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CONHECIMENTOS SOBRE AS FLUTUACOES CLIMATICAS DO QUATERNARIO NO BRASIL Por AZIZ NACIB AB'SABER Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Ciencias e Letras da Universidade de Sao Paulo ABSTRACT The knowledge on the climatic changes undergone by the Brazilian land during the Quaternary are very incomplete The Author analyzes the available data concerning the problem, not withs- tanding in the next coming years the increasing of the knowledge on the intertropical Geomorphology and Pedology will certainly introduce radical modification in the pre- sent point of view. In this article are refered as good paleoclimatic indicators for the Quaternary, the extensive rounded peebles deposits of the low fill terraces, the lateritic crusts, some de- graded paleo-soils, pleistocenic "bajadas" deposits and residuals vegetation spots. It is unnecessary to remember that the data concerning the climatic fluctuation of the Brazilian Quaternary will be very profitable to the understanding of the climatic problems of the nonglaciated areas. * o mimero de estudos sobre a natureza das influencias e as eventuais re- percussfies fisiogriificas das variacoes climiiticas do Quaterniirio no territorio brasileiro e ainda restrito. Infelizmente niio temos ainda pesquisadores habi- tuados ao estudo de nossas formacoes quaterniirias, capazes de fornecer ele- mentos objetivos para estabelecer a evolucao paleoclimiitica modern a do pais. Entretanto, como e fiicil de se aquilatar, trata-se de urn setor em que 0 caso brasileiro poderii constituir urn depoimento de inegiivel importancia para a compreensao dos reflexos tidos pelos periodos Irios do Quaterniirio em rela- gao a regifies que, pela sua posicao intertropical, permaneceram completa- mente a escapo das glaciacdes de latitude. De hii muito os geologos brasileiros tern 0 costume de reconhecer como pertencentes ao pleistocenio os depositos de seixos rolados dispostos em baixos terraces fluviais, os quais sao referidos, ainda que urn tanto vagamente, co-

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CONHECIMENTOS SOBRE AS FLUTUACOESCLIMATICAS DO QUATERNARIO

NO BRASIL

Por

AZIZ NACIB AB'SABER

Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Ciencias e Letras da

Universidade de Sao Paulo

ABSTRACT

The knowledge on the climatic changes undergone by the Brazilian land during theQuaternary are very incomplete

The Author analyzes the available data concerning the problem, not withs­tanding in the next coming years the increasing of the knowledge on the intertropicalGeomorphology and Pedology will certainly introduce radical modification in the pre­sent point of view.

In this article are refered as good paleoclimatic indicators for the Quaternary, theextensive rounded peebles deposits of the low fill terraces, the lateritic crusts, some de­graded paleo-soils, pleistocenic "bajadas" deposits and residuals vegetation spots.

It is unnecessary to remember that the data concerning the climatic fluctuation of theBrazilian Quaternary will be very profitable to the understanding of the climatic problemsof the non glaciated areas.

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o mimero de estudos sobre a natureza das influencias e as eventuais re­percussfies fisiogriificas das variacoes climiiticas do Quaterniirio no territoriobrasileiro e ainda restrito. Infelizmente niio temos ainda pesquisadores habi­tuados ao estudo de nossas formacoes quaterniirias, capazes de fornecer ele­mentos objetivos para estabelecer a evolucao paleoclimiitica moderna do pais.Entretanto, como e fiicil de se aquilatar, trata-se de urn setor em que 0 casobrasileiro poderii constituir urn depoimento de inegiivel importancia para acompreensao dos reflexos tidos pelos periodos Irios do Quaterniirio em rela­gao a regifies que, pela sua posicao intertropical, permaneceram completa­mente a escapo das glaciacdes de latitude.

De hii muito os geologos brasileiros tern 0 costume de reconhecer comopertencentes ao pleistocenio os depositos de seixos rolados dispostos em baixosterraces fluviais, os quais sao referidos, ainda que urn tanto vagamente, co-

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mo documento sedi mentolog ico de dimus urnidos e drenagens torrcn crar s daquaternario antigo. Tais cascalhe iros, encontrados nas mais diversas areas doPlanalto Brasileiro, njio foram, entre tanto, submet idos a an alises demoradas,quer de ordem granulometrica, qu er de ordem morfoscopica. E quase certo,porem, que a impressiio primeira por eles causada seja cientificamente ratifi­cad a um dia; isto e, provavelment e trata-se de legitimos documentos de pe·riodos chuvosos to rr enciais, em que os rios atuais tiveram um poderio hemmaior de transporte e elaboracao de seixos rolados. Inegavelmente, porem,ha muito 0 que esclarecer , ainda, a respeito des div ers os ni veis e tipos de cas­calheiros apresentados por cada uma da s regi fies em estudo. Impfiem-se , so·bretudo, esclarecer melhor a ori gem geologica e pedologie s de cer tas cobertu­ras de casc alhos miudos, ehivio-coluv iai s subatuais, qu e revestem vertentes decolinas, outeiros e morros no Br asil tropical atlantico,

P or seu turno, as espessas cangas limonitica s que recobrem os chapadfiescristalinos de Coias, assim como 0 topo ou patamares das serras de MinasGerais, sao outros tantos documentos paleoclimaticos importantes, referentesa diversas fases do pleistocene, e, em alguns casos, ao pli ocen e ou limite pli o­pleistocenico, Tais " cangas ", constituem os rep resentantes brasilciros da s cou­ra cas lat eritica s intertropi cais, possuindo pOl' essa raziio mema grande valorcomo documentos dos paleo-dimas modernos no Brasil. Seu estudo sistematico,em bases a 11m temp o pedologicas e geomorfologicas, muito podera represen­tar para esclarecer episodios obscuros da evoluca o climatica do Brasil du ­rante 0 quaternari o.

As bacias de Gandarela e Fonseca (Minas Ger ais), tidas como plioceniccse estudadas pOl' Gorceix (1884) e Brajnikov (1948), revelam grande variacfioclimatica entre 0 per iodo de sua deposic ao e a epcca de seu enta!hamento.Henry Gorceix (1884, p. 91 ), espec ulando sabre as condicoes climaticas pro­vaveis sob as quais tcriam sido dcpositadas as camadas fluvia is daquelas pe·qu eninas ba cia s sedime nta res de compartimentos de planalto, chegou a co n­clus do qu e a " um peri od o de calma re lativa, sucedeu uma gr ande var iacao doregime da s chuvas ; poderosa s ac oes torrenciais revolveram a superficie daterra ; os itabiritos fri aveis so":e rarn profundas eros oes e der am Iugar a Ior­macae do cc nglomerado ferruginoso que cohre os deposit os ter ciarios". Emirabalho mais rec ent e, Boris Braj nikov (1948, pp . 333-334 ), chegou a iden ­ticas conclusoes, expressas nos seguintes termos : "Les couches tertiaires deGandarela sont caracterisees par la presence a partie inierieure d'argiles kao­liniques. L'opinion generalement repatulue parmi les pedologues, que l'altera·tion kaol in ique, ou sialitique, pour em ployer le mot d' Harassoioitz, est ty­pique du. clim at tempere, - si elle est exacte, - nous conduit ci adm et qu e Ie

climat miocene ( ? I etait tem pere. Par centre, la canga, que se fo rme de lias[ ours (sic) sous uri climat tropical, est, par surcro it, int im ement associee cIla baux ite, produit allitique par excellence et sense etre vepresentati] pour'['alterat ion tropicaLe. Cette modification climatiqu e profonde se placerait don evel's La fin de l'ere tertiaire".

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AB'SABER - FLUTUA<;OES CLIlVIATICAS

o sa udoso mestre fran ces Emmanuel de Martonne quando realizou seusestudos geomorfolog icos no Bra sil tr opi cal a llantico teve sua at encao voltadapara 0 problema das pos siveis var iac oes climatic as modernas no Brasil. Lem­brava , com pr opriedade, aquele gra nde cientista, que nesta parte do Brasil" nao e pro vavel que a alteracfi o dos climas tenha evoluido difer ent ement e doque nos pai ses tropicais african os onde a existencia de lagos permitiu, peloestudo dos depositos, con statar mu itas oscilacoes para uma arides ou umaumidade mais acentuada" . Em temp o oportuno, porem, ponderava De Mar­tonne qu e se podia "suspeitar de va riacoes rec entes cuja amplitude foi cer­tamente ma is fraca do que , pOl' exemplo, na Africa (1940 ; 1944, p. 175).Tais assercoes, De Martonne as re tir ou de seus estudos geomor­Iologicos na s partes superiores do macico sienitico do Itatiaia, onde reconhe­ceu "um modelado de nivacao, senii o de glaciagaa " . Se e qu e ate hoje njiose pode co rn provar em definitivo a carater glacial au periglacial localizadodo modelado. dos altos do [tatiaia, e quase fora de duvida a existencia de eli­mas mais fri os e mais secos nas terras alt as do Brasil de Sudeste, em diversosmoment os do plio cene e do pleist ocen e . E de se suspeitar, sobretudo, a exis­tencia de regim es climaticos tropicai s um pouco diferente s dos qu e imp erarnhoj e, cornportando estiagens ma is pr olcn gad as e bern marcadas,

Analisando as terras pr etas de Baje, no Rio Crande do Su I, 0 pedologoJose Selzer (1951) encontro u raz fies para dizer qu e 0 elima region al, em umafase bastante recent e do Quatern ar io, " fora cert amente menos umid o do quehoj e, e portador , de ver fio muito mai s seco " , POl' esses e outros fa to res, tor­na- sa plausivel pensar-se que 0 clima da s terras altas do ' Bra sil Meridi onal ,assirn como boa parte do s pampas sul-ri ogrundeses, tenham compor tado fa­ses mai s fri as e menos umidas do que as aiu a is. . ' 0 caso das terras altas doSui do Bra sil, a mata da Araucaria ser ia a gr ande reliquia desse pa ssado geo·logico nao mu ito di stnte.

Nesta ordem de ideia s, ali as, nunca sera demais lembrar qu e as variaco esclimaticas mais recentes muito tern a Vel' com a distribuicjio atu al da vegeta­tag a o em certos compar timentos de relevo do Brasil Sudeste. Sori a dificilexplicar a " ilha " de Araucaria de Campos do J ordao au a marcha de camposcerrados do plato terciario de Siio J ose dos Campos, sem bus car explicacoespaleoclimaticas. Tais f'crrnacoes vegetai s, qu e se revez arnm na conquista dosespac os -di) Brasil Sudeste dura~te 0 Quaternario, hoje coexistem em -'areasrelativament e proxirnas, preservadas em compa rtimentos pr eferencia s, ondelocalment e as cc ndicfies clirnaticas e eco logicas se aproximam urn tant o maisdaquelas qu e dominaram em tempos subatuais.

Na Amazonia, a presenca de di versos niveis de terraces conserva dos pOl'cr ostas du ra s de lat erita e a existencia de ca mpos cerrados ilhados em zonasdominantemente flor estais tem suge r ido a ideia de que, imedialament e antesda Ilorest a, ali tenha ha vido dimas ma is secas e degradados, qu e, de certaforma, mai s se aproximar iam dos senegaleses qu e des congo leses h oje do-

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minantes. Nesse setor os estudos geornorfologicos, em grande parte ine­ditos, de Francis Ruellan, Octavio Barbosa e Antonio Teixeira Guerra, reali­zados no Territorio do Ri o" Branco nos ultimos anos, muito vieram a con­tribuir para esclarecer em definitivo estas velhas hipoteses de trabalho.

Em uma notavel comunicacfio feita a Associacao dos Ceograf'os Brasi­leiros (Segao Regional de Sao Paulo), em junho de 1956, 0 professor Octa­vio Barbosa deu conta de suas observacoes geologicas e geomorfol6gicas noPlanalto das Guianas, entre Manaus e os confins do Territorio do Rio Branco,fornecendo elementos preciosos para fixar a evolucao paleoolimatica modernada regifio. Entre outras novidades geomorfologicas reveladas pelas suas pes­quisas ha que destacar a revisfio na conoeituacfio do baixo plano de erosao,que era conhecido na literatura por peneplano gnaissico, a partir dos estudospioneiros de Glycon de Paiva na regifio. Tal baixa superficie aplainada quesepara 0 tabuleiro terciario norte-amazonico do planalto das Guianas, pro­priamente dito, na opiniao do Dr. Octavio Barbosa seria 0 mais serio teste­munho de urn ciclo de pediplanacao pleistocenica naquela porcso da Ama­zonia. Os morrotes ilhados no pediplano pleistocenio regional, ainda segundoOctavio Barbosa seriam inselbergs tipicos, elaborados no ciclo serni-arido eremodelados pelo clima umido atual. A existencia de depositos de pedimenta­gao, bern preservados, serviram para documentar a hip6tese de OctavioBarbosa.

Trabalhando isoladamente na regtao do Rio Branco, desde 1955, FrancisRuellan realizou ali demoradas pesquisas geomorfol6gicas, ainda ineditas, Aoque sabemos suas pesquisas atingiram conclusfies absolutamente identicas asde Octavio Barbosa, quer na interpretaciio do pediplano dos campos do RioBranco, com seus inselbergs e pdleo-bajadas, Nos depositos das antigas bai­xadas semi-aridas regionais Ruellan encontrou entre outros depositos de baja­das, ocorrencias de gipsita, conforme comunicacjio feita ao X.a CongressoBrasileiro de Geologia, reunido no Rio de Janeiro em novembro de 1956.Tais ocorrencias de depositos de origem endorreica incontestavel, caso extre­mamente raro no Brasil, confinnam a existencia de fases semi-aridas na Ama­zonia Brasileira, antes da instalacao dos climas umidos e super-iimidos muitorecentes que facilitaram e cxpansao da grande floresta regional. Enquantoas crostas Iimoniticas dos terraces indicam climas de savana moderados, osdepositos de bajadas,dos campos do Rio Branco, revelariam periodos de ari­des muito mais pronunciada, proxima dos semi-desertos intermontanos.

Ab'Saber (1955), estudante a regi ao sublitoranea do Estado do Mara­nhao, encontrou evidencias de que as colinas regionais, ao invez de teremsido afetadas por uma simples peneplanizacao, teriam sofrido uma quaseque pediplanacfio quaternaria, Ali, porem, a semi-arides nao deve ter alcan­cado 0 grau de intensidade que atingiu no Rio Branco ou na parte inferiordo Medic Sao Francisco. As crostas limoniticas e cangas pisoliticas quater­narias que recobrem a maior parte das colinas suhlitorancas regionais, quando

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muito ser iam reflexos dos climas de savana que antecederam as florestas e ashabacuais do. regifio, Nesta pon;ao sublitoranea do Maranhao, nao faltamnem mesmo os campos cerrados, em areas limitadas, como que a indicar suaqualidade de vegetacao-relicto. It bem esse 0 caso dos cerrados existentesentre a Ilha do Olll;a, os campos do. Pombinha e 0 vilarej 0 de Piqui, ilhadosnuma grande mancha em plene coracfio dos babacuais regionais (estrada deSao Luiz- Pedreiras) .

Indiscutivelmente, porem, em nosso territorio, e no Nordeste Brasileiro,que vamos encontrar casos espetaculares de flutuacoes climaticas intertropi­cais. Enquanto no resto do Brasil os climas umidos recentes foram capazesde mascarar quase que inteiramente as feicoes m orfologicas que por acasotenham sido originados por outros climas a partir do plioceno, no NordesteBrasileiro os fatos morfologicos estao muito bem conservados nos comparti­mentos interiores do sertfio, em pediplanos intermontanos, campos de insel­bergs e algumas poucas bajadas fossiliferas pleistocenicas, Por outro lado,nfio faltam depositos fluviais, representados por potentes seixos rolados, queatraves bern marcadas discordancias separam 0 clima semi-arido dos fins dopleistocene em relacfio 0.0 clima semi-arido maderado que hoje ali domina.

No. realidade, no Nordeste Oriental, como em algumas porcoes do medicvale do Sao Francisco (Moraes Rego, 1936; Djalma Cuimaraes, 1951), ondeimperam climas quentes semi-aridos, e possivel encontrar-se documentos segu­ros das flutuacfies climaticas responsaveis pela elaboraciio geral do relevo eevidenciar obj etivamente a existencia de ciclos umidos alternados com fasesaridas ou semi-aridas. Tendo havindo ali, variacoes climaticas ate certoponto excepcionais para 0 caso brasileiro, ora no sentido de uma umidademais pronunciada, ora no sentido de uma certa arides, 0 relevo, a hidrografiae a flora regionais, refletem diretamente as interferencias de sistemas de ero­sao que se processaram. Entretanto, muito ha 0 que estudar ainda sabre asflutuacoes climaticas quaternarias nessa por<;ao do territorio brasileiro. So­

mos os primeiros a reconhecer 0 carater de provisoriedade e 0 valor relativodas pesquisas que ali realizamos ate 0 momento (Ab'Saber, 1956 e 19560.).

Muitos sao os campos cientificcs que podem ser beneficiados pelo acumu­10 dos conhecimentos sabre as variacoes climaticas do Quaternario brasileiro.A paleontologia pleistocenica do pais, a classificacfio pedologica mais precisade certas areas de solos aparentemente anomalas, e, sobretudo nossa fitogeo­grafia, tern muito que beber do. mesma fonte, para esclarecer problemas pen­dentes. Serio. quase impossivel explicar a desaparecimento dos mamiferosquaternaries do Brasil, a genese dos lateritos dos terraces e dos baixos niveisde erosao do. Amazonia e alhures, a origem dos calcareos das caatingas, assimcomo as "ilhas" de campos cerrados paradoxalmente encravadas em zonasflorestais, no meio de babacuais ou em baixos tabuleiros em pleno coracaodas caatingas, sem usar de uma argumentacao ligada as variacoes climaticasmodernas sofridas pelo Brasil.

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Para os que se dedieam a c.tudos de laterites, principalmente, nuncasera demais lembrar que, se nas zonas intertropicais 0 elima e fundamental­mente quente, as variacfies no setor da umidade ou da aridez podem ter so­frido uma serie de modificacoes regionais, de arranj 0 complexo, dentro doQuatermirio. Ao ccntrario do que muitos pemam os ambientes intertropi­eais sao aqueles que podem apresentar os maiores conlrastes climaticos, paisagi­ticos e ambientais. Dai, a infinidade de variacfies importantes sofridas por taisareas por ocasiao das flutuacoes climaticas de ambito universal que caracte­risaram 0 Quaternario. E se e que nao possuimos documenlos de variacfiesclimaticas tao extremas quanta aquelas que 0 territcrio afrieano pode apresen­tar, sao abundantes entre nos os documentos da variacoes menos espetaculares,porem igualmente importante para a explicacfio da estrutura das paisagensfisicas de nosso terrrtorio.

Em face da inegavel importancia de tais estudos urge que sedimentolo­gistas, pedologos, fitogeografos e geomorfologi£tas, voltem seus olhares maisit miude para 0 problema, usando de suas respectivas tecnicas de trahalho,sem nunca perder aquele extraordinario sentido de interdependencia do con ­junto de fenomenos da Biosfera.

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