Energia e mudança climática global

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1 ENERGIA E MUDANÇA CLIMÁTICA GLOBAL Fernando Alcoforado Abstract : This article aims to demonstrate the need for replacement of current energy development model to one based on renewable energy sources and present what and how to implement a sustainable energy system capable of preventing catastrophic climate change on Earth. Resumo : Este artigo tem por objetivo demonstrar a necessidade de substituição do modelo de desenvolvimento energético atual por outro baseado em fontes de energia renováveis e apresentar o que e como fazer para implantar um sistema sustentável de energia capaz de evitar a mudança climática catastrófica no planeta Terra. Keywords : Global warming . Renewable energy . Palavras-chave : Aquecimento global . Energia renovável . 1. INTRODUÇÃO Energia é um insumo essencial para os seres humanos e para o desenvolvimento econômico e social. Pode-se afirmar que a necessidade mais básica dos seres humanos é a busca de energia para manter seus corpos em funcionamento. Esse aspecto, o atendimento da necessidade fisiológica, predominou na história da humanidade até a descoberta dos seres humanos de que poderia controlar formas de energia que lhe seriam úteis como o fogo, que representou um marco importantíssimo para a humanidade para, com o uso da energia térmica, poder cozinhar seus alimentos e se aquecer. Nos primórdios da história da humanidade, a domesticação dos animais lhe propiciou a energia mecânica necessária ao transporte, à agricultura, etc. Há alguns milênios, a energia hidráulica dos rios e a eólica passaram a ser também utilizadas. No entanto, somente com o advento da Revolução Industrial, há cerca de três séculos, é que o uso e a produção de energia assumiram conotação fundamental na substituição de homens e animais pelas máquinas. Desde o domínio do fogo há 750.000 anos até o advento da Revolução Industrial não houve grande evolução na forma da humanidade utilizar a energia. Porém, com a Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944 , 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015). Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net ). E-mail: [email protected]

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ENERGIA E MUDANÇA CLIMÁTICA GLOBAL

Fernando Alcoforado

Abstract: This article aims to demonstrate the need for replacement of current energy development model to one based on renewable energy sources and present what and how to implement a sustainable energy system capable of preventing catastrophic climate change on Earth.

Resumo: Este artigo tem por objetivo demonstrar a necessidade de substituição do modelo de desenvolvimento energético atual por outro baseado em fontes de energia renováveis e apresentar o que e como fazer para implantar um sistema sustentável de energia capaz de evitar a mudança climática catastrófica no planeta Terra.

Keywords: Global warming. Renewable energy. Palavras-chave: Aquecimento global. Energia renovável.

1. INTRODUÇÃO

Energia é um insumo essencial para os seres humanos e para o desenvolvimento econômico e social. Pode-se afirmar que a necessidade mais básica dos seres humanos é a busca de energia para manter seus corpos em funcionamento. Esse aspecto, o atendimento da necessidade fisiológica, predominou na história da humanidade até a descoberta dos seres humanos de que poderia controlar formas de energia que lhe seriam úteis como o fogo, que representou um marco importantíssimo para a humanidade para, com o uso da energia térmica, poder cozinhar seus alimentos e se aquecer. Nos primórdios da história da humanidade, a domesticação dos animais lhe propiciou a energia mecânica necessária ao transporte, à agricultura, etc. Há alguns milênios, a energia hidráulica dos rios e a eólica passaram a ser também utilizadas. No entanto, somente com o advento da Revolução Industrial, há cerca de três séculos, é que o uso e a produção de energia assumiram conotação fundamental na substituição de homens e animais pelas máquinas.

Desde o domínio do fogo há 750.000 anos até o advento da Revolução Industrial não houve grande evolução na forma da humanidade utilizar a energia. Porém, com a Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015). Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: [email protected]

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Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra em 1786 e o consequente processo de industrialização, a necessidade de energia aumentou e novas fontes primárias, com maior densidade energética, foram introduzidas. A utilização do carvão mineral como fonte de energia marcou o fim da era da energia renovável representada pelo uso da madeira e dos parcos aproveitamentos hidráulicos e eólicos, para iniciar-se a era não renovável da energia, a era dos combustíveis fósseis. O uso da eletricidade e a invenção das máquinas elétricas no século XIX, juntamente com a introdução dos veículos automotores, lançaram as bases para a introdução da moderna sociedade de consumo, caracterizada por uma intensidade energética nunca vista na história da humanidade.

Com o avanço do processo de industrialização, foram necessários novos combustíveis de maior poder energético, sendo o petróleo o combustível o que reuniu essas propriedades. Iniciou-se, assim, uma nova fase da utilização dos combustíveis líquidos que perdura até os dias de hoje. Mais recentemente, após a Segunda Guerra Mundial, a energia nuclear parecia uma alternativa promissora para a geração de energia elétrica, mas sofreu um grande revés por conta dos acidentes nucleares em Chernobyl em 1986 na Ucrânia e em Fukushima no Japão recentemente.

Não existem dúvidas de que as atividades humanas sobre a Terra provocam alterações no meio ambiente em que vivemos. Muitos destes impactos ambientais são provenientes da geração, manuseio e uso da energia. A principal razão para a existência dos impactos ambientais provenientes da geração, manuseio e uso da energia reside no fato de que o consumo mundial de energia primária proveniente de fontes não renováveis (petróleo, carvão, gás natural e nuclear) corresponde a aproximadamente 88% do total, cabendo apenas 12% às fontes renováveis. Esta enorme dependência de fontes não renováveis de energia tem acarretado, além da preocupação permanente com a possibilidade de esgotamento destas fontes, a emissão de grandes quantidades de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, que em 2013 foi da ordem de 36,3 bilhões de toneladas, aproximadamente 3,9 vezes a quantidade emitida em 1960 (9,3 bilhões de toneladas).

Como consequência do uso excessivo de combustíveis fósseis, o teor de dióxido de carbono na atmosfera tem aumentado progressivamente, levando muitos especialistas a acreditarem que o aumento da temperatura média da biosfera terrestre, que vem sendo observado há algumas décadas, seja devido a um “Efeito Estufa” provocado por este acréscimo de CO2 e de outros gases na atmosfera, já denominados genericamente “gases de efeito estufa”. Para evitar o futuro catastrófico que se prenuncia para a humanidade resultante do aquecimento global, torna-se um imperativo, entre outras medidas, reduzir as emissões globais de carbono com a promoção de mudanças na atual matriz energética mundial baseada fundamentalmente em combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural), por outra estruturada com base nos recursos energéticos renováveis, na hidroeletricidade, na biomassa e nas fontes de energia solar e eólica para evitar ou minimizar o aquecimento global e, consequentemente, a ocorrência de mudanças catastróficas no clima da Terra.

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2. O AQUECIMENTO GLOBAL E A CONSEQUENTE MUDANÇA CLIMÁTICA CATASTRÓFICA

O aquecimento global, que era um assunto de interesse exclusivo da comunidade científica, assume na atualidade uma dimensão muito mais ampla sendo objeto de preocupação por parte da população mundial e dos governantes em todo o planeta. A mídia tem contribuído bastante para que a questão do aquecimento global passe a ser um assunto de interesse geral ao divulgar as mudanças climáticas extremas que vem se registrando desde a Revolução Industrial na Inglaterra até hoje em várias partes do mundo, bem como a opinião de inúmeros cientistas e instituições atestando a gravidade do problema. O aquecimento global é um fenômeno climático de larga extensão — um aumento da temperatura média da superfície da Terra que vem acontecendo nos últimos 150 anos. O IPCC (Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas), estabelecido pela ONU (Organização das Nações Unidas) diz que grande parte do aquecimento observado no planeta se deve muito provavelmente a um aumento do efeito estufa havendo forte evidência de que o aquecimento global seja devido a atividades humanas. Muitos meterorologistas e climatólogos consideram provado que a ação humana realmente está influenciando na ocorrência do fenômeno. A análise da figura 1 permite constatar que a Terra recebe radiação emitida pelo Sol que é absorvida pela superfície terrestre aquecendo-a. Grande parte desta radiação é devolvida para o espaço e a outra parte é absorvida pela camada de gases que envolve a atmosfera provocando o efeito estufa.

Figura 1- Efeito Estufa

Fonte: Larara, Dakir. Aquecimento Global e Mudanças Climáticas. Curso de Geografia ULBRA – Canoas, http://www.educacional.com.br.

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O aquecimento global resulta do efeito estufa provocado pela retenção de calor na baixa atmosfera da Terra causada pela concentração de gases de diversos tipos. A Terra recebe radiação emitida pelo Sol que é absorvida pela superfície terrestre aquecendo-a. Grande parte desta radiação é devolvida para o espaço e a outra parte é absorvida pela camada de gases que envolve a atmosfera provocando o efeito estufa. É em função deste fenômeno natural, o efeito estufa, que temos uma temperatura média da Terra na faixa de 15ºC. Sem este fenômeno, a temperatura média do Planeta seria de -18ºC. Para haver equilíbrio climático, o planeta Terra precisa receber a mesma quantidade de energia que envia de volta para o espaço. Se ocorrer desequilíbrio por algum motivo, o globo esquenta ou esfria até a temperatura atingir, mais uma vez, a medida exata para a troca correta de calor. O equilíbrio climático natural foi rompido pela Revolução Industrial na Inglaterra em 1786. Desde o século XIX, as concentrações de dióxido de carbono no ar aumentaram 30%, as de metano dobraram e as de óxido nitroso subiram 15%. O aquecimento global é produzido pela atividade humana (antropogênico) no planeta e também por processos naturais, como a decomposição da matéria orgânica e as erupções vulcânicas, que produzem dez vezes mais gases do que o homem. Por eras, os processos naturais garantiram sozinhos a manutenção do efeito estufa, sem o qual a vida não seria possível na Terra. Os gases responsáveis pelo aquecimento global derivados da atividade humana são produzidos pelos combustíveis fósseis usados nos carros, nas indústrias e nas termelétricas, pela produção agropecuária e pelas queimadas nas florestas (ALCOFORADO, 2010). A principal evidência do aquecimento global vem das medições de temperatura em estações meteorológicas em todo o globo desde 1860. Os dados da figura 2 a seguir mostram que o aumento médio da temperatura foi de 0.6 ± 0.2 ºC durante o século XX.

Figura 2- Aumento das temperaturas médias globais

fonte: seed. energia e mudança do clima global. (www.seed.slb.com)

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Os maiores aumentos foram em dois períodos: 1910 a 1945 e 1976 a 2000. De 1945 a 1976, houve uma estabilização no incremento da temperatura que fez com que temporariamente a comunidade científica suspeitasse que estava a ocorrer um arrefecimento na temperatura global. A figura 3 apresenta o registro passado a partir de 1900 e as projeções da temperatura média global até 2100.

Figura 3- Temperatura média global e projeções

Fonte: revista veja on-line, aquecimento global.

A figura 4, mostra a variações da temperatura na superfície da Terra do ano 1000 ao ano 2000 e suas projeções até 2100. Os valores do ano 1000 a 1860 foram estimados e os de 1860 a 2000 foram baseados em observações globais através de instrumentos.

Figura 4- Variações da temperatura na superfície da Terra: 1000 a 2100

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Fonte: Larara, Dakir. Aquecimento Global e Mudanças Climáticas. Curso de Geografia ULBRA – Canoas, http://www.educacional.com.br. Devido ao efeito estufa, é provável que os futuros desequilíbrios climáticos sejam abruptos e catastróficos. Haverá um aumento rápido e destrutivo nas temperaturas globais a menos que as emissões de carbono sejam cortadas. Se a tendência atual prosseguir, entre 2020 e 2070, a concentração dos gases-estufa poderá duplicar e a temperatura média superficial da Terra poderá aumentar de cerca de 4 a 5 graus Centígrados. Estima-se que, mantido o ritmo de incremento atual das emissões de gases-estufa, a temperatura média do planeta deverá se elevar dos atuais 15 graus Centígrados para 16,5 graus, na melhor das hipóteses, e 19,5 graus na pior das hipóteses no ano 2025. No ano 2100, a temperatura média global atingirá 18 graus, na melhor das hipóteses, e 29 graus Centígrados na pior das hipóteses. O valor mais provável para a temperatura média global até o final do século 21 seria de 19 graus Centígrados (ALCOFORADO, 2010). Tudo indica que o nível dos mares poderá se elevar devido ao aumento da temperatura global. Poderá haver o derretimento das camadas de gelo depositadas nas calotas polares e nos cumes das grandes cordilheiras. No ano 2050, o nível dos mares poderá se elevar a 1,17 metros, no ano 2075 a 2,12 metros e no ano 2100 a 3,45 metros fazendo desaparecer grandes extensões de terras costeiras, ilhas e cidades litorâneas. Um número maior de furacões arremeteria com o aumento da temperatura global. Alguns cientistas estão preocupados de que no futuro, a camada de gelo polar e os glaciares derretam significativamente. Se isso acontecer, poderá haver um aumento do nível das águas, em muitos metros. A revista Galileu, no. 170, de junho de 2006, publicou o texto sob o título O aquecimento global e a economia do país no qual informa que se a capa de gelo da Antártida desaparecer seria uma catástrofe, pois a região guarda em seu interior gelo suficiente para fazer o nível global dos mares subir em mais de 65 metros (Alcoforado, 2010). Tomando-se por base as conclusões de inúmeros estudos relacionados com o aquecimento global, se nada for feito para reverter suas tendências atuais, suas consequências são as seguintes: 2 a 4,5 °C é a faixa de elevação que deve sofrer a temperatura média global até o

final do século XXI. As calotas polares poderão desaparecer por completo dentro de 100 anos. Poderá haver diminuição da cobertura de gelo nos polos e nas cordilheiras, aumento

do nível do mar fazendo submergir ilhas e cidades litorâneas e mudanças dos padrões climáticos que podem influenciar não somente as atividades humanas, mas também os ecossistemas.

40% das árvores da Amazônia podem desaparecer antes do final do século XXI, caso a temperatura suba de 2 a 3 °C.

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As florestas tropicais serão substituídas por savanas nas regiões onde houver redução dos lençóis freáticos.

Cientistas calculam que, quando chegarmos a 2050, milhões de pessoas que vivem em deltas de rios serão removidas devido a inundações, caso seja mantido o ritmo atual de aquecimento.

O clima ficará mais frio apenas no hemisfério norte. Quanto ao resto do mundo a temperatura média subirá e os padrões de secas e chuvas serão alterados em todo o planeta.

O aquecimento da Terra e também outros danos ao ambiente estão fazendo com que a seleção natural vá num ritmo 50 vezes mais rápido do que o registrado há 100 anos.

De 9 a 58% das espécies em terra e no mar vão ser extintas nas próximas décadas, segundo diferentes hipóteses.

O aumento da temperatura global permite que um ecossistema mude, algumas espécies podem ser forçadas a sair dos seus habitats (possibilidade de extinção) devido a mudanças nas condições enquanto outras podem espalhar-se, invadindo outros ecossistemas.

Cerca de 20% a 30% de todas as espécies enfrentarão um "alto risco de extinção" caso a temperatura média global aumente mais 1,5 a 2,5 °C em relação aos níveis de 1990. Isto poderá acontecer até 2050.

O efeito estufa contribuirá para diminuir a precipitação atmosférica em algumas áreas do planeta fazendo com que nelas ocorram temperaturas mais elevadas e maior evaporação.

Chuvas devem aumentar em cerca de 20% nas maiores latitudes. Várias áreas do globo terrestre poderão ficar alagadas por causa da superabundância

de precipitações, resultando em extensas inundações. 2.000 quilômetros quadrados se transformarão em deserto devido à falta de chuvas. O fluxo dos rios poderá diminuir em 50% ou mais podendo alguns deles secarem

completamente. Importantes lençóis freáticos poderão ficar seriamente reduzidos, fazendo com que

os poços de irrigação sequem. O excesso de gás carbônico na atmosfera está tornando os oceanos mais ácidos. Isso

enfraquece os corais, viveiros do mar, e os plânctons, base da cadeia alimentar subaquática.

Os recifes de corais provavelmente sofrerão fortes declínios. Os mangues salgados e florestas pantaneiras poderão desaparecer com o aumento do

nível dos mares. Aves migratórias e mamíferos sofrerão à medida que mudarem as zonas de

vegetação no Ártico. O Ártico, devido ao maior aquecimento relativo, as pequenas ilhas Estados no

Pacífico com o aumento do nível dos mares, a zona ao sul do Saara da África devido à seca e os deltas de rios densamente povoados na Ásia por causa de cheias sofrerão bastante com a mudança climática.

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Nos últimos tempos, especialmente durante a realização da Conferência Rio+20 de desenvolvimento sustentável patrocinado pela ONU, surgiram inúmeros ataques à tese do aquecimento global e seus efeitos sobre o clima do planeta defendida pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU ao questionar seus relatórios produzidos com a participação de 2.500 cientistas de 131 países, que reúnem observações, conclusões, previsões e recomendações de alguns milhares de climatologistas de todo o mundo. O que estamos testemunhando na atualidade é uma verdadeira guerra midiática em torno da questão das mudanças climáticas catastróficas e sua relação com as atividades humanas predatórias como a emissão de gases de efeito estufa.

Sabotar a ciência tornou-se um elemento rotineiro do momento em que vivemos. Contratar mercenários da ciência é uma prática das grandes corporações responsáveis pela utilização de combustíveis fósseis para desqualificar as evidências do aquecimento global. A missão dos céticos e pseudo cientistas é inflar artificialmente as incertezas associadas às evidências científicas, evitando ou atrasando assim qualquer medida para a proteção do meio ambiente de graves consequências para a humanidade. Todas as ciências são vulneráveis a esse tipo de ataque, uma vez que lidar com a incerteza é sua característica intrínseca. Qualquer estudo está sujeito à crítica, legítima ou não. A estratégia adotada para enfraquecer até as conclusões científicas mais robustas é simples, bastando destacar seletivamente as incertezas, atacando os principais estudos um por um e, o mais importante, ignorando sistematicamente o peso de suas evidências.

Em contraposição à opinião dos céticos e pseudo cientistas, mais de 255 cientistas integrantes da Academia de Ciências dos Estados Unidos defenderam a teoria das mudanças climáticas em artigo publicado em 6 de maio de 2010, na revista Science. No artigo intitulado As Mudanças Climáticas e a Integridade da Ciência, os 255 cientistas afirmam que "existem provas consistentes de que os seres humanos estão mudando o clima de uma forma que ameaça nossas sociedades" (Ver o artigo EUA: cientistas defendem existência das mudanças climáticas publicado no website <http://noticias.terra.com.br/ciencia/noticias/0,,OI4419952-EI238,00-EUA+cientistas+defendem+existencia+das+mudancas+climaticas.html> e o artigo Climate Change and the Integrity of Science publicado no website <http://www.sciencemag.org/content/328/5979/689.full.pdf?sid=967ede4e-da58-4209-be61-4523bca2cca3>.)

O texto da revista Science também condena os ataques feitos pelos chamados “céticos do clima" em relação aos especialistas e instituições que alertam tanto para a existência, quanto para os possíveis efeitos do aquecimento global. Os pesquisadores afirmam que muitos dos ataques têm sido impulsionados por interesses específicos de grandes corporações ou dogma e não pelo esforço honesto de oferecer uma teoria alternativa. Segundo o artigo, o aumento na temperatura do planeta se deve à maior concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, que por sua vez são causados pelas atividades humanas. Na conclusão do artigo, os climatologistas dizem que a humanidade tem duas

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opções: Omitir os dados científicos e confiar na sorte ou atuar de modo rápido para reduzir a ameaça das mudanças climáticas.

Ressalte-se que a controvérsia sobre a mudança climática se estabelece entre os cientistas que defendem a tese que o aquecimento global resulta de causas naturais e aqueles que defendem que ele resulta das atividades humanas. Este é um assunto que se encontra ainda em debate, na comunidade científica, embora muitos meteorologistas e climatólogos tenham recentemente afirmado publicamente que consideram provado que a ação humana tem realmente influenciado a evolução deste fenômeno. A maior parte da comunidade científica defende a tese de que o aquecimento global é da responsabilidade do homem. O paradigma das causas naturais da mudança climática está sendo colocado em xeque pelo novo paradigma que atribui ao homem maior responsabilidade.

3. CENÁRIOS DE ENERGIA NO MUNDO

3.1- Os cenários energéticos mundiais e efeito estufa

As participações das diversas fontes de energia em todo o mundo registradas em 1990 e suas projeções para 2010 e 2020 estão apresentadas no Quadro 1 cuja análise permite constatar que, se as projeções se confirmarem para 2030, os combustíveis fósseis terão uma participação de 80% na matriz energética mundial caindo apenas 2% em relação a 2010. As participações das fontes de energia renovável e nuclear em 2030 na matriz energética mundial não sofrerão praticamente alterações em relação a 1990 e 2010.

Quadro 1- Participação das Fontes de Energia no Mundo- 1990/ 2010/ 2030 Fonte de Energia Participação (%)

1990 2010 2030

Petróleo 38 34 32

Carvão 24 26 22

Gás Natural 20 22 26

Nuclear 5,5 6 7

Hidráulica 2 2 2

Biomassa 10 9 8

Outras renováveis 0,5 1 3

Fonte: Costamilan, Luiz, Futuro da Energia no Mundo. www.ibp.org.br/services/.../FileDownload.EZTSvc.asp?...2848.

A demanda por energia no mundo irá aumentar 35% no período entre 2010 e 2040. O aumento da demanda energética mundial será impulsionado pelo crescimento populacional que deverá atingir aproximadamente 9 bilhões em 2040 (atualmente a população mundial corresponde a 7 bilhões de habitantes) e pela duplicação da economia global levando em conta a taxa de crescimento anual de cerca de 3% em

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grande parte do mundo em desenvolvimento (Ver o artigo Matriz energética continua em evolução no website <http://ate2050.blogspot.com.br/2014/03/demanda-por-energia-no-mundo-crescera.html>).

Este artigo (Matriz energética continua em evolução) mostra também que o gás natural será a fonte de energia que mais crescerá no mundo. A demanda global de gás natural deverá aumentar cerca de 65% entre 2010 e 2040. Pelas projeções, o gás natural deverá ultrapassar, em 2025, o carvão como a segunda maior fonte de energia, superado apenas pelo petróleo. Este artigo mostra ainda que em torno de 65% do crescimento no fornecimento do gás deverá ser proveniente de fontes não convencionais, como o gás de xisto, que serão responsáveis por um terço da produção mundial em 2040. Os Estados Unidos irão liderar a produção de gás não convencional, sendo responsável por mais da metade da expansão entre 2010 e 2040. Segundo a pesquisa, a demanda por petróleo irá crescer aproximadamente 25% no período analisado.

Combustíveis líquidos como gasolina, óleo diesel e combustível de aviação permanecerão como a principal escolha energética para a maioria dos transportes por oferecerem uma combinação única de acessibilidade, disponibilidade, portabilidade e alta densidade de energia. A energia nuclear também poderá ter crescimento sólido, conduzido pela região da Ásia-Pacífico, onde se espera que a produção passe de 3%, em 2010, para quase 9%, em 2040. Fontes de energia renováveis, incluindo as tradicionais como biomassa, hidráulica e geotérmica, bem como a eólica, solar e de biocombustíveis crescerão aproximadamente 60%. Energia eólica, solar e de biocombustíveis provavelmente irão compor cerca de 4% do suprimento de energia em 2040, superando o 1% registrado em 2010.

As fontes de energia usadas para geração de eletricidade continuarão sendo as maiores componentes da demanda global e espera-se que cresçam em mais de 50% até 2040. O crescimento reflete o esperado aumento de 90% no uso de eletricidade, liderado pelos países em desenvolvimento, onde 1,3 bilhão de pessoas atualmente não têm acesso à eletricidade. Já no caso do carvão, a avaliação é de que a demanda continue crescendo até 2025, e depois passe a cair. Isso ocorrerá pela necessidade de redução de emissões de gases do efeito estufa pelos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), além da China. Com isso, estima-se que a parcela do carvão na matriz energética passe de aproximadamente 26%, em 2010, para 22% em 2030.

Os principais gases-estufa na atmosfera e suas fontes principais de emissões são as seguintes:

Quadro 2 - A contribuição dos gases-estufa ao aquecimento global Gás Fontes principais Contribuição para o

aquecimento global (%)

Dióxido de carbono (CO2) Queima de combustíveis fósseis (~77%) e desmatamento

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(~23%)

Clorofluorcarbonos (CFC) e gases relacionados (HFC e HCFC)

Diversos usos industriais: refrigeração, produtos de espuma, solventes

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Metano (CH4) Arrozais, fermentação entérica e escapamento de gás

15

Óxido Nitroso (N2O) Queima de biomassa, uso de fertilizantes e queima de combustíveis fósseis

6

Fonte: IPCC, Working Group 1 report, Policymakers’ summary. p. 6

A análise do Quadro 1 permite constatar que o petróleo e o carvão são e continuarão a ser os principais recursos energéticos utilizados no mundo e, a do Quadro 2 leva à conclusão de que o dióxido de carbono (CO2) e o clorofluorcarbono (CFC) são os que mais contribuem para os gases-estufa na atmosfera. Segundo a IEA-International Energy Agency, as emissões mundiais de carbono pela queima de combustíveis fósseis, que correspondiam em 1973 a 16,2 bilhões de toneladas anuais de CO2, atingiram 22,7 bilhões de toneladas anuais em 1998. Se as projeções de suprimento de energia da IEA se confirmarem, o valor das emissões de carbono deverá aumentar alcançando 27,5 e 32,8 toneladas anuais de CO2 em 2010 e 2020, respectivamente.

De 1880 a 1980, a contribuição dos diferentes gases-estufa ao comprometimento do meio ambiente global está indicada no Quadro 3 a seguir:

Quadro 3 - Os gases-estufa e sua contribuição de 1880 a 1980

Gases Contribuição (%)

Dióxido de carbono 66

Metano 15

CFC-11 e CFC-12 8

Óxido nitroso 3

Diversos 8

Fonte: Lashof, D.A. & Tirpak, D.A.orgs. Policy options for stabilizing global climate, Washington, DC, Environmental Protection Agency, 1989.

Os principais fatores que contribuem para o aumento do efeito estufa na atmosfera estão indicados no Quadro 4 a seguir:

Quadro 4 - Principais causas do efeito-estufa na atmosfera

Fatores causadores do efeito estufa Contribuição (%)

Uso e produção de energia 57

CFC 17

Práticas agrícolas 14

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Desmatamento 9

Outras atividades industriais 3

Fonte: Lashof, D.A. & Tirpak, D.A., n.2

A análise do Quadro 4 permite constatar que o uso e a produção de energia são os maiores responsáveis pelo efeito-estufa. Se for mantido o ritmo de incremento atual das emissões de gases-estufa, a temperatura média do planeta deverá ser elevada dos atuais 15 graus Centígrados para 16,5 graus, na melhor das hipóteses, e 19,5 graus na pior das hipóteses no ano 2025. No ano 2100, a temperatura média global atingirá 18 graus Centígrados, na melhor das hipóteses, e 29 graus Centígrados na pior das hipóteses. O valor mais provável para a temperatura média global até o final do século 21 seria de 19 graus Centígrados (Revista Veja On-line, Aquecimento Global. <http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/aquecimento_global/ > e LARARA, Dakir. Aquecimento Global e Mudanças Climáticas. Curso de Geografia ULBRA – Canoas, <http://www.educacional.com.br>). Devido ao efeito estufa, é provável que os futuros desequilíbrios climáticos sejam abruptos e catastróficos. Haverá um aumento rápido e destrutivo nas temperaturas globais a menos que as emissões de carbono sejam cortadas. Se a tendência atual prosseguir, entre 2020 e 2070, a concentração dos gases-estufa poderá duplicar e a temperatura média superficial da Terra poderá aumentar de cerca de 4 graus Centígrados. Com a redução da precipitação atmosférica, a ocorrência de temperaturas mais elevadas e maior evaporação, o fluxo dos rios e lençóis freáticos poderá reduzir em 50% ou mais e até mesmo secarem comprometendo o abastecimento de água das populações e a irrigação na agricultura. Outras áreas ficarão alagadas pelo excesso de precipitações. O nível dos mares deverá se elevar devido ao aumento da temperatura global. Poderá haver o derretimento das camadas de gelo depositadas nas calotas polares e nos cumes das grandes cordilheiras. No ano 2050, o nível dos mares poderá se elevar a 1,17 metros, no ano 2075 a 2,12 metros e no ano 2100 a 3,45 metros fazendo desaparecer grandes extensões de terras costeiras, ilhas e cidades litorâneas. Um número maior de furacões arremeteria com o aumento da temperatura global (ALCOFORADO, 2010).

Estudo recente da International Atomic Energy Agency concluiu que, por volta do ano 2030, o mundo estará fazendo uso de 88,5% a mais de energia em relação à registrada em 1990 e que a maior parte dela será fornecida pelo carvão, pelo petróleo e pelo gás natural (Ver a publicação World Energy Demand and Supply do IAEA- International Atomic Energy Agency no website <www.iaea.org/nuclearenergy/.../04_Rogner_World>). Este é o cenário energético de referência para os próximos 16 anos, se a atual matriz energética mundial for mantida. Este é, portanto, o cenário que se descortina para o futuro do planeta se for mantido o modelo de desenvolvimento atual da sociedade baseado no excessivo consumo de combustíveis fósseis.

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3.2- O petróleo e seu impacto ambiental

O homem promoveu o desenvolvimento econômico desde a Revolução Industrial baseado na exploração dos combustíveis fósseis. A exploração do petróleo contribuiu para a expansão da atividade produtiva, não somente como combustível e como matéria prima para centenas de produtos, mas, em contrapartida, criou gigantescos problemas ambientais.

No mundo, os combustíveis fósseis (petróleo e carvão), sobretudo o petróleo, são responsáveis por 77% das emissões de dióxido de carbono na atmosfera contribuindo decisivamente para o aquecimento global do planeta que, se prognostica, poderá levar o planeta a um cenário climático catastrófico a partir das próximas décadas. O uso de combustíveis fósseis na agricultura e na pecuária, na indústria, nos transportes, residências e no comércio e na produção de energia nas usinas termelétricas são os principais vilões do efeito estufa, além do desmatamento.

Na exploração e transporte de petróleo, os acidentes são uma constante. Os noticiários da imprensa têm registrado com bastante frequência um grande número deles, em terra ou no mar, como o acidente que ocorreu em 2010 em uma das plataformas de exploração de petróleo da BP (British Petroleum) no Golfo do México. A cada acidente, a vida é a que mais é afetada. A biodiversidade sofre com os vazamentos e incêndios que contaminam a terra, o ar e a água interferindo na cadeia alimentar, na reprodução e na própria manutenção dos seres vivos.

O incêndio de uma plataforma de petróleo da BP no Golfo do México, na costa dos Estados Unidos, provocou um imenso vazamento que alcançou 780 milhões de litros de petróleo que vazaram no mar a 80 quilômetros da costa do Estado americano da Louisiana. Uma catástrofe ambiental de grandes proporções matou, com certeza, pela interferência na cadeia alimentar, um grande número de animais.

Ainda que a BP (British Petroleum) tenha anunciado o sucesso da primeira fase da operação “static kill”, destinada a fechar o poço de petróleo danificado com uma injeção de lodo e depois de cimento, a polêmica continuou, nos Estados Unidos, sobre as consequências ecológicas a longo prazo do vazamento de petróleo no Golfo do México. No centro das críticas estão os produtos dispersantes usados pela BP de forma maciça. De acordo com alguns pesquisadores nos Estados Unidos, a mistura de dispersantes e de petróleo seria, em altas doses, mais nociva para os ecossistemas do que o próprio petróleo bruto.

Da mesma forma é questionável a decisão do governo brasileiro de explorar o petróleo localizado na camada pré-sal entre São Paulo e Espírito Santo pelo fato do Brasil se posicionar na contramão da luta contra o aquecimento global. Outro questionamento passou a existir que é se a Petrobrás está suficientemente preparada para enfrentar situações semelhantes à que ocorreu com a British Petroleum no Golfo do México. Ressalte-se que a exploração do petróleo na camada pré-sal no Brasil deve ocorrer a

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uma profundidade que é superior ao dobro da plataforma da BP o que tornaria a operação de contenção do vazamento muito mais complexa.

As empresas produtoras de petróleo estão, portanto, na contramão da luta contra o aquecimento global porque os combustíveis fósseis, que respondem na atualidade por 82% da matriz energética mundial, deveriam ter reduzida sua participação nesta matriz de 34% em 2010 para 15% em 2030 para evitar um cenário climático catastrófico no planeta Terra (WORLDWATCH INSTITUTE. Consumo Mundial de Energia e Emissões de CO2 em 1989 e 2030). Isto significa dizer que a matriz energética mundial deveria contemplar o uso em maior escala de fontes energéticas renováveis (solar, eólica, biomassa, etc). Neste caso, teríamos que quadruplicar o uso de energias renováveis, reduzir à metade o uso do petróleo e a 10% o uso do carvão em relação à situação atual. Deveríamos manter o nível atual de utilização do gás natural que é o menos poluente dos combustíveis fósseis e a energia nuclear só deveria ser utilizada em última instância devido aos riscos que representaria seu uso.

Os mais frequentes e evidentes impactos ambientais são os vazamentos de óleo. O que se sabe é que riscos são inerentes a todas as atividades relacionadas ao petróleo, do poço ao posto. Engana-se, porém, quem acredita que os derramamentos são a única fonte de riscos e impactos negativos advindos da exploração e produção de petróleo no mar. Após 45 dias, um poço perfurado já representa uma fase de impactos agudos sobre a fauna e a flora. São descartados fluidos de perfuração, cascalhos saturados de diferentes substâncias e compostos tóxicos, incluindo metais pesados como mercúrio, cádmio, zinco e cobre. Na fase do refino, existe o problema do descarte de efluentes líquidos, a emissão de gases e vapores tóxicos para a atmosfera, além dos resíduos sólidos, normalmente armazenados em aterros industriais. Já os impactos produzidos pelo derramamento de óleo na água são mais visíveis como o ocorrido na plataforma da British Petroleum no Golfo do México. Especialistas em poluição enfatizam que os acidentes deixam marcas por vinte anos ou mais e que a recuperação é sempre muito longa e difícil, mesmo com ajuda humana. O contato com o petróleo cru causa efeitos gravíssimos principalmente em plantas e animais. O óleo recobre as penas e o pelo dos animais, sufoca os peixes, mata o plâncton e os pequenos crustáceos, algas e plantas na orla marítima. Nos mangues, o petróleo mata as plantas ao recobrir suas raízes, impedindo sua nutrição. Além disso, a baixa velocidade das águas e o emaranhado vegetal nesses locais dificultam o trabalho de limpeza. O petróleo é insolúvel em água e tem uma mistura corrosiva venenosa com efeitos difíceis de combater. 3.3- A revolução do shale gas dos Estados Unidos, a ameaça à indústria mundial de petróleo e seu impacto ambiental

Nos últimos dez anos, os Estados Unidos se tornaram líderes na produção de shale gás (gás de xisto), graças a novas técnicas inovadoras de extração. Cabe observar que o xisto é uma fonte de combustível que, quando submetido a altas temperaturas, produz

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óleo com composição semelhante à do petróleo do qual se extrai nafta, óleo combustível, gás liquefeito, óleo diesel e gasolina. O gás natural preso em formações de xisto, cuja obtenção antes era difícil demais e muito cara, hoje é possível ser obtido através do método de perfuração do subsolo através do fraturamento hidráulico (fracking em inglês) desenvolvido na década de 1990 com o uso de uma mistura de água, areia e produtos químicos para perfurar as camadas de xisto e extrair gás natural dos poros das rochas (Ver o artigo A revolução do gás de xisto nos EUA: passado e futuro publicado no website <http://www.wharton.universia.net/index.cfm?fa=viewArticle&id=2256&language=portuguese> e ALCOFORADO, Fernando. Impactos da revolução energética dos Estados Unidos sobre a indústria de petróleo, a geopolítica, o meio ambiente, o pré-sal no Brasil e as energias renováveis. Blog de Falcoforado (http://fernando.alcoforado.zip.net)).

Com o uso do fracking, empresas norte-americanas deflagraram uma revolução energética no segmento de gás de xisto. A produção americana desse gás passou de praticamente zero, em 2000, para um nível em que contribui com ¼ do gás natural dos Estados Unidos e que deverá chegar à metade do total de gás natural no país até 2030, de acordo com dados do Instituto de Políticas Públicas James A. Baker da Universidade Rice em Houston, no Texas. Dono da segunda maior reserva do mundo depois da China de acordo com a EIA- Energy Information Administration, os Estados Unidos, passaram a deter uma nova e vasta fonte de energia que poderia ajudar o país a diminuir sua dependência do petróleo importado.

O recente relatório do Belfer Center, baseado em dados de Harvard e intitulado Oil: The Next Revolution, sugere que a produção de óleo de xisto pode alcançar aproximadamente 6 milhões de barris por dia nos Estados Unidos até 2020. Considerando-se o potencial da produção norte-americana de petróleo em plataformas convencionais ou em águas profundas, isso sugeriria que, em 2020, os EUA poderiam estar perto de alcançar sua independência energética de petróleo (Ver o website <http://belfercenter.ksg.harvard.edu/publication/22144/oil.html>). O maior impacto geopolítico da tecnologia de extração de xisto reside menos no fato de que os Estados Unidos serão mais autossuficientes em termos energéticos e mais no consequente deslocamento dos mercados mundiais de petróleo devido à redução acentuada de suas importações, sobretudo do Oriente Médio.

Este impacto geopolítico será reforçado ainda mais pelo desenvolvimento das reservas de óleo de xisto na China, Argentina, Brasil, Ucrânia e outros países, que colocará pressão adicional sobre os preços mundiais do petróleo que tenderá a cair. Os incentivos para o desenvolvimento do óleo e do gás natural de xisto são muito grandes. A Europa também se beneficiará da revolução do xisto, à medida que os preços do petróleo começarem a ser pressionados para baixo. A China, por sua vez, tem incentivos ainda maiores para desenvolver o gás de xisto porque suas reservas recuperáveis são maiores do que as dos Estados Unidos, somando 36 trilhões de metros cúbicos, e porque se protegeria de grande parte do efeito de um bloqueio por parte da Marinha dos Estados

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Unidos que controla o Oceano Pacífico impedindo que a maior parte do petróleo chinês chegue por meio de petroleiros.

O preço do petróleo já caiu para até 30 dólares por barril em 2015, ao invés dos quase 100 dólares alcançado nos anos recentes, graças à revolução do gás de xisto nos Estados Unidos. Estima-se que o gás de xisto (shale gas) pode ser responsável por quase metade do consumo energético dos Estados Unidos em 2050. Devido à queda nas importações do produto pelos norte-americanos, haverá a queda do valor do barril do petróleo convencional em todo o mundo. Será um choque monumental. Esta situação faria com que os Estados Unidos, que consomem um quinto da energia do mundo, evitassem conflitos na política externa, se fossem menos dependentes do petróleo de países do Golfo Pérsico, da Rússia e da Nigéria, por exemplo (Ver o artigo Gás de xisto pode derrubar preço do petróleo pela metade, diz estudo publicado no website <http://www.portugues.rfi.fr/economia/20120927-preco-do-petroleo-poderia-cair-pela-metade-gracas-exploracao-do-gas-de-xisto-diz-e>).

Geopoliticamente, a revolução do xisto poderá fortalecer os Estados Unidos e a China reduzindo ou eliminando sua dependência energética. Ao mesmo tempo, essa revolução será potencialmente desestabilizadora para a Rússia e para a Arábia Saudita e outros países que dependem da exportação de petróleo. Esta situação poderá criar desestabilização econômica, política e social nesses países com a emergência de conflitos sociais de consequências imprevisíveis. As explorações de gás de xisto começaram em muitos países do mundo, inclusive na Polônia, Ucrânia, Austrália, Grã-Bretanha e também na China. O Reino Unido irá suprir até 2032, por conta do gás de xisto, um quarto de suas necessidades desse tipo de combustível. Surgiram também tecnologias que possibilitam obter petróleo de xisto. A companhia Japan Petroleum Exploration, por exemplo, conseguiu obter combustíveis líquidos de xisto, o que, possivelmente, será a solução do problema de grave escassez de energia nesse país, que também está relacionado com a recusa, em perspectiva, da energia atômica pelo Japão (Ver o artigo Revolução de xisto muda economia mundial e a geopolítica publicado no website <http://portuguese.ruvr.ru/2012_10_07/xisto-novo-combustivel-geopolitica/>).

Cabe observar que o gás de xisto constituído, sobretudo de metano, gera metade das emissões de carbono geradas pelo carvão. No entanto, o fraturamento hidráulico em si suscita preocupações ambientais como, por exemplo, a contaminação dos lençóis aquíferos subterrâneos, caso os túneis não estejam alinhados corretamente e os produtos químicos utilizados para manter abertos os poros da rocha vazem. A utilização do gás natural a partir do xisto vem encontrando opositores em várias partes do mundo alegando que o método fracking pode envenenar reservas subterrâneas de água e até provocar terremotos. Até agora, o fracking foi banido na França e na Bulgária, suspenso ou voluntariamente paralisado em Reino Unido, África do Sul, Quebec, partes da Alemanha e Austrália e condenado do norte da Espanha até Nova York.

A revolução energética dos Estados Unidos com base no xisto tende a se desenvolver em várias partes do mundo como tentativa de vários países de se libertarem da

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dependência ao petróleo importado, sobretudo dos países do Oriente Médio, região crítica do ponto de vista geopolítico diante da possibilidade da eclosão de conflitos regionais que podem desencadear um novo conflito mundial ameaçando o abastecimento deste importante insumo energético. O desenvolvimento da produção de gás de xisto impactará fortemente contra a indústria de petróleo forçando a baixa de seus preços e de sua lucratividade. No Brasil, poderá haver a inviabilização da produção de petróleo na camada pré-sal que só seria viável com o preço do barril de petróleo acima de US$ 45 dólares. A baixa do preço do barril de petróleo impactará negativamente, também, sobre o desenvolvimento das fontes renováveis de energia que se tornariam menos competitivas dificultando ou inviabilizando economicamente sua expansão que vem se registrando em todo o mundo nos últimos anos graças ao aumento do preço do barril de petróleo. Em síntese, a revolução energética com o shale gas em curso nos Estados Unidos impacta negativamente sobre a indústria e os países produtores de petróleo, o meio ambiente, a exploração do Pré-sal no Brasil e o desenvolvimento das fontes renováveis de energia.

Cabe observar que a paulatina queda dos preços do petróleo que se registram nos últimos anos até chegar a 30 dólares o barril de Brent recentemente coloca em xeque a economia da Rússia e de outros países produtores de petróleo que são dependentes de sua receita de exportação. Os países da OPEP, que passaram mais de dois anos diminuindo sua produção, compensando assim os aumentos na extração de petróleo bruto por parte dos países de fora da OPEP, mudaram de estratégia e desde setembro estão aumentando sua produção contribuindo para a queda no preço do petróleo com o propósito de inviabilizar os substitutos do petróleo como o xisto. A isso é somado o interesse dos Estados Unidos de alcançar a autonomia energética com o xisto graças à aplicação da tecnologia de fracking e a queda na demanda mundial de petróleo convencional.

Uma hipótese que vem sendo aventada é a de que os Estados Unidos estão por trás da queda no preço do petróleo para afetar as economias de países inimigos como a Rússia, Irã e Venezuela. Por conta da queda dos preços do petróleo, a Rússia está enfrentando no momento um violento ataque especulativo com a fuga de capitais do país da qual está resultando uma vertiginosa queda do poder aquisitivo do Rublo. Pode-se afirmar que, a partir de um ponto de vista geopolítico, muito provavelmente, os Estados Unidos não pressionarão para aumentar a oferta do petróleo convencional.

3.4- As usinas nucleares deixam de ser alternativas à geração de energia elétrica pós terremoto e tsunami no Japão

Além de deixar mais de quatro mil mortos e milhares de desaparecidos, o terremoto seguido de tsunami que atingiu a costa nordeste do Japão causou problemas em pelo menos três usinas nucleares. O caso mais grave é o da usina de Fukushima, operada pela Tokyo Electric Power Company, que ainda tenta resolver um vazamento de radioatividade desde a ocorrência do terremoto. Para evitar que a população se contamine, o governo japonês retirou os moradores situados em um raio de 30 km em

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torno da usina de Fukushima que será insuficiente porque a radiação já atingiu inclusive Tóquio situada a 170 km. O terremoto em si não causou danos diretos às usinas nucleares japonesas porque elas foram construídas de acordo com os parâmetros internacionais de segurança. O reator nuclear fica dentro de uma cápsula de aço que recebe água aquecida a altas temperaturas que gera vapor, aciona turbinas e produz energia elétrica. O conjunto de equipamentos que alimentam o reator também fica dentro de um prédio com paredes de concreto de até um metro de espessura. Segundo especialistas, essas usinas são preparadas para suportar até mesmo o impacto de uma aeronave de grande porte. A maior parte das usinas do Japão é antiga utilizando um sistema de bombeamento de água alimentado eletricamente para resfriar o reator nuclear. Este sistema de bombeamento deixou de operar após o terremoto seguido de tsunami porque as redes de transmissão de energia elétrica que o alimentavam foram destruídas com a ocorrência do desastre natural. É provável que tenha havido uma falha no sistema de resfriamento do reator de Fukushima por causa do tsunami. Com a inoperância do sistema de refrigeração, o reator superaqueceu e liberou vapor radioativo, aumentando a pressão dentro da cápsula. Com isso, o reator começou a fundir o que elevou os níveis de radiação em mil vezes segundo as informações da Agência Internacional de Energia Atômica. Por isso, houve o superaquecimento do reator e sua posterior explosão. O urânio começou a virar gás e uma parte dele vazou. As explosões diversas que tiveram lugar em Fukushima resultaram na liberação radioativa sobre o meio ambiente que é perigosa para a população local. Além da radiação da área próxima à usina de Fukushima existe o risco de que se estenda a todo o Japão e, em seguida, por todo o planeta. Cabe observar que o Japão tem 55 reatores nucleares que funcionam em 17 usinas distribuídas pelo país. Juntas, elas geram 36% de toda a energia consumida pelos japoneses. A percentagem da energia nuclear na geração de energia em todo o mundo é de 6,5 % e de 16 % na geração de eletricidade. No mês de janeiro 2009 estavam em funcionamento 210 usinas nucleares em 31 países com ao todo 438 reatores produzindo a potência elétrica total de 372 GW. Hoje, os Estados Unidos são o país com maior número de usinas nucleares totalizando 104. Isso representa 18% da matriz energética daquele país. A França está no topo dos países com maior dependência desse tipo de energia com o uso em 80% da energia nuclear de sua matriz energética. No Brasil, o uso de energia nuclear não chega a 3% do total que é consumido. A energia elétrica utilizada no mundo contempla o uso de várias fontes: 41% de carvão, 16% de hidroelétricas, 13% de nucleares, 22% de gás natural e 5% de petróleo (VENTURA FILHO, Altino. Hidroeletricidade e Outras Energias Renováveis: A Situação Brasileira no Contexto Internacional. Estudos e pesquisas Nº 444. Disponível no website <www.forumnacional.org.br/trf_arq.php?cod=EP04440>). Apesar dos vários

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movimentos em escala nacional e mundial objetivando parar a construção de usinas nucleares, no mundo ainda há 36 centrais em construção em 14 diferentes países, evidenciando que essas centrais ainda serão responsáveis por grande parte da energia elétrica gerada no globo. Ressalte-se que a transformação de energia nuclear em energia elétrica pode acontecer controladamente em reator nuclear através da fissão nuclear do urânio como principal aplicação civil da energia nuclear. A principal vantagem da energia nuclear obtida por fissão é que ela possibilita a não utilização de combustíveis fósseis como o petróleo e o carvão na produção de eletricidade que passou a ser defendida até por alguns ecologistas pelo fato de não gerar gases de efeito estufa. Esses ecologistas defendem uma virada radical em direção à energia nuclear como forma de combater o aquecimento global. Em comparação com a geração hidrelétrica, o uso da energia nuclear tem a vantagem de não requerer o alagamento de grandes áreas para a formação dos lagos de reservatórios, evitando assim a perda de áreas de reservas naturais ou de terras agriculturáveis, bem como a remoção de comunidades inteiras das áreas que são alagadas. No entanto, as usinas nucleares têm a desvantagem relacionada com a disposição final de seus resíduos (lixo atômico) não solucionada definitivamente até hoje e com a impossibilidade de evitar acidentes como aqueles ocorridos em Chernobyl e em Fukushima que ao ocorrerem assumiram dimensões catastróficas. Para exemplificar, Chernobyl contaminou radioativamente uma área de aproximadamente 150.000 km², sendo que 4.300 km² possuem acesso interditado indefinidamente. Até 180 quilômetros distantes do reator situam-se em áreas com uma contaminação de mais de 1,5 milhões de Becquerel por km², o que as deixa inabitáveis por milhares de anos. Muito provavelmente, o acidente de Fukushima no Japão será mais catastrófico do que foi Chernobyl haja vista o vazamento radioativo ser muito maior e estar sem controle o que evidencia a necessidade de banir o uso de centrais nucleares na geração de energia elétrica.

3.5- O sistema mundial de energia requerido para combater o aquecimento global

Independentemente das várias soluções que venham a ser adotadas para eliminar ou mitigar as causas do efeito estufa, a mais importante é sem dúvidas a adoção de medidas que contribuam para a eliminação ou redução do consumo de combustíveis fósseis na produção de energia, bem como para seu uso mais eficiente nos transportes, na indústria, na agropecuária e nas cidades (residências e comércio), haja vista o uso e a produção de energia serem responsáveis por 57% dos gases de estufa emitidos pela atividade humana. Neste sentido, é imprescindível a implantação de um sistema de energia sustentável.

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Tudo leva a crer que, se for mantida a tendência atual de consumo, a participação dos combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural) na matriz energética mundial alcançará 80% em 2030. O petróleo tem uma posição dominante entre as fontes de energia utilizadas. O petróleo, o carvão e o gás natural são, pela ordem, as fontes de energia mais utilizadas na atualidade no consumo mundial final de energia. Os países industrializados da OECD são os maiores consumidores de energia seguidos da China, Rússia e Ásia. Segundo a Agência Internacional de Energia, o petróleo e o carvão são os maiores responsáveis pela emissão de CO2 na atmosfera cujos maiores emissores são os países industrializados da OECD. Se for mantida a tendência atual, é muito provável que, por volta do ano 2020, o mundo estará fazendo uso de 75% a mais de energia e que a maior parte dela será fornecida pelo petróleo, pelo carvão, pelo gás natural e pela energia nuclear. Nesta época, o Golfo Pérsico deverá fornecer mais de 2/3 do petróleo do mundo, enquanto hoje esta parcela é de 26%. Além disso, serão implantadas mais de 3 vezes usinas nucleares nos próximos 30 anos do que as que foram construídas nos últimos 30 anos as quais serão acompanhadas por acidentes nucleares mais frequentes e por crescentes aumentos do lixo nuclear e do plutônio. Este é o cenário energético de referência para os próximos 30 anos, se a atual matriz energética mundial for mantida. A maior participação do petróleo, do carvão e do gás natural implicará em maior emissão de CO2 na atmosfera do planeta na mesma proporção do incremento no suprimento mundial de energia. A Agência Internacional de Energia (AIE) advertiu que "o mundo se encaminhará para um futuro energético insustentável" se os governos não adotarem "medidas urgentes" para otimizar os recursos disponíveis (Ver o artigo AIE: mundo se encaminha para futuro energético insustentável publicado no website <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/11/aie-diz-que-mundo-se-encaminha-para-futuro-energetico-insustentavel.html>). Para a AIE, até 2035 seria necessário investimento mundial de US$ 38 trilhões em infraestrutura energética - dois terços em estados fora da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) - para atender a crescente demanda, 90% para abastecer os países emergentes como China e Índia.

Modelos climáticos referenciados pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) da ONU projetam que as temperaturas globais de superfície provavelmente aumentarão no intervalo entre 1,1 e 6,4 °C entre 1990 e 2100 em face dos níveis cada vez maiores de dióxido de carbono (CO2) e metano na atmosfera. Este cenário só não acontecerá se as emissões globais de CO2 e metano forem cortadas (Ver o website http://www.ipcc.ch). Tudo leva a crer que poderosas forças econômicas, ambientalistas, políticas e sociais deverão empurrar o mundo para um sistema energético diferente do atual que deve operar necessariamente com níveis muito inferiores de combustíveis fósseis. A energia solar, a energia geotérmica, a energia eólica e a energia da biomassa deverão ocupar cada vez mais espaço na matriz energética mundial no futuro.

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O uso da energia solar e de outras energias renováveis provocará mudanças de grande magnitude em todo o planeta destacando-se, entre elas, a criação de indústrias totalmente novas, o desenvolvimento de novos sistemas de transporte e a modificação da agricultura e das cidades. O grande desafio que se coloca na atualidade é o de prosseguir com o desenvolvimento de novas tecnologias que aproveitem eficientemente a energia e utilizem economicamente recursos renováveis. Este é o cenário energético alternativo que poderá substituir o cenário de referência descrito linhas atrás evitando, desta forma, o comprometimento do meio ambiente global. Isto significa dizer que mudanças profundas de política energética global devem ser colocadas em prática para reduzir o consumo de combustíveis fósseis que respondem por 82% dos suprimentos mundiais de energia. 3.6- O sistema energético sustentável para o mundo A maior parte das pessoas tem pouca ideia do que seria um sistema energético não baseado em combustíveis fósseis. Nem parecem reconhecer que é possível uma abordagem alternativa. É muito possível que o gás natural passe a ser o combustível fóssil predominante no futuro porque produz duas vezes mais energia por quilo de carbono liberado. As maiores reservas conhecidas de gás natural estão no Oriente Médio e na Rússia que, nos próximos 40 anos, poderão estar produzindo tanta energia quanto fazem atualmente. Em termos mundiais, o maior dinamismo do consumo de gás natural no futuro pode ser explicado pelos seguintes fatores:

As reservas mundiais provadas de gás natural têm apresentado expressivo crescimento nos últimos anos, tornando-se equivalentes às de petróleo. Hoje, essas reservas seriam suficientes para garantir o consumo aos níveis atuais durante 66 anos, ao passo que as reservas de petróleo seriam suficientes para 40 anos de consumo.

Geograficamente, as reservas mundiais de gás natural encontram-se melhor distribuídas do que as de petróleo. Enquanto o Oriente Médio possui 65% das reservas mundiais de petróleo, em relação ao gás natural possui apenas 34%.

Os avanços tecnológicos nos sistemas de transporte de gás natural viabilizaram técnica e economicamente o consumo de grandes volumes de gás, mesmo quando as fontes de produção apresentam longas distâncias dos centros de consumo.

As crescentes pressões pela redução da poluição ambiental, sobretudo nas grandes cidades, vêm favorecendo a utilização do gás natural como recurso energético, já que sua queima é menos poluente do que a de derivados de petróleo.

A política de segurança energética dos países da OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) vem se orientando no sentido de reduzir a dependência de óleo importado, sobretudo do Oriente Médio.

Certamente, a energia nuclear não será uma fonte importante de energia em um sistema energético realmente sustentável. Nos últimos 10 anos, a expansão das usinas nucleares

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ficou mais lenta, reduzindo-se até sua paralisação no mundo inteiro. Todos os reatores existentes estão programados para sair de atividade nos próximos 40 anos e a maior parte deles não será reposta. Isto se deve, em grande medida, aos acidentes de Three Mile Island nos Estados Unidos em 1979, Tchernobil na ex- União Soviética em 1986 e Fukushima no Japão em 2011 e das pressões de amplos setores da sociedade em vários países. Um sistema de energia sustentável somente será possível se a eficiência energética for muito aperfeiçoada. Acima de tudo, o mundo teria de produzir bens e serviços com um terço à metade da energia que utiliza atualmente. Já se acham disponíveis tecnologias que quadruplicariam a eficiência da maioria dos sistemas de iluminação e duplicariam a de novos automóveis. Melhoramentos na eficiência elétrica poderão reduzir em 40 a 75% a necessidade de energia. As necessidades de aquecimento e de refrigeração de edifícios podem ser cortadas para uma fração ainda menor dos níveis atuais graças a equipamentos de aquecimento e condicionadores de ar mais aperfeiçoados (ALCOFORADO, 2010).

Quadruplicar a produção de energia renovável é também essencial para se obter um sistema de energia sustentável no futuro. Isso requereria o uso da biomassa e da energia hidroelétrica, especialmente em países de grande potencial, como é o caso do Brasil. Exigiria, também, que a energia solar, eólica e geotérmica faça parte do “mix” energético do mundo. As tecnologias já se acham à disposição para dar início a essa transição histórica de energias que só ocorrerá com mudanças fundamentais na política energética na grande maioria dos países (ALCOFORADO, 2010).

O primeiro passo consiste em redirecionar um grande número de políticas governamentais de modo que se destinem a realizar os objetivos centrais da eficiência energética e da redução do uso de combustíveis fósseis. Por exemplo: recompensar a aquisição de veículos automotores eficientes, encorajar alternativas de transporte de massa de alta capacidade em substituição ao automóvel, reestruturar as indústrias de energia e elevar os impostos sobre os combustíveis fósseis.

A biomassa e a energia hidroelétrica fornecem cerca de 13% da energia mundial. A biomassa sozinha satisfaz 35% das necessidades dos países em desenvolvimento. É provável que a conversão direta de energia solar em eletricidade e calor seja a pedra angular de um sistema mundial de energia sustentável. A luz solar não apenas se acha disponível em grande quantidade como também está mais extensamente distribuída do que qualquer outra fonte energética (ALCOFORADO, F. O sistema mundial de energia sustentável. Revista Politécnica 10E, Ano 4. Salvador: 2011).

A energia solar é bem apropriada para fornecer calor na temperatura do ponto de ebulição da água e abaixo dele, o que responde por 30 a 50 % do uso da energia nos países industrializados e mais ainda nos países em desenvolvimento. Daqui a algumas décadas, poder-se-á utilizar o sol para aquecer a maior parte da água necessária e novos edifícios poderão tirar vantagem do aquecimento e do resfriamento natural para cortar

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em mais de 80% a energia que utilizam. Usar eletricidade e queimar diretamente combustíveis fósseis para aquecer a água se tornarão raros nas próximas décadas (ALCOFORADO, 2010).

O Quadro 5 a seguir apresenta a proposta do Worldwatch Institute de como deveria ser a produção mundial de energia no ano 2030 visando reduzir as emissões de CO2 para o nível considerado aceitável de 2,6 bilhões de toneladas reduzindo-as à metade das emissões registradas em 1989. A análise do Quadro 5 permite constatar que, de 1989 a 2030, a produção de petróleo deveria ser reduzida à metade e a de carvão de 90%, enquanto a de fontes de energia renováveis deveria crescer quase 4 vezes. No ano 2030, as energias renováveis deveriam ser da ordem de 70% da produção total de energia do planeta. Estes são os requisitos de um sistema energético sustentável em todo o mundo.

Quadro 5 - Consumo Mundial de Energia e Emissões de CO2 em 1989 e 2030 Fonte de Energia 1989 2030

Energia

(Mtep)

CO2

(milhões de ton.)

Energia

(Mtep)

CO2

(milhões de ton.)

Petróleo 3.098 2.393 1.500 1.160

Carvão 2.231 2.396 240 430

Gás Natural 1.707 975 1.750 1.000

Renováveis 1.813 - 7.000 -

Nuclear 451 - 0 0

Total 9.300 5.764 10.490 2.590

Fonte: Worldwatch Institute. Consumo Mundial de Energia e Emissões de CO2 em 1989 e 2030.

Para evitar a ocorrência do cenário catastrófico descrito linhas atrás para o meio ambiente do planeta, é preciso que seja reformulado drasticamente o modelo energético atual. O sistema energético sustentável alternativo ao atual deve apresentar, portanto, as características seguintes:

Deve operar com níveis muito inferiores de combustíveis fósseis e sem energia nuclear. O uso do carvão seria reduzido em 90%.

As energias renováveis (solar, eólica e biomassa) e a energia geotérmica devem ocupar espaços cada vez maiores na matriz energética mundial.

É necessário desenvolver grande esforço voltado para a eficiência energética porque é pouco provável que as energias renováveis venham a se tornar mais baratas do que o petróleo tem sido.

A eficiência energética deve ser aperfeiçoada cada vez mais. O mundo terá que produzir bens e serviços com um terço à metade da energia que utiliza atualmente.

Existem tecnologias que permitem quadruplicar a eficiência dos sistemas de iluminação e duplicar a dos automóveis.

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O gás natural será o combustível fóssil predominante no futuro porque produz duas vezes mais energia por quilo de carbono liberado.

Quadruplicar a produção de energia renovável é essencial para se obter um sistema de energia sustentável no futuro.

4. CONCLUSÕES SOBRE O SISTEMA DE ENERGIA REQUERIDO PARA EVITAR A MUDANÇA CLIMÁTICA CATASTRÓFICA PLANETÁRIA

Tomando por base o exposto nos capítulos anteriores, as principais conclusões sobre o sistema de energia requerido para o mundo sob a ótica do desenvolvimento sustentável são as seguintes:

1) Para evitar o cenário da mudança climática catastrófica global, torna-se imperativo reduzir as emissões globais de carbono promovendo, entre outras medidas, mudanças no atual modelo energético mundial baseado atualmente em combustíveis fósseis (carvão e petróleo) e nucleares, por outro estruturado fundamentalmente com base nos recursos energéticos renováveis, na hidroeletricidade, na biomassa e nas fontes de energia solar e eólica para evitar ou minimizar o aquecimento global e, consequentemente, a ocorrência de mudanças catastróficas no clima da Terra.

2) Como foi apresentado nos capítulos anteriores, para ser alcançada a sustentabilidade no campo da energia é preciso o desenvolvimento de duas estratégias fundamentais: uma, de erradicação dos combustíveis fósseis da matriz energética mundial e sua substituição por fontes renováveis de energia; e outra de economia de energia na cidade e no campo, nas edificações, na agricultura, nas indústrias e nos meios de transporte em geral contribuindo, dessa forma, para a redução das emissões globais de carbono e, consequentemente, do efeito estufa.

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