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    SO JORGEA, S O

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    Maria Augusta Machado

    Ibis LibrisRio de Janeiro

    SO JORGEA, S O

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    Copyright 2008Maria Augusta Machado

    Editores: ereza Christina Rocque da Motta e Joo Jos de Melo Franco

    Reviso: Yonne Santiago Carneiro RandesImagem da capa: Pedro Paulo Rubens (1577-1640), So Jorge e o Drago - estudo.Foto da contra-capa:Marcelo Cabral - www.marcelocabral.com.br

    1a. edio em abril de 2008.

    Machado, Maria Augusta, 1915-So Jorge: arqutipo, santo e orix. / Maria Augusta Machado. Rio de Janeiro: IbisLibris, 2008.264 p. / 24cm

    ISBN 978-85-7823-013-5

    Impresso no Brasil.2008

    Todos os direitos desta edio reservados Ibis Libris

    Rua Almirante Alexandrino, 2746 A

    20241-263 Rio de Janeiro RJTel. (21) [email protected]

    www.ibislibris.com.br

    Associada Libre.www.libre.org.br

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    E, 8

    A S J, 13

    I, 17

    NOTASDA INTRODUO, 25

    P I O B M,29

    NOTASDA PARTEI, 56

    P II S III IV - C LY, 61

    NOTASDA PARTEII, 66

    P III A I M - A CZ, 69NOTASDA PARTEIII A, 76

    P III B S II XVI - C S J, 79

    NOTASDA PARTEIII B, 127

    P IV S XIV XX - P B, 139

    NOTASDA PARTEIV, 171

    P V S J , 177NOTASDA PARTEV, 238

    C F,245

    G I,251

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    Pedro Paulo Rubens (1577-1640), So Jorge e o Drago - Museo Nacional del Prado, Madri, Espanha.

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    Agradeo ao arquelogo-antroplogo Ibarra Grasso por ter me ensinadoque olhar no ver, falar no dizer, o todo divisvel em partes, setoresque se complementam e estabelecem nexos, princpios opostos so comple-mentares, no plano social quando eles se conflitam do origem a crises quese solucionam com lideranas libertatrias.

    Aos que me proporcionaram em muitos anos de pesquisas de campo e degabinete informes-pistas e colaboraes preciosas.

    A Brulio Nascimento pelo apoio econmico que o Instituto de Folclore meproporcionou para a pesquisa de campo na periferia da cidade.

    A Eliana Furtado de Mendona que tomando conhecimento de minhas

    andanas no fabuloso mundo de pesquisas museolgicas acreditou na suavalidade.

    A Joo Jos Melo Franco, editor da Ibis Libris, que embarcou na galeracomandada por So Jorge.

    D

    Para meu filho,Ricardo Paulo Machado Ibarra

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    SO JORGE E O FUNILEIRO DE OGUM

    Eu j a havia notado, a pequena esttua de So Jorge montado em seu cavalo, coma lana em punho contra o drago feroz, quase escondida numa prateleira alta eempoeirada, entre latas, parafusos e peas metlicas variadas.

    Oficinas de funilaria, na grande maioria, so uma mirade de objetos es-tranhos e peas automotivas, fora os odores qumicos. Exceto o funileiro, quase

    impossvel a algum reconhecer, pela forma, algum objeto, visto que quase tudoali ferro retorcido, dilacerado, enferrujado, e tudo se mistura a fazer com que osdetalhes tornem-se inaparentes. o tipo do lugar em que no se deve perder coisaspequenas: elas simplesmente desaparecem. No fossem alguns tons avermelhados navestimenta do Santo Guerreiro, a estatueta teria passado completamente desaper-cebida. Mas mesmo tendo notado, a ela nada relacionei, exceto ser o funileiro umdevoto de So Jorge, como poderia s-lo de qualquer outro.

    Nos dias em que comeava a preparar o texto do livro de Maria AugustaMachado e entrvamos na fase de reunies e conversas telefnicas para esclarecerdvidas e acertar detalhes de como seria o livro sobre So Jorge, em uma de minhascostumeiras viagens a So Paulo, envolvi-me em um acidente de trnsito. E l estavaeu de volta funilaria. Contudo, no foi como outras vezes em que l estive. Dessa

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    vez, subsidiado pelo amplo estudo de Maria Augusta sobre So Jorge, cheguei e jfui procurando a estatueta do Santo e, ao encontr-la, quase instintivamente, fiz-lheuma reverncia, mentalmente. E foi a que me dei conta do quanto poderoso era olivro em que estava trabalhando.

    Da para comear a ver as imagens e o nome de So Jorge em tudo quantoera lugar, foi um tiro: o Santo estava em estabelecimentos comerciais os mais varia-dos, em jardins domsticos, adesivos nas traseiras de veculos, enfim, a lista pordemais extensa. So Jorge no s estava presente no meu dia-a-dia de trabalho e naoficina do meu funileiro paulista, como estava em todos os outros lugares por ondeeu andava. Dei de pensar ser o Santo mais popular do Brasil. Exageros parte, econsiderando a instvel posio de So Jorge na Igreja Catlica, seria uma pesquisainteressante de se conhecer, a saber o quanto ainda somos pagos nesse Brasil defilhos de Deus.

    At o final do ano de 2005, So Paulo foi, por 42 anos, minha residncia.No incio de 2006 comecei minha mudana para o Rio de Janeiro, at hoje inacaba-da, por razes diversas, entre elas a de ainda no ter no Rio aqueles relacionamentosque, modo macro de ver, se transformam numa espcie de infra-estrutura pessoalpara a lide cotidiana, tal como o encanador (no Rio bombeiro), o mecnico, o bar-beiro, o pessoal do mercadinho, o pessoal do boteco, o jornaleiro, o farmacutico,o dentista, o mdico e, claro, o funileiro (no Rio lanterneiro). Eu e o funileiro jramos amigos. Proprietrio de uma Parati 84 como sou, havia anos que utilizava osservios do Pedro, meu funileiro paulista, que me informou que o conserto demo-

    raria uma semana.Com compromissos insuficientes para encher uma semana de espera, no

    me restou outra opo seno continuar a preparao do texto de Maria Augusta lmesmo e visitar a funilaria do Pedro todos os dias. A essa altura, j tinha chegado parte do livro que trata de So Jorge como Orix. E nesse trnsito entre o livro e afunilaria, uma nova personagem surgiu pelas belas ruas do meu pequeno e tranqilobairro de Vila Pompia, em So Paulo: era ningum mais, ningum menos, quePedro, o funileiro, devoto de So Jorge e filho de Ogum, que, segundo aMitologiados Orixs, de Reginaldo Prandi (Companhia das Letras, 2001) d aos homens o

    segredo do ferro.No tiraremos ao leitor o prazer de confirmar, ou constatar, pela primeira

    vez, o maravilhoso sincretismo de So Jorge com Ogum no texto de Maria Augusta,visto que, para este fim, o texto insubstituvel. Mas o fato que ali estava, minhafrente, a confirmao de que o sincretismo era um fato concreto, e mais concretoainda era a sua manifestao ativa, encarnada em um homem vivo, um funileiro,um homem do ferro. E a cada visita que fiz funilaria naqueles dias de espera, essaencarnao tornou-se mais e mais evidente, s vezes, de modo quase escandaloso.

    Aqueles que j se aventuraram, fato novo para mim, a entrar no conhe-cimento do panteo dos deuses iorubanos, sabem que Ogum ferreiro e a ele serelacionam o ferro e tudo o que feito com o ferro, incluindo mecanismos, armase ferramentas. Lembremos que as armas de So de Jorge so de ferro, bem como

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    sua armadura e seu elmo; So Jorge, matador de drages, tambm protetor doshomens que lidam com as foras da natureza e, da, ser patrono dos agricultores;Ogum, por sua vez, o inventor dos instrumentos agrcolas, a enxada, o enxado, afoice, a p, o ancinho, o rastelo e o arado o sincretismo entre os dois santos est

    pleno de razes.Pedro, o funileiro, devoto de So Jorge e filho de Ogum, esse sincretismona prtica. No de modo consciente, como o vejo eu, mas de um modo natural,onde o arqutipo, o santo e o orix convivem pacificamente, e passa-se de um parao outro como se um fosse a extenso do outro, e de fato o , ao menos para quem,sendo pai de famlia, funileiro de profisso, e pessoa generosa e humilde, enfrenta avida com a caracterstica coragem de So Jorge. E, convenhamos, lidar com ferro edrages no propriamente um esporte. preciso ter jeito para a coisa e tambmalguma rudeza e conhecimento no trato do assunto. Assim como faz um funileiro,

    que precisa pr, literalmente, a mo no ferro para endireitar o drago em que umautomvel se transforma depois de uma coliso. E pr a mo no ferro e endireitardrages, Pedro sabia fazer com habilidade. A mesma habilidade com que Ogum for-jou as ferramentas agrcolas e a mesma deciso e rapidez com que So Jorge matouo drago.

    O fato de eu, tomando liberdades de amigo, cham-lo jocosamente de ali-sador de lata, no mostra com justia sua forma habilidosa e diligente de lidar como ferro-drago em que meu automvel se transformou depois do acidente. Pedrosempre analisa o estrago pacientemente, tanto para determinar como vai comear a

    tarefa, como para saber o real tamanho do drago, visto que o ferro estragado fre-qentemente se esconde sob o ponto da coliso, como se esconde o drago na caver-na. Uma vez cumprida a anlise, ele mergulha, com um prazer quase indescritvel,na sua misso: remover as partes danificadas; com um martelo de preciso, endirei-tar as partes endireitveis; puxar, repuxar, soldar, montar, apertar, alinhar, amaciar,lixar, lixar mais, dar acabamento, lixar de novo, pintar, polir, enfim, preciso ser umguerreiro para alisar essa lata.

    Alm de ter assistido ao vivo a restaurao do meu velho, mas valente cavalo,muito conversamos naqueles dias. Uma das histrias que Pedro me contou foi a do

    tempo em que, ainda no tendo se decidido a ser funileiro, trabalhava como fiscalda Prefeitura de So Paulo, onde tinha a funo de fiscalizar o comrcio de rua, oque, segundo ele, era, na poca, uma tarefa bastante perigosa, uma vez que muitoscomerciantes praticavam irregularidades e, uma vez multados, davam de amea-lode morte. Podia ter decidido de outro modo, mas preferiu se garantir e passou aandar armado (a arma de ferro de Ogum e a arma de combate de So Jorge). Masmesmo depois de ter largado a fiscalizao e dado incio oficina de funilaria, nolargou a arma e a carrega junto com ele, ou na sua Braslia 73, vermelha, lindssima(como os trajes de So Jorge). Mas nunca ouvi nada a respeito do uso dessa arma ecreio mesmo que nunca a tenha usado. Alm do que, um sincretismo vivo, comomeu funileiro, no poderia deixar de andar com o ferro de Ogum e a arma de Jor-ge. E, pensando bem, o que mais caracteriza esse meu amigo, o fato de ser rude

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    como um ferreiro, mas gentil e respeitoso como um cavaleiro e, assim, suas atitudesa ele mesmo justificam ser filho de Ogum e devoto de So Jorge. Hoje, me parecemenos estranho que meu amigo sempre tenha manifestado uma certa voluntarie-dade, quando algum conhecido ou amigo esteve em dificuldades ou sob opresso.

    Com certeza, o seu So Jorge/Ogum uma manifestao espontnea, voltada parao bem.Sei que este relato, quase crnica, no o tipo de texto que se espera de um

    editor na apresentao de um livro. Principalmente um livro que o resultado dequase uma vida de pesquisa e dedicao matria nele tratada. Contudo, escolhieste modo de apresent-lo, em um acontimento pessoal, porque, alm de ser umfato absolutamente verdadeiro, ele , visto pelo aspecto do arqutipo, no mnimo,uma sincronicidade comprovvel, onde um livro sobre So Jorge, um acidente deautomvel e um funileiro, juntos, vieram me comunicar que So Jorge est entre

    ns. Alm disso, meu relato pessoal tem o propsito de afirmar o modo como esteSo Jorge: Arqutipo, Santo e Orix, foi elaborado por Maria Augusta Machado, cujapesquisa minuciosa, metodologia clara e precisa, e a perseverana de muitas dcadasde trabalho, transcenderam os aspectos formais e acadmicos de obras dessa monta,e trouxe a ns um So Jorge vvido e, melhor, que nos d a possibilidade de o iden-tificarmos nossa volta, quando ento podemos nos admirar do seu enorme podere influncia em nossa cultura e hbitos sociais e, por que no, at em nossas perso-nalidades, constituindo-se, para alm do mito, em uma espcie de tipo psicolgicoque, enraizado na mente dos homens desde as lutas mitolgicas da cultura sumria,

    , hoje, mais ou menos predominante nesse ou naquele indivduo e, fora os aspectosreligiosos e arquetpicos, modus faciendie modus operandi, h muito j absorvidospelo conhecimento humano, na sua inata luta rumo ao bem comum.

    Dos livros nos quais trabalhei como editor nos ltimos anos, este So Jorge,de Maria Augusta Machado, foi o que menos me preocupou no que importa a teralguma justificativa financeira, pelo mero fato de ter dado a seu texto maravilhoso oaspecto de livro. Diante dele me foi impossvel circunscrever-me postura exclusivade editor. Tambm me vi levado a ser um leitor vido e um aluno atento. E este foi overdadeiro ganho. E creio, sinceramente, que tambm os leitores sentir-se-o, como

    eu, recompensados, quando chegarem ao fim de sua leitura.E para no fugir ao aspecto pessoal de minha apresentao, devo finalizar

    admitindo que, mesmo ainda envolto pela magia desse So Jorge: Arqutipo, Santo eOrix, de Maria Augusta Machado, no me tornei devoto do guerreiro. Contudo,vez ou outra me pego dirigindo pensamentos a ele. Porm, ainda sem poder divisarse meus pensamentos se dirigem ao arqutipo, ao santo ou ao orix. Talvez no hajaa diviso e essa trindade sirva apenas para melhor enxergarmos o seu contorno e,quem sabe, um pouco mais alm.

    Joo Jos de Melo FrancoRio de Janeiro, maro de 2008.

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    Vittorio Carpaccio (1460-1525), So Jorge e o Drago, tmpera sobre tela, 141 x 360 cm, Scuola diSan Giorgio degli Schiavoni, Veneza, Itlia.

    Vittorio Carpaccio (1460-1525), So Jorge e o Drago, detalhe.

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    APRESENTAO DE SO JORGE

    Heri.

    Vencedor de empresas consideradas impossveis.Luz em permanente luta com as trevas.

    Conhecedor das ervas que curam.Mdico.

    Vencedor das magias malvolas.Orculo.

    Enviado do Arcanjo So Miguel.Comandante dos que lutam pelo triunfo da Cruz.

    Guerreiro invencvel.

    Matador de drages e salvador de princesas.Cavaleiro Andante.Guarda do Triunfo Eucarstico.Protetor dos fracos e oprimidos.

    Brao da Justia.Guardio do Bom Poder.

    Segurana dos Poderes Espirituais.Agricultor.

    Protetor dos viajantes.

    Protetor dos que bem negociam.Protetor dos trabalhos manuais.Protetor de corporaes militares.

    Protetor de ofcios relacionados com armas.Vencedor de Demandas.

    Ele ARQUTIPO,

    SANTOE ORIX.

    Ele SO JORGE.

    Ele mora na lua com seu cavalo branco.Ele sai, na fase minguante, em busca de aventuras.

    Ele retorna, na fase crescente, com misses cumpridas.

    Ele casado?Ele solteiro?

    Ele o marido da lua?

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    ORAO A SO JORGEPropiciatria de boa viagem

    So Jorge alevantVestiu-se e car.

    Chegou porta do cuJesus Cristo pergunt:

    Quem t a? S eu, sinh.

    Que quer, Jorge? Fora, nimo e arma,

    pra combat com meus inimigos na guerra.

    Vorta j, Jorge, que tudo te darei:seis cruz: trs s costas e trs frente.

    E na casa dos seus inimigos,encontrar com eles no caminho:

    se pux pelo co do punho,envergaro at o cabo;

    se pux pelo co da arma,enchero dgua at a boca;

    se pux pela foicinha,

    rebentaro com o orvio;se pux pela navia,rebentaro a boca.

    Sete espada, sete sentena.Sempre sereis vencedor,

    com o nome de Deus Pai,Deus Filho e Deus Esprito Santo.

    Rezar este texto 3 (trs) vezes seguidas.

    Orao recolhida em Santo Antnio de Pdua,Rio de Janeiro, RJ, 1976.

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    ORAO DE SO JORGEPara fechar o corpo

    So Jorge, santo invicto,cavaleiro sem par,

    o meu corpo protegei,na terra, no mar, no ar.

    Andarei vestido e armado,com as armas de So Jorge,

    para que meus inimigos

    tendo ps no me alcancem,tendo mos no me agarrem,

    tendo olhos no me enxergueme nem pensamentos eles possam ter

    para me fazerem mal.

    Armas de fogo o meu corpo no alcanaro,faca e lanas se quebraro sem ao meu corpo chegar,

    cordas e correntes se arrebentaro sem o meu corpo amarrar.

    Jesus Cristo, me proteja e me defendacom o poder da sua santa divina Graa.A Virgem Maria me cubra com o seu sagrado manto,

    me protegendo contra todos e contra tudo,e Deus com sua Divina Misericrdia

    seja o meu defensor contra as maldadese perseguies dos meus inimigos.

    Poderoso So Jorge,

    em nome da falange do Divino Esprito Santo,estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas.

    E assim, na aflio,serei tambm acudidocom a vossa proteo!

    Orao publicada emArte, Folclore, Subdesenvolvimento.Souza Barros. Civilizao Brasileira/MEC, 2a. edio.

    1977 pp. 151 e 152.

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    Raffaello Sanzio (1483-1520), So Jorge lutando com o Drago, leo sobre madeira, 28,5 x 21,5 cm,National Gallery of Art, Washington, EUA.

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    INTRODUO

    impossvel a captao das mltiplas vertentes que estruturaram, e continuama estruturar, a personalidade mtica de So Jorge, sem a percepo da dinmica

    dos sincretismos. A anlise comparada das mitologias permite rastreamentos queestabelecem a intensidade e a ocorrncia de trocas culturais. Mitologias desativadas,que subsistem atravs dos seus monumentos artsticos e peas museolgicas, passveisde serem reinterpretadas. Mitologias, aparentemente desativadas, que subsistemem sincretismos formais com religies atuais e no substratus da cultura popular.Tomando como pontos referenciais as religies que atuaram direta e indiretamente nahistria mtica de So Jorge, obtm-se dados que permitem identificar os elementosque convergiram na imagem compsita de um jovem guerreiro cristo, dotado deextrema coragem, que desafiou a estrutura religiosa-estatal do Imprio Romano, e setornou o smbolo da resistncia militar crist opresso do paganismo.

    A religio romana, sobretudo no perodo em que se situa o episdio de SoJorge, caracterizou-se pela aglutinao sincrtica das religies dos povos conquistadosque apresentassem possibilidades de serem romanizadas. Durante a campanha emprol da antiga e tradicional religio romana, os imperadores romanos falavam emsincretismos (campanha que visava a agregao dos sditos de um imprio que setornara excessivamente vasto, dentro de uma organizao religiosa que, deificando apessoa do Imperador, estabelecia as bases da ocupao romana).

    As perseguies ao cristianismo refletem este problema de segurana estatal,que se baseava no reconhecimento da divindade do Imperador e, conseqentemente,na tcita aceitao da organizao romana. O cristianismo dos primeiros tempos, nasua necessidade de se ocultar, usou o recurso de comunicar-se atravs de determinadasrepresentaes pags, ou de velhos smbolos que se recodificavam de forma crist. Ocristianismo apostlico, com o correr dos tempos, usou o recurso dos sincretismos.No sculo V, o Papa Gelsio I cristianizou cultos pagos de impossvel extirpao,por estarem profundamente enraizados na cultura popular e por apresentarem rela-cionamentos com organizaes sociais arcaicas. As invases brbaras ativaram novos

    sincretismos e serviram de suporte estruturao mtica do Cavaleiro cristo, quedar origem Cavalaria Medieval.Durante as Cruzadas, novos sincretismos se processam. O Cavaleiro cristo,

    personificado em So Jorge, o Guerreiro Santo, encontra-se com muitas vertentesorientais que se formaram em torno do Mrtir da Capadcia. Neste encontro, entre oCavaleiro dos cristos ocidentais e o Mdico dos cristos do Oriente, abrem-se novasperspectivas no complexo mundo dos sincretismos. Ressurge, de forma cristianizada,a lenda de Perseu e Andrmeda, que ser levada para a Europa Ocidental, na esteiradas Cruzadas, tornando-se o principal suporte da histria mtica de So Jorge.

    No Brasil, aonde veio por via estatal, e na qualidade de defensor militar doreino de Portugal e dos seus territrios ultramarinos, o culto a So Jorge cedo se con-frontou com o de Ogum, orix iorubano, cujas razes mergulham no denominador

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    comum do Mediterrneo Antigo. Estabelece-se, em torno do Arqutipo comum,o sincretismo, que se deforma com o escravagismo. De Heri Civilizador, deus daAgricultura e da Metalurgia, Ogum se transforma no Heri Vingador, que somentereassumir as suas caractersticas bsicas com a exploso liberatria dos cultos afri-

    canos.

    PRIMEIROS RASTREAMENTOSHISTRICO-MITOLGICOS

    A mais remota pea literria da Antigidade foi escrita em 14 placas de argila, comcaracteres cuneiformes1. A cpia resgatada assrio-babilnica e se apresenta bastantefragmentada2. Sua grande importncia para o presente trabalho a de ter sido a matrizdas epopias, de heris tornados semideuses em suas lutas em favor dos oprimidos,

    e nas fantsticas provas que afrontaram na busca da imortalidade.A epopia tem razes histricas que se

    vinculam com episdios ocorridos em algumafaixa do sculo XXVII a.C., quando se supe queGilgamesh, rei de Erech, lutou contra os gover-nantes de Ur e Kish, derrotando-os e conseguindoa hegemonia da Sumria3.

    Relatos falados, escritos e reescritos, con-

    tam, em muitas verses e em pocas e locais dife-rentes, suas proezas combatendo adversrios sobre-naturais, afrontando deuses irados e dominando

    animais ferozes4. Protegido do deus Shamash5, tornou-se o brao da sua justia.Em suas mltiplas verses, a legenda de Gilgamesh se mesclou com a mitol-

    gica luta travada entre Enlil/Marduk6 e Tiamat7, cuja vitria lhe conferiu a lideranados deuses e a organizao do cu e da terra.

    Sumerianos, acdios, hititas e muitos outros povos do antigo Oriente Prximo,tiveram nas aventuras de Gilgamesh as suas maiores peas literrias.

    EPOPIA MITOLGICA DE GILGAMESHDados extrados da cpia assria. Embora o relato esteja fragmentado, a epopia de Gilgamesh conserva

    certa integridade narrativa

    Uruk, cidade da deusa Ishtar8, durante muitos anos esteve cercada pelos elamitas. Oprolongado stio levou seus habitantes misria e desolao. Por no serem maispropiciados, os deuses os abandonaram. Apenas Shamash, deus do sol e da justia,se apiedou deles e ordenou ao seu protegido Gilgamesh que os salvasse9.

    Gilgamesh era forte, viril, valente, jovem e belo. Exercia enorme fascniosobre crianas, jovens e mulheres. Os homens, no entanto, o odiavam. Gilgameshno deixava nem uma virgem para o seu amado. Por tem-lo cada vez mais, eles

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    foram deusa da cidade suplicando o seu exter-mnio. Ela no os atendeu e eles foram at Araru(a que gerara Ishtar) e repetiram a splica. Araruos atendeu e, para dar combate a Gilgamesh, ela

    criou um animal de grandes propores, formasestranhas e corpo coberto de plos. Eabani, ouEnkidu, o monstro criado por Araru, vivia noscampos, entre animais selvagens e s se alimentavacom plantas e flores.

    No tinha pressa em cumprir a sua mis-so. Impacientes com a demora da luta e sentindo-se cada vez mais ameaados porGilgamesh, os homens de Uruk preparam uma cilada. Foram ao templo de Ishtar econfiaram a uma prostituta sagrada duas misses. Na primeira ela deveria procurar

    Gilgamesh e pedir-lhe proteo contra um monstro que a ameaava. Na segunda,deveria ir aos campos onde vivia Eabani e seduzi-lo. Em seguida, atra-lo cidade,suplicando que a defendesse contra as ameaas de Gilgamesh.

    A mulher executou as duas misses. Antes de partir, Eabani mediu foras comdois lees e os venceu. Eabani e Gilgamesh entraram na luta. Extraordinria e nobreluta marcada pela valentia e lealdade. Luta sem vencido e sem vencedor. Luta quetornou amigos os que deveriam ser adversrios. Amigos inseparveis e companheirosde aventuras.

    Trs sonhos os advertiram de acontecimentos futuros. Uruk seria libertadae Gilgamesh seria coroado rei, Ishtar se apaixonaria por Gilgamesh, que recusariao seu amor, desencadeando a sua fria. Eabani morreria. Tudo ocorreu como foianunciado em sonhos.

    Protegidos pelo deus Shamash, os dois ami-gos combateram os elamitas e levantaram o cerco dacidade. Gilgamesh foi coroado rei e a deusa Ishtarpor ele se apaixonou. Temeroso do amor da deusa, esabendo dos malefcios que lhe trariam, Gilgamesh

    recusou-o. A deusa, irada, foi at seu pai Anu10 epediu castigo para quem desprezara o seu amor. Anua atendeu e criou o touro celeste11 para a destruiodos dois heris.

    Contrariando os desgnios dos deuses, Gilgamesh e Eabani lutaram contrao touro celeste e o mataram. Retiraram seus cornos e os ofereceram deusa Ishtar12.Neste ponto a narrativa se interrompe. retomada contando as punies que foramimpostas a Eabani e Gilgamesh. Para o primeiro, a morte. Para o segundo, a lepra.

    A morte do amigo trouxe muito sofrimento a Gilgamesh. Temendo ser atin-gido por igual destino, Gilgamesh partiu em busca do Um-Napistim para pedir-lhea revelao do segredo da imortalidade. Um-Napistim13 vivia, entre os deuses, naIlha dos Bem-Aventurados.

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    Gilgamesh partiu. No caminho encontrou dois lees que tentaram faz-loretroceder. Ele os dominou e passou. Chegou s guas da morte, guardadas por medo-

    nhos homens-escorpies. Gilgamesh se apavorou.Dominando o seu medo conseguiu comunicar-se

    com eles. Durante muito tempo caminhou entretrevas. Chegando ao mar, avistou um belssimoparque com rvores de cristal e frutos de pedraspreciosas14.

    Sabitu, a Rainha do Mar, veio ao seu encontro e o advertiu que o mar eraintransponvel. Apenas Shamash, deus do sol, conhecia os seus segredos. Gilgameshno se deixou convencer e pediu que ela o auxiliasse. Foi conduzido ao barqueiro15e, durante quarenta e cinco dias, navegou nas guas da morte. Chegando Ilhados Bem-Aventurados, procurou o seu av Um-Napistim e pediu-lhe a revelao

    do segredo da imortalidade. Um-Napistim advertiu o neto da inutilidade de lutarcontra a morte. Gilgamesh contestou-lhe perguntando como ele conseguira se tornarimortal. O av narrou-lhe o episdio do Dilvio e lhe disse que no poderia lhe dara imortalidade, mas poderia revelar-lhe os segredos da cura.

    Um-Napistim enfeitiou Gilgamesh fazendo com que ele ingerisse uma drogamgica. O barqueiro o conduziu Fonte da Purificao, onde ele se banhou, sain-

    do puro como a neve. Um-Napistim revelou aGilgamesh onde crescia a planta da Vida. O heri

    partiu para busc-la, vencendo trabalhos e fadigas.Encontrou a planta, colheu-a, mas no conseguiuret-la porque um leo a arrebatou.

    Gilgamesh regressa a Uruk, atormentadopela saudade do amigo. Chora e suas lgrimas, caindo na terra, fazem com que Eabanilhe aparea sob a forma de um sopro de terra. A narrativa prossegue com o dilogomantido entre Gilgamesh vivo e Eabani morto.

    Eabani revela os segredos do mundo dos mortos e lhe diz o quanto so felizesos que morrem por morte herica, quando so enterrados com honras e cultuados

    por seus familiares. Conta-lhe tambm que so medonhos os suplcios dos mortosinsepultos.

    LUTA DE ENLIL/MARDUKNarrativa que corresponde ao perodo da unificao do Imprio sob Hamurbi*. Descreve a Criao do

    Mundo e a luta do deus Marduk, que o elevou ao pice do panteo babilnico

    No comeo no havia cu, terra e deuses. Havia somente guas reunidas no oceanode Tiamat, a me invisvel concebida no caos. Lanu e Laanu formaram o primeirocasal, que no se reproduziu. Muito tempo depois surgiram Antar e Quisar, fixandono cu e na terra os princpios cosmognicos. Da sua unio nasceu a Grande Trade(Anu-Bel-Ea), de onde se originaram todas as divindades.

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    Anu, por fixar o Princpio Cosmognico, assumiu a paternidade dos deusese a presidncia da Assemblia divina. Quando os deuses deliberaram criar o mundo,entraram em luta. Tiamat, esposa de Quingu (deus do fogo subterrneo) e me deonze filhos com formas ofdias, assumiu o comando de uma das faces. Na faco

    contrria ocorreu algo de muito grave: Anu, pai dos deuses, no teve coragem deassumir o comando para enfrentar a luta.Marduk se props a substitu-lo no

    comando, conquanto assumisse a chefia dosdeuses. Durante um festim, os deuses se em-briagaram e um deles aceitou as condies deMarduk. Anu foi destitudo e o poder passoua Marduk, que a todos dominava com o po-der da palavra. Marduk foi aclamado rei e se

    preparou para o combate. Usou como armas, o vento, o trovo, a chama ardente, oraio e o lao.

    Gibil (deus do fogo celeste) colocou-se ao lado de Marduk, porquanto suamisso o obrigava a combater Quingu (deus do fogo subterrneo). Trevas e luz en-traram em luta. Marduk derrotou Tiamat e lhe arrebatou as tbuas do destino queela roubara dos deuses.

    Partiu seu corpo em dois pedaos, delimitando os territrios dos deuses edos homens. Formou o oceano para que o vento no espalhasse as guas. Sobre as

    guas do abismo construiu o seu palcio celeste. Formou as estrelas para dividir otempo. Criou a terra, os homens e as cidades16. O relato se interrompe neste ponto.Como as placas esto muito fragmentadas, impossvel saber se foi Marduk sozinhoque criou o homem. Sabe-se apenas que o homem foi criado com a argila e o sanguevertido durante a luta.

    DOCUMENTAO ICONOGRFICA DA LUTAMARDUK/TIAMAT

    Luz e Trevas

    Cilindro-selo17 de Guda A luta de Marduk contra Tiamat o tema do cilindro-selode Guda, o usurpador que se fazia passar por filho dos deuses Ningessida e Nin-sum. Intitulando-se Guda e declarando-se profetae enviado, assumiu o ttulo de Patesi (pontfice) aoinvs de rei18.

    A cena retratada a da apresentao de Gu-da19, conduzido at Ningirsu, deus dispensador dasguas, pelo deus protetor Ningissida, que se identi-fica pelos drages que carrega aos ombros.

    Tiamat representada por uma serpentealada e com patas. Sua figura lembra a do drago.

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    Tem garras nas patas dianteiras e ps de ave, nas traseiras. A cabea ornada com umtoucado adornado por um par de cornos.

    DADOS DE APOIO PARA A COMPREENSO

    DO PANTEO BABILNICO1. Grande Trade

    1.a Anu Conceito anmico. Pai dos deuses.

    1.b Bel Senhor da terra. Confere o poder da realeza.

    1.c Ea Deus das guas profundas e das nascentes. Fora criadora que vem do

    ventre da terra. Senhor da sabedoria misteriosa que habita na morada da Sabedoria.Protetor das artes, cincias e trabalhos manuais. Simboliza o mito da procriao.

    2. Trade astroltrica

    2.a Sin Deus da lua e da vegetao, representado com a tiara real e um parde cornos (meia-lua). Porta-voz de Anu, seu pai, na comunicao com os homens.

    2.b Samas (Shamash) Deus do sol e da luz divina. Ajuda Sin a despertar

    a terra para a fecundidade. Inimigo dos criminosos, ladres e todos os que se movi-mentam nas trevas.

    2.c Ishtar A grande deusa que se relaciona com as estrelas matutina e ves-pertina. Deusa da Fertilidade. Deusa-Me. Deusa-Mulher.

    Observao: As deusas-esposas, em seus primrdios, foram duplicatas mas-culinas.

    3. Deusas-Esposas

    3.a Ishtar Deusa da fertilidade e cuja natureza complexa absorve todas ascaractersticas femininas. Muitas vezes representada como mulher, usando coroamural, tendo aos ps um leopardo.

    3.b Alatu Senhora dos mortos. O seu reino, por onde se penetra transpon-do sete portas, separado do reino de Ea por um cinturo ou serpente. Quem nelepenetra no regressa jamais (vide Mito de Tammuz).

    Mito de Tammuz Matriz dos mitos rficos. Relato integrado na epopia deGilgamesh.

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    Tammuz, filho de Ea, morre a cada inverno.Alatu no o recebe em seu reino subterrneo, eele retorna com a primavera. Seu nome significavergntea (broto).

    A deusa Ishtar avista o belo adolescenteTammuz, que apascenta seus rebanhos sombrada rvore da vida, que se estende por toda a terra.Apaixona-se por ele e lhe oferece o seu amor. Te-meroso dos malefcios que lhe podem advir como amor da deusa, Tammuz o repele. Foge das suasapaixonadas splicas e, ao afastar-se, atacado por um javali, que o mata.

    Ishtar, em desespero, busca o amado por toda a terra. No o encontra e vaiprocur-lo no mundo dos mortos, onde reina Alatu. Desce aos infernos e, em cadauma de suas sete portas, abandona uma veste. Inteiramente nua se apresenta diantede Alatu e lhe pede a restituio do amado. A deusa dos mortos diz que tem leis acumprir e no poder libertar quem penetrou no seu reino.

    Embora sabendo que os deuses a queremsobre a terra, Ishtar suplica que Alatu lhe permitair ao encontro de Tammuz. A deusa encontra oamado e se une a ele. Com a sua desapario, a terraentra em desolao. Fecundidade, amor, inspirao

    criadora desaparecem. A humanidade decresce e sebarbariza. Os deuses deixam de receber propicia-es e se renem em assemblia para deliberar sobreo retorno de Ishtar. Pedem a Alatu que transgrida assuas leis e restitua ao mundo divina Ishtar. Alatuatende a splica dos deuses e libera Ishtar, mas ela se recusa a voltar sem o amado.

    Novamente os deuses se renem e pedem a Alatu a liberao de Tammuz. Elaos atende e o divino par retorna com a primavera. Em seu retorno, Ishtar recupera

    as vestes abandonadas em cada uma das sete portas que transpusera.4. Deuses menores

    4.a Ninibi Deus solar com caractersticas belicosas. Representado sob formados touros alados que guardam os templos;

    4.b Nercal Deus do sol escaldante, das pestes e da guerra. Seu smbolo aespada flamejante;

    4.c Gibil Deus do fogo em todas as modalidades. Protetor das lareiras.Fundador dos lares e das cidades. Elo entre os deuses e homens;

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    4.d Nuski Protetor dos templos;

    4.e Nabu Deus da fertilidade dos cam-pos. Responsvel pela germinao do trigo.

    Concepes cosmognicas

    O mundo se originou de uma tradecriadora com funes claramente delimitadas.Anu, regendo o mundo celestial. Bel, o terrestre.Ea, o subterrneo.

    A terra tem o formato do bojo de um barco emborcado.Presidindo os mistrios das guas fecundadas, Ea reina no mundo subterrneo,

    que separado do reino dos mortos (mundo de Alatu) pelo oceano terrestre, queenvolve toda a terra como serpente ou cinturo.

    Na crosta terrestre, separada do reino celeste deAnu pelo oceano celeste (ou atmosfera), reina Bel.

    O horizonte serve de suporte abbada ce-leste.

    Duas portas se situam em cada extremidadeda Terra. Na do leste fica a Montanha Brilhante. Na

    do oeste, a Montanha Obscura.Na Montanha Brilhante, quando se completao ciclo do sol, Marduk e os deuses se renem na C-mara dos Destinos e deliberam sobre os destinos dos

    homens. O sol nasce na Cmara dos Destinos e, aps seguir seu curso, chega portado oeste que se abre para a Montanha Obscura.

    No primeiro dia de cada ano, depois de receber os tributos dos deuses locais,Marduk os rene em assemblia e, em meio ao maior silncio, anuncia os aconteci-mentos que viro no novo perodo20.