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B. Indústr. anim., Nova Odessa, SP, 42(2) :167· 78, jul./dez. 1985. COMPARAÇÃO ENTRE CASTRAÇÃO QUfMICA E CIRÚRGICA NO DESEMPENHO DE BOVINOS CRIADOS NO REGIME EXTENSIVO P) (Comparison between chemical and surgical castration on performance of beef cattle created extensivetv] PAULO GASTÃO DA CUNHA (2), MILTON GORNI (3) e DELCACIO JOAQUIM DA SILVA (4) RESUMO: O ensaio foi realizado na Estação Experimental de Zootecnia de São José do Rio Preto, SP, utilizando-se 51 bovinos cruzados santa-qertrúdis, em regime de criação extensivo. Os animais nasceram nos segundos semestres de 1978 e 1979 e foram subrne- tidos a um delineamento inteiramente casualizado, com três tratamentos, e oito e nove repetições, respectivamente no primeiro e segundo anos. Os tratamentos foram: CC = caso tração cirúrgica, CQ = castração química e NC = não castrados (testemunha). As obser- vações clfnicas demonstraram que os bezerros do tratamento CQ apresentaram menor trauma pós-operatório. avaliado pela curva termométrica, do que os orquiepididectomi· zados. Somente ocorreu diferença estatrstica entre os anos, independente dos tratarnen- tos, quando se considerou o peso ajustado dos animais às idades de dezoito e 24 meses. Nas idades estudadas não se verificou diferença estatística entre tratamentos, embora a maioria dos inteiros atingisse o peso de abate antes dos castrados pelos processos químico e cirúr- gico. Os resultados obtidos demonstram que quando os bovinos forem abatidos tardia- mente ou os novilhos precoces submetidos a determinados manejos que exigem a castra- ção, sugere-se o processo químico, por ser incruento, prático e mais econômico. INTRODUÇÃO Um dos primeiros métodos utilizados foi a orquiepididectomia bilateral, comumente cha- mada castração, que consiste na prática tradicional da ablação dos testículos por meio cirúrgico. Pos- teriormente, foi empregado o método qu ímico- -biológico, com o uso de produtos estrógenos que agiam sobre as gônadas e inibiam a sua função reprodutiva. Atualmente, para animais machos, está sendo testada a castração qu ímica, que, além de incruenta e de simples execução, provoca atrofia dos testículos. TORRES 12 diz que a emasculação determi- na as seguintes modificações nos machos: atrofia dos órgãos genitais acessórios (pênis, prepúcio, próstata, glândulas de Cowper, etc.l, desapare- cendo o ardor genésico, que não chega a se mani- festar quando o animal é castrado novo; desenvol- vimento das tetas; retardamento do crescimento: alongamento e menor densidade do esqueleto; trem posterior mais alto do que o anterior; afina- mento e alongamento do crânio; melhor nutrição e assimilação; maior predisposição ao acúmulo de (1) Parte do Projeto IZ-0053. Recebido para publicação em setembro de 1985. (2) Da Estação Experimental de Zootecnia de São José do Rio Preto. (3) Da Seção de Suinocultura, Divisão de Zootecnia Diversificada. (4) Da Seção de Higiene Zootécnica e Análises, Divisão de Técnica Básica e Auxiiiar. Bolsista do CNPq. 167

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B. Indústr. anim., Nova Odessa, SP, 42(2) :167· 78, jul./dez. 1985.

COMPARAÇÃO ENTRE CASTRAÇÃO QUfMICA E CIRÚRGICANO DESEMPENHO DE BOVINOS CRIADOS NO REGIME EXTENSIVO P )

(Comparison between chemical and surgical castration on performanceof beef cattle created extensivetv]

PAULO GASTÃO DA CUNHA (2), MILTON GORNI (3) e DELCACIO JOAQUIM DA SILVA (4)

RESUMO: O ensaio foi realizado na Estação Experimental de Zootecnia de São José doRio Preto, SP, utilizando-se 51 bovinos cruzados santa-qertrúdis, em regime de criaçãoextensivo. Os animais nasceram nos segundos semestres de 1978 e 1979 e foram subrne-tidos a um delineamento inteiramente casualizado, com três tratamentos, e oito e noverepetições, respectivamente no primeiro e segundo anos. Os tratamentos foram: CC = casotração cirúrgica, CQ = castração química e NC = não castrados (testemunha). As obser-vações clfnicas demonstraram que os bezerros do tratamento CQ apresentaram menortrauma pós-operatório. avaliado pela curva termométrica, do que os orquiepididectomi·zados. Somente ocorreu diferença estatrstica entre os anos, independente dos tratarnen-tos, quando se considerou o peso ajustado dos animais às idades de dezoito e 24 meses. Nasidades estudadas não se verificou diferença estatística entre tratamentos, embora a maioriados inteiros atingisse o peso de abate antes dos castrados pelos processos químico e cirúr-gico. Os resultados obtidos demonstram que quando os bovinos forem abatidos tardia-mente ou os novilhos precoces submetidos a determinados manejos que exigem a castra-ção, sugere-se o processo químico, por ser incruento, prático e mais econômico.

INTRODUÇÃO

Um dos primeiros métodos utilizados foi aorquiepididectomia bilateral, comumente cha-mada castração, que consiste na prática tradicionalda ablação dos testículos por meio cirúrgico. Pos-teriormente, foi empregado o método qu ímico--biológico, com o uso de produtos estrógenos queagiam sobre as gônadas e inibiam a sua funçãoreprodutiva. Atualmente, para animais machos,está sendo testada a castração qu ímica, que,além de incruenta e de simples execução, provocaatrofia dos testículos.

TORRES12 diz que a emasculação determi-na as seguintes modificações nos machos: atrofiados órgãos genitais acessórios (pênis, prepúcio,próstata, glândulas de Cowper, etc.l, desapare-cendo o ardor genésico, que não chega a se mani-festar quando o animal é castrado novo; desenvol-vimento das tetas; retardamento do crescimento:alongamento e menor densidade do esqueleto;trem posterior mais alto do que o anterior; afina-mento e alongamento do crânio; melhor nutriçãoe assimilação; maior predisposição ao acúmulo de

(1) Parte do Projeto IZ-0053. Recebido para publicação em setembro de 1985.(2) Da Estação Experimental de Zootecnia de São José do Rio Preto.(3) Da Seção de Suinocultura, Divisão de Zootecnia Diversificada.(4) Da Seção de Higiene Zootécnica e Análises, Divisão de Técnica Básica e Auxiiiar. Bolsista do CNPq.

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gordura na carcaça; diminuição do cheiro do ma-cho; e temperamento mais calmo.

A castração faz parte do manejo tradicio-nal da bovinocultura de corte. Portanto, é neces-sário conhecer as vantagens e desvantagens de suautilização e dos métodos a serem empregados,levando-se em conta a idade do animal, a épocade castração, os processos, etc.

Segundo Zwaenepoel (in TORRES!2), nosmachos a operação proporciona as seguintes van-tagens: evita coberturas acidentais e a satiríase;acelera a engorda; melhora a qualidade da carne,através da exclusão de seu odor e sabor desagra-dáveis; torna os machos mais dóceis e manejáveis,de forma que possam conviver e trabalhar comtranqüilidade junto com as fêmeas. Acrescenta o A.que os efeitos da castração se mostram maisacentuados quando os animais são mais novos,ocasião em que a ablação dos testículos é maiscompleta. Se o método da castração não eliminartotalmente os testfculos, o animal pode conse rvaro seu ardor genésico, porém torna-se estéril.

GORNI4 estudou os efeitos provocados emleitões pela injeção intratesticular de uma fórmulacontendo como princípio ativo o aldeído fórmico everificou que a redução dos testículos foi diretamen-te proporcional às dosagens empregadas. Quanto aodesempenho dos leitões, não houve diferença entreos métodos usados (cirúrgico e qu Imicol.

GORNI et alli", comparando o desempenhode su ínos submetidos a diferentes métodos de cas-tração, conclu íram que, embora não apresentassemdiferenças estatísticas, os animais emasculados peloprocesso qu ímico demonstraram superioridade namaioria das características estudadas: menor trau-ma pós-operatório e redução do tempo de recupe-ração, melhor desenvolvimento ponderal, menorconsumo de alimentos, melhor conversão alimen-tar, maior comprimento da carcaça e área deolho de lombo, e maior rendimento da carcaça.

PEREIRA et alil' o estudaram o efeito daidade da castração no ganho em peso de bovinosde corte manejados em pastos de caplm-colonlão.Conclu íram não haver diferença entre os operadosna primeira semana de vida ou ao aparecer o ardorgenésico. Sugerem a castração precoce, que deveser preferida por facilidades na contensão do ani-mal e menor risco pós-operatório.

MULLER et alii9, procurando testar o de-sempenho de bezerros das raças charolesa e abeer-den-angus, castrados e inteiros, operados até os

sessenta dias de idade e criados em pastagensnativas, acusaram diferenças não - significativaspara o ganho em peso. Os AA. citam que os dadosobtidos são importantes para elaboração de um"índice para seleção de ventres" pelo peso à des-mama.

SANTIAGO!! relata que em numerososexperimentos com garrotes de sobreano castra-dos e inteiros, os resultados mostraram superiori-dade dos tou rinhos no que respeita ao ganho empeso e conversão alimentar. Informa, também,haver melhor desenvolvimento das massas muscu-lares e menor quantidade de gordura na carcaça,conseqüências, talvez, do crescimento natu ral,com atividades normais das glândulas sexuais eseus respectivos hormônios.

VELLOSO et alii!4 observaram, em experi-mento com bovinos cruzados holandeses comdezessete meses de idade e 242 kg de peso vivoinicial, inteiros e castrados, e que permaneceram112 dias em confinamento, apreciável vantagemdos inteiros nas seguintes características: ganhoem peso diário, ingestão diária de matéria seca erendimento de carcaça. Os AA. conclu íram não seraconselhável castrar garrotes de sobreano desti-nados à engorda em confinamento.

VELLOSO et alii!3 realizaram experimentocom machos nelores divididos em dois tratamen-tos: intei ros e castrados. Permanece 10mconfinadospor 112 dias, recebendo a mesma dieta, acusandoganho cumulativo de 106,9 kg e 105,6 kg, respecti-vamente para os intei ros e castrados, não eviden-ciando diferença significativa entre os tratamentos.Um fator positivo foi o menor consumo de matériaseca/ganho em peso conseguido pelos lntei ros,propiciando produção mais econômica.

G RIFF ITHS6 relata que não ocorreram dife-renças significativas entre bovinos inteiros e castra-dos em relação à sua capacidade de ingestão denutrientes. Afirma, entretanto, que os animaisemasculados apresentaram carcaças contendo me-nos carne magra e mais gordura separável(P < 0,05), frisando, ainda, que os tourinhoscresceram mais rapidamente e produziram carca-ças mais magras do que os castrados.

MATTOS et aliis, baseados em experimentocom animais castrados agrupados em dois lotes,sendo um da raça nelore e outro de mestiçosguzerá, devon, zebu-mocho e red-polled, todos

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abatidos aos 33 meses de idade, condu íram que'os zebuínos da raça nêlore, embora tenham apre-sentado, por dia de vida, semelhante produção decarne, propiciaram carcaças. nitidamente superio-res às dos mestiços europeus,

Revisão bibliográfica feita por FIEL02,a respeito da castração sobre a quantidade e qua-lidr.Je da carne, mostra que animais inteiros reve-lam melhor desempenho no ganho médio diárioe na conversão alimentar. Afirma que o preju Izocausado pelo método nas características considera-das são mais evidentes em nível alto de nutrição .

.MATTOS et alii* estudaram os efeitos ?ascastrações cirú rgica e qu ímica na produção e quali-dade da carne de bovinos de corte criados em re-

gitneextensivo, conclu índo que o segundo p-roces-so apresenta vantagens em relação ao p~iinei ro,no rendimento quente e frio da carcaça (P < 0,01 )'.

LUCHIARI FILHO et alii7, em trabalhosemelhante, real izado com bovínos em confina-rnentoe castrados aos 24 meses de idade, conclu í-ram que os animais de três tratamentos - inteirose castrados quimicamente e cirurgicamente -atingiram o peso de abate de 400 kg,respectiva:mente com 112, 1A7 e 162 dias, levando-osa aconselhar a adoção do processo qu ímico quandose deseja aplicar a técnica de castração na criação.

O presente trabalho foi planejado devido aosresultados favoráveis obtidos com a castração qu (-mica em su ínos e bovinos em confinamento,havendo, porém, falta desse teste com novilhosprecoces em regime de criação extensivo. .

MATERIAL E MÉTODOS

1O experimento foi realizado na Estação

Experimental de Zootecnia de São José do RioPreto, situada na Região Norte do Estado de SãoPaulo.

Foram utilizados 51 bezerros cruzados santa--qertrúdis nascidos nos segundos semestres de 1978e 1979. Adotou-se um delineamento inteiramentecasual izado, com três tratamentos e oito e noverepetições, respectivamente no primeiro e no segun-do anos.

Os bezerros, filhos de vacas cruzadas santa--qertrúdis com mais de duas crias, foram amocha-dos e tatuados na primei ra semana após o nasci-mento. A distribuição, nos tratamentos foi atra-vés de sorteio.

Os tratamentos foram: CC castraçãocirúrgica, CQ = castração qu ím ica e NC = nãocastrados (testemunha).

Todos os animais foram criados em regimeextensivo, sempre no mesmo pasto, onde predo-minavam os capins jaraguá (Hyparrhenia rufa),pangola (Digitaria decumbensi, estrela (Cynodondacty/on) e grama-batatais (Paspa/um notetumi,

O manejo e as medidas higiênico-sanitá-rias foram as de rotina da Estação Experimentalde Zootecnia de São José do Rio Preto.

As castrações foram efetuadas antes que osbezerros completassem dois meses de idade. Naorquiepididectornla bilateral procedeu-se à exterio-rização dos testículos através de incisão do escroto

• Mattos. J, C. A. et alii - Informação pessoal.

com bisturi e, em seguida, secção do cordão esper-mático, 4 a 5 cm acima do epidídimo.

A castração química foi feita pela aplica-ção em cada testículo de 0,8 ml de uma soluçãooleosa contendo aldeído fórmico a 40% maisaditivos (0,005 g de cloreto de cádrnio/crn ' dasolução). Para a aplicação do produto utilizou-seagulha 6 x 80, introduzindo-a no sentido do eixomaior do testículo. À medida em que se retirava aagulha injetava-se a solução por difusão, de formaa propiciar uniforme distribuição ao longo deseu trajeto.

Doze horas após a castração mediu-se a tem-peratura retal, prosseguindo-se com a prática, duasvezes por dia, de manhã e à tarde, durante oito dias,em todos os bezerros do experimento.

Procedeu-se ao controle ponderal dos bezer-ros por meio de pesagens individuais ao nascer, aosquatro e aos sete meses de idade, quando foramdesmamados. Após a desmama, as pesagens obede-ceram a intervalos de 28 dias, sempre no períodomatinal e em jejum de 18 horas. Para obter o pesoajustado às idades-padrões foi utilizada a interpo-lação linerar.

Pelo mesmo método anotou-se o tempodecorrido entre o nascimento e a data em que obovino atingiu o peso de abate (420 kq).

O delineamento experimental e as análisesestatísticas foram feitas com base em GOMES3

,

tendo sido estabelecido o nível de 5% para rejei-ção ou não de HO.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

As precipitações pluviais mensais ocorridasna Estação Experimental de Zootecnia de São Josédo Rio Preto, no perfodo de 1974 a 1983 sãoapresentadas no quadro 1.

A análise da variância mostra que não houvediferença estatfstíca entre anos; entretanto, oefeito do mês foi significativo ao nível de 1%. Oteste de Duncan revelou que a quantidade de chuvado mês de dezembro foi semelhante à ocorrida emjaneiro, mas superior às dos outros meses do ano.Verificou-se que o mês de agosto foi o mais secodo ano, porém sem diferir de junho, julho e setem-bro.

Averiguou-se também que não houve dife-rença estatística entre o total das precipitaçõesdos meses de fevereiro, março, outubro e novem-bro. O mês de abril foi mais úmido do que os me-ses de agosto, junho e julho, e mais seco do quedezembro, janeiro, fevereiro e março. Esses fatospodem ser melhor visualizados na figura 1.

Tais análises explicam o crescimento estacio-nal das forrageiras e, indiretamente, o desenvolvi-mento ponderal dos bovinos mantidos em regimede pastagem.

Quadro 1. Precipitações pluviais mensais (rnrn) ocorridas na Estação Experimental de Zootecnia deSão José do Rio Preto, no período de 1974 a 1983

Mêses/anos 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 Médias

Janeiro 328 154 295 183 350 203 348 367 192 448 286,8

Fevereiro 175 205 301 58 86 210 211 84 289 201 182,0

Março 278 25 189 106 214 95 78 97 393 295 177,0

Abril 112 55 91 151 2 107 73 83 15 197 88,6

Maio 24 4 134 20 187 49 79 143 64,0

Junho 48 22 1 21 42 87 16 22 25,9

Julho 21 56 34 81 47 14 50 30,3

Agosto 6 142 12 34 30 22,4

Setembro 45 48 92 111 45 117 99 5 15 166 74,3

Outubro 148 115 146 74 72 114 66 167 215 154 127,1>'

Novembro 72 259 172 292 147 170 129 76 87 90 149,4

Dezembro 301 220 243 285 352 392 153 262 257 218 268,3

Total 1.537 1.106 1.883 1.327 1.557 1.538 1.199 1.228 1.602 1.984 1.496,1

Ocorrências de geadas: 31 de maio de 1979, 1~de junho de 1979 e 21 e 22 de julho de 1981.

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90

••· 1978

405

360

315

270EE

225

180

1980

135

45

2 3 4 5 6' 7 8 10 11 12

Meses•. <

Fiquro I. Precipitações pluviais mensais, /978/81.

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o efeito do ano de nascimento dos bezerros,independente dos tratamentos, é mostrado no qua-dro 2.

O peso dos bezerros ao nascer foi maior noprimeiro ano, não havendo, porém, diferença esta-tística com os nascidos no segundo ano. SegundoEsskuchen (ln ATHANASSOF1), o desenvolvi-mento inicial dofeto é relativamente lento, sendo,ao contrário, muito intenso nos últimos meses degestação.

O quadro 1 permite verificar que nos mesesde maio, junho e julho, que antecederam os partos,choveu 289 mm e 96 mrn, respectivamente nosanos de 1978 e 1979, havendo a maior precipitaçãopluvial ocorrido na fase final de gestação do pri-meiro ano, favorecendo a alimentação das vacas, oque contribuiu para melhor desenvolvimento dosfetos.

Os pesos dos bezerros aos quatro meses deidade não revelou diferença estatística entre anos.No entanto, verificou-se que nessa idade os nascidosno segundo ano foram mais pesados, provavel-mente pela maior produção de leite de suas mães,em conseqüência de melhores pastos, decorrentes

do inverno mais úmido do que o anterior. Fatoidêntico ocorreu com os pesos por ocasião da des-mama e aos doze meses de idade. Já os pesos ajus-tados aos dezoito e 24 meses mostraram diferençaestatística favorável aos bovinos nascidos em 1978,fato que pode ser explicado pela queima dos pas-tos, por geada ocorrida em ju lho de 1981.

A figura 2 mostra o desenvolvimento dosbovinos nascidos no segundo semestre de 1981 ede 1982, independente dos tratamentos.

A temperatu ra retal dos bezerros nos diassubseqüentes aos tratamentos é apresentada noquadro 3. Verifica-se que a dos animais inteiros foiem média de 39,33 ± 0,03 "c. tendo oscilado entre39,05 °c e 39,52 °c, o que está de acordo comVIEIRAI5. Constata-se, também, não ter havidoinfluência do período do dia sobre a medição.

Logo após a castração qu ímica (CQ) eviden-ciou-se discreto edema da genitalha externa, aomesmo tempo em que a temperatu ra corporal seelevava, não tendo havido porém, necessidade demaiores cuidados.

Quadro 2. Efeito do ano de nascimento, independente dos tratamentos, de bovinos cruzados santa-qer-trudis, mantidos em regime de pasto, na Estação Experimental de Zootecnia de São José doRio Preto

Primeiro ano Segundo ano

Média Amplitude de variação Média Amplitude de variação F

Mínimo Máximo Mínimo Máximo

Idades (kg) (kg) (kg) (kq)

Ao nascer 35,29 ± 1,38 33,01 ± 0,94 26 40 2,0 L

4 meses 110,62 ± 3,05 80 127 120,04 ± 4,78 90 165 2,6

7 meses 181,76 ± 4,06 147 218 186,87 ± 5,36 145 240 0,6 ~12 meses 225,14 ± 6,11 186 300 207,40 ± 7,13 163 269 3,6

18 meses 343,81 ± 8,24 300 440 289,70 ± 8,92 189 338 19,3**

24 meses 376,71 ± 7,53 320 470 307,95 ± 8,98 241 386 34,7**

**= a 1%.

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400

300

200

100

..•..............--"",-- --...•...•...•...•,...",III,

IIII,,,

I,,II

12 Ano----- 2!Ano

71o~----------'------------r----------~------------8179

Anos80

Figura 2. Desenvolvimento ponderar dos bovinos mantidosem reg ime de pasto, nasc idos no segu na o se-mestre de 1981e 1982, independente dos trata-mentos

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Quadro 3. Temperaturas retais médias (oC) de bezerros cruzados santa-qertrudis com menos de doismeses de idade, nos dias que se seguiram aos tratamentos

Tratamentos

Manhã Tarde

Registro diário NC CC CQ NC CC CQ

1? 39,52 39,73 39,86 39,32 39,61 39,75

2? 39,37 39,73 39,64 39,35 39,91 39,49

3? 39,23 39,74 39,35 39,28 39,66 39,30

4? 39,40 39,85 39,09 39,22 39,75 39,28

5? 39,50 39,71 39,09 39,40 39,95 39,24

6? 39,33 39,95 39,29 39,33 39,81 39,23

7? 39,32 39,70 39,25 39,38 39,68 39,43

8? 39,27 39,60 39,26 39,05 39,68 39,31

Médias 39,37 39,75 39,35 39,29 39,76 39,38

NC = não castrado, CC = castração cirúrgica, CQ = castração qurrnica.

Os animais do tratamento cirúrgico (CC)apresentaram febre do segundo ao oitavo dia,tendo sido constatada infecção em um únicobezerro, a qual foi debelada com aplicação deantibiótico.

O trauma apresentado pelos animais subme-tidos aos tratamentos CQ e CC, avaliado pela curvatermométrica (figura 3), manifestou-se da seguinteforma: CQ = hipertermia em comparação aos parâ-metros normais de temperatura corporal no pri-meiro dia após a aplicação do produto qu ímico,retornando à normalidade no terceiro dia; CC =

elevação térmica no segundo dia após o trata-mento, mantendo-se elevada até o oitavo dia,quando então começou a declinar, evidenciandonitidamente um quadro cl ínico de reação inflama-tória da ferida cirúrgica.

A análise estatística revelou "que os animaisdo tratamento CQ somente apresentaram febreno primeiro dia, ao passo que os do CC estiveram fe-

bris durante todo o período de observação. Averi-guou-se, também, que devido ao rápido restabele-cimento dos castrados, seus pesos aos quatro me-ses de idade não foram influenciados pelos trata-mentos.

O desenvolvimento ponderal nas fases dealeitamento, recria e acabamento é apresentado noquadro 4. Verifica-se que os tratamentos não oinfluenciaram estatísticamente, apesar dos manti-dos inteiros e nascidos em 1979 apresentaremmaior peso vivo do que os castrados, em todas asidades estudadas, o que está de acordo comMULLER9 e VELLOSO!3, mas em desacordocom SANTIAGO!! e VELLOSO et alii!4. Os bo-vinos nascidos em 1978 e submetidos à castraçãoqu ímica revelaram melhor desempenho nas idadesde dezoito e 24 meses, em rei eção aos castradoscirurgicamente, havendo, no entanto, inversãode valores quando se consideraram os animais nasci-dos em 1979, embora não tenha havido diferença

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NC_._-- CQ

39.0 -- -- CC

O.O+---r---r---.----r----r-- .....•.---r----~-----2 3 4

Dios5 6 7 8

Figura 3. Temperatura médio retal de bezerros com menosde dois meses de idade nos d i os subseqüentesaos tratamentos

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Quadro 4. Pesos médios (kg) dos bovinos santa-gertrúdls mantidos em regime de pasto, na Estação Expe-rimental de Zootecnia de São José do Rio Preto

Caracter ísticas Tratamentos Análise estat ística

(idade) CO CC NC SIm) F CV(%)

1?ano 33,0 34,7 38,1 1,36 1,2 17,7Ao nascer 2?ano 33,2 30,3 35,6 0,87 3,1 13,7

1? + 2?ano 33,1 32,3 36,7 0,78 3,1 15,9 .-

1?ano 102,3 115,9 113,7 2,89 2,1 12,0Aos 4 meses 2?ano 117,2 111,3 130,7 4,60 1,5 19,9

1? + 2?ano 110,7 113,4 123,3 2,90 1,7 17,4

1?ano 174,7 186,6 184,0 4,11 0,8 10,4

Aos 7 meses 2?ano 185,6 179,6 194,5 5,46 0,6 14,01? + 2?ano 180,7 183,1 189,6 3,35 1,8 12,1

1?ano 218,4 228,1 228,9 6,35 0,3 12,9Aos 12 meses 2?ano 199,4 204,5 217,9 7,29 0,6 15,7

1? + 2?ano 208,9 217,2 223,4 4,71 0,8 13,9

1?ano 342,9 340,0 348,6 8,65 0,1 11,5Aos 18 meses 2?ano 280,6 288,5 299,9 9,24 0,4 14,2

1? + 2?ano 311,7 316,2 324,2 6,14 0,4 12,4

1?ano 375,0 371,0 383,3 7,85 0,2 9,5Aos 24 meses 2?ano 295,3 304,6 323,4 8,98 0,9 13,0

1? + 2?ano 335,6 340,3 353,6 6,14 0,9 10,9

estatística em ambos os anos. Isso mostra que embovinos criados e recriados em regime extensivo,outros fatores não controlados tiveram maiorinfluência do que o efeito da emasculação.

A idade com que os animais atingiram opeso de abate (420 kg) variou muito entre e dentrodos tratamentos, pois a engorda não é contínuaem regime de pasto, principalmente na fase de aca-bamento.

Vários animais nascidos em 1978 e que esta-vam quase no ponto de abate, começaram a ema-grecer no mês de junho de 1980, só readquirindoseu peso anterior no mês de fevereiro do ano se-

guinte, retardando, conseqüentemente, o abate.Verificou-se que maior número de tourinhosalcançou o peso exigido pelos frigoríficos antesdos novilhos, o que está de acordo comGRIFFITHS6, MULLER9 e VELLOSO et alii14

.

Em média, os tourinhos alcançaram 420 kgde peso vivo com 880 dias de idade, ao passo quenessa idade os castrados ci rúrgica ou qu ímicamen-te pesavam 391 kg e 409 kg, respectivamente.

Os animais que nasceram em 1979 não atin-giram peso de abate, pois em 1981 ocorreu fortegeada, que queimou toda a pastagem do estabele-cimento, impossibilitando a permanência no regi-me proposto pelo projeto.

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Ouando do término do ensaio, os bovinosestavam em média, com 609 dias de idade e pesosajustados de 345 kg, 313 kg e 309 kg, respectiva-mente para os tratamentos NC, CC eCO.

A análise estatística feita nessa idade, apesarde haver diferença de 10% a favor dos animaisinteiros quando comparados à média dos castra-dos, não apresentou diferença significativa, o queestá em desacordo com a revisão bilbiográficafeita por F IELD2

Entretanto, o que ocorreu com os animaisutilizados no experimento confirma resultadosobtidos por outros pesquisadores citados porSANTIAG011

, os quais ressaltam que o desenvol-vimento ponderal em regime exclusivo de pastoreflete a existência de períodos de carência alimen-tar. Anualmente os bovinos sofrem perdas em pesonos meses de seca, no período de maio a outubro,retardando em um a dois anos a época do abatedos novilhos criados no Brasil Central.

CONCLUSÕES

1. Nas condições do presente trabalho, osefeitos dos tratamentos não influiram no desem-penho dos bovinos criados exclusivamente emregime de pasto.

2. Ouando os bovinos forem abatidos tar-diamente ou os novilhos precoces submetidos a

determinados manejos que exigem a castração,sugere-se o processo qu ImlCO, por ser incruentoisento de contaminação e infestações por mi íases,bem como devido sua praticabi.lidade e economi-cidade.

SUMMARY: The essaywas developed at the Estação Experimental de Zootecnia de SãoJosé do Rio Preto, State of São Paulo, Brazil, using51 crossbreed Santa Gertrudis youngbulls raised in grazing regime, in "pangola"-grass, "estrela"-grass, "batatais"-grass and"jaraguá"-grass paddocks. The animais were born in the second bimester of 1978 and1979, and were arranged in a complete randomized design with three treatments and 8and 9 replications in the first and second years, respectively. The treatments: CC = surgicalcastration, CQ = chemical castration and NC = checks. The animais of the chemicaltreatment received one intra-testicular shot of a 40% formic aldehyde solution plusadditives and had fever only in the day after the shot day. The surgical treatment animaishad fever form the second until the eightieth day after the surgery. It was not statisticaldifference between treatments for liveweight gains but the difference between years wasstatistical significant. It was concluded that the chemical castration in cattla would beadvised when the animais are to be slaughtered elder. Besid~sthe simplicity, the chemicalcastration is lessdemaged and presents lessjot surgery problems.

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