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Convergência de Linguagens, Artes Visuais: Cinema, Vídeo, Teatro e Internet. Convergence of Languages, Visual Arts: Film, Video, Theatre
and the Internet.
Daniela Santos de Farias Mestranda em artes pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
UNESP Instituto de Artes - email:[email protected] RESUMO:
No contexto contemporâneo percebemos que as artes visuais passam por um hibridismo de diferentes linguagens, onde há uma complexidade em sua composição, organização e realização. Este artigo tem o intuito de apresentar as novas manifestações de artes visuais criadas a partir da convergência de linguagem do cinema, do vídeo, do teatro e da internet. Estas manifestações criativas estão se comunicando através de tecnologias midiáticas, como, por exemplo, sites próprios, ou sites de distribuição e compartilhamento como o YouTube, ou simplesmente utilizando a internet banda-larga para efetivar esta hibridização criativa de um país para o outro, ou de uma esquina para a outra. Para que se tenha uma noção destas manifestações multimidiáticas da arte visual, serão apresentados trabalhos de artistas independentes, artistas que trabalham com a linguagem cinematográfica e finalmente artistas que utilizam a linguagem teatral. Como, por exemplo, Alexandre Carvalho e seu filme Fluidos, a Cia PHILA 7 com os seus projetos que agregam múltiplas linguagens e a Cia Teatro Para Alguém, que produz conteúdo em seu site próprio utilizando a linguagem do cinema, vídeo e teatro através da internet para um público diferenciado. Embora sejam utilizadas companhias teatrais este artigo se fixará nas obras e projetos realizados com o intuito de divulgar uma nova linguagem através da convergência da arte e da tecnologia.
Palavras-chave: Convergência, cinema, vídeo, teatro, internet.
ABSTRACT:
In the contemporary context we find that the visual arts go through a hybridization of different languages, where there is complexity in their composition, organization and implementation. This article aims to present the new expressions of visual art created from the convergence of the language of cinema, video, theater and the internet. These creative expressions are communicating through media technologies, for example, own sites, or distributing and sharing sites like YouTube, or simply using the broadband Internet to effect this creative hybridization from one country to another, or from one corner to another. To get a sense of these expressions multimidiáticas of visual art works will be presented by independent artists, artists working with language film and finally artists who use the language of theater. How, for example, Alexandre Carvalho and his film Fluids, Cia PHILA 7 with their projects that add multiple languages and Cia Teatro To Someone, which produces its own website content using the language of film, video and theater over the internet for a different audience. Although theater companies used this article dwells on the works and projects undertaken with the aim of promoting a new language through the convergence of art and technology. Keywords: Convergence, film, video, theater, internet.
Introdução
Hoje cada vez mais percebemos que as artes visuais antigas e contemporâneas
estão em rota de colisão, através de artistas que constroem suas obras a partir da
convergência das linguagens. Este movimento convergente tem criado uma nova
estética com o uso da internet e de antenas de transmissão. Por exemplo, diretores
teatrais e diretores cinematográficos realizaram nos últimos cinco anos no Brasil
projetos artísticos que quebraram com o paradigma das artes visuais, e
conseqüentemente as inovações e avanços da convergência de linguagens possibilitaram
o surgimento de uma nova arte visual remixada entre o cinema, o vídeo, o teatro, as
artes plásticas e a internet.
Ao investigar a atual manifestação de hibridismo entre as múltiplas linguagens
visuais, mais especificamente a quebra de fronteiras entre o cinema, o vídeo, o teatro e a
internet, percebi um incomodo e a necessidade de pesquisar e compreender o papel que
as mídias contemporâneas representam para a cultura e as artes? E de que modo se dá a
convergência do cinema, vídeo, teatro e internet nas artes visuais? E o produto gerado
por esta convergência é entendido como arte? O virtual e o orgânico quebram fronteiras
na arte visual? Como se processa a compreensão dessa convergência entre o meio, o
artista e o público-receptor? A convergência de linguagem por si só pode ser
considerada como linguagem? As artes visuais remixadas são o futuro da comunicação
visual?
Arlindo Machado em 2002 já se manifestava favoravelmente ao surgimento de
novas linguagens visuais “Eu acho que é diferente. Por exemplo, quando surgiram os
impressionistas, os cubistas, que nós consideramos artistas hoje, eles não eram
considerados artistas no seu tempo. O que eles faziam não era diferente do que essas
pessoas, esses grupos fazem hoje.” (MACHADO, 2002: 205). Em seu livro Por que as
comunicações e as artes estão convergindo? Lucia Santaella Também se manifesta a
favor dessa convergência, “Embora as eras sejam seqüenciais, o surgimento de uma
nova era não leva a anterior ou as anteriores ao desaparecimento. Elas vão se
sobrepondo e se misturando na construção de uma malha cultural cada vez mais
complexa e densa.” (SANTAELLA, 2005: 9)
E para exemplificar e justificar estes argumentos artistas visuais independentes
como Regina Silveira, traz ao contexto contemporâneo obras que demonstram tal
convergência nas artes visuais. Como também artistas e pesquisadores do universo
cinematográfico, como, Godard, Peter Greenaway, Renata Pinheiro, Tony Berchmans
como também, grupos artísticos do universo teatral, como PHILA7 e Cia Teatro Para
Alguém que realizaram trabalhos e obras artísticas que evidenciam à efetiva
convergência da visualidade em diferentes artes. Todos estes artistas, pesquisadores e
pensadores contribuem para um novo status das artes visuais; uma arte que surge dentro
de um contexto contemporâneo complexo, tecnológico, extremamente rápido e global.
Os Pensadores do Cinema, do Vídeo, do Teatro e da Convergência
A arte não é mais a mesma e a formação do artista se modificou. Há diferentes
expressividades de linguagem nas artes visuais, principalmente em sua composição e
construção. Segundo Regina Silveira (2002: 203) “os meios digitais transformaram
todos os modos de concepção, de organização e realização das artes.” Mas para
contextualizar o tema deste artigo chamo a se pronunciar Sergei Eisenstein, em seu livro
A Forma do Filme.
Neste livro Eisenstein demonstra toda sua genialidade em relação à linguagem
cinematográfica. O cinema para Eisenstein era fragmentário e passível de inter-relações
com outras artes, como ele dizia, (2002:16) “e que arte não está próxima do cinema?”
microscopicamente podemos revelar cada fragmento da visualidade como a
expressividade de diferentes campos artísticos, por exemplo, o cinema com o teatro e a
fotografia. Cinema uma arte que permite a hibridização de todas as artes visuais, através
da montagem,
Quando Eisenstein escreveu o livro O Sentido do Filme também ressaltou
críticas, as quais se referiam à linguagem cinematográfica. O cinema era considerado
uma meia arte, ou não?! “Ainda hoje, em certos meios intelectuais, há uma controvérsia
sobre se o cinema seria uma arte ou um meio de comunicação de massa. Ora, ele é as
duas coisas ao mesmo tempo, se não for ainda outras mais.” (MACHADO, 2002:28)
Arlindo estava certo o cinema é “ainda outras coisas mais”, através da
vertiginosa convergência das linguagens visuais temos hoje o chamado cinema pós-
midiático que trouxe suas experiências do cinema dos anos 70 e 80 quando Godard
usava o vídeo para escrever seus roteiros. Estes roteiros eram documentos que às vezes
ficavam prontos depois do filme lançado. Seus roteiros-vídeos ressaltavam a essência de
seus filmes, pois Godard dizia que era preciso “ver um roteiro, ou seja, ver como se
passa do invisível para o visível”. (GODARD, 2004: 323)
E este cinema que utilizava vários elementos híbridos da arte como, a pintura, o
teatro, o vídeo são características de outro grande cineasta, como, Peter Greenaway. Um
exemplo, dessa fantástica direção está no filme O Livro de Cabeceira de 1996, onde
podemos apreciar sua não linearidade e ao mesmo tempo o hibridismo na linguagem
visual com o uso da linguagem do videoclipe, em algumas cenas deste filme são
representadas por janelas que se assemelham a lupas sobreposta ampliando o olhar de
cada quadro. Através da mescla das mídias Greenaway amplia o contato com outras
linguagens visuais, e assim proporcionando ao público-espectador uma nova visão, uma
visão convergente.
Há um momento em que a arte de vanguarda não precisa mais
de palco nem de um espaço privilegiado para atuar, e pode,
então, atuar na grande mídia. Não me interessa se você é artista
ou não, você não precisa denominar o seu trabalho. Você faz
uma coisa que é de primeira, de primeira qualidade.
(GROSSMANN, 2002:207)
Manovich já havia iniciado este pensamento a partir de uma linguagem visual.
Portanto, temos a liberdade para pesquisar novas manifestações artísticas e seus
desafios em diferentes leituras, linguagens e apresentações. O pós-dramático de
Lehmann aponta para um destes caminhos, por exemplo, o hibridismo no teatro. Um
teatro heterogêneo, composto por linguagens, formas e signos compartilhados. Um novo
modo de compreender as experiências da convergência através dos processos criativos,
e não pelos resultados.
A dramaturgia visual no pós-dramático se expande e se transforma em uma arte
visual que possui significados próprios, onde o espaço cênico se liberta do texto, e
assim, a visualidade se hibridiza com a tecnologia midiática contemporânea. “Pós-
dramático significa a ruptura do distanciamento contemplativo, no qual a razão filtra a
emoção para melhor atribuir-lhe um sentido.” (COELHO, 2010: 191)
E como não poderiam faltar os estudos de Henry Jenkins com o livro Cultura da
Convergência. Segundo Jenkins (2009:28) “(...) a convergência ocorre dentro do
cérebro (...) e cada um de nós constrói a própria metodologia pessoal, a partir de
padrões e fragmentos de informações extraídos de fluxos midiáticos. (...) a convergência
coletiva pode ser vista como fonte alternativa de poder midiático. Estamos apreendendo
usar este poder em nossas interações diárias dentro da cultura da convergência.”
Alguns críticos até cogitaram na hipótese de que as novas mídias iriam substituir
as antigas, mas esta hipótese foi derrubada com a chegada da convergência, onde as
artes e as mídias antigas foram retomadas e chamadas a se inter-relacionar com as novas
tecnologias midiáticas. Segundo Jenkins (2009:31) “a convergência, é nesse sentido, um
conceito antigo assumindo novos significados.”
Novas tecnologias estavam distantes, os meios de comunicação dispersas e as
artes visuais cada uma em seu lugar. Por isso várias forças se reuniram e começaram a
derrubar as fronteiras, assim, diversas manifestações artísticas começaram a distribuir
seus conteúdos por vários canais e adotando formas diferentes de recepção. Um bom
exemplo desta distribuição e recepção de conteúdos é o YouTube que foi criado para
ser um site onde a produção e distribuição de trabalhos que utilizavam mídias
alternativas fossem divulgados e compartilhados gratuitamente. Através deste site
ocorreu uma ruptura com a cultura e a mídia de massa.
No entanto, temos de compreender o YouTube como parte de
uma organização maior. Em primeiro lugar, o YouTube
representa o encontro entre uma série de comunidades
alternativas diversas, cada uma delas produzindo mídia
independente há algum tempo, mas agora reunidas por esse
portal compartilhado. Ao fornecer um canal de distribuição de
conteúdo de mídia amador e simiprofissional, o YouTube
estimula novas atividades de expressão. (JENKINS, 2009:348)
Com o advento de canais de distribuição as barreiras se romperam, e assim,
contemplamos hoje o surgimento e o fluxo de criativas idéias que proporcionam novos
pensamentos e comportamentos, por parte tanto do artista como do espectador.
A Quebra de Paradigma nas Artes Visuais.
Artistas de diferentes áreas vêm justamente reunir linguagens distintas em uma
linguagem emergente, que proporciona infinitas visualidades. Observamos
recentemente manifestações artísticas que não possuem parâmetros ou precedentes.
Uma linguagem que utiliza a projeção de vídeos, performances, linguagem
cinematográfica, linguagem teatral, artes plásticas, e todas reunidas e remixadas através
da internet.
Como definir uma manifestação artística emergente que em sua essência é
hibrida? Para responder a essa pergunta trago a vocês a Cia PHILA7, a Cia Teatro para
Alguém e o conceito de Cinema Vivo de Alexandre Carvalho.
Cia PHILA7
A Cia Phila7 foi fundada em 2005, com o objetivo de pesquisar novas
linguagens e diferentes mídias. Uma companhia que utiliza em suas peças teatrais a
tecnologia com o intuito de desenvolver novos caminhos para as artes cênicas. Formada
por um núcleo composto por Rubens Velloso, Marcos Azevedo, Mirella Brandi, Beto
Matos e Marisa Riccitelli Sant´Ana.
A Phila7 realizou em 2006 o projeto Play on Earth, que conseguiu unir a
linguagem teatral, a linguagem do vídeo, a linguagem do cinema, e a internet como
meio convergente destas linguagens, e assim, trazendo ao público um espaço que ao
mesmo tempo era único e múltiplo.
O dono da proposta o britânico Jullian Smith resolveu fazer uma performance
global, possibilitando a mistura de relações presenciais e virtuais com companhias de
diferentes continentes. A primeira montagem do projeto aconteceu simultaneamente em
São Paulo, Newcastle e Cingapura.
O diretor da Cia. Phila7, Rubens Velloso1 (2006) afirma que "A idéia é que tela
e palco espelhem uma coisa só". Os atores usaram pouca a palavra (cada um em sua
língua), a história era fragmentada, uma dramaturgia apoiada em movimentos e gestos.
________ 1 Rubens Velloso em depoimento sobre o projeto Play on Earth São Paulo Cia PHILA7. Disponível em http://www.gag.art.br/cia_phila_7/
I.Projeto Play on Earth São Paulo
Foram usadas três telas sobrepostas em cada local, onde aconteceram em cada
tela projeções dos três países simultaneamente. De acordo com Velloso, este projeto
possuía uma trama que englobava questões conceituais sobre sinapse, virtualidade e
realidade. No presencial cada elenco pode realizar improvisos em paralelo ao que se via
no vídeo.
Em 2008, o espetáculo “What´s Wrong with the World?” da série Play on Earth,
também foi um espetáculo ao vivo entre Brasil (Rio de Janeiro) e Inglaterra (Londres).
II - Espetáculo “What´s Wrong with the World?
A presença física do corpo que se relaciona com o virtual sempre foi o foco central da
Cia Phila7, que também experimentou relações de hibridismo de diversas linguagens
artísticas até chegar à concepção de espetáculos onde a internet converte efetivamente
palco presencial em palcos virtuais.
Rubens Velloso2 (2006) complementa: “ainda estamos imersos em elementos de
teatro, cinema e de videoarte, mas estamos caminhando para uma nova dramaturgia,
exclusiva para os novos meios. Continuamos longe de encontrar essa nova relação, mas
já damos um grande salto.”
A companhia Phila7 tem um perfil de pesquisadora, pois investiga as
possibilidades de construção de novas linguagens, que incorporadas às estéticas
anteriores e também a globalização da informação em rede, passam a compor novos
parâmetros para uma poética contemporânea.
Cia Teatro Para Alguém.
A atriz e diretora Renata Jesion, o fotógrafo Nelson Kao e o ator e jornalista
Lucas Pretti, juntos criaram em 2008, o Projeto Teatro Para Alguém - um teatro
realizado para a internet, mais especificamente para um público que possuísse um
comportamento diferenciado.
Esta companhia tem o objetivo de produzir e distribuir espetáculos ao vivo e de
graça via internet. Como também atrair novos públicos para opinarem sobre as
produções e em conjunto criarem uma nova estética, e assim, incentivar a utilização de
novas tecnologias para fins artísticos.
III - Projeto Teatro Para Alguém.
Renata Jesion3 ressalta “a arte que fazemos é hibrida, por isso, consideramos o
rótulo, isso não é teatro uma discussão simplista e superada”.
_____________
2 Rubens Velloso em depoimento sobre o projeto Play on Earth São Paulo Cia PHILA7. Disponível em http://www.gag.art.br/cia_phila_7/ 3 Renata Jesion em depoimento sobre o projeto Teatro Para Alguém. Disponível em: Site Teatro Para Alguém. http://www.teatroparaalguem.com.br/quem-somos/
O Manifesto binário4 da Companhia La Fura dels Baus ressalta bem este
contexto desta nova estética artística.
Teatro digital é a soma entre atores, 0 e 1 se movimentando na internet. A ação de dois atores em dois tempos e espaços diferentes correspondem a tempos infinitos e espaços virtuais. (…) O teatro digital é a linguagem binária sendo usada para conectar o orgânico com o inorgânico, o material com o virtual, o ator real com o avatar, a plateia presente com usuários de internet, o palco físico com o ciberespaço.
Este teatro digital logo se tornou um centro de experimentações de novas
linguagens, como, por exemplo, o hibridismo das artes cênicas, cinema, vídeo,
performance e internet. Segundo Lucia Santaella (2005:68) “uma nova estética precisa
emergir: uma estética que transponha sem temor as fronteiras que a tradição interpôs
entre os caminhos da ciência e os da arte.”
Cinema Vivo
Alexandre Carvalho realizou em 2009 o primeiro longa-metragem gravado ao
vivo. O roteiro se baseava no desenvolvimento de três histórias, três situações que
tinham em comum a tecnologia que distanciava as relações humanas, e assim criavam
tumultuadas e melancólicas realidades virtuais.
IV - Fluidos – o filme
______ 4 Manifesto binário da Companhia La Fura dels Baus. Disponível em: www.lafura.com/entrada/eng/manifest.htm
As histórias aconteciam em plena noite paulistana e com um detalhe, elas não se
cruzavam e muito menos se esbarravam. Este filme foi transmitido via antena em tempo
real para uma ilha de edição, que o lançava imediatamente para a tela do cinema. Foi
necessário apenas uma tela e um projetor numa sala de cinema comum, para que
surgisse um cinema vivo diante dos olhos de um público sedento por novidades. Do
lado de fora da sala de cinema o público teve a oportunidade de assistir e interagir com
o filme atuando como figurantes.
Alexandre Carvalho5 (2009) revela que, Fluidos pressupõe a
"inclusão cultural" na acepção do termo: A arte invadindo o
bairro, tal qual o bairro invadindo a arte, transformando tudo em
uma coisa só. A improvisação, necessária é parte integrante do
“ao vivo”, bem como a adaptação a qualquer horário, espaço
físico ou condição climática, faz com que cada apresentação
seja uma experiência única.
Os atores se sentiram realizando uma peça teatral, a equipe de produção se
sentiu realizando uma transmissão de TV, os espectadores que estavam na sala de
cinema tiveram a sensação de estarem assistindo uma exibição cinematográfica, e
finalmente para o diretor, o filme Fluidos era tudo isso vivo e hibridizado.
A Incorporação de uma Linguagem
Percebemos que estamos vivenciando um novo contexto contemporâneo, novas
narrativas que exploram múltiplas experiências de linguagens apresentadas não
linearmente, e que convergem em um formato hibrido, e através desta hibridização há a
constatação da emergência de uma estética ainda pouco explorada.
O processo de incorporação de uma linguagem produzida por meios técnicos ao panteão das artes é sempre gradativo. Foi somente após o surgimento e sedimentação da linguagem cinematográfica que se começou a cogitar sobre o estatuto artístico da fotografia. Quando a televisão começou invadir os nossos lares o cinema foi galgando os degraus de sétima arte. Em oposição à comercialização da televisão, o vídeo passou a se consagrar como a forma otimizada da arte audiovisual.
__________ 5 Alexandre Carvalho em depoimento sobre o filme Fluidos. Disponível em: http://www.cinevivo.com.br/
No momento em que o cinema e vídeo se tornaram indiscutivelmente aceitas como arte, os artistas começaram a explorar as novas fronteiras da arte computacional, hoje, os caminhos labirínticos da arte das redes, da vida digital, do universo digital. (SANTAELLA, 2002:9; 10)
A incorporação dessa nova linguagem faz com que, as fronteiras que limitavam
a criatividade dos cineastas, dos dramaturgos e dos videoartistas sejam demolidas. Não
precisamos mais rotular uma obra de arte, a discussão não é mais essa, o que importa
agora é explorar e expandir a arte através da convergência de linguagens distintas, e
assim, poder invadir mundos desconhecidos.
E o público alvo dessa nova estética tem um perfil multidisciplinar e sem preconceitos,
porque, segundo Santaella (2005, 7) “alimentar o separatismo conduz a severas perdas
tanto para o lado da arte quanto para o da comunicação. Por que perde a arte? Porque
fica limitada pelo olhar conservador que leva em consideração exclusivamente a
tradição de sua face artesanal”.
Considerações Finais
Após a apresentação deste panorama contemporâneo que exemplifica as
transformações ocorridas na forma de composição, organização e realização das artes
visuais com a através da convergência de linguagens, percebemos que estamos
aprendendo a retirar os “rótulos” da individualidade, e repensar no hibridismo de
diferentes tipos de estéticas, como forma de desenvolvimento de uma terceira.
Essa terceira estética, por sua vez, chega munida de poderes que poderão
revolucionar as idéias, o pensamento, o comportamento e a criatividade artística tanto
por parte do produtor da arte quanto do receptor, que nesse momento especifico também
se hibridiza em sua relação com a obra, pois, ele passa a ser ao mesmo tempo
construtor, executor, emissor e receptor deste projeto artístico. “Lembrem-se disto: a
convergência refere-se a um processo, não a um ponto final.” (JENKINS, 2009: 43)
E pensando na convergência como processo; percebemos que os exemplos
apresentados neste artigo são representantes desse momento de elevação de status, onde
a ação do artista, e a maneira com que ele utiliza uma ferramenta reformulam toda a
tradição da construção e desenvolvimento das artes visuais, como também a sua
recepção em novos territórios e públicos diferenciados.
Essa tríade - arte, tecnologia e convergência possui um caminho próspero no
contexto contemporâneo. Penso que não estamos distantes ou perto dessa quebra de
paradigma nas artes visuais, mais sim, estamos dentro do próprio. E por estarmos dentro
dele, ainda relatamos a complexidade de algumas pessoas em entender que esta arte
visual expandida não se estabelece através de uma linguagem; a coletividade e o
hibridismo de várias linguagens é quem fornece os parâmetros de sua existência
artística.
Os trabalhos realizados pela Cia Phila7, pela Cia Teatro Para Alguém e o filme
Fluidos do cineasta Alexandre Carvalho vieram para abrir as portas das artes, pois não
nos referimos a nenhuma estética em especial, mas a todas elas juntas e remixadas.
Portanto, a percepção deste movimento convergente da arte e da tecnologia no contexto
contemporâneo é apenas o começo, pois já vivenciamos e participamos direta ou
indiretamente de uma nova classificação de linguagem, uma linguagem multimidiática.
Notas do autor
Daniela Santos de Farias
Possui graduação em Comunicação e Multimeios pela Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo. Tem experiência em Multimeios, com ênfase em direção de arte, atuando
principalmente nos seguintes temas: produção e direção de vídeo, construção de roteiro
audiovisual, cenografia, design digital e artes plásticas. Atualmente é mestranda em
artes visuais pela UNESP- IA, campus de São Paulo, bolsista CAPES e integrante desde
2010 do grupo de pesquisa GIIP também da UNESP.
Agradecimentos
Aproveitando este momento para registrar meus agradecimentos a CAPES por financiar
parcialmente o projeto de mestrado através da concessão de bolsas de estudos, ao qual
se originou este artigo.
Referencias Bibliográficas:
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Fotografias:
1 .Projeto Play on Earth São Paulo Cia PHILA7. Disponível em http://www.gag.art.br/cia_phila_7/
2. Espetáculo “What´s Wrong with the World?. Cia PHILA7”. Disponível em http://www.gag.art.br/cia_phila_7/
3. Site Teatro Para Alguém.. Disponível em http://www.teatroparaalguem.com.br/quem-somos/
4. Filme Fluidos. Disponivel em: http://www.cinevivo.com.br/