COM PERTURBAÇÕES NEURÓTICAS NO PERÍODO ETÁRIO 7–10 … · CHILDREN WITH NEUROTIC...

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225 Cad. Pesq., v. 26, n. 1, jan./mar., 2019. Artigo recebido em junho 2017. Aprovado em novembro de 2017. DOI: http://dx.doi.org/10.18764/2178-2229.v26n1p225-245 GÉNERO E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NA INTERACÇÃO MÃES-FILHOS COM PERTURBAÇÕES NEURÓTICAS NO PERÍODO ETÁRIO 7–10 ANOS GENDER AND EDUCATIONAL ORIENTATION IN THE INTERACTION OF MOTHER- CHILDREN WITH NEUROTIC DISTURBATIONS IN THE AGE PERIOD 7–10 YEARS GÉNERO Y ORIENTACIÓN EDUCACIONAL EN LA INTERACCIÓN MADRE-HIJOS CON PERTURBACIONES NEURÓTICAS EN EL PERÍODO ETARIO 7–10 AÑOS Fernando Oliveira Pereira Doutor em Psicologia e Professor Coordenador na Escola Superior de Educação Almeida Garrett / Universidade Lusófona de Lisboa. Lisboa – PORTUGAL. [email protected] Resumo O género é a identificação sociocultural da pessoa, cuja especificidade diferencial é de algum modo e com certo grau de relativização pré-definida pela pertença corporal a determinado sexo. Objectivo da investigação: estabelecer especificidades diferenciais nos estilos e orientações educacionais das mães no processo de interacção com as crianças padecentes de perturbações neuróticas do escalão etário 7–10 anos em conformidade com o seu género sexual de pertença. Participantes: 99 mães de crianças que sofrem de perturbações neuróticas (66 do sexo masculino e 33 do sexo feminino) e 60 mães de crianças saudáveis (30 do sexo masculino e 30 do sexo feminino). Instrumentos metodológicos: Questionário PARI (Parent Attitude Research Instrument) e entrevista clínico-psicológica. Conclusões: Existem diferenças específicas nos estilos e orientações educacionais que as mães adoptam com os filhos (as) do escalão etário 7–10 anos, padecentes de perturbação neurótica, conforme pertencem ao género masculino ou feminino. As diferenças educacionais são em maior quantidade nas mães das crianças do género feminino do que nas do género masculino, quando comparadas com as mães de crianças saudáveis. Os desvios nos estilos e orientações educacionais implementados pelas mães na interacção com as crianças que sofrem de perturbação neurótica são por excesso no género masculino e por defeito no género feminino. Palavras-chave: Género. Etariedade. Orientação educacional. Perturbação neurótica. Abstract Gender is a socio-cultural identity of the person whose differential specificity is somehow and with some degree of relativization pre-defined by the body belongs to a determined sex. Research Objective: To establish especifities characteristics in styles and educational orientations of mothers in the interaction process with children suffering from neurotic disorders of the age group 7–10 years in accordance with their sexual gender belonging. Participants: 99 mothers of children who suffer from neurotic disorders (66 male and 33 female) and 60 mothers of healthy children (30 male and 30 female). Methodological tools: PARI Questionnaire Parent Attitude Research Instrument and clinical and psychological interview. Conclusions: There are specific differences in styles and educational orientations that mothers adopt with the children of the age group 7–10 years, who suffer from neurotic disturbance as belonging to the male or female gender. Educational differences are in greater quantities in mothers of children female gender than in male gender, when compared with mothers of healthy children. Deviations in styles and educational orientations implemented by mothers in interaction with children suffering from neurotic disorder are in excess in males and in females by default. Keywords: Gender. Age. Educational orientation. Neurotic disorder. Resumen El género es la identificación sociocultural de la persona, cuya especificidad diferencial es de algún modo y con cierto grado de relativización pre-definida por la pertenencia corporal a determinado sexo. Objetivo

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    Artigo recebido em junho 2017. Aprovado em novembro de 2017.

    DOI: http://dx.doi.org/10.18764/2178-2229.v26n1p225-245

    GÉNERO E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NA INTERACÇÃO MÃES-FILHOS COM PERTURBAÇÕES NEURÓTICAS NO PERÍODO ETÁRIO 7–10 ANOS

    GENDER AND EDUCATIONAL ORIENTATION IN THE INTERACTION OF MOTHER-CHILDREN WITH NEUROTIC DISTURBATIONS IN THE AGE PERIOD 7–10 YEARSGÉNERO Y ORIENTACIÓN EDUCACIONAL EN LA INTERACCIÓN MADRE-HIJOS

    CON PERTURBACIONES NEURÓTICAS EN EL PERÍODO ETARIO 7–10 AÑOS

    Fernando Oliveira PereiraDoutor em Psicologia e Professor Coordenador

    na Escola Superior de Educação Almeida Garrett /Universidade Lusófona de Lisboa. Lisboa – PORTUGAL.

    [email protected]

    ResumoO género é a identifi cação sociocultural da pessoa, cuja especifi cidade diferencial é de algum modo e com certo grau de relativização pré-defi nida pela pertença corporal a determinado sexo. Objectivo da investigação: estabelecer especifi cidades diferenciais nos estilos e orientações educacionais das mães no processo de interacção com as crianças padecentes de perturbações neuróticas do escalão etário 7–10 anos em conformidade com o seu género sexual de pertença. Participantes: 99 mães de crianças que sofrem de perturbações neuróticas (66 do sexo masculino e 33 do sexo feminino) e 60 mães de crianças saudáveis (30 do sexo masculino e 30 do sexo feminino). Instrumentos metodológicos: Questionário PARI (Parent Attitude Research Instrument) e entrevista clínico-psicológica. Conclusões: Existem diferenças específi cas nos estilos e orientações educacionais que as mães adoptam com os fi lhos (as) do escalão etário 7–10 anos, padecentes de perturbação neurótica, conforme pertencem ao género masculino ou feminino. As diferenças educacionais são em maior quantidade nas mães das crianças do género feminino do que nas do género masculino, quando comparadas com as mães de crianças saudáveis. Os desvios nos estilos e orientações educacionais implementados pelas mães na interacção com as crianças que sofrem de perturbação neurótica são por excesso no género masculino e por defeito no género feminino.Palavras-chave: Género. Etariedade. Orientação educacional. Perturbação neurótica.

    AbstractGender is a socio-cultural identity of the person whose diff erential specifi city is somehow and with some degree of relativization pre-defi ned by the body belongs to a determined sex. Research Objective: To establish especifi ties characteristics in styles and educational orientations of mothers in the interaction process with children suff ering from neurotic disorders of the age group 7–10 years in accordance with their sexual gender belonging. Participants: 99 mothers of children who suff er from neurotic disorders (66 male and 33 female) and 60 mothers of healthy children (30 male and 30 female). Methodological tools: PARI Questionnaire Parent Attitude Research Instrument and clinical and psychological interview. Conclusions: There are specifi c diff erences in styles and educational orientations that mothers adopt with the children of the age group 7–10 years, who suff er from neurotic disturbance as belonging to the male or female gender. Educational diff erences are in greater quantities in mothers of children female gender than in male gender, when compared with mothers of healthy children. Deviations in styles and educational orientations implemented by mothers in interaction with children suff ering from neurotic disorder are in excess in males and in females by default.Keywords: Gender. Age. Educational orientation. Neurotic disorder.

    ResumenEl género es la identifi cación sociocultural de la persona, cuya especifi cidad diferencial es de algún modo y con cierto grado de relativización pre-defi nida por la pertenencia corporal a determinado sexo. Objetivo

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    de la investigación: establecer especifi cidades diferenciales en los estilos y orientaciones educativas de las madres en el proceso de interacción con los niños que padecen de perturbaciones neuróticas del grupo de edad de 7 a 10 años conforme a su género sexual de pertenencia. Participantes: 99 madres de niños que sufren de trastornos neuróticos (66 del sexo masculino y 33 del sexo femenino) y 60 madres de niños sanos (30 del sexo masculino y 30 del sexo femenino). Instrumentos metodológicos: Cuestionario PARI (ParentAttitudeResearchInstrument) y entrevista clínico-psicológica. Conclusiones: Existen diferencias específi cas en los estilos y orientaciones educativas que las madres adoptan con los hijos del grupo de edad de 7 a 10 años, que padecen de perturbación neurótica, según pertenecen al género masculino o femenino. Las diferencias educativas son en mayor cantidad en las madres de los niños del género femenino que en las del género masculino, en comparación con las madres de niños sanos. Las desviaciones en los estilos y orientaciones educativas implementadas por las madres en la interacción con los niños que sufren de perturbación neurótica son por exceso en el género masculino y por defecto en el género femenino.Palabras clave: Género. Etariedade. Orientación educativa. Perturbación neurótica.

    1 INTRODUÇÃO

    A identidade de género e etária das crianças são factores de importância determinante no âmbito da regulação do processo educacional dos fi lhos pelos seus pais.

    Histórica e culturalmente as mães sempre desempenharam papel de maior relevância na educação dos fi lhos, comparativamente ao papel que foi habitualmente assumido pelos pais em tempos idos; sendo que no último meio século assistiu-se progressivamente ao maior envolvimento directo dos pais no processo educativo dos fi lhos.

    Por conseguinte, torna-se importante esclarecer que infl uência tem o género sexual e o escalão etário 7–10 anos de pertença das crianças nos estilos e orientações educacionais imprimidas pelas mães na dinâmica de interacção com os seus fi lhos (as) na vivência diária.

    1.1 Género e educação

    O sexo da criança, quanto à sua vertente biológica e corporal, é o primeiro factor a ser determinante na orientação educacional a adoptar pelas mães no processo de interacção com os seus fi lhos (as). Ainda não há muito tempo só era possível saber o sexo do bebé após o nascimento, quedando-se os progenitores na expectativa durante o período de gravidez. Hoje, muito por causa da evolução tecnológica, é possível saber-se o sexo do bebé, ainda durante o período de gestação.

    Entre sexo e género conceptualmente há unidade, mas não existe identidade, porque são conceitos diferentes, decorrentes de naturezas construtivas também diferentes. O sexo de pertença é biologicamente determinado; o género é construído através dos processos de socialização, enculturação e educação. Portanto, o género – masculino ou feminino – é um dos aspectos da identidade social e cultural dos cidadãos, adquirindo uma construção estrutural de natureza psicossocial.

    No processo de formação adequado as questões de género deverão enfocar as diferenças culturalmente defi nidas e aceites entre os sexos. De certa forma, isto explica como são edifi cadas as relações sociais entre homens e mulheres. Daí que as diferenças de género na escola passem, através do processo educacional, pela interiorização das características sócio-culturais representativas dos padrões considerados identifi cadores do masculino e do feminino (SOUZA, 2008a). O género é uma construção da qual fazem parte integrante, diversos comportamentos, poderes e até diferentes sentimentos (BARBOSA, 1989); representa o processo pelo qual se procura explicar os atributos específi cos impostos por cada cultura, quer ao masculino quer ao feminino, tomando em consideração a construção social edifi cada hierarquicamente, que além de outros aspectos engloba também a relação de poder entre os sexos (SCOTT, 1990). Na perspectiva wittgensteiniana o género é a expressão das práticas sociais e culturais

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    que dão sentido e contextualizam o indivíduo, ou seja, apresenta-se como a sua forma de vida, que, por seu turno, depende das atribuições inscritas pelo grupo de referência a cada sexo (MARTÍNEZ-MUNGUÍA; QUINTANA-RODRÍGUEZ; ORTIZ-RUEDA, 2014). É um dos constituintes da identidade dos sujeitos, sendo que os homens e as mulheres são identifi cados por género, classe, raça, etnia, idade, nacionalidade, etc., assumindo assim “identidades plurais, múltiplas”, as quais, por seu turno, produzem diferentes “posições de sujeito” (LOURO, 1997). As identidades sendo múltiplas e plurais e também transformáveis poderão contribuir para o entendimento e para a demonstração de que efectivamente as práticas educativas são “generifi cáveis”; e que se constroem a partir das relações estabelecidas: de género, de classe e de raça. Consequentemente dever-se-á considerar que a masculinidade e a feminilidade se exercem de várias formas em que complexas redes de relações estarão envolvidas nos discursos e nas práticas representativas das instituições e dos espaços sociais. Além de tudo o mais, é pertinente considerar a maneira como a família e a escola, na condição de agentes educativos, agem face aos rapazes e às raparigas; sendo este aspecto fundamental no processo de construção da identidade de género.

    Numa investigação sobre as atitudes, os estereótipos e as crenças refl ectidas na forma de relacionamento dos educadores com as crianças do género masculino e do género feminino demonstrou-se que os episódios representativos da igualdade e diferença, na construção do género, instauram, explicitam e expressam relações sociais e versões diferentes na identifi cação do feminino e do masculino. O papel do adulto seja na condição de pais seja na de professores, é fundamental à transmissão de atitudes de índole do género sexual; visto que refl ectem e demonstram expectativas, as quais intervêm na construção da imagem do que é ser menino e menina (SOUZA, 2006, 2008b).

    1.2 Etariedade e desenvolvimento educacional

    A abordagem acima reportada confi rma a existência de diferenças de género na educação das crianças e que estas são estabelecidas através do processo de construção da identidade de género. Os educadores têm representado social, cultural e psicologicamente, na sua mente, a imagem daquilo que são e deverão ser os comportamentos adequados para rapazes e para raparigas. Por conseguinte, a relação dos educadores com os sujeitos educandos é dirigida e orientada pelas expectativas comportamentais vigentes na sua mente quanto à aceitação de condutas em cada género. Exemplos disso são os atributos socioculturais que fazem referência ao nome, ao vestuário e aos brinquedos, admitidos na condição de padrões de normalidade de género (RODRIGUES, 2003). Signifi ca que as mães nas relações que estabelecem com os seus fi lhos (as) revelam formas e modos diferenciados em conformidade com o género sexual de pertença. Formas de relacionamento que acabam por estar implícitas no processo educacional.

    Entretanto, também existem aspectos relacionados com o desenvolvimento dos seres humanos na sua generalidade, por um lado, e com o desenvolvimento especifi camente no plano educacional, por outro, cujo processo se encontra dependente da condição etária do sujeito sobre o qual incide a acção. Daí os diversos períodos ou fases etárias, às quais correspondem normativamente certos estádios de desenvolvimento – período intra-uterino, recém-nascido, latente, pré-escolar, escolar, adolescente, juvenil, adulto, idoso; estádio embrionário, fetal, sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto, operatório formal, pós-operatório (PIAGET; INHELDER, 1997; COLE; COLE, 2001; PAPÁLIA; OLDS; FELDMAN, 2001).

    O período etário 6–10 anos, correspondente ao período escolar do 1º ciclo do ensino básico com duração de 4 anos de escolaridade, é caracterizado por determinado nível de desenvolvimento da criança como sistema bio-psico-social, nas vertentes física, psicomotora, cognitiva, afectiva, social e pessoal ou personalística (COLE; COLE, 2001; PAPÁLIA; OLDS; FELDMAN, 2001; PEREIRA, 2008, 2014). Por conseguinte, o estádio

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    de desenvolvimento nas suas diversas vertentes, característico deste período etário, determina as especifi cidades normativas da tipologia educacional a ser implementada pela mãe no processo de interacção diária com os seus fi lhos e que devido aos limiares específi cos e diferenciadores da funcionalidade psíquica da criança deverão apresentar diferenças daquelas que são habituais em crianças ou adolescentes que se encontram noutros períodos etários (PEREIRA, 2008, 2014).

    Então, a categoria etariedade, decomposta em subcategorias que correspondem a períodos ou fases etárias, deverá ser tida em consideração na adopção de tipologias de relacionamento ou da orientação educacional específi ca imprimida pelas mães na interacção com os fi lhos em conformidade com a idade destes.

    1.3 Educação materna e perturbações neuróticas na infância

    É no período da sua primeira socialização que se forma na criança o “fundamento básico do carácter”, sobre o qual poderá ser erigida e construída a estrutura responsável pelo funcionamento do indivíduo socializado. Para grande parte dos autores a organização básica da personalidade tem lugar nos primeiros cinco anos de vida da criança (FREUD, 1933, 1996; ADLER, 2000; JUNG, 1964; GESELL, 1946). A personalidade não nasce (is not born), deverá ser construída (must be made) pelo processo de socialização, no qual a família é preponderante (OSTERRIETH, 1970). As relações e atitudes do sistema familiar – conjugais, parentais, fraternais – e o próprio clima psicológico gerado no seio da família refl ectem-se na formação da personalidade da criança. Uma das principais condições da educação correcta das crianças, na família nuclear completa, não é a estrutura desta, mas o estilo das inter-relações existentes no interior dela; quer entre os pais, quer entre pais e fi lhos (DOBRIANSKY; SKULENDA, 1981). A constelação familiar tem infl uência na primeira cristalização do carácter (LOPEZ, 1973). A experiência adquirida pela criança através das interacções com o seu círculo familiar, em particular com a mãe, determina a sua personalidade (CARROL, 1969). É particularmente aceite pelos investigadores da problemática das neuroses a ideia sobre a infl uência exercida pelas relações familiares inadequadas e pelos desvios na educação, no surgimento de perturbações, ou anomalias, na formação e desenvolvimento da personalidade, nos períodos etários da infância e da adolescência (FREUD, 1933, 1996; ERICKSON, 1950; MESSICHEV, 1960; ZAKHAROV, 1974; OBOSOV, 1978; KOVALHOV, 1980; WATZLAVICK; BEAVIN; JACKSON, 1993; RODRIGO; PALACIOS, 1998; DECOBERT; SACCO, 2000). Habitualmente, são as dimensões de conjugalidade e parentalidade que defi nem e delimitam as áreas de disfuncionalidade nas relações familiares, servindo de base aos diversos transtornos de personalidade (LINARES, 2007). O stresse gerado pelas relações familiares poderá desempenhar papel crucial na manifestação de várias perturbações psicológicas nas faixas etárias da infância e da adolescência (PETTIT et al., 2011).

    Os pioneiros da psiquiatria mundial consideraram que a relação severa e injusta com as crianças no seio da família pode ser uma das causas do desenvolvimento de estados psicopatológicos: a relação exageradamente indulgente – a causa da emocionalidade excessiva; as exigências desmedidas – a causa da fraqueza psiconervosa; a educação rígida – surgimento da sensação de medo; educação mimada – subjectivismo e inconstância do carácter; menosprezo pela educação – difi culdade na relação educacional (BALINSKY, 1859; USHAKOV, 1978; AJURIAGUERRA, 1980).

    Para V. N. Messichev (1960), R. A. Zatshepitsky e E. K. Iakovleva (1960) a educação em condições severas, mas de exigências e proibições contraditórias, é um factor predisposicional para a neurose obsessiva e para a psicastenia; a educação do tipo de atenção exagerada e satisfação de todos os desejos da criança desenvolve, nela, traços histéricos de carácter, com manifestações de egocentrismo, hiperactividade e ausência de autocontrolo; a apresentação às crianças de exigências, demasiado intensas para a sua idade, é um factor etiológico na formação da neurastenia. Conclui-se que os desvios no processo educacional têm infl uência negativa no desenvolvimento

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    da personalidade das crianças. Daí que os autores abordem a causa das neuroses infantis como manifestação clínico-psicológica dos problemas da família, refl ectindo a especifi cidade de funcionamento desta no decurso de três, ou mais, gerações (ZAKHAROV, 1974, 1982, 1998; KEMPINSKY, 1975; KLEIN, 1979; KARVASSARSKY, 1980, 1990; HARKNESS; SUPER, 2000; GIMENO, 2003). Para A. I. Zakharov (1998) as mudanças caracterológicas e neuróticas reveladas nos pais são consequência de condições desfavoráveis da formação das suas personalidades na família antecessora, no período infantil e adolescente das suas vidas. As crianças podem apresentar o tipo neurótico de reacção, devido às suas inquietações, sendo condicionado pelas peculiaridades da personalidade dos pais e pelas relações perturbadas na família (ZAKHAROV, 1982; PEREIRA, 2014).

    As inadequações nas formas e nos modos de comunicação, interacção e inter-relação das pessoas umas com as outras e dos pais com os fi lhos deixam marcas de maior ou menor nocividade nos sujeitos sobre os quais as alterações recaem (ROSENTHAL; FINKELSTEIN; ROBERSON, 1959; SEARS, 1961; SPIONEK, 1970; BATESON, 1987; MARTTELART, 1999; WEINER, 1995). Os prejuízos e os graus de nocividade são mais elevados nos períodos etários correspondentes à infância e à adolescência, porque são etapas do desenvolvimento de maior vulnerabilidade devido aos fracos recursos, por um lado, de resistência psiconeurológica e, por outro, de criticabilidade, racional e consciente, às infl uências externas (BERKOWITZ et al., 1974; KENNEL, 1989; SFEZ, 1994; SROUFE et al., 2000). No processo de desenvolvimento psicológico ao longo das diversas faixas etárias as mais precoces apresentam maior debilidade e, consequentemente, maior vulnerabilidade à acção de infl uências nocivas oriundas do meio envolvente. Na actualidade, principalmente nas últimas três décadas, já não existem dúvidas sobre a diferencialidade dos transtornos do stresse pós-traumático na população infantil; sendo de importância capital para planifi car, com base nas especifi cidades, as terapias (SARMIENTO et al., 2006). O processamento de informação social medeia parcialmente as relações de afecto através dos sintomas internalizados (LUEBBE et al., 2010).

    No último século, foi dispensada maior atenção ao papel da família, dos seus ciclos de construção e de crise, e das relações familiares, conjugais e parentais, em especial às divergências e aos confl itos, na formação e consolidação de perturbações emocionais e da personalidade nas crianças e adolescentes (HORNEY, 1950; FENICHEL, 1953; FROMM, 1975; McGOLDRIK; CARTER, 1982; MISHINA, 1983; RELVAS, 1996; IZARD, 2000; FIESE; WILDER; BICKHAM, 2000; DAVIES et al., 2002). Relações refl ectidas na construção da identidade e da personalidade, mas antes, e como precursores destes, nos processos de vinculação e apego (SPITZ, 1978; BOWLBY, 1995; SOARES, 1996; SHALIMOVA, 2006; SOARES; DIAS, 2007).

    Na opinião de A. I. Zakharov (1982) em famílias nas quais há crianças que sofrem de neurose com mais frequência do que nas famílias com crianças plenamente saudáveis, quanto a este tipo de distúrbios, o confl ito familiar manifesta-se, predominantemente, na esfera das relações pais – fi lhos; portanto, no plano das relações parentais. O confl ito nas mães, tanto pela sua própria avaliação, como pela avaliação do seu marido, regista-se em 69% dos casos e tem lugar, com mais frequência, nas relações das mães com os fi lhos do sexo masculino (72,5%), do que com os do sexo feminino (64%). Nas famílias com crianças neuróticas do sexo masculino, quando não se vislumbra o confl ito das mães com os pais, o mesmo confl ito manifesta-se nas relações das mães com os fi lhos. Estas mães chegam a manifestar atitudes de carácter afectivo-impaciente face aos traços de personalidade dos fi lhos. Traços que, porventura, actualizam na mente das mães a imagem dos traços de carácter do seu marido, considerados, por elas, reprováveis; ou seja, aqui, manifesta-se o confl ito que, eventualmente, apesar de existir, não se expressa, ou pelo menos não alcança a exterioridade, da mãe com o pai da criança. Quando as crianças são do sexo feminino há lugar, com maior frequência, a confl itos do tipo aberto, ou seja, que adquire exteriorização, entre a mãe e o pai;

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    isto é, os pais têm tendência a descarregar as suas tensões de índole psiconervosa, preferencialmente, um no outro, não o fazendo sobre a fi lha.

    A orientação de género, que é um aspecto psicossocial, parece ter importância diferencial na determinação dos níveis, ou graus, da sintomatologia de ansiedade na adolescência e juventude (CÁRTER; SILVERMAN; JACCARD, 2011).

    Os efeitos da idade e de género, no modelo de adaptação ao stresse com base na adopção de formas de confrontação (coping), refl ectem mais sintomas da tipologia externalização e internalização nos pais do que nas crianças, mas também revela elevado nível de internalização de sintomas no género feminino (WADSWORTH et al., 2011).

    Mais segurança na vinculação dos fi lhos aos pais reduz a auto-culpabilização das crianças pelos confl itos. Portanto, os pais que dão apoio e atenção emocionais aos fi lhos atenuam signifi cativamente os efeitos negativos do confl ito interparental nas crianças, reduzindo as auto-atribuições de culpabilização pela discórdia parental (DeBOARD-LUCAS et al., 2010).Os contextos de segurança nas relações pais – fi lhos na infância correlacionam com níveis baixos de propensão antissocial e depressiva (SENTSE; LAIRD, 2010).

    Os desvios na educação assentam fundamentalmente na personalidade dos pais, no clima psicossocial, ou nas interacções e inter-relações estabelecidas no seio do grupo familiar. As anomalias da educação, na família, ocupam lugar de destaque na etiopatogénese das neuroses nos períodos etários da infância e da adolescência. Ideia corroborada pelos dados obtidos por vários investigadores, os quais encontraram anomalias educacionais e perturbações das inter-relações familiares em 87 – 90% das crianças, as quais sofrem de neurose (GARBUZOV, 1977; ZAKHAROV, 1982, 1998; EIDEMILLER; IUSTITSKIS, 2009).

    Da indagação acima reportada resulta a questão problemática da investigação, a qual aponta para a existência de diferenças educacionais no âmbito da interacção mãe – criança em conformidade com as variáveis género e idade dos fi lhos (as).

    2 MÉTODO

    2.1 Objectivos

    Objectivo geral: estudar a relação “mãe–criança”, no plano educacional da interacção parental em famílias com crianças que apresentam perturbações de comportamento de carácter neurótico.

    Objectivo específi co: estabelecer diferenças nas relações parentais “mãe–criança”, no âmbito da orientação educacional na faixa etária 7–10 anos, quanto à variável de género: masculino ou feminino.

    2.2 Amostra e participantes

    O material da investigação é constituído por famílias, mais especifi camente por mães, onde há fi lhos (as) que estão incluídos na faixa etária 7–10 anos, correspondente ao ensino escolar do 1º ciclo do ensino básico. Estas crianças, pela sua idade, pelo seu estatuto familiar e pelas suas competências de desenvolvimento, apresentam-se na condição de objecto sobre o qual recaem e ao qual são dirigidas as acções do processo educacional, concebido, confi gurado e planifi cado pelos seus progenitores, ou outras personagens que os substituam.

    A amostra da investigação é constituída por mães, cujos fi lhos do sexo masculino ou feminino padecem de perturbação de comportamento de tipo neurótico e também por aquelas mães em cujos fi lhos com as mesmas características sócio-demográfi cas não apresentam, nem nunca apresentaram, indícios de qualquer patologia de natureza

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    psiconervosa. Por conseguinte, os sujeitos intervenientes na investigação foram divididos em quatro contingentes:

    1. Mães de crianças do sexo masculino, na faixa etária 7–10 anos, que padecem de perturbações neuróticas.

    2. Mães de crianças do sexo feminino, na faixa etária 7–10 anos, que padecem de perturbações neuróticas.

    3. Mães de crianças do sexo masculino, na faixa etária 7–10 anos, cujos fi lhos sempre foram saudáveis; não tendo nunca padecido de quaisquer patologias, quer de carácter físico irreversível, quer de natureza psiconervosa.

    4. Mães de crianças do sexo feminino, na faixa etária 7–10 anos, cujas fi lhas sempre foram saudáveis; não tendo nunca padecidode quaisquer patologias, quer de carácter físico irreversível, quer de natureza psiconervosa.

    Quadro 1 – Mães de crianças constituintes dos grupos exploratório e de controlo, quanto às variáveis “período etário” e “género” a que pertencem as crianças.

    ContingentesCaracterísticas Grupo exploratório Grupo de controlo

    Período etário 7 – 10 anos 7 – 10 anos

    Género Masculino Feminino Masculino Feminino

    Quantidade 66 33 30 30 Fonte: Elaborado pelo autor.

    Por conseguinte, a amostra constituída pelos contingentes de crianças do género masculino e feminino que sofrem de perturbações neuróticas é designada, nesta investigação, de grupo exploratório, por ser o alvo principal sobre o qual incidirão as interpretações. A outra amostra constituída pelos contingentes de crianças do género masculino e feminino, nas quais há ausência de perturbações, principalmente as de natureza psiconervosa; sendo plenamente saudáveis em todos os aspectos, físico e psicológico, designa-se de grupo de controlo, pelo facto de a sua utilização recair, essencialmente, no desempenho da função normativa, tendo papel diferenciador no plano da relativização comparativa dos factos.

    A amostra referente ao grupo exploratório tem proveniência numa policlínica especializada em problemas da infância e da adolescência, concretamente, da secção ou departamento especializado no tratamento e psicoterapia de neuroses da infância e da adolescência. É uma policlínica central que recebe pacientes referenciados por médicos de várias especialidades, as quais têm intervenção com a população pediátrica e juvenil, de outras policlínicas periféricas.

    A amostra do grupo de controlo é constituída por mães de crianças saudáveis, tanto no plano físico como psicológico. Estas crianças do sexo masculino e feminino tiveram proveniência de várias instituições de ensino escolar do 1º ciclo do ensino básico, que pertinentemente também eram frequentadas pelas crianças do grupo exploratório. Esta condição foi relevante para a manutenção da correspondência fi dedigna dos grupos exploratório e de controlo, quanto às características de âmbito sócio-demográfi co, cultural, escolaridade, etariedade e outras. Por conseguinte, a selecção das mães que constituíram o grupo de controlo também foi realizada com base nos critérios de manutenção da correspondência das características socio-demográfi cas das mães do grupo exploratório.

    Antes de incluir os sujeitos no grupo de estudo foi realizada previamente uma selecção de triagem, com base nos critérios que assegurariam as condições desejadas, através de entrevistas aos técnicos que trabalhavam directamente com essas crianças e também se fez deslocar, por várias vezes, técnicos, formados no âmbito das nossas concepções, a fi m de procederem a observações de carácter clínico-psicológico e educacional das crianças e também sociodemográfi co das respectivas mães, para

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    especifi car e confi rmar que estas reúnem os requisitos exigidos pelos critérios de inclusão no grupo de controlo.

    No conjunto das duas amostras, a patológica e a saudável, foram consultadas, examinadas, estudadas e submetidas a avaliação e observação clínico-psicológicas 159 (cento cinquenta e nove) famílias, ou mães; sendo que em 99 existiam crianças padecendo de neurose e em 60 as crianças eram plenamente saudáveis.

    2.3 Hipóteses

    h 0 – No período etário 7–10 anos das crianças não existem diferenças signifi cativas nas orientações educacionais das mães no processo de interacção com os fi lhos do géneros masculino e feminino que padecem de neurose comparativamente a grupos idênticos no plano sociodemográfi co saudáveis.

    h 1 – No período etário 7–10 anos das crianças existem diferenças estatisticamente signifi cativas nas orientações educacionais das mães no processo de interacção com os fi lhos do género masculino e feminino que padecem de neurose comparativamente a grupos de mães de crianças saudáveis, idênticas quanto às características sociodemográfi cas.

    2.4 Instrumentos metodológicos

    2.4.1 Entrevista e Observação clínico-psicológicas

    As entrevistas clínicas e psicológicas são aquelas que no decorrer processual do acto utilizam de forma deliberada, consciente e sistemática, técnicas clínicas ou psicológicas de comunicação, e que se estruturam e organizam com base em concepções teóricas da clínica e da psicologia (MIKHAL, 1978; CARRAHER, 1989; BEÀ, 1998; LEAL, 2004). A entrevista pode ser abordada na condição de método de acção ou intervenção e daí ser também classifi cada mediante vários aspectos: critérios de estruturação, ambientes onde se realiza, objectivos que se pretendem alcançar etc. (AJURIAGERRA, 1980; CUNHA et al., 1993; VILARRASA; BERRIOS; PALACIOS, 2003; LEAL, 2004). Nesta investigação, a tipologia de entrevista mais adequada é a de recolha de dados. O processo de comunicação é dirigido, controlado e regulado pelo interlocutor que assume a responsabilidade de estabelecer o diagnóstico, de fazer a avaliação, de conduzir o processo terapêutico, ou de organizar a recolha de dados. A entrevista é um dos métodos de diagnóstico, avaliação e psicoterapêutico mais utilizado na prática clínica e psicológica, tendo sido aqui utilizada para complementar e especifi car dados obtidos por meio de outros instrumentos metodológicos mais rígidos, pré-defi nidos e com graus limitados de liberdade.

    A observação é um acto, ou processo, dirigido e controlado pelo sujeito que a realiza, visando a obtenção de informação acerca do objecto.

    A observação clínico-psicológica assume a condição de método científi co, porque é estruturada e fundamentada com base nos princípios de organização e teorização da ciência clínica e psicológica. A observação torna-se num instrumento metodológico poderoso e de importância capital na obtenção de informação, a qual é impossível de obter por outros meios, quando conduzida por profi ssionais habilitados, quer no plano teórico-conceptual, quer no plano prático-instrumental.

    Assim, a entrevista e a observação, como metodologias de investigação para a recolha de dados, não se substituem uma à outra, inter-complementam-se.

    Em suma, as informações obtidas mediante aplicação dos métodos de entrevista e de observação de natureza clínica e psicológica nesta investigação visam essencialmente complementar, especifi car, demonstrar e fundamentar as interpretações dos resultados conseguidos pela aplicação das metodologias de inquérito abaixo descritas.

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    2.4.2 Questionário PARI – Parent Attitude Research Instrument

    Questionário construído por uma equipa de investigadores, cuja fi nalidade se destina a estudar as relações dos pais com os fi lhos e as atitudes que os mesmos pais manifestam para com o papel familiar, por eles desempenhado, aquando da sua participação, no grupo social de maior proximidade relacional – a família (SCHAEFER; BELL, 1958; KOTÁSKOVÁ, 1966; CUNHA et al., 1993).

    Os questionários são instrumentos, cuja orientação principal consiste na obtenção de dados acerca de um objecto, ou aspecto deste, específi co. A minuciosidade da sua estrutura, construída com método científi co, faz deles metodologias e instrumentos preciosos de medição, avaliação e diagnóstico (SMÉKAL, 1978; SVANCSARA et al., 1978; BERKA, 1987; CUNHA et al., 1993; ANASTASI; URBINA, 2000; VILARRASA; BERRIOS; PALACIOS, 2003).

    O questionário é constituído por 115 juízos de valor, todos eles são afi rmações acerca dos modos de educar e das posições que as pessoas assumem quanto ao papel familiar. Sendo que os juízos de valor foram agrupados, com base em técnicas objectivas, em 23 categorias, as quais se convertem em formas específi cas de relações educacionais. A cada uma destas categorias pertencem cinco juízos de valor, que por seu turno se encontram dispostos, no questionário, numa sequência arbitrária.

    Entretanto, relativamente a cada juízo de valor impresso existem quatro variantes de resposta, sendo que cada uma destas representa um determinado grau de intensidade expressiva da atitude do inquirido para com o objecto visado. Às variantes são atribuídas as seguintes signifi cações numéricas: 4 – Plenamente de acordo; 3 – Mais de acordo que em desacordo; 2 – Mais em desacordo que de acordo; 1 – Completamente em desacordo. A soma das signifi cações numéricas determina o nível de expressividade de cada categoria educacional.

    Nesta investigação, o questionário é aplicado com a fi nalidade de detectar quais os pontos de vista das mães relativamente a cada categoria de relações. As 23 categorias, no seu conjunto, abordam a relação dos pais com os seus fi lhos e, também, as atitudes para com o papel familiar.

    Da aplicação de um sistema de análise aos resultados obtidos quanto às 23 categorias referidas, nomeadamente as análises factorial e de conteúdo, resultaram 4 factores, que poderão aqui passar a ser designados por macro-categorias. Três destes factores representam aspectos integrais, ou globais, da relação dos pais com os fi lhos e o quarto a atitude integral para com o papel familiar desempenhado pelo próprio inquirido.

    Por conseguinte, as escalas e sub-escalas, do instrumento PARI (Parent Attitude Research Instrument), na sua globalidade integral, estão direccionadas para traçar o Perfi l dos Estilos Educacionais e das Orientações Educativo-relacionais dos pais no que concerne à educação dos fi lhos, podendo-se detectar maior expressão de umas categoriase menor de outras.

    Daqui resulta a seguinte confi guração semântica e conceptual das categorias e subcategorias:

    I. Estilo educacional correcto ou equilibrado.

    1. Orientação educativo-relacional centrada na estimulação comunicativo-verbal aberta.

    14. Orientação educativo-relacional centrada na paridade de direitos na interacção comunicativa.

    15. Orientação educativo-relacional centrada no dinamismo activo-assertivo.21. Orientação educativo-relacional centrada na comunicação de escuta empática.

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    II. Estilo educacional hiper-protector: concentração emocional e racionalidade compensatória do “Eu”.

    2. Orientação educativo-relacional de dependência inibitória da acção volitiva.4. Orientação educativo-relacional repressora-inibitória da acção emocional.6. Orientação educativo-relacional receoso-insegura inibitória da actividade

    natural.10. Orientação educativo-relacional restritivo-isolacionista da criança às infl uências

    externas à família.11. Orientação educativo-relacional cultivadora do sentimento de adoração dos

    pais por parte da criança.12. Orientação educativo-relacional repressora-proibicionista de experiências

    activas, ou activo-violentas.18. Orientação educativo-relacional repressora-evitacional das experiências

    sexualizadas.20. Orientação educativo-relacional de ingerência nas actividades da criança.22. Orientação educativo-relacional acelerativa da autonomia da criança.III. Estilo educacional hipo-protector: distanciação emocional e racionalidade

    defensora do “Eu”.8. Orientação educativo-relacional rigoroso-severa (distanciação emocional,

    motivada pela racionalidade dos pais).9. Orientação educativo-relacional agressivo-distanciadora, motivada pela

    depressividade dos pais.16. Orientação educativo-relacional de distanciação afectivo-emocional

    comunicativa, motivada pela postura mental racional dos pais.IV. Estilo atitudo-funcional no grupo familiar.3. Orientação atitudo-relacional de preocupatividade centrada na família.5. Orientação atitudo-relacional centrada na sacrifi cação maternal ou paternal.7. Orientação atitudo-relacional centrada na confl itualidade conjugal familiar.13. Orientação atitudo-relacional centrada na renúncia à exclusividade do papel

    de mãe ou de pai.17. Orientação atitudo-relacional centrada na renúncia à indiferença de ser mulher,

    além de mãe, de ser homem, além de pai.19. Orientação atitudo-relacional centrada na dominância ou controlo da actividade

    do lar.23. Orientação atitudo-relacional centrada na falta de colaboração e de tempo de

    recuperação.

    3 EXPOSIÇÃO DOS RESULTADOS

    Os dados representados nas tabelas 2 e 3, que se seguem, reportam-se àcomparabilidade dos estilos e orientações educacionais das mães, de crianças inseridas no escalão etário 7–10 anos, entre o grupo das neuroses e o grupo de controlo, resultantes daaplicação do questionário PARI às respectivas mães. Na primeira coluna das tabelas optou-se por colocar números romanos para referenciar as escalas respeitantes aos estilos educacionais e números árabes para assinalar as escalas das respectivas orientações educacionais adoptadas pelas mães na interacção com os fi lhos (as); sendo que os números inscritos são concordantes com aqueles que

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    se encontram a assinalar a descrição intitulada das escalas na secção dos instrumentos metodológicos. Decisão tomada porque o título das escalas é demasiado extenso para ser colocado numa tabela; daí optar-se, por comodidade e por estética organizativa, pela inserção apenas dos números que representam e identifi cam as escalas.

    Na última coluna das tabelas referente ao nível de signifi cação estatística apenas se inscrevem aqueles valores em que há verdadeiramente diferenciação estatística, incluindo os valores que indiciam tendência relevante. Onde as diferenças não apontam existência de signifi cação estatística colocar-se-á um traço como representativo da ausência.

    Antes de apresentar as tabelas onde estão inscritos os resultados obtidos na comparação entre o contingente de mães de crianças que padecem de perturbações neuróticas e o contingente de mães de crianças saudáveis, por género sexual de pertença das crianças que têm entre 7 e 10 anos de idade, regista-se que nesta investigação as crianças do sexo feminino são metade daquelas do sexo masculino que padeciam de neurose. Em termos estatísticos infere-se que há o dobro de crianças do sexo masculino na faixa etária 7–10 anos a sofrer de perturbações neuróticas comparativamente à quantidade de crianças do sexo feminino da mesma faixa etária e padecendo do mesmo tipo de transtorno. Diferença de incidência que deixará a dúvida se de facto há mesmo mais crianças do sexo masculino a sofrer de perturbações neuróticas do que nas do sexo feminino ou se é apenas a coincidência de ser esta a proporcionalidade daquelas que recorreram aos serviços clínicos para resolver o problema.

    Quadro 2 – Comparação do grupo de mães, cujos fi lhos, do género masculino, sofrem de neurose com o grupo de mães de fi lhos, igualmente do mesmo género, saudáveis; referente a crianças inseridas no escalão etário 7–10 anos

    Grupos

    Escalas

    Grupodas

    Neuroses

    Grupode

    Controlo

    Critério tde

    StudentNível de signifi cância

    estatística

    M M t p <I 16,523 16,233 0,898 -1 16,766 16,446 0,582 -

    14 15,466 15,566 0,180 -15 17,033 16,833 0,355 -21 16,700 16,066 1,181 -II 13,885 13,134 2,438 0,012 11,600 11,133 0,750 -4 14,066 13,533 1,097 -6 15,700 14,333 2,387 0,025

    10 13,933 13,433 0,815 -11 14,799 14,866 0,117 -12 12,500 12,799 0,407 -18 14,966 13,200 3,172 0,002520 15,366 14,233 1,371 0,122 12,433 12,433 0,000 -III 13,070 12,863 0,426 -8 13,133 12,833 0,410 -9 13,133 12,933 0,254 -

    16 12,566 13,000 0,697 -IV 14,045 13,763 0,704 -3 12,866 12,500 0,546 -5 15,200 14,500 1,106 -7 13,366 13,433 0,102 -

    13 12,966 12,666 0,432 -17 13,700 13,399 0,446 -19 14,733 14,266 0,624 -23 14,517 13,827 1,117 -

    Fonte: Elaborado pelo autor.

    Do Quadro 2 verifi ca-se que as mães de crianças do género masculino do escalão etário 7–10 anos, quando se compara o contingente das neuroses com o de controlo, revelam apenas 4 diferenças estatisticamente signifi cativas de 27 possíveis,

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    sendo que 1 delas se apresenta como tendência. Curiosamente todas as diferenças estatisticamente signifi cativas se reportam exclusivamente ao estilo educacional de concentração emocional. No que concerne aos estilos educacional correcto, educacional de distanciação emocional e atitudinal, face aos papéis desempenhados no seio da família, não se detectam diferenças signifi cativas. Dados que parecem apontar para a existência de especifi cidades educacionais que emanam directamente das características de género e da periodização etária responsáveis pelo surgimento e desenvolvimento das perturbações neuróticas na infância.

    As orientações educativo-relacionais das mães das crianças do género masculino padecentes de neurose comparativamente às mães das crianças do mesmo sexo saudáveis apresentam graus mais elevados de receosidade e insegurança inibitória da sua parte, manifestando-se na relação pelo receio de magoar os fi lhos (p

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    13 12,766 14,299 1,191 0,0517 14,700 14,566 0,196 -19 14,633 15,166 0,584 -23 14,633 15,533 1,511 0,1

    Fonte: Elaborado pelo autor.

    No quadro3,referente às mães de crianças do género feminino do escalão etário 7–10 anos, quando se compara o contingente das neuroses com o de controlo, detectam-se 10 diferenças estatisticamente signifi cativas de 27 possíveis, sendo que 5 delas se apresentam como tendência. No que concerne ao estilo educacional correcto a diferença é signifi cante, verifi cando-se em 1 das 4 orientações educativo-relacionais possíveis. Entretanto, no estilo educacional de concentração emocional à tendência à signifi cação estatística e também há diferenças signifi cativas 3 das 9 orientações possíveis. No estilo educacional de distanciação emocional há tendência para a diferenciação estatística, mas nas orientações educativo-relacionais que o constituem há 1 diferença estatisticamente signifi cativa das 3 possíveis. Contudo, no estilo atitudinal face aos papéis desempenhados no seio da família a diferenciação estatística também é de tendência, apresentando apenas em 2 das 7 orientações atitudinais possíveis, signifi cância estatística. Por conseguinte, estes dados também apontam para a existência de especifi cidades educacionais que emanam directamente das características de género e da periodização etária responsáveis pelo surgimento e desenvolvimento das perturbações neuróticas na infância.

    No que reporta ao contingente de mães das crianças do género feminino as características de orientação educativo-relacional são bem diferentes daquelas apresentadas pelas mães das crianças do género masculino.

    As orientações educativo-relacionais do grupo de mães das crianças do género feminino padecentes de neurose, em comparação com as mães das crianças saudáveis, manifestam características mais acentuadas para estimular e acelerar a actividade comunicativo-verbal aberta das suas fi lhas (p

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    4 DISCUSSÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

    Nesta parte do artigo a discussão dos resultados centra-se apenas nas diferenciações estatísticas, cujo nível seja igual ou superior a p

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    as mães das crianças do género feminino neuróticas apresentam na sua orientação educativo-relacional maior tendência para estimularem a comunicação verbal aberta nas suas fi lhas. Contudo, no estilo atitudinal face ao desempenho de funções no seio da família, as mesmas mães têm menor propensão orientacional de atitudes centradas na renúncia ao desempenho exclusivo do papel de mãe.

    Curiosamente, no género masculino, não foram detectadas diferenciações signifi cativas; quer no âmbito do processo educacional, quer no processual ao nível psicossocial do desempenho de papéis no grupo familiar. Dados que apontam, neste escalão etário, para a indiciação de desvios educacionais de cariz sócio-relacional e de funcionamento de papéis no seio do grupo familiar, aquando da formação de neuroses, apenas nas mães de crianças do género feminino. As experiências mostram que não é assim. Talvez, aqui, a elaboração estatística, tivesse contribuído para a anulação ou esbatimento de algumas diferenciações qualitativas respeitantes à orientação educacional. Também é possível que com o avançar dos escalões etários os processos, aos quais é feita alusão neste estudo, venham a tornar-se menos específi cos e fundamentais na infl uência exercida na formação de neuroses infantis. Cabendo assim o papel principal aos processos concernentes à organização funcional interna dos sujeitos e da estrutura educacional adoptada pelas mães (PEREIRA, 2014). Especifi cidades de funcionamento que parecem reportar-se a características psicológicas de natureza motivacional, aquando da orientação educativa e emocional e da orientação de atitudes no desempenho de papéis.

    Então, no plano da organização interna da estrutura educacional adoptada pelas mães de crianças neuróticas, precisamente neste escalão etário 7–10 anos, comparativamente ao escalão 3 – 6 anos, diminuíaa quantidade de diferenciações no género masculino e aumenta no género feminino, sendo a maior expressividade das orientações educativo-relacionais no contingente das neuroses no género masculino e no contingente de controlo no género feminino (ZAKHAROV, 1998; PEREIRA, 2014).

    As mães das crianças neuróticas do género feminino caracterizam-se por serem, nas suas orientações educativo-relacionais, menosrepressoro-proibicionistas de experiências activas e agressivas e tendo menos tendência para a aceleração da autonomia das suas fi lhas. Signifi ca que têm um estilo educacional menos hiper-protector que as mães do grupo de controlo. Da mesma forma que estas mães de crianças neuróticas também revelam menor expressividade da orientação agressivo-distanciadora motivada pela sua própria depressividade. Valores comparativos que poderão indiciar que as mães referidas se concentram, no plano afectivo-emocional, insufi cientemente nas suas fi lhas, deixando que nelas irrompam sentimentos de insegurança, de falta de protecção emocional e, principalmente, de orientação e suporte no processo de tomada de decisão acerca dos acontecimentos diários da vida (SENTSE; LAIRD, 2010; LUEBBE et al., 2010). Factores que habitualmente geram nas crianças ansiedade e até, porventura, sentimentos de angústia; que por seu turno propiciam o descontrolo e a desregulação funcionais do sistema intrapsiquico, aquando do processo de interacção e comunicação com os diversos obstáculos que vão surgindo no dia-a-dia (PETTIT et al., 2011).

    Fenómenos e orientações educativo-relacionais ligados aos vectores motivaciono-volitivo e emociono-motivacional do sistema funcional do psiquismo. E consequentemente aos subsistemas da personalidade/individualidade: temperamento e orientação motivacional de valores (PEREIRA, 2014).

    Nas crianças, os impulsos temperamentais para a acção, no que concerne ao processo de desenvolvimento normal, deverão, educacionalmente, ser orientados e dirigidos pelos adultos; essencialmente pelos pais. Processo de orientação, que além de fornecer à criança a experimentação interior de sentimentos de segurança, de protecção e de tomada de consciência de estar no caminho certo, porque guiada pelos adultos em quem confi a, também, progressivamente, forma, desenvolve e educa o sistema de valores de orientação da personalidade. No caso concreto desta investigação é

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    provável que as mães tenham um estilo e uma orientação educacional mais voltada para a distanciação emocional na relação com as suas fi lhas. Daí que não haja lugar a condutas de contornos mais activos e, consequentemente, de desgaste no controlo e orientação dos comportamentos das crianças nas mais variadas situações. Portanto, são tendências educacionais que não favorecem a formação e desenvolvimento adequados dos subsistemas de orientação, controlo e regulação da personalidade das crianças, deixando-as à mercê das erupções emociono-temperamentais em que na sua estrutura afectiva residirá o sentimento de receio, ou até medo, acerca das suas condutas situacionais, devido ao défi ce de orientação e direcção, por parte das mães, no plano educacional.

    Por outro lado, as mães das crianças do género masculino, as quais padecem de neurose, caracterizam-se pelo domínio das orientações educativo-relacionais receoso-insegura, inibitória das actividades naturais das crianças, e repressoro-evitacional das experiências de cariz sexualizado. Orientações determinantes na estruturação e organização funcional do estilo educacional hiper-protector, expressiva e signifi cativamente presente no contingente das neuroses.

    Na perspectiva sistémico-integrativa da funcionalidade psíquica avançada por F. Oliveira Pereira (2014) estas orientações educativo-relacionais surgem ligadas ao eixo vectorial emociono-cognitivo versus cognitivo-emocional e reportando-se ao subsistema capacidades, ou aptidões, da personalidade/individualidade.

    Por conseguinte, as mães destas crianças do género masculino padecentes de neurose, no período etário 7–10 anos, adoptando o estilo educacional hiper-proteccionista dos seus fi lhos, baseado no seu próprio receio e insegurança, ora reprimindo, ora evitando, experiências e actividades que, pela sua essência, fomentam a autonomia e a independência de execução e de realização, por parte das crianças, acabam por inibir e atrasar a formação e, consequentemente, o desenvolvimento de competências emocionais e cognitivas responsáveis pelo auto-controlo e auto-regulação dos seus comportamentos e acções.

    Determinantes da actividade funcional que inicialmente começam por ser de natureza afectivo-emocional, indo progressivamente assumindo contornos cognitivos na condução do processo. Então, com o desenrolar adequado, no tempo, a estruturação dirigente da actividade tem, cada vez mais, o domínio vectorial cognitivo-emocional (PEREIRA, 2014). Masquando está presente a perturbação disfuncional de carácter neurótico as competências, ou aptidões, não foram adquiridas e em consequência disso também as capacidades como subsistema da personalidade fi caram aquém nas suas possibilidades de desempenhar funções para conduzir o processo de realização de actividades e comportamentos adequadamente. Daí que estas crianças se sintam inseguras perante novas situações, fi cando demasiado dependentes da acção protectora dos pais como educadores e orientadores. Sendo que em situações quando fi cam entregues a si próprios os sentimentos de insegurança e de défi ce de capacidade interiores para gerir os seus actos desencadeiam níveis de ansiedade signifi cativos, os quais começam por despertar estados emocionais reactivos e na continuação da repetitividade das condições assume alguma cronicidade, vindo progressivamente a estruturar modos específi cos de reacção neurótica.

    5 CONCLUSÃO

    No escalão etário 7–10 anos existem diferenças de estilo e de orientação educacional das mães no processo de interacção com os fi lhos (as) que padecem de perturbação neurótica comparativamente às mães de crianças saudáveis.

    O género de pertença sexual da criança tem infl uência nos estilos e nas orientações educacionais, implementados pelas mães na interacção com os fi lhos (as) do escalão etário 7–10 anos.

  • 241Cad. Pesq., São Luís, v. 26, n. 1, p. 225-245, jan./mar., 2019.

    A especifi cidade dos estilos e das orientações educacionais que as mães adoptam no processo de interacção com os fi lhos (as) do escalão etário 7–10 anos, surge da representação que as mães têm das características do desenvolvimento psicológico das crianças no período etário correspondente e da representação sócio-culturo-psicológica identitária dos géneros masculino e feminino.

    Nas mães de crianças que sofrem de perturbações neuróticas no escalão etário 7–10 anos os desvios nos estilos educacionais e nas orientações educativo-relacionais, comparativamente ao que acontece nas mães de crianças saudáveis, são em maior quantidade no género feminino do que no género masculino. No género masculino os desvios educacionais são por excesso e no género feminino são por défi ce, quando as crianças padecem de perturbação neurótica.

    Infere-se a probabilidade de as mães terem tendência para projectarem psicologicamente os confl itos de natureza conjugal nas crianças do género masculino por identifi carem os fi lhos com os pais e a identifi carem as fi lhas consigo próprias. A menor concentração educacional das mães nas fi lhas neuróticas que nas saudáveis, por um lado, amortecem os efeitos nefastos derivados dos excessos, mas, por outro lado, acentuam ou agravam devido ao défi ce de atenção dispensada, cuja causa é a sua própria indisponibilidade psicológica para a interacção empática com as fi lhas, sendo motivada pelo estado emocional interior com contornos de depressividade e irritabilidade.

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