Do Antigo Daomé

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“A pompa do tribunal do Daomé é comparável à da Europa. A veneração pessoal intensa para com o rei me faz lembrar as histórias sobre o apóstolo Maomé e seus seguidores (...) Não se pode atribuir este zêlo excepcional senão aos prolongados reinados de alguns membros da dinastia, que ocuparam o trono por 252 anos, rivalizando, assim, com os sete monarcas romanos cujo reinado durou quase a mesma quantidade de tempo”, escreve o famoso explorador britânico Sir Richard Burton, quando ele visita o reino em 1860 (A Mission to Gele, King of Dahomey, London, 1864).

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Trono – Realeza do Daomé - Trône, royauté du Dahomey1

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Do Antigo Daomé (De L’Ancien Danhomè voir la version française)

Por Bérénice Geoffroy-Schneiter

Há nomes cujo poder evocativo é tal que imediatamente suscitam uma procissão de imagens extravagantes. O antigo reino do Daomé, no atual Benin, fascinou os primeiros viajantes europeus desde o século XVIII deslumbrados pelo esplendor da corte e pela aparência marcial de suas orgulhosas amazonas. A África poderia muito bem acomodar em seu seio monarquias que não tinham com que se envergonhar, tanto do ponto de vista ideológico quanto tecnológico, de suas congêneres situadas no outro lado do oceano. “A pompa do tribunal do Daomé é comparável à da Europa. A veneração pessoal intensa para com o rei me faz lembrar as histórias sobre o apóstolo Maomé e seus seguidores (...) Não se pode atribuir este zêlo excepcional senão aos prolongados reinados de alguns membros da dinastia, que ocuparam o trono por 252 anos, rivalizando, assim, com os sete monarcas romanos cujo reinado durou quase a mesma quantidade de tempo”, escreve o famoso explorador britânico Sir Richard Burton, quando ele visita o reino em 1860 (A Mission to Gele, King of Dahomey, London, 1864). Essa é, com efeito, uma longa e tumultuada história em que se insere essa rica cultura que se desenvolveu no território central- sul da moderna República do Benin. Como sempre na África devemos mergulhar na tradição oral e nas suas narrativas fundadoras na tentativa de identificar as origens...

Das Origens Misteriosas

Segundo a lenda, a filha do rei de Tado (situada atualmente no Togo) foi fecundada por um leopardo quando ela entrou na floresta para buscar água ou lenha. Esta união extraordinária nasceu uma criança prodígio chamado Agassou, o fundador do clã Agassouvi. Em seguida, ocorreu uma sucessão de disputas sangrentas dignas de ser as mais sofisticadas! Batalhas entre clãs rivais, exílio forçado alastram-se na história dos primeiros reinados de Benin, com os quais os portugueses entraram em contato desde o século XVI. Considera-se, contudo, que, na verdade, foi Houegbadja o rei que fundou o reino de Daomé no início do século XVII. Ele, então, dotou a nova dinastia de um corpo legislativo de quarenta e uma leis que levam seu nome (“As quarenta e uma leis de Houegbadja”), estabeleceu a sua capital no plateau de Abomé, onde ele construiu seu primeiro palácio real e montou a sua poderosa burocracia de vocação política e religiosa. É também durante o reinado de Houegbadja que toma forma a ideologia expansionista do reino, totalmente encapsulado nos lemas de estilo pomposo: “Fazer do Daomé um Estado ainda maior e mais forte!”. Para saciar a sua sede por conquistas territoriais, os diferentes monarcas que se sucederam sobre o trono de Abomé, não iriam então cessar de guerrear com seus vizinhos mais poderosos: chefias locais ou o povo ioruba. Yangodo, filho de Houegbadja, e vai ainda se lançar contra o pequeno Estado de rei Dan, que ele acaba por atacar e decapitar, antes de jogar seu corpo mutilado nas fundações do seu futuro palácio. O próprio nome de Daomé literalmente

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significa “sobre o ventre de Dan” alusão velada ao assassinato perpetrado contra este inimigo considerado bem forte...

Tornado rei sob o nome de Akaba, o novo soberano brilhantemente perpetuará as cerimônias de “costumes anuais” estabelecidas durante o reinado de seu pai. Sob este nome aparentemente inofensivo se oculta, na realidade, um dos aspectos mais originais do reino Daomé: a implantação de grandiosas festas rituais destinadas a reforçar a ligação “quase umbilical” que religava o soberano a seu povo e aos antepassados reais. Com um sentido de teatro e uma inclinação para a ostentação que não deixava nada a desejar à pompa de Versalhes, os monarcas daomeanos perpetravam sua altivez no curso de seus palácios com uma série de faixas e bandeiras com cores extravagantes e exibiam sob os olhos de seus súditos o regimento de suas orgulhosas guerreiras... Se as gravuras europeias perfazem o testemunho indireto e, em muitos casos, extravagante nesta orgia de luxo e pompa (sob o fundo de palmeiras e plumas de avestruz!), os relatos dos viajantes mostram-se mais graves. “A celebração dos costumes geralmente duravam um mês, durante o qual se organizava eventos a cada quatro dias, os dias de mercado”, relata em 1793 o inglês aventureiro Dalzel Archibald (The History of Dahomy: Na Inland Kingdom of Africa, London, 1793). “Mas tudo isso seria um show divertido, se não houvessem esses sacrifícios humanos que são feitos a cada ano para irrigar, segundo a expressão local, os túmulos dos mortos da família real”, diz o apavorado viajante do Reino Unido. De fato, foi no desconhecimento da concepção político-religiosa que pautou toda ideologia daomeana.

Longe de serem gratuitos, os sacrifícios de criminosos e prisioneiros de guerra foram destinados a levar mensagens para a “terra dos mortos”, a dos antepassados reais. São diferentes, no entanto, os “grandes costumes" (durante o qual sacrifica-se no túmulo do rei certas pessoas, a fim de fornecer servos e esposas no outro mundo), das “pequenas costumes”, que são praticadas periodicamente, mas em menor escala. Muitas décadas mais tarde, a propaganda colonial vai ser muito feliz em denunciar essas práticas “bárbaras”. Mais comedido, Sir Richard Burton afirma, entretanto, que se exagerou o horror dessas cerimônias...

Na estrada de mercadores de escravos

Que seja para alguns civilizado, e “selvagem” para os outros, o Daomé logo acende todo tipo cobiça. O Rei Agadja (1711 - 1740), irmão de Akaba, vem a conquistar mais reinos vizinhos, incluindo a cidade costeira de Uidá, que se tornará posteriormente, um ponto nevrálgico na rota de escravos na África Ocidental. É precisamente por causa de seu poderio militar que os monarcas daomeanos vão agora definir-se como interlocutores diretos dos comerciantes de escravos portugueses e franceses. O intercâmbio é simples: os reis de Abomé exigem o fornecimento de armas europeias em troca de escravos transportados de Uidá para as plantações do Novo Mundo...

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Mas o que a monarquia daomeana ignora é que ela abriu uma brecha em seu próprio edifício. Ao oferecer às potências europeias um posto de troca, ela lançou uma máquina terrível que irá resultar, décadas mais tarde, na colonização de todo o continente. Ao passo que as primeiras vozes em nível internacional denunciam a escravidão em solo Africano, os navios negreiros sentiam paralelamente a maré virando para outras fontes de renda, como óleo de palma, tão valorizada pela lubrificação de máquinas e fabricação de velas. Como seu pai Guezo, o rei Glèlè persistiu na manutenção do comércio de escravos e com a prática do sacrifício humano. Quando ele a visita em 1860 como parte de uma missão do governo britânico, Sir Richard Burton fica impressionado com sua determinação: “abolir os sacrifícios humanos é abolir Daomé. Essa prática decorre de piedade filial, consagrada por um uso prolongado e personalizado e é vigorosamente defendida por interessados e poderosos sacerdotes.” Considerando o comércio de escravos, Glèlè respondeu a Burton que esta foi uma prática estabelecida pelos próprios europeus...

Porém, mais do que duas potências estrangeiras, são confrontos de duas visões de mundo. Como os europeus foram capazes de compreender inerentemente bem o que fazia a força e a singularidade do reino de Daomé desde séculos e gerações? Uma personagem encarna em si a identidade da civilização daomeana: seu rei, ao mesmo tempo reverenciado como “dono do mundo” (Semedo), “mestre eminente da terra” (dakunon), “mestre e proprietário de toda a riqueza” (dokunon) e “rei de pérolas” (jehosu). Não é a toa que seus súditos lhe atribuirão força sobre-humana, absoluta e divina. Ao minar a figura real, são os poderes de um inteiro edifício político-espiritual que aniquila as potências europeias...

Queda de um reino

A morte do rei Glèlè e a ascensão de seu filho Behanzin (1889-1894) vai precipitar o início das hostilidades. Aliando-se num objetivo estratégico ao reino de Porto Novo, um inimigo de longa data do Daomé, os franceses tentam dar um golpe fatal na monarquia decididamente pouco dócil. O resto é história... Em desacordo sobre os termos da ocupação francesa do porto da cidade de Cotonou, o rei Behanzin lança ataque preventivo contra seus inimigos. Mas a superioridade material do exército francês é esmagadora. Apesar dos seus 12.000 soldados disciplinados, o corpo de elite de Amazonas e seus 2.000 fuzis, Behanzin é forçado a recuar com suas tropas e se refugiar no interior, ao norte de Abomé. Do monarca temido e reverenciado, o rei do Daomé, de repente se transforma em um herói da resistência! Mas, depois de quatorze meses de perseguição, Behanzin se rende ao General Dodds em 25 de janeiro de 1894. Despojado do seu trono, e sucedido por seu general-em-chefe Guchili, que não passa de um homem comum, diz adeus a seus soldados antes de ir para o exílio na Martinica, cercado por alguns membros de sua corte e de suas esposas. Ele morreu na Argélia uma dúzia de anos depois...

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Behanzin encerra um dos últimos grandes reinos africanos. Mas sua lembrança permanece viva em todas as memórias, como demonstra nitidamente o sucesso da exposição que lhe foi dedicada em 2006 pela fundação Zinsou, no coração mesmo de Cotonou. Sem dúvida, as paredes de seus palácios de Abomé também ressoam a última petição que ele dirigiu a seus súditos pouco antes de deixar a terra de seus antepassados: “Minha voz não desperta mais eco. Onde estão agora as amazonas ardentes? Onde estão meus companheiros de armas? Companheiros desaparecidos... Aqui está o dom da memória – um pouco de óleo, um pouco de farinha e de sangue de boi. Eis o pacto renovado com a grande partida. Adeus, soldados, adeus! "(Dahomey, Jean Pliya, Clássicos Africanos, 1975).

Gou, o deus do ferro e da guerra

Em uma presença assustadora, esta efígie na fundição de metal usava originalmente, chapéu e um manto que escondia a sua nudez. De acordo com a historiadora de arte Suzanne Preston Blier (EUA), poderia ser uma representação do rei Ghézo o pretexto do vodum Gou, poderosa divindade do ferro forjado e da guerra. Foi encomendado pelo próprio rei, querendo Glèlè prestar homenagem a seu pai. Uma pesquisa recente a atribuiu a um ourives que pertencia à família Hountondji. Peça famosa como a sua homóloga do Museu Quai Branly, a estátua foi apreendida pelos oficiais franceses antes de 1894, antes de ingressar, na década de trinta, o na coleção Rattonde Paris. Tudo nesta estátua é excepcional: o tamanho (dimensão humana), a natureza dos materiais (madeira e metal para recuperação), a variedade de técnicas (de ferro é forjado, laminado, martelado, pregado, rebitado). Gu é o deus aqui representado vestindo túnica de um soldado queimado (kansawo) e um cocar curioso com bordas elevadas em que alguns reconhecem um altar portátil (Asen) que lhe permite receber libações e sacrifícios. Ele empunha um grande sabre de lâmina recurvada e um sino com o qual se faz orações e cantam litanias com os nomes reais. Político e religioso ao mesmo tempo, este retrato fascinante do escultor é agora atribuido a Ekplékendo Akati. Um ex-prisioneiro de guerra que não era apenas um artista notável, mas também um Gounon, um ministro do culto do deus Gou.

Tradução: Renato Araújo ([email protected])

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De L’Ancien Danhomè

Par Bérénice Geoffroy-Schneiter

L est des noms dont la puissance évocatrice est telle qu’ ils suscitent instantanément un cortège d’ images flamboyantes. L’ antique royaume du Danhome, dans l’ actuel Benin, XVIIIe. Siècle les premiers voyageurs européens éblouis par le faste de sa cour et l’ allure martiale de ses fières amazones. L’ Afrique pouvait ainsi abriter em son sein des monarchies qui n’ avaient point à rougir, tant sur le plan idéologique que technologique, de leurs homologues sises del’autre côté des océans. “La pompe de la cour du Danhomè est comparable à celle de L’ Europe. La vénération personnelle intense envers le roi me rappelle les récits sur l’ apôtre Mahomet et ses disciples. […] On ne peut attribuer ce zèle exceptionnel qu’ aux règnes prolongés d ‘ une dynastie don’t les membres occupant les trônes depuis 252 ans, rivalisant ainsi avec les sept monarques romains don’t le règne a duré Presque aussi longtemps”, écrit ainsi le célèbre explorateur britannique Sir Richard Burton, lorsqu’il visite le royaume en 1860 ( A Mission to Gelele, King of Dahomey, Londres, 1864). C’ est en effet dans une longue et tumultueuse histoire que s’ inscrit cette riche culture qui se développa dans le centre et le sud du territoire de l’ actuelle République du Bénin. Comme souvent en Afrique, il faut se plonger dans la tradition orale et ses foisonnants récits fondateurs pour tenter d’ en cerner la genèse.

Des Origines Mysttérieuses

Selon la legend, la fille du roi de Tado (localité située de nos jours au Togo) fut fécondée par un léopard alors qu’elle allait dans la brousse puiser de l’ eau ou quérir du bois de chauffe. De cette union extraordinaire naquit un enfant prodigieux nommé Agassou, le fondateur duclan des Agassouvi. S’ ensuivirent alors de sanglantes querelles de succession dignes de cours le plus sophistiquées! Batailles entre clans rivaus, exils forcés émaillent ainsi l’ histoire des premiers royaumes du Bénin actuel, avec lesquels les Portugais entrenet en contact dès le XVIe. Siècle. L’on considère cependent que c’est le roi Houegbadja qui fonde véritablement le royaume du Dnhomè au début du XVIIe. Siècle. Il dote alors la nouvelle dynastie d’un corpus législatif de quarante et une lois qui portent son nom (“les quarente et une lois de Houegbadja”), établit sa capitale dans la plaine vallonnée du plateau d’Abomey, où il fait édifier son premier palais royal et installe sa puissante bureaucratie à vocation politique et religieuse. C’est aussi sous le règne de Houegbadja que prend forme cette idéologie expansionniste du royaume, tout entière résumée dans cette devise aux accents fanfarons: “Faire du Danhomè un État toujours plus grande et plus

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fort!”. Pour assouvir leur soif de conquête territoriale, les différents monarques qui se succèder sur le trône d’Abomey n’auront alors de cesse de guerroyer avec leurs puissants voisins: chefferies locales ou peuple Yoruba. Yangodo, le propre fils de Houegbadja, va ainsi jeter son dévolu sur le petit État du roi Dan, qu’ il finit par attaquer et décapiter, avant de jeter son cadavre mutilé dans les fontadions de son futur palais. Le nom même de Danhomè signifie littéralment “sur le ventre de Dan” allusion à peine voilée au meutre perpétré à l’encontre de cet ennemi jugé trop encombrant...

Devenu roi sous le nom d’Akaba, le nouveau souverain perpétuera avec éclat les cérémonies des “coutumes annuelle” instaurées sous le règne de son père. Sous ce vocable à l’ apparence anodine se cache, en fait, l’un des aspects les plus singuliers du royaume du Danhomé: le deployment de grandioses fêtes rituelles destinées à à renforcer le lien “quasi ombilical” qui reliait le souverain à son peuple et aux ancêtres royaux. Avec un sens du théâtral et un inclinaison pour l’ostentatoire qui n’ont rien à envier à la pompe de Versailles, les monarques danhoméens font pavoiser les cours de leurs palais d’ un kyrielle de bannières et de drapeaux aux couleurs flamboyantes, et exhibent sous l’oeil ébahi de leurs sujets le régiment de leurs fières guerrières...Si les gravures européennes se font le témoin indirect et bien souvent fantaisiste de cette débauche de luxe et d’apparat (sur fond de palmiers et de plumes d’autruches!), les récits de voyageurs se montrent plus sévères. “La célébration des coutumes dure généralement un mois, durant lequel on organise des manifestations tous les quatres jours, le jours de marché”, rapporte ainsi en 1793 l’aventurier anglais Archibald Dalzel (The History of Dahomy: An Inland Kingdom of Africa, Londres, 1793). “Mais tout cela serait un spectacle très amusant s’ils n’y avaiat pas ces sacrifices humains qui sont fait chaque année pour arroser, selon l’expression du pays, les tombes des morts de la famille royale”, poursuit avec effroi le voyageur britannique. C’était, il est vrai, ne rien comprendre de la conception politico-religieuse qui sous-tend toute l’idéologie danhoméenne.

Loin d’être gratuits, les sacrifices des criminels et des prisonniers de guerre étaient destinés à apporter des messages au “pays des morts” des ancêstres royaux. L’on distinguait cependant les “grandes coutumes” (au cours desquelles on immolait sur la tombe du roi des certaines de personnes afin de lui fournir serviteurs et épouses dans le monde de l’au-delè), des “petites coutumes” pratiquées périodiquement mais à une échelle plus modeste. Bien des décennies plus tard, la propagande coloniale sera trop heureuse de dénoncer ces pratiques “barbares”. Plus mesuré, Sir Richard Burton affirmera, quant à lui, que l’on a exagéré l’horreur de ces cérémonies...

Sur la route des Négriers

Qu’il soit civilisé pour les uns, “savage” pour les autres, le Danhomè attise bientôt toutes les convoitises. Le roi Agadja (1711 – vers 1740), frère d’Akaba, ne vient-il pas de conquérir plusieurs royaume voisins dont la ville côtière de Ouidah, qui deviendra, par la suite, un point

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névralgique sur la route des esclaves de l’Afrique de l’Ouest? C’est précisément grâce à leurs prouesses militaires que les monarques danhoméens vont désormais s’ériger en interlocuteurs directs avec les négriers portugais et français. Le troc est simple: les rois d’Abomey exigent des armes européennes et fournissent en échange des contingents d’esclaves convoyés, depois Ouidah, vers les plantations du Nouveau Monde...

Mais ce que la monarchie danhoméenne ignore, c’est qu’elle a ouvert une brèche dans son propre édifice. En offrant aux puissances européennes un poste de commerce, elle lance une terrible machine qui aboutira, quelques décennies plus tard, à la colonisation de tout le continent noir. Alors que les premières voix s’élèvent sur le plan international pour denouncer l’esclavage sur le sol africain, les négriers sentient parallèlement le vent tourner et se rabattent sur d’autres sources de revenus, telle l’huile de palme, si prisée pour la lubrification des machines et la fabrication des bougies. Comme son père Ghézo, le roi Glèlè s’obstine à maintenir la traite des esclaves et la pratique des sacrifices humains. Lorsqu’il lui rend visite en 1860 dans le cadre d’une mission pour le gouvernement britannique, Sir Richard Burton est frappe par sa determination. “Abolir les sacrifices humains, c’est abolir le Danhomè. Cette pratique est issue de la piété filiale, consacrée par un long usage et par la coutume, et vigoureusement défendue par des prêtres puissants et intéressés.” Concernant la traite des esclaves, Glèlè rétorque à Burton que c’est une pratique établie par les Européens eux-mêmes...

Mais davantage que deux puissances étrangères, ce sont deux visions du monde qui s’affrontent. Comment les Européens auraient-ils pu ainsi comprendre de l’intérieur ce qui faisait la force et la singularité même du royaume de Danhomè depuis de siècles et des générations? Un personnage incarne, à lui seul, l’identité de la civilisation danhoméenne: son roi, vénéré tout à la fois comme “maître du monde” (sémédo), “maître éminent de la terre” (dakunon), “maaître et possesseur de toutes las richesses” (dokunon) et “roi des perles” (jehosu). Point de hasard si ses sujets lui prêtent une force surhumaine, absolue, d’essence divine. En portant atteinte à la figure royale, c’est tout l’édifice politico-spirituel qu’anéantiront ainsi les puissances européennes…

Chute d’un royaume

La mort du roi Glèlè et l’avènement de son fils Béhanzin (1889-1894) vont ainsi précipiter le déclenchement des hostilities. S’alliant, dans un but stratégique, au royaume de Porto-Novo, un ennemi de longue date du Danhomè, les Français tentent de porter un coup fatal à cette monarchie décidément trop peu docile. On connaît la suite... En désaccord total sur les termes de l’occupation française de la ville portuaire de Cotonou, le roi Béhanzin lance un assaut préventif contre ses ennemis. Mais la supériorité matérielle de l’armée fançaise s’avère écrasante. Malgré ses 12.000 soldats disciplinés, son corps d’élite d’amazones et se 2.000 fusils, Béhanzin est contraint de se replier avec ses troupes et de s’enfoncer dans l’arrière-pays, au nord d’Abomey. De monarque craint et vénéré, le roi dahoméen se mue soudain en héros de la résistance! Mais au terme de quatorze mois de traque, Béhanzin se rend au général Dodds, le 25 janvier 1894. Déchu

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de son trône, remplacé par son frère et général en chef Guchili, celui qui n’est plus qu’un homme ordinaire fait ses adieux à ses soldts, avant de partir en exil à la Martinique, entouré de qualques membres de sa cour et de ses épouses. Il mourra en Algérie un douzaine d’années plus tard...

Avec Béhanzin s’éteint l’un des derniers grands royaumes africains. Mais son souvenir est resté vif dans tooutes les mémoires, comme l’a démontré avec éclat le success de l’exposition qui lui a été consacrée en 2006 à la foundation Zinsou, au Coeur meme de Cotonou. Sans doute les murs de son palais d’Abomey résonnent-ils aussi de la dernière supplique qu’il adressa à ses sujets, juste avant de quitter le sol de ses ancêtres: “Ma voix éplorée n’éveille déjà plus d’écho. Où sont maintenant les ardentes amazones? Où sont mês compagnons d’ armes? Compagnons disparus...Voici le offrande du souvenir – um peu d’ huile, um peu de farine et de sang de taureau. Voici le pacte renouvelé avec le grand départ. Adieu, soldats, adieu!” (Dahomey, de Jean Pliya, Classiques africains, 1975).

GOU, LE DIEU DU FER ET DE LA GUERRE

D’une présence effrayante, cette effigie coulee dans le metal arborait, à l’origine, un chapeau et une cape que masquait sa nudité. Selon l’historienne de l’art américaine Suzanne Preston Blier, il pourrait s’agir d’une representation du roi Ghézo sous les traits du vodoun Gou, la pouissante divinité du fer travaillé et de la guerre. Elle aurait été réalisée à la demande du roi Glèlè qui souhaitait render ainsi homage à son père. Des recherches récentes l’attribuent à un orfèvre ayant appartenu à la famillie Hountondji. Très célèbre comme son homologue du musée du quai Branly , cette statue fut saisie par les officiers français avant 1894, avant d’ intégrer, dans les années trente, la collection Ratton à Paris.

Tout, en cette statue, est exceptionnel: la taille (de dimension humaine), la nature des matériaux (du bois et du metal de recuperation), la variété des techniques (le fer est forge, laminé, martelé, clouté, riveté). Le dieu Gou est ici représenté vêtu d’une tunique de soldat évasée (kansawo) et d’un curieux couvre-chef à bords relevés dans lequel certains reconnaissent un autel portative (asen) lui permettant de recevoir des libations et des sacrifices. Il brandit en outré un grand sabre á la lame recourbée et une cloche destine à scander les prières et les litanies des noms royaux. Politique et religieuse tout à la fois, cette fascinante effigie est désormais attibuée au sculpteur Ekplékendo Akati. Cet ancien captif de guerre était non seulement un remarquable artiste, mai aussi un gounon, un minister du culte du dieu Gou.

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