ESTUDO DOS TIPOS DE DRENAGEM NA FERROVIA NORTE-SUL … · Norte-Sul, por haver poucos estudos...
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ESTUDO DOS TIPOS DE DRENAGEM NA FERROVIA NORTE-SUL
NO TRECHO DE SANTA RITA A GURUPI – TO
STUDY OF DRAIN TYPES IN NORTH-SOUTH RAILWAY ON SANTA
RITA TO GURUPI - TO
José Carlos Soares dos Santos1
Vanessa Ferreira Alves2
Willian Mateus de Sousa Almeida3
RESUMO: A ação da água é extremamente prejudicial ao bom funcionamento de uma ferrovia, visto que o acúmulo da mesma pode causar alagamento, abatimento da plataforma ferroviária, surgimento de laqueado, colmatação do lastro, migração de lama e de finos, o que causa recalques diferenciais, perda de elasticidade do material granular, deformações no subleito, alterações na geometria da linha, e por consequência afeta o desempenho da via. Nesse sentido, um projeto/sistema de drenagem é fundamental na proteção da via ferroviária e garantia do seu bom funcionamento. Dentre um sistema de drenagem, inclui-se a drenagem superficial, responsável pelo escoamento seguro das águas superficiais que atingem a via ferroviária e pode causar alagamento, erosão, carregamento do material, e diversos prejuízos à funcionabilidade da ferrovia. Frente ao exposto, é fundamental a investigação do sistema de drenagem em ferrovias, dentre elas surge a ferrovia Norte-Sul, uma grande ferrovia longitudinal brasileira, que marca o avanço do modal ferroviário no Brasil, ligando diversos estados do país. Nesse sentido, buscou-se investigar o sistema de drenagem nesta ferrovia, no trecho compreendido entre Santa Rita – TO e Gurupi – TO, através de uma verificação visual, sendo uma pesquisa definida como um estudo de caso e bibliográfica, do tipo descritiva, explicativa, com abordagem qualitativa. Identificou-se a presença de dispositivos de drenagem superficial, dentre eles destacam-se: valeta de proteção de corte na forma trapezoidal, sarjetas nas formas triangulares e retangulares, descidas d’água em degrau com dissipadores de energia, e descidas d’água lisas também com dissipadores de energia. Identificou-se uma boa eficiência do sistema ao investigar a localização de cada um, de acordo com as características do local.
1 Acadêmico do Curso de Engenharia Civil, 10º período, Universidade de Gurupi (UNIRG), e-mail:
[email protected] 2 Acadêmica do Curso de Engenharia Civil, 10º período, Universidade de Gurupi (UNIRG), e-mail:
[email protected] 3 Orientador, Engenheiro Civil, Especialista em Segurança no Trabalho (FAIARA), Mestre em
Agroenergia (UFT), Docente do curso de Engenharia Civil da Universidade de Gurupi (UNIRG), e-mail: [email protected]
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Palavras chave: Sistema de drenagem. Drenagem superficial. Ferrovia Norte-Sul.
ABSTRACT: The action of water is extremely detrimental to the proper functioning of a railroad, since the accumulation of it can cause flooding, depletion of the railway platform, emergence of lacquer, ballast clogging, mud and fines migration, which causes differential repressions, loss of elasticity of granular material, subgrade deformations, changes in line geometry, and consequently affects the performance of the road. In this sense, a project / drainage system is fundamental in protecting the railway and ensuring its proper functioning. A drainage system includes surface drainage, which is responsible for the safe flow of surface water that reaches the railway and can cause flooding, erosion, material loading, and several damages to the railway's functionality. Given the above, it is essential to investigate the drainage system in railways, among them comes the North-South railroad, a large Brazilian longitudinal railroad, which marks the advance of the railroad in Brazil, linking several states of the country. In this sense, we sought to investigate the drainage system in this railway, in the stretch between Santa Rita - TO and Gurupi - TO, through a visual verification, being a research defined as a case study and bibliographic, descriptive, explanatory. with a qualitative approach. The presence of surface drainage devices was identified, among them: trapezoidal cut protection ditch, triangular and rectangular gutters, step-down with power sinks, and smooth water-down also with power sinks. Good system efficiency was identified by investigating the location of each system according to the site characteristics.
Keywords: Drainage system. Surface drainage. North-South Railroad.
INTRODUÇÃO
A drenagem ferroviária constitui como um sistema fundamental para a
conservação da via férrea, permitindo que a mesma mantenha-se em pleno
funcionamento, isso se dá porque a má drenagem contribui para o abatimento da
plataforma ferroviária, para o surgimento de laqueado, além da colmatação do lastro
(SILVA, 2017). A drenagem inadequada, por causar acúmulo de água no subleito e
aumento da umidade, pode ocasionar em um processo contínuo de migração de
lama e de finos, causando recalques diferenciais, perda de elasticidade do material
granular, deformações no subleito, alterações na geometria da linha, o que por
consequência afeta o desempenho da via (CORDEIRO; GUIMARÃES; MARQUES,
2015).
A superestrutura da ferrovia é constituída, respectivamente, pelos trilhos,
dormentes, fixação, lastro e sub-lastro; e a infraestrutura localiza-se logo abaixo,
composta por plataforma, cortes, aterros, obras de arte especiais e corrente,
incluindo os elementos do sistema de drenagem (SILVA, 2017).
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O sistema de drenagem é de suma importância para uma boa operação
de uma ferrovia, isso porque a presença de água, aliada à existência de solo fino na
camada de subleito, ocasionam em um bombeamento de finos e, por este modo,
prejudicam a estrutura da ferrovia, deixando-a comprometida (COSTA et al., 2015;
SILVA, 2017).
A ação da água sobre as estradas, sejam elas rodoviárias ou ferroviárias,
sempre é nociva, visto que pode alagar a via, o que as tornam intransitáveis, além
de poder destruí-las por meio dos efeitos das erosões, causadas quando a água
atinge grandes velocidades, acarreando o solo e o depositando em outros trechos
da via (ROCHA, 2013).
Nesse sentido, é fundamental a remoção da área para fora da área da
estrada através de um projeto de drenagem eficiente (ROCHA, 2013). De acordo
com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT (2015), em
um sistema de drenagem ferroviário, pode haver a existência de diversos tipos de
drenagens, definidos no projeto a partir de critérios técnico, econômico, estético e
ambiental, dentre os tipos, encontra-se: drenagem de transposição de talvegues,
drenagem superficial e drenagem subterrânea ou profunda; sendo que cada tipo
possui dispositivos distintos, com funções de acordo com a necessidade da
drenagem.
Apesar do sistema de drenagem fazer parte da infraestrutura ferroviária, a
drenagem superficial está intimamente ligada à superestrutura, em virtude do lastro
que permite a drenagem entre seus vazios, caracterizando-se como drenagem
superficial (SILVA, 2017). Além do lastro, esse tipo de drenagem também possui
dispositivos como valetas, sarjetas e bueiros, que constituem o canal de drenagem,
sendo que este pode assumir formatos como “U” e “V”, sedo utilizados de acordo
com a necessidade de drenagem da ferrovia (DNIT, 2015).
Os outros tipos de drenagem também se constituem de dispositivos,
entretanto de maiores portes, como a drenagem de transposição de talvegues com
bueiros, ponte e pontilhões, e a drenagem profunda com drenos, colchão e valetões
(DNIT, 2015).
A observar as importantes ferrovias do país, bem como seus respectivos
sistemas de drenagem, surge a necessidade de investigação quanto a Ferrovia
Norte-Sul, por haver poucos estudos pertinentes à mesma.
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A Ferrovia Norte-Sul (FNS), é uma grande ferrovia longitudinal brasileira,
que marca o avanço do modal ferroviário no Brasil, começando a ser construída em
1987, sob responsabilidade da Valec, para integrar, inicialmente de Açailândia – MA
a Brasília – DF, posteriormente mudando para Anápolis – GO, e em 2008
incorporada até Panorama – SP (VALEC, 2018).
Atualmente não encontra-se com todo o seu trecho finalizado, entretanto
já configura-se como um eixo fundamental para a logística nacional, com a
perspectiva de torna-se a espinha dorsal do sistema após sua finalização,
interligando a cidade de Barcarena – PA à cidade de Rio Grande – RS, com uma
extensão total de 4.787 km em bitola larga (VALEC, 2018). Na sua atual fase, a
Ferrovia Norte-Sul beneficia a economia regional dos estados do Maranhão,
Tocantins, Piauí e Bahia (CASTILHO; ARRAIS, 2017).
Assim como em qualquer ferrovia, sua operação depende da integração
de diversos sistemas agrupados, com uma via permanente composta por
subsistemas de infraestrutura e superestrutura (CORDEIRO; GUIMARÃES;
MARQUES, 2015). Nesse sentido, o sistema de drenagem se configura como
fundamental para sua operação.
Em virtude da importância de um sistema de drenagem, para o bom
funcionamento de uma ferrovia, o presente trabalho visa a investigação desse
sistema na ferrovia Norte-Sul, no trecho compreendido entre a cidade de Santa Rita
– TO a Gurupi – TO. Nesse sentido, o objetivo geral da pesquisa é avaliar os tipos
de drenagem no trecho da ferrovia Norte-Sul compreendido entre Santa Rita – TO e
Gurupi – TO. E os objetivos específicos: I. Investigar quais os tipos de drenagem
existentes; II. Identificar os dispositivos de drenagem; III. Avaliar a eficiência dos
tipos e dispositivos de drenagem existentes no trecho da ferrovia em questão;
1 METODOLOGIA
A pesquisa é definida como um estudo de caso e bibliográfica, do tipo
descritiva, explicativa, com abordagem qualitativa.
O estudo de caso é definido como a pesquisa onde se realiza um
aprofundamento nas características do objeto de estudo, contribuindo para um
melhor conhecimento quanto ao assunto (PRODANOV; FREITAS, 2013). Para a
pesquisa em questão, o estudo de caso se refere ao aprofundamento na verificação
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da drenagem na Ferrovia Norte-Sul, no trecho compreendido entre a cidade de
Santa Rita – TO e Gurupi – TO.
No que se refere à pesquisa bibliográfica, é caracterizada como a
pesquisa desenvolvida por meio de materiais já existentes, sejam eles livros, artigos,
jornais, ou afins, possuindo relevância para o tema e permitindo uma ampla
variedade de fenômenos a serem pesquisados (PRODANOV; FREITAS, 2013).
Nesse sentido, a pesquisa bibliográfica foi utilizada como base para a verificação
dos tipos de drenagem no trecho pesquisado da Ferrovia Norte-Sul, utilizando
principalmente artigos referentes à drenagem e à ferrovia Norte-Sul, sendo o meio
virtual a maior fonte de dados. Para a obtenção dos dados a partir da pesquisa
bibliográfica, realizou-se a pesquisa pelo meio virtual, utilizando os termos chaves
“drenagem ferroviária”, “ferrovia Norte-Sul”, e selecionando os artigos pertinentes,
publicados principalmente nos últimos 5 anos, entretanto também utilizou-se de
artigos mais antigos, devido disporem de conteúdo relevante, além disso, também
utilizou-se normas do DNIT, publicadas a partir de 2006.
As pesquisas descritivas são aquelas que buscam conhecer e descrever
aquilo que é pesquisado, bem como as características e os problemas, através de
métodos como observações e levantamento de dados (ZANELLA, 2013; PRAÇA,
2015).
Já a pesquisa explicativa visa identificar os fatores que contribuem para a
ocorrência dos fenômenos, buscando o porquê de cada (GIL, 2008). Desse modo,
essa pesquisa é do tipo descritiva-explicativa, em virtude da descrição, análise,
verificação e explicação dos tipos de drenagem identificados.
Já tratando da abordagem, a pesquisa qualitativa realiza a descrição do
pesquisado a partir de interpretação descritiva e discursiva, sem utilização de
representatividade numérica (PRAÇA, 2015).
No que se refere ao trecho investigado, trata-se do trecho compreendido
no sul do estado do Tocantins, havendo uma distância de 100 quilômetros entre as
cidades, conforme demonstra a Figura 1.
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Figura 1 - Santa Rita - TO a Gurupi - TO.
Fonte: Google Maps (2019).
Todavia o trecho da ferrovia não percorre o mesmo traçado. Segundo
dados da Valec, responsável pela construção da ferrovia, esse trecho compreende o
trecho entre Palmas – TO e Anápolis – GO, concluído no ano de 2014, conforme a
figura 2.
Figura 2 - Trecho Palmas - TO a Anápolis - GO.
Fonte: Valec (2019).
A coleta de dados para a investigação no referido trecho ocorreu a partir
de uma realização de visita em campo, fazendo o levantamento fotográfico, bem
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como a partir da observação de imagens de arquivo pessoal, considerando que os
autores participaram da construção de parte do trecho.
Para a análise dos dados, utilizou-se de dados pertinentes, identificando
os tipos de drenagem.
2 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir da pesquisa realizada, identificou-se a presença principalmente
de drenagem superficial no trecho da Ferrovia Norte-Sul compreendido entre Santa
Rita – TO e Gurupi – TO, isso porque não realizou-se ensaios, tampouco houve o
pedido de autorização para a identificação de drenagem profunda.
Segundo o DNIT (2015), através da Instrução de Serviço Ferroviário 210,
a drenagem superficial intercepta, capta e conduz o deságue seguro das águas
provenientes de suas áreas adjacentes, bem como as águas pluviais, promovendo a
segurança e estabilidade da ferrovia, buscando a minimização da manutenção e
conservação da mesma, nesse sentido, utiliza os seguintes dispositivos:
Valetas de proteção de corte;
Valetas de proteção de aterro;
Sarjetas de cortes;
Valetas de proteção de bermas de aterros;
Valetas de proteção de banquetas de corte;
Descida d’água;
Saídas d’água
Caixas coletoras;
Bueiros de greide;
Dissipadores de energia;
Valas de canalização;
Corta-rios;
Drenagem de alívio de muros de arrimo.
Dentre os muitos dispositivos de drenagem superficial, identificou-se a
presença de valetas de proteção de corte na rodovia analisada. De acordo com
DNIT (2006), em seu manual de drenagem de rodovias, expõe todos as
características a drenagem superficial, no que se refere às valetas de proteção de
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corte, cita que possuem o objetivo de interceptar as águas que escorrem pelo
natural à montante, de modo a impedir que atinjam o talude do corte, conforme a
figura 3, sendo que podem ser trapezoidais, retangulares ou triangulares, onde as
valetas mais recomendadas são aquelas de forma trapezoidal, devido apresentarem
uma maior eficiência hidráulica.
Figura 3 - Valeta de proteção de corte.
Fonte: DNIT (2006).
Valec (2016), em seus normativos técnicos, com desenhos tipo para
drenagem e obras-de-arte-correntes, dispõe o croqui da valeta de proteção de corte
conforme a figura 4.
Figura 4 - Valeta de proteção de corte.
Fonte: VALEC (2016).
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Em virtude da forma trapezoidal se tratar da melhor forma de valetas de
corte, esse tipo foi identificado na ferrovia Norte-Sul, conforme o observado na figura
5.
Figura 5 - Valeta da forma trapezoidal na ferrovia Norte-Sul.
Fonte: Arquivo pessoal (2019).
Identifica-se que esta é uma valeta com dimensões consideráveis,
conforme o projeto/croqui demonstrado pela VALEC, visto que foi a empresa
responsável pela construção da Ferrovia Norte-Sul, havendo, portanto, o
revestimento em concreto.
O DNIT (2006) cita que esse tipo de valeta possui a forma mais
recomendável, devido apresentarem uma maior eficiência hidráulica, onde para o
seu dimensionamento, deve-se considerar a precipitação, em cm/h.
Ao observar o entorno da valeta, verifica-se que a mesma é satisfatória no
desempenho de sua função como um dispositivo para o escoamento das águas
precipitadas sobre a ferrovia Norte-Sul e todo o conjunto.
O DNIT (2006) ainda expõe outros elementos da drenagem superficial,
entre eles as sarjetas de cortes, que objetivam a captação de águas precipitadas
sobre a plataforma e taludes de corte, e longitudinalmente as conduz à rodovia, até
o ponto de transposição que há entre o corte e o aterro, permitindo a saída lateral da
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água para o terreno natural ou para outros elementos da drenagem superficial,
podendo ser a valeta de aterro ou caixa coletora de um bueiro greide.
Ainda segundo o órgão, as sarjetas podem ter diversos tipos de
seção/formato, dependendo da capacidade de vazão necessária, entre essas
seções encontra-se a triangular, sendo um tipo bem aceite, visto que, além de
apresentar uma razoável capacidade de vazão, sendo o modelo com a menor
capacidade, e também contribui para a redução de riscos de acidentes, conforme a
figura 6.
Figura 6 - Sarjeta triangular segundo o DNIT.
Fonte: DNIT (2006).
Já a VALEC (2016) expõe esse modelo de seção conforme a figura 7.
Figura 7 - Sarjeta triangular conforme a VALEC.
Fonte: VALEC (2016).
A partir do disposto, esse tipo de sarjeta foi identificado na ferrovia Norte-
Sul, no trecho investigado, dispondo uma parte significativa da lateral do sublastro,
conforme as figuras 10 e 11.
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Figura 8 - Sarjeta triangular na Ferrovia Norte-Sul.
Fonte: Arquivo Pessoal (2019).
Figura 9 - Sarjeta triangular por um longo trecho da ferrovia Norte-Sul.
Fonte: Arquivo Pessoal (2019).
Verifica-se que a ferrovia se mantém em um bom estado de conservação
para o seu bom funcionamento, onde o lastro e sublastro estão mantidos no local.
Além disso, identifica-se que as sarjetas não possuem material depositado nas
mesmas, logo, desempenham sua função satisfatoriamente de captar as águas
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precipitadas sobre a Ferrovia Norte-Sul, permitindo que escoem para as saídas
laterais.
Essas sarjetas são fundamentais para que o sistema de drenagem
satisfaça à necessidade imposta a partir do volume e vazão das precipitações que
ocorrem sobre a ferrovia.
Ao avaliar a precipitação média no trecho da ferrovia analisado,
identificou-se dados relacionados à precipitação média anual em mm. Por se tratar
de um trecho compreendido entre o município de Santa Rita – TO e Gurupi – TO,
verifica-se uma precipitação anual média conforme o verificado na figura 10.
Figura 10 - Precipitação média anual de Santa Rita do Tocantins e Gurupi - TO.
Fonte: Tocantins (2015).
A partir do exposto na figura 10, identifica-se que a cidade de Gurupi – TO
possui uma precipitação média anual de em torno de 1500mm, enquanto que a
cidade de Santa Rita do Tocantins, essa precipitação média encontra-se na faixa de
1800mm a 1900mm. Verifica-se que o trecho em questão também inclui a cidade de
Crixás do Tocantins, com uma precipitação média entre 1700mm e 1800m, e a
cidade de Aliança do Tocantins, com uma precipitação média entre 1600mm e
1700mm.
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Ao investigar a precipitação mensal, encontrou-se os valores para a
cidade de Gurupi – TO, conforme o exposto na figura 11, referente ao ano de 2019,
do início do ano até 25/11/2019.
Figura 11 - Precipitação mensal para Gurupi - TO em 2019.
Fonte: INMET (2019).
Identifica-se um período de estiagem, compreendido entre junho e agosto,
porém este período se prolonga ao considerar o regime de poucas chuvas nos
meses de maio e setembro. Não há nenhum mês onde a precipitação mensal
alcança 250mm, nesse sentido, verifica-se que não há precipitações com altos
milímetros de chuva mensalmente. Apesar de não obter os dados referentes à Santa
Rita, acredita-se que as precipitações mensais seguem um padrão semelhante,
porém pouco maior.
Mesmo não havendo dados relativos à vazão, identifica-se que a
precipitação mensal não é muito alta, logo, acredita-se que a vazão também não
seja, isso porque esta depende da precipitação por hora, e por mais que possa
haver precipitações com vazões altas em algumas épocas do ano, não se refere à
totalidade, visto que as precipitações mensais não alcançam altos valores.
Apesar disso, e mesmo havendo um longo trecho da sarjeta triangular,
identificou-se sarjeta em formato retangular, conforme as figuras 12 e 13, que
dispõem o período construtivo da sarjeta.
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Figura 12 - Sarjeta retangular na ferrovia Norte-Sul.
Fonte: Arquivo pessoal (2019).
Figura 13 - Sarjeta retangular na ferrovia Norte-Sul.
Fonte: Arquivo pessoal (2019).
Segundo o DNIT (2006), a sarjeta retangular é utilizada quando a sarjeta
triangular não for suficiente para atender às precipitações, tampouco quando a
trapezoidal não for suficiente também, entretanto também é utilizada em casos de
cortes em rochas, visto que este modelo promove uma facilidade de execução.
Nesse sentido, ao observar os dispostos relacionados à precipitação,
identifica-se que esta possui baixos valores em Gurupi – TO, e aumenta em direção
à Santa Rita do Tocantins, sendo que este trecho compreendido nas figuras 12 e 13,
logo, acredita-se que esta seção se dá em virtude dos maiores volumes de chuva no
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local, em comparação aos locais onde há sarjeta triangular, visto que verifica-se por
meio das figuras que não é uma região rochosa.
Apesar das sarjetas e valetas serem necessárias à condução das águas
de modo horizontal, um projeto ferroviário ainda necessita de dispositivos de
drenagem que conduzam verticalmente, tratando-se de cortes e aterros, de modo a
afastar as águas da ferrovia.
Frente ao exposto, VALEC (2018) afirma a necessidade de descidas
d’água, utilizadas tanto em cortes quanto em aterros, sendo que em cortes, as
descidas sempre serão em degraus, conforme o modelo da figura 14.
Figura 14 - Descida d'água em escada.
Fonte: VALEC (2018).
Esses dispositivos são complementares, fundamentais à condução das
águas advindas dos taludes de corte, levando-as até a sarjeta de corte ou até as
caixas coletoras, onde estas últimas são localizadas em locais específicos para
evitar o acúmulo de água ao longo da via férrea (ROCHA, 2013).
Segundo DNIT (2006), as descidas d’água podem ser do tipo rápido
(lisas), ou em degraus, onde a escolha depende da velocidade limite do
escoamento, de modo a não provocar erosão no talude.
Diante da importância desse dispositivo em um sistema de drenagem
superficial completo, que satisfaça às necessidades da ferrovia, verificou-se a
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presença de descidas d’água no trecho da ferrovia Norte-Sul, compreendido entre
Santa Rita do Tocantins e Gurupi – TO, conforme a figura 15.
Figura 15 - Descida d'água de escada na ferrovia Norte-Sul.
Fonte: Arquivo pessoal (2019).
As descidas d’águas desempenham um papel fundamental no trecho
investigado, transportando as águas que correm na superfície da rodovia, para que,
desse modo, não haja alagamento, visto que somente as sarjetas não suprem a
necessidade, pois não dão a destinação final às águas.
Identifica-se que o talude onde a descida d’água se localiza possui
erosões, desse modo, a utilização da descida de degrau é satisfatória, visto que se
há erosão, há um fluxo de água onde a descida lisa/rápida intensificaria esse
processo de erosão e não seria suficiente para o deságue seguro da água.
De acordo com DER/PR ES-D 03/05, as descidas d’água para taludes de
corte dispõem de degraus, e a descarga do fluxo de água normalmente se dá a
partir de caixas coletoras de bueiros de greide, ou até mesmo na própria sarjeta de
corte.
Na saída desse dispositivo, o DNIT (2006) recomenda a utilização de
dissipadores de energia, conforme a figura 16.
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Figura 16 - Descida d'água de escada com dissipador de energia posteriormente.
Fonte: DNIT (2006).
Nesse sentido, VALEC (2016) afirma que estes são utilizados quando as
descidas d’água não forem suficientes para o deságue no talvegue natural, onde
estes são constituídos por pedras argamassadas, conforme a figura 17.
Figura 17 - Dissipadores de energia.
Fonte: VALEC (2018).
Os dissipadores de energia possuem a função específica ao nome, onde
dissipam a energia acumulada pelo fluxo da água, reduzindo a velocidade da
mesma (ROCHA, 2013).
Esses dispositivos foram identificados abaixo da descida d’água em
degrau na ferrovia Norte-Sul, no trecho investigado, conforme verificado na figura
18.
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Figura 18 - Dissipadores de energia abaixo da descida d'água de degrau na ferrovia Norte-Sul.
Fonte: Arquivo pessoal (2019).
Diante da presença do dissipador de energia após a descida d’água,
verifica-se que neste trecho há um fluxo considerável de água, associado a um
talude com capacidade de erosão, conforme identificado nos entornos da descida.
Logo, a utilização dos dissipadores é favorável à drenagem.
De acordo com DNIT (2006), existe ainda outros tipos de dissipadores de
energia aplicáveis a descidas d’água de aterro do tipo rápidas ou lisas, dispondo de
obstáculos após as descidas, de modo a reduzir a velocidade da água, conforme
verificado na figura 19.
Figura 19 - Dissipadores de energia em descidas d'água lisas.
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Fonte: DNIT (2006). Figura 20 - Dissipadores de energia com vista em corte, em descidas d'água lisas
Fonte: DNIT (2006).
Esses dispositivos também foram identificados na ferrovia Norte-Sul,
conforme a figura 21, onde encontra-se uma descida d’água lisa, seguida de
dissipadores de energia.
Figura 21 - Dissipadores de energia e descida d'água lisa na ferrovia Norte Sul.
Fonte: Arquivo pessoal (2019).
Ao comparar com a outra descida d’água identificada pela figura 16,
verifica-se que a descida d’água lisa possui uma menor elevação, e no seu entorno
há uma menor quantidade de solo, onde este pode ter sido levado pelo processo de
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erosão, visto que este dispositivo é menos eficiente contra a erosão que a descida
em degrau, ou simplesmente pode se tratar de uma área com uma menor
quantidade de solo, onde a descida d’água foi aplicada pela necessidade em
promover um desague no talvegue natural
Frente ao exposto, identifica-se que o trecho da ferrovia Norte-Sul
compreendido entre Santa Rita – TO e Gurupi – TO dispõe de diversos dispositivos
de drenagem superficial, fundamentais ao bom funcionamento da ferrovia, visto que
auxiliam na drenagem e no deságue, onde a ausência dos mesmos pode causar o
acúmulo de água e interferir no funcionamento da ferrovia, além de poder contribuir
para o processo de erosão, onde tanto este, quanto o acúmulo de água, podem
prejudicar a estabilidade do talude onde a ferrovia é inserida.
O conjunto de dispositivos observados na ferrovia Norte-Sul, no trecho
compreendido entre Santa Rita – TO e Gurupi – TO, se mostra satisfatório diante
das características de precipitação existentes, isso porque não foram verificados
avarias causadas pela drenagem insuficiente na ferrovia. Entretanto verificou-se a
presença de erosão em talude, a partir da verificação das descidas d’água, onde
acredita-se que as mesmas contribuem satisfatoriamente para que a erosão não
destrua o talude e cause acidentes, isso porque a ausência das descidas d’água
poderia fazer com que o processo de erosão fosse intenso.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da investigação realizada, verifica-se que a ferrovia Norte-Sul, em
seu trecho compreendido entre Santa Rita – TO e Gurupi – TO, dispõe de muitos
dispositivos de drenagem superficial, fundamentais à manutenção da via.
Não identificou-se outro tipo de drenagem, visto que a verificação
consistiu em visual, sem a realização de ensaio.
O subtrecho investigado se localiza no trecho da ferrovia compreendido
entre Palmas – TO e Anápolis – GO, porém trata-se de um subtrecho dentro do
estado do Tocantins, em uma região onde o índice pluviométrico varia entre
1500mm e 1900mm. O estado do Tocantins é caracterizado por períodos de
estiagem, e chuvas compreendidas em alguns meses do ano, onde os índices
pluviométricos encontram-se em uma faixa mediana. Nesse sentido-, identifica-se
que o subtrecho investigado possui um índice pluviométrico considerável, todavia
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não houveram informações quanto à precipitação por hora, que dispõe quanto a
vazão. Apesar disso, acredita-se que por mais que hajam precipitações com uma
vazão considerável, não se refere a totalidade.
Ao investigar a influência das precipitações a partir dos dispositivos
conhecidos como descidas d’água, identifica-se que há trechos onde utilizam-se
descidas em degraus, que controlam melhor a vazão e desague, localizadas em
taludes mais íngremes e com um solo mais solto, além de descidas lisas, onde a
água percola com mais velocidade, porém essas últimas localizam-se em taludes
menores, com menor presença de solo erorido no entorno.
Ao analisar o estado de conservação da via ferroviária, assim como do
talude, verifica-se que estes dispositivos de drenagem superficial atendem à
demanda solicitada, contribuindo para uma drenagem suficiente às vazões
existentes.
6 REFERÊNCIAS
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regional do centro-norte do Brasil. Sociedade & Natureza, vol. 29, n. 2, p. 209-
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Nacional de Pesquisa em Transporte, Ouro Preto – MG, 2015, 12p.
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22
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