Evolução do computador

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Universidade Federal da Paraíba Curso: Ciência da computação Cadeira: Introdução ao computador

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Universidade Federal da Paraíba

Curso: Ciência da computação

Cadeira: Introdução ao computador

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1. Desenvolvimento da Revolução dos Computadores 1.1 - Do Ábaco ao Logarítmo de Napier 1.2 - As Rodas Dentadas de Pascal 1.3 - Leibniz: A Primeira Calculadora com Quatro Operações 1.4 - Boole: Investigação das Leis do Pensamento 1.5 - Tear de Jacquard: O Legado dos Tecelões de Seda 1.6 - Babbage e Ada: Um Grande Plano e Esperanças Despedaçadas 1.7 - Hollerith: Trampolim para o Sucesso 1.8 - Shanon: A Teoria Ligada ao Mundo Real 1.9 - Um Improvisador Vai Trabalhar 1.10 - Zuse: A Construção do Z1 2. Progresso em Tempo de Guerra 2.1 - Computadores para Fins Balísticos 2.2 - ENIAC: A Gênese de um Computador Universal 2.3 - EDVAC: A Versatilidade dos Programas Armazenados 2.4 - Um Gênio do Cálculo Rápido 2.5 - Desencadeamento da Competição 3. Evolução dos Microcomputadores 1. 1981: Introdução do Microcomputador 2. 1982/83: Os Primeiros Ano 3. 1984/86: Vislumbrando o Futuro 4. 1987/89: Computação Corporativa 5. 1990/94: A Era Do Windows 6. 1995/97: A Era On-Line

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Do Ábaco ao Logarítmo de Napier . Os seres humanos sempre tiveram necessidade de contar. Nos obscuros milênios da pré-história, as pessoas usavam os dedos ou faziam incisões em ossos. Há cerca de 4.000 anos, civilizações primitivas desenvolveram elaborados sistemas de numeração para registrar desde transações comerciais até ciclos astronômicos. Os instrumentos manuais de cálculo apareceriam milênios mais tarde.Um dos pontos de partida foi o desenvolvimento - há mais de 1.500 anos, provavelmente no mundo mediterrâneo - do ábaco, um instrumento composto de varetas ou barras e pequenas bolas, utilizado pelos mercadores para contar e calcular. Em termos aritméticos, as barras atuam como colunas que posicionam casas decimais: cada bola na barra das unidades vale um, na barra das dezenas vale 10, e assim por diante. O ábaco era tão eficiente que logo se propagou por toda parte, e em alguns países é usado até hoje. Antes do século XVII, época de intensa ebulição intelectual, nenhum outro instrumento de cálculo podia competir com ele.

O ábaco chinês consiste de uma moldura de madeira dividida em uma parte superior e outra inferior. As varetas correspondem a colunas e as contas a números. Cada

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vareta tem 2 contas no "céu", acima do divisor, e 5 na "terra", abaixo dele. Cada conta abaixo da barra vale 1 e acima, 5. Para começar, as de cima ficam no alto da moldura e as inferiores embaixo. Na configuração (a) está o número 73. Para adicionar 28, as contas são movidas como se mostra na sequência.

Por essa época, os pensadores europeus estavam fascinados pelo desafio de descobrir meios que ajudassem a calcular. Dentre eles, um dos mais criativos foi o escocês John Napier, teólogo, matemático e pretenso desenhista de armas militares, que certa vez tentou criar uma espécie de raio mortal - um sistema de espelhos e lentes dispostos de modo a produzir um feixe letal de luz solar concentrada. Mais definitiva que essa invenção, no entanto, foi sua descoberta dos logarítmos, publicada em 1614. Logarítmo é o expoente de um número (base), indicando a potência a que se deve elevá-lo para se obter, como resultado, outro dado número. Napier compreendeu que qualquer número pode ser expresso nesses termos. Por exemplo, 100 é 102 e 23 é 101,36173. Descobriu, além disso, que o logarítmo de a vezes b é igual ao logarítmo de a mais o logarítmo de b - o que transforma complexos problemas de multiplicação em problemas mais simples, de adição. Alguém que esteja multiplicando dois números grandes precisa apenas procurar seus logarítmos numa tabela, somá-los e achar o número que corresponde a essa soma, numa tabela inversa, de antilogarítmos.As tabelas de Napier - que exigiram um fatigante trabalho de cálculo para serem elaboradas - foram combinadas mais tarde em um dispositivo manual para cálculos rápidos: a régua de cálculo, desenvolvida no fim da década de 1620, por William Oughtred, entre outros.

Régua de Cálculo

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O próprio Napier inventou, em 1617, ano de sua morte, um método diferente (não-logarítmo) de fazer multiplicações. Conhecido como "Ossos de Napier" consistia num conjunto de barras segmentadas dispostas de modo que a resposta de um problema de multiplicação era obtida somando-se números em seções horizontais adjacentes.

1617 - Os ossos de Napier resolviam problemas de multiplicação graças à adição de números para acelerar as operações matemáticas.

As Rodas Dentadas de Pascal . Embora a teoria dos logarítmos de Napier passasse a ter aplicação permanente, os ossos logo foram eclipsados pela régua de cálculo e outros tipos de calculadoras - especialmente por um pioneiro aparelho mecânico criado por Blaise Pascal, brilhante sábio francês. Filho de um coletor regional de impostos, Pascal tinha somente 19 anos quando começou a construir sua calculadora, em 1642, inspirado nos enfadonhos cálculos do trabalho de seu pai. Ao morrer, com 39 anos, havia passado para a História como grande matemático, físico, escritor e filósofo. A máquina de Pascal, a Pascaline, era uma caixa com rodas e engrenagens da qual ele construiu mais de cinqüenta versões ao longo de uma década. O operador introduzia os algarismos a serem somados "discando-os" numa série de rodas dentadas, com algarismos de zero a nove impressos, de modo que os números a serem somados ficassem expostos num mostrador. Cada roda representava uma determinada coluna decimal - unidades, dezenas, centenas, e assim por diante. Uma roda, ao completar um giro, avançava em um dígito a roda à sua esquerda, de ordem decimal mais alta. A máquina também executava outras

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operações por meio de um incômodo sistema de adições repetitivas.

1642 - A máquina de somar de Blaise Pascal adiciona ou subtrai quando as rodas dentadas se engrenam, ao serem giradas. Um giro leva um total superior a 9 para a coluna à esquerda. O resultado aparece no mostrador: os números da extrema direita para a adição e os da direita para a subtração.

Leibniz - A Primeira Calculadora com Quatro Operações

O mais sério inconveniente da Pascaline era seu método convolutivo "em aspiral", de executar quaisquer outros tipos de cálculo além da simples adição. A primeira máquina que efetuava facilmente subtração, multiplicação e divisão foi inventada, mais tarde, no mesmo século, por um gênio cuja imaginação parecia inesgotável. Gottfried Wilheim Leibniz nasceu em 1646, em Leipzig, na Alemanha, numa família de eruditos e funcionários do governo. Seu pai, professor de filosofia da moral, morreu quando o menino tinha apenas 6 anos, mas Leibniz já estava bem orientado no caminho do conhecimento. Passava os dias na biblioteca do pai, estudando história, latim, grego e outros assuntos. Quando entrou na Universidade de Leipzig, com 15 anos, já possuía uma erudição que rivalizava com a de muitos de seus professores. No entanto, novos mundos abriram-se para ele na universidade. Defrontou-se pela primeira vez com os trabalhos de Johannes Kepler, Galileu e outros sábios que estavam, então, ampliando rapidamente as fronteiras do conhecimento científico.

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Fascinado pela velocidade do progresso da ciência, Leibniz acrescenta a matemática a seu currículo.

1673 - Na calculadora de Leibiniz uma manivela girava uma roda para acelerar as operações demultiplicação e divisão.

Em 1672, durante uma temporada em Paris, Leibniz começou a estudar com o matemático e astrônomo holandês Christian Huygens. A experiência estimulou-o a procurar descobrir um método mecânico de aliviar as intermináveis tarefas de cálculo dos astrônomos. "Pois é indigno destes doutos homens", escreveu Leibniz, "perder horas, como escravos, em trabalhos de cálculo que poderiam, com segurança, ficar a cargo de qualquer pessoa, caso se usassem máquinas".No ano seguinte, ficou pronta sua calculadora mecânica, que se distinguia por possuir três elementos significativos. A porção aditiva era, essencialmente, idêntica à da Pascaline, mas Leibniz incluiu um componente móvel (precursor do carro móvel das calculadoras de mesa posteriores) e uma manivela manual, que ficava ao lado e acionava uma roda dentada - ou, nas versões posteriores, cilindros - dentro da máquina. Esse mecanismo funcionava, com o componente móvel, para acelerar as adições repetitivas envolvidas nas operações de multiplicação e divisão. A própria repetição tornava-se automatizada.

Leibniz: Um dos Precursores do Código Binário . Qualquer computador digital, independente do tamanho ou da finalidade a que se destina, significa, em sua essência, um sistema de tráfego de informações expresso em zeros e uns.Um código de dois símbolos não é a única alternativa ao sistema decimal. A aritmética babilônica baseava-se no número 60, e nos

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costumes e linguagem dos povos que falam inglês estão submersos os remanescentes de um sistema de base 12, que em certa época imperou nas ilhas britânicas: 12 meses num ano, 12 polegadas num pé, dois períodos de 12 horas num dia, medidas em grupos de dúzias etc. Inspirado no número de dedos no par das mãos humanas, o sistema decimal terminou por ofuscar todos os outros meios de numeração, pelo menos no Ocidente. Certos pensadores ocidentais pós-renascentistas, no entanto, fascinaram-se pela simplicidade dos dois estados da numeração binária. Lentamente, o conceito infiitrou-se em disciplinas científicas isoladas, da lógica e da filosofia à matemática e à engenharia, ajudando a anunciar a aurora da era do computador.Leibniz foi um dos primeiros defensores do sistema binário, que chegou a ele de uma maneira indireta. Em 1666, enquanto completava seus estudos universitários, e bem antes de inventar sua calculadora de rodas dentadas, Leibniz, então com 20 anos, esboçou um trabalho que, modestamente, descrevia como um ensaio de estudante.

Denominado De Arte Combinatoria (Sobre a Arte das Combinações), esse pequeno trabalho delineava um método geral para reduzir todo pensamento - de qualquer tipo e sobre qualquer assunto - a enunciados de perfeita exatidão. A lógica (ou, como ele a chamava, as leis do pensar) seria então transposta do domínio verbal, que é repleto de ambigüidades, ao domínio da matemática, que pode def inir com precisão as relações entre objetos ou enunciados. Além de propor que todo pensamento racional se tornasse matemático, Leibníz invocava "uma espécie de linguagem ou escrita universal, mas infinitamente diversa de todas as outras concebidas até agora, isso porque os símbolos e até mesmo as palavras nela envolvidas dirigir-se-iam à razão, e os erros, exceto os factuais, seriam meros erros de cálculo. Seria muito difícil formar ou inventar essa linguagem, mas também seria muito fácil compreendê-ia sem quaisquer dicionários".

Refinamento do Sistema Binário

Seus contemporâneos, talvez perplexos, talvez sentindo-se insultados por suas idéias, ignoraram esse ensaio, e o próprio Leibniz, ao que parece, nunca voltou a retomar a idéia da nova linguagem. Uma década mais tarde, porém, ele começou a

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explorar de uma nova maneira as potencialidades da matemática, concentrando-se em aprimorar o sistema binário. Enquanto trabalhava, transcrevendo laboriosamente fileiras após fileiras de números decimais transformados em binários, era estimulado por um manuscrito secular que lhe chamara a atenção. Tratava-se de um comentário sobre o venerável livro chinês I Ching, ou Livro das Mutações", que procura representar o universo e todas as suas complexidades por meio de uma série de dualidades - ebu proposições -, contrastando luz e trevas, macho e fêmea.Encorajado por essa aparente validação de suas próprias noções matemáticas, Leibniz continuou aperfeiçoando e formalizando as intermináveis combinações de uns e zeros, que constituíram o moderno sistema binário.

No entanto, não obstante toda a sua genialidade, Leibniz não conseguiu descobrir nenhuma utilidade imediata para o produto de seus esforços. Sua calculadora de rodas dentadas fora projetada para trabalhar com números decimais, e Leibniz nunca a converteu para números binários, talvez intimidado pelas longas cadeias de dígitos criadas por esse sistema. Como apenas os dígitos zero e um são utilizados, o número 8, por exemplo, torna-se 1000 quando convertido em binário, e o equivalente binário do número decimal 1000 é a incômoda cadeia 1111101000. Mais tarde o gênio alemão efetivamente dedicou certo tempo pensando em como utilizaria números binários num dispositivo de cálculo, mas nunca tentou efetivamente construir tal máquina. Em vez disso, preocupou-se em investir o sistema binário de significados místicos, vendo nele a imagem da criação. Para Leibniz, o número um representava Deus; zero corresponderia ao vazio - o universo antes que existisse qualquer outra coisa a não ser Deus. Tudo proveio do um e do zero, assim como o um e o zero podem expressar todas as idéias matemáticas.

Boole: Investigação das Leis do Pensamento Em 1841, mais de um século após a morte de Leibniz, um matemático inglês autodidata chamado George Boole retomou vigorosamente a procura de uma lingugem universal.

É notável que um homem de origem humilde como Boole fosse capaz de assumir tal busca. Filho de comerciantes pobres,

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dificilmente poderia obter uma educação sólida, e muito menos dedicar-se a uma carreira intelectual. Mas sua determinação era ilimitada.

Criança precoce, aos 12 anos Boole já dominava o latim e o grego. Mais tarde, incorporou o francês, o alemão e o italiano à sua bateria de línguas. Depois foi a vez da matemática: devorando todas as publicações especializadas que lhe chegavam às mãos, dominou as mais complicadas idéias de seu tempo. Durante a década seguinte, Boole começou a construir sua própria reputação, produzindo um fluxo constante de artigos para periódicos locais. Seu trabalho causou tão boa impressão que, em 1849, foi convidado a fazer parte de uma faculdade de matemática da Irlanda. Com mais tempo para pensar e escrever, Boole voltava-se para o assunto sobre o qual Leibniz especulara muito tempo antes: colocar a lógica sob o domínio da matemática. Boole já tinha escrito um importante artigo sobre esse conceito,A Análise Matemática da Lógica, em 1847. Em 1854 ele aprimoraria suas idéias num trabalho intitulado Uma Investigação das Leis do Pensamento. Seus ensaios pioneiros revolucionaram a ciência da lógica. O que Boole concebeu era uma forma de álgebra, um sistema de símbolos e regras aplicável a qualquer coisa, desde números e letras a objetos ou enunciados. Com esse sistema, Boole pôde codificar proposições - isto é, enunciados que se pode provar serem verdadeiros ou falsos - em linguagem simbólica, e então manipulá-las quase da mesma maneira como se faz com os números ordinais. As três operações mais fundamentais da álgebra chamam-se AND, OR e NOT. Embora o sistema de Boole inclua muitas outras operações, essas três são as únicas necessárias para somar, subtrair, multiplicar e dividir, ou, ainda, executar ações tais como comparar símbolos ou números. Para tanto, Boole introduziu o conceito de portas lógicas que só processam dois tipos de entidades - verdade ou falsidade, sim ou não, aberto ou fechado, um ou zero. Boole esperava que, despojando os argumentos lógicos de toda verbosidade, seu sistema tornaria muito mais fácil - na verdade, tornaria praticamente infalível - a obtenção de soluções corretas. A maioria dos matemáticos contemporâneos de Boole ignorou ou criticou seu sistema, mas este tinha uma força à qual não se podia

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resistir por muito tempo. Um matemático norte-americano chamado Charles Sanders Peirce introduziu a álgebra booleana nos Estados Unidos em 1867, descrevendo-a concisamente num artigo enviado à Academia Norte-americana de Artes e Ciências. Ao longo de quase duas décadas, Peirce devotou grande parte de seu próprio tempo e energia a modificar e expandir a álgebra booleana. Compreendeu que a lógica de dois estados de Boole presta-se, facilmente, à descrição de circuitos de comutação elétricos: circuitos estão ligados ou desligados, assim como uma proposição é verdadeira ou falsa; um interruptor funciona de maneira muito parecida com uma porta lógica, permitindo, ou não permitindo, que a corrente - isto é, a verdade - prossiga até o interruptor seguinte. O próprio Peirce estava, em última instância, mais interessado em lógica que na ciência da eletricidade. Embora desenhasse, mais tarde, um circuito lógico rudimentar usando eletricidade, o dispositivo nunca foi construido. Tear de Jacquard: O Legado dos Tecelões de Seda O grande avanço seguinte nada teve a ver com números - pelo menos de início. Durante o século XVIII, os tecelões de seda franceses testaram métodos para guiar seus teares por meio de fitas perfuradas, cartões perfurados ou tambores de madeira. Nos três sistemas, a presença ou ausência de orifícios criava padrões no tecido por meio do controle da maneira pela qual os fios eram levantados ou abaixados. Em 1804, Joseph Marie Jacquard construiu um tear inteiramente automatizado, que podia fazer desenhos muito complicados. Esse tear era programado por uma série de cartões perfurados, cada um deles controlando um único movimento da lançadeira.

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1804 - O tear de Jacquard foi a primeira máquina a usar cartões perfurados para controlar processos mecânicos.

Para produzir um novo padrão, o operador simplesmente substituía um conjunto de cartões por outro. O tear de Jacquard revolucionou a indústria da tecelagem e, em suas características essenciais, é ainda usado atualmente. Os cartões perfurados, no entanto, estavam destinados a produzir seu maior impacto na programação de computadores.

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Babbage e Ada: Um Grande Plano e Esperanças Despedaçadas Dentre todos os pensadores e inventores que acrescentaram algo ao desenvolvimento da computação, o único que quase chegou a criar, efetivamente, um computador no sentido da palavra foi um inglês chamado Charles Babbage. Nascido numa abastada família de Devonshire, em 1791, Babbage ficou famoso tanto pela perspicácia de sua mente quanto por suas esquisitices. Durante treze anos, esse gênio excêntrico ocupou a cátedra de matemática em Cambridge, que fora de Isaac Newton; no entanto, durante todo esse tempo ele nunca viveu na universidade nem proferiu ali uma única conferência.

Charles Babbage Foi membro fundador da Royal Astronomical Society, escreveu sobre assuntos que iam de política a técnicas de manufatura e ajudou a desenvolver dispositivos práticos como o tacômetro e o limpa-trilhos, que cinge a parte dianteira dos trens e serve para afastar obstáculos. Dedicava ainda esforços intelectuais à resolução de sérios problemas práticos, como as reformas postais e a redução das taxas de mortalidade. No entanto, o motivo que realmente norteava a vida de Babbage era a busca da precisão matemática. Seu empenho em localizar erros nas tábuas de logarítmos que os astrônomos, matemáticos e

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navegadores utilizavam, assumia proporções inimagináveis. Nada escapava de seu zelo. Certa vez escreveu ao poeta Alfred Lord Tennyson para repreendê-lo por estes versos: "A cada momento morre um homem/A cada momento um homem nasce". Uma vez que a população, do mundo não se mantém constante, assinalou Babbage, os versos ofereceriam uma leitura melhor e mais verossímil se fossem estes: "A cada momento morre um homem/A cada momento nasce um homem e um dezesseis avos de homem".

A Máquina Diferencial

Em 1822, Babbage descreveu, num artigo científico, uma máquina que poderia computar e imprimir extensas tabelas científicas. No mesmo ano, construiu um modelo preliminar de sua Máquina de Diferenças, com rodas dentadas fixadas em eixos que uma manivela fazia girar. Então ele convenceu a Royal Society - prestigiosa associação científica - a apoiar uma proposta dirigida ao governo para que este subvencionasse a construção de um modelo em tamanho grande. A máquina, escreveu ao presidente da Sociedade, encarregar-se-ia do "trabalho intolerável e monótono" envolvido nas enfadonhas tarefas de cálculo repetitiva, estas, acrescentava, estão entre "as mais baixas ocupações do intelecto humano". A Sociedade julgou seu trabalho "altamente merecedor de encorajamento pública". Um ano mais tarde, o governo britânico concedeu-lhe 1.500 libras para a realização do projeto.

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1822 - A Máquina de Diferenças de Charles Babbage foi projetada para produzir tabelas matemáticas.

Durante os dez anos seguintes, Babbage sustentou uma verdadeira luta com seu embrião de computador. Esperava, originalmente, terminá-lo em três anos, mas a Máquina de Diferenças ficava cada vez mais complexa à medida que a modificava, aperfeiçoava e redesenhava. Acossavam-no problemas de trabalho, saúde e dinheiro. Embora a subvenção do governo subisse a 17.000 libras, as dúvidas oficiais acerca dos custos do projeto e de sua utilidade efetiva também cresciam. Por fim, as concessões acabaram sendo suspensas.

A Máquina Analítica

Em torno de 1833, Babbage resolveu deixar de lado seus planos de uma Máquna de Diferenças. O insucesso, porém, não o impediu de desenvolver idéias para construir uma máquina ainda mais ambiciosa. A Máquina Analítica, ao contrário de sua predecessora, foi concebida não apenas para solucionar um tipo de problema matemático mas para executar uma ampla gama de

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tarefas de cálculo, de acordo com instruções fornecidas por seu operador. Seria "uma máquina de natureza a mais geral possível" - em nada inferior, realmente, ao primeiro computador programável para todos os fins. A Máquina Analítica deveria possuir uma seção denominada "moinho" e uma outra denominada "depósito", ambas compostas de rodas dentadas. O depósito poderia reter até cem números de quarenta dígitos de uma só vez. Esses números ficariam armazenados até que chegasse sua vez de serem operados no moinho, os resultados seriam então recolocados no depósito à espera de uso posterior ou chamada para impressão. As instruções seriam introduzidas na Máquina Analítica por meio de cartões perfurados. "Podemos dizer mais convenientemente que a Máquina Analítica tece padrões algébricos, assim como o tear de jacquard tece flores e folhas", escreveu a condessa de Lovelace, uma das poucas pessoas que compreenderam o funcionamento da máquina e vislumbraram seu imenso potencial de aplicação.

1834 - A Máquina Analítica de Charles Babbage teria a função de executar grande número de tarefas computacionais a partir de uma sequência de instruções.

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Augusta Ada Byron, condessa de Lovelace e única filha legítima do poeta Lord Byron, emprestou seus consideráveis talentos matemático e literário ao projeto de Babbage. Com relação à Máquina Analítica, Babbage declarou que Lovelace "parece compreendê-la melhor que eu". O interesse e entusiasmo da condessa de Lovelace ajudaram Babbage a esclarecer suas idéias e fortalecer sua coragem. No entanto, nem mesmo ela poderia escrever sobre o problema fundamental da Máquina Analítica. Se a Máquina de Diferenças fora uma proposição duvidosa, a Máquina Analítica era uma impossibilidade prática. Simplesmente era impossível pôr em movimento as pates que a compunham. Uma vez terminada sua construção, a máquina seria tão grande quanto uma locomotiva, e seu interior, uma intricada massa de mecanismos de relojoaria, de aço, cobre e estanho, tudo acionado a vapor. O menor desequiiíbrio na menor das partes multiplicar-se-ia centenas de vezes, provocando na máquina um violento "derrame".

ADA LOVELACE: Descreveu o funcionamento da Máquina Analítica, se tornando a primeira programadora.

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A Máquina Analítica nunca foi construída. Tudo o que existe dela são resmas de planos e desenhos, e parte do "moinho" e da impressora, que o filho de Babbage construiu. Ironicamente, a Máquina de Diferenças teve um destino um pouco melhor. Embora o próprio Babbage nunca mais voltasse a ela, um impressor, inventor e tradutor sueco chamado Pehr Georg Scheutz leu a respeito do dispositivo e construiu uma versão modificada, em 1854.

Hollerith: Trampolim para o Sucesso

Exatamente dezenove anos após a morte de Babbage, os cartões perfurados apareceram numa máquina - um tabulador estatístico construido pelo norte-americano Herman Hollerith para acelerar o processamento das estatísticas para o censo dos Estados Unidos de 1890. Filho de imigrantes alemães, Hollerith nasceu em Buffalo, Nova York. Em 1879, completou os estudos na Universidade de Colúmbia e começou a trabalhar para o serviço de recenseamento em Washington. Chegou a tempo de observar centenas de empregados darem início a um laborioso estorço para tabular manualmente o censo de 1880.

John Shaw Billings, um alto funcionário do censo e futuro sogro de Hollerith, sugeriu que a tabulação poderia realizar-se com cartões perfurados. Hollerith passou a década de 1880 trabalhando para desenvolver tal sistema. Não se sabe de onde o próprio Billings tirou a idéia - talvez do tear de Jacquard, talvez observando os funcionários que, nos trens, perfuravam as passagens - mas em torno de 1890 Hollerith aperfeiçoou o sistema. Num concurso de velocidade do serviço de recenseamento, seu tabulador estatístico venceu várias máquinas rivais, ganhando, em 1890, o contrato para realizar o censo.

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1890 - O tabulador de Hollerith consistia de quatro partes: um furador que perfurava os cartões em pontos pre-determinados; um leitor de cartões para conferir a posição dos furos; um contador de cartões que exibia o número de cada furo à medida que as rodas de contagem giravam; e um classificador para separar os cartões de acordo com os furos.

Os cartões no tabulador de Hollerith eram do tamanho das notas de 1 dólar. Cada cartão tinha doze fileiras de vinte orifícios, que eram perfurados para registrar dados sobre idade, sexo, país natal, número de filhos, profissão, estado civil e tudo o mais que o censo queria saber sobre a população dos Estados Unidos. O pessoal que fazia a coleta dos dados levava formulários onde eram registradas as respostas a essas perguntas. Esses formulários eram enviados a Washington, onde as informações eram transferidas aos cartões perfurando-se os orifícios

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apropriados. Introduzidos em outro dispositivo fixado na máquina tabuladora, os cartões perfurados eram então pressionados contra fileiras de pinos estreitos, um para cada um dos 240 itens de um cartão, quando um pino encontrava um orifício, atravessava-o mergulhando num pequeno recipiente com mercúrio, desse modo, fechava um circuito elétrico, que fazia com que um indicador, no banco de mostradores do registrador, se deslocasse uma posição para a frente.

O modelo IBM - O cartão tem 80 colunas e 12 alturas (níveis). Em cada coluna só pode ser representado um símbolo (letra, dígito ou caracter especial).

A máquina de Hollerith era tão veloz que uma simples contagem ficava pronta em seis semanas e uma análise estatística completa, em dois anos e meio. A população aumentara em cerca de 13 milhões de pessoas durante a década anterior, até um total de 62.622.250 habitantes. Mesmo assim, o censo de 1890 demorou aproximadamente um terço do tempo gasto por seu predecessor para ser tabulado. Hollerith ganhou premios, elogios e um doutorado na Universidade de Colúmbia pela sua invenção. Instalou também a Companhia de Máquinas Tabuladoras para vender sua invenção às companhias de estradas de ferro, órgãos do governo e até mesmo à Rússia czarista, que havia decidido se modernizar em matéria de censo. A companhia tornou-se de imediato, e permanentemente, bem-sucedida; ao longo dos anos, passou por várias fusões e mudanças de nome. A última dessas mudanças ocorreu em 1924, cinco anos antes da morte de

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Herman Hollerith, e o nome por ele criado foi International Business Machines Corporation, ou IBM. Atualmente, mais de um século e meio depois da luta de Charles Babbage com sua Máquina Analítica, a IBM é líder mundial de uma indústria que tornou realidade sua visão de "uma máquina de natureza a mais genérica possível". Mas nem mesmo a fértil mente de Babbage poderia prever as formas que, em última instância, assumiria a máquina do seu sonho.

Shanon e Atanasoff: A Teoria Ligada ao Mundo Real

Introduzindo a álgebra booleana em cursos universitários de lógica e filosofia norte-americana, Charles Peirce (1867) plantou uma semente que daria frutos meio século mais tarde. Em 1936, Claude Shannon, um jovem estudante norte-americano, estendeu uma ponte entre teoria algébrica e aplicação prática.

Shannon chegara havia pouco tempo ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), vindo da Universidade de Michigan, onde adquirira dois graus de bacharelado, um em engenharia elétrica, outro em matemática. Para conseguir um pouco mais de dinheiro no MIT, Shannon tomava conta de um dispositivo de computação mecânico, desajeitado e cheio de manivelas, conhecido como analisador diferencial, e que fora construido em 1930 por Vannevar Bush, professor de Shannon. Essa máquina teve um papel pioneiro, pois foi a primeira a resolver complexas equações diferenciais - expressões matemáticas que descrevem o comportamento de objetos móveis, tais como aeroplanos, ou de forças intangíveis, como a gravidade. Essas equações poderiam custar aos engenheiros meses de cálculos manuais. Por isso, o analisador diferencial tinha grande importância científica. Mas também apresentava grandes defeitos. Um deles era seu tamanho. Nisso dava um passo para trás, na direção da Máquina Analítica de Babbage; de fato, o analisador de Bush era essencialmente um conjunto de eixos, engrenagens e fios, arranjados numa sucessão de caixas que cobria a extensão de uma grande sala. Em parte, todo esse volume era uma exigência da necessidade de computar com todos os dez dígitos do sistema decimal de numeração. Mas o tamanho não era a única desvantagem desse aparelho. Ele era também um dispositivo analógico, media movimentos e distâncias, e realizava suas computações a partir dessas medidas. A montagem de um problema exigia que se calculasse uma enorme quantidade de

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relações de engrenagens, o que podia demorar dois ou três dias. A mudança para um outro problema era um exercício igualmente enfadonho, que deixava as mãos do operador cobertas de óleo.

Bush sugeriu que Shannon estudasse a organização lógica da máquina para sua tese, e, à medida que o estudante lutava com as evasivas partes internas do analisador, não podia evitar que lhe ocorressem meios de aperfeiçoá-lo. Recordando-se da álgebra booleana que estudara em seu curso universitário, Shannon ficou surpreso - como Peirce também ficara antes - ao constatar sua semelhança com a operação de um circuito elétrico. Shannon percebeu as implicações que tal semelhança teria para o desenho dos circuitos elétricos num computador. Se fossem instalados de acordo com os princípios booleanos, tais circuitos poderiam expressar a lógica e testar a verdade das proposições, bem como executar cálculos complexos.

Shannon prosseguiu em suas idéias sobre números binários, álgebra boolena e circuitos elétricos, desenvolvendo-as em sua tese de mestrado, publicada em 1938. Esse brilhante ensaio, que teve um efeito imediato sobre o planejamento dos sistemas telefônicos, ocupa uma posição central no desenvolvimento da moderna ciência dos computadores. (Uma década mais tarde, Shannon publicaria outra obra semanal - Uma Teoria Matemática da Comunicação -, descrevendo o que desde então passaria a ser conhecido como teoria da informação. Shannon propôs um método para definir e medir a informação em termos matemáticos, onde escolhas sim-não eram representadas por dígitos binários - idéia que está na base das modernas telecomunicações.

Tão grande era a necessidade de uma máquina bem-proporcionada funcionalmente e que pudesse resolver equações difíceis, que três outros pesquisadores chegaram perto das mesmas conclusões quase ao mesmo tempo.

Enquanto Shannon pensava, um professor de física chamado John Atanasoff lutava com o problema no Colégio Estadual de Iowa, nos Estados Unidos. Em janeiro de 1938, após dois anos "quebrando a cabeça" em busca de um projeto ótimo para um computador, Atanasoff decidiu basear sua máquina no sistema binário de numeração, em vez de número decimal. Ele chegou a essa conclusão um tanto relutantemente, pois temia que seus

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alunos e outros usuários da máquina pudessem topar com dificuldades consideráveis ao fazer a transposição do sistema decimal para o binário. Mas a simplicidade do sistema de dois algarismos, combinada com a relativa facilidade de representar dois símbolos em vez de dez nos circuitos de um computador, pareceu a Atanasoff superar o obstáculo da não-familiaridade. Seja como for, a máquina podia fazer as conversões.

ABC - Atanasoff/Berry Computer

John Atanasoff

Enquanto isso, em outro ponto do país, George Stibitz, matemático pesquisador dos laboratórios Bell, passava por momentos singulares em seu hábito autodeclarado de "pensar inventando coisas". Certo dia, em 1937, ele compreendeu que a lógica booleana era uma linguagem natural para os circuitos de relés eletromecânicos do telefone.

Um Improvisador vai trabalhar

Stibitz trabalhou imediatamente nessa idéia, certo de que seu patrão encontraria uso para o que quer que ele lhe trouxesse. Começou surrupiando pequenas peças de pouco valor ou que não serviam mais. Trabalhando na mesa de sua cozinha, nos fins de tarde, ele interligou velhos relés, um par de baterias, lâmpadas de lanternas, fios e tiras metálicas cortadas de uma lata

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de tabaco. O dispositivo resultante utilizava, para controlar o fluxo de corrente elétrica, a lógica das portas booleanas, era um circuito eletromecânico que podia efetuar adição binária. Foi o primeiro desse tipo construido nos Estados Unidos. Hoje, o circuito somador binário constitui um dos tijolos básicos de todo computador digital.

Durante os dois anos seguintes, Stibitz e um engenheiro especialista em computadores chamado Samuel Williams desenvolveram um dispositivo que podia subtrair, multiplicar e dividir, bem como somar números complexos. Stibitz deu à sua máquina o nome de Calculadora de Números Complexos, e em janeiro de 1940 colocou-a para funcionar no prédio da companhia, em Manhattan. Uma máquina de teletipo nas proximidades lhe transmitia sinais e recebia respostas em intervalos de segundos. Dois outros teletipos foram acrescentados em outras partes do edifício, permitindo a várias pessoas em mais de um lugar usarem o mesmo computador. Alguns meses depois, foi instalado um quarto teletipo a pouco mais de 400 quilômetros de distância, no Colégio Dartmouth de Hanover, New Hampshire. Ali, diante de uma perplexa audiência de trezentos membros da American Mathematical Society, Stibitz dirigiu uma demonstração de computação eletromecânica de controle remoto.

Todavia, mesmo antes de Shannon escrever sua tese ou Stibitz começar suas improvisações, alguém trabalhava em tranqüilo isolamento, soldando relés no estreito apartamento que partilhava com seus pais, em Berlim. Konrad Zuse sempre fora um planejador e construtor nato. Em 1937, quando era estudante de engenharia, passou a detestar os longos e maçantes cálculos matemáticos exigidos pela profissão. Zuse começou, então, a sonhar com uma máquina que pudesse encarregar-se da desagradável tarefa. Idealmente, pensou, tal máquina poderia ser programada para executar qualquer tarefa matemática de que se necessitasse, por mais complexa que fosse. Embora não estivesse a par do trabalho de Charles Babbage, Zuse pôs-se a planejar um computador para todos os fins.

Zuse nada sabia a respeito de máquinas calculadoras, tais como o analisador diferencial. Décadas mais tarde, porém, ele observaria que isso foi, na verdade, uma vantagem: devido à sua ignorância, ele estava livre para seguir por novas direções e

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escolher o melhor sistema de cálculo. Depois de experimentar com o sistema decimal, Zuse decidiu usar o binário. Seu talento para progredir por esse caminho era extraordinario. Não sabia mais sobre George Boole do que sobre Charles Babbage. Mesmo assim, planejou seu computador para funcionar sob princípios semelhantes aos booleanos.

Zuse: A Construção do Z1

Em 1936, Zuse deixou o emprego numa firma de engenharia e dedicou-se integralmente ao projeto, sustentado pelos amigos e usando, como local de trabalho, uma pequena mesa no canto da sala de visitas da família. Quando viu que sua máquina tomava forma e crescia, empurrou outra mesa para perto da primeira, de modo a acomodá-la. Depois deslocou suas operações para o centro da sala e, dois anos mais tarde, completava um verdadeiro labirinto de relés e circuitos.

O Z1, nome que Zuse deu à máquina, tinha um teclado para introduzir problemas no computador. No fim de um cálculo, o resultado faiscava num quadro com muitas lampadazinhas. Embora satisfeito com o aparelho, Zuse tinha dúvidas quanto ao teclado, que julgava demasiado grosseiro e vagaroso. Depois de muito pensar, descobriu uma alternativa engenhosa e barato de codificar as instruções perfurando uma série de orifícios em filmes de 35 milímetros, usados. E essa máquina alimentada com filmes recebeu o apelido de Z2.

konrad Zuse

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Zuse e sua máquina Z1

Zuse prosseguiu apaixonadamente em seu trabalho solitário com as máquinas até 1939. Quando irrompeu a Segunda Guerra Mundial, Zuse, Stibitz e outros pioneiros do computador, em ambos os lados do Atlântico, atiraram-se numa corrida desesperada para colocar seu novo tipo de arma à disposição do arsenal moderno. Além desses, a guerra estimularia outros grandes avanços na teoria e no planejamento de computadores.

Progresso em Tempo de Guerra: Computadores para Fins Balísticos

No final de 1941, pouco depois que os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra Mundial, o presidente da lnternational Business Machines Corporation (IBM) enviou um telegrama à Casa Branca. À semelhança de muitos outros executivos de corporações naquela época de emergência nacional, Thomas J. Watson ofereceu-se para colocar as instalações de sua companhia à disposição do governo durante a guerra.

Foi um sincero gesto patriótico, mas o velho e astuto empresário também sabia que tinha pouca escolha. Uma guerra generalizada significava uma mobilização sem precedentes da indústria e da ciência, para a fabricação de armas convencionais e o desenvolvimento da tecnologia necessária às não-convencionais.

Mas Watson tinha outras coisas em mente. Dois anos antes de os japoneses atacarem Pearl Harbour, ele havia investido 500.000 dólares da IBM no plano audacioso de um jovem matemático da Universidade de Harvard, chamado Howard Aiken. Aiken, que ficara frustrado com o gigantesco número de cálculos exigido

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para sua tese de doutoramento, desejava ir além das classificadoras e calculadoras então disponíveis e construir um computador programável para todos os fins, do tipo que Charles Babbage imaginara.

Logo depois do ataque a Pearl Harbour, Aiken foi chamado para o serviço ativo na Marinha, onde se distinguiu por desarmar, sozinho, um novo tipo de torpedo alemão. Mas Watson prontamente interveio junto às autoridades, alardeando o ainda embrionário potencial de computador para calcular as trajetórias das balas de canhão, e conseguindo fazer com que Aiken fosse destacado para um serviço especial na instalação da IBM em Endicott, Nova York.

Com a bênção da Marinha e o dinheiro e apoio de engenharia da IBM, Aiken começou a construir a máquina a partir de conceitos não-testados do século XIX e da tecnologia comprovada do século XX. Simples relés eletromecânicos serviam como dispositivos de comutação ligado-desligado, e fitas perfuradas forneciam instruções, ou um programa, para manipular os dados. Aiken, diferentemente de seus contemporâneos John Atanasoff e George Stibitz, não percebera as vantagens do sistema binário de numeração, de modo que os dados tomaram a forma de números decimais codificados, que eram introduzidos nos cartões perfurados da IBM. Surpreendentemente, o desenvolvimento do Mark I, como o dispositivo veio a ser chamado, enfrentou poucas dificuldades. No começo de 1943, foi testado em Endicott e, depois, enviado a Harvard, onde se tornou o centro de uma série de choques entre o inventor e seu patrono.

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Howard Aiken

Mark 1

Tanto Aiken como Watson costumavam agir a seu próprio modo. Eles se desentenderam primeiramente com relação à aparência da máquina. Com cerca de 15 metros de comprimento e 2,5 metros de altura, o Mark I continha nada menos que 750.000

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partes, unidas por meio de aproximadamente 80.400 metros de fios. Aiken queria deixar expostas as partes internas, de modo que os cientistas interessados pudessem inspecioná-las. Watson, sempre atento à imagem social da IBM, insistia para que a màquina fosse alojada num invólucro de vidro e aço inoxidável brilhante.

Watson prevaleceu nesta e em outras questões, mas Aiken vingou-se quando o Mark I foi apresentado à imprensa em Harvard, em agosto de 1944. Ele mal mencionou o papel da IBM no projeto e não disse uma palavra a respeito de Tom Watson, que, obviamente, ficou furioso.

Pouco depois, Watson alugou a máquina para a Marinha, que a usou para resolver difíceis problemas balísticas sob a supervisão de Aiken. O Mark I podia manipular - ou "triturar" - números de até 23 dígitos. Podia somá-los ou subtraí-los em 3/10 de segundo e multiplicá-los em três segundos. Tal velocidade, embora apenas um pouco mais rápida que a imaginada por Babbage, era sem precedentes. Num só dia, a máquina podia efetuar cálculos que antes exigiam seis meses completos.

O Mark I continuaria suas reverberantes tarefas matemáticas em Harvard ao longo de dezesseis anos completos. Todavia, a despeito dos longos e sólidos serviços que prestou, não foi o sucesso que Tom Watson esperava. Outros pesquisadores - alemães e ingleses, bem como norte-americanos - estavam abrindo aos computadores caminhos mais promissores. De fato, o Mark I era obsoleto antes mesmo de ser construído. Konrad Zuse apontou o caminho na Alemanha. Em 1941, cerca de dois anos antes de o Mark I triturar seus primeiros números, e logo após o desenvolvimento de seus modelos de teste Z1 e Z2, Zuse completou um computador operacional: um dispositivo controlado por programa e baseado no sistema binário. Designada como Z3, essa máquina era muito menor que a de Aiken e de construção muito mais barata.

Tanto o Z3 como o Z4, seu sucessor, eram usados para resolver problemas de engenharia de aeronaves e de projetos de mísseis. Zuse também construiu vários computadores para fins especiais. Mas, num certo aspecto, o trabalho de Zuse foi impedido pelo governo alemão.

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Em 1942, ele e seu colega Helmut Schreyer, um engenheiro eletricista austríaco, propuseram-se a construir um computador radicalmente diferente. Ambos queriam replanejar o Z3 de modo que usasse válvulas eletrônicas em vez de interruptores eletromecânicos de relé. Ao contrário dos comutadores eletromecânicos, as válvulas não têm partes móveis; elas controlam a circulação da corrente apenas por meio de tensões elétricas. A máquina que Zuse e Schreyer conceberam operaria mil vezes mais depressa que qualquer outra que os alemães tinham na época.

A proposta, porém, foi recusada. A guerra ainda estava no começo, e Hitler achava-se tão convencido de uma vitória rápida que ordenou o embargo de todas as pesquisas científicas, exceto daquelas a curto prazo. "Eles perguntaram quando as máquinas funcionariam", relembra Zuse. "Dissemos que em cerca de dois anos. Eles responderam que até lá nós teríamos ganhado a guerra."

Uma das aplicações potenciais que Zuse e Schreyer citaram para seu computador de alta velocidade era quebrar os códigos que os ingleses usavam para se comunicar com os comandantes no campo. Ninguém sabia disso naquela época, mas os ingleses também estavam desenvolvendo uma máquina justamente com esse propósito.

O projeto britânico prosseguia sob a mais alta prioridade, como parte de um notável esforço de ruptura de códigos, conhecido como Ultra e liderado por um grupo de pesquisadores brilhantes e excêntricos, de engenheiros a professores de literatura, reunidos em Bletchley Park, perto de Londres. Entre eles havia um matemático chamado Alan Turing.

Teórico audacioso, proveniente da Universidade de Cambridge, Turing era, talvez, o mais estranho e, certamente, o mais bem-dotado de todos os integrantes do grupo. Simpático e com longos cabelos, usava roupas amarrotadas e costumava defender pontos de vista não-convencionais, não negando, por exemplo, seu ateísmo ou sua homossexualidade. Tinha uma "gagueira estridente", admitia sua própria mãe, "e uma risada semelhante a um cacarejo de galo, que conseguia irritar os nervos até‚ mesmo de seus amigos".

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Turing Colossus: Decifrava código dos Nazistas

Algumas das idéias de Turing tomaram forma nas máquinas construídas em Bletchley Park. Primeiro foi a vez de uma série de dispositivos quebradores de códigos, que empregavam relés eletromecânicos, como aqueles utilizados por Konrad Zuse em Berlim, George Stibitz, nos Laboratórios Bell, e Howard Aiken, em Harvard. Essas máquinas trabalhavam, essencialmente, por tentativa e erro, explorando as combinações de símbolos no código germânico até que fosse descoberta alguma espécie de transliteração inteligível. Mas, no final de 1943, colocou-se em operação uma série de máquinas muito mais ambiciosas, o Colossus. Em vez de relés eletromecânicos, cada uma das novas máquinas usava 2.000 válvulas eletrônicas - a mesma tecnologia e, por coincidência, mais ou menos o mesmo número de válvulas que Zuse propusera para o dispositivo que não lhe permitiram desenvolver.

Milhares de mensagens inimigas interceptadas diariamente eram introduzidas no Colossus por uma via semelhante à que Alan Turing concebera: como símbolos perfurados numa argola de fita de papel. A fita era inserida numa máquina de leitura fotelétrica, que a explorava remetidas vezes, à taxa espantosa de 5.000 caracteres por segundo, comparando a mensagem cifrada com códigos conhecidos até conseguir encontrar uma coincidência. Cada máquina tinha cinco dessas leitoras, o que lhe permitia processar o número surpreendente de 25.000 caracteres por segundo.

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Do outro lado do Atlântico, em Filadélfia, as exigências da guerra estavam dando origem a um dispositivo mais próximo, em espirito e função, à máquina universal teórica de Alan Turing. O Computador e Integrador Numérico Eletrônico, ou ENIAC (Electronic Numerical Integrator and Computer), assim como o Mark I, de Howard Aiken, nasceu da necessidade de resolver problemas balísticos. Mas acabou comprovando-se capaz de executar diversas tarefas.

ENIAC: A Gênese de Um Computador Universal

Desde o início da guerra, o laboratório de Pesquisas Balísticas do Departamento de Guerra, no Campo de Manobras do Exército em Aberdeen, Maryland, trabalhava na preparação de tabelas de tiro de artilharia, para atiradores em campo. Essas tabelas eram essenciais, capacitando as guarnições de canhões a ajustarem sua mira de acordo com o alcance e altitude do alvo, e sob condições variáveis de vento e temperatura. Mas exigiam longas e enfadonhas cadeias de cálculos - não inferiores a 750 diferentes multiplicações para uma única trajetória, e apresentavam pelo menos 2.000 trajetórias por tabela. Esses cálculos foram acelerados, até certo ponto, pela instalação de um analisador diferencial. Mas o dispositivo só fornecia números aproximados, que tinham de ser refinados por pelotões de operadores humanos, usando calculadoras convencionais de mesa.

À medida que o esforço de guerra se acelerava, o laboratório, cada vez mais, perdia terreno em seu programa. Por isso, estabeleceu um sistema auxiliar de computação na vizinha Escola Moore de Engenharia, da Universidade de Pensilvânia. A escola também possuía um analisador diferencial, mas dois membros da equipe dessa escola, John W. Mauchly e J. Presper Eckert acreditavam que seria possível conseguir algo melhor.

Eckert e Mauchly

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ENIAC

Mauchly, um físico com interesse especial por meteorologia, há muito sonhava com um dispositivo que lhe permitisse aplicar métodos estatísticos à previsão do tempo. Antes da guerra, ele havia improvisado contadores digitais simples, que utilizavam válvulas eletrônicas. Mas também é possível que seu interesse em computação eletrônica fosse estimulado pelo trabalho de John Atanasoff, no Estado de Iowa. Em junho de 1941, Mauchly passou cinco dias na casa de Atanasoff, onde viu um protótipo grosseiro de um computador eletrônico de trezentas válvulas, que Atanasoff e seu colega Clifford Berry estavam construindo.

Qualquer que fosse a influência de Atanasoff, e isso posteriormente tornar-se-ia uma questão de disputa legal, foi Presper Eckert quem pôs Mauchly a trabalhar. Doze anos mais moço que Mauchly, Eckert era um gênio em engenharia. Construíra um rádio a cristal, colocando-o num lápis, quando tinha somente 8 anos. Como Mauchly disse mais tarde, Eckert convencera-o "de que as coisas com as quais eu sonhava eram possíveis".

Em agosto de 1942, Mauchly escreveu um memorando de cinco páginas, onde esboçava uma proposta, sua e de Eckert, para um computador de alta velocidade, que usaria válvulas eletrônicas. Submeteu-o à Escola Moore, onde, inadvertidamente, extraviou-se. No entanto, poucos meses depois, o tenente Herman Goldstine, que representava o vínculo técnico entre o Exército e a escola, ouviu falar da idéia. Nessa época, o Exército necessitava

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desesperadamente de novas tabelas de tiro, que solucionassem um problema urgente: artilheiros na África do Norte relatavam que, ali, o solo macio permitia um recuo não-previsível em seus canhões, o que fazia o disparo errar o alvo. Goldstine, matemático pela Universidade de Michigan antes da guerra, imediatamente compreendeu a importância do computador proposto e passou a interceder a seu favor junto a seus superiores do Exército. Em 9 de abril de 1943 - dia em que Eckert completava 24 anos - o Exército recompensou-o firmando um contrato de 400.000 dólares com a Escola Moore para a construção do ENIAC.

A própria máquina era terrivelmente complicada: projetaram-na para ter nada menos que 17.468 válvulas eletrônicas, pois os números eram manipulados na forma decimal. Mauchly preferia a familiar abordagem decimal porque, como ele mesmo dizia, desejava que "o equipamento fosse legível em termos humanos". Mas um número tão grande de válvulas, com sua tendência para superaquecer-se e queimar, fazia crescer, como um espectro, o temor de freqüentes colapsos. Com essa quantidade de válvulas operando à taxa de 100.000 pulsos por segundo, havia 1,7 bilhão de chances a cada segundo de que uma válvula falhasse. Eckert aproveitou então uma idéia aplicada nos grandes órgãos eletrônicos, então em voga nos teatros, fazendo as válvulas funcionarem sob uma tensão menor que a necessária, o que reduziu sua taxa de falhas a uma ou duas por semana.

Em fins de 1945, quando o ENIAC estava finalmente montado e pronto para seu primeiro teste formal de resolução de problemas, a guerra terminou. Mas a natureza do primeiro teste - cálculos destinados a avaliar a praticabilidade da bomba de hidrogênio - autorizava que se continuasse dando ao computador uma importância igual, ou melhor, crescente, no pós-guerra e nos anos da Guerra Fria. O ENIAC operava com elegância, processando aproximadamente 1 milhão de cartões perfurados da IBM, no decorrer do teste. Dois meses depois, a máquina foi apresentada à imprensa. Com aproximadamente 5,5 metros de altura e 25 metros de comprimento, era mais de duas vezes maior que o Mark I de Howard Aiken. Mas a essa duplicação no tamanho correspondia uma velocidade multiplicada por mil. O ENIAC era "mais rápido que o pensamento", escreveu então um repórter, muito impressionado.

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EDVAC: A Versatilidade do Programa Armazenado

Mesmo quando o ENIAC foi a público, Mauchly e Eckert já trabalhavam planejando um sucessor para o Exército. A principal desvantagem do ENIAC era a dificuldade para mudar suas instruções ou programas. A máquina só continha memória interna suficiente para manipular os números envolvidos na computação que estava executando. Isso significava que os programas tinham de ser instalados com fios dentro do complexo conjunto de circuitos. Alguém que quisesse passar do cálculo de tabelas de tiro para o planejamento de um túnel de vento teria de correr de um lado para outro da sala, como um operador de painel de controle que tivesse enlouquecido, desligando e religando centenas de fios.

O sucessor do ENIAC - denominado EDVAC, sigla para Computador Eletrônico de Variáveis Discretas (Electronic Discrete Variable Computer) - foi planejado para acelerar o

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trabalho, armazenando tanto programas quanto dados em sua expansão de memória interna. Em vez de serem instaladas no conjunto de circuitos por intermédio de fios, as instruções eram armazenadas eletronicamente num meio material que Eckert descobriu por acaso, quando trabalhava com radar: um tubo cheio de mercúrio, conhecido como linha de retardo. Cristais dentro do tubo geravam pulsos eletrônicos que se refletiam para frente e para trás, tão lentamente que podiam, de fato, reter a informação por um processo semelhante àquele pelo qual um desfiladeiro retém um eco. Outro avanço igualmente significativo: o EDVAC podia codificar as informações em forma binária em vez de decimal, o que reduzia substancialmente o número de válvulas necessárias.

Um Gênio do Cálculo Rápido

No final de 1944, enquanto Mauchly e Eckert lutavam com o EDVAC e seu conceito de armazenamento de programa, um consultor especial apareceu na Escola Moore para ajudar no projeto. Era John von Neumann, então com 41 anos, gigante entre os matemáticos, e que exerceria uma profunda influência no desenvolvimento dos computadores do pós-guerra.

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Von Neumann

O interesse de Von Neumann por computadores surgiu, em parte, de seu envolvimento com o altamente secreto Projeto Manhattan, em Los Alamos, Novo México, onde demonstrou matematicamente a eficiência do assim chamado método implosivo de detonar a bomba atômica. Agora ele estava estudando a bomba de hidrogênio, muito mais poderosa, arma cujo planejamento e construção requeriam prodigiosa quantidade de cálculos.

Mas Von Neumann também percebeu que o computador podia ser muito mais que uma calculadora de alta velocidade. Percebeu que se tratava, pelo menos potencialmente, de um instrumento de pesquisa científica para todos os fins. Em junho de 1945, menos de um ano após juntar-se a Mauchly e Eckert, Von Neumann preparou um memorando de 101 páginas, onde sintetizava os planos da equipe para o EDVAC. Esse documento, intitulado Primeiro Esboço de um Relatório sobre o EDVAC, era uma descrição magistral da máquina e da lógica sobre a qual se apoiava. Herman Goldstine, o oficial do Exército que o recrutara para o projeto, ficou tão impressionado pela maneira como Von Neumann voltava das válvulas eletrônicas e diagramas de circuitos à descrição da organização lógica, formal, do computador, que mandou tirar cópias do memorando, enviando-as a cientistas dos Estados Unidos e da Inglaterra.

Graças a essa publicação informal, o Primeiro Esboço de Von Neumann tornou-se o primeiro documento sobre computadores digitais eletrônicos que veio a conhecer ampla circulação.

Os leitores do Primeiro Esboço tendiam a presumir que todas as idéias nele contidas, especialmente a proposta crítica para armazenar programas na memória do computador, foram concebidas pelo próprio Von Neumann. Poucos compreenderam que Mauchly e Eckert já falavam a respeito de programas armazenados, no mínimo durante os seis meses que precederam a entrada de Von Neumann em cena. Tampouco perceberam que Alan Turing já incorporara, em 1936, uma memória interna em sua visão de uma máquina universal. (Von Neumann, de fato, conhecia Turing e lera seu artigo clássico quando Turing passou algum tempo em Princeton, pouco antes da guerra.).

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Mauchly e Eckert sentiram-se ultrajados pela atenção excessiva dirigida a Von Neumann e a seu Primeiro Esboço. O segredo militar os impedira de publicar artigos sobre seu trabalho, e agora Goldstine violava a segurança e dava plataforma pública a um recém-chegado. O ressentimento de Eckert por Goldstine foi tão profundo que, mais de três décadas depois, ele não entrava numa sala onde seu antigo colega estivesse presente. Não era apenas uma questão de orgulho ferido. Mauchly e Eckert previam com clareza as possibilidades comerciais de seu trabalho, e temiam que a publicação do memorando de Von Neumann os impedisse de obterem patentes. Na verdade, acabaram desistindo das patentes após grandes discussões com os administradores da Escola Moore, os quais insistiam que os indivíduos não deveriam beneficiar-se da pesquisa ali realizada. Como resultado, a equipe da escola foi dissolvida.

Desencadeamento da Competição

Mas os dois contribuíram para um irônico pós-escrito. Em meados de 1946, realizaram uma série de conferências de grande audiência sobre o computador eletrônico, na própria Escola Moore. Um dos membros que assistiam às preleções, um cientista inglês chamado Maurice Wilkes, estava particularmente intrigado pela descrição que fizeram do armazenamento do programa planejado para o EDVAC. Voltou para casa, na Universidade de Cambridge e, em 1949 - dois anos antes que ficasse pronto o EDVAC - terminou a construção do primeiro computador de programa armazenado do mundo, o EDSAC, Calculadora Automática com Armazenamento por Retardo Eletrônico (Electronic Delay Storage Automatic Calculator) que marcou o último grande passo na série de avanços decisivos inspirados pela guerra.

A era do computador tinha começado, mas qual foi o destino, em tempo de paz, dos homens cujo talento e visão, surgindo sob as pressões da guerra, anunciaram a nova era ?

Konrad Zuse perdeu todas as suas máquinas, com exceção do Z4, no bombardeio aliado de Berlim. Para evitar a captura pelo Exército soviético, durante os últimos dias da guerra, uniu-se a um comboio de cientistas especialistas em foguetes e fugiu para os Alpes bávaros, transportando o Z4 num vagão. O Exército dos Estados Unidos recrutou rapidamente um dos outros cientistas do

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comboio, Wernher von Braun. Zuse escondeu sua máquina no celeiro de uma fazenda na Bavária, e ninguém prestou muita atenção a ela. Em 1949, começou a fabricar sucessores comerciais do Z4. O negócio prosperou, mas passaram quase duas décadas antes que os historiadores conferissem a Zuse e a suas máquinas feitas em casa o lugar que merecem na evolução do computador.

Alan Turing ajudou no planejamento de um poderoso computador, no pós-guerra; era uma máquina que incorporava um programa armazenado e outras idéias que ele concebera para sua máquina universal. O modelo piloto da ACE, ou Máquina de Computação Automática (Automatic Computing Engine), tornou-se operacional em maio de 1950. Ele poderia aperfeiçoá-lo ainda mais; suas excentricidades, porém, interpuseram-se no caminho. Turing preocupava-se cada vez mais com questões abstratas sobre a inteligência da máquina (ele até inventara um teste para determinar se os computadores podem realmente pensar) e com seus próprios e urgentes problemas pessoais. Sua homossexualidade declarada levou-o à prisão em 1952 por "grosseira indecência", a psicanálise o sentenciou e Turing fez tratamentos com hormônios. Dois anos depois, enquanto se entretinha com o que chamava de jogo da "ilha deserta", onde fabricava produtos químicos a partir de substâncias comuns de uso doméstico, Turing fez cianureto de potássio e suicidou-se.

John von Neumann juntou-se ao Instituto para Estudos Avançados, e colaborou para o desenvolvimento de vários computadores de concepção avançada. Havia, entre estes, uma máquina utilizada para resolver problemas relacionados ao desenvolvimento da bomba de hidrogênio. Von Neumann, por brincadeira, deu a ela o nome de MANIAC - Analisador, Numerador, Integrador e Computador Matemático (Mathematical Analyser Numerator, Integrator and Computer). Também participou como membro da Comissão de Energia Atômica e como presidente do comitê de consultaria da Força Aérea sobre mísseis balísticas. Ele sabia de tantas informações altamente confidenciais que, em 1957, quando se encontrava no hospital Walter Reed, em Washington, D. C., morrendo de um câncer ósseo aos 54 anos, a Força Aérea cercou-o de enfermeiros militares especialmente destacados para segurança. Sua mente brilhante estava entrando em colapso sob a tensão das dores

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torturantes, e o Pentágono receava que ele murmurasse segredos militares.

John Mauchly e Presper Eckert abriram sua própria firma em Filadélfia e puseram-se a criar um computador para todos os fins, destinado ao uso comercial: o UNIVAC, Computador Automático Universal (Universal Automatic Computer) uma máquina eletrônica de programa armazenado que recebia instruções de uma fita magnética de alta velocidade em vez de cartões perfurados. Em 1950, um ano antes de o UNIVAC entrar em operação realizando o Censo dos Estados Unidos, esgotou-se o dinheiro dos sócios, que venderam então a companhia à Remington Rand. Esta, por muito tempo, fabricara apenas barbeadores elétricos e tabuladores de cartões perfurados. Nem Mauchly nem Eckert tiraram grande lucro de suas contribuições para o desenvolvimento do computador eletrônico. Num período de aproximadamente dez anos, cada um recebeu cerca de 300.000 dólares da venda de sua companhia incluindo royalties sobre as patentes do ENIAC. O mais duro golpe ocorreu em 1973, quando uma corte federal invalidou aquelas patentes. O juiz decidiu que, afinal de contas, Mauchly e Eckert não tinham inventado o computador digital eletrônico automático, mas aproveitaram a idéia de John Atanasoff - principalmente durante a visita de cinco dias de Mauchly a Iowa, em 1941. (Atanasoff nunca chegou a completar uma versão operacional de seu computador, embora passasse a guerra trabalhando como engenheiro da Naval Ordnance.) Mauchly negou qualquer débito a Atanasoff, e o assunto continuou sendo para ele motivo de amargura até a sua morte, em 1980.

Howard Aiken permaneceu em Harvard para desenvolver a segunda, terceira e até a quarta gerações de seu Mark I - mas sem o apoio da IBM. Tom Watson irritou-se tanto com a omissão de Aiken em reconhecer publicamente o verdadeiro papel da companhia na realização do Mark I que ordenou a seus próprios pesquisadores para construir uma máquina mais veloz, impelindo, assim, a IBM a se envolver com computadores literalmente por uma questão de vingança. Na época da morte de Watson, em 1956, aos 82 anos de idade, a IBM já ultrapassava o nível de vendas atingido pela Remington Rand, com o bem-sucedido UNIVAC de Mauchly e Eckert.

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1981 - Introdução do PC

A indústria dos computadores pessoais começou em 1971 com a introdução do primeiro microprocessador, o Intel 4004.

Mas a indústria decolou de verdade logo após a edição de janeiro de 1975 da revista Popular Electronics, da Ziff-Davis, que anunciava o "Sucesso do Projeto" Altair 8800, da MITS, citado pela revista como "o primeiro kit para minicomputador do mundo a concorrer com os modelos comerciais". Pelos padrões atuais, este kit inicial desenvolvido por Ed Roberts, que liderava a MITS, uma pequena companhia de componentes eletrônicos de

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Albuquerque, Novo México, era bastante limitado. Ele se baseava no microprocessador 8080 da Intel e tinha apenas 256 bytes de memória.

Com um preço bem acessível, US$397, o Altair foi o primeiro computador pessoal disponível em grande escala para o público em geral. Ele atraiu centenas de pedidos por parte de entusiastas da eletrônica. Um dos que notaram este evento embrionário foi um jovem programador da Honeywell chamado Paul Allen, que mostrou o artigo da Popular Electronics a um velho amigo, um calouro da universidade de Harvard chamado Bill Gates. A dupla rapidamente uniu suas forças para elaborar uma versão do BASIC para o Altair. Em pouco tempo, Allen foi trabalhar para a MITS como diretor de software e, logo em seguida, Gates deixou Harvard para juntar-se a Allen em Albuquerque e dar início a uma empresa que, mais tarde, seria conhecida como Microsoft. (Outro ex-funcionário da MITS, David Bunnell, publicaria, mais tarde, uma variedade de revistas especializadas em computação, dentre elas a PC Magazine.) Com a introdução do Altair, a indústria de computadores pessoais decolou. O ano de 1977 assistiu a uma explosão de interesse pelos computadores pessoais e à introdução de urna longa sucessão de máquinas - Commodore PET, Radio Shack TRS-80 e - a mais importante de todas - a Apple II, de Steve Wozniak e Steve Jobs.

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O Apple II desenvolveu rapidamente seu próprio padrão, com o inestimável auxílio do projeto de Wozniak, em 1978, de uma econômica unidade de disco flexível e - o mais importante - do VisiCalc, a primeira planilha eletrônica, elaborado por Dan Bricklin e Bob Frankston. Com a introdução do VisiCalc, os homens de negócios encontraram, repentinamente, unia razão para utilizar os computadores pessoais. Este já não era mais um mundo de lazer.

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O restante da década viu passar vários projetos diferentes, enquanto uma companhia após outra tentava definir uma combinação exclusiva de potência, preço, desempenho e recursos. As máquinas introduzidas neste período abrangiam desde as ofertas para usuários domésticos e aficionados - como o Vic-20 e o 64, da Commodore, a série 400, da Atari, e o TI-99, da Texas Instruments - até os dispositivos mais orientados à área comercial, como uma série de máquinas da Tandy/Radio Shack e diversos projetos que executavam o sistema operacional CP/M, da Digital Research, elaborado pelo pioneiro da computação pessoal, Gary Kidall.

Devido ao rápido crescimento do mercado e ao fato de que a compatibilidade descendente não significava muito no início, o período foi marcado por uma criatividade em hardware jamais vista. Obviamente, o ramo do software também começou a crescer, com a rápida aparição de uma variedade de linguagens de programação, jogos e até mesmo de aplicativos comerciais, como o popular Processador de textos WordStar.

Em pouco tempo, ninguém mais via os computadores pessoais como brinquedos ou hobby, mas sim como dispositivos de produtividade pessoal com visíveis aplicações comerciais. A era do computador pessoal estava estabelecida, de uma vez por todas. E a IBM, que há muito tempo dominava a área dos computadores de grande porte, queria a sua fatia deste bolo.

A IBM de 1980, muito mais do que a IBM atual, não era uma companhia acostumada com os mercados de mudanças rápidas e com as vendas ao consumidor final. Ela vendia máquinas

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comerciais - principalmente computadores e máquinas de escrever - a grandes empresas, utilizando sua própria tecnologia e apoiando-se excessivamente num bem estruturado sistema de vendas e prestação de serviços às grandes contas.

O ramo dos PCs precisava de algo diferente. Este novo mercado estava mudando com grande velocidade e um recém-chegado teria que se movimentar depressa. Além disto, teria que se dividir entre os usuários individuais e as empresas, mesmo que a meta principal fosse continuar a vender computadores comerciais. Isto foi o que disse William C. Lowe, diretor de laboratório da unidade de Sistemas de Nível de Entrada da IBM em Boca Raton, Flórida, ao Comitê de Gerenciamento Corporativo da IBM, o que incluía o presidente da IBM, John Open, em julho de 1980.

Lowe disse ao comitê que a IBM precisava construir um computador pessoal e que havia um espaço no mercado ainda não canalizado pela Apple e outras empresas. Contudo, disse ele ao comitê, ele não poderia ser construido dentro da cultura padrão da IBM daquela época. Sendo assim, eles lhe deram a liberdade de recrutar 12 engenheiros para formar uma força-tarefa, chamada Projeto Chess, e construir um protótipo de computador.

No mês seguinte, a força-tarefa de Lowe já tinha várias reuniões com outros representantes da jovem indústria e tomou algumas decisões importantes que, posteriormente, viriam a afetar a arena do PC pelos próximos anos. Uma destas decisões foi a de comercializar o computador pessoal da IBM através de lojas de varejo, além de oferecê-lo por meio da equipe de vendas comissionada da própria IBM. Mas talvez a decisão mais importante da companhia tenha sido a de utilizar uma "arquitetura aberta": selecionar os componentes básicos e o sistema operacional de fontes externas à IBM. Esta era uma grande mudança para a IBM que, até este ponto, projetava todos os principais componentes de suas máquinas.

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Em agosto, Lowe e mais dois engenheiros, Bill Sydnes e Lew Eggebrecht, fizeram a demonstração de um protótipo ao Comitê de Gerenciamento Corporativo, que aprovou o plano básico e deu ao Projeto Chess o OK para a criação de um computador pessoal chamado Acorn.

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Para liderar o grupo que o construiria, Lowe procurou Philip D. "Don" Estridge, outro antigo funcionário da IBM que trabalhava no laboratório de Boca Raton. Estridge recrutou uma equipe que incluía Sydnes, líder da engenharia, Dan Wilkie, responsável pela manufatura, e H. L. "Sparky" Sparks, para a liderança das vendas.

Uma das primeiras decisões a serem tomadas era a escolha do Processador que alimentaria o PC. A força-tarefa havia decidido que queria um computador de 16 bits, já que ele seria mais potente e mais fácil de programar do que as máquinas de oito bits existentes. A Intel havia anunciado recentemente o 8086 de 16 bits, mas Sydnes disse, mais tarde, que a IBM teve receio de que o 8086 fosse potente demais e concorresse demais com outros itens da IBM.

Assim, eles optaram pelo 8088, uma versão do chip com barramento de oito bits e estrutura interna de 16 bits. Esta tecnologia de oito bits oferecia o benefício adicional de trabalhar com as placas de expansão oito bits existentes e com dispositivos oito bits relativamente baratos, como os chips controladores, que poderiam, assim, ser incorporados de maneira simples e barata à nova máquina. Outra decisão importante era o software. Em julho, membros da força-tarefa fizeram uma visita à Digital Research para solicitar à empresa que ela portasse seu sistema operacional CP/M para a arquitetura 8086. Diz a lenda que seu fundador, Gary Kildall, estava pilotando seu avião naquela ocasião. Seja qual for a razão, a esposa de Kildall, Dorothy, e os advogados da DR não assinaram o contrato de exclusividade apresentado pela IBM. Assim, a equipe da IBM foi embora, seguindo ao norte, até Seattle, para reunir-se com a Microsoft, de quem esperavam obter urna versão do BASIC.

Os executivos da Microsott assinaram um contrato com a IBM para o fornecimento do BASIC e, logo, Bill Gates e a companhia estavam discutindo não só o BASIC como também um sistema operacional. Imediatamente após, a Microsoft adquiriu um sistema operacional 8086 que atendia por diversos nomes, incluindo "Quirk and Dirty DOS", ou QDOS, elaborado por Tim Patterson, de uma companhia chamada Seattle Computer

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Products. A Microsoft incrementou este sistema operacional, licenciando-o para a IBM, que o comercializava como PC-DOS.

Seguiram-se, então, meses febris de união de hardware e software, até que, numa quarta-feira, 12 de agosto de 1981, quase um ano após o OK dado ao Projeto Chess, a IBM apresentou o IBM Personal Computer. Comercializado inicialmente pelas lojas Computerland e nas Centrais Comerciais da Sears, aquele primeiro PC - com uma CPU 8088, 64Kb de RAM e uma unidade de disco flexível de 160 Kb de face simples - tinha um preço de tabela de US$2.880.

Quando o IBM PC foi lançado, em outubro, Estridge - então considerado o pai do PC - e sua equipe eram o exemplo do sucesso.

A História do PC - 1982/83: Os Primeiros Anos O PC original tinha alguns recursos ótimos - e algumas limitações óbvias. Ele trazia um Processador Intel 8088 de 4,77 MHz, anunciado como um "microprocessador 16 bits de alta velocidade", mas tinha apenas um barramento de dados de oito bits. Inicialmente, a máquina vinha com 16 Kb de RAM padrão na placa-mãe, expansíveis para 64 Kb, mas seu Processador tinha uma capacidade maior, porque os 20 bits de endereços permitiam que o PC enviasse um megabyte de memória física, o que era um enorme progresso para a época.

Embora o PC fosse capaz de exibir gráficos, era preciso comprar uma placa de vídeo opcional para isto, já que a máquina básica possuía apenas uma placa monocromática. E, é claro, o preço anunciado não incluía um monitor ou mesmo uma porta paralela ou serial.

Limitações à parte, ele foi um sucesso imediato. Começando no primeiro semestre, segundo o IDC, a IBM vendeu 35.000 máquinas até o final de 1981, e as vendas gerais foram cinco vezes maiores do que as projeções iniciais. As vendas foram auxiliadas, em parte, por uma brilhante campanha de marketing que trazia o Vagabundo, personagem popularizado por Charles Chaplin em filmes como Tempos Modernos.

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As limitações técnicas do PC original ajudaram a acionar o desenvolvimento de outras companhias, os mercados de terceiros. Por exemplo: o barramento de dados de oito bits abriu as portas para os fabricantes de placas de extensão, que, imediatamente, começaram a oferecer placas com portas seriais ou paralelas, de vídeo ou memória adicional de até 256 Kb por placa. Estas placas podiam ser combinadas para que a máquina pudesse fazer uso dos 640 Kb totais do 1 Mb de espaço alocado aos endereços de memória física do Processador. Diversos desenvolvedores ofereciam uma grande variedade e recursos de extensão. Os principais representantes desta época incluíam a Tecmar, a Quadram e a AST, que ficou famosa, originalmente, por sua placa de extensão Sixpack.

Na área do software, as opções também aumentaram rapidamente. Era incluída no PC uma linguagem BASIC, o que fez com que muitos dos primeiros usuários aprendessem a linguagem, portassem aplicativos de outros sistemas e criassem vários utilitários interessantes. O antigo colunista da PC Magazine, Peter Norton, em especial, começou um pequeno negócio de fornecimento de valiosos e baratos utilitários para PC, e o crescimento rápido de sua companhia acompanhou o ritmo de uma indústria de bilhões de dólares, a indústria dos utilitários.

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Obviamente, havia uma grande quantidade de programas elaborados especificamente para o IBM PC. Além de fornecer o PC-DOS, a IBM também anunciou o suporte ao CP/M-86 e ao UCSD p-System, sistemas operacionais que representavam uma pequena concorrência. Na verdade, havia poucos programas escritos para estes sistemas, mas não demorou muito para que o PC-DOS fosse aceito como padrão.

Quando o PC foi lançado, a IBM anunciou diversos aplicativos iniciais, incluindo o VisiCalc, uma série de programas de contabilidade da Peachtree Software, um processador de textos chamado EasyWriter, da Information Unlimited Software (IUS), e o Microsoft Adventure.

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Na maioria dos casos, estes produtos logo eram desafiados por uma variedade de outros pacotes. Embora o EasyWriter tenha sido o primeiro, por exemplo, produtos mais capacitados - incluindo o WordStar, o MultiMate e, mais tarde, o WordPerfect, fizeram com que ele desaparecesse nos anos seguintes.

Na arena das planilhas eletrônicas, os autores e o divulgador do VisiCalc tiveram um desentendimento que atrasou as versões futuras e, dentro de pouco tempo, ele foi desafiado por novos exemplos de "software integrado". O mais importante deles foi um novo programa projetado por Mitch Kapor, que havia feito, anteriormente, um pacote para fluxogramas que trabalhava com o VisiCalc nas máquinas Apple II. Kapor deu à sua nova empresa o nome Lotus Development Corp. e a seu produto o nome Lotus 1-2-3.

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No princípio, o 1-2-3 enfrentou a concorrência de programas como o Context MBA, que se apoiava no UCSD p-System. Mas o 1-2-3 foi elaborado diretamente para o sistema de vídeo do IBM-PC, ignorando o DOS. Como resultado, era bastante rápido e assumiu a liderança no mercado do PC. Assim como o VisiCalc havia sido o "aplicativo definitivo" para o Apple II, o Lotus 1-2-3 representou o papel principal no IBM PC.

Dentro de pouco tempo, vimos uma variedade de programas em outras áreas, desde aqueles nascidos em outras plataformas - como o DBASE II, da Ashton Tate - até muitos programas elaborados especificamente para o IBM PC, incluindo o Microsoft Flight Simulator.

Em 1983, a maior parte dos principais desenvolvedores de software estava escrevendo seus programas para o IBM PC e o efeito sobre a maioria das máquinas concorrentes era estarrecedor. Muitas companhias centralizadas em padrões mais antigos de hardware e software não-IBM, como a Osborne Computer, fecharam suas portas.

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Alguns concorrentes acabaram decidindo que o DOS (termo genérico para o sistema operacional que a Microsoft chamava de MS-DOS e a IBM de PC-DOS) era o padrão, mas a compatibilidade entre as muitas máquinas não foi alcançada assim tão fácil. Durante algum tempo, diversos desenvolvedores ofereceram máquinas semelhantes ao IBM PC, "só que melhores". A DEC Rainbow oferecia a compatibilidade não só com o 8088 como também com o software Z80. O 6300 da AT&T e, depois, o Texas Instruments Professional ofereciam gráficos melhores. E a Microsoft logo anunciou que o DOS 2.x se tornaria o padrão.

Apesar desta corrida pela compatibilidade com o DOS, todas estas máquinas acabaram fracassando, principalmente porque não eram capazes de executar todos os programas que o IBM PC executava. A maioria dos primeiros aplicativos populares, como o Lotus 1-2-3, o Wordstar, o SuperCalc e o MultiPlan, eram aplicativos DOS, mas foram elaborados para enganar o código BIOS e o DOS e lidar diretamente com o hardware IBM, obtendo benefícios como exibições mais rápidas. Alguns programas eram elaborados para DOS genérico e alguns eram portados para diversas máquinas novas, mas, em pouco tempo, todos os usuários desejavam a verdadeira compatibilidade com IBM. O Lotus 1-2-3 e o Microsoft Flight Simulator eram utilizados universalmente como programas para teste de compatibilidade com IBM, pois eram escritos em linguagem Assembly e

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conversavam diretamente com o hardware do PC. Foi aí que o padrão PC realmente começou a se estabelecer.

Em 1982, três ex-gerentes da Texas Instruments formaram a Compaq Computer Corp. para criar um verdadeiro portátil compatível com IBM, que começou a ser comercializado em março de 1983. Embora não fosse realmente o primeiro compatível - a Columbia Data Systems já havia lançado um - o Compaq Portable demonstrou que havia mercado para uma máquina verdadeiramente compatível com IBM ao ganhar uma tremenda atenção com o PC portátil. É claro que, naquele tempo, portátil significavam meros 12 quilos.

A IBM não viria a introduzir uma máquina similar até o ano seguinte. E, nos anos seguintes, o campo dos portáteis se tornaria ainda mais populoso à medida em que diversas companhias, como Data General, Texas Instruments, Toshiba, NEC e, é claro, Compaq, tornaram-se concorrentes, com computadores realmente laptop e inovadores - que não só podiam ser carregados num avião como também utilizados dentro de um.

A Compaq deu continuidade ao lançamento do PC portátil com seu primeiro PC de mesa, o Deskpro, em julho de 1984 e, nos anos que se seguiram, os "clones" do PC - portáteis e de mesa - se estabeleceriam como parte do padrão industrial.

Em 1984, a IBM tentou estender seu padrão de duas maneiras. Em março do referido ano, introduziu o PCjr, um "computador doméstico" de US$1.300 baseado em 8088 que ficou conhecido por seu infame teclado sem fio com teclas minúsculas. Foi um fiasco.

A IBM obteve muito mais sucesso com a introdução, em agosto, do PC AT (Advanced Technology). Baseado no Processador 80286 da Intel, o AT custava aproximadamente US$4.000 com 256 Kb de RAM, mas sem disco rígido ou monitor. Modelos com um disco rígido de 20 Mb eram vendidos por quase US$6.000. O principal é que o AT impulsionou a indústria até o nível seguinte de Processador, mantendo a compatibilidade com quase todos os aplicativos originais para PC.

Diversos padrões importantes estrearam junto com o AT, especialmente o barramento de expansão 16 bits que resiste até

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hoje, ou o padrão de vídeo EGA, que trabalhava com resolução de 640 por 350 em 16 cores. Ao mesmo tempo, a IBM e a Microsoft introduziram o DOS 3.0, que seria o padrão por muitos anos, e a IBM lançou o TopView, um sistema primitivo de janelas que permitia aos usuários a exibição de vários aplicativos simultaneamente.

Também neste ano, a Hewlett-Packard introduziu a primeira impressora a laser, embora as impressoras matriciais e de margarida continuassem a dominar o mercado por alguns anos. Durante este período, começavam a aparecer os primeiros pacotes de BBS. Os serviços on-line orientados a negócios, como a CompuServe, ainda estavam a anos de distância da dominação do mercado.

No início dos anos 80, ainda havia alguns outros tipos de máquinas no mercado. O Commodore 64 e a série 800 da Atari ainda eram computadores domésticos populares. Mas seus dias estavam contados, embora viessem a ressurgir, alguns anos mais tarde, como espécies de máquinas de jogos dedicadas criadas pela Nintendo e pela Sega.

No mercado comercial, o CP/M ainda existia, mas estava desaparecendo rapidamente do uso geral. A Apple continuava a ter muito sucesso com a família Apple II. A companhia fracassou, porém, com a introdução do Apple III e com o tecnicamente impressionante Lisa, baseado na tecnologia inspirada pelo trabalho do Centro de Pesquisas de Palo Alto da Xerox. O Lisa foi a primeira grande tentativa de popularizar a combinação de mouse, janelas, ícones e interface gráfica com o usuário. Mas o preço de quase US$10.000 não conseguiu a aceitação do mercado.

Em vez disto, o mundo comercial começava a adotar programas como o Lotus 1-2-3 e o WordPerfect, que logo se tornariam acessórios corporativos. Estes programas popularizaram o padrão PC e a interface DOS baseada em caracteres. Talvez aquela interface não fosse tão excitante quanto a tecnologia gráfica do Lisa, mas funcionava, era acessível e logo tornou-se dominante. Estes desenvolvimentos definiram o ritmo da próxima década da computação pessoal.

A História do PC - 1984/86: Vislumbrando o futuro

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À medida que os usuários corporativos de todo o mundo passavam para o padrão DOS, avaliavam o sistema operacional como um grande avanço sobre os micros dos anos anteriores. O padrão PC levou ao desenvolvimento do mercado de "clones" de diferentes tipos de máquinas que seriam capazes de executar os programas elaborados para o padrão. E os desenvolvedores de software de todo o mundo beneficiavam-se do crescente mercado para novos tipos de software aplicativo para DOS. Esta pode não ter sido uma era gráfica, mas certamente foi produtiva.

Foi então que um anúncio de TV, exibido apenas uma vez - durante o Super Bowl de 1984 - abriu as portas para o futuro da computação pessoal. Ele mostrava um jovem corredor passando por uma multidão de zangões sem rosto para atirar um martelo que estilhaçava uma imagem em tela do Big Brother (símbolo norte-americano do autoritarismo).

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"Macintosh, para que 1984 não seja como 1984". E, assim como a imagem em tela destruída pelo martelo, a imagem do micro compatível com IBM como o computador definitivo também foi estilhaçada.

De repente, um computador era capaz de oferecer mais do que um "prompt" de DOS e uma interface baseada em caracteres; ele podia ter várias janelas, menus suspensos e um mouse. Os usuários de PC, se notaram o fato, preferiram aguardar...

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Não que o Macintosh não fosse atraente para os usuários de PCs. O fato é que o Mac, infelizmente, não era compatível com seus programas e equipamentos já existentes. Inicialmente, ele também não tinha os aplicativos que eles desejavam, não era expansível e se parecia um pouco com um brinquedo. Mesmo assim, muitos desenvolvedores de software tentaram fornecer uma funcionalidade equivalente em programas. Se a Apple, inspirada pelo trabalho da Xerox em seu Centro de Pesquisas de Palo Alto, apontou o caminho para as interfaces gráficas com o usuário, o PC escolheu um caminho tortuoso para chegar até lá. Mas, com certeza, não foi por falta de tentativas.

Um dos primeiros produtos gráficos para PC lançado e fracassado foi o TopView, da IBM. Ele era baseado apenas em caracteres, mas permitia que vários programas fossem executados na tela de uma só vez. Infelizmente, ele também não era assim tão compatível, e os desenvolvedores muitas vezes eram forçados a adaptar seus programas para que eles funcionassem com TopView. Tendo abraçado a compatibilidade como a palavra de ordem da computação "padronizada", os usuários se afastaram.

Obviamente, a Apple não era a única companhia comprometida com a computação gráfica. No final de 1983, a Microsoft já havia começado a trabalhar com programas aplicativos para o

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Macintosh e, no mesmo ano, anunciou o Windows 1.0 para PC. Esta primeira versão do Windows foi prometida como uma extensão ao DOS e colocada frente-a-frente com os concorrentes gráficos da época, em especial o Lisa (uma tentativa anterior da Apple) e o VisiOn (um ambiente gráfico promovido pela VisiCorp, editores da planilha eletrônica VisiCalc).

O Windows anunciado era muito diferente do Windows finalmente lançado, depois de muitos atrasos, quase dois anos depois. As primeiras versões, também conhecidas pelo nome Gerenciador de Interface, se pareciam com versões anteriores do Microsoft Word for DOS, com uma única listagem de comandos na parte inferior da tela, e não os modernos menus suspensos. As janelas não podiam ser sobrepostas, apenas organizadas lado a lado (opção ainda presente no Windows moderno, porém raramente utilizada). O básico estava lá, inclusive um mouse utilizado para a seleção dos itens de menu, a capacidade de recortar e colar e, inicialmente, urna lista com 30 desenvolvedores de hardware que o aceitariam - o que representava a maioria do mundo que trabalhava com o DOS, com a notável exceção da IBM.

Na época em que foi lançado, o Windows havia evoluído para incluir os menus suspensos e também os aplicativos Windows Write e Paint, além da memória, acima dos 640 Kb. Mas ele não conseguiu a aceitação do mercado, em parte porque não havia muitos aplicativos Windows disponíveis, embora a primeira versão para PC do PageMaker tenha chegado em 1986.

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Dentre os sistemas de janelas concorrentes posteriormente lançados, a tentativa mais bem sucedida da era pode ter sido a da Quarterdeck, uma pequena empresa de Santa Monica, Califórnia. Muitos usuários avançados executaram o DESQview da Quarterdeck durante anos, como seu sistema multitarefa de janelas.

No fronte do hardware, embora a Intel tenha introduzido o Processador 80386 de 16 MHz em 1985, não encontrou seu caminho imediatamente até os sistemas compatíveis com IBM, como eram conhecidos. Talvez os desenvolvedores estivessem esperando que a IBM tomasse a frente com o 386, mas a companhia tinha outros planos. Deixaram para a Compaq e a Advanced Logic Research a introdução dos primeiros PCs baseados em 386, ocorrida em setembro de 1986.

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Um grande destaque foi o momento em que começaram a florescer as redes para computação pessoal. A Novell havia introduzido o NetWare em 1983, e ele estava começando a se estabelecer como um padrão corporativo.

O mesmo ocorreu com o Ethernet, inventado no final da década de 70 mas apenas agora começava a ter a aceitação corporativa. Outro entre os primeiros destaques de ambiente de rede foi o próprio padrão da IBM, o Token Ring, surgido no final de 1985.

A opção 386 da Compaq definiu muito bem um novo padrão para a indústria. Repentinamente, as companhias não eram mais obrigadas a seguir a IBM - com a nova tecnologia, elas mesmas

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podiam ser líderes. No lugar de um mundo de computação IBM, tínhamos a era dos compatíveis com PC, incitada pelos fabricantes de BIOS compatíveis, como a Phoenix Technologies e a AMI.

O software integrado passou a ser o assunto em pauta de 1984, com a introdução do Lotus Symphony e do Framework, da Ashton Tate, programas que combinavam processarnento de textos, planilha eletrônica, gráficos e funções de base de dados num único pacote integrado. Embora jamais fossem tão bons quanto o previsto por seus desenvolvedores, eles prenunciaram o dia em que os pacotes de aplicativos dominariam os aplicativos de produtividade.

Acima de tudo, esta foi uma era de falsos começos em vários aspectos. A taxa de crescimento das vendas de PCs caiu um pouco, talvez um reflexo da falta de ênfase nos usuários domésticos. Além disto, boa parte da indústria estava em suspense, esperando pelo que era conhecido, na imprensa, como o "PC II" da IBM e pelo "Novo DOS".

A História do PC - 1987/89: Computação Corporativa Em 1987, o mundo do PC estava pronto para algo novo, o que realmente aconteceu no mês de abril, quando a IBM anunciou sua oferta mais ambiciosa até então.

As primeiras máquinas PS/2 da IBM iam do Modelo 30 (com um Processador Intel 8086 de 8 MHz e duas unidades de disco flexíveis de 3,5") aos Modelos 50, 60 (ambos com CPUs 286 de 10 MHz) e 80 (a primeira máquina da IBM baseada em 386, apresentando um Processador de 16 MHz ou 20 MHz).

As máquinas PS/2 trouxeram avanços sobre o padrão PC em muitos aspectos. Embora outras companhias, em especial a HP e a Apple, tenham sido as primeiras a apresentar as unidades de disco flexível de 3,5", o PS/2 fez delas um padrão, em parte porque não era possível encontrar uma unidade interna de 5,25" em vários destes modelos. E, embora outras companhias tenham anunciado antes as placas de vídeo que forneciam a resolução de vídeo de 640 por 480, o PS/2 a trouxe com o novo padrão Video Graphics Array (VGA), que continua sendo o padrão nos dias atuais. O VGA era um grande avanço sobre o padrão EGA

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anterior, que oferecia a resolução de 640 por 350. Agora, cada pixel ficava mais "quadrado" e as imagens, menos distorcidas. O VGA também permitia a exibição simultânea de uma maior quantidade de cores na tela.

O aspecto mais controverso do PS/2, no entanto, foi a introdução de um novo barramento para as placas de extensão - a arquitetura Micro Channel. A Micro Channel oferecia enormes vantagens sobre o antigo barramento utilizado no AT: era mais rápido, simplificava o processo de configuração das placas e aumentava a capacidade de trabalho simultâneo de duas placas de extensão.

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Mas a Micro Channel não era compatível com as máquinas IBM anteriores e com as centenas de placas de expansão já existentes no mercado. Além do mais, a IBM inicialmente cobrou dos desenvolvedores uma quantia muito maior por uma licença de uso da arquitetura Micro Channel do que para o antigo projeto AT. Esta era a tentativa da IBM de retomar sua liderança técnica - e a fatia do mercado - dos desenvolvedores de clones e a companhia estava disposta a ir longe, a ponto de abandonar a compatibilidade de hardware.

Em novembro, a IBM já cantava a vitória pela venda de um milhão de dispositivos PS/2 em sete meses, um espaço de tempo quatro vezes menor que o necessário para a venda de um milhão de unidades de seu PC original.

Os desenvolvedores de máquinas compatíveis estudaram as novas especificações e, gradualmente, foram se adaptando à nova unidade de 3,5" (embora a maioria dos desenvolvedores de software tenha sido forçada a fornecer seus programas em discos de 3,5" e 5,25" ainda por um bom tempo) e aos padrões de vídeo VGA.

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Mas a Compaq, a AST e outras companhias que acompanharam a liderança da IBM nos computadores baseados em 8088 e, depois, 286 (compatíveis com AT) torceram o nariz para as taxas de licenciamento e a falta de compatibilidade descendente da arquitetura Micro Channel. Em vez disto, apareceram, no ano seguinte, com uma alternativa chamada EISA (Enhanced Industry Standard Architecture, ou Arquitetura Industrial Padrão Avançada) que oferecia diversas vantagens, como um caminho de dados de 32 bits, apesar de manter a compatibilidade com as placas de expansão 16 bits existentes.

Durante anos, a indústria discutiu os méritos da Micro Channel e do EISA. Eventualmente, a Micro Channel ganhava o suporte entre os clientes da IBM e a EISA reunia adeptos para uso em servidores de PCs. Mas a maioria dos usuários finais continuava a comprar placas de extensão que ainda eram compatíveis com AT, que ficaram conhecidas como placas ISA (de Industry Standard Architecture, ou Arquitetura Industrial Padrão). A era em que a IBM podia ditar - sozinha - as mudanças nos padrões industriais de hardware para PC, tinha chegado ao fim.

Entretanto, se o mundo do hardware seria fragmentado após o anúncio do PS/2, o efeito deste desenvolvimento não era nada, comparado à reação ao anúncio feito, ao mesmo tempo, sobre um novo sistema operacional desenvolvido em conjunto pela IBM e

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pela Microsoft: o OS/2. Neste anúncio inicial, os executivos das duas companhias se levantaram e proclamaram seu desejo de fazer do OS/2 o substituto DOS. Afinal, disseram, não era gráfico, não oferecia uma interface com o usuário padronizada, só podia executar um programa por vez e ainda era oprimido pelo limite de endereço de memória de 640 Kb. Já que a Microsoft havia falado, durante algum tempo, sobre um "DOS multitarefa" e a IBM tinha deixado escapar que estava desenvolvendo sua própria alternativa, as duas companhias assinaram um contrato de desenvolvimento em conjunto, segundo o qual o OS/2 seria o casamento destas duas propostas.

Quase desde o princípio, porém, este contrato foi problemático. O OS/2 deveria ser lançado, inicialmente, em duas versões. A primeira - lançada no final de 1987 - seria o OS/2 1.0, que ofereceria a multitarefa preemptiva e o suporte a grandes aplicativos, com até 16 Mb, que era o limite do Processador 286. Mas a verdadeira versão gráfica - a que atraiu a atenção da maioria dos usuários e desenvolvedores seria o OS/2 1.1 com o Presentation Manager, lançada apenas em outubro de 1988. O maior problema seriam as questões de compatibilidade. O OS/2 foi escrito, originalmente, para o 286, mas o próprio processador tinha algumas limitações. O 286 havia introduzido o que a Intel chamava de memória "protegida" e a capacidade de elaborar programas que ultrapassavam a barreira dos 640 Kb, mas isto era feito de um modo que, algumas vezes, o tornava incompatível com os programas já existentes baseados em 8088/8086. Uma "caixa de compatibilidade" permitia que os usuários executassem alguns programas DOS existentes, mas as primeiras versões da caixa de compatibilidade não eram tão compatíveis assim; muitos usuários a chamavam de "caixa de penalidade".

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O 386 da Intel viria resolver muitos destes problemas ao introduzir o que era conhecido como modo 86 Virtual, permitia que uma máquina executasse diversas sessões 8086. O OS/2, no entanto, não trabalharia com o modo virtual ainda por muitos anos. Além disto, havia alguma confusão sobre uma versão isolada do OS/2, apenas da IBM, chamada Extended Edition, que adicionaria um gerenciador de base de dados e comunicações. Finalmente, alguns usuários pensavam que o nome OS/2 significava que o sistema operacional funcionaria apenas em máquinas PS/2.

Enquanto isto, a Microsoft continuava trabalhando no Windows, definido pela companhia como um produto que trabalharia sobre o DOS e que seria uma "transição" para o OS/2.

Em 1987, o Microsoft Windows 2.0 melhorava a interface com o usuário do Windows para incluir recursos como a sobreposição de janelas, a capacidade de redimensionamento das janelas e os aceleradores de teclado (teclas de atalho). Deste modo, ele passou a ser muito mais parecido com o Windows e o OS/2 atuais, além de fornecer um melhor suporte aos padrões SAA (de Systems Application Architecture, ou Arquitetura de Aplicativos de Sistema) de interface com o usuário da IBM do que um ano antes do OS/2. Mas esta versão funcionava em modo real compatível com 8088/8086, e não no modo protegido mais sofisticado do 286, ou seja, os aplicativos ainda não faziam muito bem a multitarefa e ainda eram limitados em tamanho.

Ainda naquele ano, o Windows foi dividido em Windows/286 e Windows/386, sendo que o último adicionava capacidades

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multitarefa, a capacidade de executar aplicativos em máquinas virtuais e o suporte a até 16Mb de memória. O Windows/386 não significa muito hoje em dia, mas, àquela época, era o máximo. E foi ele quem marcou o início da competição entre o OS/2 e o Windows, embora a IBM e a Microsoft negassem o fato. O mais importante é que tornou-se claro que o Windows e o OS/2 não eram tão compatíveis quanto o prometido inicialmente, já que os dois suportavam modelos muito diferentes para desenhar os gráficos na tela. Isto deixou confusos os desenvolvedores de software, que recebiam, da Microsoft, instruções para elaborarem programas para o Windows com a promessa de que estes poderiam ser facilmente passados para o OS/2 mais tarde e, da IBM, para escreverem seus programas diretamente para o OS/2.

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Nenhuma das plataformas recebeu muito suporte naquela época. O suporte inicial de aplicativos para a plataforma Windows era um tanto limitado, com exceção do Aldus PageMaker e do Microsoft Excel, lançados em 1987. O espantoso é que não teríamos um Processador de textos completo para Windows até o final de 1989, quando surgiram o AmiPro, da Samma

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(posteriormente comprado pela Lotus e atualmente vivendo sob o nome Word Pro), e a primeira versão do Microsoft Word. Praticamente todos os principais desenvolvedores prometiam o suporte à versão gráfica do OS/2, mas os aplicativos custavam a aparecer.

O mundo do PC, pelo contrário, se acomodava num mar de aplicativos DOS e ambientes de rede básicos. De maneira lenta, porém decidida, os computadores tornavam-se parte da vida comercial de praticamente todos os trabalhadores de colarinho branco. Não eram excitantes, mas certamente funcionavam.

A despeito de todas as promessas, o mundo da computação no final da década seguia com padrões que já existiam há anos, como o DOS e o barramento ISA, e com um monte de propostas para o futuro - porém sem uma direção clara. A IBM não havia conseguido estabelecer um novo rumo para si mesma e para a indústria e nenhum outro desenvolvedor havia realmente se destacado com definições de padrões.

A História do PC - A Era do Windows - 1990/94

Se o mundo da computação estava procurando por um novo padrão ou não, ele encontrou um em maio de 1990, quando a Microsoft finalmente lançou o Windows 3.0.

O Windows 3.0 era executado sobre o DOS e, portanto, oferecia compatibilidade com os programas DOS. Ele se beneficiava do processador 386, podendo fazer a multitarefa com programas DOS e também com programas Windows. A interface com o usuário foi projetada para se parecer com o Presentation Manager, trazendo um Gerenciador de Programas baseado em ícones e um Gerenciador de Arquivos em estilo árvore, incluindo avanços como ícones sombreados. Embora o Windows 3.0 tenha exigido revisões mínimas de praticamente todos os programas Windows existentes na época, não havia muito a ser revisado. Além do mais, imediatamente após a introdução do Windows 3.0, começaram a aparecer os aplicativos, liderados pela divisão de aplicativos da própria Microsoft e seguidos por praticamente todos os outros grandes desenvolvedores. Mesmo depois do anúncio do Windows 3.0, a Microsoft e a IBM continuavam falando

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sobre o OS/2 e, especialmente, sobre o OS/2 2.0, a primeira versão 32 bits real que viria a aparecer, finalmente, em 1992.

Para contundir ainda mais as coisas, enquanto a IBM posicionava o OS/2 como o futuro sistema operacional para todos os usuários, a Microsoft posicionava o OS/2 como um topo de linha, apenas para os aplicativos missão crítica e baseados em servidor. Em vez disto, a Microsoft começou a falar sobre o OS/2 3.0 (não confundir com o posterior IBM OS/2 Warp 3.0), que adicionaria segurança e suporte avançados a multiprocessador, sendo capaz de executar aplicativos Windows e Posix diretamente. Neste cenário, o Windows NT era o núcleo sobre o qual se apoiariam o DOS, o Windows, o OS/2 e o Posix.

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As duas companhias finalmente separaram suas estratégias no início de 1991, com Jim Cannavino, da IBM, e Bill Gates, da Microsoft, brigando como um casal durante um divórcio litigioso. O OS/2 conquistou um forte nicho em algumas grandes aplicações corporativas, auxiliado por sua estabilidade e robustez, comparadas ao Windows 3.x. Mais tarde, a IBM faria uma última tentativa de fazer do OS/2 o principal sistema operacional com seu OS/2 Warp 3.0, mais orientado ao consumidor comum e lançado no final de 1994. Ele venderia milhões de cópias mas não diminuiria a grande inclinação da indústria pelo Windows.

A Microsoft viria a transformar seu antigo "OS/2 3.0" no Windows NT 3. 1, que foi lançado em 1993 sem o suporte gráfico ao OS/2 e recebido, inicialmente, como um sistema operacional para servidores de aplicativos, concorrendo, principalmente, com o OS/2 da IBM.

Para a maioria dos usuários de PCs, a Microsoft ofereceu o Windows 3.1 avançado no final de 1991, que adicionava uma melhor integração de aplicativos, recursos arrastar-e-soltar e uma maior estabilidade. No início dos anos 90, ele se tornou o padrão dominante para os aplicativos para PC e a Microsoft ocupou o papel de líder na definição das especificações multimídia.

A Microsoft viria a dominar muitas áreas mais na computação por esta mesma época. Seus produtos Visual Basic e Visual C++ venceram a grande concorrência da Borland no domínio de linguagens de programação. Além disto, os aplicativos Microsoft - liderados pelo pacote Office, contendo o Word, o Excel, o PowerPoint e, mais tarde, o Access tomaram grande parte do mercado de programas aplicativos (o que foi auxiliado, em parte, pelos atrasos nas versões do Lotus 1-2-3, WordPerfect e DBASE para Windows, sendo que este último foi adquirido pela Borland).

Neste período, o Macintosh, da Apple, continuava a crescer e expandir-se e encontrou nichos nas artes gráficas, na multimídia e na educação. Mas, na maioria das empresas e órgãos governamentais, o principal sistema comercial era aquele que seguia os padrões do PC original. Àquela época, o termo compatível com IBM já tinha saído de moda, para ser

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substituído pelo Processador como a principal peça descritiva de hardware.

A era do 286 já havia terminado no final de 1988, após a introdução do 386SX da Intel, um Processador que possuía os componentes internos de 32 bits do 386 e um barramento de dados 16 bits como o 286, o que o tornava barato. Este e o 386 original rebatizado como 386DX dominaram as vendas de computadores durante anos. Em abril de 1989, a Intel apareceu com seus processadores 486. Com 1,2 milhões de transistores, o 486 era, efetivamente, uma versão mais rápida e mais refinada do 386 somada a um co-processador matemático que executava todos os aplicativos escritos para o 386 sem quaisquer problemas.

Desta vez, ninguém esperou pela IBM ou pela Compaq. Dezenas de desenvolvedores se apressaram para tornar disponíveis suas máquinas 486 o mais rápido possível após a introdução da Intel, e estas máquinas tinham uma velocidade de execução 50 vezes maior que o IBM PC original.

A Intel introduziu seu Processador Pentium de 60 MHz em março de 1993, mas não eram apenas os processadores que continuavam a avançar. Os discos rígidos ficavam cada vez maiores e mais velozes. E a tecnologia de exibição gráfica progrediu das placas de vídeo de "buffer de quadro" para as aceleradores gráficas, que trabalhavam diretamente com o Windows a fim de aumentar os tempos de resposta de tela e melhorar os gráficos em geral.

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Neste período, as redes locais corporativas realmente começaram a decolar. A IBM promovia, então, o Office Vision, que deveria ser executado em todas as plataformas SAA, inclusive sobre o OS/2. E praticamente todos os gigantes do Desenvolvimento de sistemas tinham suas estratégias multiplataforma para a automação de escritórios, como o All-In-One da DEC. Quase todos fracassariam dentro de um espaço de tempo relativamente curto. Quem realmente alcançou o sucesso foram os servidores de PC, que abrigavam seus próprios dados e podiam fazer ligações com grandes bases de dados corporativas. No fronte do hardware, o Compaq Systempro, introduzido em 1989, liderava os grandes aplicativos que antes viviam em minicomputadores e outros grandes sistemas. No lado do software, chegava ao mercado o SQL, e companhias como a Oracle e a Sybase começavam a ter como alvos os desenvolvedores para PC. As ferramentas de desenvolvimento rápido de aplicativos, ou RAD, logo facilitaram a criação de boas interfaces com o usuário para o acesso a dados corporativos.

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O correio eletrônico (email) é aceito no dia-a-dia das corporações com produtos, como o cc:Mail, mais tarde adquirido pela Lotus, e mais um punhado de concorrentes menores. Em dezembro de 1989, a Lotus mudou a fórmula com o Lotus Notes, o primeiro aplicativo de "groupware".

Em 1994, a Microsoft e a Intel já vestiam o manto da liderança na indústria do PC, o Windows tinha-se estabelecido como o padrão para aplicativos e as redes estavam definitivamente no mercado comum.

A História do PC: A Era On-Line - 1995/97 No começo de 1995, poderíamos esperar que novos sistemas operacionais da Microsoft e novos chips da Intel continuassem sendo o carro-chefe da computação ainda por muitos anos, levando-se em conta o histórico dos anos anteriores. Eles ainda são importantes, mas talvez a mudança mais importante destes últimos anos tenha vindo de um grupo de estudantes da Universidade de Illinois. Foi lá que, no início de 1993, Marc Andreessen, Eric Bina e outros que trabalhavam para o National Center for Supercomputing Applications (NCSA) apareceram com o Mosaic, uma ferramenta que seria utilizada para paginar a Internet.

A Internet, é claro, já existia há muitos anos, datando do início dos anos 60, quando o órgão de Defesa de Projetos de Pesquisa Avançada (DARPA) do Pentágono estabeleceu as conexões com muitos computadores de universidades. Enquanto a Internet crescia, o governo transferiu seu controle para os sites

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individuais e comitês técnicos. E, em 1990, Tim Berners-Lee, então no laboratório de física CERN, em Genebra, Suíça, criou a Linguagem de Marcação de Hipertexto (HTML), uma maneira simples de ligar informações entre sites da Internet. Isto, por sua vez, gerou a World Wide Web (www), que apenas aguardava por um paginador gráfico para começar a crescer.

Após o lançamento do Mosaic ao público, no final de 1993, repentinamente, a Internet - e, em particular, a Web - podiam ser acessadas por qualquer pessoa que tivesse um computador pessoal, fato auxiliado, em parte, nela possibilidade de transferirlivremente a versão mais recente de vários paginadores diferentes. E, dentro de pouco tempo, parecia que todo o mundo - e todas as companhias - estava inaugurando seu site na Web.

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Novas versões de paginadores da Web também chegaram rapidamente. A Netscape Corp. - uma nova companhia formada por Andreessen e Jim Clark, que havia sido um dos fundadores da Silicon Graphics - logo começou a dominar o ramo de paginadores Web. O Netscape Navigator acrescentou vários recursos, inclusive o suporte a extensões (o que, por sua vez, levou a diversas extensões multimídia) e a máquina virtual Java (que permitia aos desenvolvedores elaborar aplicativos Java que podiam ser executados dentro do paginador).

A tremenda empolgação ocasionada pela explosão da World Wide Web chegou perto de eclipsar o maior anúncio da Microsoft neste período: o Windows 95. Introduzido em agosto de 1995, a estréia do software foi acompanhada por um entusiasmo maior do que qualquer outro anúncio de computação da era.

O Windows 95 era a versão do Windows pela qual muitos usuários estiveram esperando. Ele permitia a utilização de aplicativos totalmente 32 bits, tinha a multitarefa preemptiva, era compatível com Plug-and-Play, suportava novos padrões de e-mail e comunicações e, logicarnente, trazia uma nova interface com o usuário. Na verdade, muitos usuários pensavam que a nova interface, que incluía um menu "Iniciar" e uma área de trabalho de programas com pastas e ícones, deixaria o Windows muito mais próximo do projeto Lisa original ou do Macintosh de dez anos atrás.

A Microsoft passou anos prometendo um Windows 32 bits, chegando a dizer que ele estaria pronto em 1992, e os desenvolvedores passaram um longo tempo aguardando pelo "Chicago", como era conhecido o Windows 95 durante o desenvolvimento. Urna vez lançado, o Windows 95 rapidamente tornou-se o padrão para a computação de usuário final, fazendo com que muitos desenvolvedores tivessem suas versões de aplicativos 32 bits prontas no lançamento do SO ou imediatamente após. A Microsoft fez seguir ao Windows 95, menos de um ano mais tarde, o Windows NT 4.0, que incorporava a mesma interface com o usuário e executava a maioria dos mesmos aplicativos, utilizando interfaces de programação Win32. O Windows NT agradou rapidamente os gerentes de IT corporativos, devido a seu projeto mais estável.

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Mas ainda existe um grande espaço para avanços nos sistemas operacionais. Durante anos, os desenvolvedores de software falaram sobre as linguagens orientadas a objetos (como o C++) e sobre um sistema operacional mais orientado a objetos. Num projeto como este, dados e aplicativos deveriam ser divididos, para que os usuários pudessem trabalhar com os dados independentemente dos aplicativos individuais. O ideal seria que os dados pudessem ser disseminados ou distribuídos por diversos computadores.

A Microsoft vem falando sobre este conceito há anos, em especial na palestra "A Informação nas Pontas de Seus Dedos" de Bill Gates, realizada em novembro de 1990, que enfatizava o conceito de que todos os dados de que um usuário pode necessitar poderiam, algum dia, ser acessados por meio de um computador pessoal, independente do local onde os dados realmente residem. A idéia, disse ele, iria além dos aplicativos e consideraria apenas os dados. Este caminho levou à ênfase dada pela Microsoft aos documentos compostos, macros que funcionam através dos aplicativos, e a um novo sistema de arquivos. Algumas peças desta visão - chamada Cairo - fazem parte da interface do windows 95 e do OLE (Object Linking and Embedding). Outras ainda estão na prancheta de desenhos. É claro que os concorrentes da Microsoft continuaram seguindo seus próprios caminhos. Em 1989, a NEXT Computer de Steve Jobs apareceu com um SO orientado a objetos, destinado aos clientes corporativos e recentemente adquirido pela Apple Computer. No início dos anos 90, a IBM e a Apple fundiram dois de seus projetos - o SO "Pink" da Apple e o experimento IBM/Metaphor, chamado de Patriot Partners - para criar o Taligent. Este projeto resultou numa série um tanto extensa de estruturas, para uso dos desenvolvedores, na criação de aplicativos baseados em objetos. Mas, embora as estruturas tenham sido recentemente adicionadas ao OS/2, os planos para o Taligent como um SO isolado foram arquivados.

Uma outra tecnologia baseada em objetos está em vários estágios de desenvolvimento. O OLE, da Microsoft, que permite a criação de documentos compostos, tem sido aprimorado e hoje faz parte da especificação ActiveX, da mesma companhia. A Apple, a IBM e outras companhias surgiam com uma especificação alternativa chamada OpenDoc e tais componentes são hoje conhecidos como

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LiveObjects. A IBM definiu um padrão para que os objetos trabalhassem em conjunto ao longo de uma rede chamada Systems Object Model (SOM, ou Modelo de Objeto de Sistema), que concorre com o Component Object Model (COM, ou Modelo de Objeto Componente), da Microsoft.

Mas tudo isto tem sido eclipsado nos últimos meses pelo Java, da Sun Microsystems, que começou sua vida como uma variação do C++ projetada para uso na Internet. No ano passado, ele passou a incluir uma implementação de máquina virtual que foi incorporada aos paginadores da Netscape e da Microsoft e

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também à mais nova versão do sistema operacional da IBM, o OS/2 Warp. Muitos desenvolvedores estão atualmente desenvolvendo applets (pequenos aplicativos) e até mesmo aplicativos completos dentro do Java, na esperança de que isto venha a livrá-los de terem que se apoiar nos padrões Microsoft. Mais recentemente, a Sun, a Netscape e outras companhias estiveram promovendo a especifieação Java-Beans como um ótimo método de ligação de objetos.

Na própria Web, um dos atuais esforços são as tecnologias e produtos que permitem o fornecimento automático do conteúdo sobre a Internet, para que os usuários não precisem pesquisar informações específicas. Apresentada pela primeira vez pela PointCast, que implementou uma tela de descanso que coleta as informações da várias fontes, esta abordagem está sendo perseguida por diversos concorrentes novos, como a Castanet e a BackWeb. E tanto a Netscape quanto a Microsoft agora prometem o fornecimento de conteúdo Internet em segundo plano, com a Microsoft sempre falando em fazer disto uma parte da área de trabalho do Windows.

Para acompanhar estes desenvolvimentos de software, o hardware do computador continua evoluindo.

Máquinas cada vez mais velozes continuam sendo a palavra de ordem. O processador Pentium da Intel com 3,2 milhões de transistores foi introduzido em 1993 e, em 1995, já tinha-se tornado o Processador padrão no mercado comum da computação. A Intel deu continuidade a esta evolução com o Processador Pentium Pro, oferecendo um desempenho 32 bits ainda melhor.

No começo de 1997, a Intel introduziu as instruções MMX, o primeiro grande avanço feito ao conjunto de instruções da Intel desde o 386. Estas instruções, projetadas para melhorar o desempenho multimídia e dos jogos, foram adicionadas aos projetos Pentium e Pentium Pro. Os concorrentes da Intel - em especial a AMD e a Cyrix - planejam chips que irão concorrer com o Pentium Pro e também incluir as instruções MMX.

Ao mesmo tempo, outros tipos de hardware continuam a evoluir. As placas de vídeo ficaram mais velozes e mais poderosas e, hoje, adicionam novas capacidades explorando principalmente

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cursos Direct3D do Windows. Os discos rígidos seguem maiores e mais velozes; no começo de 1997, discos rígidos com mais de dois gigabytes começam a tornar-se recursos padrão de PCs de topo de linha.

As unidades de CD-ROM chegaram ao mercado em 1985, mas não decolaram até o início da década de 90. Hoje elas são uma peça padrão de praticamente todas as máquinas de mesa vendidas nos mercados doméstico e de pequenos escritórios, e o meio preferencial para o carregamento de aplicativos. A velocidade do CD-ROM aumentou consideravelmente; hoje, as unidades de CD-ROM 24X (uma velocidade 24 vezes maior que a das primeiras unidades) estão se tornando o padrão.

Entretanto, se a capacidade de 660Mb de um CD-ROM parecia enorme, o futuro padrão DVD - que permite um mínimo de 4,7Gb de armazenamento num único disco com o mesmo tamanho - faz do primeiro um verdadeiro anão. Isto é suficiente para um filme longa-metragem, talvez em vários idiomas ou com diversos finais.

Até mesmo as impressoras tiveram um ritmo assombroso de avanço. As impressoras a laser tornaram-se o padrão como impressoras corporativas, oferecendo uma excelente impressão em preto-e-branco, geralmente a uma alta velocidade, compartilhadas em rede. No mercado doméstico, as impressoras coloridas a jato de tinta são o padrão, proporcionando uma ótima impressão em preto-e-branco e uma boa impressão colorida por bem menos de US$400.

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Enquanto isto, algumas companhias em particular a Sun e a Oracle - argumentam que a velocidade das máquinas não é mais tão importante quanto antes, devido à prevalência da Internet. Em vez disto, estas companhias promovem uma nova especificação, o Computador de Rede, ou NC, que defende os "clientes pequenos", deixando a maior parte do processamento para os servidores, onde residem o sistema operacional e todos os aplicativos. Tais sistemas, segundo eles, seriam mais fáceis de administrar e, conseqüentemente, exigiriam um menor custo total de propriedade. A Microsoft e a Intel estão revidando com a especificação NetPC, que, segundo afirmam, terá as mesmas vantagens e mais a potência adicional e a flexibilidade dos PCs, já que os NetPCs executariam o Windows e os aplicativos existentes e permitiriam uma operação isolada.

Quantas e quais destas iniciativas em equipamentos, programas e rede terão sucesso? Como sempre, é difícil dizer. Mas está claro que a Internet e a Web serão os principais fatores nos próximos anos, assim como os inevitáveis avanços nas capacidades de hardware e software.

O que também fica claro é que, muito embora os últimos 15 anos da indústria do PC tenham sido uma corrida desesperada, os próximos 15 prometem ser ainda mais interessantes à medida em que o ritmo do desenvolvimento tecnológico continuar aumentando.