Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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  dmond

Gilliéron

S PSICOTER PI S

BREVES

Tradução 

Vera Ribeiro

orge Zahar

ditor

Rio e aneiro

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tulo original:

ú psychothlr pies

bre ·es

Trddução autori7.a

da da

primeira edição francesa,

publicada em 1983 por ~ e s lJniversitaires de France,

de Paris, Fmnça. na série Nodules

Copyright © 1983. Presses Universitaires de France

Copyright

©

1986

da

edição

em

língua

portuguesa

Jorge Zahar Edit

or

Ltcb.

rua

Mé11i

co 31 sobreloja

20031-144 Rio

de

Janeiro.

RJ

tel.: 21) 240.0226/ fax: 21)262 51

23

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reprodução não-autorizada desta publicação. no todo

ou

em

parte.

constitui

v i o l

  ~ à o

do

co

pyright.

<Lei

5.

988)

CIP-Brasil.

Catalogação-na-fonte

Sindic.ato Nacional dos Editores de Li

vros.

RJ.

Gilliéron. Edmond

G397p As psicoterapias breves Edmond Gilliéron; tradução

deVera Ribeiro 

R

io de Janeiro:

Jorge

Zahar

Ed., 1986

86

-0135

Tradução

de

: Les psychothérapies breves

Bi

bliog

rafia

ISBN

85

-7 110-437-9

I Psic01erapia. I.

rulo.

CDD 616.891

CDU 615.851

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Deflnlçlo

INTRODUÇÃO:

Apropósito

do conceito de

·psicoterapia

breve·

2

NOTAS HISTÓRICAS:

Raízes psicanalíticas das

ps

i

cote

r

ap

i

as

breves

NASCIMENTO E EVOLUÇÃO

DAS PSICOTERAPIA ANALfTICAS BREVES

Algumas Técnicas de Psicoterapias Breves

L.

Bellak e L. Small,

22;

K. Le

wi

n.

;

D. Malan,

23;

P. Sifneos, 24; H. Davanloo, 26;

J  

Man

n

27

cnica

de Lausanne E. Gilliêron).

9

QUESTIONAMENTO

Sobre a necessidade de um modelo psicoterápico:

alguns princípios fundamentais, 3

Rememoração de Alguns

Pr

incí

pios

da Teoria

da

Comu

nicação

Pr incípios básicos.

38

5

SUMÁRIO

7

9

2

17

22

32

38

O ENQUADRE PSICOTERÁPICO E SUAS FUNÇÕES

43

Introdução.

43

Funções do

Enq

uadre Psicoterápico

45

Função dinâmica. 45; Função tópica.

8

ATemporalidade 52

OValor

do Efêmero 53

Traniferéncia Tempora

lidade e

Afetos 54

Conclusão. 56

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6  

RELAÇÃO INTERSUBJETIVA

TRANSFERÊNC

IA

E INTERPRETAÇÃO

Introdução.

;

Realidade externa e rea lidade

interna. 9

Da Re

l

ação

l

ntersubjetiva

à Rel

ação ln

tra-Subjetiva

Interações,

Sonhos

, Fantasias

Transferência e Interpretação

7.

FOCALIZAÇÃO

:

Odesenrolar de uma psicote rapia

Primeiros Contatos

Elementos Anamnésicos

Alguns Aspec

tos do Desenrolar do

Trat

amento

Elaboração fase)

8  

PSICOTERAPIAS

BREVES

E CLASSIFICAÇÃO DAS PSICOTERAPtAS

Introdução. 8

A Relação

Terapêutica

e o Enquadre

Terapêutico

Intervenções

de Fi

nalidade Psicoterápica

sem

enquadre)

Psicote rapias Propriamente Ditas

de

l

imitadas do ca

mpo soc

ia

l)

As Dispos

içõ

es

Lugar e dinâmica das Psicoterapias

Breves

INDICAÇÕES E CONTRA-INDICAÇÕES

Relatividade das

Ind

icações

Conlra

·l

ndicações ligadas

à

disposição espaço·

lemporal,

;

Contra

-i

ndicações iigadas ao carâter

psicanalítico

o

lratamento proposto .

94

1 .

CONCLUSÕES

Bibliografia

57

6

62

64

7

72

74

76

77

8

81

82

83

84

87

9

9

98

99

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  EFINIÇÃO

As

psicoterapias breves

são

tratamentos de natureza

psic

o

lógica cuja duração é largamente inferior à de uma psicaná

lise çlássica. Assim é

em

comparação com esta última que

dt:terminamos sua brevidade. Esse não é um dado sem

im·

portància, na medida

em

que numerosas formas de psico

t

eru

pias que não têm mais nenhuma relação com a psica

nálise são chamadas breves . Por exemplo, existe na

Universidade de

St

anford, em Paio Alto uma divisão de

tc:r

apia

breve sistêmica

J.

We

akl:md,

P

Watzlawick

et

ai J

Numerosos centros desse tipo funcionam atualmente

nos

Estados Un idos e começam a desenvolver-se na Europa.

Se acrescentamos o vocábulo breve a

essas

formas de

terapia

é

porque seus autores desejam distingui-las da psi

canálise longa , sem no entanto se referirem

à

teoria psica

nalítica.

É

importante precisar, de imediato, que a presente

obra concerne

as

psicoterapias breves de inspiração psica

nalicica.

Poderíamos

ass

im

definir o

tema

a

ser aqui abordado

T HATA·SE DE PS ICOTERAPIA DE INSPIRAÇÃO PSICA·

NALITICA CUJA DURAÇÃO É LIM ITADA S MEIOS UTILIZA ·

DOS

PARA

LIMITAR ESS DURAÇÃO VARIAM CONFORME

~ .A\JTf)RES.

7

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INTRODUÇ O

A

Propósito

do

Conceito

de

"Psicoterapia

Breve

· 

"O

desejo

de

abreviar o

tratamento

analítico

é

perfeita

mente justificável e examinaremos os d iversos meios

pro

post_os para ct'egar a esse objetivo. Infelizmente, um fator

muito importante contraria essa tentativa: a lentidão das

modificações psíquicas

profundas

e, em primeiro lugar,

sem dúvida, a

'atemporal

i

dade' de

nossos processos incons

cientes. Quando os pacientes

constatam

o grande dispênd io

de

tempo

exigido pela aná lise, ocorre-lhes amiúde suge ri·

rem

exped

i

entes

apropriados

para a'tenuar essa d ificuldade.

Dividem seus males, qua lificando uns

de

intoleráveis e

outros de secundários, e dizem: 'Ah, se o senhor pudesse

apenas livrar-me desse sofrimento (por exemplo, das dores

de

cabeça

ou de

uma

determ

i

nada

angústia)' . Ao fazê-i o,

superestimam a capacidade

de

seleção

da

análise 13].

p. 2}. Assim se exprimiu Freud em 1913. Esse trecho re·

flete os problemas com os quais se viam

confrontados

os

psicanalistas

daquela

época.

De

fato,

Freud

assinalou:

"No

decorrer dos primeiros anos

de

minha prática psicanalí tica,

tive grande dificuldade em persuad ir os pacientes a prosse

guirem em sua análise. Essa dificuldade há

muito

deixou

de existir e, atualmente, esforço-me ansi

osamente

por

obrigá-los a interromperem o tratamento" ([131, p.

2).

O confronto desses dois trechos reflete bem as questões

suscitadas pelo prolongamento da duração dos tratamen·

tos no

mundo

psicanal

ítico

.

De

um lado,

evocam-se os

pacientes que

hesitam en• empenhar-se

em tratamentos

longos, mas,

de

outro, esbarra-se nos que

não

conseguem

t e ~ m i n á l o s . Esse problema

da

duração dos tratamentos

viria a

preocupar

Freud

até

o final de sua vida, e podemos

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lO psicoter pi s breves

dizer que suas repercussões persistem no mome nto atual.

também

a ele

que

devemos a eclosão

de

numerosas

técnicas de psicoterapia

analltica

breve, em seguida às

prime iras experiências de Ferenczi

em 1918.

Mas os di

versos

meios

propostos

para

encurtar os t ratamentos

são

precisamente

os que

Freud

recusa

no primeiro

trecho

citado,

em

particular

a focalização , que

corresponde

a

uma tentativa

de seleção

dos

males principais

dos

pa·

cientes.

Por consegu int

e,

entendemo

s que as técnicas tera

pêuticas

reves

não

podem

de i

xar

os psicanal

is

tas indife

rentes, na med ida

em

que

se chocam com

certas concep

ções

fundamentais

da

aná

lise.

Além disso, sabemos que, a

partir do momento

em

que

enunciou

a regra

fundamenta

l das associações livres ,

Freud rejeitou

quaisquer modificações técnicas

até

o fim

de sua vida. Quando muito, insistiu nas regras de

neutra

-

  dade e de abstinência. Seu interesse incidiu essencial

mente

em

um

desenvolvimento

teó

rico e ele considerou

como

resistência a

maior

parte

das propostas

de ino,va

ções técnicas,

com

freqüência, aliás, depois de

-las

experimentado ele próprio.

Em

uma outra

obrn [

20  ,

ten

tamos

destacar o

fato

de que

mui

tos

problemas e conf litos surgi

ram po

r

que

a

psicanálise não

dispunha

de um

aparelho

conceitual pas

sível

de

integrar

a

técnica

na descrição

do funcionamento

psíquico. Se o

mundo

psicanalítico sofre provavelmente

de

certo dogmatismo

é

porque Freud

não dispunha, no

momento

em

que

nasceu a psicanálise,

de instrumentos

teóricos que lhe permitissem levar em

conta,

na descrição

do funcionamento

psíquico, a influência

da

disposição

do

campo analítico

sobre

o processo. Um dos interesses

das psicoterapias breves é

confron

tar-nos

com

esse

pro

blema. No

que concerne

a essa forma de

tr

ata

mento,

assistimos durante

mu

ito tempo a uma espécie de combate

entre dogmáticos

e pragmáticos,

uns recusando

-a

po

r

razões

teóricas

e

outros

justificando-a

por

razões práticas.

Agora, essa querela

parece

estar superada,

o

que

tentare

mos demonstrar

nesta

obra.

No capitulo

3, estudaremos

vários

procedimentos

psicoterápicos enaltecidos

por diferentes

autores

e teremos

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intror Juçào

a

oportun

i

dade

de constatar que alguns deles decididamen

te desv   m-se

da

doutrina freudiana o que justifica os

violentos movimentos de oposição que provocaram. Con-

tudo,

veremos

também

que

a corrente breve data dos

primórdios

da psicanálise e

tentar

emos compreender

o

.

porquê disso.

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NOTAS HISTORICAS:

Raízes Psicana

 

t ic

as

das Psicoterapias Breves

Sabemos

que

Freud

determinou com

muita rapide

z os

diferen tes

elementos externos que

caracterizam o

enqu

dre psicanalít ico. A passagem

da

hipnose

ao

método das

as

sociações I vres foi pr

ecoce

, e

os

elemento s que deter ·

minam o método psicanalítico [16] de Freud quase não

se

alterara

m

desde

1904 até

1939.

Recordemos alguns mom

entos cruciais dessa

evolução

(o leitor

interessado num de

senvolvimento ma is aprofun ·

dado poderá

re feri r-se às

obra

s

de

E. Jo

nes

[26

). A. Gr

een

·

son

[

23)

ou O. Widloch er [35]). Por volta de 1890, S.

Freud estabeleceu as bases de

uma

teor ia p sicológi

ca

sobre

a forma

ção do

s

sintomas

histéricos, apo iando-se parcial

mente

na experiência fe ita por J  Breuer

com

Anna O.

Desenvolveu suas

pr

ime iras concepções

na ob

ra

studos

sobre a histeria (1895 ). A origem

da neurose

deveria ser

bus

cad

a,

segundo

ele, num

trauma

psíquico precoce,

de

natureza sexu

a

l.

onde

o

sintoma substitui

a

lembran

ça

(equação fund amenta l, segundo a termin ologi a de O.

Widlocherl. Obse

rvemos que,

na rea li dade, essas cenas

originárias só se tornam

traumá

t icas

na poster

i

oridad

e,

no

momento

em que

um

segundo acontecimento confere

ao primei ro

um sentido

inace itável para o indiv(duo.

Assim, forma-se

uma

espécie

de

abscesso psicológico en ·

qu istado, que é preciso abri r para que desapareça o

sinto

·

ma. Do

ponto

de vi

sta

te

r

ap

êut

ico, p o

rtanto

,

co

n

vém

obter

acesso

à

l

embrança pa

ra esvazi

ar

o

abscesso , pe

mit indo a de SC arga

emocional

b

loqueada no

momen

to

do

acon tecimento patogênico. Para chegar a isso, Freud pes·

q ~ s o u diferentes meios técn icos: a

prin

cípio, a h i

pn

ose,

2

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depois a sugestão, a concentração e, finalmente, a técnica

das associações livres, que se converteu na "regra funda

mental" da análise. Assim, esses diferentes meios técnicos

visam

à

busca,

à

maneira

do

cirurgião, da melhor via de

acesso ao

sítio

traumatizado, que, no plano psrquico, é

uma lembrança. Ao proceder dessa forma, Freud esbarrou

numa certa resistência de seus doentes: resistência

à

hip

nose, interrupções prematuras do tr t mento. amnésias

rebeldes etc. Procu rou então, através de modif icações

técnicas vencer essas resistências, transpor a barreira

que se

opunh

à recordação das lem branças. Entretanto,

logo renunciou a essa atitude e, em vez de procurilr a

qualquer preço

a

lembrança esquec ida do trauma, interes

s o u ~ e pela própria resistência. Ao que parece, Freud ope

rou essa mudança de orientação técnica no decurso de sua

au to-análise, que empreendeu

qu ndo

da morte de seu

pa i.

Paralelamente, abandonou em parte sua teoria do trauma

ps íqu ico, em prol de uma teoria

d

fantasia e do conflito

intraps/quico. Voltou sua atenção para a representação,

em vez da recordação. e sua atividàde visou a colocar em

evidência as forças que

se opõem

ao aparecimento, na

consciência, da

representação

patogênica. S. Freud atribuiu

menos importância aos sintomas, para interessar-se pela

organização psíquica da personalidade inteira (organização

das representações, dinâmica pulsional), fundamentada

em um jogo de forças contraditbrias, que se tornaram o

objeto

de sua investigação, bem mais do que o sentido me·

tafóri

co

dos sintomas ou lemb ranças reca lcadas. Esforç

se

em sua atividade interpretativa,

por

revt lar ao paciente

suas resistências, em vez de procurar vencê-las. Se conser

vou uma certa idéia de equivalência entre sintoma e lem

brança, passou agora a colocar ênfase

no

funcion mento

intrapsíqu ico. Em suma, mais do que combater, entrar

em conflito aberto com seu paciente, contentou-

se

em

mostrar-lhe sua maneira de comport r-se na relação. Isso

marcou

l

lo

reviravolta importante

na

prática ps

ic

anal

tica e, em nossa opinião, pode ser considerado como o

início da psicanál ise tal

como

é

ai

nda hoje praticada.

' Com efeito, Freud não trouxe

outros

remanejamentos

essenciais para o enquadre anal itico. Seus escritos técni-

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14 psicour pi s breves

cos

por mais importantes que

sejam

não

fazem

senão

precisar alguns

elementos fundamentais:

necessi

dade

de

elaboração das resistênc ias problemas de honorários,

freqüência

das

sessões

neutral

i

dade

e

sobretudo, abst

 

nência em resposta ao "amor de transferência" etc. Além

disso vários desses art igos foram

escritos

em est i

lo

um

tanto polêmico,

em

resposta a certas críticas.

Ora essa evolução conduziu

também

a uma revolu

çãó: até

então,

os pacientes tend iam a interromper pre

maturamente o tratamento; a partir desse momento, tor·

nou-se

cada

vez mais dif ícil levá-los a interrompê-lo

O

abandono

parcial das

primeiras hipóteses

etioló

gicas e terapêuticas e a orientação das pesquisas para a

dinâmica pulsional e as resistências levaram à descrição

de mecanismos que explicam

o

prolongamento dos

tra

tamentos:

o fenômeno

de

condensação, a sobredetermi

nação dos sintomas, os lucros secundários da

doença etc.

- diversas razões que exigem a elaboração e a interpre·

tação das

múltiplas

facetas do sintoma antes de seu .de·

saparecimento.

A

descoberta da

transferência e da

compu

lsão

à

repe

tição, a partir

de

aproximadamente 1910, foi um elemento

complementar para justificar o prolongamento dos trata

mentos. A "neurose

de transferência"

é

uma produçãc

artificial ligada ao tratamento,

que ocupa uma

posição

ambígua

entre a resistência e a mudança. A

transferênc

corresponde

à tu ção da

lembrança

e por isso i

mpede

o

recordar realmente;

assim

é,

a

um só

tempo,

abertura

para o inconsciente e resistência. Desde

então,

a análise

da

transferência

tornou-se a

pedra

angular do

tratamento

analítico. Todavia,

é

a que se desenha no

mundo

psica

nalítico,

uma

reviravolta

mu

i

to importante, que

iria con

duzir ao advento das ps icoterapias breves.

Com

efeito.

após

a

descoberta da

transferência e

da compu

lsão

à

repe

tição,

evidenciou

-se um

fenômeno particularmente

inte·

ressante: a

reação terapêutica

negativa

(reação

paradoxal

de agravamento dos

sintomas

após uma interpretaçãc

adequada). Essa reação terapêut ica negativa parece ser

uma resistência

última, que bem

demarca a vontade

do

paciente

de

não se modificar. Inqu ietamo-nos

também

com

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rwta históricas

1

5

a intensidade de certas

resistências

e

com

o

prolongamento

considerável

dos tratamentos.

Desde

então observam-se movimentos

diferentes

ou

contracorrentes: assim,

ao

cabo de

vários

anos de

análise,

Freud fixa

autoritariamente

uma

data

para

o 'é r

m ino do t ra tamento do

' 'Homem

dos lobos

(1915)

[1

1

]

Depo is S. Ferencz i com base

em

observações que lhe

fizera Freud, desenvolve suas idéias sobre a

técnica

ativa . Essa

técnica

visa, no

momento

em que o tr

atam

en

to

estagna, a dar um novo impulso

ao

processo analítico,

através

de d i

versas

injunções

ou

interd

ições

d

ir

igidas

ao

paciente;

impel imos

este últ i

mo

a encarar ativamente

seus medos

ou

a renunc

iar deliberadamente

a d ive rsas

satisfações libid

ina is a masturbação,

po

r

exemplo). Por

vezes, fixa-se

também

precocemente

uma

data para o tér

mino

do tratamento. O objet i

vo

dessas

med

idas

é

evitar

certos lucr05

secundár ios e desvia r para o trabalho ana

lítico a libido fixada

nas

fan

tasia

s

in

conscientes. O que

perm

ite esse

resultado, diz Ferenczi,

é o crescimento

da

tensão provocada pelas

injunções dadas,

e q

ue é

seguida

pelo

aparec

imento, na consciência, de uma pulsão

até

então

oculta.

Assim, a injunção at iva do terapeuta

te

rn

por objetivo uma mobi lização da libido.

Quanto a Freud, a pr i

nc

íp io seduzido pelas ideias

de

Ferenczi,

logo passa a pregar a prudência 12 1 Acaba

por opor-se

à técnica

ativa. Ao contrá rio , pu blica, em

1920, urn

artigo fundamental -

  Além do

p

ri

ncípio

do

prazer -

onde,

a

partir

da noção

fundamenta

l

de com

pulsão à repetiç

ão

, rea r

ticula

sua teoria do

funcion amen to

psíqu ico opondo duas forças antagôn icas: a pulsão de vida

e a pulsão de

morte.

Segundo as

novas

concepções. é

antes

de

tudo a compulsão

à

repetição,

ela

p

róp

ria forte·

mente marcada pela pulsão de morte, que expl ica o

prolon·

gamento

dos

tratamentos:

E

ssa próp r ia

te

ndencia

à

repeti·

ção

é a

mesma

que se ergue com freqüência

diant

e ele nós,

como

obstáculo

terapêutico,

qua

ndo

queremo

s,

ao fim

d o

t ratam

ento, conseguir que

o

doente se

dt:sligue comp

let

a

mente do médico [1 4]. Naque la

época,

quando o mundo

ps içanal

ítico

se interrogava sob re a evolução dos tra ta ·

mentos e às resistências à cura. e quando se p ropuse ram,

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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16 p s i c o r ~ r l p i f u

revts

com Ferenczi, inovações técnicas, Freud mais

uma

vez

recusou

qualquer

alteração do

enquadre analítico

e

propôs

uma solução metapsicológica.

Assim, o

enquadre analítico

e a técnica f

undamental

devem permanecer inalterados, e a interpretação continua

a ser o instrumento principal do psicanalista. O problema

da

duração

dos tratamentos

preocuparia Freud

até

o fim

de sua vida ( Análise term inável e interminável , 1938

 .

mas em nenhum

momento

ele

se

afastou dessa atitude

rigorosa: todo fe

nômeno

psíquico e

toda

resisténcia

devem encontrar uma explicação metaps icológica e não

justificam

nenhuma modif

icação técnica.

Nas páginas que se seguem, tentaremos defender a

tese de que essa

atitude

rigorosa

de

Freud ligou-se, em

parte

ao fato de que

ele não dispunha

de

um

aparato

conceitual que lhe

perm

itisse integrar

quaisquer

modifi

cações técnicas

em

seu sistema. Ao contrário o conside

rável desenvolvimento de métodos psicoterápicos inspi·

rados na psicanálise parece-

nos tornar

indispensável uma

revisão dessas

concepções

na

medida

em

que todas

elas

se fundamentam

em

variações do

enquadre

ou da técnica.

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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3

NASCIMENTO E EVOLUÇAO

DAS PSICOTERAPIAS ANAllliCAS BREVES

Tão logo criado, o mov im

ento

psicanal iti

co

foi sacudido

por numerosas correntes contrárias: dissidências de Adler,

Steckel, Jung etc. Cada um desses autores desenvolveu

sua própria técnica psicanal

itica e sua própria teoria.

Alguns,

como

Steckel, descreveram procedimentos tera

pêuticos que consideravam mais breves e mais

ef

icazes.

Entretanto,

podemos

afirmar que o verdadeiro nascimento

das psicoterapias anal (ticas breves -data das primeiras -

periências de

S

Ferenczi (técnica

ativa ), por

volta

de

1918, nas condições que já descrevemos. Foi a este últ i

mo

autor que Franz Al

exander

, f

undador

do Inst i

tuto

de

Ps

i

caná

li

se

de

Chicago em 1

93

1, referiu-se

ao

el

ab

orar

sua

teoria da

experiênc

ia emocional corretiva . F. Alexander

merece menção particular, na medida em que ainda é cita

do pela maioria dos textos modernos concernentes à ques

tão da mudança psíquica em psicanálise. Suas concepções

provocaram movimentos contrad itórios, mas inspiram um

grande número de terapeutas. Tendo formação psicana

lítica ortodoxa, Alexander, em colaboração com Thomas

French, concebeu uma teoria se

gundo

a qual não

é

a reme

moração dos antigos aconteciment os que cura a neurose,

mas sim sua revivescência numa relação que forneça

uma

experiência correriva Essa nova experiência c o r r ~ t i v a

pode ser fornecida seja pela relação transferencial, seja

pelas novas experiências de vida, ou por ambas

l l

L

Ale

xander propôs diversos meios visando a flexibilizar as rígi

da\

coordenadas da psicaná

li

se e organizou, assim,

uma

nova forma de psicoterapia anal ítica fortemente aparen·

tada com as psicoterapias breves :

No Instituto

de Chica-

  7

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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18 psicnt pios

hrew s

go. insistiu-se no valor do

estabelecimento

de um

plano

de tratamento, baseado numa avaliação diagnóstico

dinâmica da persona lidade do paciente e

dos

problemas

reais que ele precisa resolver nas condições de vida ex is

tentes.

Ao estabelecer tal plano de terapia, o analista deve

decidir, em cada caso, se é

indicado um tipo

de tratamento

primordialmente

de apoio ou de

descobrimento,

ou se a

tarefa terapéutica é sobretudo uma questão de modificação

das condições exteriores da vida

do

doente [ 1],

p. 11 ).

Mas adiante, ele dá

os

seguintes conselhos: Além

da decisão inicial especificamente

sobre

a questão da estra

tégia a ser

empregada

no tratamento

de cada um dos

casos,

recomendamos

a utilização consciente e flex

fvel

de diver

sas técnicas modificadoras das táticas,

para

adaptá-las

às necessidades particulares

do momento.

Dentre essas

modificações da

técnica-padrão

figuram: a utilização não

só do método da associação livre,

como

também

de entre

vistas de

caráter

mais direto, o manejo da freqüencia das

entrevistas, as diretivas dadas ao doente sobre a questão

de

sua vida

cotidiana.

o

emprego

de

interrupções

de longa

ou curta duração

para

preparar o término

do

tratamento,

a regulação da relaç§o de transferência, a fim de desco

brir as necessidades espec(ficas do caso, e a u t i l i z ç ~ o

das

experiencias

da vida real como parte integrante da tera

pia ([1]. p. 11 ).

Segundo

Alexander e French, não existe uma demar

cação nftida

entre

sua técnica e a da psicanálise

ortodoxa.

As

modificações

propostas

situam-se

numa

linha

contínua

que vai da neu trai idade clássica à mais eclética atividade.

Entretanto, como assina lamos numa outra

obra

[20].

quando se referem a Ferenczi, eles descaracterizam a

noção

de atividade . De fato, para esses

autores,

trata-se de atos

comedidos do terapeuta, que têm

por

objetivo

oferecer

uma nova experiênci emocional, destinada a

co

rrigir os

traumas passados através de sua rev ivescência num novo

clima,

ao

passo

que,

em

Ferenczi, trata-se de

injunções

dadas aos

pacientes

para aumentar a

tensão

intr psíquic

e facilitar ê

tomadas

de consc iência. Os primeiros

orien

tam-se para uma visão reparadora, enquanto o segundo

busca simplesmente lutar

contra

resistencias de outro mo-

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t

n scimento e evoluçiio

19

do insuperáveis (em part i

cu

la r, reações

terapêut

icas ne

gativas) .

Cons

i

deremos,

por exemp

lo

, o segu

inte

tre

cho

de

Ferenczi:

Quan

do

não lo

gramos

êxi

to

em

levar o

paciente

ao

que Freud

chamou

'temperatura de ebulição do

amor

de

transferência', onde

se alicerçam

os traços

de car

áter

mais tenazes,

podemos

fazer

uma

última

tentativa e rec

o r

rer ao método oposto,

atribuindo

ao paciente tarefas

qu

e

lhe sejam desagradáveis, e d este modo, pelo métod o ativo,

exacerba r,

desenvolver p l

enamente

e assim

conduzir ao

absu

rdo

algu ns

traços de ca rát

er

que, muitas

vezes,

existem

apenas em

estado

de

esboço

[

9

J

Prolonga

men

to da

" Técnica

at

iva ). Comparemo-

lo com

o

seguinte

t

exto de

Alexander :

Na formulação

das

dinâmicas de

t ratamen t o,

a tendênc ia habitual é insistir na

repetição

do antigo con

f

li

to na relação

de

transferência e sublinhar a semelhança

entre

a

situação do

velho

conflito e

a

situação

transferen

cial, de sorte que a significação terapêutica das

diferenç s

entre

a

situação

orig inal

de conflito

e a

situação

tera pêu t i

ca

atual

é

freqüentemente

negligen'ciada. Ora,

é

justamen·

te

nessas diferenças

que repo

usa o segredo do va lor

te

ra

p

êutico do proced

imento analít i

co.

É p

or

sua

atitude

,

diferente da da pessoa autoritária

do

pass

ado

,

que

o analista

dá ao d

oente

a

oportunidade

de

enfre

n

tar

muitas e muit

as

vezes as situações emocionais

que

foram

anteriormente

insuportáveis

e de se conduzir perante elas de

maneir

a

diferente

da

antiga

[

1 },

cap

.

iv,

p. 68). É

evidente que

a

atitude de

Ferenczi visa a

confrontar

o

paciente

com ele

mesmo, enquanto

a

de Alexander

o

confronta

com

um

terapeuta

melhor ou,

pelo menos,

diferente dos pais.

Ferencz i

propõe

o

que

denominaríamos,

segundo

uma

ter

minologia sis

têm

ica, u ma

prescrição

de

si ntoma ,

ao

passo

que

Alexander pr

opõe uma experiência

re laci

ona

 

corretiva. Sabemos das reviravo ltas provocadas no

mundo

psicanal itico pelas idéias de Alexander. Não o bstante, a

idéia

do

valor

terapêut

ico

corretivo

da

relação

an

alista·

analisa

ndo

reaparece

const?ntemente em

psicanálise e

está

subj

acente

a i

númeras elaborações acerca do processo

psi

canalítico.

(A esse propósito, p

ode

mos ler,

por exemplo,

as elaborações

de

R.

Diatkin

e [8} ou

J. Cremerius

6

Page 20: Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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20 psiC oUr4pias r ~ v e s

Por

estímulo

de Alexander,

um

primeiro congresso

dedicado

à psicoterapia breve foi rea li

zado

em Chicago

em 1941. á

naquela

ocasião emergiam numerosas diver

gências

entre

os

psi

coterapeutas, embora

todos

estives

sem

de

acordo

quanto

às noções

de

ecletismo técnico e

de

atividade. Durante a li

Guerra

Mundial, as publicações

sobre

as psicoterapias breves mult iplicaram-se, ma s o inte

resse dos psiquiatras orientou-se

rapidamente

para as situa

ções de crise e as neuroses atua is Além disso, a ênfase des

locou-se da problemática pu lsional profunda e do conflito

interno para a

dos

conflitos atuais e interpessoais neuroses

de

guerra,

cr

is

es

conjugais

ou

profissionais

etc. .

Trata-se,

ponanto,

de uma

or

ientação dissidente, segundo a defini

ção

de

8. Grünberger [251. Uma resenha dos artigos con

sagrados às frormas breves

de

psicoterapia desde 1940 até

nossos dias permite constatar uma evolução muito interes

sante:

pouco

numerosas de 1940 a 1950, essas publicações

referiam-se, praticamente

em

sua totalidade, à psicaná lise

Aiexander, Berliner, H Deutsch etc.).

De

1950

a

1960,

o

número

aumentou,

porém

então

mais da metade fazia referência

a

situações de crise e às

diferentes necessidades da população. A partir de 1960, as

publicações multip licaram-se nos países anglo-saxões em

proporções

muito vastas, mas pelo menos 3/4 delas colo·

cam em

primeiro

plano suas preocupações com os proble·

mas sociais lnecessidades da população , e não a dinâmica

do processo psicanalítico: as referências psicanalíticas

são raras,

quando

não

ausentes. Ademais,

foram

descritas

numerosas técnicas que nada mais têm a ver com a psica

nálise

lterapia

comportamental, grupos

de

animação, tra·

tamento

de

famílias etc.}. Os argumentos apresentados

podem ser resumidos do seguinte modo:

a

O

número de pessoas sensibi

I

zadas para os problemas

psicológicos aumentou consideravelmente ma is de·

pressa

do

que o número de psicanalistas. Assim, os

terapewtas são em número insuficiente e sempre o

serão;

b

As

dificu ldades econômicas de

muitos

pacientes;

c} A fai ta de tempo

de

certas pessoas;

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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 ·

I IQjÔIJU I I IO ~ V O U Ç Ô O 21

d)

As dificuldades

de

verbal ização

de

certas classes sócio

econômicas

menos favorecidas;

e)

As s

ituações

de crise e as

situações

de catástrofes (se

gundo

Grin ker,

por

exempl

o,

as psicoterapias seriam

a única fo

rma

de

tratamento

que

atenderia às

n e ~ s i -

dades da guerra }

f)

A

expectativa de resultados

ráp i

dos

por

aqueles

que se consultam;

e

g)

O papel preventivo de certas psicoterapias.

Assim,

constatamos

a faci lidade

com que

a ênfase foi

deslocada

do conflito

interno

para

o conflito

externo, jus

ti fican

do

com

isso

os

temore

s

manifestados

por

Freud

em

face das inovações de Ferenczi, bem

como

as reticências

de

numerosos

psicanalistas. Mesmo assim, essa evolução

não

deixa de

ter

interesse, na medida em

que

nos con

fronta

com

a questão da

mudança

psíquica e nos obriga a

variar nossas posições. Com efeito, parece

certo,

no mo

mento atual, que

meios

muito diferentes permitem obter

resultados terapêuticos bastante

sa

,tisfatórios, duradouros

e,

com

freqüência,

num

lapso

de tempo

relativamente

curto em comparação com

a psicanálise. Rejeitar essa cons

tatação por razões puramente dogmáticas sabe a ideolo

gia, a negação, e se afasta da abertura mental própria da

psicanálise.

Ao con

trário,

segund

o cremos, essa evo lução

deveria incitar-nos a retornar reviravolta de 1920, a

in te

rrogar-nos

sobre os

desvios

constatados e sobretudo,

a

não

cair na

armadilha

de

uma

rejeição pura e simples

em

n

ome

da

ortodoxia

psicanalí

t ica.

Na real idade, a

questão

das resistencias

à mudança

psíquica é central.

Vimos

que

o próprio Freud hesitou,

l

princípio,

entre as soluçÕt S

cnicas e a busca de

uma

explicação metapsicológica. Estando mais interessa

do,

por seu caráter, no funcionam

ento

mental, ele preferiu

este ú ltimo caminho ao

primeiro,

mas, ao fazê-lo, deixou

todo

um

campo sem

cultivo. Ferenc:li, Alexander,

French

etc.

qu iseram

cultivar

esse

campo

e foram seyuidos

por

numerosos discípulos,

dentre

os

quais

nem todos csco

·

lheram a facilidade.

'

Ao

estudarmos alguns

dos procedimentos propostos.

tentc;remos apreender melhor os mecanismos ativos.

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22

psicotertlp

i

 

s b  tvts

Vejamos agora os diferentes modelos.

ALGUMAS

TÉCNICAS DE PSICOTERAPIAS BREVES

1. L. Bellak e L. Small

1

Identificação de um problema a tual e desenvolvi

mento de

uma

h i

pótese

, que a

anamn

ese deverá confi rmar,

modificar ou refutar.

b}

Lev

anta

mento

da

anamnese, Pf: squis

ando os

dados

passíveis de esclarecer a história pessoal

do

pacie

nte

e de

permitir um

diagnóstico, se possível

por

ocasião da primei·

ra

sessão; facilita r a comunicação.

c Estudo

da

patog

enia, levando em conta uma

probab

ilidade de sobredeterm

inação.

d Uma vez

de

terminada a origem d os

sinto

mas,

escolha das intervenções

qu

e visarão a fazê-los desaparecer.

As intervenções

podem

ser some n

te

verbais ou reforçadas

por outra

s medidas ativas.

e}

Elabor

a

ção do

pro

blema, reforço

do

novo

compor-

tamento

aprend

i

do

e extinção dos

modos

de adaptação

neurót i

co

s.

f}

Fim

do tratamento

, tendo-se o

cuidad

o de preser

var

no paciente

uma transferência p()sitiva e de fazê-lo

saber que será bem-vindo se voltar.

Aí vemos,

portanto

o ecletismo das medidas propos

tas, sendo, além d isso, alguns termos t

omados

de em

pré

s

timo

às

teorias

do

comportamento

. As i

ias-chave p

odem

ser resumidas

da

seguinte maneira :

Escolha de um

prob

lema bem delimitado. nterven-

ções ativas com vistas a resolvê-lo. A natureza do processo

não é claramente

definida

em r e l ç ~ o

à psicanálise, a

despeito de numerosas consider

açõ

es sobre a natureza das

interpretações .

2

K Lewin

[29

J

Sua técnica, fundamentada

em

conct itos psicanalíticos,

marca certas divergências no que

concerne

ao desenvo lvi ·

menta

sexual

da mulher

e

ao

masoquismo:

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t lu Timenro e l u p i o 23

a} Antes

do inici

o

do

tratamento estabeleci mento de

um

con trato conscie nte com o

paciente acerca dos obje

ti·

vos

do

traba

l

ho

a

se

r real izado.

b

Desde

o in

ício

o

médico con

fronta

o

pa

cien

te

de

maneira

mui t o a t iva com

seu

comportamento autopun1ti

vo, na esperança de levá-lo a

ape

rceber

 s

e de que é ele

pr

óprio o artíf ice de su as d ifi

cu

l

dades.

c Interpretação precoce da transferência pa rti

cular

-

mente de seus aspectos negativos. .

d

Focalização da

atençklo do paciente por

ocas

ião de

cada

sessão a fim

de manter

a

con

ti

nuidade.

e}

I

nc

ita-se o p

ac

i

ente

a p rossegu ir em seu t r

abalho

em casa , 24 ho1as por d ia e se te dias por semana.

f O terapeu

ta

a t ravés de seus comentários e de

seu

comportamento

oferece

ao p

aciente

um m odtdo de

consciênc

ia mora l mais norma l e me nos punitiva.

Nesse modelo reencontramos as idé

i

s de atividade e

de

planejamen

to , havendo a lém disso, uma concep

ção

muito par ticula r da origem dos distúrbios

neuróticos

.

Toda

a a

titude

de

Lewin baseia -se nas

noções

de

cu

l

pa

e

de

masoquismo.

A í se esboça uma teori simples. que visa a explic r o

conj

u nto dos d istúrb i

os neurót

icos.

3. D. Mal

an

[30  

Em 1954, Bal int

fundou

um grupo de trabalho de ps icote ·

rap

e

uta

s,

destinado

a

exp

lora

r

as possibilidades

de

t

rata

mento

breve

de

o r i n ç ~ o

psi canalítica. A idéia bt:.sica era

reencontrar

o método or iginal de

Freud.

Esse

grupo

que

trabalhava

de

maneira muito a t iva, d iscu

ti

a

todos os casos

tratados

e Ma lan

efetuou

urn e

studo catamnéstico sobre

os

r

esulta

dos em inte rvalos

de

du ração

bas

t

an

te l

onga

.

A

técn

ica po

sta

em func ionamento pelo grup o foi a

segu

inte:

a Face

a

face;

b} Fixação de imed

i

t

o

de

um

prazo pa ra o trata

ment

o.

assinala

n

do

que se o resu I a

do

buscado não for

obüdo, pode r-se-á consider  ; mil outra forma de psicote

rapia

em

seguida;

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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24 psic oterapku breves

c) Estabelecimento de

uma

hipótese psicodinâmica de

base, explicando a problemática principal do paciente;

d) Técnica de interpretação mais ativa, consistindo em

uma

atenção

seletiva

voltada

para os elementos relaciona

dos com a

hipótese

psicodinâmica de base e em

um despre-

zo seletivo

pelos elementos estranhos à dita hipótese. Essa

técnica de i n t e n ~ e n ç ã o fez com que tal forma de psicotera

p ia fosse

denominada

de

psicoterapia focal .

Em segu ida a essa experiência, D Malan conduziu

estudos

catamnésticos

muito

aprofundados sobre o pro

b lema da seleção dos pacientes para esse gênero de terapia

e

quanto

a

questão

dos resultados. Mostrou

que

é possível

obter

mudanças duradouras

por

meio de uma psicoterapia

de

curta duração

e que essas mudanças são acompanhadas

por mod ificações estruturais da personalidade. Além d isso,

ao

contrário do que se poderia acreditar, essa evolução

positiva

pode

sobrevir

em personalidades gravemente

perturbadas

e

não

parece

depender

nem da origem antiga

dos d istúrbios, nem de sua suposta profundidade;· os

fatores

de

bom

prognóst

i

co

são:

-

um forte

desejo de mudar, através de

um

melhor

conhecimento

de

si mesmo;

- a possibilidade de focalizar o

tratamento;

- a

natureza das

interpretações

que

ligam os movi·

mentos t ransferenciais às imagos parentais.

As :im, essa pesquisa provou que, modificando certas

coordenadas

do tratamento

psicanal ltico, embora perma

necendo fiel a suas

concepções

básicas,

poderíamos obter

m ~ > l h o r e s

resultados

contra

as resistências inconscientes dos

pacientes.

A avaliação imediata d problemática incons-

ciente principal dos pacientes, a estipulação de u prazo e

a escolha combinada

d s

interpretações permitem alcan-

ç r t. Hv resultado.

4. P. Sifr.eos [27-28]

? Si fr r vs trabalhava numa instituição - o Hosp ital Gera l

de

~ s s a c h u s e t t s

- que parece ter sido a primeira nos Es-

tados Uni

dos

a criar

um s e n ~ ç o

psicoterápico de urgência.

Page 25: Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 25/102

Depois de f

aze

r uma

pr

imei ra

experiên

cia psicoterápica

de curta

d

uração cu jos

resu l

tados

fo ram

mu

i

to

favoráveis,

P. S i

fneo

s -

que

, aliás, se

mpre manteve uma

atividade

psicanal

it

ica clássi

ca

- f

ez

estudos

sobre

psicoterapias

analíticas de

cur

ta

duração,

às quais denominou psicot e·

rapias de prazo

curto,

provocadoras de ansiedade  . Rela

tou seus resu ltados na

obra Psicoterapia breve e crise

emo

·

cional

331.

Centralizou

sua argumentação na noção

d

crise emocional ,

considerada como

po

nto

foca l e

platafo

r

ma giratória ao longo de um

ontinuum

dinârnico de pro·

cessas

ps

i

co

lógicos: A compreensão de uma crise

ema

·

cion

al escl

arece

os d iferen t

es estados

de forma

ção

d os

sintomas ps

iqu iát ric

os

, an t

es

m

esmo que

el

es

se crista

li

zem

numa neurose;

perm

ite, além disso, a execução de

me

didas preventivas

s interven

ções psicoteráp

icas breve

s-

às

quais recorremos

para e

vitar

o desenvolvimento dessa

neurose

[

33). SH neos

d

is

t ingue

dois

tipos de psicoterapias:

1.

Ps

i

co

terapia

ans

iolfti

ca

o u

de apoio trata -s

e de

uma

psicoterapia de apoio num pac iente que esteja

em

crise, mas

que sofra

de

dificu ldades emocionais

de longa data ; seu

objetivo

é

diminuir

a ansiedade;

2. Ps icoterapia provocadora de ansiedade ou

dinâmica

dest ina-se a provocar, através da

tomada

de cons·

ciênc

ia, a

resolução

de

um

problema.

O au

tor

atribui

um

lugar primordial

aos

critéri os de

indicação para a

psicot

erapia p rovocadora de ansiedade:

são

passíveis

de

serem

tra tados

p

or

esse

método

apenas

os

pacientes que sofrem de

neu r

ose

genital,

onde

a

problem

â·

tica

edipiana

está

em

primeiro plano, e

que

estejam forte ·

mente desejosos

de

muda

r.

P.

Sifneos

estu dou

profund

a

mente o problema da

mot

ivação de mudança nesses pa·

cien t

es e

a

questão

dos d ifer

en

tes cri térios que indicam

uma certa soli

dez

do ego. Assim. d iversamente de O.

Ma

lan.

P. Sifneos insis

te

muito nos p roblemas de seleção. A pró·

pr

ia

t

écnic

a

é

também um pouco

diferente:

a Indica-

se que

o tratarnan to

te

dura

ção breve, com

aproximadamente 12 a 18 sessões. mas sem fixar a da·

, ta limite;

b}

Sessões face a face;

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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  6 pricorer p i s

revts

c} O terapeu ta estabelece de i

mediato

um contrato com

seu

paciente

acerca do problema a ser tratado

d Levando-

se

em conta o

contrato

estabelecido

no

iní

cio

com

os pacientes, a técnica

de

interven

ção

de

Sifneos é ni tid

amente

ma is ativa

do

que a

de

Balint

Malan, cuja

atitud

e

é

mais neutra. Sifneos

não

hesita

em incentivar seus pacientes através de intervenções

como "Esse p rob lema não é o que tínhamos decidido

tratar ", ou então "Muito bem Você descobriu "

Além disso, ele acompanha mu ito ativamente as asso-

ciações dos pac ientes, a

quem

apóia ba

stan

te em suas ela·

bo

rações. As invest igações cat

amn

ésticas realizadas

por

Sifneos evidenc iam re

su

I

ados

muito apreciáve is e d uradou

ros. Tal como as

de

Malan, elas

mostram

que a qu

alidade

dos resultados

est

á fortemente ligada à motivaç

ão

dos

pa

ci

entes no início do t

ratamento.

Entretanto, leva

ndo

em con

ta

o que fo i

dito anterio

rmente, é evidente que a forma de

ter

ap

ia

ut

ilizada

por

Sifneos dirige  se a um

grupo

de paci

entes

diferentes

dos

tr

atados por Malan,

que a seleção é

muito

mais rigorosa.

5. H. Davanloo [

7]

Habib Oavanloo, que t raba l

ha

no Hospital Geral

de

Mon

t real, em Ouebec, empr

eendeu,

a

part

ir de 1963,

uma

pes

quisa sistemática dos efeitos das psicoterap ias de c

urt

a du

ração. Foi ele qu

em, após

ter encontrado P. Sifn

eos

e pos

teriormente,

D.

Malan, organizou o I Simpósio In ternacio

nal de Psicoterapias Breves, em

1975,

em Montrea l, que

alcançou enorme sucesso nos Estados Unidos e no Canadá.

Davanloo desenvolveu progressi

vament

e uma técnica

de psicoterapia s breves a que

denominou "psicoterapias

di

nâmicas a

cur

t o prazo e com foco amp liado".

Ele u t iliza entrevistas

de

exploração destinadas a co-

locar em ev idência o ma teria l genét ico, com vistas a esta

be

lecer rap

idamente

uma área

de in

te rvenção, através

de

téc

nicas

dt: confrontação

muito ativas, de

esclarecimento

e de

exploraç

ão

do material consciente, pré-consciente e dos de

rivados do inconsciente. Seu mé

to

do pode se r assim resu

mido:

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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a A par tir da entrevista inicial ele procura destacar uma

área

de conflito

passível de

exp

lic

ar

as

queixas do pa-

cien te. Essa área

é comume nte

formulada

em termos

ed

i

pianos

;

b  

L

ogo

de início  ele confronta o paciente energicarrren

te co

m suas resistênc ias;

em parti

cular procura capt

ar

ao

vivo os

movim

en tos afetivos e pôr em evidênc ia as

resist

ênc

ias à verbalização

deles;

c

Intervém im

ed

iatamen te

quan

do das pr imeiras

man

i-

festações afetivas com respeito ao te

rapeuta

( T rans

ferência

no

sent

id o

de

H. Dav<inlo

o)

e compele o

paciente

a verbal izá-las

adotand

o

diante

deste

último

um

a a titude

de

ver

dadeiro

deséifio;

d O

prazo n:lo

é

antecipadamente fix

ado,

mas a duração

da psicoter

ap ia

oscila e

nt

re 10 e 30 s

es

sões sendo a

méd

ia

de 20 sessões.

H

Davanloo um terapeuta ex tremamente at ivo a

ponto de cheg

ar

às

vezes a

fa

l

ar

mais

do que

os

pacientes

durante as

sessões; constan temente yigilante deixa pouco

es

paço

para

a

expa

n

são

da

fantas

ia. Devemos

reconhece

r

que

os

resu ltados obtidos

com

estruturas neuróticas graves

são posi tivos.

H. Davanloo adaptou uma técnica de

aval

o ç ~ o dos

re

sultad

os

das

psicoterapias

breves

atr

avés de me i

os

aud i

vi suais.

6  J. Mann [ 32 ]

Na primavera de 1964, consta tando a extensão considerá

vel das listas de espera de

psico

t

erapias

e

após uma

discus

são

com os

responsáve

is

p

elo Centro

Méd i

co

da Universi

dade de

Boston,

J

M

ann

decidiu introduzir

autoritaria·

mente um

programa

de psicoterpia an

alítica

breve para

todos os novos residentes

em

formação. Para não impor a

outrem

algo

que

ele próprio não fizesse resolveu empreen-

de

r pess

oa

l

men

te essas for

mas

de

tr

a

tam

e

nto

e organi zar

um seminár

io base

ado em documen

t

os

au diovisuais. O

programa

te

ve

i

nício em setembro

de

1964

e

pro

ssegue

até

o s ~ s d ias. O

modelo ut

i

li

za

do é

o segui

nte:

a} Em duas ou três

entrevistas

de inves

tigação

  o psicote-

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  8

psicott rtZpia:r

r ~

rapeuta deve delimitar um conflito central , origem

das

que

ixas do pacien te. A formulação desse confl i

to

pode não coincidir com as razões conscientes que im

peliram

o

paciente

a

consu

ltar-se. Esse

conflito

cen

tral é ligado a suas fontes

infant

is sob a forma de

uma

hipótese psicodinàmica;

b

O

terapeuta dispõe, ao todo

,

de

12 horas

de psicote

·

rapia, que pode

distribuir

de acordo com um contrato

estabelecido com o pac iente. A d istribuição dessas 12

horas é feita

conforme

a natureza dos problemas

ps

quicos do

doente 12 sessões de

uma

hora , 24 sessões

de

meia

hora ou

48

sessões

de

15

minutos)

;

c O

terapeuta

define esse núcleo

de conflito

p

ara

seu

paciente, usualmente em

termos

gerais

que

visam a

mostrar a compreensão empática

do

terapeuta e a

criar uma relação significa tiva;

d

A data

da

última sessão é fixada com precisão;

e) Uma vez estabelecido o cont

rato

e com a aceitação do

paciente.

o tratamento

tem

in

(cio,

segundo

um

pla·

no

predeterminado

em

que

a ênfase

é

colocada

na elabo

ra ção dos determinantes inconscie ntes do conflito

central.

O confli

to

centra l é escolhido em função das fases

maturacionais

do desenvolvimento da personalidade, de

acordo

com um ponto

de

vista

duplo:

o ponto

de

vista

adaptativo e o ponto de vista genético. Antes de mais nada,

levando-se

em

conta a importância da

limitação

tempora l

nessa forma de

tratamento,

a ênfase recai sobre o problema

da

separação-individuação.

De acordo

com

J.

Mann, esse

problema é

constant

emen

te encontrado

no

que

ele deno

mina de si tuações

conflit

ivas universais de base :

1 Independência-

dependênci

a.

2. Atividade-passividade.

3. Autoconfiança adequada-perda

ou

d iminuição da

au

tocon

f

ia

nça.

4.

Luto

não resolvido

ou

retardado.

A parte

as

crises agudas reação esquizofrênica

ou

rótica

aguda e estados depressivos profundos),

quase

nao há contra-indicação

para

essa

forma

de

psicoterap

ia.

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nusâ mertto

~ u o 9

7. Técnica

de

Lausanne E. Gilliéron)

Foi em 1968 que iniciamos um estudo mais sistemático das

psicoterap ias breves na Policlinica Psiquiátrica Universitá

ria

de

Lausanne. Depois de trabalhar segundo uma orienta·

ção muito próxima das idéias de M. Balint e D. Malan, po

larizamos progressivamente nossa atenção no estudo da in·

fluência do

setting

em particular, limitação temporal

e ses

·

sões face a face) no funcionamento psíquico. Nossa hipóte·

se

era a de que algumas modificações contextuais simples

em relação ps icanálise influenciariam consideravelmente

o processo associativo. Foi

por

isso que, sem renunciarmos

ao estabelecimento de hipóteses psicodinãmicas durante a

fase de investigação, modificamos nossa

at

itude, permi rin-

do livre curso às associações do paci

ente

, sem dett:r minar

p r e t ~ i m e n t e o problema consciente a ser tratado e sem

exigir do terapeuta uma atitude particularmente ativa. Pe

dimos a este último que adotasse, se possível como em

psicanálise, uma atitude de atenção flutuante e não mais

uma atenção focalizada.

Mas

ve

jamos nosso método

com

mais precisão:

A primeira entrevista, semi-estruturada, é essencial

mente centralizada nas queixas atuais do paciente e depois

progressivamente, em sua história pessoa l. O contexto e as

circunstâncias do aparecimento dos sintomas são exami

nados mu i

to

de perto, assim

como

o modo de chegada

à

consulta por si mesmo, encaminhado

por

um colega etc.);

em seguida, a anamnese

é

esmiuçada o mais profunda·

mente possível, tendo o terapeuta em mente as circunstân·

cias do aparecimento da descompensação atual, com vistas

a

comp

reender as caracter ísticas fundamentais das rel  ções

objet is estabelecidas pelo paciente no passado e no pre

sente. A hipótese subjacente é que a maioria das descom·

pensações é

desenc de d por

minicrises relacionãis.

Jtl

ao final da primeira entrevista, e relativamente a todos os

pacientes, esperamos do terapeuta que tenha uma idéia

do

tratamento que e

 

trevé· medicamentos, psicoterapia

a longo prazo, psicantllise ou psicoterapia a curto prazo.

A

~ g u n d

  entrevista é orientada em função dessa pri·

meira impressão. Quando penSd urna terapia de curto

Page 30: Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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30

pricottrtZpÍils brc ·ts

prazo, o

terapeuta

deve

formular

uma

hipótese

psicodi

nâmica simples, que resuma da melhor fo rma possível a

problemática

neu ró t ica do paciente .

A segun da entrev ista

tem por

obje t ivo firma r a refe·

rida hipótese e,

se

possível, estabe l

ecer

as bases do t rata·

menta futuro at ravés de ensaios in

terpretat

ivos. Ao

formu

·

lar sua hipótese, o terapeuta deve basear se na natureza

da rel ção

que

o paciente procura estabelecer e dar-lhe

uma inte rp retação psicodinâm ica que

expl

ique a at

itude

tu l do pacien te , ligando-a

com

o passado deste último.

na terceira entrevista

que

a decis

ão

deve ser tomada,

f1xa

ndo-

se as modali

dades

do

tratamento

(horário, fre ·

qüen cia das sessões, honorá r ios).

Esse esquema, fortemente ligado à natu reza de nosso

serviço (se

rv

i

ço

universitário de f

ormação).

é su ficiente·

mente

flex ível pa ra l

evar

em conta, a um só tempo , a

expe

·

r

ncia do tera peuta e a natu reza dos distúrbios do pacien

te . A maioria

dos

casos é discutida em grupo. Ao fixar as

modal idades do

tratamento,

o terapeuta propõe u ma

psic

otera

p ia

de

du ração lim it

ada

e, usu

almen

te,

pede

ao

paciente

qu

e

indique

o tempo que ele se atribui, subjet -

v

mente

para

resolver suas dificuldades. O próprio

ter

a

peuta deve formar

sua

própr ia idéia a esse re

spe

ito. A

dur

aç ão hab itual va ria entre trés meses e

um

a

no

, à razão

de uma sessão por sema na

ou,

por

vezes,

duas.

A d

at

a da

últ ima sessão é determinada

com

precisão.

As sessões desenro lam-se face a face e o terapeuta

fornece

como

inst

rução

única

a regra d

as

associações

livres. A natureza das intervenções feitas

quando

das

entrev is tas de investigação (ensaios interpretat

iv

os) deve

perm it ir ao pac iente

apr

eender o tipo de t rabalho que

será realizado.

Uma vez fixadas as condi

çõ

es básicas e enunciada a

regra da associação

li

vre, o

ter

apeuta deixa

que

o

processo

se desenrole, exatamente

com

o ocorre em psicanálise, mas

mantendo-se

atento

às

mod

ificações

pouco

man

ifestas

da transferênci a provocadas pela limitação clara da duração

e pela posição face a face, em particular. O

terapeut

a

acom

pa

nha seu pacien te o mais de

perto

possível, sem des

prezar nenhuma associação, mas esforça ndo-se

por

captar

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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sci  toe eyo uçiio 31

a mane ira específica pela qual se

man

ifesta a

trans

ferênc ia

na psicoter

apia. Para fa

zer

isso,

pode

referir-se à hipótese

que

havia formulado. Se a hipótese psicodinâm ica básica

estiver

correta

o

proc

esso se

desenrolará

com bastante

facilidade e o terapeuta logo d isporá de elementos su1i

cientes para confirmá-la nas associações do paciente. Se

a hipótese for falsa,

aparecer

ão

numerosos

ma l entendidos

que

evidentemente

obrig

arão

(ou, pelo

menos

deveriam

obr igar) o

terapeuta

a rever sua

opinião.

A nosso ver, o

trabalho de reflexão concern ente às sessões deve ser efe

tuado fora delas,

sobretud

o no caso de terapeutas inex

perientes, e isso

porque

é mui

to

d

ifí

c

il

reflet

ir e e

scutar

ao mesmo tempo. Convém insistir no fa to de que.

para

o

terape

uta

tra

:_a se de compreender o material associativo

do paciente, e não de dirigi-lo. Suas intervenções

devem

ter por

objetivo favorecer as associações e

permit

ir toma

das de consciência rea is.

Vemos então

desenrolar-se

um

processo

acelerado que

em certos as

pectos

assemelha-

se

curiosamente

ao que

ocorre

em psicaQál ise

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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.

r

QUESTION MENTO

Sobre a Necessidade

de

um

Modelo Psicoterãpico:

Alguns

Princípios

Fundamentais

As técnicas

de

psicoterapia breve apresentadas no caprtulo

anterior foram escolhidas

em

razão de sua importância

e de suas características. Cada

uma

delas mereceria uma

exposição mais longa, porém o leitor interessado em

uma

ou

em

outra

poderá

reportar-se às

obras

c itadas. ·

O ecletismo

das

técnicas, das quais o

quadro

sinóptico

que

se segue resume as d iferentes características,

não

deixa

de

levar-nos a indagar: será que cada terapeuta não cria

seu própr

io

método em função

de sua economia pessoa

l

escolhe

ndo

os pacientes

correspondentes?

Aliás, obser

vamos em alguns deles uma certa dificuldade em fazer

escola,

na

medida

em que

desenvolvem uma técnica essen·

c

ial

mente

pessoal e parecem t er d ificulda

de

em

fundamen

tar sua prática

em

uma

t ori

mesmo

elementar-

capaz

de servir como

ponto

de referênc ia. Outros esforçam-se

por

assentar sua prática

em uma

teoria

coerente, porém,

com

mui ta freq üência, t rata-se sobretudo de

um

a refer

ên·

cia d i

reta

e parcial

à

psicanálise: Cada psicoterapia

con·

sidera um aspecto d iferente; por consegu inte ,

parte

e uma

limitação mais ou menos grave e diferentemente situada

em

re la

ção

ao

conjunto

de

at

i

tudes

poss íveis.

Portanto,

cada uma

de

las caracteriza-se, mui tas vezes, sem

que

o

saiba,

por uma

base contratransferencia l seletiva. [2

4]

Aliás, é verdade que,

em

psicoterapia breve, recorre-se

comumente

ao que se poderia chamar

princíp

ios de

li

mi-

.l2

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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n

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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  4

psicottropi s hre••ct

tação : presta-se atenção a

uma

ou

tra

das facetas do

processo

psicanalítico,

ou,

com um objetivo de

simpli

ficação,

concentra-se

sua atividade

num

dos elementos

que entram em jogo na comp lex idade

da

organização

psíquica

. Essa

focalizaçiio pode

atingir os aspectos

intersubjetivos, genéticos

ou

dinãm icos. Assim, pode-se

estabe

lecer

uma

hipótese psicodinãmica causal , evo

cando

um fator

traumátic

o oc

orrido

no passado

do

pacien-

te e passível

de

explicar seus

distúrbios

atuais. Podemos

também for mular uma

hipótese psicodinâmica ma is

estrutur

al , centrada nas d iferentes vicissitudes do

Complexo

de tdipo.

Podemos polarizar sua a tenção para

a

constituição

desta

ou

daquela

organização defensiva.

F

inalmente

,

podemos

concentrar-nos nos aspectos

econô

micos da

relação cerapê

uticé

e contar

c

om

uma experién

cia emocional

corretiva. Todas

essas perspectivas,

por tanto

,

dão

imagem

de

um processo

incompleto

em comparação

com o proc-esso

psicanalítico

. Por

outro

lado, o postulado

freudiano

da

iné rcia

do

aparelho psíquico, que exige a

repetição das

inte

rpret

ações elaboração)

e

ju stif ica a longa

duração

do

tra

tamento,

refo

rça essa impressão, pois as

psicoterapias breves,

ao

encu rtarem esse tempo de ela

boração, parecem também

limitar as ambições do te

rapeuta.

A ex trema var iedade

déiS

formas de psicoterapia

não deve

impressionar,

visto que os objetivos visados são

múl tiplos

(cura

sintomática, melhora das relações inter

pessoais, tole rância às

tens

ões psíquicas, ou, a rigor, aos

si

ntomas,

aumento da capac idade de amar, me lho ra da

situação social etc .). Cada um desses objet ivos pode ser

vinculado

a

um ou outro

dos aspe

ctos

da t

eoria

psicana

lítica, mas

nenhum

deles parece traduzir sua globalídade.

Ecletismo técnico, escolha contratransrerencial

dos

pa

cientes, especificidade

do

s efeitos

terapêut

icos: muitos

são

os cam

i

nhos abertos à

reflexão para as psicote rap ias

breves; o

ponto

c ruc ial é a

questão

da

mud,mça

psi

quíca

e

dos

meios postos

em

ação para

obtê

-la . Muitos autores

se interrogam a esse respei10 . Assim, é com os fatores

comuns a todas as psicoterapias

(qualidade humana

da relação

e

crença

compartilhada

pelo paciente e pelo

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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j

I

quertionamenro

J \

terapeuta numa

teor

ia qualquer) que

J.

Frank relaciona

as

mudanças observadas

{101.

Convém lembrar aqui

que a

teoria freudiana da

mudança,

que

se

apó

ia

essencialmente

na

no

ção

de

inter-

pretação

evoluiu

em

função das

diferentes

descobe1tas

feitas ao

longo dos anos e comporta

diversos pontos de

vista

comp

l

ement

ares,

que

devemos

cons

i

derar em

sua

globalidade.

De fato, essa visão

caleidoscópica

comporta

planos diferentes nos quais

se

d

esenrola

o processo ana

lítico. É claro que o estudo da mudança I gada aos e feitas

da interpretação não

é

incompatív

e l com o

estudo

mais ge

ral

da

personalidade

e

de

suas transformações

no

decorrer

do

tratamento.

Da mesma forma . o

ponto de

vista genét i

co

não ~ opõe ai)

estudo dos fatores dinâmicos

e econôm i-

cos da

mudança 35

].

pp.

190-191). Assim, podemos

descrever

as

interpretações

e seus

efeitos

em termos

e o-

nômicos (deslocamento

ou ligação

das

cargas energéticas,

domínio

essencial

dos

afetos), em termos

dinâmicos

(conflitos diversos

en

tre fo rças cpntraditórias. domínio

das

pulsões

e

dos

mecanismos de

defesa),

em

te

rmo

s

g né·

ticos vínculos entre

a história d o sujei

to

e a vida at

ual).

em termosestruturais

(relação

entre

id, ego e

superego) etc.

Assim, é

fato que

a

ma

io r

parte dos autores

e

nfatiza

um

ou outro

desses

aspectos: por

exemp lo, os pontos de

vista genét ico,

para Sifneos (critérios

de seleção, focal i

zação), ma is dinâmico,

para

Malan (hipótese psicodinã

mica), e econômico para Davanloo ênfast= na atividade)

ou para

Alexander

(experiênc

ia

emoc

i

ona

l

corret

iva)

etc.

Todavia,

parece

errôneo

tanto nos contentarmos

em evocar fatores terapêuticos não

específicos

(J.

Frank)

quanto nos referirmos

a um

aspecto

parcial

da teoria ou

do

tratam

ento psicanalítico

M.

Gressot): os meios

em·

pregados sã diferentes. Ora, mantemos

com

dem

asia

da

freqüência

uma

confusão entre a psicanál ise

enquanto

teoria

e a psicanálise enquanto

prática.

Sem dúvida,

os

do

is

aspectos são

indissociáveis,

mas

essa mesma i

nd

isso

ciabilidade indica clarameme que há uma

relação dinâmica

a uni-los. Atualmente, preocupamo-nos

muito

com esse

problema J.

Bleger, S. Vidermann,

J.L. Donnet.

A.

Gree

n

etc.); concordamos cada

vez mais

em

di

zer que

o

processo

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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36

psicoterapws ráu

psicanalítico está fortemente

ligado ao

enq

uadre em que

se desenro la e

de

sconfiamos, por exemplo, da aplicação

d ireta das

teorias

psicanal iticas a

ou

t ros ramos, ta is

como

a história, a mi

tol

ogia, a a rte

etc.

Ora

todos os métodos

psicoterápicos decorrem de grandes modíficações do

enquadre. Desp rez

ar

o impacto destas últimas, faz en

do

referência apenas

à teor

ia psicanalítica, afigura-se, portan·

to, o meio ma is segu ro de levar a um impasse. Eis aí

porque,

em Lausanne, fomo s progressiva

mente

voltand o

nossa

atenção

para os efeitos da disposição espaço-tem·

poral

no

desenrolar do tra tamento adotando uma técnica

de

in

ter

pre

t

ação estritam

ent

e psicanalitica, sem

dar

outra

instrução espec ífíca ao paciente que não a das associações

livres. O objetivo é avaliar

melho

r a even tual especificidade

do

processo ps

icote

r

ápico

em relação

ao

t

ratamen

to pa-

dr

ão :

trata

-se,

po

rt

an

to, de saber o que acontece quando

permanecemos analis tas num enquadre psicoterápico.

A teoria psicanal itica descreve essencialmente um

funcionamento

intraps/quico ainda que se

ja

inferida

de

u

ma

relação

intersubjeciva

num

determinado

enquadre.

O estabelecimento dessa teoria e a manutenção de uma

cer

ta co

erência

seriam

po

ssíveis se a disposição

per

ma·

necesse muito estável

como

bem sublinhou a oposição

de Freud às proposições

de S.

Ferenczi: as variações téc·

nicas

não

poderiam ser integradas s

em maio

res problemas

na teoria

ps

icana lít ica sendo conveni

ente

desenvolver

um novo odelo que

autorize

essa integração. Em nossa

opinião,

esse m

odelo

deve

permitir

descrever:

1. A influência

da

disposição ou enquadre no desen·

r

olar do pr

ocesso t

erapêu

t i

co;

2 . A

diMmica

da relação

de duas

pessoas dinâmica

intersu bjet iva);

3 . Suas relações com o funcionamento imraps quico

individual.

Duas referências ep istemológicas essenc ia is pa ra

comp

lementar

a

contribu

i

ção

psicanalítica clássica, pare

ce

m passíveis de

melhorar

nossa compreensão:

1.

As teorias psicana líticas de

grup

o

que

fornecem

informaçõ

es importantes sob re as fam

  si s

compar·

tilhadas po

r d

iv

ersas pessoas;

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questiOTIDintf

7

2. s

teorias dos

sistemas

e da

comunicação,

que

perm

item descrever com precisão as

relações

hie·

rárquicas

ou

dinâmicas entre diversos

elementos

- isso a

que

chamamos

caracte

rísticas sistémicas

da relação .

Assim, consideramos o conjunto

terapeuta

-

paciente

como

um

todo em interação contínua

num

determinado

enquadre. A natureza das interações depende da organiza-

ção intrapsíquica de cada um dos parceiros, do enquadre

e do respeito a certas

regr s

relacionais cf. representação

esquemática abaixo).

Esse

esquema pretende mostrar

os principais elemen

tos constitutivos da relação terapêut ica considerada como

uma rel

ação

cifcular): o

enquadre,

os

i

n

ivíduos

e a natu-

reza

de

suas trocas associações verbais, percepções visuais).

consideradas comunicações . A necessidade de uma

distinção entre enquadre, relação intersubjetíva e aparelho

psíquico individual é cada vez ma is reconhecida, sendo tão

indispensável em psicoterapia q u a r ~ t o em psicanálise. O

enquadre

comp

reende os

dados

fixos

do tratamento

o setting) : freqüênc ia das sessões, limite de tempo, face

a face, divã, poltrona etc. Ele

é também delimitado por

dados

concretos ma is fundamentais, tais como o

status

\ sócio-cultural da psicoterapia em geral, os direitos e deve-

I

I

)

J

ENOU URE

ESQUEM

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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38

s

corer pills

  v n

res

do

psicoterapeuta e do paciente, em suma, todos os

determinantes socia is

do

tratamento. A

relação

def

in

e

o que acontece

entre

o terapeuta

e

seu paciente, em

particular a natureza das

trocas

(associação livre, neut

ra·

idade do terapeuta) e a natureza das in tervenções (inter

pretações, sugestões etc.). Para melhor compreender

nossa abordagem, convém recordarmos alguns princ pios

fundamentais da teoria da comunicação.

REMEMORAÇÃO

OE ALGUNS PAI

NCfPIOS

DA TEORIA DA

CO

MU NICAÇÃO

Segundo nossa experiencia, é extremamente dif(cil formar

uma idéia clara do alcance epistemológico das teorias da

comu nicação ou dos sistemas sem ter delas uma certa prá·

tica, em particular nas terapias de família. As linhas que

se

seguem não tem outro objetivo que não o de servir

como um resumo.

O

leitor

in

teressado deverá referir-

se ~

obras clássicas, dentre as quais a mais rica, para os psiéana

listas,

é

certamente a de

G.

Bateson,

Por uma ecologia

da

m nt [2]. As obras de P. Watzlawick [34] ou o pequeno

livro de J. C. Bennoit

[4

também podem ser consultados

com proveito.

Como dissemos anteriormente, a teoria dos sistemas

estuda

conjuntos

de pessoas (mais particularmente os

grupos naturais, como a família).

e

não indivfduos iso

la

·

dos; esses conjuntos são concebidos como sistemas

aber·

tos ,

o

que

equivale a dizer que trocam informações

corHi

nuamente com o exterior. As trocas são consideradas como

mensagens" ou

comunicações ,

e não como "forças"

ou

quant

idades". Essa abordagem supra  ind ividual con

duz ao destaque dos seguintes principias fundamentais :

A

unidade

considerada não é ma is o indivíduo, e sim

o grupo, do qual defin imos algumas

caracteristicas funda·

mentais.

Pr

incíp

ios Básicos

a

Principio da totalidade

ou de "não-somatório":

Um sistema é uma unidade funcional, um conjunto que

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questionomf nto 39

não

se

deve considerar como

a soma

das partes que

o

co

m

põem; assim a

famíl ia

não

consiste

sim

ple

smente

na adi

ção das características dos ind ivíduos que a formam,

tendo antes

caracteristicas próprias.

Também o

par terapeuta-paciente

é

dotado de carac-

terísticas originais,

que não se prendem

simplesmente

â

adição das

duas personalidade

s

mas

sim

correspondem

à

combinação

de

diversos fatores (transferência,

contra

transferência   especificidade do tra

tamento

etc.).

Convém

d izermos

de

imediato que em nosso traba lho conside·

ramos sobretudo as

ca

rac teríst icas do conjunto e mu i o

menos

as

manifestações

pa

rti

culares

do

pac

i

ente

ou

d o

ter

apeuta.

Ainda se fala atua lmente, em critérios de

seleção ou

ée indicação para

uma

psicoterapia, con

siderando apenas o pacience, o que nos

parece um erro

fundamental

mesmo

em

psicanálise,

na

med ida em

que

sabemos que a transferência e a contratransferência são in

dissociáveis. Tratar-se-ia antes, de

discuti

r esse problema

em função do par formado pelo terppeu ta e pelo pac

iente.

Forneceremos um esboço

d isso

no capítulo

7.

b) Princ pio d organização: Todo conjunto

de

pes

soas

cujos vínculos

são

duradouros tende

a organizar-se

em

fu n

ção

de

ob

j

et

ivos comuns, o

que

exige a definição de

certas regras que limitam

a

liberdade dos

i

ndivíduos

e

man·

têm

um

estado de

equil

íb

rio (homeostase) por auto

-regula

ção.

Essa

homeostase é

mantida

pelas respostas negati v s

dadas aos comportamentos transgressores das

regras (feed

back

negatiYol. A psicanálise e as

psicoterapias são

também

regidas

por

regras claramente

definidas,

para alguns e

im

plícitas para outros - por exemplo, a regra fundamental

das

associações

liYres a regra

da

abstinência ou, no que

concerne às psicoterapias  a

atenção

ou a negligência selet i·

as

etc . Veremos que as resistências podem ser cons ideradas

c

omo uma transgressão às

regras

mas

q

ue

essas

regras per·

mitem

a

manutenção

de

um certo equi/ brio (homeostase)

entre

o

terapeuta

e o

paciente; quando

elas

não

s:lo

re

spei

tadas por

um ou

pelo

outro,

a relação corre o risco

de

rom

per-se.

c) Hierarquia. Uma ordem hierárquica define as rela

ções das diferentes partes do sistema as relações do indiv f-

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40 p s i o t e r ~ p i o s

re•·es

duo com o

grupo,

do

grupo com

a sociedade etc. Existe

um

a espécie de encaixe onde o indiv(duo é considerado

um

subsi

stema da

famí

li

a,

sendo

esta últ ima

um sub

si

ste

ma da

classe social,

que

é,

por

sua

vez,

um

subsistema da socieda

de etc.

Assim, esse

princípio permite apreender

a lóg ica qu e

rege a psicoterapia . Po rtanto,

é mu

ito importante com ·

preender qu

e

os elementos concernent

es

ao enquadre

ocupam uma pos

i

ção

h i

erarquicamente superior à dos

q ue

concernem

somente

aos

indiv duos. A relação terapêu tica

inscreve-se

no

in ter

ior

do

enquadre.

Examinaremos certos

aspectos

de

·

le

no capítulo

5 .

d Princ/pio da adaptação: Quando as

circunstâncias o

exigem, o

grupo

pode

ter que

modificar seus

mecan

is

mos

de auto-regu lação e elaborar

regras

nova

s Por

exemplo,

quando su rge um novo comportamento num membro

do

sistema ou

em cas

o

de mod

ificações

do contexto,

o

grupo

pod

e reagir

não por um feedback

negativo, mas sim por

um

feedback

positivo, a saber: o novo comportamento é-esti

mulado,

em

vez

de

sancionado,

o que

conduz

a

uma

mu

·

dança

com ela

bo

ra

ção de novas normas. Trata

-se

da

pro·

priedade mais importante do sistema familiar; é

de

la que

depende

a saúde dos filhos. Com efeito,

por

sua imaturida

de, a

criança

desenvolve-se em

etapas

sucessivas

que

exigem

con

s

tantes readaptações

do

equilíbrio

do

meio

familiar os

pais

não

têm o

mesmo

comportamento diante do recém·

nascido e diante da criança

no

inicio da escolarização, ou

na

puberdade

etc

.

 .

Mas essa é

também

a

propr

i

edad

e ma

is

importante

de

qualquer psicoterap ia e, a

nosso

ver, a análi

se interminável pode ser cons iderada como

um resultado

do

fracasso desse

princfpio

de

adaptação.

Tudo ocorre co

mo se

tanto

o ana

li

sta

quan to

o analisando

fo

ssem incapa·

zes

de adaptar-se

a

um

a

mudança. E um erro

considerares·

se prob l

ema apenas

do ponto de vista do pa

ciente.

Portanto,

é

em virtude

desse

princípio de

adaptação

que

podem

sob

reviver as

muda

nças

psíquicas, e a lógi

ca

da

interpret

a

ção poderia ser

estudada

sob

esse ângulo.

A noção de

equ

ilíbrio -

homeos

tase - baseia -se

nu

ma

concepção

teórica

fundamental:

a de

cir

cular

id

ad

e.

Com efe

i

to,

falar

no equ

i

líbrio de um sistema

pressupõe

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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quesrtOtJamento

4 1

que há forças contrárias

em

o pos ição; assim, na família, as

tendências à emanci

pação chocam-se

com

a necessidade de

coesão

do meio. A visão sistêmica descreve a técnica de

auto

-regulação

que

mantém

o

equilíbrio

entre

forças

con

-

trárias. ..

Vamos esclarecer esse ponto: t r

adicionalmente,

inter

preta-se a patologia em

termos

de uma causalidade linear;

busca-se um agente c us l. Por

exemplo, segundo

a primei ·

ra

teoria

freudiana, considerava-se que

um trauma

seria a

c us

dos

distúrbios

neuróti

cos;

mais tarde, poder-se-

ia

di

zer que as dificuldades

do

desenvolvimento p s o

s e x u < ~ l

eram

a

c us

dos

mesmos

distúrbios neuróticos

etc., o

que

ser ia esquematizado da seguin te

maneira:

A - 8

- C

-

o

- E

etc. (A acarreta 8,

que

acarreta c

etc. .

O modelo cibernético, ao contrário, descreve um sis

tema

dotado

de

retroação

que

poderia

ser assim

esquema

tizado:

. --- ............

/

/

/

A ~ / 8 C

\

I \

I 1

\

I I

\

I

\ I

\

I

\

E D

/

/

, _ , / -...

..._

--,.,..

Sistema

aberto

ESQUEMA 2

Toda

mudança

impl ica uma

crise

o

que

não é pato ló

gico

em

si

mesmo,

antes pelo

cont

rár

io: se algumas crises

são mot ivadas por acidente  :, tais como mortes, separações,

doenças graves etc., outras

tornam

-se necessárias pela evo

lução das crianças ou pelas mudanças ocorridas nas condi

ções existenciais (ascensão profissional, por

exemplo .

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I.

I

I

42 psicottr pi s rtvts

Estudar a re lação ps icot

eráp

ica se

gun

d o

essa vi são

im ·

p lica c

er

tas

mod

if

icaçõ

es fu ndamenta

is dent

re as quais a

p

rinci

pal é

uma

m elhor avaliação

da

contribu ição respect i-

va das difere

nt

es par tes e m ação no p

rocesso

Torna-se en

tão

indi

spe

ns

á

ve

l

co

n

sid

erar

os

m

ov

ime

nt

os

t r

ans

fer

enc

iais

do paciente e a contra transferencia como um p roduto de

in

fl

uências dive rsas 

dentre as

qua is as pr inc ipa is são as do

enquad re e as dos psiq uismos in dividuais

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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c

Introdução

5

O

ENQU DRE

PSICOTER PICO

E SU S FUNÇOES

Atualmente, reconhecemos

que

as mudanças psíqu icas po

dem ocor

rer

num

tempo relativamente curto, c0ntraria

mente

ao

que

havia

m ~ o

o pai da psicanálise e ao

que

as

gerações seguintes

contentaram-se

muitas vezes

em

repe

tir sem quest ionar. As

críticas

relativas

à

difer

ença

de natu

reza

ent

re as

mudanças

observadas em

ps

icanálise, compa

radas às

mudanças obtidas

por

outras

técnicas, foram ass im

rebat idas. Mas acabamos por considerar a psicaná   se não

mais co

mo

o

único

mé todo terapêutico vál ido, e sim como

um

processo específ

ico, cujos efeitos podem ser

terapêuti

cos e

cujo objetivo

final não é essencialmente terapêu tico.

Tudo

isso

nos

incita a indagar sobre o processo psi

coterápi

co

em

compa r

ação com

o

processo

psic

analí

t ico:

1

O

que aconteceu

com as bases psicana líticas

do

processo psicoterápico?

2.

E

possível

que

os mesmos

fenõmenos psíquicos

in

trapsíquicos este

jam

em

jogo

no

processo psicot

e-

rápico?

Como vimos

anteriormente

,

é

i

mp

ressiona n

te consta

t

ar

que, na

maior parte do

tempo, fa lamos em psicoterap ia

ana

l ítica nos mesmos termos

que

em

ps

icanálise, embora a

disposição

ps

icoterápica seja muito

diferente

da psicanal íti

ca. O simples

fa

to de

que

Freud

recusou-se quase

sempre

a

falar em

rel ções intersub

jctivas e de

que

suas elabo ra

çõ

es

teór

icas e cl ín icas

sempre

disseram respeito

à

dimensão in ·

trapsíquica talvez se ja uma das razões d isso: ao voltar seu

interesse para o funcionamento intrapsíquico, ele desviou

43

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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44

psicoterapias breves

deliberadamente

o o lhar

da

d i

mensão

i

nterpe

ssoal. Isso não

impede

que

suas elaborações t enham sido inferidas da ob

servação de uma relação intersubjetiva. O resultado foi

que.

durante

muito

temp

o,

não percebemos nem

a

impo

r

tância da

dispos

ição no tratamento,

nem a

da atividade do

analista. o momento atual, as

coisas

se modificaram bas

tante e mu lt ip l

icam

-se os

artigos

vol tados

para

o enquadre

analítico

ou para a dinâmica da contratransferéncia.

Para

captar a

dinâmica das

psicoterapias breves.

pare·

ce

indispensáve

l compreender o impacto

da

disposi

ção

que

é

pro

posta

ao

paciente, an te

s

de nos

forr- ·

rlarmos

outras

indagações

sobre outros po

n tos.

tais comC I

lécn i

ca

ou as

indicaçõe;.

Corno

vimos,

nosso

trabalho

baseia-se

nas

se·

guin tes hipóteses:

1 Que as variações do enquadre são

suficientes

para

modi

ficar o funcionamento psíquico e intensifi

cam as trocas

relacionais.

2. Que a

técnica

de

interpretação deve

ser

estudada

e

adap t

ada

a essas

modificações do

funcionamento

psíquico.

3. Que é possível . em d iversas formas

de

psicoterapia,

tais como

a psicoterapia

breve, respeirar escrita-

m nt s regras básicas

da psicanálise

,

desde

que se

compreenda a

especificidade

das resistências

que

í

surgem.

4.

Que

a

função

do

enq

uadre

é

cr

i

ar

uma

situação ps -

quica

apropriada para

favorecer a eticácia da inter

pretação.

5. Oue o enquadre apóia -se na cultura ambiental

Vejamos alguns aspectos

das

relações entre o enqua

dre e a cultura, antes de

estudarmos

a

influênc

ia do

enqua

dre

no

funcionamento

psíqu ico,

pa

ra mostrar com o é ros

sível, de um lado,

acelera

r o processo de mudança, mas, de

outro, aumenta

r

também

as

res

i

stências

à

mudança.

Convém

l

embrar que entendemos

por

enquadre um

conjunto

de

fatores

que

compreendem os determinantes

sócio-cu ltura is do tratamento e

certos

pa

râmetros mais ou

menos fixos, tais como o lugar. a freqüência e duração das

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.

---------------------------

t nquadre psicotm  pÚ o 45

sessões etc. Trata-se,

po

is, de u ma

noção complexa,

de

uma

fr

onte

i

ra

que

separa

o

espaço do tratamento do espaçoso

cial e

que

assim del imita

uma

z

ona

privilegiada,

onde os

atos

rea lizados e as palavras

trocadas assumem valor

tera

pêutico

.

Quanto

à

relação

te r

apêut

ica, ela

define, portaMo,

as trocas

entre

o

terapeuta

e o p

aciente

e se inscreve no

interior

do

enq

uadre,

que

ocupa

uma

posição

hierarquica

mente

superior, no sentido de

que

se

impõe, de

algum

mo

d o, aos

dois

parceiros. Há

uma

rel

ação dinâmica entre o en-

quadre e a relação. De

qualquer modo

, o

enquadre

define

um

campo de

força a

que

s t ~ o

submet

idos

tanto

o

tefa

peut

a

quanto

o pacie

nte

ver

esq

u

ema

3 ).

paciente

f..

rel ação

1

terapeuta

ESQUEMA 3 - Enquadre

e

relação

psicoterápica

FUNÇÕES

E

NQUADRE PSICOTERÀPICO

O

enquad

re

ps

i

coteráp

i

co

tem

uma

função dup

la:

dinâmica

cr ia

um campo dinâmico no

i

nterior do qua

l

desenrola

-se

a psic

oterapi

a ) e tópica

delim

i

ta um

lug

ar

ps

icoterápico .

1  Função Dinâmica

A função dinâmica é indissociável da função tópica, na me

  ~   em

que,

em nossa opinião, é em rel

ação

ao

campo

cu tu·

ra/ que

se

delimita

o

campo

psicoterápico. O

enquadre de

·

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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46

psicoter pi breve

termina

um dentro e um fora . O den t ro é o campo

psicoterápico, e o fora é o campo sócio-cul tural. Essa deli ·

mitação é feita, em primei ro lugar, po r

uma recolocação

em

questão, das regras sociais, morais ou outras que preva·

leçam na cu ltura amb iente; assim, ela

estab

elece

uma

dis

crimi

nação

entre

ce rtas regras vigentes no campo psico terá·

pico e as

que

vigoram no

campo

sócio-cultural. Segundo

nossa tes

e,

um vínculo din

 

nico as

un

e. O

enquad

re,

por·

tanto, tem u ma ver tente social e u ma vertente

psicote

ráp i·

ca, uma das quais se define em relação à outra; e, se o en ·

quadre

delimita um lugar um espaço geográfico), ele

seca

·

racteriza

também pe

lo

conjunto de

regras fixas

que de

fi·

nem

a p rópria rel

ão

 

em toda situação t

erap

êut ica, certos

tabus são suspensos, mas, em contrapartid a, algumas proi ·

b ições são mais acentuadas. Por

exemplo,

o paciente tem o

di

reito de

dizer

tudo, mas lhe

é

proibido ag ir. Quanto ao

ter

ape

uta, ta mbém

ele

empenha  se na abstinência, porém

mostra-se pronto a tu do escutar. Po rtanto, certas trocas

pro ibidas

em

outros lugares são ali au torizadas, e outras,

socialmente au to rizadas, proibidas. Assim, enquanto no

c

am

po sóc io <:ultural certas palavras devem ser medidas

polidez, eufemismos), por s

er

em às vez es proib idas gros·

serias, impertinênc

ia

s). no

camp

o do trata mento, ao con·

trário, elas são autorizadas ou

até

mesmo obr igatórias). In·

ve r

samente,

enquanto

no campo so

cial certos

atos

são n ·

ce

 

ários ou devem acompanhar a

fal

a manifestações de

ternura ou

de

amor, trocas de presentes etc.), eles são pro i·

b idos no campo ps i

cot

eráp ico.

Al ém

disso, essas regras

conf

er

em a cada um dos

interlocutores um p pel

mui to di ·

ferente

e cria m uma assim

et

ria

cons

ideráve l: associações li·

vres de um lado, silêncio

do

ou tro, liberdade de fala de um

lado, promessa de segredo de

out

ro. Ademais, um

é obriga -

tori m nte

o que demanda o paciente), enquan to o outro

é

o provedor o terapeu ta). Em termos esquemáticos, po

deríamos

dizer que

o enquadre, com seu conjunto de re

gras, cria

uma

situaç

ão

em

que

a rel

ação genitor·

fi

lho

re·

produz-se sim

bolicamente.

Mas

tr

ata-se de

uma

relação ge

nitor·f ilh o mu ito pa rticular, uma vez q ue, por exempl o, es·

se suposto filho paga honorários a seu genitor, a quem

man tém. Além disso, esse filho tem o d i

reito

de ex primir-

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enqu dre psicorerópico 4 7

s sem respeito, de dizer tudo o que lhe passar pela mente,

ao contrário da educação que supostamente terá recebido.

Adema is e acima de

tudo,

o

terapeuta

só responde muito

parcimoniosamente

às demandas do paciente, através de

interpretações técnica de frustração). Essa é a

situação

eminentemente paradoxal de alguém que tudo espera do

outro

(conhecimento de si, cura etc.}, mas que só recebe

em

resposta frustrações e

que

deve

até

garantir a

manuten

ção

de

seu suposto benfeitor;

de

alguém

que

se

encontra

numa situação

h i ra r

quicamente

i

nfer

i

or à do outro, mas

que

não

lhe

deve nenhum respeito etc . Isso

mostra

que,

no

campo psicoterápico, instaura-se qualquer coisa do domí-

nio social: uma nova ordem relacional, com suas leis e sua

hierarquia. Mas essas leis

transgridem

deliberadamente as

regrás

habituaimente

estabelecidas; assim, trata-se ma is

de

uma espécie

de desordem

socia l,

onde

os

costumes não

mais são respeitados.

Portanto, poderíamos

considerar este

pr

imeiro

axioma: a função

do

enquadre no interior

da

cul-

tura é criar

um

campo de desordem cultural om a sus-

pensão de certos tabus e a instituição de outros.

Essa de

sordem é passível de recolocar em

questão

as bases em

que

s apóia o equil íbrio psíquico. O escoramento grupal do

psiquismo não funciona mais e cria um estado de vulnera

bilidade,

com

desligamento

dos

afetos e

das

representa

ções, que não é uma simples flexibilização do superego,

co·

mo

tendemos a considerá-lo, mas antes um request iona·

menta

de

regras solidamente estabelecidas. E é nesse cená

rio que intervém a interpretação do terapeuta, interpreta

ção que pode conduzir

a

um deslocamento

dos investimen

tos conscientes e inconsc i

entes

e acabar l

evando

à

mudan-

ça.

está a primeira face da

função do enquad

re - fun

ção de de  

mitação com

respeito ao campo cultural: delimi

tação

da

relação psicoterápica com

respeito às

relações so-

ciais

habituais, por intermédio de regras novas que estão

em contradição

com

as leis sociais, o que cria um limite

abstrato

entre o tratamento e a vida

real

Essa é, segundo

cremos, uma

constante

de

todas

as psicoterapias anal íti

cas.

, A importância do enquadre mede-se pelo

número

de

pilhérias ou caricaturas que ridicularizam o enquadre psi-

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  8

pfic:orerapias bre••es

canalítíco ou psicoterápico anal ista deitado no divã ao la

do

do

paciente,

analista substitu ido

por

urn parqu írnetro

etc.).

2 unção

T pica

Quali ficaremos de tópico o conjunto de parâmetros es

paço-tempo rais fixos

do tr

atament

o:

neutral idade e cons

tância

dos

locais, freqüência das sess

õe

s, horários, duração,

posição divã -

poltrona

etc. Esses parâmetros são os mais

constantes

e quase

mudos ,

uma vez combinado o tra ta-

mento,

na

medid

a

em

que

qua

se

não

sao qu est i

onados

e

quase não se fala neles. São, d e certa form  - . o su  rte do

tratamento . Ora, a tópica da psicoterapia tem um alcan

ce dinâmico considerável, cuja importância só aparece no

momento

em

que se modifica a disposição. As mod ifica

ções tópicas mais

conhecidas

são de três tipos:

a Passagem da relação individual para o

grupo

mod

i

ficação

do

número); ·

b

Passagem para a posição

face a face

modificação

da disposição espacial);

c/ Diminu

ão ou multiplicação) da

freqüe ncia

das

sessões, limitação da duração etc. (modif icações da

disposição

temporal).

t inegável

que

essas variaçõ es influenciam a relação

intersubjetiva num sentido

pr

eciso. Mas é também graças a

elas que melhor podemos

per

c

eber

a influência da disposi

ção.

verdade que

,

em

psicoterapia,

pr

ega

mos

às vezes

um

ecletismo técnico passível de obscurecer as

co

isas, mas isso

não

impede

que certos

parâmetros fixos permaneçam, so-

bretudo

no

setor das psicoterapias breves. Ex aminar

emo

s,

na dinâmica do tra tame nto, a influência de dois parâme

tros: o

face a face  

e a

temporalidade

Convém destacarmos, antes de ma is nada, que as alte-

rações

dos

parâmetros, ao contrário do que freqüentemen

te se

supõe,

exercem

infl uê ncia sobre

os

dois

interlocuto

res da psicot

er

apia .

Ponantu,

concernem tanto ao terapeu

ta quanto ao paciente, e o

desconhecimento

desse fen ôme-

no leva a nume rosos mal entendid os, em nossa opinião . Por

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  quo r

e psi oterápi o 4 9

exemplo, somente um observador ex terno

pode

ver s mul

taneamente

o paciente e o terapeuta.

Aquilo que o

ter

apeuta ve é seu paciente, de frente,

de perfil,

sentado

ou

dei

tado,

e apenas uma

parte do

e n-

quadre geográfico decoração do

consu

ltório

etc.  . ..

Quanto ao paciente, o

que

ele vê

é, eventualmente

, o

rosto do terapeuta e uma parte da decoração. Além disso,

essa parte da

decoração

de m

odo

algum é idêntica

à

perce

bida pelo terapeuta. Isso cria uma dinâm ica em que

tan

to

o terapeuta quanto o paciente estão, de certo modo, sub·

metidos a uma influênc

ia

que lhes é exte rna, no sen tido

de

que

c

ada

um

trabalha

em

cond

ições

que

l

he

escapam

par

cialmente.

Da mesma f

orma

, um

observador

neutro geralmente

percébe mel

hor

o co

njunto

da

situação

de transfcrência

contratransferência do que

os próprios

atores.

Para compreender melhor esse ponto, vejamos algu

mas conseqüências da passagP. 'Tl para a posição face a face,

em comparação com a d isposi

ção

psicanalítica.

Pode-se dizer

que

a passagem para a posição face a fa

ce tem

um

alcance considerável, na medida em que a di

mensão

tempora

l das trocas varia consideravelmente, assi m

como

a intensidade dos afetos, o que influi nas característ i-

cas da

transferência

e da

contratransferência.

Inúmeros

mal-entend idos foram mantidos por

décadas

a fio a pro

pósito da di mensão temporal do inconsciente, basean

do -se nas idéias

de

Freud acerca da atemporalidade dos

processos inconscientes

cf. O inconsciente , em rtigos

sobre metapsicologia .

Evocou -

se

ta

mbém

o prob lema da so

bredeterminaç

ão,

o da necessi

dade

de uma el

aboração

pro

longada das res istências etc. Ora,

todas

essas considerações

desprezam um aspecto fundamental, que é o da influência

do

enquadre, e desprezam também o fato de q

ue

exi

ste

uma relação dinâmica en t re os si

stemas

ICS-PS-CS pr imei

ra tóp ica) ou id ·ego-superego segunda tópica). No

que

nos

diz respei

to

,

consideramos

que,

quando

se

fala

na dimen

sã o temporal, é indispensávAI precisar não apenas o

modelo

teórico, mas também o enquadre prático a que fazemos re

fe rência. Isso porque,

tanto

para o terapeuta quanto para

o paciente, a dimensão temporal modifica-se de acordo

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S

psicoteraplos

r ~ r

com o enquadre.

E se estamos convencidos de que uma

psicanálise de alguns meses é impossível, estamos igu almen

te convencidos de que o tempo da psicoterapia não é o

mesmo, o que modif ica a dinâmica intersubjeriva, funda

mento de qualquer psicoterapia.

Consideremos o seguinte exemplo:

Ao

retornar

ao

tratamento,

o pacientll diz a seu terapeuta: "O

senho r está com boa aparência, está bronzeado

hoje " Na

s

i

tuação

fa

ce a face, o terapeuta

tenderá

a considerar esse bron

zeado

como um

faro ele está bronzeado e o pac

illn te

pode

-lo, ao

vivo.

Poderá, quando

muito,

interrogar o

outro

: "O

que vocé sente (agora) d i

ante

de meu bronzeado?",

ou,

talvez

com

um pouco

mais de sutileza,

"O que

o impele a falar em

meu bronzeado agora?", ou ainda ,

"Que

representa meu bron

zeado para

você?"

Em qualquer dos casos, o terapeuta não põe

em dúvida as percepções

do

paciente c fala-se

num

acontec

i

mento atual, considerado

como um

fato . Se, deitado no divã,

o paciente. qu

não vê

s u

anaftsra

exprime a

mesma

idéia-

"O senhor

está

bronzeado"

- claro está que não se trata mais,

em absoluto, do mesmo fenômeno . Talvez ele tenha pe rceb ido

o bronzeado do analista no momento em que entrou no con

sultór io, mas jà não

pode

vê·lo.

Portanto,

está fa lando sobre

uma

imagem gravada em sua

m mór

ia. fala ndo,

de

certa forma,

do passado. T

anto

o analista quanto o analisando sabem que o

controle perceptivo é imposs ivel: eles falam na imagem de um

ana

li

sta

bronzeado,

mas será q

ue

esse bronzeado ex iste real

mente? Mergulha-se, portanto, em plena

sub;etividade.

e a per

gunt

a seria: "O que o leva a conservar na visào essa idéia de

meu bronzeado?"

A dinâmica relaciona é muito diferente, mais ainda

quando

se trata de emoções. Por exemplo: "O senhor está

contente hoje, isso se vê; recebeu boas noticias?"

Na

situa·

ção face a face,

é

mu ito difícil para o terapeuta não

se

per

guntar se sua

mím

i

ca

está mais sorridente que de hábito e

não considerar como objetiva a observação de seu paciente.

Em reação a esse movimento c

ontratransferencial,

ele

ten·

derá a discutir apenas a segunda parte da frase do pacien te,

formulando a seguin te pergunta: "O que o faz imaginar

que recebi boas notícias? , assim desprezando o primeiro

comentário -

"o

senhor está contente".

Na

disposição di

vã -poltrona, ao contrário, o ps icanalista praticame nte não

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enquadre psícoterópico 5

se interrogará sobre sua

própria

mímica e começará por di

zer

a

si mesmo que

o analisando tem o sentimento

de

que

ele

está contente,

pois sabe

que este último está

fazendo

referência

a

uma

lembrança

uma

imagem, e

não

a

uma per

cepção imediata.

O

mesmo ocorre no

que

tange aos

fll Í-

mentos

transferenciaís: em psicoterapia, o

paciente pode

nutrir

a ilusão

de que aquilo de que

fa la

corresponde

à rea

lidade presente: tem

a i

mpressão de

ver naquele exato

mo-

mento o

rosto de seu psicoterapeuta,

e

de

falar

dos

senti

mentos e

da

vida interna deste último

ao passo que, em

análise a

dúvida

persistiria.

Esse

fenômeno

acelera consideravelmente as trocas

afetivas

em psicoterapia

e

desencadeia, tanto

no

terapeuta

quanto

no

paciente, movimentos

de intensa

resistência,

que

podem permanecer totalmente ignorados por um

e pe

lo

outro.

Essa:.

resistências devem-se

ao

fato de que

cada

um

deles é levado a

confundir

fantasias e real idade. Grosso

modo pode-se

d i

zer

que

o

tempo

da psicoterapia

é o pre·

sente enquanto

o

tempo

da

psicanálise é o

passado.

O

acesso às imagens, às idéias e ao mundo interno tanto do

analista

quanto

do paciente

é muito

mais

árduo

em psico

terapia do que

em

psicanálise

onde

o imed i

atismo

das tro·

cas é

muito menos

acentuado. A

temporalidade

se

altera

com

as modificações do

enquadre,

o

que

mod ifica

conside

ravelmente

a dinàmica da transterência-contratransferên

cia:

tanto

a análise da transferência

quanto

a

da contra

transferência são mais árduas. Será

que

a isso

equivale

di

zer

que

a

transferência

não

aparece na psicoterapia?

A

ex·

periéncia

mostra que não

é isso

em

abso

l

uto:

trata-se, so

bretudo, de aprender a -reconhecê-la: é o

aspecto

arcaico

das defesas

mobil

izadas

pelo

face-a-face

que comp

lica

as

coisas - defesas

perceptivas

negação

da realidade), defesas

caracterológicas

arrumação da

realidade do

outro) ou ma·

nipu

l

ação

do outro

em função

das

próprias necessidades

identificação pro

j

etiva etc.).

Esse

fenômeno está ligado

à

dupl

i

cação

dos canais de

comunicação

na psicoterapia, em comparação com

a

aná

li-

se:

em

psicanálise é

essencialmente

a fala

que

transporta as

me{lsagens

do

pac

i

ente para

o

terapeuta.

Em

psicoterapia,

o

verbo

não

é

o

único

meio

de comunicação, porém,

bem

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52

psicoterapios breves

ao

contrário,

existe

toda

uma categoria de mensagens não

verbais

tran

smitidas pela mímica, pelos movimentos invo

luntários ou,

por

vezes, voluntários de

um

ou de

out

ro, que

alte

ram consideravel

mente

as rel

açõ

es. Essas comunicações

são

extremamente

diretas, imediatas e

muito pouco

con

troláve

is

, o que intensifica enormemente as trocas. Em con

seqüência disso, entretanto, terapeuta e paciente tendem

também a

er

guer barreiras inconscientes

contra

essas t rocas

cuja própria intensidade é angustiante.

Podemos comparar

a psicanálise a uma troca da ordem da epopéia, onde o su

jeito n rr toda uma história de grandes feitos dos qua

is

ele

é o

pr

incipal

ator.

Inversamente, a psicoterapia é mais com

parável ao

que

acontece

em uma cena de teatro,

onde

ast

ro

cas são simu ltaneamente verbais e não-verba is e, portanto,

ma

is

imediatas, mais

dramatizadas

A

TEMPORALIDADE

As

linhas

precedentes

parecem

mostrar

que

em

psicotera

pia, tal

como

na física,

tempo

e espaço são relativos

um

ao

outro. Deveríamos dizer, portanto,

que certos

aspectos da

psicoterapia são mais ligados a sua dimensão espacial, en

quanto outros

ligam-se mais a sua dimensão temporal. To

davia, uma e

ou

tra

não

devem ser dissociadas.

: dentro

desse

espírito que

devem ser lidas não apenas as linhas que

se seguem, mas também o conjunto deste cap tulo.

A primeira questão é a das relações entre o

tempo

subjetivo

e o

do

relógio:

qual é o significado psicológico de

uma limitação da duração, e qua l é o efeito da ausência de

limite? Diferentes estudos comparativos efetuados em nos

so serviço mostram o mesmo fenômeno:

s

psícoterapias

cuja duração limitada logo de início são levadas a termo

com muito mais freqüência o que s psicoterapias

e u-

r ção não limitada Esse fenômeno é constante, qua lquer

que

seja a

natureza

da psicoterapia de grupo, individual,

de

apoio,

de

inspiração psicanalítica) [

171

. Esse fato

contra

diz numerosos prejulgamentos e merece que nos detenha·

mos na dimensão temporal do tratamento Esse assunto

tem sido

controvertido

há muito tempo: alguns referem-

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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enquodre psicoterápü:o

53

se

à atemporalidade do inconsciente

para negar

qualquer

significação dinâmica da

li mitação da duração, enquanto

outros,

ao contrário, tomando como pretexto a lentidão

dos processos inconscien tes  , afirmam que qua l

quer

limi

tação leva

apenas

a tra tamentos inc

omp

letos. O conj1.mto

dessas

posturas

equivale a considerar

que

os processos psí-

quicos

são autõnomos praticamente inacessíveis a

uma

infl

uencia

externa. Sem retomar essa polêmica

atualmen

te

ul

trap

assada, convém

destacarmos que

a proposiç

a o

de

limitar a d uraçao

de um

t ratamento

comumente desperta

ma is

tem

o res nos terapeutas do que nos pacientes. Perg

un

ta·se freqüentemente o que se deve fazer

nos

casos em que,

na ocasião da data presumida

do

término, o tratamento

não estiver

terminado

. Isso traduz o

medo

de não

ter tem

po suf

i

ciente

para chegar

ao

fim das dificuldades

do

pa

ciente

-

medo sustentado

pe

la u

são

narc ísica

de

aspira r a

uma certa perfeição

ao

final do tratamento, fator contra-

transferencial passível também de prolongar inu tilmente

até mesmo os tratamentos psicanalíticos.

O

V LOR DO

FIÕM RO

Em resposta

à

reação negativa de um amigo diante da bele

za efêmera de

uma

pa isa'gem, Fre

ud

assim se

expr

imiu:

Se,

durante nossa própria vida , assistimos a uma deteri-o

ração

corpora

l irrevers ível, a brevidade de nossa

existência

só faz

torná

-la mais excitante. Uma

flor

conhece

apenas

po

r uma noite sua

plena floração

, mas nem

por

isso sua

eclosão

nos

parece menos

suntuosa

(S.

Freud,

O efême

ro {1 4 1). Exc itação ou

descrédito

face ao que é efême ro: o

homem ado

ta

freqüentemente duas

atitudes

total

ment

e

contr

aditórias - ou

bem

se recusa a

desfrutar

dele, dene

grindo o

que

lhe é

oferecido

( isso não vale a pena, pois.

de qualquer maneira, vai acabar ), ou

bem

supervaloríza o

que

lhe

é

conferido e

procura

desfrutar d isso ao

máximo

( t

i

remos prove

i

to

desses ins

tantes

tão breves ).

Essas duas

atitudes podem ser

consid

eradas como

rea

ç õ ~

defensivas inconscientes diante da perspectiva

de

um

luto :

idealização acentuada daqu

ilo

que

se irá

perder

ou

ne

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5

psicoterapios breves

g ção

de qualquer

perda

e de qualqu

er

desejo pelo objeto

para

preservar

um

sentimento de on ipotencia narcísica.

Esse conflito só pode ser resolvido pela aceitação

do

luto

que

então

oferece a possibilidade de reinvestir a lib ido em

outros objetos.

Em

comparação com

a psicanál ise.

onde

o

enquadre atempora

l incita o analisando a

um movimento

regressivo narcísico, a diferença é grande : em ps icoterap ia 

a limitação da duração

submete

o

paciente à

pressão da an

gústia de separação. Em psicanál ise

pr

opõe se a eternida

de   enqua

nto, em

psicoterapia

propõe  se

o lu to. Em uma

a regressão narcisica inscreve-se no movimento imprimido

pelo

enquadre; na outra, a regressão narcísica é

um

movi

mento

defensivo

contr

o

enquadre

.

Não levar

em conta

esse fenômeno é

expo

r-se a e rros

significa tivos de avaliação. Oferecem-se

então

dois recur

sos:

negar o limite

substituindo a realidade

do out

ro pelo

próprio imaginário ou ceder d iante do obstáculo

tempo

r  l

e renunciar. Na primeira situação o paciente recorre a um

movimento de negação que o impele a reconstrui r o te

rapeuta à imagem de suas próprias necessidades

(o

terapeu

ta converte-se

então

em

um duplo moldado

pelos desejos

mais regressivos do paciente); no segundo caso o paciente

defende-se violentamente contra o estabeleci

mento

de

qualquer

relação

tera

p

êutica

e o processo não consegue de

senrolar-se. No primeiro caso instala-se uma re lação trans

ferencial da qual certas características parecem ser mais

específicas

da

disposição psicoterápica enquanto, no se-

gundo, o

movimento def

ensivo contra a transferência

pode

at ingir

uma

intens

i

dade

de

tal

ordem

que impede qua

l

quer

engajamento

terapêutico.

TRANSFERÍ:NCIA

TEMPORALIDAOE E AFETOS

A limitação te

mpora

l inscreve-se em psicoterapia, em con-

traposição ao face-a-face. Como vimos ela mob iliza angús

tias de

separação

e

todos os

temores

de

fe rida narc ísica

que

isso pressupõe  mas vem também corr igir

certos

efeitos do

face-a-face. Esta última disposição como sabemos favore

ce tanto no terapeuta quan to no paciente

uma

certa con-

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enqu dre psi oterápito

fusão entre o mundo interno e o mundo externo, entre

fantasia e realidade, entre o interlocutor e aquele que se

imagina (o

sujeito

pode

facilmente

crer que

ama real

mente

seu terapeuta,

e vice-versa). A

limitação temporal,

ao relemb r

ar

a realidade da separação, restabelece a qife

rença de função, recordando a problemática da castração

( esse limite, inelutável, confronta-me com minha impo

tência, e somente a pessoa diante de mim poderia suspen

dê-lo ),

o

que

confronta automaticamente cada um

dos

in

terlocutores

com

sua própria

condição de terapeuta ou de

paciente.

á

também uma diferença de

funcionamento

( a

precariedade de nossa relação mostra-me

que

meu imaginá

rio me engana ).

A lírnitação d duração mobiliza os afetos:

basta

pen

sar na atitude subjetiva eminentemente diferente que

te

mos quando,

para nos

dirigirmos a determinado local, pre

cisamos

tomar um

trem ou

um

avião e

estamos

ligados a

um horário, ou quando, ao contrário,

podemos

uti lizar

nosso próprio

carro

A tensão ps íquica varia considera

velmente: abordamos aqui a d imensão econômica da

tem

poralidade. Mas essa tensão ainda está ligada ao imaginário,

na

med

ida

em

que aquilo que causa

inquietação ou tran

qu iliza é saber a duração de que

dispomos.

Entretanto, o

tempo do relógio, aquele que

realmente

passamos

juntos,

não

deixa de

ter

importância.

Ligado

à

presença

ou

à

au

sência do outro, ele é o tempo

das

gratificações e das frus

trações - gratificações ligadas

à

presença do

terapeuta,

a

sua escuta, e frustrações ligadas à

abstinência

e ao silencio.

l o tempo da

duração

e da freqüência das sessões. Como

tempo da

regressão, ele

depende da qualidade

das trocas,

de

sua intensidade ou de sua quantidade.

O

prolongamento

da duração ou da freqüência

pode

aumentar as satisfações

re gr

essivas

do

paciente,

visto

que

o terapeuta intervém

pouco nu sentido estimultmte.

A diminuição da duração ou da freqüência limita as

sattsf<>ções regressivas. Também nesse caso. a atitude do

terapeuta desempenha

um

papel, contrabalançando even-

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56

psicotu pi s r ~ v t s

tu

almente

esse fenômeno : o enquadre e a relação são intei-

ramente indissociáveis.

Conclusão

Em

resumo diremos

que

o enquadre

psicoterápico

com-

pr

ee

nde

os

dados

fundament

a  s

que

delimitam o campo

psi

coterápico

do

campo

cultural. Ele tem por conseguinte.

u ma função tópica e mo dif ica as condições da inte ração

dinâmica.

Certos parâmetros podem var iar de uma psico-

ter

apia

pa

ra outra e são essas variações que d

eterm

i

nam

a

difer

en

ça

entre

as diversas

formas

de

ps

ic

ot

erapia. Em virtu -

de desse p r nc ípio desenvolvemos em Lausanne uma for -

ma de psicoterapia breve que se baseia essencialmente nos

dois seguintes

pa

râmetros:

a li

mitação

temporal e a disposi ·

çã

o f

ace

a

face

. Vo ltamo s nossa

atenção para

a es

pec

ifici-

dade da tr

ansf

erência e

da con

tr

at

ran sferência nessa nova

situação .

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Introdução

RELAÇÃO

INTERSUBJETIV

TRANSFERENCIA E

INTERPRET Ç O

'

O

conjunto

dos capítulos

ant

e riores de ixou

bem

cl

aro que

é

impossível

compreender

as relações mantidas

em psicote

·

rap ia e em psicanálise sem voltarmos nosso interesse

para

a

dimensão in tersubjetiva e não mais apenas intra-sub

je

tiva.

Esse prob lema

que

mereceria uma discussão aprofundada

que

ultrap

assa largamente o âmbito des

ta obra

começa a

despertar um

int

eresse cada vez ma is acentuado em todos

os psicanalistas.

Forneceremos

aqu i

apenas

alguns p

ontos

de

re

ferênc ia ind ispensáveis

à

c

ompreensão

da técnica

que

desenvolve

mos

. A questão fundamental que iremos

formu·

l

r

concerne

ao modo de p recimento

dos

fenômenos in

tr

a·subje tivos na relação

inter

subj etiva a saber  quais serão

su as man ifestações - por

exemplo

o modo de

apa

recimen·

to das fantasias  das resistências da t ransferência etc. Este

capítulo é

portan

to

uma complem

entação do anterior

po

is convém lemb

rarmos

qu

e

é

indi

spensá

vel ter sempre

em mente a idéia de que todo fenômeno p

síquico que

sur

ge

n

uma

relação

é

produto da i

nfluência

do

enquad

re e do

encontro

de

dois

int

erlocutores que se in fluenc iam

mutu

 ·-

mente. Assim  não devemos atribu ir esses fenômenos ex

clusivame nte aos

pac

ientes

em

psicoterap ia do mesmo mo·

do

  l iás. que não devemos fazé·

lo

em psicanál ise . O esque

ma 4

fornece

uma

representação tóp

ica de

nos

so campo

de

investigação.

Mas esse ponto de vista ainda mais importante em

psicpterap ia

uma

vez que 

como

vimos a d isposição psico-

ter ápica

condic

i

ona uma

d inãmica

inte rs

ub jetiva pa

rticular

 

7

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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58

psiroteropi s revn

caracterizada sobretudo pelo que chamamos tendéncia fu

sional narcísi

ca

,

com

uma

confusão

entre

o mu

ndo

i

nte r-

no

e o

mundo

-

externo, dev

i

da

às

poss

ibilidades de co

ntrole

visual

dos interlocutores.

a

s

ituação

fa

ce

a face, o p

ac

ien

te tem

o sentimento

de

estar

falando

sobre a realidade do

terapeuta,

porquanto

o vê - aliás, ele pode

também

-

fluencíá /o diretam

ente

por

sua m ímica. Essa

dup

licação

dos

canais

de

comunicação tem

como conseqü

ência acen

tuar a

importãncia

da dinãmica das interações, em detri

mento da relação verbalizada ou mentalizada. Isso transpa

rece,

por exemplo, no

fa to de

que

se

pode

pe

dir verb

a

l-

mente pa

ra

mudar

, mas

comportar-se

de maneira co

ntrad

tória (desmentir com o olhar aqu

il

o

que se es

af

i

rman

do).

Campo

i

ntra-subjetivo

FENOMENOS INTEAPSfOUICOS

Ter

apeuta

Paciente

Campo

intersubjetovo

Campo

in tra-su bj

et

ivo

OUEM 4 Esse esqu ema

il

u st ra o

fato

de q ue, no campo in ter

subjet

vo, apa r

ece

apenas

um

a pa

rte

do mundo intrapslq

uico de

cada

um

dos in

te

rl

ocu

tores.

Desde a

descoberta

da transferência

no tratam

e

nto

psicanalítico,

temo

-

nos interrogado sobre

suas rela

ções

com a realidade: haverá

uma

diferença entre os

fenôm

e

nos

que aparecem no

tratamento

e as relações interpessoais da

vida

atual?

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rrl

  r ·o

intenubjetiva, transferencia e interpretação

59

Se

considerarmos

a relação

terapêutica,

e não ma is

apen as o conflito íntrapsíquico, deve r

emos

necessariamen

te

enfrentar as segu i

ntes

pe

r

untas:

- O

que

acontece

com

as relaç

ões

da

trans

ferência e

da realidade relações reais)? .

- O que acontece com os respectivos comportamen-

tos {interações) dos dois interlocutores e com sua

vida intrapsíquica relações entre atividade real e

atividade fan tasmática)?

Essas questões vão ao encontro das pesqu isas

de

Da

niel Widlocher sobre os d ife ren tes t ipos de comunicações :

comunicações

informativas, interacionais

ou analíticas

co

municações de insight {36]. Grosso modo interessar-nos

emas

- aqui pelas relações

entre

as

comunicações

intP.racio

nais e as comun icações

ana

l íticas.

abordamos essas ques

tões em diferentes artigos 118]. As linhasqueseseguem têm

por objetivo destacar alguns pontos fundamentais do mo

delo a que nos referimos em nossa atividade, e que se

situa

numa zona intermediária entre a teo ria ps icanalí t ica dos

grupos e a teoria sistêmica. Assim,

procuraremos

esboça r

um modelo, e não indicar procedimentos.

Realidade

Externa

e Realidade Interna

Freud, como sabemos, pouco fa lou na realidade

externa

em suas elaborações: depois

de

tê-la feito intervir em sua

primeira teoria do trauma

psíquico,

ele a evocou a propósi

to

dos

restos diurnos

do

sonho, antes

de

aborda

r a

questão

da atuação e da compulsão repetição. Essa evolução é in·

teressante, na medida em

que

nela

podemos

distinguir três

tempos sucessivos:

1.

Estudo da influência da real idade externa na real

i-

dade interna trauma);

2. Estudo

do

encontro

de

ambas

interpretações dos

sonhos);

3.

Estudo

das repercussões

dos fenômenos

intra-subje

tivos na realidade externa

compulsão à

repetição).

De

cert

a forma, o

movimento,

a principio, vai

do

ex

terior para o interior, evolui ndo

para

um movimento

do

in

terior para o

exterior.

Esses t rês tempos são interessantes

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60 psi oter

 p

i r bre •es

na medida em que ilustram muito bem as dif

ic

uldades liga·

das ao estudo da dinâmica intersubjetiva: onde localizar

a causa

d s

dif

ic

uldades ps icológicas? - na realidade

ex

te

rna? na realidade inte rna? Hoje, praticamente todos con

cordam em dizer que se

trat

a

do encontro d s du  s,

o

ql.le

nos deveria reme

te

r ao segundo período do pensamento

freudiano.

Por outro lado, do

ponto

de vista psicoterápíco, as

mesmas

pe

rguntas

se

colocam: será que a evo

lu

ção depende

da atividade

do terapeut

a, da

do

paci

ente

ou da de ambos,

simultaneamente? Se, atualmente , todos (ou

qu

ase todos}

concordam em ater-se à terceira hipótese, ainda assim é

prec

is

o concordar que

os

textos relativos

à

at ividade do

terapeuta

continuam

a ser bastan te raros.

Is

so se prende,

certa

ment

e, à dificu ldade

do

assunto. Para

te

nta r enxergar

com maior clareza e para compreender melhor a dinâmica

in tersubje c

iv

a,

consideramos a relação terapêutica como

um

conjunto em interação cone/nua, no qu l cada um dos

interlocutores influencia o outro ação e retroação). A

ação  é p

ort

anto a influência exercida pelo sujeito no

objeto. Poderíamos, além

di

sso,

dizer

que ela se confunde

com o

momento

escolhido p

el

o sujeito para exercer essa in·

fluênc ia.

No ca

p ítulo

5,

vimos que é possível

di

stinguir duas

categorias de in

ter

ações: as que aparecem na

vida atu l

e as

que aparecem no

campo psicoterápico.

A questão é apre·

e

nder a

passagem de uma

à

outra, o que implica diferentes

etapas, que ten taremos compreender apoiand

o-

nos em trés

exemplos que deverão servir de ilustração.

1 A passagem da realidade

in

ter

subje tiva

à

realidade

intra-su bjetíva;

2} O

encontr

o do sonho e da realidade (relações entre

inter

açõ

es reais e

fa

ntasias);

3 A

situação da transferência na relação

ínrersubje-

t í

va.

DA RELAÇÃO

I

NTEA

SUBJE T

IVA

A R

ELAÇÃO INTRA-S

U

BJETIVA

PRIMEIR

O X

EMPLO : Durante a p rim

eira entrevista,

esse

pa

·

cien

te, que demandava uma psicoterapia para

tentar

compr e·

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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••

relação

mtusubjttil

·

a

transferencla e

interpre afàó 6

ender-se me

lhor ,

disse de imedi

ato qu

e, antes de

ir

adiante,

qu

eria saber a

que

se destinava o dossiê médico :

Concordo ,

disse ele,

em

qu

e o senhor tome

nota

s e

compreen

do

que pre

cise delas

para

esclarecer suas idéias, ma

s

sem querer ser

co

proprietário das anotações,

eu

gostaria, se o senhor

prec

isar

transmitir meu dossiê a alguma

outra

pessoa,

de

ser mant1do

informado. Ai nda mais

que

tenho

muit

as relações

com

médi

cos;

se um

co

lega

que

me

conheça

lh

e

ped

isse meu dossié,

0

senhor o entregaria?"

Esse gênero de comunicação seria qual i

fi

cado de in

teraciona l por O. Widlocher, na med ida em que é clara

mente

destinado a fazer com que o

interlocutor

reaja. É

evidente

que,

numa

primeira

abordagem, ta

l so li

cita

çã

o

é

compreensível e ob

je

tiva. Ela se insc reve na realidade de

uma r.el

ação

int-u pessoa

l.

Se

o ter

apeu

ta responde

que g

-

rante o sig

ilo pr

o fissional permanece·se n

ess

realidade e

não se entra no campo psi

co

terápico.

O

méd

i

co

que estava

t r

at

ando esse p

acient

e

sentiu bem

isso, pois,

pressentindo

uma a rmadilha, forneceu a seguinte resposta ambfgua :

Eu lhe asseguro o sigilo, mas, se outro medico me pedisse seu

dossié. eu o

rr

ansmiri

ria

a ele, desde que o

es

tivesse tratando.

Evi

dentem

ente, ele procurou uma

solução

de compro

miss

o,

pois a resposta

ade

q

uada

na realidade teria sido

transmi

tire

i seu

dos

siê

com sua co

ncor

dância  ,

vi

sto qu

e, a

rigo r. qualquer médico

poder

ia afirmar estar t ratando dele

..

.

Assim, essa resposta t raduziu

bem

o embaraço do t erapeu

ta

apanhado na a

rmad  

ha interacio nal in

co

nscientemente

arma

da

pe

lo

pac

i

ente.

Qu al

quer terapeuta experiente

s

abe

que. em ocasiões similares, é

geralmente

mais sensato

ca

l r

-

se e esperar que o paciente ofereça

certos

i

nd

ícios comple

mentares

que pe

rmitam a

pr

eend

er

melhor

as

fa ntasi

as

sub

jacentes. As

per

gun tas im

plí

ci

tas

seriam.

por exemplo,

o

que

representa  para

esse

pac

iente, o

doss

médico?

O que

o leva a imaginar

que

irei transmiti-lo? e

tc

. Essa segunda

at itude ab re cam inho para a menta  zação e pa ra a psicote

rapia.

Podeda

mos

dizer, numa pr im ei ra a Jrox imação,

que A

P ~

T H l P I

COME ÇA

ALI

OND E

PARAMOS

DE

INT

E RAGIR PAR A

PENSAR.

Page 62: Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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6 2

psicourapias

r ~ v e

s

Examinemos agora

como

a re alidad

l l

ex terna é arru

mada pelo sujeito .

INTERAÇÕES

SONHOS

FANTASIAS

Freud abordou esse tema em numerosas ocasiões em parti·

cular

em

sua teoria do sonho e dos restos

diurnos.

SEGUNDO EX 

MPLO:

{sonho evocado por uma p·aciente em

psicoterapia e que tem a

va

ntagem de conter

pou

cos elementos

simbólicos. o que

pode

facilítar a compreensão de seu apareci

mento

na dinâmica relaciona ): "Jeanine aproximou-se ele Pier

re, seu ex -amante casado , que estava dormindo ; desejando

relações sexuais, ela o

acordou,

mas ele recusou

por

que. segun

do disse , iria sentir-se

mu

ito perturbado e culpado por fazer

amor

na

ca

ma

de sua

mu

lher. "

Jeanine tez então um primei

ro

com

entário: "O que desenca·

deou

esse sonho foi que. ontem à noite, propus a meu nOI\IO

que tivéssemos relações se

xua

i

s

mas e le se recu sou porque não

estava com

vontade

. Foi dif(cil suportar isso: veja o senhor, na

hora em

que

manifesto um desejo, recebo uma recusa " Acres

centou então o seguinte comentário: "Na rea lidade, meu ex

amante não

era assim; a

exist

ência da

mulher

dele nao impedia

nada

entre

nós; mu ito pelo

co

ntrário, chegamos até a fazer

amor na cama dela;

meu noivo, ao

co

ntrário, teria esses es·

crúpulos se fosse

casado "

O primeiro comentário espo

nt

âneo de

Jeanine

refere·

se, portanto. às relações entre suas experiências relacionais

rea is e o sonho, a uma in

te

ração - a

prox

i

mação

sexual e

recusa do noivo, o

qu

e poder íamos considerar como uma

ão

e

uma

retroação negativa - e

é ne

sse

contexto

q

ue

aparece o son

ho,

reproduzindo a cena tal e qual. Jean ine

extra i daí uma

prime

ira

conclusão

dirigida

o

terapeuta:

"Na

hora

em que

manifesto

um desejo, rec

e bo

uma

recu-

sa "

Por ora, o q

ue reteremos

disso é a relação

existente

entre um con

tecime

nto

(a cena

com

o noivo ) e o apareci ·

menta

do

sonho

. Em

suma,

o

acontecimento

''desenca -

deou o sonho. Mas, que aconteceu com a fan

ta

sia

subja

·

cente?

Convém

destacarmo

s, antes de

mais

nada, que Jeanine

teria podido reagir

à recusa de

seu noivo através de

tos :

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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  l ção inrusu jniv

. traiii{tr

 

ncia t

intuprn çã

o

63

insistir, irritar-se,

chegar até

a ir-se

embora, batendo com

a

porta,

e

procurar uma satisfação substitutiva.

Ela

não fez;

simplesmente

sonhou

-

uma

solução

que

se inscreve

no

campo

da

psique.

Assim,

como no

prime iro

exemp

lo, é

no momentoi m

que

o

hom

em

renunc i

a agir

que passamos para uma outra

ordem de

realidade: a

realidade psíquica.

Segundo a prática

ps

icanal ftica, sabe-se

que encontr

a

mos

freqüentemente,

no

sonho,

um

reflexo

das preocupa

ções da

véspera.

Consideramos que

essa p

arte

da realidade

(os "restos d iu

rnos'') só

desempenha um papel

quando e éJ

~

associam desejos inconscientes.

de

sejos,

porta nto, que

é

preciso desvendar; qua lquer psicanalis ta poder

i

reconhe·

cer no

conteúdo

do sonho de J

ean

ine uma problemática

ed i

piá

na : o

desejo da

filha

pe lo pa

i e o

desejo de

afastar a

mãe, o

que

poderia

traduz

ir-se

da seguinte maneira:quando

desejo um homem (que representa

meu pai) , quero

que ele

me

aceite, independentemente

da presença

de outra mu

lher. Ora, tal interpretação não corresponde nem

o

con-

teúdo literal do sonho, nem

à

realiàade vivida:

am

b

os

di

zem

exatamente

o contrário. Para exp licar esse fato, Freud

in troduziu a noção de resistência . Segundo essa ó tica, a

fanta··a

exprime,

simult

a

neamente,

o

desejo

e a resistência,

o

que

poderia

traduz

ir-se

do

seguin

te rnodo no caso de

Jean

ine:

"Não quero que

se descubra (resistência) meu

de·

se

ja

sexual a r

espe

ito

de um homem

casa

do",

resul ta

do

que

a paciente obteve através de

uma

inversão bem

conhe·

cida

em

psicanál ise,

onde

ela é repelida, e

não

aceita,

pelo

amante. Essa seqüência ilustra claramente a teor

i

freudiana

segundo a qual a fanta sma

tizacão

é

uma atividade mental

mo tivada pelo dese jo não satisfeito na rea

li

dade e

que

visa

à

satisfação

no

imaginário. Com efeito, decepc i

onada

na

realidade, Jeanine reproduziu no sonho

uma

situação pas

sada na qual seu

desejo

fora

satisfeito

. Tudo

acont

ece

co

mo se e la dissesse a

si

mesma:

"Já

que meu no ivo está-me

re

cusando

ago

r

, rev ivo no

sonho

uma

situação

passada

on

de eu não era

recusada.   •isso

não impede que

o

sonho

d i·

ga exatamen te o inverso (o

amante

que na

"r

eal idade"

não

recu,ava suas investidas repele-a

no

sonho).

Não poderí

a

mos compr

ee

nde

r isso sem a

noção

de inver

são

, mo

vimen-

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6 psjcotn pi s brevu

to de defesa

intraps

íquico

e explicação

insuficiente no

que

concerne ao

estudo das relações

entre

a experiênc ia vivida

e o sonho. Com efeito

nada

nos

permite

afirmar que

Jean i

ne

tenha-se defendido contra

um

desejo visto

que na

realidade

ela

fez investidas

junto

ao

noivo.

O

único

fracas·

so situa

-se na realização do desejo a saber na ausênc ia

de

relações sexuais. Inversamente essa satisfação foi

dada

em

outra época a Jeanine. E devemos perguntar-nos se Jeanine

não terá inconscientemente impelido o

noivo

a rejeitá-la a

fim de preservar sua lembrança   hi

pótese qu

e

não

desen

volveremos aqui mas

que

estudamos

em outro texto.

Esse resumo permite-nos introduzir nosso segundo axioma:

S

INTE

RAÇ0ES

SÃO FE

ITAS

A

SERVIÇO

DA

RES

ISTe

NCI

A

O

que

já transparecia

no primeiro exemplo.

O

estudo

das

i n t e r ç ~ e s

na transferência fornecerá

uma pedra compl

ementar

para nossa construção.

TRANSFERlNCIA

E INTERPRETAÇÃO

No

interior do campo

psicoterápico algumas interações

são

conv

en

ci

ona

is fi

xadas

por

regras precisas

que

se

arti

·

culam

com

o corpo de regras convencionais da cultura am

biente.

O

eq

ui líbrio

entre

as

duas define uma fronteira abs·

trata: J

enquadre

que comporta

ain

da um

a disposição

concreta

e especifica

f

ace a fa ce divã -poltrona

etc.

}.

As interações no interior

do campo

psicoterápico

não têm

o

mesmo

valor

que

no exterior. Com efeito

em

psicoterapia as in te

rações são

codifica

das.

em parte. por

um

conjunto

de

regras

explícitas qu

e

determinamos compor

·

tamentos

e pos ições respect ivos do te rapeu ta e do pa

cien

·

t e . Essas regras são parte integrante

do

enquadre e

def

inem

a na

tu

reza

do que

es

tá em jogo:

o

jo o da necessidade

e

do desejo

em

um

da

frustração ou

da ab

sti

nênc

ia no ou

tro. E é nesse

conjunto

de regras

que

se

fundamenta

alegi·

timidade da interpretação

mais

particularmente da inter·

pret

ão

da

transferênc

ia .

Do

ponto

de

vista

psicanalítico

 

admite

-se

que

qual·

quer ação tem

como suporte

uma fantasi a

que

determina

o mov imento transferencial. Entretanto são necessárias

cond

i

ções específicas para

que

essas fantasias possam ser

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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descobertas

pois, no

momento de

qualquer ação, o sujei

to

já tem uma idéia da

possfvel reação·do

outro, espera

por uma

reação

sendo essa expectativa baseada numa fan

tasia inconsciente (dimensão intra-subjetiva) e no conhe

cimento (experiência objetiva) que o sujeito

tem

do outro

(dimensão interpessoal). Assim, faz-se necessário

um

meio

de distinguir o que

é da

ordem

do

sujeito

do

que

é

da

or

dem

do

objeto. ~ o estudo da transferência que permite es

sa

distinção.

Assim podemos categorizar as diferentes ordens

de

i n t e r ç õ e s ~

1.

s

que ocorrem na vi

da

cotidiana, no

exterior do

campo

psicoterápico. Podem ser evocadas sobretu

. do na psicoterapia, mas sem serem trabalhadas (cf.

cap. 5);

2. s interações previsíveis e ritualizadas que estão li-

gadas ao enquadre (cap. 5);

3. Aquelas cuja origem psíquica devemos poder des

cobr ir

com clareza. Abordamos aqui a questão

da

transferência, pois não se devem

confundir

os

atos

claramente definidos pelo enquadre com os atos

su ten idos

pelas

fantasias

dos interlocutores.

Essa d istinção visivelmente esquemática (não pode

riamos dissociar totalmente esses tipos diferentes de inte

rações)

é,

apesar d isso, indispensável para compreender o

que está em jogo na relação terapêutica, pois trata-se

de

tentar

apreender

as

relações dinâmicas entre esses diver

sos elementos.

A psicoterapia interessa-

se

mais particularmente pelo

segundo e terceiro tipos de interação. O segundo faz

parte

do

enquadre e, portanto, pode ser considerado como a

li

nha lim ft rofe da transferência.

De fato

, essas interações

co

dif

ic

adas são comparáveis

às

trocas ritualizadas da vida co

tidiana (cumprimentos, apertos de mão etc.). No interior

do campo

assim delimitado P.ncontramos,

portanto

, fa

ce

a

face, um paciente com sua aptidão para a transferência 

(Fraud) (isto

é,

aquilo que, em função

de

suas experiên

cias passadas e de suas fantasias inconscientes, irá compe-

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  psl otenpltls r e v e ~

li-lo a projetar certas imagens em seu terapeuta), e um

te

rapeuta também

com

sua

aptidão

para a transferência".

Ass im, cada campo tem suas regras, e gostarfamos

de

mostrar

que

a transferéncia inscreve-se na transgressão d s

regras

vigentes no

campo

psicoterápico, o que vai ao en

contro de

um

ponto teórico de Freud, que descreveu a

transferência

com

base

no

modelo d atuação e d com-

pulsão à

r p t i ç ã o Isso significa que, na transferência,

al

guma coisa

é

atuada . Ass im, é exatamente a que pode

mos esperar encontrar claramente a articulação entre fan

tasia e realidade. A transferência é, em parte,

uma ação.

Mas

essa ação difere

tanto

das interações que fazem parte

do mundo das relações interpessoais habituais (mundo que

poderíamos qualificar de

real) quanto

das interações

pre-

vistas

pelo

enquadre

psicoterápico, que se acham no limi

te das relações sociais. A atuação traduz

um

fenômeno

diferente:

de

acordo com a definição que lhe dão Laplan·

che e Pontalís, trata-se exatamente do fato pelo qual o

sujeito, sob o império

de

seus desejos e fantasias inco-ns

cientes, vive-os

no

presente com um sentimento

de

atuali

dade

tão

mais vivo

quanto

mais ele

desconhece sua origem

e seu caráter repetitivo

 

{27).

Logo, não se

trata

mais, em absoluto, de uma relação

real, e sim de uma

tentativa

de tornar

real

uma relação fan

tasiada, pois segundo as regras do jogo, se assim podemos

dizer, não se pode fazer nada, o que equivale a afirmar

que

não se

pode realizar

nada. Um

como

se"

é

imposto pelo

enquadre psicoterápico, o qual, pela regra da abstinência,

proíbe qual

quer

aç.ão. Ora, viver

na

realidade"

de

senti·

mentes como, amo você" ou detesto você" é apelar pa

ra a reação do

outro

e esquecer sua função de terapeuta,

por exemplo, e

é

também

esquecer

as regras de abstinên·

cia; por conseguinte, é um apelo à transgressão, uma ten

tativa

de

atravessar a fronteira da psicoterapia para entrar

na real idade externa. Contudo, esse caráter de transgres

são

é

acentuado

pelo

fato

de que o conjunto de regras

que governam as trocas atribuem ao terapeuta um papel

parenta . Assim, a transferência inscreve-se

n transgre-

são

das regras condicionadas pelo enquadre. Toda a psi

coterapia desenrola-se por uma aresta estreita, em equiH-

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r ~ l a ç

ã o

i n r ~ r s u b

t r Q n s f ~ r l n i n t ~ r p n t a ç ã o 7

brio entre o jogo e a transgressão. O paciente que expe-

rimenta deseja, por sua vez, forçar o terapeuta a expe

rimentar as mesmas emoções.

Dentre os trés tipos

de

interação assinalados, ape')as

as

interações que correspondem a uma atuação transferen-

cial

podem ser claramente atribu fdas à vida fantasmática

do paciente,

po

is são demarcadas na medida em

que não

mais correspondem às regras que governam a relação tera

pêutica, ao passo que,

como

convém lembrar, as relações

interpessoais normais

correspondem

às leis em vigor e

são

o produto das fantasias dos dois parceiros.

E

difícil dissociar transferência e

i n t e r p r e t a ç ~ o

por

que, em si mesma, a noção de transferência é uma interpre

tação: Mas examinemos a seqüência seguinte.

TERCEIRO E

 

LO

1 7 ~ sessão de

uma

psicoterapia breve) :

Na

vez passada, ao sair, eu me senti humilhada: durante a

sessão, o senhor

me

olhou com um ar de troça e não parou de

exibir um sorriso irônico, embora eu lhe estivesse falando

de

problemas muito dolorosos para mim

1

Esse gênero de comunicação tem por objetivo, clara

mente, fazer com

que

o interlocutor

reaja

no.caso, o te

rapeuta, que tenderia espontaneamente a defender-se (eu

não estava zombando de voce,

ou

eu não sorri,

ou

ainda,

em estilo supostamente psicanalítico, você está projetan

do

. Ê evidente

que

se entraria

então

em um conflito

característico. que chamamos, em um outro texto, de lu

ta

pelo

poder

na ps

ic

oterap

i

a

[19]. Esse conflito se asseme

lharia curiosamente a numerosas br igas conjugais e nada

mais di

st

inguiria essa relação supostamente psicoterápica

de uma relação normal. N e s s ~ caso preciso, pensamos po

der afirmar que a interação é feita a serviço da resistência.

Tem por objetivo e talvez como efeito) impedir que

venham à luz as fantas ias do paciente, o que vai ao encontro

de nosso segundo axioma: as interações

têm

como

efei

to

dissimul

ar

a vida i

ntra

 subfeti

 

.

Mas vejamos a continuação do exemplo: O terapeuta,

muito

, experiente. simplesmente escuta essa paciente e. em seguida.

depois de tê-

la

deixado falar longamente sobre seus sentimen·

tos

de humilhação , diz-lhe :

O

conjunto dos fatos que você

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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mostra que está vivendo momentos muito sofridos, e tenho o

sentimento de que, de fato,

corro

constantemente o ri CO

de

mostrar-me muito desastrado: meu olhar, minhas palavras e

meu sorriso podem feri-la

  "

Isso praticamente nlo tem

valor

de

interpretação

a priori

porquanto, aparentemente, trata-se

de uma resposta {ou

de

uma reação). Mas vejamos o que se

segue:

A pac iente permanece em s

il

éncio por um longo tempo, de

pois começa a dizer que isso

de

modo algum é verdade, hesita e

cala-se até o final da sessão. Na sessão seguinte, diz que está

um pouco desamparada, que tem a sensação de ter desconfia

do

do terapeuta, como sempre desconfiou dos outros homens,

e acrescenta, um pouco mais ad

ian

te, que

ino

a faz lembrar

de sua relação com o pai,

que nunca soube levá-la realmente

a sério.

~

somente

nesse

momento que

o

caráter transferen·

cial da primeira

seqüéncia aparece

em

pl

ena

luz.

E isso nos

permite

evocar o seguinte

axioma:

N

RE

·

L ÇÃO INTERSUBJETIV , A T R N S F E R ~ N C I APARECE COMO U MA

E S P ~ C I E DE TRANSGRESSÃO DO ENQUADRE,

COMO

UM

TENT TIV

DE

TRANSFORMAR EM " REL ÇÃO

RE L

" UM

REL ÇÃO DE JOGO

.

Mas essa

interpretação

só é poss ível desde

que

s regr s do

jogo (o enquadre) estejam claramente definidas.

Foi isso

que nos perm

i

tiu

dizer

que

enquadre fundamenta a legiti

midade

d

imerpretação.

Um

outro

ax io

ma

é o coro lário

do terceiro: : A

ÇÂO

DO TERAPEUTA QUE REMETE O PACIENTE

DE VOLT A SUA RE LID DE INTERN , EM

RE

SPOSTA O MOVI·

MENTO TRANSFERENCIAL,

e

não apenas

a interpretação da

resistência.

Portanto , se a transferência se desenvolve a partir da

realidade interna

do

sujeito e se, como conseqüência, assu

me

valor de realid de para

este, trata-se,

do ponto de

vista

do objeto ,

de uma manifestação g

inária,

que pertence

ao domínio das representações: "E assim

que

ele me vê, é

assim que me imagina (como

se subentende,

mas, na rea

lidade,

não

sou

assim). Pa

ra

um, trata

-

se

de uma

certa

rea

lidade vivida realidade psíquica) e,

para

outro,

de uma

re

presentação

imaginária, e aí se

acha uma

das armadilhas da

psicoterapia,

onde

as respectivas ações

ocupam

tanto lugar:

a

ação é dotada de um estatuto diferente

da verbalização

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rtlação interrubjeriva transferinc/4 t interpretGção 69

ma is próximo de

uma

certa objetividade para o objeto;

tomand

o

um

exemplo extremado: uma bofetada que o

te-

rapeuta recebesse

de

seu pacie

nte

seria

absolutamente

real,

mesmo

que

não

fosse

verdadeiramente

destinada a

ele,

e essa é a realidade imediata compartilhada por um e pélo

outro

. Assim,

convém

insistir no aspecto

de

que a ação e a

verbalização tem

um impacto diferente,

o que

é

ainda mais

importante de compreender

na medida

em

que o terapeuta

não

é

um

simples espelho

sobre

o qual o

paciente

projeta

suas fantasias; ele é

um

espelho

que age ,

que reenvia

ao

paciente o reflexo de suas projeções, mas que envia simul

taneamente

um conjunto de

informações provenientes,

por

um lado, do mundo interno do

terapeuta

contratransfe

rencia .inconsciente) e, por outro, de sua competência téc

nica e

de

sua

compreensão

do paciente. Além disso, as as

sociações verbais

remetem

também

ao terapeuta

o reflexo

de

suas intervenções -

fenômeno

pouco contestado, mas

muito

pouco

estudado:

negligenciamos

por muito

tempo,

em particular,

tudo

o que

concerne

~ o

efeito

das interven

ções

do

terapeuta,

ao

impacto delas

no

funcionamento

in

trapsíquico

do

paciente; ora,

toda

interpretação é ao

mes-

ma tempo, uma

ação

mas o corolário disso

é

.que QUAL-

QUER

ÇÃO

PODE TER

V LOR

DE INTERPRETAÇÃO

como bem

ilustra a intervenção do

terapeuta do

terceiro exemplo.

Assim, é mais

particularmente

esse

prob

l

ema

, nascido

do

conluio

maior entre

fantasia e realidade, que

temos

estuda

do ,

na

medida em que ele nos parece condicionar

uma

cer

ta

especificidade

dos mo

vimentos

transferencia is e

contra-

transferenciais.

Na psicoterapia breve, a maioria dos autores tem uti

lizado diversas técnicas cujo efeito principal

é

permitir ao

terapeuta manter o

co

ntrole da situação e evitar a armadi-

lha das reações contratransferenciais. J assim que podemos

compreender

a maior

atividade dos

terapeutas,

ou

até a

focalização por de

sprezo

seletivo ou atenção

seletiva.

De

nossa p

art

e,

opt

amo

s

por

uma

atitude

rjgorosa

mente

psicanalítica, porém ~ v ~ n o em conta o novo pro

blema induzido pela situação face a face - o problema

da

ímpohãnc ia das comunicações

interacionais.

Por conse

gu in

te, é a

ação

interpretativa que é obj

eto

de

toda

a nossa

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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70 p l i c o t ~ r p k l r n ~ s

atenção,

pois,

como

ilustramos em nossos três exemplos, o

terapeuta

tende, na s i t u a ç ~ o face a face, a reagir e a

querer

mostrar ao paciente o caráter imaginário de suas proje

ções transferenciais, a querer desfazer-lhe a ilusão, o que,

paradoxalmente, impede o aparecimento das fantasias

do

paciente em plena luz. Dizer ao paciente, .. Não transmiti

r i seu dossiê, ao contrário do que você imagina ,

faz

obscurecer esse imaginário;

mas

meu sorriso

não era

irô

nico teria tido o mesmo resultado. Tudo isso equivale a

dizer que o principal problema do terapeuta, em psicotera

pia, é

agir

e

não

reagir.

A disciplina fundamental a

que

se deve

ater

o psicote

rapeuta é perguntar-se

constantemente não

o

que

quer

transmitir

ou

dizer a seu paciente, mas sim o

que

este irá

entender.

Isso é válido para todas as comunicações interacionais.

Inversamente,

no que concerne

ao

conjunto das

asso-

ciações manifestamente marcadas om a chancela da subje-

tividade (por exemplo,

quando

o paciente diz ter

o

sen·

timento de que ),

as intervenções

em

nada se

dist

inguem

das do psicanalista.

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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f

7

FOCALIZAÇÃO:

O Desenrolar de uma Psicoterapia

A focalização, universalmente admitida em psicoterapia

psicanal

tica

breve, baseia-se, apesar dessa universalidade,

em

concepções e práticas que variam de um autor para ou

tro: polarização consciente do tratamento em um proble

ma

ou

em um

sintoma principal para uns e, para outros,

hipótese psicodinâmica de base, que supostamente explica

e resume a maior parte dos conflitos intraps(quicos.

Em

nossa visão, esses diferentes procedimentos, freqüentemen

te desenvolvidos

em

bases intuitivas ou experimentais, têm

por função permitir ao terapeuta conservar o domfnio da

relação psicoterápica, evitando a armadilha de interações

repetitivas passCveis

e

barrar o acesso ao inconsciente.

Nossa

visão diverge no sentido de considerarmos que a fo-

calização ativa não é necessária, desde que se esteja atento

para

as

relaçtles entre

as

interações e

as

fantasias. Com efei

to, com base

em

estudos sobre os aspectos psicológicos das

primeiras consultas em medicina geral [21), voltando tam

bém nossa

atenção para os aspectos precoces da transfe

rência em psicoterapia, pudemos fazer as seguintes cons

tatações:

1 A maioria das consultas (médicas ou psiquiátricas) é

motivada pelo aparecimento

e

uma crise relaciona

no casal, na fam(lia ou até mesmo em outro tipo de

relações particularmente significativas;

2.

Desde as

primeiras consultas, o paciente tende a

indu

zir

no médico ou no psicoterapeuta uma

contra-atitu

de compensatória especlfica

que parece calcar-se na

~ t i t u e habitual do parceiro do paciente que se con·

sulta. De qualquer modo, o terapeuta é induzido pelo

71

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I

72

ptfCOtl rllpflu reves

paciente a

substituir

a pessoa que lhe era cara antes

do confl

ito. De

certo modo, é

o

própr

io paciente que

rende a foca 

z r

s

co

is s em

su

relação com o ter  -

peuta.

O comportamento

adotado

pelo paciente durante a

primeira consulta

traduz

o confl ito atual com

que

ele se vê

confrontado. Sua função é amb fgua e contém, ao mesmo

tempo

,

um

aspecto de

resistência

e de

abertura

para uma

mudança, refletindo, em geral, a problemática central do

paciente (zona de fragilidade de seu ego). t de acordo com

esse

mode

lo básico que compreendemos a foca lização. Em

suma, o paciente focaliza espontânea e inconscientemente

a relação Para percebé·lo, convém estar

atento

ao

que

o

paciente faz nas primeiras consultas, mais do que ao que

diz . Talvez devamos especificar essa colocação: estar

atento

ao que ele lev o terapeuta a fazer. A reação deste último

reflete mais claramente os movimentos contratransferen

ciais precoces induzidos

pelo

paciente.

Mas

apoiemo

-nos num exemplo para ustrar essa

questão:

PAIM lROS CONTA TOS

Tenho dificuldade em trabalhar e em me concentrar, caso

contrário

não teria vindo consultar-me; durmo mal e pratica·

mente

não

vejo quem possa ajudar-me. Meu marido é um

intelectual brilhante,

tem

sucesso em tudo ; ele me falou sobre

as diferenças entre p s i ~ l i s e psicoterapia.

Eu

o deixei há

seis meses. Na ocasião em que o deixei, ele

suportou

mal a

separação e propus que fo  Se ver um psiquiatra; agora ele está

melhor. Deixei·o porque me sentia

opr

imida, ele não admitia

contradições . Eu estava def inhando, fiquei

fis

icamente doen

te.

Desde os primeiros contatos, portanto, Daphné comu

nica seu sofrimento: distúrbios da concentração, do sono,

dificuldades no t rabalho etc. Esses sintomas apareceram

após a separação conjugal, que, no

entanto

, ela mesma pro

vocou, pois sentia-se sufocada pelo marido, a quem enviou

a um psiquiatra porque, no inicio, ele

suportou

mal a sepa·

ração; agora ele está melhor, mas é agora que Daphné vai

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toci uaçõo

·

73

I

consu ltar-se. Portanto, ela assinala um conjunto fie

aconte

cimentos

seguidos por

sintomas.

Vejamos agora o

comportamento

que

adot?

em rela-

ção ao terapeuta :

1. E

la

evoca seus sintomas.

2. Apressa -se a dizer que não

vê quem possa

aj

udá-la,

o que é uma forma bastante clara de dizer que está

sofrendo, mas que duvida

do poder

de

set. 1

terapeu

ta; mas é, ao mesmo

tempo

uma maneirP indireta

de pressioná-lo.

3.

Evoca implicitamente sua confiança na ólpacidade

do marido: ele tem sucesso em tudo e foi ele quem

. lhe exp

licou

o que

é

a psica

nálise e não {J psicote·

rapeuta.

Essa curta seqüência mostra que a paciente xerce, de

imediato, uma certa pressão sobre o terapeuta: ,o marido

tem sucesso em tudo, mas, e o terapeuta? lmpliciitamente,

ela o compele a provar seu valor. A

is.so

acrescent-a-se o fa

to de que ela mostra claramente sua

estima pelrJ

marido:

é ao marido que pede expl icações sobre as técn

ié;as

psico

terâpicas.

4. A paciente assinala, no entanto que mal :suportou

esse marido que a sufocava

com

seu sab r; assim,

contribui ainda mais para a dificuldade dó> psiquia

tra, pois diz implicitamente que,

se

esciutar esse

homem, sent ir-se

sufocada .

Em resumo, ela mostra que está sofren

do

mas que

duvida da terapia; se o terapeuta, mesmo assim, viiesse are

vel ar-se à altura de seu marido, ela correria o risciO de sen

tir-se oprimida e de definhar. Logo de início, plOrtanto,

configura -se uma relação em que é possível estabetlecer um

pat l/elo

en cre

o

marido

e o terapeuta:

ela necessital do tera·

peuta, a quem corre o r

is

co de não suportar, assi-im

como

suportou mal

apo

ia

r-se em seu ma

ri

do.

Entretantco, o fato

de ir consu ltar-se no

moment0

em que o marido .está me

lhor

mostra uma abertura nesse sistema; o maridc9· não jo

gandO

mais o jogo habitual, modifica os dados bãásicos da

relação, o que leva a uma

crise que

deverá ser expl·lorada.

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74 psícoter pi s breves

NESSA ISE QUE A PSICOTERAP IA BREVE DEVE POOi R FOCALI·

ZA ASE. Com base nessas premissas simples, o terapeuta

p

ode

conduzir o

restante

da

entrevista e p roC1Jrar verificar,

parale l

amente,

através da investigação

clfnica

e

de um

exame

pskológic

o,

as

primeiras hipóteses

psi

codinâ

micas

enunciadas em seu fo ro rntimo. Vejamos do

que

se trata:

ELEMENTOS

N M N ~ S I C O S

Er a o segundo

casamento

de Daphné. Grávida, ela havia

de

sp

o sado, aos 19

anos,

um homem que encontrara numa via·

gem

ao exte

rio r; esse

marido

mor

r

era

de uma

doença

gr

ave

pouco antes do nascimento d o beb

é,

que foi confiado aos cui

dados de uma babá e dos pais de Daphné, que re tomou bri

lhantes estudos universit ários. Após os exames. foram-lhe ofe.

recidas

numerosas

possib

ilidades universitárias interessantes e

ela voou de

sucesso

em sucesso. Entretanto,

no

momento

em

que começava a a tingir o objet ivo que buscara, apresen tou for·

tes

cefalé

ias e experimentou dificuldades

acentuadas

de

con·

centração . F oi nessa época que conheceu seu segundo marido,

também um

h

omem

bri

lh

ante,

que

lhe fez

uma

corte

ass fdua; ela

ace

it

ou casar·se com ele e mudar-se para

uma cidade

afas t

ada

onde moravam os

sogros

). renunciando por isso a sua carre ira.

Ent

rementes.

seu bebé mor reu após u ma doença grave. Ela so

freu in tensamente essa perda, mas conseguiu superar o luto

voltando a trabalh ar, agora em u ma

un

iversidade des tacada on·

de

novamente

alcançou um é x ito brilhante. Entretanto, sua vi ·

da conjugal

tornou

-se

ca

da vez ma is sofrida a SI US olhos, na

medida em que ela sen tia dificuldade em suportar o a

ut

ori taris ·

mo do marido, que,

fo

rt

alecido

pelo apoio dos

pais, revelou-se

rígido, desdenhoso e distante. Ao voltar de

uma

longa viagem

pr

of

is:Sional ao exte rior, ela teve a sensação

de

não

pode

r mais

suportar a vida conjugal e propôs uma separação.

Em

seus antecedentes familiares,

descobr

iu-se que ela

pro

·

vinha de u

ma

fam fl ia

de

universitários: o

pa

i era descr ito

como

u m

autocrata de inte

ligéncia brilhan

te

,

com humor mu

ito ins·

t ável,

que pa

ssava de gargalhadas explosivas a mo

vi

men tm

bruscos e terrificant es de

l

era;

a

mãe era

dotada

das

mesmas

qualidades

de inte ligéncia, porém era mais sens vel e

fora

do·

minada pelo marido por muito tempo;

entr

etanto, acabara

por

adqu;r ir uma

notoriedade

indubitável no campo prof1ssional , a

ponto de ultrapas

sa

r o marido.

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[oco/izaçiio

75

Daphné era

uma

moça de cabelos desgrenhados, displicen·

temente

vestida

ao

estilo

de um

rapaz.

Do conjunto da investigação e

do exame

psicológico

emerg

iu

o

retrato de

uma

pessoa hipersensível.,

que contro

l v muito mal suas emoções, à

espreita

de

todas

as reaçl)es

do interlocutor, e

cujo

pensamento tornava-se às vezes um

pouco fugaz, apesar da inteligência

superior

à média.

Durante as

duas

primeiras entrev istas, ela relembrou

um

sonho

infanti l: Estava na água.

correndo

o risco de f o g r ~ e e, de

re·

pen te, sem

que

tivesse feito o

menor

esforço,

punha

-

se

a sobre·

voar a água;

era

um

corte

tota l e

abrupto,

um sentimento ma·

ravilhoso

por um momento

e, depois, subitamente, ela ficava

aterror

izada, perdia o

controle de si

mesma e tornava a cair

no

fundo da água. onde olhava para ela

própria.

Comentou esse sonho

dizendo

de sua esperança de

que

a

psicoterapia

ou

a psicanálise lhe permitissem sentir-se

n

água,

nadando

sem ser

muito perturbada

pelas ondas.

O conjunto desses

dados

mostrou um intenso investi·

mento do pensamento em Daphné, que parecia defender -se

desse

modo contra

o risco

constantemente

presente

da

emergência de angústias invasivas. Assinalaram-se

também

suas dificu l

dades

relaciona is

com

os

homens

e sua tendên

cia a estabelecer vínculos

com

personagens

bastante

fracos.

Por

outro

lado, pareci evidente que a maneira como Da·

phné apresentou o pai assemelhava-se surpreendentemente

com o que disse do

marido

, mas também com o que estava

prestes a viver e a transferir para a pessoa do

terapeuta.

A

fragil idade de seu ego era ev idente, mas o

insi ht

era pro·

nunciado, até pronunciado demais. Além disso, sua motiva

ção era mu i o fo rte.

Levando-se em conta o insi ht dessa

paciente,

sua for

te

motivação e o investimento significativo

que

ela fez

no

terapeuta, optou-se

por uma psicoterapia

analítica cujo

tér

mino foi fixado, de comum

acordo,

para um

ano

depois.

No que concerne à focalização esse trabalho foi em

preendido

com

base exclusivamente na seguinte

hipótese:

Da

phné

, no decorrer da psicoterapia, procurará resolver

corçigo o conf li to que não conseguiu superar na relação

com o marido. Cabe a mim tentar permitir-lhe compreen-

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7 psicoreropi s

b tvts

der as

fantas

ias e as resistências subjac

entes

a esse

con fi

to.

LGUNS ASPECTOS DO DESENROL R DO TR T MENTO

Nenhuma

outra

instrução foi dada além

da

relativa

às

asso-

ciações livres, o que se tornou possível graças

à

atenção

voltada

para

os

aspectos

transferenciais

precoces

da

rela·

ção. Em termos clássicos e esquemáticos , toda psico

te

rap ia

analítica

breve que evolui norm

almente comporta tr

ês fa -

ses principais:

a  Colocação de elementos transferenciais compará·

vc is aos d neurose clássica de transferên

ci

a

b Elaboração;

c Término.

Não

resum

i

remos aqui

a

tota lidade

do

t

ratame

nto,

mas

simplesmente apresentaremos

alguns recortes

d

ínicos

para

il

ustrar sua atmosfera.

PRIMEIR SESSÃO:

Oap

hn

é fala

espontaneamente sobre

suas

dúvidas quanto à possibilidade de eliminar seus sentimentos

de insegurança, seu m

edo

da morte, acima de tudo, e seu medo

da

solidão;

este último

fo i ace

ntuado

pela separa

ção

recente.

ainda mais porque e

la

desejava profundamente um filho: Mas

é

imposslvel, porque não tenh o u m

homem

e,

de

qualquer

mo·

do,

me

u trabalho me i

mped

iria

.

Nesse

mom

ento. o

terapeuta

indaga, simplesmente:

Vocé

poderia descrever o

homem

de

quem gostaria de te r um

filho?

Essa foi

uma

das pr imeiras intervenções do

terapeuta,

fundamentada

nas

concepções

desenvolvidas

nos

capítulos

anteriores.

Com efeito, qu ai

quer intervenção que incidisse,

por

exemplo,

sobre a defesa é impossível, porque não tenho

um

homem , ou

sobre

as angústias I gadas

ao

desejo

de ter

um

f ilho,

não

teria

obtido nenhum resultado senão

o

de

reforçar

s

resistências.

e

acordo

com

nossa experiência,

adot

amos

freqüentemente, em psicoterapia, as seguintes

at

i

tudes

:

por exemplo

,

mostrar que

esse desejo

aparece de

·

pois

de

ela

ter

provocado a separação;

outras atitudes,

mais

diretas,

teriam

ligado esse

prob

lema

do

filho

às

diferentes

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focalização

77

imagens de homens que ela havia retratado: como desejar

um filho

de

um

homem tão

autoritário,

etc.

Qualquer

intervenção

desse tipo teria sido

sentida

como

um

objetivo

de

não

receber

por parte

do

terapeu-

ta

ou como

uma

acusação, e teria

conduzido

a um jogo•in

terminável em que

Daphné

procuraria provar que tinha

razão, e vice-versa.

Assim, o terapeuta

optou

por

um

ato

de

valor inter

pretativo:

admitiu

o dese jo,

admitiu

a

dif

iculdade atual e

solicitou

uma

precisão

aparentemente

anódina. Vejamos as

conseqüências:

Daphné f

ic

a

um

pouco perturbada,

cala-se e,

em

seguida,

evo

ca senti

mentos

de fracasso. sem res

ponder

diretamente. Na ses

são s u i n t comenta: Aconteceu uma coisa importante

em

mim: eu lhe falei sobre minha angústia de

mo

rte e minha im

potência para dar um sentido a ela. Disse que queria ter fi lh os,

mas,

depo

is de sua pergunta. fiquei pe

rt

urbada e me de i

conta

de que não queria um fi

lh

o de um homem e sim apenas o fru -

to

da aproximação, mas não a pessoa

1

Percebi

que,

a despeito

de

minhas numerosas aventuras

sent

imentais. tenho medo dos

homens 

E me veio uma recordação: eu tinha quatro anos e es

tava do lado de fora, sob o sol. transpirando com o ca lor. Meu

pai me disse que vestisse um casaquinho. Respondi

que esta-

va com calor, mas ele retr

ucou: 'Pouco

me i

mporta;

se estou

dizendo para você vesti r um casaco de malha,

lhe resta obe

decer'.

Fiquei fur iosa,

com

a sensação de que meus próprios

sentidos não t inham valor.

Assim, foi a

própria

Oaphné

que

percebeu a

repetição

e deu um sentido

intra subjetivo

àquilo

que

punha na con-

ta

de problemas da realidade. O terapeuta obteve esse re

sultado sem intervir nas resistências.

ELABORAÇÀO I

F SE

I

Desde cedo, a psicoterapia desenrolou-se

num

clima inte ira-

mente equiparável

ao

de uma psicanálise clássica.

com

associa

ções e sonhos que se sucediam e se completavam sem que o te

rapeuta tivesse grandes intervenções a fazer. A principal

pro

blemática elaborada foi a respeito da posição fál ica defensiva

de Daphné em face de uma representação sado-masoquista da

relação hete rossexual. Essa riqueza de associações imprcssio-

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  8

psicoter pi s

f f • · ~ s

nou o terapeu ta, que, durante uma sessão. deu a se guinte inter·

prelação: e la d ava mostras de tamanho insight que seria poss

f-

vel

in

dagar

se não

chegava a ultrapassar seu terapeuta. talvez

par a agradá -lo, mas correndo o risco de sentir-se só . Daphné

cal

ou

-se , mas, na

sessão

seg

uinte, comunicou

o

seguinte

sonho:

"Eu es

tava na

rua

e enc

ont

rava um

ant

igo amante : ele es ta·

va sorridente, de ixava

tra

nsparecer um vigor sereno. Disse-me,

'Venha, vou apresentá-la a

minh

a mu lher'. Eu o

se

gui. Ele mo·

rava no alto de u ma casa

de

mu i

tos

andares. Entramos num cO·

modo que

era

uma espécie de sótão e a mulher de le estava lá,

sen

tad

a em um d i

,

com as

pernas

estend

i

da

s. S

ent

amos em

out ro divã

e

c

oloquei

a mão no

ombr

o dele. E

e

mostrava um

in

tenso

desejo

po

r m im, mas também desejava sua mul her, lou

ra e de

olhos

luminos

os

. De repen te, vi que e la

estava br

incan·

do com alguma

coisa

preta

e pe

luda

na

pont

a

de um

bar b

ante

.

Era uma ar

anh

a

com um

n

ome

que

esqu

e

ci

. Ela me d isse que

os

companheiros gostam de

brin

car

juntos, e eu me

aprox

ime i

e estendi a m

3o para

b rincar,

mas

fui invad ida pelo medo,

por

um calafrio de mo

rte."

Oaphné z diferen tes associações

acerca

dos

restos

diurnos do

sonho

e

depois. sobre as rel.1ções

entre o sexo da mulh er e a ar

anha.

o que o te rapeu

ta

con

ten

·

tou  se em

salientar.

A isso. D

ap

hné respondeu: "Mas. na

v

·

dade, essa aranha sou eu "

Na sessão seguinte, Da

phné

chegou atrasada,

emb

ora fosse

sem

pre muito

pontual,

e

comentou:

Estou

atr

ibuindo

menos

importância a chegar na hora." Um pouco

mais ad

iante,

cen tou . Talvez o

qu

e a

cont

ece aqui me perturbe um

pouco".

e ac

abou

d i

zendo, "D

epois

da

úl tima sessão, fiquei muito preo ·

cupad a.

Tive a impressã

o

de

que era minha femi nil ida

de

que

es

tava em jogo. De r

epen

t

e, lemb

rei -me

do

m ito de Aracne

e

quis

v

er

do que

se tratava.

Reli ·o

e

vi

que

Aracne

,

es

sa

mulher

que

desafiou

Minerva por sua inte ligéncia, era um

pouco como

eu

mesma nas se

ssõe

s. Talv

ez

eu

eira

brilhar, par

a não me

apega r Em se gui

da

, ela viu ta

mbém qu

e tinha q11erido mal

à

mãe

por es ta

ter

uma vi

da

sexual de

que

parecia orgulhar-se

(ela

brincava

com a aranh a  

dos

olhos de Daphnél etc.

Os problemas ed ipianos puderam então ser abor

dados

e a ps

coterapia

te

rmino

u no prazo

prev

isto. sem mu itas dificulda·

des.

Para conclui r, vej

amos

alguns c

omentários

fe i

tos por

Daphné, a

lg

u ns meses depois, por

ocas

i

ão de

uma investiga

ção

catamnéstica: "Consigo expressar

melhor meus senti·

mentos, faze r valer m inhas necessi

da

des

nas situações d if í

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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I

focalizaçãó

19

ceis; também consigo aceitar me 1hor que essa tomada de

posição possa desagradar aos outros, mas

sei que

mais vale

isso

do que desagradar a mim mesma Tenho mais respe i

to por mim mesma, adquiri uma capacidade de me interro·

gar a meu respe ito, sobre minhas próprias necessidades. • .

Não era isso que ela havia procu rado?

Esses poucos recortes cl ínícos pretenderam ustrar o

fato de que, no desenrolar dessa psicoterapia, o terapeuta

estava constantemente

atento

ao sentido transferencial das

assoc

ia

ções da pac i

ente

. Por exemplo, quando Daphné evo

cou suas dúvidas e a impossibilidade

prát

ica em que se

achava para conseguir o f ilho que desejava, o terapeuta dis

punha de

in

d icios suficientes para saber que esse discurso

dirigia -se essenc

ial

mente a ele: então ela não d i s s e r . : ~ desde

as primeiras palavras, que duvidava que a terapia pudesse

trazer· lhe o que desejava? Do ponto de vista simbólico, tra·

tava·se exatamente

do

mesmo problema.

Essa

idéia deu su

porte

à

intervenção do terapeuta. Levar para a transferên·

c ia . como

se

diz algumas vezes, ·

de

nada teria servido,

pois, aparentemente, a paciente estava fa lando da

realida-

de . Ass i

m

era conveniente respeitar suas defesas, criando,

ao mesmo tempo, condições apropriadas para permitir a

Daphné evocar o que se passava no interior dela. inter

venção do te rapeuta permitiu isso. Ma is tarde, o sonho da

aranha·Aracne segu

iu-

se

a

uma interpretação clarame

nte

transferencial e assinalou uma reviravolta: os problemas

edipianos to

ma

ram dianteira em relação aos problemas

pré-gen itais, tornando possível a Daphné integrar mel

hor

sua feminilidade, e permitindo-lhe também, por outro la·

do, enfrentar as situações profissionais ansiógenas que ela

sempre evitara até então.

Além disso, cremos que as poucas citações do balanço

feito por Daphné mostram que e

la

viveu imediatamente

uma experiênc

ia

interior, aparentada com a experiência

ana l it

ica

, e não uma simples experiência emocional corre·

tiva.

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PSICOTERAPIA BREVES

E

CLASSIFICAÇÃO DAS PSICOTERAPIAS•

Introdução

Para comp re

ender

ainda melhor a especificidade das psico

terapias breves, gostaríamos, neste

capítulo,

de situar as

psicoter pi s breves e mais particularmente nosso

méto

do) no domínio geral das psicoterapias, pois a ampliação

do campo destas

últ

imas e o aparec imento de mú ltiplas

formas

de

in tervenção,

todas

as quais se

denom

inam

de

ps i

coterapias

( novas psicoterap ias , A. Haynal) , incita ·nos a

re

colocar

na

base o

problema de

sua

classificação. Numero

sas intervenções, que qu ase não se d ist inguem dos trata·

mentos

tradicionais

da alma no século passado

e

no in icio

deste sécu lo, ou que se

fundamentam

em teorias mais ou

menos esotéricas, inte rrogam-nos sobre o lugar que

ocupam no

domínio

mais específico da prática médica e da

ciência. Contudo , se

pretend

e rmos tentar co

mpreender

as

relações que mantêm entre si essas d iversas psicoterap ias,

pensamos

ser errôneo comparar

as

teori s

de

umas

e de ou

t ras, ou mesmo interpre tar o

con

junto das práticas em fun

ção

exclusiv

amente da teoria

psicanalítica. Parece

muito

mais criterioso comparar as pr tic s e p rocurar, em segui

da , compreender seu funcionamento. O objet ivo deste ca

pítulo é esboçar em algumas linhas uma classificaçã o das

psicoterapias segundo esse

princfpio

e situar o lugar

das

di·

ferentes formas de psico terap ias breves. Para fazê-lo, nos

• Resumo de

um

relat

ó r io aprc<en ta do

no

1  S11np6soo lrotern   c ooual de

Lln·

gu

a F ra nce

sa

sobre

as

Psicot e

rapia

s Or eves

de

Insp iraç ão l so candli llca. em

Lausanne 22·25 de junho de 1983  pu blocado roa r

ev1s

ta Psyc

  r

htYap•es

n c l 3

 vol. 111

pp

. 145-15

1 19

83

.

80

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cl ssific çüo d s psicoter pios

8

apoiaremos nas noções de

relação terapêutica

e de

en

quadre

d iscutidas nos capítulos 5 e 6. Mostraremos como

esses parâmetros se combinam de

acordo

com os diversos

métodos

propostos.

Parâmetros das psicoterapias

Assim,

tentaremos

classificar as

diferentes

psicoterapias em

relação aos dois parâmetros que

se

seguem:

REL ÇÃO T E R P ~ U T I C E O ENQU DRE TER PEUTICO

se disse algumas vezes

que

a psicoterapia

começa no

ponto

em que o médico passa a utilizar a relação médico

paciente com um objetivo terapêutico. Isso equivale a di

zer que,

em

ps icoterapia, o

médico

utiliza a si mesmo co

mo medi

cação

de seu paciente. Lembremos, portanto,

que

segundo nosso modelo, a relação psicoteráp ica

baseia-se

em uma recusa

a reagir

e

em um

desejo de compreender,

a

partir do qual o médico adapta sua ação

à

compreensão

que tem do comportamento do paciente.

Ê

aí que o ato

médico assume

um

caráter psicoterápico: no

ponto

de pas·

sagem

da

reação (contratransferencial)

à

interpretação,

qualquer que seja o mode lo

de

referência . Mas situamo-nos

no

ponto

zero

da

psicoterapia:

somente

o

''enquadre

irá permitir a evolução

de

um processo.

Quanto ao

enqua·

dre, ele comporta dois aspectos:

a l Os

determinantes

sócío-culturais do tratamento (re

gras);

b) A

disposição {setting).

Essa espécie de fronteira que separa o espaço do trata

mento do espaço social delimita, desse modo, uma

zona

privilegiada

onde

os

atos

e palavras assumem um valor tera

pêutico.

Metaforicamente, podemos comparar a situação psi·

coteráp

ica

à

sala

de

operações do cirurgião - o único lugar

que preenche as condições adequadas para permitir

certas

intervenções, mas cujos

ocupantes

empenham-se em respei

tar, estritamente certas

regras,

como a da assepsia, por

exemplo.

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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82

psfcoter pi s bre•es

Di

zendo

isso, estamos

admitindo os

dois seguintes

axiomas:

1. a

função

do

enquadre

é criar uma "situação rela

ci

ona "

própria para

favorecer a atividade

do

tera

peuta e sua eficácia;

2.

é

a

maneira como o terapeuta

uti

li za

a

r

el ação

as

si m

criad

a que dete

rm

ina a natureza

do

processo.

De imedi

ato,

as psicoterapias podem d is tinguir-se de

duas

maneiras:

I

Pelas d iferenças no

enquad

re, a sabe r,

as

di f

eren

tes

disposições ou re

gr s de

funcionamento;

11

Pela na

tureza da

re lação proposta e mant i

da pe

la

atividade

do

ter

apeuta .

Entre

tanto, soment e a combi nação

das

duas define a

psico tera

pia

.

Dito isso, pode

mo

s estabelecer

um

a prime ira distin

ç

ão

entre d o

is

tipos

de

ativida

de

: s psicoterapias propria-

mente ditas  fundamentadas em um enquadre que d is t in ·

gue o campo psicote

ráp

ico d o campo cu ltu ral e que p.erm i·

tem o

desenrol

ar de um verdadeiro processo psicoteráp ico ,

e as intervenções

com

fin alidade psicoterápica,

qu

e não são

del i

mitadas

po

r um enquadre e não imp licam um processo

temporal.

INTERVENÇÕES DE FINALIDADE PSICOTERAPICA sem enquadre)

Certas

intervenções de

finalidade psicote

ráp

ica não p odem

ser consideradas psicoterapias ve rdadeiras, no sent ido em

qu

e

as

en

tendemos,

na

med

i

da

em

que

a

ausência

de um

enquadre

preciso não

autoriza

o desenvol

viment

o

de um

verdade

iro

pr

ocesso. R

et

omando a

metáfor

a pr

ec

edente,

pode

acontecer que um ci rurgião p recise intervir fora da sala

de operaçõ es (num aci

dente

circu la tório ,

por

exemp lo), mas

ess

as inteNenções

são gravemente limitadas pel a falta

de

meios, independentemente d elevada competênci técnica

do médico. Pode-se dizer que o mesmo acontece em ps ico

te

rap

ia

:

em

nossa

opinião,

na

f

lta de

um enq

uadre

pr

eciso

e em estruturado a psic

ot

erapia não

pode

ter lugar. Por

exemplo, c

ertas

in tervenções isolad s

podem

ter

um

i

mpac

to consideráve

l

sem que

por

isso mereçam a denominação

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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dJJssificaçâo

d s

pricormzpiar

8

de psicoterapias .

Quanto

à chamada psicoterapia

do

médico clínico'', tampouco ela dever i ser cons ide rada

ver

dadeiramente como tal, mesmo que o atendimento dure

muito

tempo

(passagem

constantemente

possível a

atos

médicos como auscu ltação, investigações d iversas etc,J; a

situação do

clín

i

co

geral e de sua

prática

quase não autori-

zam a in stalaç

ão de um enquadre

psicoterápico que assegu

re a constância necessária

ao

desenrolar do processo. Esse

fenômeno aparece claramente, por exemplo, quando

um

jovem psiquiatra com sua form

ação á

avançada precisa fa

zer um estágio em residência com vistas à obtenção

de

seu

títu

lo

de

especialista:

por

mais

que

seus

superiores

o incen

tivem freqüentemente a encarregar-se dos pacientes que so

frem

de

dificu Idades psicológ icas, é-l

he

prati

camente

im

poss ível fazê-lo.

Observamos aqui que existe uma relação estreita entre

o enquadre psicoterápico e o

modelo

conceitual do tera

peuta, o que

não

deixa

de

ter importância. Assim, os trata

mentos

comportamentais

trazem certos problemas: em sua

grande maioria, eles se baseiam

em

llma idéia

de

norma

li

da

de e não-normalidade, em

uma

filosofia de adaptação. A

noção de liberdade indivi

dua

l ou de necessidades individuais

está quase

ausente

delas. Isso se tra

duz

pela ausência de re-

gr s

que estabeleçam

urn

fronteira·entre o espaço do tra-

tamento e o espaço social. Segundo

nossa concepção, essas

intervenções não pertenceriam

ao

domínio da psicoterapia,

na medida em que o psiquismo individual

não

é verdadeira

mente

l

evado

em con

ta

,

tratando

-se

antes

de uma

espéc

ie

de socio terapia , o que, a nosso ver, não correspon

de

ne

cessar iamente a uma

critica

ao método.

PSICOTERAPIAS PROPRIAMENTE DITAS

(delimitadas do campo social)

Todas as formas

de psicote

rapias compreendem, portanto,

um

con

j

unto

de

regr s fixas

desenhando um

enquadre

abs·

trato

que

di

stingue

c l r m ~ n t e o campo psicoter

ápico do

campo

social.

Comumente,

visam

não

a uma

readaptação

do. paciente à sociedade, mas sim a

uma reequilibração do

mundo intrapslquico oferecendo ao

paciente

um

certo

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8 p s i o t ~ r o p i o s u v ~ s

grau de liberdade em relação ao

fun

cion

am

ento

soc ial.

A

norma,

nesse caso, é o bem-estar individual

e

secun

d

ariamente

, o equ ilíbrio inte rpessoa

l.

As psi

co

terap ias ana

lí t icas fazem

parte

dessa categoria, mas

numer

osas

outras

formas d e psic

oterap

ia

s de

apoio

ou

catárticas

visam, antes

de

mais nada, a melhora

do

indivíduo; portanto ,

é

o con

junto de regr

as

que autorizam um comportamento social

mente

ina daptado que permite ao indivíduo saber que se

encontra em si

tua

ção onde

suas necessidades

e

seus desejos

pessoais tem a possibilidade de manifestar-se, independen

temente das interdições sociais; d

iz

er tudo , repouso

corporal completo , expressão corporal total (nudismo) ,

p

orém

não

faze r

nada

etc.

Como vimos mais acima , a própria fundamentação

dessas regras consiste na possibilidade de transgredir certos

tabus sociais, possibilidade

co

ntrabalançada pela introdu

ção de novas proibições.

Feita essa col ocação, há possib il

dade

de

certas variações

qu

e se situam entre dois extrem os:

a

As ps icote rapi

as

verbais, onde a regra fu ndamentat

é a

de

dizer tudo , associada à

de

não fazer nada ;

b}

As

ps

ic

ot

er

ap

i

as

não-verbai

s

onde

a regra pri

nc

ipal

inc ide sobre a ex p res

são

cor

po

ral {psicoterapias ca

tártic

as, diversas técnicas de relaxamento, grito

pr

i

mai etc.);

c)

Entre

esses d ois extremos, há numerosas formas de

psicoterapias mistas, tais como o psico

drama

psica

na

líti

co ou o rela

xament

o ps icanalítico

etc.

Além d isso, esse enquadre abstrato

é

man

tido

por

uma

disposição

que

delimita claramente

o

lugar

e o

tempo

em que a transgressão é autorizada. Essa d

is

posição pode

variar

de

u ma forma de psicoterap ia para

outra.

AS DISPOSIÇÕES

Trata-se do conjunto de parâmetros es

pa

ço-temporais fixos

de

um tratamento: número

de

pacientes. tempo {freqüên·

cia d as sessões,

horários

,

duraçã

o).

espaço

n

e

utral

i

dade

e

constância d o lugar, posições respectivas

do

pa

ciente

e

do

te

rapeuta). Esses

pa

râmetros são constantes e quase mudos,

uma vez contratado o tra tamento . No en

tanto,

são o su-

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classi kaçôo das psicorerapios

8

porte

d ~

~ r a ~ a m e n t o e _esse sup_ort_e tem _um

considerável

efeito

dmam1co na

relaçao terapeut1ca.

Tres formas de mo

dificação

da

disposição

correspondem

a

três

categorias de

psicoterapias:

a

Modificação

do

número

b Modificação da disposição espacial;

c Modificação

da

disposição temporal

Grosso modo, portanto, temos:

as

psicoterapias

in

dividuais, as

psicoterapias em grupo, as psicoterapias

dedu

ração

não

limitada

e

as psicoterapias de duração

limitada,

podendo

cada uma

dessas formas

de tratamento

ocorrer na

situação face a face ou em assimetria terapeuta sentado,

paciente s)

deitado s))

A combinação

desses

diferentes

pa

râmetros já determina parte da especificidade do

tratamento.

Em

resumo,

o

enquadre de limita nit

i

damente

o

campo

psicoterápico do campo

social; essa

definição

fun

damenta-se em

um

conjunto

de regrâs

que

autorizam com

portamentos proibidos

em outros

lugares,

mas

essas autori

zações só ocorrem no i

nterior

de uma disposição espaço

temporal claramente definida

conforme

o tipo de

trata

mento.

Certas

regras

podem

divergir

de

in í

cio

verbalização

-

expressão corpora

l) e a

disposição espaço-temporal pode

diferir

divã-poltrona/face

a

face- limitação temporal

etc.):

essas var i

ações que compõem, a nosso

ver, o essenc i

al

da especificidade dos tratamentos,

na medida

em que

a di

nâmi

ca da relação terapeuta-paciente

é

fortemente

modifi

cada.

Isso

não

impede

que, no inter

i

or do

enquadre,

certas

características relacionais igadas à

técnica

e às opções

teóricas do

terapeuta

condicionem a dinâmica

do

processo.

O

tema da relação terapêutica psicanalítica fo i abor

dado

no

capitulo 6,

e acrescentaremos

apenas que todas as

relações

terapêuticas podem

situar-se

em

função

dos

dois

seguintes pólos:

,7 o

terapeuta

pode

utilizar

a

relação para influenciar

o paciente e ajudá-lo;

b o terapeuta

pode interpretar

o

que

se passa na rela

ção

=transferência

J

e trazer à luz

os eventua

is con

flitos.

O

conceito

de interpretação merece alguns comentá-

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86

pslcotu pl s breves

rios: seu

momento

fundamental

continua

a ser aquele

em

que o terapeuta não reage

ao

comportamento do paciente,

comenta a relação e declara-se não envolvido. Essa é a pró

pria base da interpretação da transferencia, que caracteriza

as psicote rapias psicanalíticas, mas

poderíamos

imaginar

outras situações

em que

a

atitude

é a mesma - por

exemplo, os conflitos conjugais em que um dos cônjuges

repele as acusações do outro ( não sou esse ou essa que

você

está

pensando  ). O que

devemos pôr

em destaque

mais

uma

vez, nesse

ponto,

é

a

interdependência entre

a

rela·

ção

e o

enquadre: somente

o

enquadre analítico permite ao

terapeuta

dar

uma

interpretação

d

transferência; fora

do

enquadre, qualquer interpretação

inscreve-se

em

um

sim·

pies conflito interpessoal. Eis porque consideramos que

qualquer classificação que tenha como

único

ponto de re

ferência a noção de transferência é errônea.

Esses dois modos de ação correspondem,

portanto,

a

duas

grandes categorias

de

psicoterapia:

a As psícoterapías ditas de apoio recuperadoras

ou

corretiva

s;

b

lAs ps

icoterapias

analiticas

ou

de

descobrimento.

a

PSICOTERAPIAS SUGESTIVAS RECUPERADORAS OU CORRETIV S

Em

cada caso particular, o terapeuta

procura compreen-

der as dificuldades do

pacient

e e orientá-lo sobre a sua na

tureza, mas sem procurar pôr em evidência

uma

eventual

origem intrapsíquica.

Quando

o

terapeut

a formu la para

si

mesmo uma idéia sobre as razões desta

ou

daquela dificulda

de, não

a

com

unica

ao

paciente, mas a

ntes

incita este último

a supe rar

seus problemas

enfrentando-os Por exemplo,

num

paciente que acumule fracassos, o terapeuta, mesmo com-

putando certas causas inconscientes para esses fracassos,

contenta-se em pôr em

destaque

os comportamentos auto

punitivos do paciente e em ajudá-lo, através de

uma

atitu

de freqüentemente sugestiva, a modificar esses comporta·

mentos

.

Caso

o

paciente adote perante

o

terapeuta uma

atitude

semelhante

à

que

tem em sua vida cotidiana, o te·

rapeuta

não

fala sobre isso,

ou

pe

lo menos n

ão iaz

nenhu

ma interpretação

dita

da tr

ans

f

erênc

ia . As terapias com

portamenta ís poderiam inscreve r-se nessa categoria.

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clasrificação das psicotrrapias

8

b PSICOTERAPIAS N LITICAS

Nesse caso, o terapeuta renuncia a qualquer atitude suges·

tiva , educativa ou

corretiva .

Como observador

neutro, busca

perm

itir ao paciente observar a si mesmo e

aperceber-se, desse modo, das raízes intra-subjetiv.as de

suas dificuldades. Para chegar a isso, o terapeuta deve âpa

gar-se o mais possível,

de maneira a permitir que apareçam

os problemas subjetivos do paciente. O objetivo é

trazer

à

luz conflitos em que o médico não possa sentir-se

direta

mente em questão. Esse

é

exatamente o modelo da atitude

psicanalítica, mas

um

comportamento assim não é próprio

exclusivamente do

tratamento

analítico: podemos encon

trá-lo também nas psicoterapias rogerianas e nos diferentes

tipos

de psicoterapias de inspiração psicanal

ít

ica.

Por outro lado, essas atitudes estão constantemente

presentes. em graus mais ou menos pronunc iados, em todas

s relações humanas, e em nada são espec/ficas das psicote

rapias, só se transformando nisso em re lação ao conceito

complementar

de enquadre

LUG R E

OIN MIC

O SPSICOTER PI S BREVES

Com base nos

dados

precedentes, podemos conceber um

grande

número

de combinações, que

estão

resumidas

no es

quema da Tabela 1. As diferentes formas de psicoterapias

breves

encontram

lugar ali e

podemos tentar

apreender a

interdependência dinâmica de

certos

parâmetros das psico

terapias. Assim, as psicoterapias breves têm como caracte

rlstica comum procederem a certas modificações do enqua

dre e da técnica, mas,

sede

um lado todas adotam a d isposi·

ção face a face, de outro o manejo do

tempo

é muito variá

vel: algumas delas fixam um prazo preciso, enquanto

outras não fixam prazo algum, e outras, enfim,

adotam

uma atitude

intermediária, como ilustrou o quad ro sinóp

tico

do

capítulo

4. Ora, isso só terá interesse se examinar·

mos então a técnica

adotada

pelos terapeutas; desse modo,

percebemos

que

ex i

ste

uma relação entre a técnica e a

delimitação o enquadre temporal_· quan to mais clara-

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88

psico

terapioJ

reves

mente

d

eterminado

é o

enquadre

temporal, menos ativo

se mostra o terapeuta . Inversamente, quanto mais a

li-

mitação temporal é

deixada

na incerteza, mais o terapeuta

se mostra ativo . Essa atividade transparece

no

rigor da s l ·

ção

dos

pa

cientes

e

na

natu

reza das

interpretações .

or

exemplo

sabemos

que

Peter Sifneos não indica nenhum

prazo

preciso

mas

seleciona

rigorosamente seus pacientes,

escolhe at ivamente, de comum

acordo com

seu paciente,

um foco de tratamento e atém-se rigorosamente a essa es-

colha.

Além

disso, adota uma

atitude

de

apoio narc/sico

muito

a t iva. James Mann ao contrário, fixa de im

ediato

um prazo extremamente rigoroso, mas deixa que seus pa

ciente

s associem livremen te e sua

at

i

tude

é

muito

pouco

in-

tervencíonista

mesmo que ele

atr

ibua partic1Jiar impo rtãn

cia às angústias de

separação

do paciente. Nós mesmos, em

Lausanne, fixamos

um

enquadre

muito

rigoroso tanto no

plano da duração quanto

no

da freqüência muito embora

possamos ater-nos exc lusivamente

à

regra das associações

livres. .

Em resumo para situar as psicoterapias breves em re

lação

às

outras

técnicas, devemos voltar a

atenção

essenci

almente para a disposição espaço-temporal nova que as ca

ra

cteriza: elas

se distanciam da psicanálise pela passagem

ao

face-a-face e

afastam

-se de outras técnicas psicoterápicas de

inspiração psicanal ít ica pela limitação da duração. Essa

li

·

mitação

pode

ser implícita ou explícita. Quando é apenas

impl

cita, é compensada

por uma

atitude mais ativa do te·

rapeuta, ao passo que quando é explíci

ta

essa compensa

çã o

não

é necessária .

Ademais, a referênc

i

psicanalitica nem sempre é cla

r

, o

que também pod

e

traduzir

-se no

compo

rt

amento

dos

terapeutas.

Alguns

enfatizam

essencialmente a atividade e a

experiência emocional corre tiva : a essas terapias chamaría·

mos,

com

Pe

ter

Sifn eos, psicoterapias breves de apoio ;

ou

tros, ao contrário colocam ênfase na interpretação dos

conflitos atuais em função de seus v ínculos com os confli

tos

intraps/quicos

resistência ao processo associa t ivo, de·

fesas etc .) e com o passado do sujeito. Somente estas últi·

mas merecem a qualificação

de

psi

coterapi

as ana/icicas

breves.

Page 89: Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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I

I

I

I

J

INDICAÇOES CONTRA INDICAÇÕES

Os

cri

t

érios

de

seleção

dos

pacientes

para uma

psicoterapia

de curta

duração

variam muito conforme os au tores e situ ·

am-se em uma escala

que

vai

de

uma grande restrição a

uma grande não-seletividade . Utilizam-se

diferentes

cri

térios de seleção:

a) Critérios psicopatológicos:

diagnósticos/s

int

omas/

estr

u tu ras

da per

sonali

dade;

b) Critérios temporais : crises ou afecções crõnicas;

c)

Crit

érios

psicodinâmicos

problemática

genital''

(edipiana)

ou pré-genita l  (pré-ed ip iana).

RELATIVIDAD E DAS INDICAÇÕES

De maneira geral, começamos por determinar, mu ito classi

camente, a

ecção atual

(a demanda do paciente, segun

do

M.

Balint 130

1

e,

em

seguida, i

nterrogamo-nos sobre

a

estrutura da

personalidade

.

Propõe

-se

também, freqüente·

mente, um exame psicológico (Rorschach, TAT ou outros)

[21).

Feito isso, a

ut

ilizaç

ão

desses dados varia seg

undo os

autores.

P. Sifneos atém-se a critérios rigoramente psicanal íti

cos e aceita apenas os pacientes

cujos

pr

ob

le

mas

são edipi

anos e cuja estrutura de personalidade é

gen

ital . Trata-se,

porta

nt

o,

de pa

cien

tes muito evoluídos,

dotados de

um

ego sólido e

de bo

a

capacidade de intros

pecção, cu jos

problemas podem

ser

i

nterpretados

segundo um ou outro

dos aspectos

do

complexo

de Édipo (pos it ivo ou negativo} .

90

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 91/102

indic ações e contr ·indic çóes 9

O. Malan, mais flexível em sua abordagem, refere-se

de

maneira

muito

estrita às

concepções

de

M

Balint, e seus

critérios baseiam-se sobretudo na dem

a

nda

do

paciente e

na

possibilidade de

focalizar

o

tratamento em

uma

hipó-

t s

psícodinâmica

básica, passível

de

explicar a maior .par

te das d ificuldades, o que amplia razoavelmente o campo

da sel

eção, já

que o critér io

psicodinâmico

essencial baseia

se

nessa possibilidade de focalização.

Outros

terapeutas são ainda mais abrangentes em suas

indicações

ou

se interessam por um campo psicopatológico

específ ico: os casos

fronte

iriços

(borderline),

para M Lei

bovich

8]

ou as neuroses graves

do

caráte

r, para

H.

Da

van loo. Outros, enfim, mostram-se mais variáveis e, sem de

finir em critérios precisos

de

seleção, adaptam sua técnica

aos

problemas

dos pacientes, aproximando-se, nesse

aspec

to,

das posições

de F.

Alexander,

L.

Wolberg,

L.

Small

ou

L. Bellak. São esses os que mais pregam o ecletismo técni·

co.

De fato, isso remete

à

questão da contratransferencia

no

sentido

lato

do

termo)

e

é

provável que,

como

em psi·

canálise,

cada terapeuta tenda a escolher os pacientes que

lhe tragam melhores

resultados ,

parcialmente em função

de

sua

econom

ia pessoal.

Como conseq üência, em uma primeira abordagem,

quando se fa la em critérios de seleção

de

pacientes ou

em

indicação para a psicoterap ia breve), é sempre conveniente

precisar

a que forma de psicoterapia breve

se está

aludindo

Aiexander e

French,

Balint-

Mal

a

n, Sifneos

etc.).

De nossa parte, consideramos, ainda assim, que exis

tem certas constantes na psicoterapia analítica breve que se

nrendem essencialmente ao enquadre espaço-temporal. Po

ut

i iomos dizer que as indicações para a psicoterapia breve

são

re

l

at

ivas, no sentido

de

dependerem, simultaneamente,

do desejo

do

paciente e da técnica particular do terapeuta.

Ao contrário, parecem

existir

contra-indicações absolutas,

que

parecem

estar estre

i

tamente

ligadas

à

questão

da

mo·

tivação

dos pacientes. Com

efeito,

todos os

autores

con

cordam

quanto a esse ponto

fundamenta

l: alguns falam em

motivação de

mudança,

outros em motivação

de insight,

mas todos a tribuem uma importãncia primordial a esse as·

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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9l psicorerapia

s

brC

ves

pecto

, que é o fa tor d e prognó

stic

o mais d i

retamente

li

g

do ao sucesso da psic

otera

p ia.

Entr

e ta n to , parece-nos que

essa questão deve ser ex am inada

em

suas nuanças, pois, de

fato, d isti nguem-se dois t

ipos

de p ac ientes :

1) A

qu

eles

cujas motivações são

sobretudo

progressi

va

s

2

Aqueles cujas motivações são sobre

tudo regressivas.

Os p rimeiros p rocurarão uma verdadeira mudança, en·

quan to

os últimos buscarão

uma compensação

par

a suas di

ficuldad es . Estes

seriam inacessíveis

às psicoterapias breves.

De fato, esse ponto de vista afi

gura

-se demasiadamente es·

quemá t ico, pois muitas coisas parecem dep

ende

r do p ró

pr

io

terapeuta:

H.

Davanloo

ou

M.

Leibovich,

por

exemplo,

tratam com sucesso

pacientes cujas

motivações seri

am

qua

lificadas

por muitos

como

regressivas. Eis

porque,

apesar

da

util idade

de

ssa d ist inção, c

on

sid eramos

que ela

é insufi

ciente, na med ida

em

que tamp

ouco

leva em con

ta

a

a

ti

v

dade especdica do terapeuta. Convém le mb ra

rmos

aqui

q ue ,

segundo

o modelo das teorias da comun icação,

deter

minamos a

nós

mesmos ,

como

princfpio fundamental, en

carar

a

dupla

ter

a pe

ut

a-pacien

te

como

um

rodo em intera

ção con tínua .

Assi

m,

é

possíve

l co ns iderar a questão das motiva·

ções regressivas

ou

progressivas

como

um problema

per

ten ·

ce

nte

ao

domínio

das in

di

cações

relativas

que depende es

sencialmen

te

da

natureza

d a relação in te r·subjetiva de um

dado p acient e

com um

dado terapeuta.

A nosso ver, a questão das in

dic

ações ou

contra-indi

cações

ganha

maior

clarez

a

quando

se

exam

ina o

pr

oblema

das motivações à luz da organização puls ional e em

fun

ção

de

duas

ordens de

fa tor

es

:

1

A dispos i

ção espaço-cemporal

proposta ;

2 ) O ca ráter analltico do tratamento p ropos to.

Eis aqui um esboço dessas concepções :

1. Contra-l nd icações ligadas à Disposição Espaço-Tempordl

Ess

as

contra- indicações

concernem

:

a) aos

pacientes

qu e, em

virtude

de

sua problemát

ica,

prec

isa m mostrar-se insensíveis (ou quase ínsen

-

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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iii tcaçoes e o r ~ t r a i n d i c a f Õ t 93

veis)

à

influencia

do

enquadre,

qualquer

que

seja

ele;

b) aos pacientes

que, em virtude

de

sua problemática,

podem util

iza r

certas caracter ísticas

especificas

do

enquadre

(freqüência

da

s sessões,

limita

ção

tell)pO·

ral, face a

face ou

divã-

poltrona etc.)

a serviço

de

suas

resistências.

a.

Insensibilidade

ao

enquadre.

Trata-se do domín io

das psicoses e,

em medida menor

das pré-psicoses.

Com

efeito

, ind

ependentement

e

de suas outras características

psicopatológicas,

esses pacientes.

por

suas

tendências

aut is

tas.

comporta

m-se

praticamente da

mesma maneira,

qual

quer

que

seja o

enquadre

proposto

e

qualquer

que

seja o

interl

ocut

o r, o

que equ

ivale a

dizer que

são

incapazes

de

jogar o jogo ps,canal ítico ou psicoterápico. Seu tratamento

requer modificações

téc

nicas de tal

ordem

que se

afasta

mu i

o

das

concepções

psicanalíticas.

b.

ont

ra indicações ligadas a certas caractedsticas es

pe ficas do enquadre. O face-a-

face parece

contra-indica

do

para os

paci

entes

cujos mecanismos

de

defesa

contra

o

desenvolvime

nto de

urna ne

urose de

transferência são parti

cularmente acentuados: é

o g

rupo das neuroses

obsessivas.

Para eles, a

nosso

ver, a

disposição

divã -

poltrona

é

larga

ment

e

preferível.

De fa to, eles

tendem

a

defender-se do

aparec

imento

de

suas emoções

e de suas fantasias referin

do·-se c

onstantemente à realidade

do

terapeuta. Quando

este

último interpreta

esse

movimento

como uma resistên·

cia, inicia·se

então

o

jogo

sem

fim,

que

mais

se

assemelha

a

uma

guerra do

que

a

uina

psicoterapia .

Com

efe i

to,

esse

mecanismo de defe

sa é

intensamente reforçado

pelas possi

bilidades

de controle

visual

oferecidas

pela

disposição face

a face . Convém

lembrarmos, de

passagem ,

que

esse

modo de

defesa através

da

rea

 

dade deve

se r

claramente

d i

stinguido

de outro mecanismo de

defesa a

que poderíamos designar

de

defesa contra

a realidade do ou t ro

mec

an ismo próprio

dos psicopatas

e

dos pervertidos,

que

utilizam

seus

parcei·

ros de

acordo com

suas prt lprias necessidades

fantasmát  -

cas:

não apenas confundem

o

outro com sua

vida

fantasmá

tica.

interna, como também não suportam

a

existência

do

ou

tro

en

quant

o

indiv(duo,

mui

to embora estimulem

violenta-

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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94 psícoter pills breves

mente a pessoa diante deles para obrigá-la a comportar-se

de acordo

com

a

estrutura

de sua própria vida fantasmática.

Por

exemplo, em função de suas tendências agressi

vas

mui to

mal controladas, o psicopata tem necessidade de considera r

o

outro como

ma

u. Sem consideração pela afetividade do

parceiro, ele o impele, através de estimulações constantes, a

irritar-se e a mostrar

-se

desagradável, para então reprová-lo.

Assim, o parceiro torna-se automaticamente confundido

com a fantas ia do sujei to. Para designar esse gênero de pa

cientes, falou -se algumas vezes

em

negação do narcisismo

do

outro

(J _ Bergeret), na medida em que seu

eg

ocen t

ris

mo é de tal ordem que a própr

ia

sensibilidade do outro, ou

sua sus

cept

ibilidade, de

ve

m ser ne

ga

das. E

ssa

categoria

de

pacientes não suporta nenhum tipo de postura analitica e

desaparece após a primeira ou a segunda entrevista.

Quanto à limitação tem

por

al, ela se afigura particular

mente contra-indicada em duas situações: nas estru turas

perversas, sobre as quais se afirma que são praticamente

inacess íve is ao trata mento psicanalítico, mas que, ~ ma·

neira mais especifica, reagem através da neg  ão a qual quer

limitação

tempor

al; essa limitação é

t

mbém contra-indica

da nas neuroses narcísicas'' (no sentido de Kernbergl. Com

efeito, este últ imo gru po de pacientes, aterrori zados por

su a profunda necessidade regressiva, defende-se lutando

ativamente contra a relação afetiva. Eles utilizam a limita

ção temporal para just ificar seu medo de se apegarem. Nes

se se ntido, qualquer limitação tempo

ral

favorece esses m

o

vimentos defensivos.

Em contrapartida, a disposição divã·poltrona

e

sobre

tudo

a aus

enc

ia de

limi

tação tempor

al

podem ser muito

nocivas para as personalidades que não lutam contra suas

necessidades regress ivas, em particular as personalid< ;__ ui

tas

i

nfantis e dependentes . Nesses casos, a limitação da

duração pode

~ r

um fator muito dinamizador.

2. Contra-Indicações Lig adas ao Caráter Psicanalitico

do Tratamento Proposto

Como acabamos de ver, a maioria das contra-ind

ica

ções pa·

ra

a psicanálise o

rtod

oxa

con

st itui também as contra-indi·

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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indicações e conrra-inúicaçõés 95

cações para as psicoterapias de inspiração psicanal it ica,

se

gundo nosso ponto

de

vista .

Todavia, existem algumas

contr

a  ind icações

ma

is

es

pecíficas das psicoterapias analít icas breves. Para compre

ender isso,

é

preciso retomar o

pr

oblema da "demand<t

do

paciente , no dizer

de

Balint, ou mais exatamente, em nos

sa

opinião,

do

que impele o paciente a consultar-se, tema

muito estreitamente ligado ao da motivação, que compor

ta ,

no tocante

às

ps

ic

oterap

ias

analít icas, dois aspectos

principais : a expectativa do paci

ente

(o que ele procura em

um tratamento) e sua capacidade de questionamento in

s

igh

t  

tomada de consciência).

De

fato, o estudo mi

nu

cioso

de novos casos em consulta em nosso se rviço ambulatorial

ev idenciou mui to claramente o fa to de que, na origem de

todas

as

consultas espontãneas, há uma situação cr/tica

não no sentido de um ataque psíquico agudo causado por

um acon tecimento t

ra

umático intolerável, mas no sentido

de ruptura de u equilibrio até então relativamente está-

vel

.

Essas

crises são de divers

as

ordens, mas a maioria

de

las

é provocada pelo aparecimento de dificuldades

relacio-

n  is

de ordem sentimenta l ou familiar. Ela s se mani

fe

stam

at

ravés de sintomas funcionais ou neuróticos.

É

nessa

si-

tuação que o paci

ent

e procura o apoio

do

médico. Isso tal

vez   uma fonte de complicação em todas as form as de

psicoterapias individua is ou, como vimos anteriormente, a

p· • ;

ã

face a face favorece a relação

real ,

em detrimen

to

o::J

relação fantas

ia

da . Qualquer que

SE1ia

o conteúdo m

a-

nife:.LO

da demanda, o conteú

do

latente comporta não ape

nas

um

a:;per.

to progressivo (desejo de mudança). como

tambt:,n e

sempre

um aspecto

defensivo qu:1l

seja, a espe

r

ar.:;a

c is ou menos consc

ie

nte de um retorno ao equ i Ii

brio ante rior: no caso de crise sent

im

ental, o paciente es

pe

ra in

conscientemente reencontrar a paz, · sem nenhuma

modi

fi

cação das característ

ic

as fu ndamenta is de suas refa

ÇÕI

 S

afetivas; no caso de neurose fóbica, ele espera um

de

saparecimento dos sintomas sem ter que defrontar

 se

com

a origem deles etc. Freud descreveu perfeitamente essa ten

dêrtcia ge ral do homem a resistir à mudança e a recorrer,

preferencialmente, aos meios defensivos anteriores, ou, se

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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves

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96 priroteroplar r ~ v n

preferirmos

dizê-lo desse modo a voltar

ao

passado mars

do

que a

seguir

adiante

1

Cabe

essencialmente

ao terapeuta estar at

e

nto à

sicua

çã

o crítica que levou o pac

iente

a

consultar-se:

é

que se

focal iza o

conflito

do

paciente.

Trata-se

então

de

julgar as

possibilidades

reais

de

mudança

ou

o peso

das

resisténcias

que visam a um simples reto rno ao equilíbrio anterior. De

um lado a orientação analítica a mudança; de outro a

recupera

ção

a

homeostase. Abordamos

aqui o domínio

das

resistências.

A sua importância pode ser medida pela

reação

do

paciente

aos ''ensaios interpretativos ,

segundo

as proposições até

mesmo de

O. Malan. Trata-se

de

inter

pr

etações

parciais

que podem

n

cidir

sobre

este ou

aquele

aspecto do

con teúdo latente

das

queixas

do

paciente sobre

as resistências

ou

até simp

lesmen

te de uma confrontação

que vise a

mostrar

a repetiç

ão de

certos comportamentos

ao

longo

do temp o.

Por

exemp lo  mostrar a

um

paciente

que vem

consu

lta r-se

em decor

rência de um

conflito

conju·

gal que desde os primei ros tempos

de

sua escolarização

ele

entrava freqüentemente

em

conflito

com

as

meninas

de

sua classe

ao

passo

qu

e

nunca

t inha

problemas

com

os

me

ninos é

algo que pode ter

um efeito

muito

dinamizador.

Assim desde a primeira

entrevista

o terapeuta deve estar

na escuta

das

manifestações inconscientes do paciente e

procurar fo rmular uma hipótese

psicodinãmica

passível

de

explicar os motivos inconsc

ientes que o impel iram a con

sultar

-se. É com base nessa hipótese que ele pode destacar

uma ou outra

das

dificuldades do paciente e

l

gá-la a seus

motivos inconscientes.

O

objetivo

disso

é

permitir

ao

pac

 -

ente capt

ar

a natureza

do

trabalho que lhe será

proposto

e

examinar

sua

reação:

prazer do ego

provocado pela

desco

berta de

um

novo modo de

funcioname

n to aumento da

ansiedade

surgimento

de

resistências

maciças

etc .

la

ro

está

que

não

pode

esperar de

todos os pacientes

que

reajam p osit ivamente às i

nterpretações

mesmo

que

sabiamente dosadas.

Em

numerosos casos convém prepa

rá-los

para

um

tra

:;

alho

anal

itico

através

de

uma

aborda

-

1

Cf.

Au

-delà

du

pr

í

ncipe

do

p lai

sir . m Emlis de p1ych nalyse

Paris. PayOt

1970.

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1

ON LUS ES

Quisemos mostrar que os métodos

psicoterapicos

ana

l

ít

cos breves

são múlt

ip los, mas

que,

se

voltarmos

nossa aten

ção

para esse

fenômeno central

que é a relação terapêutica

poderemos definir certas constantes. Assim,

do

ponto de

vista

psicanalítico

, as regras

internas

de

funcionamento

do

trata

mento

desenham uma

espécie

de fronteira abstra:

que

delimita

o campo psicanalítico

do campo

cultural. Es ·

sas mesmas regras valem para a psicoterapia e são elas que

conferem à psicoterapia seu cará ter analítico. Entretanto,

a

disposição concreta

do tratamento {face a face

em

vez de

d ivã-pol t rona,

temporalidade) mod

ifica a dinâmica dessa

relação.

Em conseqüencia

disso, o

trabalho do

terapeuta

talvez seja mais

árduo

,

no

sentido de

que

a

manutenção

da

fronteira entre o campo psicoterápico analítico e o campo

da

realidade é dif íc

il de

fazer.

Não obstante,

há que evitar

que

a relação

terapêutica

se

transforme

numa relação real .

É provavelmente

pa ra não correr esse risco que diferentes

meios técn icos t êm sido utilizados pelos terapeutas: ·focali ·

za

çâo

, aumento

da

atividade

etc.

Pretendem

os mostr

ar

que

um

a atenção aguçada

voltada

para a especificidade da

transferência

em

psicoterapia

p

er

mi te ev

itar

esses meios

ativos e substituí-los exclusivamente pela INTERPRETA ÇÃO .

E

os

resultados? Inú

meros tr

abalhos

foram ded

icados a

essa questão

e

á

os

citamos, particula

rmente em um

a obra

anterior {Aux conf ns

~

la

psy

chanalyse  . Dentre eles, a

maioria parece mostrar que os resultados das psicoterapias

breves são pe lo

menos

tão

bons

quanto os

das

p

sicotera

pias

de longa

duração

. O problema atual

é

o

da

especificid

ade

de

suas

téc

nica

s:

especif

ici

dade

da

seleção

dos

paci

entes,

especificidade d os resultados. Mas essa é uma Q 1estão que

ainda permanece em aberto

. . .

9

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