Eficácia do fungo nematófago Duddingtonia flagrans no controlo ...

17
Eficácia do fungo nematófago Duddingtonia flagrans no controlo biológico da estrongilidose equina no Ribatejo Efficacy of the nematofagous fungi Duddingtonia flagrans in the biological control of horse strongylosis in the Ribatejo L. M. Madeira de Carvalho 1 *, A. T. Gillespie 2 , P. M. Serra 3 , F. A. Bernardo 1 ,A. P. Farrim 4 , I. M. Fazendeiro 1 1 CIISA, Faculdade de Medicina Veterinária (TULisbon), Av. da Universidade Técnica, 1300-477 Lisboa 2 "Chr Hansen - BioSystems, A/S", 10-12 Boge Allé, DK-2970, Horsholm, Denmark 3 NationWide Laboratories, Veterinary Diagnostic and Clinical Pathology Laboratory, UK 4 Companhia das Lezírias, S.A., Lg. 25 de Abril, 17, 2135 Samora Correia RPCV (2007) 102 (563-564) 233-247 REVISTA PORTUGUESA CIÊNCIAS VETERINÁRIAS DE Resumo: Para avaliar a eficácia do fungo nematófago Duddingtonia flagrans no controlo biológico da infecção por estrongilídeos intestinais de poldros em pastoreio, foram realizados dois ensaios numa coudelaria próxima de Lisboa, no Ribatejo. Os trabalhos decorreram de 1997 a 1999, utilizando para cada ensaio 1 grupo controlo (C) e 1 grupo tratamento (D). Os animais apresentavam uma infecção natural por estrongilídeos e o sistema de maneio foi idêntico para os dois grupos, sendo ambos desparasitados previamente com pamoato de pirantel ou com avermectinas. Os grupos D receberam uma dose diária de D. flagrans durante todo o ensaio (5x105 esporos/Kg PV), misturada com um suplemento alimentar. Os grupos C receberam uma quantidade semelhante de suplemento mas sem fungos. Foram colhidas quinzenalmente amostras de fezes para contagem de ovos (OPG) e coproculturas (% de redução larvar e identificação de géneros/espécies) e erva da pastagem (avaliação do Nº L3/kg erva seca e % da sua redução). Foram colhidas amostras de sangue para avaliação de parâmetros sanguíneos. As diferenças entre os dois grupos foram analisadas pelo teste de Mann-Whitney (p<0,05 e 0,1). Nos ensaios na pastagem não houve uma diferença significativa nos valores de OPG entre os grupos C e D, embora o período da Primavera/Verão tenha permitido uma eliminação de ovos mais baixa no grupo com D. flagrans. O Nº L3 nas coproculturas dos grupos D foi reduzido significativamente entre 62-72%. O NºL3/kg erva seca da pastagem do grupo D foi reduzido significativamente entre 50 a 70%, comparativamente ao grupo C. Estes resultados demonstram que D. flagrans é eficaz na redução das formas infectantes dos estrongilídeos de equídeos nas fezes e na erva num sistema de criação em pastoreio, o que poderá ser importante numa futura utilização como complemento dos métodos clássicos de controlo da estrongilidose equina em Portugal. Palavras-chave: Controlo biológico, Duddingtonia flagrans, Estrongilídeos, cavalo Abstract: Field trials were performed to evaluate the capacity of the nematode trapping fungus Duddingtonia flagrans to control strongyle infection in a group of yearlings on the pasture in a horse stud farm near Lisbon, in Ribatejo. Field work was performed from 1997 to 1999, involving 2 groups of horses with mixed strongyle infection kept on two similar pastures, with the same management for the two groups, both dewormed at the beginning of the trial with pyrantel pamoate or avermectins. One of the groups (D) received a daily dose of D. flagrans during the whole trial (5x105spores/Kg bw) mixed with a feed supplement, while the other (C) received a similar amount of supplement without fungus. Faecal samples were collected every fortnight for faecal worm egg counts (EPG) and cultures to assess percentage of larval reduction and genera/species identification and pasture samples were collected for calculation of the number of L3/kg dry herbage and percentage of larval reduction. Blood samples were collected to assess some blood parameters. The differences between the 2 groups were determined with Mann-Whitney Test, with p values <0,05 and 0,1. The grazing animals did not show a significant difference in the EPG levels in both groups, although the Spring/Summer period allowed lower EPG levels in the horses fed with D. flagrans. The nºL3/g in faecal cultures was reduced significantly 62-72% in D groups. The NºL3/kg dry herbage of the pasture used by group D was significantly reduced 50 and 70%, when compared with group C. These results show that D. flagrans is effective in reducing the infective larval stages of strongyles in the faeces and on the herbage in horses raised on the pasture, thus being useful to complement the classic control methods of horse strongylosis in Portugal. Keywords: Biological control, Duddingtonia flagrans, Strongyles, horse 233 *Correspondência: [email protected]

Transcript of Eficácia do fungo nematófago Duddingtonia flagrans no controlo ...

Page 1: Eficácia do fungo nematófago Duddingtonia flagrans no controlo ...

Eficácia do fungo nematófago Duddingtonia flagrans no controlo biológico

da estrongilidose equina no Ribatejo

Efficacy of the nematofagous fungi Duddingtonia flagrans in the biological

control of horse strongylosis in the Ribatejo

L. M. Madeira de Carvalho1*, A. T. Gillespie2, P. M. Serra3, F. A. Bernardo1, A. P. Farrim4,

I. M. Fazendeiro1

1CIISA, Faculdade de Medicina Veterinária (TULisbon), Av. da Universidade Técnica, 1300-477 Lisboa2"Chr Hansen - BioSystems, A/S", 10-12 Boge Allé, DK-2970, Horsholm, Denmark

3NationWide Laboratories, Veterinary Diagnostic and Clinical Pathology Laboratory, UK4Companhia das Lezírias, S.A., Lg. 25 de Abril, 17, 2135 Samora Correia

RPCV (2007) 102 (563-564) 233-247 R E V I S T A P O R T U G U E S A

CIÊNCIAS VETERINÁRIASDE

Resumo: Para avaliar a eficácia do fungo nematófagoDuddingtonia flagrans no controlo biológico da infecção porestrongilídeos intestinais de poldros em pastoreio, foram realizados dois ensaios numa coudelaria próxima de Lisboa, noRibatejo. Os trabalhos decorreram de 1997 a 1999, utilizandopara cada ensaio 1 grupo controlo (C) e 1 grupo tratamento (D).Os animais apresentavam uma infecção natural porestrongilídeos e o sistema de maneio foi idêntico para os doisgrupos, sendo ambos desparasitados previamente com pamoatode pirantel ou com avermectinas. Os grupos D receberam umadose diária de D. flagrans durante todo o ensaio (5x105esporos/Kg PV), misturada com um suplemento alimentar. Osgrupos C receberam uma quantidade semelhante de suplementomas sem fungos. Foram colhidas quinzenalmente amostras defezes para contagem de ovos (OPG) e coproculturas (% deredução larvar e identificação de géneros/espécies) e erva dapastagem (avaliação do Nº L3/kg erva seca e % da sua redução).Foram colhidas amostras de sangue para avaliação de parâmetrossanguíneos. As diferenças entre os dois grupos foram analisadaspelo teste de Mann-Whitney (p<0,05 e 0,1). Nos ensaios na pastagem não houve uma diferença significativanos valores de OPG entre os grupos C e D, embora o período daPrimavera/Verão tenha permitido uma eliminação de ovos maisbaixa no grupo com D. flagrans. O Nº L3 nas coproculturas dosgrupos D foi reduzido significativamente entre 62-72%. ONºL3/kg erva seca da pastagem do grupo D foi reduzido significativamente entre 50 a 70%, comparativamente ao grupo C. Estes resultados demonstram que D. flagrans é eficazna redução das formas infectantes dos estrongilídeos deequídeos nas fezes e na erva num sistema de criação em pastoreio, o que poderá ser importante numa futura utilizaçãocomo complemento dos métodos clássicos de controlo daestrongilidose equina em Portugal.

Palavras-chave: Controlo biológico, Duddingtonia flagrans,Estrongilídeos, cavalo

Abstract: Field trials were performed to evaluate the capacityof the nematode trapping fungus Duddingtonia flagrans to control strongyle infection in a group of yearlings on the pasturein a horse stud farm near Lisbon, in Ribatejo. Field work wasperformed from 1997 to 1999, involving 2 groups of horseswith mixed strongyle infection kept on two similar pastures,with the same management for the two groups, both dewormedat the beginning of the trial with pyrantel pamoate or avermectins. One of the groups (D) received a daily dose of D. flagrans during the whole trial (5x105spores/Kg bw) mixedwith a feed supplement, while the other (C) received a similaramount of supplement without fungus. Faecal samples were collected every fortnight for faecal worm egg counts (EPG) and cultures to assess percentage of larval reduction and genera/species identification and pasture samples were collectedfor calculation of the number of L3/kg dry herbage and percentage of larval reduction. Blood samples were collected toassess some blood parameters. The differences between the 2groups were determined with Mann-Whitney Test, with p values<0,05 and 0,1.The grazing animals did not show a significant difference in theEPG levels in both groups, although the Spring/Summer periodallowed lower EPG levels in the horses fed with D. flagrans. ThenºL3/g in faecal cultures was reduced significantly 62-72% in Dgroups. The NºL3/kg dry herbage of the pasture used by groupD was significantly reduced 50 and 70%, when compared withgroup C. These results show that D. flagrans is effective inreducing the infective larval stages of strongyles in the faecesand on the herbage in horses raised on the pasture, thus beinguseful to complement the classic control methods of horsestrongylosis in Portugal.

Keywords: Biological control, Duddingtonia flagrans,Strongyles, horse

233

*Correspondência: [email protected]

Page 2: Eficácia do fungo nematófago Duddingtonia flagrans no controlo ...

RPCV (2007) 102 (563-564) 233-247Madeira de Carvalho et al.

Introdução

Desde a introdução do dissulfito de carbono, em1917, até à descoberta da moxidectina em 1990, queos anti-helmínticos têm sido utilizados regularmentena desparasitação dos equinos, tornando-se cada vezmais baratos, diversificados, com maior margem desegurança, eficácia e espectro de acção. Por outrolado, o controlo da estrongilidose equina tem sidobaseado no uso intensivo e quase exclusivo de anti-helmínticos, em detrimento da utilização racionaldos anti-parasitários, dum adequado maneio daspastagens, bem como da procura de meios alternativose/ou complementares (Lyons et al., 1999; Waller,1999).

Os estrongilídeos, em particular os ciatostomíneos,concentram as atenções da investigação parasitológicados equinos, pela sua patogenicidade, resistência avários anti-helmínticos (piperazina, benzimidazóis etetra-hidropirimidinas) e pela difícil remoção das suasformas L3 e L4 enquistadas na mucosa e submucosado intestino grosso (Bird e Herd, 1994; Lichtenfels et al., 1998). Estes estrongilídeos permanecem comouma importante causa de doença nos equinos, além de que a sua resistência aos anti-helmínticos tem ocorrido quase paralelamente ao desenvolvimento denovas moléculas (Lloyd e Soulsby, 1998).

Nos ruminantes, o aparecimento de tricostrongilí-deos resistentes desde meados do século XX, conduziuao seu controlo sustentado e integrado, adaptado progressivamente também para o controlo da estrongili-dose equina. Esta nova abordagem ao "maneio" daspopulações de parasitas, envolve o melhoramento dapastagem e da sua rotação, a criação de raças maisresistentes à infecção parasitária, o desenvolvimento devacinas para as principais helmintoses, suplementos alimentares em quantidade e qualidade e o seu controloatravés de métodos biológicos (Waller, 1997).

O controlo biológico dos nemátodes gastrintestinaisdos animais domésticos, envolve a utilização de fungos que infectam e destroem as suas formas dedesenvolvimento na pastagem. Estes fungosevoluíram de forma independente e encontram-se distribuídos por vários grupos taxonómicos, podendoatacar ovos de nemátodes, outros que são endopara-sitas e ainda outros com características predatórias(Larsen et al., 1991; Bird e Herd, 1994).

Os fungos predadores ou nematófagos, constituemo maior grupo, caracterizando-se pela produção de umsistema de hifas que formam uma "rede" ou "armadilha"(do original "trapping device"), onde capturam as larvas infectantes vivas (larvas do 3º estádio ou L3) de nemátodes parasitas com uma fase exógenade desenvolvimento na pastagem. Posteriormente, expansões destas "armadilhas" ou "redes" penetramnas L3, crescem e absorvem o conteúdo das larvasinfectantes de diversos nemátodes parasitas gastrintestinais dos animais domésticos (em particular

tricostrongilídeos e estrongilídeos de ruminantes,equinos e suínos), promovendo a sua imobilização e asua morte (Barron, 1977; Bird e Herd, 1994). Sabe-seque parte da sua acção nematófaga também é devidaao seu arsenal enzimático, pois este é fundamentalpara perfurar e degradar a cutícula rica em quitina daslarvas infectantes, tendo sido isoladas até ao momentofosfatases ácidas, proteases, fosfofolipase C, lipases epectinases (Meyer e Wiebe, 2003; Mota et al., 2003).

Estes fungos são cosmopolitas, encontrando-se nacomunidade microbiana do solo, pastagens e detritosorgânicos, em solos naturais e agrícolas e em todas aszonas onde haja matéria orgânica em decomposição,localizações propícias também ao desenvolvimento dediversas populações de nemátodes parasitas (Bird eHerd, 1994; Waller, 1999).

O maior problema colocado pela utilização destesfungos como agentes de controlo biológico, é a necessidade da sua presença nas massas fecais doshospedeiros, para uma eficaz redução das formasinfectantes neste micro-ecossistema e consequente-mente na pastagem. No entanto, sabe-se que após asua emissão, as fezes frescas de ruminantes e equinossão rapidamente colonizadas por estes fungos, sendotambém frequente a sua ingestão durante o pastoreio,com subsequente excreção nas fezes (Larsen, 2000).

Grønvold et al. (1993) e Larsen et al. (1992, 1994,1995), demonstraram a sua facilidade de adminis-tração per os nos ruminantes e equinos, a persistênciada sua viabilidade e modo de acção após passagempelo tubo digestivo destes ungulados, que se devemuito ao tipo especial de esporos, os clamidosporos,muito resistentes aos sucos digestivos e com elevadataxa de viabilidade após eliminação fecal.

Este tipo de luta biológica tem sido estudado nocontrolo dos estrongilídeos intestinais do cavalo,sendo considerada segura para os equídeos, além deprovocar um forte índice de captura e destruição deformas infectantes destes nemátodes. A alimentaçãodos cavalos na pastagem com fungos nematófagos,pode constituir uma alternativa e/ou complemento aos anti-helmínticos, comprovada em trabalhos queconseguiram uma redução significativa de L3 nasfezes e na pastagem, em particular L3 de ciatostomí-neos, diminuindo substancialmente o risco deinfecção dos hospedeiros (Bird e Herd, 1994, 1995;Larsen et al., 1995,1996).

Com base nestes dados, procurámos avaliar o com-portamento e eficácia do fungo Duddingtonia flagrans

no controlo dos estrongilídeos dos equinos numaexploração do Ribatejo, ensaios que foram realizadosem equinos pela primeira vez na Península Ibérica.Este estudo envolveu a Faculdade de MedicinaVeterinária, Lisboa, a Companhia das Lezírias, S.A.(CL) e a empresa "CHR HANSEN – BioSystems", daDinamarca", sendo esta última entidade a responsávelpela produção e distribuição do fungo D. flagrans.

Os objectivos dos ensaios constaram da avaliação da

234

Page 3: Eficácia do fungo nematófago Duddingtonia flagrans no controlo ...

RPCV (2007) 102 (563-564) 233-247Madeira de Carvalho et al.

eficácia da administração de um isolado de fungos D.

flagrans em culturas fecais, na redução dos níveis deeliminação parasitária e da contaminação das pasta-gens de equinos aos quais se administrou D. flagrans,por comparação com uma população controlo.Simultaneamente foram pesquisadas eventuais altera-ções dos hospedeiros induzidas pela administraçãodos fungos, através do estudo comparativo dosparâmetros sanguíneos dos dois grupos. Os resultadosobtidos são aplicados ao modelo epidemiológico daestrongilidose equina no Ribatejo e são apresentadaspropostas de controlo integrado utilizando este fungonematófago.

Material e métodos

Delineamento experimental

O ensaio decorreu em dois períodos, de Novembrode 1997 a Março de 1998 e de Fevereiro a Julho de1999, utilizando poldros com cerca de 10 – 12 mesesde idade, com uma infecção natural por estrongilídeosintestinais. O conjunto inicial de animais foi divididoem dois grupos, de acordo com a condição corporal eo número de ovos/g fezes (OPG), segundo Larsen et

al. (1996). Procedeu-se a uma primeira contagemindividual do OPG, ordenando os equinos em doisgrupos para que o nível de infecção fosse semelhanteem ambos.

Antes de iniciar a administração periódica dos fungos, os animais de ambos os grupos foram despa-rasitados no início do teste com um anti-helmíntico delargo espectro, para que o nível de infecção não fossedemasiado elevado e para minimizar o risco de umaestrongilidose clínica. O grupo ao qual foram admi-nistrados os fungos Duddingtonia flagrans designámoscomo D, recebendo uma dose diária de material fúngiconos alimentos, enquanto o grupo controlo, denominadoC, recebeu uma quantidade igual de alimento sem fungos.

Animais, maneio e tratamentos

No ensaio de 1997/98, foram utilizados 18 poldrosmachos repartidos por dois grupos com 9 animais. Em 1999 foram utilizados três grupos, um grupo tratamento com 9 poldros machos (D), e dois gruposcontrolo, o inicial com 12 poldros fêmeas (C1) e umsegundo, com 16 poldros de 1-2 anos (C2). Duranteeste último ensaio e por imperativos do maneio daexploração, o C1 foi transferido em Maio para outrapastagem mais afastada, pelo que a partir daí o grupoD foi comparado com o C2, que se encontrava numaparcela de terreno próxima do ensaio inicial e incluíapoldros criados pelo sistema normal de produçãoequina em pastoreio da CL (Figura 1). Todos os animais pertenciam à Coudelaria da CL, de raçaLusitana ou Cruzada, com cerca de 200-250 kgs, cujo

desmame foi efectuado em Outubro/Novembro. Os animais foram mantidos num sistema semi-

-extensivo de Outubro de 1997 a Março de 1998 (1º ensaio) e de Fevereiro a Julho de 1999 (2º ensaio), permanecendo em dois parques contíguos depastagem espontânea e dimensões semelhantes, tendoainda a possibilidade de se abrigarem em telheiros oualojamentos na pastagem. Todos os equinos efectua-ram um pastoreio ad libitum, recebendo uma raçãodiária de granulado, palha, feno e ainda um suplementovitamínico (Neolait®).

Os equinos foram todos vacinados contra o Tétano eInfluenza com a vacina "Tetagripiffa" e desparasitadoscom pamoato de pirantel (PPIR) (Strongid®), previamente à administração do fungo, no 1º ensaioem 13 de Novembro de 1997 e no 2º ensaio em 18 de Fevereiro de 1999. A administração de um anti-helmíntico antes do fungo é uma condição destetipo de controlo, na medida em que os fungos têm umaacção fundamentalmente preventiva ao eliminarem aslarvas infectantes na pastagem.

Os fungos foram administrados aos animais dogrupo D, numa dose diária de clamidosporos de 5x105 /kg peso vivo (equivalente a um peso seco de 10-20 g de material fúngico), misturados com oconcentrado ou a silagem. O grupo C recebeu umaquantidade igual de alimento mas sem fungos. Aadministração de D. flagrans no 1º e 2º ensaio iniciou-sea 25 de Novembro de 1997 e a 19 de Fevereiro de1999, respectivamente, ou seja no dia seguinte àdesparasitação. O nível de parasitismo detectado no 2ºensaio obrigou a uma nova desparasitação dos equinosem Abril de 1999, os grupos D e C1 com doramectina(DRM) (Dectomax®) e o C2 com ivermectina (IVM)(Eqvalan®).

Os animais permaneceram nos parques de pastagemsob observação regular durante os períodos do estudo,para detecção de alguma reacção à ingestão do produtoe para certificação de que os animais ingeriam o material fúngico (Figura 1).

Este trabalho experimental foi objecto de apreciaçãoe autorização oficial pela Direcção-geral deVeterinária, com a salvaguarda do bem-estar e mínimograu de sofrimento dos animais. Além destas premissase caso fosse necessário, foram acordadas medidas adicionais com o Médico-veterinário da exploraçãopara minimizar o seu desconforto e eliminar possíveisdeficiências inerentes à experimentação, nomeada-mente aparecimento de diarreias e cólicas, através daadministração suplementar de anti-parasitários,antibióticos, anti-inflamatórios e anti-espasmódicos.

Material fúngico

No ensaio foi utilizada a variante "Troll A" do fungoDuddingtonia flagrans, que ocorre normalmente naDinamarca, isolado e identificado em Trollesminde,perto de Roskilde, por Larsen et al. (1991) e Grønvoldet al. (1993a).

235

Page 4: Eficácia do fungo nematófago Duddingtonia flagrans no controlo ...

RPCV (2007) 102 (563-564) 233-247Madeira de Carvalho et al.

Os fungos foram previamente seleccionados, cultivados e adicionados por métodos microbiológicosindustriais a grãos de aveia e embalados em saquetasherméticas de plástico pelos Laboratórios "CHRHANSEN - BioSystems, A/S" (Figuras 1E e 1F). (O conteúdo de cada saqueta foi calculado previamentepara cada dia, para a totalidade dos animais e pesoglobal do grupo D). As embalagens foramarmazenadas à temperatura ambiente e os grãos deaveia com fungos foram misturados e homogeneizadoscom o suplemento alimentar no comedouro, sendoadministrados via oral numa dose diária declamidosporos de 5x105/kg peso vivo.

Métodos coprológicos e de cultura fecal

Para diagnóstico do nível de infecção porestrongilídeos utilizou-se a metodologia de Larsen et al. (1996) e efectuámos a colheita de fezes com frequência semanal (no início do ensaio) e quinzenal.As colheitas foram realizadas individualmente (a partir do recto) no início, no meio e no fim de cada

ensaio e por amostragem na pastagem, nas restantesdatas.

Para determinação do nível de OPG utilizou-se ométodo de McMaster de acordo com a técnica deThienpont et al. (1986), com um limiar de detecção de50 ovos/g de fezes (OPG). Os resultados foramexpressos pela média aritmética do OPG do grupopara cada colheita.

As culturas fecais foram realizadas a nível individual no início, no meio e no fim do ensaio paralelamente à determinação individual do OPG epor amostragem nas restantes datas, sendo efectuadasde acordo com a metodologia de Madeira de Carvalho(1993) e Larsen et al. (1996). Basicamente, a partir decada amostra colhida na pastagem foi retirada umasubamostra com 4 g, num total de 36 g para cada cultura de grupo. Para cada lote de animais foramefectuadas 3-5 culturas de grupo e quer estas quer asindividuais foram incubadas durante 11-14 dias à temperatura de 26-28 ºC e humidade relativa de 70-80%. As L3 foram recolhidas pelo método de Uenoe Gutierres (1983), com copos de plástico e placas de

236

Figura 1. A e B - Grupos D e C no ensaio de 1997/98; C e D - Grupos D e C1 no ensaio de 1999; E e F - Administração de D. flagrans no comedouro do Grupo D e aspecto da aveia com o fungo misturada com a silagem.

Page 5: Eficácia do fungo nematófago Duddingtonia flagrans no controlo ...

RPCV (2007) 102 (563-564) 233-247Madeira de Carvalho et al.

Petri. Após conservação a 4 ºC era efectuada a contagem e calculado o nº médio de L3/g. As fezesforam pesadas previamente, para determinação donºL3/g fezes e da percentagem de desenvolvimento:

% Des. larvar = L3/g médio/OPG médio em cadacolheita x100.

A percentagem média de redução larvar induzidapelo Duddingtonia flagrans foi determinada pelametodologia adaptada de Baudena et al. (2000a), coma fórmula:

% Redução = 100 – (L3/g nas culturas do grupoD/L3/g nas culturas do grupo C x100)

As larvas L3 dos estrongilídeos de equídeos foramobservadas numa alíquota de 100 ml de suspensãoaquosa entre lâmina e lamela, procedendo à sua contagem através da fixação e coloração diferencialcom soluto de lugol. O número total de L3 foi calculado para 10 ml de líquido e determinado onúmero de L3/g fezes e a percentagem de desenvolvi-mento médio relativamente ao OPG médio para cadacolheita. Os resultados foram expressos pela médiaaritmética do total de contagens efectuadas. A suaidentificação foi realizada com base nas chaves deSoulsby (1965), Arundel (1985) e Bevilaqua et al.(1993).

Observação do desenvolvimento fúngico nas fezes

Durante o primeiro ensaio, as amostras fecais foramcolhidas individualmente e uma grama da amostra de fezes de cada um dos poldros de cada grupo foiretirada para uma cultura fecal com um total de 9 gramas, num total de 3 culturas por cada grupo, paraobservação directa do micélio de D. flagrans segundoo método de Larsen et al. (1996). Esta avaliação foiefectuada por observação ao microscópio durante 4 datas de colheita para seguir o crescimento e desenvolvimento do fungo durante 2 a 4 semanas após o início da cultura.

O desenvolvimento micelar de D. flagrans foi classificado do seguinte modo: 0, sem desenvolvi-mento; +, pequeno micélio à superfície das fezes; ++,rede micelar mais desenvolvida com aspecto tridimen-sional; +++, rede micelar completamente formadacom aspecto de tufo à superfície da amostra fecal.

Nível de contaminação da pastagem

As colheitas foram efectuadas nas pastagens utilizadas por ambos os grupos com frequência semanal, no início de cada ensaio, e quinzenal norestante período de estudo, pelo método do duplo Wde Taylor (1939), com modificações e adaptaçõessegundo Ludwig e Johnstone (1984) e Madeira deCarvalho (1993), num total de 400 amostras por folhade pastagem para cada grupo do ensaio.

Os métodos de extracção, conservação e contagemdas larvas infectantes na pastagem foram efectuadosde acordo com Madeira de Carvalho (1993). As L3

foram extraídas por lavagem com água da torneira,centrifugação e filtração com peneiros de malhadecrescente de 1000, 500 e 20 mm, concentradas comfunil de Buchner e bomba de vácuo e isoladas atravésde aparelho de Baermann. O nível de contaminaçãofoi expresso através da fórmula: Nº L3/kg Erva Seca =Nº total L3 (em 10 ml) x 1000/Peso erva (gramas).

A percentagem de redução larvar na pastagem foicalculada com base na fórmula do ponto 2.4. adaptadaà contagem de larvas na pastagem.

Parâmetros hematológicos

Durante o primeiro ensaio foram realizadas três colheitas de sangue para apreciação de parâmetrossanguíneos nos dois grupos de animais em estudo: emNovembro de 1997 e Janeiro e Março de 1998. Osparâmetros analisados incluíram o hemograma, a fórmula leucocitária, albumina, globulinas, proteínatotal, glucose e os enzimas ALT e AST.

Para as fórmulas leucocitárias foram utilizadosesfregaços de sangue corados pelo Giemsa. Para ascontagens celulares foram utilizados os contadoresMS9‰ and BPC BioSED‰PRIME AutomaticPhotometer e para as restantes determinações foramutilizadas a técnica de espectrofotometria (proteínastotais, albumina, globulinas) através do aparelho"Photometer BPC BioSed srl – BPC Prime" e a técnicade fotometria de reflectância (glucose) com o aparelho"Reflotron®". Os valores hematológicos de referênciaforam considerados a partir dos trabalhos de Jain(1993) e Kaneko et al. (1997).

Dados meteorológicos

As informações sobre precipitação total, humidaderelativa e temperatura média, mínima e máxima foramobtidas a partir dos registos da estação meteorológicade Coruche, a mais próxima do local da experiência,de Novembro de 1997 a Março de 1998 e de Fevereiroa Julho de 1999.

Análise estatística

Os dados de estatística descritiva foram obtidos como programa "Microsoft Excel 2000®" e as diferençasentre o grupo experimental e o grupo de controloforam analisadas pelo teste de Mann-Whitney, programa "GraphPad InStat Version 3.05 for Windows95/NT, 2000". Para este ensaio, foi consideradop<0,05 para valores significativos e p<0,1 parabiologicamente significativos.

Resultados

Níveis de OPG e de abundância de L3

Os níveis de OPG foram semelhantes para os doisgrupos no início dos dois ensaios. No entanto, no 1ºensaio, em 17/2/98 e no final do 2º ensaio (entre os

237

Page 6: Eficácia do fungo nematófago Duddingtonia flagrans no controlo ...

238

RPCV (2007) 102 (563-564) 233-247Madeira de Carvalho et al.

grupos D e C2), foram determinadas diferenças signi-ficativas pelo teste de Mann-Whitney (p<0,05).Também se observou em ambas as experiências que oreaparecimento dos ovos ocorreu sempre em primeirolugar nos grupos controlo e posteriormente nos gru-pos Duddingtonia (Figura 2).

As culturas fecais registaram uma redução signi-ficativa do número de L3/g dos grupos D comparati-vamente aos grupos C em ambos os ensaios. Em1997/98, as diferenças foram mais notórias deDezembro a Janeiro, p <0,05 em 6/1 e p<0,1 nas outras colheitas com diferenças mais acentuadas(Figura 3A).

Também foram verificadas reduções significativasno número de L3/g de fezes nos animais que receberamD. flagrans em 1999 e nas restantes colheitas os valores do grupo D foram sempre inferiores aos dosgrupos C1 e C2 (Figura 3B). As percentagens dedesenvolvimento e redução larvar nos grupos D, registaram sempre valores inferiores e superiores aosdos grupos C, respectivamente, com excepção de umacolheita efectuada em Março de 1999. A proporçãomédia de L3 desenvolvidas entre o grupo C/grupo Dno ensaio 1 foi de 6:1 e no ensaio 2 foram de 21,9:1(C1/D) e 2,6:1 (C2/D). A média aritmética de L3/g nascoproculturas dos grupos D foi inferior à dos gruposC nos dois estudos de campo e a percentagem deredução larvar foi de 70% em 1997/98 e 62% e 72%em 1999 (Quadro 1 e Figura 4). Os valores daabundância proporcional dos grupos Controlo eDuddingtonia revelaram uma predominância de L3 dogénero Cyathostomum s.l. (99,8 a 100%). Nos gruposC e D também foram identificadas L3 dos génerosPoteriostomum e Triodontophorus, enquanto as L3 dasespécies Gyalocephalus capitatus, Oesophagodontus

robustus e Trichostrongylus axei foram identificadasapenas nos animais dos grupos controlo (Quadro 2).

Nestas experiências de campo, as L3 deCyathostomum s.l. não desapareceram por completonas culturas, e o seu número aumentou substancial-mente cerca de 1,5 mês após a desparasitação comPPIR em ambos os ensaios. Situação análoga ocorreutambém na desparasitação com DRM em 1999.

Desenvolvimento fúngico nas fezes

A observação foi efectuada apenas no ensaio de1997/98 e em todas as culturas do grupo Duddingtoniafoi observado o desenvolvimento do fungo, desde ograu baixo a máximo, o que permitiu comprovar queos animais ingeriram o fungo e este estava a formar arede micelar tridimensional típica com elevada destru-ição larvar (Figura 5).

As amostras do grupo controlo também revelaramalgum grau de desenvolvimento fúngico mas nãoforam observadas formas típicas de desenvolvimentode D. flagrans, nomeadamente a rede e os clami-dosporos (Quadro 3).

Figura 2 - Valores de OPG (médias aritméticas) dos grupos C e D em 1997/98 (A) e 1999 (B). PPIR – Pamoato de pirantel; DRM – Doramectina; *Diferenças significativas entre grupos no testeMann-Whitney para p<0,05.

Figura 3 - Valores médios de L3/g de fezes nas culturas fecais dosensaios de 1997/98 (A) e 1999 (B). Grupos Controlo (C, C1 e C2) e Duddingtonia (D). Diferenças significativas pelo teste de Mann-Whitney: # p<0,1; * p<0,05; ** p<0,01. (As barras representamo erro padrão da média).

Figura 4 - Valores globais (médias aritméticas) de L3/g de fezes nosgrupos Controlo (C) e Duddingtonia (D) nos ensaios efectuados noperíodo de 1997/99. (As barras representam o erro padrão da média).

Page 7: Eficácia do fungo nematófago Duddingtonia flagrans no controlo ...

239

RPCV (2007) 102 (563-564) 233-247Madeira de Carvalho et al.

Quadro 1 - Percentagens de desenvolvimento das L3 e de redução larvar em cultura (Os asteriscos representam o nível de significância global da redução do desenvolvimento larvar pela acção de D. flagrans).

Ensaio 1 Ensaio 2

Data %Des %Des % Data %Des %Des % Data %Des. %Des. %D C Redução D C1 Redução D C2 Redução

3-12-97 0 11 100 2-3-99 8,79 13,47 59,61 6-5-99 0,43 0,72 79,53

16-12-97 0,25 1,87 86,63 10-3-99 9,28 4,57 18,74 18-5-99 2,54 13,28 62,77

6-1-98 4,03 41,14 90,20 18-3-99 0,82 8,24 98,63 1-6-99 1,8 2,75 59,71

20-1-98 0,42 1,51 72,19 31-3-99 2,57 3,84 3,97 17-6-99 7,19 16,38 80,22

3-2-98 0,60 1,18 49,15 15-4-99 2,17 6,99 74,60 1-7-99 5,3 10,96 78,72

17-2-98 0,83 4,35 80,88 22-4-99 1,46 6,86 76,33

3-3-98 3,04 3,39 10,32 6-5-99 0,43 516,14 99,48

Média 1,53* 9,21 69,91 -- 3,65** 80,01 61,62 -- 3,45*** 8,82 72,19aritm.

Mínimo 0,25 1,18 10,32 -- 0,43 3,84 3,97 -- 0,43 0,72 59,71

Máximo 4,03 41,14 100,00 -- 9,28 516,14 99,48 -- 7,19 16,38 80,22

Desvio 1,60 15,84 30,83 -- 3,28 208,23 40,86 -- 2,50 5,84 10,07padrão

Erro pad. 0,65 5,98 11,63 -- 1,24 78,58 15,42 -- 1,12 2,60 3,80Média

*p<0,05; **p<0,10; ***p=0,22.

Quadro 2 – Abundâncias proporcionais médias de géneros/espécies de estrongilídeos (L3) nos diferentes grupos dos ensaios(Percentagem de gén./esp. em 100 larvas).

Abundâncias proporcionais (%)

Grupo Cyath G.cap O.rob Poter S.equi S.eden Triod S. vulg T. axei

Duddingtonia 97/98 100 0 0 0 0 0 0 0 0

Controlo 97/98 99,48 0 0 0,23 0 0 0,29 0 0

Duddingtonia 99 99,82 0 0 0,04 0 0 0,14 0 0

Controlo C1 99 99,40 0,34 0,01 0,22 0 0 0,03 0 0

Controlo C2 99 99,21 0 0 0,59 0 0 0 0 0,20

(Cyath – Cyathostomum s.l.; G. cap – Gyalocephalus capitatus; O. rob – Oesophagodontus robustus; Poter – Poteriostomum spp.S. equi – Strongylus equinus; S.eden. – S. edentatus; Triod. spp. – Triodontophorus spp.; S. vulg. – Strongylus vulgaris; T. axei – Trichostrongylus axei).

Quadro 3 - Culturas fecais de amostras Controlo e Duddingtonia para observação do desenvolvimento fúngico.

Culturas efectuadas em 4/12/97CONTROLO DUDDINGTONIA

Observação 1* 2* 3* 1 2 311-12-97 + + + ++ ++ ++19-12-97 + + + +++ +++ +++8-1-98 0 + + +++ ++ +++14-1-98 0 + + +++ ++ +++

Culturas efectuadas em 17/12/97CONTROLO DUDDINGTONIA

Observação 1* 2* 3* 1 2 38-1-98 + + 0 + + ++14-1-98 ++ ++ 0 ++ + +++5-2-98 ++ ++ 0 ++ ++ ++

Culturas efectuadas em 8/1/98CONTROLO DUDDINGTONIA

Observação 1* 2* 3* 1 2 314-1-98 +++ +++ +++ +++ +++ +++10-2-98 +++ +++ ++ +++ +++ +++2-3-98 +++ +++ ++ +++ +++ +++

Culturas efectuadas em 5/2/98CONTROLO DUDDINGTONIA

Observação 1* 2* 3* 1 2 310-2-98 ++ + ++ +++ +++ +++2-3-98 +++ ++ ++ +++ ++ +++

*As amostras controlo apresentavam culturas com outros fungos, mas não foram detectadas formas de D. flagrans.

Page 8: Eficácia do fungo nematófago Duddingtonia flagrans no controlo ...

RPCV (2007) 102 (563-564) 233-247Madeira de Carvalho et al.

Contaminação da pastagem

A variação das L3 nas pastagens dos grupos controlo acompanhou as flutuações da precipitação ehumidade relativa durante o período de estudo, embora as pastagens com Duddingtonia flagrans nãotivessem sofrido tanto esta influência (Figuras 6 e 7).

No início do estudo de 1997/98, o número de L3/kgES subiu progressivamente nos parques dos dois grupos, embora tenha registado valores inferiores paraa pastagem utilizada pelo grupo D. Ainda que não tenham sido assinaladas diferenças significativas(p=0,8), entre os dois grupos até ao fim deste ensaio,

o nível de contaminação do parque utilizado pelogrupo que recebeu o fungo foi reduzido até zero nasduas últimas colheitas efectuadas em Fevereiro/Março, enquanto o parque do grupo controlo revelousempre larvas infectantes na erva (Figura 7A). Todasas L3 colhidas nas pastagens de ambos os grupos pertenciam ao género Cyathostomum s.l.

No princípio do ensaio de 1999 registámos umavariação análoga nos níveis de L3 na pastagem, embora a partir de Março o parque do grupo D apresentasse um decréscimo progressivo da suacontaminação, que se prolongou até Julho (Figura7B).

240

Figura 5 - A - Cultura de D. flagrans em placa de petri com 5 dias; B - Idem, com 21 dias, com aspecto de tufo; C - Rede de D. flagrans a envolverlarvas L3 de estrongilídeos (objectiva de 4x); D - Idem, onde se notam melhor os clamidosporos (pontos redondos mais escuros) (objectiva de 10x);E e F - Actividade nematófaga de D. flagrans, com clamidosporos e conídeas no ambiente envolvente da larva (E) e hifas e clamidosporos no interior da L3 (F) (Objectiva 40x) (Originais).

Page 9: Eficácia do fungo nematófago Duddingtonia flagrans no controlo ...

241

RPCV (2007) 102 (563-564) 233-247Madeira de Carvalho et al.

Esta contaminação superior nos grupos Controlorevelou uma diferença significativa entre o grupo C1e D (p=0,038), até os animais de C1 serem transferidospara outra pastagem. A diferença entre o grupo C2 e Dnão mostrou diferenças significativas (p=0,15), masos valores de L3/kg ES foram sempre superiores napastagem deste grupo controlo comparativamente à dogrupo D (Figura 7B). No ensaio 2, foram isoladas primordialmente larvas infectantes do géneroCyathostomum s.l. (99,26% no grupo D e 99,67% no grupo C1), mas também foram isoladas L3 de S. vulgaris no grupo D (0,74% do total) e de

Triodontophorus spp. no grupo C1 (0,33% do total).Os valores globais de L3/kg erva seca nos dois

ensaios, mostraram sempre níveis mais baixos de contaminação para as pastagens dos animais que recebiam D. flagrans. A percentagem média deredução de contaminação larvar nas pastagens dosanimais alimentados com o fungo foi de 50,5% em1997/98, 60,3% e 70,4% no primeiro e segundoensaios de 1999, respectivamente (Figura 8).

Parâmetros hematológicos

Os valores dos parâmetros sanguíneos entre os doisgrupos não revelaram diferenças significativas(p<0,05), situando-se regra geral nos intervalos dosvalores padrão. Os valores do grupo D aproximaram-semais do padrão relativamente ao grupo controlo, embora as diferenças fossem mínimas (Quadro 4).

No entanto, foram registados níveis baixos dehematócrito, eritrócitos e hemoglobina nos animais de ambos os grupos, características de uma ligeiraanemia, que foi acompanhada de leucocitose, espe-cialmente por aumento da percentagem de linfócitos.Registámos ainda uma subida dos eosinófilos, especialmente no grupo D após administração de D.

flagrans.Relativamente aos parâmetros bioquímicos,

verificámos uma hiperproteinemia, consequência doaumento das globulinas, que provocaram uma inversãoda relação albumina/globulina. Os valores de proteínatotal atingiram o seu nível mínimo no fim do ensaio.Destacamos ainda o baixo valor de glucose em ambosos grupos, especialmente no grupo controlo em6/1/98.

Discussão

Os ensaios com Duddingtonia flagrans, variedadeTroll A, demonstraram que o fungo administrado per

os aos equinos na dose de 5X105 esporos/kg PV foieliminado com sucesso nas fezes e em quantidadesuficiente para uma redução significativa das larvasinfectantes nas coproculturas e na pastagem. Outrostrabalhos de campo também demonstraram a acçãonematófaga de D. flagrans sobre as L3 deestrongilídeos de equídeos e de tricostrongilídeos deruminantes em pastoreio (Grønvold et al., 1993;Wolstrup et al., 1994; Larsen et al., 1995, 1995a,1996).

A eliminação de ovos não mostrou diferenças entreos dois grupos nos dois ensaios, à semelhança doobservado por Larsen et al. (1996). Isto deve-se porum lado ao facto de os fungos não actuarem sobre osadultos e sim nas formas pré-parasitárias dosestrongilídeos no ambiente. Por outro, os poldros terãoingerido larvas de ciatostomíneos durante a Primaverae Verão, que provavelmente se tornaram hipobióticasdurante o Outono e o Inverno, pouco antes do início

Figura 6 - Valores da precipitação total, humidade relativa e temperatura média para a área de estudo durante o período dos ensaiosde Outubro de 1997 a Março de 1998 e de Fevereiro a Julho de 1999.

Figura 8 - Valores globais (médias aritméticas) de L3/kg ES nas pastagens utilizadas pelos grupos Controlo (C) e Duddingtonia (D) nosensaios efectuados de 1997 a 1999 (as barras representam o erropadrão da média).

Figura 7 - Variação do número de L3/kg ES nos parques de pastagemdos grupos Controlo e Duddingtonia de Outubro de1997 a Março de1998 (A) e de Fevereiro a Julho de 1999 (B).

Page 10: Eficácia do fungo nematófago Duddingtonia flagrans no controlo ...

RPCV (2007) 102 (563-564) 233-247Madeira de Carvalho et al.

dos ensaios de 1997/98 e 1999, respectivamente,sendo um comportamento típico destes nemátodes eque justifica em parte os picos de OPG primaveril eestival (Reinemeyer, 1986).

A desparasitação com o pamoato de pirantel poderáexplicar o curto período de reaparecimento dos ovos(cerca de 1 mês), pois este anti-helmíntico não é efectivo sobre as formas hipobióticas, como descritopor Piché et al. (1990). Ainda que o fungo D. flagrans

tenha reduzido as L3 nas culturas e na pastagem, ospicos de OPG observados em Janeiro/Fevereiro de1998 também poderão estar relacionados com a saídadas larvas hipobióticas da parede do intestino grossopara o lume e subsequente maturação dos adultos(Reinemeyer, 1986).

Este fenómeno também poderá explicar o curtoPeríodo de Reaparecimento de Ovos (PRO) apósdesparasitação com a doramectina, pois este fármaco

pode apresentar um PRO mais curto nos animaisjovens (Madeira de Carvalho et al., 2003).

Mais trabalhos devem ser efectuados para encontrara melhor associação D. flagrans/anti-helmínticos, poisem trabalhos in vitro com Arthrobotrys spp. (outrofungo nematófago), a ivermectina, abamectina,levamisol e principalmente o albendazol, reduziram ocrescimento do seu micélio (Araújo et al., 1995).

O número médio de L3/g de fezes e a sua percenta-gem de desenvolvimento foram sempre inferiores nosgrupos Duddingtonia comparativamente aos gruposcontrolo. Por outro lado, os grupos que receberam D. flagrans comparativamente aos grupos controlorevelaram uma percentagem de redução das populaçõeslarvares na massa fecal de 62 a 72% no conjunto dosdois ensaios. Larsen et al. (1995), registaram nas culturas fecais com isolado CI 3 de D. flagrans umaredução de L3 de ciatostomíneos de 90-99%, mas com

242

Quadro 4 - Parâmetros hematológicos dos animais dos grupos Controlo e Duddingtonia flagrans em 1997/98.

Fórmulas LeucocitáriasN OPG Neutrófilos (%) Linfócitos (%) Monócitos (%) Eosinófilos (%) Basófilos (%)

Valores padrão 22 - 72 17-68 0 – 7 0 - 10 0 - 4

(Jain, 1993) 43,8 ± 7,0 47,9 ± 6,0 3,6 ± 2,0 4,1 ± 2,9 0,4 ± 0,5

Controlo

13-11-97 9 1278 42,56 50,33 3,78 3,11 0,22

6-1-98 9 536 42,00 49,56 5,56 2,67 0,22

3-3-98 9 2663 40,56 53,67 2,67 3,11 0,00

D. flagrans

13-11-97 9 1333 49,67 44,44 4,11 1,56 0,22

6-1-98 9 759 43,22 48,56 3,78 4,11 0,22

3-3-98 9 2212 41,67 49,78 4,00 4,11 0,44

Hematócrito, contagens celulares e valores de hemoglobina

N OPG Hematócrito(%) Leucócitos(n x 103ml) Eritrócitos(n x 106ml) Hb(g/dl)

Valores padrão 34,5 ± 3,8 10,81 ± 1,87 8,6 ± 0,58 11,8 ± 1,6

(Jain, 1993) 32 9,05 9 14,4

Controlo

13-11-97 9 1278 24,83 18,72 6,18 12,71

6-1-98 9 536 26,21 17,27 6,64 13,53

3-3-98 9 2663 24,52 15,98 6,52 12,12

D. flagrans

13-11-97 9 1333 25,24 17,23 6,19 11,86

6-1-98 9 759 25,36 16,49 6,05 12,98

3-3-98 9 2212 24,31 15,99 6,17 12,11

Parâmetros bioquímicos

N OPG Prot. Totais Albumina Globulinas Relação Glicose ALT AST(g/dl) (g/dl) (g/dl) Alb/Glob (mg/dl) U/L 25ºC U/L 25ºC

Valores padrão 5,2 - 7,9 2,60 - 3,70 2,62 - 4,04 6,2 – 14,6 75-115 3 – 23 226 - 366

(Kaneko et al 1997) 6,35 ± 0,59 3,09 ± 0,28 3,33 ± 0,71 9,6 ± 1,7 95,6± 8,5 14 ± 11 296 ± 70

Controlo

13-11-97 9 1278 8,72 4,46 4,26 1,27 80,47 5,10 69,16

6-1-98 9 536 10,39 4,23 6,15 0,70 47,54 9,65 67,75

3-3-98 9 2663 4,56 3,26 1,41 2,97 * 10,2 289,4

D. flagrans

13-11-97 9 1333 9,66 4,06 5,60 0,77 73,42 4,60 74,20

6-1-98 9 759 10,19 4,17 6,02 0,71 70,61 10,70 88,30

3-3-98 9 2212 4,78 3,30 1,55 2,70 * 6,71 246,50

*Não determinado.

Page 11: Eficácia do fungo nematófago Duddingtonia flagrans no controlo ...

RPCV (2007) 102 (563-564) 233-247Madeira de Carvalho et al.

uma dose diária superior, de 5X106-5X107 esporos/kg pv.No entanto, Silvina-Fernández et al. (1999) referemque o isolado Troll A de D. flagrans apresenta umaactividade nematófaga mais potente que outros isolados, com percentagens médias de redução larvarde 98,4% após administração individual de um únicocavalo, cujas fezes foram colocadas em parcelasexperimentais para avaliar a sua a capacidade redutora.Na realidade a administração individual de D. flagrans

é eficaz no controlo da estrongilidose em animaisestabulados, pois os equinos em tratamento mantive-ram baixa eliminação de ovos (<50 OPG) durante 3-4meses (Jorge et al., 2000).

Em ambos os grupos testados, C e D, o género predominante das larvas infectantes foi oCyathostomum s.l., embora tivessem sido identificadosno total 3 e 6 géneros, nos grupos D e C, respectiva-mente. No entanto não foi possível determinar eventuais diferenças na sua redução devido aopequeno número de espécimes de alguns destesgéneros, como referido por Larsen et al. (1996). As L3de nemátodes do género Strongylus não foramdemonstradas nas culturas, provavelmente porque operíodo pré-patente destes é de 6 a 11 meses e os animais utilizados nos ensaios tinham uma idade inferior a 1 ano (Madeira de Carvalho et al., 2001).

A contaminação das pastagens dos animais quereceberam D. flagrans foi inferior à dos grupos controlo, embora só tivéssemos registado diferençassignificativas em 1999. A redução pouco expressivade L3 na pastagem durante o ensaio de 1997/98,poderá ter sido consequência da redução progressivada precipitação total e da oscilação da temperatura(valores mínimos de 7-9 ºC e máximos de 16-19ºC),de Novembro a Fevereiro. Grønvold et al. (1996), estabeleceram como limites para o desenvolvimentoda rede micelar 10 e 35 ºC, abaixo e acima dos quaiso fungo cresce e reproduz-se menos, situando-se oponto óptimo de crescimento nos 30 ºC. O aumento datemperatura em Fevereiro/Março de 1998, poderá teraumentado a actividade nematófaga e contribuiu paraos níveis mais baixos de L3 nas pastagens do grupo D.No entanto, as temperaturas baixas, o tempo seco e amá qualidade da erva (especialmente no parque dogrupo C), não permitiram a migração das L3 e umadiferença expressiva entre os dois grupos (Madeira de Carvalho et al., 1999a, 2000). No ensaio de 1999verificou-se uma situação distinta, com uma precipi-tação quase constante e um aumento progressivo detemperatura média de Março a Julho (valores mínimosde 6,3 a 15,6 ºC e máximos de 16,6 a 31,7 ºC, respectivamente), o que permite uma maior actividadee migração das L3, como proposto por Mfitilodze eHutchinson (1988), Hutchinson et al. (1989) eBaudena et al. (2000).

Assim, registou-se um pico de larvas na pastagemno grupo controlo C1 em Abril/Maio, o que concordoucom o pico primaveril previamente assinalado nos

equídeos em pastoreio da CL (Madeira de Carvalho et

al., 1997, 1999, 2000, 2001). Mas durante este pico,os animais do grupo D apresentaram uma reduçãonotória de L3 na pastagem. Assim, o aumento de temperatura conjugado com a precipitação estimula-ram a actividade e migração larvar para a erva, assimcomo o crescimento fúngico e o aumento da suaactividade nematófaga, situação que concorda com osresultados de Fernández et al. (1997) e em parte comos de Baudena et al. (2000a). De resto, Bird e Herd(1994) consideram que o desenvolvimento do micélioe a actividade nematófaga também são estimuladospelo contacto com um número crescente de larvasinfectantes, o que aconteceu entre Março e Julho de1999.

De acordo com Baudena et al. (2000a), os fungosnematófagos poderão ser utilizados com maior eficácia durante o Inverno e Primavera no sul dosEUA. Os nossos resultados parecem indicar uma melhoreficácia do D. flagrans durante a Primavera/Verão euma menor redução larvar durante o Outono/Inverno,pois este período é mais frio em Portugal. Algunsdados confirmam esta hipótese, pois há uma correlação positiva entre o seu desenvolvimento emaior eficácia predadora e o aumento da temperatura(até 35 ºC), havendo um menor desenvolvimento domicélio e fraca actividade nematófaga entre 5 a 10 ºC,o que pode questionar a sua utilização durante oInverno das zonas temperadas (Silvina-Fernández,1998; Fernández et al., 1999).

Nos parâmetros sanguíneos, as contagens celularesde leucócitos e eritrócitos não revelaram diferençasentre os dois grupos. No entanto, na fórmula leucoci-tária, os neutrófilos e os linfócitos do grupoDuddingtonia apresentaram valores mais próximos dopadrão (Jain, 1993). A linfocitose foi notória e terásido a responsável pela leucocitose nos dois grupos,embora mais evidente nos animais controlo. Estequadro hematológico é típico da ciatostominose, principalmente pelo aumento de neutrófilos e linfócitos(Ogbourne, 1978).

Nos parâmetros bioquímicos também não houvediferenças entre os grupos e registámos em ambosuma hiperproteinemia, hiperglobulinemia e inversãoda relação albumina/globulina (=0,7). Esta situaçãofoi acompanhada de hipoglicemia, mais evidente nogrupo controlo, que parece intimamente ligada à maturação das formas larvares hipobióticas deciatostomíneos (Madeira de Carvalho, 2001).

A diminuição da relação albumina/globulina deve-se a uma hipoalbuminemia por perda proteica nointestino grosso e a uma hiperbetaglobulinemia porresposta à infecção por ciatostomíneos e o nível baixode açúcares do sangue foi consequência da suaabsorção deficiente durante a irrupção das larvas deciatostomíneos, de acordo com Murphy et al. (1997),Thamsborg et al. (1998) e Smets et al. (1999).

Estes animais apresentaram também baixa condição

243

Page 12: Eficácia do fungo nematófago Duddingtonia flagrans no controlo ...

RPCV (2007) 102 (563-564) 233-247Madeira de Carvalho et al.

corporal e diarreia líquida intermitente, sintomas característicos da ciatostominose do tipo 2. Estequadro clínico, a época do ano e a utilização de ani-mais jovens podem ter contribuído para uma menoreficácia da administração de D. flagrans no ensaio doOutono/Inverno de 1997/98 (Madeira de Carvalho,2001).

Ainda que não fizesse parte dos objectivos do trabalho, o ensaio de 1997/98 permitiu deduzir aexistência de hipobiose nos ciatostomíneos dosequídeos desta região: a) pelo curto período de reaparecimento dos ovos após desparasitação; b)existência de picos de OPG em Janeiro quando normalmente deverão aparecer em Março/Abril; c) ogrupo que recebeu o D. flagrans apresentava um graude contaminação mínimo da pastagem, mas o padrãode eliminação de ovos foi semelhante ao do grupocontrolo, pois este comportamento dependerá de estímulos exógenos que as L3 recebem antes da suaingestão ou de fenómenos de imunidade dos própriosequídeos (Reinemeyer, 1986; Proudman e Matthews,2000; Chapman et al., 2002).

Em suma, não foram verificadas alterações sanguíneas nos equinos que receberam o fungo e que pudessem ser da responsabilidade desta admi-nistração, registando-se modificações sanguíneascaracterísticas de um quadro de ciatostominose, cujasazonalidade coincidiu com o período do ensaio de1997/98 (Madeira de Carvalho et al., 2002).

De acordo com a bibliografia disponível, os ensaiosefectuados no nosso País com D. flagrans constituíramo segundo trabalho de campo a nível mundial comequinos naturalmente infectados em pastoreio em quese comprovou a eficácia do fungo Duddingtonia

flagrans na redução da contaminação da pastagem eda infecção dos hospedeiros.

A administração deste fungo deve ser entendidacomo um complemento da desparasitação estratégicados equinos e não como um substituto da adminis-tração de anti-helmínticos, que no nosso país pode tergrande aplicação durante a Primavera, Verão eprovavelmente no início do Outono, o que concordacom outros trabalhos efectuados em regiões e épocasdo ano quentes e húmidas (Fernandéz et al., 1997;Baudena et al., 2000a).

Para Waller (1999), o controlo sustentável das parasitoses dos equídeos passa pela combinação deuma boa higiene da pastagem, maneio do pastoreio,uso sensato e racional dos anti-helmínticos e adopçãode medidas de controlo biológico. Esta forma de controlo permitirá o contacto dos equinos com umbaixo nível de contaminação na pastagem e a ingestãode uma baixa concentração de L3, que funcionará umestímulo antigénico constante e um estado imunitáriode pré-munição, como sugerido por Urquart et al.(1987).

Ao reduzir a contaminação do ambiente, diminui a infecção dos hospedeiros e reduz o número de

administrações de anti-helmínticos, contribuindoassim para retardar o aparecimento de resistências,com especial interesse para o grupo das avermecti-nas/milbemicinas, pois devem ver preservada a suaeficácia enquanto anti-helmínticos de elevada margemde segurança e grande espectro de acção durante omáximo tempo possível (Sangster, 1999, 2003).

Conclusões

O fungo Duddingtonia flagrans, variedade Troll A,administrado na dose diária de 5x105 esporos/kg pv,revelou uma boa eficácia média de redução da popu-lação larvar em cultura, 62-72% e uma diminuiçãosignificativa da contaminação da pastagem por L3 deestrongilídeos de 50-70%, principalmente durante operíodo da Primavera/Verão, o que torna este meio decontrolo muito promissor nos equinos em pastoreioquando associado aos tratamentos estratégicos comanti-helmínticos nesta época do ano.

A administração de D. flagrans não provocou alteração nos parâmetros sanguíneos estudados, constituindo a primeira observação a nível mundial da não interferência deste fungo nematófago nosparâmetros vitais dos equídeos em estudo.

Neste sistema de produção equina em pastoreio, a infecção por estrongilídeos intestinais pode ser minimizada a partir do início da Primavera até aoOutono com a administração de Duddingtonia

flagrans associada aos tratamentos anti-helmínticosconvencionais da exploração.

Os resultados ora apresentados permitem antever aimportância da implementação do controlo biológicono controlo integrado da estrongilidose intestinal dosequídeos, atendendo a que é um método prático, inovador e que pode ser facilmente conjugado com ostratamentos clássicos.

Agradecimentos

Este trabalho foi financiado pela FCT e peloCIISA/FMV/UTL (Projecto 8. Estrongilidose) e "Chr.Hansen – Biosystems, A/S, Dinamarca".

Agradece-se a "CHR HANSEN - BioSystems, A/S"pelo seu interesse neste projecto e pelo fornecimentode D. flagrans para os ensaios.

Os nossos agradecimentos à Administração daCompanhia das Lezírias, em particular ao Sr. EngºFrancisco Perestrello, pela sua disponibilidade e conhecimentos para nos providenciar os animais,locais e instalações onde efectuámos os trabalhos. AoPessoal Auxiliar da CL pela colaboração inestimávelno maneio e contenção dos animais durante as colheitas.

À Professora Doutora Isabel Neto do Deptº deSanidade Animal, FMV, agradecemos o apoio na

244

Page 13: Eficácia do fungo nematófago Duddingtonia flagrans no controlo ...

RPCV (2007) 102 (563-564) 233-247Madeira de Carvalho et al.

análise estatística dos dados. Agradecemos tambémà Técnica Auxiliar Lídia Gomes, do sector deParasitologia e Patologia e Clínica das DoençasParasitárias pela colaboração nos ensaios de campo eno apoio técnico laboratorial. Uma palavra de apreçoa todos os estudantes do 3º e 4º Anos que de 1997 a 1999 acompanharam os trabalhos de campo e de laboratório, permitindo uma maior celeridade nosprocessos e um ambiente salutar de troca de ideias relativas a este novo tipo de controlo anti-parasitário.A todos o nosso Bem Hajam!

Finalmente, uma palavra de agradecimento e home-nagem ao Doutor Adrian Gillespie, Técnico Superiorda "Chr. Hansen – Biosystems, A/S, Dinamarca" e co-Autor do trabalho, mentor do projecto, grandeentusiasta do controlo biológico das helmintoses gastrintestinais e acima de tudo um grande amigo, que infelizmente nos deixou em Setembro de 2003,ficando todos nós que o conhecíamos, tristes e consternados, mas motivados para continuar o seu trabalho que tantos frutos e amizades deixou, para quea sua passagem por esta vida não tenha sido em vão.Muito Obrigado Adrian!

Bibliografia

Araújo JV, Santos MA, Ferraz S (1995). Efeito de drogas anti-helmínticas sobre o crescimento de fungos nematófa-gos do gênero Arthrobotrys. Naturalia, São Paulo, 20: 157-163.

Arundel JH (1985). Parasitic Diseases of the Horse. Veterinary Review N°28, University of Sydney. The Post-Graduate Foundation in Veterinary Science, Sydney, NSW, Australia, 150 pp.

Barron GL (1977). The nematode-destroying fungi. Department of Environmental Biology, Ontario Agricultural College, University of Guelph, Guelph, Canada, 111 pp.

Baudena MA, Chapman MR, French DD, Klei TR (2000). Seasonal development and survival of equine cyathos-tome larvae on pasture in south Louisiana. Ve. Parasitol, 88(1-2): 51-60.

Baudena MA, Chapman MR, Larsen M, Klei TR (2000a). Efficacy of the nematophagous fungus Duddingtonia

flagrans in reducing equine cyathostome larvae on pasture in south Louisiana. Vet Parasitol, 89(3): 219-230.

Bevilaqua CML, Rodrigues ML, Concordet D (1993). Identification of infective larvae of some common nematode strongylids of horses. Revue Méd Vét, 144(12): 989-995.

Bird J, Herd RP (1994). Nematophagous fungi for the control of equine cyathostomes. Comp Cont Educ Pract Veter. The Compendium, Equine, 16(5): 658-665.

Bird J, Herd RP (1995). In vitro assessment of two species of nematophagous fungi (Arthrobotrys oligospora and Arthrobotrys flagrans) to control the development of infective cyathostome larvae from naturally infected horses.Vet Parasitol, 56(1/3): 181-187.

Chapman MR, French DD, Taylor HW, Klei TR (2002). One season of pasture exposure fails to induce a protective resistance to cyathostomes but increases numbers of hypobiotic third-stage larvae. J Parasitol, 88: 678-683.

Fernández AS, Larsen M, Nansen P, Grønvold J, Henriksen SA, Wolstrup J (1997). Effect of the nematode-trapping fungus Duddingtonia flagrans on the free-living stages of horse parasitic nematodes: a pilot study. Vet Parasitol, 73(3/4) : 257-266.

Fernández AS, Larsen M, Wolstrup J, Grønvold J, Nansen P, Bjorn H (1999). Growth rate and trapping efficacy of nematode-trapping fungi under constant and fluctuating temperatures. Parasitol Res, 85(8/9): 661-668.

Grønvold J, Nansen P, Henriksen SA, Larsen M, Wolstrup J, Bresciani J, Rawat H, Fribert L (1996). Induction of traps by Ostertagia ostertagi larvae, chlamydospore production and growth rate in the nematode–trapping fungus Duddingtonia flagrans. J Helmint, 70: 291-297.

Grønvold J, Wolstrup J, Larsen M, Henriksen SA, Nansen P (1993). Biological control of Ostertagia ostertagi by feeding selected nematode-trapping fungi to calves. J Helminthol, 67: 31-36.

Grønvold J, Wolstrup J, Nansen P, Henriksen SA, Larsen M, Bresciani J (1993a). Biological control of nematode parasites in cattle with nematode-trapping fungi: a survey of danish Studies. Vet Parasitol, Special Issue: Environmental impact of avermectin usage in livestock, 48(1/4): 311-325.

Hutchinson GW, Abba SA, Mfitilodze MW (1989). Seasonal translation of equine strongyle infective larvae to herbage in tropical Australia. Vet Parasitol, 33 (3-4): 251-263.

Jain NC (1993). Essentials of Veterinary Hematology. Lea e Febiger, Philadelphia, USA, 1st Edition, 417 pp.

Jorge H, Agrícola R, Madeira de Carvalho LM, Gillespie AT, Barbosa M, Fazendeiro IM (2000). Eficácia do fungo Duddingtonia flagrans no controlo dos estrongilídeos em equinos estabulados. "V Congresso Anual da Sociedade Portuguesa de Parasitologia, Faculdade de Medicina Veterinária, Pólo Universitário do Alto da Ajuda, 23-25 de Novembro de 2000", Resumo publicadona Acta Parasitol Port, 7(1/2): 70-71.

Kaneko JJ, Harvey JW, Bruss ML (1997). Apendixes. pp. 885-905. In "Kaneko, JJ, Harvey, JW, Bruss, ML (Eds.). Clinical Biochemistry of Domestic Animals", 5th

Edition, Academic Press, 932 pp. Larsen M (2000). Prospects for controlling animal parasitic

nematodes by predacious micro fungi. Parasitol, 120: S121-S131.

Larsen M, Faedo M, Waller PJ (1994). The potential of nematophagous fungi to control the free-living stages of nematode parasites of sheep: survey for the presence of fungi in fresh faeces of grazing livestock in Australia. Vet Parasitol, 53(3-4): 275-281.

Larsen M, Nansen P, Grondahl C, Thamsborg SM, Grønvold J, Wolstrup J, Henriksen SA, Monrad J (1996). The capacity of the fungus Duddingtonia flagrans to prevent strongyle infections in foals on pasture. Parasitol, 113: 1-6.

Larsen M, Nansen P, Henriksen SA, Wolstrup J, Grønvold J, Zorn A, Wedø E (1995). Predacious activity of the nematode-trapping fungus Duddingtonia flagrans

against cyathostome larvae in faeces after passage

245

Page 14: Eficácia do fungo nematófago Duddingtonia flagrans no controlo ...

RPCV (2007) 102 (563-564) 233-247Madeira de Carvalho et al.

through the gastrointestinal tract of horses. Vet Parasitol, 60(3/4): 315-320.

Larsen M, Nansen P, Wolstrup J, Grønvold J, Henriksen SA, Zorn A (1995a). Biological control of trichostrongyles in calves by the fungus Duddingtonia flagrans fed to animals under natural grazing conditions. Vet Parasitol, 60: 321-330.

Larsen M, Wolstrup J, Henriksen SA, Dackman C, Grønvold J, Nansen P (1991). In vitro stress selection of nematophagous fungi for biocontrol of parasitic nema-todes of ruminants. J Helminthol, 65(3): 193-200.

Larsen M, Wolstrup J, Henriksen Sa, Grønvold J, Nansen P (1992). In vivo passage through calves of nemato-phagous fungi selected for biocontrol of parasitic nematodes. J Helminthol, 66: 137-141.

Lichtenfels JR, Kharchenko VA, Krecek RC, Gibbons LM (1998). An annotated checklist by genus and species of 93 species level names for 51 recognized species of small strongyles (Nematoda: Strongyloidea: Cyathostominea) of horses, asses and zebras of the world. Vet Parasitol, 79(1): 65-79.

Lloyd S, Soulsby EJL (1998). Is Anthelmintic Resistance Inevitable: Back To Basics? Equine Vet J, 30(4): 280-283.

Ludwig KG, Johnstone C (1984). Use of pasture sampling to determine equine strongyle larvae contamination. Vet Med: 1183-1189.

Lyons ET, Tolliver SC, Drudge JH (1999). Historical perspective of cyathostomes: prevalence, treatment and control programs. pp. 97-111. In Little SA, Moore JN, Dipietro JA (Eds.) Special issue: Equine Cyathostome Conference. Proceedings of a Conference on Equine Cyathostomes held at the University of Georgia, Athens, GA, 7-8 November 1998. Vet Parasitol, 85(2/3), 95-225 pp.

Madeira de Carvalho LM (1993). Relatório da Missão de estudo ao "Department of Veterinary Parasitology, Faculty of Veterinary Medicine, University of Glasgow", Glasgow, 18-31 de Outubro de 1993. Faculdade de Medicina Veterinária, Lisboa, 46 pp.

Madeira de Carvalho LM (2001). Epidemiologia e controlo da estrongilidose em diferentes sistemas de produção equina em Portugal. Tese de Dissertação de Doutoramento, Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa, 445 + xxii pp.

Madeira de Carvalho LM, Afonso-Roque MM, Carvalho-Varela M (1997). Aspectos epidemiológicos dos estrongilídeos nos cavalos em regime extensivo e dinâmica estacional das suas formas infectantes na pastagem. "V Congresso Ibérico de Parasitologia, Universidade de Évora, 6-10 de Outubro de 1997".Resumo publicado na Acta Parasitol Port, 4(1/2): 41.

Madeira de Carvalho LM, Afonso-Roque MM, Carvalho-Varela M (1999). Seasonal pattern of a population of horse strongyles in Portugal. 17th International Conference of the World Association for the Advancement of Veterinary Parasitology, 15th-19th

August 1999, Copenhaga, Dinamarca, Abstract a.3.01.Madeira de Carvalho LM, Afonso-Roque MM, Fazendeiro

MI (2001). Epidemiology of horse strongyle infections in Portugal: the rise of the cyathostomes! 1st

International Symposium – Research in Veterinary Medicine, Centro de Investigação Interdisciplinar em

Sanidade Animal (CIISA), Faculdade de Medicina Veterinária, Lisbon, 24-25 May 2001, Abstract PO-13, pp. 52.

Madeira de Carvalho LM, Farrim MC, Afonso-Roque MM, Fazendeiro MI (2003). Groups, efficacy and egg reappearance period of commonly used anthelmintics in equine practice in Portugal. 9th Int. Cong. Eur. Ass. Vet. Pharm. Toxicol., Lisbon, Portugal, 13-18th July 2003. J Vet Pharm Therap, 26, Suppl.1: 237-238.

Madeira de Carvalho LM, Gillespie AT, Serra PM, Farrim AP, Bernardo FA, Gonçalves J (1999a). A field trial with Duddingtonia flagrans to control strongyle infections in foals in Portugal. 17th International Conference of the World Association for the Advancement of Veterinary Parasitology, 15th-19th August 1999, Copenhaga, Dinamarca, Abstract c.7.71

Madeira de Carvalho LM, Gillespie AT, Serra PM, Farrim AP (2000). Controlo biológico dos estrongilídeos nos equinos em pastoreio pelo fungo Duddingtonia flagrans. "V Congresso Anual da Sociedade Portuguesa de Parasitologia, Faculdade de Medicina Veterinária, Pólo Universitário do Alto da Ajuda, 23-25 de Novembro de 2000", Resumo publicado na Acta Parasitol Port, 7(1/2): 69-70.

Madeira de Carvalho LM, Serra P, Afonso-Roque MM, Fazendeiro MI (2002). Ciatostominose equina: actuali-zação do seu conhecimento em Portugal. Proceedings of the Veterinary Sciences Congress, Congresso de Ciências Veterinárias, 100 Anos da Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias, Tagus Park, Oeiras, 10-12 de Outubro de 2002, pp. 353-354.

Meyer WJ, Wiebe MG (2003). Enzyme production by the nematode-trapping fungus, Duddingtonia flagrans. Biotechnology Letters, 25, 791-795.

Mfitilodze MW, Hutchinson GW (1988). Development of free-living stages of equine strongyles in faeces on pasture in a tropical environment. Vet Parasitol, 26(3/4): 285-296.

Mota MA, Campos AK, Araújo JV (2003). Controle biológico de helmintos parasitos de animais: estágio atual e perspectiva futura. Pesq Vet Bras, 23(3): 93-100.

Murphy D, Keane MP, Chandler KJ, Goulding R (1997). Cyathostome associated disease in the horse: Investigation and management of four cases. Equine Vet Educ, 9 (5): 247-252.

Ogbourne CP (1978). Pathogenesis of Cyathostome

(Trichonema) infections of the horse. A review. Commonwealth Agricultural Bureaux, Commonwealth Institute of Parasitology, Miscellaneous publication nº 5, 25 pp.

Piché CA, Kennedy MJ, Bauck SW, Goonewardene L (1990). Comparison of three anthelmintics in the control of intestinal nematodes in young horses on fall and winter pasture. Can Vet J, 31: 841-843.

Proudman C, Matthews J (2000). Control of intestinal parasites in horses. In Practice, 22(2): 90-97.

Reinemeyer CR (1986). Small Strongyles. Recent Advances. pp. 281-312. In Herd, R.P. (Ed.) Vet. Clin. North Amer., Equine Practice, Parasitology, 2 (2): 263-463 pp.

Sangster NC (1999). Pharmacology of anthelmintic resistance in cyathostomes: will it occur with the avermectin/milbemycins? pp. 189-204. In: Little SA,

246

Page 15: Eficácia do fungo nematófago Duddingtonia flagrans no controlo ...

RPCV (2007) 102 (563-564) 233-247Madeira de Carvalho et al.

Moore JN, Dipietro JA (Eds.) Special issue: Equine Cyathostome Conference. Proceedings of a Conference on Equine Cyathostomes held at the University of Georgia, Athens, GA, 7-8 November 1998. Vet Parasitol,85(2/3): 95-225 pp.

Sangster NC (2003). A practical approach to anthelmintic resistance. Equine Vet J, 35 (3): 218-219.

Silvina-Fernández AS (1998). Duddingtonia flagrans as biological control agent against parasitic nematodes of cattle and horses. Ph.D. Thesis, Danish Center for Experimental Parasitology, The Royal Veterinary and Agricultural University, Copenhagen, Denmark, 179 pp.

Silvina-Fernández AS, Henningsen E, Larsen M, Nansen P, Grønvold J, Søndergaard J (1999). A new isolate of the nematophagous fungus Duddingtonia flagrans as biological control agent against free-living larvae of horse strongyles. Equine Vet J, 31(6): 488-491.

Smets K, Shaw DJ, Deprez P, Vercruysse J (1999). Diagnosis of larval cyathostominosis in horses in Belgium. VetRec, 144(24): 665-668.

Soulsby EJL (1965). Textbook of Veterinary Clinical Parasitology - Vol. I. Helminths. 1st Edition, Blackwell Scientific Publications, Oxford, GB, 1120 pp.

Taylor EL (1939). Technique for the estimation of pasture infestation by strongyloid larvae. Parasitology, 31: 473-478.

Thamsborg SM, Leifsson PS, Grøndahl C, Larsen M, Nansen P (1998). Impact of mixed strongyle infections in foals after one month on pasture. Equine Vet J, 30(3): 240-245.

Thienpont D, Rochette F, Vanparijs OFJ (1986). Diagnóstico de las helminthiasis por medio del examen coprológico. 2ª Edición, Janssen Research Foundation, Beerse, Belgium, 205 pp.

Ueno H, Gutierres VC (1983). Manual para Diagnóstico das Helmintoses de Ruminantes. 2ª Edição, Japan Interna-tional Cooperation Agency, Tóquio, Japão, 176 pp.

Urquhart GM, Armour J, Duncan JL, Dunn AM, Jennings FW (1987). Veterinary Parasitology. 1st Ed., Longman Scientific and Technical, Longman Group Ltd, U.K., 286 pp.

Waller PJ (1997). Sustainable helminth control of ruminants in developing countries. Vet Parasitol, 71(2/3): 195-207.

Waller PJ (1999). Biological control of parasitic nematodes of the horse, the need, practicalities and prospects. Equine Vet J, 31(6): 449-450.

Wolstrup J, Grønvold J, Henriksen SA, Nansen P, Larsen M, Bogh HO, Ilsoe B (1994). An attempt to implement the nematode-trapping fungus Duddingtonia flagrans in biological control of trichostrongyle infections of first year grazing calves. J Helminthol, 68: 175-180.

247

Page 16: Eficácia do fungo nematófago Duddingtonia flagrans no controlo ...
Page 17: Eficácia do fungo nematófago Duddingtonia flagrans no controlo ...

Formas curtas de Demodex no cão – primeira descrição em Portugal

Short-tailed forms of Demodex in the dog – first description in Portugal

Ana Oliveira1*, José P. Leitão2, António J. Santos Grácio3 e Isabel Pereira da Fonseca4

1North Caroline State University, College of Veterinary Medicine, 4700 Hillsbouroug Street, Raleigh, NC 276062Clínica Veterinária da Cabra Figa, Rua da Liberdade 890, 2635-128, Rio de Mourol

3Instituto de Higiene e Medicina Tropical, Rua da Junqueira, 96, 1349-008 Lisboa4Parasitologia e Patologia das Doenças Parasitárias, Centro de Investigação Interdisciplinar em Sanidade Animal (CIISA),

Faculdade de Medicina Veterinária, Av. Universidade Técnica, 1300-477 Lisboa

RPCV (2007) 102 (563-564) 249-252 R E V I S T A P O R T U G U E S A

CIÊNCIAS VETERINÁRIASDE

Resumo: Os ácaros da família Demodecidae, totalizando pelomenos 50 espécies, são frequentemente encontrados na pele dos mamíferos. Alguns mamíferos podem chegar a albergar até quatro espécies diferentes destes artrópodes. Demodex canis

caracteriza-se por uma forma longa e afilada e encontra-se, empequeno número, na pele da maioria dos cães saudáveis.Raspagens cutâneas obtidas num canídeo com demodicose(vulgo demodecose) generalizada permitiram observar umapopulação mista de ácaros do género Demodex. Esta populaçãoera constituída pela espécie Demodex canis e por outros ácarosmais pequenos que apresentavam um opistossoma curto e arre-dondado. A média dos seus comprimentos foi de 135,5 µm parao comprimento total, 24,5 µm para o comprimento do gnatosso-ma, 57 µm para o podossoma e 51 µm para o opistossoma.Tanto quanto se conhece, este é o primeiro relato da existênciade uma possível nova espécie em Portugal. Porém, com baseexclusivamente na observação em microscópio óptico, não sepode excluir as possibilidades de se tratar de espécimes de D.

gatoi ou de eventuais ácaros de uma variedade de D. canis.

Summary: Demodex mites are commonly found on mam-malian skin. The family Demodecidae is composed of at least50 species and some mammalian hosts can harbor up to four different species. Demodex canis is the species found on theskin of most healthy dogs and is characterized by an elongatedshape.Skin scrapings taken from of a dog with generalized demodeco-sis revealed a mixed population of mites of the genus Demodex.This population was formed by Demodex canis species andanother unidentified Demodex mite, probably a new species.Unlike D. canis these mites are shorter and have a stubby form.The mean body length was 135.5 µm, the gnathosome lengthwas 24.5 µm, the podosome length was 57 µm and the opisto-some length was 51 µm. To the best of our knowledge, this is the first description of theidentification of this possible new species in Portugal although,because our study was based on light microscopy, is not possi-ble to exclude that this are mites of D. gatoi or a variant of D.

canis.

Introdução

Os ácaros da família Demodecidae, totalizando pelomenos 50 espécies, são frequentemente encontradosna pele dos mamíferos. Alguns mamíferos podemchegar a albergar até 4 espécies diferentes destesartrópodes (Chesney, 1999) que tendem a ser específicosem relação ao hospedeiro (Nutting, 1977).

Demodex canis, a primeira espécie descrita no cãopor Leydig (1859), caracteriza-se por uma formalonga e afilada e encontra-se, em pequeno número, napele da maioria dos cães saudáveis (Nutting, 1976). Atransmissão ocorre da cadela para as crias, no períodoneo-natal, por contacto directo, não ocorrendo trans-missão intra-uterina (Scott, 2001).

Desch (2003) descreve uma nova espécie deDemodex parasita do canídeo doméstico. Esta espécie,denominada de D. injai, apresenta aproximadamente o dobro do comprimento do D. canis e presença doorgão opistossomal no macho.

Nos últimos anos, vários relatos referem a presençade uma terceira espécie no cão (Mason, 1993;Lemmens et al., 1994; Chen, 1995; Chesney, 1999;Tamura et al., 2001). Esta possível nova espécie apre-senta menores dimensões, formato mais arredondado(Mason, 1993; Lemmens et al., 1994; Tamura et al.,2001) e algumas diferenças morfológicas em relação aD. canis (Chen, 1995; Chesney, 1999).

No presente artigo, a existência de formas curtas deDemodex no cão é, pela primeira vez, descrita emPortugal.

Material e métodos

Um cão de raça indeterminada, macho castrado,aproximadamente com 4 anos de idade foi apresenta-do à consulta para avaliação dermatológica. O animaltinha sido encontrado abandonado na região de

249

*Correspondência: [email protected]