Clipping MD Revistas 100515

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09 de maio de 2015

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Clipping MD Revistas 100515

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  • 09 de maio de 2015

  • ndice

    Destaques do Dia, Poltica e EconomiaRevista VejaBalana, mas avana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    12ECONOMIA

    Lula sabia do mensalo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

    BRASIL

    Revista pocaUm partido, duas caras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    15DEBATES E PROVOCAES

    Quando o hospital vai a floresta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

    FRONTEIRAS DA MEDICINA

    Revista IstoO retrato da crise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    21ECONOMIA | LUISA PURCHIO

    A dengue dominou o Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

    SADE | FABOLA PEREZ E LUDMILLA AMARAL

    Revista Carta CapitalCunha e o caos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    27REPORTAGEM DE CAPA | ANDR BARROCAL

    Revista Isto DinheiroMudana de humor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    34CAPA | CLUDIO GRADILONE | MRCIO KROEHN | GABRIEL BALDOCCHI

    Notcias InternacionaisRevista VejaSangue entre tirania . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    43ESPECIAL

  • Pegos na ideologia do trfico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

    INTERNACIONAL

    ColunasRevista pocaSua opinio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    51SUA OPINIO

    Revista IstoBrasil Confidencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    52BRASIL CONFIDENCIAL

    Ricardo Boechat . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

    RICARDO BOECHAT | RICARDO BOECHAT

    Revista Isto DinheiroDinheiro na semana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    63DINHEIRO NA SEMANA

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    09 de maio de 2015 Editoria: Economia

    Destaques do Dia, Poltica e Economia

    Tiragem: 370,308Pgina: 068

    Balana, mas avana

    Apesar das reaes, o plano de ajustes ganha apoio no Congresso, reduzindo as incertezas sobre ofuturo do pas

    MARCELO SAKATE

    A jornada brasileira em direo a condies mais favorveis ao crescimento ser longa e tortuosa.Um passo primordial resgatar o equilbrio nas contas do governo, uma misso que requer um ar-rocho dasdespesas, algo que, indevidamente, tem sido apontadocomoa causa daquedanoPIB. Osmales, entretanto, tiveram incio bem antes de o plano de ajuste oramentrio do ministro da Fa-zenda,JoaquimLevy, tersidoesboado.De2012 a 2014,Dilma Rousseffdeixoua estabilidade fiscale monetriaem segundoplano, despejou dinheiro pbliconaeconomiasem parcimnia e colheuco-mo resultado uma expanso mdia de 2,1% ao ano em seu primeiro mandato. Em 2014, o de-sempenho foi aindapior,o PIB ficouestagnado,e os efeitosnegativossobre o mercado detrabalhoea renda agora se disseminampelos maisdiversos setores. Noprimeirotrimestre,a taxa mdia dede-sempregonacional foi de7,9%, acimados7,2%registradosnomesmoperodo de2014.Ouseja,no de hoje que o RECADO Sem pas est preso na armadilha do baixo crescimento.

    Na semana passada, um passo importante para sanear as finanas pblicas foi dado com a apro-vao naCmara dasnovas regras - menos permissivaspara a concessodoseguro-desempregoedo abono salarial. A exigncia do tempo de trabalho prvio em uma empresa para ter direito ao se-guro vai subir deseispara doze meses. A estratgia incluialterar as regras debenefcios sociais, co-mo as pensespormorte, e reduzir o alvio tributrio na folha depagamentos dasempresas, alm deaumentar a alquota dealgunsimpostos. Inicialmente,o governoplanejavaeconomizar18bilhesdereais j em 2015 apenas com as mudanas nos benefcios, mas teve de ceder presso de par-lamentares e sindicatos para conseguir faz-las passar.

    OPTajudounatarefa decomplicara obtenodeapoiocom seuprogramaeleitoral naTVnavsperada votao. O partido se apresentou como defensor dos direitos dos trabalhadores e quis imputar aculpa pelas mudanas aos deputados, o que causou revolta na base aliada, em particular no PMDB.Aaprovaose deuem votaoapertada, e o projeto agora vaiaoSenado. Ocorte dedespesascomessasnovasnormasdeveser de7,7 bilhesnesteano (as regrasestabelecidasparao abonosalarials devem entrar em vigor em 2016), o que significa que o governo ter de sacrificar ainda mais os in-vestimentos.

    O ministro Levy saudou os deputados pela aprovao da medida sobre o seguro-desemprego, mas

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    lembrouque hmuitoa ser feito. "Ao reencontrarmos o caminhodoequilbrio fiscal, serpossvel co-mear a construir uma agenda que v alm do ajuste e que nos ponha de volta no rumo do cres-cimento e do aumento do emprego", disse. A notcia positiva na Cmara se soma a outras quedissipam as nuvens mais pesadas sobre a economia: foram descartadas as ameaas de re-baixamento da nota de crdito do pas pelas agncias de classificao de risco e de a Petrobras serobrigada a pagar deforma antecipada a suadvidaporcausadoatrasonobalano.Navidarealdaati-vidade econmica, no entanto, as notcias permanecem desanimadoras. A alta nos preos custa aceder: de janeiro a abril, a inflao acumulada atingiu 4,56%, ou seja, em apenas quatro meses su-perou a meta oficial para todo o ano. a maior taxa para o perodo desde 2003. O Banco Centralindicouqueaumentarnovamenteos juros.E,assim, os brasileiros vopagando a contadeixadaporDilma para ela mesma em seu primeiro mandato.

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    09 de maio de 2015 Editoria: Brasil

    Destaques do Dia, Poltica e Economia

    Tiragem: 370,308Pgina: 066

    Lula sabia do mensalo

    E quem diz isso no so seus adversrios, mas um velho amigo, o dolo da esquerda la-tino-americana Pepe Mujica

    ex-presidente Lula no apenas tinha conhecimento da existncia do mensalo como consideravaqueo esquemaera"o nico meiodegovernaro Brasil"A revelao doex-presidente doUruguai Jo-s "Pepe" Mujica - dolo da esquerda latino-americana, ex-guerrilheiro tupamaro e velho amigo deLula. Ele fez a declarao durante uma das entrevistas que deu aos jornalistas Andrs Danza e Er-nesto Tulbovitz para o livro Una Oveja Negra al Poder, lanado h duas semanas. Lula sempre ne-gou que soubesse do mensalo.

    Num dos trechos da obra. os autores explicam o significado de mensalo ("compra de votos, um dosmecanismos mais velhos da poltica") e registram que "at Jos Dirceu, um dos principais as-sessores de Lula. acabou sendo processado pelo caso". Em seguida, reproduzem o relato que Mu-jica fez de um encontro com o petista em que o assunto foi discutido. A reunio, que tambm contoucom a presena do ex-vice-presidente uruguaio Danilo Astori, aconteceu em Braslia no incio de2010. O trecho: '"Lula no um corrupto como Collor de Mello e outros ex-presidentes brasileiros',disse-nos Mujica, ao falar do caso. Ele contou que Lula viveu todo esse episdio com angstia e umpouco de culpa. 'Neste mundo, tive de lidar com muitas coisas imorais, chantagens', disse Lula, af-lito, a Mujica e Astori. semanas antesdeeles assumirem o governodoUruguai. 'Essa eraa nica for-ma de governar o Brasil', justificou-se. Os dois tinham ido visit-lo em Braslia, e Lula sentiunecessidade de esclarecer a situao". A obra teve o aval de Mujica, que participou do seu lan-amento em Buenos Aires.

    Pelo que ela relata. Lula confidenciou ao amigo uruguaio o que sempre negou aos brasileiros. Em2005,quandoo escndalo veio tona, o petistaafirmou tersido "trado porprticas inaceitveis",dasquais nunca teve conhecimento.Como decorrer dosanos,passou no s a negar que soubessedoscrimes como tambmque eles tivessemexistido. Oprimeiroa sustentarque Lula sabia domensalofoi o ex-presidente do PTB Roberto Jefferson. O ex-governador de Gois Marconi Perillo, do PSDB,tambm disse ter informado o ex-presidente a respeito do esquema. Uma reportagem de VEJA em2005,queouviu 29polticose assessores. identificoucincoocasiesem queLula foi alertadosobreaexistncia do mensalo.

    Diante dasevidncias, a reao dopetista foi sempre a mesma: atacaro mensageiro e reafirmar queno sabia de nada. S que agora o amigo Mujica o desmente.

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    09 de maio de 2015 Editoria: Debates e provocaes

    Destaques do Dia, Poltica e Economia

    Tiragem: 452,793Pgina: 048

    Um partido, duas caras

    J faz algum tempo que o PT prega uma coisa e faz outra. Agora, esse procedimento comea a ra-char o partido - e o eleitor, que no v honestidade no semblante dos petistas, bate panelas

    Alberto Bombig

    Est nos sambas populares. "Eu no vejo honestidade em teu semblante, falsidade, isso sim, eu vibastante..."cantao grandeMonarco daPortelaem suaobra-prima"Leno". Estnaalta literatura.Noromance de Robert Louis Stevenson, O mdico e o monstro , o malfico Mr. Hyde disputa a alma deum homem com o bondoso Dr. Jekyll. Agora, o princpio das duas caras chegou poltica brasileira.Nunca antes neste pas - e nunca antes como na semana passada - ficou to claro que o Partido dosTrabalhadores se divide entre um lado "mdico" e um lado "monstro".

    Em seu programa de televiso exibido na tera-feira, o PT prometeu expulsar filiados envolvidos emescndalos de corrupo - mesmo mantendo entre seus quadros Jos Dirceu e Joo Paulo Cunha,condenados no mensalo. Em palanque, polticos petistas reafirmam suas defesas de velhos di-reitos trabalhistas - direitos que os mesmospolticos petistas, comprometidos com o ajuste fiscal, sededicaram a revogar em plenrio, na semana passada. Afinal, qual PT conta? O PT mdico ou o PTmonstro? O eleitor fica confuso - e rejeita o partido nas pesquisas. Apenas 13% dos brasileiros con-sideram o PT o melhor partido, menor ndice da histria, segundo pesquisa recente do Instituto Da-tafolha. "Se o teu amor fosse um amor de verdade, eu no queria, e nem podia, ter maior felicidade",diz o amante trado do samba de Monarco. O eleitor do PT se sente como na cano "Leno" e podecobrar a conta nas eleies - "Segura o pranto, diz adeus e vai embora".

    As duas caras do PT no so propriamente uma novidade. Durante o governo Fernando HenriqueCardoso, o partido fez uma oposio ferrenha a vrias propostas tucanas - como a da Reforma Pre-videnciria, por exemplo.

    Ao chegar ao poder, em 2003, o PT enviou ao Congresso uma proposta de Reforma Previdenciriaquase idntica que torpedeara meses antes. " Faz parte da luta poltica", disse o deputado JooPaulo Cunha na ocasio. Em nome da "luta poltica", por vrias vezes as duas caras petistas con-fundiram o eleitor ao longo do governo Lula.

    O truque chegou ao pice na era dilmista. Dima Rousseff passou a campanha eleitoral inteira cri-ticando o suposto ajuste fiscal que seuoponente,Acio Neves, fariaquando chegasseaopoder. Dil-ma chegou ao poder - e props um ajuste fiscal muito parecido com o que, supe-se, Acio faria.

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    Chegoua nomear para o MinistriodaFazenda um doseconomistasdaequipedeAcio,JoaquimIx-vy. Fazer um ajuste fiscal para corrigir os erros da poltica econmica do primeiro mandato eranecessrio - e Dilma merece elogios porencampara estratgia noincio dosegundomandato.Mas acandidata precisava ter enganado o eleitor ao longo da campanha eleitoral?

    A novidade sobre a poltica das duas caras que ela, agora, est provocando um racha real no par-tido. Deum lado est o governodapresidente Dilma Rousseff - que sabe que precisa tomar medidasimpopularespara salvar o pas. Deoutro lado est o populismo deLula e sua turma, os que no que-rem se contaminar com a baixa popularidade do governo e da presidente (cabe ao leitor escolherqual dosdois o "PT mdico" e qual o"PTmonstro"). Isso ficouclaro noCongresso nasemana pas-sada. Vrios deputados do PT se recusavam a votar o ajuste fiscal inevitvel - que inclua medidasquedificultavamo acessoa antigos direitos trabalhistase,nojargodossindicalistas,provocaria "ar-rocho". Acabaram "enquadrados" pelo PMDB de Eduardo Cunha, que no quis ficar sozinho com onus da impopularidade. No final, os petistas votaram medidas que julgam ser "contra os tra-balhadores" (o que no verdade, pois, se o pas quebrar sem o ajuste, todos - inclusive os tra-balhadores - pagaro a conta). Choveram cdulas de dlares com as efgies de Lula, Dilma e dotesoureiro Joo Vaccari. As notas foram confeccionadas por lderes da Fora Sindical, central tra-balhista que se ope ao PT. Que tambm distribuiu cartazes com os dizeres: "Dilma, no mexa nosnossos direitos".

    "O PT se viabilizou como opo poltica no governo Fernando Henrique Cardoso por se dizer contrapolticas 'neoliberais' e a favor dos trabalhadores. Agora, o partido est sendo obrigado a abraaruma causa que nunca foi dele, pelo menos no no discurso", diz o cientista poltico Rubens Fi-gueiredo.AaprovaodaMPdoajuste fiscals foi possvelcom os votos departedaoposio,dede-putados do DEM e do PSB. Os lderes desses dois partidos justificaram o apoio afirmando que oBrasil iria quebrar sem as medidas - o que verdade. Um lder histrico do partido, muito prximo aoex-presidente Lula, disse a POCA que o PT quer a mesma coisa que Dilma: sobreviver crise. Po-rm,eleafirmaquea cadadiacomeaa ficar evidentequeo PTter desobreviver"apesardeDilma" -a reprovao ao governo est em 60%, conforme a mais recente pesquisa Datafolha.

    Do lado de Dilma e de seu grupo de assessores palacianos, todos esto um pote at aqui de mgoa.Dilma est maisprxima dacorrenteMensagemaoPartido,quemantmposturacrticaem relaodireo do PT. Esse grupo defendia o afastamento de Joo Vaccari da tesouraria do partido. Comoessaprovidnciano foi tomada,a priso deVaccari,em abril, ampliou aindamaiso desgaste deDil-ma com o petrolo, o esquemadecorruponaPetrobras.Vaccari ruem dois processos daOpe-

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    rao Lava Jato.

    Oestopim da revolta dos lderes partidrios dabase aliada foi a seguinte faladeLula naTV: "No po-demos permitir que a histria ande para trs, e isso que vai acontecer se for aprovado o Projeto deLei 4.330, o projeto da terceirizao, que passou pela Cmara dos Deputados. Esse projeto faz oBrasil voltar ao sculo passado". A Cmara dos Deputados aprovou no dia 8 de abril o texto que re-gulamenta contratosde terceirizao nomercado de trabalho- com os votos daaliana que sustentao governo. Agora,o projeto serencaminhado diretamentepara votao noSenado. Imediatamenteaps a faladeLula, Cunhasuspendeu a votao daMP doajuste fiscale liderou a aprovao daPECdaBengala - que tira deDilma a chance denomear maisministros doSupremo impondo umaderrotaao PT e ao governo.

    A estratgia das duas caras tem um objetivo claro. Evitar que Lula, possvel candidato nas eleiesde2018, se contaminecom o alto ndice de impopularidade dogovernoDilma. Para isso, Lula tem depagar de oposicionista. Durante as comemoraes do Dia do Trabalho, Lula fez algo que no faziadesde que era presidente: compareceu a um ato organizado pela Central nica dos Trabalhadores,a CUT. Discursou como se fosse um lder da oposio. Ao fundo do palanque, lia-se um cartaz comos dizeres: "Abaixo o planoLevy" (leiaao lado). Lula fezo mesmonoprogramadetelevisodoPT. Ofeitio caiu em cheio sobre o chapu pontudo do feiticeiro - e o sapo barbudo desta vez no se trans-formou em prncipe encantado. As panelas vieram tambm de redutos petistas (leia o Personagemda Semana,na pgina 15)e abafaram as palavrasdeLula com o barulho habitual.Em meio aospla-plapla e doindoindoin,a voz dograndeMonarco ecoa nacabea doeleitor: "Eu no vejo honestidadeem teu semblante, falsidade, isso sim, eu vi bastante..."

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    09 de maio de 2015 Editoria: Fronteiras da medicina

    Destaques do Dia, Poltica e Economia

    Tiragem: 452,793Pgina: 090

    Quando o hospital vai a floresta

    No interior da Amaznia, uma trupe de dentistas, mdicos e enfermeiros faz cirurgias em ndios que,muitas vezes, nunca estiveram diante de um profissional de sade

    Rogrio Cassimiro (fotos) e Aline Ribeiro (texto), de Tef, no Amazonas

    Sobumatenda delona impermevel, mdicos trajandomscaras e toucasdecabelose alternam en-trebisturise nacosdegazecom sangue. Osom agudodomonitor cardaco amenizado pela msicade um smartphone, que ora toca rock, ora jazz, numa tentativa, em vo, de agradar a gostos va-riados. To fria quanto o clima siberiano doar-condicionado, a iluminao reproduzas condies deum centro cirrgico urbano. Os olhares da sala convergem para uma maca onde repousa Jailton deOliveira,de50anos,um ndiodatribocataubd.Enquantoo mdico abresuabarrigaparaa retirada deuma hrnia, o paciente permanece imvel, embora no esteja desacordado. Sua expresso tam-pouco se altera.Jailton nodpistasdoqueest pensando diante deumasituao to indita. Dola-dodefora,a poucos metros dali, o RioSolimescorremajestoso,emolduradoporumadensa faixadeFloresta Amaznica.

    Desde 2004,umatrupedeforasteiros desperta tal estranhezaporaldeias doNortedoBrasil.Som-dicos, enfermeiros e dentistas, todos voluntrios na organizao Expedicionrios da Sade (EDS),sediada em Campinas, no interior de So Paulo. a nica ONG do pas que leva s reas indgenasdistantes um centro cirrgico com equipamentos dignos de hospitais particulares de So Paulo. Ochoque to maior quanto mais isolada for a reserva. "Aqui somos como aliengenas", afirma o or-topedista paulista Ricardo Affonso Ferreira, um dos criadores da EDS. "Fazemos nosso trabalho evamos embora sem deixar rastro." Esses profissionais praticam a medicina em condies de-safiadoras, entram em contato com doenas que s conhecem dos livros.

    Ferreira teve a ideia de levar um centro cirrgico aldeia durante uma trilha de volta do Pico da Ne-blina, em 2002. Ele retornava deumarea ianommi com um primo,o mdico anestesista MartinAf-fonso Ferreira. Impressionados com o que haviam visto, compartilharam a sensao de quepoderam suavizar a precariedade daqueles povos. Foram dois anos at a ideia amadurecer e re-sultar na primeira misso na regio da Cabea do Cachorro, no norte do Amazonas. Comeoupequena, com seis tripulantes e 100 quilos de materiais distribudos em sete caixas. Uma nica voa-deira, um barquinho a motor comum por ali, dera conta de toda a parafernlia.

    Hoje, cada viagem do grupo uma operao de guerra. Para erguer o acampamento da ltima mis-so, no Amazonas, cerca de 15 toneladas - entre estrutura das tendas e mantimentos - desceram o

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    Rio Solimes, numa balsa do Exrcito, at um vilarejo prximo a Tef. Cinquenta e oito voluntriostrabalharam,e umamdia de500pessoas pordiacirculoupelas tendas,entrepacientese familiares.Barcos, nibus e avies da Fora Area Brasileira fizeram o transporte de ndios que chegavam deat 1.000 quilmetros de distncia.

    Ao lidar com culturas to distintas, a ateno aos detalhes crucial. Se um paciente no fala por-tugus, os organizadores se certificam de que um tradutor indgena acompanhe as consultas e a ci-rurgia. Quando escolhem uma aldeia para receber a misso, ficam atentos s rixas entre as etniasatendidas. Outra preocupao desfazer boatos amaznicos. Certa vez, numa aldeia caiap, es-palhou-se o temor deque os mdicos substituiram os olhos dosndios pelos doboi.Muitosdeixaramde ir.

    Devido falta de acompanhamento do ps-operatrio, as cirurgias so relativamente simples: prin-cipalmentea retirada dehrniase a correo decataratas. Embora triviais, tmum enorme potencialde transformao. Sem a hrnia, os ndios voltam roa e conseguem carregar sacos de farinha.Coma viso recuperada, passam a enxergaro peixe denovo,a levar comida para casa. Maisdoquesua funo social, resgatam a dignidade.

    Os jornalistas viajaram a convite da Pfizer

    --

    MARTIN FERREIRA

    60 anos

    Anestesista, um dos criadores da ONG

    quem decide se um paciente de risco ser operado ou perder a oportunidade

    EDSON CALDAS

    67 anos

    Pioneiro, o outro criador da ONG

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    Um dos mais antigos da trupe, chega antes na aldeia para erguer a infraestrutura do acampamento

    RICARDO FERREIRA

    67 anos

    Ortopedista, o criador da ONG

    De olho no futuro, est testando uma nova tenda mdica inflvel o cubo mgico - para facilitar a lo-gstica

    FABIO PAGANINI

    42 anos

    Voluntrio, est na dcima misso

    Naaldeia,o cirurgio alcanao equilbrio espiritual.Nodia dafoto,comemoravao aniversrio beirado Rio Solimes

    MARCIA ABDALA

    57 anos

    Prefeita do grupo, cuida da logstica

    Sempre com um rdio na cintura, resolve problemas que vo da falta de um remdio ao conserto datenda

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    09 de maio de 2015 Editoria: Economia

    Destaques do Dia, Poltica e Economia

    Tiragem: 396,856Pgina: 58

    O retrato da crise

    Smbolo da indstria automobilstica do Pas, a regio do ABC, em So Paulo, o espelho dos equ-vocosdapoltica econmica dogovernoDilma, que resultaram em demissesem massae cortes deinvestimentos

    Luisa Purchio

    A regio do ABC, bloco da Grande So Paulo formado por sete municpios (os principais so SantoAndr, So Bernardo do Campo e So Caetano do Sul) teve um papel vital no desenvolvimento eco-nmico do Brasil. Desde que a Volkswagen se instalou em So Bernardo, no final da dcada de 50,muitas outras empresas foram atradas para o lugar, inclusive montadoras concorrentes da prpriaVolks. Com o passar dos anos, o ABC se tornou um dos principais polos automobilsticos das Am-ricas, produzindomilhesdecarrose gerando riquezapara o Pas.Deuns tempospara c, o vigor lo-cal foi substitudo pelo desnimo. Na segunda-feira 4, a Volks anunciou que 8 mil trabalhadores dafbrica de So Bernardo entraro em frias coletivas. No mesmo dia e na mesma cidade, a GeneralMotors decidiu conceder licena, por tempo indeterminado,a 420 empregados. Osproblemas se re-petemem diversas outrasempresas e s se diferenciam nasmedidasadotadas: algumaspreferiramdemitir, outras optaram pelo afastamento dos funcionrios. Nos ltimos 12 meses, o setor me-talmecnico (que compreende metalrgicas,montadoras, fabricantes deautopease componenteseletrnicos) do ABC cortou 37 mil postos de trabalho, o pior resultado em muitos anos. Smbolo m-ximo da indstria automobilstica nacional, o ABC agora o retrato acabado da crise brasileira.

    Na tera-feira 5, Jaime Ardila, presidente da General Motors para a Amrica do Sul, deu uma de-claraoque dimensionao problema.Segundo Ardila, a criseatual pior doque a de2008, quando omercado internacional sofreu um recuo sem precedente. "Hoje est mais difcil arrumar a situao",afirmou. O cenrio temeroso. Nos primeiros quatro meses do ano, o nmero de licenciamentos deveculoscaiucercade20%nacomparaocom o mesmoperodo doanopassado-- a piormargemem 8 anos. At agora, por falta de vendas, 250 concessionrias fecharam as portas no Pas inteiro,mas at o final do ano esse nmero pode chegar a 800 se o mercador continuar parado do jeito queest. "A baixa confiana do consumidor uma das principais razes para o que vivemos", diz LuizMoan Yabiku Junior, presidente da Associao Nacional dos Fabricantes de Veculos Automotores(Anfavea). De acordo com o balano divulgado na quinta-feira 7 pela entidade, 4,6 mil funcionriosperderamseuspostosde trabalhonoprimeiroquadrimestre de2015, nmero que,segundo todasasprojees, tende a aumentar. As montadoras argumentam que as medidas anunciadas na semanapassada, como licenas e frias coletivas, so essenciais para evitar atrasos nos salrios e novoscortes.

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    Os problemas enfrentados pelas indstrias do ABC so emblemticos. Foi l que o Partido dos Tra-balhadores comeou a ser forjado, no movimento sindical liderado por Luiz Incio Lula da Silva, queanos depois se tornaria presidente. Sob Lula, os empregados das fbricas se organizaram e con-triburam de forma significativa para a redemocratizao do Pas. Em 1979, uma greve histrica li-derada por Lula em So Bernardo do Campo mobilizou 170 mil trabalhadores, numa rarademonstrao da fora popular que comeou a incomodar uma ditadura agonizante. A ironia que,agora, as dificuldades que ceifam empregos e investimentos no ABC foram criadas pelo prprio PT,em decorrncia das polticas econmicas equivocadas da presidente Dilma Rousseff.

    Ainda maiscurioso o fatodeas centraissindicais instaladasnolocal serem, 35anosdepoisdasgre-ves, contrrias s decises tomadas pela equipe econmica do governo de Dilma Rousseff, su-cessora e apadrinhada deLula. "Somos cticoss medidasdereajuste fiscal", disse ISTO RafaelMarques, presidente doSindicatodosMetalrgicos doABC e que filiadoaoPTdesde 1985. "A pre-sidente no poderia iniciar seu segundo mandato tirando direitos dos trabalhadores." Entre asmedidas est o aumento do perodo de carncia para quem pede seguro desemprego e a exignciade maior tempo de trabalho para receber abono salarial. "Os reajustes so uma pancada no tra-balhador, que est sofrendo ao ter que pagar os aumentos na conta de energia eltrica e de gua",diz Marques.

    Os erros da poltica econmica do primeiro mandato do governo Dilma esto sendo sentidos em di-versos setores da economia. Na quarta-feira 6, o IBGE divulgou queda de 3,5% na produo in-dustrial em maro em relao ao mesmo ms do ano passado. Foi o 13 resultado negativoconsecutivo. Apesar daenxurrada de indicadores ruins,as montadorasacreditam que possvel re-cuperar lentamenteo ritmo dasvendas jnofinal de2015. Para isso, contamcom as novas diretrizesdo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. "Melhorar a situao fiscal e manter o pagamento dos jurosda dvida pblica so formas de retomar a credibilidade do Pas frente ao setor privado", diz o eco-nomista Volney Aparecido Gouva, professor da Universidade de So Caetano do Sul, no ABC. "importante tambm acelerar os programas de concesso de infraestrutura, que incentivam in-vestimentos empresariais", diz ele. O setor de veculos estima que, em 2015, a queda na venda decarros ser de 18% em relao a 2014. No mercado de caminhes a projeo ainda mais pes-simista, dereduode41%.Andr Beer, consultor para a indstriaautomobilstica que trabalhou du-rante 48 anos na General Motors, espera uma contrao ainda maior. " um milagre a indstriaregistrar queda nas vendas de 20%", diz ele. "Era para ser muito maior. Precisamos de medidas queincentivema indstriadeautomveis, comoreduodeimpostose docusto docrdito." Por ora, tudoindicaque as montadorasdoABC -- e todasas outras instaladas Brasil afora -- continuaro com o p

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    no freio.

    Fotos: MRCIO FERNANDES/AE; Wesley Passos/Sigmapress, Eduardo Knapp/Folhapress; Da-niel Sobral/Futura Press

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    09 de maio de 2015 Editoria: Sade

    Destaques do Dia, Poltica e Economia

    Tiragem: 396,856Pgina: 54

    A dengue dominou o Brasil

    O Pas vive mais uma vez uma vergonhosa epidemia da doena. Do incio do ano at a metade deabril, 746 mil pessoas foram infectadas e um brasileiro morreu a cada onze horas vtima da en-fermidade. Por que chegamos a este ponto?

    Fabola Perez e Ludmilla Amaral

    O pas vive mais uma vez uma epidemia da doena. A reprter Ludmilla Amaral traz mais in-formaes.

    O empresrio Frederico Leito, 34 anos, de So Paulo, no sabe se voltar a enxergar totalmentecom seu olho esquerdo. Sua capacidade de viso foi afetada depois que ele se tornou mais um bra-sileiro infectado pelo vrus da dengue. O vrus causou uma neurite ptica (inflamao do nervo p-tico), doena que chegou a tirar-lhe 90% da viso. Hoje, recuperou 70% dela, mas teme no t-lacompletamente restaurada. O drama do empresrio, dono de uma grfica, comeou no final de mar-o, quando surgiram os primeiros sintomas da doena. A febre, as dores no corpo e nos olhos forama senha para um inferno que j dura mais de um ms. Primeiro, foi a preocupao com o trabalho."Nopodiarepousarpormaisdedoisdiasporqueteriaprejuzo",conta. Depois, a dornoolho quenopassava e a perda quase total da viso. "Fiquei apavorado", lembra. Aps ser atendido por dois of-talmologistas, um neuro-oftalmologista e, finalmente, por um neurologista, ele ficou nove dias in-ternado. Agora, continuar o tratamento.

    Registrar a histria de Frederico fundamental. Assim como as de Las Garcia, 25 anos, e a de seupai,Henrique GarciaJnior, 54anos,e a deSheilaStorel, 38anos, relatadasnesta reportagem. Elesestoentreos 746 mil brasileiros que tiveramdengue de janeiro at meados deabril, mas quando osnmeros atingem um patamar assim to dramtico, corre-se o risco de passar-se a enxergar a si-tuao somente comoum fenmeno incmodo desade pblica.Perde-se devista o fato deque ca-da uma dessas 746 mil pessoas teve sua vida transtornada por causa da doena -- e isso, essadimenso individual,no pode ser pulverizadaem estatsticas.Alguns mais, outrosmenos, todos fo-ram obrigados a se deparar com um sistema de atendimento que no d conta de prestar auxlio atanta gente, perderam dias de trabalho, de estudo, de descanso. Sem falar nos 229 cidados quemorreram at agora em uma epidemia que deveria ter sido evitada.

    Hoje, o Brasil um pas acuado pela enfermidade. Em So Paulo, h 401 mil casos. A ameaa dadoena tornou-se assunto recorrente e sua preveno, em muitos casos objeto de obsesso. O em-presrio Victor Stockunas, 59 anos, preside o condomnio onde mora, em Alphaville, regio me-

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    tropolitana de So Paulo. Colocou na portaria uma placa com os dizeres 'Agora guerra . Tambmdeterminou que os seguranas visitem as casas para saber se as medidas de preveno esto sen-do seguidas para evitar o surgimento de criadouros do Aedes aegypti, o mosquito transmissor dovrus responsvel pela doena. "Cada um deve fazer a sua parte", prega.

    A venda de repelentes explodiu. O laboratrio Osler, fabricante do repelente Exposis, aumentou emonze vezessuacapacidadedeproduopara atender as farmcias.Dejaneiro a abril de2014, foramproduzidos 100 mil frascos do produto. No mesmo perodo deste ano, o nmero subiu para 1,1 mi-lho deunidades.Nasredes defarmcias,o volume devendas expressivo. NascontasdaDrogariaSoPaulo, houve crescimento de107% em vendas derepelente comparado aoprimeirobimestre de2014. Na Ultrafarma, a elevao foi de 195% em relao 2014. "Nas lojas fsicas, em So Pauloprincipalmente,mudamos o posicionamentodosrepelentesqueantesficavamjuntoaosprodutos devero.Agora,eles ficam noCaixa, com maisvisibilidade",afirmaMarcosFerreira,vice-presidentedaUltrafarma.

    Em muitas escolas, a rotina mudou. Na Kids School, em Cotia, na Grande So Paulo, as crianasso informadas sobre a importncia de se proteger com repelentes e o que fazer para evitar a for-mao de criadouros. "Professores e funcionrios passaram a usar repelente todos os dias", contaCtia Pacicco, coordenadora pedaggica da escola. Na UP School, em So Paulo, h pulverizaocom inseticida quinzenalmente. "Tambm solicitamos prefeitura a visitadeagentes sanitrios", dizPatrcia Lozano, diretora pedaggica.

    Nos servios de sade, imprimiu-se a atmosfera do caos. Centros pblicos esto lotados, obrigandoa instalao detendas para tratamento. Naque foi montada naBrasilndia, um dosbairros dacapitalpaulista mais atingidos, j foram realizados 3,7 mil atendimentos desde abril. O local uma parceriadoHospital IsraelitaAlbertEinstein --um dosmaissofisticados entreas instituiesprivadasdoPas -com a Secretaria Municipal de Sade. Uma equipe com seis mdicos, cinco enfermeiros, seis tc-nicos em enfermagem, trs tcnicos administrativos e quatro biomdicos prestam o atendimento.Elessaemdohospital, noMorumbi, nazona sul, as seise meia damanh, para darcontadecomeara atender naBrasilndia, dooutro lado dacidade. "Quando chegamos j tem gente esperando", con-ta o infectologista Alexandre Marra. "Trabalhamos mais do que no Einstein, mas queremos ajudar",diz a enfermeira Maria Roza de Oliveira.

    A realidade menos dura nos hospitais privados, mas mesmo assim houve dias nos quais era pre-ciso esperar horas por atendimento. No Einstein, desde janeiro foram realizados treinamentos com

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    profissionais do pronto-atendimento. No Hospital Srio-Libans, tambm um dos mais sofisticadosdo Pas, houve crescimento de 40% no nmero de pacientes atendidos em comparao ao mesmoperodo do ano passado. O hospital reforou a equipe de mdicos, enfermeiros e infectologistas einstalou 15 novas poltronas de observao para acomodar mais pacientes.

    Muitas razes explicama gravidade dasituao. Algumas sopontuais. Houve a voltadacirculaodo tipo 1 do vrus (so quatro). Muita gente no havia tido contato com ele e, portanto, no havia de-senvolvido anticorpos. NaregioSudeste,particularmente em SoPaulo, devido crisehdrica mui-tos moradores estocaram gua sem o cuidado adequado, aumentando os criadouros.

    Mas h origens crnicas por trs do desastre da dengue. Em primeiro lugar, a poltica de preveno,que deveria ser executada de forma contnua pelas esferas federal, estadual e municipal de go-vernos, falha.E na linhadefrente doatendimento aindahoje encontra-secasosque no recebem ocorretodiagnstico ounosoidentificados comoderisco. Depois, hdeficincias estruturaisnuncaresolvidas que contribuem demais para a repetio das epidemias no Pas. Entre elas, uma ur-banizao sem planejamento que ignora a instalao de redes de saneamento bsico, de um sis-tema eficiente decoleta de lixo e que leva ao fim dereas para o escoamentodegua. "A dengue adoena que mais retrata a urbanizao catica em que vivemos", diz o infectologista Artur Ti-merman,autordo livro Dengue noBrasil,DoenaUrbana. Se nada for feito, o Pas continuar sujeitoa desastres como o atual. E pode piorar, com a ocorrncia tambm de epidemias do vrus Chikun-gunya, transmitido pelo mesmo Aedes aegypti. " uma questo de tempo para que a febreChikungunyase torneoutraepidemia",dizFernandoGattiMenezes, coordenadormdico doServiode Controle de Infeco Hospitalar do Albert Einstein.

    Fotos: Paulo Whitaker/Reuters; Gabriel Chiarastelli, Joo Castellano/Ag. Isto

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    09 de maio de 2015 Editoria: Reportagem de Capa

    Destaques do Dia, Poltica e Economia

    Tiragem: 61,160Pgina: 20

    Cunha e o caos

    O presidente da Cmara continua a impor seu projeto pessoal de poder. Quem ser capaz dedet-lo?

    por ANDRE BARROCAL

    Ovdio, poeta da Roma antiga, foi o primeiro a definir o caos, divindade grega, como sinnimo de de-sordeme confuso.As fronteirasdomundo eramentominsculase seria impossvel, pormaiorquefosse sua criatividade, imaginar o Brasil dos dias de hoje. A ideia evoluiu com o tempo. H, dizem oscientistasatuais,ordemnocaos. Tambm pouco provvelque,aodefenderessatese, tenhampen-sado nestas plagas. Poderiam. Se o Pas vive o caos, um vcuo de lideranas e ideias, h quem rei-ne sobre ele. No momento, o senhor da confuso, o deus da desordem, atende pelo nome deEduardo Cunha, presidente da Cmara dos Deputados.

    Quantomaisos poderesrepublicanosparecem mercdatempestade,maiso deputadocarioca as-sume o protagonismo na cena nacional. Como um buraco negro, Cunha parece empenhado em en-golir qualquer luz ao redor. Nas ltimas semanas, desentendeu-se com o colega de partido RenanCalheiros, presidente do Senado, voltou a importunar o governo Dilma Rousseff, enfrentou o pro-curador-geral, RodrigoJanot, e colocounapraaa ideiadeconstruirum shopping nasimediaes doCongresso, cujo custo estimado em 1 bilho de reais. A pergunta atual se a expanso pan-tagrulica do poder do parlamentar encontrar em algum instante uma contrafora capaz decont-la. Ou se sua influncia se expandir sem resistncia como o Universo.

    Em relaoaogoverno, as diatribesdeCunha jse tornaram clssicas. Depoisda terceirizao e dodesengavetamento de vrios projetos polmicos, a Cmara aprovou a chamada PEC da Bengala,que estende a idade de aposentadoria dos ministros das cortes superiores de 70 para 75 anos. A no-va regra vai na contramo do mundo desenvolvido. Na Europa, cada vez mais limitado o tempo depermannciados juzesnostribunais, com a fixao demandatos, forma dearejar o Judicirio. Sobocomando do presidente da Casa, os deputados aprovaram a nova regra na tera-feira 5. Sem pos-sibilidade de veto do Palcio do Planalto, a lei foi inserida na Constituio dois dias depois.

    Como congelamentodasindicaes aoSupremo TribunalFederal,o peemedebistafazcorrernaC-mara uma proposta de alterao radical no sistema de nomeaes. A escolha dos ministros deixariade ser exclusividade do presidente da Repblica. O Congresso ganharia uma cota. Alm disso, aaprovaodosindicados passariapelo crivodaCmara,nos doSenadocomohoje.Ao saborearomais recente triunfo, Cunha afirmou a um interlocutor: "Tenho o Supremo na mo".

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    Com a aprovao da PEC da Bengala, o presidente da Cmara imagina ter conquistado alguns co-raes no STF, onde ser decidido o seu e o futuro dos demais parlamentares envolvidos no es-cndalo da Petrobras.

    Quando resolveu, em almoo com aliados natera-feira 5, concluira bengalada,a cmara tinha aca-bado deser alvodeumaoperaodebuscae apreeno motivada porum inquritocujoalvo o pee-medebista. Acompanhados de um oficial de Justia, procuradores e peritos da Procuradoria-GeraldaRepblicaforam aodepartamentodeinformtica daCmara,algo sem precedentesnahistria re-cente. O objetivo era recolher material capaz de provar uma das principais linhas de investigao daconexo do peemedebista com os malfeitos na Petrobras: uma tentativa de forar um lobista a re-tomar o pagamento de propina, conforme narrou o doleiro Alberto Youssef em sua delaopremiada.

    Depois da aprovao da PEC da Bengala, Cunha disparou: "Tenho o Supremo na mo"

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    A apreenso foi solicitada pelo procurador-geral, Rodrigo Janot, aps umanotciade28deabril. Se-gundoa FolhadeS.Paulo,osregistroseletrnicosdaCmaraapontamCunhacomooautordoarquivo que originou os requerimentos aparentemente usados para pressionar o lobista. Osrequerimentos foram apresentados em 2011 pela ento deputada Solange Almeida, sua alia-da no PMDB do Rio de Janeiro. Miravam o Grupo Mitsui, implicado na Lava Jato, e seu lobistaJulio Camargo. O deputado alega que o arquivo com seu nome tem data de um ms posterioraos requerimentos e insinuou ser vtima de fraude. Janot achou a explicao "des-propositada"e correupararequisitar a apreenso,receoso de Cu nha ordenaradestruio deeventuais provas. Furioso, o presidente da Cmara chamou o procurador-geral para a briga.Disse existir uma "querela pessoal" e articula a convocao de Janot pela CPI da Petrobras,explcita tentativa de intimid-lo.

    A operao de apreenso foi autorizada na segunda-feira 4 pelo ministro Teori Zavascki, i relator noSupremo do inqurito contrao ;deputado.Os investigadoresparecem ter ficado satisfeitoscom o re-sultado da apreenso. Solange Almeida, consideram, teria exercido a funo de laranja de Cunha.Em depoimento Polcia Federal em 18 de maro, a ex-parlamentar demonstrou no ter muita no-

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    osobre a natureza e o objetivodorequerimento assinado em 2011. Disse no se lembrar "de ondeextraiu a motivao para formular o requerimento relativo Petrobras", "que o tema desse re-querimento no se inseriaem suapauta deatuao parlamentar"e "queno conheceo GrupoMitsuinem nada sabe a respeito".

    Os assessores de Cunha talvez possam refrescar a memria da atual prefeita de Rio Bonito. O de-putado admitiu a possibilidade de seu gabinete ter auxiliado Almeida a preparar a papelada. O pre-sidente da Cmara recusou-se a depor PF. At agora, limitou-se a dar explicaes na CPI daPetrobras, teatro armado por ele mesmo. Foi comisso de forma espontnea, condio que o de-sobrigou de prestar o juramento de dizer s a verdade. Diante da plateia, foi enftico: "Eu no fizqualquer requerimento a quem quer que seja". Se a declarao colidir com os fatos, no ter motivoparase preocuparapenascom a Justia. Surgiraa possibilidadedeum pedidodecassao porque-bra de decoro. Por ora, nenhum partido se animou a propor algo semelhante.

    Umapequena reao dasruas, quenoengolema nsia depoder dopeemedebista. Eo vice, MichelTemer, alia-se a quem?

    Janot parece ter razo para desconfiar da sinceridade das explicaes do peemedebista. s vezes,o deputado acometidodecerto desapego verdadefactual. Naltima semana deabril, ele foi a umjantar com deputados correligionrios e dois ministros indicados pelo partido, na casa do mineiroNewton CardosoJr.Ali, debochou dospetistas: "O PTno ganhaumavotao,s quando a gente fi-ca com pena naltimahora". Aafirmao virounotciaem OGlobo. Opresidente daCmarapron-tamente a desmentiu,pelo Twitter:"Nopronuncieiocomentrio a mim atribudono jantar dabancada. Apesar das diferenas,sempre trato a todos com respeito". Ele s nocontavaque,entre os comensais, houvesse um gravador ligado. O udio com a declarao foi publicadopelo jornal na internet logo aps o desmentido. Cunha retratou-se, tambm pelo Twitter: "Seme enganei e falei algo que no me lembrava e possa ter sido agressivo, ao PT peo des-culpas".

    Apersonalidadedodeputado um caso parteat agora em seustrsmesesdereinadonaCmara.Ele tem tido uma atitude pouco habitual em Braslia. No comando das sesses, a portas fechadas ou

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    em entrevistas, costuma ser rspido, impaciente, soberbo e debochado, principalmente quando al-gum ensaia contest-lo. A votao da lei da terceirizao foi um festival de insensibilidade. Com avoz monocrdica mesmo em situaes tensas, revela pouco corao e nenhuma empatia. A in-sistncia em dizer-se independente do governo e em pautar votaes polmicas sem muito debateindicam egosmo, at uma velada incitao intolerncia.

    Sua postura monrquica tem intimidado deputados e espalhado terror entre funcionrios da C-mara. Ele demitiu um diretor por dar declaraes a jornalistas e anunciou a demisso de outro emmeio a uma entrevista. Desconfiado, recusa-se a ser assessorado por servidores concursados, snomeia gente da sua confiana, certo da fidelidade canina mesmo em situaes duvidosas, e evitaconversar ao telefone ou com aliados quando prximo de seguranas e motoristas.

    O peemedebista gacho Jos Fogaa foi constituinte, senador e prefeito de Porto Alegre e voltounesteano a Braslia depoisde12anos longe. Segundo ele,Cunha quem melhor entendee explorao catico sistema poltico atual, em que h paridos demais e consistncia de menos. Sua j in-teligncia acima da mdia dos colegas, o profundo conhecimento do regimento interno da Casa e acaneta de presidente da Cmara nas mos facilitam seu trabalho. "Ele consegue construir maioriatanto com o governo quanto com a oposio", diz o deputado, a apontar uma razo especial para afora do colega de bancada: "Nunca vi um governo to desarticulado. O Palcio isolacionista".

    o PSDB, principal partido de oposio, o estilo de Cunha tem deixado muita gente ressabiada. Entretuca nos, possvel percebercerta cautela em anlises a respeito dopresidente daCmara. Se, porum lado, o peemedebista til para dividir a base aliada e desgastar Dilma Rousseff, por outro, temuma atitude e uma agenda merecedoras de reparos. Para Luiz Carlos Hauly, do Paran, ele exibeuma "postura imperial" e uma pauta de votaes "exagerada". Marcus Pestana, de Minas Gerais, vum "rolo compressor" em sua gesto e resume: "Nossa relao com ele dialtica, no vamos con-cordar em tudo o tempo todo".

    Quem comandaa Cmara,a histria ensina, funcionaoucomolderdaoposiooucomointerventordo Planalto entre os deputados. Cunha tem sido um presidente do primeiro tipo, com a diferena depossuir um projeto prpriodepoder, desvinculado degrupos tradicionais, naavaliao dosocilogoAdalberto Cardoso, diretor do Instituto de Estudos Sociais e Polticos da Universidade Estadual doRio de Janeiro. Sua agenda conservadora, que mistura religio e poder econmico, diz Cardoso,atende a seu interesse pessoal, no doPMDB, umadas razes para o atrito com Calheiros. Armadodessa agenda e em busca de projeo nacional, o deputado poder construir uma herana ideo-

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    lgica cujo desfecho natural seria uma candidatura Presidncia na prxima eleio. "Ele est im-budo de uma misso, tem maioria slida na Cmara e o controle da agenda poltica no Congresso.Mas um movimento de altssimo risco. No Brasil, qualquer agenda radical assusta at o centro."

    Historicamente mais conservador do que a Cmara, o Senado viu surgirem as primeiras bar-ricadas contra o deputado, algo incomum na convivncia entre as duas casas. Uma das trin-cheiras liderada pelo presidente do Senado. Renan Calheiros trava com o colega uma lutapor poder no PMDB. Uma questo de sobrevivncia para quem igualmente alvo da Lava Ja-to. Quanto mais fraco se apresentar perante o mundo poltico e na mdia, mais Calheirosestar perto do cadafalso.

    Odeputado quer erguer um shopping perto do Congresso, simbiose do pblico com oprivado

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    Nos ltimos tempos, o senador sempre aproveita a oportunidade para se diferenciar do cor-religionrio. A lei da terceirizao foi um desses casos. Calheiros imbuiu-se do papel de de-fensor dos trabalhadores e criticou abertamente o projeto. Segundo ele, o PMDB historicamente de "centro-esquerda", uma forma sutil de atacar o marcante con-servadorismo de Cunha. Dias atrs, em reunio com senadores, disse que a bancada dopartido na Cmara sitiou o Palcio do Planalto em busca de cargos federais. Ao apontar talcerco, aproveitou para criticar o vice-presidente da Repblica, Michel Temer, chamado de"coordenador de RH", motivo de uma arranca-rabo pblico entre os dois.

    Outra trincheira contra o"cunhismo" a frenteprogressista formadaporparlamentaresdedi-versos partidos com o propsito de barrar iniciativas retrgradas da Cmara, que, sob a bn-o do evanglico, possam ser aprovadas pelos deputados e enviadas aos senadores. Oestopim da formao do grupo foi a lei da terceirizao. Tambm esto na mira o Estatuto daFamlia, um ataque aos direitos j existentes em casos de unio homoafetiva, a reduo damaioridade penal para 16 anos e a revogao do Estatuto do Desarmamento, todos projetospatrocinadosporCunha. Olanamento dafrentedeu-se no gabinete do lderdo PSB,JooCa-piberibe. Para o senador, o peemedebista tornou-se um problema para o Pas. "Ele estabeleceuuma relao clientelista com sua base na Cmara. No momento poltico que vivemos, um per-

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    sonagem como esse muito arriscado para a sociedade."

    A reao anti-Cunha igualmente se esboa nas ruas. Desde maro, o peemedebistaviaja pelo Pasquase todasexta-feira,a bordo de jatinhosdaFAB, para vender pelas capitais suas ideias, entreelasas doaesempresariais decampanhas.Otour foi batizadodeCmara Itinerante,umapromessa dacampanha presidnciadaCasa.Seria umatentativademelhorara imagem doParlamentoe, claro,torn-lo mais conhecido do eleitorado. As itinerantes aparies no tm rendido, porm, a glria es-perada. Cunha costuma ser recebido com apitaos, ovos, vaias e beijaos gays. Em So Paulo, es-perava-o a faixa "Fora Eduardo Cunha, corrupto, homofbico". Em Campo Grande, o epteto de"inimigo nmero 1 da classe trabalhadora".

    Em Porto Alegre, a Assemblia Legislativa teve deser fechada e os manifestantes postospara fora.EmJooPessoa,o deputado ficouto furiosoaoser obrigado a deixar a Assembleiadebaixodeovose protestos, que atacou o PT, a CUT, o movi mento LGBT e o prprio governador, Ricardo Coutinho,do PSB, a quem culpou de omisso em garantir sua segurana. "No tenho culpa se as teses que osenhor Eduardo Cunha defende so imprprias e provocam esse tipo de reao", reagiu Coutinho."Eu j fui alvo de protestos, ele no pode? Ele deveria pedir desculpas Paraba." Depois de tantospercalos, o presidente da Cmara resolveu parar de propagandear suas viagens com an-tecedncia, uma tentativa de impedir a organizao de protestos.

    N ada,porm,parece abal-lo. Paracativardeputados aliados,ele acaba de tirar dopapelum antigoplanodeconstruo deum novo prdiopara a Cmara, projeto estimado em 1 bilho dereais.A ideiaagradaa quase todosos partidos,poisdaria maisconfortoaosparlamentares.Nainauguraodaca-pital federal, em 1960, havia 326 deputados.Hoje, so513.De lpara c foram construdos trs ane-xos, mas ainda h uma sensao de aperto, pois, quando a ditadura acabou, havia cerca de 8 milfuncionrios, entre concursados e cargos de confiana, e agora so 18 mil.

    Cunha quer fazer a licitao at o fim de seu mandato frente da Cmara. Parece ter enxergado auma oportunidade para praticar seu conhecido tino comercial, ao aproveitar a fora do Estado paraestimular negcios privados. Seusonho botardepumaespciedeshopping ao lado donovo ane-xo, apesar deas regras deBraslia no admitirem prdiosdogneronas redondezas. Ogrande fluxode visitantes e servidores e o elevado poder aquisitivo dos frequentadores indicam a existncia deum "alto potencial comercial" naCmara, segundo Beto Mansur,doPRB, primeiro-secretrio daCa-sa.

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    A construo doshopping o motivodeo peemedebistaestar decidido a tocar o projeto na forma deParceria Pblico-Privada mesmo sem autorizao expressa da lei para PPPs no Legislativo. Quan-do a ideia foi tornada pblica pelo ento diretor de Estudos Tcnicos da Cmara, Maurcio da Matta,Cunha o demitiu. O deputado tentou arrancar a autorizao para a PPP no fim de 2014, por meio deuma Medida Provisria da qual era um dos relatores. O dispositivo foi vetado por Dilma em janeiro,mas isso no o impediu de assinar, em maro, um documento no qual divulgava a inteno da C-mara de buscar interessados em elaborar o projeto. Em breve tentar de novo inserir a autorizaona lei.

    Naquarta-feira6, saram os nomes dascinco empresas habilitadasa entregar os croquis em 45dias:Ceres Inteligncia Financeira, Concremat Engenharia e Tecnologia, Planos Engenharia, ViaEn-genharia, Consrcio Emsa-Servi. Com base na construo de uma nova sede do governo do DistritoFederal, inaugurada no fim do ano passado, h quem calcule que a PPP planejada por Cunha podesignificar um fluxo financeiro de uns 300 milhes de reais por ano. timo negcio.

    Um shopping em regio j demasiadamente engarrafada seria um smbolo perfeito do poder de Cu-nha, o senhor do caos.

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    09 de maio de 2015 Editoria: Capa

    Destaques do Dia, Poltica e Economia

    Tiragem: 96,842Pgina: 22

    Mudana de humor

    A NUVEM NEGRA SOBRE A ECONOMIA BRASILEIRA FINALMENTE COMEA A SE DISSIPAR.NAS LTIMAS SEMANAS, O DLAR CAIU, A BOLSA SUBIU E O RISCO-PAS DIMINUIU. UMANOVA ENXURRADA DE INVESTIMENTOS NO PAS INDICA QUE O PIOR FICOU PARA TRS

    Por Cludio GRADILONE, Gabriel BALDOCCHI e Mrcio KROEHN

    Osanos demercado financeiro e servio pblico capacitaramo ministro daFazenda, JoaquimLevy,a agir de maneira diplomtica, controlar as emoes e manter a fleugma, em quase todas as si-tuaes. No entanto, ele no disfarava seu alvio na tarde da quinta-feira 7. Na vspera, o Con-gresso havia aprovado, em uma votao tumultuada, a Medida Provisria (MP) 665, considerada aprimeira fase do ajuste fiscal. A MP restringe as regras de acesso ao seguro-desemprego, ao abonosalarial e ao seguro-defeso, pago a pescadores em pocas de restrio pesca.

    Temos devotar essasmedidasque estonoCongresso o mais rpidopossvel,porquecriamum no-vo ambienteeconmico ,afirmara Levynaquarta-feira6. Poucas horas depois, a intensa articulaoencabeadapelo vice-presidenteMichel Temer deu frutos.Aproposta foi aprovada,o quedeve levara umaeconomiadeR$15bilhesaoanomenordoquea proposta original, deR$18bilhes,mas ain-da assim um passo importante na correo da rota. O prximo da lista a aprovao da Medida Pro-visria 664, que torna mais rgidos os critrios para o pagamento de penso por morte, pelo INSS.

    A primeira vitria na batalha fiscal de Levy no Congresso no foi tranquila. No apenas pelo placarapertado, de252votos a favor e 227contra, mas tambmpelo fatodea difcilnegociaocom os par-lamentares escancarar a diviso dentro da base de sustentao do governo. No plenrio, as po-sies tradicionalmente assumidas pelos partidos em relao aos trabalhadores se inverteram. OPTacabouvotando em pesoa favor daproposta dogoverno, aopasso queo PDT,doministro doTra-balho, Manuel Dias, votou contra. O mesmo fez a bancada do PSDB, que ainda liderou um panelaono plenrio e puxou um samba irnico.

    PT pagou com traio a quem sempre te deu a mo , cantaram os deputados da oposio. Alm dacantoria,o plenrio teve chuvadedlares.Manifestantes daFora Sindical,queacabaramsendo re-tirados das galerias, jogaram no plenrio notas falsas de US$ 100 com as fotos da presidente Dilma,do ex-presidente Luiz Incio Lula da Silva e do ex-tesoureiro do PT, Joo Vaccari Neto, preso na in-vestigao da Operao Lava Jato. Vrios deputados guardaram as notas no bolso. Ultrapassada abarreira da aprovao das medidas que mexem com direitos trabalhistas, Levy acredita que sermais fcil emplacar as correes nas distores na Previdncia, como a concesso de penso in-

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    tegral a vivas jovens.

    Achoque as outrasvotaes transcorrerocom tranquilidade ,afirmou.Vamosalcanaros objetivospara que nspossamos comear a agenda alm doajuste.Como ajuste comeando a sairdopapel,Levy e seu colega do Ministrio do Planejamento, Nelson Barbosa, se dedicam agora a finalizar oscortes no Oramento, que ser divulgado nos prximos dias, e a elaborar o plano de concesses,que deve provocar a retomada dos investimentos privados. O resultado coroou um priplo rea-lizado por Levy. Nas ltimas semanas, o ministro assumiu no apenas o papel tra-dicionalmente reservadoaos ministros da Fazenda,que ode cortejar omercado de capitaisinternacional e azeitar as relaes com os empresrios.

    Aps uma viagem aos Estados Unidos, em que conversou com investidores, Levy, o conciliador,aparou arestas junto s lideranas da base aliada para facilitar a aprovao das medidas im-populares doajuste fiscal. um primeiropassoparao queprecisamosfazer paravoltarparaa rota docrescimento, para o aumento do emprego , diz. Pouco visveis na chamada economia real, os pri-meiros sinais de recuperao j foram antecipados pelo mercado financeiro.Nosltimos 40dias,ospreos dos principais ativos mostram que as expectativas e o humor em relao ao Brasil me-lhoraram.

    Entre o fim de maro e a quinta-feira 7, as cotaes do dlar recuaram quase 8%, caindo de R$ 3,26para cercadeR$3,00. Nomercado internacional,a cotao dosCredit Default Swaps (CDS)doBra-sil recuou, caindo de 320 pontos base, no fim de maro, para 215 no incio de maio. O CDS um con-trato que protege o credor contra a inadimplncia do devedor, e seus preos so um indicador dapercepo de risco. Os investidores, tanto brasileiros como internacionais, passaram a olhar os ati-vos brasileiros de maneira mais otimista , diz Ilan Goldfajn, economista-chefe do Ita Unibanco.

    Aos olhos do mercado, a probabilidade de uma crise ou da perda de grau de investimento pelo Brasildiminuiu nas ltimas semanas. Outra indicao dessa mudana de humor foi a alta da bolsa de va-lores. Animadas pela volta dos investidores internacionais, as aes subiram 11,3% desde o inciodeabril.Noms passado, as aplicaes internacionaisnabolsa superaramos resgatesem R$7,6 bi-lhes. Desde janeiro,essacifra chega a R$17,5bilhes,ou86% detodasas remessas em 2014. Es-tamos vivendo um momento histrico: a tempestade perfeita virou contra quem est apostando naqueda , afirmou James Gulbrandsen, scio da gestora americana NCH Capital.

    Octavio deBarros, economista-chefe doBradesco, avaliaque essemovimento positivo. A sadada

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    crise, explica, costuma se iniciar pela alta nos preos de ativos como as aes, para depois se es-tender confiana dos empresrios, espraiando-se aos consumidores. S ento possvel esperarumaretomada do investimentoe doconsumo, o que se traduzir em crescimento. A reconquista ple-na da confiana, porm, esbarra no ciclo de alta nos juros. Enquanto estivermos num ciclo de apertomonetrio, isso dificulta a transmisso da melhora de preo de ativos para os empresrios , afirmaBarros. O importante, que a viso dos investidores sobre o Pas est mais positiva, como atestameconomistas e executivos.

    Em que pese a mudanadehumor,aindano hora debaterbumbo. Ocenrioparou depiorar, masaindano est bom,dizGoldfajn. Osprincipais fundamentos, comoo crescimento daeconomia,vodemorar pelo menos mais dois trimestres para melhorar. Ele mantm sua projeo de queda de 1%para o PIB neste ano, com um crescimento de 1% em 2016. A alta do desemprego e os layoffs dasmontadoras de veculos (veja quadro Copo Meio Vazio ) atestam a gravidade da crise. Mas, ao me-nos, agora h muitas luzes no fim do tnel.

    VOLTA DA CONFIANA Outro sinal de que o pior j passou so os ndices de confiana, que me-dem a disposio dos empresrios em investir na expanso de suas empresas. Quatro de cinco n-dices apurados pela Fundao Getulio Vargas (FGV) registraram uma leve alta em abril, depois detrs meses de quedas consecutivas. O avano mais relevante ocorreu no setor de servios, que vi-nhasinalizandoumadeteriorao desde o inciodoanoat alcanar, em maro, o menorpatamardasrie histrica. Em abril, ele subiu 4,2%. Os ndices de confiana dos setores de construo e co-mrcio contam uma histria semelhante.

    Alosio Campelo, que coordena as pesquisas de confiana da FGV, interpreta os dados como umaacomodao, um sinal de que o humor dos agentes econmicos parou de azedar. Temos uma si-tuaodequehouve atenuao,mas ainda muito incerto ,afirmao economista. possvelquehajaum avano,mas os prximos mesesserodebastantevolatilidade.Boapartedasaltasdeabril atri-buda a fatores alheios questo de demanda, como um alvio na turbulncia poltica e nos prog-nsticos mais favorveis sobre o abastecimento de gua e energia (leia texto Copo Meio Cheio aofinal da reportagem).

    Em enquete realizada pela FGV, 40% das empresas apontavam a crise poltica como uma das prin-cipais explicaes para o pessimismodosltimos meses. Coma atuao deTemer para domesticara base aliada, esse componente de incerteza tornou-se menos acentuado. O fato que os in-vestidores estomaistranquilos devido aos primeiros movimentos de Levy, queso deixaro

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    cmbio sedesvalorizar paradiminuirodficitnas contas externas, reduzir os gastos e liberaros preos administrados, que estavam represados. H mais confiana de que o governo est fa-zendo o ajuste seriamente , diz o ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira.

    Um cenrio externo mais benigno tambm ajudou. A temida alta dos juros nos Estados Unidos pa-recemaisdistante doque se imaginava recentemente. Diante das informaesdecrescimento maismoderado, o Fed (banco central americano) sinaliza que a mudana de patamar s deve acontecerem 2016, diminuindo a migraodecapital dospasesemergentespara os EstadosUnidos. OBrasilpermanece interessante, issono muda ,afirmaJoel Palliot, diretor mundial de riscosdaempresa deseguro decrdito Coface.Em abril, o Pas registrou a maior entrada lquidadedlaresdesde julhode2011, com ingresso de US$ 13 bilhes.

    ESTRANGEIROS INVESTEM Enquanto a macroeconomia se ajusta, algumas empresas bra-sileiras e estrangeiras tm se antecipado ao fim da crise e anunciado a disposio de pisar no ace-lerador. As quedasdequase 2%naproduo e de1%nasvendas dequmicos noprimeiro trimestre,por exemplo, no assustam a alem Basf, que deu incio ao maior ciclo de investimento no Pas emmaisde100 anos dehistria. A companhia dosetor qumico programou 1,1 bilho em investimentosnaAmricadoSul, at 2017,e metadedesses recursosest sendo aplicado noComplexoAcrlicodeCamaari, na Bahia.

    A unidade est prestes a ser inaugurada e ganhou um captulo especial no relatrio global da Basf.Sero trs fbricas que fornecero produtos para diversos segmentos da indstria. O em-preendimento ser o 13 da Basf no Brasil, onde sua principal rea de atuao o agronegcio. Es-tamos h104 anos noPas e no a primeiravez que o Brasil enfrenta umasituao difcil , justifica opresidente da empresa, Ralph Schwees. Aps vrios anos com preos desalinhados, o setor imo-bilirio volta a atrair a ateno. Em carta aos acionistas da canadense Brookfield Infraestructure, nasemana passada, o presidente Sam Pollock anunciou a inteno de investir US$ 2 bilhes no Brasilat o fim de 2016.

    Para ele, o Pas continua sendo um mercado de grande crescimento no mdio prazo e com fortesvantagens competitivas na produo de commodities. A convergncia e fatores polticos e eco-nmicos estocriandoum cenriodefalta decapital e distores demercado ,escreveu Pollock. Es-tamos entusiasmados com as oportunidades potenciais no Brasil e a falta de compradores capazesdecompetir conosco .Ospreosdosimveis brasileiros estoconvidativos,aindamaisparaquemin-veste em dlares, como a Brookfield. O apetite para investir passa pelo negcio de alimentos.

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    Ogrupo americanoBloominBrands,dono daredederestaurantes Outback,querelevar suarededasatuais 68para 100 unidades at 2020. Nesteano,o BloominBrands trouxeoutrarede temtica, a dosrestaurantes italianos Abbraccio, e inauguroucasasnosshoppings Market Place e Vila Olmpia, emSo Paulo. Em julho, uma nova unidade ser aberta em Campinas, no interior paulista, em um in-vestimento inicial deR$1 milho. At 2016, o planodedesenvolvimento est noeixo Rio deJaneiro -So Paulo , diz o vice-presidente de operaes Ricardo Carvalheira.

    Observamos o Brasil com cuidado h 18 anos e sempre identificamos oportunidades no casual di-ning. O plano ser seguido, independentemente da situao econmica. Em cinco anos, o projeto ter 50 restaurantes Abbraccio em todo o Pas. O consumidor tem sido receptivo nova rede, que re-gistracrescimento demaisde20% em vendas, segundoele.Ovolume declientes nosrestaurantes eo retornodevendas est acimadasexpectativas.Desde 2013,a fabricante italianademassasBarillaadotou umanova postura noBrasil.A empresa passou a dividira importaodeprodutos grano durocom a fabricao local de massas base de ovos.

    A estratgia tem dado certo. Noano passado, o crescimento foi de50%.Nesteano,at abril, a altade 15%. Ainda estamos em fase de expanso e os planos para este ano esto mantidos , diz o pre-sidente MaurizioScarpa,que projeta um crescimento de20% nasvendas para 2015. H trs anos,aBarilla mantinha uma estrutura enxuta, de baixo investimento e 12 funcionrios. Deste ento, a equi-pecresceu para 50pessoas e h liberdadepara investir namarca, que tem ganhado participao demercado e conquistoua liderana em vendas em supermercados pela primeiravez desde o inciodaimportao, em 1998.

    Paraumacategoriademargens muitobaixas,os investimentossobemexpressivos,afirmaScarpa.Num primeiro momento, a estratgia est sendo terceirizar a produo, que realizada em MinasGerais, SoPaulo e Rio Grande Sulas massas importadasso fornecidaspela fbrica deParma, naItlia. Por enquanto, umaquesto deoportunidade pelo nosso volume ser relativamente pequeno ,dizScarpa.Se continuarnesse ritmo, podemosrevera estratgia e pensar naconstruo deumaf-brica.

    BRASILEIROS NO PREO A disposio para investir no vem s defora. OMagazine Luiza, a sex-ta maior rede varejista doPas e a segunda nosetor deeletroeletrnicos,manteve seuplanode inau-gurar at 40 lojas em 2015. Oprogramadeexpanso darede no foi modificado em razo docenrionebuloso da economia nos primeiros meses do ano, o que deve garantir a abertura de 20 unidadesnesteprimeirosemestre. Novarejo, no h trs caminhos: crescerouencolher ,dizo CEO Marcelo

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    Silva. Ns escolhemos crescer. O Magazine Luiza trabalha com um cenrio de melhoria das vendasa partir do segundo semestre, com expanso mais forte a partir de outubro.

    A companhia reportou lucro lquidodeR$2,9 milhesnoprimeirosemestre, quedade86,1%nacom-parao com o mesmo perodo de 2014. A esperana o ajuste fiscal produzir os efeitos ra-pidamente e fazer a confiana do consumidor e dos empresrios voltar , diz Silva. O fluxo nas lojasdiminuiu, os consumidores estomaisseletivos e procuram preos baixos e melhorescondies depagamento. A Lojas Zema, nona maior rede brasileira de eletroeletrnicos, segue a mesma cartilhadaconcorrente. Oplano abrir at 35 lojas nesteano,umaexpanso menor em relaos 50novasunidades de 2014.

    A estratgia continuarem busca deoportunidades em cidadesdemenos de100 milhabitantes, es-pecialidade dessa rede mineira com sede em Arax, que tem mais de 500 lojas com essas ca-ractersticas. O consumidor do interior mais resiliente , diz o presidente Romeu Zema Neto. Elecontinua indo s lojas, mas h uma mudana de postura. O perfil de compra est mais conservador,sem o abuso do passado. Para Zema Neto, as cidades pequenas mostram um cenrio diferente so-brea economia real,com setoresque continuamproduzindoe exportando sobretudoo agronegcio.

    Nosltimos seismeses, houve um efeitomanada. Alguns nmeros daeconomia esto feios, mas hum excesso de alarde do mercado financeiro , diz ele, que conseguiu emitir R$ 130 milhes em de-bntures no primeiro trimestre, apesar da retranca dos agentes financeiros. Semear na baixa e co-lher na alta mais do que uma frase de efeito, como mostra a disposio da Lojas Zema e doMagazine Luiza. Isso gera demanda no apenas para fornecedores, como tambm para pres-tadores de servios. o caso do setor de logstica, uma atividade ainda extremamentefragmentada no Brasil. Nos Estados Unidos, os cinco maiores grupos transportadores so res-ponsveis por 50% das movimentaes de cargas com caminhes.

    Por aqui, a JSL, o maior grupo transportador, detm apenas 3% da movimentao nacional por ro-dovias. Ou seja, para a JSL, ainda h muito espao para crescer, mesmo que custa da con-corrncia. Essa frmula, que levou a empresa a registrar um crescimento mdio de 26% ao ano,entre 2000 e 2013, se mantm inalterada mesmo no quadro atual da economia. A empresa bas-tante diversificada, est em diversos setores da economia e consegue atender as principaiscarncias logsticas doPas ,dizo presidente FernandoSimes,que nemcogita reduzir o ritmo de in-vestimentos e de crescimento. Para este ano, a expectativa de um aumento de 15% nas receitas,que chegaram a R$ 6,1 bilhes, no ano passado. Os investimentos sero de R$ 1,5 bilho.

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    Fizemosajustesnoanopassadoe notemos porquerevisaro guidance ,afirmaele.Ampliamoso ne-gcio, mas seguramos a parte administrativa e operacional. Para Simes, os desafios do Brasil soiguais aos de uma empresa: preciso fazer os ajustes e sofrer as dores e as dificuldades do perodopara conseguir sair fortalecido. inevitvel que alguns setores sofram mais e outros, menos , diz.Mas quanto mais rpido o ajuste econmico for realizado, menor ser o comprometimento de 2016.Se Levy e seus colegas no governo federal continuarem a demonstrar a mesma obstinao dos em-presrios citados nesta reportagem, o Brasil sair mais rpido da crise.

    Copo meio cheio

    A probabilidade de que o Brasil sofra um apago, em 2015, est cada vez menor. Pelo menos, oque apontam os especialistas em energia,aps as chuvas defevereiro e maroterem garantidoo n-vel de33,5% dacapacidadedearmazenamento degua dashidreltricas. Embora menor doque os40% de 2014, o estoque garante a gerao de energia at o prximo perodo de chuvas. Estudos daLCA Consultoria mostram que em 2016 o cenrio energtico ser mais tranquilo.

    Enquantoa quedadoconsumo, nesteano,deve ficar em 1%, anteum crescimento de3%em 2014, aexpectativa de reduo de 2% no prximo ano. Para Brulio Borges, da LCA, a possibilidade maisremota de um racionamento deve melhorar a confiana. A questo hdrica um pouco mais com-plicada,principalmente em SoPaulo. Embora a populaotenha diminudo em at 82% o consumode gua, tambm por conta da alta das tarifas, certo que a Sabesp no tem condies de garantir oabastecimento 24 horas por dia.

    A possibilidadedeum racionamento mais rigoroso foi atenuada noprimeirosemestre. Mas um planode contingncia do Comit de Crise Hdrica, vazado na sexta-feira 8, considera a hiptese de rodziona segunda metade do ano, caso premissas como as chuvas e a finalizao de obras emergenciaisno se confirme. Para Stela Goldenstein, diretora da ONG guas Claras do Rio Pinheiros, alm dasobras propostas do governo, ser necessrio equilibrar tambm o consumo.

    Copo meio vazio

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    Quando as vendas de veculos no Brasil cresciam a taxas de dois dgitos, enquanto os principaismercados do mundo sofriam, aps a crise de 2008, os analistas logo se arriscaram em apresentarum cenrio em que o Pas poderia ganhar posies no ranking mundial de produtores, superandopasescomondiaouCoriadoSul. Osresultadosmaisrecentesmostram queesseprognstico,ain-da que possvel, ficou mais distante.

    Em abril, as vendas registraram o pior nvel em nove anos, acumulando uma queda de 20% no ano,deflagrandoumanovaonda defriascoletivas, licenciamentose demissesnasmontadoras. Desdeo final de 2013, as fbricas demitiram 20 mil funcionrios. Nmeros divulgados pelo IBGE na quin-ta-feira 7 mostram que o problema vai alm das montadoras. Cerca de 900 mil postos de trabalho fo-ram cortados no Pas, do primeiro trimestre do ano passado at abril.

    A taxa de desemprego subiu para 7,9%. Os fatores negativos que podem complicar a recuperaodaeconomia,crescema cada ms, colocando em riscoos resultadosdatrajetria deajustes iniciadapelo governo. Em apenas quatro meses, a inflao superou o centro da meta estipulada pelo BancoCentral, de 4,5%. Embora tenha perdido fora em abril, o IPCA, ficou em 4,56% no acumulado doquadrimestre e em 8,17%,noperodo de12meses, superando tambmo limite superiordameta. Osjuros no param de subir. A taxa bsica chegou a 13,25%s, maior nvel desde dezembro de 2008.

    Colaboraram: Denize Bacoccina e Paula Bezerra

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    09 de maio de 2015 Editoria: Especial

    Notcias Internacionais

    Tiragem: 370,308Pgina: 084

    Sangue entre tirania

    A devastao e a violncia da II Guerra Mundial tiveram seu pice no confronto entre doistotalitarismos: a Alemanha de Adolf Hitler e a Unio Sovitica de Josef Stalin

    NELSON ASCHER

    A Inglaterra e muitos pases da Europa Ocidental celebram o que foi, para todos os efeitos, o final vi-torioso daII GuerraMundial em 8 demaio.Paraos EstadosUnidos, este o VE Day, ouseja,o dia davitria naEuropa - metade desuagrandeguerra, pois aindahavia outracampanha a ganhardooutrolado domundo, contrao Japo. Devidoa diferenasdefuso horrio, os russoscomemoram a datade9 de maio. Para eles, a rendio incondicional dos alemes em Berlim, em 1945, marca o fim de umaguerra queno exatamente a mesma. Trata-se daGrandeGuerraPatritica,nomequea UnioSo-vitica deu ao conflito com a Alemanha nazista e seus aliados. Esta, que foi a maior de todas as con-flagraes da histria, tambm comeou num dia diferente. Se o incio oficial da II Guerra l 9 desetembro de

    1939, quando a Alemanha invadiu a Polnia, j o do outro conflito marcado pela invaso da UnioSovitica,em 22dejunhode1941.Comparado com a guerra travadanaEuropa Ocidental, o embategermano-sovitico no muito conhecido fora dos pases que dele participaram ou em cujas terrasse desenrolou, e, mesmonestes, pormuito tempo, o pblico s teve acesso a verses oficiais, s ve-zes mentirosas, mas sobretudo bastante seletivas. Ainda assim, o enfrentamento entre o TerceiroReich e a Unio Sovitica foi no apenas o maior em todos os sentidos aquele do qual participou omaior nmero de combatentes de lado a lado e que ocasionou igualmente a maioria das baixas -,mas tambm aquele no qual a guerra inteira se decidiu.

    Parece certo que a viso de mundo de Adolf Hitler levaria necessariamente a uma guerra de-vastadora com a UnioSovitica,porduas razesbsicas:a nao alem precisava, deacordo como Fhrer, deterras para colonizar noLesteEuropeu- o assimchamado"EspaoVital" -;e Hitler acre-ditava ainda que as profundas diferenas raciais (entre arianos e eslavos) e ideolgicas (entre na-zistas e bolcheviques) s poderam se resolver no campo de batalha. Isso, porm, no o impedia derecorrer a estratagemas oportunistas que pareciam contradizer suas convices profundas. Quan-doresolveu, em 1939, invadira Polnia, temendo deixar seupas exposto,deum lado,aosinglesesefranceses, aliados dos poloneses, e, do outro, aos soviticos imprevisveis, props a estes um tra-tado de no agresso. O Pacto Molotov-Ribbentrop, negociado pelos ministros de RelaesExteriores daAlemanha e daUnioSovitica, Joachim vonRibbentrop e ViatcheslavMolotov, foi as-sinado oito dias antes da invaso da Polnia. Stalin considerava o pacto conveniente, porque adiava

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    qualquer possvel guerra com a Alemanha, guerra para a qual o pas estava mal preparado devidotanto a uma modernizao muito recente e incompleta quanto aos expurgos de 1937-1938, que de-vastaram o corpo de oficiais do Exrcito Vermelho. O ditador acreditava que, como ocorrera na IGuerra, a Alemanha se envolveranuma guerra estticae prolongada nafrente ocidental.Como issono ocorreu, s restou ao ditador sovitico desejar ardentemente que Hitler no pensasse mais emguerra ou preferisse deix-la para o futuro. Seu desejo, ao que parece, se transformou numa ob-sesso, e a obsesso, numa certeza que, dada a natureza do sistema que ele encabeava, no po-dia ser contrariada. Os soviticos contavam com a maior e a melhor rede de espionagem espalhadapelo mundo, dispondo, inclusive, de informantes na hierarquia militar alem. Essa rede os informouda

    invaso macia que se preparava para I meados de 1941, mas Stalin preferiu | acreditar que se tra-tava de desinforma o. Foi em momentos como esse que se patenteou uma das caractersticasmais peculiares dessa guerra: provavelmente nenhum outro conflito importante teve seu rumo todeterminado pela personalidade e carter, pela inteligncia ou ignorncia, pelas obsesses, pa-raniase excentricidadesdedois homens to brilhantes quanto cruis,dois dospiores tiranos que jexistiram, Adolf Hitler e Josef Stalin.

    Nas primeiras horas de 22 de junho de 1941, numa longa linha contnua que ia do Mar Bltico ao Ne-gro, as foras alems e seus aliados, reunidos na maior ofensiva j realizada at ento, a OperaoBarbarossa, atacaram a Unio Sovitica atravs dos territrios que ela havia ocupado pouco tempoantes. As foras invasorascontavamcom 3,2 milhesdecombatentes em 148divises, incluindode-zenove divisesPanzer - maisde3 000 tanques - e doze divisesde infantariamotorizada, alm de2000avies.Despreparadase em muitoscasosinstrudasa "noreagir a provocaes", as foras so-viticas guardavam as fronteiras com 2,5 milhesdecombatentes em 171 divises, que dispunhamde11000tanques, a maioriadeles obsoleta, e cercade7 000 avies, grandepartedosquais logo se-ria destruda no solo. Na contagem total, os soviticos tinham mais tanques e avies que o invasor.Mas suas limitaes, como a falta de aparelhos de rdio, eram fatais. No mais, tanques, avies e oresto do equipamento moderno, alm de nem sempre contarem com quem soubesse manej-los di-reito, tampouco se beneficiavam de planejamento capaz de maximizar sua utilidade. As foras in-vasoras, com sua experincia de batalha, eram exatamente o contrrio dessa ineficincia. Nocomeo de outubro, alm de tomarem ou destrurem quantidades incalculveis de armamento, osalemestinhammatadooucapturadocercade4 milhesdecombatentes soviticos,o que lhesdavarazes desobra para supor quea vitria final nose encontravamuito longee s dependiadeum gol-pe bem aplicado no centro do sistema, Moscou. Em outubro, o general Jukov, o mais capaz dos co-

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    mandantessoviticos e o nico disposto a contradizersistematicamenteStalin,assumiu o comandodacapital.Poucodepois, oitodivisescom 1000 tanques e 1000 avies chegaramdoExtremo Orien-te e detiveram o assalto alemo, que cessou no comeo de dezembro. No entretempo, a URSSperdeu para o invasor suas terras mais frteis, suas regies mais urbanizadas e industrializadas,suas cidades mais modernas, seus territrios cobertos pelas melhores estradas e fer-

    rovias, seus melhores portos, muito de sua capacidade produtiva e energtica. Em carter de emer-gncia e, ao que consta, sem grande planejamento prvio, pelo menos 1500 fbricas foram des-montadas, embarcadas em trens e enviadas, no raro junto com seus operrios especializados, aregies seguras, longe da frente de batalha, alm do Volga e dos Urais, onde seriam remontadas epostas, quanto antes, a produzir principalmente equipamento blico e de outras necessidades si-milares.

    Em 1942, depois do inverno, a iniciativa, embora mais limitada, ainda continuava nas mos dos ale-mes, que optaram porumanova ofensiva nosul cujo principal objetivoeraStalingrado, s margensdo Rio Volga. A cidade, dia a dia, cada vez mais demolida, transformou-se num grotesco campo debatalha, com os antagonistas enfrentandose sem trgua em todos os cantos possveis, de rua emrua, decasaem casa, s vezescom alemese soviticos ocupando andaresdiferentes deum mes-mo edifcio, e com uma quantidade aparentemente inexaurvel de novas tropas sendo despejadassem cessar na batalha insacivel. Stalin ordenou a seus generais que no recuassem nem aban-donassema cidade. Oque os alemesno sabiam, noentanto, que,a certa distncia, nasestepesao norte e ao sul, Jukov e outros estavam concentrando foras bem equipadas, treinadas e de-vidamenteorganizadas. Estas,em 19denovembro, comearam o primeirograndecontra-ataque doExrcito Vermelho, que, chamado de Operao Urano, resultou no cerco das foras alems e suasaliadas na regio de Stalingrado. Os alemes se renderam em 2 de fevereiro de 1943, e esse revs,seumaior at ento,marcou o pontoextremodesuaexpansomilitar.A partirdaquele momento,seuExrcito seria empurrado at assinar a rendio incondicional em meio s runas de Berlim.

    Entre Stalingrado e Berlim, houve uma longa srie de episdios famosos,

    comoKursk, a maior batalhade tanques dahistria. Coma experinciadecombate,o Exrcito russose tomou cada vez mais eficaz e, em vez de simplesmente temer os alemes, passou a ser temidoporeles.Noentanto,o preo que a UnioSovitica pagouporesseaprendizado foi altssimo. As per-das humanas so discutidas desde o fim da guerra - as estatsticas comunistas, afinal, nunca foramconfiveis -, mas esto estimadas em tomo de 25 milhes de mortos, um tero deles combatentes,

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    dois teros, civis. Para efeito de comparao com as outras frentes da II Guerra, os cerca de 8,5 mi-lhes de combatentes soviticos mortos so dez vezes mais numerosos que os mais ou menos800000 angloamericanos que caram lutando no s contra alemes e seus aliados, mas tambmcontra os japoneses : A que se deve tal diferena? verdade que os soviticos lutaram contra maisalemes, talvezat quatro vezesmais, e contra tropasmelhores. Mas verdade tambmque nemogovernobritniconemo americanopodiamse daraoluxodedesperdiar a vidadeseuseleitores. Emalgum momento, as autoridades dos pases democrticos teriam de dar conta de seus eventuais er-ros. Alm disso, talvez nunca se saiba que parcela das baixas soviticas deve ser atribuda a elesmesmos: soldadosque recuassem podiamser fuzilados. UmaordemdeStalin,conhecida como"ne-nhum passo para trs", reduzia a traidor quem se rendesse.

    Oscombatentes soviticos passaram meses, talvezanos,seguindo a trilhadedestruioqueos ale-mes deixaram atrs de si. Testemunharam o resultado da barbrie nazista em vrias cidades e po-voaes devastadas. No toa que chegaram Alemanha sequiosos de vingana. E essa sedeera ainda mais aguada quando constatavam que os alemes que encontraram ainda desfrutavamde um nvel de vida superior ao dos soviticos. Consta que as aes mais cruis ocorreram logo nasprimeiras povoaes alems alcanadas pelo Exrcito Vermelho - e essas aes foram de imediatoaproveitadas pela propaganda nazista para denunciar a barbrie "asitica". De todasas retaliaes,a mais conhecida foi o estupro em massa da populao feminina alem - alis, no s alem: outrasnaes inimigas sofreram com isso, e at algumas consideradas amigas, como a Iugoslvia.

    A simples comparao de sangue derramado no permite estimar qual membro da aliana an-tinazista foi responsvel por que parcela da vitria. Alm do sangue, os soviticos entraram tambmcom armamentos de primeira, como seu famoso T-34, um dos melhores tanques da guerra. A ca-pacidade de iniciativa e de improvisao que os soviticos mostraram ao remontar fbricas longedos invasorese aoproduzir quantidadesespantosasdearmamentos surpreendeuos alemes, que,com suas doutrinas racistas, nada esperavam dos povos eslavos. Mas a ajuda material dos aliados,sobretudo dos Estados Unidos, foi vital, incluindo caminhes e at o Spam (carne enlatada) que ali-mentou as

    tropas. Mais do que isso, a campanha de bombardeio da Alemanha, estima-se hoje, obrigou o Ter-ceiroReich a usarparasuadefesaantiareao equivalentea 50%detodaa artilhariaempregada con-tra os soviticos, bem como a maior parte de seus caas, recursos que poderam ter feito umadiferena fundamental na frente oriental.

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    Mas, na Unio Sovitica e em seus satlites, Stalin foi louvado como condutor absoluto da vitria noconfronto pico. O tirano morreu em 1953, no sem antes se livrar de quase todos aqueles que tor-naram possvel essavitria.Jukov, o principal responsvel pela vitria,at teve sorte: sofreuapenasum exlio interno, numremotocomandomilitar nosUrais.Nicolai Voznessenski, encarregadodopla-nejamento daeconomia deguerra, e Alexei Kuznetsov,um dos lderes deLeningrado durante o cer-co cidade, foram executados em 1950. A morte de Stalin desencadeou uma longa luta pelo poderda qual Nikita Kruschev emergiu, pelo menos temporariamente, como o vencedor. Para sepultar ofantasma de seu predecessor, denunciou, no 20-? Congresso do Partido Comunista da Unio So-vitica, seus crimes, que consistiam no s nas vtimas do terror, da represso, dos expurgos, mastambmem milhesdemortes desnecessriasquea incompetnciae a irresponsabilidademilitardoditador haviam provocado. Segundo Kruschev, a guerra fora ganha no por causa de Stalin, masapesar dele.ComStalinpostodelado, foi o povosocialistadaUnioSovitica,conduzido, claro,porseupartido, que passou a ser reconhecidocomoo agente dasalvaodomundo inteiro contraa bar-brie. A partir dessa data, a comemorao da vitria na Grande Guerra Patritica comeou, em todoo bloco sovitico, a eclipsar at mesmo as festividades da Gloriosa Revoluo de 1917. Na pro-paganda, o fascista tornouse cada vez mais o maior de todos os inimigos, superando o burgus, oreacionrio, o antirrevolucionrio, o inimigo de classe e similares. O que quer que se quisesse ca-racterizarcomoruim, nocivo,cruel,desumano,o vilo em geral,eraidentificado com o inimigoporex-celncia, com o grande mal por definio, o fascismo (e o nazismo, segundo a doutrina, era apenassua variante germnica). A vitria na Grande Guerra Patritica revelava a sabedoria e as boas in-tenes dopartido que conduzia os russos, provava a correo dosocialismo e apontavao caminhodofuturo para todaa humanidade.A propaganda sovitica foi eficiente: em algumamedida, a crenade que o comunismo seja o exato oposto do fascismo - do qual foi um aliado provisrio - ainda hoje encampada por muitos, e muito alm dos pases onde foi originalmente pregada.

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    09 de maio de 2015 Editoria: Internacional

    Notcias Internacionais

    Tiragem: 370,308Pgina: 074

    Pegos na ideologia do trfico

    Relatrio de coronel boliviano diz que o partido Podemos foi criado para transformar a Espanha emporta de entrada na Europa para a cocana traficada pela Venezuela

    DUDA TEIXEIRA

    O partido Podemos uma das estrelas da corrida para as eleies de novembro na Espanha. Commenos de dois anos de existncia, est em terceiro lugar na preferncia dos eleitores. Seu lder ocientista poltico Pablo Iglesias, de 36 anos. Com uma postura desafiadora, ele defende a re-distribuio dariqueza, vocifera contrao que chama deneoliberalismoe faz louvaes aofinado pre-sidente venezuelano Hugo Chvez. Para os jovens que o adoram, Iglesias um idealista que quertirar seu pas da crise. Para seus financiadores espalhados pela Amrica Latina, contudo, o papel aele reservado outro: tomar a Espanha em entreposto privilegiado de cocana na Europa. Mais doque buscar uma expanso ideolgica, o objetivo dos governos bolivarianos expandir seu principalnegcio: o trfico de drogas.

    A constatao est em um relatrioultrassecreto de34pginas assinado pelo coronelbolivianoGer-mn Car dona lvarez, que trabalhou como assessor jurdico da Oitava Diviso do Exrcito, foi pro-fessor universitrio e diretor do Hospital Militar Nmero 2 em Santa Cruz de la Sierra. No dia 20 defevereiro,eleenviouaocomandante-geral doExrcitodaBolviaum informeem quenarrava fatosdeseuconhecimento. As pginas,com denncias deenvolvimento demembros dogovernocom o nar-cotrfico, chegaram s autoridades e Cardona teve de fugir para a Espanha. No texto, ao qual VEJAteve acesso, o coronel relata a remessa de cocana peruana e boliviana do Aeroporto Internacionalde Chimor (Bolvia) para a Venezuela em avies militares, "os quais, por serem oficiais de um Es-tado, no podem ser interceptados no espao areo internacional". As aeronaves Hrcules C-130deixam a Venezuela com armamento militar e retomam carregadas de cocana e veculos que che-gam Bolviadepoisdeser roubadosnoBrasil.EmCaracas,a droga embarcadanovamentee dellevada a outros destinos. Dentro desse esquema, diz o relatrio, h seis anos, Hugo Chvez, o atualpresidente venezuelano Nicols Maduro e o boliviano Evo Morales usaram uma organizao cha-mada Centro de Estudos Polticos e Sociais (Ceps) para financiar o Podemos, da Espanha. "Umavez queconquistemo governoespanhol, serconstitudaumaportadiretaparaa entrada decocananaEuropa, que serenviada (...) em avies oficiais e militares" (veja trechodo documento na pg.ao lado). Oplanoprevia, portanto,que, com os aliados nopoder, seria possvel burlar a fiscalizaoantidrogas nos aeroportos espanhis.

    As relaesentreo Podemos e os governosautoritriosdaAmricaLatina sontimas e certas.Ojor-

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    nalespanhol ElPas revelou, em junhodoanopassado, queo Ceps recebeu3,7 milhesdeeurosdogovernovenezuelano entre2002, quando foi fundado, e 2012. Opagamento estavavinculado a ser-vios prestados a vrios rgos do governo da Venezuela, incluindo uma assessoria direta a HugoChvez. Entre 2006 e 2007, Iglesias esteve pessoalmente trabalhando nesse pas. Alm disso, em2007, umaequipe doCeps,comandada pelo espanhol, prestou "assessoria ideolgica"aospolticosque redigiram a nova Constituio daBolvia,nacidadedeSucre. Otexto,aprovado em um quartel esem a presenadaoposio,declaroua folhadecoca, matria-primadacocana,um "patrimniocul-tural, recurso natural renovvel e fator de coeso social" que deve ser protegido pelo Estado.

    Em janeiro de 2015, uma nova descoberta levou um dirigente do Podemos e ex-membro do Ceps, ocientista poltico Juan Carlos Monedero,a deixar o partido. Ele foi acusadodereceber 425 000 eurosdos governos da Bolvia, da Nicargua, da Venezuela e do Equador a pretexto de um estudo sobreuma utpica "unidade monetria" na Amrica Latina. Os repasses ocorreram no fim de 2013, mesesantes das eleies de maio do ano seguinte. A suspeita que o montante tenha sido empregado nacriao do Podemos. A legislao espanhola, contudo, probe que as siglas recebam verba do ex-terior.

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    09 de maio de 2015 Editoria: Sua opinio

    Colunas

    Tiragem: 452,793Pgina: 026

    Sua opinio

    O MINISTRO DEFENSIVO

    Em entrevista a POCA (883/2015), oministro da Defesa, Jaques Wagner,criticou o movimento pelo im-peachment

    Sobre o impeachment de Dilma,Jaques Wagner pergunta: "Tirar parabotar o qu?". Para botar gente ho-nesta, que combata as mazelas cria-das por um partido que se dizia obastio da tica.

    Ivanoel Oliveira, Braslia, DF

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    09 de maio de 2015 Editoria: Brasil Confidencial

    Colunas

    Tiragem: 396,856Pgina: 24

    Brasil Confidencial

    A meia verdade do PT sobre as doaes privadas O anncio feito pelo presidente do PT, Rui Falco,de que o partido no vai mais aceitar doaes de empresas tem jeito de propaganda enganosa

    O anncio feito pelo presidente do PT, Rui Falco, de que o partido no vai mais aceitar doaes deempresas temjeitodepropagandaenganosa.Diferentementedoquesugere a direopetista, a res-trio vale apenas para os diretrios da sigla. As contribuies privadas continuaro sendo aceitaspelos candidatos a todos os cargos nas campanhas eleitorais. Esse tema tem tudo para se trans-formar nodebate maisacirradodocongressodopartido, marcado para ocorrer em Salvadorentre11e 14 de junho.

    Corrente partida

    A discusso sobre o financiamento privado divide at mesmo a Construindo um Novo Brasil (CNB),corrente majoritria do PT. O ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Agrrio), por exemplo, de-fende o recebimento apenas de verbas do Fundo Partidrio e de contribuies dos militantes. Todosgostaram do recente aumento de 200% do fundo.

    Questo de conscincia

    Dentro da CNB, os grupos que se opem em relao s doaes esto sendo chamados de "cons-cientes" e "inconscientes". Os primeiros assim se intitulam por querer evitar novos escndalos. Osoutros avaliam que, sem recursos de empresas, o PT ter desempenho eleitoral pfio.

    Corte pela metade

    O comando da Sete Brasil, empresa investigada pela Lava Jato, quer reduzir em 50% as en-comendas de navios-sonda para a Petrobras. Em vez dos 28 contratados, seriam entregues 14. Es-sa uma das medidas pensadas para diminuir os prejuzos e evitar a falncia da empresa.

    O Siga est parado

    O atraso na votao do Oramento 2015 afetou a principal ferramenta de transparncia dos gastosdo Estado, o Siga. O portal ainda no foi atualizado com as aplicaes dos recursos pblicos desteano. Enquanto isso, os cidados no tm acesso aos gastos dos Trs Poderes.

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    Vigilncia virtual

    A Presidncia da Repblica est selecionando especialistas em redes sociais para fazer m