade à fractura (K1C) foram determinados através da medida das

fissuras causadas pela indentação, baseada no método de Palmqvist [4,69]. Através da equação 7

foi possível determinar os valores de tenacidade à fractura das diferentes amostras.

Page 51: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

2. Materiais e Métodos

28

Eq.7

Hv representa a dureza Vickers, E o módulo de Young, a é o valor médio das medidas das quatro

fissuras causadas pela indentação e c a metade da diagonal da impressão do indentador. O valor

do módulo de Young é de 630 GPa para este tipo de materiais e foi considerado independente do

valor de tamanho de grão de WC e do teor em cobalto [4].

As amostras foram fotografadas por uma câmara digital AmScope MD800E acoplada a um

microscópio óptico e para as medidas foi utilizado o programa ImageJ, após calibração com uma

régua micrométrica.

Na Figura 2.1. mostra-se uma microfotografia do substrato MD12, obtida por microscopia

óptica, indicando-se as variáveis medidas e referenciadas na equação 7.

Figura 2.1. Imagem obtida por microscopia óptica de uma indentação Vickers na amostra MD12. As

grandezas a e c são identificadas na equação 7.

2.2. Tratamento superficial das amostras de metal duro

2.2.1. Caracterização das amostras por MEV e DRX após sinterização

Para que se pudesse observar por Microscopia Electrónica de Varrimento (MEV) - (Hitachi

S4100 equipado com um espectrómetro de energia dispersiva de Raios-X, EDS) a microestrutura

das amostras processadas, estas foram limpas em etanol num banho de ultra-sons durante 2

minutos e coladas num suporte de amostras usando uma fita condutora de carbono. Na Figura 2.2

apresenta-se a microestrutura característica dos três tipos de substratos produzidos.

200 µm

2c

a

Page 52: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

2. Materiais e Métodos

29

Figura 2.2. Micrografias MEV das diferentes amostras de metal duro após polimento: A- MD11; B- MD12; C-

MD22.

Como era esperado, verifica-se que a espessura intergranular ( ) é superior no substrato

MD22 (maior % Co e tamanho de WC), caracterizado por um menor número de contactos WC-WC

e maior espaçamento entre grãos de WC. No extremo oposto, a amostra MD11 tem o Co

finamente dividido (fase mais escura) em torno de um número de grãos de WC muito maior.

Efectuou-se igualmente análise de fases das superfícies polidas usando difração de raios

X. O ângulo de incidência variou entre 4º e 80º. Na Figura 2.3 mostram-se os difractogramas

obtidos, comprovando que WC e Co são as únicas fases presentes.

A B

C

Page 53: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

2. Materiais e Métodos

30

0

1000

2000

3000

4000

5000

0 20 40 60 80 100

Inte

nsi

dad

e (

CP

S)

2θ (graus)

WC Co

● ●

A

0

1000

2000

3000

4000

5000

0 20 40 60 80 100

Inte

nsi

dad

e (

CP

S)

2θ (graus)

● WC Co

● ●

● ●

B

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

0 20 40 60 80 100

Inte

nsi

dad

e (

CP

S)

2θ (graus)

● WC ▼ Co

● ●

● ● ●

● ●

C

Figura 2.3. Espetro de difração de raios X das diferentes amostras (A- MD11; B- MD12; C- MD22).

Verifica-se que o teor de cobalto presente na amostra MD11 (3,5 % Co) é dificilmente

detectado por esta técnica, nas condições de análise usadas. Observa-se picos mais intensos

referentes ao grão de WC na amostra MD22, provavelmente devido ao maior tamanho de grão

presente (2,5 µm), confirmado através da micrografia MEV da Figura 2.3.C. A intensidade

difractada fornece detalhes acerca do tamanho das partículas, perfeição e orientação dos cristais

a analisar [70].

2.2.2. Tratamentos químicos e preparação dos substratos para o crescimento de

diamante

Os ataques químicos têm como objectivo preparar a superfície de WC-Co, minimizando o

efeito negativo do cobalto e criando a rugosidade adequada. Assim sendo, os ataques químicos

foram feitos em duas etapas com estes objectivos presentes. A primeira etapa foi realizada

Page 54: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

2. Materiais e Métodos

31

através de uma solução alcalina, designada por reagente de Murakami (10 g K3(Fe(CN)6)+10 g

KOH+100 ml H2O) durante 15 minutos, de modo a atacar selectivamente os grãos de WC,

aumentando a rugosidade superficial e revelando a rede de cobalto. Para remover o cobalto

superficial foi usado uma solução ácida denominada Aqua Regia (HNO3 + 3HCl – em volume)

durante 60 segundos, sendo este processo a segunda etapa. Após cada etapa, as amostras foram

limpas com água destilada e com etanol durante 5 minutos, em banho de ultra-sons. Após os

tratamentos químicos, foi determinada a rugosidade superficial em ambos os substratos de metal

duro mediante o uso de um perfilómetro mecânico. O equipamento utilizado para estas medições

foi Mahr Perthometer M1.

Para promover a nucleação do diamante, as amostras foram imersas numa dispersão de

pó de diamante (granulometria de 0,5-1 µm) em etanol e agitadas por ultra-sons durante 60

minutos. Esta etapa é geralmente denominada por riscagem ou “semeadura”. Um aumento na

densidade de nucleação tende a melhorar a homogeneidade dos filmes e reduzir a formação de

vazios sobre o substrato ou na interface, permitindo uma melhoria na adesão entre o filme e o

substrato [38].

Para se efectuar os ensaios tribológicos, foram usadas esferas comerciais de nitreto de

silício- Si3N4 com revestimentos de diamante CVD, com diâmetro de 5 mm, que serviram de

corpos oponentes às placas de WC-Co igualmente revestidas como par homólogo. As esferas

foram igualmente submetidas ao processo de riscagem com as mesmas condições dos discos de

metal duro. As esferas de Si3N4 foram utilizadas devido à sua disponibilidade e ao facto de

facilitarem uma boa adesão dos filmes de diamante, devido à afinidade dos coeficientes de

expansão térmica e compatibilidade química. Após o processo de riscagem, tanto as amostras de

WC-Co como as esferas de Si3N4 foram limpas em etanol durante 10 minutos com o uso de ultra-

sons.

Após alguns testes preliminares, verificou-se que os revestimentos das esferas não

suportavam a carga dos ensaios tribológicos. Para resolver esse problema foram realizados

passos adicionais com o intuito de aumentar o seu tempo de vida durante estes ensaios. Começou

por se fazer um pré-tratamento com o objectivo de criar uma micro-rugosidade nas bolas de modo

a promover a adesão. As esferas foram colocadas num recipiente contendo partículas de

diamante de 40 µm em etanol, utilizando um misturador em baixa rotação, durante uma hora, com

uma ligeira inclinação. De seguida, procedeu-se à limpeza das esferas através da sua colocação

em etanol com o uso de ultra-som durante 5 minutos, e mais 30 minutos de riscagem em pó de

diamante (granulometria de 0,5-1 µm).

Page 55: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

2. Materiais e Métodos

32

Legenda:

1- Substratos de metal duro

2- Filamentos de tungsténio

3- Porta substratos

1

2

3

2.3. Deposição dos filmes de diamante

Após a preparação dos substratos, procedeu-se à deposição dos filmes de diamante. A

técnica usada foi a deposição química em fase vapor assistida por filamento quente (HFCVD). O

reactor utilizado neste trabalho foi construído pelo grupo de investigação do DECV/CICECO e está

apresentado na Figura 2.4.

Em todas as deposições foram dispostos 8 filamentos de tungsténio (com um diâmetro de

0,25mm) sobre as amostras a depositar. Para cada deposição, foram dispostas 3 amostras em

linha sobre um suporte de grafite (Figura 2.5).

Figura 2.4. Imagem do reactor HFCVD.

Figura 2.5. Vista de topo das amostras no interior do reactor HFCVD.

Pirómetro óptico

Câmara de reacção

Saída de água de refrigeração da

câmara

Janela de observação

Entrada de gases, ligação de vácuo

e da refrigeração de base

Page 56: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

2. Materiais e Métodos

33

Antes do início do processo de deposição realizou-se a etapa de carburização dos

filamentos, que consiste no aquecimento dos filamentos de tungsténio a cerca de 2400ºC numa

mistura de H2 com ~4 % de CH4 a cerca de 100mbar de pressão durante 10 minutos.

Na Tabela 2.4 mostram-se os valores dos diversos parâmetros usados para a

carburização e para a deposição dos diversos revestimentos de diamante. A deposição de filmes

MCD e f-NCD teve como objectivo o estudo do comportamento dos diferentes tipos de

revestimento (micro e nanocristalinos) sobre diversos graus de metal duro (com diferentes

tamanhos de grão WC e % de Co), em termos de adesão e comportamento tribológico.

O fluxo de gases é expresso em sccm (ml/min).

Tabela 2.4. Parâmetros utilizados durante a carburização e a deposição dos filmes MCD e f-NCD.

Carburização Deposição

Gases

(%) Fluxo

(sccm) Tempo (min)

Gases (sccm)

Fluxo (sccm)

Tsub (°C)

Tfil (°C) Pressão (mbar)

Tempo (horas)

Tempo de arrefecimento

(min)

MCD 96%H2 +

4%CH4 200 10

1,5 CH4 + 98,5 H2

100 700 2300 175 3 90

f-NCD 96 H2 + 7

CH4 103 700 2250 50 3 90

Em todas as deposições foram revestidos os três tipos de metal duro em simultâneo.

As espessuras observadas por MEV e taxas de crescimento dos filmes MCD e f-NCD nos

diferentes graus de metal duro são mostradas na Tabela 2.5.

Tabela 2.5. Valor das espessuras e taxa de crescimento dos filmes MCD e f-NCD para os diferentes

substratos de metal duro.

MCD f-NCD

Amostra Espessura (µm) Taxa de crescimento

(µm.h-1

) Espessura (µm)

Taxa de crescimento (µm.h

-1)

MD11 5,3 1,8 4,6 1,5

MD12 4,9 1,6 4,9 1,6

MD22 5,9 2,0 3,8 1,3

Page 57: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

2. Materiais e Métodos

34

2.4. Testes de Resistência Mecânica – Indentação

Para os testes de adesão, dos filmes de diamante ao substrato, adoptou-se um indentador

cónico de diamante, tipo Brale, tendo sido realizados ensaios com uma máquina de ensaios

mecânicos universal (Zwick/Roell Z020), variando as cargas entre 200 N e 1000 N. A carga crítica

necessária para provocar a delaminação lateral do filme foi determinada por microscópio óptico.

2.5. Testes tribológicos

A caracterização tribológica dos revestimentos de diamante CVD sobre os substratos de

metal duro foi realizada através de um tribómetro Plint TE67-R (UK) existente no laboratório de

tribologia do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade do Minho (Figura 2.6).

Figura 2.6. Fotografia do tribómetro.

Os testes decorreram sob uma configuração esfera-sobre-plano de pares homólogos em

deslizamento, num movimento linear alternativo e à temperatura ambiente. A frequência e a

amplitude do movimento oscilatório foram de 1 Hz e de 3 mm, respectivamente. A velocidade

linear média foi de 12 mm.s-1

. As cargas aplicadas variaram entre 10 e 60 N com intuito de se

encontrar a carga crítica de delaminação. Foram realizados testes com distância total de

deslizamento (x) de 86 metros, correspondendo a 2 horas, e 690 metros, equivalendo a 16 horas.

Carga aplicada

Prato móvel – Porta

substratos

Porta - esferas

Page 58: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

2. Materiais e Métodos

35

Assumindo a teoria Hertziana do contacto elástico para uma geometria esfera – plano sob

uma determinada carga, a pressão hertziana é hemisfericamente distribuída no plano com um raio

de contacto (a), definido pela seguinte equação 8 [71]:

Eq.8

onde, E é o módulo de elasticidade que depende dos módulos de Young, E1 e E2, e do coeficiente

de Poisson, 1 e 2, dos materiais constituintes da esfera e das placas. W é a carga aplicada e r o

raio da esfera (2.5 mm). O módulo de elasticidade, E, foi calculado através da seguinte equação 9:

- -

Eq. 9

Supondo que as tensões mais significativas ocorrem a uma profundidade abaixo da

espessura do revestimento de diamante [71], o valor de E (equação 8) é calculado considerando a

contribuição dos substratos e não do filme de diamante. Os valores assumidos de módulo de

Young (E1, E2) e dos coeficientes de Poisson ( 1, 2) dos materiais constituídos pelas esferas e

placas (substratos) estão apresentados na Tabela 2.6.

Tabela 2.6. Valores dos módulos de Young e coeficiente de Poisson das esferas e das placas.

Esfera (Si3N4) Placa (WC-Co)

E (GPa) 304 630

0,28 0,24

Os ensaios longos foram efectuados com um valor de carga cerca de 5 N abaixo da carga

crítica determinada durante os testes curtos. O coeficiente de desgaste foi calculado a partir da

técnica de microscopia de força atómica (AFM), estimando-se o volume de desgaste dos

triboelementos por análise das pistas de desgaste por microscopia electrónica de varrimento

(MEV) em conjugação com os resultados da rugosidade superficial obtidos por AFM. Assim, foi

calculado primeiramente o volume de desgaste (Vd) utilizando as zonas intactas do filme e as

pistas de desgaste através da função bearing [72]. O coeficiente de desgaste (Kd) das placas foi

calculado segundo a equação 10:

Page 59: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

2. Materiais e Métodos

36

Eq.10

onde P é a carga aplicada (N) e x a distância de deslizamento (m).

Page 60: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Page 61: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro
Page 62: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

39

3.1. Propriedades mecânicas e térmicas dos substratos de metal

duro

Na Tabela 3.1 estão representados os valores de dureza e tenacidade à fractura dos

substratos de metal duro calculadas a partir de marcas de indentação Vickers, de acordo com as

equações 6 e 7, respectivamente.

Tabela 3.1. Valores de dureza e tenacidade à fractura dos diferentes substratos.

Amostras Dureza (GPa) ± σ Tenacidade à fractura (MPa.m1/2) ± σ

MD11 19,7 ± 0,2 9,4 ± 0,3

MD12 16,1 ± 0,1 11,3 ± 0,3

MD22 14,3 ± 0,1 11,6 ± 0,2

Foi observado um aumento do valor da dureza com a diminuição do tamanho de grão de

WC. Este aumento do valor de dureza é acompanhado pela diminuição do valor de tenacidade à

fractura. Verifica-se igualmente que, para igual tamanho de grão de WC, a dureza aumenta com a

diminuição do teor de cobalto e consequentemente, o valor da tenacidade à fractura diminui. O

incremento da espessura do filme intergranular (Tabela 2.2) promove o aumento do valor da

tenacidade à fractura.

Foram realizadas análises dilatométricas aos diferentes substratos com o intuito de

estudar a dilatação térmica e prever o comportamento do substrato revestido durante o

arrefecimento a partir da temperatura de deposição. Nomeadamente, é possível prever as tensões

térmicas criadas na interface entre os filmes e os diferentes substratos durante o arrefecimento.

No gráfico da Figura 3.1 mostra-se a variação de dimensões em função da temperatura dos três

tipos de substrato.

Page 63: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

40

Figura 3.1. Gráfico das curvas dilatométricas dos diferentes substratos de metal duro.

Foi determinada a tensão extrínseca das várias amostras, assumindo o arrefecimento até

à Tamb a partir de uma temperatura de 700 °C, a temperatura de deposição dos filmes de

diamante. O valor de tensão extrínseca de origem térmica no filme (σ) foi calculado baseado na

equação 11:

Eq.11

O valor do módulo de Young (E) e do coeficiente de Poisson ( ) do diamante são de 1143

GPa e de 0,07, respectivamente [73]. O valor do coeficiente de expansão térmica do diamante

(αdiam) é de 0,8x10-6

K-1

[74]. A Tabela 3.2 apresenta os valores de coeficiente de expansão

térmica (α) e a tensão extrínseca de origem térmica para uma temperatura de substrato de 700 ºC.

Tabela 3.2. Coeficiente de dilatação térmica e tensão de origem térmica entre o filme de diamante e os

diferentes substratos.

Amostras α (200-700ºC)

Tensão

extrínseca para

700ºC (GPa)

MD11 6,2x10-6

K-1

-2,6

MD12 7,2x10-6

K-1 -3,4

MD22 8,0x10-6

K-1 -4,1

100 200 300 400 500 600

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

de

lta

L/L

0 (

%)

Temperatura (؛C)

MD22

MD12

MD11

dep

amb

T

Tsubstdiam

dTE

)(1

Page 64: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

41

Verificou-se que o valor de α é menor para a amostra com menor teor de cobalto e menor

tamanho de grão de WC. Assim, o substrato MD11 seria o mais indicado por promover um menor

valor de tensão na interface metal duro-diamante. O aumento da percentagem de cobalto resulta

num aumento significativo do coeficiente de expansão térmica do metal duro, uma vez que o Co

possui um coeficiente de expansão térmica superior ao de WC [2]. Em relação à tensão criada

pelo efeito da temperatura (tensão térmica extrínseca), verifica-se que esta aumenta com o valor

de αsub e com a temperatura de crescimento, uma vez que são variáveis directamente

proporcionais.

3.2. Tratamentos químicos do metal duro

Nas micrografias da Figura 3.2 obtidas por MEV, pode observar-se o aspecto morfológico

da superfície dos diferentes substratos de metal duro após o tratamento químico apenas com

reagente Murakami (a,b,c) e o tratamento usado para a deposição de diamante, 15 minutos com

reagente Murakami + 30 segundos Áqua-Régia (d,e,f).

Page 65: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

42

Figura 3.2. Aspecto morfológico das superfícies observados por MEV após ataque com reagente Murakami

a) MD11; b) MD12; c) MD22, e após ataque com Áqua-Régia d) MD11; e) MD12; f) MD22.

Pela observação das micrografias a,b,c é possível observar que os grãos de WC são

atacados revelando a rede de cobalto após o ataque com a solução de Murakami, provocando um

aumento da rugosidade superficial. Após o ataque com a Áqua-Régia durante 30 segundos,

observa-se que o cobalto é removido da superfície, como evidenciam as micrografias MEV da

Figura 3.2 (d,e,f). O ataque com ácido remove o cobalto entre os grãos de WC, o que é mais

evidente na amostra com tamanho de grão maior.

15m Murakami 15m Murakami + 30 s Áqua-Régia

a

)

f

)

e

)

d

c

b

)

Page 66: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

43

0 1 2 7 8 9 10

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000 MD12

Murakami +

Aqua regia

Murakami

Polida

WCoW

W

W

CoC

CP

SkeV

Na Figura 3.3 estão representados os espectros EDS dos substratos de metal duro após

o polimento de 15 µm e após os tratamentos de superfície para ataque ao WC e remoção do

cobalto superficial para os três tipos de substratos.

Figura 3.3. Espectro EDS de superfície após polimento e tratamentos químicos dos substratos de metal duro.

Pela análise dos diversos espectros, observa-se a exposição do esqueleto metálico de

cobalto após o tratamento com Murakami, bem como a sua remoção após ataque ácido com

Aqua-Regia, com concentrações superficiais de Co abaixo do limite detectável por esta técnica.

Na Tabela 3.3 estão representados os valores de rugosidade (Ra) obtidos por perfilometria

mecânica, após tratamento químico.

0 1 2 7 8 9 10

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000 MD11

Murakami +

Aqua regiaCo

Murakami

Polida

WCoW

W

C W

CP

S

keV

0 1 2 7 8 9 10

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000 MD22

Murakami +

Aqua regia

Murakami

Polida

WCoW

W

W

CoC

CP

S

keV

Page 67: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

44

Tabela 3.3. Rugosidades média superficiais (Ra) registadas através de um perfilómetro mecânico.

Tratamento químico

Ra (nm) ± σ

MD11 MD12 MD22

15m Murakami + 30s Áqua-Régia 63 ± 13 58 ± 4,0 115 ± 9,3

Da observação da Tabela 3.3 anterior, verifica-se que a rugosidade superficial é superior

no substrato com o maior tamanho de grão de WC e menor o teor de cobalto (MD22). Observa-se

a existência de uma correlação entre a espessura do filme metálico intergranular (Tabela 2.2) e os

valores de rugosidade superficial registados por perfilometria. A maior espessura intergranular no

substrato MD22 proporciona uma maior rugosidade superficial após o tratamento químico. A

diferença de rugosidades entre os substratos MD11 e MD12 não é significativa, o que está de

acordo com a observação das microestruturas da Figura 3.2.

Os valores de rugosidades superficiais (Ra) dos substratos em estudo estão dentro da

gama de valores de referência para uma boa adesão dos filmes de diamante [25].

3.3. Deposição dos filmes de diamante

3.3.1. Testes preliminares

A imagem MEV da Figura 3.4 mostra a superfície duma zona delaminada (substrato) após

uma deposição MCD sobre o metal duro MD11. A zona delaminada encontra-se representada na

Figura 3.5. Através da análise espectro da Figura 3.4 observou-se que o ataque com Áqua-Régia

durante 30 segundos não foi suficientemente profundo de modo a evitar a difusão do cobalto para

a superfície durante as condições de deposição. Perante o espectro EDS da respectiva imagem

MEV, verificou-se a existência de cobalto com um teor considerável. Assim, optou-se por

aumentar o tempo de duração do processo de remoção de cobalto para 60 segundos, e deste

modo reduzir a difusão do cobalto para a superfície durante o processo CVD.

Page 68: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

45

Figura 3.4. Imagem MEV da superfície de uma zona delaminada referente ao filme MCD sobre o substrato

MD11 e respectivo espectro EDS.

A difusão do cobalto para a superfície durante a deposição, tem uma acção negativa em

termos de adesão, pois o coeficiente de expansão térmica aumenta na superfície e formam-se

fases grafíticas.

Figura 3.5. Micrografia obtida por MEV de um filme MCD sobre o metal duro MD11 com 40 minutos de

arrefecimento e 30 segundos com Áqua-Régia.

Além da acção prejudicial do cobalto, a existência de tensões térmicas excessivas durante

o arrefecimento poderá ser outra causa para a delaminação. O facto de se ter realizado um

arrefecimento em apenas 40 minutos (~18ºC/min) poderá ter contribuído para a delaminação do

filme. Por estas razões optou-se aumentar o tempo de arrefecimento para 90 minutos e aumentar

o tempo de remoção do cobalto para 60 segundos, o que evitou a delaminação espontânea dos

filmes de diamante.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10keV

0

1

2

3

4

5 cps/eV

C W W W Co Co V V

Page 69: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

46

3.3.2. Filmes de diamante micro e nanocristalinos

Os filmes de diamante microcristalino (MCD) apresentam grãos facetados de tamanho

micrométrico (2-3 µm), como se pode observar nas micrografias da Figura 3.6. Observam-se

diferenças na morfologia superficial dos filmes MCD, que resultam dos diferentes graus de metal

duro usados como substrato. A taxa de nucleação e a qualidade dos microcristais de diamante

deverão ser independentes do teor de cobalto usado no substrato [25], no entanto, observam-se

diferenças na morfologia dos filmes de diamante.

Os filmes f-NCD são constituídos por aglomerados de grãos facetados de dimensão

nanométrica, 100 – 200 nm (Figura 3.7), como se pode observar nas micrografias da superfície de

filmes f-NCD sobre os diferentes substratos (Figura 3.7 A, B, C). A micrografia MEV da Figura 3.7

D é uma ampliação do filme de f-NCD sobre o metal duro MD22. Pode constatar-se que os grãos

de NCD têm formas facetadas. Observa-se igualmente diferenças na morfologia superficial dos

filmes f-NCD. O facto de os substratos possuírem diferentes rugosidades superficiais, origina

diferentes condições de nucleação dos cristais de diamante na superfície.

Figura 3.6. Aspecto morfológico das superfícies dos filmes MCD observados por MEV depositados em

simultâneo sobre os substratos: A) MD11; B) MD12; C) MD22.

A) B)

C)

Page 70: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

47

Figura 3.7. Aspecto morfológico das superfícies dos filmes f-NCD observados por MEV depositados em

simultâneo sobre os substratos: A) MD11; B) MD12; C,D) MD22.

Na Figura 3.8 podem visualizar-se as micrografias em secção transversal dos filmes MCD

e f-NCD, acompanhando-se (registadas na Tabela 3.4) as espessuras dos filmes MCD e f-NCD

sobre os diversos substratos. Através das micrografias MEV é possível observar que os filmes são

densos e homogéneos. A menor espessura dos filmes f-NCD deve-se ao facto de estes crescerem

sob uma menor temperatura do filamento e pressão dos gases. Observa-se que o substrato MD22

possui uma espessura superior para os filmes MCD (5.9 µm) e um menor valor para os filmes f-

NCD (3.8 µm). Isto pode advir de duas possiveis conjugações: o efeito de tamanho de grão de WC

e teor de cobalto ( superior) no substrato MD22 que induz o crescimento das cristalites,

diminuindo assim o efeito da re-nucleação do diamante; diminuição da quantidade de hidrogénio

na mistura de gases que provoca uma menor taxa de crescimento.

A B

C D

Page 71: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

48

Figura 3.8. Fotomicrografias MEV mostrando as espessuras dos filmes de diamante MCD e f-NCD sobre os

substratos: A,D) MD11; B,E) MD12; C,F) MD22.

Tabela 3.4. Espessuras dos filmes MCD e f-NCD para os diferentes substratos de metal duro.

Substratos de metal duro

Espessura (µm)

MCD f-NCD

MD11 5,3 4,6

MD12 4,9 4,9

MD22 5,9 3,8

A D

B E

C F

4.9 µm

4.9 µm

3.8 µm

5.9 µm

5.3 µm

4.6 µm

MCD f-NCD

Page 72: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

49

3.3.3. Caracterização morfológica - AFM

Na Figura 3.9 mostram-se as imagens obtidas por AFM referentes à deposição de filmes

de MCD e f-NCD para os diferentes substratos de metal duro. Para a realização desta

caracterização, recorreu-se ao equipamento Digital Instrument, Model Nanoscope IIIa. Verifica-se

que para os mesmos substratos, os filmes de MCD possuem maiores valores de rugosidade

superficial (RMS) devido ao crescimento colunar, originados cristais de diamante de maior

dimensão. Em relação aos filmes f-NCD, existe uma efectiva supressão de crescimento de grão de

diamante devido ao aumento do rácio CH4 /H2, levando à re-nucleação permanente do diamante e

consequentemente, originado um perfil de rugosidades inferior aos filmes MCD.

Relativamente aos revestimentos MCD e f-NCD, observa-se que o substrato com maior

tamanho de grão de WC e maior teor de cobalto (MD22) possui filmes com maiores valores de

rugosidade para ambas as deposições. Uma vez que esta amostra tem um valor superior de

espessura do filme intergranular (Tabela 2.2) e consequentemente, um maior valor de rugosidade

após os ataques químicos (Tabela 3.3), faz com que a rugosidade dos filmes aí depositados, seja

mais acentuado. Isto deve-se ao facto de as cristalites de diamante nuclearem a partir das

fronteiras de grão de WC, devido à maior tensão nessas zonas [74], causando uma rugosidade

superficial maior. Assim, conclui-se que velocidade de crescimento dos grãos de diamante é

função do tamanho de grão de WC do substrato, e proporcional ao valor de espessura do filme

intergranular ( ).

Page 73: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

50

Figura 3.9. Imagem 3D obtida por AFM dos filmes MCD e f-NCD sobre os substratos de metal duro MD11

(A,D), MD12 (B,E) e MD22 (C,F).

3.3.4. Caracterização Morfológica - Espectroscopia de Raman

Na Figura 3.10 apresentam-se os espectros Raman das várias amostras referentes à

deposição MCD. A espectroscopia de Raman permite distinguir várias fases de carbono tais como,

a grafite, o diamante e o carbono amorfo. Através da análise do espectro é possível avaliar

qualitativamente a presença de fases “não-diamante”, a cristalinidade e a tensão interna do filme

MCD f-NCD

A

B

C

D

E

F

RMS: 185 ± 15 nm RMS: 108 ± 3 nm

RMS: 309 ± 14 nm RMS: 159 ± 16 nm

RMS: 352 ± 12 nm RMS: 315 ± 44 nm

Page 74: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

51

0

20

40

60

80

100

750 1000 1250 1500 1750

Inte

nsi

dad

e (

u.a

.)

Deslocamento Raman (cm-1)

0

20

40

60

80

100

750 1000 1250 1500 1750

Inte

nsi

dad

e (

u.a

.)

Deslocamento Raman (cm-1)

0

20

40

60

80

100

750 1000 1250 1500 1750

Inte

nsi

dad

e (

u.a

.)

Deslocamento Raman (cm-1)

[34]. O equipamento utilizado nesta técnica foi um Jobin Yvon (Horiba) HR800, com um laser

monocromático Kimmon IK Series de comprimento de onda de 325 nm, correspondente à radiação

ultravioleta (UV).

Figura 3.10. Espectros Raman referentes à deposição de filmes MCD sobre os graus de metal duro: A)

MD11; B) MD12; C) MD22.

B

C

A

Banda G Banda D

Banda G Banda D

Banda G Banda D

Page 75: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

52

Através da observação dos espectros, verifica-se a existência de um pico acentuado na

zona de 1332 cm-1

, bem como as bandas D e G (mas menos preponderantes), correspondentes a

vibrações radiais em anéis hexagonais de carbono sp2 livre e à vibração de alongamento linear de

todos os pares de átomos ligados por hibridização sp2 (tanto em anel como em cadeia),

respectivamente [ 75 , 76 ]. Na Tabela 3.5 estão registados os valores do desvio Raman

correspondentes ao pico de diamante, para os filmes MCD sobre os 3 substratos. Indicam-se

também nesta tabela os valores calculados das tensões (σfil) nos filmes usando a equação 12.

- Eq. 12

onde é a diferença entre o desvio do pico de diamante do espectro em relação ao diamante

livre de tensão (1332 cm-1

) [18]. Assim sendo, é possível calcular quantitativamente o nível de

tensão compressiva do filme de diamante depositado sobre os substratos de metal duro.

Tabela 3.5. Tensão criada nos filmes MCD sobre os diferentes substratos de metal duro.

Amostras Pico de diamante (cm-1

) σfil (GPa)

MD11 1335,4 -1,93

MD12 1339,5 -4,25

MD22 1339,3 -4,14

Verifica-se que a tensão nos filmes de diamante sobre os substratos é compressiva e

menor, em valor absoluto, no grau MD11. Conclui-se assim que a tensão nos filmes deve ser

gerada no processo de arrefecimento, pois ao menor valor de coeficiente de expansão térmica da

amostra MD11 (6,2x10-6

K-1

), corresponde o menor valor de tensão compressiva. Além disso, este

substrato mostra ter as bandas D e G, referentes ao carbono amorfo, muito menos visíveis dos

restantes espectros, mostrando assim a melhor qualidade do filme depositado. Este facto

demonstra que a amostra MD11 possui menos carbono amorfo em relação às restantes.

Na Figura 3.11 mostram-se os espectros Raman referentes à deposição f-NCD. Além do

pico de diamante, são visíveis as bandas D e G, bem como a banda correspondente à estrutura do

transpoliacetileno, posicionada a 1150 cm-1

[65]. Ferrari e Robertson referem a existência de

segmentos do transpoliacetileno nas fronteiras de grão e na superfície dos filmes de diamante

[77,35]. As bandas G, bem visíveis em todas as amostras, encontram-se posicionadas a 1580 cm-1

Page 76: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

53

e são características do carbono com hibridação sp2. De referir ainda que a banda D é mais

acentuada no filme NCD sobre o grau MD11.

Os picos bem acentuados situados a 1335,4 (MD11), 1337,4 (MD12) e 1335,4 (MD22) são

referentes ao diamante sob tensão (pico isento de tensão ocorre a 1332 cm-1

). Na Tabela 3.6 são

apresentados os valores de tensão compressiva criada nos filmes f-NCD nos diferentes substratos

de metal duro. Os filmes MCD e f-NCD sobre o substrato MD12 mostraram ter um nível de tensão

superior em comparação aos restantes substratos, sendo de -4,25 GPa e -3,06 GPa,

respectivamente.

Page 77: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

54

0

20

40

60

80

100

750 1000 1250 1500 1750

Inte

nsi

dad

e (

u.a

.)

Deslocamento Raman (cm-1)

0

20

40

60

80

100

750 1000 1250 1500 1750

Inte

nsi

dad

e (

u.a

.)

Deslocamento Raman (cm-1)

0

20

40

60

80

100

750 1000 1250 1500 1750

Inte

nsi

dad

e (

u.a

.)

Deslocameno Raman (cm-1)

Figura 3.11. Espectros Raman referentes à deposição f-NCD sobre os substratos: A) MD11; B) MD12; C)

MD22 referentes à deposição f-NCD.

G

D

G

D

G

D

T

Dia

Dia

T

T

Dia

C

B

A

Legenda:

D – Banda D

G – Banda G

Dia – Pico referente ao

Diamante

T - Transpoliacetileno

Page 78: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

55

Tabela 3.6. Tensão criada nos filmes f-NCD sobre os diferentes substratos de metal duro.

Amostras Pico de diamante (cm-1

) Tensão

(GPa)

MD11 1335,4 -1,93

MD12 1337,4 -3,06

MD22 1335,4 -1,93

3.4. Testes de Indentação

Os diversos filmes foram submetidos a ensaios de indentação estática para avaliar,

comparativamente, a adesão dos filmes MCD e f-NCD sobre os 3 graus de metal duro.

Na Figura 3.12 seguinte mostra-se as fotomicrografias das indentações feitas com uma

carga de 300 N (para comparação) referentes às deposições MCD e f-NCD sobre os 3 graus de

metal duro.

Page 79: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

56

Figura 3.12. Micrografias obtidas em microscópio óptico das marcas de indentação com ponta Brale e carga

de 300N, para os filmes MCD e f-NCD sobre os substratos A,D) MD11; B,E) MD12; C,F) MD22.

Verificou-se que o substrato MD12 origina uma menor adesão do filme, mostrando

delaminação para uma carga de 300 N tanto para o MCD como para o f-NCD. Isto deve-se às

tensões compressivas criadas nos filmes durante o arrefecimento e à menor capacidade de

ancoragem na interface entre este tipo de substrato e os filmes de diamante. Os restantes

substratos mostraram adesão para uma carga de 300 N.

Como se pode observar na Figura 3.13, verifica-se uma melhor ancoragem do filme f-NCD

ao substrato MD22, comparativamente aos restantes. Isto deve-se ao maior espaçamento

MCD f-NCD

B

C

D

E

F

A

200 µm

200 µm

200 µm

200 µm

B

C

D

E

F

A

200 µm

200 µm

200 µm

200 µm

200 µm

200 µm

Page 80: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

57

intergranular neste tipo de substrato para a nucleação e crescimento das cristalites de diamante

no interior dos espaços livres entre os grãos de WC. Deste modo, o substrato MD22 facilita o

“encravamento” mecânico na interface revestimento /substrato, melhorando o comportamento

mecânico dos filmes MCD e f-NCD.

Figura 3.13. Imagem MEV mostrando a zona de ancoragem entre os filmes f-NCD e os substratos MD11 (A),

MD12 (B) e MD22 (C).

Através da observação das fotomicrografias por microscópio óptico foi possível determinar

as cargas críticas de delaminação referentes às deposições MCD e f-NCD sobre os diferentes

substratos de metal duro (Tabela 3.7). A carga crítica de delaminação (CCD) corresponde à carga

com a qual o filme delaminou.

Tabela 3.7. Cargas críticas para os filmes MCD e f-NCD sobre os diferentes substratos.

Deposição

Carga crítica de delaminação (N)

MD11 MD12 MD22

MCD 800 200 > 1000 N

f-NCD 900 300 > 1000 N

A B

C

Page 81: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

58

Na Figura 3.14 estão representadas as fotomicrografias correspondentes às CCD para as

diferentes amostras (excepto no substrato MD22), obtidas por testes de indentação e referentes às

deposições MCD e f-NCD.

Figura 3.14. Micrografias obtidas em microscópio óptico das marcas de indentação para avaliação das CCD

das amostras A,D) MD11; B,E) MD12; C,F) MD22.

MCD f-NCD

B

C

D

E

F

A A

B

D

E

200 µm

200 µm

200 µm

200 µm

1000 N 1000 N

200 N 300 N

800 N 900 N

Page 82: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

59

Através da observação das indentações efectuadas, verificou-se que o substrato de metal

duro MD22 teve o melhor comportamento em termos de adesão dos filmes ao substrato. Apesar

de as tensões extrínsecas (térmicas) criadas nos filmes depositados sobre este tipo de substrato

serem maiores (-4,1 GPa), verificou-se que os filmes mostraram adesão até uma carga de 1000 N.

Isto deve-se à maior capacidade de ancoragem entre os filmes de diamante e o substrato MD22,

devido à maior rugosidade superficial que provoca uma espécie de “encravamento” mecânico dos

filmes de diamante ao substrato (Tabela 3.3).

3.5. Comportamento tribológico

3.5.1. Valores de carga máxima suportada

Na Tabela 3.8 seguinte mostram-se os valores de carga máxima suportada sem

delaminação dos filmes de diamante MCD e f-NCD sobre os diversos substratos em ensaios

tribológicos curtos (2 horas).

Tabela 3.8. Valores de carga máxima suportada e espessuras dos filmes.

Revestimento MD11 MD12 MD22

Carga (N) Espessura (µm) Carga (N) Espessura (µm) Carga (N) Espessura (µm)

MCD 20 5,3 20 4,9 50 5,9

f-NCD 10 4,6 20 4,9 30 3,8

Observa-se que, para ambos os revestimentos (MCD e f-NCD), os substratos com maior

teor de cobalto e maior tamanho de grão WC (MD22), resultaram em cargas mais elevadas sem

ocorrer delaminação. Isto deve-se ao efeito de ancoragem mecânica oferecida por este substrato,

aumentando a capacidade de suportar as tensões de corte geradas durante a solicitação

tribológica, sem delaminar, comprovando os resultados da indentação estática.

Os revestimentos MCD sobre os substratos MD11 e MD22 suportaram maiores cargas

sem ocorrência de delaminação, em comparação com os filmes f-NCD sobre os mesmos

substratos. A razão deste comportamento deve-se à maior capacidade de armazenamento de

energia elástica, devido à maior dureza dos revestimentos microcristalinos em relação aos

nanocristalinos. A menor dureza dos filmes nanocristalinos deve-se à maior densidade de defeitos

nas fronteiras de grão (como o carbono sp2), que enfraquecem a coesão da sua estrutura [78]. Por

outro lado, a maior espessura dos filmes MCD em relação aos filmes de NCD (substratos MD11 e

Page 83: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

60

MD22), resulta numa menor transmissão de forças ao substrato e à interface

revestimento/substrato, aumentando assim a adesão [49].

A menor espessura do filme f-NCD sobre MD22 (3,8 µm) foi compensada pelo efeito de

ancoragem mecânica, obtendo uma carga máxima superior (30N), em comparação aos restantes

substratos com filmes de espessuras superiores.

Pode dizer-se que quanto maior for a adesão dos filmes, menor será a espessura

requerida para suportar uma determinada carga.

Na Tabela 3.9 mostram-se os valores de pressão hertziana média (Pmédia) em relação à

geometria esfera – plano para diferentes cargas aplicadas usadas neste trabalho. O contacto entre

a esfera e a placa ocorre numa área circular em que Pmédia é dada pela seguinte equação:

Eq.13

onde W é a carga aplicada (N), E o módulo de elasticidade (Pa) e r o raio da esfera (m).

Tabela 3.9. Pressão hertziana média em função da carga aplicada.

Pressão hertziana média (GPa)

10 N 20 N 30 N 40 N 50 N

1,65 2,08 2,38 2,62 2,82

Verifica-se que o incremento da carga aplicada provoca o aumento da pressão hertziana

média na zona de contacto entre a esfera e a placa.

Na Figura 3.15 estão representadas as pistas de desgaste do filme f-NCD sobre os

diferentes substratos para as respectivas cargas críticas.

Page 84: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

61

Figura 3.15. Imagem MEV mostrando as pistas de desgaste do filme f-NCD das amostras A) MD11; B)

MD12; C) MD22 para as cargas críticas.

Na Figura 3.16 observa-se a delaminação do filme f-NCD sobre o substrato MD22 e da

esfera como par homólogo, para uma carga de 40 N. Apesar de este substrato permitir uma boa

ancoragem mecânica dos revestimentos, a espessura (3,8 µm) não foi suficiente para suportar a

carga de 40 N.

Figura 3.16. Imagem MEV da pista de desgaste do substrato MD22 (A) e da esfera (filme f-NCD) para uma

carga de 40 N (B).

A B

C

10 N 20 N

30 N

A B

Page 85: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

62

3.5.2. Regimes de atrito

No gráfico da Figura 3.17 apresenta-se a evolução típica dos valores de coeficiente de

atrito (µ) com a distância percorrida, obtidos nos ensaios tribológicos esfera-sobre-plano para os

pares homólogos. Apesar de terem sido realizados testes de curta (86 metros) e longa distância

(690 metros), nesta figura estão representados apenas os 5 metros iniciais para melhor

visualização. São identificados três regimes de atrito, correspondentes a I – pico inicial; II –

transiente e III – estacionário. O regime I é o resultado das intensas interacções mecânicas entre

as asperidades superficiais dos corpos de contacto. Com a continuação dos testes e a passagem

repetida da esfera na pista de desgaste, o coeficiente de atrito é significativamente afectado pelo

gradual alisamento dos diferentes tipos de asperidades, sendo este o regime II. O regime II

corresponde a uma transição relativamente curta (0,1 <x <1 m) e resulta na acomodação entre os

corpos de contacto e os resíduos de desgaste [49]. Após estes regimes, o coeficiente de atrito

tende a estabilizar e permanecer praticamente inalterado até ao fim dos testes (regime III).

Figura 3.17. Gráfico representativo da evolução do coeficiente de atrito em função da distância percorrida,

referente ao filme f-NCD sobre o substrato MD22.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0 1 2 3 4 5

µ

Disância percorrida (m)

Ι

Ι Ι

Ι Ι Ι

Page 86: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

63

Na Figura 3.18 encontram-se representados os valores de coeficiente de atrito inicial

(µinicial) para uma carga de 10 N. Verifica-se que os valores de µinicial são ligeiramente mais baixos

para os filmes f-NCD de que para os filmes MCD, em comparação directa entre substratos, devido

à menor rugosidade superficial destes filmes. Isto reflecte a forte interacção por um mecanismo de

abrasão dos filmes MCD, decorrente do movimento relativo entre as superfícies oponentes

rugosas de elevada dureza [79,80]. A interacção mecânica entre as asperidades pontiagudas

correspondentes aos vértices dos cristais dá origem aos valores elevados observados. No entanto,

apesar de os filmes MCD e f-NCD sobre o substrato MD22 possuírem uma rugosidade superficial

maior em relação aos restantes substratos, o valor do µinicial não é significativamente diferente para

uma carga de 10 N, sendo os seus valores muito próximos entre si.

Figura 3.18. Valores de coeficiente de atrito inicial para os diferentes revestimentos para uma carga de 10 N

num teste curto (2 horas).

Após o regime inicial, o valor de µinicial tende a estabilizar até valores relativamente baixos

(0,03 - 0,05). O regime estacionário (III) é alcançado aproximadamente após o primeiro metro de

deslizamento, permanecendo o coeficiente de atrito (µest) praticamente inalterado até à conclusão

dos testes.

Na Tabela 3.10 mostra-se a variação do coeficiente de atrito inicial e do regime

estacionário com a carga aplicada para os filmes MCD e f-NCD sobre o substrato MD22. Indica-se

igualmente a rugosidade superficial (RMS) para os diversos ensaios. Verifica-se que em relação

ao filme MCD, o µinicial aumenta com a carga aplicada até 50N, havendo depois uma ligeira

diminuição para uma carga de 50 N. Em relação ao coeficiente de atrito no regime estacionário,

observa-se que este possui um valor de cerca do dobro para uma carga de 10 N em relação às

restantes cargas. Este facto mostra a eficiência do aumento das cargas na truncagem das

asperidades, provada pela diminuição da rugosidade superficial após o deslizamento.

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

MCD f-NCD

µin

icia

l

MD11

MD12

MD22

0,58

0,46

0,52

0,63

0,6

0,55

Page 87: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

64

Em relação ao filme f-NCD, observa-se a mesma tendência do filme MCD, ou seja, o

aumento do valor de µinicial e diminuição de µest com o incremento da carga. Verifica-se igualmente

que para as mesmas cargas, os valores de µinicial e µest são mais baixos para o filme f-NCD, devido

à menor rugosidade superficial deste filme.

Tabela 3.10. Variação do coeficiente de atrito inicial e estacionário com a carga dos filmes MCD e f-NCD

sobre o substrato MD22. Na tabela são também apresentados as rugosidades dos filmes após os ensaios.

MCD f-NCD

Carga (N) µ inicial µ est Rugosidade (nm) µ inicial µ est Rugosidade (nm)

10 0,55 0,1 201 0,52 0,05 162

20 * * * 0,63 0,03 68

30 0,73 0,04 39 0,63 0,03 36

40 0,76 0,04 36 - - -

50 0,71 0,03 22 - - -

No caso dos filmes f-NCD sobre os substratos MD22, os ensaios longos (16 horas) e para

uma carga de 10 N, verificou-se que o coeficiente de atrito aumenta a partir de uma certa distância

com o decorrer do tempo e distância percorrida, como se pode observar na Figura 3.19. Este

aumento é independente do revestimento utilizado e indicia uma progressiva degradação do filme

(Figura 3.20), com possível surgimento de fracturas [68].

Figura 3.19. Evolução do coeficiente de atrito com a distância do filme f-NCD (MD22) para uma carga de 10

N.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0 50 100 150 200 250 300

µ

Distância percorrida (m)

Page 88: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

65

Figura 3.20. Imagem MEV numa vista geral (A) e central (B) duma pista de desgaste de um teste longo, sob

uma carga de 10 N do revestimento f-NCD (MD22).

3.5.3. Caracterização do desgaste das amostras

As pistas de desgaste do filme f-NCD foram observadas por MEV, tendo sido verificado o

efeito de polimento das pistas em função da carga aplicada e do tempo de deslizamento. Na

Figura 3.21 mostram-se fotomicrografias obtidas por MEV da superfície de filmes f-NCD sobre os

diferentes graus de metal duro, após os testes curtos e longos, para uma carga de 10 N.

A B

Page 89: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

66

Figura 3.21. Micrografias MEV das pistas de desgaste de testes curtos e longos dos filmes f-NCD sobre os

substratos: A,D) MD11; B,E) MD12; C,F) MD22 para uma carga de 10 N.

Verifica-se que a área de desgaste e consequentemente, o volume de desgaste das

pistas, aumenta para todos os substratos com o aumento do tempo de deslizamento, para a

mesma carga aplicada. Observa-se que existe simultaneamente a diminuição da rugosidade

superficial (RMS) com o tempo de ensaio. A observação das pistas de desgaste por AFM torna-se

mais elucidativa da alteração morfológica entre os testes curtos e longos, uma vez que se observa

o efeito do alisamento progressivo sobre as pistas de desgaste (Figura 3.22).

A

B

C

D

E

F

Teste curto – 2 horas Teste longo – 16 horas

RMS: 18 nm

RMS: 7 nm

RMS: 53 nm

RMS: 63 nm

RMS: 57 nm

RMS: 162 nm

Page 90: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

67

Figura 3.22. Imagens 3D obtidas por AFM das pistas de desgaste de testes curtos e longos para uma carga

de 10 N de filmes f-NCD sobre os substratos: A,D) MD11; B,E) MD12; C,F) MD22.

Em ambos os tempos de deslizamento investigados, os filmes f-NCD sobre o substrato

MD22 possuem uma rugosidade superficial superior em comparação aos filmes sobre os restantes

substratos. Isto deve-se à maior rugosidade superficial inicial do substrato MD22 e ao processo de

nucleação e crescimento dos filmes de diamante neste tipo de substrato.

Através dos gráficos da Figura 3.23 e Figura 3.24, verifica-se que o volume de desgaste

(Vd) para ambos os filmes e substratos aumenta com a carga aplicada e tempo de deslizamento.

Teste curto – 2 horas Teste longo – 16 horas

A

B

C

D

E

F

RMS: 162 nm

RMS: 57 nm

RMS: 63 nm RMS: 18 nm

RMS: 7 nm

RMS: 53 nm

Page 91: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

68

Os filmes MCD e f-NCD sobre o substrato MD22 revelaram ter um maior volume de

desgaste em relação aos restantes, para a mesma carga e tempo de deslizamento (Figura 3.23,

Figura 3.24). Isto deve-se à maior rugosidade superficial observada nestes filmes sobre este tipo

de substrato (Figura 3.9), provocando um mecanismo de abrasão superior e consequentemente,

um maior volume de material removido.

Figura 3.23. Evolução do volume de desgaste das amostras para o filme MCD.

Figura 3.24. Evolução do volume de desgaste das amostras para o filme f-NCD.

0

0,0005

0,001

0,0015

0,002

0,0025

10N - 2h 10N - 16h 30N - 2h 30N - 16h 40N - 2h 50N - 2h

Vd (

mm

3)

MD11

MD12

MD22

0

0,0005

0,001

0,0015

0,002

0,0025

10N - 2h 10N - 16h 20N - 2h 30N - 2h

Vd

(m

m3) MD11

MD12

MD22

Page 92: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

69

No caso dos filmes MCD, a normalização dos valores na forma de coeficientes de

desgaste (Figura 3.25), revela que o valor de Kd para o substrato MD22 aumenta com a carga

aplicada. Isto deve-se ao aumento do volume de desgaste provocado pelo aumento do atrito inicial

com o incremento da carga, como se explicou anteriormente. O aumento da pressão de contacto

entre os triboelementos com a carga (Tabela 3.9), neste caso, provoca um maior coeficiente de

desgaste. Nos restantes substratos, como as cargas são muito menores, não foi possível mostrar

este efeito da carga no coeficiente de desgaste.

Em relação ao filme f-NCD este valor diminui ligeiramente com o aumento da carga para

todos os tipos de substratos. Este não é um resultado esperado [81], pois o incremento da carga

não tem o efeito acrescido de remoção de material (desgaste) neste tipo de filme.

Verifica-se que a rugosidade superficial inicial (Tabela 3.10) tem influência no valor de Kd,

registando-se sempre um valor mais alto tanto no filme MCD (Figura 3.25), como no filme f-NCD

(Figura 3.26), sobre o substrato MD22.

Figura 3.25. Valores de Kd para o filme MCD.

Figura 3.26. Valores de Kd para o filme f-NCD.

0,0E+00

1,0E-07

2,0E-07

3,0E-07

4,0E-07

5,0E-07

6,0E-07

10N - 2h 10N - 16h 30N - 2h 30N - 16h 40N - 2h 50N - 2h

Kd

(m

m3

N-1

m-1

)

MD11

MD12

MD22

0,0E+00

1,0E-07

2,0E-07

3,0E-07

4,0E-07

5,0E-07

6,0E-07

10N - 2h 10N - 16h 20N - 2h 30N - 2h

Kd

(m

m3

N-1

m-1

)

MD11

MD12

MD22

Page 93: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

3. Resultados e Discussão

70

Para os ensaios longos (Figura 3.27), e quando comparando com os ensaios curtos para a

mesma carga (10N e 30N), observa-se um menor valor do coeficiente de desgaste. Nos ensaios

curtos nota-se mais o efeito do regime intensivo de desgaste correspondente aos estágios I e II da

evolução do coeficiente de atrito [ 82 ]. Isto deve-se ao aumento da área de contacto entre

elementos tribológicos devido à eliminação da rugosidade superficial, o que faz diminuir a pressão

de contacto entre os triboelementos, e consequentemente, diminui gradualmente a taxa de

desgaste. Como o valor de Kd é directamente proporcional ao volume de desgaste e inversamente

proporcional ao tempo de deslizamento, origina coeficientes de desgaste menores.

Figura 3.27. Valores de Kd em testes longos (16 horas) para os filmes MCD e f-NCD nos diferentes graus de

metal duro.

Os coeficientes de desgaste obtidos no presente estudo foram na ordem de grandeza de

10-7

mm3N

-1m

-1 para os diversos filmes (MCD e f-NCD), graus de metal duro e um tempo de

deslizamento de 2 horas, denotando um regime de desgaste suave. Em ensaios longos (16

horas), observou-se um menor coeficiente de desgaste em ambos os filmes sobre os diferentes

graus de metal duro, na ordem de 10-8

mm3N

-1m

-1, devido à diminuição da pressão de contacto

dos triboelementos e consequentemente, da taxa de desgaste.

0,00E+00

4,00E-08

8,00E-08

1,20E-07

1,60E-07

10 N 30 N 10 N

MCD f-NCD

Kd

(m

m3

N-1

m-1

)

MD11

MD12

MD22

Page 94: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

4. CONCLUSÕES

Page 95: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro
Page 96: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

4. Conclusões

73

Este trabalho teve como objectivo o estudo da adesão de revestimentos de filmes de

diamante em 3 graus de metal duro com propriedades microestruturais e mecânicas diferentes.

Os revestimentos microcristalinos e nanocristalinos sobre diferentes graus de metal duro

foram obtidos através da técnica de deposição CVD por filamento quente, através do controlo de

parâmetros como a % de CH4, temperatura de substrato e pressão dos gases utilizados.

Os filmes MCD mostraram possuir uma rugosidade superficial superior em comparação

aos filmes f-NCD, devido ao maior tamanho de grão (2-3 µm).

O substrato MD22 revelou possuir uma maior rugosidade superficial após os ataques

químicos em comparação aos restantes graus de metal duro, devido à maior espessura do filme

intergranular ( ) e tamanho de grão de WC. Este facto proporcionou uma rugosidade superficial

superior aos filmes crescidos sobre este tipo de metal duro, obtendo-se cristais de diamante

maiores. Esta maior rugosidade superficial proporcionou uma melhor adesão dos filmes MCD e f-

NCD ao substrato nos ensaios de indentação estática. As cargas críticas de delaminação foram

superiores a 1000 N para o substrato MD22. Os substratos MD11 e MD12 (grãos

submicrométricos de WC) não revelaram uma boa adesão com os filmes MCD e f-NCD.

A caracterização tribológica de sistemas de pares homólogos revestidos com

monocamadas MCD ou f-NCD, na ausência de lubrificação, permitiu identificar os mecanismos de

atrito e desgaste predominantes e calcular os valores dos respectivos coeficientes, bem como da

carga crítica de delaminação em deslizamento relativo. Identificaram-se três regimes de atrito em

todos os pares tribológicos testados: I – pico inicial, correspondente ao coeficiente de atrito

máximo (μinicial); II – regime transiente; e III – regime estacionário, no qual se calculou o valor de

coeficiente de atrito estacionário (μest).

Verificou-se que os filmes MCD e f-NCD sobre o substrato MD22 suportaram cargas

superiores de 50 N e 30 N, respectivamente. A maior capacidade de suportar a carga pelo filme

MCD sobre MD22 deve-se à maior espessura de revestimento (5,9 µm) que para além do efeito da

ancoragem mecânica, proporciona uma menor transmissão de forças ao substrato e à interface.

No entanto, neste tipo de filmes (MCD), obtiveram maiores coeficientes de atrito inicial,

verificando-se um aumento deste valor com a carga aplicada. A diferença de valores de µinicial

entre substratos para ambos os filmes (MCD e f-NCD) foi pequena. Após a truncagem/clivagem

das asperidades (regime I), dá-se a acomodação progressiva entre as superfícies oponentes

(regime II), até que o polimento mais intensivo das mesmas proporciona um regime estacionário

(III) com o atrito reduzido (0,03 <µest< 0,1). Verificou-se que o volume de desgaste foi maior nos

filmes MCD e em particular na amostra MD22, por possuir uma rugosidade superficial superior em

relação às restantes, devido ao mecanismo de abrasão por interacção entre asperidades. Com

isto, o volume de material removido após os testes foi superior em comparação com os filmes

sobre os substratos MD11 e MD12.

Os coeficientes de desgaste nas placas obtidos no presente estudo foram na ordem de

grandeza de 10-7

mm3N

-1m

-1 para os filmes MCD e f-NCD sobre os diferentes graus de metal duro

e um tempo de deslizamento de 2 horas, denotando um regime de desgaste suave. Nos ensaios

Page 97: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

4. Conclusões

74

longos (16 horas), verificou-se uma tendência da diminuição dos valores de Kd para uma ordem de

grandeza de 10-8

mm3N

-1m

-1, devido à diminuição da pressão de contacto dos triboelementos.

Como trabalho futuro, determinar-se-ia os coeficientes de atrito inicial e estacionário para

as várias cargas aplicadas referentes aos filmes MCD e f-NCD sobre todos os substratos

estudados.

Page 98: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

BIBLIOGRAFIA

Page 99: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro
Page 100: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

Bibliografia

77

[1] ASM Handbook, Powder Metallurgy - Sintering of Cemented Carbides, p. 76, 1992.

[2] Yao, Z., Jacob, S. J., Sudarshan, T. S., Nano-grained Tungsten Carbide-Cobalt (WC/Co),

Materials Modification, http://www.matmod.com/Publications/armor_1.pdf, acedido em Fevereiro de

2011.

[3] Brookes, K. J. A., Hardmetals and Other Hard Materials, 2ª ed., 1992.

[4] Sousa, M. F. M., Metal duro submicrométrico e ultra-fino resistente ao desgaste erosivo, Tese

de mestrado, Universidade de Aveiro, 2007.

[5] Raghunahan, S., Caron, R., Sandell, P., Tungsten Carbide Technologies, Advanced Materials

and Processes, vol. 4, p. 21-23, 1996.

[ 6 ] Rodrigues, W. C., Schaeffer, V. M., L., Influência da temperatura de sinterização nas

propriedades do compósito WC-6%CO, Contribuição técnica ao 64º Congresso Anual da ABM,

Brasil, 2008.

[7] Allibert, C. H., Sintering features of cemented carbides WC-Co processed from fine powders,

International Journal of Refractory Metals and Hard Materials, vol. 19, p. 53-61, 2001.

[8] Andren, H. O., Microstructures of cemented carbides, Materials and Design, vol. 22, p. 491-

498, 2001.

[9] Petersson, A., Agren, J., Rearrangement and pore size evolution during WC-Co sintering

below the eutectic temperature, Acta Materialia, vol. 53, p. 1673-1683, 2005.

[10] Torres, C. S., Estudo da moagem de alta energia e sinterização de metal duro WC-Ni,

Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2009.

[11] German, R. M., Liquid Phase Sintering, 1ª ed., Plenum Press, New York, 1985.

[12] Torres, C. S., Schaeffer, L., Sinterização do compósito metal duro WC-Co, Revista electrónica

de materiais e processos, vol. 4.3, p. 58-63, 2009.

Page 101: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

Bibliografia

78

[13] Manuel, J. B., Efeito da moagem de alta energia na microestrutura e nas propriedades

magnéticas do compósito WC-10%p. Co, Tese de doutoramento, Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, 2008.

[ 14 ] Tungsten - An Overview, http://www.azom.com/Details.asp?ArticleID=1201, acedido em

Outubro de 2010.

[15] Tungsten Carbide - An Overview, http://www.azom.com/Details.asp?ArticleID=1203. Acedido

em Outubro de 2010.

[ 16 ] Christensen, M., Wahnstron, G., Strength and reinforcement of interfaces in cemented

carbides, International Journal of Refractory Metals and Hard Materials, vol. 24, p. 80-88, 2006.

[17] Kuo, C. T., Lin, C. R., Lien, H. M., Origins of the residual stress in CVD diamond films, Thin

Solid Films, vol. 290-291, p. 254-259, 1996.

[18] Oliveira, F. J. D., Desempenho de filmes de diamante no desgaste de matrizes de corte em

WC-Co, Tese de Mestrado, Universidade de Aveiro, 2008.

[19] Makhele-Lekala, L., Luyckx, S., Nabarro, F. R., Semi-empirical relationship between the

hardness, grain size and mean free path of WC-Co, International Journal of Refractory Metals &

Hard Materials, vol. 19, p. 245-249, 2001.

[20] Engqvist, H., Jacobson, S., Axén, N., A model for the hardness of cemented carbides, Wear,

vol. 252, p. 384-393, 2002.

[21] Gille, G., Szesny, B., Dreyer, K.,van den Berg, H., Schmidt, J., Gestrich, T., Leitner, G.,

Submicron and ultrafine grained hardmetals for microdrills and metal cutting inserts, International

Journal of Refractory Metals and Hard Materials, vol. 20, p. 3-22, 2002.

[ 22 ] Roebuck, B., Extrapolating hardness-structure property maps in WC/Co hardmetals,

International Journal of Refractory Metals & Hard Materials, vol. 24, p. 101-108, 2006.

[23] Petersson, A. , Sintering shrinkage of WC-Co and WC-(Ti,W)C-Co materials with different

carbon contents, International Journal of Refractory Metals and Hard Materials, vol. 22, p. 211-217,

2004.

Page 102: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

Bibliografia

79

[24] Pugsley, V. A., Allen, C., Microstructure / property relationships in the slurry erosion of

tungsten carbide-cobalt, Wear, vol. 225-229, p. 1017-1024, 1999.

[25] Huang, T. H., Kuo, C., Lin, T. S., Tribological behaviour of chemical vapour deposition

diamond films on various cutting tools, Surface and Coatings Technology, vol. 56, p. 105-108,

1993.

[26] Cabral, G., Madaleno, J. C., Titus, E., Ali, N., Grácio, J., Diamond chemical vapour deposition

on seeded cemented tungsten carbide substrates, Thin Solid Films, vol. 515, p. 158-163, 2006.

[27] Barquete, D. M., Estudo de interfaces na deposição química de diamante a partir da fase

vapor, sobre carboneto de tungsténio sinterizado por cobalto, Tese de mestrado, Universidade

Estadual de Santa Cruz, 1997.

[28] Xu, Z., Lev, L., Lukitsch, M., Kumar, A., Effects of surface pretreatments on the deposition of

adherent diamond coatings on cemented tungsten carbide substrates, Diamond and Related

Materials, vol. 16, p. 461–466, 2007.

[29] Deuerler, F., Buck, V., Peterseim, J., Gruner, H., Effect of hidden parameters for the plasma

CVD synthesis of diamond films, Effect Surface and Coatings Technology, vol. 116-119, p. 428-

439, 1999.

[30] Ullram, S., Haubner, R., Temperature pre-treatments of hardmetal substrates to reduce the

cobalt content and improve diamond deposition, Diamond and Related Materials, vol.15, p. 994-

999, 2006.

[31] Wei, Q., Yu, Z.M., Ashfold, M. N.R., Ye, J., Ma, L., Synthesis of micro- or nano-crystalline

diamond films on WC-Co substrates with various pretreatments by hot filament chemical vapor

deposition, Applied Surface Science, vol. 256, p. 4357–4364, 2010.

[ 32 ] Cline, B. L., Olson, J.M., CVD diamond solutions for machining and other mechanical

applications, Diamond Films Handbook, New York: Marcell Dekker, 2001.

[33] Ma, Y.P., Sun, F.H., Xue, H.G., Zhang, Z.M., Chen, M., Deposition and characterization of

nanocrystalline diamond films on Co-cemented tungsten carbide inserts, Diamond and Related

Materials, vol. 16, p. 481–485, 2007

Page 103: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

Bibliografia

80

[34] Azevedo, A. F., Estudos de aderência e tensões intrínsecas e extrínsecas entre filmes finos

de diamante-cvd de alta pureza e de alta taxa de nucleação e Ti6Al4V, Tese de doutoramento,

Faculdade de Engenharia Química de Lorena, 2004.

[35] Faunsung, S., Ma, Y., Shen, B., Zhang, Z., Chen, M., Fabrication and application of nano–

microcrystalline composite diamond films on the interior hole surfaces of Co cemented tungsten

carbide substrates, Diamond and Related Materials vol.18, p. 276-282, 2009.

[36] Polini, R., Delogu, M., Marcheselli, G., Adherent diamond coatings on cemented tungsten

carbide substrates with new Fe/Ni/Co binder phase, Thin Solid Films, vol. 494, p.133–140, 2006.

[37] Ali, N., Cabral, G., Lopes, A.B., Grácio, J., Time-modulated CVD on 0.8 mm-WC–10%-Co

hardmetals: study on diamond nucleation and coating adhesion, Diamond and Related Materials

vol. 13, p. 495–502, 2004.

[ 38 ] Campos, R. A., Estudos da deposição de filmes de diamante CVD sobre carbeto de

tungsténio, com interface controlada de boreto, Tese de mestrado, Instituto Nacional de Pesquisas

Espaciais, São José dos Campos, 2009.

[39] http://www.rsc.org/, acedido em 2011.

[40] Siqueira, V. R. Estudo da formação do hidrogénio atómico no filamento do reactor HFCVD,

Tese de Mestrado, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, São José dos Campos, 2006.

[41] Hao, T., Zhang, H., Shi, C., Han, G., Nano-crystalline diamond films synthesized at low

temperature and low pressure by hot filament chemical vapor deposition, Surface and Coatings

Technology, vol. 201, p. 801- 806, 2006.

[42] Edwards, E. R., Estudo da formação de interface de boreto para a deposição de diamante

CVD sobre carboneto de tungsténio, Tese de Doutoramento, INPE, São José dos Campos, 2008.

[43] Lucchese, M. M., Nucleação e crescimento de filmes de diamante em substratos de zircónia

parcialmente estabilizada, Tese de doutoramento, Universidade federal do Rio Grande do Sul,

2006.

[44] Kulisch, W., Popov, C., On the growth mechanisms of nanocrystalline diamond films, Physica

Status Solidi, vol. 203, p. 203-219, 2006.

Page 104: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

Bibliografia

81

[45] Zhang, Y. F., Zhang, F., Gao, Q. J., Peng, X. F., Lin, Z. D., The roles of argon addition in the

hot filament chemical vapor deposition system, Diamond and Related Materials, vol. 10, p. 1523-

1525, 2001.

[46] Belmonte, M., Fernandes, A. J. S., Costa, F. M., Oliveira, F. J., Silva, R. F., Adhesion

behaviour assessment on diamond coated silicon nitride by acoustic emission, Diamond and

Related Materials, vol. 12, p. 733-737, 2003.

[47] Tallaire, A., Deposição de diamante CVD sobre nitreto de silício por filamento quente, Tese de

mestrado, Universidade de Aveiro, 2002.

[48] Haubner, R., Kalss, W., Diamond deposition on hardmetal substrates – Comparison of

substrate pre-treatments and industrial applications, Int. Journal of Refractory Metals and Hard

Materials, vol. 28, p. 475–483, 2010.

[49] Uddin, M. S., Seah, K. H. W., Li, X. P., Rahman, M., Liu, K., Effect of crystallographic

orientation on wear of Diamond tools for nano-scale ductile cutting of silicon, Wear, vol. 257, p.

751-759, 2004.

[50] Carreira, D. J., Revestimentos em bicamada diamante/DLC para aplicações tribológicas, Tese

de mestrado, Universidade de Aveiro, 2010.

[51] Sun, F. H., Zhang, Z.M., Chen, M., Shen, H. S., Improvement of adhesive strength and

surface roughness of diamond films on Co-cemented tungsten carbide tools, Diamond and Related

Materials, vol. 12, p. 711, 2003.

[52] May, P. W., Ludlow, W. J., Hannaway, M., Heard, P. J., Smith, J. A., Rosser, K. N., Raman

and conductivity studies of boron-doped microcrystalline diamond, facetted nanocrystalline

diamond and cauliflower diamond films, Diamond and Related Materials, vol. 17, p. 105–117, 2008.

[53] Erdemir, A., Frenske, G. R., Krauss, A. R., Gruen, D. M., McCauley, T., Csencsits, R. T.,

Tribological properties of nanocrystalline diamond films, Surface and Coatings Technology, vol.

120-121, p. 565-572, 1999.

[54] Neto, M. A., Fernandes, A. J. S., Silva, R. F., Costa, F. M., Nucleation of nanocrystalline

diamond on masked/unmasked Si3N4 ceramics with different mechanical pretreatments, Diamond

and Related Materials, vol.17, p. 440-445, 2008.

Page 105: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

Bibliografia

82

[55] Manaud, J. P., Poulon, A., Gomez, S., Le Petitcorps, Y., A comparative study of CrN, ZrN,

NbN and TaN layers as cobalt diffusion barriers for CVD diamond deposition on WC–Co tools,

Surface and Coatings Technology, vol. 202, p. 222–231, 2007.

[56] Alves, A.R., Amorim, A., Eichenberger Neto, J., Trava-Airoldi, V. J., Corat, E.J., Moro, J. R.,

Filmes de diamante CVD em grandes áreas obtidos por crescimentos sucessivos em etapas,

Revista Matéria, vol.13, p. 569-578, 2008.

[57] Nakamura, Y., Sakagami, S., Amamoto, Y., Watanabe Y., Measurement of internal stresses in

CVD diamond films, Thin Solid Films, vol. 308-309, p. 249-253, 1997.

[58] Michler, J., Mermoux, M., Kaenel, Y., Haouni, A., Lucazeau, G., Blank, E., Residual stress in

diamond films: origins and modelling, Thin Solid Films, vol. 357, p.189 - 201, 1999.

[59] Polini, R., Delogu, M., Marcheselli, G., Diamond chemical vapour deposition on seeded

cemented tungsten carbide substrates, Thin Solid Films, vol. 494, p. 133-140, 2006.

[60] Huang, T. H., Kuo, C. T., Chang, C. S., Kao, C. T., Wen, H. Y., Tribological behaviours of the

diamond-coated cemented WC tools with various cobalt contents, Diamond and Related Materials,

vol. 1, p. 594-599, 1992.

[61] Polini, R., Bravi, F., Casadei, F., Effect of substrate grain size and surface treatments on the

cutting properties of diamond coated Co-cemented tungsten carbide tools, Diamond and Related

Materials, vol. 11, p. 726-730, 2002.

[62] Polini, R., Bravia, F., Mattei, G., Marcheselli, G., Traversa, E., Effect of WC grain growth

inhibitors on the adhesion of chemical vapor deposition diamond films on WC–Co cemented

carbide, Diamond and Related Materials, vol. 11, 242–248, 2002.

[63] H. Itoh, T. Nakamura, H. Iwahara, H. Sakamoto, Microstructural control of bondary region

between CVD diamond film and cemented carbide substrate, vol. 29, 1404-1410, 1994.

[64] Schmitz, C., Comportamento tribológico de filmes duros depositados por PAPVD em substrato

de metal duro, Tese de mestrado, Universidade Católica do Paraná, 2006.

[65] Abreu, C.S., Oliveira, F.J., Belmonte, M., Fernandes, A.J.S., Silva, R.F., Gomes, J.R., Grain

size effect on self-mated CVD diamond dry tribosystems, Wear, vol. 259, p. 771-778, 2006.

Page 106: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

Bibliografia

83

[66] De Barros, M.I., Vandenbulcke, L., Fontaine, J., Farges, G., Vayer, M., Erre, R., Tribological

performance of diamond-coated Ti–6Al–4V alloy with respect to diamond characteristics, Surface

and Coatings Technology,, vol. 127, p. 193-202, 2000.

[67] Abreu, C.S., Amaral, M.S., Oliveira, F.J., Tallaire, A., F. Bénédic, Syll O., Cicala, G.,

Gomes, J.R., Silva, R.F., Tribological testing of self-mated nanocrystalline diamond

coatings on Si3N4 ceramics, Surface and Coatings Technology, vol. 200, p. 6235-6239, 2006.

[68] Abreu C.S., Amaral M.S., Fernandes A.J.S., Oliveira F.J., Silva R.F., Gomes J.R., Friction and

wear performance of HFCVD nanocrystalline diamond coated silicon nitride ceramics, Diamond

and Related Materials, vol. 15, p. 739-744, 2006.

[69] Dias, A.M.S., Miranda, J.S., Godoy, G.C., Avaliação da tenacidade à fractura através do

ensaio de indentação em pastilhas de metal duro, Revista Matéria, vol. 14, p. 869 – 877, 2009.

[70] www.angelfire.com, Acedido em Outubro de 2011.

[71] Abreu, C. S., Tribological Properties of CVD Diamond Coated Ceramic Surfaces, Tese de

Doutoramento, Universidade do Minho, 2008.

[72] Amaral, M., Abreu, C. S., Oliveira, F. J., Gomes, J. R., Silva, R. F., Biotribological performance

of NCD coated Si3N4 – bioglass composites, Diamond and Related Materials, vol. 16, p. 790-795,

2007.

[ 73 ] Claude A. Klein, Gregory F. Cardinale, Young´s modulus and Poisson´s ratio of CVD

Diamond, Diamond and Related Materials, vol. 2, p. 918-923, 1993.

[74] Silva, V. A., Fernandes, A. J., Costa, F. M., Silva, R. F., Deposição directa de diamante CVD

em compósitos cerâmicos Si3N4/SiC, Revista brasileira de aplicações de vácuo, vol. 19, 2000.

[75] Lobo, A. O., Martin, A. A., Antunes, E. F., Trava- Airoldi, V. J., Corat, E. J., Caracterização de

materiais carbonosos por Espectroscopia de Raman, Revista brasileira de aplicações de vácuo,

vol. 24, p. 98-103, 2005.

[76] Lobo, A. O., Martin, A. A., Antunes, E. F., Trava- Airoldi, V. J., Corat, E. J., Caracterização de

materiais carbonosos por Espectroscopia de Raman, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais,

São José dos Campos, 2004.

Page 107: Filipe de Sousa Pires Diamante nanocristalino CVD sobre ...core.ac.uk/download/pdf/15568388.pdf · Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Engenharia de Cerâmica e Vidro

Bibliografia

84

[77] A. C. Ferrari, J. Robertson, Resonant Raman spectroscopy of disordered, amorphous, and

Diamond like carbon, Physycal review B, Vol. 64, p. 75414, 2001.

[78] Wiora M., Brühne K., Flöter A., Gluche P., Willey T.M., Kucheyev S.O., Van Buuren A.W.,

Hamza A.V., Biener J., Fecht H. J., Grain size dependent mechanical properties of nanocrystalline

diamond films grown by hot-filament CVD, Diamond and Related Materials, vol. 18, p. 927-930,

2009.

[79] Abreu, C. S., Oliveira, F. J., Belmonte, M., Fernandes, A. J. S., Silva, R. F., Gomes, J. R.,

Grain size effect on self-mated CVD diamond dry tribosystems, Wear, vol. 259, p. 771-778, 2005.

[80] Abreu, C. S., Oliveira, F. J., Belmonte, M., Fernandes, A. J. S., Gomes, J. R., Silva, R. F.,

CVD diamond coated silicon nitride self-mated systems: tribological behaviour under high loads

Tribology Letters, vol.21, p. 141-151, 2006.

[81] Abreu, C. S., Amaral, M., Oliveira, F. J., HFCVD nanocrystalline diamond coatings for tribo-

applications in the presence of water, Diamond and Related Materials, vol. 18, p. 271-275, 2009.

[82] Abreu, C. S., Amaral, M., Oliveira, F. J., Gomes, J. R., Silva, R. F., Enhanced performance of

HFCVD nanocrystalline diamond self-mated tribosystems by plasma pretreatments on silicon

nitride substrates, Diamond and Related Materials, vol. 15, p. 2024-2028, 2006.