Durkheim Emile as Formas Elementares Da Vida Religiosa 1

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202 DURKHEIM razão., co.mo. se diz habitualmente, a so.ciedade só paga a renda em prazos fixo.s sucessivo.s? O que explica, julgamo.s nós, esta tempo.rização., é a maneira Co.mo. Q tempo. a~e so.bre a tendª~ia para o. suicíciiº..~ um fato.r auxiliar mas importante desta. Com efeito., "--é-âG-c6í1fiecimérnogeraique esta pro.gride ininterruptamente desde a juventude até a maturidade,2.7 e gue é dez v!<~~smaiulev.ada noJim.da vida do.que no.princípio.. Po.rtan- to., a fo.rçaooietiva que leva o. ho.mem a matar-se vai penetranc!o.nele lentameme~l'ra:s mésmás co.ndições,é à medida que a:Idlideavança que o.-ho.memse to.ma mais acessívei, sem dúvida po.rque necessita de experiências repetidas para sentir o. vazio. de uma exis- tência ego.ístaoua-PQbreza das ambições sem_limit!:S.Eisa razão. po.rque o.ssuicídio.s só cílmpFe~eu destino. po.rcamadas sucessivas de gerações. 28 27 Notemos, todavia, que esta progressão só foi determinada para as sociedades européias em que o suicí- dio ~itruísta é relativamente raro. Talvez não seja verdadeira no caso deste. É possível que ele atinja o apo- geu na maturidade, altura em que o homelllParti!:ipll mais apaixonadamente na_~i<!ayº.cial. As relações que existem entre o súiéídio e o homicíâiõ.. e que serão l(xaminadas no capítulo seguinte, confirmam esta hipótese. 28 Sem que pretendamos levantar uma questão da metafisica, que está fora do âmbito do nosso trabalho, gostarlamos, no entanto, de chamar a atenção para o fato' de que esta teoria da estaóstica não obriga a recu- sar toda espécie de liberdade ao homem. Pelo contrário, o livre arbítrio é muito mais respeitado do que quan- do se considera o indivíduo como o gerador dos fenômenos sociais. Com efeito, quaisquer que sejam as cau- sas a que se deva a regularidade das manifestaçôes coletivas, é evidente que não deixarão de produzir os seus efeitos onde quer que se encontrem: pois, de outro modo, estes efeitos variariam caprichosamente em vez de apresentarem a uniformidade que os caracteriza. Se, portanto, são inerentes aos indivíduos, determinarão necessariamente os indivíduos em que se encontram. Por conseguinte, nesta hipótese, não há possibilidade de escapar ao determinismo mais rigoroso. Mas as coisas já não se passam deste modo se esta constância dos dados demográficos provier de uma força exterior aos indivíduos. Porque, neste caso, esta não determina uns indivíduos mais do que outros. Reclama um número definido de certos atos mas tanto lhe faz que estes pro- venham deste ou daquele. Pode-se admitir que alguns lhe resistem e outros a satisfazem. Definitivamente, a nossa concepção limita-se a acrescentar às forças tisicas, químicas, biológicas forças sociais que agem sobre o hpmem a partir do exterior à semelhança das primeiras. Se, portanto, estas não excluem a liberdade huma- na, não há razão para que as coisas se passem diferentemente no caso daquelas. O problema põe-se do mesmo modo para umas e para outras. Quando um foco epidêmico se declara é a sua menor ou maior inten- sidade que vai determinar a importância da mortalidade que provocará; mas isso não implica que os futuros doentes estejam já designados. A situação dos suicidas em relação às correntes suicidogêneas é a mesma. I , AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA (O SISTEMA TOTÊMICO NA AUSTRÁLIA) INTRO'DUCÃO ECONCLUSÃO Tradução. de Carlo.s Alberto. Ribeiro. de Mo.ura

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    razo.,co.mo.se diz habitualmente,a so.ciedades pagaa rendaem prazosfixo.ssucessivo.s?

    O queexplica,julgamo.sns,estatempo.rizao., a maneiraCo.mo.Q tempo.a~eso.brea tend~iaparao.suiccii..~umfato.rauxiliarmasimportantedesta.Com efeito.,

    "---G-c61fiecimrnogeraique estapro.grideininterruptamentedesdea juventudeatamaturidade,2.7eguedezv!I,

    AS FORMASELEMENTARES DAVIDA RELIGIOSA

    (O SISTEMA TOTMICO NA AUSTRLIA)

    INTRO'DUCO ECONCLUSO

    Traduo.deCarlo.sAlberto.Ribeiro.de Mo.ura

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    ) o /tut.o(') ~ '\(1\ ~{j.-S')

    Ob'eto rincipaldo Iivro~~_~ maissimplesquese!~o'!lt~ci~.comvistasadeterminarasfor-maselementares VI a religiosa,- Por que-ernssao-iDaisacisdeatingiredeexplicaratravsdasreligiesprimitivas.

    INTRODUAO

    Objeto.deInvestigao.- so.cio.lo.giareligio.saeteo.riado.co.nhecimento.

    1 No mesmosentido,diremosdestassociedadesqueelassoprimitivasechamaremosprimitivoaohomemdestassociedades.A expressocarece,semdvida,depreciso,masdificilmente evitvele,alis,quandosetomouo cuidadodedeterminarsuasignificao,elanoapresentainconvenientes.(N. doAo)

    Propom2.-!l>sc~.tJ.!dr,nestelivro, ~~Ii.gjamais.primitivae_lT1li~s_simplesque~!ualmentesejacanhecida,fazersuaanlise~.~~ntarexpli'c~}a:'I5izemasdeltm sistema.~gi~-911et:lea maisprimitivaquenas sejadadaabservaa92.andaelepreencheasseguintescandies:em rimeirolugar, precis9_que~!e..!eencantre.__'. ielades

    . cjaargamzaao.no.se.jaultrapassadapornenhumaautraemsimplicidade;'iri omals,'preclsoquesejapassvelexplic-Iasemfazerintervirnenhumelemento.tamadadeemprstimo.aumasacledadeanferiar. ----..,......

    Esfarar-nas-emasemdescrevera ecanamiadestesistemacamaexatido.eafideli-dadequepaderiamterumetngrafaauumhistariadar.Masnassatarefano.selimitara isto..~ calaca-seproblemasdiferentesdahistriaaudaetnagrafia.Elano.procuracanhecerasfarmascaducasda civilizao.cama nicafim decanhec-Iaserecanstitu-Ias.Mas,cama tadacinciapasitiva,antesdetudo.elatemporabjeto..expli-carumarealidadeatu'f;praxlmaden.

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    AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA

    nicomeioquetemosparadeterminarascausasqueos suscitaram.Portanto,todasasvezesqueseempreendeexplicarumacoisahumana,tomadaemummomentodetermi-nadodotempo- quersetratedeumacrenareligiosa,deumaregramoral,querdeumpreceitojurdiCO,deumatcnicaesttica,deumregimeeconmico-, precisocome-~ porretrocederatasuaformamaisprimitiva,emaissimples,procurardarcontados

    etJ ~acterespelosguaiselase~efinenesteperododesuaeXisto.ncia,deD.ois.mo..str.ar.como_'\ elasedesenvolveuesecomplicoupoucoa pouco,comoelasetornouoquenomomen-..-'9toconsiderado.Ora,cOhcebe-sefacilmentedequeimportanClapr-eStlis6r1edeexpli-

    caesprogressivasadeterminaodopontodepartidaaoqualestosubordinadas.Eraumprincpiocartesianoque,nacadeiadasverdadescientficas,o primeiroelodesempe-nhaumpapelpreponderante.Certamente,nopoderiasero casodecolocarnabasedacinciadasreligiesumanooelaboradamaneiracartesiana,isto,umconceitolgi-co, um puropossvel,construdoapenaspelasforasdo esprito.O queprecisamosencontrar umarealidadeconcretaqueunicamentea observaohistricapodenosrevelar.Mas,seestaconcepofundamentaldeveserobtidaporprocessosdiferehtes,permaneceverdadeiroqueela chamadaa desempenharumainflunciaconsidervel

    ~sobre todaa seqncia.9llJl~j2ro.pQsiQele~A evolubiolgicafoi concebidademaneiracompletamentediferentea partirdomomentoemquesesoube:queexistiamseresmonocelulares.Igualmente,o detalhedosfatosreligiososexplicadodiferentemente,segundosecolocanaorigemdaevoluoo naturismo,o animismoouqualqueroutraformareligiosa.Mesmoossbiosmaisespecializados,senopretendemlimitar-sea umatarefadepuraerudio,sequeremtentardarcontadosfatosqueanali-sam,soobrigadosa escolhertal outaldestashiptesese inspirar-senela.Quereleso

    queiram,querno,asquestesqueelesseco)orriiornamnecessariamentea seguinteforma:comoo naturismoou o animiSmframdeterminadosa tomaraquiou ali talaspectoparticular,a enriquecer-seou empobrecer-sedetal ou tal maneira?Portanto,porquenosepodeevitartomarumpartidosobreesteproblemainicialeporqueasolu-oquesedestdestinadaa afetaro conjuntodacincia,onvmabord-Iodefrente; oquenospropomosfazer. '

    Poroutrolado,mesmoforadestasrepercussesindiretas,o estudodasteligiespri-I mitivastemporsimesmouminteresseimediatoquedeprimeiraimportncia.

    (\) Comefeito,:e til saberemqueconsiS!e_tal ou tal religioparticular,importa~ maisaindainvestigaro uee a rehglaodeumamaneirageral.E esteproblemaqueem

    ,tdosostempostentoua curiosidll.edosfilsofosen.s-mrazo,poiseleinteressahumanidadeinteira.Infelizmente,o mtodoqueelesordinariamenteempregampararesolvlopuramentedialtico:elesselimitama analisara idiaquesefazemdareli-gio,sobcondiodeilustraros resultadosdestaanlisementalporexemplosempres-tadossreligiesquerealizamdamelhormaneiraseuideal.Mas,seestemtododeveserabandonado,o problemapermaneceinteiroeo grandeservioprestadopelafilosofiafoio deimpedirqueeletenhasidoprescritopelodesdenhodoseruditos.Ora,elepodeserretomadoporoutrasvias.Porquetodasasreligiessocomparveis,porqueelassotodasespciesdomesmognero,existemnecessariamenteelementosessenciaisqueIhessocomuns.Comistonopretendemossimplesmentefalardoscaracteresexterioresevisveisqueelastodasapresentamigualmenteequepermitemdardelas,desdeo comeodainvestigao,umadefinioprovisria;a descobertadestessignosaparentesrelati-vamentefcil,poisa observaoqueelaexigenonecessitaultrapassarasuperfciedascoisas.Masestassemelhanasexterioressupemoutrasquesoprofundas.Na basedetodosossistemasdecrenasedetodososcultosdevenecessariamentehaverumcerto--~-----------------_._--- ---".---_....--------------

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    auxiliar-nosa compreendero cnstlanismono suporqueesteprocededa mesmamentalidade,isto,queele feitodasmesmassuperstiese repousasobreosmesmoserros?Eis a comoaimportnciatericaquealgumasvezesfoiatribudasreligiespri-mitivaspodepassarpelondicedeumairreligiosidadesistemticaque,prejulgandoosresultadosdainvestigao,viciava-osdeincio.

    Noprecisamosexaminaraquiseexistemrealmenteinvestigadoresquemereceramestacensuraequefizeramdahistriaedaetnografiareligiosaumamquinadeguerracontraa religio.De qualquermaneira,nopoderiaseresteo pontodevistadeumsocilogo.Comefeito,umpostuladoessencialdasociologiaqueumainstituiohuma-

    ~ .nanopoeriarepousarsobreo erroesobreamentIra:sem-C)ieera~durirazesqueo fielseda si mesmop-a.raJustIfIca-Iospodemser;o~f!l.J:.mofreqente-me,!!e,_errneas;masas razesverdadeirasnodeixamdeexlo.tire tarefadacinciadescobri-Ias.

    .:'>Portanto,nofundo,noexistemreligiesfalsas.. suamaneira,todassoverdadei-rastodas!~sl?ondem,mesmo--;:;ede~t:!~p1t:~.~o.~fflas)~ac()Il_dies-dd~sc~-~~I;tncia"humana. uvida,possveldis -Ia se un o umaordemmerrquica.Umasodem

    serditassuperioressoutrasnosentidoeiUqueelaspemel11JogofunesmentaismaiseTevaaas< somaisncaS"'ttrtiiaseseninentos,I1eIS1gunimmillScoriCeitos,menossensaese imagens,s- tiza maiSengenhosa.MS--r-. maisreaisqueselamesta.maiOcompexidaeeestamaisataI ea1ade,elasnososuficientespara~Ci . r asreli iescorres generosseparados~Tdas'S()'gualin~n_iereH-gieszassimcomotadQsJl5 seresVIVOS_Q..Hilllmentevivos,desdeos mais~humildes

    Stidiosato homem.Portanto,senosdirigimss-religiesprimitivas,nocoma'segunaaintenodedepreciara religioemgeral,poisaquelasreligiesnosomenosi-SpetVis queas outras.Elas respondems mesmasnecessidades,desempenhamo~cl., dependemdas~s cauilli~;portanto,elaspodemserVir"paramanifes-tarigualmentebema naturezadavidareligiosae,porconseguinte,pararesolvero pro-blemaqueoesejamostratar.

    Mas pr queconferir-Ihesumtipodeprerrogativa?Por queescolh-Iasdeprefe-rnciaa todasasoutrascomoobjetodenossoestudo?- Unicamentepor razesde~ .' Primeiramente,~ ,pQdemosche~aracompreenderasreligiesmaisrecentessenose . do na . 'ria-amaneirapelaqualelas useram ro ressivamente.Com ~eleito,ahisti1ofiicome earrliseexlicativa uepossvelaplicar-Ihes.~'naselanospermltereso-verumainstituii.oe'mseuselementosconstitutivos,porqueelano-losmostranascendonotempo,unsapsosoutros.Poroutrolado,situandocadaumdelesnoconjuntodascircunstnciasnasquaiselenasceu,elacolocaemnossasmoso

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  • 2 Isto no dizer.semdvida,quetodoluxoestejaausentedoscultosprimitivos.Veremos,aocontrrio,

    queemtodareligioseencontramcrenase prticasquenovisama finsestritamenteutilitrios(livro III,capoIV, 2). Mas esteluxo indispensvel vidareligiosa,elepertence suaprpriaessncia.Por outrolado,ele muitomaisrudimentarnasreligiesinferioresdoquenasoutrase istoquenospermitirdeter-minarmelhorsuarazodeser.(N. doA.)

    209AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA

    Portanto,as civilizaesprimitivasconstituemcasosprivilegiados,porquesocasossimples.Eisaporque,emtodasasordensdefatos,asobservaesdosetngrafosfreqentementeforamverdadeirasrevelaesquerenovaramo estudodasinstituieshumanas.Por exemplo,antesdametadedosculoXIX, estava-seconvencidodequeopaierao elementoessencialdafamlia;noseconcebiaquepudessehaverumaorgani-zaofamiliarnaqualo poderpaternonofosseo princpio.A descobertadeBachofenveiotransformarestavelhaconcepo.Atpocasmuitorecentes,considerava-secomoevidentequeasrelaesmoraisejurdicasqueconstituemo parentescoeramapenasumaspectodasrelaesfisiolgicasqueresultamdacomunidadededescendncia;Bachofeneseussucessores.MacLennan.Morganemuitosoutros,aindaestavamsobainflunciadesteprejuzo.Desdequeconhecemosa naturezadoclprimitivo,sabemos,aocontrrio,queo parentesconopoderiadefinir-sepelaconsanginidade.Pararetomarsreli-gies,a consideraoapenasdasformasreligiosasquenossomaisfamiliaresfezcomqueseacreditassedurantemuitotempoqueanoodedeuseracaractersticadetudooquereligioso.Ora,a religioqueestudamosmaisadiante,emgrandeparte,estranha.

    Oa todaidiadedivinElft~~a~QI~s gualssedirigemosntossomuitodiferentes~ "CIquelasqueocupaffi-oprimeirolugaremnossasreligiesmodernas,e,entretanto,elasuxiliar-nos-aoa compreenoermelno[-esislirnJas.Porianto,nadamaisinjustoqueodesdenhoquemuttoSfiTstorladorestmaindapelostrabalhosdosetngrafos.Ao contr-rio,certoquea etnografiafreqentementedeterminou,nosdiferentessetoresdasocio-logia,asmaisfecundasrevolues.Por outrolado,foi pelamesmarazoquea d~sco-bertadosseresmonocelulares,da qualfalvamosh pouco,transformoua idiaquecorrentementesefaziadavida.Comonestesseresmuitosimplesa vidaestreduzidaaseustraosessenciais,maisdifcilqueestestraospermaneamdesconhecidos.

    Mas asreligiesprimitivasnopermitemapenasdistinguiroselementosconstitu-tivosdareligio;gozamtambma vantagemmuitograndedefacilitarsuaexplicao.Porqueaquiosfatossomaissimples,asrelaesentreosfatostambmsomaisapa-rentes.As razespelasquaisoshomensexplicamseusatosaindanoforamelaboradasedesnaturadasporumareflexoerudita;elasestomaisprximas,maisaparentadasaosm>veisquerealmentedeterminaramestesatos.Para compreenderbemumdelrioepoderaplicar-lheo tratamento.maisapnmrill~o,o mdicoprecisasaberqualfoi o seu

    S( pontoinicial.Ora,esteacontecimento tantomaisrcildediscernirquandosepodebservarestedelrioemumperodomaisprximodeseucomeo.Ao contrrio,maissedeixa doenao tempodesedesenvolver,maiselaseesquiva observao;que,nopercurso,intervieramtodosostiposdeinterpretaesquetendema reprimirnoincons-cienteo estadooriginalea substitu-Ioporoutrosatravsdosquaisalgumasvezespe-nosoreencontraro primeiro.Entreumdelriosistematizadoe asprimeirasimpressesquelhederamnascimento,freqentementeadistnciaconsidervel.Aconteceo mesmocomo pensamentoreligioso.Na medidaemqueeleprogridenaHistria,ascausasqueo chamaram existncia,permanecendosempreativas,nosomaispercebidassenoatravsdeumvastosistemadeinterpretaesqueasdeformam,j\smitologiaspopulareseasteologiassutisfizeramseu-trabafu:elassobrepuseramaossentimentospnm1hvos

    Imentosmuitodiferentesque,dependendodosprimeiros,dosguaiselessoa forma~eT.fada,entretantOnao deixamtransparecersuajljtt~.!~zay_erdadeiraseno.'11ui!o_imperfeitamente.A distnCiapsicolgicaentrea causaeo efeito,entreacausaaparentee a causaefetiva,tornou-semaisconsidervele maisdifcilparao espritopercorr-Ia.Estaobraserumailustraoe umaverificaodestaobservaometodolgica.Aquiver-se-como,nasreligiesprimitivas,o fatoreligiosotrazaindavisvelo cunhodesuas

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    ~nmero derepresentaesfundamentaisede.atitudl:S..Ei!!I~i~.qlJ.~..!..Il1.a1gr.lld.o..adi.vers.ida..d.e

    dasforinasqueumaseoutraspuderamrevestir,emtodasas~tes_t~nJame$.ma)~ignifi-caoobjetivaeemtodasaspartespreenchemasmesmasfun~_e~Soesteselementospermanentesqueconstituemo quehdeeternoedehumanonareligio;elessotodoocontedoobjetivodaidiaqueseexprimequandosefalada religio emgeral.Comopossvelchegaraatingi-Ios?

    Certamente,noobservandoasreligiescomplexasqueaparecemnodecorrerdahistria.Cadaumadelasestformadadeumatalvariedadedeelementosque muitodifcildistinguirnelaso secundriodoprincipal,o essencialdoacessrio.Queseconsi-deremreligiescomoasdoEgito,dandiaoudaantiguidadeclssica!Soumemara-nhadoespessodecultosmltiplos,variveiscomaslocalidades,comostemplos,comasgeraes,asdinastias,asinvases,etc.Nelasassuperstiespopularesestomisturadasaosmaisrefinadosdogmas.Nemo pensamentonema atividadereligiosaestoigual-mentedistribudosnamassadosfiis;segundooshomens,osmeioseascircunstncias,tantoas crenasquantoos ritos sosentidosde maneirasdiferentes.Aqui existempadres,ali monges,emoutrolugarleigos;existemmsticose racionalistas,telogoseprofetas,etc.Nestascondies,difci~ceber o quecomumatodos.Pode-seencon-traro meiodeestudarutilmente,atravsdeumoudeoutrodestessistemas,taloutalfatoparticularqueali seencontraespecialmentedesenvolvido,comoo sacrifcioou oprofetismo,o monacatoou osmistrios.Mascomodescobriro fundocomumdavidareligiosasoba luxuriantevegetaoquea recobre?Como,soba contradiodasteolo-gias,asvariaesdosrituais,amultiplicidadedosagrupamentos,adiversidadedosindi-vduos,reencontrarosestadosfundamentais,caractersticosdamentalidadereligiosaemgeral?

    Nas sociedadesinferiores,tudo completamentediferente.O menordesenvolvi-mentodas individualidades,a extensomaisfracado grupo,a homogeneidadedascircunstnciasexteriores,tudocontribuiparareduziraomnimoasdiferenaseasvaria-es.O gruporealiza,demaneiraregular,umauniformidadeintelectualemoraldeguesencontramosrarosexemplosnassociedadesmaisadiantadas.Tudocomumatodos.

    SiiiOViTIentossoestereotipados,todomundoexecutaosmesmosatos,nasmesmascircunstncias,eestaconformidadedacondutanofazsenotraduziraqueladopensa-mento.Todasasconscinciasestandoencadeadasnasmesmascorrentes,o tipoindivi-

    dualquaseseconfundecomo tipo~. Ao mesmotempoquetudouniforme,tudo'["simples.NadamaisrudedoqueestesmitoscompostosdeumnicoemesIl10temaqueserepetesemfim,doqueestesritosque"sofeitosdeumpequenonmerodegestosTe"COl"Ileadssaciedade.A imaginaopopulare sacerd6talaiud-Ilo"tevenem-otemponemsmeiosderefinaredetransformaramatria-primadasidiasedasprticasreligiosas;portanto,estamatriasemostraanueseofereceporsimesma observao,bastandoumesforomnimoparadescobri-Ia.O acessrio,o secundrio,osdesenvolvimentosdeluxoaindanovieramescondero principal.2 Tudoestreduzidoaoindispen-svel,quilosemo quenopoderiahaverreligio.Mas o indispensvel tambmoessencial,isto,o queantesdetudoimportaconhecer.

    ()"----

  • 3 V-sequedamos palavraorigem,como palavraprimitivo,umsentidocompletamenterelativo,EQten-demospor istono um comeoabsoluto.maso maissimplesestadosocialqueatualmente conhecido,aquelealmdqualnonos presentementepossvelremontar.Quandofalarmosdasorigens,doscomeosdahistriaoudopensamentoreligioso. nestesentidoquetaisexpressesdeveroserentendidas.(N. doA.)

    ""ii,~,,-0,~Ji&WJI ~jM.J:;~,,~,;

    4 Dizemosdo tempoe do espaoquesocategorias,porqueno hnenhumadiferenaentreo papelquedesempenhamestasnoesnavidaintelectualeaqueleatribudosnoesdegnerooudecausa.(Versob~eestepontoHamelin,EssaiSUl'leslmelltsPrincipauxdeIa Reprselltation,pp.63.76.Paris,Alcan,depOISP.U.F.)(N. doA.)

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    Mas nossainvestigaonointeressaapenas cinciadasreligies.Com efeito,todareligiotemumladopeloqualelaultrapassao crculodasidiaspropriamentereli-giosase,atravsdisto,o estudodosfenmenosreligiososforneceummeioderenovarproblemasque,ato presente,noforamdebatidossenoentrefilsofos.

    Sabe-sedesdemuitotempoque?s primeirossistemasde representaesque'ohomemsefezdo mundoedesi mesmosodeorigemreligiosa.No...exis.te..religioqUenosejaumacosmologiaao mesmotempoqueumaespeculaosobreo divino.s afilosofiaeascinciasnasceramdareligio,queaprpria.religiocomeouporocuparo lugardascinciasedafilosofia.Maso quefoi menosnotadoqueelanoselimitoua enriquecercomumcertonmerodeidiasumespritohumanopreviamenteformado;elacontribuiutambmparaform-lo.Os homensnolhedeveramapenasumanotvelparceladamatriadeseusconhecimentos,mastambma formasegundoa qualessesconhecimentossoelaborados.

    Existe,na basedenossosjulgamentos,umcertonmerodenoesessenciaisquedominamtodaa nossavidaintelectual;soaquelasqueos filsofos,desdeAristteles,chamamdecategoriasdoentendimento:noesdetempo,deespao,4 degnero,nme-ro,causa,substncia,personalidade,etc.Elascorrespondemspropriedadesmaisuni-versaisdascoisas.Elassocomoquadrosrgidosqueencerramo pensamento;estepare-cenopoderlibertar-sedelassemsedestruir,poisnoparecequepossamospensarobjetosquenoestejamnotempoounoespao,quenosejamnumerveis,etc.As ou-trasnoessocontingentese mveis;nsconcebemosqueelaspossamfaltara umhomem,a umasociedade,a umapoca;aquelasnosparecemquaseinseparveisdofuncionamentonormaldoesprito.Socomoa ossaturadainteligncia.Ora,quandoseanalisammetodicamenteascrenasreligiosasprimitivas,encontram-senaturalmenteemseucaminhoas principaisdessascategorias.Estasnasceramnareligioeda religio;soumprodutodo pensamentoreligioso. umaconstataoquefaremosvriasvezesnodecorrerdestaobra.

    Objetosecundriodainvestigao:gnesedasnoesfundamentaisdopensamentooucategorias.- Razesparaacreditarqueelastm umaorigemreligiosae,por.conseguinte,social.- Como,destepontodevista,seentrevummeioderenovara teoriadoconhecimento.

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    origens;ter-nos-iasidobemmaisrduoinferi-Ioconsiderandoapenasasreligiesmaisdesenvolvidas.

    Portanto,o estudoqueempreendemos umamaneifltdeJ~tQmar+Jnasemcondi-\\)[es novaS,--v~oblema qa ongernosrcl1giG#d."S '1l,\\V,~i5OV 1-'c ~~\.J~ 60 L

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  • Ver,emapoioa estaassero,emHuberte Mauss,Mlangesdllistoire Religieuse(Travauxdel'AnneSociologiqueJ,o captulosobre"A RepresentaodoTemponaReligio"(Paris,Alean).(N. doA.) Atravsdistov-setodaadiferenaqueexisteentreo complexodesensaesedeimagensqueserveparanosorientarnaduraoe a categoriadetempo.As primeirassoo resumodeexperinciasindividuaisqueno sovlidassenoparao indivduoqueasfez.Ao contrrio,Q queexprimea categoriadetempo umtem comumao grupo, o temposocial,seassimse de falar.Ela mesma umaverdadeirainstituiosocial.E tam emparucuarao ornem;o animalnotemrepresentaodestegnero.Estadistinoentrea categoriadetempoeassensaescorrespondentespoderiaigualmenteserfeitaa pro-psitodo espaoe da causa.Talvezelaajudassea dissiparalgumasconfusesquealimentamas contro-vrsiasdasquaisestasquestessoobjeto.Retomaremosa estepontonaconclusodestaobra(4).(N. doA.)7 Op.cit.,p.75eseguintes.(N. doA.)

    Estaobservaoj temporsimesmaorigeminteresse;maseiso quelhedsuaver-dadeiraimportncia.

    A conclusogeraldolivroquesevailerqueareligioumacoisaeminentemente~ As representaesreligiosassorepresentaescoletivasqueexprimemrealida-descoletivas;osritossomaneirasdeagirquenascemnoseiodosgruposreunidosequesodestinadosa suscitar,a manterou a refazercertosestadosmentaisdessesgrupos.Mas ento,!e ascategoriassodeorigemreligiosa,elasdevemparticipardanaturezacomuma todosos fatosreligiosos:elastambmdevemsercoisassociais,produtosdopensamentocoletivo.Pelomenos- pois,noestadoatualdenossosconhecimentosnestamatria,devemosnosguardardetodateseradicale exclusiva- legtimosuporqueelassoricasemelementossociais.

    isto,alis,que,desdej, sepodeentreverparaalgumasdelas.Quesetente,porexemplo,representaro queseriaa noodetempo,abstraofeitadosprcessospelosquaisnso dividimos,o medimos,o exprimimospormeiodesignosobjetivos,umtempoquenoseriaumasucessodeanos,demeses,desemanas,dedias,dehoras!Istoseriaalgoquaseimpensvel.Nopodemosconcebero temposenosobcondiodedistinguirnelemomentosdiferentes.Ora,qualaorigemdestadiferenciao?Semdvida,osesta-dosdeconscinciaquensj experimentamospodemproduzir-seemns,naprpriaordememqueprimitivamentesedesenvolveram;eassimporesdenossopassadotor-nam-sepresentes,distinguindo-seespontaneamentedo presente.Mas,pormaisimpor-tantequesejaestadistinoparanossaexperinciaprivada,faltamuitoparaqueelasejasuficienteparaconstituiranoooucategoriadetempo.Estanoconsistesimplesmenteemumacomemoraoparcialou integraldenossavidapassada.Ela umquadroabs-tratoe impessoalqueenvolvenoapenasnossaexistnciaindividualmasa dahumani-dade.Ela umquadroilimitadoondetodaduraoestexpostasobo olhardoespritoe ondetodosos acontecimentospossveispodemsersituadosemrelaoa pontosderefernciafixose determinados.~!o meutempoqueassimpodeserorganizado;otempotal como objetivamentepensadoportodososhomensdeumamesmaciviliza-~ Apenasistoj suficienteparafazerentreverqueumatal organizaodevesercoletiva.E, comefeito,a observaoestabelecequeestespontosdeapoioindispensveis,emrelaoaosquaistodasascoisassoclassificadastemporalmente,soemprestados vidasocial.As divisesemdias,semanas,meses,anos,etc.,correspondemperiodici-dadedosritos,dasfestas,dascerimniaspblicas.5 Um calendrioexprimeo ritmodaatividadecoletivaaomesmotempoquetemporfunoassegurarsuaregularidade.6

    O mesmoacontececomo espao.Comoo demonstrouHamelin,7 o espaonoestemeiovagoeindeterminadoqueKarittinhaimaginado:puraeabsolutamentehomo-gneo,elenoserviriaparanadae mesmonoapresentariaproblemasaopensamento.

    Deoutramaneira,paraexplicaresteacordo,seriaprecisoadmitirquetodosos indivduos,emvirtudedesuaconstituioorgnico-psquica,soespontaneamenteafetadosdamesmamaneirapelasdiferentespartesdoespao:o quetantomaisinverossimilhantequantoasdiferentesregiessoporsimesmasafetivamenteindiferentes.Alis, asdivisesdoespaomudamcomassociedades;aprovadequeelasnosoexclusiva-mentefundadasnanaturezacongenialdohomem.(N. doA.)9 VerDurkheime Mauss,SobreAlgumasFormasPrimitivasdeClassificao,in AnneSociologique,VI,p.47eseguintes.(N. doA.)10 Ibid, p.34eseguintes.(N. doA.)11 Zuiii Creat!onMyths,in 13thReportof theBureauof AmericanEthnology.p. 367e seguintes.(N. doA.)

    \ 2 V. Hertz,A Preeminnciada Mo Direita. EstudodePolaridadeReligiosa,in RevuePhilosophique,

    d~zemhrode1909.Sobrea mesmaquestodasrelaesentrea representaodoespaoe a formadacoleti-VIdade,veremRatzel,PolitischeGeographie.o captulointitulado"Der RaumimGeistderVlker" - OEspaono EspritodoPovo.(N. doA.)

    213AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA

    A representaoespacialco~sis~eesse~cialmentenumaprimeiracoordenaointrodu-zidaentreosdadosdaexpenenclasenslvel.Masestacoordenaoseriaimpossvelseaspartesdoespaofossemqualitativa~enteequiv.alentes,seelasrealmentefossemsubsti-tuveisumassoutras.Parapoderdisporespacialmenteascoisas,precisopodersitu-Ias diferentemente:colocarumas direita,outras esquerda,estasno alto,aquelasembaixo,nonorteouno sul,a lesteou a oeste,etc.,etc.,damesmamaneiraque,paradisportemporalmenteosestadosdeconscincia, precisopoderlocaliz-Iosemdatasdeterminadas.O querepresentadizerqueo espaonopoderiaserelemesmose,assimcomoo tempo,elenofossedivididoe diferenciado.Mas estasdivises,quelhesoessenciais,deondeprovm?Por si mesmo,elenotemnemdireitanemesquerda,nemaltonembaixo,nemnortenemsul,etc.Todasestasdistinesevidentemefteprovmdofatodequevaloresafetivosdiferentesforamatribudossregies.E comotodososho-mensdeumamesmacivilizaorepresentamo espaodeumamesmamaneira,precisoevidentementequeestesvaloresafetivoseasdistinesquedeledependemIhessejamigualmentecomuns;o queimplicaquasenecessariamentequeelassodeorigemsocial.8

    Existem,alis,casosemqueestecartersocialsetornamanifesto.Existemsocieda-desnaAustrliaenaAmricado Norteondeo espaoconcebidosoba formadeumcrculoimenso,porqueo prprioacampamentotemumaformacircular,9e o crculoespacialexatamentedivididocomoo crculotribale imagemdesteltimo.Na triboexistemtantasregiesdistintasquantosclseo lugarocupadopelosclsnointeriordoacampamentoquedeterminaa orientaodasregies.C'adaregiosedefinepelototemdoclaoqualela atribuda.Junto aosZuni,porexemplo,o pueblocompreendesetepartes;cadaumadestaspartesumgrupodeclsquetevesuaunidade:segundotodaaprobabilidade,eleeraprimitivamenteumclnicoqueemseguidasesubdividiu.Ora,oespaocompreendeigualmenteseteregiesecadaumadestassetepartesdomundoestemrelaesntimascomumapartedopueblo,isto,comumgrupodecls.1o "Assim"dizCushing,"umadivisoconsideradaestaremrelaocomonorte;umaoutrarepre-sentao oeste,umaoutrao sul,11etc."Cadapartedopueblotemumacorcaratensticaque simboliza;cadaregiotema suaque exatamenteaquelado bairrocorrespon-dente.No decorrerdahistria,o nmerodosclsfundamentaisvariou;o nmerodas

    regiesdoespaotambmvarioudamesmamaneira.Assim,a organizaosocialfoiomodelodaorganizaoespacialque comoumdecalquedaprimeira.No existenemmesmodistinodaesquerdaedadireitaque,longedeestarimplicadananaturezadohomememgeral,nosejaverossimilhantementeo produtoderepresentaesreligiosas,logo,coletivas.12

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  • , 3 No pretendemosdizerqueo pensamentomitolgicoo ignore,masqueeleo abolemaisfreqentementee maisabertamentequeo pensamentocientfico.Inversamente,mostraremosqueacincianopodenovio-l-Io,aomesmotempoconformando-sea elemaisescrupulosamentequea religio.Entrea cinciaea reli-giosexistem,sobesteaspectocomosobvriosoutros,diferenasdegraus;mas,senoprecisoexager-Ias,importantenot-Ias,poiselassosignificativas.(N. doA.)1 4 Estahiptesej tinhasido emitidapelosfundadoresda V6/kerpsych%gie.Encontra-senotadamenteindicadaem um curto artigode Windelband,intituladoDie Erkenntniss/ehreunterdemvO/kerpsyc%-gischemGesichtspunkte.in Zeitsch.j V6/kerpsyh%gie.VIII, p. 166eseguintes.Cf. umanotadeSteinhalsobreo mesmotema,ibid.p. 178eseguintes.(N. doA.)15 MesmonateoriadeSpencer, coma experinciaindividualquesoconstrudasascategorias.Sobesteaspecto,anicadiferenaqueexisteentreo empirismoordinrioeo empirismoevolucionistaque,segundoesteltimo,osresultadosdaexperinciaindividual"soconsolidadospelahereditariedade.Mas estaconsoli-daono lhesacrescentanadadeessencial;no penetrana suacomposionenhumelementoquenotenhasuaorigemnaexperinciado indivduo.Igualmente,nestateoria,anecessidadecomaqualascatego-riasseimpematualmentea ns o produtodeumailuso,deumprejuzosupersticioso,fortementeenrai-zadonoorganismo,massemfundamentonanaturezadascoisas.(N. doA.)

    Encontrar-se-o,maisadiante,provasanlogasrelativass noesde gnero,fora,personalidadeeeficcia.Pode-setambmperguntarseanoodecontradionodependetambmdecondiessociais.O quelevaa issoqueo imprioqueelaexerceusobreo pensamentovariousegundoo tempoeassociedades.O princpiodeidentidadedominahojeo espritocientfico;masexistemvastossistemasderepresentaesquedesempenharamnahistriadasidiasumpapelconsiderveleondeelefreqentementedesconhecido:soas mitologias,desdeasmaisgrosseirasatasmaisengenhosas.13Nelas,semcessar,estoemquestoseresquetmsimultaneamenteosatributosmaiscontraditrios,que simultaneamenteso unose vrios,materiaise espirituais,quepodemsubdividir-seindefinidamentesemnadaperderdoqueosconstitui;emmitologia,umaxiomaqueaparteequivaleaotodo.Estasvariaespelasquaispassounahistriaa regraqueparecegovernarnossa\gicaatualprovamque,longedeestarinscritaportodaa eternidadenaconstituiomentaldohomem,eladepende,pelomenosemparte,defatoreshistricos.porconseguintesociais.No sabemosexatamentequaissoeles;maspodemospresumirqueexistem.14

    Umavezadmitidaestahiptese,o problemadoconhecimentocoloca-seemtermosnovos.

    Ato presente,apenasduasdoutrinasestavamempauta.Parauns,ascategoriasnopodemserderivadasdaexperincia:elaslhesologicamenteanterioreseacondicio-nam.Sorepresentadascomotantosdadossimples,irredutveis,imanentesaoespritohumanoemvirtudedasuaconstituionativa.Eisporquesedizquesoapriori.Paraoutros,ao contrrio,elasseriamconstrudas,feitasdepease pedaos,e o indivduoseriao operriodestaconstruo.15

    Masumaeoutrasoluolevantamgravesdificuldades.Adota-seateseempirista?Entoprecisoretirarscategoriastodasassuascarac-

    tersticas.Com efeito,elasdistinguem-sede todosos outrosconhecimentospor suauniversalidadeenecessidade.Soos conceitosmaisgeraisqueexistemporqueseapli-cama todoo reale,damesmamaneiraquenoestoligadasa nenhumobjetoparticu-lar,soindependentesdetodosujeitoindividual:elassoo lugarcomumondeseencon-tramtodososespritos.Almdo mais,estesseencontramaquinecessariamente;poisarazo,quenooutracoisaqueo conjuntodascategoriasfundamentais, investidadeumaautoridadequalnopodemosnossubtrairvontade.Quandotentamosnosinsur-gircontraelaenoslivrardealgumasdestasnoesessenciais,chocamo-noscontravivas

    resistncias.Portanto,noapenaselasindependemdens,masimpe-sea ns.Ora,osdadosempricosapresentamcaracteresdiametralmenteopostos.Uma sensao,umaimagemrelacionam-seaumobjetodeterminadoouaumacoleodeobjetosdestegne-roeexprimemo estadomomentneodeumaconscinciaparticular:elaessencialmenteindividuale subjetiva.Tambmpodemosdispor,comumaliberdaderelativa,dasrepre-sentaesquetmestaorigem.Semdvida,quandonossassensaessoatuais,elasimpem-sea nsdefato. Mas, dedireito.permanecemossenhoresdeconceb-Iasdeoutramaneira,de nosrepresent-Iascomodesenrolando-seemumaordemdiferentedaquelanaqualelasforamproduzidas.Faceaelas,nadanQsprende,enquantoconside-raesdeumoutrogneronointervm.Portanto,eisadoistiposdeconhecimentoquesocomoquedoisploscontrriosdainteligncia.Nestascondies,reconduzirarazo experincia faz-Iadissipar-se;poisreduzirauniversalidadeea necessidadequeacaracterizama purasaparncias,ilusesquepodemserpraticamentecmodasmasquenocorrespondema nadanascoisas;,porconseguinte,recusartodaarealidadeobje-tiva vidalgicaqueascategoriastmpor funoregulareorganizar.O empirismoclssicochegaaoirracionalismo;talvezsejamesmoporesteltimonomequeconviriadesign-Io.

    Os aprioristas;malgradoo sentidoordinariamenteligadoaosrtulos,somaisrespeitososcomosfatos.Vistoqueelesnoadmitemcomoverdadeevidentequeascate-goriassofeitasdosmesmoselementosquenossasrepresentaessensveis,elesnosoobrigadosaempobrec-Iassistematicamente,aesvazi-Iasdetodocontedoreal,aredu-zi-Iasasimplesartifciosverbais.Eleslhesdeixam,aocontrrio,todososseuscaracteresespecficos.Os aprioristassoracionalistas;elescremqueo mundotemumaspectol-gicoquea razoexprimeemgraueminente.Mas paraisso,-Ihesprecisoatribuiraoespritoumcertopoderdeultrapassara experincia,deacresceraoquelheimediata-mentedado;ora,destepodersingularelesnooferecemnemexplicaonemjustifica-o.Pois limitar-sea dizerqueele inerente naturezadaintelignciahumananooexplica.Seriaprecisoaindafazerentreverdeondenstemosestasurpreendenteprerro-gativaecomopodemosvernascoisasrelaesqueo espetculodascoisasnopoderianosrevelar.Dizerquea prpriaexperinciaspossvelsobestacondiotalvezdes-locaro problema,no resolv-Io.Poistrata-seprecisamentedesaberdeondeprovmquea experincianosejasuficientepor si mesma,massupecondiesquelhesoanteriorese exteriorese comoacontecequeestascondiessorealizadasquandoecomoconvm.Pararespondera estasquestes,imaginou-sealgumasvezes,acimadasrazesindividuais,umarazosuperiore perfeitadaqualasprimeirasemanariamedequeelasteriam,porumtipodeparticipaomstica,suamaravilhosafaculdade:eraarazodivina.Masestahiptesetempelomenoso graveinconvenientedeestarsubtradaa todocontroleexperimental;portanto,elanosatisfazascondiesexigveisdeumahiptesecientfica.Almdo mais,as categoriasdo pensamentohumanojamaisestofixadassobumaformadefinida;fazem-se,desfazem-see refazem-seininterruptamente;mudamsegundooslugareseostempos.A razodivina,aocontrrio,imutvel.Comoestaimutabilidadepoderiadarcontadestaincessantevariabilidade?

    Taissoasduasconcepesquesechocamumacontraaoutradesdesculos;e,seo debateseeterniza,porqueemverdadeosargumentostrocadosseequivalemsensivel-mente.Sea razoapenasumaformadaexperinciaindividual,noexistemaisrazo.Por outrolado,selhereconhecermosos poderesqueelaseatribui,semsedarcontadisso,parecequea colocamosforadanaturezaedacincia.Em presenadestasobje-esopostas.o espritopermaneceindeciso.- Mas.seseadmitea origemsocialdas

    215AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSADURKHEIM214

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  • 1. Podealgumsesurpreendertalvezporquenodefinimoso apriorismopelahiptesedoinatismo.Masnarealidadeestaconcepodesempenhanadoutrinaumpapelapenassecundrio. umamaneirasimplistadeserepresentara irredutibilidadedosconhecimentosracionaisaosdadosempricos.Dizerdosprimeirosqueelessoinatosno passadeumamaneirapositivadedizerqueelesnosoumprodutodaexperinciatalcomoelaordinariamenteconcebida.(N. doA.)17 Pelomenosnamedidaemqueexistemrepresentaesindividuaise,porconseguinte,integralmenteemp-ricas.Mas defato,verossimilhantemente,noexistenenhumanaqualestesdoistiposdeelementosnoseencontremestreitamenteunidos.(N. doA.)1. Por outrolado,noprecisoentenderestairredutibilidadeemsentidoabsoluto.Noqueremosdizerqueno existanadanasrepresentaoesempricasqueanuncieasrepresentaesracionais,nemquenoexistanadano indivduoquepossaserolhadocomoo anncioda vidasocial.Se a experinciafossecompleta-menteestranhaa tudoo que racional,a razonopoderiaaplicar-sea ela;igualmente,sea naturezaps-quicado indivduofosseabsolutamenterefratria vidasocial,a sociedadeseriaimpossvel.Portanto,umaan~lisecompletadascategoriasdeveriainvestigaratna conscinciaindividualestesgermesderacionali-dade.Ns teremosocasioderetomara estepontoem'nossaconcluso.Tudoquantoqueremosestabeleceraquique,entreestesgermesindistintosderazoe a razopropriamentedita,existeumadistnciacompa-rvelquelaqueseparaaspropriedadesdoselementosmineraisdosquaisestformadoo servivoeosatri-butoscaractersticosdavida,umavezqueelaestconstituda.(N. doA.)

    categorias,uma nova atitudetorna-sepossvel,permitindo,acreditamos,escapardestasdificuldadescontrrias.

    'A proposiofundamentaldo apriorismo queo conhecimento formadode doistipos de elementosirredutveisum ao outro e como que de duas camadasdistintasesuperpostas.16 Nossa hiptesemantmintegralmenteeste princpio. Com efeito, osconhecimentoschamadosempricos,os nicosdosquais os tericosdo empirismosem-prese servirampara construira razo, so aquelesquea aodiretadosobjetossuscitaem nossos espritos.So portantoestadosindividuais,que se explicaminteiramente1 7pela naturezapsquicado indivduo.Ao contrrio,se,comons o pensamos,as catego-rias so,representaesel'sencialmentecoletivas,elastraduzemantesdetudoestadosdacoletividade:dependemda maneirapela qual esta constitudae organizada,de suamorfologia,de suasinstituiesreligiosas,morais,econmicas,etc.Portanto,entreestasduasespciesde representaesexistetoda a distnciaqueseparao individualdo sociale tanto no se pode derivar as segundasdas primeirasquanto no se pode deduzir asociedadedo indivduo, o todo da parte,o complexodo simples.18 A sociedade uma

    realidadesui generis;ela temseuscaracteresprpriosqueno sereencontram,ou no sereencontramsob a mesmaforma, no resto do universo.As representaesque a expri-memtm,portanto,um conteudocompletamentediferenteque as representaespura:=..-!TIenteindividuaise pode-sede incio estarsegurodequeasprimeirasacrescentamalgu-E!.,acoisassegunds.

    A prpria maneirapelaqual seformamumaseoutrasasdiferencia.As representa-escoletivasso o produto de uma imensacooperaoqueseestendeno apenasnoespao,mas no tempo; para faz-Ias,uma multido de espritosdiversosassociaram,misturaram,combinaramsuasidiase sentimentos;longassriesde geraesacumula-ram aqui sua experinciae seu saber.Uma intelectualidademuito particular, infinita-mentemais rica e mais complexado que a do indivduo,estaqui, portanto,como queconcentrada.Compreende-sedesdeento como a razo tem o poderde ultrapassaracapacidadedos conhecimentosempricos.Ela no o devea no seiqual virtudemiste-riosa, mas simplesmenteao fato de que, segundouma frmula conhecida,o homemduplo. Nele existemdois seres;um ser individual quetemsua baseno organismo,cujocrculo de ao seencontra,por isto mesmo,estreitamentelimitado;e um sersocialquerepresentaem ns a mais alta realidadena ordem intelectuale moral que possamosconhecerpelaobservao.isto . a sociedade.Esta dualidadedenossanaturezatempor

    217AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA

    conseqncia,na ordemprtica,a irredutibilidadedo ideal moralao mvelutilitrio,e,lia ordemdo pensamento,a irredutibilidadeda razo experinciaindividual.Na medi-,daemqueparticipada sociedade,o indivduoultrapassanaturalmentea si mesmo,tantoquandopensacomoquandoage.~"-E5"se mesmocartersocial permitecompreenderde onde vem a necessidadedas

    categorias.Diz-se deumaidiaqueelanecessriaquando,por umtipo devirtudeinter-na, seimpeao espritosemseracompanhadapor nenhumaprova.Portanto,existenelaalgoqueobrigaa inteligncia,quearrebataa adesosemexameprvio.Esta eficciasin-gui3f, o apriorismoa postulamasdelano sed conta;pois dizerqueas categoriassonecessriasporqueso indispensveisao funcionamentodo pensamento simplesmente

    repetirqueelas so necessrias.Mas, seelastma origemquens lhesatribumos,suainflunciano tem mais nada que surpreenda.Com efeito,elas exprimemas relaesmaisgeraisqueexistementreas coisas; ultrapassandoemextensotodasas nossasou-trasnoes,elasdominamtodo o detalhede nossavida intelectual.Portanto, sea cadamomentodo tempoos homensno seentendessemsobreestasidiasessenciais,seelesno tivessemuma concepohomogneado tempo,do espao,da causa,do nmero,ete.,todo acordoentreas intelignciastornar-se-iaimpossvele, por conseguinte,todaavidacomum.Igualmente,a sociedadeno podeabandonaras categoriasao livre arbtrio

    dos particularessemabandonara si mesma.Para poder viver,ela no s temnecessi-dadede um suficienteconformismomoral, mas existetambmum mnimo de confor-mismolgico, semo qualelano podesubsistir.Por estarazo,elapesacom todaa suaautoridadesobreseusmembros,a fim de preveniras dissidncias.Um espritoderrogaostensivamenteestasnormasde todo pensamento?Ela no o consideramais como um

    esprito humano no pleno sentido da palavra e o trata como tal. porque quand,mesmoemnosso foro interior, tentamoslibertar-nosdestasnoesfundamentais,senti-

    mos queno somoscompletamentelivres,que algo nos operesistncia,em ns e forade ns. Fora de ns, existea o inio ue nos 'ul a' mas almd'sto como a sociedadeesttambmrepresentadaemns, ela seopede dentrode nsmesmos,a estasveleida-desrevolucionrias;temosa impressoqueno podemosabandonar-nosa isto semque

    nossopensamentocessede serum pensamentoverdadeiramentehumano.Tal parecesera origemda autoridademuito especialque inerente razo e quefaz com queaceite-mos com confianasuassugestes. a prpria autoridadeda sociedade,19 comunican-do-sea certasmaneirasdepensarquesocomo queas condiesindispensveisdetoda

    aocomum.A necessidadecom a qual ascategoriasseimpema nsno portantooefeitode simpleshbitosdos quais poderamosnos libertar com um pouco de esforo;ela no , alm do mais, uma necessidadefsica ou metafsica,porque as categoriasmudamsegundoos lugarese os tempos;ela um tipo particularde necessidademoralqueestparaa vida intelectualassimcomoa obrigaomoralestparaa vontade.20

    19 Observou-sefreqentementequeos distrbiossociaistinhamcomoefeitoa multiplicaodosdistrbiosmentais. umaprovaa maisdequea disciplinalgica umaspectoparticulardadisciplinasocial.A pri-meirasedesmazelaquandoa segundaseenfraquece.(N. do A.)2 o Existeanalogiaentreestanecessidadelgicae a obrigaomoral,masnoh identidade,pelomenosatualmente.Hoje,a sociedadetrataos criminososdeoutramaneiraqueaspessoasdasquaisapenasa inteli-gncia anormal; a provadequea autoridadeligadas normaslgicase a inerentesnormasmorais,malgradoimportantessimilitudesno soda mesmanatureza.Soduasespciesdiferentesdeummesmognero.Seriainteressanteinvesti~aremqueconsistee deondeprovmestadifere~~qu~,vero~similhan-temente,no primitiva,pois,durantemuitotempo,a conscinciapblicamaldlstmgUluo ahenadododelinqente.Limitamo-nosa indicara questo.V-se,poresteexemplo,o nmerode:problemasquelevantaaanlisedestasnoesquegeralmentepassamporserelementaresesimplesequesao,narealidade,deumaextremacomplexidade.(N. doA.)

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  • Mas, seoriginalmenteas categoriastraduzemapenasestadossociais,noseguedistoqueelasspodemaplicar-seaorestodanaturezaattulodemetfora.s?Seelassofeitasunicamenteparaexprimircoisassociais,parecequenopoderiamserestendidasaosoutrosreinossenoporviadeconveno.Assim,enquantoelasnosservemparapensaro mundofsicooubiolgico,spoderiamtero valordesmbolosartificiais,prati-camenteteistalvez,massemrelaocoma realidade.Retornar-se-ia,portanto,poroutravia,aonominalismoeaoempirismo.

    Mas interpretardestamaneiraumateoriasociolgicado conhecimentoesquecerque,sea sociedadeumarealidadeespecfica,noentretantoumimpriodentrodeumimprio;elafazparteda natureza, suamaisaltamanifestao.O reinosocial umreinonatural,queno diferedosoutrossenopor suacomplexidademaior.Ora, impossvelquea natureza,noqueelatemdemaisessencial,sejaradicalmentediferentedesi mesmaaquie l.As relaesfundamentaisqueexistementreascoisas- aquelasjustamentequeas categoriastmpor funoexprimir- nopoderiamportantoseressencialmentedessemelhantessegundoos reinos.Se,porrazesqueteremosdeinves-tigar,21elasdesprendem-sedeumamaneiramaisaparentenomundosocial,impossvelqueelasnosereencontrememoutrolugar,mesmoquesobformasmaisencobertas.Asociedadeastornamaismanifestasmasdelasnotemo privilgio.Eis comonoesqueforamelaboradassobreo modelodascoisassociaispodemauxiliar-nosa pensarcoisasdeumaoutranatureza.Pelomenos,se,quandoelassoassimdesviadasdesuasignifica-oprimeira,estasnoesdesempenham,emumsentido,o papeldesmbolos, o desmbolosbemfundados.Se,pelonicofatodeseremconceitosconstrudos,nelesentrao artifcio,umartifcioqueseguedepertoanaturezaequeseesforaporseaproximardelasempremais.22Do fatodequeasidiasdetempo,deespao,degnero,decausa,depersonalidadesoconstrudascomelementossociais,noprecisoportantoconcluirqueelassodesprovidasdetodovalorobjetivo.Ao contrrio,suaorigemsocialfazantespresumirqueelasnoestosemfundamentonanaturezadascoisas.23

    Renovadadestamaneira,ateoriadoconhecimentopareceportantochamadaareu-nir asvantagenscontrriasdasduasteoriasrivaissemterseusinconvenientes.Ela con-servatodosos princpiosessenciaisdo apriorismo;masao mesmotempo,seinspiranesteespritodepositividadeaoqualo empirismoseesforavaemsatisfazer.Eladeixa razoseupoderespecfico,massedcontadelee istosemsairdomundoobservvel.Ela afirmacomoreala dualidadedenossavidaintelectual,masexplica-aporcausasnaturais.As categoriascessamdeserconsideradascomofatosprimeiroseinanalisveis;

    e entretanto,elaspermanecemde umacomplexidadeda qualanlisestosimplistasq~antoaquelascomquesecontentavao empirismonopoderiamsedarconta.Poiselasaparecemago~a,noco~onoes.muit?si~plesquequa~querumpodeapreenderdesuasobservaoespessoaIse quea Imagmaaopopulartenadesgraadamentecompli-cado,mas,ao contrrio,comoengenhososinstrumentosdepensamento,queosgruposhumanoslaboriosamenteforjaramnodecorrerdossculoseondeacumularamo melhordeseucapitalintelectual.24 Todaumapartedahistriadahumanidadeestaquiresumi-da. chegara dizerque,paracompreend-Iaseparajulg-Ias,precisorecorrera pro-cessosoutrosqueosusadosato presente.Parasaberdequesofeitasestasconcepesquensmesmosnofizemos,nopoderiasersuficientequeinterrogssemosnossacons-cincia.Precisamosolharparaforadensmesmos,observara histria,instituirtodaumacincia,cinciacomplexa,quenopodeavanarsenolentamente,porumtrabalhocoletivo,e quala presenteobratraz,a ttulodeensaio,algumascontribuiesfragmen-trias.Semfazerdestasquesteso objetodiretodenossoestudo,exploraremostodasasocasiesqueseofereceroa nsdeapreenderemseunascimentopelomenosalgumasdestasnoesque,sendoreligiosasporsuasorigens,deviamentretantopermanecernabasedamentalidadehumana.

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    AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA 219

    2' A questotratadanaconclusodolivro.(N. doA.)

    22 O racionalismoimanentea umateoriasociolgicado conhecimento portantointermedirioentreoempirismoe o apriorismoclssico.Para o primeiro,as categoriassoconstruespuramenteartificiais;parao segundo,elasso,aocontrrio,dadosnaturais;parans,elasso,emumsentido,obrasdearte,masdeumaartequeimitaa naturezacomumaperfeiosuscetveldecrescersemlimite.(N. doA.)23 Por exemplo,o queestna basedacategoriadetempoo ritmodavidasocial;mas,seexisteumritmoda vidacoletiva,pode-seestarsegurodequeexisteumoutronavida individual,maisgeralmente,naquelado universo.O primeiro apenasmaismarcadoC'llparentequeosoutros.Igualmente,veremosqueanoodegneroformou-sesobrea degrupohumano.Mas,'C"Coshomensformamgruposnaturais,pode-sepresu-mirqueexistem,entreascoisas,grupossimultaneamenteanlogosediferentes.Soestesgruposnaturaisdecoisasqueformamosgneroseasespcies.Separecea numerosssimosespritosquenosepodeatribuirumaorigemsocialscategoriassemIhesreti-rar todoo valorespeculativo, porquea sociedadeaindamuitofreqentementepassapornoserumacoisanatural;deondeseconcluiqueasrepresentaesquea exprimemnoexprimemnadadanatureza.Mas aconclusosvaletantoquantovaleo princpio.(N. do A.)

    24 Por isso legtimocompararascategoriasa utenslios;poiso utenslio,por seulado, capitalmaterialacumulado.Alis,entreastrsnoes,deutenslio,decategoriaedeinstituio,existeumparentescoestrei-to.(N. doA.)

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    CONCLUSAO

    Em quemedidaosresultadosobtidospodemsergeneralizados

    Anunciamosnoinciodestaobraquea religiodaqualempreenderamoso estudocontinhaos elementosmaiscaractersticosdavidareligiosa.Pode-severificaragoraaexatidodestaproposio.Pormaissimplesquesejao sistemaqueestudamos,nsreen-contramosneletodasasgrandesidiasetodasasprincipaisatitudesrituaisqueestonabasedasreligiesmaisavanadas:distinodascoisasemsagradaseprofanas,noodealma,deesprito,depersonalidaderntica,dedivindadenacionale mesmointerna-cional,cultonegativocomasprticasascticasquesosuaformaexasperada,ritosdeoblaoe decomunho,ritosimitativos,ritoscomemorativos,ritosdeexpiao.Aquinadafaltadeessencial.Portanto,temosfundamentosparaesperarqueosresultadosaosquaischegamosnosoparticularesapenasao totemismo,maspodemauxiliar-nosacompreendero queareligioemgeral.

    Objetar-se-queapenasumareligio,qualquerquepossasersuareadeextenso,constituiumabaseestreitaparatal induo.No pretendemosdesconhecero queumaverificaoextensapodeacrescentaremautoridadea umateoria.Masnomenosver-dadeque,quandoumaleifoiprovadaporumaexperinciabemfeita,estaprovauniver-salmentevlida.Se,mesmonumcasonico,umsbiochegasseasurpreendero segredodavida,fosseestecasoaqueledoserprotoplsmicomaissimplesquesepudesseconce-ber,asverdadesassimobtidasseriamaplicveisatodososseresvivos,mesmoaosmaiselevados.Portanto,senashumildessociedadesqueacabaramdeserestudadasconse-guimosrealmenteperceberalgunsdoselementosdosquaissofeitasasnoesreligiosasmaisfundamentais,noexisterazoparanoestendersoutrasreligiesosresultadosmaisgeraisdenossainvestigao.Comefeito,noconcebvelque,segundoascircuns-tncias,ummesmoefeitopossaserdevidooraa umacausa,oraa outra,a menosque,nofundo,asduascausasnopassemdeumas.Umamesmaidianopodeaquiexpri-mirumarealidadeealiumarealidadediferente,amenosqueestadualidadesejasimples-menteaparente.Se,juntoa certospovos,asidiasdesagrado,dealma,dedeusesexpli-cam-sesociologicamente,deve-secientificamentepresumirque,emprincpio,a mesmaexplicaovaleparatodosospovosemqueasmesmasidiasseencontramcomosmes-moscaracteresessenciais.Supondoportantoqueno tenhamosnosenganado,pelomenosalgumasdenossasconclusespodemlegitimamentesergeneralizadas. chegadoo momentodedistingui-Ias.E umainduodestanatureza,tendoporbaseumaexpe-rinciabemdefinida, menostemerriaquetantasgeneralizaessumriasque,ten-tandoatingirdeumasvezaessnciadareligiosemapoiar-senaanlisedenenhumareligioemparticular,arriscam-semuitoaperder-senovazio.

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    A religioapia-sesobreumaexperinciabemfundadamasnoprivilegiada.- Necessidadedeumacinciaparaatingira realidadequefundaestaexperincia.- Qual estarealidade:os agr~pamentoshumanos.-Sentidohumanoda religio.- Sobrea objeoqueopesociedadeideale sociedadereal.Como seexpli-cam,nestateoria,o individualismoeo cosmopolitismoreligioso.

    Freqentemente,os tericosquetentaramexprimira religioemtermosracionaisnelaviram,antesdetudo,umsistemadeidiasrespondendoa umobjetodeterminado.Esteobjetofoi concebidodemaneirasdiferentes:natureza,infinito,incognoscvel,ideal,etc.;masestasdiferenaspoucoimportam.Emtodososcasos,eramasrepresentaes,ascrenasqueeramconsideradascomoo elementoessencialda religio.Quantoaosritos,elesno apareciam,destepontode vista,senocomoumatraduoexterior,contingentee materialdestesestadosinternosque,nicos,passavamporterumvalorintrnseco.Estaconcepodetalmaneiradifundidaque,namaioriadasvezes,osdeba-tesemquea religioo temagiramemtornodaquestodesaberseelapodeounoconciliar-secoma cincia,isto,seaoladodoconhecimentocientficoexistelugarparaoutraformadepensamentoqueseriaespecificamentereligioso.

    Mas os crentes,os homensque,vivendoda vidareligiosa,tm-a sensaodiretadaquiloquea constitui,a essemododeverobjetamqueelenocorrespondesuaexpe-rinciacotidiana.Eles sentem,comefeito,quea verdadeirafunodareligionofazer-nospensar,enriquecernossoconhecimeni,acrescentars representaesquedevemos cinciarepresentaesdeumaoutraorigemedeumoutrocarter,masa defazer-nosagir,auxiliar-nosa viver.O fielquesecomunicoucomseudeusnoapenasumhomemquevnovasverdadesqueo descrenteignora;ele umhomemquepodemais.Ele senteemsi maisfora,sejaparasuportarasdificuldadesdaexistncia,sejaparavenc-Ias.Eleestcomoqueelevadoacimadasmisriashumanasporqueestele-vadoacimadesuacondiodehomem;acredita-sesalvodo mal,sobqualquerforma,alis,queeleconcebao mal.O primeiroartigodetodafacrenanasalvaopelaf.Ora,nosevcomoumasimplesidiapoderiaterestaeficcia.Umaidia,comefeito,nosenoumelementodensmesmos;comopoderiaelaconferir-nospoderessuperio-resquelesquetemospornossanatureza?Por maisqueelasejaricaemvirtudesafeti-vas,nopoderianadaacrescentar nossavitalidadenatural;poiselaspodeliberarasforasemotivasqueestoemns,nocri-Iasnemaument-Ias.Do fatodequensnosrepresentamosumobjetocomodignodeseramadoe procuradonoseseguequenossintamosmaisfortes;masprecisoquedesteobjetoemanemenergiassuperioresquelasdequedispomose,almdomais,quetenhamosalgummeiodefaz-Iaspenetraremnse demistur-Ias nossavidainterior.Ora,paraistonosuficientequensaspense-mos,mas indispensvelquenoscoloquemosemsuaesferadeao,quenosvoltemosparaladopeloqualpodemossentirmelhorsuainfluncia.Numapalavra,precisoqueajamosequerepitamososato~.qlle.s~~_~~~'!1,n~~~ios1todasasvezesemqueissotilpararenovarseusefeitos.e_s!~I1.!suk_vi!'ta,entrev-secomoesteconjuntodeatosregularmenterepetidos:9.e'constituio culto,rtomatodaSUirr\pofIria.De fato,

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    AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA 223

    quemquerquereal~enteprat!cou.umareligi~bemsabeque.o cultoquesuscitaestasimpressesdealegna,depazmtenor,deseremd~d~,~eentusiasmo,queso,parao fiel,a provaexperimentaldesuascrenas:O cult?naoe~mplesmenteumsistemadesignospelosquaisaf setraduzparao extenor,eleeacoleaodosmeiospelosquaiselasecriae serecriaperiodicamente.Queeleconsistaemmanobrasmateriaisou emoperaesmentais,sempreelequeeficaz.

    Todoo nossoestudorepousasobreestepostuladosegundoo qualestesentimentounnimedoscrentesdetodosos temposnopodeserpuramenteilusrio.Assimcomoumrecenteapologistada f,25admitimosportantoqueascrenasreligiosasrepousamsobreumaexperinciaespecficadaqualo valordemonstrativo,numsentido,noinfe-riorqueledasexperinciascientficas,mesmosendodiferente.Nstambmpensamos"queumarvoreseconheceporseusfrutos"2 6 equesuafecundidade amelhorprovadoquevalemsuasrazes.Masdofatodequeexiste,sesequiser,uma"experinciareli-giosa"e do fatodequeela fundadadealgumamaneira- existe,alis,umaexpe-rinciaquenoo seja?- nosesegueemhiptesealgumaquearealidadequeafundaobjetivamentesejaconforme idiaquedelafazemoscrentes.O prpriofatodequeamaneirapelaqualelafoi concebidavariouinfinitamentesegundoos tempossuficienteparaprovarquenenhumadestasconcepesaexprimeadequadamente.Seumsbioco-locacomoumaxiomaqueassensaesdecalor,deluz,queexperimentamoshomens,correspondema algumacausaobjetiva,distoelenoconcluiqueestasejatalqualapare-ceaossentidos.Igualmente,seasimpressesquesentemos fiisnosoimaginrias,noconstituementretantointuiesprivilegiadas;noexistenenhumarazoparapensarqueelasnosinstruemmelhorsobreanaturezadeseuobjetodoqueassensaesvulgaressobrea naturezadoscorpose suaspropriedades.Paradescobriremqueconsisteesteobjeto, portantoprecisofaz-Iosubmeter-sea umaelaboraoanlogaquelaquesubstituiu,representaosensveldomundo,umarepresentaocientficaeconceitual.

    Ora,precisamenteistoquetentamosfazerevimosqueestarealidade,queasmito-logiasrepresentaramsobtantasformasdiferentesmasquea causaobjetiva,universal

    eeternadestassensaessuigenerisdasquaisfeitaa experin

  • 224 DURKHEIM AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA 225

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    sas.Vimosqueaconteceo mesmocoma magiae,emconseqncia,comasdiversastc-nicasquedeladerivam.Por outrolado,sabe-'sehmuitotempoque,atummomentorelativamenteavanadoda evoluo,as regrasda morale do direitonosediferen-ciavamdasprescriesrituais.Portanto,pode-sedizer,resumindo,quequasetodasasgrandesinstituiessociaisnasceramdareligio.z7 Ora,'paraqueosprincipaisaspectosda vidacoletivatenhamc-.!!1_~do-..e2!_~~pectos~ariadoskvida religios, preciso.evidentementequea vidareligiosasejaa formaeminentee comoqueumaex~~?~abreviadadavidacoletivainteira.Sea religioengendroutudoo quehdeessencialnasociedade,porquea idiadasociedadeaalmadareligio.

    As forasreligiosassopoisforashumanas,forasmorai~.Semdvida,porqueossentimentoscoletivosnopodemtomarconscinciadesimesmossenofixindo-sesobreobjetosexteriores,taisforasnopuderamseconstituirsemtomarscoisasalgunsdosseuscaracteres:adquiriramassimumtipodenaturezafsica;a estettuloelasvierammisturar-se vidadomundomaterialeporelasqueseacreditoupoderexplicaro quenelesepassa.Mas,quandosoconsideradassomenteporesteladoenestaatribuio,v-seapenaso queelastmdemaissuperficial.Na realidade conscinciaquesoemprestadososelementosessenciaisdosquaiselassofeitas.Ordinariamenteparecequeelasnoteriamumcarterhumanosenoquandosopensadassobformahumana;28noentanto,mesmoas mais impessoaise maisannimasno passamde sentimentosobjetivados.

    S vendoasreligiessobestengulopossvelpercebersuaverdadeirasignifica-o.Prendendo-sesaparncias,osritosfreqentementeparecemo efeitodeoperaespuramentemanuais:sounes,lavagens,refeies.Paraconsagrarumacoisa,sea co-locaemcontatocomumafontedeenergiareligiosa,assimcomohoje,paraesquentaroueletrizarumcorpo,seo colocaemligaocomumafontedecaloroudeeletricidade;osprocedimentosempregadospor umae outrapartenosoessencialmentediferentes.Assimcompreendida,a tcnicareligiosapareceumtipodemecnicamstica.Masestasmanobrasmateriaissoo invlucroexteriorsobo qualsedissimulamoperaesmen-tais.Finalmente,trata-senodeexercerumtipodecoaofsicasobreforascegase,alis,imaginrias,masde atingirconscincias,de tonific-Ias,disciplin-Ias.Tem-seafirmadoalgumasvezesqueasreligiesinferioreserammaterialistas.A expressoine-xata.Todasasreligies,mesmoasmaisgrosseiras,so,emcertosentido,espiritualistas:poisaspotnciasqueelascolocamemjogosoantesdetudoespirituaise,poroutrolado,sobrea vidamoralqueelastmporprincipalfunoagir.Compreende-seassimqueo quefoi feitoemnomedareligionopoderiatersidofeitoemvo:poisfoineces-sariamenteasociedadedoshomens,ahumanidadequerecolheuseusfrutos.

    Mas,diz-se,qualexatamentea sociedadedaqualsetirouo substratodavidareli-giosa? a sociedadereal,talcomoelaexisteefuncionasobnossosolhos,comaorgani-zaomoral,jurdicaqueelalaboriosamentemodelounodecorrerdahistria?Maselaestrepletadetarasedeimperfeies.Aqui,o malrodeiao bem,a injustiafreqente-mentereinacomosoberana,a verdadeemcadainstanteobscurecidapeloerro.Como

    27 Apenasuma formada atividadesocialaindano foi expressamenteligada religio: a atividadeeconmica.Entretanto,astcnicasquederivallldamagiatm,poristomesmo,origensindiretamenterligio-sas.Alm do mais,o valoreconmico umtipodepoder,deeficcia,e nssabemosasorigensreligiosasda idiadepoder.A riquezapodeconferirman; portantoporqueelao tem.Atravsdisto,entrev-sequea idiadevaloreconmicoe a devalor religiosodevemestarrelacionadas.Mas a questodesaberqualanaturezadestasrelaesaindanofoi estudada.(N. doA.)2. porestarazoquePrazeremesmoPreusscolocamasforasreligiosasimpessoaisforadareligioou,pelomenos,noseuumbral,paralig-Ias magia.(N. doA.)

    umsertogrosseiramenteconstitudopoderiainspiraros sentimentosdeamor,o entu-siasmoardente,o espritodeabnegaoquetodasas religiesreclamamdeseusfiis?Estesseresperfeitosquesoosdeusesnopodemteremprestadosuasfeiesaumarea-lidadetomedocre,algumasvezestobaixa.

    Trata-se,aocontrrio,dasociedadeperfeita,ondeajustiaeaverdadeseriamsobe-ranas,deondeo malsobtodasassuasformasestariaextirpado?Nosecontestaqueelaestejaemestreitarelaocomo sentimentoreligioso;pois,diz-se,asreligiestendemarealiz-Ia.Apenas,estasociedadeno umdadoemprico,definidoeobservvel;elaumaquimera,umsonhonoqualoshomensacalentaramsuasmisrias,masqueelesja-maisviveramnarealidade.Elaumasimplesidiaquevemtraduzirnaconscincianos-sasaspiraesmaisoumenosobscurasparao bem,o belo,o ideal.Ora,estasaspiraestmemnssuasraizes,vmdasprpriasprofundezasdenossoser;portanto,noexistenadaforadensquepossaexplic-Ias.Alis,j soreligiosasporsi mesmas;portanto,asociedadeidealsupeareligio,longedepoderexplic-Ia.29

    .Mas,deincio,simplificararbitrariamenteascoisasverareli&2-spor~.':!..!!ido.idc::"ist1!;ela realista suamaneira.No existefealdadefsicaou moral,noexistemvciosnemmalesquenotenhamsidodivinizados.Houvedeusesdorouboedaastcia,daluxriaedaguerra,dadoenaedamorte.O prpriocristianismo,pormaisaltaquesejaa idiaqueelesefazdadivindade,foi obrigadoa daraoespritodomalumlugaremsuamitologia.Sat umapeaessencialdo sistemacristo;ora,seele umserimpuro,noumserprofano.O antideusumdeus,inferioresubordinado,verdade,masdotadodepoderesextensos;elemesmoobjetoderitos,pelomenosnegativos.Por-,tanto,longedea religioignorara sociedaderealedelafazerabstrao,elasuaima-.gemirefletetodososseusaspectos,mesmoosmaisvulgareseosmaisrepugnantes.Tudosereencontranelaese,freqentemente,sevo bemsubjugaro mal,a vidaa morte,aspotnciasdaluzaspotnciasdastrevas,porquenoocorrediferentementenarealida-de.Pois,sea relaoentreestasforascontrriasfosseinversa,avidaseriaimpossvel;ora,defato,elasemantmemesmotendeasedesenvolver.

    Masse,atravsdasmitologiasedasteologias,se'vclaramentetransparecerareali-dade,bemverdadequeelaseencontraaquiaumentada,transformadaeidealizada.Sobesteaspecto,asreligiesmaisprimitivasnodiferemdasmaisrecentesemaisrefinadas.Vimos,porexemplo,comoosAruntacolocamnaorigemdostemposumasociedadem-tica,cujaorganizaoreproduzexatamentea queexisteaindahoje;elacompreendeosmesmosclseasmesmasfratrias,estsubmetidamesmaregulamentaomatrimonial,praticaosmesmosritos.Masospersonagensquea compemsoseresideais,dotadosdepoderesevirtudesaosquaisnopodepretendero comumdosmortais.Suanaturezano apenasmaisalta,diferente,porquepertencesimultaneamente animalidadeehumanidade.Aqui,aspotnciasanlogassofremumamet'amorfoseanloga:o prpriomalestcomoquesublimadoeidealizado.A questoquesecolocaadesaberdeondevemestaidealizao.

    Responde-sequeo homemtemumafaculdadeI!..aturaldeidealiza[~~! desubsti-tuir o mundoda realidadeporummundodiferenteparaondeelesetransportapelopensmenro.MSTst()trocaros termosdoproblema,semresolv-Io,nemfaz-Iopro-gredir.Estaidealizaosistemticaumacaractersticaessencialdasreligies.Explic-iasporumpoderinatodeidealizar,portanto,substituirumapalavraporoutraequiva-lente primeira;comodizerqueo homemcrioua religioporquetemumanaturezareligiosa.Entretanto,o animalsconheceumnicomundo: o queelepercebepela

    29 Boutroux,ScienceetReligion.pp.206-207.(N. doA.)

  • 226 DURKHEIM AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA 227

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    experinciatantointernaquantoexterna.Apenaso homemtef!!_a~c~u!Q~~co~cebe~o ideale deacrescentarao real.De ondelheadvmestesingularprivilgio?Antesde~e-;;-iat-prmefro,-u1a virtudemisteriosaquesesubtrai cincia, precisoestarsegurodequeelenodependedecondiesempiricamentedeterminveis.

    A explicaoquepropusemosdareligiotemprecisamentea vantagemdetrazerumarespostaa talquesto.Poiso quedefineo sagradoo fatodeseracrescel!!doaoreal;ora,o idealcorresponde ~~?~ehmo:nosepodepOrtantoexplicarumsemexplicaro outro:\'lms,comefeito,que~seavidacoletiva,quandoatingeumcertograudeintensidade,despertao pensamentoreligioso, porqueeladeterminaumestadodeefervescnciaquemodificaascondiesdaatividadepsquica.As energiasvitaisestosuperexcitadas,aspaixesmaisvivas,assensaesmaisfortes;existemmesmoalgumasquenoseproduzemsenonestemomento,O homemnosereconhece;sente-secomoquetransformadoe,porconseguinte,transformao meioqueo rodeia.Paraexplicar-seasimpressesmuitoparticularesqueexperimenta,eleatribuis coisas.com as quaisestmaisdiretamenteemrelao,propriedadesqueelasnotm,poderesexcepcionais,virtudesquenopossuemos objetosdaexperinciavulgar.Numapalavra,ao mundorealemqueseescoasuavidaprofanaelesuperpeumoutroque,numsentido,existe~nas emseupensamento,masao.gualeleatribui,emre!aoaoprimeiro,umtiQ2~~dignidademaiselevada.Eleportanto,sobseuduploaspecto,ummundoi~al.- Destamaneira,a formaodeumidealnoconstituiumfatoirredutvelqueescape cincia;dependede~S>E~lX~~~quea_~~;;'a~p'odel!iirigh:PQ!iflil1lliLQ~~tlLl}~l!!-:raldavidasocial.Paraquea sociedadepossatomarconscinciadesi emanter,nograudeintensidadenecessrio,o sentimentoqueelatemdesi mesma,precisoqueserenae seconcentre.Ora,estaconcentraodeterminaumaexaltaoda vidamoralquesetraduzporumconjuntodeconcepesideaisondeseexprimeavidanovaqueassimdes-pertou;elascorrespondema esteafluxodeforaspsquicasqueseacrescentamentoquelasdasquaisdispomosparaastarefascotidianasdaexistncia.Umasociedadenopodecriar-senemrecriar-sesem,nomesmoinstante,criaro ideal.Paraelaiestacriao,no umtipodeatosub-rogatrio,peloqualelas~col11pftrla,i~ive~ [o!1d~~~~atopeloqualelasefaze serefazperi.9icamente.Iiu~iI11ente~.9l!ancl2_~~i!Q~~_s~_ci~~dadeideal sociedaderealcomodoisantagonIStas-quenosarrastariamemdireescontrnas,realizam-se~eopem~s-eabstraes.-AsociedadeidiiJnoestflforadasocie-dadere;[-masfaz parteaela'-Congedeestarmosdivididosentreelascomoentredoisplosqueserepelem,nopodemosconservarumasemconservaroutra.Poisumasocie-

    experinciaeaomesmotempoforneceu-lheosmeiosdeconceberoutro.Poisestemundonovofoi elaquemo construiu,construindo-sea si mesma,porque poreleexpressa.Assim,tantono indivduoquantono grupo,_afaculdadedeidealizarnotemnadademisterioso.No umtipode'"luxodoqiifOi-WiIieiUpo~privar~se,masumacO1cli-odesuaexistncia._Elt:no.s.~i-llI!l_s~_.s

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    meaindano podiasermuitodesenvolvido.Mas,na medidaemqueos indivduosdiferenciam-semaisequeo valordapessoaaumenta,o cultocorrespondenteocupaumlugarmaiornoconjuntodavidareligiosa,aomesmotempoquesefechamaishermetica-menteaoexterior.

    Portanto,aexistnciadecultosindividuaisnoimplicanadaquecontradigaouqueembaraceumaexplicaosociolgicadareligio;poisasforasreligiosassquaiselessedirigemsoapenasformasindividualizadasdasforascoletivas.Assim,mesmoquan-doa religioparecepertencerinteiramenteaoforointernodoindivduo,aindanasocie-dadequeseencontrafontevivadaqualelasealimenta.Podemosagoraapreciarquantovaleesteindividualismoradicalquequeriafazerdareligioumacoisapuramenteindivi-dual:eledesconheceascondiesfundamentaisdavidareligiosa.Sepermaneceuatopresenteno estgiodeaspiraotericaquejamaisserealizou, porqueela irreali-zvel.Umafilosofiapodeelaborar-senosilnciodameditaointerior,masnoumaf.Poisumaf,antesdetudo,calor,vida,entusiasmo,exaltaodetodaatividademental,transportedo indivduoacimadesi mesmo.Ora,comopoderiaele,semsairdesi,acres-ceralgosenergiasquepossui?Comopoderiaultrapassar-seapenascomsuasforas?O nicofocodecalorjuntoaoqualpodemosnosreaguecer~~Imente.~s>JOf.madol2.elasociedadedenossossemelhantes;asnicasforasmoraispelasquaispodemossus-tentareaumentarasnossassoaquelasqueoutro-ii.6sfomece.AdmitamosmesmoqueeriSt~mseresffiisoumenosan~logosquelesquenosrepresentamasmitologias.Paraqueelespossamtersobreasalmasa aotilquesuarazodeser,precisoqueseacrediteneles.Ora,ascrenassoativassomentequandopartilhadas.Pode-seconser-v-Iasporalgumtempomedianteumesforocompletamentepessoal;masno assimqueelasnascem,nemquesoadquiridas:mesmoduvidosoquepossamconservar-senestascondies.De fato,o homemquetemumaverdadeirafexperimentainvencivel-mentea necessidadededifundi-Ia;paraisto,elesaideseuisolamento,aproxima-sedosoutros,procuraconvenc-Iose o ardordasconvicesporelesuscitadasquevemreconfortarasua.A festiolar-se-iarapidamentesepermanecessesozinha.

    Como universalismoreligiosoaconteceo mesmoquecomo individualismo.Longedeserumatributoexclusivodealgumasgrandesreligies,nso encontramos,semdvi-da,nonabase,masnovrticedosistemaaustraliano.Bunjil,Daramulun,Baiamenososimplesdeusestribais;cadaumdeles reconhecidoporumapluralidadedetribosdiferentes.Seuculto, emcertosentido,internacional.Portanto,estaconcepoestmuitoprximadaquelaqueseencontranasteologiasmaisrecentes.Por estarazo,al-gunsescritoresacreditaramdevernegarsuaautenticidade,pormaisincontestvelqueelaseja.

    Ora,nspudemosmostrarcomoelaseformou.Tribos vizinhase de civilizaoigualnopodemestarsemrelaesconstantes

    umascomasoutras.Todosostiposdecircunstnciaslhesfornecemaocasioparaisto:almdo comrcio,queento rudimentar,existemoscasamentos;poisoscasamentosinternacionaissomuitofreqentesna Austrlia.No decorrerdestesencontros,os ho-menstomamnaturalmenteconscinciado parentescomoralqueos une.Eles tmamesmaorganizaosocial,a mesmadivisoemfratrias,cls,classesmatrimoniais;pra-ticamos mesmosritosdeiniciaoouritosbastantesimilares.Emprstimosmtuosouconvenesterminamporreforarestassemelhanasespontneas.Os deusesaosquaisestavamligadasinstituiestomanifestamenteidnticasdificilmentepodiampermane-cerdistintosnosespritos.Tudoosaproximavae.emconseqncia,mesmosupondoquecadatribotenhaelaboradoa noodeumamaneiraindependente,elesnecessariamente

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    deviamtendera confundir-seunscomosoutros.Alis,provvelqueprimitivamentete-nhamsidoconcebidosemassembliasintertribais.Poisso,antesdetudo,deusesdeini-ciaoe,nascerimniasdeiniciao,tribosdiferentesestogeralmenterepresentadas.Portanto,seseformaramentessagradosquenoserelacionama nenhumasociedadegeograficamentedeterminada,no queelestenhamumaorigemextra-social.Mas que,acimadestesagrupamentosgeogrficos,j existemoutroscujoscontornossomaisindecisos:notmfronteirasfixas,mascompreendemtodotipodetribosmaisoumenosvizinhaseparentes.A vidasocialmuitoparticularquedaseoriginatendeadifundir-sesobreumareadeextensosemlimitesdefinidos.Naturalmente,ospersonagensmitol-gicosqueaelacorrespondemtmo mesmocarter;suaesferadeinfluncianodelimi-tada;elesplanamacimadastribosparticulareseacimadoespao.Soosgrandesdeu-sesinternacionais.

    Ora,nohnadanestasituaoquesejaespecial,sociedadesaustralianas.NoexistepovonemEstadoquenoestejaengajadoemumaoutrasociedade,maisoumenosilimitada,quecompreendetodosospovos,todososEstadoscomosquaiso primeiroestdiretaou indiretamenteemrelao;noexistevidanacionalquenoestejadominadaporumavidacoletivadenaturezainternacional.Na medidaemqueseavananahist-ria,estesagrupamentosinternacionaisatingemmaiorimportnciaeextenso.Entrev-seassimcomo,emcertoscasos,a tendnciauniversalistapodesedesenvolveraopontodeafetarnoapenasas idiasmaisaltasdo sistemareligiosomasos prpriosprincpiossobreosquaiselerepousa.

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    o quehdeeternonareligio:- Sobreo conflitoentrea religioea cincia;eleversaunicamentesobreafunoespeculativadareligio.- O queestafunoparecedestinadaavir a ser.

    Portanto,h na religioalgodeeternoqueestdestinadoa sobrevivera todosossmbolosparticularesnosquaiso pensamentoreligiososucessivamenteseenvolveu.Nopodehaversociedadequenosintanecessidadedeconservaredereforar,emintervalosregulares,os sentimentoscoletivose as idiascoletivasquefazemsuaunidadee suapersonalidade.Ora,estarefeiomoralspodeserobtidapormeiodereunies,assem-blias,congregaesondeosindivduos,estreitamenteligadosunsaosoutros,reafirmamemcomumseussentimentoscomuns.Da cerimniasque,porseuobjeto,pelosresulta-dosqueproduzem,pelosprocedimentosquenelassoempregados,nodiferememnatu-rezadascerimniaspropriamentereligiosas.QuediferenaessencialexisteentreumaassembliadecristoscelebrandoasprincipaisdatasdavidadeCristo,ou umadeju-deusfestejandosejaa sadadoEgito,sejaa promulgaododeclogo,eumareuniodecidadoscomemorandoa instituiodeumanovaconstituiomoraloualgumgrandeacontecimentodavidanacional?

    Sehojenstemostalvezalgumadificuldadeemrepresentaremquepoderoconsis-tir estasfestasecerimniasdofuturo,porqueatravessamosumafasedetransioedemediocridademoral.As grandescoisasdopassado,aquelasqueentusiasmavamnossospais,noexcitammaisemnso mesmoardor,sejaporqueelasentraramnousocomuma pontodeparanssetornareminconscientes,sejaporqueelasnocorrespondemmaissnossasaspiraesatuais;entretanto,nadasefezaindaqueassubstitua.Nopodemosmaisnosapaixonarpelosprincpiosemnomedosquaiso cristianismorecomendavaaossenhorestratarhumanamenteseusescravose,poroutrolado,a idiaqueelesefazdaigualdadee da fraternidadehumanashojenos parecedeixarmuitolugara injustasdesigualdades.Suapiedadepeloshumildesnosparecedemasiadoplatnica;nsdeseja-ramosumaquefossemaiseficaz;masaindanovemosclaramenteo quetalpiedadedeveser,nemcomoelapoderserealizarnosfatos.Numapalavra,os antigosdeusesenvelhecemou morremeoutrosainqanonasceram.Foi istoquetornouva tentativadeComteparaorganizarumareligiocomasvelhasrecordaeshistricas,artificial-mentedespertadas:daprpriavidaenodeumpassadomortoquepodesairumcultovivo.Masesteestadodeincertezaedeagitaoconfusanopoderdurareternamente.Um diaviremquenossassociedadesconhecerohorasdeefervescnciacriadoranodecorrerdasquaisnovosideaissurgiro,novasfrmulashodeaparecereservir,duran-tealgumtempo,deguiaparaa humanidade;eumavezvividasestashoras,oshomensexperimentaroespontaneamentea necessidadedereviv-lasdetemposemtempospelopensamento,isto, deconservarsuarecordaopormeiodefestasqueregularmenterenovamos frutos.J vimoscomoa revoluoinstituiutodoumciclodefestaspara

    AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA 231

    manteremestadodeperptuajuventudeosprincpiosemqueseinspirava.Sea institui-opericlitourapidamente,foiporqueaf revolucionriaduroupoucotempo,foiporqueasdecepeseo desencorajamentosesucederamrapidamenteaoprimeiroentusiasmo.Mas,mesmoqueaobratenhaabortado,elanospermiteimaginaro queteriapodidoseremoutrascondies;etudolevaa pensarquecedooutardeserrepetida.Noexistemevangelhosquesejamimortaisenohrazoparaacreditarquea humanidadefutura-mentesejaincapazdeconcebernovos.Quantoa saberoqueseroossmbolosqueviroaexprimiranovaf,seseassemelharoounoaosdopassado,seseromaisadequados realidadequeteroporobjetivotraduzir,estaumaquestoqueultrapassaa facul-dadehumanadeprecisoeque,alis,noconcerneo fundamentodascoisas.

    Mas as f.:stas,OS. ritos,emum!-_l:>.a..0~@.,--cult9Jnoconstituemt9daJ!.J:~ligio.Estano :Ipenasun-slsfem-deprtica5~~!!1.bt:Il_!:!.l!l.~~~I11I:1.'Quandoseatribucmaopensam.:ntorcligiosocaractersticasespecficas,quandoseacreditaqueeletempor funoexprimir,pormtodosquelhesoprprios,todoumaspectodo real,queescapatantoao conhecimentovulgarcomo cincia,entonosrecusamosnaturalmentea admitirqueareligiopossaserdespidadeseupapelespecula-tivo.Masa anlisedosfatosnonospareceudemonstrarestaespecificidade.A religioqueacabamosdeestudarumadaquelasondeossmbolosempregadossoo quehdemaisdesconcertanteparaa razo.Aqui tudoparecemisterioso.Estesseresquepartici-pamsimultaneamentedosreinosmaisheterogneos,quesemultiplicamsemdeixardeserunos,quesefragmentamsemdiminuir,parecem primeiravistapertencera ummundointeiramentediferentedaqueleemquevivemos;chegou-semesmoa dizerqueopensamentoqueo construiuignoravatotalmenteasleisdalgica.Jamais,talvez,o con-trasteentrearazoeaffoi maismarcante.Portanto,sehouveummomentonahistriaemquesuaheterogeneidadedeveriaressaltarcomevidncia,foiexatamenteaquele.Ora,contrariamentesaparncias,constatamosqueasrealidadessquaisseaplicaagoraaespeculaoreligiosasoaquelasmesmasqueserviromaistardedeobjeto reflexodossbios:a natureza,o homeme a sociedade.O mistrioquepareceenvolv-Iascompletamentesuperficiale dissipa-sediantedeumaobservaomaisaprofundada:suficienteafastaro vucomo quala imaginaomitolgicaascobriuparaqueelasapa-reamtaiscomoso.Estasrealidades,a religioesfora-seportraduzi-Iasemumalin-guageminteligvelquenodifereemnaturezadaquelaquea cinciaemprega;nosdoislados,trata-sedeligarascoisasumassoutras,deestabelecerentreelasrelaesinter-nas,classific-Iase sistematiz-Ias.Vimosquemesmoas noesessenciaisda lgicacientficasodeorigemreligiosa.Semdvida,a cincia,parautiliz-Ias,submete-asaumaelaboraonova,purificando-asdetodotipodeelementosadventcios.De umamaneirageralelaapresenta,emtodososseuspassos,umespritocrticoquea religioignora;cerca-sedeprecauespara"evitara precipitaoe a preveno",paramantera distnciaas paixes,os preconceitose todasas influnciassubjetivas.Mas estesaperfeioamentosmetodolgicosnobastamparadiferenciladareligio.Umaeoutra,sobesteaspect,perseguemo mesmofim;o pensamentocientficono senouma

  • 232 DURKHEIM AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA 233

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    forma mais perfeitado pensamentoreligioso.Portanto,parecenaturalqueo segundoseapagueprogressivamentediantedo primeiro,na medidaemqueestesetornamais aptoa dar contada tarefa.

    Com efeito, possvelqueestaregressotenhaseproduzidono decorrerda histria.Sadada religio,a cinciatendea substitu-Iaemtudoo queconcernesfunescogni-tivas e intelectuais.J o cristanismo consagroudefinitivamenteesta substituionaordem dos fenmenosmateriais.Vendo na matriaa coisa profanapor excelncia,elefacilmenteabandonouseu conhecimentoa uma disciplina estranha,tradiditmundumhominumdisputationi;31 foi assimqueas cinciasda naturezapuderamestabelecer-seefa~erreconhecersua autoridadesem dificuldadesmuito grandes.Mas ele no podiadespojar-seto facilmentedo mundo das almas;pois sobreas almasque o deusdoscristosaspira,antesde tudo, a reinar.Foi porque,durantemuito tempo,a idiade sub-metera vida psquica cinciatinhao efeitodeumtipo deprofanao;mesmohoje,elaainda repugnaa numerososespritos.Entretanto,a psicologiaexperimentale compara-tiva constituiu-see precisocontarcom elahojeemdia. Mas o mundoda vida religiosae moral aindapermaneceinterdito.A grandemaioriadoshomenscontinuaa crerquealiexisteumaordemde coisasondeo espritono podepenetrarsenopor viasmuitoespe-ciais. Da as vivas resistnciasque seencontramquandosetentatratar cientificamenteos fenmenosreligiosose morais.Mas, a despeitodasoposies,estastentativasserepe-teme tal persistnciapermitemesmopreverqueestaltimabarreiraterminarpor cederequea cinciaseestabelecercomosenhoratambmnestaregioreservada.

    Eis a emque consisteo conflito da religiocom a cincia.Freqentementese fezdeleuma idia inexata.Diz-se queemprincpio a cincianegaa religio.Mas a religioexiste, um sistemade fatosdados;numapalavra,ela umarealidade.Como poderiaacincianegaruma realidade?Alm do mais,enquantoa religio ao,enquanto ummeiodefazerviveros homens,a cincianopoderiatomaro seulugar,pois,seelaexpri-mea vida,no a cria; ela podeprocurarexplicara fmas,por isto mesmo,a supe.Por-tanto,no h conflito senosobreum ponto limitado.Das duas funesque preenchiaprimitivamentea religio, existeuma, apenasuma,quetendecada vez mais a lhe esca-par: a funoespeculativa.O guea5j~l1.iCOIltelltll,j.religi,~jo~._QireQeexitir,~ direitodedogmatizll!"-~obrea naturezli_dl!.s_

  • AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA 235

    ).

    III

    Comoa sociedadepodeserumafontedopensamentolgico,querdizer,conceitual?Definiodoconceito:noseconfundecoma idiageral;caracteriza-sepor suaimpessoalidade,suacomunicabilidade.- Ele temumaorigemcoletiva.- A anlisede seucontedotestemunhano mesmosentido.- As representaescoletivascomonoes-tiposdasquaisos indivduosparticipam.- Sobreaobjeosegundoaqualelasnoseriamimpessoais,senosobcondiodeseremverdadeiras.- O pensamentoconceitual contemporneohumanidade.

    Masseasnoesfundamentaisdacinciasodeorigemreligiosa,comoa religiopodeengendr-Ias?No sepercebe primeiravistaquerelaespodehaveraquientrea lgicaea religio.Mesmoporquearealidadequeexprimeo pensamentoreligiosoasociedade,a questopodecolocar-senostermosseguintes,quefazemaparecermelhoraindatodaa dificuldade:o quepodefazerdavidasocialumafontetoimportantedavidalgica?Nada,aoqueparece,apredestinavaaestepapel;poisnofoievidentementeparasatisfazernecessidadesespeculativasqueoshomensseassociaram.

    Talvezseterportemerrioabordaraquiumproblemadetalcomplexidade.Parapodertrat-Iocomoconvm,seriaprecisoqueascondiessociolgicasdo conheci-mentofossemmaisbemconhecidas;nsapenascomeamosa entreveralgumasdelas.Entretanto,a questotograveeesttodiretamenteimplicadaportudoo queprece-de,quensdevemosfazeresforoparanodeix-Iasemresposta.Talvez,alis,nosejaimpossvelcolocardesdeagoraalgunsprincpiosgeraisquepodem,pelomenos,iluminarasoluo.

    A matriadoEensamentolgicoestfeitad~conceitos,yro~~r_C:~l110-~~~!i~podeterdesempenhadoumpapeldl:ignesedo pensameIltolgicosignifica,.portanto,pergUli.ia;:~seom.ellO

  • 34 Objetar-se-quefreqentemente,no indivduo,apenas~lo efeitoda repetio,maneirasdeagirou depensarfixam-see cristalizam-sesobformadehbitosqueresistem mudana.Mas o hbitono senoumatendnciaa repetirautomaticamenteumatoou umaidia,todasas vezesemqueasmesmascircuns-tnciasos despertam;elenoimplicaquea idiaou o atoestejamconstitudoscomotiposexemplares,pro-postosou impostosaoespritoou vontade. apenasquandoumtipodestegneroestpreestabelecido,isto,quandoumaregra,umanormaestinstituda.queaaosocialpodeedeveserpresumida.(N. doA.)

    A naturezado conceito,assimdefinido,traduzsuasorigens.Seele c()JJ:J,umatodos;1porqueTbr"(f,cornunidade.Porqueeleno-ifZ-a miradenenhumainteli-gnciaparticular,pois elaboradoporumainteligncianica,ondetodasasoutrasseencontrame dealgumamaneiravmalimentar-se.Seeletemmaisestabilidadequeassensaesouasimagens, porqueasrepresentaescoletiva~~_~_ll!ais~tveis.9,Il_e~~individuais;pois,enquantoo indivduosensvelmesmoa fracasmudanasquesepro-duzememseumeiointernoouexterno,apenasacontecimentosdeumasuficientegravi-dadepodemconseguirafetaro acervomentaldasociedade.Todasasvezesqueestamosempresenadeumtipo34 depensamentoou deaoquese impeuniformementesvontadesoUSniengencrs-particUl~~s'Y~!!1IJ!~s]?_=~.r~1~.'~~r~~~xl.;;ti~uofevelaa intervenodacoletlVldade.Por outrolado,dizamosprecedentementequeosconcei-toscomosquaispensamoscorrentementeestoconsignadosnovocabulrio.Ora,noduvidosoquea linguageme,porconseguinte,o sistemadeconceitosqueelaexprimesejao produtodeumaelaboraocoletiva.O queelaexprimea maneirapelaquala socie-dadeemseuconjuntoserepresentaos objetosdaexperincia.As noesquecorres-pondemaosdiversoselementosdalnguasopoisrepresentaescoletivas.

    O prpriocontedodestasnoes-testeniUliineit'sentido.N existequasenenhumapalavra,comefeito,mesmoentreaquelasqueempregamosusualmente,cujaaceponoultrapassemaisoumenoslargamenteos limitesdenossaexperinciapes-soal.Freqentementeumtermoexprimecoisasquensjamaispercebemos,experinciasquejamaisfizemosoudasquaisjamaisfomostestemunhas.Mesmoquandoconhecemosalgunsdosobjetosaosquaiseleserelaciona,nosenoa ttulodeexemplosparticu-laresquevmilustrara'idia,masque,apenasporeles,noseriamjamaissuficientesparaconstitu-Ia.Encontra-seportantocondensadanapalavratodaumacinciacomaq,!-aLe--Il-_~laborei,umaeiilTamais-doq~eindividual;eeiime-uitrapassaatlllpgntogueno_poss.CLQemmesmaproprir-m-Cmpletmniedetodososseusresl!Jta~do.s,Quemdensconhecetodasaspalavrasdalnguaquefalaea significaointegraldecadaumadelas?

    Estaobservaopermitedeterminaremquesentidopretendemosdizerqueoscon-ceitossorepresentaescoletivas.Seelessocomunsa umgruposocialinteiro,noqueelesrepresentemumasimplesmdiaentreasrepresentaesindividuaiscorrespon-dentes;poisentoelesseriammaispobresqueestasltimasemcontedointelectual,enquantoqueemrealidadeelessoprenhesdeumsaberqueultrapassao deumindiv-duomdio.Elesnosoabstratosquesteriamrealidadenasconscinciasparticulares,masrepresentaestoconcretasquantoaquelasqueo indivduopodefazer-sedeseumeiopessoal:correspondem maneirapelaqualesteserespecialque a sociedadepensaascoisasdesuaexperinciaprpria.Sedefatoosconceitossoo maisfreqente-menteidiasgerais,seelesexprimemantescategoriaseclassesdoqueobjetosparticula-res, porqueos caracteresvariveise singularesdosseress raramenteinteressamsociedade;emrazodesuaprpriaextenso,elaquasenopodeserafetadasenoporsuaspropriedadesgeraisepermanentes. portantoparaesteladoquesedirigesuaaten-o:estemsuanaturezavero maisfreqentementeascoisasporgrandesmassasesob

    3. Sobaformadeeterndade.(N. do E.)

    237AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA

    o aspectoqueelastmmaisgeralmente.Masdissonoexistenecessidade;e,emtodocaso,mesmoquandoestasrepresentaestmo cartergenricoquelheso maishabi-tual,elassoaobradasociedadeeestoricasdesuaexperincia.

    isso,alis,quefazo valorqueo pensamentoconceitualtemparans.Seoscon-ceitosfossemapenasidiasgerais,elesnoenriqueceriammuitoo conhecimento;poisogeral,comoj dissemos,nocontmnadamaisqueo particular.Masseelesso,antesdetudo,representaescoletivas,acrescentamaoquepodenosensinarnossaexperinciapessoaltudoo queacoletividadeacumuloudesabedoriaedecincianodecorrerdoss-culos.Pensarporconceitosnosimplesmentevero realpeloladomaisgeral;projetarsobrea sensaoumaluzquea ilumina,a penetraea transforma.Conceberumacoisa,aomesmotempo,apreenderseuselementosessenciais,situ-Iaemumconjunto;poiscadacivilizaotemseusistemaorganizadodeconceitosquea caracteriza.Facea estesistemadenoes,o espritoindividualestna mesmasituaoqueo nosdePlatofaceao mundodasIdias.Ele seesforaporassimil-Ias,poistemnecessidadedelasparapodercomerciarcomseussemelhantes;masa assimilao sempreimperfeita.Cadaumdensasvsuamaneira.Existemalgumasquenosescapamcompletamente,quepermanecemforadonossocrculodeviso;outras,dasquaisnopercebemossenocertosaspectos.Existemmesmomuitasquedesnaturamosaopens-Ias;pois,comoelassocoletivaspornatureza,nopodemseindividualizarsemserretocadas,modificadase, por conseguinte,falsificadas.Da decorrequetenhamostantadificuldadeemnosentenderequeat,freqentemente,nsmintamos,semo querer,unsaosoutros:quetodosempregamosasmesmaspalavrassemIhesdaro mesmosentido.

    Agorapode-seentreverqualapartedasociedadenagnesedopensamentolgico.Estenopossvelsenoapartirdomomentoemque,acimadasrepresentaesfugidiasqueeledeve experinciasensvel,o homemchegoua concebertodoummundodeideaisestveis,lugar-comumdasinteligncias.Comefeito,pensarlogicamentesempre,emalgumamedida,pensardemaneiraimpessoal;tambmpensarsubspecieaeternita-tis.3 5 Impessoalidade,estabilidade,eisasduascaractersticasdaverdade.Ora,avidal-gicasuPeevidentementequeo homemsabe,pelomeno'sconfusiTIente,queexisteumaverdadedistintadasaparnciassensveis.Mascomopodeelechegara estaconcepo?Raciocina-sefreqentemedtecomoseeladevesseapresentar-seespontaneamentedesdequeo homemabriuosolhosparao mundo.Todavia,nohnadanaexperinciaime-diataquepossasugeri-Ia,tudochegamesmoa contradiz-Ia.Igualmente,a crianaeoanimalnemmesmoa presumem.A histriamostra,alis,queelaprecisoudesculosparasedepreendereseconstituir.Emnossomundoocidental,foicomosgrandespensa-doresgregosqueelatomou,pelaprimeiravez,umaclaraconscinciadesimesmaedasconseqnciasqueelaimplica.E quandoa descobertasefez,estefatofoi umencanta-mentoquePlatotraduziuemlinguagemmagnfica.Mas,sefoisomentenestapocaquea idiaseexprimiuemfrmulasfilosficas,elanecessariamentepreexistianoestadodesentimentoobscuro.Estesentimentoos filsofosprocuraramelucidar;noo criaram.Paraqueelespudessemrefletirsobreeleeanalis-Io,eraprecisoqueeleIhesfossedadoe tratava-sedesaberdeondevinha,isto,emqueexperinciaestavafundado.Eranaexperinciacoletiva.Foi soba formadopensamentocoletivoqueo pensamentoimpes-

    soalsereveloupelaprimeiravez humanidade;enosevporqueoutraviasepode!iafazertalrevelao.Apenasporquea sociedadeexiste,tambmexiste,foradassensaoese dasimagensindividuais,todoumsistemaderepresentaescoletivasquegozamde

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  • propriedadesmaravilhosas.Por elasoshomenssecompreendem,asintelignciaspene-tramumasnasoutras.Elastmemsiumtipodefora,deascendnciamoralemvirtudedaqualseimpemaosespritosparticulares.Desdeentoo indivduosedconta,pelomenosobscuramente,queacimadesuasrepresentaesprivadasexisteummundodenoes-tipos,segundoasquaisele obrigadoa regularsuasidias;entrevtodoumreinointelectualdequeeleparticipa,masqueo ultrapassa. umaprimeiraintuiodoreinoda verdade.Semdvida,a partirdo momentoemqueeleteveassimconscinciadestamaisaltaintelectualidade,aplicou-seempesquisarsuanatureza;eleprocurouapartirdeondeestasrepresentaeseminentesmantinhamsuasprerrogativase,namedi-daemqueeleacreditouterdescobertosuascausas,empreendeucolocarelemesmoestascausasemaoparadelastirar,porsuasprpriasforas,osefeitosqueelasimplicam;dizerqueelesedeua simesmoo direitodefazerconceitos.Assim,afaculdadedecon-ceberseindividualizou.Mas,paracompreenderbemasorigensdafuno,precisorela-cion-Iascondiessociaisdequedepende.

    Objetar-se-quenoapresentamoso conceitosenoporumdeseusaspectos,queelenotemunicamentepormissoasseguraro acordodosespritosunscomosoutrosmastambm,e maisainda,seuacordocoma naturezadascoisas.Parecequeeletemtodaa suarazodeserunicamentesobcondiodeserverdadeiro,isto,objetivo,equesuaimpessoalidadespodeserconseqnciadesuaobjetividade. pelascoisaspensa-dasto adequadamentequantopossvelqueos espritosdeveriamsecomunicar.Nonegamosqueaevoluoconceitualempartesefaanestesentido.O conceitoque,primi-tivamente, tidoporverdadeiroporquecoletivo,tendea novir a sercoletivosenosobcondiodesertidoporverdadeiro:nslhepedimosseusttulosantesdeatribuir-lhenossocrdito.Mas,primeiramente,nosepodeperderdevistaqueaindahojeagrandemaioriadosconceitosdosquaisnsnosservimosnosometodicamenteconstitudos;nsospossumosnalinguagem,isto,naexperinciacomum,semqueelestenhamsidosubmetidosa nenhumacrticaprvia.Osconceitoscientificamenteelaboradosecritica-dosestosempreemminoriamuitopequena.Almdomais,entreesteseosquetmsuaautoridadepelonicofatodeseremcoletivos,existemapenasdiferenasdegraus.Umarepresentaocoletiva,porquecoletivaj apresentagarantiasdeobjetividade;poisnosemrazoqueelapodesegeneralizaresemantercomumasuficientepersistncia.Seelaestivesseemdesacordocoma naturezadascoisas,noteriapodidoadquirirumimprioextensoeprolongadosobreosespritos.No fundo,o queformaaconfianaqueinspiramosconceitoscientficosqueelessosuscetveisdesermetodicamentecontro-lados.Ora,umarepresentaocoletivaestnecessariamentesubmetidaa umcontroleindefinidamenterepetido:oshomensquea elaaderemverificam-naporsuaexperinciaprpria.Portanto,elanopoderiasercompletamenteinadequadaao seuobjeto.Pode,semdvida,exprimi-Iocomo auxliodesmbolosimperfeitos;masosprpriossmboloscientficosjamaisdeixamdeserapenassmbolosaproximados. precisamenteesteprin-cpioqueestnabasedomtodoqueseguimosnoestudodosfenmenosreligiosos:nsvemoscomoumaxiomaqueascrenasreligiosas,pormaisestranhasquealgumasvezespossamparecer,tmsuaverdadequeprecisodescobrir.36

    Inversamente,precisoqueosconceitos,mesmoquandosoconstrudossegundotodasasregrasdacincia,tiremautoridadeunicamentedeseuvalorobjetivo.Nosufi-cientequeelessejamverdadeirosparaseremacreditados.Senoestoemharmoniacom

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    Intadestaunidade.- Explicaodo papelatribudo sociedade:suapotnciacriadora.- Repercussesdasociologiasobrea cinciadohomem.

    Podemosagoraabordarumaltimaquestoapresentadaj emnossaintroduoequepermaneceucomoquesubentendidaemtodaaseqnciadestaobra.Vimosquepelomenosalgumasdascategoriassocoisassociais.Trata-sedesaberdeondelhesvemestacaracterstica.

    Semdvida,porqueelasprpriassoconceitos,compreende-sesemesforoquesejamobrada coletividade.No existemconceitosqueapresentemno mesmograuossignosaosquaissereconheceumarepresentaocoletiva.Comefeito,suaestabilidadee suaimpessoalidadesotaisqueelasfreqentementepassaramporserabsolutamenteuniversaise imutveis.Alis,comoelasexprimemascondiesfundamentaisdoenten-dimentoentreos espritos,pareceevidentequenopuderamserelaboradassenopelasociedade.

    Mas no queas concerneo problema maiscomplexo;poiselassosociaisnumoutrosentidoecomoque segundapotncia.Noapenaselasvmdasociedade,masasprpriascoisasqueelasexprimemsosociais.Noapenasfoi a sociedadequeasinsti-tuiu,comotambmsoaspectosdiferentesdosersocialquelhesservemdecontedo;acategoriadegnerocomeouporserindistintadoconceitodegrupohumano;o ritmodavidasocialqueestnabasedacategoriadetempo;o espaoocupadopelasociedadeforneceua matriadacategoriadeespao;aforacoletivafoio prottipodoconceitodeforaeficaz,elementoessencialdacategoriadecausalidade.Todavia,ascategoriasnosofeitasparaaplicar-seunicamenteao reinosocial;estendem-se realidadeinteira.Como,portanto,foramtomadosda sociedadeos modelossobreos quaiselasforamconstrudas?

    porquesoconceitoseminentesquedesempenhamno conhecimentoumpapelpreponderante.Comefeito,ascategoriastmporfunodominareenvolvertodososou-trosconceitos:soosquadrospermanentesdavidamental.Ora,paraqueelaspossamabraarumtal objeto, precisoquesetenhamformadosobreumarealidadedeigualamplido.

    Semdvida,asrelaesqueelasexprimemexistem,deumamaneiraimplcita,nasconscinciasindividuais.O indivduovivenotempoe tem,comoo dissemos,umcerto

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    AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA 241

  • 1 ~III&.IIJII----------~=~""--""""'-------------------

    " No fundo,o conceitodetotalidade,o conceitodesociedadeeo conceitodedivindadeso,aoqueparece,apenasaspectosdiferentesdeumanicaemesmanoo.(N. doA.).2 V. ClassificaesPrimitivas.1oc.cit.,p.40eseguintes.(N. doA.)

    o gnerototalforado qualnadaexiste.O conceitodetotalidadeno senoa formaabstratadoconceitodesoc