Durkheim Emile as Formas Elementares Da Vida Religiosa 1
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202 DURKHEIM
razo.,co.mo.se diz habitualmente,a so.ciedades pagaa rendaem prazosfixo.ssucessivo.s?
O queexplica,julgamo.sns,estatempo.rizao., a maneiraCo.mo.Q tempo.a~eso.brea tend~iaparao.suiccii..~umfato.rauxiliarmasimportantedesta.Com efeito.,
"---G-c61fiecimrnogeraique estapro.grideininterruptamentedesdea juventudeatamaturidade,2.7eguedezv!I,
AS FORMASELEMENTARES DAVIDA RELIGIOSA
(O SISTEMA TOTMICO NA AUSTRLIA)
INTRO'DUCO ECONCLUSO
Traduo.deCarlo.sAlberto.Ribeiro.de Mo.ura
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) o /tut.o(') ~ '\(1\ ~{j.-S')
Ob'eto rincipaldo Iivro~~_~ maissimplesquese!~o'!lt~ci~.comvistasadeterminarasfor-maselementares VI a religiosa,- Por que-ernssao-iDaisacisdeatingiredeexplicaratravsdasreligiesprimitivas.
INTRODUAO
Objeto.deInvestigao.- so.cio.lo.giareligio.saeteo.riado.co.nhecimento.
1 No mesmosentido,diremosdestassociedadesqueelassoprimitivasechamaremosprimitivoaohomemdestassociedades.A expressocarece,semdvida,depreciso,masdificilmente evitvele,alis,quandosetomouo cuidadodedeterminarsuasignificao,elanoapresentainconvenientes.(N. doAo)
Propom2.-!l>sc~.tJ.!dr,nestelivro, ~~Ii.gjamais.primitivae_lT1li~s_simplesque~!ualmentesejacanhecida,fazersuaanlise~.~~ntarexpli'c~}a:'I5izemasdeltm sistema.~gi~-911et:lea maisprimitivaquenas sejadadaabservaa92.andaelepreencheasseguintescandies:em rimeirolugar, precis9_que~!e..!eencantre.__'. ielades
. cjaargamzaao.no.se.jaultrapassadapornenhumaautraemsimplicidade;'iri omals,'preclsoquesejapassvelexplic-Iasemfazerintervirnenhumelemento.tamadadeemprstimo.aumasacledadeanferiar. ----..,......
Esfarar-nas-emasemdescrevera ecanamiadestesistemacamaexatido.eafideli-dadequepaderiamterumetngrafaauumhistariadar.Masnassatarefano.selimitara isto..~ calaca-seproblemasdiferentesdahistriaaudaetnagrafia.Elano.procuracanhecerasfarmascaducasda civilizao.cama nicafim decanhec-Iaserecanstitu-Ias.Mas,cama tadacinciapasitiva,antesdetudo.elatemporabjeto..expli-carumarealidadeatu'f;praxlmaden.
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AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA
nicomeioquetemosparadeterminarascausasqueos suscitaram.Portanto,todasasvezesqueseempreendeexplicarumacoisahumana,tomadaemummomentodetermi-nadodotempo- quersetratedeumacrenareligiosa,deumaregramoral,querdeumpreceitojurdiCO,deumatcnicaesttica,deumregimeeconmico-, precisocome-~ porretrocederatasuaformamaisprimitiva,emaissimples,procurardarcontados
etJ ~acterespelosguaiselase~efinenesteperododesuaeXisto.ncia,deD.ois.mo..str.ar.como_'\ elasedesenvolveuesecomplicoupoucoa pouco,comoelasetornouoquenomomen-..-'9toconsiderado.Ora,cOhcebe-sefacilmentedequeimportanClapr-eStlis6r1edeexpli-
caesprogressivasadeterminaodopontodepartidaaoqualestosubordinadas.Eraumprincpiocartesianoque,nacadeiadasverdadescientficas,o primeiroelodesempe-nhaumpapelpreponderante.Certamente,nopoderiasero casodecolocarnabasedacinciadasreligiesumanooelaboradamaneiracartesiana,isto,umconceitolgi-co, um puropossvel,construdoapenaspelasforasdo esprito.O queprecisamosencontrar umarealidadeconcretaqueunicamentea observaohistricapodenosrevelar.Mas,seestaconcepofundamentaldeveserobtidaporprocessosdiferehtes,permaneceverdadeiroqueela chamadaa desempenharumainflunciaconsidervel
~sobre todaa seqncia.9llJl~j2ro.pQsiQele~A evolubiolgicafoi concebidademaneiracompletamentediferentea partirdomomentoemquesesoube:queexistiamseresmonocelulares.Igualmente,o detalhedosfatosreligiososexplicadodiferentemente,segundosecolocanaorigemdaevoluoo naturismo,o animismoouqualqueroutraformareligiosa.Mesmoossbiosmaisespecializados,senopretendemlimitar-sea umatarefadepuraerudio,sequeremtentardarcontadosfatosqueanali-sam,soobrigadosa escolhertal outaldestashiptesese inspirar-senela.Quereleso
queiram,querno,asquestesqueelesseco)orriiornamnecessariamentea seguinteforma:comoo naturismoou o animiSmframdeterminadosa tomaraquiou ali talaspectoparticular,a enriquecer-seou empobrecer-sedetal ou tal maneira?Portanto,porquenosepodeevitartomarumpartidosobreesteproblemainicialeporqueasolu-oquesedestdestinadaa afetaro conjuntodacincia,onvmabord-Iodefrente; oquenospropomosfazer. '
Poroutrolado,mesmoforadestasrepercussesindiretas,o estudodasteligiespri-I mitivastemporsimesmouminteresseimediatoquedeprimeiraimportncia.
(\) Comefeito,:e til saberemqueconsiS!e_tal ou tal religioparticular,importa~ maisaindainvestigaro uee a rehglaodeumamaneirageral.E esteproblemaqueem
,tdosostempostentoua curiosidll.edosfilsofosen.s-mrazo,poiseleinteressahumanidadeinteira.Infelizmente,o mtodoqueelesordinariamenteempregampararesolvlopuramentedialtico:elesselimitama analisara idiaquesefazemdareli-gio,sobcondiodeilustraros resultadosdestaanlisementalporexemplosempres-tadossreligiesquerealizamdamelhormaneiraseuideal.Mas,seestemtododeveserabandonado,o problemapermaneceinteiroeo grandeservioprestadopelafilosofiafoio deimpedirqueeletenhasidoprescritopelodesdenhodoseruditos.Ora,elepodeserretomadoporoutrasvias.Porquetodasasreligiessocomparveis,porqueelassotodasespciesdomesmognero,existemnecessariamenteelementosessenciaisqueIhessocomuns.Comistonopretendemossimplesmentefalardoscaracteresexterioresevisveisqueelastodasapresentamigualmenteequepermitemdardelas,desdeo comeodainvestigao,umadefinioprovisria;a descobertadestessignosaparentesrelati-vamentefcil,poisa observaoqueelaexigenonecessitaultrapassarasuperfciedascoisas.Masestassemelhanasexterioressupemoutrasquesoprofundas.Na basedetodosossistemasdecrenasedetodososcultosdevenecessariamentehaverumcerto--~-----------------_._--- ---".---_....--------------
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auxiliar-nosa compreendero cnstlanismono suporqueesteprocededa mesmamentalidade,isto,queele feitodasmesmassuperstiese repousasobreosmesmoserros?Eis a comoaimportnciatericaquealgumasvezesfoiatribudasreligiespri-mitivaspodepassarpelondicedeumairreligiosidadesistemticaque,prejulgandoosresultadosdainvestigao,viciava-osdeincio.
Noprecisamosexaminaraquiseexistemrealmenteinvestigadoresquemereceramestacensuraequefizeramdahistriaedaetnografiareligiosaumamquinadeguerracontraa religio.De qualquermaneira,nopoderiaseresteo pontodevistadeumsocilogo.Comefeito,umpostuladoessencialdasociologiaqueumainstituiohuma-
~ .nanopoeriarepousarsobreo erroesobreamentIra:sem-C)ieera~durirazesqueo fielseda si mesmop-a.raJustIfIca-Iospodemser;o~f!l.J:.mofreqente-me,!!e,_errneas;masas razesverdadeirasnodeixamdeexlo.tire tarefadacinciadescobri-Ias.
.:'>Portanto,nofundo,noexistemreligiesfalsas.. suamaneira,todassoverdadei-rastodas!~sl?ondem,mesmo--;:;ede~t:!~p1t:~.~o.~fflas)~ac()Il_dies-dd~sc~-~~I;tncia"humana. uvida,possveldis -Ia se un o umaordemmerrquica.Umasodem
serditassuperioressoutrasnosentidoeiUqueelaspemel11JogofunesmentaismaiseTevaaas< somaisncaS"'ttrtiiaseseninentos,I1eIS1gunimmillScoriCeitos,menossensaese imagens,s- tiza maiSengenhosa.MS--r-. maisreaisqueselamesta.maiOcompexidaeeestamaisataI ea1ade,elasnososuficientespara~Ci . r asreli iescorres generosseparados~Tdas'S()'gualin~n_iereH-gieszassimcomotadQsJl5 seresVIVOS_Q..Hilllmentevivos,desdeos mais~humildes
Stidiosato homem.Portanto,senosdirigimss-religiesprimitivas,nocoma'segunaaintenodedepreciara religioemgeral,poisaquelasreligiesnosomenosi-SpetVis queas outras.Elas respondems mesmasnecessidades,desempenhamo~cl., dependemdas~s cauilli~;portanto,elaspodemserVir"paramanifes-tarigualmentebema naturezadavidareligiosae,porconseguinte,pararesolvero pro-blemaqueoesejamostratar.
Mas pr queconferir-Ihesumtipodeprerrogativa?Por queescolh-Iasdeprefe-rnciaa todasasoutrascomoobjetodenossoestudo?- Unicamentepor razesde~ .' Primeiramente,~ ,pQdemosche~aracompreenderasreligiesmaisrecentessenose . do na . 'ria-amaneirapelaqualelas useram ro ressivamente.Com ~eleito,ahisti1ofiicome earrliseexlicativa uepossvelaplicar-Ihes.~'naselanospermltereso-verumainstituii.oe'mseuselementosconstitutivos,porqueelano-losmostranascendonotempo,unsapsosoutros.Poroutrolado,situandocadaumdelesnoconjuntodascircunstnciasnasquaiselenasceu,elacolocaemnossasmoso
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2 Isto no dizer.semdvida,quetodoluxoestejaausentedoscultosprimitivos.Veremos,aocontrrio,
queemtodareligioseencontramcrenase prticasquenovisama finsestritamenteutilitrios(livro III,capoIV, 2). Mas esteluxo indispensvel vidareligiosa,elepertence suaprpriaessncia.Por outrolado,ele muitomaisrudimentarnasreligiesinferioresdoquenasoutrase istoquenospermitirdeter-minarmelhorsuarazodeser.(N. doA.)
209AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA
Portanto,as civilizaesprimitivasconstituemcasosprivilegiados,porquesocasossimples.Eisaporque,emtodasasordensdefatos,asobservaesdosetngrafosfreqentementeforamverdadeirasrevelaesquerenovaramo estudodasinstituieshumanas.Por exemplo,antesdametadedosculoXIX, estava-seconvencidodequeopaierao elementoessencialdafamlia;noseconcebiaquepudessehaverumaorgani-zaofamiliarnaqualo poderpaternonofosseo princpio.A descobertadeBachofenveiotransformarestavelhaconcepo.Atpocasmuitorecentes,considerava-secomoevidentequeasrelaesmoraisejurdicasqueconstituemo parentescoeramapenasumaspectodasrelaesfisiolgicasqueresultamdacomunidadededescendncia;Bachofeneseussucessores.MacLennan.Morganemuitosoutros,aindaestavamsobainflunciadesteprejuzo.Desdequeconhecemosa naturezadoclprimitivo,sabemos,aocontrrio,queo parentesconopoderiadefinir-sepelaconsanginidade.Pararetomarsreli-gies,a consideraoapenasdasformasreligiosasquenossomaisfamiliaresfezcomqueseacreditassedurantemuitotempoqueanoodedeuseracaractersticadetudooquereligioso.Ora,a religioqueestudamosmaisadiante,emgrandeparte,estranha.
Oa todaidiadedivinElft~~a~QI~s gualssedirigemosntossomuitodiferentes~ "CIquelasqueocupaffi-oprimeirolugaremnossasreligiesmodernas,e,entretanto,elasuxiliar-nos-aoa compreenoermelno[-esislirnJas.Porianto,nadamaisinjustoqueodesdenhoquemuttoSfiTstorladorestmaindapelostrabalhosdosetngrafos.Ao contr-rio,certoquea etnografiafreqentementedeterminou,nosdiferentessetoresdasocio-logia,asmaisfecundasrevolues.Por outrolado,foi pelamesmarazoquea d~sco-bertadosseresmonocelulares,da qualfalvamosh pouco,transformoua idiaquecorrentementesefaziadavida.Comonestesseresmuitosimplesa vidaestreduzidaaseustraosessenciais,maisdifcilqueestestraospermaneamdesconhecidos.
Mas asreligiesprimitivasnopermitemapenasdistinguiroselementosconstitu-tivosdareligio;gozamtambma vantagemmuitograndedefacilitarsuaexplicao.Porqueaquiosfatossomaissimples,asrelaesentreosfatostambmsomaisapa-rentes.As razespelasquaisoshomensexplicamseusatosaindanoforamelaboradasedesnaturadasporumareflexoerudita;elasestomaisprximas,maisaparentadasaosm>veisquerealmentedeterminaramestesatos.Para compreenderbemumdelrioepoderaplicar-lheo tratamento.maisapnmrill~o,o mdicoprecisasaberqualfoi o seu
S( pontoinicial.Ora,esteacontecimento tantomaisrcildediscernirquandosepodebservarestedelrioemumperodomaisprximodeseucomeo.Ao contrrio,maissedeixa doenao tempodesedesenvolver,maiselaseesquiva observao;que,nopercurso,intervieramtodosostiposdeinterpretaesquetendema reprimirnoincons-cienteo estadooriginalea substitu-Ioporoutrosatravsdosquaisalgumasvezespe-nosoreencontraro primeiro.Entreumdelriosistematizadoe asprimeirasimpressesquelhederamnascimento,freqentementeadistnciaconsidervel.Aconteceo mesmocomo pensamentoreligioso.Na medidaemqueeleprogridenaHistria,ascausasqueo chamaram existncia,permanecendosempreativas,nosomaispercebidassenoatravsdeumvastosistemadeinterpretaesqueasdeformam,j\smitologiaspopulareseasteologiassutisfizeramseu-trabafu:elassobrepuseramaossentimentospnm1hvos
Imentosmuitodiferentesque,dependendodosprimeiros,dosguaiselessoa forma~eT.fada,entretantOnao deixamtransparecersuajljtt~.!~zay_erdadeiraseno.'11ui!o_imperfeitamente.A distnCiapsicolgicaentrea causaeo efeito,entreacausaaparentee a causaefetiva,tornou-semaisconsidervele maisdifcilparao espritopercorr-Ia.Estaobraserumailustraoe umaverificaodestaobservaometodolgica.Aquiver-se-como,nasreligiesprimitivas,o fatoreligiosotrazaindavisvelo cunhodesuas
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~nmero derepresentaesfundamentaisede.atitudl:S..Ei!!I~i~.qlJ.~..!..Il1.a1gr.lld.o..adi.vers.ida..d.e
dasforinasqueumaseoutraspuderamrevestir,emtodasas~tes_t~nJame$.ma)~ignifi-caoobjetivaeemtodasaspartespreenchemasmesmasfun~_e~Soesteselementospermanentesqueconstituemo quehdeeternoedehumanonareligio;elessotodoocontedoobjetivodaidiaqueseexprimequandosefalada religio emgeral.Comopossvelchegaraatingi-Ios?
Certamente,noobservandoasreligiescomplexasqueaparecemnodecorrerdahistria.Cadaumadelasestformadadeumatalvariedadedeelementosque muitodifcildistinguirnelaso secundriodoprincipal,o essencialdoacessrio.Queseconsi-deremreligiescomoasdoEgito,dandiaoudaantiguidadeclssica!Soumemara-nhadoespessodecultosmltiplos,variveiscomaslocalidades,comostemplos,comasgeraes,asdinastias,asinvases,etc.Nelasassuperstiespopularesestomisturadasaosmaisrefinadosdogmas.Nemo pensamentonema atividadereligiosaestoigual-mentedistribudosnamassadosfiis;segundooshomens,osmeioseascircunstncias,tantoas crenasquantoos ritos sosentidosde maneirasdiferentes.Aqui existempadres,ali monges,emoutrolugarleigos;existemmsticose racionalistas,telogoseprofetas,etc.Nestascondies,difci~ceber o quecomumatodos.Pode-seencon-traro meiodeestudarutilmente,atravsdeumoudeoutrodestessistemas,taloutalfatoparticularqueali seencontraespecialmentedesenvolvido,comoo sacrifcioou oprofetismo,o monacatoou osmistrios.Mascomodescobriro fundocomumdavidareligiosasoba luxuriantevegetaoquea recobre?Como,soba contradiodasteolo-gias,asvariaesdosrituais,amultiplicidadedosagrupamentos,adiversidadedosindi-vduos,reencontrarosestadosfundamentais,caractersticosdamentalidadereligiosaemgeral?
Nas sociedadesinferiores,tudo completamentediferente.O menordesenvolvi-mentodas individualidades,a extensomaisfracado grupo,a homogeneidadedascircunstnciasexteriores,tudocontribuiparareduziraomnimoasdiferenaseasvaria-es.O gruporealiza,demaneiraregular,umauniformidadeintelectualemoraldeguesencontramosrarosexemplosnassociedadesmaisadiantadas.Tudocomumatodos.
SiiiOViTIentossoestereotipados,todomundoexecutaosmesmosatos,nasmesmascircunstncias,eestaconformidadedacondutanofazsenotraduziraqueladopensa-mento.Todasasconscinciasestandoencadeadasnasmesmascorrentes,o tipoindivi-
dualquaseseconfundecomo tipo~. Ao mesmotempoquetudouniforme,tudo'["simples.NadamaisrudedoqueestesmitoscompostosdeumnicoemesIl10temaqueserepetesemfim,doqueestesritosque"sofeitosdeumpequenonmerodegestosTe"COl"Ileadssaciedade.A imaginaopopulare sacerd6talaiud-Ilo"tevenem-otemponemsmeiosderefinaredetransformaramatria-primadasidiasedasprticasreligiosas;portanto,estamatriasemostraanueseofereceporsimesma observao,bastandoumesforomnimoparadescobri-Ia.O acessrio,o secundrio,osdesenvolvimentosdeluxoaindanovieramescondero principal.2 Tudoestreduzidoaoindispen-svel,quilosemo quenopoderiahaverreligio.Mas o indispensvel tambmoessencial,isto,o queantesdetudoimportaconhecer.
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3 V-sequedamos palavraorigem,como palavraprimitivo,umsentidocompletamenterelativo,EQten-demospor istono um comeoabsoluto.maso maissimplesestadosocialqueatualmente conhecido,aquelealmdqualnonos presentementepossvelremontar.Quandofalarmosdasorigens,doscomeosdahistriaoudopensamentoreligioso. nestesentidoquetaisexpressesdeveroserentendidas.(N. doA.)
""ii,~,,-0,~Ji&WJI ~jM.J:;~,,~,;
4 Dizemosdo tempoe do espaoquesocategorias,porqueno hnenhumadiferenaentreo papelquedesempenhamestasnoesnavidaintelectualeaqueleatribudosnoesdegnerooudecausa.(Versob~eestepontoHamelin,EssaiSUl'leslmelltsPrincipauxdeIa Reprselltation,pp.63.76.Paris,Alcan,depOISP.U.F.)(N. doA.)
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Mas nossainvestigaonointeressaapenas cinciadasreligies.Com efeito,todareligiotemumladopeloqualelaultrapassao crculodasidiaspropriamentereli-giosase,atravsdisto,o estudodosfenmenosreligiososforneceummeioderenovarproblemasque,ato presente,noforamdebatidossenoentrefilsofos.
Sabe-sedesdemuitotempoque?s primeirossistemasde representaesque'ohomemsefezdo mundoedesi mesmosodeorigemreligiosa.No...exis.te..religioqUenosejaumacosmologiaao mesmotempoqueumaespeculaosobreo divino.s afilosofiaeascinciasnasceramdareligio,queaprpria.religiocomeouporocuparo lugardascinciasedafilosofia.Maso quefoi menosnotadoqueelanoselimitoua enriquecercomumcertonmerodeidiasumespritohumanopreviamenteformado;elacontribuiutambmparaform-lo.Os homensnolhedeveramapenasumanotvelparceladamatriadeseusconhecimentos,mastambma formasegundoa qualessesconhecimentossoelaborados.
Existe,na basedenossosjulgamentos,umcertonmerodenoesessenciaisquedominamtodaa nossavidaintelectual;soaquelasqueos filsofos,desdeAristteles,chamamdecategoriasdoentendimento:noesdetempo,deespao,4 degnero,nme-ro,causa,substncia,personalidade,etc.Elascorrespondemspropriedadesmaisuni-versaisdascoisas.Elassocomoquadrosrgidosqueencerramo pensamento;estepare-cenopoderlibertar-sedelassemsedestruir,poisnoparecequepossamospensarobjetosquenoestejamnotempoounoespao,quenosejamnumerveis,etc.As ou-trasnoessocontingentese mveis;nsconcebemosqueelaspossamfaltara umhomem,a umasociedade,a umapoca;aquelasnosparecemquaseinseparveisdofuncionamentonormaldoesprito.Socomoa ossaturadainteligncia.Ora,quandoseanalisammetodicamenteascrenasreligiosasprimitivas,encontram-senaturalmenteemseucaminhoas principaisdessascategorias.Estasnasceramnareligioeda religio;soumprodutodo pensamentoreligioso. umaconstataoquefaremosvriasvezesnodecorrerdestaobra.
Objetosecundriodainvestigao:gnesedasnoesfundamentaisdopensamentooucategorias.- Razesparaacreditarqueelastm umaorigemreligiosae,por.conseguinte,social.- Como,destepontodevista,seentrevummeioderenovara teoriadoconhecimento.
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origens;ter-nos-iasidobemmaisrduoinferi-Ioconsiderandoapenasasreligiesmaisdesenvolvidas.
Portanto,o estudoqueempreendemos umamaneifltdeJ~tQmar+Jnasemcondi-\\)[es novaS,--v~oblema qa ongernosrcl1giG#d."S '1l,\\V,~i5OV 1-'c ~~\.J~ 60 L
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Ver,emapoioa estaassero,emHuberte Mauss,Mlangesdllistoire Religieuse(Travauxdel'AnneSociologiqueJ,o captulosobre"A RepresentaodoTemponaReligio"(Paris,Alean).(N. doA.) Atravsdistov-setodaadiferenaqueexisteentreo complexodesensaesedeimagensqueserveparanosorientarnaduraoe a categoriadetempo.As primeirassoo resumodeexperinciasindividuaisqueno sovlidassenoparao indivduoqueasfez.Ao contrrio,Q queexprimea categoriadetempo umtem comumao grupo, o temposocial,seassimse de falar.Ela mesma umaverdadeirainstituiosocial.E tam emparucuarao ornem;o animalnotemrepresentaodestegnero.Estadistinoentrea categoriadetempoeassensaescorrespondentespoderiaigualmenteserfeitaa pro-psitodo espaoe da causa.Talvezelaajudassea dissiparalgumasconfusesquealimentamas contro-vrsiasdasquaisestasquestessoobjeto.Retomaremosa estepontonaconclusodestaobra(4).(N. doA.)7 Op.cit.,p.75eseguintes.(N. doA.)
Estaobservaoj temporsimesmaorigeminteresse;maseiso quelhedsuaver-dadeiraimportncia.
A conclusogeraldolivroquesevailerqueareligioumacoisaeminentemente~ As representaesreligiosassorepresentaescoletivasqueexprimemrealida-descoletivas;osritossomaneirasdeagirquenascemnoseiodosgruposreunidosequesodestinadosa suscitar,a manterou a refazercertosestadosmentaisdessesgrupos.Mas ento,!e ascategoriassodeorigemreligiosa,elasdevemparticipardanaturezacomuma todosos fatosreligiosos:elastambmdevemsercoisassociais,produtosdopensamentocoletivo.Pelomenos- pois,noestadoatualdenossosconhecimentosnestamatria,devemosnosguardardetodateseradicale exclusiva- legtimosuporqueelassoricasemelementossociais.
isto,alis,que,desdej, sepodeentreverparaalgumasdelas.Quesetente,porexemplo,representaro queseriaa noodetempo,abstraofeitadosprcessospelosquaisnso dividimos,o medimos,o exprimimospormeiodesignosobjetivos,umtempoquenoseriaumasucessodeanos,demeses,desemanas,dedias,dehoras!Istoseriaalgoquaseimpensvel.Nopodemosconcebero temposenosobcondiodedistinguirnelemomentosdiferentes.Ora,qualaorigemdestadiferenciao?Semdvida,osesta-dosdeconscinciaquensj experimentamospodemproduzir-seemns,naprpriaordememqueprimitivamentesedesenvolveram;eassimporesdenossopassadotor-nam-sepresentes,distinguindo-seespontaneamentedo presente.Mas,pormaisimpor-tantequesejaestadistinoparanossaexperinciaprivada,faltamuitoparaqueelasejasuficienteparaconstituiranoooucategoriadetempo.Estanoconsistesimplesmenteemumacomemoraoparcialou integraldenossavidapassada.Ela umquadroabs-tratoe impessoalqueenvolvenoapenasnossaexistnciaindividualmasa dahumani-dade.Ela umquadroilimitadoondetodaduraoestexpostasobo olhardoespritoe ondetodosos acontecimentospossveispodemsersituadosemrelaoa pontosderefernciafixose determinados.~!o meutempoqueassimpodeserorganizado;otempotal como objetivamentepensadoportodososhomensdeumamesmaciviliza-~ Apenasistoj suficienteparafazerentreverqueumatal organizaodevesercoletiva.E, comefeito,a observaoestabelecequeestespontosdeapoioindispensveis,emrelaoaosquaistodasascoisassoclassificadastemporalmente,soemprestados vidasocial.As divisesemdias,semanas,meses,anos,etc.,correspondemperiodici-dadedosritos,dasfestas,dascerimniaspblicas.5 Um calendrioexprimeo ritmodaatividadecoletivaaomesmotempoquetemporfunoassegurarsuaregularidade.6
O mesmoacontececomo espao.Comoo demonstrouHamelin,7 o espaonoestemeiovagoeindeterminadoqueKarittinhaimaginado:puraeabsolutamentehomo-gneo,elenoserviriaparanadae mesmonoapresentariaproblemasaopensamento.
Deoutramaneira,paraexplicaresteacordo,seriaprecisoadmitirquetodosos indivduos,emvirtudedesuaconstituioorgnico-psquica,soespontaneamenteafetadosdamesmamaneirapelasdiferentespartesdoespao:o quetantomaisinverossimilhantequantoasdiferentesregiessoporsimesmasafetivamenteindiferentes.Alis, asdivisesdoespaomudamcomassociedades;aprovadequeelasnosoexclusiva-mentefundadasnanaturezacongenialdohomem.(N. doA.)9 VerDurkheime Mauss,SobreAlgumasFormasPrimitivasdeClassificao,in AnneSociologique,VI,p.47eseguintes.(N. doA.)10 Ibid, p.34eseguintes.(N. doA.)11 Zuiii Creat!onMyths,in 13thReportof theBureauof AmericanEthnology.p. 367e seguintes.(N. doA.)
\ 2 V. Hertz,A Preeminnciada Mo Direita. EstudodePolaridadeReligiosa,in RevuePhilosophique,
d~zemhrode1909.Sobrea mesmaquestodasrelaesentrea representaodoespaoe a formadacoleti-VIdade,veremRatzel,PolitischeGeographie.o captulointitulado"Der RaumimGeistderVlker" - OEspaono EspritodoPovo.(N. doA.)
213AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA
A representaoespacialco~sis~eesse~cialmentenumaprimeiracoordenaointrodu-zidaentreosdadosdaexpenenclasenslvel.Masestacoordenaoseriaimpossvelseaspartesdoespaofossemqualitativa~enteequiv.alentes,seelasrealmentefossemsubsti-tuveisumassoutras.Parapoderdisporespacialmenteascoisas,precisopodersitu-Ias diferentemente:colocarumas direita,outras esquerda,estasno alto,aquelasembaixo,nonorteouno sul,a lesteou a oeste,etc.,etc.,damesmamaneiraque,paradisportemporalmenteosestadosdeconscincia, precisopoderlocaliz-Iosemdatasdeterminadas.O querepresentadizerqueo espaonopoderiaserelemesmose,assimcomoo tempo,elenofossedivididoe diferenciado.Mas estasdivises,quelhesoessenciais,deondeprovm?Por si mesmo,elenotemnemdireitanemesquerda,nemaltonembaixo,nemnortenemsul,etc.Todasestasdistinesevidentemefteprovmdofatodequevaloresafetivosdiferentesforamatribudossregies.E comotodososho-mensdeumamesmacivilizaorepresentamo espaodeumamesmamaneira,precisoevidentementequeestesvaloresafetivoseasdistinesquedeledependemIhessejamigualmentecomuns;o queimplicaquasenecessariamentequeelassodeorigemsocial.8
Existem,alis,casosemqueestecartersocialsetornamanifesto.Existemsocieda-desnaAustrliaenaAmricado Norteondeo espaoconcebidosoba formadeumcrculoimenso,porqueo prprioacampamentotemumaformacircular,9e o crculoespacialexatamentedivididocomoo crculotribale imagemdesteltimo.Na triboexistemtantasregiesdistintasquantosclseo lugarocupadopelosclsnointeriordoacampamentoquedeterminaa orientaodasregies.C'adaregiosedefinepelototemdoclaoqualela atribuda.Junto aosZuni,porexemplo,o pueblocompreendesetepartes;cadaumadestaspartesumgrupodeclsquetevesuaunidade:segundotodaaprobabilidade,eleeraprimitivamenteumclnicoqueemseguidasesubdividiu.Ora,oespaocompreendeigualmenteseteregiesecadaumadestassetepartesdomundoestemrelaesntimascomumapartedopueblo,isto,comumgrupodecls.1o "Assim"dizCushing,"umadivisoconsideradaestaremrelaocomonorte;umaoutrarepre-sentao oeste,umaoutrao sul,11etc."Cadapartedopueblotemumacorcaratensticaque simboliza;cadaregiotema suaque exatamenteaquelado bairrocorrespon-dente.No decorrerdahistria,o nmerodosclsfundamentaisvariou;o nmerodas
regiesdoespaotambmvarioudamesmamaneira.Assim,a organizaosocialfoiomodelodaorganizaoespacialque comoumdecalquedaprimeira.No existenemmesmodistinodaesquerdaedadireitaque,longedeestarimplicadananaturezadohomememgeral,nosejaverossimilhantementeo produtoderepresentaesreligiosas,logo,coletivas.12
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, 3 No pretendemosdizerqueo pensamentomitolgicoo ignore,masqueeleo abolemaisfreqentementee maisabertamentequeo pensamentocientfico.Inversamente,mostraremosqueacincianopodenovio-l-Io,aomesmotempoconformando-sea elemaisescrupulosamentequea religio.Entrea cinciaea reli-giosexistem,sobesteaspectocomosobvriosoutros,diferenasdegraus;mas,senoprecisoexager-Ias,importantenot-Ias,poiselassosignificativas.(N. doA.)1 4 Estahiptesej tinhasido emitidapelosfundadoresda V6/kerpsych%gie.Encontra-senotadamenteindicadaem um curto artigode Windelband,intituladoDie Erkenntniss/ehreunterdemvO/kerpsyc%-gischemGesichtspunkte.in Zeitsch.j V6/kerpsyh%gie.VIII, p. 166eseguintes.Cf. umanotadeSteinhalsobreo mesmotema,ibid.p. 178eseguintes.(N. doA.)15 MesmonateoriadeSpencer, coma experinciaindividualquesoconstrudasascategorias.Sobesteaspecto,anicadiferenaqueexisteentreo empirismoordinrioeo empirismoevolucionistaque,segundoesteltimo,osresultadosdaexperinciaindividual"soconsolidadospelahereditariedade.Mas estaconsoli-daono lhesacrescentanadadeessencial;no penetrana suacomposionenhumelementoquenotenhasuaorigemnaexperinciado indivduo.Igualmente,nestateoria,anecessidadecomaqualascatego-riasseimpematualmentea ns o produtodeumailuso,deumprejuzosupersticioso,fortementeenrai-zadonoorganismo,massemfundamentonanaturezadascoisas.(N. doA.)
Encontrar-se-o,maisadiante,provasanlogasrelativass noesde gnero,fora,personalidadeeeficcia.Pode-setambmperguntarseanoodecontradionodependetambmdecondiessociais.O quelevaa issoqueo imprioqueelaexerceusobreo pensamentovariousegundoo tempoeassociedades.O princpiodeidentidadedominahojeo espritocientfico;masexistemvastossistemasderepresentaesquedesempenharamnahistriadasidiasumpapelconsiderveleondeelefreqentementedesconhecido:soas mitologias,desdeasmaisgrosseirasatasmaisengenhosas.13Nelas,semcessar,estoemquestoseresquetmsimultaneamenteosatributosmaiscontraditrios,que simultaneamenteso unose vrios,materiaise espirituais,quepodemsubdividir-seindefinidamentesemnadaperderdoqueosconstitui;emmitologia,umaxiomaqueaparteequivaleaotodo.Estasvariaespelasquaispassounahistriaa regraqueparecegovernarnossa\gicaatualprovamque,longedeestarinscritaportodaa eternidadenaconstituiomentaldohomem,eladepende,pelomenosemparte,defatoreshistricos.porconseguintesociais.No sabemosexatamentequaissoeles;maspodemospresumirqueexistem.14
Umavezadmitidaestahiptese,o problemadoconhecimentocoloca-seemtermosnovos.
Ato presente,apenasduasdoutrinasestavamempauta.Parauns,ascategoriasnopodemserderivadasdaexperincia:elaslhesologicamenteanterioreseacondicio-nam.Sorepresentadascomotantosdadossimples,irredutveis,imanentesaoespritohumanoemvirtudedasuaconstituionativa.Eisporquesedizquesoapriori.Paraoutros,ao contrrio,elasseriamconstrudas,feitasdepease pedaos,e o indivduoseriao operriodestaconstruo.15
Masumaeoutrasoluolevantamgravesdificuldades.Adota-seateseempirista?Entoprecisoretirarscategoriastodasassuascarac-
tersticas.Com efeito,elasdistinguem-sede todosos outrosconhecimentospor suauniversalidadeenecessidade.Soos conceitosmaisgeraisqueexistemporqueseapli-cama todoo reale,damesmamaneiraquenoestoligadasa nenhumobjetoparticu-lar,soindependentesdetodosujeitoindividual:elassoo lugarcomumondeseencon-tramtodososespritos.Almdo mais,estesseencontramaquinecessariamente;poisarazo,quenooutracoisaqueo conjuntodascategoriasfundamentais, investidadeumaautoridadequalnopodemosnossubtrairvontade.Quandotentamosnosinsur-gircontraelaenoslivrardealgumasdestasnoesessenciais,chocamo-noscontravivas
resistncias.Portanto,noapenaselasindependemdens,masimpe-sea ns.Ora,osdadosempricosapresentamcaracteresdiametralmenteopostos.Uma sensao,umaimagemrelacionam-seaumobjetodeterminadoouaumacoleodeobjetosdestegne-roeexprimemo estadomomentneodeumaconscinciaparticular:elaessencialmenteindividuale subjetiva.Tambmpodemosdispor,comumaliberdaderelativa,dasrepre-sentaesquetmestaorigem.Semdvida,quandonossassensaessoatuais,elasimpem-sea nsdefato. Mas, dedireito.permanecemossenhoresdeconceb-Iasdeoutramaneira,de nosrepresent-Iascomodesenrolando-seemumaordemdiferentedaquelanaqualelasforamproduzidas.Faceaelas,nadanQsprende,enquantoconside-raesdeumoutrogneronointervm.Portanto,eisadoistiposdeconhecimentoquesocomoquedoisploscontrriosdainteligncia.Nestascondies,reconduzirarazo experincia faz-Iadissipar-se;poisreduzirauniversalidadeea necessidadequeacaracterizama purasaparncias,ilusesquepodemserpraticamentecmodasmasquenocorrespondema nadanascoisas;,porconseguinte,recusartodaarealidadeobje-tiva vidalgicaqueascategoriastmpor funoregulareorganizar.O empirismoclssicochegaaoirracionalismo;talvezsejamesmoporesteltimonomequeconviriadesign-Io.
Os aprioristas;malgradoo sentidoordinariamenteligadoaosrtulos,somaisrespeitososcomosfatos.Vistoqueelesnoadmitemcomoverdadeevidentequeascate-goriassofeitasdosmesmoselementosquenossasrepresentaessensveis,elesnosoobrigadosaempobrec-Iassistematicamente,aesvazi-Iasdetodocontedoreal,aredu-zi-Iasasimplesartifciosverbais.Eleslhesdeixam,aocontrrio,todososseuscaracteresespecficos.Os aprioristassoracionalistas;elescremqueo mundotemumaspectol-gicoquea razoexprimeemgraueminente.Mas paraisso,-Ihesprecisoatribuiraoespritoumcertopoderdeultrapassara experincia,deacresceraoquelheimediata-mentedado;ora,destepodersingularelesnooferecemnemexplicaonemjustifica-o.Pois limitar-sea dizerqueele inerente naturezadaintelignciahumananooexplica.Seriaprecisoaindafazerentreverdeondenstemosestasurpreendenteprerro-gativaecomopodemosvernascoisasrelaesqueo espetculodascoisasnopoderianosrevelar.Dizerquea prpriaexperinciaspossvelsobestacondiotalvezdes-locaro problema,no resolv-Io.Poistrata-seprecisamentedesaberdeondeprovmquea experincianosejasuficientepor si mesma,massupecondiesquelhesoanteriorese exteriorese comoacontecequeestascondiessorealizadasquandoecomoconvm.Pararespondera estasquestes,imaginou-sealgumasvezes,acimadasrazesindividuais,umarazosuperiore perfeitadaqualasprimeirasemanariamedequeelasteriam,porumtipodeparticipaomstica,suamaravilhosafaculdade:eraarazodivina.Masestahiptesetempelomenoso graveinconvenientedeestarsubtradaa todocontroleexperimental;portanto,elanosatisfazascondiesexigveisdeumahiptesecientfica.Almdo mais,as categoriasdo pensamentohumanojamaisestofixadassobumaformadefinida;fazem-se,desfazem-see refazem-seininterruptamente;mudamsegundooslugareseostempos.A razodivina,aocontrrio,imutvel.Comoestaimutabilidadepoderiadarcontadestaincessantevariabilidade?
Taissoasduasconcepesquesechocamumacontraaoutradesdesculos;e,seo debateseeterniza,porqueemverdadeosargumentostrocadosseequivalemsensivel-mente.Sea razoapenasumaformadaexperinciaindividual,noexistemaisrazo.Por outrolado,selhereconhecermosos poderesqueelaseatribui,semsedarcontadisso,parecequea colocamosforadanaturezaedacincia.Em presenadestasobje-esopostas.o espritopermaneceindeciso.- Mas.seseadmitea origemsocialdas
215AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSADURKHEIM214
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1. Podealgumsesurpreendertalvezporquenodefinimoso apriorismopelahiptesedoinatismo.Masnarealidadeestaconcepodesempenhanadoutrinaumpapelapenassecundrio. umamaneirasimplistadeserepresentara irredutibilidadedosconhecimentosracionaisaosdadosempricos.Dizerdosprimeirosqueelessoinatosno passadeumamaneirapositivadedizerqueelesnosoumprodutodaexperinciatalcomoelaordinariamenteconcebida.(N. doA.)17 Pelomenosnamedidaemqueexistemrepresentaesindividuaise,porconseguinte,integralmenteemp-ricas.Mas defato,verossimilhantemente,noexistenenhumanaqualestesdoistiposdeelementosnoseencontremestreitamenteunidos.(N. doA.)1. Por outrolado,noprecisoentenderestairredutibilidadeemsentidoabsoluto.Noqueremosdizerqueno existanadanasrepresentaoesempricasqueanuncieasrepresentaesracionais,nemquenoexistanadano indivduoquepossaserolhadocomoo anncioda vidasocial.Se a experinciafossecompleta-menteestranhaa tudoo que racional,a razonopoderiaaplicar-sea ela;igualmente,sea naturezaps-quicado indivduofosseabsolutamenterefratria vidasocial,a sociedadeseriaimpossvel.Portanto,umaan~lisecompletadascategoriasdeveriainvestigaratna conscinciaindividualestesgermesderacionali-dade.Ns teremosocasioderetomara estepontoem'nossaconcluso.Tudoquantoqueremosestabeleceraquique,entreestesgermesindistintosderazoe a razopropriamentedita,existeumadistnciacompa-rvelquelaqueseparaaspropriedadesdoselementosmineraisdosquaisestformadoo servivoeosatri-butoscaractersticosdavida,umavezqueelaestconstituda.(N. doA.)
categorias,uma nova atitudetorna-sepossvel,permitindo,acreditamos,escapardestasdificuldadescontrrias.
'A proposiofundamentaldo apriorismo queo conhecimento formadode doistipos de elementosirredutveisum ao outro e como que de duas camadasdistintasesuperpostas.16 Nossa hiptesemantmintegralmenteeste princpio. Com efeito, osconhecimentoschamadosempricos,os nicosdosquais os tericosdo empirismosem-prese servirampara construira razo, so aquelesquea aodiretadosobjetossuscitaem nossos espritos.So portantoestadosindividuais,que se explicaminteiramente1 7pela naturezapsquicado indivduo.Ao contrrio,se,comons o pensamos,as catego-rias so,representaesel'sencialmentecoletivas,elastraduzemantesdetudoestadosdacoletividade:dependemda maneirapela qual esta constitudae organizada,de suamorfologia,de suasinstituiesreligiosas,morais,econmicas,etc.Portanto,entreestasduasespciesde representaesexistetoda a distnciaqueseparao individualdo sociale tanto no se pode derivar as segundasdas primeirasquanto no se pode deduzir asociedadedo indivduo, o todo da parte,o complexodo simples.18 A sociedade uma
realidadesui generis;ela temseuscaracteresprpriosqueno sereencontram,ou no sereencontramsob a mesmaforma, no resto do universo.As representaesque a expri-memtm,portanto,um conteudocompletamentediferenteque as representaespura:=..-!TIenteindividuaise pode-sede incio estarsegurodequeasprimeirasacrescentamalgu-E!.,acoisassegunds.
A prpria maneirapelaqual seformamumaseoutrasasdiferencia.As representa-escoletivasso o produto de uma imensacooperaoqueseestendeno apenasnoespao,mas no tempo; para faz-Ias,uma multido de espritosdiversosassociaram,misturaram,combinaramsuasidiase sentimentos;longassriesde geraesacumula-ram aqui sua experinciae seu saber.Uma intelectualidademuito particular, infinita-mentemais rica e mais complexado que a do indivduo,estaqui, portanto,como queconcentrada.Compreende-sedesdeento como a razo tem o poderde ultrapassaracapacidadedos conhecimentosempricos.Ela no o devea no seiqual virtudemiste-riosa, mas simplesmenteao fato de que, segundouma frmula conhecida,o homemduplo. Nele existemdois seres;um ser individual quetemsua baseno organismo,cujocrculo de ao seencontra,por isto mesmo,estreitamentelimitado;e um sersocialquerepresentaem ns a mais alta realidadena ordem intelectuale moral que possamosconhecerpelaobservao.isto . a sociedade.Esta dualidadedenossanaturezatempor
217AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA
conseqncia,na ordemprtica,a irredutibilidadedo ideal moralao mvelutilitrio,e,lia ordemdo pensamento,a irredutibilidadeda razo experinciaindividual.Na medi-,daemqueparticipada sociedade,o indivduoultrapassanaturalmentea si mesmo,tantoquandopensacomoquandoage.~"-E5"se mesmocartersocial permitecompreenderde onde vem a necessidadedas
categorias.Diz-se deumaidiaqueelanecessriaquando,por umtipo devirtudeinter-na, seimpeao espritosemseracompanhadapor nenhumaprova.Portanto,existenelaalgoqueobrigaa inteligncia,quearrebataa adesosemexameprvio.Esta eficciasin-gui3f, o apriorismoa postulamasdelano sed conta;pois dizerqueas categoriassonecessriasporqueso indispensveisao funcionamentodo pensamento simplesmente
repetirqueelas so necessrias.Mas, seelastma origemquens lhesatribumos,suainflunciano tem mais nada que surpreenda.Com efeito,elas exprimemas relaesmaisgeraisqueexistementreas coisas; ultrapassandoemextensotodasas nossasou-trasnoes,elasdominamtodo o detalhede nossavida intelectual.Portanto, sea cadamomentodo tempoos homensno seentendessemsobreestasidiasessenciais,seelesno tivessemuma concepohomogneado tempo,do espao,da causa,do nmero,ete.,todo acordoentreas intelignciastornar-se-iaimpossvele, por conseguinte,todaavidacomum.Igualmente,a sociedadeno podeabandonaras categoriasao livre arbtrio
dos particularessemabandonara si mesma.Para poder viver,ela no s temnecessi-dadede um suficienteconformismomoral, mas existetambmum mnimo de confor-mismolgico, semo qualelano podesubsistir.Por estarazo,elapesacom todaa suaautoridadesobreseusmembros,a fim de preveniras dissidncias.Um espritoderrogaostensivamenteestasnormasde todo pensamento?Ela no o consideramais como um
esprito humano no pleno sentido da palavra e o trata como tal. porque quand,mesmoemnosso foro interior, tentamoslibertar-nosdestasnoesfundamentais,senti-
mos queno somoscompletamentelivres,que algo nos operesistncia,em ns e forade ns. Fora de ns, existea o inio ue nos 'ul a' mas almd'sto como a sociedadeesttambmrepresentadaemns, ela seopede dentrode nsmesmos,a estasveleida-desrevolucionrias;temosa impressoqueno podemosabandonar-nosa isto semque
nossopensamentocessede serum pensamentoverdadeiramentehumano.Tal parecesera origemda autoridademuito especialque inerente razo e quefaz com queaceite-mos com confianasuassugestes. a prpria autoridadeda sociedade,19 comunican-do-sea certasmaneirasdepensarquesocomo queas condiesindispensveisdetoda
aocomum.A necessidadecom a qual ascategoriasseimpema nsno portantooefeitode simpleshbitosdos quais poderamosnos libertar com um pouco de esforo;ela no , alm do mais, uma necessidadefsica ou metafsica,porque as categoriasmudamsegundoos lugarese os tempos;ela um tipo particularde necessidademoralqueestparaa vida intelectualassimcomoa obrigaomoralestparaa vontade.20
19 Observou-sefreqentementequeos distrbiossociaistinhamcomoefeitoa multiplicaodosdistrbiosmentais. umaprovaa maisdequea disciplinalgica umaspectoparticulardadisciplinasocial.A pri-meirasedesmazelaquandoa segundaseenfraquece.(N. do A.)2 o Existeanalogiaentreestanecessidadelgicae a obrigaomoral,masnoh identidade,pelomenosatualmente.Hoje,a sociedadetrataos criminososdeoutramaneiraqueaspessoasdasquaisapenasa inteli-gncia anormal; a provadequea autoridadeligadas normaslgicase a inerentesnormasmorais,malgradoimportantessimilitudesno soda mesmanatureza.Soduasespciesdiferentesdeummesmognero.Seriainteressanteinvesti~aremqueconsistee deondeprovmestadifere~~qu~,vero~similhan-temente,no primitiva,pois,durantemuitotempo,a conscinciapblicamaldlstmgUluo ahenadododelinqente.Limitamo-nosa indicara questo.V-se,poresteexemplo,o nmerode:problemasquelevantaaanlisedestasnoesquegeralmentepassamporserelementaresesimplesequesao,narealidade,deumaextremacomplexidade.(N. doA.)
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Mas, seoriginalmenteas categoriastraduzemapenasestadossociais,noseguedistoqueelasspodemaplicar-seaorestodanaturezaattulodemetfora.s?Seelassofeitasunicamenteparaexprimircoisassociais,parecequenopoderiamserestendidasaosoutrosreinossenoporviadeconveno.Assim,enquantoelasnosservemparapensaro mundofsicooubiolgico,spoderiamtero valordesmbolosartificiais,prati-camenteteistalvez,massemrelaocoma realidade.Retornar-se-ia,portanto,poroutravia,aonominalismoeaoempirismo.
Mas interpretardestamaneiraumateoriasociolgicado conhecimentoesquecerque,sea sociedadeumarealidadeespecfica,noentretantoumimpriodentrodeumimprio;elafazparteda natureza, suamaisaltamanifestao.O reinosocial umreinonatural,queno diferedosoutrossenopor suacomplexidademaior.Ora, impossvelquea natureza,noqueelatemdemaisessencial,sejaradicalmentediferentedesi mesmaaquie l.As relaesfundamentaisqueexistementreascoisas- aquelasjustamentequeas categoriastmpor funoexprimir- nopoderiamportantoseressencialmentedessemelhantessegundoos reinos.Se,porrazesqueteremosdeinves-tigar,21elasdesprendem-sedeumamaneiramaisaparentenomundosocial,impossvelqueelasnosereencontrememoutrolugar,mesmoquesobformasmaisencobertas.Asociedadeastornamaismanifestasmasdelasnotemo privilgio.Eis comonoesqueforamelaboradassobreo modelodascoisassociaispodemauxiliar-nosa pensarcoisasdeumaoutranatureza.Pelomenos,se,quandoelassoassimdesviadasdesuasignifica-oprimeira,estasnoesdesempenham,emumsentido,o papeldesmbolos, o desmbolosbemfundados.Se,pelonicofatodeseremconceitosconstrudos,nelesentrao artifcio,umartifcioqueseguedepertoanaturezaequeseesforaporseaproximardelasempremais.22Do fatodequeasidiasdetempo,deespao,degnero,decausa,depersonalidadesoconstrudascomelementossociais,noprecisoportantoconcluirqueelassodesprovidasdetodovalorobjetivo.Ao contrrio,suaorigemsocialfazantespresumirqueelasnoestosemfundamentonanaturezadascoisas.23
Renovadadestamaneira,ateoriadoconhecimentopareceportantochamadaareu-nir asvantagenscontrriasdasduasteoriasrivaissemterseusinconvenientes.Ela con-servatodosos princpiosessenciaisdo apriorismo;masao mesmotempo,seinspiranesteespritodepositividadeaoqualo empirismoseesforavaemsatisfazer.Eladeixa razoseupoderespecfico,massedcontadelee istosemsairdomundoobservvel.Ela afirmacomoreala dualidadedenossavidaintelectual,masexplica-aporcausasnaturais.As categoriascessamdeserconsideradascomofatosprimeiroseinanalisveis;
e entretanto,elaspermanecemde umacomplexidadeda qualanlisestosimplistasq~antoaquelascomquesecontentavao empirismonopoderiamsedarconta.Poiselasaparecemago~a,noco~onoes.muit?si~plesquequa~querumpodeapreenderdesuasobservaoespessoaIse quea Imagmaaopopulartenadesgraadamentecompli-cado,mas,ao contrrio,comoengenhososinstrumentosdepensamento,queosgruposhumanoslaboriosamenteforjaramnodecorrerdossculoseondeacumularamo melhordeseucapitalintelectual.24 Todaumapartedahistriadahumanidadeestaquiresumi-da. chegara dizerque,paracompreend-Iaseparajulg-Ias,precisorecorrera pro-cessosoutrosqueosusadosato presente.Parasaberdequesofeitasestasconcepesquensmesmosnofizemos,nopoderiasersuficientequeinterrogssemosnossacons-cincia.Precisamosolharparaforadensmesmos,observara histria,instituirtodaumacincia,cinciacomplexa,quenopodeavanarsenolentamente,porumtrabalhocoletivo,e quala presenteobratraz,a ttulodeensaio,algumascontribuiesfragmen-trias.Semfazerdestasquesteso objetodiretodenossoestudo,exploraremostodasasocasiesqueseofereceroa nsdeapreenderemseunascimentopelomenosalgumasdestasnoesque,sendoreligiosasporsuasorigens,deviamentretantopermanecernabasedamentalidadehumana.
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2' A questotratadanaconclusodolivro.(N. doA.)
22 O racionalismoimanentea umateoriasociolgicado conhecimento portantointermedirioentreoempirismoe o apriorismoclssico.Para o primeiro,as categoriassoconstruespuramenteartificiais;parao segundo,elasso,aocontrrio,dadosnaturais;parans,elasso,emumsentido,obrasdearte,masdeumaartequeimitaa naturezacomumaperfeiosuscetveldecrescersemlimite.(N. doA.)23 Por exemplo,o queestna basedacategoriadetempoo ritmodavidasocial;mas,seexisteumritmoda vidacoletiva,pode-seestarsegurodequeexisteumoutronavida individual,maisgeralmente,naquelado universo.O primeiro apenasmaismarcadoC'llparentequeosoutros.Igualmente,veremosqueanoodegneroformou-sesobrea degrupohumano.Mas,'C"Coshomensformamgruposnaturais,pode-sepresu-mirqueexistem,entreascoisas,grupossimultaneamenteanlogosediferentes.Soestesgruposnaturaisdecoisasqueformamosgneroseasespcies.Separecea numerosssimosespritosquenosepodeatribuirumaorigemsocialscategoriassemIhesreti-rar todoo valorespeculativo, porquea sociedadeaindamuitofreqentementepassapornoserumacoisanatural;deondeseconcluiqueasrepresentaesquea exprimemnoexprimemnadadanatureza.Mas aconclusosvaletantoquantovaleo princpio.(N. do A.)
24 Por isso legtimocompararascategoriasa utenslios;poiso utenslio,por seulado, capitalmaterialacumulado.Alis,entreastrsnoes,deutenslio,decategoriaedeinstituio,existeumparentescoestrei-to.(N. doA.)
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Anunciamosnoinciodestaobraquea religiodaqualempreenderamoso estudocontinhaos elementosmaiscaractersticosdavidareligiosa.Pode-severificaragoraaexatidodestaproposio.Pormaissimplesquesejao sistemaqueestudamos,nsreen-contramosneletodasasgrandesidiasetodasasprincipaisatitudesrituaisqueestonabasedasreligiesmaisavanadas:distinodascoisasemsagradaseprofanas,noodealma,deesprito,depersonalidaderntica,dedivindadenacionale mesmointerna-cional,cultonegativocomasprticasascticasquesosuaformaexasperada,ritosdeoblaoe decomunho,ritosimitativos,ritoscomemorativos,ritosdeexpiao.Aquinadafaltadeessencial.Portanto,temosfundamentosparaesperarqueosresultadosaosquaischegamosnosoparticularesapenasao totemismo,maspodemauxiliar-nosacompreendero queareligioemgeral.
Objetar-se-queapenasumareligio,qualquerquepossasersuareadeextenso,constituiumabaseestreitaparatal induo.No pretendemosdesconhecero queumaverificaoextensapodeacrescentaremautoridadea umateoria.Masnomenosver-dadeque,quandoumaleifoiprovadaporumaexperinciabemfeita,estaprovauniver-salmentevlida.Se,mesmonumcasonico,umsbiochegasseasurpreendero segredodavida,fosseestecasoaqueledoserprotoplsmicomaissimplesquesepudesseconce-ber,asverdadesassimobtidasseriamaplicveisatodososseresvivos,mesmoaosmaiselevados.Portanto,senashumildessociedadesqueacabaramdeserestudadasconse-guimosrealmenteperceberalgunsdoselementosdosquaissofeitasasnoesreligiosasmaisfundamentais,noexisterazoparanoestendersoutrasreligiesosresultadosmaisgeraisdenossainvestigao.Comefeito,noconcebvelque,segundoascircuns-tncias,ummesmoefeitopossaserdevidooraa umacausa,oraa outra,a menosque,nofundo,asduascausasnopassemdeumas.Umamesmaidianopodeaquiexpri-mirumarealidadeealiumarealidadediferente,amenosqueestadualidadesejasimples-menteaparente.Se,juntoa certospovos,asidiasdesagrado,dealma,dedeusesexpli-cam-sesociologicamente,deve-secientificamentepresumirque,emprincpio,a mesmaexplicaovaleparatodosospovosemqueasmesmasidiasseencontramcomosmes-moscaracteresessenciais.Supondoportantoqueno tenhamosnosenganado,pelomenosalgumasdenossasconclusespodemlegitimamentesergeneralizadas. chegadoo momentodedistingui-Ias.E umainduodestanatureza,tendoporbaseumaexpe-rinciabemdefinida, menostemerriaquetantasgeneralizaessumriasque,ten-tandoatingirdeumasvezaessnciadareligiosemapoiar-senaanlisedenenhumareligioemparticular,arriscam-semuitoaperder-senovazio.
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A religioapia-sesobreumaexperinciabemfundadamasnoprivilegiada.- Necessidadedeumacinciaparaatingira realidadequefundaestaexperincia.- Qual estarealidade:os agr~pamentoshumanos.-Sentidohumanoda religio.- Sobrea objeoqueopesociedadeideale sociedadereal.Como seexpli-cam,nestateoria,o individualismoeo cosmopolitismoreligioso.
Freqentemente,os tericosquetentaramexprimira religioemtermosracionaisnelaviram,antesdetudo,umsistemadeidiasrespondendoa umobjetodeterminado.Esteobjetofoi concebidodemaneirasdiferentes:natureza,infinito,incognoscvel,ideal,etc.;masestasdiferenaspoucoimportam.Emtodososcasos,eramasrepresentaes,ascrenasqueeramconsideradascomoo elementoessencialda religio.Quantoaosritos,elesno apareciam,destepontode vista,senocomoumatraduoexterior,contingentee materialdestesestadosinternosque,nicos,passavamporterumvalorintrnseco.Estaconcepodetalmaneiradifundidaque,namaioriadasvezes,osdeba-tesemquea religioo temagiramemtornodaquestodesaberseelapodeounoconciliar-secoma cincia,isto,seaoladodoconhecimentocientficoexistelugarparaoutraformadepensamentoqueseriaespecificamentereligioso.
Mas os crentes,os homensque,vivendoda vidareligiosa,tm-a sensaodiretadaquiloquea constitui,a essemododeverobjetamqueelenocorrespondesuaexpe-rinciacotidiana.Eles sentem,comefeito,quea verdadeirafunodareligionofazer-nospensar,enriquecernossoconhecimeni,acrescentars representaesquedevemos cinciarepresentaesdeumaoutraorigemedeumoutrocarter,masa defazer-nosagir,auxiliar-nosa viver.O fielquesecomunicoucomseudeusnoapenasumhomemquevnovasverdadesqueo descrenteignora;ele umhomemquepodemais.Ele senteemsi maisfora,sejaparasuportarasdificuldadesdaexistncia,sejaparavenc-Ias.Eleestcomoqueelevadoacimadasmisriashumanasporqueestele-vadoacimadesuacondiodehomem;acredita-sesalvodo mal,sobqualquerforma,alis,queeleconcebao mal.O primeiroartigodetodafacrenanasalvaopelaf.Ora,nosevcomoumasimplesidiapoderiaterestaeficcia.Umaidia,comefeito,nosenoumelementodensmesmos;comopoderiaelaconferir-nospoderessuperio-resquelesquetemospornossanatureza?Por maisqueelasejaricaemvirtudesafeti-vas,nopoderianadaacrescentar nossavitalidadenatural;poiselaspodeliberarasforasemotivasqueestoemns,nocri-Iasnemaument-Ias.Do fatodequensnosrepresentamosumobjetocomodignodeseramadoe procuradonoseseguequenossintamosmaisfortes;masprecisoquedesteobjetoemanemenergiassuperioresquelasdequedispomose,almdomais,quetenhamosalgummeiodefaz-Iaspenetraremnse demistur-Ias nossavidainterior.Ora,paraistonosuficientequensaspense-mos,mas indispensvelquenoscoloquemosemsuaesferadeao,quenosvoltemosparaladopeloqualpodemossentirmelhorsuainfluncia.Numapalavra,precisoqueajamosequerepitamososato~.qlle.s~~_~~~'!1,n~~~ios1todasasvezesemqueissotilpararenovarseusefeitos.e_s!~I1.!suk_vi!'ta,entrev-secomoesteconjuntodeatosregularmenterepetidos:9.e'constituio culto,rtomatodaSUirr\pofIria.De fato,
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AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA 223
quemquerquereal~enteprat!cou.umareligi~bemsabeque.o cultoquesuscitaestasimpressesdealegna,depazmtenor,deseremd~d~,~eentusiasmo,queso,parao fiel,a provaexperimentaldesuascrenas:O cult?naoe~mplesmenteumsistemadesignospelosquaisaf setraduzparao extenor,eleeacoleaodosmeiospelosquaiselasecriae serecriaperiodicamente.Queeleconsistaemmanobrasmateriaisou emoperaesmentais,sempreelequeeficaz.
Todoo nossoestudorepousasobreestepostuladosegundoo qualestesentimentounnimedoscrentesdetodosos temposnopodeserpuramenteilusrio.Assimcomoumrecenteapologistada f,25admitimosportantoqueascrenasreligiosasrepousamsobreumaexperinciaespecficadaqualo valordemonstrativo,numsentido,noinfe-riorqueledasexperinciascientficas,mesmosendodiferente.Nstambmpensamos"queumarvoreseconheceporseusfrutos"2 6 equesuafecundidade amelhorprovadoquevalemsuasrazes.Masdofatodequeexiste,sesequiser,uma"experinciareli-giosa"e do fatodequeela fundadadealgumamaneira- existe,alis,umaexpe-rinciaquenoo seja?- nosesegueemhiptesealgumaquearealidadequeafundaobjetivamentesejaconforme idiaquedelafazemoscrentes.O prpriofatodequeamaneirapelaqualelafoi concebidavariouinfinitamentesegundoos tempossuficienteparaprovarquenenhumadestasconcepesaexprimeadequadamente.Seumsbioco-locacomoumaxiomaqueassensaesdecalor,deluz,queexperimentamoshomens,correspondema algumacausaobjetiva,distoelenoconcluiqueestasejatalqualapare-ceaossentidos.Igualmente,seasimpressesquesentemos fiisnosoimaginrias,noconstituementretantointuiesprivilegiadas;noexistenenhumarazoparapensarqueelasnosinstruemmelhorsobreanaturezadeseuobjetodoqueassensaesvulgaressobrea naturezadoscorpose suaspropriedades.Paradescobriremqueconsisteesteobjeto, portantoprecisofaz-Iosubmeter-sea umaelaboraoanlogaquelaquesubstituiu,representaosensveldomundo,umarepresentaocientficaeconceitual.
Ora,precisamenteistoquetentamosfazerevimosqueestarealidade,queasmito-logiasrepresentaramsobtantasformasdiferentesmasquea causaobjetiva,universal
eeternadestassensaessuigenerisdasquaisfeitaa experin
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sas.Vimosqueaconteceo mesmocoma magiae,emconseqncia,comasdiversastc-nicasquedeladerivam.Por outrolado,sabe-'sehmuitotempoque,atummomentorelativamenteavanadoda evoluo,as regrasda morale do direitonosediferen-ciavamdasprescriesrituais.Portanto,pode-sedizer,resumindo,quequasetodasasgrandesinstituiessociaisnasceramdareligio.z7 Ora,'paraqueosprincipaisaspectosda vidacoletivatenhamc-.!!1_~do-..e2!_~~pectos~ariadoskvida religios, preciso.evidentementequea vidareligiosasejaa formaeminentee comoqueumaex~~?~abreviadadavidacoletivainteira.Sea religioengendroutudoo quehdeessencialnasociedade,porquea idiadasociedadeaalmadareligio.
As forasreligiosassopoisforashumanas,forasmorai~.Semdvida,porqueossentimentoscoletivosnopodemtomarconscinciadesimesmossenofixindo-sesobreobjetosexteriores,taisforasnopuderamseconstituirsemtomarscoisasalgunsdosseuscaracteres:adquiriramassimumtipodenaturezafsica;a estettuloelasvierammisturar-se vidadomundomaterialeporelasqueseacreditoupoderexplicaro quenelesepassa.Mas,quandosoconsideradassomenteporesteladoenestaatribuio,v-seapenaso queelastmdemaissuperficial.Na realidade conscinciaquesoemprestadososelementosessenciaisdosquaiselassofeitas.Ordinariamenteparecequeelasnoteriamumcarterhumanosenoquandosopensadassobformahumana;28noentanto,mesmoas mais impessoaise maisannimasno passamde sentimentosobjetivados.
S vendoasreligiessobestengulopossvelpercebersuaverdadeirasignifica-o.Prendendo-sesaparncias,osritosfreqentementeparecemo efeitodeoperaespuramentemanuais:sounes,lavagens,refeies.Paraconsagrarumacoisa,sea co-locaemcontatocomumafontedeenergiareligiosa,assimcomohoje,paraesquentaroueletrizarumcorpo,seo colocaemligaocomumafontedecaloroudeeletricidade;osprocedimentosempregadospor umae outrapartenosoessencialmentediferentes.Assimcompreendida,a tcnicareligiosapareceumtipodemecnicamstica.Masestasmanobrasmateriaissoo invlucroexteriorsobo qualsedissimulamoperaesmen-tais.Finalmente,trata-senodeexercerumtipodecoaofsicasobreforascegase,alis,imaginrias,masde atingirconscincias,de tonific-Ias,disciplin-Ias.Tem-seafirmadoalgumasvezesqueasreligiesinferioreserammaterialistas.A expressoine-xata.Todasasreligies,mesmoasmaisgrosseiras,so,emcertosentido,espiritualistas:poisaspotnciasqueelascolocamemjogosoantesdetudoespirituaise,poroutrolado,sobrea vidamoralqueelastmporprincipalfunoagir.Compreende-seassimqueo quefoi feitoemnomedareligionopoderiatersidofeitoemvo:poisfoineces-sariamenteasociedadedoshomens,ahumanidadequerecolheuseusfrutos.
Mas,diz-se,qualexatamentea sociedadedaqualsetirouo substratodavidareli-giosa? a sociedadereal,talcomoelaexisteefuncionasobnossosolhos,comaorgani-zaomoral,jurdicaqueelalaboriosamentemodelounodecorrerdahistria?Maselaestrepletadetarasedeimperfeies.Aqui,o malrodeiao bem,a injustiafreqente-mentereinacomosoberana,a verdadeemcadainstanteobscurecidapeloerro.Como
27 Apenasuma formada atividadesocialaindano foi expressamenteligada religio: a atividadeeconmica.Entretanto,astcnicasquederivallldamagiatm,poristomesmo,origensindiretamenterligio-sas.Alm do mais,o valoreconmico umtipodepoder,deeficcia,e nssabemosasorigensreligiosasda idiadepoder.A riquezapodeconferirman; portantoporqueelao tem.Atravsdisto,entrev-sequea idiadevaloreconmicoe a devalor religiosodevemestarrelacionadas.Mas a questodesaberqualanaturezadestasrelaesaindanofoi estudada.(N. doA.)2. porestarazoquePrazeremesmoPreusscolocamasforasreligiosasimpessoaisforadareligioou,pelomenos,noseuumbral,paralig-Ias magia.(N. doA.)
umsertogrosseiramenteconstitudopoderiainspiraros sentimentosdeamor,o entu-siasmoardente,o espritodeabnegaoquetodasas religiesreclamamdeseusfiis?Estesseresperfeitosquesoosdeusesnopodemteremprestadosuasfeiesaumarea-lidadetomedocre,algumasvezestobaixa.
Trata-se,aocontrrio,dasociedadeperfeita,ondeajustiaeaverdadeseriamsobe-ranas,deondeo malsobtodasassuasformasestariaextirpado?Nosecontestaqueelaestejaemestreitarelaocomo sentimentoreligioso;pois,diz-se,asreligiestendemarealiz-Ia.Apenas,estasociedadeno umdadoemprico,definidoeobservvel;elaumaquimera,umsonhonoqualoshomensacalentaramsuasmisrias,masqueelesja-maisviveramnarealidade.Elaumasimplesidiaquevemtraduzirnaconscincianos-sasaspiraesmaisoumenosobscurasparao bem,o belo,o ideal.Ora,estasaspiraestmemnssuasraizes,vmdasprpriasprofundezasdenossoser;portanto,noexistenadaforadensquepossaexplic-Ias.Alis,j soreligiosasporsi mesmas;portanto,asociedadeidealsupeareligio,longedepoderexplic-Ia.29
.Mas,deincio,simplificararbitrariamenteascoisasverareli&2-spor~.':!..!!ido.idc::"ist1!;ela realista suamaneira.No existefealdadefsicaou moral,noexistemvciosnemmalesquenotenhamsidodivinizados.Houvedeusesdorouboedaastcia,daluxriaedaguerra,dadoenaedamorte.O prpriocristianismo,pormaisaltaquesejaa idiaqueelesefazdadivindade,foi obrigadoa daraoespritodomalumlugaremsuamitologia.Sat umapeaessencialdo sistemacristo;ora,seele umserimpuro,noumserprofano.O antideusumdeus,inferioresubordinado,verdade,masdotadodepoderesextensos;elemesmoobjetoderitos,pelomenosnegativos.Por-,tanto,longedea religioignorara sociedaderealedelafazerabstrao,elasuaima-.gemirefletetodososseusaspectos,mesmoosmaisvulgareseosmaisrepugnantes.Tudosereencontranelaese,freqentemente,sevo bemsubjugaro mal,a vidaa morte,aspotnciasdaluzaspotnciasdastrevas,porquenoocorrediferentementenarealida-de.Pois,sea relaoentreestasforascontrriasfosseinversa,avidaseriaimpossvel;ora,defato,elasemantmemesmotendeasedesenvolver.
Masse,atravsdasmitologiasedasteologias,se'vclaramentetransparecerareali-dade,bemverdadequeelaseencontraaquiaumentada,transformadaeidealizada.Sobesteaspecto,asreligiesmaisprimitivasnodiferemdasmaisrecentesemaisrefinadas.Vimos,porexemplo,comoosAruntacolocamnaorigemdostemposumasociedadem-tica,cujaorganizaoreproduzexatamentea queexisteaindahoje;elacompreendeosmesmosclseasmesmasfratrias,estsubmetidamesmaregulamentaomatrimonial,praticaosmesmosritos.Masospersonagensquea compemsoseresideais,dotadosdepoderesevirtudesaosquaisnopodepretendero comumdosmortais.Suanaturezano apenasmaisalta,diferente,porquepertencesimultaneamente animalidadeehumanidade.Aqui,aspotnciasanlogassofremumamet'amorfoseanloga:o prpriomalestcomoquesublimadoeidealizado.A questoquesecolocaadesaberdeondevemestaidealizao.
Responde-sequeo homemtemumafaculdadeI!..aturaldeidealiza[~~! desubsti-tuir o mundoda realidadeporummundodiferenteparaondeelesetransportapelopensmenro.MSTst()trocaros termosdoproblema,semresolv-Io,nemfaz-Iopro-gredir.Estaidealizaosistemticaumacaractersticaessencialdasreligies.Explic-iasporumpoderinatodeidealizar,portanto,substituirumapalavraporoutraequiva-lente primeira;comodizerqueo homemcrioua religioporquetemumanaturezareligiosa.Entretanto,o animalsconheceumnicomundo: o queelepercebepela
29 Boutroux,ScienceetReligion.pp.206-207.(N. doA.)
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experinciatantointernaquantoexterna.Apenaso homemtef!!_a~c~u!Q~~co~cebe~o ideale deacrescentarao real.De ondelheadvmestesingularprivilgio?Antesde~e-;;-iat-prmefro,-u1a virtudemisteriosaquesesubtrai cincia, precisoestarsegurodequeelenodependedecondiesempiricamentedeterminveis.
A explicaoquepropusemosdareligiotemprecisamentea vantagemdetrazerumarespostaa talquesto.Poiso quedefineo sagradoo fatodeseracrescel!!doaoreal;ora,o idealcorresponde ~~?~ehmo:nosepodepOrtantoexplicarumsemexplicaro outro:\'lms,comefeito,que~seavidacoletiva,quandoatingeumcertograudeintensidade,despertao pensamentoreligioso, porqueeladeterminaumestadodeefervescnciaquemodificaascondiesdaatividadepsquica.As energiasvitaisestosuperexcitadas,aspaixesmaisvivas,assensaesmaisfortes;existemmesmoalgumasquenoseproduzemsenonestemomento,O homemnosereconhece;sente-secomoquetransformadoe,porconseguinte,transformao meioqueo rodeia.Paraexplicar-seasimpressesmuitoparticularesqueexperimenta,eleatribuis coisas.com as quaisestmaisdiretamenteemrelao,propriedadesqueelasnotm,poderesexcepcionais,virtudesquenopossuemos objetosdaexperinciavulgar.Numapalavra,ao mundorealemqueseescoasuavidaprofanaelesuperpeumoutroque,numsentido,existe~nas emseupensamento,masao.gualeleatribui,emre!aoaoprimeiro,umtiQ2~~dignidademaiselevada.Eleportanto,sobseuduploaspecto,ummundoi~al.- Destamaneira,a formaodeumidealnoconstituiumfatoirredutvelqueescape cincia;dependede~S>E~lX~~~quea_~~;;'a~p'odel!iirigh:PQ!iflil1lliLQ~~tlLl}~l!!-:raldavidasocial.Paraquea sociedadepossatomarconscinciadesi emanter,nograudeintensidadenecessrio,o sentimentoqueelatemdesi mesma,precisoqueserenae seconcentre.Ora,estaconcentraodeterminaumaexaltaoda vidamoralquesetraduzporumconjuntodeconcepesideaisondeseexprimeavidanovaqueassimdes-pertou;elascorrespondema esteafluxodeforaspsquicasqueseacrescentamentoquelasdasquaisdispomosparaastarefascotidianasdaexistncia.Umasociedadenopodecriar-senemrecriar-sesem,nomesmoinstante,criaro ideal.Paraelaiestacriao,no umtipodeatosub-rogatrio,peloqualelas~col11pftrla,i~ive~ [o!1d~~~~atopeloqualelasefaze serefazperi.9icamente.Iiu~iI11ente~.9l!ancl2_~~i!Q~~_s~_ci~~dadeideal sociedaderealcomodoisantagonIStas-quenosarrastariamemdireescontrnas,realizam-se~eopem~s-eabstraes.-AsociedadeidiiJnoestflforadasocie-dadere;[-masfaz parteaela'-Congedeestarmosdivididosentreelascomoentredoisplosqueserepelem,nopodemosconservarumasemconservaroutra.Poisumasocie-
experinciaeaomesmotempoforneceu-lheosmeiosdeconceberoutro.Poisestemundonovofoi elaquemo construiu,construindo-sea si mesma,porque poreleexpressa.Assim,tantono indivduoquantono grupo,_afaculdadedeidealizarnotemnadademisterioso.No umtipode'"luxodoqiifOi-WiIieiUpo~privar~se,masumacO1cli-odesuaexistncia._Elt:no.s.~i-llI!l_s~_.s
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meaindano podiasermuitodesenvolvido.Mas,na medidaemqueos indivduosdiferenciam-semaisequeo valordapessoaaumenta,o cultocorrespondenteocupaumlugarmaiornoconjuntodavidareligiosa,aomesmotempoquesefechamaishermetica-menteaoexterior.
Portanto,aexistnciadecultosindividuaisnoimplicanadaquecontradigaouqueembaraceumaexplicaosociolgicadareligio;poisasforasreligiosassquaiselessedirigemsoapenasformasindividualizadasdasforascoletivas.Assim,mesmoquan-doa religioparecepertencerinteiramenteaoforointernodoindivduo,aindanasocie-dadequeseencontrafontevivadaqualelasealimenta.Podemosagoraapreciarquantovaleesteindividualismoradicalquequeriafazerdareligioumacoisapuramenteindivi-dual:eledesconheceascondiesfundamentaisdavidareligiosa.Sepermaneceuatopresenteno estgiodeaspiraotericaquejamaisserealizou, porqueela irreali-zvel.Umafilosofiapodeelaborar-senosilnciodameditaointerior,masnoumaf.Poisumaf,antesdetudo,calor,vida,entusiasmo,exaltaodetodaatividademental,transportedo indivduoacimadesi mesmo.Ora,comopoderiaele,semsairdesi,acres-ceralgosenergiasquepossui?Comopoderiaultrapassar-seapenascomsuasforas?O nicofocodecalorjuntoaoqualpodemosnosreaguecer~~Imente.~s>JOf.madol2.elasociedadedenossossemelhantes;asnicasforasmoraispelasquaispodemossus-tentareaumentarasnossassoaquelasqueoutro-ii.6sfomece.AdmitamosmesmoqueeriSt~mseresffiisoumenosan~logosquelesquenosrepresentamasmitologias.Paraqueelespossamtersobreasalmasa aotilquesuarazodeser,precisoqueseacrediteneles.Ora,ascrenassoativassomentequandopartilhadas.Pode-seconser-v-Iasporalgumtempomedianteumesforocompletamentepessoal;masno assimqueelasnascem,nemquesoadquiridas:mesmoduvidosoquepossamconservar-senestascondies.De fato,o homemquetemumaverdadeirafexperimentainvencivel-mentea necessidadededifundi-Ia;paraisto,elesaideseuisolamento,aproxima-sedosoutros,procuraconvenc-Iose o ardordasconvicesporelesuscitadasquevemreconfortarasua.A festiolar-se-iarapidamentesepermanecessesozinha.
Como universalismoreligiosoaconteceo mesmoquecomo individualismo.Longedeserumatributoexclusivodealgumasgrandesreligies,nso encontramos,semdvi-da,nonabase,masnovrticedosistemaaustraliano.Bunjil,Daramulun,Baiamenososimplesdeusestribais;cadaumdeles reconhecidoporumapluralidadedetribosdiferentes.Seuculto, emcertosentido,internacional.Portanto,estaconcepoestmuitoprximadaquelaqueseencontranasteologiasmaisrecentes.Por estarazo,al-gunsescritoresacreditaramdevernegarsuaautenticidade,pormaisincontestvelqueelaseja.
Ora,nspudemosmostrarcomoelaseformou.Tribos vizinhase de civilizaoigualnopodemestarsemrelaesconstantes
umascomasoutras.Todosostiposdecircunstnciaslhesfornecemaocasioparaisto:almdo comrcio,queento rudimentar,existemoscasamentos;poisoscasamentosinternacionaissomuitofreqentesna Austrlia.No decorrerdestesencontros,os ho-menstomamnaturalmenteconscinciado parentescomoralqueos une.Eles tmamesmaorganizaosocial,a mesmadivisoemfratrias,cls,classesmatrimoniais;pra-ticamos mesmosritosdeiniciaoouritosbastantesimilares.Emprstimosmtuosouconvenesterminamporreforarestassemelhanasespontneas.Os deusesaosquaisestavamligadasinstituiestomanifestamenteidnticasdificilmentepodiampermane-cerdistintosnosespritos.Tudoosaproximavae.emconseqncia,mesmosupondoquecadatribotenhaelaboradoa noodeumamaneiraindependente,elesnecessariamente
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deviamtendera confundir-seunscomosoutros.Alis,provvelqueprimitivamentete-nhamsidoconcebidosemassembliasintertribais.Poisso,antesdetudo,deusesdeini-ciaoe,nascerimniasdeiniciao,tribosdiferentesestogeralmenterepresentadas.Portanto,seseformaramentessagradosquenoserelacionama nenhumasociedadegeograficamentedeterminada,no queelestenhamumaorigemextra-social.Mas que,acimadestesagrupamentosgeogrficos,j existemoutroscujoscontornossomaisindecisos:notmfronteirasfixas,mascompreendemtodotipodetribosmaisoumenosvizinhaseparentes.A vidasocialmuitoparticularquedaseoriginatendeadifundir-sesobreumareadeextensosemlimitesdefinidos.Naturalmente,ospersonagensmitol-gicosqueaelacorrespondemtmo mesmocarter;suaesferadeinfluncianodelimi-tada;elesplanamacimadastribosparticulareseacimadoespao.Soosgrandesdeu-sesinternacionais.
Ora,nohnadanestasituaoquesejaespecial,sociedadesaustralianas.NoexistepovonemEstadoquenoestejaengajadoemumaoutrasociedade,maisoumenosilimitada,quecompreendetodosospovos,todososEstadoscomosquaiso primeiroestdiretaou indiretamenteemrelao;noexistevidanacionalquenoestejadominadaporumavidacoletivadenaturezainternacional.Na medidaemqueseavananahist-ria,estesagrupamentosinternacionaisatingemmaiorimportnciaeextenso.Entrev-seassimcomo,emcertoscasos,a tendnciauniversalistapodesedesenvolveraopontodeafetarnoapenasas idiasmaisaltasdo sistemareligiosomasos prpriosprincpiossobreosquaiselerepousa.
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o quehdeeternonareligio:- Sobreo conflitoentrea religioea cincia;eleversaunicamentesobreafunoespeculativadareligio.- O queestafunoparecedestinadaavir a ser.
Portanto,h na religioalgodeeternoqueestdestinadoa sobrevivera todosossmbolosparticularesnosquaiso pensamentoreligiososucessivamenteseenvolveu.Nopodehaversociedadequenosintanecessidadedeconservaredereforar,emintervalosregulares,os sentimentoscoletivose as idiascoletivasquefazemsuaunidadee suapersonalidade.Ora,estarefeiomoralspodeserobtidapormeiodereunies,assem-blias,congregaesondeosindivduos,estreitamenteligadosunsaosoutros,reafirmamemcomumseussentimentoscomuns.Da cerimniasque,porseuobjeto,pelosresulta-dosqueproduzem,pelosprocedimentosquenelassoempregados,nodiferememnatu-rezadascerimniaspropriamentereligiosas.QuediferenaessencialexisteentreumaassembliadecristoscelebrandoasprincipaisdatasdavidadeCristo,ou umadeju-deusfestejandosejaa sadadoEgito,sejaa promulgaododeclogo,eumareuniodecidadoscomemorandoa instituiodeumanovaconstituiomoraloualgumgrandeacontecimentodavidanacional?
Sehojenstemostalvezalgumadificuldadeemrepresentaremquepoderoconsis-tir estasfestasecerimniasdofuturo,porqueatravessamosumafasedetransioedemediocridademoral.As grandescoisasdopassado,aquelasqueentusiasmavamnossospais,noexcitammaisemnso mesmoardor,sejaporqueelasentraramnousocomuma pontodeparanssetornareminconscientes,sejaporqueelasnocorrespondemmaissnossasaspiraesatuais;entretanto,nadasefezaindaqueassubstitua.Nopodemosmaisnosapaixonarpelosprincpiosemnomedosquaiso cristianismorecomendavaaossenhorestratarhumanamenteseusescravose,poroutrolado,a idiaqueelesefazdaigualdadee da fraternidadehumanashojenos parecedeixarmuitolugara injustasdesigualdades.Suapiedadepeloshumildesnosparecedemasiadoplatnica;nsdeseja-ramosumaquefossemaiseficaz;masaindanovemosclaramenteo quetalpiedadedeveser,nemcomoelapoderserealizarnosfatos.Numapalavra,os antigosdeusesenvelhecemou morremeoutrosainqanonasceram.Foi istoquetornouva tentativadeComteparaorganizarumareligiocomasvelhasrecordaeshistricas,artificial-mentedespertadas:daprpriavidaenodeumpassadomortoquepodesairumcultovivo.Masesteestadodeincertezaedeagitaoconfusanopoderdurareternamente.Um diaviremquenossassociedadesconhecerohorasdeefervescnciacriadoranodecorrerdasquaisnovosideaissurgiro,novasfrmulashodeaparecereservir,duran-tealgumtempo,deguiaparaa humanidade;eumavezvividasestashoras,oshomensexperimentaroespontaneamentea necessidadedereviv-lasdetemposemtempospelopensamento,isto, deconservarsuarecordaopormeiodefestasqueregularmenterenovamos frutos.J vimoscomoa revoluoinstituiutodoumciclodefestaspara
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manteremestadodeperptuajuventudeosprincpiosemqueseinspirava.Sea institui-opericlitourapidamente,foiporqueaf revolucionriaduroupoucotempo,foiporqueasdecepeseo desencorajamentosesucederamrapidamenteaoprimeiroentusiasmo.Mas,mesmoqueaobratenhaabortado,elanospermiteimaginaro queteriapodidoseremoutrascondies;etudolevaa pensarquecedooutardeserrepetida.Noexistemevangelhosquesejamimortaisenohrazoparaacreditarquea humanidadefutura-mentesejaincapazdeconcebernovos.Quantoa saberoqueseroossmbolosqueviroaexprimiranovaf,seseassemelharoounoaosdopassado,seseromaisadequados realidadequeteroporobjetivotraduzir,estaumaquestoqueultrapassaa facul-dadehumanadeprecisoeque,alis,noconcerneo fundamentodascoisas.
Mas as f.:stas,OS. ritos,emum!-_l:>.a..0~@.,--cult9Jnoconstituemt9daJ!.J:~ligio.Estano :Ipenasun-slsfem-deprtica5~~!!1.bt:Il_!:!.l!l.~~~I11I:1.'Quandoseatribucmaopensam.:ntorcligiosocaractersticasespecficas,quandoseacreditaqueeletempor funoexprimir,pormtodosquelhesoprprios,todoumaspectodo real,queescapatantoao conhecimentovulgarcomo cincia,entonosrecusamosnaturalmentea admitirqueareligiopossaserdespidadeseupapelespecula-tivo.Masa anlisedosfatosnonospareceudemonstrarestaespecificidade.A religioqueacabamosdeestudarumadaquelasondeossmbolosempregadossoo quehdemaisdesconcertanteparaa razo.Aqui tudoparecemisterioso.Estesseresquepartici-pamsimultaneamentedosreinosmaisheterogneos,quesemultiplicamsemdeixardeserunos,quesefragmentamsemdiminuir,parecem primeiravistapertencera ummundointeiramentediferentedaqueleemquevivemos;chegou-semesmoa dizerqueopensamentoqueo construiuignoravatotalmenteasleisdalgica.Jamais,talvez,o con-trasteentrearazoeaffoi maismarcante.Portanto,sehouveummomentonahistriaemquesuaheterogeneidadedeveriaressaltarcomevidncia,foiexatamenteaquele.Ora,contrariamentesaparncias,constatamosqueasrealidadessquaisseaplicaagoraaespeculaoreligiosasoaquelasmesmasqueserviromaistardedeobjeto reflexodossbios:a natureza,o homeme a sociedade.O mistrioquepareceenvolv-Iascompletamentesuperficiale dissipa-sediantedeumaobservaomaisaprofundada:suficienteafastaro vucomo quala imaginaomitolgicaascobriuparaqueelasapa-reamtaiscomoso.Estasrealidades,a religioesfora-seportraduzi-Iasemumalin-guageminteligvelquenodifereemnaturezadaquelaquea cinciaemprega;nosdoislados,trata-sedeligarascoisasumassoutras,deestabelecerentreelasrelaesinter-nas,classific-Iase sistematiz-Ias.Vimosquemesmoas noesessenciaisda lgicacientficasodeorigemreligiosa.Semdvida,a cincia,parautiliz-Ias,submete-asaumaelaboraonova,purificando-asdetodotipodeelementosadventcios.De umamaneirageralelaapresenta,emtodososseuspassos,umespritocrticoquea religioignora;cerca-sedeprecauespara"evitara precipitaoe a preveno",paramantera distnciaas paixes,os preconceitose todasas influnciassubjetivas.Mas estesaperfeioamentosmetodolgicosnobastamparadiferenciladareligio.Umaeoutra,sobesteaspect,perseguemo mesmofim;o pensamentocientficono senouma
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forma mais perfeitado pensamentoreligioso.Portanto,parecenaturalqueo segundoseapagueprogressivamentediantedo primeiro,na medidaemqueestesetornamais aptoa dar contada tarefa.
Com efeito, possvelqueestaregressotenhaseproduzidono decorrerda histria.Sadada religio,a cinciatendea substitu-Iaemtudoo queconcernesfunescogni-tivas e intelectuais.J o cristanismo consagroudefinitivamenteesta substituionaordem dos fenmenosmateriais.Vendo na matriaa coisa profanapor excelncia,elefacilmenteabandonouseu conhecimentoa uma disciplina estranha,tradiditmundumhominumdisputationi;31 foi assimqueas cinciasda naturezapuderamestabelecer-seefa~erreconhecersua autoridadesem dificuldadesmuito grandes.Mas ele no podiadespojar-seto facilmentedo mundo das almas;pois sobreas almasque o deusdoscristosaspira,antesde tudo, a reinar.Foi porque,durantemuito tempo,a idiade sub-metera vida psquica cinciatinhao efeitodeumtipo deprofanao;mesmohoje,elaainda repugnaa numerososespritos.Entretanto,a psicologiaexperimentale compara-tiva constituiu-see precisocontarcom elahojeemdia. Mas o mundoda vida religiosae moral aindapermaneceinterdito.A grandemaioriadoshomenscontinuaa crerquealiexisteumaordemde coisasondeo espritono podepenetrarsenopor viasmuitoespe-ciais. Da as vivas resistnciasque seencontramquandosetentatratar cientificamenteos fenmenosreligiosose morais.Mas, a despeitodasoposies,estastentativasserepe-teme tal persistnciapermitemesmopreverqueestaltimabarreiraterminarpor cederequea cinciaseestabelecercomosenhoratambmnestaregioreservada.
Eis a emque consisteo conflito da religiocom a cincia.Freqentementese fezdeleuma idia inexata.Diz-se queemprincpio a cincianegaa religio.Mas a religioexiste, um sistemade fatosdados;numapalavra,ela umarealidade.Como poderiaacincianegaruma realidade?Alm do mais,enquantoa religio ao,enquanto ummeiodefazerviveros homens,a cincianopoderiatomaro seulugar,pois,seelaexpri-mea vida,no a cria; ela podeprocurarexplicara fmas,por isto mesmo,a supe.Por-tanto,no h conflito senosobreum ponto limitado.Das duas funesque preenchiaprimitivamentea religio, existeuma, apenasuma,quetendecada vez mais a lhe esca-par: a funoespeculativa.O guea5j~l1.iCOIltelltll,j.religi,~jo~._QireQeexitir,~ direitodedogmatizll!"-~obrea naturezli_dl!.s_
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III
Comoa sociedadepodeserumafontedopensamentolgico,querdizer,conceitual?Definiodoconceito:noseconfundecoma idiageral;caracteriza-sepor suaimpessoalidade,suacomunicabilidade.- Ele temumaorigemcoletiva.- A anlisede seucontedotestemunhano mesmosentido.- As representaescoletivascomonoes-tiposdasquaisos indivduosparticipam.- Sobreaobjeosegundoaqualelasnoseriamimpessoais,senosobcondiodeseremverdadeiras.- O pensamentoconceitual contemporneohumanidade.
Masseasnoesfundamentaisdacinciasodeorigemreligiosa,comoa religiopodeengendr-Ias?No sepercebe primeiravistaquerelaespodehaveraquientrea lgicaea religio.Mesmoporquearealidadequeexprimeo pensamentoreligiosoasociedade,a questopodecolocar-senostermosseguintes,quefazemaparecermelhoraindatodaa dificuldade:o quepodefazerdavidasocialumafontetoimportantedavidalgica?Nada,aoqueparece,apredestinavaaestepapel;poisnofoievidentementeparasatisfazernecessidadesespeculativasqueoshomensseassociaram.
Talvezseterportemerrioabordaraquiumproblemadetalcomplexidade.Parapodertrat-Iocomoconvm,seriaprecisoqueascondiessociolgicasdo conheci-mentofossemmaisbemconhecidas;nsapenascomeamosa entreveralgumasdelas.Entretanto,a questotograveeesttodiretamenteimplicadaportudoo queprece-de,quensdevemosfazeresforoparanodeix-Iasemresposta.Talvez,alis,nosejaimpossvelcolocardesdeagoraalgunsprincpiosgeraisquepodem,pelomenos,iluminarasoluo.
A matriadoEensamentolgicoestfeitad~conceitos,yro~~r_C:~l110-~~~!i~podeterdesempenhadoumpapeldl:ignesedo pensameIltolgicosignifica,.portanto,pergUli.ia;:~seom.ellO
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34 Objetar-se-quefreqentemente,no indivduo,apenas~lo efeitoda repetio,maneirasdeagirou depensarfixam-see cristalizam-sesobformadehbitosqueresistem mudana.Mas o hbitono senoumatendnciaa repetirautomaticamenteumatoou umaidia,todasas vezesemqueasmesmascircuns-tnciasos despertam;elenoimplicaquea idiaou o atoestejamconstitudoscomotiposexemplares,pro-postosou impostosaoespritoou vontade. apenasquandoumtipodestegneroestpreestabelecido,isto,quandoumaregra,umanormaestinstituda.queaaosocialpodeedeveserpresumida.(N. doA.)
A naturezado conceito,assimdefinido,traduzsuasorigens.Seele c()JJ:J,umatodos;1porqueTbr"(f,cornunidade.Porqueeleno-ifZ-a miradenenhumainteli-gnciaparticular,pois elaboradoporumainteligncianica,ondetodasasoutrasseencontrame dealgumamaneiravmalimentar-se.Seeletemmaisestabilidadequeassensaesouasimagens, porqueasrepresentaescoletiva~~_~_ll!ais~tveis.9,Il_e~~individuais;pois,enquantoo indivduosensvelmesmoa fracasmudanasquesepro-duzememseumeiointernoouexterno,apenasacontecimentosdeumasuficientegravi-dadepodemconseguirafetaro acervomentaldasociedade.Todasasvezesqueestamosempresenadeumtipo34 depensamentoou deaoquese impeuniformementesvontadesoUSniengencrs-particUl~~s'Y~!!1IJ!~s]?_=~.r~1~.'~~r~~~xl.;;ti~uofevelaa intervenodacoletlVldade.Por outrolado,dizamosprecedentementequeosconcei-toscomosquaispensamoscorrentementeestoconsignadosnovocabulrio.Ora,noduvidosoquea linguageme,porconseguinte,o sistemadeconceitosqueelaexprimesejao produtodeumaelaboraocoletiva.O queelaexprimea maneirapelaquala socie-dadeemseuconjuntoserepresentaos objetosdaexperincia.As noesquecorres-pondemaosdiversoselementosdalnguasopoisrepresentaescoletivas.
O prpriocontedodestasnoes-testeniUliineit'sentido.N existequasenenhumapalavra,comefeito,mesmoentreaquelasqueempregamosusualmente,cujaaceponoultrapassemaisoumenoslargamenteos limitesdenossaexperinciapes-soal.Freqentementeumtermoexprimecoisasquensjamaispercebemos,experinciasquejamaisfizemosoudasquaisjamaisfomostestemunhas.Mesmoquandoconhecemosalgunsdosobjetosaosquaiseleserelaciona,nosenoa ttulodeexemplosparticu-laresquevmilustrara'idia,masque,apenasporeles,noseriamjamaissuficientesparaconstitu-Ia.Encontra-seportantocondensadanapalavratodaumacinciacomaq,!-aLe--Il-_~laborei,umaeiilTamais-doq~eindividual;eeiime-uitrapassaatlllpgntogueno_poss.CLQemmesmaproprir-m-Cmpletmniedetodososseusresl!Jta~do.s,Quemdensconhecetodasaspalavrasdalnguaquefalaea significaointegraldecadaumadelas?
Estaobservaopermitedeterminaremquesentidopretendemosdizerqueoscon-ceitossorepresentaescoletivas.Seelessocomunsa umgruposocialinteiro,noqueelesrepresentemumasimplesmdiaentreasrepresentaesindividuaiscorrespon-dentes;poisentoelesseriammaispobresqueestasltimasemcontedointelectual,enquantoqueemrealidadeelessoprenhesdeumsaberqueultrapassao deumindiv-duomdio.Elesnosoabstratosquesteriamrealidadenasconscinciasparticulares,masrepresentaestoconcretasquantoaquelasqueo indivduopodefazer-sedeseumeiopessoal:correspondem maneirapelaqualesteserespecialque a sociedadepensaascoisasdesuaexperinciaprpria.Sedefatoosconceitossoo maisfreqente-menteidiasgerais,seelesexprimemantescategoriaseclassesdoqueobjetosparticula-res, porqueos caracteresvariveise singularesdosseress raramenteinteressamsociedade;emrazodesuaprpriaextenso,elaquasenopodeserafetadasenoporsuaspropriedadesgeraisepermanentes. portantoparaesteladoquesedirigesuaaten-o:estemsuanaturezavero maisfreqentementeascoisasporgrandesmassasesob
3. Sobaformadeeterndade.(N. do E.)
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o aspectoqueelastmmaisgeralmente.Masdissonoexistenecessidade;e,emtodocaso,mesmoquandoestasrepresentaestmo cartergenricoquelheso maishabi-tual,elassoaobradasociedadeeestoricasdesuaexperincia.
isso,alis,quefazo valorqueo pensamentoconceitualtemparans.Seoscon-ceitosfossemapenasidiasgerais,elesnoenriqueceriammuitoo conhecimento;poisogeral,comoj dissemos,nocontmnadamaisqueo particular.Masseelesso,antesdetudo,representaescoletivas,acrescentamaoquepodenosensinarnossaexperinciapessoaltudoo queacoletividadeacumuloudesabedoriaedecincianodecorrerdoss-culos.Pensarporconceitosnosimplesmentevero realpeloladomaisgeral;projetarsobrea sensaoumaluzquea ilumina,a penetraea transforma.Conceberumacoisa,aomesmotempo,apreenderseuselementosessenciais,situ-Iaemumconjunto;poiscadacivilizaotemseusistemaorganizadodeconceitosquea caracteriza.Facea estesistemadenoes,o espritoindividualestna mesmasituaoqueo nosdePlatofaceao mundodasIdias.Ele seesforaporassimil-Ias,poistemnecessidadedelasparapodercomerciarcomseussemelhantes;masa assimilao sempreimperfeita.Cadaumdensasvsuamaneira.Existemalgumasquenosescapamcompletamente,quepermanecemforadonossocrculodeviso;outras,dasquaisnopercebemossenocertosaspectos.Existemmesmomuitasquedesnaturamosaopens-Ias;pois,comoelassocoletivaspornatureza,nopodemseindividualizarsemserretocadas,modificadase, por conseguinte,falsificadas.Da decorrequetenhamostantadificuldadeemnosentenderequeat,freqentemente,nsmintamos,semo querer,unsaosoutros:quetodosempregamosasmesmaspalavrassemIhesdaro mesmosentido.
Agorapode-seentreverqualapartedasociedadenagnesedopensamentolgico.Estenopossvelsenoapartirdomomentoemque,acimadasrepresentaesfugidiasqueeledeve experinciasensvel,o homemchegoua concebertodoummundodeideaisestveis,lugar-comumdasinteligncias.Comefeito,pensarlogicamentesempre,emalgumamedida,pensardemaneiraimpessoal;tambmpensarsubspecieaeternita-tis.3 5 Impessoalidade,estabilidade,eisasduascaractersticasdaverdade.Ora,avidal-gicasuPeevidentementequeo homemsabe,pelomeno'sconfusiTIente,queexisteumaverdadedistintadasaparnciassensveis.Mascomopodeelechegara estaconcepo?Raciocina-sefreqentemedtecomoseeladevesseapresentar-seespontaneamentedesdequeo homemabriuosolhosparao mundo.Todavia,nohnadanaexperinciaime-diataquepossasugeri-Ia,tudochegamesmoa contradiz-Ia.Igualmente,a crianaeoanimalnemmesmoa presumem.A histriamostra,alis,queelaprecisoudesculosparasedepreendereseconstituir.Emnossomundoocidental,foicomosgrandespensa-doresgregosqueelatomou,pelaprimeiravez,umaclaraconscinciadesimesmaedasconseqnciasqueelaimplica.E quandoa descobertasefez,estefatofoi umencanta-mentoquePlatotraduziuemlinguagemmagnfica.Mas,sefoisomentenestapocaquea idiaseexprimiuemfrmulasfilosficas,elanecessariamentepreexistianoestadodesentimentoobscuro.Estesentimentoos filsofosprocuraramelucidar;noo criaram.Paraqueelespudessemrefletirsobreeleeanalis-Io,eraprecisoqueeleIhesfossedadoe tratava-sedesaberdeondevinha,isto,emqueexperinciaestavafundado.Eranaexperinciacoletiva.Foi soba formadopensamentocoletivoqueo pensamentoimpes-
soalsereveloupelaprimeiravez humanidade;enosevporqueoutraviasepode!iafazertalrevelao.Apenasporquea sociedadeexiste,tambmexiste,foradassensaoese dasimagensindividuais,todoumsistemaderepresentaescoletivasquegozamde
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propriedadesmaravilhosas.Por elasoshomenssecompreendem,asintelignciaspene-tramumasnasoutras.Elastmemsiumtipodefora,deascendnciamoralemvirtudedaqualseimpemaosespritosparticulares.Desdeentoo indivduosedconta,pelomenosobscuramente,queacimadesuasrepresentaesprivadasexisteummundodenoes-tipos,segundoasquaisele obrigadoa regularsuasidias;entrevtodoumreinointelectualdequeeleparticipa,masqueo ultrapassa. umaprimeiraintuiodoreinoda verdade.Semdvida,a partirdo momentoemqueeleteveassimconscinciadestamaisaltaintelectualidade,aplicou-seempesquisarsuanatureza;eleprocurouapartirdeondeestasrepresentaeseminentesmantinhamsuasprerrogativase,namedi-daemqueeleacreditouterdescobertosuascausas,empreendeucolocarelemesmoestascausasemaoparadelastirar,porsuasprpriasforas,osefeitosqueelasimplicam;dizerqueelesedeua simesmoo direitodefazerconceitos.Assim,afaculdadedecon-ceberseindividualizou.Mas,paracompreenderbemasorigensdafuno,precisorela-cion-Iascondiessociaisdequedepende.
Objetar-se-quenoapresentamoso conceitosenoporumdeseusaspectos,queelenotemunicamentepormissoasseguraro acordodosespritosunscomosoutrosmastambm,e maisainda,seuacordocoma naturezadascoisas.Parecequeeletemtodaa suarazodeserunicamentesobcondiodeserverdadeiro,isto,objetivo,equesuaimpessoalidadespodeserconseqnciadesuaobjetividade. pelascoisaspensa-dasto adequadamentequantopossvelqueos espritosdeveriamsecomunicar.Nonegamosqueaevoluoconceitualempartesefaanestesentido.O conceitoque,primi-tivamente, tidoporverdadeiroporquecoletivo,tendea novir a sercoletivosenosobcondiodesertidoporverdadeiro:nslhepedimosseusttulosantesdeatribuir-lhenossocrdito.Mas,primeiramente,nosepodeperderdevistaqueaindahojeagrandemaioriadosconceitosdosquaisnsnosservimosnosometodicamenteconstitudos;nsospossumosnalinguagem,isto,naexperinciacomum,semqueelestenhamsidosubmetidosa nenhumacrticaprvia.Osconceitoscientificamenteelaboradosecritica-dosestosempreemminoriamuitopequena.Almdomais,entreesteseosquetmsuaautoridadepelonicofatodeseremcoletivos,existemapenasdiferenasdegraus.Umarepresentaocoletiva,porquecoletivaj apresentagarantiasdeobjetividade;poisnosemrazoqueelapodesegeneralizaresemantercomumasuficientepersistncia.Seelaestivesseemdesacordocoma naturezadascoisas,noteriapodidoadquirirumimprioextensoeprolongadosobreosespritos.No fundo,o queformaaconfianaqueinspiramosconceitoscientficosqueelessosuscetveisdesermetodicamentecontro-lados.Ora,umarepresentaocoletivaestnecessariamentesubmetidaa umcontroleindefinidamenterepetido:oshomensquea elaaderemverificam-naporsuaexperinciaprpria.Portanto,elanopoderiasercompletamenteinadequadaao seuobjeto.Pode,semdvida,exprimi-Iocomo auxliodesmbolosimperfeitos;masosprpriossmboloscientficosjamaisdeixamdeserapenassmbolosaproximados. precisamenteesteprin-cpioqueestnabasedomtodoqueseguimosnoestudodosfenmenosreligiosos:nsvemoscomoumaxiomaqueascrenasreligiosas,pormaisestranhasquealgumasvezespossamparecer,tmsuaverdadequeprecisodescobrir.36
Inversamente,precisoqueosconceitos,mesmoquandosoconstrudossegundotodasasregrasdacincia,tiremautoridadeunicamentedeseuvalorobjetivo.Nosufi-cientequeelessejamverdadeirosparaseremacreditados.Senoestoemharmoniacom
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Intadestaunidade.- Explicaodo papelatribudo sociedade:suapotnciacriadora.- Repercussesdasociologiasobrea cinciadohomem.
Podemosagoraabordarumaltimaquestoapresentadaj emnossaintroduoequepermaneceucomoquesubentendidaemtodaaseqnciadestaobra.Vimosquepelomenosalgumasdascategoriassocoisassociais.Trata-sedesaberdeondelhesvemestacaracterstica.
Semdvida,porqueelasprpriassoconceitos,compreende-sesemesforoquesejamobrada coletividade.No existemconceitosqueapresentemno mesmograuossignosaosquaissereconheceumarepresentaocoletiva.Comefeito,suaestabilidadee suaimpessoalidadesotaisqueelasfreqentementepassaramporserabsolutamenteuniversaise imutveis.Alis,comoelasexprimemascondiesfundamentaisdoenten-dimentoentreos espritos,pareceevidentequenopuderamserelaboradassenopelasociedade.
Mas no queas concerneo problema maiscomplexo;poiselassosociaisnumoutrosentidoecomoque segundapotncia.Noapenaselasvmdasociedade,masasprpriascoisasqueelasexprimemsosociais.Noapenasfoi a sociedadequeasinsti-tuiu,comotambmsoaspectosdiferentesdosersocialquelhesservemdecontedo;acategoriadegnerocomeouporserindistintadoconceitodegrupohumano;o ritmodavidasocialqueestnabasedacategoriadetempo;o espaoocupadopelasociedadeforneceua matriadacategoriadeespao;aforacoletivafoio prottipodoconceitodeforaeficaz,elementoessencialdacategoriadecausalidade.Todavia,ascategoriasnosofeitasparaaplicar-seunicamenteao reinosocial;estendem-se realidadeinteira.Como,portanto,foramtomadosda sociedadeos modelossobreos quaiselasforamconstrudas?
porquesoconceitoseminentesquedesempenhamno conhecimentoumpapelpreponderante.Comefeito,ascategoriastmporfunodominareenvolvertodososou-trosconceitos:soosquadrospermanentesdavidamental.Ora,paraqueelaspossamabraarumtal objeto, precisoquesetenhamformadosobreumarealidadedeigualamplido.
Semdvida,asrelaesqueelasexprimemexistem,deumamaneiraimplcita,nasconscinciasindividuais.O indivduovivenotempoe tem,comoo dissemos,umcerto
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AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA 241
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" No fundo,o conceitodetotalidade,o conceitodesociedadeeo conceitodedivindadeso,aoqueparece,apenasaspectosdiferentesdeumanicaemesmanoo.(N. doA.).2 V. ClassificaesPrimitivas.1oc.cit.,p.40eseguintes.(N. doA.)
o gnerototalforado qualnadaexiste.O conceitodetotalidadeno senoa formaabstratadoconceitodesoc