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CADERNOS UniFOA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA ISSN 1982-1816

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CADERNOS UniFOACENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA

FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA

ISSN 1982-1816

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CADERNOS UniFOACENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA

FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA

ANO IV - Nº 09 - abril/2009

FOA

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Comitê Editorial

Agamêmnom Rocha SouzaMauro César Tavares de Souza

Ranieri Carli de OliveiraRosana Aparecida Ravaglia Soares

Conselho EditorialAntônio Henriques de Araújo Junior

Carlos Roberto XavierClifford Neves Pinto

Edson Teixeira da Silva JuniorFlávio Edmundo N. HegenbergIlda Cecília Moreira da Silva

Renata Almeida de SouzaRenato Porrozi de Almeida

Denise Celeste Godoy de Andrade Rodrigues

Revisão de textos

Maricinéia Pereira Meireles da SilvaMarcel Alvaro de Amorim

Conselho Editorial ad hoc

Claudinei dos Santos RibeiroDoutor em Engenharia de Materiais - Escola de Engenharia de

Lorena - Universidade de São Paulo - EEL/USP

Diamar Costa PintoDoutor em Biologia Parasitária - Fundação Oswaldo Cruz

Fabio Aguiar AlvesDoutor em Biologia Celular e Molecular - Universidade Federal

Fluminense

Igor José de Renó MachadoDoutor em Ciências Sociais - Universidade Estadual de Campinas

- Professor do Departamento de Antropologia - UFSCAR

Maria José Panichi VieiraDoutora em Engenharia Metalúrgica pela Pontifícia Universidade

Católica do Rio de Janeiro

Ruthberg dos SantosDoutor em Administração pela Universidade de São Paulo

Douglas Mansur da SilvaDoutor em Antropologia Social – Univercidade Federal de Viçosa

CapaDaniel Ventura

EditoraçãoEric Briam

FOAPresidente

Dauro Peixoto Aragão

Vice-PresidenteJairo Conde Jogaib

Diretor Administrativo - FinaceiroJosé Vinciprova

Diretor de Relações InstitucionaisIram Natividade Pinto

Superintendente ExecutivoEduardo Guimarães Prado

Superintendência GeralJosé Ivo de Souza

UniFOAReitor

Alexandre Fernandes Habibe

Pró-reitora AcadêmicaCláudia Yamada Utagawa

Pró-reitora de Pós-Graduação,Pesquisa e Extensão

Maria Auxiliadora Motta Barreto

Cadernos UniFOAEditora Executiva

Flávia Lages de Castro

Editora CientíficaMaria Auxiliadora Motta Barreto

EXPEDIENTE

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FICHA CATALOGRÁFICABibliotecária Alice Tacão Wagner - CRB 7 - 4316

UniFOA. Cadernos UniFOA. Ano IV nº 9, abril.Volta Redonda: FOA, 2009.

Periodicidade QuadrimestralISSN 1982-1816

1. Publicação Periódica. 2. Ciências Exatas - Periódicos.3. Ciências Sociais aplicadas - Periódicos. 4,. Ciências daSaúde - Periódicos. I. Fundação Oswaldo Aranha.II. UniFOA - Centro Universitário de Volta Redonda.III. Título

CDD 050

Centro Universtitário de Volta Redonda - UniFOA

Campus Três Poços

Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325Três Poços, Volta Redonda /RJ

CEP 27240-560Tel.: (24) 3340-8400 - FAX: 3340-8404

www.unifoa.edu.br

Versão On-line da Revista Cadernos UniFOAhttp://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/index.html

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SUMÁRIO

EDITORIAL ................................................................................................................................................................. 09

ENSAIO ......................................................................................................................................................................... 11

CIÊNCIAS EXATAS

Análise Aerodinâmica e Térmica de uma Câmara de Combustão anular de Turbinas a Gás Utilizando CFDLucilene de Oliveira Rodrigues e Prof. Dr. Marco Antonio Rosa do Nascimento ..................................................................... 13

Web Semântica: Uma Rede de ConceitosJosé Maurício dos Santos Pinheiro ..................................................................................................................................................... 23

CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E HUMANAS

A Ética Como Problema HistóricoRanieri Carli e Henrique André Ramos Wellen ..................................................................................................................................... 29

Estudo da Logística Urbana No Municipio De Lorena – SP.Eriane Fialho de Carvalho , Rosinei Batista Ribeiro e Humberto Felipe da Silva .................................................................... 35

O Olhar - Fazer Interdisciplinar no Atendimento às Vitimas de Violência Doméstica no Âmbito Policial: Estudo Preliminar.¹ ² Michael Hermann ..................................................................................................................................................................................... 41

CIÊNCIAS DA SAÚDE

Avaliação Nutricional em Funcionários de uma Unidade de Alimentação e NutriçãoFernanda de Almeida Escobar ................................................................................................................................................ 51

Como Preparar um Relato de Caso Clínico Júlio Aragão e Mauro Tavares ............................................................................................................................................... 59

Técnicas Reexpansivas no Derrame Pleural - Uma Revisão de Literatura Cleize Silveira Cunha , Bruno Soares e Ramon Rocha Nascimento ...................................................................................................... 63

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LIST OF CONTRIBUTIONS

EDITORIAL ................................................................................................................................................................. 09

ACCURATE SCIENCES

Aerodynamic and Thermal analysis of a Combustion chamber annular of Turbines Gas Using CFD Lucilene de Oliveira Rodrigues e Prof. Dr. Marco Antonio Rosa do Nascimento ..................................................................... 13

Semantic Web: A Network of ConceptsONCEPTSJosé Maurício dos Santos Pinheiro ..................................................................................................................................................... 23

SOCIAL SCIENCES APPLIED AND HUMAN BEINGS

From work to ethics: elements of a materialistic ontologyRanieri Carli e Henrique André Ramos Wellen ........................................................................................................................................ 29

Study Of The Urban Logistics In Lorena City – Sp.Eriane Fialho de Carvalho , Rosinei Batista Ribeiro e Humberto Felipe da Silva ............................................................................ 35

Interdisciplinarity In Giving Assistance To Victims Of Domestic Violence In The Political Scope: Preliminary Study.Michael Hermann ..................................................................................................................................................................................... 41

SCIENCES OF THE HEALTH

Nutritional Evaluation In Employees Of A Food And Nutrition UnitFernanda de Almeida Escobar ............................................................................................................................................ 51

How To Prepare A Clinical Case ReportProf. Doutor Júlio Aragão e Prof. Doutor Mauro Tavares .................................................................................................. 59

Re-expansion techniques in pleural effusion: a review Cleize Silveira Cunha, Bruno Soares E Ramon Rocha Nascimento ......................................................................................................... 63

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Editorial

Em um mundo em constante mudança, muitas vezes, conseguimos perceber a ciência sempre aquém do que se desejaria e se pensaria em termos ideais. Comum notar também, quando em transformações sociais e crises econômicas, a ciência ser prejudicada e cientistas sentirem-se desestimulados.

Por isso, em meio a uma crise mundial, vermos o Cadernos UniFOA cumprir novamente o seu papel nos trás alegria e esperanças na ciência e na vontade de pesquisa de professores, alunos e colaboradores externos que fazem parte de mais esta conquista do Centro Universitário de Volta Redonda.

Nemsempreéfáciltransporobstáculoseconseguirengendrarpesquisacientíficasériaecontínuanesteeemoutrospaíses.Mas,podemosafirmarcomcerteza,queopapelexercidoportodos os pesquisadores que estão presentes no número nove de nossa revista, contradiz a corrente e demonstra, mais uma vez, que a qualidade pode estar nos grandes centros ou no interior, dependendo exclusivamente do comprometimento de docentes, discentes e Instituição na formação de pessoas com capacidade pensante, o que é dado pela pesquisa.

Parabéns aos que participam deste número.

Boa leitura!

Flávia Lages de CastroEditora Executiva

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Ensaio - “Profissional cidadão: exigência do mercado de trabalho hoje”

Hojeemdia,omercadodetrabalhoexige,cadavezmais,profissionalcomamplaformaçãoacadêmica:certificações,cursosextracurriculares,pós-graduação,etc.Empresas,afimdesatisfa-zer suas necessidades e a de seus clientes, investem milhões de reais lapidando jovens talentos. A formação do profissional cidadão, nova face da formação acadêmica hoje, abrange basicamentedois aspectos: humana ou cidadã e técnica. O primeiro aspecto é a formação humana ou cidadã. O profissionalnecessitadeumaformaçãohumanaoucidadãplenaafimdequepossaconstruir,dentrodesi,abaseparaumavidapessoaleprofissionaldigna,éticaesolidária. A primeira etapa na construção dessa base é a formação humana da identidade do estudante. Oalunoqueiniciaumagraduaçãoassumeessaidentidadepessoaleprofissional,umaposturaperan-te sua realidade como estudante universitário. Por exemplo, o aluno (a) inicia sua graduação como engenheiro (a) ambiental, a partir do início do curso, ele (a) assume sua identidade de engenheiro (a) ambiental em processo de formação. Essa identidade assumida facilita o processo de formação, institui a certeza dentro do estudante de pertencer ao curso, a um centro universitário, motivando-o a desenvolver as atividades acadêmicas com maior interesse e objetividade. Da mesma forma que o estudante, professores e funcionários necessitam também dessa identida-de,assumindonãosomentearesponsabilidadeprofissional,masprincipalmentearesponsabilidadesocial no processo de formação dos alunos, é fundamental que todos possam assumir de fato essa identidade,sejaprofessor,funcionáriooucolaborador,afimdequeoprocessodeformaçãosejaplenoduranteodecorrerdaformaçãouniversitáriadoacadêmico,eoprofissionalformadoestejaprontoparaenfrentarosdesafiosqueapartirdeentãonortearãosuavidaprofissionalepessoal.Éfato que temos e estamos construindo no UniFOA um centro universitário que ajuda o estudante a adquirir essa identidade. A segunda etapa na construção dessa base é a formação humana com foco na qualidade, segurança, saúde e meio-ambiente. Há uma urgente necessidade hoje, dentro das faculdades e cen-tros universitários, independente do curso ou graduação oferecidos, de incluir esta formação nas respectivas matrizes curriculares. Essa formação acarretaria num diferencial curricular essencial dos nossosalunosnomercadohoje.Empresasprocuramcontratarprofissionaisquecontamcomumaconsciênciacidadãpessoaleprofissionalformada,ouseja,desenvolvemseustrabalhoseatividadesconsiderando, conscientemente, esses quatro aspectos acima mencionados. O Segundo aspecto dessa formação é o conhecimento técnico multidisciplinar. A formação técnicaprofissionaltemsuaestruturabasenamatrizcurriculardecadacursoe,nocasoespecíficodasengenharias,incluitambémestágiossupervisionadoseodesenvolvimentodeumamonografiaaofinaldocurso.Omercadoexigeumamatrizcurricularmultidisciplinar,ouseja,profissionaiscomformaçãoabrangenteeversátil,experiênciaprofissionalecomcapacidadedeproduzirdocumenta-çãotécnico-científicadequalidade.Asempresashojeescolhemprofissionaiscomexperiênciademercado para seus quadros, mas no caso de contratação de recém-formados, o estágio supervisiona-doeamonografiasãodiferenciaisnahoradacontratação. Empresas adaptam-se ao mercado e manifestam esta adaptação de várias formas, seja am-pliandoseusquadrosfuncionais,contratando talentosquebusquemavidamentenovosdesafiosemercados consumidores, sejam pelas demissões em massa, reduzindo os quadros funcionais em vir-tude da retração do mercado e perda de clientela para outras empresas pelos mais diversos fatores. O mercado de trabalho varia ao sabor das mudanças políticas e econômicas do País, mas uma em-presaquecontacomumprofissionalcidadãonãooperdefacilmente,poisécientedequeesteéa chave para sua sobrevivência às novas mudanças de um futuro incerto. Dessa forma, os centros universitários devem responder a essa necessidade de mercado hoje, se transformando em núcleos eficientesdeformaçãodemãodeobraespecializadadealtaqualidade.

Marcus Vinícius de Melo FreireFísico, professor da escola de engenharia UniFOA

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Análise Aerodinâmica e Térmica de uma Câmara de Combustão anular de Turbinas a Gás Utilizando CFD Aerodynamic and Thermal analysis of a Combustion chamber annular of Turbines Gas Using CFD

Lucilene de Oliveira Rodrigues Prof. Dr. Marco Antonio Rosa do Nascimento

Palavras-chaves:

Dinâmica de Fluido Computacional

Câmara de Combustão

Aerodinâmica

Temperatura

Resumo

Para a solução de problemas complexos da engenharia e da física, têm sido utilizadas técnicas numéricas, graças ao grande desenvolvimento de computadores de alta velocidade e capacidade de armazenamento. O engenheiro utiliza três ferramentas para o desenvolvimento de projetos e análise de problemas, são elas: métodos analíticos, numéricos e experimentais. Os métodos analíticos e numéricos formam a classe dos métodos teóricos, pois objetivam resolver as equações diferenciais que formam o modelo matemático, sendo a complexidade das equações, a diferença entre eles. Com relação à experimentação em laboratório, esta tem a vantagem de se tratar com uma configuração real, porém, nem sempre é possível ou viável devido ao altíssimo custo e, algumas vezes, não poder ser realizada por motivos de segurança. Os resultados obtidos com as simulações, são usados para obter importantes informações durante a fase do projeto ou otimização de equipamentos industriais. Sua utilização gera resultados de confiança a um baixo custo, devido ao número reduzido das experiências, como também a oportunidade de desenvolver novos produtos e de executar muitas simulações antes de sua produção. Este trabalho visa apresentar resultados da aerodinâmica de câmaras de combustão, como também a análise temperatura, utilizando uma ferramenta de CFD (Dinâmica Fluida Computacional), através do software CFX.

ArtigoOriginal

Original Paper

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Key words:

Computation Fluid Dynamics

Combustion chamber

aerodynamic

temperature

Abstract

The use of numerical techniques for the solution of complex problems of engineering and the physics has been used thanks to the great development of computers of high speed and capacity of storage. The engineer uses three tools for the development of projects and analysis of problems, they are: analytical, numerical and experimental methods. The analytical and numerical methods form the classroom of the theoretical methods, therefore they objectify to decide the distinguishing equations that form the mathematical model, being the complexity of the equations, the difference between them. With regard to the experimentation in laboratory, this has the advantage of if dealing with a real configuration, however nor always possible or viable it must to the highest cost and some times power not be carried through by security reason. The results gotten with the simulations, are used to get important information during the phase of the project or optimization of industrial equipment. Its use generates resulted reliable to a low cost, which had to the reduced number of the experiences, as well as the chance to develop new products and to execute many simulations before its production. This work aims at to present resulted of the aerodynamics of combustion chambers, as well as the analysis temperature, using a CFD tool (Computation Fluid Dynamics), through software CFX.

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INTRODUÇÃO

As microturbinas têm sido alvo de pesquisas desde 1970 pela indústria automobilísticaeseuusotemseintensificadoà medida que se tem maior conhecimento sobre o assunto. As microturbinas a gás apresentam boas perspectivas para geração distribuída de eletricidade de pequeno porte, pois, apresentam características como: alta confiabilidade, simplicidade de projeto,compacta, de fácil instalação e manutenção. A participação das unidades de geração termelétrica com turbina a gás no setor elétrico brasileiro já constitui mais de 21 [%] dos empreendimentos de geração elétrica em operação, de acordo com dados fornecidos pelo Ministério de Minas e Energia (2006), totalizando uma potência de aproximadamente 41 [GW] em relação ao total instalado de 195 [GW]. Devido aos fatos citados, o estudo das microturbinas a gás se torna interessante e importante ao desenvolvimento tecnológico e, em particular, o estudo das suas câmaras de combustão. Como a câmara de combustão é responsável por queimar o combustível e liberar energia (calor), dando origem a uma corrente suave e uniforme de gases, que serão expandidos na turbina, este componente está diretamente relacionado com a eficiência ecom a emissão de poluentes, fatores de extrema importância para o desenvolvimento de novos projetos ou aprimoramento de equipamentos existentes. A atratividade das turbinas a gás de menores potências é baseada, principalmente, nas possibilidades de conseguir níveis de desempenho satisfatório sem um aumento dramático nos valores da relação de pressão do ciclo e das temperaturas da entrada da turbina, evitando assim, o aumento dos custos de manufatura de componentes, como também, diminui a necessidade da utilização de ligas metálicas mais nobres. O estudo de câmaras de combustão é muito complexo devido ao grande número de variáveis envolvidas, principalmente, no que diz respeito às reações do processo de combustão. Devido à sua complexidade, a análise desse componente se torna onerosa no processo de desenvolvimento, sendo necessária a utilização de simulações numéricas, para que este estudo seja viável, eficienteecommenorcusto.

Uma técnica de análise que vem sendo largamente utilizada em diversas áreas, inclusive em estudos de câmaras de combustão, é a Dinâmica de Fluidos Computacional (CFD), capaz de melhorar produtos que já estão no mercado, como também idealizar novos produtos, mais eficientes e com umnúmero reduzido de testes experimentais. Essa metodologia geralmente é baseada nos métodosnuméricosdotipodiferençasfinitas,elementos finitos e volumes finitos. Parase conseguir bons resultados, utilizando a Dinâmica de Fluido Computacional, deve-se ter equipamentos adequados e robustos, além de pessoal capacitado e comprometido com as simulações. À medida que as pesquisas evoluem, modelos matemáticos mais robustos e computadores mais rápidos são desenvolvidos, permitindo projetar câmaras de combustão mais eficientes,combaixasemissõesdepoluentesea um baixo custo. Por esse caminho é possível melhorar os processos e desenvolver novas tecnologias para as câmaras de combustão.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Micro turbinas a Gás A primeira tentativa bem sucedida a produzir trabalho com turbina a gás foi alcançada por Aegidius Elling, em 1903, na qual a turbina a gás projetada produziu um trabalho de eixo de 11 hp, com uma câmara de combustão a pressão constante. Em se tratando de turbina a gás com volume constante, esta foi construída entre 1908 e 1913, proposta por Hans Holzawawrth. Em se tratando de ciclos simples, as turbinas a gás podem assumir algumas configurações, que podem ser vistas naFigura 1. Visando solucionar problemas aerodinâmicos de compressão e desempenho deoperação,baseadosnaaplicaçãoespecífica,ociclosimplespodeapresentarconfiguraçõesdiferentes e as turbinas podem, assim, ser divididas em dois grupos, sem turbina livre e com turbina livre. Em configurações comturbina livre ou de potência e gerador de gás, (onde o gerador de gás pode ser de um, dois ou três eixos), os casos com mais de um eixo, têm a finalidade de aumentar a eficiênciatérmica, aumentando a razão de pressão do ciclo, com isso, divide-se a compressão em vários estágios, aumentando a eficiência

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aerodinâmica do processo de combustão. Outras possíveis configurações de turbinas agás são: adição de resfriamento intermediário (intercoolers) entre os compressores, câmaras adicionais de combustão, trocadores de calor, com injeção de vapor e água. Todas as variações citadas visam aumentar a potência útil e a eficiência térmica, porém,aumentando não somente a complexidade dos equipamentos, como também o seu peso e os custos. Maiores detalhes sobre aos ciclos de produção de energia com turbinas a gás podem ser encontrado em Lora e Nascimento (2004).

As turbinas a gás regenerativas usam os gases de exaustão, no trocador de calor (regenerador), para aquecer o ar que sai do compressor, antes da sua entrada na câmara de combustão. Com o pré-aquecimento do ar, o consumo de combustível é reduzido, aumentando a eficiência térmica do ciclo.Este ciclo é representado na Figura 2a.Com o objetivo de aumentar ainda mais a eficiência térmica e o trabalho útil do ciclo,pode-se adicionar simultaneamente ao ciclo, além do trocador de calor regenerativo, um intercooler, cuja função é reduzir o trabalho de compressão, aumentando o trabalho útil do ciclo. Na Figura 2b, é mostrada essa configuração, onde a compressão ocorre emdois compressores, tendo um interccoler entre eles para reduzir a temperatura do ar que entra nosegundocompressor.Otrabalhoespecíficoé aumentado, pois o trabalho de compressão é função da temperatura de entrada do ar, ou seja, uma redução na temperatura de entrada causa redução no trabalho de compressão.

Em turbinas a gás que utilizam a injeção de vapor, Figura 3a, este é injetado na saída do compressor, aumentando o trabalho produzido, já que aumenta a vazão em massa que expande na turbina. Esse vapor pode ser gerado numa caldeira de recuperação com aproveitamento da energia dos gases de exaustão da turbina. Outra vantagem importante da injeção de vapor é a redução das emissões de NOx, item significativo em projetos. Essa redução édevida à criação de uma mistura uniforme de vapor e ar, ou seja, reduzindo a temperatura na zona de combustão e, consequentemente, diminuindo a formação de NOx.O ciclo com injeção de água, Figura 3b, apresenta as vantagens do ciclo regenerativo, somadas àquelas do ciclo com injeção de vapor, entre elas: redução de emissão de NOx e alta eficiência térmica. Um atomizadorde água é colocado entre o compressor e a câmara de combustão. A queda de temperatura do ar pela adição de água é recuperada no regenerador, próximo componente do sistema. Porém, essa configuração temalguns problemas, os quais são: a corrosão do regenerador devido a presença de água, a possibilidade de o regenerador incendiar-se, pois este tende a desenvolver pontos quentes quando não está totalmente limpo.

Figura 1. Configurações para o ciclo simples.

Figura 2 - A. Ciclo regenerativo ideal

Figura 2 - B. Ciclo regenerativo com intercooler

Figura 3 - A. Ciclo com injeção de vapor

Figura 3 - A. Ciclo com injeção de vapor

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As câmaras de combustão de turbinas a gás têm a finalidade de queimaruma quantidade de combustível fornecida pelo injetor, com uma grande quantidade de ar, proveniente do compressor, e liberar o calor de tal maneira que o ar seja expandido e acelerado, de forma a resultar numa corrente suave e uniforme do gás quente, a qual é necessária à produção de potência pela turbina. Isso deve ser alcançado com a mínima perda depressãoeamáximaeficiência.Umesquemade um ciclo simples pode ser visto na Figura 4.

Em microturbinas que possuem um único eixo, neste estão montados o compressor, a turbina e o gerador. Como esse conjunto trabalha a alta rotação, há muitas perdas por atrito, por isso, havendo maior necessidade de resfriamento, principalmente, se o gerador se encontra próximo das partes quentes da microturbina. Emalgumasconfigurações,parapromoveroresfriamento do gerador, este é colocado no duto de admissão de ar, produzindo uma queda de pressão estática na entrada do compressor e um aumento da temperatura do ar, Figura 5.

Hoje em dia, para se projetar uma câmara de combustão, pode-se contar com ajuda de softwares de simulação numérica, que contribuem para um projeto de boa qualidade, com resultados satisfatórios e a um baixo custo. Diferentes métodos podem ser utilizados para a análise de câmaras de combustão. Dentre eles, o CFD (Computational Fluid Dynamics), baseado no Método de Volumes Finitos, tem sido largamente utilizado para análise de câmaras de combustão anulares e tubulares. Por exemplo, Lai (1997), utilizou as análises CFD, para uma previsão exata dos pontos

quentes, que correspondem às localizações dos pontos mais críticos para o combustor, Turrel et al (2004) verificaram os picos detemperaturas na NGV central, Darbyshire et al (2006), estudaram as condições de entrada da mistura combustível e ar, entre outros. À medida que as pesquisas evoluem, modelos matemáticos mais robustos e computadores mais rápidos são desenvolvidos, permitindo projetar câmaras de combustão mais eficientes, com baixas emissões depoluentes e a um menor custo. Por esse caminho, é possível melhorar a modelagem da combustão, Kuo(1986), alcançando resultados mais precisos, em menor tempo e a um custo reduzido. Paraaumentaratemperaturadofluxode ar, a câmara de combustão deve satisfazer vários requisitos, entre eles:

- Deve ser capaz de garantir a ignição em várias condições;- Operar de forma estável em várias condições;- Promover a queima completa minimizando a formação e emissão de poluentes;- Promover a mistura e diluição dos gases de queima para evitar danos na turbina devido ao gradiente de temperatura dos gases de exaustão;-Obterumperfildetemperaturauniformenasaída da câmara de combustão;- Ter baixa perda de carga;- Ter o tamanho, peso e custo reduzidos, além de vida útil aceitável.

Métodos numéricos aplicados a combustores

Vários estudos têm sido realizados sobre câmaras de combustão, devido à necessidade contínua dos avanços das tecnologias das turbinas a gás. Com a introdução de novos conceitos de combustores, que apresentam valores muito baixos de emissões, juntamente com desenvolvimento simultâneo na preparação de combustíveis e técnicas de resfriamento das paredes do tubo de chama, um estudo mais detalhado deste importante componente das turbinas, se faz necessário. Lefebvre, em 1998, apresentou um estudo de vários aspectos da combustão de turbinas a gás, entre eles conceitos básicos sobre os tipos de combustores, fundamentos da combustão, difusores, aerodinâmica, desempenho da combustão, injetores de combustíveis, formação de ruídos e transferência de calor.

Figura 4 - Ciclo simples

Figura 5 - Exemplo de Microturbina (Capstone Co.)

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A adição de hidrogênio à reação de combustão foi estudada por alguns pesquisadores, devido a sua significativamudança no comportamento da chama. Em 2002, Tomczak et al estudaram uma câmara de combustão tubular, utilizando diferentes concentrações de metano e hidrogênio. Pode-se concluir com esses estudos que houve redução do alcance da chama, aumento da temperatura da chama e, por consequência, aumento de emissões de NOx e CO. Esse fatotambémfoiverificadoporCozzieCoghe(2006), porém, utilizando gás natural como combustível, variando as concentrações de hidrogênio. Já Ilbas et al (2006), fizerama análise das misturas ar-hidrogênio e ar-hidrogênio-metano, e concluíram que diminuindo o percentual de hidrogênio nas misturas ar-hidrogênio-metano, pode ocorrer um aumento da velocidade da chama.

Segundo estudos realizados por Sadiki et al (2004), quando a intensidade da turbulência aumenta, a eficiência datransferência de massa também é aumentada. O aumento do grau do swirl acentua a taxa de misturaeexerceforte influêncianoprocessode combustão.

De acordo com circunstâncias operacionais, uma configuração apropriadapara o combustor deve superar alguns problemas, tais como: os limites de flamabilidadeeatrasonaigniçãoparaoinícioe desenvolvimento da combustão, o excesso em frações de hidrocarbonetos não queimados ou índices de CO e as não uniformidades na distribuição da temperatura na entrada das palhetas da turbina, causadas pelas taxas de reações reduzidas.

O combustor utilizado para os experimentos de Turrell et al (2004) foi o combustor DLE (combustor com pré-mistura pobre de baixas emissões) industrial da Demag Delaval Turbomachinery, onde foi realizada a validação da análise CFD aplicado à relação de combustor/turbina.

Foi utilizado o modelo de turbulência k-ε e o modelo das tensões de Reynolds(RSM), para a verificação da resolução deambos. Na Figura 6, em que é mostrado a magnitude da velocidade tangencial, pode se verificar que o modelo das tensões deReynolds (RSM) apresenta uma solução melhor do que o modelo k-ε, ou seja, osresultadosobtidossãomaisrefinados,podendoser identificados mais detalhadamente asvariações, tanto de velocidade, como também de pressão e temperatura do objeto de estudo. Uma desvantagem desse modelo é a alta complexidade de suas equações.

DESCRIÇÃO DA CÂMARA DE COMBUSTÃO DA SOLAR TURBINES

A câmara de combustão estudada neste trabalho pertence a uma microturbina a gás do tipo anular, fabricada pela Solar Turbines Modelo T-62T-32 com potência de 60 [kW]. Essa microturbina é muito compacta e relativamente leve, pesando em torno de 68 kg. Algumas partes dessa microturbina, onde se encontra a câmara de combustão, podem ser vistas na Figura 7.

Figura 6 - Velocidade tangencial normalizada no plano

diametral através do combustor. Comparação entre o

modelo k-ε e modelo das tensões de Reynolds.

Figura 7 A/B. Microturbina, modelo T-62T-32 fabricada pela Solar Turbines.

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Algumas características operacionais e de manutenção desta microturbina podem ser encontradas no Technical Manual Overhaul (1992), de onde foram extraídos os dados técnicos necessários para as simulações. A câmara de combustão da microturbina citada e que foi simulada neste trabalho, apresenta 6 bicos injetores, cujos ângulos de inclinação são de 60º em relação a direção axial. Contém também 86 orifícios primários, presentes na zona de combustão, somados a 46 orifícios secundários, ou de diluição. Esses orifícios são utilizados para se obter uma melhor distribuição do fluxo no interior da câmara,ancoragemdachama, formaçãodeumfilmede resfriamento próximo ao tubo de chama, além de servirem para diluir os gases produtos da combustão, favorecendo a dissociação dos poluentes formados na região da chama. A microturbina fabricada pela Solar Turbines se encontra instalada no Laboratório deMicroturbinaseGaseificaçãodeBiomassada Universidade Federal de Itajubá. O combustível utilizado foi o gás natural e a câmara simulada, fabricada pela Solar Turbines, foi projetada para combustíveis líquidos(querosene).Opodercaloríficodestescombustíveis tem valores próximos, sendo que o PCI do gás natural é 47 MJ/kg e do querosene é 43 MJ/kg. Algumas diferenças serão notadas quando analisada a combustão, como por exemplo, na quantidade de ar necessária para a zona primária da combustão e para a diluição, como também no tempo de residência, que no caso dos líquidos é maior.

MODELAGEM DA CÂMARA DE COMBUSTÃO DA SOLAR TURBINES

A composição do gás natural estudado pode ser vista na tabela 1, onde são mostradas as composições em frações molares e mássicas de cada componente. Para a análise do processo de combustão, utilizou-se, inicialmente, o Software Gaseq, para a estimativa da temperatura adiabática da chama que, para este caso, foi de 2180 [K] aproximadamente.

A câmara de combustão estudada foi dividida em 6 partes para a simulação no CFX, valor referente ao número de injetores presentes na mesma, conforme estudos de Gosselin et al (2000), como também de Rizk e Monglia (1991).

Essa divisão é muito importante devido a alguns fatos, entre eles: a câmara é formada de iguais setores, favorecendo a análise dos mesmos; possibilidade de fazer uma malha mais refinada com o intuito de melhorar asanálises realizadas; menor comprometimento da memória computacional e menor tempo de processamento dos resultados. O setor estudado da câmara de combustão da microturbina da Solar Turbines, é mostrada na Figura 8. A Figura 8 se refere à geometria estudada no Ansys CFX versão 11 e gerada pelo CFX build versão 5.6. É importante lembrar que o bico injetor, presente na câmara estudada, é um bico alternativo, já que o objetivo foi estudar o escoamento no interior da câmara, sendo que, na câmara de combustão da microturbina da Solar, o bico injetor é mais complexo, O bico injetor, como também, os orifícios primários e de diluição têmimportânciasignificativaparaoprocessode combustão, de forma que essas análises serão realizadas no decorrer do trabalho.

Condições de Projeto

As condições de projeto foram obtidas através do software GateCycle e do Gaseq. Os valores dos parâmetros de projeto obtidos pelos programas citados são apresentados na Tabela 2. Para o cálculo da região de injeção de ar primário e de combustível da câmara de combustão e para as simulações foi utilizada uma perda de carga de 2%, sendo a pressão na entrada da câmara de combustão igual a 4 bar.

Inicialmente,sãodefinidasasregiõesa serem estudadas, de acordo com os dados de entrada coletados. Por exemplo, deve-se ter uma região definida para a entrada dear, entrada de combustível e saída dos gases provenientes da combustão. Outra superfície a serdefinidaéasuperfíciecaracterizadacomoperiódica, ou seja, a superfície de ligação

Figura 8. Geometria do setor da câmara de combustão da Solar Turbines

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entre o setor estudado e o seguinte, e assim sucessivamente até completar toda a câmara. AFigura9mostraadefiniçãodassuperfíciescaracterizadas como periódicas, bem como as entradas de ar e combustível e a saída dos gases. A definição das regiões é realizadade acordo com os interesses de cada estudo específico. Poder-se-ia ter uma geometria na qual uma superfície simétrica seria mais representativa, por exemplo, uma câmara com apenas dois bicos injetores, simétricas relativamente ao eixo z, o que permitiria a utilização de uma superfície simétrica, no lugar de uma superfície periódica.

ANÁLISE DOS RESULTADOS

As simulações deste trabalho foram realizadas num cluster de 40 cores, distribuídos em 5 computadores, com 8 núcleos Intel Xeon Quad-core5420 de 2,5 GHz/12MB, com 16-GB RAM. Devido à complexidade do processo de combustão e da geometria em questão, o tempo de processamento da simulação é relativamente longo. O tempo aproximado para 1000 iterações é de 9 horas. Foram realizadas 1600 iterações, com tempo computacional de aproximadamente 16 horas, utilizando toda a capacidade do cluster. Para a análise dos resultados foram criados planos, Figura 10, sobre os quais foram geradososperfisdevelocidadeetemperatura.Pode-se verificar que o comportamento dosperfis de qualquer parâmetro analisado variade acordo com o plano em estudo. Inicialmente, será realizada a análise aerodinâmica, para a verificaçãoda distribuição do ar no interior da câmara de combustão. Para isso, a simulação foi efetuada utilizando ar, também na entrada de combustível. Essa etapa é importante, pois através da análise dos vetores velocidade pode-se verificar a localização da chama, aspossibilidades de ancoragem desta chama, como também prever o resfriamento das paredes da câmara de combustão, necessário à integridade do material utilizado para a

construção da mesma.

A Figura 11 mostra os vetores e valores da velocidade ao longo dos planos longitudinais 1 e 2. No plano 1, pode-se verificaramaiorvelocidadepróximadobicoinjetor e a zona de recirculação gerada entre o bico injetor e os orifícios de diluição, fazendo com que a chama tenha a tendência de se ancorar antes dos orifícios de diluição. Este fato é importante, devido à distância que os gases produtos da combustão ainda têm para percorrer até chegar à saída do combustor, proporcionando a dissociação dos poluentes formados no processo de combustão e também fazendo que se tenha uma maior uniformidade da temperatura na entrada da turbina. Nos planos 1 e 2, também podem ser verificados a maior velocidade próxima dasparedes superior e inferior do tubo de chama, na região onde ocorre a chama, fazendo que a chama seja ancorada, não se aproximando nas partes metálicas, mantendo sua integridade.

Da mesma forma que na Figura 11, nos planos 3 e 4, mostrados na Figura 6.3, pode ser confirmada a tendência da chamase ancorar entre o bico injetor e os orifícios de diluição, principalmente, no plano 4, que é o plano que passa no centro do orifício de diluição.

Figura 9. Definição das superfícies estudadas conforme entrada de dados

Figura 10. Identificação dos planos estudados (setor unitário)

Figura 11 Vetores velocidade ao longo dos planos longitudinais 1 e 2.

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Comparando os resultados presentes nos planos 1, 2, 3 e 4 pode-se observar a variaçãodosperfisdevelocidadedeumplanopraoutro,porémemtodososplanosseverificaa mesma tendência de localização da chama na região citada na análise de todos os planos. Com a análise do campo de velocidade, mostrada nos planos 5 e 6, Figura 13, pode-se ver a intensificação dos vetoresvelocidade, de um outro ângulo, sendo que a intensidades desses jatos em todos os orifícios de diluição são muito próximas. Outro ponto a ser observado é a direção da recirculação do ar proveniente do bico injetor, presente no plano 5.

A análise de vários planos é importante, pois se consegue ter uma visão mais exata do que acontece no interior da câmara, principalmente, na região de maior interesse que, neste caso, é a zona primária e de diluição. A correta localização da chama e da recirculação na zona de diluição permite uma melhor homogeneização dos gases, produtos da combustão com o ar proveniente do compressor. Esta homogeneização permite uniformizar a temperatura dos gases na saída do combustor e reduzir a temperatura do tubo de chama em toda sua extensão. Além disso, contribui para minimizar o gradiente de temperatura no material do tubo de chama que é o maior causador da fadigas térmicas.

A correta distribuição dos jatos também é importante, pois, eles são responsáveis pela perda de pressão na câmara de combustão. Através das linhas de correntes, Figura 14, pode-se acompanhar o percurso do fluido,emtodaaextensãodosetorestudado,sendo possível identificar algum problemaque possa existir neste trajeto. Onde as linhas de corrente se aproximam, a velocidade é maior e, onde elas se afastam, a velocidade é menor, portanto, junto às paredes inferiores, nos orifícios e na saída da câmara, têm-se as maiores velocidades.

Várias análises podem ser realizadas utilizandooescoamentodofluidonointeriorda câmara, como por exemplo, capacidade de deslocamento, intensidade de deslocamento do fluido,variaçãodavelocidadedoescoamentopróximo a regiões de interesse (bico injetor, orifícios primários ou de diluição). Através do acompanhamento do fluido, partindo da entrada de ar advinda docompressor, também pode ser verificadaa capacidade de resfriamento das partes metálicas por uma camada que forma um filme,impedindoqueosgasesprovenientesdacombustão se choquem com as paredes. Esse recurso, presente no CFX, permite controlar o número de linhas que serão traçadas no interior da câmara, sendo que a escolha é feita de acordo com a condição de visualização de todo o escoamento. Na Figura 15, a mesma análise foi efetuada, porém agora, acompanhando o percurso do ar partindo do bico injetor. Pode-se verificaramaiorconcentraçãodecombustívelna região onde ocorrerá a chama, e uma maior dispersão após os orifícios de diluição. Isso indica que a maior parte do combustível será queimada na região adequada e supõe-se que os poluentes formados na região da combustãotenhamespaçoetemposuficientespara a dissociação, até a saída da câmara de combustão.

Figura 12 Vetores velocidade ao longo dos planos longitudinais 3 e 4

Figura 13. Vetores velocidade ao longo dos planos transversais 5 e 6.

Figura 14. Acompanhamento do escoamento de ar a partir de sua entrada

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Até aqui foi analisado apenas o escoamento do ar dentro da câmara de combustão sem considerar a combustão. A partir desse ponto, a análise será realizada incluindo a combustão, o que muda o escoamento dos gases no interior da câmara, pois, as altas temperaturas alteram a massa específicadosmesmos. A análise dos perfis de temperaturaé de extrema importância para o projeto, pois a temperatura está diretamente ligada à eficiência da turbina a gás, assim como, àemissão de poluentes. Como já foi citado anteriormente, é necessária a análise de vários planos dentro do domínio estudado para se ter uma visão geral do que acontece com o fenômeno da combustão. Na Figura 16, foram traçados os perfis de temperatura ao longo dos planoslongitudinais 1 e 2, mais próximos do bico injetor de combustível. Conforme pode ser visto nos planos da Figura 16, a chama tem um comportamento não uniforme na zona primária até se aproximar dos orifícios de diluição. Através desses planos, pode-se confirmar a tendência da chama se ancorarantes dos orifícios de diluição, devido às recirculações criadas pelos mesmos, pelos orifícios primários e com a inclinação do bico injetor, como também pode-se verificar que,devidoàsrecirculações,écriadoumfilmederesfriamento próximo às paredes superior e inferior do tubo de chama.

Na Figura 17, são mostrados os perfisdetemperaturasaolongodosplanos3e4.Pode-severificarumcomportamentobemdiferentedosperfisdosplanos1e2.Nosplanos3 e 4, verifica-se uma maior concentraçãode temperaturas elevadas na zona primária, confirmando a não uniformidade da chama.Tambémpodeserverificadaumadiminuiçãonaextensãodofilmederesfriamentopróximoa parede do tubo de chama, sendo a chama nestes planos mais dispersas. A importância da análise de vários plano do mesmo domínio ficanovamenteevidenciada.Outrodadoaserverificadoéatemperaturadepico da chama igual a 2105 K.

CONCLUSÕES

Com a análise térmica e aerodinâmica da câmara de combustão anular da Solar Turbines, através da Dinâmica de Fluido Computacional, em regime permanente e carga nominal, utilizando gás natural como combustível, pode-se realizar algumas análises da chama como também dos parâmetros da câmara de combustão. Este estudo permitiu concluir que:

- O modelo de turbulência SST foi adequado para a análise da câmara de combustão em estudo, sendo a mesma de geometria complexa, com vários orifícios e reentrâncias; - O modelo de combustão Flamelet Model, pareceu ser adequado para a chama produzida na câmara de combustão estudada, porém, deve ser feita uma comparação com outros modelos, como também fazer a validação do modelo utilizado;-Aanáliseconjuntadosperfisdetemperaturae de velocidade é importante para não ser realizada uma análise errônea do fenômeno físico;- O estudo do comportamento da chama é de suma importância em projetos de turbinas a gás, visto que está diretamente ligada a eficiênciaeemissãodepoluentes;- Uma metodologia é muito importante para projeto de câmaras de combustão de turbinas a

Figura 15. Acompanhamento do escoamento de ar a partir da entrada de combustível

Figura 16. Perfis de temperatura ao longo dos planos

longitudinais 1 e 2.

Figura 17. Perfis de temperatura ao longo dos planos longitudinais 3 e 4

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gás, do ponto de vista estrutural como também de emissões, utilizando a Dinâmica de Fluido Computacional, visto que, não há na literatura materialsuficienteparaestetipodeanálise;- Pode-se verificar também que a Dinâmicade Fluidos Computacional é uma ferramenta promissora no estudo de câmaras de combustão, devido à sua satisfatória precisão, quando comparado os resultados simulados e os experimentais.

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Endereço para Correspondência:

Lucilene de Oliveira Rodrigues [email protected]

Prof. Dr. Marco Antonio Rosa do Nascimento

Centro Universitário de Volta RedondaCampus Três PoçosAv. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325,Três Poços - Volta Redonda / RJCEP: 27240-560

Informações bibliográficas:ConformeaNBR6023:2002daAssociaçãoBrasileiradeNormasTécnicas(ABNT),estetextocientíficopublicadoemperiódicoeletrônicodevesercitadodaseguinteforma:RODRIGUES, Lucilene de Oliveira; NASCIMENTO, Marco Antonio Rosa do. Análise Aerodinâmica e Térmica de uma Câmara de Combustão anular de Turbinas a Gás Utilizando CFD. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano IV, n. 9, abril. 2009. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/edicao/09/13.pdf>

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Web Semântica: Uma Rede de Conceitos

Semantic Web: A Network of ConceptsONCEPTS

Professor Especialista José Maurício dos Santos Pinheiro

Palavras-chaves:

Internet Semântica

Web 3.0

Rede de Conceitos

Ontologias

Metadados

Resumo

A popularização do uso dos computadores e da acessibilidade à Internet produziu uma mudança nos modos de uso da informação cuja extensão ainda não está completamente delineada. De um catálogo de informações universais e páginas estáticas, a Internet evoluiu para uma proposta de participação humana na criação do seu conteúdo, permitindo a maior interatividade dos usuários. Outra proposta, ainda mais revolucionária, considera a Internet uma Rede de Conceitos, onde as palavras fazem sentido às maquinas e deixam de existir apenas como letras transformadas em algoritmos. É a Internet 3.0, Web 3.0 ou ainda Web Semântica, que permite a recuperação da informação e organização do conhecimento por seres humanos e máquinas, e onde a pesquisa estabelece relações, ou seja, em vez de um grande catálogo de dados aleatórios, a Internet transforma-se em um guia universal e inteligente. O presente artigo apresenta a Web Semântica como um projeto que busca padronizar as formas de descrição do conteúdo e gerar verossimilhança na comparação dos dados para a recuperação das informações.

Key words:

Internet semantics

Web 3.0

Network Concepts

Ontologies

Metadata

Abstract

The popularization of the use of computers and accessibility to the Internet produced a change in the ways of use of information whose extent is not yet fully delineated. From a universal catalog of information and static pages, the Internet has evolved into a proposal for human involvement in creating your content, allowing for greater interactivity for users. Another proposal, even more revolutionary, considers the Internet a network of concepts, where the words make sense to machines and no longer just letters turned into algorithms. It is the Internet 3.0, Web 3.0 or Semantic Web, which allows the retrieval of information and organization of knowledge by humans and machines, and where the research builds relationships, that is, instead of a large catalog of random data, the Internet becomes a universal and intelligent guide. This article presents the Semantic Web as a project that seeks ways to standardize the description of the content and generate likelihood of comparison of data for the recovery of information.

ArtigoOriginal

Original Paper

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Introdução

A partir da década de 1960, a disponibilidade de meios de armazenamento e tratamento automático da informação fez surgir os primeiros modelos e sistemas

de bases de dados. Os desenvolvimentos conceituais e o aumento da sofisticação dossistemas oferecidos não pararam desde então, acompanhando o desenvolvimento tecnológico

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e a ampliação das áreas de aplicação. A massificação da disponibilizaçãoe do uso da informação na Internet obriga uma análise sobre a qualidade da informação disponível. A realidade é que, desde que surgiuoficialmente em1991, a Internet vemacumulando informações desorganizadas de maneira exponencial. Recentemente, o advento da Web 2.0, que propõe o aproveitamento da inteligência coletiva no desenvolvimento de aplicativos para a Internet, trouxe à tona a necessidade da padronização dessa informação. De acordo com Berners e Hendler (2001), os computadores necessitam ter acesso a coleções estruturadas de informações e de conjuntos de regras de inferência que ajudem no processo de dedução automática para que seja administrado o raciocínio automatizado, ou seja, a representação do conhecimento. Atualmente, as bases de dados suportam informações de todos os domínios de atividade em que seja necessária a persistência do conhecimento e uma parte substancial das aplicações incluem-nas de forma implícita ou explícita. O principal aspecto abordado na Web Semântica está em organizar o conhecimento armazenado na Internet por meio da compreensão da linguagem humana, pelas máquinas, na recuperação da informação, semqueousuárioprecisedominar refinadasestratégias de linguagem ou conhecimento de máquinas de busca.

Objetivos

Na atual estrutura da Internet, grande parte da informação é disponibilizada de forma desorganizada e sem padronização. Apesar do resultado de uma pesquisa ser perfeitamente satisfatório para os seres humanos, na maioria das vezes, as máquinas, como os mecanismos de busca - por exemplo - não conseguem tirar o máximo proveito da informação disponível. Segundo Berners-Lee et al. (2001), “A Web Semântica é uma extensão da Web atual na qualainformaçãorecebeumsignificadobemdefinido,permitindoqueoscomputadoreseaspessoas cooperem melhor.” A Internet Semântica se desenvolve para que a informação possa ser compreendida pelas máquinas, na forma de agentes computacionais que são capazes de operar eficientemente sobre as informações,podendo entender seus significados, ou seja,

incorporar semântica às informações. Isso proporciona não somente que os usuários entendam as informações como também as máquinas possam usufruir dessa vantagem, pois há pretensão de fornecer estruturas e dar significado semântico ao conteúdo daspáginas de internet, criando um ambiente onde os agentes de software e os usuários podem trabalhar de forma cooperativa.

Ontologias

O termo ontologia vem sendo discutido e aplicado em diversas áreas do conhecimento científico. Originado na filosofia, significa“categoriaquepodeserusadaparaclassificaralguma coisa” (ALMEIDA e BAX, 2003, p.7). Segundo Gruber (1993), ontologia representa a definição explícita de conceitos e suasrelações, propriedades e restrições expressas formalmente, ou seja, a ontologia permite especificar umavisão abstrata e simplificadade um assunto que se deseja representar. Em termos de utilização, a ontologia serve de vocabulário para a troca de informações entre aplicações. A adoção de uma ontologia é um compromisso de consistência com os seus conceitos e a garantia de que uma aplicação, dentro dos limites das suas funcionalidades, irá interrogar outras aplicações e responder aos pedidos destas, de acordo com o vocabulário comum. Para os Sistemas de Informação, a ontologia compreende um conjunto de conceitos e linguagens que podem ser usadas para descrever alguma área do conhecimento ou construir uma representação para esse conhecimento. O uso de linguagens permite escreverafirmaçõesquecaptamosignificadodos dados numa aplicação. Se cada aplicação pode criar os seus próprios conceitos, e se pretende que outras aplicações possam manipulá-los de uma forma sensível ao significado,então,éprecisoqueosignificadodesses conceitos seja exposto de uma forma que se possa manipular automaticamente. Esse é o papel das ontologias na Web Semântica. As regras da Web Semântica são especificadas através das ontologias, asquais permitem representar explicitamente a semântica dos dados, tornando possível elaborar uma estrutura que complementa o processamento das máquinas e melhorar qualitativamente o nível de serviços na Internet.

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Segundo Hendler (2001): “a Web Semântica pode ser considerada como a composição de um grande número de pequenos componentes ontológicos que apontam entre si”. O uso de ontologias que relacionem dados semânticos permite a interação entre diferentes dados. Por exemplo, se for dito que “Fulano vai ao Seminário de Virtualização” e que “O Seminário de Virtualização será dia 10 de maio, na Universidade XYZ”, uma aplicação especializada poderá responder uma questão do tipo “Onde está o Fulano?”, retornando que “dia 10 de maio, Fulano estará na Universidade XYZ”.

Metadados

Metadados referem-se à estrutura descritiva da informação sobre outro dado, o qual é usado para ajudar na identificação,descrição, localização e gerenciamento de recursosda Internet.Afinalidadeprincipal édocumentar e organizar, de forma estruturada, os dados, com objetivo de minimizar duplicação de esforços e facilitar a manutenção dos dados. Berners-Leeetal.(2001)afirmaque“o desenvolvimento da Web Semântica, se dará a partir do uso intensivo de metadados, visando fornecer acesso automatizado à informação com base no processamento de dados e heurísticas feito por máquinas”. Seguindoessafilosofia,agentesautomatizadospodem realizar tarefas para os usuários, usando metadados semânticos. Assim, é possível criar vocabulários comuns para metadados (ontologias) e conexões entre vocabulários que permitem que os autores de documentos saibam como estruturá-los para que os agentes automatizados possam usar as informações de acordo com o contexto. Por exemplo, o autor no sentido de “autor da página” não será confundido com o “autor do livro” que está sendo revisado na página.Moura(2002)afirma:

A utilização das arquiteturas de metadados é importante para as aplicações que trocam dados estruturados na Web, pois fornecem suporte à codificação, transporte e a interoperabilidade semântica, sintática e estrutural a uma variedade de metadados desenvolvidos de forma independente.

Uma das aplicações dos metadados está na formação de dicionários de informações. Nesses dicionários são descritas informações que dizem respeito à origem dos dados, do formato dos dados, do fluxo dosdados, das regras de transformação, entre outros aspectos.

Componentes da Web Semântica

As linguagens usadas na Internet foram desenhadas com o objetivo de serem de acesso fácil para os seres humanos. Entretanto, o uso intenso da Web fez surgir também o conceito de “domínio de serviços”, ou seja, aplicações que se destinam a realizar tarefas em nome do usuário, explorando a informação disponível e fornecendo um resultado em um tempo extremamente baixo. Uma aplicação tem habitualmente um domínio cujos conceitos são captados tanto na informação que é manipulada como nas funcionalidades oferecidas ao usuário da aplicação, ou seja, a semântica está implicitamente captada na aplicação. Quando há necessidade de comunicação entre aplicações, deve-se estabelecer uma linguagem própria, que mais uma vez tem implícitos os conceitos do domínio. Estas linguagens, normalmente chamadas de “protocolos”, são faladas pelas aplicações quando precisam trocar informações entre si. O desenvolvimento da Web Semântica apresenta diversas tecnologias desenvolvidas e em desenvolvimento. As mais básicas estão ao nível da uniformização da sintaxe usada para representar dados elementares. Este primeiro nível garante um formato aberto e a possibilidade de criar anotações arbitrárias, ou seja, completa liberdade em termos de criação de conceitos. Nesse contexto, a Web Semântica compreende linguagens conforme descrito a seguir:

• XML (eXntesible Markup Language) - provê uma sintaxe de estruturação de documentos, mas não impõe regras semânticas nesses documentos;• XML Schema - linguagem para restringir a estrutura de documentos XML;• RDF (Resource Description Framework) - modelo de dados para se referir a objetos (resources) e como eles são relacionados. Um

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modelo baseado em RDF pode ser representado usando uma sintaxe XML;• RDF Schema - vocabulário para descrever propriedades e classes de recursos RDF, juntamente com semânticas para criar hierarquias para essas propriedades e classes;• OWL (Ontology Web Language) - adiciona vocabulários para descrever classes e propriedades: relacionamentos entre classes, cardinalidade, igualdade, maior variedade de tipos de propriedades, características de propriedades e classes numeradas. Pode incluir descrições de classes e suas respectivas propriedades e seus relacionamentos.

Esses componentes são utilizados para aumentar a usabilidade e funcionalidade da Internet e de seus recursos relacionados. Conforme descrito em Afonso (2001), uma arquitetura para a Web Semântica é composta por três camadas, conforme mostrado na Figura 1:

• Camada Esquema - responsável por estruturar os dados e definir seu significadopara que possa elaborar um raciocínio lógico;• Camada Ontologia -responsávelpordefinirrelações entre os dados. Nesse nível se dá o entendimento comum e compartilhado de um domínio;• Camada Lógica - responsável por definirmecanismos para fazer inferência sobre os dados. Composta por um conjunto de regras de inferência que os agentes poderão utilizar para relacionar e processar informações.

Desafios

O crescimento da Internet e a popularização do seu uso geraram um grande

volume de informação. Em consequência, asmáquinas de busca não conseguemfiltraro que é realmente relevante para uma dada pesquisa. No modelo atual, os documentos são estruturados, considerando principalmente a apresentação e usando um tipo de marcação, muitas vezes, gerado por ferramentas automatizadas que, na maior parte do tempo, não observam a sintaxe ou a semântica da informação. Por exemplo, em uma ferramenta de busca tradicional, os resultados obtidos são baseados nas palavras-chaves digitadas, de acordo com o número de vezes que elas se repetem na rede. Esse resultado não considera o sentido ou a relação entre elas. O desafio da Internet Semântica éconstruir uma linguagem que faça sentido para a máquina, em que o maior volume possível de informação seja disponibilizado de modo lógico e coerente para o usuário, ou seja, a pesquisa estabelece relações. Para evitar uma sobrecarga nos mecanismos de busca e para facilitar a classificação e obtençãodeinformações, a proposta da Web Semântica é o uso de novos vocabulários de marcação como RDF e OWL, por exemplo, e novos usos para vocabulários já existentes. A modularização proporcionada pelos vocabulários da Web semântica facilita a criação de mecanismos de busca e aplicações específicas para cada tipo de dado, sendodescrito por uma semântica. A ideia é que a ferramenta de busca entenda o sentido, por meiodeinteligênciaartificialedaprogramaçãoda página, ou seja, o uso da semântica e do contexto para se realizar buscas na Internet, bemcomoacapturaeutilizaçãodoperfildeinteresseparasefiltrarinformação. É importante ressaltar que a semântica não está somente relacionada ao conteúdo de um recurso, mas também à forma de como este se relaciona com os demais recursos na internet. Para que essa estrutura funcione, os computadores devem ter acesso às coleções de informações estruturadas e a um conjunto de regras de inferência que podem ser utilizadas para levar ao raciocínio automatizado. Portanto, é essencial que os recursos disponibilizados sejam expressivos, para que as máquinas ou agentes sejam capazes de processar e entender o real significadododado, intermediandoasnecessidades de cada usuário e as fontes de informações disponíveis.

Figura 1 - Estrutura para Web Semântica

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Conclusão

A Web Semântica é uma proposta de evolução da Internet atual, uma rede em que osignificadodainformaçãoestáacessívelàspessoas e máquinas. Nela, busca-se incluir mecanismos que capturem o significadodas páginas, criando um ambiente onde os computadores possam processar e relacionar conteúdos provenientes de várias fontes. Trata-se de um conceito que visa facilitar a obtenção, classificação e organização deinformações, de forma estruturada, de modo que os dados estejam disponíveis tanto para as pessoas quanto para as máquinas. A Web Semântica busca estruturar e dar semântica aos dados, facilitando a construção de aplicações, visando diminuir ou eliminar as dificuldades relacionadas com o acesso àinformação. Entretanto, a tarefa de construir tal estrutura requer o desenvolvimento de novas soluções tecnológicas para normalizar as representaçõesdos significados semânticos eda capacidade de elaborar modelos adequados para a representação da informação. O objetivo éexplicitarosignificadoda informaçãoparaas máquinas, por meio do estabelecimento de linguagens para os conceitos usados. Essa abordagem, centrada na tecnologia, valoriza a informação estruturada, elegendo como objetos os itens de informação elementares e os seus relacionamentos, com ênfase no tratamento automáticodoseusignificadosemântico.

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Endereço para Correspondência:

Professor Especialista José Maurício dos Santos Pinheiro (Curso Tecnológico de Redes de Com-putadores – UniFOA) – [email protected]

Centro Universitário de Volta RedondaCampus Três PoçosAv. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325,Três Poços - Volta Redonda / RJCEP: 27240-560

Informações bibliográficas:ConformeaNBR6023:2002daAssociaçãoBrasileiradeNormasTécnicas(ABNT),estetextocientíficopublicadoemperiódicoeletrônicodevesercitadodaseguinteforma:PINHEIRO, José Maurício dos Santos. Web Semântica: Uma Rede de Conceitos. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano IV, n. 9, abril. 2009. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/edicao/09/23.pdf>

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A Ética como Problema Histórico

From work to ethics: elements of a materialistic ontology.

Ranieri Carli Henrique André Ramos Wellen

Palavras-chaves:

Ontologia

Trabalho

Ética

Resumo

Este ensaio foi dividido em três momentos distintos: inicialmente, em trabalho e ser social, elucida-se a peculiaridade do ser social em face da natureza; em teoria do reflexo e valoração, demonstra-se com se dá o conhecimento das determinações da realidade; e, finalmente, em exteriorização e estranhamento, ilustra-se o duplo caminho posto ao ser social com a sua mediação com a natureza: o primeiro que possibilita a realização humana e a aproximação entre indivíduo e gênero, e o segundo que, por meio de barreiras socialmente construídas, o leva a processos de alienação.

Key words:

Ontology

Work

Ethics

Abstract

This assay was divided in three distinct moments: initially, in work and social being, it is elucidated the social being peculiarity in face of the nature; in theory of the consequence and valuation, it is demonstrated how it gives the knowledge of the reality determinations; and, finally, in exteriorization and aleination, it is illustrated the double way given to the social being in its mediation with the nature: the first one that makes possible the accomplishment human being and the approach between individual and sort, and the second that means the barriers socially constructed, that takes it to alienation processes.

ArtigoOriginal

Original Paper

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1. Trabalho e Ser Social

O homem se diferencia dos animais pela sua capacidade exclusiva de projetar mentalmente aquilo que produz. Antecipar idealmente a realização futura chama-se teleologia. Como fala Marx em O Capital, a teleologia faz mesmo do pior dos arquitetos um ser qualitativamente superior a uma abelha. Isso se dá porque, diferentemente da abelha, o arquiteto, antes de começar a colocar no papel sua construção, já a detém na sua mente.

Está escrito nos Manuscritos de Paris:

O animal identifica-se imediatamente com a sua atividade vital. Não se distingue dela. É a sua própria atividade. Mas o homem faz da sua atividade vital objeto da vontade

e da consciência. Possui uma atividade vital consciente. Ela não é uma determinação com a qual ele imediatamente coincide. A atividade vital consciente distingue o homem da atividade vital dos animais (Marx, 1993: 164, 165).

O trabalho não é, portanto, uma ação meramente instintiva de adaptação ao ambiente exterior. Somente os homens são capazes de ter e exercer um processo de transformação da natureza, de romper com os seus ditames biológicos ou naturais. Enquanto os animais utilizam-se da natureza para poder saciar as suas necessidades instintivas (como alimentação, moradia ou reprodução), o homem consegue ir muito além dessa limitação. Consegue, a partir da natureza, criar objetos que servem não apenas para as

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na presente discussão: o trabalho humano cria uma objetividade nova, “que não se apresenta na natureza” (1990: 18). Que se pense na roda, diriaofilósofohúngaronessetexto. O objeto criado resulta como uma unidade homogênea entre dois polos: aquilo que é natural – a causalidade dada; e aquilo que é parte exclusiva do homem – a teleologia. Não é totalmente social (no sentido humano), nem é exclusivamente natural. Sua transformação de natural em social ocorre pela intervenção humana através do trabalho que, ao mesmo tempo em que imprime sua vontade sobre a natureza, também é por ela limitada e condicionada. Somente o ato do trabalho pode concretizar a possibilidade almejada pelo pensamento, instaurando não apenas uma nova realidade pensada (ainda enquanto possibilidade de vir a ser), mas, efetivamente, numa nova realidade material – a transformação da causalidade dada em causalidade posta. É o processo que caminha da causalidade dada pela natureza à causalidade posta pelo homem. Por isso que o trabalho é a categoria modelar da práxis humana, aquela pode unir dois polos dialéticos: a causalidade e a teleologia, fundando a causalidade posta. ara que fosse possível conservar uma unidade entre os dois contrários, não seria possível que ocorresse uma ruptura total (a transformação não pode ser tida como idêntica com ruptura, uma vez que permanecem, mesmo com outros arranjos, elementos e qualidades anteriores), uma negação da natureza e o surgimento de uma entidade completamente nova. Por certo, isso seria uma total abstração da dialética própria da natureza. Não se criam condições de desenvolvimento no vácuo das possibilidades. O homem é herdeiro genético danatureza;éseufiltroeaprendiz.Poroutrolado, também é tão capaz de desenvolver-se que não apenas superou sua herança genética (conservando-a), mas, na mesma medida, forjou novas condições de desenvolvimento, ainda que condicionado e limitado pelas circunstâncias. Diante da matéria dada, o homem inventou, criou e utilizou formas de uso totalmente inéditas que não só possibilitou um grau superior nas condições existentes, assim como proporcionou um salto de qualidade. Basta o exemplo da roda, um objeto que não existenanatureza,paraconfirmarasassertivasanteriores.

suas necessidades biológicas, mas também para fins culturais. Tudo isso é resultado daantecipação teleológica do produto do trabalho na consciência do homem.

Na Estética, Lukács expõe a dialética ao falar do ritmo que nasce do trabalho:

No trabalho, o homem toma alguma coisa da natureza, o objeto do trabalho, e arranca-o de sua conexão natural, submete-o a um tratamento pelo qual as leis naturais são aproveitadas teleologicamente em uma posição humana de fins. Isso se intensifica ainda quando aparece na ferramenta uma ‘natureza’ teleologicamente transformada desse modo. Assim se origina um processo, submetido sem dúvida às leis da natureza, mas que, como tal processo, não pertence já à natureza, e no que todas as interações são naturais só no sentido que parte do objeto do trabalho, porém sociais no sentido que parte da ferramenta, do processo de trabalho. Este caráter ontológico impõe um selo ao ritmo que assim se origina. Enquanto que no animal se trata simplesmente de que a adaptação fisiológica ao ambiente pode em determinadas circunstâncias produzir algo rítmico, no trabalho o ritmo nasce do intercâmbio da sociedade com a natureza (1982, I: 268).

Surge aqui uma dupla dialética na interação do homem com a natureza por meio da experiência privilegiada do trabalho, a saber: se por um lado, o homem transforma a natureza naquilo que deseja construir e com isso ocorre uma mudança quantitativa no seu objeto de intervenção, (concedendo o homem novas formas de uso para os materiais naturais), por outro lado, ocorre uma própria transformação nas habilidades e capacidades do ser humano. O homem que, ao transformar a natureza, transforma-se a si mesmo. Como estudou Engels (s/d), a mão humana não é só a mediação privilegiada do trabalho, mas também o seu produto. Em síntese, o processo de mediação entre homem e natureza gera um duplo processo de transformação, tanto no objeto transformado (a natureza), como no sujeito da transformação (o homem). A natureza muda materialmente, sendo transformada em uma nova objetividade, agora social. Na Pequena ontologia, Lukács observa o que está implícito

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Esse processo de construção e transformação da natureza leva gradativamente a um distanciamento cada vez maior do homem das suas necessidades imediatas. O homem não só começa a transformar a natureza, mas, por meio do desenvolvimento de suas capacidades de intervenção advindas do duplo processo de mediação com a natureza, também começa a deter um certo controle sobre esta. Com a criação de equipamentos e técnicas, com o avanço da ciência e a subtração de terreno ao desconhecido, o homem humaniza-se cada vez mais e, com isso, passa a abandonar a sua condição meramente natural; é aquilo que Marx chamou de “recuo das barreiras naturais” em face do avanço dos limites sociais (cf. Marx, 1978). O retraimento das barreiras naturais implica uma maior apropriação da natureza por parte do homem. Vejamos. Graças ao seu aspecto teleológico, o trabalho significa,desde o primeiro instante, um controle do objeto transformado. Assim, para se fazer efetiva a teleologia, é preciso intercambiar-se com a realidade sabendo como transformá-la. Para tanto há de se intuir como a dialética da natureza funciona em seus aspectos gerais; há de se tentar apreender as características da realidade natural.

2. Teoria do reflexo e valoração

Como o conhecimento amplo da realidade proporciona condições mais seguras para a sua intervenção, o ser social busca justamente diminuir essa distância entre o que é real e a sua imagem sobre o real. O homem busca representar mentalmente o movimento do real com a maior justeza possível, abarcando sempre elementos novos.

A apreensão do real trabalhado pode ser explicada assim com um exemplo de Markus:

Em sua atividade, o operário de um alto-forno estabelece uma relação determinada entre os seus vários sentidos particularmente exercitados. Dado que, para ele, são a cor e a luminosidade do ferro que indicam os estados físicos do objeto, os quais outrossim desempenham um decisivo papel em seu trabalho, o limite da diferença entre as diversas cores (que parece ser um dado

puramente fisiológico) diminui de importância com relação ao seu critério de avaliação do múltiplo. Ou seja: o operário pode desenvolve faculdades óticas de que a maioria dos homens não dispõe, criando assim um mundo visual mais rico do que o normal, sem com isso ser obrigado a conhecer as propriedades singulares e os estados físicos específicos. As propriedades dos objetos apresentam-se imediatamente como signos determinados das várias fases de sua atividade. O operário não necessita conhecer a essência dos processos físico-químicos que se desenvolvem diante de seus olhos e dos quais ele se serve (1974: 72).

Esse conhecimento, cada vez mais apropriado, implica determinações novas na dialética que surge entre o homem e a objetividade natural. Na busca dos meios apropriados para a realização do seu trabalho, o homem guia as suas escolhas de acordo com aposiçãodosfins,comafinalidadeprojetada;aquiestáaponteentreocomeçoeofimdoprocesso do trabalho: a busca apropriada dos meios de execução do trabalho, úteis ao trabalho, a partir do justo conhecimento da realidade natural dada. Por isso que, na direção encaminhada, se torna equivocada a equiparação entre instrumentalidade e utilidade, uma vez que a própria utilidade é aqui entendida como a base, a partir da captura do real, das possibilidades de concretização da teleologia ou, antes, do projeto idealizado. Nesse sentido preciso, o critério de instrumentalidade, como uma base racionalista fundada no cálculo, perde seu sentido pleno de negatividade, pois passa a ser inerente e determinante em qualquer ação. Essa distinção é precisamente a distância que há entre Weber e Lukács; enquanto o sociólogo alemão situa a racionalidade instrumental num momento seguinte da teleologia (poder-se-ia sugerir que apenas na finalidade), suspendendo-a da concretude doreal, Lukács resgata, sem ser mecanicista ou determinista, a importância das determinações do real concreto (ou da vida cotidiana, como dizia o filósofo marxista) para a escolhahumana, inter-relacionando-as dialeticamente (cf. Netto, 2000). Para o pensador húngaro, o critério da utilidade é central para a decisão, tendo em vista que, só assim é possível concernir

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acerca das possibilidades concretas para a efetivação da vontade humana, enquanto Weber, conforme explicitado, negando as causalidades históricas, faz suspender a racionalidade da realidade concreta, negando o caráter determinante do real para a posição dosfins projetados.Entre os interstícios quesua teoria promove, Weber não só provoca uma diminuição da possibilidade efetiva da realização do pôr-teleológico como, de forma ainda mais grave, retira de pauta a real possibilidade da formação de uma consciência para si, pois, mesmo com a vontade concretizada, o ser social não terá consciência de suas limitações e possibilidades, do humano genérico de seu tempo particular, podendo crer que tudo o que conseguiu foi fruto exclusivo de sua valorização. Não se deve perder de vista que o humano genérico de cada particularidade histórica condiciona os limites das ações individuais. Diante de cada contexto social, e da relação entre a totalidade e o indivíduo, da sociabilidade e da individuação, existe uma tensão viva que aponta para o que venha a ser predominante,orao reflexo,oraodever-ser.Se ancorado pela totalidade, na inter-relação entre teleologia e causalidade posta, e as suas respectivas formas de transformação em uma nova causalidade posta (que, dentro da teleologia é um ato secundário), o que se torna predominante é a captura em maior ou menor grau de determinação do real – o reflexo –para melhor compreender quais os meios para pôr em prática o desejo. Por outro lado, tomando como foco o indivíduo (o processo de individuação), o que vai ser predominante para a sua ação é o projeto a ser realizado, é aquilo que se anseia a tornar-se real, o dever-serestáaípredominantenaposiçãodofim. Dessa maneira, ocorre uma imbricação entre as duas instâncias, quando entra em contato o individual com o universal, quando a escolha individual aproxima-se do genérico. Para alcançar o que se deseja é preciso refletir as mediações que se põemobjetivamente na totalidade social. E o que motivará a ação, inclusive a busca pela sua concretização,seráaposiçãodofim,odeverser, sendo, até responsável pela aceitação ou rejeição do objeto construído. Temos, então, a realização condicionando o projeto e o projeto sendo a gênese da realização.Apesar da posição dos fins ser o momento

orientador da ação, este não pode efetivar-se sem a sua possibilidade concreta de realização, sem a existência de meios que concorram para a sua concretização. Nenhum projeto é pura abstração feita num vácuo de relações; a projeção ideal está sempre interligada com a realidade vigente, por mais estranha que possa ser vista. O pensamento só pode brotar de um campo que seja fértil. Metaforicamente, se poderia afirmar que não se podem colherfrutos de uma árvore que não foi plantada ou que sequer exista a sua semente. Dessa forma, estando o ser social imerso em sua sociabilidade determinada, sendo uma síntese das múltiplas determinações existentes em determinado período histórico, a finalidade representauma interdependência com os valores. Esse seria,deformaextremamentesimplificada,opoder da ideologia, que guia os atos humanos, conduzindo-os de acordo com o ordenamento social posto ou em oposição a ele, para que esses atos se insiram numa circularidade que legitime e naturalize a forma de organização existente, ou em uma tensão que rompa com as circunstâncias postas. Essa contradição é peculiar das sociedades cindidas em classe. Os valores fazem parte da causalidade posta e interferem diretamente na escolha e na própria suscitação de possibilidades e alternativas a serem colocadas em prática; fazem parte dos elementos imanentes à particularidade histórica dada e seguem a intenção de manter a reprodução social. Por outro lado, valores também podem induzir às escolhas que possibilitem a transformação de causalidade posta em novas causalidades postas. Assim, valores presentes na ordem estabelecida podem servir para criar mesmo dentro das determinações instaurado um novo sistema valorativo a partir de um conjunto de novas causalidades postas. Com isso, quer se dizer que a valorização pode resultar em mera reprodução da realidade dada, ou em transformação da individualidade em face das alternativas concretas. Abrem-se dois caminhos distintos para o ser social: uma tendência ao crescimento humano universal, por meio do acúmulo e socialização de experiências, ou o seu contrário, um retrocesso no sentido da humanização, ao forjarem-se barreiras sociais que se interponham entre o indivíduo e o

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gênero. O primeiro caso rumo ao progresso humano e o segundo levando a uma alienação entre os homens.

3. Exteriorização e alienação

O confronto do indivíduo com o produto de seu trabalho pode resultar em falência das intenções antes projetadas ou em sua realização; o indivíduo pode ter frustrado sua projeção inicial ou tê-la efetivado satisfatoriamente. Quando se realizam as intenções, há um reconhecimento entre o fruto do trabalho e o homem que o produziu. Esse processo de retorno do objeto ao indivíduo é o que Lukács chama de exteriorização: que o objeto retroage em seu criador. É assim que se compreende a tendência em que o indivíduo caminha rumo ao progresso humano, próximo ao humano genérico de seu tempo presente. O seu oposto é o estranhamento: quando a conciliação do homem com o produto de seu labor é obstada por elementos exteriores. O objeto aparece como tendo uma vida própria. Parece uma coisa que, por ter independência, teria a capacidade de enfrentá-lo como um objeto estranho. Ao invés de servir para o crescimento humano, o objeto é visto como externo a seu próprio criador; na alienação não existem laços factuais aparentes que liguem o ser social ao objeto por ele construído e, com isso, o homem não se sente como fonte de sua produção, como o gestor dos objetos transformados.

Lukács determina o caráter da objetivação especificamente alienada:

A objetivação é, de fato, um modo de exteriorização insuperável na vida social dos homens. Quando se considera que na práxis tudo é objetivação, principalmente o trabalho, que toda forma humana de expressão, inclusive a linguagem, objetiva os pensamentos e sentimentos humanos, então torna-se evidente que lidamos aqui com uma forma universal de intercâmbio dos homens entre si. Enquanto tal, a objetivação não é, por certo, nem boa nem má: o correto é uma objetivação, tanto quanto o incorreto; a liberdade, tanto quanto a escravidão. Somente quando as formas objetivadas assumem tais funções na sociedade, que colocam a essência do homem em oposição ao seu ser, subjugam, deturpam e

desfiguram a essência humana pelo ser social, surgem a relação objetivamente social da alienação e, como consequência necessária, todos os sinais subjetivos de alienação interna (2003: 37). Sendo a alienação uma barreira determinada socialmente que impede o ser humano de defrontar-se com seu caminho (práxis) através de sua particularidade e generalidade, podem-se inferir duas características centrais: a) que a alienação está em interna conectividade com a objetivação e, desta forma, com a esfera do trabalho; por meio dotrabalho,desuacrescentecomplexificação,surgem, historicamente determinadas, essas barreiras sociais; b) por outro lado, apesar do trabalho ser a sua protoforma modelar, a alienação não se estabelece em seu domínio exclusivo; estando existente a partir de sua complexificação social, existe nas demaisesferas da reprodução social. A colisão entre as duas categorias (exteriorização e alienação) possui um vínculo crucial com a ética. O crescimento ético do indivíduo diz respeito ao reconhecimento de si como gênero humano; daí a necessidade histórica da ruptura com as alienações para o processo de individuação e sociabilidade. O valor ético tem a sua fundação no trabalho, a partir das alternativas geradas pela interface entre homem e natureza. No entanto, o trabalho é fonte do valor, mas não garante suas características determinantes. O primado do valor no trabalho não permite a transposição direta das escolhas econômicas para as éticas.Aqui, os valores éticos obtêm um estreito laço com a questão do binômio exteriorização e alienação. Os valores podem servir tanto como mantenedores da ordem estabelecida como também podem servir para estimular a criação de coisas novas, assim como fortalecer para a condução humana na transformação social – configurados a partir do sentido criador esuperador, presente na teleologia. Colocando-se os valores como teleologia, que cria algo novo e não apenas reproduz o velho, então, as escolhas éticas passam a ser privilegiadamente voltadas para a transformação. Sendo teleologia assim adotada produtora da transformação, tudo o que a integra também se direciona para o novo, para o futuro. Por isso, o caminho do ser social para o progresso da humanidade, como

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tendencialmente genérico-humanizado. Os valores podem servir para levar o ser social a dois caminhos distintos: à construção de uma sociedade mais próxima do desenvolvimento do gênero humano, ou uma sociedade que esteja cada vez mais longe do gênero humano. Na primeira forma, as escolhas fazem com que o homem sinta-se partícipe do seu futuro e do futuro de sua própria sociedade, enquanto que no segundo caso existe um distanciamento entre o singular e o universal, na medida em que se promove um isolamento do ser social que, ao restringir-se a si mesmo (de forma instrumental) não se sente partícipe do devir social, nem do contato transformador com a natureza com os outros homens (cf. Lessa, 2002). É somente com essa base que se pode tratar da ética, uma vez que, enquanto os outros complexos sociais relacionados à ideologia, como os costumes e a moral, estruturam-se a partir de regras sociais de cunho coletivista, mesmo transformados historicamente, a ética alcança o interlúdio entre o social (o coletivo não só visto como concreto, mas também como potencial) e o individual, possibilitando ao ser social sua objetivação plena. É essa diferença que se faz quando é preciso frisar que a existência da ética e as limitações impostas socialmente conduzem o ser social a processos de estranhamento: uma tendência decrescente da generalidade humana, na qual o particular desaparece no coletivo. Porém, Markus explica que “a alienação é uma fase não só necessária, senão positiva, criadora — ainda que em forma contraditória — do desenvolvimento do ser do homem”. Isso porque a dissolução das antigas comunidades e o avanço da sociabilidade mundialmente integrado “não [foram possíveis] senão por meio do período histórico e dos mecanismos da alienação” (1974: 64), por meio do processo de expansão do capital (a “missão histórica” da burguesia da qual falava Marx). Desse modo, afirma Lukács, comoúltima sociedade baseada na exploração, como a sociedade que produz não apenas as condições prévias econômicas materiais do socialismo, senão que traz à luz seus próprios coveiros, a sociedade capitalista tem que produzir, no seio das forças que deformam e desfiguramohomem,tambémaquelasforçasprogressistas que se orientam ao futuro (cf.

1982, 1: 68). Em meio às suas alienações, o movimento do capital intrinsecamente engendra a possibilidade da objetivação de sua superação e da emancipação universal da humanidade.

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Endereço para Correspondência:

Profº Ranieri CarliCurso de Serviço SocialEmail: [email protected]

Profº Henrique André Ramos WellenCurso de Serviço SocialEmail: [email protected]

Centro Universitário de Volta RedondaCampus Três PoçosAv. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325,Três Poços - Volta Redonda / RJCEP: 27240-560

Informações bibliográficas:ConformeaNBR6023:2002daAssociaçãoBrasileiradeNormasTécnicas(ABNT),estetextocientíficopublicadoemperiódicoeletrônicodevesercitadodaseguinteforma:CARLI, Ranieri; WELLEN, Henrique André Ramos. A Ética como Problema Histórico. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano IV, n. 9, abril. 2009. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/edicao/09/29.pdf>

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Estudo da Logística Urbana no Municipio de Lorena – SP.

Study of The Urban Logistics in Lorena City – SP.

Eriane Fialho de CarvalhoRosinei Batista RibeiroHumberto Felipe da Silva

Palavras-chaves:

Logística urbana

Rede de distribuição logística

Detalhamento espacial

Mobilidade urbana de materiais

Gestão Sócio-Ambiental de Suprimentos.

Resumo

O presente trabalho buscou demonstrar a importância da integração dos estudos da city logistics nos núcleos urbanos, atuando como fator resultante na qualidade e produtividade dos processos operacionais de transporte de cargas, por meio do planejamento tático da mobilidade de materiais. A problemática de pesquisa caracterizou-se pelas condições atuais do panorama logístico do município de Lorena - SP, que possui como fatores a busca pela melhora do congestionamento do trânsito e a eficiência da mobilidade de materiais.

Key words:

Urban logistics

The distribution logistics network

Spatial Drilldown and Mobility urban of materials

Socio – Environmental Management of Supllies.

Abstract

This paper aims to demonstrate the importance of integrating the studies of city logistics in urban centers, acting as a factor resulting in quality and productivity of operational procedures for transporting cargoes, through the planning of tactical mobility of materials. The issue of research is characterized by the conditions logistical overview of the current council of Lorena - SP, which has the search for factors such as improvement of traffic congestion and efficiency of mobility of materials.

ArtigoOriginal

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1. Introdução

Os núcleos urbanos são áreas de frequente movimentação de pessoas e cargas de suprimentos, os quais são fundamentais para a geração das atividades econômicas e sociais das cidades, mas a falta de equilíbrio e/ou planejamento adequado ao desenvolvimento dessas áreas centrais resultam em zonas urbanas problemáticas. O estudo da city logistics (logística urbana) tem como propósito o melhor planejamento integrado para a distribuição de carga urbana, resultando na minimização do custo total (econômico, social e ambiental) dos movimentos de materiais (cargas) nos núcleos

urbanos. A problemática do estudo caracteriza-se pelo atual panorama do transporte de materiais no centro urbano da cidade de Lorena-SP, o qual demonstra ineficiência narotatividade e mobilidade urbana de materiais, congestionamento do trânsito, ausência de dados estatísticos sobre a logística de transporte de cargas e a ausência de planejamento logístico urbano de materiais. A relevância deste estudo está na contribuição para o desenvolvimento urbano da cidade no aspecto social, econômico e ambiental, pois, por meio destes dados estatísticos, podem-se obter indicadores do cenário atual do transporte de suprimentos

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* Sistemas de informações avançados;* Sistemas de cooperação de transportede carga;* Terminais logísticos públicos;* Uso compartilhado de veículos decarga;* Sistemas subterrâneos de transportede carga;* Áreas com controle de acesso.Taniguchi et al. (2001) propõem um método para projeto do sistema da logística urbana, de acordo com as seguintes aspectos:*Problemasdevemseridentificadosedefinidos podendo ser: de planejamento econtrole de frota, impactos ambientais e congestionamento de tráfego.* Critérios de avaliação devem ser abrangentes, de acordo com os objetivos das aplicações da logística urbana, que podem ser principalmente: Sociais - por exemplo, reduções no congestionamento do tráfego por umsistemamaiseficientedecoleta /entrega,que reduza o tamanho da frota e maximize o fator de carga; Econômicos - derivado nas reduções dos custos fixos e operacionais;Ambiental - como uma consequência das reduções das emissões de NOx, CO2 e ruído; e consumo de energia derivado das reduções de consumo de combustível ou no recurso para energias alternativas. O método para o desenvolvimento do sistema da logística urbana pode ser ilustrado de acordo com a Figura 1.

Figura 1 - Abordagem Sistêmica (Systems approach) para

a Logística Urbana. TANIGUCHI, et. al (2001) p.9.

Thompson (2003) complementa a definição, afirmando ser a city logistics umprocesso de planejamento integrado para distribuição de carga urbana, baseado em um sistema de aproximações (integração), as quais promovem esquemas inovadores, que reduzem o custo total dos movimentos de carga dentro

na área central da cidade e a conscientização para a problemática da logística de transporte de cargas nos núcleos urbanos. A iniciativa deste trabalho piloto faz parte de um projeto futuro que visa ao desenvolvimento de um planejamento logístico urbano de cargas. Sendo assim, a partir dos dados coletados neste estudo piloto, será possível desenvolver a segunda etapa do trabalho, focando o desenvolvimento de alternativas (plano estratégico) de melhoria do processo logístico urbano de suprimentos no município de Lorena – SP e, possivelmente, a extensão desse conceito de city logistics as cidades acerca da região. O trabalho piloto teve como propósito geral a coleta de informações sobre o processo logístico da mobilidade urbana de cargas (materiais) destinadas às empresas comerciais do município de Lorena-SP. Dentre estas cidades, foram selecionada cinco organizações que possuem localização estratégica na área central do município.

2. Referencial Teórico

2.1 Estudos de City Logistics Os estudos de city logistics tiveram início durante os anos 90, em alguns países europeus como, Alemanha, Holanda, Bélgica, Suíça e Dinamarca. Países estes que deram início a projetos-piloto referentes a modelos alternativos para a distribuição nos centros urbanos, mais conhecidos como city logistics (DUTRA, 2004). As iniciativas destes estudos vêm ao encontro da ocorrência de aumento de tráfego de materiais em vias urbanas, que sem um planejamento adequado às necessidades de infraestrutura e crescimento de rotatividade nos eixos urbanos, causam transtorno no processodefluxodamalhaviária.

2.2 Teoria e definição de city logistics Taniguchi et al. (2001) definem citylogistics como o processo para a completa otimização das atividades logísticas e de transportes pelas companhias privadas em áreas urbanas, considerando o aumento e o congestionamento do tráfego e o consumo de combustível dentro de uma estrutura de economia de mercado. De acordo com o autor, há uma pluralidade de representações sobre o estudo; dentre eles incluem-se os seguintes parâmetros:

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das cidades (incluindo os custos econômicos, sociais e ambientais). Esse processo permite, ainda, a estimação de uma estrutura para planejadores de cidades, na qual os impactos dos esquemas de city logistics envolvem, normalmente, o estabelecimento de parcerias entre os setores público e privado.

3. Material e Método

O procedimento metodológico consistiu, inicialmente, de pesquisa bibliográfica referente ao estudo sobrelogística urbana (city logistics) por meio de dados eletrônicos, periódicos e livros. No decorrer do trabalho, foi realizada uma pesquisa exploratória (análise qualitativa), da pesquisa descritiva (análise quantitativa). O local de estudo foi o município de Lorena – SP, fundado no ano de 1788. De acordo com o Instituto Brasileiro de Estatística (IBGE) o índice populacional do municipio de Lorena – SP gira em torno de 84.032 habitantes. Os dados territoriais demonstram a densidade demográficade203,08hab/km²e413,78emaréa (km2).O setor terciário é o foco de estudo deste projeto, sendo que a pesquisa de campo foi aplicada em cinco empresas comerciais de segmentos diferentes de atividade entre os quais se incluem o setor alimentícios, o de eletrodomésticos/eletrônicos, o de utensilios em geral e o setor farmacêutico. Para a pesquisa de campo, foi desenvolvido como instrumento de coleta de dados um questionário voltado à gestão da logística de transporte de cargas do setor comercial para avaliar os seguintes aspectos: identificaçãoda rede logística, serviço de transporte, tipo dos veículos de carga, mobilidade da carga urbana, detalhamento espacial, acessibilidade (modal/vias de acesso), posicionamento organizacional, fluxo de recebimento dosmateriais, processo de carga e descarga, análise ambiental e análise socioeconômica.

Figura 2 - Detalhamento espacial/uso da área – ciclo de informação do transporte. (Fonte adaptada de Wegner e Fürst, 1999).

4. Resultados e Discussões

4.1 Indicadores do panorama socio-econômico do município de Lorena e região

O municipio de Lorena esta localizado no Vale do Paraiba interior do Estado de São Paulo,Brasil,comodemonstraafigura3.O índice de desenvolvimento urbano do municipio de Lorena é da ordem de 0,807, de acordo com os dados do SEAD (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) coletados no período do ano 2000. Esse índice é considerado médio, de acordo com a classificação do Programadas Nações Unidas para o Desenvolvimento (Fonte: SEAD). A renda per capita do município de Lorena corresponde à cerca de 10.279,59 em reais correntes.

O cenário econômico da cidade baseia-se nos setores primários, secundários e terciários. Entre os anos de 2006 e 2007, o setor primário (agropecuária) correspondeu a cerca de 2,77 % da participação total de vínculos empregatícios e gerou rendimento médio total de 422,79 (em reais correntes). A participação total de vínculos empregatícios na indústria entre os anos de 2006 e 2007 foi de 26,07%, com a geração de 1.455,96 (em reais correntes) no rendimento médio total. Na prestação de serviços, o índice de participação total de vínculos empregatícios foi de 44,98% e o rendimento médio de 1017,30 (em reais correntes). A participação do comércio no município de Lorena conta com cerca de 663 estabelecimentos comerciais de diversos segmentos, os quais representam no total dos vínculos empregatícios a 23,63 % entre os anos de 2006 à 2007 (Fonte: SEAD).4.2 Detalhamento espacial (uso da área) pelo transporte de suprimentos em virtude de sua localização, o município é favorecido em termosdetransportediversificado. Sendo assim, possui um posicionamento estratégico na região por estar integrado a rodovias federais e estaduais como a Presidente Dutra (São Paulo - Rio de Janeiro), a BR-116 (Rio Grande do Norte – Rio Grande do Sul), a Fernão Dias (São Paulo – Belo Horizonte), a Ayrton Senna (São Paulo – Jacareí), a Dom Pedro I (Jacareí – Campinas) e a BR-459 (Lorena – Itajubá) (IBGE, 2006). A cidade possui seis vias principais de acesso a toda extensão da cidade e, principalmente, ao perímetro urbano. Dentre estas estão: a

Figura 3 – Localização geográfica do município de Lorena na região do Vale do Paraíba – São Paulo - Brasil. Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE 2008.

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Avenida Dr. Peixoto de Castro (BR 116-Rodovia Presidente Dutra), a Avenida Marechal Argolo (BR-459 - Rota Tecnológica), a Avenida Targino Vilela Nunes (BR-459), a Avenida Tomaz Alves Figueiredo (SP062 - Rodovia Washington Luis) e a Avenida Coronel Marciano (SP062).

4.3 Indicadores do panorama logístico urbano do transporte de suprimentos

A Tabela 1 demonstra o volume de mercadorias (cargas) recebidas pelas empresas comerciais A, B, C, D e E, que foram entrevistadas por meio do questionário aplicado. As informações sobre o fluxo derecebimento foram separadas e projetadas por períodos (semana, mês e ano) correspondendo à quantidade de entregas destinadas a cada empresa entrevistada. Tabela 1 - Levantamento do fluxode suprimentos (pedidos) das empresas comerciais por períodos. Fonte: a autora.

Nota-senosGráfico5e6que60%dasentregas destinadas às empresas são realizadas por veículos de carga tipo 2SI-3eixos, e que 40% das empresas utilizam a via pública para o processo operacional de carga e descarga de materiais, percentual este representado pelas empresas D e E, as quais representam cerca de

912 entregas anuais (tabela 1). Desse total de 912 entregas que utilizam como procedimento de carga e descarga dos materiais a via pública, cerca de 547 entregas são realizadas por caminhões do modelo 2SI de 3 eixos. Esses fatores contribuem para a ineficiência de escoamento e mobilidade notrânsito da cidade sendo que As vias urbanas são estreitas e não há o planejamento logístico urbano.

A Figura 7 – apresenta a entrega realizada pelos caminhões em horários diurnos e local inadequado na via Dr. Rodrigues de Azevedo, contribuindo com a ineficiência no escoamento, aumento nadensidade de veículos, insegurança nas vias e o congestionamento (efeito dominó) em toda região. Na pesquisa de critério ambiental, a medição de ruídos realizada na Rua Dr. Rodrigues de Azevedo, via principal da cidade, foi com o uso do decibelímetro digital, o instrumento de medição sonora que

Figura 4 – Detalhamento espacial e gradeamento da área estudada. Fonte: a autora.

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possuiaseguinteidentificação:modeloDEC-410, código de identificação: QO 99263 efabricante: Instrutherm. O índice de ruído foi de69,8db,ofluxodetransporteerotatividadede veículos nessa área não impactaram negativamente no ambiente, pois o índice de ruídos está de acordo com o permitido que é de até 85 dB (NBR10151-ABNT).

5. Considerações Finais

Ainvestigaçãopermitiuareafirmaçãoda relevância de se programar um plano tático logístico para o transporte de materiais (cargas) direcionado às empresas localizadas no centro urbano do município de Lorena – SP, e a problemática atual da logística de cargas na área central. Verifica-se pormeio de dados estatísticos que o município de Lorena-SP, possui um cenário logístico urbano demobilidade de cargas ineficientes,o qual, na análise do detalhamento espacial, caracterizou-se como uma área utilizada inadequadamente pelo transporte de carga e descarga de materiais, gerando insegurança e fluxo de tráfego interrompido em todo operímetro. Os dados demonstraram que 40% das empresas utilizam a via pública para o processo operacional de carga e descarga de materiais; percentual este representado pelas empresas D e E, as quais possuem o maior fluxo de materiais, cerca de 912 entregasanuais. Deste total, 547 entregas utilizam caminhões do modelo 2SI de 3 eixos, o que resultanocongestionamentoeineficiênciadotrânsito constatado pelos dados coletados. As alternativas de melhoria no processo logístico da mobilidade urbana de materiais do município de Lorena poderão ser desenvolvidas em um novo estudo, o qual irá investigar a viabilidade de estratégias de melhoria. Dentre estas, as principais alternativas a serem estudadas são: Zonas de contenção, Central de operadores logísticos, consolidação de parcerias entre setor publico e privado, roteirização de veículos de carga e descrentalização de veículos de cargas (caminhões) no núcleo urbano. Concluiu-se que o cenário atual do transporte de cargas do município de Lorena é um fator agravante para o desenvolvimento sustentável do setor, gerando um cenário negativo nos aspectos social, econômico e,

futuramente, poderá influenciar na qualidadeambiental do município, no que diz respeito ao aumento da poluição sonora e atmosférica.

Agradecimentos

À coordenação e equipe do Instituto Superior de Pesquisa e Iniciação Científica– ISPIC-FATEA, ao Centro da Industrial do Estado de São Paulo – CIESP – Taubaté e as Faculdades Integradas Teresa D’Ávila – FATEA - Lorena - SP. Ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC - CNPqpela concessão da bolsa de estudo. E aos professores Dr. Rosinei Batista Ribeiro, Dr. Humberto Felipe da Silva, M.Sc. Jorge Luiz Rosa e Ângelo Malerba.

6. Referências

ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas; Disponível em <http:www.anbt.org.br>; Acesso em 15/03/2008.

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CARVALHO, E. F.; RIBEIRO, R.B. ESTUDO DA LOGÍSTICA URBANA NO MUNICIPIO DE LORENA – SP: Análise da Gestão Sócio - Ambiental no Transporte de Suprimentos. In: 3rd International Congress University-Industry Cooperation-UNINDU, 2008, Universidade de Ubatuba.

DUTRA; N. G. S. Enfoque de “City Logistics” na Distribuição Urbana de Encomendas, 2004. Tese de Doutorado (Engenharia da Produção) - Universidade Federal de Santa Catarina UFSC, Florianópolis, 2004.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística; Disponível em: <http:// www.ibge.gov.br/cidades > Acesso em: 01/04/2008.

SEAD, Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados; Disponível em: <http://www.seade.gov.br> Acesso em: 15/04/2008.

TANIGUCHI, E., THOMPSON, R.G.,

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THOMPSON, R. G. (2003). AusLink green paper submission, Freight and Logistics Group,Department of Civil and Environmental Engineering, The University of Melbourne, February2003, Disponívelem:<http://www.dotars.gov.au/transinfra/auslink/pdf/tertiary_ed_anresearch/Russell_G_Thompson.pdf>. Acesso em: 01/04/2006.

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WOUDDSMA, C.; JENSEN, J. F.; KANAROGLOU, P.; MAOH, H (2008). Logistics land use and the city: A spatial-temporal modeling approach, Science Direct, Canada.

Endereço para Correspondência:

Eriane Fialho de CarvalhoFaculdades Integradas Teresa D’ Ávila – FATEA -InstitutodePesquisaeIniciaçãoCientífica–ISPIC, Lorena -SP. Endereço para correspondência: Rua Rui Barbosa, n° 045 Vila Passos, cep: 120605-050 Lorena – SP. E-mail: [email protected]

Rosinei Batista RibeiroCentro Universitário de Volta Redonda -UNIFOA -Volta Redonda - Rio de Janeiro.Faculdades Integradas Teresa D’ Ávila – FATEA -InstitutodePesquisaeIniciaçãoCientífica–ISPIC.Escola de Engenharia de Lorena – Universidade de São Paulo – EEL – USP.

Humberto Felipe da Silva Escola de Engenharia de Lorena – Universidade de São Paulo – EEL – USP.Centro Universitário Salesiano São Paulo – UN-ISAL – Lorena - SP.

Informações bibliográficas:ConformeaNBR6023:2002daAssociaçãoBrasileiradeNormasTécnicas(ABNT),estetextocientíficopublicadoemperiódicoeletrônicodevesercitadodaseguinteforma:CARVALHO, Eriane Fialho de; RIBEIRO, Rosinei Batista; SILVA, Humberto Felipe da. Estudo da Logística Urbana no Municipio de Lorena – SP. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano IV, n. 9, abril. 2009. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/edicao/09/35.pdf>

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O Olhar - Fazer Interdisciplinar no Atendimento às Vítimas de Violência Doméstica no Âmbito Policial: Estudo Preliminar. ¹ ²

Interdisciplinarity in Giving Assistance to Victims of Domestic Violence in The Political Scope: Preliminary Study.

Michael Hermann ³

Palavras-chaves: Interdisciplinaridade; Violência Doméstica; Segurança PúblicaResumo

Este trabalho foi desenvolvido durante uma experiência profissional dentro de uma delegacia de polícia – instituição esta que, no final da década de 90, passou por várias reformas não só dentro do seu aparato administrativo, mas na sua concepção de como a mesma vê a violência e suas causas. Os novos profissionais policiais capacitados e preparados vêm com esta concepção, porém, ainda maculada com as velhas práticas repressoras e burocráticas da própria instituição. Com essa mudança, vem à inclusão dos profissionais não policiais, constituídos em sua maioria por assistentes sociais, psicólogos e pedagogos, que primeiramente não são incorporados nos quadros da polícia estadual, mas fazem parte de um projeto que gerou tais modificações dentro do aparato da segurança pública no Estado do Rio de Janeiro. Tal projeto se denomina Programa Delegacia Legal, em que o grupo gestor do mesmo não

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Abstract

This work was developed during a professional experience inside a police station. In the late 90s, such institution underwent some reforms that were both administrative ones and about its conception of violence and its causes. The new trained police officers already have this conception; however, it is still linked with repressive and bureaucratic practices of the institution itself. With this change, there is the inclusion of professionals who are not police officers, being most of them social assistants, psychologists and educators, which are not incorporated in the state police at first, but they are part of a project that has made such changes in the public security in the state of Rio de Janeiro. This project is called “Programa Delegacia Legal” (Legal Police Station Program)

Key words: Interdisciplinarity; Domestic Violence; Public Security.

¹TalartigofoiresultadodeumestudomonográficoparaaobtençãodetítulodaEspecializaçãoemAtendimentoaCriançaeAdolescenteVítimadeViolênciaDomésticapelaPUC–RiodeJaneiro,em2004.Otrabalhofoidesenvolvidoduranteainserçãodoautor,comoprofissionalnãopolicial,noProgramaDelegaciaLegal,lotadoemumadasDP´s situadas na Baixada Fluminense, no Estado do Rio de Janeiro, no período compreendido entre 2004 a 2005. ² Tal estudo está tendo continuidade em um projeto de pesquisa e extensão coordenado pelo NEPSSI – Núcleo de estudos e Pesquisas em Serviço Social e Interdisciplinaridade – sob a chancela da UNIME Salvador. O projeto se intitula “Serviço Social e Interdisciplinaridade presentes no Campo Sócio-Jurídico no Estado da BA”, que tem por objetivo não só levantar e analisar o processo de trabalho dos assistentes sociais inseridos neste campo sócio-ocupacional, mas de tentar visualizar a concepção de trabalhos de natureza interdisciplinar na resolução das demandas materializadas pelos usuários que recorrem a este espaço já mencionado.³ Assistente Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF, Especialista em Violência Doméstica e Urbana pela PUC Rio de Janeiro e Mestrando da Pós – Graduação Strictu Sensu em Políticas Sociais e Cidadania pela Universidade Católica do Salvador (UCSal)- Salvador/BA, Membro associado da NET- Núcleo de Estudos do Trabalho-PPGPSC/UCSal e Membro do Núcleo de Pesquisa e Estudos sobre Juventude, Identidades, Cidadania e Cultura – PPGPSC/UCSal (email: [email protected])

quer que o projeto seja passageiro, fruto de um momento conjuntural e político, mas quer que ele faça parte do organograma que constituí o sistema de segurança pública de fato. Dentro da “delegacia legal” há a constituição de uma equipe de profissionais – policiais ou não – prontos para atender a população que necessita de demandas que ultrapassam a natureza criminal. As demandas que fogem ao objeto do inquérito policial são ainda desprezadas por muitos profissionais policiais, e gera conflitos com os demais profissionais não policiais – que são capacitados a atenderem tais demandas. Este trabalho expõe as formas de como estas equipes são constituídas dentro de uma delegacia de polícia, e mostra como é possível formar uma equipe – constituída de profissionais policiais e não policiais – que trabalhe de uma forma interdisciplinar, atendendo assim a todas as demandas e encaminhamentos posteriores, mesmo com todas as dificuldades institucionais e com a correlação de forças presente.

in which the management group does not want the project to be temporary as a result of the conjectural and political moment, but the group wants it to be part of the organogram that, in fact, constitutes the public security system. Inside the Delegacia Legal there is a team of professionals – police officers or not – ready to deal with people who need what is beyond criminal nature. The demands that have nothing to do with the police enquiry are disregarded by many police officers, which promotes disagreement with the other professionals who are capable of dealing with such demands. This work explains how teams are formed within a police station and shows how a team – being formed by professional police officers or not – can work in an interdisciplinary way, assisting all that follows, even with all the institutional difficulties and actual correlation of forces.

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Violência Doméstica como Cotidiano no Âmbito Policial

O trabalho a ser descrito foi feito durante entre os anos de 2004 a 2005, quando foram observadas várias experiências multi e interdisciplinares no atendimento às vítimas de violência doméstica no âmbito policial. A inserção deste breve estudo nas delegacias de polícia (DP´s) foi feita pelo Programa Delegacia Legal, com a inclusão de profissionais não policiais4, que veio em um momento político vertical e pontual para dar maior qualidade operacional e organizacional dentro dos quadros da PCERJ5. O Programa em questão foi colocado na gestão do Governo de Anthony Garotinho – no ano de 1999 – quemodificou a estrutura administrativa dasantigas delegacias com um sistema moderno de informatização; interligando as Delegacias Policiais; fornecendo maiores informações para elaboração de um Registro de Ocorrência – RO; mudando o meio, o modo e a prática diária de um plantão policial; interligando com a rede de atendimento sócio-assistencial presente em todo Estado do Rio de Janeiro. O tema sobre violência doméstica, durante a preparação do corpo policial, dentro da Academia de Polícia , é visto como um fato atípico, diferente dos processos e flagrantesmais corriqueiros que envolvem homicídios, sequestros, crimes contra o patrimônio e tráficodeentorpecentes.

Embora nos últimos anos, nota-se o despertar de consciência e de disposição da sociedade em reagir à violência infanto-juvenil. Por meio dos meios de comunicação, um grande contingente de policiais não se sente preparado e sensível para lidar com o tema. O preconceito, o medo e o não preparo fazem do processo interrogatório e investigativo de um abuso cometido, para formalizar o inquérito policial uma nova revitimização da criança/adolescente abusada. Se os policiais, durante o seu processo de formação na Academia de Polícia, estudam o ECA e os sistemas de proteção voltados a tais vítimas, não

implementam de fato tais encaminhamentos na sua rotina de formulação do inquérito. Embora haja a existência de DEAM´s e de DPCA´s , há uma resolução que a violência perpetrada contra a mulher, ou a criança e o adolescente pode ser denunciada em qualquer DP mais próxima da residência da vítima. Na prática, a vítima – sobretudo a mulher – é “bicada” para a delegacia especializada, que na maioriadasvezesficamaisdistanteedifícilotransporte, que é uma das carências em algumas regiões no Estado do RJ. Quando tal demanda chega até o Balcão de Atendimento, onde se alocam os profissionais não policiais, asmulheres abusadas manifestam no seu discurso umasériedeconflitosfamiliaresquetraduzemum ambiente de alto risco para a mesma e a sua prole. Muitas vezes são encaminhadas para os policiais responsáveis que, não tendo formação específica, desqualificam o seudiscurso, encaminhando a mesma ou para uma DEAM ou de volta para a sua residência. Não se configurando o RO – Registro deOcorrência. Subsequentemente, isso acarreta na existência do sub-registro, que compromete a base para a formulação de novas políticas de ações na área de Segurança Pública dentro do Estado do Rio de Janeiro, ou seja, não demonstram a realidade de fato, acarretando na ineficácia dessas ações. Em notas enoticiários de jornais dos Estados de Minas Gerais e Bahia, tal sub-registro é denotado devido a localização e a acessibilidade de tais delegacias especializadas. No caso de uma DEAM – que fez parte deste estudo – era responsável por 65% da área cicunscricional de toda a Baixada Fluminense quanto ao levantamento, atendimento, investigação criminal e apuração de denúncias quando há violência contra a mulher. E mesmo assim, há relatos de “bicos” ocorridos em seu próprio espaço, ou seja, os dados não correspondem a realidade total. A violência conjugal parece ser mais elevada. O agressor da mulher dentro de casa muitas vezes é o “eleito” para compartilhar uma vida em comum com a mesma, que exerce o seu poder dentro de um microcosmo, onde no

4 Compostos por assistentes sociais e psicólogos, contratados por tempo determinado pelo grupo gestor do Programa “Delegacia Legal”, não fazendo parte do organogramaoficialdaSESP-RJ(SecretáriadeEstadodeSegurançaPúblicadoRiodeJaneiro).5 Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro.6 ACADEPOL.7 Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº8069/90).8 Apenas a parte criminológica que conta dentro de um inquérito, segundo Foucault(1977).9 Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher. Concepção de combate legal e institucional à violência cometida contra a mulher. Iniciou-se nos anos 80, quando as primeiras DP especializadas foram inauguradas em São Paulo. 10 Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente.11 Delegacia de Polícia.12 DuranteoperíododapesquisadentrodoPrograma“DelegaciaLegal”,observou-sequeotãofamoso“bico”-jargãoutilizadopelosprofissionaispoliciais–possuicomo vítimas preferenciais as mulheres vítimas de violência doméstica. Muitas até desistiram de fazer a denúncia depois de passaram por esse descrédito.

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macrocosmo, o algoz se torna tão vítima quanto as suas vítimas dentro do lar. Muitas vezes, a prole é tão vítima quanto a mãe/esposa. A violência conjugal, quando há a existência dos filhos,torna-seviolênciaintrafamiliar,ondeopatriarcado arcaico mostra todo o seu poder. A sociedade, nestes tempos ainda contemporâneos, só legitima dois tipos de mulheres: a mulher-mãe, mulher-esposa, que é passiva e tudo compreende, e a mulher sensual, que gosta e sente prazer. O homem é o ser privilegiado que passeia por entre estes dois mundos. Apesar de parecerem dois mundos diferentes, e, para alguns, até dicotômicos, nesses dois tipos, a mulher é subserviente ao homem. O primeiro tipo é encontrado em casa, como esposa e mãe, e o segundo, na rua, como “mulher da vida”, prostituta, que seduz o homem. A partir disso,“a violência seria, portanto, toda e qualquer ação que toma o outro como coisa, objeto desprovido de desejo, de autonomia, de auto-determinação. (...). A violênciaéareafirmaçãodocorpomasculinoe a negação do desejo feminino” (Cromberg, 2001,44) A violência contra a mulher é a expressão clara e cruel de discriminação que vem sofrendo ao longo dos tempos. Discriminação essa que se traduz em tudo aquilo que é visto pela sociedade como “menor”. É o fenômeno da “Síndrome do Pequeno Poder”, que atua sobre as pessoas que não se enquadram no modelo de poder: a mulher, o negro, a criança e o pobre. E, ao contrário, o detentor do poder é branco, macho, rico e adulto. Assim, a menina pobre e negra é considerada como a criatura “menor” da sociedade, e assim, é a de todas a mais discriminada. A violência contra a mulher, nesse sentido, é muito ampla, e vai além das paredes de sua casa. Ela começa a ser discriminada como cidadã por práticas institucionais presentes em nossa sociedade. Ao longo do tempo, isso vem sendo disseminado, passando de ser considerado comum, para se perceber comoproblemasocial.NoBrasil,nofinaldosanos 70, a partir de movimentos feministas contra assassinatos cometidos contra a mulher em nome da “defesa da honra”, vieram à tona questões como a opressão da mulher na sociedade brasileira, em vários aspectos, além

da violência conjugal, como a discriminação no trabalho e o desrespeito ao corpo da mulher. A violência conjugal é um hábito no cotidiano do casal, que garante ao homem, a cada passo, a cada atitude, um pouco mais de poder sobre a sua mulher. E tal fato é legitimado – mesmo que nebulosamente – pelo corpo que constitui a instituição policial quando se desqualifica a queixa da mulhervítima de violência dentro do espaço policial. Há a necessidade de se mudar a banalização de tal violência do cotidiano dos lares. Além disso, há alguns fatores importantesquesãorelevantescomoafinalidadee a disponibilidade de tais profissionais nãopoliciaisdentrodoespaço–conflituoso–dadelegacia de polícia: (a) como profissionaisdo “acolhimento” no espaço policial, sendo os primeiros a atenderem tais vítimas, buscando a não continuidade do processo de re-vitimização, subsidiando no resgate de seus direitos mais fundamentais, para – depois – procurar a subsequente resolução da parte criminológica de fato, cujo a responsabilidade são dos profissionais policiais, terminandocom os posteriores encaminhamentos para a rede sócio-assistencial existente; (b) Dentro dofluxogramadoatendimentoàtaisvítimas,em comparação com os outros Estados da federação analisados neste breve estudo – MinasGerais eBahia – os profissionais nãopoliciaisficamnofinaldoprocesso,ouseja,não fazem o papel no acolhimento, deixando talfunçãoàcargodeumprofissionaldenívelmédio; logo após feito o registro de ocorrência, as vítimas são encaminhadas para tais profissionaiscomafinalidadeessencialmente“terapêutica”.13

“O Olhar - Fazer Interdisciplinar” no Âmbito Policial

A interdisciplinaridade tem sido considerada como componente chave na constituição de muitos campos que envolvem profissionaisdediferentesáreasfrenteatemase problemáticas pluridimensionais. A crítica à fragmentação das ciências contemporâneas, da pulverização e verticalização dos saberes especializados e de suas implicações, vem sendo construída por várias perspectivas. Sendo a Delegacia de Polícia um

13 Dados retirados dos respectivos portais: www.sesp.mg.gov.br e www.ssp.ba.gov.br .

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campo de atuação onde o Direito positivo está muito impregnado, desde a primeira formação do aparato público de vigilância e de segurança – vale lembrar Foucault (2003, p.68) quando o mesmo expõe sobre a concepção do inquérito, que tornam as especialidades subalternas e auxiliares diante do conhecimento e interpretações das leis, sob o poder magno do Direito. Algumas publicações como Saraleque (1977, p.14) que tratam da segurança pública dizem que tal campo de atuação e intervenção – no caso da Delegacia de Polícia – é um dos aparelhos executores, repressores e ideológicos do Estado, e que faz parte da estrutura do mesmo (vertentes contemporâneas mais mecanicistas do marxismo dentro do campo do Direito).14 No campo policial percebe-se uma espécie de imperialismo epistemológico, pois, historicamente, tal espaço sócio-ocupacional fez parte de um dos projetos institucionais não democráticos, que interpelam as identidades sociais “compactas” e não pluralistas. É visto o conflito entre os que denotam o poder noápice desta hierarquia – os Delegados de Polícia – e os demais policiais subalternos e colaboradores. Nota-se que, com a renovação dosquadrosdentrodaPolíciaCivil,talconflitotem diminuído, mas ainda é muito presente.15 Para prosseguir o estudo, fez-se uma síntese sobre os níveis de cooperação e coordenação possíveis em diferentes espaços sócio-ocupacionais, inspirado na literatura (Japiassu, 1976, p.71; Sá, 1995, p.42; Seiblitz,1995, p.32; Vasconcelos, 2001, p.56). Logo em seguida, faremos algumas relações com outros dados coletados, perante os profissionais policiais e não policiais,inseridos no Programa Delegacia Legal da PCERJ. Nas definições gerais, temos: (a)As práticas multidisciplinares podem ser caracterizadas por uma gama de campos do saber que se propõem simultaneamente, mas sem fazer aparecer as relações existentes entre eles. Pode-se dizer que há apenas um só nível, múltiplos objetivos e nenhuma cooperação (SEIBLITZ, 1995, p.36);

Fonte: Seiblitz (1995)

(b) As práticas pluridisciplinares podem ser caracterizadas por uma justaposição de diversos campos do saber situados geralmente em um mesmo nível hierárquico e agrupados em um modo em que existam relações entre elas. É um sistema de um só nível e de múltiplos objetivos. Há cooperação, porém, nenhuma coordenação (SEIBLITZ, 1995, p. 37);

Fonte: Seiblitz (1995)

(c) As práticas pluriauxiliares que podem ter sua configuração descrita como a utilização decontribuições de um ou mais campos de saber para o domínio de um deles já existente, que se posiciona como campo receptor e coordenador dos demais. Nesse caso, há uma tendência ao imperialismo epistemológico, descrito, a grosso modo, como um sistema de dois níveis cuja a coordenação e objetivos são hegemonizados pelo campo de saber encampador (VASCONCELOS, 2001, p. 60);

Fonte: Elaboração do próprio autor inspirado segundo a concepção descrita por Vasconcelos(2001)

(d) As práticas interdisciplinares podem ser descritas como interações participativas que incluem a construção e pactação de uma axiomática comum a um grupo de campos de saber conexos, definida no nívelhierarquicamente superior, introduzindo a noção de finalidademaiorque redefineoselementos internosdoscampos originais. Pode-se dizer que tais práticas podem serconfiguradasemumsistemadedoisníveiseobjetivosmúltiplos, onde a coordenação procede-se de um nível superior, mas a tendência é de horizontalização das relações de poder (SEIBLITZ, 1995, p. 38);

Fonte: Seiblitz (1995)

(e) Os campos transdisciplinares podem ser descritos como campos de interação de médio e longo prazo, que pactuam uma coordenação de todos os campos de saberes individuais e interdisciplinares de um campo mais amplo, sobre a base de uma axiomática geral compartilhada. Há a tendência a uma estabilização e criação de um campo de saber com autonomia teórica

14 PodemosdizerdaherançadadaporAlthusserentreàsdécadasde60a70,equeinfluenciou–emuito–àsciênciassociaisno Brasil na autocracia burguesa que imperou de 1964 a 1985.15 Isto é visto na PCERJ – Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro; tal fenômeno nas demais como nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Bahia.

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e operativa própria. São descritos como sistemas de níveis e múltiplos objetivos, coordenados com vistas a uma finalidade comum dos sistemascom tendências à horizontalização das relações de poder (SEIBLITZ, 1995, p. 38). Tal “olhar disciplinar” (SÁ, 1995, p. 56) vem da tentativa, não só do GE, mas de um grupo de profissionais comprometidos emsolucionar, dinamizar e compartilhar conhecimentos dos mais diversos campos do saber, com a finalidadede alcançar um objetivo em comum. No caso em questão, o objetivo no âmbitopolicial,éaconfiguraçãofinaldo “inquérito ou flagrante fechado”,ou seja, o processo do atendimento conter dados da tríade: vítima(s), acusado(s,as) e evidências materiais .16 As evidências materiais são aquelas que dão a concretude e o caráter positivo do Direito Criminal, ouseja,aconfiguraçãodoobjetopenal.Se tais evidências fecham o inquérito policial, isso pode determinar se é precisoounãodeoutrasverificaçõesinvestigativas preliminares17 , e que resultanoautodeprisãoemflagrante18 e seu subsequente encaminhamento ao Ministério Público e à Vara Criminal correspondente. Analisando a bibliografiaque acerca sobre o tema “interdisciplinaridade”, descrita por Vasconcelos (2001, p. 66), Sá (1995, p. 45) e Seiblitz (1995, p.32), observam-se que as práticas mais correntes dentro de uma DP são as práticas pluriauxiliares. Tais práticas são as configurações construídas dentro deum espaço sócio-ocupacional onde a investigação inquisidora, a vigilância e

o poder estão muito bem articulados, e que se transformam de acordo com as conjunturas apresentadas no cotidiano. As práticas multi e interdisciplinares surgiram nesse contexto, quando o sistema de segurança pública foi colocado em xeque pela sociedade que passou a exigir resultados rápidos e objetivos. Nessa conjuntura, o sistema abre as portas para novas metodologias de organização do trabalho.19

Tais práticas pluriauxiliares são as mais corriqueiras, pois toda a confecçãoeconfiguraçãodoinquéritopolicial estão centradas na figurado Delegado – que detém a palavra final do dueto saber-poder do qualé mandatário – no qual o mesmo “delega” as atribuições e poderes aos seus subalternos hierárquicos. O imperialismo epistemológico, já dito anteriormente, é tão somente a subordinação de outros campos do saber diante de um campo hegemônico que se apropria de suas contribuições. Neste caso, o Delegado se apropria dos outros saberes de seus subalternos –inclusive dos supervisores de atendimento social20 - para fechar o inquérito policial em um “pacote” já pré-fabricado e pré-determinado, encaminhado para os canais superiores da justiça.21 A relação de poder existe nessa prática, e não existirá uma coresponsabilidade, e sim toda a supremacia e total responsabilidade do saber encampador, ou seja, do Delegado, sem compartilhar com demais saberes abaixo do campo hegemônico já instituído.

“O Olhar – Fazer Interdisciplinar”: uma Realidade Pontual.

Embora a presença do campo 16AsevidênciasmateriaissãoaquelasquedãoaconcretudeeocaráterpositivodoDireitoCriminal,ouseja,aconfiguraçãodoobjetopenal.Setaisevidênciasfechamoinquéritopolicial,istopodedeterminarseéprecisoounãodeoutrasverificaçõesinvestigativaspreliminares,equeresultanoautodeprisãoemflagrante16 e seu subseqüente encaminhamento ao Ministério Público e à Vara Criminal correspondente.17TaisprocedimentossemasevidênciasmateriaissãodenominadoscomoVIP–VerificaçãoInvestigativaPreliminar,nestecasooinquéritonãoestáfechadoouconcluído,paraseuposterior encaminhamento para o MP e para a autoridade judiciária do foro competente.18Noautodeprisãoemflagrante,oacusadoficanasaladecustódianaDelegaciaLegalcorrespondenteacircunscriçãododelitopenalempoucashorasatéasuaconduçãoàCasadeCustódia intermediária ou Unidade Penitenciária. 19 Com o descrédito do sistema de segurança pública no Estado do RJ, com altas taxas de criminalidade e de pouca resolutividade dos crimes, o Programa Delegacia Legal foi uma das respostas para reverter tal quadro – que está ainda muito longe de ser solucionado.20Hádelegados–osquerecorrematalpráticapluri-auxiliar–quedesconhecemaatuaçãodosSupervisoresdeAtendimentoSocial.Paraosmesmostalprofissionalsótemasuaatuaçãonoatendimentoaopúblicoapenas.Emuitos(nãogeneralizando)depreciamotrabalhodesteprofissionalnãopolicial.21 Segundo o MP, o inquérito em “pacote” é aquele que não contém ligação dos fatos com o delito propriamente dito, fazendo com que o mesmo seja questionado e que a lavratura seja refeita na DP de origem. Passando desapercebido pelo MP e pelo Poder Judiciário, pode ser questionada pela defesa do(a) acusado(a) em questão – prática que ocorre bastante.

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hegemônico do Direito positivo já descrito, há casos pontuais vivenciados dentro de uma DP, em que se pode visualizar o “olhar interdisciplinar”, retirado de Sá(1995), e apropriado nas discussões entre o profissionalnão policial22 e os demais policiais de uma determinada equipe de plantão, constituída pelo Delegado de Plantão, dois Inspetores de Polícia, dois OficiaisdeCartórioeumInvestigadorde Polícia. Nos casos crescentes e corriqueiros de violência intrafamiliar na região chegada à DP, foram feitas várias reuniões, que foram frutos de conversas ocasionais do delegado com o supervisor de atendimento social (SAS), depois socializadas com os demais profissionais policiais. Oobjetivo em comum era como lidar, e como fechar os inquéritos de forma mais completa possível e concisa, para que não houvesse impunidade, e que a(s) vítima(s) fosse(m) bem encaminhada(s) aos serviços de referência. A coordenação do plantão, tendo a centralidadenafigura dodelegado,definiaapenasosprocedimentosenãoo resultado, pois, o mesmo deveria ser construído por todos, além de buscar possíveis resoluções ou ramificações.A horizontalização das relações de poder era notório durante tais intervenções, cujo objetivo primordial eraa identificaçãodeumaxiomaemcomum, ou seja, o inquérito fechado e sem falhas, com desdobramentos que nãoficassemapenasnasmuralhasdoDireito Penal. A questão da punição legal e a obtenção inquisidora da verdade tornam-se importantes, mas não centrais. A vítima, o seu contexto sócio-familiar, o conhecimento da legislação específica e o sistema deproteção social tornaram-se parte dos saberes construídos por essa equipe. A não re-vitimização destas vítimas também tornou-se ponto central, embora houvesse dificuldades,mas apreocupação era eminente. No caso de vítimas abaixo dos 12 anos de idade,

o papel do supervisor de atendimento social (SAS) era de suma importância naconfirmaçãoenacoletadosdadossobre o fato ocorrido. Este saber construído rendeu resultados expressivos para esta equipe, onde, não só o delegado-coordenador desta edificação- é o responsávelpelo inquérito, mas os profissionaispoliciaiseoprofissionalnãopolicial–responsável pelo Atendimento Social –assinamocorpododocumentofinalque era encaminhado (sem retorno) para o Ministério Público (MP) e à Vara Criminal correspondente. A experiência interdisciplinar nesta DP era mais recorrente nos casos extremados de violência cometida contra crianças e adolescentes. Nos casos de violência contra a mulher, em sua maioria, não eram resolvidas de forma interdisciplinar já descrita, excetuando nos casos onde a violência era estendida à prole.

“O Olhar – Fazer Interdisciplinar”: Relatos Dos Profissionais.

O sentido deste trabalho sobre o “olhar-fazer interdisciplinar” provocou alguns questionamentos na direção de saber qual o entendimento das equipes sobre a interdisciplinaridade nesse campo uma vez que tudo deve ser pensado e feito de modo a não haver erros. A meticulosidade e a precisão dos dados colhidos são fatores essenciais para se chegar ao sucesso de uma investigação, o objetivo comum que todos esperam: o inquérito fechado, com as vítimas socorridas e com a imputação penal ou não dos possíveis culpados. Será que estavam tendo o “olhar” e o “fazer”, considerando a interdisciplinaridade? Para alcançar tal intento, seguimos alguns procedimentos metodológicos utilizados: observação não participante, observação participante e grupo focal. Citando Silva & Milito(1995, p.33), fez-se uma observação não participante. Ir ao

22OprofissionalnãopolicialemquestãoéoautordestetrabalhoqueocupavaocargodeSupervisordeAtendimentoSocialdentrodoProgramaDelegaciaLegal.

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campo de atuação na DP, despojar-se do olhar viciado nas mesmas direções e do olhar no vazio; despojar-se da pretensão de já saber tudo, já conhecer tudo ou da ansiedade em objetivar ações sem procurar antes entender melhor a realidade. Foi um primeiro mapeamento exploratório do trabalho de campo. Apreender os conflitosvisíveis e a correlação de forças no espaço de trabalho. A observação participante deu-se com abordagens e contatos mais próximos. É a etapa em que normalmente se é abordado antes de abordar. É quando se responde às perguntas dos sujeitos sobre o que se vai querer saber o que se faz ali naquele que é o seu território. Quer saber o que significaesseolharqueselançasobreele(s). É o primeiro momento da fala e da escuta, do diálogo por excelência. Depois da percepção do espaço do campo dentro da DP e de várias experiências de práticas inter no trato da violência doméstica, para prosseguir com o estudo pretendido, fez-se dois grupos focais: uma com a equipe de plantão no qual o supervisor – autor deste trabalho – fazia parte, e a outra com asprofissionaisnãopoliciais,ouseja,as assistentes sociais que ocupavam o cargo de supervisoras de atendimento social (SAS). O grupo focal, segundo Rizzini, Castro&Sartor (1999, p.48) é utilizado tanto na pesquisa qualitativa, quanto na quantitativa, para elucidar questões do pesquisador, antes da escolha, formulação e aplicação de outras técnicas de coleta de dados. A organização de um grupo de trabalho focal é útil para que se levante os interesses junto aos sujeitos, acerca de suas expectativas e necessidades em relação ao tema a ser estudado. Foram feitas quatro reuniões com cada grupo focal – nos horários de plantão na DP –sendo o primeiro com os profissionais policiais, queera constituído por 8 pessoas (sendo 7 policiais civis e o autor deste trabalho),

e o outro grupo com as profissionaisnão policiais – constituídas por uma representante do GE, três supervisoras de atendimento social e três estagiárias23 do programa em questão. Quatro questões foram propostas nos grupos focais. São elas: 1)O Que Você Sabe Sobre Interdisciplinaridade ? 2) Você Já Teve Experiências Ou Trabalhos E/Ou Investigações Com Outros Profissionais De Outros Saberes E Conteúdos ? Comente. 3) O Que Você Sabe Sobre Violência Doméstica?Você Já Atendeu Muitos Casos/Ocorrências? Você Já Trabalhou Com Outros Profissionais Policiais Ou Não? 4) Qual A Importância Que Você Acha Ou Não De Trabalhar Com Outros Profissionais (Sendo Eles Policiais Ou Não) Na Elucidação De Casos E Ocorrências De Violência Doméstica?

Nos dois grupos focais primeiro grupo focal, todos os seus integrantes – profissionais policiaise as “profissionais do Balcão”– responderam e debateram sobre o objeto central desta pesquisa –a “interdisciplinaridade”. Na 1ª pergunta, em que foi questionado se os policiais civis já ouviram sobre o tema central, objeto deste estudo, as respostas chegaram a uma axiomática em comum quanto aos profissionais policiais,como por exemplo, “consenso entre disciplinas”,“espaçoondeprofissionaisde diversas áreas se interagem”, ou “união de conhecimentos em torno de um objetivo em comum”. Os policiais civis mais novos do corpo da PCERJ estão muito mais familiarizados com o tema que os mais antigos. Alguns policiais inseridos neste estudo (5 dos 7 que participaram no grupo focal) são graduados em cursos de ensino superior ou na área de humanas ou na de saúde, e já tiveram experiências de práticas inter em outros espaços sócio-

23 As três estagiárias são respectivamente alunas de graduação dos cursos de Psicologia e Serviço Social.

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ocupacionais antes de ingressarem à PCERJ. Quanto às profissionaisnão policiais, a perspectiva de um trabalho multiprofissionalfoi bastante evidenciado. As estagiárias desconheciam o tema proposto neste questionamento, e as graduadas reforçam dizendo que só começaram a discutir sobre a prática interdisciplinar em cursos de extensão e especializações. A graduação, muitas das vezes, não aderiu às discussões sobre a interdisciplinaridade, e isto é comum nos cursos na área de humanas, inclusive no Serviço Social. As duas graduadas – SAS – que atuam nas DEAM´s demonstraram domínio sobre o tema, além da militância colocada no combate à violência contra a mulher. Também informaram que a centralidade da violência doméstica nas DEAMs exige, e muito, a prática interdisciplinar nos procedimentos de atendimento dentro da DP, mas as experiências ainda são pontuais. Na 2ª pergunta, foi questionado sobre a oportunidade de terem tido outras experiências de trabalhos multiprofissionais em investigaçõespoliciais – que não precisava ser somente no trato de violência doméstica. Quanto aos policiais civis, entre os mais novos (4 entre 7 que participaram no grupo focal) no corpo da PCERJ foi colocado que o campo do Direito não responde às questões mais delicadas como o da violência intrafamiliar, e que precisa da complementaridade de outros campos do saber. A maioria teve experiências anteriores em estágios probatórios nas DEAM´s integradas ao programa. Entre os mais antigos (com mais de 15 anos na PCERJ), somente há o reconhecimento de outros policiais denominados “peritos” como o médico legista e o perito criminal24 propriamente dito. Quanto às “profissionais doBalcão”,colocaram experiências de trabalhos multiprofissionais na elucidação decasos na DP – sem que houvesse

propriamente casos de violência doméstica. A que atua em uma DP não especializada colocou que nunca teve tal experiência – nem em casos de violência intrafamiliar. As duas que atuam nas DEAMs disseram que nem sempre essa “troca” ocorre da maneira mais enriquecedora, pois os conflitossão constantes. Por mais que estejam lidando com profissionais que têmalgum preparo para esse atendimento específico, além da experiênciaprofissional com este perfil devítima, muitas vezes, as situações são consideradas como de pouco ou menor importância ou se culpabiliza a vítima porestaremanterarelaçãoconflituosa,não levando em consideração os diversos fatores pré-existentes, como por exemplo a dependência, a falta de autoestima e de autoconfiança,que fazem com que a vítima tenha essa postura. Há uma necessidade de ruptura desse descrédito dada à mulher vítima de violência doméstica. No 3º questionamento – com os policiais civis – houve vários debates sobre o tema “violência doméstica”, mas também de experiências anteriores com o tema e, se já haviam trabalhado com profissionais nãopoliciais. Neste momento, todos – sem exceção, ou seja, os sete policiais civis – colocaram a necessidade de ter um profissional não policial quepossua conhecimento aprofundado e especializado sobre o tema, não para ajudar na resolução apenas, mas para somar e complementar com outros campos do saber, necessários para a boa elucidação desses casos. A presença deprofissionaispoliciaisformadosemáreas diferentes ao do Direito, também é importante na constituição das equipes, segundo todos os policiais presentes neste grupo de discussão. Quanto ao grupo focal constituído pelas profissionaisnão policiais, tanto as estagiárias como as graduadas colocaram que o conhecimento sobre o tema não é abrangente e que necessitam de

24 Para ser perito criminal é preciso ter o ensino superior. A maioria deles são farmacêuticos, contadores ou engenheiros.

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reciclagens e aperfeiçoamento para se sentirem mais seguras na sua intervenção. E, além disso, elas só não atuaram no programa de fato no trato da violência intrafamiliar por causa da recusa de muitos policiais civisdesqualificarema suaatuação–jáditoanteriormente–ficandoapenasnos encaminhamentos para a rede de referência, sem um acompanhamento em conjunto dos inquéritos. Algumas colocaram que se sentem como “recepcionistas de luxo”, e colocam que o gênero é fator determinante para a “boa ou má” entrada no meio policial.

Na 4ª pergunta, foi questionada a importância de se trabalhar juntamente com outros profissionais – policiaisou não – oriundos de vários campos do saber. Além de terem colocado a supremacia imperialista do Direito sobre outras áreas do conhecimento, todos da equipe de policiais colocaram que a renovação nos quadros da PCERJ nãosóprofissionalizouopolicialcivil,como quebrou o paradigma do modus operandi de fazer uma condução investigatória contando apenas com o direito penal. Também foi colocado que apresençadoprofissionalnãopolicial,alémdetermodificadonãosóoespaço,a correlação de forças25 dentro de uma DP; ajudou a humanizar a relação usuário – policial. Eles colocaram a importância dos “profissionais doBalcão” de serem considerados uma ponte – um elo de aproximação – entre os usuários dos serviços de uma DP e o policial. No grupo focal das “profissionaisdoBalcão”, todas, semexceção, colocaram que apesar das dificuldades impostas pelos policiaiscivis, há tentativas de se implementar uma prática inter aos poucos, mas o trabalho multidisciplinar foi, ainda a única perspectiva alcançada por enquanto. Colocaram também a importância do “Balcão de Atendimento” como responsável pela humanização na comunicação com

o usuário, e também na facilidade do acesso a serviços públicos existentes na rede de referência.

Conclusões E Considerações Finais.

Fecha-se este trabalho, após a exposição sobre as experiências relatadas, não só pelo autor, mas pelos profissionais envolvidos nos casosrelatados. Tratou-se da atuação dentro do âmbito policial que, neste estudo, é um espaço em microescala do que o Estado e o meio societário concebem sobre o tema Violência Doméstica. Mesmonotando-sequeosprofissionaisenvolvidos possuíam conhecimentos específicosdessa temáticadentrodoscampos de saber os quais pertencem, o “olhar e o fazer interdisciplinar”, não seguiu o seu percurso integral; não se conseguiu construir e resultar um saber novo e autêntico, pois mesmo com todo o apoio do grupo gestor do Programa “Delegacia Legal”, a organização e a prática adotadas ainda impedem que os novos caminhos cheguem à sua conclusão. Em casos pontuais e focais, não há a ponte necessária e nem tempo necessário para se fazer o elo para se chegar a este saber novo, embora as experiências, na escala micro, resultaram em avanços importantes, que não podem ser desprezados. O que se pode colocar como principal fator que obstrui o caminho é a presença da velha estrutura arcaica da Polícia Civil, mesmo com a nova perspectiva colocada pelo grupo gestor do Programa já descrita.

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25 Tornar o meio policialesco menos autoritário.

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Endereço para Correspondência:

Michael Hermann Assistente Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF, Especialista em Violência Doméstica e Urbana pela PUC Rio de Janeiro e Mestrando da Pós – Graduação Strictu Sensu em Políticas Sociais e Cidadania pela Universidade Católica do Salvador (UCSal)- Salvador/BA, Membro associado da NET- Núcleo de Estudos do Trabalho-PPGPSC/UCSal e Membro do Núcleo de Pesquisa e Estudos sobre Juventude, Identidades, Cidadania e Cultura – PPGPSC/UCSal Email: [email protected]

Informações bibliográficas:ConformeaNBR6023:2002daAssociaçãoBrasileiradeNormasTécnicas(ABNT),estetextocientíficopublicadoemperiódicoeletrônicodevesercitadodaseguinteforma:HERMANN, Michael. O Olhar - Fazer Interdisciplinar no Atendimento às Vítimas de Violência Doméstica no Âmbito Policial: Estudo Preliminar. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano IV, n. 9, abril. 2009. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/edicao/09/41.pdf>

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Avaliação Nutricional Em Funcionários De Uma Unidade De Alimentação E Nutrição

Nutritional Evaluation In Employees Of A Food And Nutrition Unit

Fernanda de Almeida Escobar

Palavras-chaves:

Avaliação nutricional

IMC

Hábitos alimentares

Unidade de Alimentação

Nutrição.

Resumo

A transição nutricional, na qual grande parte da população mundial vive, caracteriza-se pela redução na prevalência de desnutrição com aumento generalizado na prevalência de sobrepeso. Os hábitos alimentares exercem grande influência sobre o crescimento, desenvolvimento e saúde geral dos indivíduos. O índice de massa corporal, criado por Quételet, é um dos critérios mais utilizados atualmente para calcular a prevalência de obesidade, porem, tem suas limitações. O trabalhador de uma UAN sofre a pressão temporal da produção, a qual necessita ajustar-se aos horários de distribuição das refeições, condicionando e/ou modificando constantemente o modo operatório dos operadores, a fim de atender a demanda. O presente estudo foi desenvolvido para correlacionar avaliação nutricional antropométrica com maus hábitos alimentares em uma UAN e suas consequências. Foram avaliados 51 trabalhadores, sendo 24 mulheres com idade de 20 a 60 anos, e 27 homens com idade de 19 a 58 anos. 50% das mulheres e 44,44% de homens apresentaram IMC eutrofico, 37,5% das mulheres e 70,37% dos homens relataram ter boa alimentação. As mulheres mostraram-se mais cientes ao que diz respeito a uma boa alimentação.

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Abstract

The nutritional transition, faced by a great part of the world population, is characterized by the reduction in the malnutrition prevalence with the general increase in the overweight prevalence. Eating habits have a great influence over people’s growth, development and health in general. The body mass index (BMI), created by Quételet, is one of the most currently used criteria to measure the overweight prevalence; however, it has limitations. The employee of a Food and Nutrition Unit is under time pressure of production, which has to be adapted to mealtimes, conditioning and/or constantly changing all the operation in order to meet the needs. This work aims to correlate anthropometric nutritional evaluation with bad eating habits in a Food and Nutrition Unit and its consequences. 51 employees were evaluated, 24 women between 20 and 60 years old and 27 men between 19 and 58 years old. 50% of the women and 44,44% of the men had eutrofic BMI, 37,5% of the women and 70,37% of the men said to have good eating habits. Women seemed more aware of what good eating habits are.

Key words:

Nutritional evaluation

BMI

eating habits

Food and Nutrition

Unit.

1. Introdução

A transição nutricional, na qual grande parte da população mundial vive, caracteriza-se pela redução na prevalência de desnutrição energética proteica com aumento generalizado na prevalência de sobrepeso (CASTRO, 2004). Isso tem sido atribuído, em parte, a mudanças nos padrões de alimentação, evidentes

na redução do consumo de carboidratos complexos e fibras, no aumento da gordurasaturada,açúcarealimentosrefinados,oudeum desequilíbrio entre a energia consumida e a atividade física (VELOSO, 2007). Os hábitos alimentares exercem grande influência sobre o crescimento,desenvolvimento e saúde geral dos indivíduos. Estudos recentes têm mostrado que dietas

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ricas em fibra protegem contra obesidade,doenças cardiovasculares, diabetes e alguns tipos de câncer. Além disso, estudos clínicos e epidemiológicos sugerem que a gordura dietética tem importante papel no desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Apesar dessas evidências, o consumo de dietas ricas em gordura e pobres em frutas, vegetais e cereais integrais ainda é elevado tanto em países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento. Os comportamentos alimentares, associados com diminuição dos níveis populacionais de gasto energético, são consistentes com a importância crescente de doenças crônicas não transmissíveis no perfildemorbimortalidadeecomoaumentocontínuo da prevalência de obesidade no País. O perfil alimentar da população estáfortemente associado a aspectos culturais, socioeconômicosedemográficos,tornando-senecessário uma melhor compreensão desses aspectos no entendimento do comportamento alimentar (NEUTZLING, 2007). O índice de massa corporal (IMC) expresso pela relação entre o peso (quilogramas) e a estatura (metros) ao quadrado criado por Quételet (ANJOS,1992), é um dos critérios mais utilizados atualmente para calcular a prevalência de obesidade. Para isso, necessita-se de informações sobre o peso e a altura de cada indivíduo. Tais informações devem ser obtidas, preferencialmente, com base na mensuração direta dos indivíduos, utilizando-se para isso balanças e estadiômetros (SILVEIRA, 2005). O IMC parece ter bom potencial como indicador do estado nutricional em sistemas de vigilância nutricional, já que os dados de peso e altura são (ou pelo menos deveriam ser) rotineiramente coletados durante consultas de adultos, porém, Garn e col. (1986) enumeraram três limitações para o uso do IMC: a correlação com a estatura (que apesar debaixa ainda é significativa), comamassalivre de gordura (principalmente nos homens) e com a proporcionalidade corporal (relação tamanho das pernas/tronco), o que, segundo os autores, poriam em risco a utilização do IMC como indicador de gordura corporal (ANJOS, 1992). O mercado da alimentação é dividido em alimentação comercial e alimentação coletiva, sendo que os estabelecimentos que trabalham com produção e distribuição de alimentação para coletividades, atualmente,

recebem o nome de Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) (PROENÇA, 1997). A produção de refeições para uma clientela definida envolve fatores como: o númerode operadores, tipo de alimento utilizado, técnicas de preparo e infraestrutura, exigindo ainda, uma série de equipamentos e utensílios que visam otimizar as operações, tornando-as maisrápidaseconfiáveisdopontodevistadaconformidade do produto final (PROENÇA,1996). Destaca-se, porém, considerando o arsenal tecnológico disponível para o setor, que a qualidade das refeições está diretamente ligada ao desempenho da mão de obra. Vários autores ressaltam a relação entre a qualidade do trabalho e a qualidade do produtofinal,salientando-seaspreocupaçõesapresentadas em diversos países europeus e EUA para o melhoramento das condições de processamento de refeições (PROENÇA, 1996 e 1997). No Brasil, frequentemente, a produção de refeições exige dos operadores alta produtividade em tempo limitado, porém, em condições inadequadas de trabalho, com problemas de ambiente, equipamento e processos. Tais condições acabam levando a insatisfações, cansaço excessivo, quedas de produtividade, problemas de saúde e acidentes de trabalho (SANT’ANA, 1994). Dessa forma, o trabalho em UAN tem sido caracterizado por movimentos repetitivos, levantamento de peso excessivo e permanência por períodos prolongados na postura em pé. Além disso, sofre a pressão temporal da produção, a qual necessita ajustar-se aos horários de distribuição das refeições, condicionando e/ou modificando constantemente o modooperatóriodosoperadores,afimdeatenderademanda (MONTEIRO, 1997). O presente estudo foi desenvolvido para correlacionar avaliação nutricional antropométrica com maus hábitos alimentares em uma Unidade de Alimentação e Nutrição e suas consequências. Informando aos funcionários a importância de uma alimentação equilibrada, dentro dos padrões nutricionais, e de se ter bons hábitos de vida.

2. Materiais e Métodos

A unidade foi escolhida por conveniência, pois o autor prestava estágio na unidade. O objetivo do estudo, seus

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procedimentos e a participação voluntária foram devidamente explicados a todos os 101 funcionários ativos da empresa. Desse total, optou-se por estudar somente os 51 trabalhadores (50,5 %), ocupando as funções nas áreas de produção da padaria, restaurante, confeitaria, setor de compras, escritório, cozinha, serviços gerais, setor de nutrição e garçom. Sendo 24 do sexo feminino com idade de 20 a 60 anos, e 27 do sexo masculino com idade de 19 a 58 anos. Os funcionários foram escolhidos aleatoriamente e analisados separadamente, para identificarcada funcionário utilizou-se um questionário contendo: nome; idade; estado civil; sexo; área onde trabalha. No questionário também continha perguntas fechadas, referentes a hábitos prejudiciais à saúde com opção de responder apenas sim, não ou esporadicamente: Fuma? Consome bebidas alcoólicas? Pratica atividade física? Perguntas fechadas referentes ao hábito alimentar: Consome legumes e verduras nas refeições realizadas na empresa? Na sua opinião, sua alimentação é saudável? E procurou-se saber se os funcionários continham alguma alteração no organismo. Todos os dados foram separados e analisados de acordo com o sexo. Para realizar a avaliação do estado nutricional, pesou-se e mediu-se a altura utilizando uma balança digital e um estadiômetro, para verificar o IMC de cadaum, usando os pontos de corte proposto pela WHO (1997). (Tabela 1)

Tabela 1 – Níveis de corte para classificação do estado nutricional de adultos de acordo com o índice de massa corporal (IMC)

Após a analise do estado nutricional dosfuncionários,foientregueaelesumpanfletoinformativo sobre alimentação adequada, dando a eles uma noção básica de como se deve fazer para se ter uma boa alimentação e a importância de cada macronutriente (Anexo 1).

3. Resultados

Avaliando IMC entre as mulheres foi possível observar que, 12 delas (50 %)

encontravam-se eutroficas (Tabela 2), jáentre os homens, apenas 12 deles (44,44 %) apresentarameutrofia,comosepodeobservarna Tabela 3, se somarmos os resultados, 15 deles (55,56 %), a maioria, encontra-se acima do peço ideal. Tanto entre os homens quanto entre as mulheres o restante apresentou-se acima do peço ideal. Com exceção de uma mulher que apresentou magreza grau II.

Quando se perguntou a eles se apresentavam algum tipo de alteração no organismo, obteve-se um bom resultado, 70,82 % das mulheres e 77,79 % dos homens relataram não apresentar alterações em seu organismo.(Tabela 4) Mas, contudo, não foi apresentado por nenhum funcionário qualquer exame laboratorial que comprove ou não a existência de alterações no organismo.

Em relação aos fatores prejudiciais a saúde,pode-severificarqueentreasmulhereso índice de sedentários encontrado é maior em comparação aos homens e o hábito de praticar atividades físicas é maior entre eles (Gráfico1), relataram jogar futebol uma vezpor semana, andar de bicicleta todos os dias, praticar artes marciais três vezes por semana. Foi perguntado aos funcionários se fazem o consumo de bebidas alcoólicas e o maior consumoencontradofoinoshomens(Gráfico2). Quanto ao hábito de fumar, a diferença entre homensemulheresfoiinsignificante,podendose observar que a maioria dos funcionários não fuma(Gráfico3).

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Sobre seus hábitos alimentares, os funcionários foram apenas avaliados em relação ao consumo de verduras e legumes, consumidos nas refeições realizadas na unidade, a maioria, tanto homens quanto mulheres relataram consumir, sempre que oferecido, verduras e legumes, como pode-se observarnoGráfico4.Masrelataramdar preferência a saladas como maionese e salpicão, e não gostam muito de consumir verduras, apenas consomem quando não têm outra opção no cardápio. Perguntou-se também se, na opinião do próprio funcionário, sua alimentação encontrava-se adequada, é possível notar que a maioria das mulheres não considera a própria alimentação adequada, já entre os homens observa-se o oposto, que a maioria considera a própria alimentaçãoadequada(Gráfico5).

Quando entregue a eles o panfleto, muitos deles alegaram nãocolocar em prática as informações nele contidas, mesmo considerando ter uma boa alimentação.

4. Discussão e Conclusão

Os dados antropométricos, obtidos neste trabalho, indicaram altafrequênciadesobrepeso, (IMC≥25kg/m²)oquerefletiuoquadroatualencontrado em pesquisas realizadas no Brasil: o mesmo resultado encontrado por Castro (2004) ao realizar seu trabalho com operários de uma empresa metalúrgica do Rio de Janeiro. Segundo Castro (2001), os dados obtidos na Pesquisa sobre Padrões de Vida (PPV) indicaram prevalência de sobrepeso e obesidade no sexo masculino da área urbana da região Sudeste do Brasil de 37,2% e 8,0%, respectivamente, sendo valor de sobrepeso bem próximos ao verificados entre os funcionários dosexo masculino. Embora valores de IMC acima de 30kg/m² sirvam como critério para definir obesidade em populações,seu emprego deve ser cauteloso, pois esse índice, na verdade, não mede o excesso de massa gorda. Entretanto, motivos suficientes são apresentadospelo IMC para ser utilizado em pesquisas epidemiológicas como indicador do estado nutricional (CASTRO, 2004). Por maior que seja a possível superestimativa da prevalência de sobrepeso, um grupo de funcionários em que mais da metade deles apresenta algum grau de excesso de peso já indicaria a necessidade de

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intervenção nutricional, quando os trabalhadores pudessem ser orientados individualmente. Gomes et al. (2001) encontraram prevalência do sedentarismo no lazer de 58,9% em homens e 77,8% em mulheres, assim como no presente estudo, que o maior índice de sedentarismo encontrado foi entre as mulheres 95,83% e homens com 40,74% sendo menos da metade. Foi possível verificar queo consumo de verduras e legumes é maior entre as mulheres, mesmo resultado observado por Figueiredo et al. (2008) em seu estudo realizado com adultos da cidade de São Paulo. De acordo com Jomori (2008) a escolha alimentar do consumidor é direcionada pela sua expectativa, ou seja, pelo valor dado ao alimento ou, por outro lado, pelo grau de liberdade dado ao indivíduo para realizar essas escolhas, conferindo a possibilidade de diferentes estilos de vida relatados no contexto alimentar. Diversos funcionários relataram ter os mesmos motivos ao escolher os alimentos que montaram seu prato. Por isso, muitos deles, a maioria mulheres, não têm uma boa alimentação. A informação sobre o estado nutricional de um indivíduo ou de uma coletividade torna-se mais um elemento do diagnóstico, um subsídio para o planejamento de ações com a finalidade de promover a saúde(CASTRO, 2004). É importante que ocorra o acompanhamento nutricional dos funcionários, de forma individual, para que estes recebam orientações corretas em relação ao seu estado nutricional, não apenas por panfleto.Ao decorrer do estudo, foi possível verificarquemuitosdelesnãosabiamrealizar uma alimentação equilibrada e com todos os nutrientes necessários para manter o bom funcionamento do organismo. As mulheres mostraram-se mais cientes ao que diz respeito a uma boa alimentação, por isso, quando questionadas, se faziam uma

alimentação adequada, a maioria relatou não fazer. Após a conclusão do trabalho com os funcionários, os mesmos foram orientados de que fazer uma alimentação equilibrada é muito importante, pois, evita doenças crônicas não transmissíveis, porém, essa alimentação deve vir acompanhada de bons hábitos e de um estilo de vida saudável.

5. Referências Bibliográficas

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• F I G U E I R E D O , I . C . R ;JAIME,P.C; MONTEIRO,C.A. Fatores associados ao consumo de frutas, legumes e verduras em adultos da cidade de São Paulo. Rev. Saúde Pública. São Paulo. 2008 ahead of print.

• GOMES,V.B;SIQUEIRA,K.S;SICHIERI,R. Atividade física em uma amostra probabilística da população do Município do Rio de Janeiro. Cad Saúde Pública. Rio de Janeiro. vol.17 no.4. Jul/Ago 2001.

• J O M O R I , M . M ;PROENÇA,R.P.C; CALVO,M.C.M. Determinantes de escolha alimentar. Rev. Nutrição. Campinas. vol.21. no.1. Jan./Fev. 2008.

• MATOS,C.H. Condiçõesde trabalho e estado nutricional de

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operadores do setor de alimentação coletiva: um estudo de caso. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção/ Ergonomia, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis 2000.

• M O N T E I R O , J . C ;SANTANA,A.M.C; DUARTE,M.F.S. et al. Análise de posturas no trabalho para entender a performance Física do trabalhador do setor de carnes do restaurante universitário da UFSC. Anais do 4º Congresso Latino Americano de Ergonomia e 8° Congresso Brasileiro de Ergonomia. Florianópolis (SC), p.400-406, 1997.

• NEUTZLING,M.B; et al.Freqüência de consumo de dietas ricas em gordura e pobres em fibra entreadolescentes. Rev. Saúde Pública. São Paulo. vol.41. no.3. Jun 2007.

• PROENÇA,R.P.C. Aspectosorganizacionais e inovação tecnológica em processos de transferência de tecnologia: uma abordagem antropotecnológica no setor de Alimentação Coletiva. Tese (Doutorado em Engenharia). Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, 1996.

• _________________Inovaçãotecnológica na produção de alimentação coletiva. Florianópolis: INSULAR , 1997.

• S A N T ’ A N A , H . M . P ;AZEREDO,R.M.C; CASTRO,J.R. Estudo ergonômico em serviços de alimentação. Saúde em debate, Rio de Janeiro, no.42. mar 1994.

• SILVEIRA, E.A; et al.Validação do peso e altura referidos para o diagnóstico do estado nutricional

em uma população de adultos no Sul do Brasil. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro. vol.21. no.1. Jan./Fev. 2005.

• VELOSO,I.S;SANTANA,V.S;NELSON,F.O. Programas de alimentação para o trabalhador e seu impacto sobre ganho de peso e sobrepeso. Rev. Saúde Pública. São Paulo. vol.41. no.5. Out 2007.

• WORLD HEALTHORGANIZATION. Obesity preventy and managing the global Epidemic. Geneve: WHO, 1997.

Endereço para Correspondência:

Acadêmica de Nutrição Fernanda de Almeida Escobar (Ciências da Saúde - UniFOA) – Email: [email protected]

Centro Universitário de Volta RedondaCampus Três PoçosAv. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325,Três Poços - Volta Redonda / RJCEP: 27240-560

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6. Anexos

Anexo1–Panfleto(frenteeverso)entregueaosfuncionáriosdaunidade.

Informações bibliográficas:ConformeaNBR6023:2002daAssociaçãoBrasileiradeNormasTécnicas(ABNT),estetextocientíficopublicadoemperiódicoeletrônicodevesercitadodaseguinteforma:ESCOBAR, Fernanda de Almeida. Avaliação Nutricional Em Funcionários De Uma Unidade De Alimentação E Nutrição. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano IV, n. 9, abril. 2009.Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/edicao/09/51.pdf>

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Como Preparar Um Relato De Caso Clínico

How To Prepare A Clinical Case Report

Prof. Doutor Júlio Aragão Prof. Doutor Mauro Tavares

Palavras-chaves:

Relatos de Casos

Estudos de Casos

Indicadores de Produção Científica.

Resumo

Profissionaisdesaúdelidamdiariamentecomcasosraros,difíceis,interessantes ou de evolução pouco comum, mas infelizmente poucos se interessam em relatá-los. O relato de casos é uma ferramenta de fundamental importância como iniciação à produção científica e frequentemente ésubestimado como tal. No presente artigo, discorre-se sobre a escolha, preparo, redação e submissão de um relato de caso a um periódico de forma ainstrumentalizarprofisssionaisdesaúdeeestudantesdaáreanessetipodeempreitada.

Key words:

Case report

Case studies

Scientific Publication Indicators

Abstract

Health professionals deal with rare, difficult, interesting or uncommonly developed cases on a daily basis, but unfortunately, only a few bother to report such cases. Case report is a very important tool in initiating a scientific productionand it is frequently underestimated. In the present work choosing, preparing, writing e submitting a case report are discussed in a way to develop such skills by health professionals and students.

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1. Introdução

O relato de caso é considerado por alguns autores como a mais simples forma deproduçãocientífica.Emummomentoemque a produção científica é tão valorizadana comunidade acadêmica, a publicação de um caso clínico ou de uma pequena série de casos pode ser uma importante ferramenta de aprendizagem e de contato com a produção científica(BRODELL,2000). O momento inicial para a publicação de relatos de casos clínicos começa a partir do contato de um profissional de saúde (ouestudante) com um paciente portador de uma enfermidade rara ou de interesse acadêmico,

prosseguindodurantetodaavidaprofissional.Embora casos raros sejam frequentemente relatados, a raridade não é condição sine qua non para um relato de caso. O relato de um caso de uma doença frequente, com aspectos de interesse clínico ou evolução incomum, pode também ser relatado e muito bem aproveitado pela comunidade acadêmica. Casos que envolvam dilemas éticos, morais ou situações com implicações legais podem também ser relatados independente da raridade da patologia. Profissionais e estudantes dediferentes áreas práticas recebem ou manejam,

“É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática..”

Paulo Freire

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com frequência, casos como os que citamos acima, mas, infelizmente, por não se sentirem suficientemente instrumentalizados para apreparação de um manuscrito, deixam passar a oportunidade de relato. No presente trabalho, procuramos discorrer sobre as diferentes etapas necessárias ao preparo de um relato pertinente, conciso e de qualidade técnica. Preparando um relato de caso O caso a ser relatado geralmente é um caso de difícil resolução ou diagnóstico, podendo, em alguns casos, ter algum aspecto além do puramente biomédico que o torne de interesse. Cabe lembrar que o conceito de raridade é relativo ao tempo e espaço (por exemplo, na década de 70 um caso de dengue no Município do Rio de Janeiro poderia ser considerado raro). Conversar com colegas mais experientes que já tenham relatado casos também pode ser de muita valia nesse momento (YOSHIDA, 2007). O consentimento do paciente para o relato é imprescindível e deve ser obtido por meio formal, ou seja, pela assinatura de um Consentimento Informado pelo paciente ou seu representante legal. A ausência desse documento acarretará na impossibilidade de aceitação pelo comitê de ética local e a consequente rejeição do manuscrito pela maioriadosperiódicoscientíficos. Obtido o consentimento, a colheita de dados relativos ao caso propriamente dito é o passo seguinte. Os dados devem ser concatenados em ordem cronológica de forma a situar a queixa ou motivo pelo qual o paciente procurou atendimento, sua história clínica, exame físico, exames complementares e evolução durante a terapêutica ou terapêuticas realizadas. Sempre que disponíveis e pertinentes ao assunto, fotos do paciente (que nãopermitamsuaidentificação)edeexamesde imagem deverão ser obtidas. A revisão da literatura sempre deverá ser individualizada quanto aos aspectos que estão sendo relacionados. Um caso cirúrgico que apresenta complicação rara deverá ter a revisão mais focada neste aspecto, e não na técnica cirúrgica utilizada ou nas indicações da cirurgia, por exemplo. Da mesma forma, casos muito raros podem apresentar relatos mais escassos, dificultando a pesquisa doassunto e reduzindo o número de citações. As bases de dados mais disponíveis no nosso meio são Lilacs, Medline, Pubmed e até

mesmo dispositivos de procura da internet podem ser ferramentas de muito valor (ANWAR et al, 2004). Embora a utilização de artigos científicos seja vasta, não devemser esquecidos os livros, principalmente no que tange a parte conceitual da patologia em questão. De posse de consentimento, relato completo e uma revisão razoável da literatura é hora de finalmente escrever. Comece pelotítulo, geralmente o nome da patologia seguido de dois pontos e “relato de caso” (por exemplo: “Síndrome de Potter: relato de caso” ou ainda: “Aspectos éticos da prescrição de contraceptivos em adolescentes: relato de caso”). A organização do manuscrito é bem simples e geralmente é subdivida peal maioria dos periódicos em três partes: Uma introdução, o relato de caso, propriamente dita, e a discussão.

2. Preparando O Relato De Caso

Ao escrever a introdução, pense em ser conciso e apenas apresentar ao leitor o que de mais importante e relevante há sobre o assunto e, principalmente, sobre os aspectos que você quer abordar no caso. Geralmente 03ou04parágrafosserãosuficientes.Lembre-se que quaisquer relações ou inferências com o caso em tela devem ser alocadas na discussão. Embora o uso de objetivos não seja obrigatório, o último parágrafo da introdução pode serdedicadoaestefim,algocomo“Oobjetivo do presente relato é ressaltar a importância dos aspectos relativos ao diagnóstico precoce da Síndrome de Potter e seu manejo obstétrico adequado”. O texto então passa ao relato com suas nuances, dentro da narrativa cronologia e organizada já proposta na coleta. Apesar de se tratar de um texto técnico, evite abreviações excessivas que podem ser óbvias para alguém de uma determinada área mas completamente enigmáticas para outros leitores. Mantenha a narrativa em um desenrolar constante até o desfecho do caso. A discussão (em alguns

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periódicos, conclusão) é então o momento de contrapor o que há de mais interessantedasuarevisãobibliográficacom os seus achados práticos. Cabe mostrar todos os aspectos diagnósticos encontrados assim como os não encontrados, que devem ser apontados quando você achar relevante. Os achados e suas frequências, relatadas na literatura, abordagens terapêuticas realizadas e possíveis, tudo isso pode ser explorado, mantendo-se firme nocaminho da concisão, pois, não se pretende escrever um tratado sobre o assunto, mas, simplesmente, um relato de caso. As citações devem ser sempre feitas de acordo com o proposto pelo periódico a que você pretende submeter o caso. Não utilize citações demais, mas aproveite o que de melhor cada uma delas possa oferecer. Não existe número certo para citações, mas tente permanecer entre 15 e 30 referências (FOX, 2000). A maioria dos periódicos exige que os manuscritos apresentem resumos de aproximadamente 200 a 300 palavras, acrescidas de palavras-chave acompanhadas de abstract e key-words em inglês. Em relação às palavras chave, é de muito bom tom que estejam no formato Medical Subject Headings (MeSH) ou Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). Este formato pode ser consultado diretamente no sítio da Biblioteca Virtual em Saúde (www.bireme.br), agilizando ainda mais o processo. Por último, uma nota a respeito da autoria. Embora existam muitos profissionais que tenhamassistido aocaso, o relato não precisa incluir todos eles, mas apenas os principais. Evite fazer com que o seu relato apresente um número grande de autores, pois estamos falando de uma produção simples, que não deveria exigir uma equipe de pesquisa muito extensa.

3. Considerações Finais

O relato de caso, frequentemente, é relegado ao

segundo plano, como uma produção científica de menor qualidade.Todavia, cremos que a sua realização pode ser uma importante ferramenta no fomento de atividades científicasem diversos ambientes (acadêmicos ou não) com resultados proveitosos para os profissionais envolvidos e acomunidadecientíficacomoumtodo.

4. Bibliografia

FOX R. Writing a case report: an editor’s eye view. Hospital Medicine. v.61(12):863-4, 2000.

ANWAR, R; KABIR H; BOTCHU R; KHAN S A; GOGI N. How to write a case report Students British Medical Journal.v.12:45-88 February, 2004

BRASIL, Biblioteca Virtual em Saúde. Descritores em Ciências da Saúde, 2005 documento disponível em <http://decs.bvs.br/>.Acessado em: 28 nov. 2008.

YOSHIDA, W B. Redação do relato de caso. Jornal Vascular Brasileiro. v. 6, n. 2, jun. 2007 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-54492007000200004 &lng =p t&nrm=iso>. Acessado em: 28 nov. 2008.

BRODELL RT. Do more than discuss that unusual case: Write it up. Postgraduate Medicine.v.108 (2), 2000

Endereço para Correspondência:

Profa Rozana Aparecida de SouzaCurso de Serviço [email protected]

Centro Universitário de Volta RedondaCampus Três PoçosAv. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325,Três Poços - Volta Redonda / RJCEP: 27240-560

Informações bibliográficas:ConformeaNBR6023:2002daAssociaçãoBrasileiradeNormasTécnicas(ABNT),estetextocientíficopublicadoemperiódicoeletrônicodevesercitadodaseguinteforma:ARAGãO, Júlio; TAVARES, Mauro. Como Preparar Um Relato De Caso Clínico. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano IV, n. 9, abril. 2009.Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/edicao/09/59.pdf>

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Técnicas Reexpansivas No Derrame Pleural - Uma Revisão De Literatura

Re-expansion techniques in pleural effusion: a review

Cleize Silveira Cunha1

Bruno Soares2

Ramon Rocha Nascimento3

Palavras-chaves:

Derrame pleural

Líquido pleural

Expansão pulmonar

Resumo

O derrame pleural se caracteriza pelo acúmulo de grande quantidade de líquido no espaço pleural, podendo ser caracterizado como patologia primária ou secundária, é análogo ao líquido de edema nos tecidos. Geralmente, evolui com dor localizada, em correspondência com a zona lesada; tosse irritante e tímida, não produtiva; dispneia, dependendo da quantidade do derrame; febre; redução do movimento da parede torácica; deslocamento do mediastino para o lado oposto; diminuição do frêmito tóraco-vocal (FTV); som maciço a percussão; diminuição do murmúrio vesicular e níveis hidroaéreos no exame radiológico. Afisioterapiaatuará,deformaapromoverareexpansãodaáreaafetada,aumentando assim, a ventilação alveolar e diminuindo a hipoventilação. As principais técnicas analisadas foram: posicionamento no leito, controle postural, conscientização diafragmática, estimulação proprioceptiva dodiafragmaedirecionamentodefluxo.

Key words:

Pleural effusion

Position of the patient

Expansion pulmonary

Abstract

Pleural effusion means large amount of liquid in the pleural space.It could be caused by a primary or secondary disease process and it seems oedema of interstitial tissue. The symptoms more prevalent are located pain, corresponding to the injury area,cough without expectoration,fever,impairement chest wall motion,mediastinum compressing,decreasing breath sounds,impaired percussion notes,collections of pleural air and fluid.Dyspnea can be associated with the amount of the pleural effusion. The physiotherapy can perform a number of thecniques to promote aeration of injuried area increasing gas exchange and decreasing hypoventilation. The appropriate techiniques analized in this work are bedside positioning of the patient,postural control,diaphragmatic synchronized stimulation and airflow direction.

1 Fisioterapeuta Mestranda em Terapia Intensiva pela UFRJ, Professora do Curso de Fisioterapia do UNIFOA.2 Fisioterapeuta.3 Fisioterapeuta.

ArtigoOriginal

Original Paper

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1. Introdução

Segundo GOLDMAN e AUSIELLO (2005), o derrame pleural caracteriza-se, pelo acúmulo de grande quantidade de líquido no espaçopleural,podendoseridentificadocomopatologia primária ou secundária, é análogo ao líquido de edema nos tecidos. Geralmente, evolui com dor localizada, em correspondência com a zona lesada; tosse irritante e tímida, não

produtiva; dispnéia, dependendo da quantidade do derrame; febre; redução do movimento da parede torácica; deslocamento do mediastino para o lado oposto; diminuição do frênico tóraco-vocal (FTV); som maciço a percussão; diminuição do murmúrio vesicular e níveis hidroaéreos no exame radiológico. Ofisioterapeuta,emseu tratamento,

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objetivará promover, entre outras coisas, o aumento da drenagem do líquido (paciente com dreno), incentivar a expansão pulmonar, melhorar mobilidade torácica, remover secreção pulmonar, melhorar a função diafragmática, evitar posturas antálgicas, realizar orientações posturais, observar drenagem torácica, evitar entubação oro-traqueal e ter cuidados com o dreno. Como no tratamento do derrame pleural, a principal forma de tratamento ocorre por meio de técnicas reexpansivas, elegemos, em nossa revisão bibliográfica,algumas técnicas. São elas: Posicionamento no leito, controle postural, conscientização diafragmática, estimulação proprioceptiva do diafragmaedirecionamentodefluxo. Temos como proposta, analisar neste trabalho, através da revisão bibliográfica, asdiversas técnicas reexpansivas e seus objetivos no tratamento do derrame pleural.

2. Desenvolvimento

O derrame pleural constitui uma manifestação comum de comprometimento pleural tanto primário quanto secundário. Em condições normais, a superfície pleural é lubrificadapornãomaisde15mldelíquidoclaro e seroso, relativamente acelular. Ocorre acúmulo aumentado de líquido pleural em cinco situações: Aumento da pressão hidrostática, como ocorre na insuficiência cardíacacongestiva; aumento da permeabilidade vascular, como na pneumonia; redução da pressão oncótica, como na síndrome nefrótica; aumento da pressão negativa intrapleural, como na atelectasia; diminuição da drenagem linfática, como na carcinomatose mediastinal (ROBBINS, 2000). Segundo CARVALHO (2001), é um espaço virtual, revestido por membrana serosa de origem mesodérmica. Conforme GOLDMAN E ANSIELLO (2005), a pleura consiste em uma camada de células mesoteliais com uma aparência transparente e lisa. È apoiada por uma rede de tecido conjuntivo fibroelástico,linfáticos e vasos. As células mesoteliais são ricas em microvilosidades e sua função mais importante é liberar glicoproteínas ricas em ácido hialurônico para diminuir o atrito entre o pulmão e a parede torácica. A pleura parietal cobre a superfície da parede torácica, diafragma e mediastino. È suprida de sangue

pela circulação sistêmica e contém nervos sensoriais. A pleura visceral cobre a superfície dospulmões,inclusiveasfissurasinterlobares;seu suprimento sanguíneo é proveniente da circulação pulmonar de baixa pressão e não tem nervos sensitivos. As duas camadas são separadas por uma cavidade virtual, que é lubrificadapor5a10mldelíquido,facilitando,assim, a expansão pulmonar e ajudando a manterainsuflaçãopulmonarporacoplar-seàparede torácica. O líquido pleural tem uma baixa concentração de proteína (< 2 g/dl) com um valor de pH e de glicose similar ao do sangue. O líquido pleural é formado principalmente pela pleura parietal, e parte de sua renovação depende das mesmas forças de Starling que governa as trocas de líquido vascular e intersticial. A pleura parietal tem uma pressão hidrostática similar à da circulação sistêmica (30 cm H2O), enquanto a pleura visceral dependa da circulação pulmonar (10 cm H2O). A pressão oncótica é similar em ambas (25 cm H2O), mas a pressão na cavidade pleural é afetada pelo gradiente de gravidade. Portanto, o espaço pleural é heterogêneo com uma porção não dependente, na qual as forças de Starling favorecem a efusão dos líquidos para a cavidade e para dentro dos capilares parenquimatosos. Os estomas, ou “lacunas”- que estão presentes sobre a superfície parietal da porção baixa do mediastino, porção baixa da parede torácica e diafragma - parecem se esvaziar para os linfáticos. Estes linfáticos subpleurais representam uma via importante para a drenagem dos líquidos e solutos. As alterações desse mecanismo de formação-reabsorção, frequentemente, resultam no acúmulo de líquido pleural. Aumentos nas forças hidrostáticas ou diminuições nas pressões oncóticas resultam em transudatos. A maior efusão através dos capilares ou células e/ ou bloqueio dos linfáticos resulta em exudatos (GOLDMAN E AUSIELLO, 2005). De acordo com PAULA (1984), a classificaçãododerramepleuralvariasegundosua etiologia e pode ser dividido em 6 grandes grupos que são:A) Infecção: Bacterianas, viróticas, micóticas, protozooses;B)Insuficiênciacardíacacongestiva;C) Neoplasias: Primárias – mesotelioma local benigno e mesoteliomas difusos malignos,

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Secundárias – carcinoma broncogênico, carcinoma da mama e linfonas;D) Hipoproteinemias: cirrose e síndrome nefrótica;E) ColagenosesF) Outras causas: Pulmonares – infarto pulmonar, derrame estéril das pneumonias, síndrome de Loeffleresarcoidose, Torácicas – traimatismo e metástase da parede e hemopneumotorax, Subdiafragmáticas – abcesso subfrênico, pancreatite e síndrome de Meigs. Os grupos descritos foram citados apenas para se ter uma visão geral dos tipos de derrame pleural. Segundo CARVALHO (2001), a dor súbita e intensa no lado afetado é o primeiro sintoma em 80% dos casos. Ela resulta do atrito entre os dois folhetos, durante os movimentos respiratórios, piorando pela distenção da pleura parietal inflamada. Na respiração profunda,tosse, flexão ou extensão da coluna verbal,etc., ela se torna mais intensa. Segundo GOLDMAN AUSIELLO (2005), a dor, em geral, é unilateral e aguda, e piora com a inspiração ou tosse. Ela pode irradiar para ombro, pescoço ou abdome. A dispneia pode resultar da compressão do tecido pulmonar e de alterações mecânicas nos músculos respiratórios à medida que o líquido muda a sua relação comprimento-tensão. O grau de dispneia relaciona-se com o volume de líquido e com a pressão intratorácica e seu efeito sobre a mecânica e a troca gasosa. Os derrames pleurais, em pacientes com comprometimento pulmonar mínimo, são bem tolerados, enquanto os derrames similares, em pacientes com doença pulmonar, podem causarinsuficiênciaventilatória.

Aspectos radiográficos

O espaço pleural , embora normalmente vazio e colapsado, pode conter líquido ou ar, ou ambos, qualquer dos quais irá alteraroaspectodofilmedetórax.Umacoleçãomaciça de líquido em um lado pode deslocar o mediastino em direção ao lado oposto, deprimir o diafragma, colapsar parcialmente o pulmão e tornar todo o hemitórax denso e branco. (NOVELINE, 1999) Grandes quantidades de líquido pleural são fáceis de visualizar; pequenas

quantidades são muito mais difíceis. O seio (ou sulco) costofrênico, do qual somente a parte lateral aparece na radiografia de tórax PA, é uma depressãocontínua formada entre a parede torácica e o diafragma. A parte mais baixa dessa depressão, quandoopacienteficasentadooudepé,estálocalizada bem posteriormente de cada lado da coluna. Nessa depressão, estende-se a base de cada lobo inferior contra o segmento posterior do diafragma, e o líquido pleural gravita nela. Assim, os primeiros mililitros de líquido pleural que se acumularem podem não ser visíveis no sulco costrofênico lateral na radiografia de tórax PA do adulto, masseriam vistas em uma radiografia lateral detórax, obscurecendo a porção posterior do diafragma. Quando líquido suficiente estápresente para encher o sulco posterior, a parte lateral do sulco começa a encher, e isto será notado na radiografia de tórax PA como umborramento ou obliteração do seio costofrênico daquele lado. (NOVELINE, 1999) Normalmente, as projeções mas indicadas para se ter uma imagem satisfatória para análise de derrame pleural são as de PA, perfiledecúbitolateral.

Tratamento Fisioterápico

Fundamentos da terapia de expansão pulmonar

De acordo CARVALHO (2001), a Fisioterapia só será iniciada no derrame pleural quando indicada e dependerá das doenças que o originam. A Fisioterapia respiratória visará a reexpansão da área afetada por meio de manobras e padrões respiratórios da cinesioterapia, no decúbito determinado, com restauração da ventilação. Segundo PRESTO (2006), as técnicas de expansão pulmonar constam de uma série de manobras fisioterápicas comobjetivo de aumentar a ventilação alveolar e diminuir a hipoventilação, especificamenteem doenças da pleura como o derrame pleural, favorecendo assim, as trocas gasosas através do posicionamento no leito e após a drenagem dos derrames, tendo como objetivo expandir os alvéolos previamente colapsados.

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Abordagem das técnicas

As técnicas de expansão pulmonar são técnicasfisioterápicasquepodemserrealizadasatravés de manobras manuais, manobras orientadaspelofisioterapeutaemanobrascoma utilização de aparelhos (PRESTO, 2004). De acordo com TARANTINO (2002), essas técnicas vão atuar em regiões pulmonares hipoventiladas ou evitar a hipoventilação, fazendo com que ocorra uma expansão dessas regiões, através do aumento do volume pulmonar. O volume pulmonar aumenta em decorrência da técnica de expansão pulmonar provocar um aumento no gradiente de pressão transpulmonar (diferença entre as pressões pleural e alveolar), sendo assim, quanto maior o gradiente de pressão transpulmonar, maior será a expansão alveolar. Para a aplicação das técnicas de expansão pulmonar, alguns pré-requisitos são necessários para que seja aplicada a técnica mais adequada, de acordo com a individualidade de cada paciente. Esses pré-requisitos são: exame físico, ausculta pulmonar, radiograma de tórax, gasometria arterial e eletrocardiograma. Todas as técnicas são importantes, desde que se tenha o paciente certo, o momento clínico adequado e os objetivos firmados(AZEREDO, 2002).

Posicionamento no Leito / Controle Postural:

Essa técnica é aplicada em pacientes acamados, e caracteriza-se como mudança de decúbitos, que são posicionamentos variáveis no leito de acordo com o pulmão acometido. A técnica é simples, porém, deve ser realizada corretamente e com alguns cuidados, como mudança de decúbito, no máximo a cada duas horas, para evitar úlceras de decúbito (escaras), durante o posicionamento de pacientes incapazes de movimentar seus membros ativamente, deve ser colocado na posiçãofuncionaldecadamembroespecífico,se não for possível, o posicionamento deve ser o mais próximo do funcional e por último deve-se ter um posicionamento ideal do leito. A evolução motora e respiratória de pacientes acamados depende diretamente da utilização correta dessa técnica.

Decúbito dependente:

O decúbito que o paciente vai adotar tem o nome do segmento corporal que se encontra no leito, e este será denominado de decúbito dependente. Temos os seguintes decúbitos: decúbito dorsal ou posição supina, decúbito ventral ou posição prona e decúbito lateral direito ou esquerdo. Alguns autores citam uma posição alternativa ao decúbito lateral, que é o decúbito lateral parcial (semidecúbito lateral).

Controle/ Conscientização Diafragmática:

Conforme PRESTO (2004), durante a aplicação desta técnica, o paciente deve estar deitado ou sentado, o Fisioterapeuta deve colocar as duas mãos acima do finaldo apêndice xifoide e realizar incursões ventilatórias, de forma que suas mãos elevem-se durante a inspiração e deprimam-se durante a expiração. Existem algumas posições em que a mecânica diafragmática está favorecida como por exemplo: sentar-se com o tronco inclinado para frente, pois, dessa forma, a musculatura abdominal tende a criar uma zona de aposição ao diafragma, favorecendo sua contração.

Estimulação/ Propriocepção Diafragmática:

Durante a aplicação dessa técnica, o paciente deve estar, de preferência, deitado. O fisioterapeuta realizará a técnicaposicionando suas mãos na parte superior da região epigástrica, durante os movimentos ventilatórios do paciente, e realizar estímulos para baixo e para dentro em direção ao diafragma.

Direciona de fluxo / ventilação seletiva Segundo PRESTO (2004), essa técnica é a mais controversa da Fisioterapia respiratória. Ela consiste em posicionar a cabeça do paciente em rotação e lateralização para a direita ou esquerda, e ao mesmo tempo, o terapeuta realiza uma pressão em um dos hemitórax. Um exemplo prático é se o Fisioterapeuta desejar direcionar o fluxo para o pulmão direito, acabeça do paciente deverá estar posicionada em rotação e lateralização para a esquerda, e deve ser realizada uma compressão no hemitórax esquerdo do paciente. Porém, essa

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técnica ainda é muito questionável em relação asuaeficácia.

3. Considerações Finais

As técnicas de reexpansão pulmonar têm uma fundamentação teórica consistente, quando se trata de sua aplicação em pacientes acometidos por derrame pleural, já que no derrame pleural ocorre um aumento no líquido pleural fazendo com que diminua a expansibilidade dos pulmões e, algumas vezes, até mesmo da caixa torácica, causando assim, uma diminuição na ventilação dos alvéolos, ou seja, uma hipoventilação alveolar. As técnicas fisioterápicas dereexpansão têm como objetivo o aumento do volume de ar nos alvéolos, diminuindo assim a hipoventilação alveolar, fazendo com que os sinais e sintomas diminuam ou, até mesmo, desapareçam no paciente acometido por essa doença. Para a aplicação das técnicas de reexpansão deve-se levar em consideração o estado clínico e os exames complementares do paciente, pois, essas técnicas só devem ser aplicadas após a drenagem do paciente, isso quando a drenagem for necessária. Estatísticamente, não encontramos dados sustentáveis para definirmos, compropriedade, uma característica uniforme de pessoas com derrame pleural. Assim como, grau, número e gênero frente a tanta diversidade de causas. Emanáliseradiográfica,percebemosque as projeções que podem ter maior clareza paraanálisesãoPA,perfileDL. Contudo, cabe ao fisioterapeutaescolher as técnicas mais adequadas para cada tipo de paciente, aplicando-as no momento certo e de forma correta, provavelmente, o profissional alcançará resultados satisfatóriosno tratamento do derrame pleural através das técnicas de reexpansão pulmonar.

4. Referências Bibliográficas

AZEREDO, Carlos Alberto Caetano Machado. RODRIGUES, Maria da Glória. Fisiotarapia respiratória moderna. Ed. 4º, São Paulo: Editora Manole, 2002.

CARVALHO, Mercedes. Fisioterapia respiratória. Fundamentos e contribuições. Ed.

5ª, Rio de Janeiro: Editora Revinter, 2001.

COTRAN, Ranzi S., KUMAR, Vinay, COLLINS, Tucker. Patologia estrutural e funcional. Ed. 6ª, São Paulo: Guanabara Koogan, 2000. GOLDMAN, Lee, AUSIELLO, Dennis. Tratado de medicina interna. Ed. 22ª, São Paulo: Editora Elsevier, 2005.

****COSTA, Dirceu. Fisioterapia respiratória básica. Rio de Janeiro: Atheneu, 1999.

****MACKENZIE, Colin F. et al. Fisioterapia respiratória em unidade de terapia intensiva. São Paulo: Panamericana, 1988.

PAULA, Aloysio. Pneumologia. Ed. 1ª, São Paulo: Sarvier, 1984.

PRESTO, Bruno, PRESTO, Luciana Damázio de Noronha. Fisioterapia na UTI. Ed. 1ª, Rio de Janeiro: Editora BP, 2006.

PRESTO, Bruno, PRESTO, Luciana Damázio de Noronha. Fisioterapia respiratória: Uma nova visão. Ed. 2ª, Rio de Janeiro: Editora BP, 2005.

****PRYOR, Zenrifer. WEBBER, A. Barbara. Fisioterapia para problemas respiratórios e cardíacos. Ed. 2ª, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.

ROBBINS, Stanley. COTRAN, Ranzis. KUMAR, Vinay. COLLINS, Tucker. Fundamentos de Robbins: Patologia estrutural e funcional. Ed. 6ª, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.

Endereço para Correspondência:

Cleize Silveira [email protected]

Ramon [email protected]

Centro Universitário de Volta RedondaCampus Três PoçosAv. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325,Três Poços - Volta Redonda / RJCEP: 27240-560

Informações bibliográficas:ConformeaNBR6023:2002daAssociaçãoBrasileiradeNormasTécnicas(ABNT),estetextocientíficopublicadoemperiódicoeletrônicodevesercitadodaseguinteforma:CUNHA, Cleize Silveira; SOARES, Bruno; NASCIMENTO, Ramon Rocha. Técnicas Reexpansivas No Derrame Pleural - Uma Revisão De Literatura. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano IV, n. 9, abril. 2009. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/edicao/09/63.pdf>

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Instructions For Authors

UniFOA Reports is a six-monthly journal that publishes original publishes origi-nal research and contributions of descriptive character, based in recent literature, as well as articles on current or emergent subjects and brief communications on developed excellent and unknown subjects in level of Lato and Stricto Sensu pos graduation programs. The journal accepts articles for the following sections: (1) Literature reviews - critical reviews of the literature on themes pertaining to public health (maximum 10,000 words); (2) Articles - results of empirical, ex-perimental, or conceptual research (maximum 8,000 words); (3) Research notes - short com-munications on partial or preliminary research results (maximum 2,000 words); (4) Book re-views - critical reviews of books related to the journal’s thematicfield,published in the lasttwo years (maximum 1,200 words); (5) Let-ters - critiques of articles published in previous issues of the journal or short notes reporting onfieldorlaboratoryobservations(maximum1,200 words); (6) Special articles - authors interested in contributing articles to this sec-tion should consult the Editor in advance; (7) Debate - theoretical articles accompanied by critiques signed by authors from different in-stitutions at the Editor’s invitation, followed by a reply by the author of the principal article (maximum 6,000 words); and (8) Forum - section devoted to the publication of 2 or 3 in-terrelated articles by different authors, focus-ing on a theme of current interest (maximum 12,000 words for the combined articles). The above-mentioned maximum word limits include the main text and biblio-graphic references (the title page, abstracts, and illustrations are considered separately). Presentations of Papers

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References

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References should be numbered con-secutively according to the order in which they appear in the manuscript. They should be identified by superscript Arabic numer-als (e.g., Oliveira1). References cited only in tablesandfiguresshouldbenumberedaccord-ing to the last reference cited in the body of the text. Cited references should be listed at the end of the article in numerical order. All references should be presented in correct and complete form. The veracity of the informa-tion contained in the list of references is the responsibility of the author(s).

Examples:

a) Periodical articlesHedberg B, Cederborg AC, Johanson M. Care-planning meetings with stroke sur-vivors: nurses as moderators of the com-munication. J Nurs Manag, 15(2):214-21, 2007.b) Institution as authorEuropean Cardiac Arrhythmia Society - 2nd Annual Congress, April 2-4, 2006, Marseille, France.Pacing Clin Electrophysiol. Suppl 1:S1-103, 2006.c) Without author specificationRubitecan: 9-NC, 9-Nitro-20(S)-camptoth-ecin, 9-nitro-camptothecin, 9-nitrocamp-tothecin, RFS 2000, RFS2000. Drugs R D. 5(5):305-11, 2004.d) Books and other monographsFREIRE P e SHOR I. Medo e ousadia – O cotidiano do professor. 8 ed. Rio de Janei-ro: Ed. Paz e Terra, 2000. · Editor or organizer as authorDuarte LFD, Leal OF, organizers. Doen-ça, sofrimento, perturbação: perspectivas etnográficas. Rio de Janeiro: Editora Fi-ocruz; 1998.· Institution as author and publisherInstitute of Medicine recommends new P4P system for Medicare. Healthcare Benchmarks Qual Improv., 13(12):133-7, 2006.

e) Chapter of bookAggio A. A revolução passiva como hipó-tese interpretativa da história política la-tino- americana. In: Aggio, Alberto (org.). Gramsci: a vitalidade de um pensamento. São Paulo: Unesp, 1998.f) Events (conference proceedings)Vitti GC & Malavolta E. Fosfogesso - Uso Agrícola. In: Malavolta E, Coord., SEMI-NÁRIO SOBRE CORRETIVOS AGRÍ-COLAS. Campinas,SP. Fundação Cargill, p. 161-201, 1985.g) Paper presented at an eventBengtson S, Solheim BG. Enforcement of data protection, privacy and security in medical informatics. In: Lun KC, Degoulet

P, Piemme TE, Rienhoff O, editors. MED-INFO 92. Proceedings of the 7th World Congress on Medical Informatics; 1992 Sep 6-10; Geneva, Switzerland. Amster-dam: North Holland; 1992. p. 1561-5.h) Theses and dissertationsRodriques GL. Poeira e ruído na produção de brita a partir de basalto e gnaisse nas regiões de Londrina e Curitiba, Paraná: Incidência sobre os trabalhadores e Meio Ambiente. Tese (Doutorado). Universidade Federal do Paraná.Curitiba, 2004.i) Other published work· Journal articleLee G. Hospitalizations tied to ozone pol-lution: study estimates 50,000 admissions annually. The Washington Post 1996 Jun 21; Sect. A:3.· Legal documentsMTE] Ministério do Trabalho e Emprego. Secretaria de Segurança do Trabalho. Por-taria N°. 25 de 29/12/1994. Norma Regu-lamentadora N° 9: Programas de Preven-ção de Riscos Ambientais.

j) Electronic material· CD-ROMSeverino LS, Vale LS, Lima RLS, Silva MIL, Beltrão NEM, Cardoso GDC. Re-picagem de plântulas de mamoneira visando à produção de mudas. In: I Con-gresso Brasileiro de Mamona - Energia e Sustentabilidade (CD-ROM). Campina Grande: Embrapa Algodão, 2004· InternetUMI ProQuest Digital Dissertations. Di-sponível em: <http://wwwlib.umi.com/dissertations/>. Acesso em: 20 Nov. 2001.

The articles must be sent for the fol-lowing electronic address: [email protected] (declaration, photos, maps), must be sent to UniFOA - Campus Univer-sitário Olezio Galotti - Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços, Volta Redonda - RJ. CEP: 27240-560 – A/C Núcleo de Pes-quisa/NUPE.

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ABMES - Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior – Brasília/DF

ANGRAD - Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração - Duque de Caxias/RJ

Centro de Ensino Superior de Jatí - Jataí/GO

Centro Universitário Assunção - São Paulo/SP

Centro Universitário Claretiano - Batatais/SP

Centro Universitário de Barra Mansa - Barra Mansa/RJ

Centro Universitário de Goiás - Goiânia/GO

Centro Universitário Evangélica - Anápolis/GO

Centro Universitário Feevale - Novo Hamburgo/RS

Centro Universitário Leonardo da Vinci - Indaial/SC

Centro Universitário Moura Lacerda - Riberão Preto/SP

Centro Universitário Paulistano - São Paulo/SP

Centro Universitário São Leopoldo Mandic - Campinas/SP

CESUC - Centro Superior Catalão - Catalão/GO

CESUPA - Centro de Ensino Superior do Pará - Belém/PA

EBAPE - Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas - Rio de Janeiro/RJ

Escola de Serviço Social da UFRJ - Rio de Janeiro/RJ

FABES - Faculdades Bethencourt da Silva - Rio de Janeiro/RJ

FACESM - Faculdade de Ciencias Sociais Aplicadas do Sul de Minas - Itajubá/MG

FACI- Faculdade Ideal - Belém/PA

Facudade 2 de Julho - Salvador/BA

Facudades Integradas de Cassilândia - Cassilândia/MS

Faculdade Arthur Sá - Petrópolis/RJ

Faculdade de Ciências - Bauru/SP

Faculdade de Direito de Olinda - Olinda/PE

FaculdadedeFilosofiaeCiênciasHumanas-UFBA-Salvador/BA

Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro - Uberaba/MG

Faculdade de Minas - Muriaé/MG

Faculdade de Pimenta Bueno - Pimenta Bueno/RO

Faculdade de Tecnologia e Ciência - Salvador/BA

Faculdade Internacional de Curitiba - Curitiba/PR

Faculdade Metodista IPA - Porto Alegre/RS

Faculdade SPEI - Curitiba/PR

Faculdades Guarapuava - Guarapuava/PA

Faculdades Integradas Antônio Eufrásio de Toledo - Presidente Prudente/SP

Faculdades Integradas Curitiba - Curitiba/PR

Faculdades Integradas de Cassilândia - Cassilândia/MS

Faculdades Integradas do Ceará - Fortaleza/CE

Faculdades Integradas Torricelli - Guarulhos/SP

Faculdades Santa Cruz - Curitiba/PR

FAFICH - Universidade Federal de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG

FAFIJAN - Faculdade de Jandaia do Sul - Jandaia do Sul/PA

Permutas Institucionais informações sobre [email protected]

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FAFIL-FiladélfiaCentroEducacional-SantaCruzdoRioPardo/SP

FAPAM - Faculdade de Pará de Minas - Pará de Minas/MG

FCAP: Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco - Recife/PE

FECAP - Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado - São Paulo/SP

FGV - Fundação Getúlio Vargas - Rio de Janeiro/RJ

FOCCA - Faculdade Olindense de Ciências Contábeis e Administrativas - Olinda/PE

FUNADESP - Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular - Brasília/DF

Fundação Educacional de Patos de Minas - Patos de Minas/MG

Fundação Santo André - Santo André/SP

Fundação Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Rio Grande/RS

IBGE-InstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatística-CentrodeDocumentaçãoeDisseminação

de Informações - Rio de Janeiro/RJ

Instituição São Judas Tadeu - Porto Alegre/RS

Instituto Catarinense de Pós-Graduação -Blumenau/SC

Instituto de Administração do Rio de Janeiro - IARJ - Tijuca/RJ

Instituto de Estudo Superiores da Amazônia - Belém/PA

Instituto Municipal de Ensino Superior - São Caetano/SP

Mestrado em Integração Latino-Americana - Santa Maria/RS

MPF - Ministério Público Federal - Brasília/DF

MPRJ - Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ

Organização Paulista Educacional e Cultural - São Paulo/SP

PUC - Campinas: Pontifícia Universidade Católica - Campinas/SP

PUC - SP: Pontifícia Universidade Católica - Campinas/SP

TCE - Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG

TheU.S.LibraryOfCongressOffice-Washington,DC/USA

TJ - Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ

TRF - Tribunal Reginal Federal - RJ - Rio de Janeiro/RJ

Ucam - Universidade Cândido Mendes - Rio de Janeiro/RJ

UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ

UFF - Universidade Federal Fluminense - Niterói/RJ

UGB - Faculdades Integradas Geraldo Di Biase - Volta Redonda/RJ

UNB - Universidade de Brasília - Brasília/DF

UNIABEU - Assossiação de Ensino Superior - Belford Roxo/RJ

União das Faculdades de Alta Floresta - Alta Floresta/MT

Unibrasil - Faculdades Integradas do Brasil - Curitiba/PR

Unicapital - Centro Universitário Capital - São Paulo/SP

Unicastelo - Universidade Camilo Castelo Branco - São Paulo/SP

UNIDERP - Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal - Campo Grande/MS

UNIFAC - Assossiação de Ensino de Botucatu - Botucatu/SP

Unifeso - Centro Universitário da Serra dos Órgãos - Teresópolis/RJ

UniNilton Lins - Centro Universitário Nilton Lins - Amazonas/AM

Uninove - Universidade Nove de Julho - Vila Maria/SP

Permutas Institucionais informações sobre [email protected]

Page 72: CADERNOS UniFOA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA …web.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/09/cadernos_n09_online.pdf · Comitê Editorial Agamêmnom Rocha Souza Mauro César Tavares de

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nº 0

9, a

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2009

Permutas Institucionais informações sobre [email protected]

UNIPAR - Universidade Paranaense - Cianorte/PR

UNISAL - Centro Universitário Salesiano - Americana/SP

Unisinos - Universidade do Vale do Rio dos Sinos - São Leopoldo/RS

UNIVEM - Fundação de Ensino Eurípides Soares da Rocha - Marília/SP

Universidade Bandeirante de São Paulo - São Paulo/SP

Universidade Brás Cubas - Mogi das Cruzes/SP

Universidade Católica de Brasília - Brasília/DF

Universidade da Cidade de São Paulo - Tatuapé/SP

Universidade da Região de Joinville - Joinville/SC

Universidade de Brasília - Brasília/DF

Universidade de Caxias do Sul - Caxias do Sul/RS

Universidade de Coimbra - Pólo II - Coimbra/RJ

Universidade de Cuiabá - Cuiabá/MT

Universidade de Marília - Marília/SP

Universidade de Passo Fundo - Passos Findo/RS

Universidade de Sorocaba - Sorocaba/SP

Universidade de Taubaté - Taubaté/SP

Universidade do Vale do Paraíba - São José dos Campos/SP

Universidade Estácio de Sá - Rio de Janeiro/RJ

Universidade Estadual de Maringá - Maringá/PR

Universidade Federal de Alfenas - Alfenas/MG

Universidade Federal de Santa Catarina - Florianópolis/SC

Universidade Luterana do Brasil - Paraná/RO

Universidade Metodista de São Paulo - São Bernardo do Campo/SP

Universidade Paranaense - Umuarama/PR

Universidade Paulista - São Paulo/SP

Universidade Regional de Blumenau - Blumenau/SC

Universidade São Francisco - São Paulo/SP

Universidade Severino Sombra - Vassouras/RJ

Universidade Vale do Rio Verde de Três Corações - Três Corações/MG

UnoChapeco - Centro Universitário de Chapecó - Chapecó/SC

UPIS - União Pioneira de Integração Social - Brasília/DF

UVA - Universidade Veiga de Almeida - Tijuca/RJ

UVV - Centro Universitário de Vila Velha - Vila Velha/ES

Formando para vida.