DEUS NO TRABALHO

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Vivendo cada dia com propósito Autor: Ken Costa Como um agente de investimentos de grande visibilidade na Cidade de Londres, Ken Costa considera os desafios de viver a sua fé no trabalho e fala abertamente de suas próprias lutas como ambição, dinheiro, relacionamentos, sucesso e fracasso. Ao usar os princípios bíblicos que sustentam sua fé e sua aplicação para o ambiente de trabalho do século 21, ele oferece conselhos práticos sobre a luta contra os problemas comuns a muitos trabalhadores: o equilíbrio entre trabalho e vida, o estresse, a ambição, fracasso e desilusão. O livro fornece conselhos eficazes para todos os que lutam para aplicar a sua fé e encoraja-os a levá-la para o trabalho todos os dias.

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Tradução:Aline Marques Kaehler

1ª edição Curitiba

2009

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God at WorkLiving every day with purpose

© Ken Costa 2007By arrangement with the Continuum International Publishing Group

Todos os direitos reservados © 2009 - Página NovaTodos os direitos reservados © 2009 - Editora Esperança

Nenhuma parte deste livro poderá ser copiada ou utilizada, mesmo que parcialmente, sem autorização prévia por escrito.

Coordenação editorial e EdiçãoSandro Bier

TraduçãoAline Marques Kaehler

RevisãoJosiane Zanon Moreschi

Projeto gráfico e editorialPágina Nova Editorial

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1ª edição

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Sumário

Agradecimentos 9

Introdução 13

O Trabalho é importante 29

Ambição e Escolhas de Vida 59

Decisões Difíceis 77

Equilíbrio entre Vida e Trabalho 95

Estresse 119

Falha, Decepção e Esperança 141

Dinheiro e Doação 163

Renovação Espiritual 185

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Meu amigo, Ken Costa, em seu livro Deus no Trabalho, nos apresenta passos práticos que proporcionam mudança de vida, para vivermos a fé no ambiente de trabalho e, assim, glorificarmos a Deus. Além do casamento e família, Deus utiliza nosso trabalho como uma escola para o aprimoramento do caráter. Você irá experimentar tremenda alegria em deixar Deus trabalhar em você e através do seu trabalho.

Rick WarrenPastor, Igreja Saddleback

Autor do Bestseller International, Uma Vida com Propósitos (Vida, 2003)

Nestas páginas Ken Costa coloca a experiência de uma variada e altamente responsável vida profissional para mostrar como o evangelho é transformador no ambiente de trabalho. É repleto de perspicácia, astúcia e esperança – em resumo, é um livro sábio, e a leitura é um prazer e um lucro.

Rowan Williams Arcebispo de Canterbury

Ninguém é melhor qualificado para escrever um livro como este que Ken Costa. Em sua jornada para uma das posições mais reconhecidas no mundo financeiro, ele tem sido uma inspiração para incontáveis cristãos buscando viver sua fé no local de trabalho. Ken e eu nos conhecemos na Universidade de Cambridge onde nos tornamos cristãos. Desde então ele é um de meus amigos mais próximos. Fico muito feliz por ele ter sido persuadido para, enfim, colocar um pouco de sua sabedoria e experiência no papel.

Nicky Gumbel Pastor da Holy Trinity Brompton, Londres

Pioneiro do Curso Alpha

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Cheio de sabedoria e conselhos práticos para o local de trabalho – este livro irá lhe inspirar, desenvolver e desafiar.

Steve Chalke Fundador do Oasis Global & Faithworks

Ken Costa é um dos excelentes agentes de sua geração, é conhecido pela paixão, criatividade, liderança e pensamento estratégico que traz para sua vida profissional. Ele também é uma pessoa com profunda fé cristã demonstrada em quase todas as páginas deste livro. Deus no Trabalho é um relato extraordinário de suas lutas pessoais com ambição, dinheiro, relacionamentos, sucessos e fracassos. Integrar a fé e o trabalho é um desafio para qualquer pessoa no negócio e não tenho dúvidas de que este livro pode transformar a forma como você trabalha.

Lord Griffiths de Fforestfach Vice Presidente, Goldman Sachs Internacional

Deus no Trabalho vai longe ao derrubar as barreiras que existem entre o sagrado e o secular.A ampla experiência do Ken, desde seu treinamento teológico e serviço cristão na Holy Trinity Brompton e o programa Alpha, até seu sucesso no mundo financeiro, faz com que ele seja qualificado para escrever sobre este assunto.Um cristão pode ser realizado servindo no local de trabalho? Como os ideais “mundanos” de dinheiro, sucesso, ambição e poder andam lado a lado com as virtudes cristãs de amor, justiça, compaixão e serviço a Deus? Para qualquer pessoa que já buscou respostas para estas questões, ou qualquer pessoa que se pergunta como a fé cristã pode florescer em um local de trabalho capitalista e movido pelo mercado, este livro é uma leitura essencial.

Pastor Agu Irukwu Pastor Sênior, Jesus House for all Nations, Londres

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Agradecimentos

Este livro teve um período de gestação maior que de qualquer animal vivo. O fato de finalmente estar sendo

publicado é um triunfo para os muitos, muitos parteiros que lutaram durante anos para retirar o texto de mim. Visto que foi um processo tão longo, a lista dos que me ajudaram precisaria de um livro em si. Obrigado a todos que me permitiram usar suas histórias, leram o manuscrito, fizeram comentários, verificaram as fontes e fizeram a digitação.

Um agradecimento especial a Nicky Gumbel, que foi o primeiro a me levar ao papel, e que tem sido um exemplo e constante encorajador como crítico e como amigo; a Nicky e Sila Lee que sempre estão ali para verificar a gramática e outras coisas importantes na vida; a Jane Williams, Graham Tomlin e John Valentine pela opinião teológica – as heresias são minhas, mas a ajuda deles tem sido inestimável; a Wesley Richards, Tricia Neill e Mark Elsdon-Dew por sua extraordinária persistência e trabalho duro

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para levar o projeto adiante; a Robin Baird-Smith e a equipe Continuum por sua demonstração inicial de confiança; a Jonathan Aitken cujo café da manhã mudou o curso de meus pensamentos; a congregação e equipe da Holy Trinity Brompton, nossos vigários anteriores John Collins e Sandy Millar, Jeremy Jennings, Julia Evans e Tim Hughes, que têm sido um suporte constante.

Este livro nunca teria acontecido sem a graciosa firmeza dos “stalinistas”, Jo Glen e Lizzy Woolf que transformaram o manuscrito em um texto legível e me obrigaram à precisão.

A paciência e amor de Fi, que digitou o manuscrito, e a tolerância e brincadeiras de Georgina, Charles, Henry e Claudia fizeram toda a diferença no término deste livro.

E acima de tudo, agradeço a todos que oraram comigo e por mim e me encorajaram ao longo dos anos.

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Tenho visto que é muito fácil esquecer as prioridades da vida e ir com a maré das atividades regidas pelo

trabalho. Muitas vezes durante o ano eu volto para os avisos e encorajamento de Jesus. O lembrete é muito

claro: “Cuidado! (...) A vida de um homem não consiste na quantidade de seus bens”. (Lucas 12.15).

Neste alerta ele nos chama a “[buscar], pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas lhes serão acrescentadas” (Mateus 6.33). Eu acredito que

recolocar nossas aspirações nesta ordem de prioridade é a tarefa suprema de nossas vidas.

Poucos ditos de Jesus me desafiam mais que esta pergunta, que é tão poderosa em si que quase não requer resposta: “Pois que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, e

perder-se ou destruir a si mesmo?” (Lucas 9.25).

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Introdução

Como agente de investimentos na Cidade de Londres1, leio o Financial Times e a Bíblia quase diariamente

há 30 anos. Muitas vezes, as pessoas me perguntam como concilio ser um agente e um cristão. Há uma visão generalizada de que Deus e negócios não se misturam: as demandas competitivas e brutais do mercado de trabalho são vistas como o inimigo óbvio da compaixão e amor cristão. Mas tenho visto que o Deus que criou e sustenta o mundo também é o Deus do local de trabalho. Se a fé cristã não é relevante no local de trabalho, não é relevante de forma alguma.

Mas onde esta jornada de fé começou? Eu nasci em um país nominalmente cristão, a África do Sul, e cresci na era brutalmente opressiva do apartheid. Tornei-me Presidente

1 (Nota do Editor, como todas as notas seguintes) A Cidade de Londres (City of London) é uma cidade menor no centro da grande Londres. Muitas vezes chamada simplesmente de A Cidade (the City), é um dos maiores centros financeiros e de negócios do mundo.

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da União Estudantil em Johanesburgo e era ativo em movimentos estudantis de protesto contra as chamadas doutrinas “cristãs” do apartheid, cuja teologia deturpada colocava a responsabilidade de suas consequências mais terríveis na autoridade bíblica. A crueldade da filosofia “separados, mas iguais” provocava em mim um profundo senso de injustiça. Estudantes negros não eram permitidos na universidade e prédios residenciais e qualquer forma de interação social havia sido eliminada. Ofendido por tais injustiças realizadas em nome do Cristianismo fiquei anestesiado às declarações pessoais de Cristo. Portanto, rejeitei o Cristianismo em favor do que considerava a única filosofia de vida eficaz, e a única que libertaria as pessoas da intolerável falta de humanidade do sistema apartheid: o “conceito do homem”, de Marx.

Após completar uma graduação de filosofia e direito, saí da África do Sul porque ficou claro para mim que tal resistência nunca traria mudanças pacíficas sem uma mudança sísmica no coração. Eu continuei meus estudos em Londres, na Universidade de Cambridge. Enquanto lá, conheci diversos alunos cujas vidas haviam sido mudadas durante uma missão cristã na universidade. Até hoje estão entre os meus melhores amigos. Através deles eu percebi que no centro da fé Cristã não havia tanto um sistema de pensamento, mas sim uma pessoa, Jesus Cristo, cuja vida, crucificação e ressurreição trouxeram a única verdadeira liberdade que eu ou qualquer um encontraria. Uma noite sozinho no meu quarto, li o Evangelho de Mateus (porque

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era o mais curto). Achei que as declarações e caráter de Cristo eram convincentes, e vi em Jesus a pessoa mais livre que já havia vivido. Previamente, eu apenas havia ouvido curtas seções da Bíblia lida em cultos na igreja. O efeito de ler todo o Evangelho de uma vez em uma tradução moderna foi eletrizante. Deus estranhamente era um de nós. Fui movido por uma imagem de Cristo como ser humano que estava comprometido comigo. Assim, abracei a fé que havia aprendido, mas negligenciado até então.

Esta fé se tornou viva para mim após uma luta interna debatendo se Deus estaria à frente de toda a minha vida ou apenas parte dela. Muitas pessoas aceitam apenas o suficiente do cristianismo para se sentirem infelizes. Eu estava neste grupo. A luta se encapsulou em uma imagem vívida de controle retirado do mercado onde eu passaria os próximos 30 anos: era como se a minha vida tivesse participações societárias e Deus queria 100 por cento de controle. Um cabo de guerra divino começou. Por que Deus iria querer tudo de mim? Não poderia haver um empreendimento conjunto? Eu não poderia fazer um contrato especial do meu agrado? E uma parceria? 50-50 não era um bom acordo? Mas ficou claro que a verdadeira liberdade seria encontrada na entrega total ao amor de Deus. Não percebi isso facilmente, e nem de uma vez: cheguei lá em estágios. Lembro de orar para que Deus tomasse 51 por cento da minha vida – controle, mas não propriedade total. Eu me lembro da agitação e deliberação em mim quando este plano não parecia alcançar o objetivo desejado. Eu vi,

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então, e reconheço agora mais completamente, a arrogância da negociação com Deus e a tolice de crer que eu tinha algo a oferecer para Deus. Lembro de orar: “Senhor, tenha tudo de mim. Apenas não me abandone”. Naquele momento, percebi que o Deus que amava todo o mundo também me amava e seria fiel a mim, mesmo eu não sendo fiel a ele, o que infelizmente muitas vezes é o caso.

O que me surpreendeu imediatamente foi a mudança em todas as áreas da minha vida. Minha luta interior sobre o sentido da vida acabou, a paz com Deus e comigo mesmo cresceu e minha vida foi redirecionada com uma nova paixão. De repente a Bíblia estava cheia de vida e cada semana eu lia trechos com um grupo de amigos. Eu ficava ansioso por estas reuniões. Estas leituras colocaram o fundamento de um diálogo que permanece comigo: delinear princípios para se viver através da Bíblia, orando e conversando sobre estes com amigos e aplicando-os às situações práticas do dia-a-dia. Mas havia uma incerteza constante. Qual era o resultado disso? Ou estas experiências eram apenas uma resposta entusiasmada que diminuiria e morreria? Eu decidi estender meus estudos por um ano e ler teologia para ver se as declarações do cristianismo permaneceriam firmes ao exame acadêmico rigoroso. Durante este tempo eu aprendi a “gramática” da fé e encontrei evidências surpreendentes sobre as declarações de Cristo ser Deus. Desde então, nunca vacilei na verdade essencial da história do evangelho, apesar de as implicações terem trazido muitas perguntas e dúvidas. Também percebi que a teologia não era uma ferramenta

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meramente descritiva, útil para se entender melhor o mundo, mas que a tarefa cristã era encontrar o caminho de Deus no mundo e trabalhar para mudar o mundo. Desde então sou movido por este desafio.

Como muitos alunos deixando a universidade, fiquei impressionado com a perspectiva de escolher uma carreira, visto que havia muitas escolhas e perguntas sobre o propósito do trabalho. Eu havia estudado Direito e sempre soubera que seria um advogado, entretanto, agora de uma forma crescente sentia que isto poderia não combinar bem com minha personalidade, especialmente ao perceber que não era estimulado por detalhes. Tendo decidido o que não fazer, a pergunta do que fazer ainda permanecia. Eu sabia que não poderia trabalhar na África do Sul, visto que questionava a legitimidade de seu governo e não queria participar em um sistema econômico injusto.

Eu precisava de um contexto para responder à pergunta se a busca de lucro era egoísta ou uma real contribuição à sociedade. Percebi, então, que o Novo Testamento é vigorosamente contra o egoísmo, mas claramente distingue o individualismo possessivo egoísta do interesse próprio. Devemos, afinal, amar o próximo como a nós mesmos. Fiquei convencido de que o capitalismo democrático, apesar de seus defeitos, era um sistema econômico que buscava o bem comum e que melhor refletia os princípios de justiça, liberdade individual e risco responsável do Novo Testamento.

É claro que ao longo dos anos eu tive minhas dúvidas

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sobre a economia de mercado. Às vezes, parece que a demanda por eficiência injustamente discrimina contra os membros mais fracos da sociedade. Como podemos justificar que o mundo se torna mais eficiente se é mais eficientemente injusto? Isto me perturba muito, quando parece haver uma busca direcionada, sem restrições e sem compaixão, pela recompensa financeira. Estas perguntas permanecem, mas ainda não encontrei um sistema melhor. A economia de mercado permanece um bom servo e um mestre ruim. Ela precisaria operar dentro de um contexto moral maior em que veja todos os seres humanos, e todos os recursos do mundo como valiosos, precisamente porque são importantes para Deus. Sem uma arquitetura baseada em valores, a economia de mercado é fraca em seus alicerces.

Portanto, ser um cristão no mundo hoje não é confortável. Seremos desafiados e ficaremos constrangidos ao sermos constantemente movidos pelo Espírito Santo, a questionar as formas como a economia de mercado serve os objetivos cristãos de justiça e fidedignidade. Nossa tarefa é distinta, visto que vivemos nossa vida como testemunhas dos valores judaico-cristãos que sustentam muito da economia de mercado.

Este era o tipo de pergunta com a qual eu lutava ao tomar minha decisão de carreira. Eu tinha uma entrevista em uma escola teológica e percebi que o treinamento teológico não era a rota para mim. Um bispo me ofereceu um emprego, mas não havia paz no meu coração. Enquanto eu pensava, orava, conversava com pessoas e visitava os

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escritórios, bancos e seguradoras começaram a surgir como as possibilidades mais promissoras. Por isso, conversei com dois amigos trabalhando nestas áreas, e ambos eram cristãos mais antigos e recém graduados, que criam na importância da fé no trabalho. Decidi me candidatar a empregos em ambos os campos. Fui rejeitado por três bancos e duas empresas de seguros, me deixando com a opção entre uma empresa de seguros e um pequeno banco mercantil na Cidade de Londres. Senti a responsabilidade da escolha não apenas me afetando, mas afetando a esposa e família que eu poderia ter no futuro. Eu sabia que Deus tinha planos para minha vida e que ele era uma parte na decisão e não apenas um observador. Orei todos os dias pela direção de Deus, recitando este versículo de Salmos 37.5: Entregue o seu caminho ao Senhor; confie nele, e ele agirá. E eu esperei. Não havia uma luz brilhante mostrando o caminho à frente, mas sim uma crescente convicção que me tomava de que a porta bancária deveria ser empurrada primeiro. Ainda me sentia mal por ter sido rejeitado por bancos internacionais glamorosos, mas aceitei o trabalho no banco mercantil baseado em Londres.

Bancos mercantis foram os precursores de bancos de investimentos: não são bancos de rua, mas instituições financeiras fornecendo serviços de consultoria, negociação e mercado de capitais para governos soberanos e grandes instituições e corporações financeiras. De forma memorável, eu comecei a trabalhar no dia de uma crise da moeda britânica, quando a libra estava caindo em relação

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ao dólar americano, e o governo e o banco da Inglaterra estavam tentando parar a queda. Portanto, tive minha primeira experiência com o medo e a incerteza que podem dominar os mercados financeiros. Um colega, perplexo, comentou que, visto que nada prático iria evitar esta crise, meu treinamento teológico me tornava mais qualificado que qualquer dos negociadores em pânico. “Você”, ele disse, “pelo menos pode orar”. Então minha carreira começou.

Desde então, oro todos os dias no trabalho, quase sem exceção. Mas muitas vezes minhas orações acontecem entre reuniões ou viagens. Eu gostaria que fosse diferente, mas as demandas de um dia de trabalho em um banco de investimentos, sendo casado e tendo quatro filhos não são condizentes com momentos ininterruptos de meditação serena. Mas estes momentos, mesmo imperfeitos, têm me equipado para o meu trabalho e diariamente me lembram do motivo para viver e minha dependência de Deus.

Viver como um cristão no mundo hoje é como viver na ponta de uma faca. Ler a Bíblia, orar e conversar com amigos ajuda, mas não existe uma resposta “clique aqui” para os muitos dilemas que enfrentamos no trabalho todos os dias. Há alguns anos eu fui ao deserto da Namíbia com um pequeno grupo de amigos cristãos durante um feriado curto. Para todos nós, havia algo muito cativante sobre a árida vastidão da paisagem, sua total desolação e sua falta de distrações. De diferentes formas cada um de nós queria ouvir Deus. Oramos e adoramos juntos, e, uma noite durante o pôr do sol, cercados pelo silêncio e inesquecível

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escuridão Africana, tivemos uma ceia sob as estrelas no deserto. Na manhã seguinte acordamos antes do nascer do sol para andar em uma das maiores e mais majestosas dunas de areia do mundo. O que vimos foi estonteante. Enquanto o sol nascia, de um lado havia pura luz, do outro, uma escuridão quieta e misteriosa. Ao andar pelo topo da duna eu tive uma sensação de que este era um retrato do mundo em que os cristãos vivem. Fomos chamados para andar no estreito peitoril da duna, não na escuridão, e nem sempre na beleza iluminada pelo sol no lado da luz, mas em todo o tempo indo em direção à luz e para longe da sombra.

A vida do cristão no trabalho é uma inclinação em direção ao bem. Dia após dia podemos sentir a presença de Deus ao evitarmos a escuridão. Tentamos andar nesta divisa estreita, inclinando para a luz.

O local de trabalho é um local difícil, mas tenho sido encorajado pela crença de que Deus tem nos chamado para sermos fortalecidos no mundo para o mundo. Isto significa abraçar os desafios de um mundo competitivo, e crescer através dele para ajudar outros a fazer o mesmo. Saber que somos colocados no mundo não por um acidente aleatório, mas pelo plano de Deus, tem me feito passar por muitos dias difíceis.

Durante os últimos 30 anos, ser um cristão no trabalho tem se tornado mais difícil. Em parte, esta é uma resposta à angústia geral do mundo ao nosso redor, à qual nenhum cristão está imune. Os mercados financeiros têm se tornado voláteis, as decisões mais complexas e poucas escolhas

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são bem definidas. Os difíceis acordos que parecem ser inevitáveis no local de trabalho têm se tornado mais exigentes com o crescimento das demandas econômicas.

O local de trabalho é a superfície minada onde a fé é testada e apontada por encontros diários com as ambiguidades e tensões do comércio moderno. Nossa fé é testada quando reconhecemos nossa fraqueza no trabalho e aprendemos mais sobre nossos pontos fortes e fracos em relacionamentos de trabalho, precisamente porque nem sempre podemos escolher as pessoas com quem trabalhamos. Somos testados e refinados, e interagimos irritados ou amáveis com colegas, ou colocamos nosso egoísmo à frente do bem comum, ou esquecemos a gratidão e perdemos Deus por completo na loucura diária do trabalho. Todos nós já passamos por isso.

Alguns pensam que a fé nos torna imunes a tomarmos decisões erradas. Eu gostaria que fosse assim. Deus nos dá os recursos espirituais para crescermos em nossas fraquezas e nos recuperarmos quando sucumbimos às tentações sempre presentes. A acusação de hipocrisia é a mais doída. Outros esperam que os que abraçam a fé no trabalho ajam de forma consistente com estes valores. Nem sempre fazemos isso. O que eu acho mais difícil no julgamento de outros é a não permissão da fraqueza, que é comum a todos nós. Mas tenho aprendido a apreciar a cada dia não somente a comunhão com os que creem para ajudar e encorajar, mas também as reações críticas, e nem sempre de ajuda, de colegas. Através da combinação destes,

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creio que nos tornamos seres humanos completos e bem ajustados como devemos ser. Nenhum de nós se torna um modelo de virtude instantaneamente: a vida é vivida no trabalho como parte de um processo, uma experiência de aprendizado. O maior obstáculo à maturidade de nossa fé é a falha em ser ensinável.

Na maior parte do tempo, tenho tido o privilégio de gostar muito do meu trabalho. Dennis Bakke, em seu livro Joy at Work (Alegria no Trabalho), o ex co-fundador e executivo chefe de uma das maiores empresas de energia do mundo, discute as formas em que “diversão” se torna um valor central essencial de sua empresa, além dos princípios comuns de integridade, justiça e responsabilidade social. Sua fé cristã o levou a ver que: “A alegria no trabalho dá às pessoas a liberdade de usar seus talentos e habilidades para o benefício da sociedade sem ser limitado ou controlado por supervisores autocráticos ou diretores de funcionários”. Muitos trabalham sem este elemento de alegria. Um dos propósitos deste livro é explorar formas de recuperá-la.

Mas existem momentos em que um senso de depressão parece pairar sobre mim no trabalho. As causas geralmente têm raízes profundas, mas os gatilhos acontecem inesperadamente: uma transação que não deu certo, uma revisão de pagamento desapontadora, relacionamentos desagradáveis, medo do futuro. Estes momentos de dificuldade acontecem com todo mundo. Mas são oportunidades para que Deus seja glorificado. Paulo disse, Quando sou fraco é que sou forte (2 Coríntios 12.10). Tenho

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visto que é muito difícil mostrar fraqueza no local de trabalho, a não ser que lembremos que o objeto da fraqueza é a força, ou seja, nossa dependência de Deus.

Nenhum cristão chega à maturidade se não entender pessoalmente a verdade de morrer para o mundo. Paulo, escrevendo aos Gálatas: Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim (Gálatas 2.20). Para mim, este rito de passagem aconteceu após um longo período de debate incansável sobre o propósito da vida no trabalho. Nos primeiros anos, eu não estava certo de que o trabalho que eu fazia tinha algum significado para Deus. Lembro de andar na rua que leva aos fundos do Banco da Inglaterra na hora do almoço. Vi em minha frente o Banco da Inglaterra parecendo uma fortaleza, e à minha esquerda vi a placa da Corporação do Banco Suíço (no qual eu viria a trabalhar). Lembro de olhar estas placas, elas projetavam grande segurança. Mas então, em um piscar de olhos, eu vi a verdade. Nenhum banco, o Banco Suíço ou o Banco da Inglaterra, sobreviveria ao retorno prometido de Cristo. Por mais forte que parecessem, sua segurança aparente seria quebrada em um instante.

Eu também percebi naquele momento a natureza ilusória da ideia de “segurança no trabalho”. A verdadeira segurança somente pode ser encontrada nas promessas de Deus, agora e após a morte. Eu vi que Cristo estava no controle total de toda a vida. A morte de Cristo na cruz quebrou o controle

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desta forte presença na minha vida. Eu sabia que havia morrido com Cristo e agora vivia uma nova vida nele. Eu podia andar livre de ganância compulsiva, falsa segurança financeira e ilusões cativas sobre o sentido da vida. Isto não significava que a tentação tivesse acabado, ou que eu nunca tivesse tomado decisões erradas. Mas significava que a inevitabilidade de ser fascinado pelo mundo havia sido quebrada.

O amor pode brotar no local de trabalho? A ideia é tensa devido ao uso errôneo da palavra “amor” para descrever meros encontros sexuais, mas também porque é vista como uma “virtude fraca”, não um dos valores difíceis que constroem as organizações bem sucedidas. Certamente a competitividade do mundo dos negócios força o amor para fora da agenda. Mas se o amor é central à fé e se devemos ser conhecidos pelo nosso amor, como este pode ser excluído do local de trabalho? O amor é a motivação básica do serviço. As organizações frequentemente cometem o erro de crer que um bom serviço a consumidores e clientes pode, de alguma forma, ser separado das atitudes internas dos funcionários. Mas a verdade é o oposto. Quando existem boas atitudes internas, o serviço externo floresce.

Dennis Bakke, em seu livro, colocou desta forma:

É o amor que nos permite tratar cada pessoa em nossa organização com respeito e dignidade. O amor envia as pessoas ao redor do mundo para servir a outros. O amor inspira as pessoas a trabalharem com maior propósito... o amor faz com que seja possível

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perdoar os que ridicularizaram minhas visões e me causaram tanta dor. Por ser direcionado a outros, o amor permite a possibilidade de que meus críticos estivessem certos e eu, errado. E se eu estava errado, esperaria que o amor permitisse que aqueles que me ridicularizavam perdoassem as formas forçadas com que insisti em minha filosofia. Eu continuo crendo que o amor é o ingrediente crucial final em um local de trabalho cheio de alegria... o amor é perfeitamente consistente mesmo com os mais agressivos objetivos econômicos.

Para mim, o amor permanece como a herança chave de fé e a joia perdida de alegria no local de trabalho moderno. Espero que este livro, de alguma forma, ajude a recuperar o valor e o poder do amor no trabalho.

Minha função atual envolve a responsabilidade pela construção de relacionamentos com clientes chave. Eu os aconselho sobre suas estratégias, os ajudo a comprar e a vender empresas e os defendo de predadores que não são bem vindos. Eu reconheço que minha experiência pode ser diferente da sua. Porém, em conversas ao longo dos anos com pessoas que têm trabalhos muito diferentes do meu, tenho visto que as questões base são similares para todos os cristãos. Muitas pessoas, em todos os estágios de suas vidas de trabalho, me fazem perguntas sobre espiritualidade e trabalho. Tenho sido especialmente desafiado por perguntas de pessoas com vinte e poucos anos que estão iniciando

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suas carreiras, vivenciando dúvidas sobre sua função no local de trabalho. Coloquei a caneta no papel, confesso que relutantemente, já que não acho fácil falar de mim mesmo. Posso apenas esperar que da minha experiência de dificuldade e alegria no local do trabalho você possa ver um pouco de Deus no seu trabalho e que ele possa lhe ajudar como tem me ajudado. Este livro é para aqueles que já se engajaram no empolgante desafio de viver sua fé cristã no trabalho. Também é para os que estão explorando as perguntas maiores da vida e que se descreveriam como simpáticos ao cristianismo, mas não como acionistas.

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