brailian - SBGG

64
brazilian Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia Official Journal of the Brazilian Society of Geriatrics and Gerontology ISSN 1981-8289 VOLUME 3 • NUMBER 2 • ABR/MAI/JUN 2009 EDITORIAL Successful aging ................................................................................................................................................................... 49 Anita Liberalesso Neri, Andréa Cristina Garofe Fortes-Burgos ORIGINAL ARTICLES Successful aging in community dwelling elderly (PENSA): design, measures and preliminary data.................................. 53 Ana Paula Fabrino Bretas Cupertino, Samila Sathler Tavares Batistoni Meanings of successful aging, self rated health and perceived social support in community dwellling elderly ............... 62 Fernanda Heringer Moreira Rosa, Ana Paula Fabrino Bretas Cupertino, Anita Liberalesso Neri Megnings of religiosity among community-dwelling elderly ............................................................................................... 70 Marcelo Cardoso de Santana, Ana Paula Fabrino Bretas Cupertino, Anita Liberalesso Neri Depressive symptoms and psychosocial variables among community-dwelling elderly people ........................................ 78 Samila Sathler Tavares Batistoni, Ana Paula Fabrino Bretas Cupertino, Anita Liberalesso Neri Subjective evaluation of the effects of stressful life events related to death according community-dwelling elderly.................................................................................................................................................. 85 Andréa Cristina Garofe Fortes-Burgos, Ana Paula Fabrino Bretas Cupertino Stressful events associated with caregiving, sleeping disorders, and depressive symptoms among community-dwelling elderly...................................................................................................................................... 95 Mônica Beatriz Ferreira, Maria Filomena Ceolim, Ana Paula Fabrino Bretas Cupertino, Andréa Cristina Garofe Fortes-Burgos MEETINGS INSTRUCTIONS FOR AUTHORS OS 8671 Geriatria 3_2.indd 1 14/09/2009 18:01:00

Transcript of brailian - SBGG

Page 1: brailian - SBGG

brazilian

Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia

Official Journal of the Brazilian Society of Geriatrics and Gerontology

ISSN 1981-8289V O L U M E 3 • N U M B E R 2 • A B R / M A I / J U N 2 0 0 9

editorial

Successful aging ................................................................................................................................................................... 49Anita Liberalesso Neri, Andréa Cristina Garofe Fortes-Burgos

original articles

Successful aging in community dwelling elderly (PENSA): design, measures and preliminary data .................................. 53Ana Paula Fabrino Bretas Cupertino, Samila Sathler Tavares Batistoni

Meanings of successful aging, self rated health and perceived social support in community dwellling elderly ............... 62Fernanda Heringer Moreira Rosa, Ana Paula Fabrino Bretas Cupertino, Anita Liberalesso Neri

Megnings of religiosity among community-dwelling elderly ............................................................................................... 70Marcelo Cardoso de Santana, Ana Paula Fabrino Bretas Cupertino, Anita Liberalesso Neri

Depressive symptoms and psychosocial variables among community-dwelling elderly people ........................................ 78Samila Sathler Tavares Batistoni, Ana Paula Fabrino Bretas Cupertino, Anita Liberalesso Neri

Subjective evaluation of the effects of stressful life events related to death according community-dwelling elderly.................................................................................................................................................. 85Andréa Cristina Garofe Fortes-Burgos, Ana Paula Fabrino Bretas Cupertino

Stressful events associated with caregiving, sleeping disorders, and depressive symptoms among community-dwelling elderly...................................................................................................................................... 95Mônica Beatriz Ferreira, Maria Filomena Ceolim, Ana Paula Fabrino Bretas Cupertino, Andréa Cristina Garofe Fortes-Burgos

meetings

instructions for authors

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 1 14/09/2009 18:01:00

Page 2: brailian - SBGG

Saúde e dignidade na idade avançada

A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG)

foi fundada em 16 de maio de 1961, na cidade do Rio de

Janeiro, pelo idealismo de um grupo de profissionais cuja visão

e sensibilidade constituíram um marco diferencial no campo

da ciência de então, pois perceberam que em um futuro

muito próximo, o Brasil não seria mais um país tão jovem e, por isso, precisava de preparar-se técnica e cientificamente para enfrentar o desafio de garantir qualidade de vida aos idosos.

www.SBGG.org.br

Anuncio_SBGG2.indd 2 3/10/09 11:05:19 AMOS 8671 Geriatria 3_2.indd 2 14/09/2009 18:01:00

Page 3: brailian - SBGG

Geriatria & GerontoloGia

Conselho Editorial Nacional

João Carlos Barbosa MachadoBelo Horizonte, Brasil

João Marcos Domingues DiasBelo Horizonte, Brasil

João Toniolo NetoSão Paulo, Brasil

Johannes DollPorto Alegre, Brasil

José Elias Soares Pinheiro Rio de Janeiro, Brasil

Júlio César MorigutiRibeirão Preto, Brasil

Kátia Magdala Lima BarretoRecife, Brasil

Laura Mello MachadoRio de Janeiro, Brasil

Leani Souza Máximo PereiraBelo Horizonte, Brasil

Ligia PyRio de Janeiro, Brasil

Luiz Roberto RamosSão Paulo, Brasil

Maira Tonidandel BarbosaBelo Horizonte, Brasil

Marcella Guimarães Assis TiradoBelo Horizonte, Brasil

Maria Fernanda Furtado de Lima e CostaBelo Horizonte, Brasil

Maurício Gomes PereiraBrasília, Brasil

Maurício WajngartenSão Paulo, Brasil

Milton Luiz GorzoniSão Paulo, Brasil

Newton Luiz TerraPorto Alegre, Brasil

Paulo Rogério Wasserstein HekmanPorto Alegre, Brasil

Renato Maia GuimarãesBrasília, Brasil

Renato Moraes FabbriSão Paulo, Brasil

Ricardo KomatsuMarília, Brasil

Roberto Dischinger MirandaSão Paulo, Brasil

Rômulo Luiz de Castro MeiraSalvador, Brasil

Sérgio Márcio Pacheco PaschoalSão Paulo, Brasil

Silvia Maria Azevedo dos SantosFlorianópolis, Brasil

Sônia Lima MedeirosSão Paulo, Brasil

Tereza Loffredo BiltonSão Paulo, Brasil

Toshio ChibaSão Paulo, Brasil

Túlia Fernanda Meira GarciaFortaleza, Brasil

Ulisses Gabriel Vasconcelos Cunha Belo Horizonte, Brasil

Vânia Beatriz Merlotti HerédiaPorto Alegre, Brasil

Wilson Jacob FilhoSão Paulo, Brasil

Adriana de Melo GomesRecife, Brasil

Adriano Cézar Balthazar da Silveira GordilhoSalvador, Brasil

Ana Amélia CamaranoRio de Janeiro, Brasil

Anita Liberalesso NériCampinas, Brasil

Carlos Montes Paixão JúniorRio de Janeiro, Brasil

Cláudia BurláRio de Janeiro, Brasil

Clineu Mello Almada São Paulo, Brasil

Edgar Nunes de Moraes Belo Horizonte, Brasil

Eduardo FerriolliRibeirão Preto, Brasil

Eliane Jost BlessmannPorto Alegre, Brasil

Elisa Franco de Assis CostaGoiânia, Brasil

Elizabete Viana de FreitasRio de Janeiro, Brasil

Emílio Hideyuki MoriguchiPorto Alegre, Brasil

Emílio Jeckel NetoPorto Alegre, Brasil

Flávio ChaimowiczBelo Horizonte, Brasil

Guita Grib DebertCampinas, Brasil

Ivete BerkenbrockCuritiba, Brasil

Rua Cap. Francisco Pedro, 1255 – Bairro Rodolfo Teófilo – 60430-370 – Fortaleza – CE e-mail: [email protected]

Base Editorial

Indexada no LaTINdex (Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Cienfícas de america Latina, el Caribe, espa~na y Portugal).

Conselho Editorial internacional

Andrea Caprara Roma, Itália

Ângelo Boss Baltimore, Estados Unidos

Antony Bayer Cardiff, Reino Unido

Bruno VellasToulouse, França

David V. EspinoSan Antonio, Estados Unidos

Jay Luxenberg San Francisco, Estados Unidos

Jeanne Wei Little Rock, Estados Unidos

Masatoshi TakedaOsaka, Japão

Paulo Henrique M. ChavesBaltimore, Estados Unidos

Roberto Kaplan Buenos Aires, Argentina

Sergio Ariño Blasco Barcelona, Espanha

Editor-ChefeJoão Macêdo Coelho Filho – Fortaleza, Brasil

Editores AssociadosLuiz Eugênio Garcez Leme – São Paulo, Brasil

Marcos Aparecido Sarria Cabrera – Londrina, BrasilMyrian Spínola Najas – São Paulo, Brasil

Rosângela Correa Dias – Belo Horizonte, Brasil

Editores ExecutivosJoão Senger – Novo Hamburgo, Brasil

Karla Cristina Giacomin – Belo Horizonte, BrasilMaria do Carmo Lencastre Lins – Recife, BrasilMônica Rodrigues Perracini – São Paulo, Brasil

Saúde e dignidade na idade avançada

A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG)

foi fundada em 16 de maio de 1961, na cidade do Rio de

Janeiro, pelo idealismo de um grupo de profissionais cuja visão

e sensibilidade constituíram um marco diferencial no campo

da ciência de então, pois perceberam que em um futuro

muito próximo, o Brasil não seria mais um país tão jovem e, por isso, precisava de preparar-se técnica e cientificamente para enfrentar o desafio de garantir qualidade de vida aos idosos.

www.SBGG.org.br

Anuncio_SBGG2.indd 2 3/10/09 11:05:19 AM OS 8671 Geriatria 3_2.indd 3 14/09/2009 18:01:01

Page 4: brailian - SBGG

PresidenteJoão Carlos Barbosa Machado (MG)

1º Vice-PresidenteMaria do Carmo Lencastre Lins (PE)

2º Vice-Presidente(Presidente do Departamento de Gerontologia)Myrian Spínola Najas (SP)

Secretária GeralSilvia Regina Mendes Pereira (RJ)

Secretária AdjuntaMônica Rodrigues Perracini (SP)

TesoureiroJoão Senger (RS)

Diretor CientíficoKarla Cristina Giacomin (MG)

Diretor de Defesa ProfissionalClaudia Burlá (RJ)

Diretoria nacional Da SBGG

Conselho ConsultivoMaira Tonidandel Barbosa (MG)Rodolfo Augusto Alves Pedrão (PR)Laura Mello Machado (RJ)

Membros Natos do Conselho Consultivo Adriano César Gordilho (BA) Antônio Jordão Neto (SP) Elisa Franco de Assis Costa (GO)Elizabete Viana de Freitas (RJ) Flávio Aluízio Xavier Cançado (MG) Laura Mello Machado (RJ) Margarida Santos (PE) Maria Aulixiadora Cursino Ferrari (SP) Paulo César Affonso Ferreira (RJ) Renato Maia Guimarães (DF) Sônia Maria Rocha (RJ) Tereza Bilton (SP)Zally Pinto Vasconcelos Queiroz (SP)

Representantes no Conselho da Associação Internacional de Geriatria e Gerontologia (IAGG)Marianela Flores de Heckman (RS)Elisa Franco de Assis Costa (GO)Adriano Gordilho (BA)Elizabete Viana de Freitas (RJ)

DIRETORIAS REGIONAIS DA SBGG

BAHIA (2008/2010)Presidente: Christiane Machado2º Vice-Presidente: Maria das Graças SenaDiretor Científico: Adriano Gordilho

CEARÁ (2008/2010)Presidente: Luiz Airesneide Aires Leal 2º Vice-Presidente: Túlia Fernanda Meira GarciaDiretor Científico: Charlys Barbosa Nogueira

DISTRITO FEDERAL (2008/2010)Presidente: Sabri LakhdariDiretor Científico: Luciana Paganini Piazolla

ESPÍRITO SANTO (2007/2009)Presidente: Waleska Binda Wruck2º Vice-Presidente: Elaine R. da Mata BaptistaDiretor Científico: Luis Gustavo Genelhu

GOIÁS (2008/2010)Presidente: Graziela C. M. de Moura 2º Vice-Presidente: Viviane LemosDiretor Científico: Juliana Junqueira

MATO GROSSO (2008/2010)Presidente: Andréia Casarotto1º Vice-Presidente: Amanda Carolina R. PintoDiretor Científico: José Almir Adena

MATO GROSSO DO SUL (2008/2010)Presidente: Eustáquio Marques Ferreira 2º Vice-Presidente: Leiner Maura Vieira de MelloDiretor Científico: José Roberto Pelegrino

MINAS GERAIS (2008/2009)Presidente: Maria Ângela Pinheiro2º Vice-Presidente: Adriana Netto ParentoniDiretor Científico: Rodrigo Ribeiro dos Santos

PARÁ (2007/2009)Presidente: João Sérgio F. do Nascimento 2º Vice-Presidente: Maria Isabel P. de O. SantosDiretor Científico: Nezilour Lobato Rodrigues

PARAÍBA (2008/2010)Presidente: João Borges Virgolino 2º Vice-Presidente: Benedita Edina Cabral Diretor Científico: João Marcos Moura

PARANÁ (2008/2010)Presidente: Rodolfo Augusto Alves Pedrão2º Vice-Presidente: Benedito Guilherme F. FariasDiretor Científico: Marcos Aparecido S. Cabrera

PERNAMBUCO (2008/2010)Presidente: Alexandre de Mattos Gomes2º Vice-Presidente: Etiene FittipaldiDiretor Científico: Adriana de Melo Gomes

RIO DE JANEIRO (2008/2010)Presidente: Carlos Montes Paixão Junior2º Vice-Presidente: Eloísa Adler ScharfsteinDiretor Científico: Rodrigo Bernardo Serafim

RIO GRANDE DO SUL (2008/2010)Presidente: Paulo Roberto Cardoso Consoni2º Vice-Presidente: Eliane BlessmanDiretor Científico: João Senger

SANTA CATARINA (2008/2010)Presidente: André Junqueira Xavier2º Vice-Presidente: Jordelina SchierDiretor Científico: Saada Ávila Chidiac

SÃO PAULO (2007/2009)Presidente: Toshio Chiba2º Vice-Presidente: Naira de Fátima Dutra LemosDiretor Científico: Maysa Seabra Cendoroglo

SERGIPE (2006/2008)Presidente: Antônio Claudio S. das Neves2º Vice-Presidente: Noêmia Lima SilvaDiretor Científico: Ligia Maria do N. Melo

Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 4 14/09/2009 18:01:01

Page 5: brailian - SBGG

eDitorial

Processos de envelhecimento saudávelSuccessful aging

Envelhecer com saúde, papéis sociais, atividade, motivação e energia preservados e, de preferência, com aparência jovial, é desejo compartilhado por dez entre dez seres humanos. Provavelmente, a grande força motriz dessa aspiração seja a necessidade de domesticar a dependência e postergar a morte. No encalço desse sonho, criam-se denominações-fantasia sobre a velhice: melhor idade, maior idade e terceira idade são algumas delas. Cunham-se adjetivos para designá-la, como sau-dável, ativa, produtiva e bem-sucedida. Eles são tão usuais entre leigos e profissionais a ponto de parecerem atributos naturais. Em não sendo eles usados para fazer referência à infância, à adoles-cência e à vida adulta, não seria o caso de perguntar se não denotam preconceito?

A ciência responde às aspirações à velhice saudável com dados realistas que se sobrepõem a lendas científicas sobre a possibilidade de evitar ou de postergar ao máximo a velhice. Os dados realistas mostram, de um lado, que a velhice preserva o potencial para o desenvolvimento em do-mínios selecionados em que o indivíduo alcançou domínio ou maestria. De outro, apontam que esse potencial é limitado por eventos que cursam com o envelhecimento e pelos processos de de-senvolvimento que se deram ao longo da vida. Hoje, as noções clássicas de velhice bem-sucedida, que a associavam com ausência de moléstias e manutenção plena da atividade e do envolvimento social, deram lugar à consideração de maior variabilidade nas realidades de velhice, caracterizada pela coexistência de vários padrões de envelhecimento em cada indivíduo ou em cada coorte. Admite-se a importância de variáveis do ambiente atual e da história de vida, da agência individual e das avaliações subjetivas, na formatação de múltiplas realidades de velhice, delimitadas por con-dições objetivas e subjetivas de saúde e bem-estar físico, social e psicológico.

Este número especial de Geriatria & Gerontologia é dedicado à apresentação de uma visão psicológica do envelhecimento saudável em idosos brasileiros. Trata-se do PENSA, acrônimo que designa o estudo dos Processos do Envelhecimento Saudável, desenvolvido em Juiz de Fora, estado de Minas Gerais, sob a coordenação da psicóloga Ana Paula Fabrino Bretas Cupertino. A ele pos-teriormente se agregaram grupos de pesquisa de várias universidades, entre elas a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

O raciocínio que orientou essa pesquisa de levantamento e de base populacional é o exposto nos dois parágrafos iniciais. Ele se desdobra na noção de que, na velhice, um conjunto de variáveis de risco de natureza biológica, socioeconômica e intrapsíquica compete com a manutenção da funcionalidade e do bem-estar psicológico, mas que seu impacto pode ser moderado por recursos pessoais e sociais, de tal modo que, mesmo na presença de eventos adversos, como pobreza, doen-ças e eventos estressantes, os idosos podem funcionar bem, investir na própria saúde e na solução de problemas cotidianos e ajudar a família e a comunidade.

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 49 14/09/2009 18:01:01

Page 6: brailian - SBGG

eDitorial

Nesse cenário, idade e gênero são variáveis antecedentes poderosas, no sentido em que sinteti-zam várias fontes de influência, entre elas a exposição a marcadores biológicos do desenvolvimento e do envelhecimento, a presença de maior ou menor plasticidade comportamental, a existência de maior ou menor resiliência biológica e psicológica, a disponibilidade de oportunidades educa-cionais, as formas de socialização, os papéis sociais e o maior ou menor risco de viver eventos não normativos e incontroláveis do curso de vida.

Praticamente, em todo o mundo, as mulheres vivem mais que os homens, vantagem que pode ser parcialmente atribuída às diferenças em doenças que acometem uns e outros. A taxa de doenças letais é muito maior entre os homens idosos que entre as mulheres idosas, entre as quais predominam as doenças não fatais, mas que causam incapacidades e doenças crônicas, entre elas a artrite e a hipertensão. Entre os homens, prevalecem as doenças isquêmicas do coração. As mulheres idosas têm taxas mais altas de morbidade, mas exibem taxas de mortalidade mais baixas que os homens para as mesmas moléstias. Entre pessoas de 65 anos e mais, de ambos os sexos, as principais causas de morte são, pela ordem, as doenças cardíacas, o câncer e as doenças cerebrovasculares. Com a idade, ocorre inversão nessa ordenação e desaparecem as diferenças entre os gêneros quanto à frequência de doenças cardíacas. As diferenças em saúde física manifes-tam-se nas taxas de consumo de remédios, em que as mulheres ganham dos homens. As mulheres têm mais doenças crônicas e do aparato musculoesquelético, mais incapacidade funcional, mais problemas de mobilidade, mais depressão, mais doenças psiquiátricas, mais queixas somáticas e, portanto, maior necessidade de ajuda1,2.

Quanto mais alto o nível socioeconômico, melhor a saúde. A desigualdade social afeta dife-rencialmente a distribuição de recursos na velhice, de tal sorte que sobrevivem por mais tempo os idosos que têm mais recursos3. A pobreza, a baixa escolaridade e o baixo nível ocupacional, indi-cadores fundamentais e inter-relacionados de baixo nível socioeconômico, expõem os idosos ao estresse crônico derivado da maior exposição ao risco de sofrer maus-tratos e negligência familiar e institucional, violência urbana e acidentes, isolamento social e solidão emocional, discriminação por idade e outros eventos não normativos e incontroláveis. Os efeitos desses estressores podem ser potencializados pela presença de doenças somáticas, dores crônicas, depressão, incapacidade física, déficits sensoriais e déficits cognitivos. Sob essas condições, diminuem as possibilidades de contro-lar as causas e as consequências dos eventos estressantes. Aumenta a probabilidade de instalação de desamparo aprendido e baixo senso de autoeficácia. Cria-se círculo vicioso de pobreza, fragilidade biológica, eventos incontroláveis, perdas de várias naturezas e baixa resiliência psicológica4.

A diminuição da plasticidade comportamental e da resiliência biológica que ocorrem na velhice faz com que, como grupo, os idosos sejam relativamente mais vulneráveis aos efeitos dos eventos estressantes. Entretanto, existe expressiva variabilidade quanto à maneira como homens e mulhe-res idosos, com idade mais ou menos avançada, e pertencentes a diferentes níveis socioeconômicos, respondem a experiências estressantes de natureza interna ou externa. Essa variabilidade é afetada pela atuação dos mecanismos de autorregulação do self e pelo senso de ajustamento psicológico de-rivado de processos de autoavaliação. Em interação com os recursos sociais, esses recursos pessoais moderam os efeitos dos fatores de risco biológico e socioeconômico sobre o bem-estar subjetivo5.

A literatura internacional recente registra relações positivas entre satisfação na velhice e boa saú-de, extroversão, senso de liberdade, crença na capacidade de manejar a própria vida e boas relações

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 50 14/09/2009 18:01:01

Page 7: brailian - SBGG

eDitorial

com os filhos, entre outros fatores6; envolvimento social, mesmo na presença de perdas em saúde e de incapacidade, principalmente porque os portadores de incapacidade compensam a sua baixa funcionalidade física colocando mais ênfase nas relações e nas atividades sociais7; otimismo mediado por bom status financeiro, boa saúde mediada por otimismo, autoestima elevada e relações sociais harmoniosas, estas relacionadas com percepção de independência e de interdependência em relação aos outros8; boa qualidade da rede de relações sociais, alta satisfação com a saúde física e alto senso de estar no controle da própria vida9; frequência à igreja e crença em que a religião ajuda a enfrentar as adversidades10-12; observância de preceitos religiosos e religiosidade como fonte de status social13; bai-xa exposição a eventos estressantes e senso de autoeficácia no uso de estratégias de enfrentamento14 e manutenção de relações interpessoais15; e senso elevado de saúde percebida16,17.

Os idosos colaboram ativamente na construção dos seus recursos sociais, na medida em que os avaliam e se comportam de modo que considerem certas ocorrências e evitem outras. Colaboram também por meio de crenças mediadoras, que podem dar origem a ações mais eficazes ou à evita-ção, ao isolamento, à autorrecriminação, à culpa e à depressão. Por intermédio de transações com a rede informal de suporte social, cuja importância deriva mais das funções que desempenham que de seu tamanho, os idosos oferecem e dão apoio material, psicológico e social a outros idosos e às gerações mais novas, mantêm a identidade social, ganham senso de pertencimento e fortalecem as crenças de que são cuidados, amados e valorizados e são ajudados a avaliar e a interpretar a expe-riência, as próprias realizações, as competências e as expectativas.

A resiliência psicológica é fortemente dependente dos mecanismos de autorregulação do self. Trata-se de termo criado por Bandura15 para designar estratégias e crenças aprendidas ao longo da vida, por meio das quais as pessoas se adaptam às demandas ambientais e intrapsíquicas, quer atuan-do sobre elas, quer se modificando em busca de equilíbrio. São exemplos de mecanismos de autor-regulação do self, o autoconceito, a autoestima e a autoavaliação, o sistema de metas, os mecanismos de enfrentamento e as crenças pessoais de controle e de autoeficácia. As crenças sobre o significado de velhice saudável, de espiritualidade e religiosidade, de eventos estressantes e do pertencimento a dada classe social são exemplos importantes da atuação desses mecanismos, como se poderá apreciar neste número de Geriatria & Gerontologia, por meio dos estudos de Rosa, Cupertino e Neri; Santa-na, Cupertino e Neri; Batistoni, Cupertino e Neri; Fortes-Burgos e Cupertino; e Ferreira, Ceolim, Cupertino e Fortes-Burgos. Esses cinco artigos de pesquisa são precedidos pelo texto de caráter me-todológico, no qual Ana Paula Fabrino Bretas Cupertino e Samila Sathler Tavares Batistoni expõem o delineamento do PENSA e seus dados descritivos sobre saúde e suporte social.

Conflito de interesses: não há conflitos de interesses de quaisquer espécies quanto à realização e à publicação deste estudo.

Anita Liberalesso Neri1, Andréa Cristina Garofe Fortes-Burgos2

1 Faculdade de educação e Faculdade de Ciências Médicas da Universidade estadual de Campinas (Unicamp) – Programa de Pós-Graduação em Gerontologia.

2 doutoranda em educação – Faculdade de educação da Unicamp.

Endereço para correspondência: Anita Liberalesso Neri • Departamento de Psicologia Educacional – Faculdade de Educação da Unicamp • Av. Bertrand Russell, 801, Cidade Universitária – 13083-970 – Campinas, SP • E-mail: [email protected]

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 51 14/09/2009 18:01:01

Page 8: brailian - SBGG

eDitorial

reFerÊnciaS

1. Rieker PP, Bird C. Rethinking gender differences in health: why we need to integrate social and biological perspectives. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 2005;60:40-7.

2. Camarano AA, Kanso S, Leitão MJ. Como vai o idoso brasileiro? In: Camarano AA, organizador. Os novos idosos brasileiros: muito além dos 60? Rio de Janeiro: IPEA; 2004. p. 77-106.

3. Alwin DF, Wray LA. A life-span development perspective on social status and health. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 2005;60:7-14.

4. Neri AL, Fortes ACG. A dinâmica estresse e enfrentamento na velhice e sua expressão no prestar cuidados a idosos no contexto da família. In: Freitas EV, Py L, Cançado FAX, Doll J, Gorzoni ML, editores. Tratado de geriatria e gerontologia. 2ª ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006. p. 1277-88.

5. Hillerås PK, Jorm AF, Herlitz A, Winblad B. Life satisfaction among the very old: a survey on a cognitively intact sample aged 90 years or above. Int J Aging Hum Dev. 2001;52(1):71-90.

6. Jang Y, Mortimer JA, Haley WE, Graves ARB. Role of social engagement in life satisfaction: its significance among older individuals with disease and disability. J Applied Gerontol. 2004;23(3):266-78.

7. Leung BW, Moneta GB, McBride-Chang C. Think positively and feel positively: optimism and life satisfaction in late life. Int J Aging Hum Dev. 2005;61(4):335-65.

8. Berg AI, Hassing LB, McClearn GE, Joahansson B. What matters for life satisfaction in the oldest-old? Aging Ment Health. 2006;10(3):257-64.

9. Krause N. Common facets of religion, unique facets of religion, and life satisfaction among older African Americans. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 2004;59(2):S109-17.

10. Payman V, George K, Ryburn B. Religiosity of depressed inpatients. Int J Geriatr Psychiatry. 2008;23(1):16-21.

11. Idler EL, McLaughlin S, Kasl S. Religion and the quality of life in the last year of life. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 2009; 64(4):528-37.

12. Shkolnik T, Weiner C, Malik L, Festinger Y. The effect of Jewish religiosity of elderly Israelis on their life satisfaction, health, function and activity. J Cross Cult Gerontol. 2001;16(3):201-19.

13. Hamarat E, Thompson D, Zabrucky KM, Steele D, Matheny KB, Aysan F. Perceived stress and coping resource availability as predictors of life satisfaction in young, middle-aged, and older adults. Exp Aging Res. 2001;27(2):181-96.

14. Cheng ST, Chan ACM. Relationship with others and life satisfaction in later life: do gender and widowhood make a diffe-rence? J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 2006;61(1):46-53.

15. Bandura A. Social foundations of thought and action: a social cognitive theory. Englewood Cliffs: Prentice-Hall; 1986.

16. Deep CA, Jeste DV. Definitions and predictors of successful aging: a comprehensive review of larger quantitative studies. Am J Geriatr Psychiatry. 2006;14(1):6-20.

17. Cheng NG, Fun H, Chan A. Maintaining self-rated health through social comparison in old age. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 2007;62(5):P227-85.

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 52 14/09/2009 18:01:01

Page 9: brailian - SBGG

artiGo oriGinal

Processos de envelhecimento Saudável (PenSa) em idosos da comunidade: delineamento, medidas e dados preliminaresSuccessful aging in community dwelling elderly (PeNSa): design, measures and preliminary data

Ana Paula Fabrino Bretas Cupertino1, Samila Sathler Tavares Batistoni2

Endereço para correspondência: Ana Paula Fabrino Bretas Cupertino • University of Kansas Medical Center – Department of Preventive Medicine • 3901 Rainbow Boulevard • 4028 Varnes Center – 66160 – Kansas City, KS • Phone: 00211 913-5882783 • Fax: 00211 913-588-8398 • E-mail: [email protected]

1 University of Kansas Medical

Center, department of Preventive

Medicine, USa.2 escola de

artes, Ciências e Humanidades (eaCH)

da Universidade de São Paulo (USP).

Recebido em 13/7/2009aceito em 9/8/2009

ReSUMOobjetivos: Descrever o delineamento e caracterizar os idosos de um estudo populacional sobre velhice bem-sucedida por critérios sociodemográficos e de saúde física e suporte social percebidos. Métodos: Busca sistemá-tica de idosos na totalidade dos domicílios (7.089) dos bairros com mais idosos em Juiz de Fora, MG, recrutou e identificou 1.166 em 1.686 domicílios; 956 participaram de entrevista domiciliar com medidas de autorrelato sobre variáveis sociodemográficas, histórico socioeconômico, saúde física, história de vida, satisfação, suporte social, espiritualidade/religiosidade, saúde mental, status cognitivo, eventos de vida e estratégias de enfrentamento. resultados: A idade variou de 60 a 103 anos (M = 72,39 ± 8,24); 72% eram mulheres; 80,6% tinham entre 60 e 79 anos e 20%, 80 anos ou mais; 19% ganhavam de < 1 a 2 SM; e 28%, mais de 8 SM; a escolaridade média era de 6,5 ± 4,5 anos. As mulheres e os mais velhos tinham nível de escolaridade, renda e ocupação mais baixos; as mulheres tinham mais doenças e consumiam mais medicamentos que os homens. A doença mais prevalente foi a hipertensão (51%); 49,68% tinham de uma a três doenças e 40,48%, quatro ou mais; 62,3% consumiam mais de dois medicamentos, todavia 80,4% pontuaram alto em saúde percebida. Os mais velhos consumiam menos tabaco e álcool e eram mais sedentários; 87,4% avaliaram positivamente o suporte social, principalmente proveniente da família. conclusão: Os resultados foram consistentes com os de outros estudos nacionais, embora os idosos fossem mais saudáveis e tivessem escolaridade e renda mais altas que a população geral.

Palavras-chave: Velhice bem-sucedida, saúde do idoso, suporte social, idosos.

abSTRaCTobjectives: The purpose of this paper is to present the methodological procedures of a community-based stu-dy designed to examine correlates of successful aging. Methods: There were identified 1.166 participants with a door-to-door meth odology, in areas with a high concentration of older adults from Juiz de Fora, Brazil. After identifying a residence with at least one older adult (n = 1.686 among 7.089 residences), we presented the study, the participant signed the consent form, and we scheduled a home interview. results: The age alternated (n = 956) from 60 to 103 (M = 72.3 ± 8.21), 72% were female; 19% earned < 1 to 2 minimum wages and 28% earned more than eight minimum wages; the mean years of school attendance was 6.5 ± 4.5. Women and the oldest had school level, ocupation and salary lower than men and the youngest olds did. Women had more comorbidities. Hypertension prevalence was 51%; 49,68% had one to three illnesses and 40.48% had four or more; 62,3% used more than 2 medications; 80.4% had high scores in self-related health, and 87.4% had high scores in perceived social support. There were significant gender differences for health variables in the expected direction, while such differences were not consistently significant across age groups. conclusion: The methodology was useful to identify older adults in a short period of time. Future studies should follow this cohort overtime. The study had a

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 53 14/09/2009 18:01:01

Page 10: brailian - SBGG

54 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(2):53-61

conhecimento brasileiro sobre processos psicológicos associados ao envelhecimento, a partir do enfoque do curso de vida, que permite ter insights sobre as rela-ções entre tempo histórico, contexto social e compor-tamentos psicológicos e sociais em idosos5.

oBJetiVo

Este estudo tem como finalidade apresentar a metodo-logia do PENSA, estudo de base populacional, sobre correlatos do envelhecimento saudável, realizado em Juiz de Fora, MG. Adicionalmente, pretende-se des-crever o comportamento de variáveis sociodemográfi-cas, de saúde, representada por relatos sobre doenças crônicas, uso de medicação e estilo de vida, saúde e suporte social percebidos. Foram feitas comparações entre grupos de gênero e idade.

MétoDoS

Delineamento

Juiz de Fora é uma cidade de médio porte, com cerca de 498 mil habitantes, localizada na região Sudeste, entre as três maiores áreas urbanas do Brasil (Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo). Conforme da-dos do censo do IBGE do ano 2000, 10,6% dos re-sidentes possuem mais de 60 anos, e a expectativa de vida ao nascimento é de 71,87 anos6.

Foi escolhida estratégia metodológica que per-mitisse otimizar recursos materiais e tempo, visto que o financiamento e o tempo eram restritos, se-guindo-se modelos internacionais, como o de Wu et al.7 Utilizando-se a base de dados do censo 20006, foram selecionados 13 bairros de Juiz de Fora com, pelo menos, 15% de idosos. Nos anos de 2001 e 2002, recrutadores percorreram todas as ruas desses bairros e visitaram todos os domicílios com o fito de identificar residências onde houvesse pelo menos um residente idoso.

introDução

O envelhecimento populacional que caracterizou o século XX é importante evento sociodemográfico, com repercussões políticas, econômicas e sociais para indivíduos e instituições dos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Segundo a Organização Mun-dial da Saúde (OMS)1, os principais desafios a enfren-tar são a manutenção da independência na velhice e a identificação de mecanismos de prevenção de doen-ças e de promoção da qualidade de vida em idades avançadas. A OMS também adverte para a necessida-de do desenvolvimento sistemático da pesquisa básica e epidemiológica, bem como de bases de informações estatísticas sobre idosos e processos de envelhecimen-to, cujos resultados devem subsidiar políticas públicas e guiar intervenções em favor da velhice saudável.

Lentamente, o Brasil vem superando barreiras fi-nanceiras e ideológicas ao desenvolvimento de pesqui-sas de base populacional e epidemiológica. Citam-se, como exemplos, o Projeto Saúde e Bem-Estar (SABE) em curso em sete países em desenvolvimento: Cuba, Barbados, México, Chile, Argentina, Brasil e Uruguai2, apoiado pela Organização Panamericana de Saúde (Opas); o Bambuí Health and Aging Study (BHAS)3 e o Epidemiologia do Idoso (Epidoso)4, conduzido em São Paulo. No primeiro foram entrevistados em do-micílio 2.143 idosos da área urbana de São Paulo, nos anos 2000 e 2001; em 2006, o SABE realizou nova onda de medidas em São Paulo. O BHAS é um estudo de coorte (n = 1.742) com idosos residentes na comu-nidade, que foram avaliados anualmente entre 1996 e 2003, por meio de entrevistas, exames clínicos, testes hematológicos e bioquímicos, sorológicos, antropomé-tricos, medidas de pressão arterial e eletrocardiograma. O Epidoso consistiu em seguimento de 1.665 idosos (65 anos e mais), por dois anos, com entrevistas do-miciliares seguidas por visitas ao hospital para medidas clínicas e bioquímicas. Encontrou relações entre gê-nero e status socioeconômico e funcionamento físico, morbidade, saúde mental e cognição.

O Estudo do Processo de Envelhecimento Saudá-vel (PENSA) foi planejado para cobrir a lacuna no

bias toward a healthier and more educated group; nonetheless, the results are consistent with other community-based national studies with older populations.

Keywords: Successful aging, physical health, social support, aged people.

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 54 14/09/2009 18:01:01

Page 11: brailian - SBGG

55estudo PeNSa: dados preliminares

Os recrutadores e entrevistadores eram oriundos, em sua maioria, do curso de graduação em Psicolo-gia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), os quais foram treinados na disciplina curricular “Treino de Pesquisa” e receberam pequena remu-neração e reembolso de gastos com transporte. Os recrutadores foram equipados com crachá de iden-tificação, folheto explicativo sobre o estudo, ficha de recrutamento, termo de consentimento e agenda de horários para as entrevistas. As residências foram visitadas até três vezes cada uma, após o que eram registradas como perdidas. O Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Fe-deral de Juiz de Fora aprovou o estudo (CEP/HU: 170-009/2009).

Procedimentos

Foram arroladas as residências com, ao menos, um idoso. Todos os idosos residentes nos bairros selecio-nados foram convidados a participar. Os recrutadores se apresentavam mediante procedimentos padroniza-dos, apresentavam o estudo, seus objetivos e caracte-rísticas; falavam sobre o caráter voluntário e gratuito da participação dos idosos, a ausência de riscos à saú-de e a natureza sigilosa dos dados; e convidavam os idosos a participar. Caso aceitassem, os recrutadores liam o termo de consentimento com eles, ofereciam ampla oportunidade para perguntas e os convidavam a assinar o termo de consentimento livre e esclare-cido. Em seguida, agendavam a sessão de coleta de dados no domicílio. Foram critérios de exclusão: ter menos de 60 anos e apresentar indícios de con-fusão mental; desorientação temporal ou espacial; déficits graves de memória, atenção e compreensão; problemas de autoidentificação; déficits sensoriais graves; e ansiedade, irritabilidade, apatia, agressivida-de ou instabilidade emocional exacerbadas.

Amostra

Foram visitadas 7.778 residências, entre as quais foram identificadas 1.686 (21,7%) com, ao menos, um idoso (Tabela 1). Nessas residências, 68,7% dos idosos aceitaram participar e assinaram o termo de consentimento; 24%, recusaram-se a participar; e 6,9%, foram excluídos por indícios de incapacida-de cognitiva ou problemas emocionais. Foi dado como perdido 12% dos idosos identificados e con-vidados na fase do recrutamento, mas que, no dia agendado para a entrevista, não foram encontrados em casa. Assim, a amostra ficou constituída por 956 idosos.

Instrumentos

O PENSA tem como objetivos descrever as caracte-rísticas sociodemográficas, psicossociais e de saúde física, emocional e cognitiva de amostra de idosos residentes na comunidade representativa da po-pulação dos bairros com maior taxa de idosos, na cidade de Juiz de Fora, MG. Visa, também, a ana-lisar relações entre essas variáveis, transversal e lon-gitudinalmente, e validar instrumentos de pesquisa construídos e publicados em inglês para a população brasileira.

Para alcançar esses objetivos, foi organizado pro-tocolo de investigação pela coordenadora do Projeto (primeira autora deste artigo), que se valeu de sua experiência com os instrumentos utilizados em um estudo com idosos de origem latina, nos Estados Unidos, o SALSA (The Sacramento Area Latino Study on Aging)8. Além disso, na ocasião da elaboração do projeto, a autora selecionou instrumentos de ras-treio clínico e cognitivo validados para o Brasil9-12

ou de uso corrente no Brasil13,14. Os instrumentos americanos15-19 foram validados semanticamente, me diante processos de tradução e retrotradução por falantes bilíngues de inglês e português, seguidos de procedimentos de adequação semântica e cultural por meio de painel de três especialistas.

O instrumental do PENSA foi planejado para permitir analisar dez classes de variáveis, são elas: a) variáveis sociodemográficas (idade, gênero, raça, estado civil, escolaridade, renda, ocupação durante a maior parte da vida adulta, ocupação atual, aposen-tadoria/pensão, tipo de domicílio, tipo de arranjo domiciliar e número de filhos)8; b) histórico socioe-conômico (escolaridade dos pais, ocupação dos pais durante a infância do participante, classe social per-cebida, mobilidade social percebida)8; c) saúde física

tabela 1. Produtos do processo de recrutamento visando à composição da amostra. Idosos (2002-2003)

n %

Residências visitadas 7.778

Residências com pelo menos um idoso 1.686(*) 21,7(*)

Idosos recrutados e com termo assinado 1.166(**) 68,7(**)

Recusas 404 24,4(**)

Perdas 210 12(**)

Impossibilitados de participar 116 6,9(**)

Amostra final 956

(*) % referente ao número de casas com pelo menos um idoso; (**) % referente ao número de idosos recrutados e com termo de consentimento assinado.

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 55 14/09/2009 18:01:02

Page 12: brailian - SBGG

56 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(2):53-61

torrelato de atividade física semanal, com res-posta dicotômica;

g) suporte social percebido – para medir o supor-te em termos qualitativos, foram utilizados cin-co itens da Interpersonal Support Evaluation List

(ISEL) (itens 5, 7, 18, 22 e 38)15,16, respondidos mediante escala de quatro pontos. O escore má-ximo possível é 20. O suporte quantitativo foi indicado pelo número de amigos e parentes que compõem a rede social mais próxima.

Análise de dados

Os dados foram analisados com o auxílio do softwa-re SPSS (Statistical Package for Social Sciences), versão 11.0. Foram feitas análises de frequência, posição e dispersão. Nas análises bivariadas, as variáveis gêne-ro e grupo de idade entraram como controles, assim como nas análises de regressão logística.

reSultaDoS

Na amostra de 956 idosos, a maioria era mulheres (71,8%) e a média de idade foi de 72,37 ± 8,23 anos; 41% tinham de um a quatro anos de escola-ridade, 22% tinham de cinco a oito, 17% tinham mais de 11 anos e apenas 4% nunca haviam fre-quentado escola. A média de anos de escolarida-de foi de 6,97 ± 4,45. A renda familiar mensal foi comparável entre as três faixas previamente defini-das: de 1 a 2 salários mínimos (SM), 19%; de 3 a 4 SM, 27%; de 5 a 8 SM, 26%; e mais que 8 SM, 28%. Por ocasião da coleta de dados, a maioria não trabalhava (Tabela 2).

Metade (51,1%) dos entrevistados relatou ter hipertensão, 20,1% disseram ter doença do coração e 23,8% revelaram ter taxas altas de colesterol. Ou-tras doenças citadas foram diabetes (11,7%), câncer (5,2%) e derrame (3,1%); 62,3% estavam tomando mais que duas medicações por dia e 17,5% relata-ram ao menos uma hospitalização no ano anterior. A grande maioria (70,5%) classificou a própria saúde como boa, muito boa ou excelente (Tabela 2). Poucos relataram serem tabagistas (7,7%) ou consumirem bebidas alcoólicas (10%); 53,2% exercitavam-se ao menos duas vezes por semana. Para 87,4%, o apoio afetivo, informacional e instrumental era satisfatório. Os familiares foram citados por 60,3% dos idosos e os amigos por 42,6%, como participantes de sua rede de apoio (Tabela 3).

autorrelatada (doenças somáticas diagnosticadas nos últimos cinco anos, sintomas e sinais de tabagismo e alcoolismo, frequência de visitas ao médico no último ano, consumo de medicamentos)8, padrões de sono17, independência funcional em atividades da vida diária (AVD) e atividades instrumentais da vida diária (AIVD)12,13 e avaliação subjetiva da própria saúde física, atual e comparada com outras pessoas da mesma idade8; d) história de vida, indi-cada por experiências afetivas, sociais e educacionais da infância (crises financeiras na família, doenças e acidentes, imagem social na infância)8; e) satisfa-ção pessoal global com a vida e aceitação da pró-pria velhice8; f ) suporte social percebido (frequência de contatos com os parentes, origem das amizades, avaliação qualitativa do suporte social)15,16; g) espi-ritualidade e religiosidade (afiliação religiosa, signi-ficado da espiritualidade e da religiosidade, tipo e frequência das práticas religiosas)8; h) saúde mental medida de sintomas depressivos, conforme a Escala de Depressão do Centro de Estudos Epidemiológi-cos (CES-D)9 e a Geriatric Depression Scale (GDS)10; i) status cognitivo11,12; j) experiência de eventos de vida positivos e negativos (tipo, ocasião e intensi-dade da vivência de eventos positivos e negativos)18;

estratégias de enfrentamento e senso de autoeficácia do enfrentamento19.

Neste estudo, as variáveis analisadas foram as seguintes:

a) variáveis sociodemográficas – as variáveis analisa-das incluíram idade (grupos com 60 a 69, 70 a 79 ou 80 anos e mais), gênero, status conjugal, ocu-pação, renda e escolaridade;

b) saúde percebida autorrelatada – item que solicitou ao idoso que avaliasse sua saúde física geral como excelente, muito boa, boa, razoável ou péssima;

c) uso de medicação – autorrelato dos idosos sobre o uso atual de medicação receitada por médico ou consumida por conta própria (sim ou não e número);

d) hospitalização – autorrelato da ocorrência de pelo menos um dia de hospitalização no último ano;

e) comorbidades – autorrelato de diagnóstico médi-co de diabetes, doença cardiovascular, câncer ou derrame;

f ) comportamentos de saúde – autorrelato de con-sumo de álcool e tabaco nas seguintes catego-rias: “consome atualmente”, “nunca consumiu” e “ex-consumidor”. Selecionou-se, ainda, o au-

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 56 14/09/2009 18:01:02

Page 13: brailian - SBGG

57estudo PeNSa: dados preliminares

tabela 2. distribuição das variáveis sociodemográficas e de saúde. Idosos (2002-2003)

n

Mulheres 686 (71,8%)

Grupos de idade60-6970-79≥ 80

382 (40%)388 (40,6%)185 (19,4%)

OcupaçãoSem qualificação 634 (66,2%)

Educação< 2º grau 642 (67%)

Saúde autorrelatadaExcelente, muito boaBoaRazoável/Péssima

268 (28%)405 (42,5%)281 (29,5%)

Saúde em comparação com outros da mesma idade

MelhorIgualPior

623 (65,4%)268 (28,2%)

61 (6,4%)

Número de doenças01 a 34 ou mais

93 (9,7%)475 (49,8%)387 (40,5%)

Hospitalização ano anteriorNão 787 (82,2%)

Número de medicamentos0 ou 1Mais de 2

361 (37,7%)595 (62,3%)

Doenças cardíacasSim 193 (20,1%)

HipertensãoSim 489 (51%)

Colesterol altoSim 228 (23,8%)

DiabetesSim 112 (11,7%)

tabela 3. distribuição das variáveis relativas a estilos de vida, atividade física e suporte social percebido. Idosos (2002-2003)

totaln

Uso de álcoolNunca bebeuBebe atualmente

856 (90%) 96 (10%)

Atividade físicaMenos que 3 vezes por semana≥ 3 vezes por semana

510 (53,2%)443 (46,7%)

Suporte qualitativo ≤ 13> 13

105 (11%)837 (87,4%)

Suporte quantitativoAmigos (0-30)

≤ 2> 2

Família (0-30)≤ 2> 2

528 (55,1%)413 (42,6%)

372 (38,8%)575 (60,3%)

Como apresentado nas tabelas 4 e 5, foram ob-servadas relações estatisticamente significativas entre gênero e a maioria das variáveis sociodemográficas, de saúde física, estilo de vida, saúde mental e supor-te social percebido. As mulheres apresentaram nível educacional e ocupacional mais baixo que os ho-mens, consumiam mais medicações que os homens e tinham mais hipertensão. Homens e mulheres não diferiram significativamente quanto à presença de doenças cardíacas, diabetes, derrame ou câncer, nem quanto ao número de hospitalizações no último ano (Tabela 4). As mulheres fumavam, bebiam e se exer-citavam significativamente menos que os homens.

Os grupos não diferiram quanto ao suporte social percebido (Tabela 5).

Os idosos mais velhos (70-79 e 80-89 anos) con-sumiam mais medicamentos que os de 60 a 69 anos, tinham menor frequência de fumantes, mais abstê-mios de álcool e se exercitavam menos que os mais novos. Nenhuma diferença de idade foi encontrada para suporte social percebido. Os idosos de 70 a 79 e 80 a 89 tinham nível educacional e ocupacional mais baixo que os de 60 a 69 anos (Tabela 4).

DiScuSSão

O envelhecimento bem-sucedido é o desfecho de in-teresse para a saúde pública de países desenvolvidos e em desenvolvimento, porém com mais demandas para estes últimos, de modo especial para o Brasil20. Syme21 destaca a necessidade de promover a compreensão dos processos de envelhecimento e recomendou pesquisas para criar iniciativas de promoção do envelhecimento bem-sucedido.

Não completaram a entrevista domiciliar (12% contra 7,5%) no PENSA menos idosos que no SABE. É possível que a interrupção possa ter ocorrido por in-fluência da presença dos familiares, talvez motivados pela crença de que os idosos estavam bem assistidos em termos de saúde e assim não precisavam partici-par. Futuros estudos deveriam considerar a presença

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 57 14/09/2009 18:01:02

Page 14: brailian - SBGG

58 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(2):53-61

tabela 5. Razões de associação das variáveis de estilo de vida, atividade física e suporte social percebido com idade e gênero. Idosos (2002-2003)

Grupos etários Gênero

70-79388 (40,5)

> 80185 (19,3)

60-691

384 (40,1)Feminino687 (71,8)

Masculino1

270 (28,2)

ora orb ic Sig or ic Sig

Uso de tabacoFumante 0,62 0,13 0,04-0,43 0,001b 0,58 0,36-0,95 0,03

Uso de álcoolConsumidor 0,57 0,54 0,29-0,99 0,049b 0,17 0,11-0,27 0,00

Atividade física ≥ 3 vezes por semana 0,79 0,47 0,33-0,67 0,001b 0,61 0,46-0,81 0,00

Suporte social qualitativo > 13 pontos 1,75 1,76 0,97-3,16 0,06b 0,61 0,37-1,00 0,05

Suporte social quantitativo> dois amigos> dois familiares

0,870,92

0,711,22

0,50-1.08 0,051b

0,85-1,78 0,271b0,130,98

0,95-1.00 0,130,94-1,02 0,29

1 Grupo de referência para gênero (masculino) e para idade (> 80 anos).

OR: razão de risco; IC: intervalo de confiança significativo para a razão de risco.

tabela 4. Razões de associação de variáveis sociodemográficas e de saúde com gênero e idade. Idosos (2002-2003)

Grupos etários Gênero

70-79388 (40,5)

> 80185 (19,3)

60-691

384 (40,1)Feminino687 (71,8)

Masculino1

270 (28,2)

ora orb ic Sig or ic Sig

OcupaçãoAlguma qualificação 0,77 0,71 0,48-1,02 0,059b 0,21 0,16-0,28 0,00

Educação> 2º grau 0,59 0,53 0,43-0,79 0,001b 0,52 0,39-0,70 0,00

Saúde autorrelatadaExcelente/Muito boa/Boa 0,83 0,83 0,61-1.29 0,23b 0,75 0,55-1,03 0,08

HospitalizaçãoSim 0,76 0,65 0,42-1,02 0,06b 1,05 0,80-1,05 0,80

Número de medicações (2-8) 1,63 3,27 2,18-4,88 0,001b 2,38 1,79-3,18 0,00

Doenças cardíacasSim 1,00 1,41 0,93-2,15 0,10b 1,15 0,81-1,66 0,42

HipertensãoSim 1,12 1,04 0,74-1,48 0,81b 1,75 1,32-2,33 0,00

Colesterol altoSim 0,89 0,66 0,43-1,02 0,06b 1,95 1,35-2,81 0,00

DiabetesSim 1,12 1,02 0,58-1,77 0,61b 1,42 0,89-2,27 0,14

1 Grupo de referência para gênero (masculino) e para idade (> 80 anos).

OR: razão de risco; IC: intervalo de confiança significativo para a razão de risco.

de parentes durante a apresentação do estudo e o pro-cesso de assinatura do termo de consentimento para garantir a compreensão do objetivo da pesquisa. Além disso, cogita-se que pelo menos parte dos idosos mais

velhos, mais doentes ou mais comprometidos com cuidados possa ter tido piora em seu estado de saúde, o que explicaria a não participação na sessão de coleta previamente agendada.

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 58 14/09/2009 18:01:02

Page 15: brailian - SBGG

59estudo PeNSa: dados preliminares

Os participantes tinham o direito incondicional de recusar-se a participar ou de retirar-se a qualquer momento – 36% recusaram-se. Grady22 relatou a im-portância de remunerar os participantes. Esta prática é legítima, mas não é corrente em estudos brasileiros, ficando a sugestão para que novas pesquisas analisem a possibilidade.

A amostra era representativa dos 13 bairros onde a pesquisa foi realizada, mas há limites quanto ao grau em que representa estratos populacionais mais am-plos, uma vez que Juiz de Fora tem taxa de idosos de nível educacional mais alto do que outras cidades brasileiras. Comparando com a população brasilei-ra, a amostra do presente estudo apresentou menor percentual de analfabetismo e maior percentual de escolaridade superior23. A taxa de idosos com nível de escolaridade superior foi similar à encontrada pelo Epidoso (27,9%), realizada em bairro de São Paulo com população diferenciada em termos socioeconô-micos; foi superior às taxas do BHAS e do SABE. Os altos níveis de escolaridade são provavelmente devidos a um fator histórico: Juiz de Fora é caracte-rizada por padrão de alto nível educacional, desde a sua fundação por imigrantes europeus24-27. Os bairros que concentram mais idosos da cidade são os mais antigos, e concentram idosos com melhor padrão de vida, fatores que, com certeza, repercutiram nas ca-racterísticas da amostra.

Quanto à idade, os resultados do PENSA são levemente diferentes dos relatados pelo SABE e pelo BHAS e mais similares aos do estudo epide-miológico Epidoso. A média de idade no SABE e no BHAS foi de 68 anos, enquanto a do PENSA foi de 72 anos. O PENSA teve mais mulheres (71,8%) que o Epidoso (65,5%), o BHAS (60,8%) e o SABE (58,8%), possivelmente em razão da téc-nica de amostragem utilizada (em amostras alea-tórias os fenômenos tendem a ser representados na mesma proporção em que aparecem na população). É provável que seja mais fácil encontrar mulheres que homens em casa em determinados períodos do dia, principalmente nas coortes mais jovens. Por moti-vos culturais, as mulheres reconhecidamente aderem mais a quaisquer iniciativas em favor do autocuidado à saúde que os homens.

A maioria classificou sua saúde como boa, si-milarmente às percentagens relatadas pelo Epidoso (54,6%) e pelo BHAS (42,3%). Como no SABE e no Epidoso, 93% da amostra relatou ter ao menos uma doença diagnosticada pelo médico e 63% esta-vam tomando duas ou mais medicações. No PENSA,

17% dos idosos relataram uma hospitalização no ano anterior, dado similar aos dos dados da Pesquisa Na-cional por Amostra de Domicílios promovida pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-tica (PNAD)28 (15,2% em 2000).

Os idosos avaliaram a própria saúde como boa ou muito boa, mesmo que na presença de indicadores de doenças. Pode-se conjeturar que essas avaliações te-riam sido mediadas pela satisfação com a rede de su-porte social disponível, como sugerido pela literatura gerontológica29. Ainda, é possível que tenham levado em consideração o fato real ou presumido de que a maior parte dos pares de idade esteja em pior situação de saúde ou já tenha morrido.

Embora a literatura30 mostre que, de modo geral, ocorre descontinuidade no funcionamento depois dos 80 anos, o PENSA não encontrou idosos de 80 anos ou mais significativamente mais doentes que os mais jovens, embora sua probabilidade de consumo de re-médios tenha sido cerca de três vezes mais alta que entre os idosos mais jovens, talvez por viés da seleção, pois foram convidados apenas idosos com aparência saudável e, possivelmente, mais ativos e envolvidos, haja vista os escores de suporte social percebido. Gar-cez-Leme, Leme e Espino20 apontaram para o papel do suporte social como recurso benéfico à adaptação.

As mulheres estão em desvantagem quanto à esco-laridade, à ocupação e à saúde física, dado que deve merecer atenção dos planejadores de políticas públi-cas em saúde e em educação ao longo de toda a vida.

concluSão

O PENSA foi um estudo fundamentado em medidas de autorrelato, muitas delas talvez não satisfatoriamen-te validadas para a língua portuguesa falada no Brasil. As medidas foram aplicadas à amostra sistemática de idosos residentes em bairros escolhidos da cidade de Juiz de Fora e não necessariamente representam ou-tras cidades brasileiras do mesmo porte. Delineiam-se aí os principais limites à generalidade dos dados. A despeito das limitações, o estudo oferece dados interessantes sobre a qualidade de vida dos idosos e podem ser úteis para subsidiar políticas públicas, en-sino em Psicologia e em Medicina e pesquisa sobre o envelhecimento. Novas ondas de medidas com a amostra do PENSA poderão contribuir para explicar ou refinar os dados e a metodologia utilizada no pre-sente estudo.

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 59 14/09/2009 18:01:02

Page 16: brailian - SBGG

60 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(2):53-61

aGraDeciMentoS

Aos idosos, ao Conselho Nacional de Desenvolvi-mento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio do Programa de Fixação de Doutores (Profix), aos bolsistas de iniciação científica e aos profissionais de suporte técnico, notadamente, Cristiane Novaes, Andréa Fortes, Kelly Silva e Eliane Banhato, e aos estudantes de Psicologia matriculados na disciplina Treino de Pesquisa entre 2001 e 2004 na UFJF, que atuaram como recrutadores e entrevistadores.

reFerÊnciaS

1. World Health Organization (WHO). A life course perspective of maintaining independence in older age. Prepared by Claudia Stein and Inka Moritz under the guidance of WHO’S Ageing and Health. Geneva: World Health Organization; 1999.

2. Lebrão ML, Duarte YAO (organizadores). SABE – saúde, bem-estar e envelhecimento – o projeto SABE no município de São Paulo: uma abordagem inicial. Brasília: Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/OMS). Brasília: Athalaia Gráfica; 2003.

3. Lima-Costa MFF, Uchôa E, Guerra HL, Firmo JO, Vidigal PG, Barreto SM. The Bambuí Health and Ageing Study (BHAS): methodological approach and preliminary results of a population-based cohort study of the elderly in Brazil. Rev Saude Publica. 2000;34(2):126-35.

4. Ramos LR. Fatores determinantes do envelhecimento saudável em idosos residentes em centro urbano: Projeto Epidoso, São Paulo. Rev Saude Publica. 2003;19(3):793-8.

5. Wethington E. An overview of the life course perspective: implica-tions for health and nutrition. J Nutr Educ Behav. 2005;37(3):115-20.

6. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censo de-mográfico. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Es-tatísticas; 2000.

7. Wu CC, Mungas D, Petkon CI, Eberling J, Zrelak PA, Buonocore MH, et al. Brain structure and cognition in a community sample of elderly Latinos. Neurology. 2002;59(3):383-91.

8. González HM, Haan MN, Hinton L. Acculturation and the prev-alence of depression in older Mexican-Americans: baseline results of the Sacramento Area Latino Study on Aging. JAGS. 2001;49(7):948-53.

9. Silveira DX, Jorge MR. Escala de rastreamento populacional para depressão (CES-D) em populações clínicas e não clínicas de adolescentes e adultos jovens. In: Gorenstein C, Andrade LHSG, Zuardi AW, organizadores. Escalas de avaliação clínica em Psiquiatria e Psicofarmacologia. São Paulo: Lemos Editorial; 2000. p. 125-35.

10. Almeida OP, Almeida SA. Short versions of the geriatric depres-sion scale: a study of their validity for the diagnosis of a major depressive episode according to ICD-10 and DSM-IV. Int J Geriatr Psychiatry. 1999;14(10):858-65.

11. Herrera E Jr, Caramelli P, Silveira AS, Nitrini R. Epidemiologic sur-vey of dementia in a community-dwelling Brazilian population. Alzheimer Dis Assoc Disord. 2002;16(2):103-8.

12. Bertolucci PH, et al. Desempenho da população brasileira na ba-teria neuropsicológica do Consortium to Establish a Registry of Alzheimer Disease (CERAD). Rev Psiq Clin. 2001;25(20):80-6.

13. Katz S, Ford AB, Moskowitz RW, Jackson BA, Jaffe MW. Studies of illness in the aged. The Index of ADL: a standardized measure of biological and psychosocial function. JAMA. 1963;185:914-9.

14. Lawton MP, Brody EM. Assessment of older people: self-main-taining and instrumental activities of daily living. Gerontologist. 1969;9(3):179-86.

15. Cohen S, Mermelstein R, Kamarck T, Hoberman HM. Measuring the functional components of social support. In: Sarason IG, Sara-son BR, editores. Social support: theory, research, and applica-tions. The Hague: Martinus Nijhoff; 1985. p. 73-94.

16. Martire LM, Schulz R, Mittelmark MB, Newsom JT. Stability and change in older adults’ social contact and social support: the Cardiovascular Health Study. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 1999;54(5):S302-11.

17. Gorenstein C, Tavares S, Alóe F. Questionários de autoavaliação de sono. In: Gorenstein C, Andrade LHSG, Zuardi AW. Escalas de avalia ção clínica em Psiquiatria e Psicofarmacologia. São Paulo: Lemos Editoral; 2000. p. 423-9.

18. Aldwin CM. The Elders Life Inventory (ELSI): egocentric and non-egocentric stress. In: Stephens MAP, Hobfoll SE, Crowther JH, Tennenbaum DL, organizadores. Stress and coping in late life families. Nova York: Hemisphere; 1990.

19. Aldwin CM, Sutton KJ, Lachman M. The development of coping resources in adulthood. J Pers. 1996;64(4):837-71.

20. Garcez-Leme LE, Leme MD, Espino DV. Geriatrics in Brazil: a big country with big opportunities. J Am Geriatr Soc. 2005;53(11): 2018-22.

21. Syme SL. Psychosocial interventions to improve successful aging. Ann Intern Med. 2003;139(5 Pt 2):400-2.

22. Grady C. Payment of clinical research subjects. J Clin Invest. 2005; 115(7):1681-7.

23. IBGE/Censo demográfico 2000 e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 1992 a 1993, 1995 a 1999 e 2001 a 2004 [acesso em 2004 Aug 30]. Disponível em: http://www.ibge.gov.br.

24. Cupertino APFB, Neri AL, Batistoni SST. Effects of subjective appraisals concerning health, social support and spirituality on depression: data from PENSA. Gerontology. International Journal of Experimental, Clinical and Behavioural Gerontology, Rio de Ja-neiro, 26-30 June 2005. In: The 18th Congress of the International Association of Gerontology, Basel: Karger; 2005. v. 51, p. 40-9.

25. Aikawa A, Carvalho M, Neri AL, Cupertino APFB, Oliveira BHD, Batistoni SST. Number of somatic illnesses, perceived health and depression in Brazilian community-dwelling elderly: data from PENSA. Gerontology. International Journal of Experimental, Clinical and Behavioural Gerontology, The 18th Congress of the International Association of Gerontology, Rio de Janeiro, 26-30 June 2005. In: The 18th Congress of the International Association of Gerontology, Basel: Karger; 2005. v. 51, p. 100-39.

26. Fontes AP, Rabelo DF, Lopes ESL, Batistoni SST, Cupertino APFB, Neri AL. Perceived health, social support and depression in a Brazilian community-dwelling elderly: data from PENSA. Geron-tology. International Journal of Experimental, Clinical and Behav-ioural Gerontology, Rio de Janeiro, 26-30 June 2005. In: The 18th Congress of the International Association of Gerontology, Basel: Karger; 2005. v. 51, p. 327.

27. Carvalho DC, Falcão FCO, Batistoni SST, Cupertino APFB, Neri AL. Independence in IADLs, sleep quality and depression in a Brazilian community-dwelling elderly: data from PENSA. Gerontology. Interna-

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 60 14/09/2009 18:01:02

Page 17: brailian - SBGG

61estudo PeNSa: dados preliminares

tional Journal of Experimental, Clinical and Behavioural Gerontology, Rio de Janeiro, 26-30 June 2005. In: The 18th Congress of the Inter-national Association of Gerontology, Basel: Karger; 2005. p. 427.

28. Lima-Costa MFF, Guerra HL, Barreto SM, Guimarães RM. Diag-nóstico da situação de saúde da população idosa brasileira: um estudo da mortalidade e das internações hospitalares públicas. Informe Epidemiológico do SUS. 2000;9(1):23-41.

29. Carstensen LL. Motivação para o contato social ao longo do curso da vida: uma teoria de seletividade socioemocional: temas sele-cionados na perspectiva de curso da vida. In: Neri AL, editor. Psi-cologia do envelhecimento. Campinas: Papirus; 1995. p. 111-44.

30. Baltes PB, Smith J. New frontiers in the future of aging: from successful aging of the young old to the dilemmas of the fourth age. Gerontology. 2003;49(2):123-35.

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 61 14/09/2009 18:01:02

Page 18: brailian - SBGG

artiGo oriGinal

Significados de velhice saudável e avaliações subjetivas de saúde

e suporte social entre idosos recrutados na comunidade

Meanings of successful aging, self rated health and perceived social support in community dwellling elderly

Fernanda Heringer Moreira Rosa1, Ana Paula Fabrino Bretas Cupertino2, Anita Liberalesso Neri3

Endereço para contato: Fernanda Heringer Moreira Rosa • Rua Claudio Coutinho, 408, Bairro 5º BEC – 76980-000 – Vilhena, RO • E-mail: [email protected]

1 Universidade da amazônia (Unama).2 University of Kansas Medical Center, department of Preventive Medicine, USa.3 Faculdade de educação e Faculdade de Ciências Médicas da Universidade estadual de Campinas (Unicamp) − Programa de Pós-Graduação em Gerontologia.

Recebido em 13/7/2009aceito em 9/8/2009

ReSUMOobjetivo: De acordo com idosos recrutados na comunidade, investigar significados de envelhecimento bem-sucedido e identificar relações entre os significados e idade, gênero, escolaridade, saúde autorrelatada e suporte social percebido. Participantes: Foi utilizado o banco de dados do Estudo dos Processos de Envelhecimento Saudável (n = 716; 70,2% mulheres, média de idade = 72 ± 8,6). instrumentos: Questionário sociodemográfi-co com um item escalar avaliando saúde percebida; cinco itens escalares avaliando suporte social percebido; e duas questões abertas investigando significados de velhice bem-sucedida. resultados: Os temas derivados da análise de conteúdo dos significados associados à velhice saudável: saúde e independência física e mental, ajustamento psicológico, relações sociais positivas, engajamento ativo com a vida, orientação ao bem-estar dos outros, presença de recursos materiais e crença na impossibilidade de velhice bem-sucedida. Os idosos entre 60 e 69 anos apontaram mais engajamento ativo com a vida que os de 80 anos ou mais; os com menos de oito anos de escolaridade apontaram mais saúde e independência física e mental que os com mais anos de estudo. Com exceção de ajustamento psicológico, em que as mulheres pontuaram mais alto que os homens, não houve diferenças entre os gêneros. Relações sociais positivas foi o tema mais frequente entre os com suporte social baixo e moderado. Ajustamento psicológico e espiritualidade e religião relacionaram-se com melhores avaliações da saúde. conclusões: O envelhecimento bem-sucedido é construto multidimensional e está relacionado com as avaliações subjetivas de saúde e suporte social. As especificidades da amostra podem ter afetado a homoge-neidade dos resultados.

Palavras-chave: Velhice bem-sucedida, saúde percebida, suporte social percebido, idosos, análise de conteúdo.

abSTRaCTobjective: Investigating relationships among age, gender, educational level, and meanings of successful aging, perceived health and perceived social support according community-dwelling elderly. Participants: Data were gathered from the data set of a survey about conditions of successful aging (n = 716; 70,2% women; mean age 72 ± 8,6). They answered two open questions about the meaning of successful aging, five scales about perceived social support, one scale about perceived health, and a socio-demographic questionnaire. results: The themes derived from content analysis were: health and functional independence, psychological adjustment, positive social relationships, active engagement with life, orientation to the well-being of others, owning of material resources and belief on the impossibility of successful aging. Those aged 60 to 69 pointed more frequently to active engage-ment with life than those aged 80 did; those with less of eight years of education pointed more to health and functional independence than the most educated did. There were no differences due to gender concerning the meanings, with exception of psychological adjustment, where women scored higher than men. Positive social

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 62 14/09/2009 18:01:03

Page 19: brailian - SBGG

63Velhice saudável em idosos da comunidade

profissionais, a noção de velhice saudável abrange tam-bém as noções de estar bem consigo mesmo, sentir-se realizado e no domínio das próprias capacidades, ter boa capacidade cognitiva e espiritualidade.

As crenças pessoais sobre velhice bem-sucedida ou saudável podem ser importantes mediadores da obtenção de produtos comportamentais que favore-cem a adaptação dos idosos. Critérios subjetivos (por exemplo, satisfação com a vida, autodefinição de ve-lhice e saúde percebida) são apontados como impor-tantes preditores de velhice bem-sucedida, superando efeitos de critérios objetivos (por exemplo, número de doenças e sintomas depressivos). As autoavaliações positivas sobre a velhice podem afetar o funciona-mento cognitivo, bem como relacionar-se com maior vontade de viver e com níveis menos intensos de res-posta cardiovascular ao estresse5.

A definição de velhice bem-sucedida ou saudável entre os idosos gira em torno dos seguintes domínios: a) físico: saúde física, capacidade funcional – espe-cialmente focada nas capacidades de autocuidado –, evitação de fatores de risco, como o uso de álcool e tabaco, envolvimento com atividades físicas, fazer visitas regulares ao médico, entre outros; b) social: engajamento em atividades de lazer, trabalho (por exemplo, satisfação com a carreira profissional), pre-sença de suporte social formal e informal (de amigos e de família) e ter pensão adequada, entre outros; c) emocional: satisfação com a vida geral e com a saúde em particular; d) pessoal: ter atitudes favoráveis ao envelhecimento, senso de controle, transmissão de sabedoria e conhecimento para pessoas mais jovens, entre outros6.

Saúde percebida é a avaliação feita pelo indivíduo com base em critérios pessoais, referenciados a valo-res e expectativas sociais e individuais, bem como a mecanismos de comparação social e temporal. Prediz mortalidade e declínio funcional independentemente de condições objetivas de saúde7. Permanece estável ao longo da velhice, a não ser na presença de comorbida-

introDução

O conceito do senso comum sobre velhice saudável reflete os dois modelos de velhice bem-sucedida pre-dominantes na literatura gerontológica: o de Rowe e Kahn1 e o de Baltes e Baltes2. Para Rowe e Kahn1, o envelhecimento bem-sucedido é caracterizado por baixo risco para doenças e incapacidades funcionais, atividade e envolvimento social. Os autores apontam a necessidade de orientação preventiva que vise ao monitoramento perió dico e à ação interventiva (por exemplo, dieta e exercícios físicos), que favorecem a atividade e o envolvimento social, vistos como pro-dutos da decisão e da iniciativa individuais. Baltes e Baltes2 definem velhice bem-sucedida como fenôme-no dependente do equilíbrio entre a compensação das perdas associadas ao envelhecimento e da otimi-zação das potencialidades individuais por meio de ações educativas, médicas, sociais ou arquitetônicas iniciadas por outrem e por meio de ações iniciadas pelo próprio indivíduo. Acreditam que velhice bem-sucedida não se restringe às circunstâncias dessa fase, mas é produto da interação de influências genético-biológicas e socioculturais ao longo de toda a vida. Na velhice, processos de seleção, otimização e com-pensação, bem como os recursos do self em interação com o apoio social disponível, podem promover a resiliência, a manutenção e até mesmo o aumento da funcionalidade em domínios selecionados. Segundo Baltes e Carstensen3, envelhecer com sucesso é fazer o melhor possível com os recursos físicos, sociais e psicológicos disponíveis.

O termo velhice bem-sucedida tem amplo trânsi-to dentro da Gerontologia desde sua proposição por Havighurst, como pano de fundo conceitual para o Kansas City Study of Adulthood and Aging e para a teo-ria do afastamento4. No Brasil, seu uso é mais recente e restrito a profissionais, ao passo que o termo velhice saudável é mais corrente entre os leigos, mais que o ter-mo velhice ativa, associado principalmente à prática de exercícios físicos e ao envolvimento social. Para leigos e

relationships were more frequent among participants with low and moderate scores in perceived social support. Mentions to psychological adjustment, spirituality and religion were more frequent among the participants with the highest scores of perceived health conclusions: Successful aging is a multidimensional construct which interacts with personal assessments about health and social support. Particular features of the sample may have affected the relative homogeneity observed in the results.

Keywords: Successful aging, health-self-rated, social support-self-rated, older adults, content analysis.

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 63 14/09/2009 18:01:03

Page 20: brailian - SBGG

64 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(2):62-69

des, depressão, incapacidade e dor, mas, mesmo assim, a magnitude do declínio das avaliações positivas é ge-ralmente pequena8,9. É indicador do nível individual de bem-estar e pode influenciar a motivação e a qua-lidade de vida das pessoas. Na pesquisa de Scheneider et al.10, com idosos hospitalizados, a avaliação subjetiva da saúde correlacionou-se mais com a diminuição da capacidade funcional do status clínico objetivo. Foi preditiva de cuidados com a saúde e do consumo de medicamentos. Pareceu influenciada por traços de per-sonalidade, depressão e queixas físicas subjetivas.

Strawbridge, Wallhagen e Cohen11 analisaram a utilidade relativa dos critérios de saúde objetiva, de-finida pelos critérios de Rowe e Kahn1, e de pergun-ta avaliando saúde percebida para aferir a qualidade do envelhecimento de idosos de 65 a 97 anos. Cin-quenta por cento dos idosos disseram que estavam envelhecendo bem, mas apenas 18,3% objetivamente estavam, de acordo com os critérios de Rowe e Kahn1. Dos 163 idosos bem-sucedidos por estes critérios, 36,8% não se descreveram como tal. Dos 704 que pontuaram baixo nestes critérios, 47,3% disseram que estavam envelhecendo bem.

O suporte social pode melhorar a adaptação de idosos com vulnerabilidades físicas e sociais. Os ido-sos o consideram essencial ao seu bem-estar. Ao con-trário do que vulgarmente se pensa, a diminuição do tamanho da rede de relações sociais e da intensidade e da variabilidade da expressão emocional não são ne-cessariamente sinais de patologia. Conforme o mode-lo de seletividade socioemocional na velhice, ocorre processo adaptativo de seleção de parceiros emocio-nalmente significativos e de focos de investimento afetivo, em decorrência da diminuição da expectativa de sobrevivência e da necessidade de poupar recursos para investir em alvos mais relevantes e que acarretem mais bem-estar psicológico12.

Os idosos brasileiros relacionam envelhecimento saudável com estabilidade psíquica, autonomia e in-dependência funcional13, autoavaliações positivas de saúde, crenças pessoais de significado da vida, suporte psicossocial, independência e relações familiares e de amizade suficientes14. Ainda, que falam menos sobre mudanças na aparência, como sinal de envelhecimen-to; os que trabalham consideram mais as doenças como sinais de velhice que os que não trabalham e o senso de ajustamento psicológico e social é mais po-sitivo entre os que trabalham e menos entre os sem parceiro conjugal15.

Os conceitos de envelhecimento bem-sucedido ou saudável têm forte componente cultural16. Conhecê-los

pode ajudar o profissional a atuar de maneira mais efi-caz no manejo de crenças que afetam a motivação para comportar-se e o autocuidado em saúde.

oBJetiVoS

Investigar os significados atribuídos ao conceito de ve-lhice saudável por idosos brasileiros recrutados na co-munidade e analisar relações entre esses significados, saúde física percebida e suporte social percebido.

MétoDoS

Participantes

Para fins de interesse deste estudo, foram considera-dos os 501 idosos que responderam aos itens do for-mulário do Estudo do Processo de Envelhecimento Saudável (PENSA) – ver artigo intitulado “Processos de Envelhecimento Saudável (PENSA) em idosos da comunidade: delineamento, medidas e dados preli-minares”, neste fascículo. A idade deles variou entre 60 e 99 anos (M = 72 e DP = 8,06); 41,8% tinham de 60 a 69 anos, 39,8%, de 70 a 79 e 18,4%, de 80 anos ou mais; 70,1% eram mulheres; 51,4% eram casados ou tinham companheiro e 48,6% eram viúvos, sepa-rados ou divorciados e não viviam com companheiro; 45,6% tinham menos de quatro anos de escolaridade, 22,3%, de cinco a oito e 32,1%, mais de nove; 18% tinham renda mensal média de 1 a 2 salários míni-mos (SM), 27,6%, de 3 a 4 SM, 26,3% de 5 a 8 SM e 28%, mais de 8 SM. A subamostra era estatistica-mente comparável à amostra total do PENSA.

Procedimento

As variáveis sociodemográficas foram investigadas por meio de cinco itens fechados que perguntavam sobre gênero, idade, escolaridade e estado civil. Para inves-tigar o significado de envelhecimento saudável foram utilizadas as questões: “O que é envelhecimento sau-dável?” e “O que é necessário fazer para conseguir ter um envelhecimento saudável?”. As respostas eram li-teralmente anotadas em uma folha de registro. Saúde física percebida foi avaliada mediante o item: “Gosta-ria que me dissesse como é a sua saúde de modo ge-ral”, respondido mediante a escala com cinco pontos. Suporte social percebido foi avaliado por meio de cin-co itens escalares com cinco pontos cada, conforme procederam Martire et al.17 no Cardiovascular Health

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 64 14/09/2009 18:01:03

Page 21: brailian - SBGG

65Velhice saudável em idosos da comunidade

Study, extraindo-os da Interpersonal Support Evalua-tion List (ISEL)18. Os itens avaliam quatro funções do suporte percebido: tangível (assistência material ou suporte instrumental), pertencimento (identificação com alguém da rede de suporte), autoestima (compa-rações positivas com os outros) e suporte informativo. Tavares19 encontrou índice de confiabilidade interna (a de Cronbach) da ordem de 0,748 para a ISEL em sua versão em português, aplicada a idosos.

Análise de dados

Para a análise das respostas abertas sobre o significado de velhice saudável, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo, dividida em três momentos: a) pré-aná-lise, com leitura flutuante das transcrições brutas para identificar as ideias centrais, com base nos objetivos da pesquisa e no referencial teórico; b) exploração, envolvendo a identificação de unidades de significado e de emissões repetidas e irrelevantes aos objetivos, inferência e interpretação; e c) derivação de temas (8) e categorias de significado (29), que tiveram a con-fiabilidade analisada por dois juízes independentes e exigência de 100% de acordo26. Os dados resultantes da análise de conteúdo e das questões fechadas foram submetidos a tratamentos estatísticos descritivos apro-priados a dados categóricos (X2 e exato de Fischer) e ordinais (teste U de Mann Withney), considerando-se como aceitável o erro de 5% (p ≤ 0,005).

reSultaDoS

A análise de conteúdo resultou nos seguintes temas e categorias: 1. saúde e independência física e mental (ausência de doenças, doenças compensadas, com-portamento de saúde, competência física, compe-tência cognitiva, saúde compatível com a idade); 2. engajamento ativo com a vida (atividades de lazer, ati-vidades produtivas); 3. bem-estar subjetivo; 4. ajusta-mento psicológico (autoaceitação, autodeterminação, autorrealização, qualidade pessoal, espiritualidade e religiosidade, crenças e comportamentos de contro-le); 5. relações sociais positivas (relações familiares harmoniosas, apoios, amizade e companheirismo); 6. orientação ao bem-estar do semelhante; 7. presença de recursos; 8. negação da possibilidade de velhice bem-sucedida.

Mais da metade da amostra indicou o tema saú-de e independência física e mental como importante definidor de velhice bem-sucedida. Em segundo lu-gar, foram mencionados ajustamento psicológico e,

depois, relações positivas e bem-estar subjetivo. Por último, engajamento ativo com a vida, orientação ao bem-estar dos semelhantes, presença de recursos e negação da possibilidade de velhice bem-sucedida. Competência física foi a categoria mais citada no tema saúde e independência física. Em ajustamento psicológico as mais frequentes foram autoaceitação, qualidade pessoal, espiritualidade e religiosidade. Em relações sociais positivas, relações sociais harmonio-sas. Em engajamento ativo com a vida, as atividades de lazer. Em orientação ao bem-estar dos semelhan-tes, o bem-estar do próximo.

Cerca de 70% dos idosos pontuaram alto na ava-liação de saúde, 3,1% classificaram-na como péssima e 26,26% como razoável; 7,7% relataram não ter nenhu-ma doença somática, 29,5%, uma ou duas, 33,4%, três ou quatro e 29,8%, mais de cinco. O número médio de doenças relatadas foi 3,67 (DP = 2,70), sem diferenças significativas por idade e gênero. Os que pontuaram mais alto em saúde autorrelatada falaram significativa-mente mais em significados ligados a ajustamento psi-cológico, espiritualidade e religiosidade. Relações sociais positivas obteve maior frequência entre os indivíduos que apontaram saúde boa e orientação ao bem-estar do semelhante entre os que apontaram saúde excelente ou muito boa (Tabela 1).

tabela 1. Frequências de emissões relativas aos temas ajustamento psicológico, relações sociais positivas e orientação ao bem-estar do semelhante e à categoria espiritualidade e religiosidade, conforme o critério de saúde percebida. Idosos (2002-2003)

temas e categorias

Saúde de modo geral

excelente Muito boa Boa X2

Ajustamento psicológico

SimNão

96107

132171

64146

13,77(**)

Espiritualidade e religiosidade

SimNão

22181

20283

10200

6,00(*)

Orientação ao bem-estar dos semelhantes

SimNão

21182

15288

11199

6,62(*)

Relações sociais positivas

SimNão

43160

94209

53157

6,30(*)

(*) p ≤ 0,05; (**) p ≤ 0,01.

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 65 14/09/2009 18:01:03

Page 22: brailian - SBGG

66 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(2):62-69

DiScuSSão

Os participantes revelaram visão de velhice bem-suce-dida, compatível com os modelos de Baltes e Baltes2 e de Rowe e Kahn1. Eles deram mostras da centra-lidade que a saúde física e o temor da dependência adquirem na velhice20, mas avaliaram a velhice de ma-neira positiva. Provavelmente, suas respostas refletem a ideologia dominante na sociedade. Por outro lado, como apesar dos avanços sociais muitos idosos ain-da convivem com comorbidades, pobreza, cobertura precária do sistema de saúde e com más condições de habitação, saneamento básico e alimentação, pode ser que as emissões relativas à saúde também denotem preocupação com a precariedade das condições em que vivem.

A literatura e a ideologia dominantes sobre velhice apontam para a importância de o indivíduo assumir responsabilidades pelo seu próprio envelhecimento. Essa preocupação esteve presente na amostra, uma vez que, dentre as categorias com maior frequência no tema saúde e independência física e mental, os com-portamentos de saúde apresentaram-se como os se-gundos mais mencionados, perdendo somente para a categoria ausência de doenças. As emissões referentes

aos comportamentos de saúde podem ser indicadoras da busca por recursos que auxiliem não somente a alcançar metas, como também a compensar as perdas que acompanham o envelhecimento. É importante que assim seja, porque a literatura especializada apon-ta que preditores potencialmente modificáveis (por exemplo, fumar, fazer exercício e depressão) influen-ciam a obtenção de velhice bem-sucedida, ou seja, que a proporção de idosos bem-sucedidos na popula-ção pode ser alterada por meios comportamentais6.

A importância dada ao suporte social para o bem-estar do idoso é cada vez mais sólida entre os pesqui-sadores. Os idosos desta pesquisa mencionaram com alta frequência a categoria apoios. A maioria dos ido-sos tem condição de envolver-se em relações de dar e receber apoio. Segundo Camarano et al.21, ocorre forte e crescente intercâmbio entre os idosos e as gera-ções mais novas no Brasil, indicado pelo aumento das taxas de famílias chefiadas por idosos ou para as quais contribuem economicamente. Além disso, o equilí-brio entre o dar e o receber favorece o seu bem-estar psicológico e o seu equilíbrio nas relações interpesso-ais. As relações de troca estão profundamente conec-tadas com a ideologia do envelhecimento produtivo, que compreende não só a dimensão econômica, como também as não materiais, a exemplo das trocas sociais e, em especial, do impacto potencial dos contatos in-tergeracionais na informação e no aconselhamento de pessoas mais jovens22.

Além de apoios, os idosos estão interessados em manutenção ou conquista de relações sociais harmo-niosas, como é comprovado pelas frequentes men-ções das categorias relações familiares harmoniosas e amizades e companheirismo e do tema orientação ao bem-estar dos semelhantes. A redução seletiva de contatos sociais pelos idosos é mecanismo compen-satório adaptativo que permite mais investimento na manutenção do funcionamento diário e nas relações intergeracionais. Além disso, os idosos interessam-se mais pela qualidade que pela quantidade do suporte. Quanto maior a satisfação com o suporte social, me-lhor é a qualidade de vida, o ajustamento psicológico, a saúde percebida e a atividade23.

A presença do tema orientação ao bem-estar dos semelhantes está em concordância com a teoria do desenvolvimento proposta por Erikson24. Para esse au-tor, o conflito típico do envelhecimento dá-se entre as polaridades geratividade × estagnação. O sucesso na resolução desse conflito requer a preocupação e a ação de passar o bastão para a geração seguinte, servir de modelo e ter maior envolvimento com a luta pelo bem

tabela 2. Frequências de emissões relativas aos temas relações sociais positivas e presença de recursos conforme o critério de suporte social percebido. Idosos (2002-2003)

temas e categorias

Suporte social percebido

Baixo Médio alto X2

Relações sociais positivas

SimNão

40160

67128

83238

10,58(*)

Presença de recursosSimNão

24176

17178

18303

6,74

p ≤ 0,05; (*) p ≤ 0,01.

A maioria relatou excelente nível de suporte social, com frequência de resposta “sempre”, que variou entre 61,2% e 81% nos cinco itens da ISEL; 44,83% rela-taram ter alto nível de suporte social, 27,23%, nível moderado e 27,93%, nível baixo (M = 17,7 ± 17,7).

O tema relações sociais positivas foi significativa-mente mais citado pelos idosos que pontuaram, nos níveis intermediários da ISEL, assim como o tema presença de recursos (materiais) (Tabela 2).

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 66 14/09/2009 18:01:03

Page 23: brailian - SBGG

67Velhice saudável em idosos da comunidade

da sociedade como um todo. Observa-se considerável desejo por parte dos idosos de estarem não somente independentes para a realização de atividades de lazer como também de serem úteis para a sociedade e fa-mília em termos econômicos (atividades produtivas). A categoria atividades produtivas obteve mais men-ções que o tema presença de recursos, ou seja, possuir recursos materiais é importante mas não suficiente, talvez porque a produtividade confira mais status e va-lor ao idoso, traduzindo-se em mais aceitação social e mais saúde e vigor25, funcionando, assim, como claro indicador de velhice bem-sucedida. Outrossim, ser produtivo é condição para obter recursos por si mes-mo, sem necessidade de depender de outros. Uma ou-tra possibilidade para se compreender esse dado é que a exacerbada valorização da juventude, da vitalidade e da produtividade econômica, presente na sociedade, determina que o idoso sinta necessidade de se mostrar capaz, para fazer frente aos efeitos do estereótipo nega-tivo e da falta de oportunidades.

O idoso bem-sucedido caracteriza-se, entre ou-tros atributos, por possuir visão positiva do futuro, capacidade de aceitar mudanças, alta autoestima, au-toimagem positiva, senso de autonomia, mecanismos bem desenvolvidos para selecionar metas e objetivos significativos, recursos para otimizar e compensar as perdas (desenvolvimento de estratégias para compen-sar as perdas) e acionar capacidades de reserva. Os componentes do modelo de velhice bem-sucedida, proposto por Baltes e Baltes2, refletiram-se na men-ção a atitudes pessoais em relação à vida e ao envelhe-cimento, no ajustamento psicológico e no bem-estar subjetivo, que apareceram neste estudo. A autonomia é variável crucial à velhice bem-sucedida, pois per-mite aos indivíduos determinar e executar seus pró-prios desígnios. As pessoas que conseguem gerir sua própria vida e determinar quando, onde e como se darão suas atividades de lazer, convívio social e tra-balho consideram-se e são consideradas saudáveis ou bem-sucedidas como idosas23.

As categorias autoaceitação e qualidade pessoal foram as de maior frequência no tema ajustamento psicológico, o que sugere sua relevância para a regu-lação do self, por exemplo, na satisfação com a vida e na consideração de estar envelhecendo bem, uma vez que a boa aceitação de si e a crença de que se possui qualidades pessoais podem auxiliar o idoso quando precisar operar mudanças nos níveis de aspiração e nos focos de comparação social. A comparação so-cial é importante por dois aspectos. Primeiro, por sua relevância em equilibrar as avaliações e valorizações feitas pelo self em relação às características de perso-

nalidade, dos comportamentos, das capacidades, das realizações atuais e passadas, e das opiniões. Segundo, porque a comparação social permite a promoção do desenvolvimento pessoal, em especial quando as pes-soas se comparam com outros que estão em melhor condição que elas23.

Nas comparações por gênero foi observado que, de modo geral, homens e mulheres destacaram os mes-mos domínios como constituintes de velhice bem- sucedida. No entanto, o tema ajustamento psicológi-co e, em especial, as menções à autoaceitação foram mais frequentes entre as mulheres. Talvez isso se deva à influência da ênfase cultural no papel da mulher como cuidadora da família e como alguém que com-preende e medeia as relações entre os filhos e entre estes e o pai. Nesse papel, a mulher tem maior chance de viver experiências emocionais e de aproximar-se de fatores subjetivos ligados à experiência concreta do que no papel de provedor, comumente reservado aos homens. Embora na atualidade ocorram mudanças em relação aos papéis de gênero, as coortes participan-tes deste estudo foram socializadas sob a vigência das normas tradicionais. Por outro lado, a maior frequên-cia de emissões sobre autoaceitação talvez se deva ao peso dos estereótipos de menor capacidade intelectual que tendem a levar as mulheres mais velhas a terem sentimentos de inferioridade, cuja superação pode ser facilitada pela autoaceitação. O mesmo raciocínio se aplica à necessidade de as mulheres se ajustarem a perdas de beleza e atratividade, de saúde e funciona-lidade, que as afeta mais que aos homens, que têm no status derivado da ocupação e da renda elemento compensatório à perda de atratividade física. O tema presença de recursos teve maior frequência entre os homens, fortalecendo a argumentação precedente.

Os idosos jovens (60 a 69 anos) e em idade in-termediária (70 a 79 anos) destacaram mais o envol-vimento ativo com a vida e a ausência de doenças, a competência cognitiva e as atividades de lazer que os de 80 anos ou mais. Este dado possivelmente re-flete o fato de que os idosos jovens (60 a 70 anos) e os de 70 a 79 anos que ainda preservam boa fun-cionalidade têm melhores chances de continuarem ativos e produtivos, ajustados física e mentalmente, de terem reservas de capacidade para novas aprendi-zagens, excelência em inteligência emocional e boa capacidade de lidar com problemas existenciais. En-tretanto, com o avançar dos anos, há descontinui-dade em relação ao funcionamento típico da velhice inicial: os idosos ficam mais expostos à fragilidade, à incapacidade e à multimorbidade; a perdas irrever-síveis no potencial cognitivo e à redução expressiva

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 67 14/09/2009 18:01:04

Page 24: brailian - SBGG

68 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(2):62-69

na capacidade de aprender19. Não por acaso, entre os idosos mais jovens, o bem-estar subjetivo relacio-nou-se mais a fatores extrínsecos, como a atividade e a produtividade, todavia, entre os idosos mais ve-lhos, o bem-estar subjetivo esteve mais ligado a con-dições subjetivas, entre elas o senso de ajustamento, que ganha importância sob condições de perda de saúde, energia e funcionalidade.

As análises apontaram poucas relações significati-vas entre as acepções de velhice bem-sucedida e o nível de escolaridade, possivelmente pela relativa homoge-neidade da amostra quanto à escolaridade e renda e, além disso, às boas condições que a cidade de Juiz de Fora oferece aos seus idosos. Os idosos com até oito anos de estudo citaram com maior frequência possuir saúde e independência física e mental e também ter competência física. Já a autoaceitação foi mais men-cionada por idosos com nove ou mais anos de estudo. Ter mais anos de estudo possibilita melhor renda, sta-tus social mais alto e, sobretudo, o desenvolvimento de mais competências cognitivas e, possivelmente, maior atenção a atributos internos, e não somente a variáveis externas mediadoras de satisfação.

A maior parte da amostra avaliou sua saúde física como excelente, muito boa ou boa. Estudos epide-miológicos conduzidos no Brasil mostraram que a percepção de saúde como boa ou muito boa entre os idosos variou entre 25% em Bambuí27 e em São Paulo28. Isso vem reforçar dados que apontam que critérios objetivos são menos preditores de bem-estar subjetivo que critérios subjetivos23. Os indivíduos que relatam ter más condições de saúde têm risco maior de mortalidade que aqueles que relatam ter boa saúde. Sentimentos menos saudáveis sobre o ci-clo vital podem fazer com que os idosos vivenciem o envelhecimento em termos de declínio físico. Dentre as variáveis que se correlacionaram com a avaliação da saúde, a frequência a cultos religiosos e a satisfa-ção com os relacionamentos pessoais foram as mais frequentes27.

Os respondentes de todas as faixas etárias mos-traram-se satisfeitos com seus relacionamentos, o que confirma suas emissões sobre a importância dos apoios e igualmente os dados da literatura que apon-tam que os idosos não se isolam, mas continuam a manter relações com amigos, em sua maioria antigos, e com a família29. Talvez os idosos que avaliam sua rede de relações como insuficiente para suprir suas necessidades sintam aumentada a sua responsabi-lidade pela busca de recursos materiais. A categoria apoios foi mais frequente entre os idosos que não

possuíam companheiro e o tema presença de recursos foi mais frequente entre os idosos com companheiro. É evidente a preocupação daqueles que vivem sozi-nhos com a possibilidade de ausência de suporte so-cial, uma vez que as redes sociais são recursos-chave, capital social, recurso em tempos de turbulência, con-forto em tempos de dor e recurso de informação em tempo de necessidade, que potencialmente influen-ciam a extensão do suporte30.

Poucos idosos apontaram aspectos do passado como importantes ao envelhecimento bem-sucedi-do. Apenas as categorias comportamentos de saúde e atividades produtivas tinham compreensível aporte a fatos passados, quando se referiam a ter tido bom emprego e começar a se preparar para a velhice desde cedo, pois essas são constatações largamente apoiadas pela experiência, pelo senso comum e pela ideologia de velhice, segundo a qual os idosos são responsáveis pelo seu bom envelhecimento.

concluSÕeS

A análise conceitual de construto contribui não só para sua compreensão, como também para a eluci-dação da direção das influências entre ele e outras variáveis de naturezas objetiva e subjetiva. Os dados replicaram a literatura empírica e corresponderam a modelos teóricos correntes na literatura. Há limites à generalização dos resultados, porque a amostra não foi representativa dos idosos brasileiros ou de ou-tros segmentos populacionais. Estudos futuros, com amostras representativas, deverão verificar a validade desses resultados. Esta investigação também deixa em aberto, para futuras investigações, as relações entre variáveis de autorrelato e variáveis objetivas associa-das à velhice bem-sucedida, assim como a predição de padrões de mortalidade, morbidade, funcionalidade e ajustamento psicológico a partir delas. Ouvir idosos sobre o tema que diz tão de perto ao seu bem-estar ajuda a compreender suas necessidades e demandas. Nesse sentido, pode subsidiar decisões sobre políticas públicas de saúde, promoção e proteção social que permitam melhorar a qualidade de vida de idosos in-dividuais e da sociedade que envelhece.

reFerÊnciaS

1. Rowe JW, Kahn RL. Successful aging. New York: Pantheon Books; 1998.

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 68 14/09/2009 18:01:04

Page 25: brailian - SBGG

69Velhice saudável em idosos da comunidade

2. Baltes PB, Baltes MM. Psychological perspectives on successful aging: the model of selective optimization with compensation. In: Baltes PB, Baltes MM, editores. Successful aging: perspectives from the Behavioral Sciences. New York: Cambridge University Press; 1990. p. 1-34.

3. Baltes PB, Carstensen LM. The process of successful aging. Ageing and Society. 1996;16:397-422.

4. Cumming E, Henry WE. Growing old: The process of disengage-ment. New York: Basic Books; 1961.

5. Hong TB, Oddone EZ, Dudley TK, Bosworth HB. Subjective and objective evaluations of health among middle-aged and older ve-terans with hypertension. J Aging Health. 2005;17(5):592-608.

6. Deep CA, Jeste DV. Definitions and predictors of successful aging: a comprehensive review of larger quantitative studies. Am J Geriatr Psychiatry. 2006;14(1):6-20.

7. Cheng ST, Fung H, Chan A. Maintaining self-rated health through social comparison in old age. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 2007;62(5):P227-85.

8. Miller TR, Volinsky FD. Self-rated health trajectories and mortality among older adults. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 2007;62(1): S22-7.

9. Svedberg P, Gatz M, Lichtenstein P, Sandin S, Pedersen NL. Self-rated health in a longitudinal perspective: a 9 year follow-up twin study. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 2005;60(6):S331-40.

10. Scheneider G, Driesch G, Kruse A, Wachter M, Nehen HG, Heuft G. What influences self-perception of health in the elderly? The role of objective health condition, subjective well-being and sen-se of coher ence. Arch Gerontol Geriatr. 2004;39(3):327-37.

11. Strawbridge WJ, Wallhagen MI, Cohen RD. Successful aging and well-being: self-rated compared with Rowe and Kahn. Gerontolo-gist. 2002;42(6):727-33.

12. Carstensen LM. Motivation for social contact across the life span: a theory of socioemotional selectivity. In: Jacobs JE, editor. Nebraska Symposium on motivation 1992:40:57-97. Lincoln, NE: Nebraska University Press; 1993. p. 209-54.

13. Teixeira MCTV, Schulze CMN, Camargo BV. Representações so-ciais sobre a saúde na velhice: um diagnóstico psicossocial na rede básica de saúde. Estudos de Psicologia. 2002;7(2):351-9.

14. Moraes JFD, Souza VBA. Factors associated with the successful aging of the socially-active elderly in the metropolitan region of Porto Alegre. Rev Bras Psiquiatr. 2005;27(4):302-8.

15. Silva IR, Günther IA. Papéis sociais e envelhecimento em uma perspectiva do curso da vida. Psic: Teor Pesq. 2000; 16(1): 31-40.

16. Matsubayashi K, Ishine M, Wada T, Okumiya K. Older adults’ views of “successful aging”: comparison of older Japanese and Americans. J Am Geriatr Soc. 2006;54(1):184-7.

17. Martire LM, Schulz R, Mittelmark MB, Newsom JT. Stability and change in older adults’ social contact and social support: the Cardiovascular Health Study. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 1999;54(5):302-11.

18. Cohen S, Mermelstein R, Kamarck T, Hoberman HM. Measuring the functional components of social support. In: Sarason G, Sa-rason BR, editores. Social support: theory, research and applica-tions. The Hague: Martinus Nijhoff; 1985. p. 73-4.

19. Tavares SS. Sintomas depressivos entre idosos: relações com classe, mobilidade e suporte social percebidos e experiência de eventos estressantes [dissertação]. Campinas: Universidade Es-tadual de Campinas; 2004.

20. Baltes PB, Smith J. New frontiers in the future of aging: from successful aging of the young old to the dilemmas of the fourth age. Gerontology. 2003;49(2):123-35.

21. Camarano AA, Kanso S, Leitão e Mello J, Pasinato MT. Famílias: espaço de compartilhamento de recursos e vulnerabilidades. In: Camarano AA, organizador. Os novos idosos brasileiros. Muito além dos 60? Rio de Janeiro: IPEA; 2004. p. 137-68.

22. Achenbaum WA. Productive aging in historical perspective. In: Morrow-Howell N, Hinterlong J, Sherraden M, editores. Produc-tive aging: concepts and challenges. Baltimore, Maryland: John Hopkins University Press; 2001. p. 19-36.

23. Neri AL. Qualidade de vida na velhice e subjetividade. In: Neri AL, organizadora. Qualidade de vida na velhice: enfoque multidisci-plinar. Campinas: Papirus; 2007. p. 13-59.

24. Erikson E. Childhood and society. Nova York: WW Nostrand; 1950.

25. Bass SA, Caro FG. Productive aging: a conceptual framework. In: Morrow-Howell N, Hinterlong J, Sherraden M, editores. Produc-tive aging: concepts and challenges. Baltimore, Maryland: The John Hopkins University Press; 2001. p. 37-70.

26. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 1977.

27. Lima-Costa MF, Uchôa E, Guerra HL, Firmo JOA, Vidigal PG, Barreto SM. The Bambuí Health and Aging Study (BHAS): methodological approach and preliminary results of a population-based cohort stu-dy of the elderly in Brazil. Rev Saude Publica. 2000;34(2):126-35.

28. Lebrão ML, Duarte YAO. SABE – Saúde, Bem-Estar e Envelhecimen-to. O Projeto SABE no município de São Paulo: uma abordagem ini-cial. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde (Opas); 2003.

29. Carstensen LM. Motivation for social contact across the life span: a theory of socioemotional selectivity. In: Jacobs JE, editor. Nebraska Symposium on Motivation 1992:40:57-97. Lincoln, NE: Nebraska University Press; 1993. p. 209-54.

30. Krause N. Social support. In: Binstock RM, George LK, editores. Hand book of aging and the social sciences. 5ª ed. San Diego, California: Academic Press; 2001.

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 69 14/09/2009 18:01:04

Page 26: brailian - SBGG

artiGo oriGinal

Significados de religiosidade segundo idosos residentes

na comunidadeMegnings of religiosity among community-dwelling elderly

Marcelo Cardoso de Santana1, Ana Paula Fabrino Bretas Cupertino2, Anita Liberalesso Neri3

Endereço para contato: Marcelo Cardoso de Santana • Rua das Nações Unidas, 34 – 12515-44 – Guaratinguetá, SP • Fone: (12) 3125-6331 • E-mail: [email protected]

1 Comando da aeronáutica de Guaratinguetá, SP.2 University of Kansas Medical Center, department of Preventive Medicine, USa.3 Faculdade de educação e Faculdade de Ciências Médicas da Universidade estadual de Campinas (Unicamp) − Programa de Pós-Graduação em Gerontologia.

Recebido em 13/7/2009aceito em 9/8/2009

ReSUMOobjetivo: Foi conduzido um estudo de levantamento envolvendo idosos residentes na comunidade, com 65 a 103 anos de idade, investigando sua crença religiosa e a importância e os significados por eles atribuídos à religiosi-dade. Método: Os dados pertenciam ao banco de dados de pesquisa sobre condições de velhice bem-sucedida desenvolvido em uma cidade brasileira de médio porte. Entre os 956 idosos da amostra, 361 (71% mulheres; idade média = 71,6 anos ± 8,3) responderam questões sobre crença religiosa e sobre a importância e os significados que atribuíam à religiosidade. Os principais temas derivados da análise de conteúdo foram submetidos à análise estatística, comparando-os às outras variáveis. resultados: A maioria dos idosos era católica e atribuía alto valor à religiosidade em suas vidas. Os principais temas associados à religiosidade foram: fonte de significado existencial, expressão de tradição cultural, regulador moral e estratégia de enfrentamento. Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas em relação a gênero e idade, com exceção de religião, como estratégia de enfrentamento, mais frequente entre as mulheres, e de religião como expressão de tradição cultural, mais cita-da pelos católicos. As principais associações apontadas pela análise de correspondência foram: ser católico, ser mulher, ter 70 anos ou mais, alta frequência de menções à religiosidade como fonte de significado e expressão de tradição cultural e baixa em religiosidade como fonte de transcendência; ser não religioso, ser homem, ter menos de 70 anos e enfatizar a religiosidade como regulador moral e fonte de desenvolvimento pessoal; e ser espírita e enfatizar a religiosidade como busca de transcendência.

Palavras-chave: Idosos, religiosidade, significado existencial, enfrentamento religioso, análise de conteúdo.

abSTRaCTobjective: There was carried out a survey aimed at investigating the religious beliefs, the level of importance and the meanings related to religiosity according community-dwelling elderly aged 65 to 103. Methods: Data were gathered from the data set of a survey about conditions of successful aging developed in a middle sized Brazilian town (n = 956). Among these, 361 (71% women, mean age = 71,6, DP = 8.3) answered questions about their religious beliefs, as well as about the level of importance and the meanings they associated to religiosity. The main themes derived from content analysis were submitted to statistical analysis comparing them to the other variables. results: The majority were Roman Catholic and attributed high value to religiosity in their life. The main themes associated to religiosity were: source of existential meaning, expression of cultural tradition, moral ruler, and coping strategy. There were not observed statistically significant differences due to gender and age, with exception of religion as coping strategy, more frequent among women, and religion as expression of cultural tradi-tion, where the catholic scored higher. The main associations showed by correspondence analysis were: being Roman Catholic, women, aged 70 and more, strong beliefs toward religiosity as source of meaning or expression

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 70 14/09/2009 18:01:04

Page 27: brailian - SBGG

71Velhice e religiosidade

introDução

Religiosidade é construto multidimensional. Suas di-mensões incluem afiliação ou denominação religiosa, frequência a cultos, fundamentalismo, práticas priva-das (exemplos: rezar, meditar e ler livros sagrados) ou públicas (exemplos: ir a cultos, procissões ou roma-rias), enfrentamento religioso, motivação intrínseca ou extrínseca para a religiosidade, experiências de transcendência, bem-estar espiritual e crenças religio-sas (exemplos: na vida após a morte, no sentido do sofrimento ou em um Deus misericordioso)1.

Uma das questões centrais da pesquisa sobre reli-giosidade refere-se à relação entre esse construto e o de espiritualidade. Para Wong e Fry2, a espiritualida-de é mais inclusiva que a religiosidade. Segundo Zin-bauer e Pargament3, não há diferença entre os dois conceitos, o que significa que podem ser usados de maneira indiscriminada, e é o que ocorre na litera-tura que investiga as relações entre essas condições e a saúde. Neste estudo, a religiosidade é considerada como uma das formas de expressão da espiritualidade (assim como a filosofia e as artes), ambas associadas a três necessidades: de significado existencial, de espe-rança e vontade de viver e de ter fé em si mesmo, nos outros ou em uma divindade.

A religiosidade comporta aspectos substantivos e funcionais. Os primeiros dizem respeito à dimensão es-piritual da experiência individual, aos esforços pessoais para aproximação com a divindade e a busca de signi-ficado. Os segundos têm relação com os efeitos regula-dores da religiosidade sobre o indivíduo, a família e a sociedade. A religiosidade também pode ser analisada em termos de seus aspectos intrínsecos e extrínsecos. Os intrínsecos são relacionados à internalização de crenças e a manifestações pessoais, não públicas e não mediadas por outras pessoas, pela instituição religio-sa ou pelo grupo. Os extrínsecos referem-se a formas públicas de expressão da religiosidade em que, nor-malmente, estão presentes outras pessoas, que ten-dem a funcionar como apoios sociais4. São aspectos vividos como complementares na experiência indivi-

dual e coletiva e cada um, a seu modo, contribui para a regulação emocional e para o bem-estar.

O sistema de significado compreende crenças, con tingências e expectativas que podem influenciar a for mação de objetivos para a autorregulação e afetar emoções e comportamentos ao longo de toda a vida. É especialmente importante na velhice, quando encontrar o significado da vida implica encontrar explicação para a morte5-7. No âmbito social, a re-ligiosidade atua como elemento organizador, con-tribuindo para a identidade das pessoas e grupos e para o seu senso de pertencimento. Geralmente, os fiéis participam ativamente de encontros, trabalhos voluntários, grupos de oração, pastorais e grupos de apoio. As interações sociais que se estabelecem nessas situações são fontes de informação, ajudam no desen-volvimento e na manutenção do senso de identidade, são fontes de prazer e conforto e funcionam como fontes de aprendizagem sobre si mesmo8, além de funcionarem como fonte de significado9. A pesquisa sobre a relação entre religiosidade e saúde focaliza, principalmente, o potencial protetor das práticas re-ligiosas que envolvem trocas de apoio social e revelam relações positivas dessas condições com diminuição nas taxas de mortalidade10, doenças cardiovasculares, hipertensão e enfarte do miocárdio11 e depressão12-14, bem como relações positivas com comportamentos de autocuidado em saúde15,16 e com a eficácia de me-canismos imunológicos7.

A religião atua também como regulador moral, tanto no âmbito individual quanto no coletivo. Como força cultural, a religião perpetua ou renova as tradi-ções e a moral instituída e fortalece virtudes e precon-ceitos. Por outro lado, a devoção ortodoxa ou a religião dogmática tendem a tornar a pessoa mais inflexível, fechada e intolerante, o que pode levar a distúrbios emocionais. A religião pode desencorajar a autoacei-tação, a motivação e a agência individual; pode gerar dificuldades de relacionamento, quando gera intole-rância, rigidez e intransigência ao diferente. As pessoas dogmáticas podem tornar-se fundamentalistas por não conseguirem avaliar o mundo real e aceitar a ambigui-dade e a incerteza e por usarem a religião apenas para

of cultural tradition and low frequency of beliefs on religiosity as source of transcendence; being non-religious, being men, being aged less than 70, emphasis on religiosity as moral ruler and as source of personal growth; being spiritualist and strong beliefs on religiosity as a quest for the transcendent.

Keywords: Old people, religiosity, existential meaning, religious coping, content analysis.

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 71 14/09/2009 18:01:04

Page 28: brailian - SBGG

72 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(2):70-77

seus interesses, fatos que, longe de fortalecê-las, as tor-nam mais vulneráveis ao fanatismo4.

A religiosidade serve como estratégia de enfren-tamento, quando é necessário lidar com dificuldades que excedem as possibilidades de solução do indiví-duo ou do seu grupo. Esta função é especialmente im-portante na velhice, quando os idosos se tornam mais vulneráveis aos efeitos de eventos adversos, entre eles as doenças crônicas, a dependência e a experiência de eventos de vida estressantes e incontroláveis5-7,17-21.

As noções amplamente aceitas de que a religiosi-dade é maior entre os idosos ou que cresce na velhice devem ser analisadas com cautela, porque, em vez de ser efeito natural do desenvolvimento psicológico, esse fenômeno pode revelar o efeito de fazer parte de coortes mais religiosas em virtude de se desenvolverem em um mundo em que a religião era mais valorizada como elemento da educação das crianças e dos jovens e como componente importante da autoidentificação e do pertencimento. Outro raciocínio pertinente ao efeito coorte é que, se a religiosidade pode ser uma forma de lidar com a doença, os idosos tendem a ser mais religiosos porque são mais doentes ou, então, que os efeitos positivos da religiosidade sobre a lon-gevidade refletem o fenômeno de sobrevivência dos mais saudáveis. Somente estudos longitudinais dão elementos para compreender essas relações.

Os significados da religiosidade são socialmente aprendidos e integram o sistema de crenças dos ido-sos, que medeiam sua relação consigo mesmos e com o mundo. Identificar essas crenças pode subsidiar a compreensão da atuação de mecanismos de autorre-gulação do self na velhice sobre a funcionalidade, a saúde e o bem-estar dos idosos.

oBJetiVoS

Analisar significados atribuídos à religiosidade e suas relações com afiliação religiosa, gênero e idade, na ex-periência pessoal de homens e mulheres idosos da co-munidade pertencentes a diferentes grupos de idade.

MétoDoS

Participantes

Para fins de interesse deste estudo, foram considera-dos os 361 idosos que responderam às questões sobre religiosidade do formulário do Estudo do Processo

de Envelhecimento Saudável (PENSA) – ver artigo “Processos de Envelhecimento Saudável (PENSA) em idosos da comunidade: delineamento, medidas e dados preliminares”, neste fascículo. Dentre eles, 70,91% (256) eram mulheres; 163 tinham entre 60 e 69 anos, 136, entre 70 e 79 anos e 62, mais de 80 anos. Havia mais homens (52,38%) que mulheres entre os de 60 e 69 anos, e havia mais mulheres que homens entre os de 80 anos ou mais (X2 = 8,17, e p = 0,017). A idade variou de 60 a 99 anos (M = 71,65 ± 8,31 anos). Mais da metade (51,25%) dos idosos era de casados, 37,67% eram viúvos, 6,65%, solteiros e 4,43%, solteiros, separados ou divorciados. Entre os casados havia mais homens (60%) que mulheres, e entre os viúvos a maioria era mulheres (X2 = 49,80 e p = 0,001). Quarenta e dois por cento tinham frequen-tado o curso primário, 15,56%, o ginasial, 20,28%, o colegial e 10%, o curso superior. Apenas 5,56% nunca havia frequentado escola. A média de anos de escolaridade foi de 6,82 anos ± 4,62, com variação entre nenhum e 21 anos de escolaridade. Entre os que tinham menos que quatro anos de escolaridade pre-dominavam as mulheres e entre os que tinham mais de 12 anos, predominavam os homens (X2 = 21,82 e p = 0,001). Noventa e dois por cento dos idosos vi-viam de aposentadoria e pensão.

Procedimento

As variáveis sociodemográficas foram investigadas por meio de cinco itens fechados que perguntavam sobre gênero, idade, escolaridade e estado civil. Para investi-gar a religiosidade, o protocolo continha uma questão sobre a afiliação religiosa (“Qual é sua religião?”) e três outras sobre o significado e as funções da religio-sidade: “Qual a importância da religião em sua vida?” (questão escalar); “O que na sua prática de religião é importante para o/a senhor/a?”; e “Enfim, por que o/a senhor/a tem esta religião?” (questões abertas). As respostas às questões fechadas foram assinaladas no formulário impresso e as respostas às questões abertas foram literalmente anotadas pelos entrevistadores.

Análise de dados

Para a análise das respostas abertas sobre o significado da religião na vida de cada idoso, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo, dividida em três momentos: a) pré-análise, com leitura flutuante das transcrições brutas para identificar as ideias centrais, com base nos objetivos da pesquisa e no referencial teórico; b) ex-ploração, envolvendo a identificação de unidades de significado e de emissões repetidas e irrelevantes aos

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 72 14/09/2009 18:01:04

Page 29: brailian - SBGG

73Velhice e religiosidade

objetivos, inferência e interpretação; e c) derivação de temas e categorias de significado, que tiveram a con-fiabilidade analisada por dois juízes independentes e exigência de 100% de acordo22.

Os dados derivados da análise de conteúdo e as demais variáveis foram submetidos a tratamentos es-tatísticos descritivos mediante medidas de frequência, posição e dispersão e de testes X2 ou exato de Fischer. Para estudar a relação entre afiliação religiosa e significa-dos/funções da religiosidade, foi feita análise de regres-são logística multivariada, com gênero e idade como covariáveis. Para conhecer a relação conjunta entre as variáveis de religiosidade, gênero e idade, foi utilizada a análise de correspondência múltipla (ACM). O nível de significância adotado foi de 5% (p ≤ 0,005).

reSultaDoS

A grande maioria da amostra era formada de católicos (267). Em segundo lugar, vinham os espíritas (36), de-pois os protestantes (25) e os evangélicos (20). Decla-raram-se sem religião 11 idosos, e de outras religiões, apenas dois. Setenta e dois por centro dos idosos atri-buíram pontuação máxima à importância da religião em sua vida (o valor da mediana foi 10 e o do percentil 25 foi 9; a média foi de 9,20 ± 1,52). Entre os idosos que assinalaram o ponto máximo da escala, predomi-naram mulheres, e entre os que pontuaram entre 1 e 7 predominaram homens (X2 = 11,60 e p = 0,003).

A análise de conteúdo resultou em quatro temas: significado, tradição cultural, regulação moral e enfren-tamento. O tema religiosidade como busca de signi-ficado existencial desdobrou-se em quatro categorias, quais sejam, a religião como: a) fonte de significado; b) fonte de desenvolvimento pessoal; c) fonte de bem-estar; e d) fonte de explicações que envolvem o conceito de transcendência.

O tema significado existencial esteve associado às categorias crença em Alguém superior ou transcen-dente (“Creio que Deus existe”), que dá sentido à vida (“Você tem que ter uma crença, sentido da vida”) e per-mite encontrar propósito, significado ou sentido da vida (“Ilumina nossos caminhos”), a partir da existência de um Ser Superior que ama e valoriza o ser humano. Os idosos disseram encontrar na religião Alguém a ser respeitado e amado, que tem o poder de amparar e manter e a Quem se pode agradecer e louvar. Final-mente, definiram a religião como alicerce da existên-cia (“Não se pode viver sem religião”, “É o sustento da alma. Todos devem ter uma religião”).

A religião apareceu como suporte à busca de exce-lência ou de altos níveis de desenvolvimento pessoal, como força propulsora e como fonte de orientação e aprendizado: “Tiro ensinamentos da Bíblia”, “... ensi-namento para criar os filhos”, “A religião me traz conhe-cimento, merecimento, paz de espírito”, “É minha escola da vida”.

A religião como auxílio na busca do bem-estar apareceu indicada pelas categorias: fonte de satisfa-ção, sentimentos de segurança e conforto (“Proporcio-na bem-estar”, “Aumenta a autoestima”, “Sinto-me mais feliz”, “Sinto-me mais realizado nela”, “É o porto segu-ro”, “Traz tranquilidade de espírito e paz”, “Ter paz, conforto, segurança”).

A categoria religião como fonte de transcendência foi explicada pelos seguintes elementos: a) a religião como possibilidade da relação do homem com a di-vindade (“Comunhão com Deus, contato com Deus; crer em Deus, ter Deus sobre tudo”, “Mostra o lado transcendente do ser humano e a sua religião mostra que você é a imagem e semelhança de Deus”); e b) a reli-gião como garantia da salvação e como identificação com a crença de que há forças, eventos e explicações que excedem o material e o finito (“Deus vai me levar à vida eterna...”, “É importante para a salvação espi-ritual”, “É maravilhoso! Não tenho nenhum medo de desencarnar. Temos que nos preparar para isso”, “Porque creio nas promessas de Jesus e que devemos batalhar para o crescimento do reino do Cristo”, “A religião ajuda a cuidar do espírito, deve estar bem com os seus, porque o mundo físico é passageiro; dá esperança”).

O segundo tema associado à importância da re-ligião referiu-se à religiosidade como expressão da tradição cultural. Caracterizou-se por emissões que refletem a adesão à religião em termos da adoção de crenças, ações, valores e princípios religiosos vigentes na família ou na sociedade, como parte do processo de socialização pelo qual passaram e como manifesta-ção de adequação social. São exemplos desses conteú-dos, nucleados pelas ideias de nascer, herdar, crescer, herança familiar, tradição familiar e religião dos pais: “Porque veio da minha família, e apesar de achar muita coisa errada na igreja católica, eu tenho que seguir aqui-lo que sou desde criança”, “É a religião dos meus pais”, “Não me sinto ligado à religião”, “Vou à missa mais para acompanhar minha esposa”, “Tenho essa religião mais por herança familiar, não sou praticante”, “Porque fui criada no meio religioso, fui habituada a ter contato com a igreja desde cedo”.

O terceiro tema estruturou-se em torno de compor-tamentos éticos, virtudes, valores morais, religião como

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 73 14/09/2009 18:01:05

Page 30: brailian - SBGG

74 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(2):70-77

freio, como prática do bem e como dever de todos. É caracterizada por emissões que apontaram para a religião como instância que estabelece valores, prin-cípios religiosos, comportamentos, o que é certo ou errado, pecaminoso ou virtuoso: “A religião funcio-na como uma trava...”, “A religião está acima de tudo. É um freio que ajuda a enfrentar os limites da vida”, “Para que as pessoas mudem seus comportamentos ruins. É preciso temer a Deus”, “Porque eu tive um ‘chamado’ para confiar em Deus e me tirar de todos os vícios”.

O quarto tema, a religiosidade como recurso de enfrentamento incluiu-a como recurso para a com-preensão e a aceitação das dificuldades da vida, para encontrar apoio social, conforto, proteção e confian-ça, bem como facilitar a relação com situações difíceis da vida. Exemplos: “Porque nos conforta nos momentos difíceis”, “Ajuda a resolver os problemas”, “Porque ela me dá força”, “Deus sempre me protege contra as doenças”, “É importante esta ajuda”, “A recompensa que temos de Deus ao pedir algo, mesmo que não mereçamos”, “Porque nos conforta nos momentos difíceis”, “Porque ela ajuda a enfrentar os problemas”, “Tudo que eu preciso eu consigo através da religião”, “É importante para conseguir lidar com os problemas da vida. Me dá força”, “Porque a fé é muito importante para ajudar nas dificuldades”, “Sem-pre que peço algo sou atendida. Não sei viver sem reli-gião”, “Para ajudar a se sentir mais segura”, “Ter uma força. Se não rezar, fico desanimada”, “A pessoa que é religiosa tem um apoio; não se desespera por qualquer coisa”, “Porque eu sinto necessidade de participar, por-que meus filhos tiveram problemas de saúde”, “Porque a gente confia em Deus nos momentos que acontecem coi-sas na nossa vida”, “Ele me auxilia quando estou nervosa e preocupada”. A frequência de emissões pelos temas aparece na figura 1. Na figura 2, são mostradas as fre-quências obtidas nas categorias do tema 1.

Figura 2. Frequência de emissões nas categorias do tema 1 para significados de religiosidade: busca de significado existencial. Idosos (2002-2003).

As mulheres se diferenciaram dos homens por terem emitido mais respostas relativas ao primeiro tema (X2 = 7,84 e p = 0,005). Não foram observa-das diferenças estatisticamente significativas entre os três grupos de idade quanto a essa variável. Os cató-licos foram os que mais declararam ter essa crença por força da tradição cultural (p = 0,005). O grupo que indicou a religiosidade como fonte de desenvol-vimento pessoal atribuiu mais pontuações 8 e 9 à importância da religiosidade que pontuações 10 ou de 1 a 7 (p = 0,017). A análise de regressão revelou que os católicos tinham 4,8 vezes mais chance que os espíritas de declarar que sua escolha religiosa era por causa da tradição.

Da análise de correspondência múltipla foram derivados três grupos independentes: 1) católicos, mulheres, com 70 anos ou mais, que dão grande importância à religiosidade, que a veem como for-ma de buscar significado existencial e como opção dependente da tradição cultural e familiar e que a consideram menos como fonte de transcendência; 2) sem religião, homens, com menos de 70 anos, que atribuem menor importância à religião e que a têm como forma de regulação moral e como fonte de de-senvolvimento pessoal; e 3) espíritas, que consideram a religião como fonte de transcendência.

DiScuSSão

A velhice acarreta novas exigências, reavaliações e difi-culdades cotidianas típicas do estágio final do ciclo de vida. É tarefa evolutiva central à velhice formar ponto de vista sobre si mesmo, sobre a própria vida, sobre as realizações e sobre a morte. É realizada, principalmen-te, por processos de revisão de vida, deflagrados não meramente pela idade, mas por eventos com grande probabilidade de ocorrência na velhice, entre eles o

Figura 1. Frequência de emissões por temas derivados da análise de conteúdo para significados de religiosidade. Idosos (2002-2003).

250

200

150

100

50

0

218

9171

58

Significado existencial

Tradição Regulação moral

enfrentamento

120

80

60

4020

0

49 4226

101

Fonte significado

bem-estar desenvolvimento pessoal

Transcendência

100

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 74 14/09/2009 18:01:05

Page 31: brailian - SBGG

75Velhice e religiosidade

aparecimento ou o agravamento de doenças e da in-capacidade, o medo de doenças e da dependência, o afastamento social, o término de papéis sociais liga-dos ao trabalho, à família, à perda de status social e ao empobrecimento, que afetam diretamente os idosos. Outros eventos que podem deflagrar o processo de revisão de vida são os problemas que afetam os entes queridos, de natureza incontrolável e, por isso, com forte potencial de gerar ansiedade e depressão21,23.

As religiões são um apoio para os idosos porque os ajuda a encontrar sentido nos eventos negativos ou incontroláveis e os aproxima de outros fiéis, idosos e não idosos, e de prelados ou ministros que podem

oferecer-lhes apoio emocional e ajudá-los a encontrar sentido no sofrimento. Aceitar o sobrenatural e acei-tar que existe vida depois da morte ajuda as pessoas em geral, e os idosos em particular, a dar sentido à sua vida. As religiões ajudam a aliviar culpas, a aceitar a si e aos outros e a perdoar. Ajudam a lidar com a vergonha e o ressentimento, na medida em que a di-mensão ética, que é inerente a todas elas, leva as pes-soas a subordinar seus desejos e experiências a valores não materiais24. As religiões podem auxiliar os idosos a realizar a geratividade, quando ensinam que é im-portante deixar legado espiritual e de valores para a posteridade2. Todos esses aspectos são relacionados à

Figura 3. dimensões derivadas da análise de Correspondência Múltipla.

dim

ensã

o 2

dimensão 1

2.0

1.0

0.5

0.0

-0.5

-1.0

1.5

-1.5 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 1.5

eF2

be2 Id70FeM

Id80SI2

TS1

TR2

CaTO

PROT

TS2eSPI

TR1

NOT3RM1

SI1NOT2

de1be1

eT1

Id60RM2

de2

MaSC

NOT1

eVaN

NeNH

0.0 0.6 1.2

dimensão 1

0.0

-0.5

-1.0

TS1CaTOId80

SI2TR2

NOT

de2

NOT2eF1

be1

TR1

SI1

Id60

Id70FeM

RM1de1NOT3

de2

dim

ensã

o 2

CaTO

TR1

NeNH

Id60

SI2

TS2

NOT1

de2

NOT2eF1be1SI1

MaSC

be2

RM2

FeM

NOT3

eVaN

eSPI

PROT

Id70

RM1de1

TS1

Id80

dim

ensã

o 2

0.0 0.7 1.4

2.1

1.4

0.7

dimensão 1

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 75 14/09/2009 18:01:05

Page 32: brailian - SBGG

76 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(2):70-77

transcendência, elemento essencial da espiritualidade, amplamente reconhecida pelos participantes.

As frequências de resposta dos idosos sobre sua afiliação religiosa replicam dados do Instituto Bra-sileiro de Geografia e Estatística (IBGE)24. Em cada contexto histórico, a manifestação da religiosidade fornece ao crente referencial de tradição, memória e identidade25, caso da amostra analisada. Os idosos que participaram da pesquisa foram socializados em um contexto de forte valorização do catolicismo que, por décadas, ajudou a formar e a definir identidades, status e papéis sociais e influenciou fortemente a polí-tica e a organização social do Brasil. A maioria nasceu e cresceu em uma época em que não existia o plura-lismo religioso de hoje e em que a religião dominan-te oferecia orientação ideológica compartilhada com outras pessoas, requisito fundamental para conferir sentido e identidade26.

Reinterpretada pelos códigos da modernidade, a religião hoje tem sua importância relativizada, não é mais obrigatória, passou a ser assunto de foro íntimo. Os mais jovens moldam a sua adesão às religiões se-gundo necessidades e aspirações individuais e situa-cionais. Não mais herdam a religião dos pais, mas escolhem sua religião no vasto elenco de opções cor-rentes e igualmente apontadas como válidas. Cresceu a influência das religiões pentecostais, mais midiáticas que o catolicismo e mais congruentes com a satisfação de necessidades de dar significado ao sofrimento e à pobreza que o catolicismo abandonou, quando optou por caminhos de atuação mais afinados com causas sociais e questões ideológicas.

Os idosos desta amostra consideraram que a re-ligião é necessária para ditar o limite entre o certo e o errado e estabelecer padrões de conduta social. É a religião como fundamento de moral comum a todos os homens, caracterizada pela busca da perfeição, da bondade, da justiça e da harmonia no convívio social. O temor a Deus atuaria como regulador moral por suscitar o medo de decair perante os olhos de um Ser Supremo, a motivação para fazer o bem ou de expiar a culpa para não ser castigado26.

Os idosos estão expostos ao estresse derivado da experiência de eventos de vida normativos e não nor-mativos que desafiam seus recursos pessoais e sociais, entre eles: perda ou ameaça de perda de controle so-bre o ambiente, declínio no funcionamento físico, aparecimento ou agravamento de doenças somáticas, dificuldades de memória, isolamento social, dificul-dades financeiras, perda de amigos, parentes e cônju-ge19. As dificuldades que afetam os descendentes são

grande fonte de estresse para os idosos. Fortes, Neri e Cupertino23 encontraram cinco categorias de eventos de vida estressantes citados por parte da amostra do PENSA, quais sejam, a) relacionados à finitude; b) que afetam os descendentes; c) relacionados ao cuidado; d) que afetam o bem-estar psicológico; e e) pontuais de crise. Os indicados como mais onerosos foram os pro-blemas de saúde dos próprios idosos ou de pessoas pró-ximas e a morte de entes queridos (finitude). Parte dos idosos, principalmente as mulheres, indicou, entre eles, o exercício da religião como forma de enfrentar eventos estressantes, replicando dados de outras pesquisas que mostraram o uso do enfrentamento religioso como au-xiliar valioso na recuperação da saúde física e mental e na melhoria da qualidade de vida26, no controle da hi-pertensão5, na saúde mental17, no controle de sintomas depressivos23, na recuperação de cirurgias cardíacas22, e no bem-estar subjetivo e na saúde percebida de indiví-duos muito idosos com incapacidades27.

Os dados do presente estudo evidenciaram que a religiosidade é, também, questão de gênero. As mu-lheres são mais religiosas que os homens e são mais controladas pela necessidade de se parecer com a nor-ma, o que para sucessivas gerações, terá significado ser católica. Igualmente, são mais conectadas socialmen-te que os homens e, mais que eles, elas têm no apoio social rica fonte de adaptação. Usam mais enfrenta-mento religioso que os homens, os quais, por sua vez, tendem a usar mais o enfrentamento instrumental. Os homens talvez tenham mais permissão de não cumprir a regra de serem religiosos e de se envolverem em transgressões. Na velhice, a religião pode ser a jus-tificativa para a conversão, que os ajuda a lidar com a culpa. Daí a ideia da religião como regulador moral ter aparecido mais entre os homens. A relação alta entre espiritismo e religião, vista como fonte de trans-cendência, talvez reflita o fato de esta religião colocar seus fiéis em contato com as ideias de reencarnação e de vida terrena como trajetória de aperfeiçoamento espiritual, que podem ser mais confortadoras para li-dar com o sofrimento que outras ideias de vida após a morte veiculadas por outras religiões.

Esta pesquisa elucidou aspectos da experiência subjetiva de religiosidade de um grupo específico, em um delineamento transversal. Novas investigações de caráter populacional e longitudinal ou outras compa-rando idosos de diversas crenças e afiliações religiosas e de diversas origens étnicas, incluindo medidas de variáveis de saúde e de outras variáveis psicológicas, poderão esclarecer melhor a questão dos significados de religiosidade entre idosos brasileiros e seu impacto sobre a qualidade de vida na velhice.

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 76 14/09/2009 18:01:06

Page 33: brailian - SBGG

77Velhice e religiosidade

A investigação sistemática da religiosidade entre idosos e, dentro desse tema geral, os vários aspectos aqui veiculados ainda são incipientes no Brasil, mas florescem em outros países, notadamente da América do Norte e na Europa Ocidental. No campo da saúde do idoso, o diálogo entre as crenças e as práticas reli-giosas, a oração intercessória, realizada por outrem, e o aconselhamento religioso oferecem ricas sugestões de ordem prática, mas ainda sobram desafios para a conciliação entre a ciência, as instituições religiosas e a experiência religiosa. Os dados até agora acumu-lados já permitem perceber o grande potencial desse campo, não só em termos teóricos como também da intervenção. Para a Gerontologia brasileira, em face da complexidade do fenômeno velhice e da existência de tão ricas e variadas tradições religiosas existentes no Brasil, permanece o desafio de compreender o fe-nômeno multidimensional, de contornos filosóficos, sociais, morais e éticos, e de muita importância para a vida dos indivíduos e da sociedade.

reFerÊnciaS

1. Idler EI, Musik MA, Ellison CG, George LK, Krause N, Ory MG, et al. Measuring multiple dimensions of religion and spirituality for health research. Res Aging. 2003;25:327-65.

2. Wong PTP, Fry PS. The human quest for meaning: a handbook of psychological research and clinical applications. New Jersey: Lawrence Erlbaun Associates; 1998.

3. Zinbauer B, Pargament KI. Religiousness and spirituality. In: Paloutzian RF, Park CL, editores. Handbook of religion and spiritu-ality. New York: Guilford Press; 2005. p. 21-42.

4. Goldstein LLL, Sommerhalder C. Religiosidade, espiritualidade e significado existencial na vida adulta e na velhice. In: Freitas EV, Py L, Neri AL, Cançado FAX, Gorzoni ML, organizadores. Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 2002. p. 950-7.

5. Koenig HG, McCullough ME, Larson DB. Handbook of religion and health. New York: Oxford University Press; 2001.

6. Krause N, Liang J, Shaw BA, Sugisawa H, Kim HK, Sugihara Y. Re-ligion, death of a loved one, and hypertension among older adults in Japan. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 2002;57(2):S96-107.

7. Benore ER, Park CL. Religiousness and beliefs in continued atta-chment after death. Int J Psychology Religion. 2004;14:1-22.

8. Carstensen L, Edelstein BA, Dornbrand L. The practical handbook of clinical gerontology. California: SAGE; 1996.

9. Abramowicz M. Tempo de ser: envelhecimento e a trama das interações sociais em um grupo de voluntárias. In: Kachar V, or-ganizador. Longevidade: um novo desafio para a educação. São Paulo: Cortez; 2001. p. 147-54.

10. Powell LH, Shahabi L, Thoresen CE. Religion and spirituality. Link-ages to physical health. Am Psychol. 2003;58(1):36-52.

11. Seeman TE, Dubin LF, Seeman M. Religiosity/spirituality and health. A critical review of the evidence for evidence for biologi-cal pathways. Am Psychol. 2003;58(1):53-63.

12. Payman V, George K, Ryburn B. Religiosity of depressed elderly in patients. Int J Geriatr Psychiatry. 2008;23(1):16-21.

13. Jang Y, Borenstein AR, Chiriboga DA, Phillips K, Mortimer JA. Religiosity, adherence to traditional culture, and psychological well-being among African American elders. J Applied Gerontol. 2006; 25(5):343-55.

14. Cummings SM, Neff JA, Husaini BA. Functional impairment as a predictor of depressive symptomatology: the role of race, religio-sity, and social support. Health and Soc Work. 2003;28(1):23-32.

15. Pietrukowicz MCLC. Apoio social e religião: uma forma de en-frentamento dos problemas de saúde [dissertação]. Rio de Janei-ro: Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública; 2001.

16. Reindl Benjamins M, Brown C. Religion and preventative heal-th care utilization among the elderly. Soc Sci Med. 2004;58(1): 109-18.

17. Meisenhelder JB. Gender differences in religiosity and functional health in the elderly. Geriatr Nurs. 2003;24(6):343-7.

18. Trentini M, Silva SH, Valle ML, Hammerschmidt KSA. Enfrenta-mento de situações adversas e favoráveis por pessoas idosas em condições crônicas de saúde. Rev Latino-Am Enfermagem. 2005;13(1):38-45.

19. Fortes-Burgos ACG, Neri AL, Cupertino APFB. Eventos estres-santes, estratégias de enfrentamento, autoeficácia e sintomas depressivos entre idosos residentes na comunidade. Psicologia: Reflexão e Crítica. 2008;21:74-82.

20. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 1977.

21. Erikson EH. O ciclo de vida completo. Porto Alegre: Artmed; 1998.

22. Contrada R, Goyal TM, Cather C, Rafalson L, Idler EL, Krause TJ. Psychosocial factors in outcomes of heart surgery: the impact of religious involvement and depressive symptoms. Health Psychol. 2004; 23(3):227-38.

23. Neri AL, Fortes ACG. A dinâmica do estresse e enfrentamento na velhice e sua expressão no prestar cuidados a idosos no contexto da família. In: Freitas EV, Py L, Cançado FAX, Doll J, Gorzoni ML, organizadores. Tratado de geriatria e gerontologia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006. p.1277-88.

24. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censo de-mográfico de 2000 [acesso em 2009 Feb]. Disponível em: http://www.ibge.com.br/home/estatistica/populacao/censo2000/po-pulacao/religiao_Censo2.

25. Ribeiro JC. Os universitários e a transcendência: visão geral, vi-são local. REVER. 2004;4(2):79-119.

26. Mueller PS, Plevak DJ, Rummans T. Religious involvement, spiritu ality, and medicine: implications for clinical practice. Mayo Clin Proc. 2001;76(12):1225-35.

27. Idler EL, McLaughlin S, Kasl S. Religion and the quality of life in the last year of life. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 2009;64 (4):528-37.

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 77 14/09/2009 18:01:06

Page 34: brailian - SBGG

artiGo oriGinal

Sintomas depressivos e variáveis psicossociais em idosos

residentes na comunidade depressive symptoms and psychosocial variables

among community-dwelling elderly people

Samila Sathler Tavares Batistoni1, Ana Paula Fabrino Bretas Cupertino2, Anita Liberalesso Neri3

Endereço para correspondência: Samila Sathler Tavares Batistoni • Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP Leste), curso de graduação em Gerontologia • Av. Arlindo Béttio, 1000, Ermelino Matarazzo – 03828-000 – São Paulo, SP • E-mail: [email protected]

ReSUMOobjetivo: Explorar as relações entre eventos estressantes vividos no último ano, avaliações subjetivas de suporte, classe e mobilidade social e sintomatologia depressiva medida pela CES-D. Participantes: No contexto de uma pesquisa sobre envelhecimento saudável (PENSA), foram entrevistados 903 idosos residentes na comunidade (M = 72,3 ± 8,21 anos). resultados: A prevalência de sintomas depressivos foi de 33,8%. Relacionaram-se com suporte insuficiente, ter vivido de quatro a 16 eventos estressantes, ter de 60 a 69 anos, ser mulher, perceber-se como de classe média baixa e ter mobilidade social descendente. A ausência de depressão relacionou-se com suporte social satisfatório, um a três eventos estressantes, ser homem, ter de 70 a 79 anos, ter mais de 80 anos, perceber-se de classe média e estabilidade da posição social. As análises multivariadas de regressão identifica-ram que alto número de eventos estressantes no último ano (OR = 2,55) e suporte social insatisfatório (OR = 2,31) ofereceram os maiores riscos para sintomatologia depressiva.

Palavras-chave: Idosos, depressão, CES-D, suporte social, mobilidade social.

abSTRaCTobjective: Investigating relationships among stressful life events in the last year, personal evaluations of social support, social class and social mobility, and depressive symptoms assessed by the CES-D. Participants: 903 community dwelling-elderly (Mean age = 72.3 ± 8.21), from a investigation on successful aging. results: The pre-valence of depressive symptoms was 33,8%, mostly related to poor social support, four to 16 stressful life events, being 60 to 69, women, from the lower middle class and having descendent social mobility. Absence of depression was related to satisfactory social support, one to three stressful life events, being men, being aged 70 to 79 or 80 and more, pertaining to the middle class, with social stability from adulthood to old age. Multivariate analysis of regression showed that high number of stressful life events (OR = 2,55) and low quality of social support (OR = 2,31) were the main significant predictors of depressive symptoms.

Keywords: Aged people, depression, CES-D, social support, social mobility.

1 escola de artes, Ciências e Humanidades (eaCH) da Universidade de São Paulo (USP). 2 University of Kansas Medical Center, department of Preventive Medicine, USa.3 Faculdade de educação e Faculdade de Ciências Médicas da Universidade estadual de Campinas (Unicamp) − Programa de Pós-Graduação em Gerontologia.

Recebido em 13/7/2009aceito em 9/8/2009

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 78 14/09/2009 18:01:06

Page 35: brailian - SBGG

79depressão entre idosos brasileiros

introDução

A depressão é síndrome psiquiátrica, cujas principais características são o humor deprimido e a perda de in-teresse ou prazer em quase todas as atividades. Entre idosos, esta síndrome é heterogênea no que se refere à etiologia e aos aspectos relacionados à sua apresenta-ção e ao seu tratamento. Suas manifestações confun-dem-se com as de várias moléstias somáticas, pobreza, desnutrição e isolamento social induzido por fatores sociais, fazendo com que ela seja subdiagnosticada em alguns contextos e superestimada em outros.

Em comparação com as populações jovens, a apresentação da depressão entre idosos está ligada a menos queixas de humor deprimido e de outros sin-tomas disfóricos essenciais ao diagnóstico de depres-são maior. Porém, relatam mais queixas somáticas e dificuldades na vida de relação. Newmann, Engel e Jensen1 utilizam o termo depleção para descrever essa forma de depressão comumente observada em ido-sos, que tende a aumentar com o passar dos anos e a ser mais frequente entre as mulheres. A noção de depleção possivelmente ajuda a explicar a prevalência mais baixa de depressão maior ou clínica (cerca de 5%) e a maior prevalência de sintomas depressivos entre idosos (cerca de 15% ou mais, dependendo do instrumento de medida utilizado).

Os dados sobre a prevalência da depressão em ido-sos variam entre 3% e 45%, dependendo, por um lado, do contexto em que são aplicadas (por exemplo, idosos ativos residentes na comunidade versus idosos residentes em instituições de longa permanência), da idade, da saúde, da funcionalidade e das condições so-ciais dos idosos. Por outro lado, a variabilidade é atri-buída ao uso de escalas de sintomas desenvolvidas para a população adulta2 à adoção de escalas de rastreio que excluem sintomas somáticos, caso da Escala de Depres-são Geriátrica (GDS-153), ou que incluem sintomas somáticos, caso da Escala de Depressão do Centro de Estudos Epidemiológicos (Center for Epidemiological Studies-Depression – CES-D)4. Esta superestima os ín-dices de prevalência, em comparação com aquela.

Existe carência de instrumentos válidos para a de-tecção de sintomas depressivos na população idosa brasileira. Os dados disponíveis geralmente tomam como base a GDS (Geriatric Depression Scale), valida-da por Almeida e Almeida5 e considerada de grande utilidade como ferramenta clínica e de rastreamento populacional. A construção dessa escala partiu da pre-missa de que a depressão na velhice possui caracterís-ticas próprias que não podem ser confundidas com

queixas somáticas ou com diminuição do contato social. Contudo, no âmbito internacional, a CES-D vem sendo crescentemente usada em estudos popu-lacionais com idosos, considerando o argumento de que as queixas somáticas devem integrar os itens das escalas de rastreio porque certos sintomas, como alte-rações no sono e falta de energia, são prognósticos e podem ser relatados por idosos que relutam em quei-xar-se de sintomas psicológicos típicos, como triste-za e atitudes negativas em relação a si6. O primeiro estudo brasileiro de validação dessa escala em idosos encontrou evidências de alta confiabilidade interna e bons índices de sensibilidade e especificidade ao utili-zar a GDS como base de comparação7.

Utilizando os critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-IV) para depressão maior, Veras e Murphy8 encontraram taxas diferentes de depressão entre os idosos brasileiros de alto, médio e baixo poder aquisitivo: 6,75%, 4,51% e 11,57%, respectivamente. Os eventos, como viu-vez, preocupação com os filhos e netos, doenças do cônjuge, fragilidade biológica, perda de memória, incapacidade funcional, empobrecimento e solidão, tornam-se mais comuns na velhice. Porém, não se pode dizer que o número de estressores negativos au-menta linearmente com a idade nem que todos os idosos tendem a vivenciar todos os eventos adversos como extremamente estressantes9.

Além das vulnerabilidades de origem biológica e psicológica que contribuem para a incidência de sin-tomas depressivos nos idosos, outras podem ser ad-quiridas ao longo da vida como resultado das relações com o contexto econômico, que, em interação com o contexto sociocultural, determina posições, oportu-nidades e papéis sociais, além de recursos pessoais e sociais de enfrentamento. Dependendo desses fatores, as pessoas ficam mais ou menos expostas a eventos de vida não normativos, com diferentes efeitos sobre a vulnerabilidade biológica e psicológica e sobre as respostas em saúde mental10,11.

Segundo Gatz12, os idosos podem ser menos vul-neráveis aos efeitos de eventos estressantes que as po-pulações mais jovens, dependendo da combinação ótima entre as demandas ambientais, a vulnerabilida-de individual e os recursos pessoais e sociais. Estudos realizados a partir da perspectiva de desenvolvimento ao longo de toda a vida (life span) confirmam a noção de que a vulnerabilidade dos idosos pode ser compen-sada pelo aumento da integridade do ego, pelo de-senvolvimento de estratégias de enfrentamento mais maduras e efetivas e pelo aumento da sabedoria13.

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 79 14/09/2009 18:01:06

Page 36: brailian - SBGG

80 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(2):78-84

O suporte social avaliado como satisfatório para fazer frente às demandas externas e internas é de gran-de importância para o amortecimento dos efeitos de eventos adversos que afetam os idosos. É importante coadjuvante na produção de bem-estar subjetivo, de resiliência do self e de diminuição da vulnerabilida-de à depressão14. As perdas em status socioeconômi-co, prestígio, oportunidades e papéis sociais podem ser compensadas pela percepção de que a rede social disponível é suficiente para ajudar o idoso a alcançar metas tangíveis e para enfrentar eventos estressantes15. Perceber que se dispõe de mais ou menos recursos so-ciais para enfrentar as adversidades pode fortalecer ou fragilizar os idosos que já estão experimentando várias perdas16. Tyler e Hoyt17 sugerem que entre os idosos ter poucos recursos econômicos e sociais pode resultar em alta incidência de efeitos psicológicos ne-gativos, porque tal escassez os expõe a eventos nega-tivos, a pouco acesso a recursos de enfrentamento e a avaliações disfuncionais sobre suas possibilidades de resolver problemas.

Considerando a influência das variáveis de natureza sociodemográficas e psicossociais sobre o bem-estar dos idosos, o objetivo desse estudo foi analisar as relações entre sintomas depressivos e as variáveis classe social percebida, mobilidade social percebida, suporte social percebido e experiência de eventos estressantes entre idosos residentes na comunidade.

MétoDo

Participantes

Os dados foram gerados pela primeira coleta de medi-das do PENSA – ver artigo “Processos de Envelheci-mento Saudável (PENSA) em idosos da comunidade: delineamento, medidas e dados preliminares”, neste fascículo. Participaram 903 idosos que responderam na íntegra ao instrumento de depressão CES-D, dos quais 72,4% eram mulheres. Quarenta por cento ti-nham entre 60 e 69 anos, 40% entre 70 e 79 anos, e o restante, 80 anos ou mais (M = 72,3 DP = 8,21).

Instrumentos

As variáveis analisadas foram:

a) sociodemográficas – questões sobre idade, gênero, estado civil, escolaridade e renda familiar;

b) classe social percebida – foi solicitado aos parti-cipantes que declarassem a que classe social acha-

vam que pertenceram a maior parte da vida adulta e a classe que pertenciam atualmente (miserável, baixa, média-baixa, média, média-alta, alta);

c) mobilidade social percebida – variável criada a partir das respostas às questões sobre classe social percebida na vida adulta e atualmente. Foi atri-buído valor 1 para os indivíduos que perceberam a classe social atual como melhor (mudança em, pelo menos, 1 ponto em relação à percebida na vida adulta), valor 2 para os que atribuíram a mes-ma classe social tanto na vida adulta quanto na vida atual (velhice) e valor 3 para os que se perce-beram atualmente em uma classe social pior (em, pelo menos, 1 ponto) que na vida adulta. A cria-ção dessa variável cumpriu o objetivo de opera-cionalizar a percepção de estabilidade × mudança social ascendente ou descendente;

d) escala de suporte social – foram aplicados cin-co itens da Interpersonal Support Evaluation List (ISEL)18, traduzidos para o português. Na ver-são original, o instrumento é composto por 40 itens e apresenta confiabilidade interna igual a 0,88. Neste estudo, foram utilizados os itens 5, 7, 18, 22 e 38 da escala original da mesma forma em que foram usados pelo Cardiovas-cular Health Study no contexto americano19. Os itens são respondidos em uma escala de 4 pon-tos, de nunca (1) a sempre (4). O escore total pode variar de 5 a 20 pontos. A aferição da confiabilida-de interna dos cinco itens, nesta amostra, resultou em um alfa de 0,748;

e) número de eventos estressantes entre idosos – The Elders Life Stress Inventory (ELSI)20 traduzida e adaptada para o português por Cupertino, para efeito de utilização no PENSA. Trata-se de lista de 32 eventos que podem ter ocorrido no último ano, cuja intensidade é avaliada em uma escala de cinco pontos (de 1 = nada estressante a 5 = extremamen-te estressante). Para o presente estudo, foram sele-cionados apenas os eventos avaliados pelos idosos como muito e extremamente estressantes;

f ) sintomas depressivos – CES-D. Trata-se de escala de 20 itens de 0 a 3 pontos cada um, que compor-tam avaliação da frequência de sintomas depressi-vos vividos na semana anterior (nunca, raramente, às vezes, frequentemente, sempre). Inclui questões sobre estados de humor, sintomas somáticos, in-terações com os outros e funcionamento motor. O escore final varia de 0 a 60 pontos. A nota de corte adotada foi ≥ 11, conforme estudo de valida-ção realizado por Batistoni, Neri e Cupertino7.

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 80 14/09/2009 18:01:06

Page 37: brailian - SBGG

81depressão entre idosos brasileiros

reSultaDoS

A prevalência de depressão indicada pelo ponto de cor-te ≥ 12 pontos foi de 33,8%. A prevalência por gênero foi de 26,6% para os homens e 36,6% para as mulhe-res. O escore médio alcançado pelas mulheres foi de 10,97 (DP = 9,19); para os homens, a média foi de 8,31 (DP = 7,30). O teste de Mann-Whitney, comparan-do os escores entre os gêneros, resultou em diferença significativa (p < 0,001).

A tabela 1 revela que cerca de 60% dos idosos (59,4%) afirmaram acreditar que pertenciam à classe média, 22,5% relataram pertencer à classe média-baixa e apenas 0,1% classificou-se como miserável. Quanto à mobilida-de social percebida, a grande maioria dos idosos avaliou que, na velhice, não sofreram nenhuma mudança em sua posição social, em comparação à posição que julgavam ocupar na vida adulta. Somente 10,5% avaliaram que melhoraram quanto a esse quesito e 11,4% declararam terem piorado. Foram confrontados os dados relativos à classe social percebida com os de classe social objetiva, indicada por renda familiar mensal e escolaridade. Foi observada associação significativa entre o nível de escola-ridade e o nível de renda e a classe social percebida.

Em relação ao suporte social percebido, o escore médio da amostra foi alto (17,65), mas a divisão do

grupo em tercis revelou que cerca de 23% dos parti-cipantes classificaram essa condição como pobre em comparação às suas expectativas. Um número compa-rável classificou-o como moderadamente satisfatório e 44,5% o viram como altamente satisfatório.

Trinta e cinco por cento dos idosos declararam não ter experimentado nenhum evento de vida que considerassem “muito estressante” ou “extremamen-te estressante” no último ano; 44,6% identificaram de um a três eventos (frequência média) e 20,4% identificaram entre quatro e 16 eventos estressantes (frequência alta). O número médio de eventos foi de dois eventos de vida estressantes no último ano (DP = 2,50). A tabela 2 mostra que número comparável de idosos assinalou morte de parentes, piora da saúde de membro da família, doença pessoal e morte de pais como os eventos mais estressantes que haviam vivido no último ano. Perda de memória, divórcio de filhos, maior responsabilidade pelos filhos, institucionaliza-ção do cônjuge e piora na qualidade de vida formam outro bloco com frequências menores do que 5%.

tabela 1. distribuição dos dados de sintomas depressivos, classe, mobilidade, suporte social percebidos e vivência de eventos estressantes. Idosos (2002-2003)

Variável Média Desvio-padrão %CES-D

CES-D ≥ 12CES-D < 12

10,23 8,7833,866,2

Classe socialMiserávelBaixaMédia-BaixaMédiaMédia-AltaAlta

– –0,17,122,559,49,90,9

Mobilidade socialMelhoraramPioraramPermaneceram estáveis

– – 10,511,478,1

Suporte socialBaixoMédioAlto

17,65 3,0328

27,544,5

Número de eventos estressantes

NenhumEntre 1 e 3 eventosMais de 4

2,02 2,5035

44,620,4

tabela 2. Frequência dos eventos considerados como muito ou extremamente estressantes no último ano

evento n %6 – morte de parentes14 – piora na saúde de um membro da família7 – doença pessoal5 – morte de pais13 – morte de amigos10 – perda de poder aquisitivo2 – morte do cônjuge30 – situação em que foi enganado/ridicularizado15 – diminuição em atividades que gosta1 – perda da memória16 – divórcio de filhos29 – perda de amigos 4 – morte de filhos26 – maior responsabilidade com filhos3 – institucionalização do cônjuge22 – piora na qualidade de vida28 – institucionalização dos pais31 – perda de coisas de posse25 – piora na relação com o cônjuge24 – piora na relação com os filhos17 – diminuição nas responsabilidades de trabalho12 – casamento9 – divórcio11 – separação do cônjuge27 – maior responsabilidade com os pais8 – aposentadoria23 – problemas com chefe18 – aumento nas responsabilidades de trabalho21 – aposentadoria do cônjuge19 – mudança de residência20 – mudança para um trabalho menos interessante32 – roubo

1881731631529088807673706766615145453837343129261919191512119933

21,119,418,317,110,19,99

8,58,27,97,57,46,85,75,15,14,34,23,83,53,32,92,12,12,11,71,31,21,01,00,30,3

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 81 14/09/2009 18:01:06

Page 38: brailian - SBGG

82 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(2):78-84

As análises de correlação entre as variáveis prece-dentes e o escore total de depressão, controlados por gênero e idade, mostraram que: a) as mulheres rela-taram ter vivido mais eventos estressantes que os ho-mens; b) quanto melhor a qualidade do suporte social percebido, menor o número de eventos estressantes; c) quanto maior o número de sintomas depressivos, pior o suporte social percebido e maior o número de even-tos estressantes experimentados; d) o número de sin-tomas depressivos foi significativamente maior entre os idosos de menos de 70 anos e de mais de 80 anos.

Os dados foram submetidos a análises de regressão multivariada, segundo o modelo stepwise. Os fatores de risco com influência significativa (p ≤ 0,05) para depressão, ajustada para mobilidade social e classe so-cial percebida, com as respectivas razões de risco fo-ram as seguintes: vivência de eventos estressantes de alta intensidade × nenhum evento estressante; baixo suporte social percebido × alto; vivência de eventos estressantes de moderada intensidade × nenhum; ter menos de 70 anos × ter entre 70 e 79 anos; e ser mu-lher × ser homem.

Foram calculadas as probabilidades de risco para essas variáveis, o que resultou em dez perfis de maior e em dez perfis de menor risco para depressão, que serão apresentados na tabela 4, a seguir.

DiScuSSão

As diferentes avaliações que os idosos fizeram do seu bem-estar (considerando-se a ausência de sintomas depressivos como seu correlato), dos recursos so-ciais disponíveis (suporte e pertencimento à deter-minada classe social) e das ocorrências de eventos potencialmente desafiadores à sua adaptação na ve-lhice (eventos estressantes) sugerem, mais uma vez, que envelhecer é fenômeno heterogêneo e multi-facetado. O exame da prevalência de sintomas de-pressivos revelou que envelhecer não é sinônimo de deprimir, pois cerca de dois terços da amostra não alcançou pontuação mínima para ser considerada potencialmente deprimida. Entretanto, a prevalência de depressão foi mais alta que a encontrada em es-tudos brasileiros que utilizaram a GDS, nos quais a

tabela 3. Resultados da análise de regressão logística multivariada para depressão, ajustada para mobilidade social e classe social percebida (n = 885)

Variável níveis de comparação(**) p-valor or(*) ic 95%-or

Suporte social percebido Médio/AltoBaixo/Alto

0,05580,0001

1,422,31

0,99-2,051,63-3,27

Eventos estressantes Médio/NenhumAlto/Nenhum

0,00090,0001

1,802,55

1,27-2,551,68-3,87

Idade < 70 anos/70-79 anos≥ 80 anos/70-79 anos

0,00340,0624

1,641.47

1,18-2,270,98-2,21

Sexo Feminino/Masculino 0,0282 1,46 1,04-2,05

(*) OR (odds ratio) = razão de risco para depressão, ajustada para mobilidade social e classe social percebidas; n = 296 – Sim e n = 589 – Não; IC 95%-OR = intervalo de 95% de confiança para a razão de risco. Critério de seleção: stepwise; (**) nível de comparação/nível de referência.

tabela 4. Três perfis de maior risco e três perfis de menor risco para sintomas depressivos

Gênero idade classe social Mobilidade social Suporte social número de eventos

Maior risco

1º Feminino 60-69 Média-baixa Descendente Insatisfatório Alto

2º Feminino > 80 Média Ascendente Insatisfatório Alto

3º Feminino > 80 Média-baixa Descendente Insatisfatório Alto

Menor risco

1º Masculino 70-79 Média-alta ou alta Estável Satisfatório Nenhum

2º Masculino 70-79 Média-alta ou alta Estável Moderad. satisfatório Nenhum

3º Masculino 70-79 Média-alta ou alta Estável Satisfatório Nenhum

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 82 14/09/2009 18:01:07

Page 39: brailian - SBGG

83depressão entre idosos brasileiros

prevalência gira em torno de 15%. Outras pesquisas internacionais e nacionais que utilizaram a CES-D encontraram dado semelhante ao deste estudo e atribuíram-no ao fato de a CES-D incluir sintomas somáticos e a GDS não. No estudo de Fleck et al.21 (feito com adultos em contexto ambulatorial), a utili-zação da CES-D revelou taxas mais altas que entre os idosos do PENSA, dados que sugerem a relação entre sintomas físicos e sintomas depressivos. Tanto neste estudo (com população idosa) quanto no de Fleck et al.21 (cuja amostra é predominantemente adulta), a prevalência de sintomas depressivos foi mais alta entre as mulheres que entre os homens. Justificativas para as diferenças de gênero têm sido geradas a partir de hipóteses biológicas (como variações hormonais), psicológicas (mais tendência das mulheres de expor questões íntimas e vivências emocionais) e sociais (a sociedade permite mais às mulheres que aos homens expor-se emocionalmente).

Os dados sobre experiências de eventos estres-santes ratificam os de Aldwin9 que revelaram que, mesmo tendo passado por diversos eventos de mu-danças e perdas, é comum que os idosos citem poucos eventos altamente estressantes. Segundo Gatz12, esse é um indicador de resiliência psicológica, que tende a aumentar com a idade. Os eventos apontados como mais estressantes foram os de natureza não normati-va e os incontroláveis, principalmente os que afetam entes queridos9,12.

A concordância entre as medidas objetivas e sub-jetivas de classe e de mobilidade social encontrada nesta pesquisa é indicativa da atuação de processos de aprendizagem social. A percepção pessoal de classe social e a percepção de mobilidade social no curso de vida são exemplos de mecanismos interpretativos que medeiam as relações entre as estruturas macrossociais determinantes do pertencimento à determinada clas-se social e os níveis individuais de análise, como o bem-estar subjetivo gerado pela avaliação de que as condições desejadas estão disponíveis22.

Setenta por cento dos idosos disseram considerar-se pertencentes às classes média ou média-alta, mes-mo não tendo alto nível de escolaridade e alta renda. Camarano23 observou ocorrência similar em pesquisas econômicas com idosos. Isso ocorre provavelmente porque os idosos comparam-se à geração de seus pais, que, no geral, terá sido mais pobre que a sua, e com a de seus filhos e netos que, mesmo tendo estudado, por razões conjunturais, estão sujeitos ao desempre-go e ao subemprego e ao prolongamento da depen-dência em relação aos mais velhos. Ou seja, os idosos

tendem a se perceber como participantes de classes sociais mais privilegiadas, em virtude de mecanismos de comparação social que, neste caso, favorecem o seu senso de bem-estar e de pertencimento.

Mesmo que este estudo não ofereça dados sobre o tamanho da rede social ou de sua eficácia objetiva, os idosos a avaliaram como satisfatória para responder às suas necessidades de apoio nos âmbitos instrumental, informativo, afetivo e de pertencimento, o que signi-fica proteção em relação ao senso de solidão que re-sulta da percepção de que o suporte social disponível é insuficiente para satisfazer as próprias necessidades, e não propriamente do isolamento objetivo.

Os perfis de maior e menor risco para sintomas depressivos encontrados na amostra do PENSA são comparáveis aos apontados pela literatura12. Os resul-tados reforçam a noção de que a depressão é fenôme-no multifatorial, ao mostrar que diferentes variáveis e avaliações subjetivas refletem-se em diferentes pa-drões de risco associados às variáveis gênero, idade, classe, mobilidade e suporte social percebidos e nú-mero de eventos estressantes vivenciados no último ano. Os resultados, ainda, concordam com os de ou-tros estudos de corte transversal que mostram maior prevalência de depressão entre os idosos jovens, por-que possivelmente vivenciam conflitos entre papéis e tarefas de adultos e de idosos, e entre os de 80 anos ou mais, principalmente os mais doentes, os menos independentes, os mais pobres, os mais solitários, os que têm menos suporte, as mulheres e os viúvos24. Diferentemente do que aponta a literatura sobre clas-se social percebida, nem esta variável nem mobilida-de social percebida ofereceram risco significativo para depressão. A congruência entre as avaliações objetivas e subjetivas de classe e mobilidade social teria afeta-do esse resultado. Ao longo da vida adulta, os idosos teriam ajustado o seu nível de aspiração às condições de que dispunham e, principalmente os mais pobres, teriam aprendido a lidar com as adversidades.

A vulnerabilidade a eventos estressantes aumenta com o envelhecimento, mas a presença de mecanis-mos de enfrentamento medeia a adaptação dos idosos, minimizando o impacto sobre o seu bem-estar. O re-gistro de número relativamente pequeno de eventos estressantes vividos no último ano pelos idosos desta amostra possivelmente tem relação com a presença de tais mecanismos de enfrentamento. Os idosos do PENSA estariam igualmente protegidos pela rede de suporte social de que dispõem. Controlados os riscos das demais variáveis, quando o apoio social é avaliado como satisfatório, os idosos têm menos depressão.

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 83 14/09/2009 18:01:07

Page 40: brailian - SBGG

84 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(2):78-84

Algumas limitações do estudo podem ser apon-tadas. Quanto ao instrumento de rastreamento de depressão (CES-D), que inclui sintomas somáticos, seria interessante ter controlado o efeito da influência da presença de diagnósticos clínicos de saúde física. A forte presença de mulheres na amostra, sabida-mente mais acometidas de doenças crônicas que os homens, pode ter inflado os dados de prevalência de depressão. Além disso, talvez fosse mais interessante a utilização de questionário que remetesse os parti-cipantes a grau de avaliação mais subjetivo das variá-veis classe e mobilidade social, como satisfação, em vez de apenas localização na escala social. Contudo, este estudo indica direções para o aprofundamento das investigações por meio de pesquisas clínicas e de outras pesquisas de levantamento feitas com amostras diferentes, por exemplo, compostas por idosos asila-dos, fragilizados por doenças e incapacidade, ou por condições sociais e históricas adversas.

aGraDeciMentoS

Agradecimentos às fontes de auxílio à pesquisa: Con-selho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tec-nológico (CNPq), Programa de Fixação de Doutores (Profix) (Processo nº 540956-01/5NV) e Coordena-ção de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) – Demanda Social.

reFerÊnciaS

1. Newmann JP, Engel RJ, Jensen JE. Age differences in depressive symptom experiences. J Gerontol. 1991;46(5):P224-35.

2. Aldwin CM, Levenson MR. Assessment of mental health in older adults. In: Friedman HS, editor. Encyclopedia of Mental Health. San Diego, CA: Academic Press; 1998. p. 149-56.

3. Yesavage JA, Brink TL, Rose TL, Lum O, Huang V, Adey M, et al. Development and validation of a geriatric depression screening scale: a preliminary report. J Psychiatr Res. 1983;17(1):37-49.

4. Radloff LS. The CES-D Scale: a self-report depression scale for re-search in the general population. Appl Psychol Meas. 1977;1:385-401.

5. Almeida OP, Almeida SA. Short versions of the geriatric depres-sion scale: a study of their validity for the diagnosis of major de-pressive episode according to ICD-10 and DSM-IV. Int J Geriatr Psychiatry. 1999;14(10):858-65.

6. Fisk A, Jones RS. Depression. In: Johnson M, Bengtson VL, Cole-man P, Kirkwood T, editores. The cambridge handbook of age and ageing. Cambridge: Cambridge University Press; 2005.

7. Batistoni SST, Neri AL, Cupertino APFB. Validade da escala de depressão do Center for Epidemiological Studies entre idosos brasileiros. Rev Saude Publica. 2007;41(4):598-605.

8. Veras RP, Murphy E. The mental health of older people in Rio de Janeiro. Int J Geriatr Psychiatry. 1994;9(4):285-95.

9. Aldwin CM. Stress, coping and development: an integrative pers-pective. New York: Guilford Press; 1994.

10. Diehl M. Self-development in adulthood and aging: The role of criti cal life events. In: Ryff CD, Marshall VW, editores. The self and society in aging process. New York: Springer; 1999. p. 150-83.

11. Lorant V, Deliège D, Eaton W, Robert A, Philippot P, Ansseau M. Socioeconomic inequalities in depression: a meta-analysis. Am J Epidemiol. 2003;157(2):98-112.

12. Gatz M. Towards a developmentally-informed theory of mental dis order in older adults. In: Lomranz J, editor. Handbook of aging and mental health: an integrative approach. New York: Plenum Press; 1998. p. 101-20.

13. Baltes PB, Baltes MM. Psychological perspectives on successful aging: The model of selective optimization with compensation. In: Baltes PB. Baltes MM. editores. Successful aging: perspectives from the behavioral sciences. Cambridge: Cambridge University Press; 1990. p. 1-34.

14. Carstensen LL. Motivação para o contato social ao longo da vida: uma teoria de seletividade socioemocional. In: Neri AL, editora. Psicologia do envelhecimento: temas selecionados na perspecti-va de curso de vida. Campinas: Papirus; 1995. p. 111-44.

15. Krause N, Liang J, Yatomi N. Satisfaction with social support and depressive symptoms: a panel analysis. Psychol Aging.1989;4(1): 88-97.

16. Baltes MM, Lang FR. Everyday functioning and successful aging: the impact of resources. Psychol Aging. 1997;12:433-43.

17. Tyler KA, Hoyt DR. The effects of an acute stressor on depressive symptoms among older adults: the moderating effects of social support and age. Res Aging. 2000;22:143-64.

18. Cohen S, Mermelstein R, Kamarck T, Hoberman HM. Measuring the functional components of social support. In: Sarason IG, Sa-rason BR, editores. Social support: theory, research, and applica-tions. The Hague: Martinus Nijhoff; 1985. p. 73-94.

19. Martire LM, Schulz R, Mittelmark MB, Newsom JT. Stability and change in older adults’ social contact and social support: the Cardiovascular Health Study. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 1999;54(5):S302-11.

20. Aldwin CM. The Elders Life Stress Inventory (ELSI): egocentric and nonegocentric stress. In: Stephens MAP, Crowther JH, Ho-bfall SE, Tennenbaum DL, editores. Stress and coping in late life families. New York: Hemisphere; 1990. p. 49-69.

21. Fleck MPA, Lima AFBS, Louzada S, Schestasky G, Henriques A, Borges VR, et al. Associação entre sintomas depressivos e fun-cionamento social em cuidados primários à saúde. Rev Saude Publica. 2002;36(4):431-8.

22. Ryff CD, Magee WJ, Kling KC, Wing EH. Forging macro-micro link ages in the study of psychological well-being. In: Ryff CD, Marshall VW, editores. The self and society in aging processes. New York: Springer; 1999. p. 247-78

23. Camarano AA. Mulher idosa: suporte familiar ou agente de mu-dança? Rev Estudos Avançados. 2002;17:35-63.

24. Grayson DA, Mackinnon A, Jorm AF, Creasey H, Broe GA. Item bias in the Center for Epidemiological Studies Depression Scale: effects of physical disorders and disability in an elderly communi-ty sample. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 2000;55(5):P273-82.

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 84 14/09/2009 18:01:07

Page 41: brailian - SBGG

artiGo oriGinal

avaliação subjetiva dos efeitos de eventos de vida estressantes relacionados à finitude em idosos residentes na comunidadeSubjective evaluation of the effects of stressful life events related to death according community-dwelling elderly

Andréa Cristina Garofe Fortes-Burgos1, Ana Paula Fabrino Bretas Cupertino2

Endereço para correspondência: Andréa Cristina Garofe Fortes-Burgos • Av Ipê Roxo, 815, casa 10, Parque Villa Flores – 13175-658 – Sumaré, SP – Fone: (19) 3306-8315 • E-mail: [email protected]

ReSUMOobjetivos: Descrever a experiência de eventos estressantes relacionados à finitude, em termos de frequência, intensidade, efeitos a longo prazo, enfrentamento e percepção de autoeficácia do enfrentamento, levando em conta autorrelatos de homens e mulheres idosos recrutados na comunidade. Métodos: Quinhentos e setenta ido-sos foram entrevistados entre 2002 e 2003 (M = 73,04; DP = 8,44); sendo 74% mulheres. resultados: Os idosos relataram, principalmente, morte de pessoa próxima, problemas de saúde e morte do cônjuge como eventos de vida estressantes vividos no último ano. O nível do estresse foi elevado (M = 6,10; DP = 1,34) e quase metade dos idosos avaliou o evento como perda ou dor. A maioria da amostra relatou autoeficácia positiva do enfrentamento. Muitos disseram que o evento foi algo que tiveram de aceitar, e que não tiveram efeitos a longo prazo. O apren-dizado esteve relacionado com a importância da família, da religião e da espiritualidade. conclusão: Mesmo vivenciando perdas significativas, é possível a idosos desenvolver formas adaptativas de enfrentamento e, assim, conseguir preservar a integridade psicológica e emocional.

Palavras-chave: Eventos estressantes, enfrentamento, autoeficácia, morte, saúde, idosos.

abSTRaCTobjectives: This study aimed to describe the experience of stressful life events related to death of significant others, in terms of frequency, intensity, long-term effects, coping and self efficacy of coping, according self-reports of community-dwelling elderly. Methods: 570 participants were interviewed between 2002 and 2003 (M = 73.04, SD = 8.44), 74% women. results: The participants reported mostly death of close friends or relatives, health problems and death of spouse, as the main stressful events they had lived along the last year. The level of stress was high (M = 6.10, SD = 1.34). Almost a half of the participants evaluated the events as loss or pain. The majority reported positive self-efficacy concerning coping strategies toward the stressful events, interpreted the events as something to be accepted, without long-term effects, and as an opportunity to learn about the importance of fam-ily, religion and spirituality. conclusion: Adaptive ways of coping can help aged people to preserve psychological and emotional integrity, even in presence of feelings of loss and pain derived from the experience of stressful life events associated with death of significant others.

Keywords: Stressful life events, coping, self-efficacy, death, health, aging.

1 doutoranda em educação pela

Faculdade de educação da Universidade

estadual de Campinas (Unicamp).

2 University of Kansas Medical

Center, department of Preventive

Medicine, USa.

Recebido em 13/7/2009aceito em 9/8/2009

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 85 14/09/2009 18:01:07

Page 42: brailian - SBGG

86 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(2):85-94

introDução

A diversidade de experiências vividas ao longo da vida imprime ao envelhecimento caráter de hetero-geneidade e multiplicidade. As influências de ordem biológica, como alterações hormonais na constituição de órgãos e tecidos, marcam a chegada da velhice de maneira mais palpável e aparente. Doenças e condi-ções especiais de saúde e funcionalidade, antes não experimentadas, tornam-se parte do cotidiano dos idosos. Outras experiências podem ser mais sutis, mas não menos importantes. A saída dos filhos de casa e a aposentadoria – com consequentes perda de papéis sociais ou diminuição do poder aquisitivo para o ido-so – são situações que influenciam o curso da vida e podem levar a processos de afastamento social ou surgimento de depressão.

Algumas dessas experiências são consideradas nor-mativas ou esperadas, outras são vividas de maneira única e não têm época determinada de ocorrência, motivos pelos quais são chamadas de influências não normativas do desenvolvimento1-3. O estresse advin-do de acontecimento normativo ou não normativo depende de características próprias do evento e dos recursos de que o indivíduo dispõe para enfrentá-lo. Alguns eventos são em si mesmos incontroláveis, como fenômenos naturais, grandes crises econômicas, acidentes ou situações que ocorrem com pessoas pró-ximas, em relação aos quais pouco ou nada se pode fazer. A falta de controle sobre a situação pode gerar sérias dificuldades de adaptação, dependendo dos re-cursos pessoais de enfrentamento disponíveis4.

O potencial estressor dos eventos incontroláveis tende a ser maior ainda para os idosos, na medida em que, na velhice, multiplicam-se as possibilidades de convivência com eventos negativos esperados e ines-perados2. A morte de pessoas próximas, a convivência com doen ças crônicas, a diminuição da capacidade funcional, a solidão, os problemas familiares e econô-micos, são ocorrências comuns no envelhecimento5-8.

Os problemas de saúde do idoso e de seus pares, que acarretam maior dependência dos outros, por causa de incapacidades, podem se tornar grande fon-te de estresse e gerar estado de constante mal-estar na velhice9. Muitos remetem à noção da finitude da vida humana, pois levam o indivíduo a tomar cons-ciência das transformações que seu corpo está sofren-do, rumo ao inevitável declínio. A morte de pessoas próximas também representa grande desafio à capa-cidade de enfrentamento dos idosos. Mesmo sendo algo natural e previsível, a morte é assunto evitado na

sociedade moderna, por tornar flagrante a vulnerabi-lidade humana, apesar de todos os avanços tecnológi-cos disponíveis10.

Se por um lado, a experiência de eventos relacio-nados à finitude pode gerar ou agravar estados de an-siedade e depressão ou pode afetar relacionamentos familiares e sociais, por outro, pode representar boas oportunidades para aprendizado e crescimento pessoal. Os mecanismos de autorregulação do self, dentre eles o enfrentamento e o senso de autoeficácia, são importantes para a adaptação e o restabelecimento do bem-estar diante dos eventos estressantes e a ma-nutenção da integridade psicológica11,12. O enfren-tamento diz respeito às estratégias comportamentais observáveis ou encobertas adotadas pelos indivíduos para administrar ou lidar com pressões externas ou internas, que desafiam seus recursos e competem com sua noções de equilíbrio e bem-estar subjetivo. A per-cepção de autoeficácia do enfrentamento é definida como a crença que o indivíduo tem nas suas próprias capacidades para organizar e executar e os compor-tamentos necessários para lidar com situações estres-santes, ambíguas e imprevisíveis13. As consequências e os efeitos dos eventos são sentidos individualmente e dependem de avaliações que o indivíduo faz sobre o valor ou o peso de determinada situação e dos recur-sos pessoais de que dispõe para enfrentá-la.

oBJetiVoS

Os objetivos do presente estudo são descrever a expe-riência de eventos estressantes relacionados à finitude em termos de frequência, intensidade, efeitos a longo prazo, enfrentamento e percepção de autoeficácia do enfrentamento, levando em conta autorrelatos de ho-mens e mulheres idosos recrutados na comunidade.

MétoDoS

Participantes

Foram selecionados 570 dentre os 956 participantes do PENSA – ver artigo intitulado “Processos de Enve-lhecimento Saudável (PENSA) em idosos da comuni-dade: delineamento, medidas e dados preliminares”, neste fascículo. Os critérios de seleção da amostra foram dois, quais sejam terem relatado eventos estres-santes que remetiam à finitude (problemas de saúde do próprio idoso, do cônjuge ou dos filhos e morte de outros entes queridos) e terem citado evento de

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 86 14/09/2009 18:01:07

Page 43: brailian - SBGG

87eventos de finitude em idosos

finitude como o mais estressante que viveram. A es-colha dessa categoria de eventos deveu-se à sua grande frequência na amostra total (n = 956) e em subamostra (n = 544) do PENSA, pois 61% e 64% dos idosos, respectivamente, relataram ter vivido eventos de vida dessa categoria14,15. Deveu-se, também, ao interesse em conhecer o impacto desses eventos sobre a vida dos idosos.

Dos 570 idosos, 74% eram mulheres. A idade va-riava entre 60 e 99 anos (M = 73,04; Mediana = 73; DP = 8,44); 37,9% tinham entre 60 e 69 anos, 39,6%, entre 70 e 79 anos e 22,5%, 80 anos ou mais. Nesta amostra 46% eram casados ou viviam com companheiro(a), 41,9% eram viúvos, 7,5%, solteiros e 4,6%, divorciados, desquitados ou separados. Ape-nas 12,9% viviam sozinhos. Quanto à escolaridade, 49,4% dos idosos eram alfabetizados ou tinham o curso primário, 14,9%, o ginasial e 22,1%, o curso colegial. Dez por cento tinham curso superior, com-pleto ou incompleto. Em relação à renda familiar mensal, 20,1% dispunham de 1 e 2 salários mínimos (SM), 26,1%, de 3 a 4 SM, outros 26,6%, de 5 a 8 SM e 26,9%, de mais de 8 SM mensais.

Instrumentos

Os instrumentos utilizados foram os seguintes:

a) questionário de características socioeconômicas – dois itens de resposta estruturada pelos idosos sobre a idade, um item dicotômico sobre gênero e itens de múltipla escolha sobre o estado civil e a escolaridade. Do conjunto de instrumentos que avaliam a ocorrência de eventos estressantes na população idosa, elaborados por Aldwin, Sutton e Lachman6 e traduzidos para o português para utilização no PENSA, foram selecionados sete conjuntos de itens que avaliaram: tipos de eventos ocorridos, intensidade do evento, valor do even-to, autoeficácia no enfrentamento, resultados do evento, efeitos do evento a longo prazo e aprendi-zado decorrente da experiência do evento;

b) eventos estressantes – este instrumento avalia a ocorrência de eventos de vida negativos, como problemas na relação do casal, problemas com os filhos, problemas no trabalho, problemas de saúde, morte dos pais, solidão, entre outros, totalizando 31 itens. Solicita-se aos respondentes que indi-quem quais eventos estiveram ou não presentes em sua vida e que discriminem quais ocorreram no último ano, nos últimos cinco anos ou há mais de cinco anos. Cada participante elegia um único evento como o mais estressante pelo qual havia

passado ou estaria passando no momento da en-trevista e era orientado a tomar esse evento como referência para responder às demais questões. Para a presente investigação, foram selecionados seis itens do Inventário de Eventos Estressantes, os quais foram previamente categorizados como “eventos relacionados à finitude” e descritos como “morte de pessoas amadas ou problemas de saúde da própria pessoa ou de alguém próximo, que re-presentam amea ça à continuidade da vida”14,15;

c) avaliação da intensidade de estresse gerado pelo evento – o nível de estresse do evento relatado foi obtido por meio da seguinte pergunta: “Em uma escala de 1 a 7 qual nota o(a) senhor(a) daria para este evento em termos de ser estressante?”. A nota 1 correspondia a “nada estressante” e a nota 7, a “muito estressante”;

d) avaliação qualitativa do evento – foi verificada por meio da seguinte pergunta: “Para o(a) senhor(a), como foi este evento?”, e o participante escolhia uma dentre as seguintes respostas: “uma ameaça”, “um aborrecimento”, “uma perda ou dor”, “uma perda ou dor para uma pessoa que o(a) senhor(a) ama”, “um desafio”, “uma coisa que lhe trouxe a sensação de desamparo” ou “outros”. Caso o idoso não encontrasse, dentre as alternativas, uma res-posta que considerasse válida, poderia responder “outros”, e o entrevistador registraria sua resposta de modo literal (para os fins deste estudo, as res-postas “outros” não foram analisadas);

e) percepção de autoeficácia no enfrentamento do evento – para esta finalidade, havia duas pergun-tas relacionadas ao sucesso no enfrentamento do evento: “Dadas estas circunstâncias, como o(a) senhor(a) diria que lidou com o problema?” e “Quão bem o(a) senhor(a) diria que lidaria com um problema como este no futuro?”. As respos-tas eram referenciadas à escala de 1 a 5 (sendo 1 = nada bem, ou seja, muito mal; 2 = não muito bem; 3 = adequadamente; 4 = de alguma forma bem; e 5 = muito bem);

f ) resultados do evento – esta avaliação foi obtida por meio da pergunta: “Qual foi o resultado deste pro-blema?”, e o idoso respondia apenas a uma das se-guintes alternativas: “não foi resolvido e continua acontecendo”; “foi resolvido ou melhorou, princi-palmente porque o(a) senhor(a) se esforçou”; “foi resolvido ou melhorou, mas não por causa dos seus esforços”; “de alguma maneira piorou”; “não se tornou um problema tão grande como o(a) senhor(a) imaginou a princípio”; “demandou que

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 87 14/09/2009 18:01:07

Page 44: brailian - SBGG

88 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(2):85-94

o(a) senhor(a) se comprometesse” ou “tornou-se algo que o(a) senhor(a) teve que aceitar”;

g) efeitos do evento a longo prazo – para avaliar os efeitos do evento, perguntava-se: “Quais foram os efeitos deste problema a longo prazo?”, e o partici-pante respondia apenas uma das seguintes alterna-tivas: nenhum; bem-estar emocional; vulnerabili-dade emocional; alguma vantagem considerável, significativa; alguma perda ou dor; desenvolveu uma nova filosofia e maneira de ver a vida; refor-çou velhas filosofias e maneira de ver a vida ou outros;

h) aprendizado obtido com o evento – foi feita a se-guinte pergunta: “O que o(a) senhor(a) diria ter aprendido com esta experiência?”, e em seguida era apresentada uma relação com 16 itens relacionados ao aprendizado obtido com o evento. As respostas eram referenciadas a uma escala de 1 a 4 (sendo 1 = nada; 2 = pouco; 3 = moderado; 4 = muito). Os itens diziam respeito a importância da família, valores pessoais, religião e espiritualidade, percep-ção dos recursos pessoais (psicológicos, físicos, sociais) e da capacidade de enfrentamento do es-tresse, disponibilidade de suporte social, aprendi-zado de novas estratégias ou atitudes em relação à vida e percepção de falta de controle sobre certas situações.

reSultaDoS

Os dados foram submetidos a análises estatísticas des-critivas univariadas e inferenciais de natureza bivaria-da, por meio do programa estatístico SPSS 15.0.

Dentre os eventos relacionados à finitude, o mais frequentemente relatado foi outra morte ou perda (38,9%), como a morte de parente ou amigo(a) mui-to próximo(a). Em segundo lugar apareceram os even-tos morte do cônjuge e problemas de saúde (15,4% e 15,3%, respectivamente), seguidos por morte dos pais (14%), problema na saúde do cônjuge (8,2%) e problema com a saúde dos filhos (8,1%). Entre os ho-mens, os eventos com maior frequência foram outra morte ou perda (33,1%) e problemas de saúde (23%), e entre as mulheres, outra morte ou perda (41%) e morte do cônjuge (18%). Quando comparadas as três faixas etárias, observou-se maior frequência do evento outra morte ou perda (37% para os idosos de 60 a 69 anos; 42%, de 70 a 79 anos; 36,7%, de 80 anos ou mais). Os resultados estão detalhados na tabela 1.

O nível de estresse do evento foi medido pela respos-ta do participante à escala que variou de 1 (nada estres-sante) a 7 (muito estressante). Cerca de 60% dos idosos atribuíram nota máxima ao evento, enquanto apenas 1,4% atribuiu a nota mínima (M = 6,10; DP = 1,34). As mulheres apresentaram média um pouco mais ele-vada que os homens (M = 6,3; DP = 1,2 e M = 5,7;

tabela 1. Frequência de eventos relacionados à finitude, segundo gênero e faixa etária. Idosos (2002-2003)

eventos relacionados à finitude

Problemas de saúde

Problemas de saúde do(a) esposo(a)

Problemas de saúde dos filhos

Morte do(a) esposo(a)

Morte dos pais

outra morte/perda

total

Gênero

Masculino n%

3423

1812,2

74,7

128,1

2818,9

4933,1

148100

Feminino n%

5312,6

296,9

399,2

7618

5212,3

17341

422100

Total 8715,3

478,2

468,1

8815,4

8014

22238,9

570100

Faixas etárias

60-69 n%

2310,6

198,8

2612%

209,3

4822,2

8037

216100

70-79 n%

3615,9

229,7

135,8

3615,9

2410,6

9542

226100

> 80 n%

2821,9

64,7

75,5

3225

86,3

4736,7

128100

Total 8715,3

478,2

468,1

8815,4

8014

22238,9

570100

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 88 14/09/2009 18:01:07

Page 45: brailian - SBGG

89eventos de finitude em idosos

DP = 1,6, respectivamente). Não houve diferenças estatisticamente significativas quanto às médias dos grupos etários em relação ao nível de estresse gerado pelo evento avaliado como o mais estressante.

Quanto à avaliação qualitativa do evento, 47,1% dos idosos a consideraram como perda ou dor para si mesmo, 18,1%, como perda ou dor para pessoa amada, e 14,9%, como aborrecimento. As frequên-cias relacionadas aos gêneros e as faixas etárias estão detalhadas na tabela 2.

A percepção de autoeficácia no enfrentamen-to foi verificada de duas formas. A primeira, por meio de avaliação de quão eficazes o indivíduo jul-gou as estratégias adotadas por ele mesmo no mo-mento em que estava vivendo o evento estressante. A maioria dos idosos avaliou seu enfrentamento de maneira positiva, ou seja, que lidou com o pro-blema adequadamente (34,8%), de alguma forma bem (24,6%) ou muito bem (13,9%). As avaliações negativas da eficácia no enfrentamento somaram os outros 26%, que responderam lidou nada bem, ou seja, muito mal e lidou não muito bem (M = 3,2; DP = 1,2). A segunda forma de avaliação da autoeficácia do enfrentamento referiu-se à proje-ção de como o indivíduo agiria no futuro ao enfrentar situação semelhante à relatada. Nesse quesito, 65,5% dos idosos disseram que lidariam de maneira satisfa-tória no futuro, e 23,2% projetaram enfrentamento

ruim para situação semelhante no futuro. Na tabela 3 encontram-se detalhadas as médias das respostas de autoeficácia (de como lidou e de como lidaria no fu-turo), por gênero e faixas etárias.

Após as avaliações de como foi o evento e da au-toeficácia no enfretamento, os participantes foram questionados quanto aos resultados do acontecimen-to. A esta questão, 47,5% dos idosos responderam que o evento tornou-se algo que simplesmente tive-ram de aceitar, 19,5% disseram que o evento ainda não tinha sido resolvido e continuava acontecendo e 18,1% relataram que foi resolvido ou melhorou, principalmente por causa de seus próprios esforços. Outros 7% responderam que o evento foi resolvido ou melhorou, mas independentemente de seus es-forços. Quase metade dos homens (49,1%) e 43,2% das mulheres consideraram o evento como algo que tinham de aceitar; tendência que se mostrou presente também nas três faixas etárias estudadas (44,9% entre os idosos de 60 a 69 anos; 46,7%, de 70 a 79 anos; 53,5%, entre os de 80 anos ou mais). Nota-se que quanto maior o número de anos vividos, maior a ten-dência a eleger tal resposta. Entre os idosos que consi-deraram que o evento não havia sido resolvido, houve maior frequência entre os homens em comparação com as mulheres (26,7% e 17,1%, respectivamente).

Em relação aos efeitos a longo prazo, 39,4% dos idosos disseram que o evento não acarretou nenhum

tabela 2. Percentual de avaliações qualitativas do evento, segundo gênero e faixa etária. Idosos (2002-2003)

como foi o evento

uma ameaça

um aborrecimento

uma perda ou dor

uma perda ou dor para pessoa que

amo

um desafio

uma coisa que me trouxe a sensação de desamparo

outro total

Gênero

Masculino n%

64,1

2919,7

5638,1

2718,4

106,8

42,7

1510,2

147100

Feminino n%

163,8

5613,3

21250,2

7618

194,5

133,1

307,1

422100

Total 223,9

8514,9

26847,1

10318,1

295,1

173

457,9

569100

Faixas etárias

60-69 n%

104,6

2310,6

9644,4

4621,3

177,9

83,7

167,4

216100

70-79 n%

73,1

3615,9

11350

3816,8

94,0

62,7

177,5

226100

> 80 n%

53,9

2620,5

5946,5

1915

32,4

32,4

129,4

127100

Total 223,9

8514,9

26847,1

10318,1

295,1

173

457,9

569100

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 89 14/09/2009 18:01:08

Page 46: brailian - SBGG

90 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(2):85-94

efeito. Dos que relataram algum efeito do evento a longo prazo, a maioria referiu efeitos negativos, como sentimento de perda ou dor (22,6%) e vulnerabili-dade emocional (8%). O restante dos idosos relatou efeitos positivos, como a possibilidade de ter desen-volvido nova filosofia e nova maneira de ver a vida (9%), ou de ter reforçado antigas filosofias e maneiras de ver a vida (5,5%), bem-estar emocional (2,7%), alguma vantagem significativa (2,5%); 10,3% relata-ram outros efeitos. Quando os idosos foram compa-rados por gênero, notou-se que os homens citaram com maior frequência efeitos como ter desenvolvido novas filosofias ou reforçado antigas maneiras de ver a vida (11,4%). Em comparação, o grupo feminino apresentou menor frequência dessas respostas (8,1% e 3,4%, respectivamente). Os idosos mais velhos (80 anos ou mais) responderam com maior frequência que o evento não gerou nenhum efeito (47,3%) em comparação com os idosos das outras faixas etárias (60 a 69 – 35,7%; 70 a 79 – 38,6%). Entre os idosos de 70 a 79 anos, 28% consideraram como efeito de longo prazo alguma perda ou dor, resposta pouco me-nos frequente entre os idosos das outras faixas etárias (60 a 69 – 19,4% e 80 ou mais – 18,2%).

Foi solicitado aos participantes que indicassem se houve algum aprendizado decorrente da experiência vivida, por meio de lista de 16 itens, em uma escala que variou de 1 (nada) a 4 (muito). As médias das

tabela 3. distribuição dos dados referentes à avaliação da autoeficácia no enfrentamento de eventos relacionados à finitude. Idosos (2002-2003)

Gênero como lidoucom o problema

como lidariacom um problema

como este no futuroMasculino

nMédiaDP

1473,37

1,099

1473,68

1,250Feminino

nMédiaDP

4223,13

1,192

4213,43

1,489

Faixas etárias60-69

nMédiaDP

2163,07

1,189

2163,38

1,49070-79

nMédiaDP

2263,27

1,209

2253,51

1,449≥ 80

nMédiaDP

1273,24

1,067

1273,65

1,300Total

nMédiaDP

5693,21,2

5683,51,4

tabela 4. distribuição das respostas do aprendizado decorrente da experiência do evento estressante. Idosos (2002-2003)

aprendizado n Média DP

Família é importante para mim 567 3,7 0,7

Religião e espiritualidade são coisas importantes 568 3,7 0,8

Cuidar de mim é algo importante 568 3,3 1,1

Tive recursos psicológicos 568 2,6 1,2

Tive capacidade para lidar com o estresse 568 3,0 1,0

Tive recursos físicos 567 3,0 1,1

Tive recursos sociais 568 3,3 1,0

Descobri coisas minhas que não me deixam feliz 568 1,6 1,0

Pude me erguer e me manter com minhas próprias forças 567 3,1 1,1

Minha saúde não deixou que eu fizesse o tanto que gostaria de ter feito 567 1,6 1,0

Muitas pessoas não foram tão solícitas conforme eu achava que seriam 568 1,5 1,0

Aprendi novas estratégias 566 2,1 1,2

Adotei novas atitudes positivas em relação à vida 568 2,4 1,3

Vivi situações nas quais você não tem muito a fazer 567 2,9 1,2

Os valores que carrego a vida toda foram excelente recurso usado 568 3,4 1,0

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 90 14/09/2009 18:01:08

Page 47: brailian - SBGG

91eventos de finitude em idosos

tabela 5. distribuição das respostas do aprendizado decorrente da experiência do evento estressante que obtiveram médias acima de 3, segundo gênero e faixas etárias. Idosos (2002-2003)

Gênero Família é importante para mim

religião e espiritualidade

são coisas importantes

cuidar de mim é algo importante

tive capacidade para lidar

com o estresse

tive recursos físicos

tive recursos sociais

Pude me erguer e

me manter com

minhas próprias forças

os valores que carrego

a vida toda foram excelente

recurso usado

MasculinonMédiaDP

1473,69

0,782

1473,31

1,108

1473,271,137

1473,11,0

1473,01,1

1473,201,053

1463,041,095

1473,221,090

FemininonMédiaDP

4203,74

0,725

4213,81

0,578

4213,321,042

4212,91,0

4203,01,1

4213,320,981

4213,091,094

4213,410,995

Faixas etárias

1,00nMédiaDP

2163,74

0,752

2163,64

0,851

2163,351,076

2153,11,1

2163,31,0

2163,301,019

2163,101,124

2163,450,978

2,00nMédiaDP

2243,71

0,745

2253,67

0,795

2253,271,073

2252,91,1

2253,21,0

2253,251,018

2243,091,051

2253,301,064

3,00nMédiaDP

1273,74

0,715

1273,77

0,620

1273,311,043

1272,91,1

1273,40,9

1273,350,939

1273,001,120

1273,331,024

TotalnMédiaDP

5673,70,7

5683,70,8

5683,01,0

5673,01,1

5683,31,0

5673,11,1

5683,41,0

5673,70,7

respostas avaliativas estão expostas na tabela 4. Oito itens obtiveram médias acima de 3 pontos, que repre-sentam respostas positivas para o aprendizado (mo-derado e muito). São eles: família é importante para mim; religião e espiritualidade são coisas importan-tes; cuidar de mim é algo importante; tive capacida-de para lidar com o estresse; tive recursos físicos; tive recursos sociais; pude me erguer e me manter com minhas próprias forças; os valores que carrego a vida toda foram excelente recurso usado. A distribuição dos dados, segundo gênero e faixas etárias, está repre-sentada na tabela 5.

DiScuSSão

Os eventos que remetem à finitude têm sido repor-tados em diversos estudos como de ocorrência fre-

quente entre idosos residentes na comunidade5-8. Nesta investigação, encontramos grande frequência de experiências de morte de pessoas próximas, ami-gos e parentes dos idosos. Os problemas de saúde do próprio idoso foram considerados como o principal evento estressante vivido por homens e idosos mais velhos (80 anos ou mais). Com o avanço da idade, aumentam as chances de desenvolvimento e agrava-mento de problemas de saúde, em especial de quadros de fragilidade biológica16. Os homens idosos tendem a experimentar eventos de saúde de maneira mais aguda, com comprometimentos mais importantes em menor período de tempo, diferentemente das mulhe-res, que tendem a conviver por longos períodos com enfermidades crônicas17. Por essa razão, os homens podem sentir os problemas de saúde como algo mui-to estressante, daí relatarem tais eventos com maior frequência. Entre as mulheres, a morte do cônjuge

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 91 14/09/2009 18:01:08

Page 48: brailian - SBGG

92 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(2):85-94

foi muito relatada como o principal evento estressan-te vivido, confirmando que a viuvez é mais comum entre mulheres que entre homens, fazendo parte do processo de feminização da velhice18.

A maneira como tais experiências repercutem so-bre a vida e sobre o bem-estar dos idosos está relacio-nada com as avaliações subjetivas da situação, com o valor que lhe é atribuído e com as suas consequên-cias reais ou presumidas. A maioria dos idosos desta amostra considerou o evento como perda ou dor para si mesmo. Correspondiam à metade das mulheres e à metade dos idosos de 70 a 79 anos. A avaliação do evento como aborrecimento foi mais frequente entre os homens e entre os idosos mais velhos (≥ 80 anos). O evento foi avaliado como perda ou dor por pessoa amada por ambos os gêneros e pelos idosos mais jo-vens (60 a 69 anos). Os problemas de saúde, tanto de si mesmo como de alguém próximo, podem acar-retar dor física, sentimento de perda (em funcionali-dade, autonomia e independência) e aborrecimento. A morte de alguém próximo pode significar perda real e dolorosa para o idoso e para outras pessoas que ele ama, como foi evidenciado nesta amostra.

Quando questionados sobre a eficácia das estraté-gias de enfrentamento adotadas, a maioria dos idosos considerou ter lidado bem com a situação, confir-mando dados correntes na literatura19. Esta percepção positiva de autoeficácia manteve-se entre os homens e as mulheres e nas diferentes faixas etárias. Da mesma forma, a projeção de enfrentamento eficaz de evento semelhante no futuro mostrou-se positiva em toda a amostra, com médias um pouco mais elevadas que as avaliações do enfrentamento passado, o que revela visão otimista dos idosos sobre as próprias capacida-des de enfrentamento, talvez, em parte, por causa da aprendizagem ou de familiaridade com o evento vivi-do. Ter passado por alguma situação, mesmo de perda ou dor, pode, de alguma forma, preparar o indivíduo para lidar melhor com outro evento do gênero no futuro9,14,19.

A avaliação dos resultados do evento complemen-ta as avaliações de autoeficácia no enfrentamento. Nesta amostra, grande parte dos idosos (em maior frequência os homens e os idosos acima de 80 anos) considerou o evento como algo que simplesmente ti-veram de aceitar. Para outra parte da amostra o even-to não havia sido resolvido e continuava acontecendo (com maior frequência entre os homens), ou havia sido resolvido, principalmente, por causa de seus próprios esforços. Os eventos que remetem ao declí-nio da saúde física podem perdurar por muitos anos

durante a velhice e representar situações infindáveis. Algumas enfermidades são crônicas ou irreversíveis, e pouco se pode fazer para evitá-las depois que já se instalaram (por exemplo, a osteoporose). No entanto, algumas atitudes de cuidado com a saúde podem pre-servar o organismo, ajudá-lo a desacelerar o processo de doenças e minimizar sequelas. A morte, por sua vez, é evento finito por si só, sendo evento pontual, a respeito do qual pouco ou nada pode ser feito10,20.

Grande parte dos idosos não reconheceu a existên-cia de efeitos do evento a longo prazo. Dentre os que consideraram algum efeito, a maioria concentrou-se nos efeitos negativos, como sentimento de perda ou dor e maior vulnerabilidade emocional (em maior frequência em mulheres e idosos de 70 a 79 anos). Os homens relataram mais efeitos positivos, como ter desenvolvido nova filosofia e maneira de ver a vida e ter reforçado antigas filosofias, em comparação com as mulheres. Estes resultados confirmam a tese de que as mulheres são mais queixosas e mais oneradas que os homens, relatam maior número de doenças17,21 e, con-sequentemente, sofrem mais com os efeitos negativos dos eventos e, também, expressam mais emoções ne-gativas que os homens. Estes, por sua vez, parecem ter se beneficiado das situações adversas, mesmo sendo eventos que implicam perdas, como oportunidades para o desenvolvimento de novas formas de pensar e lidar com a vida19.

A última faceta investigada foi o aprendizado de-corrente da experiência estressante. Os idosos aponta-ram como o principal aprendizado a importância da família, da religião e da espiritualidade, após viverem as perdas relatadas, o que está de acordo com a lite-ratura22. A importância dada à família remete à no-ção de que diante da morte (ou de sua possibilidade) aquilo que se torna mais relevante é o convívio com as pessoas mais próximas, que, em geral, se concentram no núcleo familiar. Situações como a morte podem acabar unindo pessoas antes desconectadas, seja por conflitos familiares do passado, seja pela distância fí-sica ou simplesmente pela falta de tempo. A doença do idoso ou de algum parente pode estreitar relações de cuidado dentro da família e reforçar os laços exis-tentes, mesmo em situações em que há desgaste em virtude da tarefa de cuidado23,24.

A religião e a espiritualidade têm sido relatadas como importantes estratégias de enfrentamento, pois atuam como mecanismos protetores do self, ajudam na manutenção do senso de significado e proporcio-nam conforto diante da morte e de sua iminência14,22. Principalmente em situações em que o enfrentamen-

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 92 14/09/2009 18:01:08

Page 49: brailian - SBGG

93eventos de finitude em idosos

to ativo ou o controle direto não se mostram eficazes, atribuir causas e consequência a um Ser superior e transcendente pode ser mais eficaz que abusar do uso de medicamentos ou comida. As religiões oferecem dispositivos que funcionam como amortecedores e suportes em momentos de crise, particularmente no enfrentamento de doenças crônicas25.

Os idosos consideraram o cuidado consigo mes-mos como algo importante, o que pode remeter à própria característica dos eventos vividos. O surgi-mento ou agravamento de enfermidades, tanto do idoso quanto de pessoas próximas, pode estimular o autocuidado com ações voltadas a práticas de exercí-cios físicos regulares e a melhora na alimentação, por exemplo. Os outros tipos de aprendizado relatados remetem aos recursos de que o idoso dispunha para o enfrentamento do evento, como capacidade para enfrentar o estresse, recursos físicos e sociais, capaci-dade para se recuperar do estresse e valores pessoais. A consciência das próprias capacidades e dos próprios recursos contribui para a percepção de autoeficácia no enfrentamento e para o senso de ajustamento psico-lógico na velhice, o qual envolve, entre outras coisas, autoconceito positivo, senso de domínio e de autono-mia e manutenção do sentido da vida26.

concluSão

O envelhecimento tem se mostrado processo rico em experiências, em possibilidades e em crescimen-to a despeito das perdas. Declínio em saúde física é algo amplamente difundido nos meios científicos e de comunicação, assim como as inúmeras maneiras de promover o bem-estar físico, psicológico e so-cial dos idosos. O autocuidado pode ser ferramen-ta importante para o prolongamento da vida, com mínimos prejuízos em funcionalidade e autonomia. Investir em recursos sociais – redes de suporte, por exemplo – e na própria espiritualidade parece tão im-portante quanto investir em saúde física na velhice. A morte de pessoas queridas faz parte de todo o curso da vida, e muito mais do envelhecimento.

O enfrentamento desses eventos envolve processo complexo de avaliação subjetiva – do evento em si, das próprias capacidades e dos recursos disponíveis – e comportamentos dirigidos à resolução do proble-ma, de maneira direta ou minimizando seus efeitos e consequên cias, por meio da resignação e da busca do significado da vida. Neste estudo, os idosos mos-traram que, mesmo vivenciando perdas significativas

– como as ocasionadas por moléstias e pela morte de pessoas próximas –, é possível desenvolver formas adaptativas de enfrentamento e, assim, conseguir pre-servar a integridade psicológica e emocional, avaliar atitudes e reconhecer que possui recursos sociais, físi-cos e psicológicos, ou seja, capacidades, para superar as vicissitudes impostas pela vida.

reFerÊnciaS

1. Neugarten BL. Adult personality: toward a psychology of the life cycle. In: Neugarten BL, organizador. Middle age and aging: a reader in social psychology. Chicago: University of Chicago Press; 1968. p. 137-47.

2. Baltes PB. Theoretical propositions of life-span developmental psychology: on the dynamics between growth and decline. Deve-lopmental Psychology. 1987;5:611-26.

3. Baltes PB. On the incomplete architecture of human ontogeny. Selection, optimization, and compensation as foundation of de-velopment theory. Am Psychol. 1997;52(4):366-80.

4. Diehl M. Self-development in adulthood and aging: the role of critical life events. In: Ryff CD, Marshall VW, organizadores. The self and the society in aging processes. New York: Springer; 1999. p. 150-83.

5. Folkman S, Lazarus RS, Pimley S, Novacek J. Age differences in stress and coping processes. Psychol Aging. 1987;2(2):171-84.

6. Aldwin CM, Sutton KJ, Lachman M. The development of coping resources in adulthood. J Pers. 1996;64(4):837-71.

7. Prakash O, Gupta LN, Singh VB, Singhal AK, Verma KK. Profile of psychiatric disorders and life events in medically ill elderly: experiences from geriatric clinic in Northern India. Int J Geriatr Psychiatry. 2007;22(11):1101-5.

8. Castillo BA, Marziale MH, Castillo MM, Facundo FR, Meza MV. Stress ful situations in life, use and abuse of alcohol and dru-gs by elderly in Monterrey, Mexico. Rev Lat Am Enfermagem. 2008;16:509-16.

9. Aldwin CM, Gilmer DF. Health, Illness, and Optimal Aging: Bio-logical and Psychological Perspectives. California: Sage Publica-tions; 2004.

10. Doll J, Py L. O idoso na relação com a morte: aspectos éticos. In: Neri AL, organizadora. Qualidade de vida na velhice: enfoque multidisciplinar. Campinas: Alínea; 2007. p. 279-300.

11. Carstensen LL, Gross JJ, Fung HH. The social context of emotional experience. In: Annual Review of Gerontology and Geriatrics – Focus on Emotion and Adult Development. Philadelphia: Springer; 1998. v. 17.

12. Freire SA. Bem-estar subjetivo e metas de vida: um estudo trans-versal com homens e mulheres pertencentes a três faixas de ida-de [tese]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2001.

13. Bandura A. Self-efficacy: the exercise of control. New York: W. H. Freeman and Company; 1997.

14. Fortes ACG. Eventos de vida estressantes, estratégias de enfren-tamento, senso de auto-eficácia e estados depressivos em idosos residentes na comunidade: dados do PENSA [dissertação]. Cam-pinas: Universidade Estadual de Campinas; 2005.

15. Fortes-Burgos ACG, Neri AL, Cupertino APFB. Eventos estres-santes, estratégias de enfrentamento, auto-eficácia e sintomas

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 93 14/09/2009 18:01:08

Page 50: brailian - SBGG

94 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(2):85-94

depressivos entre idosos residentes na comunidade. Psicologia: Reflexão e Crítica. 2008;21(1):74-82.

16. Teixeira IN. Fragilidade biológica e qualidade de vida na velhice. In: Neri AL, organizadora. Qualidade de vida na velhice: enfoque multidisciplinar. Campinas: Alínea; 2007. p. 151-72.

17. Camarano AA. Envelhecimento da população brasileira: uma con-tribuição demográfica. In: Freitas EV, et al, editores. Tratado de geriatria e gerontologia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koo-gan; 2006. p. 88-105.

18. Neri AL. Qualidade de vida na velhice e subjetividade. In: Neri AL, organizadora. Qualidade de vida na velhice: enfoque multidisci-plinar. Campinas: Alínea; 2007. p. 13-60.

19. Aldwin CM, Yancura LA, Boeninger DK. Coping, health, and aging. In: Aldwin CM, Park CL, Spiro III A. Handbook of Health Psychology and Aging. New York: Guilford; 2007. p. 210-26.

20. Kübler-Ross E. Sobre a morte e o morrer: o que os doentes ter-minais têm para ensinar a médicos, enfermeiros, religiosos e aos seus próprios parentes. 8ª ed. São Paulo: Martins Fontes; 1998.

21. Neri AL. Velhice e qualidade de vida na mulher. In: Neri AL. Desen-volvimento e envelhecimento: perspectivas biológicas, psicológi-cas e sociológicas. 3ª ed. Campinas: Papirus; 2007. p. 161-200.

22. Wren-Lewis J. The implications of near-death experiences for understanding posttraumatic grown. Psychol Inq. 2004;15:90-2.

23. Santos SMA. Idosos, família e cultura: um estudo sobre a cons-trução do papel do cuidador. Campinas: Alínea; 2003.

24. Neri AL, Fortes ACG. A dinâmica do estresse e enfrentamento na velhice e sua expressão no prestar cuidados a idosos no contexto da família. In: Freitas EV, et al, editores. Tratado de geriatria e gerontologia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006. p. 1277-88.

25. Trentini M, Silva SH, Valle ML, Hammerschmidt KSA. Enfren-tamento de situações adversas e favoráveis por pessoas ido-sas em condições crônicas de saúde. Rev Lat Am Enfermagem. 2005;13(1):38-45.

26. Keyes CL, Ryff CD, Shmotkin D. Optimizing well-being: the empirical encounter of two traditions. J Pers Soc Psychol. 2002;82(6):1007-22.

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 94 14/09/2009 18:01:08

Page 51: brailian - SBGG

artiGo oriGinal

eventos estressantes associados ao cuidado, a alterações de sono e a sintomas depressivos entre idosos residentes na comunidadeStressful events associated with caregiving, sleeping disorders, and depressive symptoms among community-dwelling elderly

Mônica Beatriz Ferreira1, Maria Filomena Ceolim2, Ana Paula Fabrino Bretas Cupertino3, Andréa Cristina Garofe Fortes-Burgos4

A primeira autora contribuiu para a fundamentação e a análise dos dados sob a orientação da segunda. A tercei-ra autora planejou o PENSA e acompanhou a coleta de dados, de cujo banco os registros para esta pesquisa foram ex-

traídos. A quarta autora criticou e revisou o trabalho e deu a feição final ao artigo dele resultante.

Endereço para correspondência: Mônica Beatriz Ferreira • Centro Universitário da Fundação Educacional Guaxupé (Unifeg) • Av. Dona Floriana, 463, Centro – 37800-000 – Guaxupé, MG • Fone: (35) 3551-5957 e (35) 8421-0785 • E-mail: [email protected]

1 Centro Universitário da Fundação educacional

Guaxupé (Unifeg), Minas Gerais.

2 departamento de enfermagem

da Faculdade de Ciências Médicas da

Universidade estadual de Campinas (Unicamp).

3 University of Kansas Medical

Center, department of Preventive

Medicine, USa.4 doutoranda em

educação pela Faculdade de educação

da Unicamp.

Recebido em 13/7/2009aceito em 9/8/2009

ReSUMOobjetivos: Analisar relações entre a experiência de eventos estressantes associados ao cuidado, a sintomas depressivos e a distúrbios do sono em homens e mulheres idosos recrutados na comunidade. Métodos: Entre os 898 participantes havia predomínio de mulheres (71,9%); 40,6% tinham entre 60 e 69 anos, 40%, entre 70 a 79 anos (40,0%) e 19,4%, 80 anos ou mais; metade era composta de casados e 90,3% tinham filhos; 81,9% tinham de quatro a 11 anos de escolaridade; 52% tinham renda familiar de três a oito salários mínimos; e 49,9% moravam com mais de duas pessoas. Foram utilizados os seguintes instrumentos: questionário de características socioeconômicas, Escala de Rastreamento de Sintomas Depressivos, The Elders Life Stress Inventory e Mini-Sleep Questionnaire, validados para o português. resultados: A prevalência de sintomas depressivos foi de 33% (36,5% entre as mulheres); 37,7% da amostra pontuaram para distúrbios de sono; e 35,5% mencionaram expe-riência de eventos ligados ao cuidado no último ano. Ter vivido quaisquer eventos estressantes e piora na saúde ou no comportamento de alguém da família relacionaram-se significativamente com depressão. Os idosos com depressão apresentaram mais risco para alterações de sono. As mulheres pontuaram significativamente mais alto em todas as medidas. Depressão, prestar cuidados e ser mulher apareceram como fatores de risco independentes para distúrbios de sono, mas na análise multivariada os efeitos de prestar cuidados sobre os padrões de sono confundiram-se com os efeitos da depressão e da idade. conclusão: É necessário refinar as medidas relativas à experiência de cuidado e de covariáveis dos padrões de sono e de depressão.

Palavras-chave: Idosos, depressão, distúrbios do sono, estresse do cuidador.

aBStractobjective: Investigating relationships among stressful life events associated with caregiving, depressive symp-toms, and sleeping disorders among men and women aged 65 and more. Methods: There were 898 participants from the first wave of measures of a community study on successful aging. Participants were aged 60 to 69 (40,6%), 70 to 79 years (40%) and 80 years or more (19,4%); 50% were married and 90,3% have had children. 81,9% had 8 to 11 years of school attendance; more than a half of the sample family monthly income varied be-tween three and eight unities of salary; 50% of the participants lived with two or more relatives. 646 were women (71,9%). Instruments included a questionnaire assessing socioeconomic characteristics, the Center for Epidemio-logic Survey-Depression, the Elders Life Stress Inventory, and the Mini-Sleep Questionnaire, all them semantically

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 95 14/09/2009 18:01:08

Page 52: brailian - SBGG

96 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(2):95-102

introDução

A depressão é um distúrbio de humor com forte im-pacto funcional em qualquer faixa etária. De nature-za reconhecidamente multifatorial, envolve inúmeros aspectos de ordem biológica, psicológica e social em um quadro composto por sintomas que traduzem estados emocionais que diferem acentuadamente em grau e algumas vezes, em espécie1.

A partir da CID-102 e do DSM-IV3, o estado de-pressivo é definido como condição patológica com rebaixamento do humor e sintomas com intensida-de e duração relativos aos interesses, às formas de prazer e ao impulso para a ação. Os sintomas mais comuns dos quadros depressivos são: desânimo e cansaço; insônia; falta de apetite; dificuldades de memória; dores nas costas e dores de cabeça; e per-sistentes sentimentos de tristeza, ansiedade, “vazio”, desesperança, pessimismo e culpa. Estudos interna-cionais realizados com participantes da comunidade em geral, com diferentes escalas de rastrea mento, sugerem que sintomas depressivos ocorrem em cerca de 15% dos idosos4-6.

Fatores como a predisposição genética à depressão por causa de desequilíbrio bioquímico, a dificuldade em conseguir manter seu estilo de vida saudável, o efei-to colateral de medicações e, ainda, acontecimentos estressantes podem propiciar a depressão. Dentre os fa-tores de ordem fisiológica, identificados como predis-ponentes à depressão na velhice, incluem-se as doenças crônicas, entre elas as cerebrovasculares e as cardiovas-culares, a osteoartrose, a doença pulmonar obstrutiva crônica e as demências, cujos efeitos são potencializa-dos quando ocorrem em conjunto, caracterizando con-dição de múltiplas comorbidades. A incidência dessas moléstias tende a aumentar depois dos 40 anos, assim como o risco de mortalidade e de incapacidade7,8.

Outras situações tradicionalmente ligadas ao en-velhecimento, mas de natureza psicossocial, como pobreza, viuvez, institucionalização e solidão, são também consideradas como fatores de risco para o desenvolvimento de sintomas depressivos. No enve-lhecimento, os indivíduos se defrontam com fortes mudanças nos papéis sociais. As perdas em papéis, entre os quais os profissionais, e as perdas afetivas, de modo especial a morte do cônjuge, de filhos ou de amigos próximos, têm forte potencial para atuar como fatores desencadeantes de sintomas e de trans-tornos depressivos ou de ansiedade9.

Esses e outros eventos com alta probabilidade de ocorrência na velhice tendem a ser vividos como mais desafiantes ou exigentes do que os recursos pes-soais e sociais são capazes de tolerar. Quando isso ocorre, caracterizam-se situações de estresse, que envolvem mudanças comportamentais, afetivas e fisiológicas de impactos diversos, dependendo das experiências anteriores de enfrentamento, da saúde, das crenças, das expectativas, da autoavaliação das competências, do significado e das características da situação estressante, entre outros elementos que po-dem influir na adaptação dos idosos às exigências externas e internas.

Uma das situações comumente vividas no envelhe-cimento e que pode constituir-se evento estressante é ser cuidador de outro idoso, processo que implica mui-tas adaptações físicas, sociais, cognitivas e emocionais. Os impedimentos dos idosos doentes e incapacitados, a restrição do tempo para si próprio em função do ou-tro, a sobrecarga do trabalho de cuidados, são alguns dos fatores que podem ser estressantes para o cuidador e podem prejudicar sua saúde física e emocional10,11. Os estados emocionais de alarme, como os que ocor-rem em situações agudas vividas pelos cuidadores (por exemplo, em episódios de derrames, enfartes, comas diabéticos, quedas, acidentes, internações e emergên-cias), geralmente, implicam fortes demandas sobre os

validated to Brazilian elderly. results: Prevalence of depressive symptoms, sleeping disorders and caregiving was 33%, 37,5% and 35,5%, respectively. Women scored higher on depression, sleeping disorders and stressful experiences associated to caregiving than men did. Those that reported have lived a worsening of the health of a close relative showed significantly higher scores in the CES-D. Depression, caregiving, and being women appeared as independent risk factors to sleeping disorders, but in the multivariate analysis, the effects of caregiving covaried with patterns of sleeping and aging. conclusion: New studies must clarify the independent role of caregiving stress, depression, gender and aging on sleeping disorders.

Keywords: Aged people, depressive symptoms, sleeping disorders, caregiving stress.

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 96 14/09/2009 18:01:08

Page 53: brailian - SBGG

97estresse do cuidador, sono e depressão em idosos

mecanismos fisiológicos e psicológicos de adaptação. As demandas excessivas, de longa duração e sem pers-pectiva de solução tendem a desgastar física e psicolo-gicamente o organismo do cuidador12.

As estratégias de enfrentamento representam im-portante ferramenta para lidar com situações estres-santes, em particular com as envolvidas no cuidado a outro idoso. Quando o enfrentamento não se mostra eficaz, o exercício do cuidado pode acarretar ao cuida-dor problemas, como irritabilidade, alterações de hu-mor, alterações no sono, excesso ou perda de apetite, propensão a doenças e a acidentes pessoais, consumo excessivo de álcool, fumo ou drogas, descuido com a aparência, afastamento dos amigos, negativismo, apatia, resignação, distorções no julgamento das si-tuações e das próprias capacidades, baixa autoestima, autovitimização, reações exageradas e hostilidade e depressão12.

A depressão é um dos transtornos psiquiátricos mais frequentes entre cuidadores, em especial quan-do o idoso que recebe o cuidado tem algum tipo de demência. Cuidar dessas pessoas pode exigir maior disponibilidade de tempo e esforços acima do que o cuidador dispõe. Pode acarretar dificuldades de manejo, por causa de circunstâncias impostas pelas condições do idoso doente (por exemplo, alterações cognitivas e psicomotoras, incontinência e dependên-cia física), aumentos dos custos financeiros, angústia pelo declínio e pelas alterações cognitivas e compor-tamentais do familiar doente, fadiga, alterações no sono, ansiedade, depressão, senso de inferioridade, senso de ter a vida invadida e de não ter vida pró-pria, confusão mental e esquecimento, propensão a acidentes, conflitos de papéis e conflitos familiares. O progressivo agravo dos sintomas e da exigência de cuidados e a falta de perspectivas de melhora frequen-temente dá origem ao processo de isolamento dos fa-miliares e amigos, com consequente maior exposição à depressão, distúrbio que tem prevalência mais alta nesse segmento13.

As mulheres idosas casadas com parceiros mais velhos estão particularmente expostas a desfechos adversos14, entre eles a acentuação das alterações no padrão de sono e repouso, decorrentes do processo normal do envelhecimento15. As condições usual-mente presentes na velhice e no cuidado, e que tam-bém cursam com depressão, podem relacionar-se com distúrbios de sono. Entre elas, podem ser cita-das o isolamento, a perda de condições socioeconô-micas e a pouca exposição ao sol. Os efeitos podem ser piores se houver associação entre distúrbios do sono e outras condições, como comorbidades16 e dor

crônica17, frequentemente presentes na situação de cuidado. Dentre os distúrbios do sono, destaca-se a insônia, por sua influência importante na depres-são. A insônia tem prevalência de 19% a 38% na população idosa18 e pode ser secundária a doenças neurológicas (Alzheimer, Parkinson e síndrome das pernas inquietas) e cardiorrespiratórias.

A exacerbação das alterações nos padrões de sono tende a prejudicar a saúde física e o bem-estar dos cuidadores pelas alterações que elas acarretam ao equilíbrio homeostático e pelas repercussões deste desequilíbrio sobre o funcionamento do sistema imu-nológico e sobre as funções cognitivas, o humor, a motivação para comportar-se, a capacidade de discri-minar as contingências e a percepção de qualidade de vida19,20, manifestações típicas da depressão.

oBJetiVo

Foi realizada investigação com o objetivo de identifi-car relações entre a experiência de eventos estressantes ligados ao desempenho do papel de cuidador, a qua-lidade do sono relatada e a presença de sintomas de-pressivos em homens e mulheres idosos recrutados na comunidade, os quais relataram ter vivido experiên-cias de cuidado no último ano.

MétoDo

Participantes

Foram considerados 898 idosos cujos dados estavam contidos nos arquivos do PENSA – ver artigo “Proces-sos de Envelhecimento Saudável (PENSA) em idosos da comunidade: delineamento, medidas e dados pre-liminares”, neste fascículo – e que haviam respondido na íntegra aos itens dos instrumentos que avaliavam as variáveis de interesse para este estudo.

Dos 898 idosos, 71,9% eram mulheres. A idade va-riou entre 60 e 99 anos (M = 72,3 e DP = 8,2); 40,6% tinham entre 60 a 69, 40%, entre 70 a 79 e 19,4% tinham 80 anos ou mais. Metade dos idosos era casada ou tinha união estável, 37,1% eram viúvos e 12,9% eram solteiros, separados ou divorciados. Quanto à escolaridade, 43,3% tinham completado o curso pri-mário, 38,6% tinham cursado até o antigo ginásio e o curso colegial, 9,8% tinham curso superior completo ou incompleto, 4,5% eram alfabetizados e 3,7% nunca frequentaram escola.

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 97 14/09/2009 18:01:09

Page 54: brailian - SBGG

98 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(2):95-102

Instrumentos

Foram selecionados os itens relativos aos seguintes instrumentos:

a) questionário de características socioeconômicas – dois itens de resposta estruturada pelos idosos sobre a idade, um item dicotômico sobre gênero e itens de múltipla escolha sobre o estado civil (um) e escolaridade (um);

b) Escala de Rastreamento de Sintomas Depressi-vos – Center for Epidemiologic Survey-Depression (CES-D) – a escala original foi desenvolvida por Radloff21, no National Institute of Mental Health dos Estados Unidos, por meio da qual se investiga a ocorrência de 20 sintomas depressivos na últi-ma semana, com escore entre 0 e 60. A CES-D foi validada para idosos com a própria amostra do PENSA, tendo sido obtida nota de corte > 11 para pontuação em sintomas depressivos18;

c) The Elders Life Stress Inventory (ELSI)22 – versão traduzida para o português para utilização no PENSA. Avalia a ocorrência de eventos estres-santes no último ano e a intensidade atribuída pelo idoso, por meio de lista com 31 situações, em uma escala de seis pontos: 0 = não aconteceu, nada estressante, 1 = pouco estressante, 2 = me-diamente estressante, 3 = muito estressante, 4 = extremamente e 5 = estressante;

d) os itens relativos ao cuidado23 eram em número de 5: morte de filho ou filha (item 4), morte de amigo (item 13), piora na saúde ou no comporta-mento de membro da família (item 14), assumir maior responsabilidade pelos pais (item 27) e ins-titucionalização dos pais (item 28);

e) o Mini-Sleep Questionnaire24 avalia as queixas sobre o sono e a frequência com que ocorrem es-tas queixas. O escore total da escala pode variar de 0 a 60 pontos distribuídos em cinco faixas de pontuação: sono muito bom (0-9 pontos), sono bom (10-24), sono levemente alterado (25-27), sono moderadamente alterado (28-29) e sono muito alterado (acima de 30).

Para a comparação das variáveis categóricas entre os grupos foi utilizado o teste qui-quadrado ou o teste exato de Fisher. Para comparar as variáveis numéricas entre os grupos foram utilizados os testes de Mann-Whitney (dois grupos) e de Kruskal-Wallis (três ou mais grupos). Na análise da relação entre as variáveis numéricas foi utilizado o coeficiente de correlação de postos de Spearman. Para as análises correlacionais, os

sujeitos foram divididos em dois grupos: com e sem depressão (ponto de corte > 11).

reSultaDoS

O escore de depressão na CES-D variou de zero a 53 pontos (M = 10,2; DP = 8,7). A prevalência foi de 33% No MSQ, houve variação de 10 a 49 pontos (M = 23; DP = 7,7); 62,3% relataram ter boa quali-dade de sono (< 25 pontos).

A consistência interna dos instrumentos CED-S e MSQ foi avaliada utilizando-se o coeficiente de consis-tência interna alfa de Cronbach. A CED-S apresentou coeficiente de 0,86 (alta consistência). O MSQ apre-sentou coeficiente de 0,57. Após a retirada do item 7 (“Você acorda durante a noite e volta a dormir?”), o coeficiente subiu para 0,62, considerado indicador moderado de consistência interna moderada.

Entre as mulheres 36,5% pontuaram para sinto-mas depressivos. Na comparação com a frequência observada entre os homens, a diferença foi estatisti-camente significativa (p = 0,009). As mulheres apre-sentaram escore significativamente mais elevado na CES-D que os homens (p < 0,001). As mulheres também relataram mais alterações do sono que os ho-mens (p = 0,030), visto que 39,9% pontuaram acima de 25 no MSQ.

Os grupos de idade foram comparados quanto à depressão e à qualidade do sono. O grupo de 60 a 69 anos e o de 80 anos ou mais apresentaram mais de-pressão e diferiram significativamente do grupo de 70 a 79 anos quanto à presença de sintomas depressivos (p = 0,027). Não foram observadas diferenças estatis-ticamente significativas entre os grupos de idade em relação à qualidade do sono (p = 0,477).

Foi observada relação entre baixa qualidade do sono e presença da depressão (p < 0,001). O cálculo da correlação entre os escores das duas escalas, utili-zando-se o coeficiente de correlação de Spearman (r), mostrou correlação positiva e significativa (r = 0,30; p < 0,001).

A partir das respostas ao ELSI, os idosos foram classificados em três grupos: os que relataram even-tos estressantes ligados ao cuidado (35,5%); os que apontaram outros eventos estressantes, ou seja, todos os demais eventos do inventário (45%); e os idosos que relataram ausência de experiências de eventos es-tressantes (19,5%). Dentre os 246 idosos que relata-ram ter vivido um dos eventos de cuidado, 49 idosos disseram ter vivido dois, 18 idosos, três e seis idosos,

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 98 14/09/2009 18:01:09

Page 55: brailian - SBGG

99estresse do cuidador, sono e depressão em idosos

quatro. Não foram encontradas diferenças estatistica-mente significativas entre os grupos de idade e sexo quanto a número ou tipo de eventos vivenciados.

O teste qui-quadrado foi usado para comparar as frequências de idosos com e sem sintomas depressivos e com e sem alterações de sono entre os que não viven-ciaram, ou os que vivenciaram eventos associados ao cuidado ou que viveram eventos relacionados a outras situações estressantes. Foram identificados mais idosos com depressão entre os que disseram ter vivido even-tos relativos ao cuidado ou outro evento estressante (p < 0,001). Não foram observadas diferenças estatis-ticamente significativas entre os três grupos e a pre-sença de alterações de sono. No entanto, com base nos testes Kruskall-Wallis e post-hoc de Dunn, pode-se dizer que a pontuação média em ambos os instru-mentos foi mais alta entre os que viveram o evento cuidar ou outro evento estressante, sendo as diferen-ças estatisticamente significativas (Tabela 1).

Os homens que não viveram a situação de assu-mir maior responsabilidade com o pai/mãe tiveram pior qualidade do sono (p = 0,043). Possivelmen-te, a maior parte deles era afetada por alterações de sono associada à idade. Entre as mulheres, não fo-ram observadas relações estatisticamente significati-vas entre alterações de sono e vivência ou não dos eventos estressantes.

Analisando-se separadamente os escores do MSQ para cada um dos eventos estressantes ligados ao cui-dado, observa-se que os idosos que relataram o item piora na saúde ou no comportamento de membro da família apresentaram escore significativamente mais alto que os que não vivenciaram esse evento (media-nas de 23 e de 22, respectivamente; p = 0,04).

Cada um dos quatro eventos estressantes ligados ao cuidado foi analisado separadamente em relação à presença de depressão e de alterações do sono. Ter piora na saúde ou no comportamento de membro da família (item 14 da ELSI) afetou significativamente a afetividade das mulheres, que apresentaram taxas

mais altas de depressão que os homens (p < 0,001). Também entre as mulheres, a presença de outros eventos estressantes que não os de número 3, 14, 27 e 28 mostrou-se mais associada com a ocorrência de depressão que entre os homens (p < 0,001).

Houve associação entre a presença do item 14 e depressão na faixa dos 60 a 69 anos (p = 0,025), e entre a presença do item 3 e depressão na faixa dos 80 anos ou mais (p = 0,026). Ainda, nessas faixas etárias houve associação entre depressão e ter vivido os outros eventos estressantes (p = 0,012 e 0,015, respectivamente).

Foi feita análise de regressão logística univariada com o objetivo de determinar quais os indivíduos apresentam maior risco para alteração do sono (Tabela 2). Os idosos com depressão tiveram risco 2,8 vezes maior de apresentar alterações de sono que os sem depressão; os que relataram um ou mais eventos ligados ao cuidado tiveram risco 1,6 vez maior para a mesma variável; as mulheres apresentaram risco 1,4 vez maior de terem alterações do sono, quando com-paradas com os homens.

Foi realizada análise de regressão logística multi-variada, com critério stepwise. Os eventos estressantes ligados ao cuidado que se mostraram significativos na análise univariada não se mantiveram na análise multivariada (Tabela 3). As mulheres com depressão apresentaram risco 3,4 vezes maior para alteração do sono que mulheres sem depressão. Os idosos de 60 a 69 anos, 70 a 79 anos e 80 anos ou mais com depres-são apresentaram risco 2,7, 2,9 e 3,1 vezes maior de ter alterações do sono que os idosos sem depressão, respectivamente.

DiScuSSão

A maioria dos idosos não apresentou depressão. En-tre os idosos com depressão, houve predomínio de mulheres, que apresentaram mais alterações de sono

tabela 1. Comparações entre as médias na CeS-d (sintomas depressivos) e no MSQ (alteração do sono), conforme os tipos de eventos estressantes vivenciados. Idosos (2002-2003)

Variáveis eventos estressantes

ausentes outros ligados ao cuidado

Média (± DP) Mediana Média (± DP) Mediana Média (± DP) Mediana p(*)

MSQ 21,4 (6,4) 20,0 23,5 (7,7) 22,0 23,6 (8,0) 23,0 0,003

CES-D 6,8 (5,8) 6,0 10,6 (8,7) 8,0 11,6 (9,5) 9,0 < 0,001

(*) Teste Kruskal-Wallis.

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 99 14/09/2009 18:01:09

Page 56: brailian - SBGG

100 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(2):95-102

Houve correlações entre alterações da qualidade do sono e depressão, mas não foram encontradas correlações entre idade e alterações de sono. Pode-se entender esta relação sono/depressão como peculiari-dade da expressão do quadro depressivo1 e não como função da idade.

O evento estressante 14, que envolve piora na saúde ou no comportamento de membro da famí-lia, teve forte relação com sintomas depressivos, indicadores de dificuldades de adaptação a eventos adversos e de escassez de experiências positivas25. A piora na saúde de membro da família pode ser considerada evento estressante de natureza psicos-social e mesmo como algo traumático, de difícil ela-boração psicológica, confirmando dados de Berlim, Perizzolo e Fleck26.

Os itens 4 (morte de filho ou filha), 13 (morte de amigo), 27 (assumir maior responsabilidade pelos pais), 28 (institucionalização dos pais) são outros eventos de natureza estressante, capazes de levar ao aparecimento de sintomas depressivos, a menos que os idosos rece-bam apoio social, emocional e instrumental.

Cuidar do outro ou ter de desenvolver novas formas de autocuidado implicam mudança de vida e costu-mam causar intenso desgaste físico e psicológico, mo-tivos pelos quais o estresse entre cuidadores é bastante comum, configurando círculo vicioso entre demanda de cuidados, evento estressante, estresse e sintomas de-

tabela 3. Relações entre depressão, gênero e idade com alterações de sono em idosos. Idosos (2002-2003)

Variável categoria p razão de

risco

ic 95%-or(*)

Depressão, segundo o CES-D

NãoSim < 0,001

1,02,8 2,13-3,78

Sexo feminino × depressão

NãoSim < 0,001

1,03,4 2,43-4,76

60-69 anos × depressão

NãoSim < 0,001

1,02,7 1,73-4,16

70-79 anos × depressão

NãoSim < 0,001

1,02,9 1,82-4,66

80 ou mais anos × depressão

NãoSim < 0,001

1,03,1 1,62-5,87

(*) IC 95% OR = intervalo de 95% de confiança para a razão de risco.

tabela 2. Relações entre gênero, idade, depressão, vivência de eventos estressantes e alteração na qualidade do sono em idosos. Idosos (2002-2003)

Variável categoria p razão de risco ic 95%-or(*)

Sexo MasculinoFeminino

1,01,4

–1,03-1,91

Idade 60-69 anos70-79 anos

80 anos ou mais

0,0310,6010,427

1,00,91,1

–0,68-1,250,80-1,68

Depressão (CES-D) NãoSim < 0,001

1,02,8

–2,13-3,78

Evento estressante 3 NãoSim 0,743

1,01,1

–0,65-1,84

Evento estressante 14 NãoSim 0,111

1,01,3

–0,95-1,70

Evento estressante 27 NãoSim 0,509

1,00,8

–0,38-1,62

Evento estressante 28 NãoSim 0,449

1,01,2

–0,72-2,10

Eventos estressantes AusentesOutros

Ligados ao cuidado0,0950,025

1,01,41,6

–0,95-2,021,06-2,31

(*) IC 95%-OR: intervalo de 95% de confiança para a razão de risco.

que os homens, resultados semelhantes aos de estu-dos nacionais e internacionais O número de homens (27,4%) e mulheres (36,5%) com depressão está den-tro das estimativas nacionais e internacionais: de 5% a 35%4-6,18. Os sintomas depressivos foram mais co-muns entre idosos com 60 a 69 anos e de 80 anos em diante. No primeiro grupo, possivelmente os sinto-mas estão relacionados aos conflitos de papéis e a pres-sões concomitantes do status adulto e do status idoso. No segundo, os sintomas depressivos estariam mais ligados à perda de pessoas significativas, ao medo de dependência, a doenças e à noção da proximidade da morte25.

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 100 14/09/2009 18:01:09

Page 57: brailian - SBGG

101estresse do cuidador, sono e depressão em idosos

pressivos. A função de cuidador pode representar con-dição de prejuízo e estresse, elemento importante para o desenvolvimento de transtornos depressivos em suas várias possibilidades, como descritas pela CID 102 e pelo DSM IV3 e verificado em diversos estudos18,25,27.

O idoso cuidador pode desenvolver problemas decorrentes da tarefa de cuidar, na forma de descui-do consigo mesmo e da própria saúde e pode desen-volver depressão em resposta ao estresse prolongado, prejudicando tanto a saúde física quanto a psíquica do portador.

As mulheres idosas que pontuaram para depressão apresentaram risco mais elevado de terem alterações de sono, em relação a mulheres e homens que não apresentaram depressão. Os resultados confirmam a presença da diminuição de sono – insônia – como um dos critérios diagnósticos para o transtorno depressivo2,3 e como uma das características clínicas peculiares da depressão em idosos, como indicam di-versos estudos1,28,30.

As queixas de perda de sono devem ser conside-radas com maior cuidado, já que a insônia é fator de risco para o desenvolvimento de quadros depressi-vos, ou seja, características esperadas como parte do envelhecimento normal podem se acentuar e virem a se configurar como transtornos da afetividade e do humor. O estudo mostrou, para este grupo específi-co de idosos, que a relação entre insônia e depressão foi mais forte que a relação entre vivência de eventos estressantes e depressão. Uma das explicações recai sobre o fato de que alterações do sono e sintomas depressivos covariam, sendo difícil identificar os de-terminantes e os efeitos separados de cada uma das anomalias.

Os resultados encontrados nesta pesquisa não es-gotam as inúmeras possibilidades das repercussões do cuidado sobre a vida dos idosos cuidadores. Futuros estudos deverão contemplar outras variáveis que me-deiam as relações entre sono e depressão no contexto do cuidado, como o suporte social, as relações familia-res, a história de relacionamento do cuidador e do ido-so, seu grau de parentesco, o tipo de arranjo domiciliar em que vivem, o status socioeconômico e de saúde do cuidador, o estágio da doença do idoso e o prognóstico da doença, entre outros elementos.

Cabe ressaltar a importância dos dados, não só para a pesquisa sobre o impacto do cuidado sobre a saúde e o bem-estar do cuidador como também para a intervenção profissional com idosos cuidadores, com sua rede de suporte e com os dispositivos sociais de

apoio. O trabalho terapêutico com esses idosos e seus familiares deve estimular a reflexão sobre condutas positivas de enfrentamento, sobre comportamentos resilientes em relação a situações adversas e difíceis, decorrentes do cuidado, sobre o autocuidado em saú-de e sobre a necessidade de preparar-se para a vivência do luto pelas perdas envolvidas nas relações com o ente querido incapacitado.

reFerÊnciaS

1. Gazalle FK, Lima MS, Tavares BF, Hallal PC. Sintomas depressivos e fatores associados em uma população idosa no sul do Brasil. Rev Saude Publica. 2004;38(3);365-71.

2. Organização Mundial da Saúde (OMS). Classificação Internacio-nal de Doenças e problemas relacionados à saúde: décima revi-são. São Paulo: Centro Colaborador da OMS para Classificação de Doenças em Português; 1993.

3. American Psychiatric Association (APA). Critérios diagnósticos do DSM-IV: referência rápida. Porto Alegre: Artes Médicas; 1995.

4. Veras RP. País jovem com cabelos brancos: a saúde do idoso no Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumará; 1994.

5. Chaimowicz F, Ferreira TJ, Miguel DF. Use of psychoactive drugs and falls among older people living in a community in Brazil. Rev Saude Publica. 2000;34(6):631-5.

6. Mann A. Depression in the elderly: findings from a community survey. Maturitas. 2001;38(1):53-9.

7. Leite VMM, Carvalho EMF, Barreto KM, Falcão IV. Depressão e envelhecimento: estudo nos participantes do programa Univer-sidade aberta à terceira idade. Rev Bras Saude Mater Infant. 2006;6(1):31-8.

8. Motta LB, Aguiar AC. Novas competências profissionais em saú-de e o envelhecimento populacional brasileiro: integralidade, interdisciplinaridade e intersetorialidade. Ciênc Saude Coletiva. 2007; 12(2):363-72.

9. Oliveira JCF. Insônia, sinais e sintomas depressivos e qualidade de vida em idosos institucionalizados [dissertação]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2006.

10. Cerqueira ATAR, Oliveira NIL. Programa de apoio a cuidadores: uma ação terapêutica e preventiva na atenção à saúde dos ido-sos. Psicologia USP. 2002;13(1):133-50.

11. Karsch UM. [Dependent seniors: families and caregivers]. Cad Saude Publica. 2003;19( 3):861-6.

12. Neri AL, Sommerhalder C. As várias faces do cuidado e do bem-estar do cuidador. In: Neri AL, organizadora. Cuidar de idosos no contexto da família: questões psicológicas e sociais. Campinas: Alínea; 2001. p. 9-64.

13. Matsuu K, Washio M, Arai Y, Ide S. Depression among caregivers of the frail elderly in urban Japan. Psychiatry Clin Neurosci. 2000; 54(5):553-7.

14. Ribeiro PCC. Estilo de vida ativo no envelhecimento e sua relação com o desempenho cognitivo: um estudo com idosos residentes na comunidade [dissertação]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2006.

15. Ceolim MF. O sono do idoso. In: Papaléo Netto M, organiza-dor. Tratado de gerontologia. 2ª ed. São Paulo: Atheneu; 2007. p. 351-68.

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 101 14/09/2009 18:01:09

Page 58: brailian - SBGG

102 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(2):95-102

16. Pandi-Perumal SR, Seils LK, Kayumov L, Ralph MR, Lowe A, Mol-ler H, et al. Senescence, sleep, and circadian rhythms. Ageing Res Rev. 2002;1(3):559-604.

17. Quan SF, Zee P. Evaluating the effects of medical disorders on sleep in the older patient. Geriatrics. 2004;59(3):37-42.

18. Batistoni SST, Neri AL, Cupertino AP. Validade da escala de de-pressão do Center for Epidemiological Studies entre idosos bra-sileiros. Rev Saude Publica. 2007;41(4):598-605.

19. Ebersole P. Geriatric nursing and healthy aging. St. Louis: Mosby; 2001.

20. Neri AL. Cuidar de idosos no contexto da família: questões psico-lógicas e sociais. Campinas: Alínea; 2001.

21. Radloff LS. The CES-D scale: a self-report depression scale for research in the general population. Applied Psychol Meas. 1977;1:385-401.

22. Aldwin CM. The Elders Life Inventory (ELSI): egocentric and no-negocentric stress. In: Stephens MAP, Hobfoll SE, Crowther JH, Tennenbaum DL, organizadores. Stress and coping in late life fa-milies. Nova York: Hemisphere; 1990.

23. Fortes-Burgos ACG, Neri AL, Cupertino APFB. Eventos estres-santes, estratégias de enfrentamento, auto-eficácia e sintomas depressivos entre idosos residentes na comunidade. Psicologia: Reflexão e Crítica. 2008;21(1):74-82.

24. Gorenstein C, Tavares S, Alóe F. Questionários de autoavaliação de sono. In: Gorenstein C, Andrade LHSG, Zuardi AW. Escalas de avaliação clínica em Psiquiatria e Psicofarmacologia. São Paulo: Lemos Editoral; 2000. p. 423-9.

25. Fortes ACG. Eventos de vida estressantes, estratégias de enfren-tamento, senso de autoeficácia e estados depressivos em idosos residentes na comunidade: dados do PENSA [dissertação]. Cam-pinas: Universidade Estadual de Campinas; 2005.

26. Berlim MT, Perizzolo J, Fleck MPA. Transtorno de estresse pós-trau-mático e depressão maior. Rev Bras Psiquiat. 2003;25(1):51-4.

27. Desbiens NA, Mueller RN, Virnig B, Lynn J. Stress in caregivers of hospitalized oldest-old patients. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2001;56(4):M231-5.

28. Vaughn BV, D’Cruz ONF. Cardinal manifestations of sleep disor-ders. In: Kryger MH, Roth T, Dement WC, editors. Principles and practice of sleep medicine. 4ª ed. Philadelphia: WB Saunders; 2005. p. 594-601.

29. Chellappa SL, Araújo JF. Transtornos do sono em pacientes am-bulatoriais com depressão. Revista de psiquiatria clínica. 2006; 33(5): 233-8.

30. Oliveira BHD. Relações entre padrão de sono e desempenho cogniti-vo em amostra de idosos residentes na comunidade: estudo PENSA [dissertação]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2006.

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 102 14/09/2009 18:01:10

Page 59: brailian - SBGG

aGenDa De eVentoS

Esta seção da revista está aberta para a divulgação de eventos nacionais e internacionais. O material pode ser enviado ao coordenador Alexandre Costa, na Segmento Farma Editores, Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – Campo Belo, São Paulo – SP, ou por e-mail: [email protected]

2009

iV Simpósio Brasileiro de Doenças neurodegenerativas

Data: 4 a 6 de setembro de 2009Local: Dall’Onder Grande Hotel – Bento Gonçalves – RSInformações: www.snnrs.com.br

X Simpósio anual do SGHc-FMuSP XXVii curso de atualização em Geriatria e Gerontologia Vi encontro para o envelhecimento Saudável

Data: 18 e 19 de setembro de 2009Local: Centro de Convenções Rebouças – São Paulo – SPInformações: www.convencoesreboucas.com.br

V congresso de Geriatria e Gerontologia de Minas Gerais

Data: 23 a 26 de setembro de 2009Local: Grande Hotel de Araxá, Araxá – MGInformações: [email protected]

Vi Sul-Brasileiro de Geriatria e Gerontologia

Data: 1 a 3 de outubro de 2009Local: Florianópolis – SC Informações: (48) 3322-1021/[email protected]

Xi Fórum de coordenadores de Projetos da terceira idade X encontro nacional de estudantes da terceira idade

Data: 20 a 23 de outubro de 2009Local: Mar Hotel, Recife – PE Informações: www.xiforumncti.com.br

V congresso centro-oeste de Geriatria e Gerontologia iii Jornada de Geriatria e Gerontologia do Distrito Federal

Data: 22 a 24 de outubro de 2009Local: Brasília – DF Informações: (61) 3322-2626/[email protected] // www.aeceventos.com.br

XXV congresso Mundial de Prevenção do Suicídio

Data: 27 a 31 de outubro de 2009Local: Montevidéu, UruguaiInformações: www.iasp2009.org

V congresso de Geriatria e Gerontologia do estado do rio de Janeiro – Geriatrio

Data: 29 a 31 de outubro de 2009Local: Rio de Janeiro – RJInformações: (21) 2235-0038www.sbggrj.org.br // [email protected]

XXVii congresso Brasileiro de Psiquiatria

Data: 4 a 7 de novembro de 2009Local: Transamérica Expo – São Paulo – SP Informações: www.transamericaexpo.com.br

8o congresso Brasileiro interdisciplinar de assistência Domiciliar

Data: 6 a 8 de novembro de 2009Local: Centro de Convenções Rebouças – São Paulo – SPInformações: (11) 3670-3499 www.ciad.com.br

X congresso Brasileiro de neuropsicologia

Data: 12 a 14 de novembro de 2009Local: Unip – Campus Paraíso, Rua Vergueiro, no 1211, Paraíso – São Paulo – SPInformações: www.sbnp.com.br

Vii reunião de Pesquisadores em Doença de alzheimer

Data: 25 a 27 de novembro de 2009Local: Sheraton Porto Alegre Hotel – Porto Alegre – RS Informações: www.oxfordeventos.com.br/alzheimer

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 103 14/09/2009 18:01:10

Page 60: brailian - SBGG

informações gerais

A revista Geriatria & Gerontologia – G&G é a publicação científica tri-

mestral da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – SBGG,

para veicular artigos que contribuam para a promoção do conheci-

mento na área de Geriatria e Gerontologia, em suas diversas subá-

reas e interfaces. A G&G aceita submissão de artigos em português,

inglês e espanhol. Seu conteúdo encontra-se disponível em versão

impressa, distribuída a todos os associados da SBGG, e em versão

eletrônica acessada pelo site: www.sbgg.org.br.

instruções para o envio dos manuscritos

Os trabalhos devem ser enviados por via eletrônica para o endereço:

revista [email protected]; [email protected], ou

por correio, em CD ou DVD, para: Segmento Farma / Geriatria & Geron-

tologia – Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – São Paulo, SP.

O autor para correspondência receberá mensagem acusando recebi-

mento do trabalho; caso isto não aconteça até sete dias úteis do en-

vio, deve-se entrar em contato. Concomitantemente, o autor deverá

enviar, por via postal, uma declaração de que o manuscrito está sendo

submetido apenas à revista Geriatria & Gerontologia e a concordân-

cia com a cessão de direitos autorais.

avaliação dos manuscritos por pareceristas (peer review)Os manuscritos que atenderem à política editorial e às Instruções aos

autores, serão encaminhados aos editores, que considerarão o mé-

rito científico da contribuição. Aprovados nesta fase, os manuscritos

serão encaminhados para pelo menos dois revisores de reconhecida

competência na temática abordada. Os manuscritos aceitos poderão

retornar aos autores para aprovação de eventuais alterações no pro-

cesso de editoração e normalização, de acordo com o estilo da revista.

Manuscritos não aceitos não serão devolvidos, a menos que sejam

solicitados pelos respectivos autores no prazo de até três meses.

Os manuscritos publicados são de propriedade da revista, sendo proi-

bida tanto a reprodução, mesmo que parcial, em outros periódicos,

como a tradução para outro idioma.

pesquisas envolvendo seres humanos

Resultados de pesquisas relacionadas a seres humanos devem ser

acompanhados de declaração de que todos os procedimentos tenham

sido aprovados pelo comitê de ética em pesquisa da instituição de

origem a que se vinculam os autores ou, na falta deste, por um outro

comitê de ética em pesquisa credenciado junto à Comissão Nacional

de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde. Além disso, deverá

constar, no último parágrafo do item Métodos, uma clara afirmação

do cumprimento dos princípios éticos contidos na Declaração de Hel-

sinki (2000), além do atendimento a legislações específicas do país no

qual a pesquisa foi realizada. Os indivíduos incluídos em pesquisas

devem ter assinado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

tipos de artigos publicados

A revista G&G aceita a submissão de:editoriais e comentários. Esta seção destina-se à publicação de artigos subscritos pelos editores ou aqueles encomendados a autori-dades em áreas específicas, devendo ser prioritariamente relaciona-dos a conteúdos dos artigos publicados na revista.artigos originais. Contribuições destinadas à divulgação de resul-tados de pesquisas inéditas tendo em vista a relevância do tema, o alcance e o conhecimento gerado para a área da pesquisa. Devem ter de 2.000 a 4.000 palavras, excluindo ilustrações (tabelas, figuras [máximo de cinco]) e referências [máximo de 30]. artigos de revisão. Avaliação crítica sistematizada da literatura so-bre determinado assunto, de modo a conter uma análise comparativa dos trabalhos na área, que discuta os limites e alcances metodológicos, permitindo indicar perspectivas de continuidade de estudos naquela li-nha de pesquisa e devendo conter conclusões. Devem ser descritos os procedimentos adotados para a revisão, bem como as estratégias de busca, seleção e avaliação dos artigos, esclarecendo a delimitação e limites do tema. Sua extensão máxima deve ser de 5.000 palavras e o número máximo de referências bibliográficas de 50.comunicações Breves. São artigos resumidos destinados à divul-gação de resultados preliminares de pesquisa; resultados de estu-dos que envolvam metodologia de pequena complexidade; hipóteses inéditas de relevância na área de Geriatria e Gerontologia. Devem ter de 800 a 1.600 palavras (excluindo tabelas, figuras e referências [máximo de dez]). Deve ter a estrutura de um artigo original. relatos de caso. São manuscritos relatando casos clínicos inédi-tos e interessantes. Devem observar a estrutura de resumo com In-trodução, Relato do caso (com descrição do paciente, resultados de exames clí nicos, seguimento, diagnóstico), Discussão (com dados de semelhança na literatura) e Conclusão. Devem conter a bibliografia consultada e não devem ter mais de 1.500 palavras e 15 referências.artigos especiais. São manuscritos entendidos pelos editores como de especial relevância e que não se enquadram em nenhuma das categorias citadas. Sua revisão admite critérios próprios, não ha-vendo limite de tamanho ou exigências prévias quanto às referências bibliográficas.cartas ao editor. Seção destinada à publicação de comentários, discussão ou críticas de artigos da revista. O tamanho máximo é de 1.000 palavras e até cinco referências.

orientações para a preparação dos manuscritos

Os manuscritos devem ser digitados em Word for Windows [(inclu-sive tabelas); as figuras devem vir em arquivo JPG com no mínimo 300 dpi de resolução].Devem ser apresentados na sequência:a) título completo do trabalho, em português e inglês, com até 90 caracteres; b) título abreviado do trabalho com até 40 caracteres (in-cluindo espaços), em português e inglês; c) nome de todos os autores por extenso, indicando a filiação institucional de cada um; d) dados

inStruçÕeS aoS autoreS

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 104 14/09/2009 18:01:10

Page 61: brailian - SBGG

de um dos autores para correspondência, incluindo o nome, endereço, telefone(s), fax e e-mail. resumo: todos os artigos submetidos deverão ter resumo em português e em inglês (abstract), entre 150 e 250 palavras. Para os artigos originais e comunicações breves, os resumos de-vem ser estruturados incluindo objetivos, métodos, resultados e conclusões. Para as demais categorias, o formato dos resumos pode ser o narrativo, mas preferencialmente com as mesmas in-formações. Não devem conter citações e abreviaturas. Destacar no mínimo três e no máximo seis termos de indexação, extraí-dos do vocabulário “Descritores em Ciências da Saúde” (DeCS – www.bireme.br), quando acompanharem os resumos em português, e do Medical Subject Headings – MeSH (http://www.nlm.nih.gov/mesh/), quando acompanharem os “Abstracts”. Se não forem encon-trados descritores disponíveis para cobrirem a temática do manuscri-to, poderão ser indicados termos ou expressões de uso conhecido.texto: com exceção dos manuscritos apresentados como Artigos de Revisão os trabalhos deverão seguir a estrutura formal para trabalhos científicos: Introdução. Deve conter revisão da literatura atualizada e pertinente ao tema, adequada à apresentação do problema, e que destaque sua relevância. Não deve ser extensa, definindo o proble-ma estudado, sintetizando sua importância e destacando as lacunas do conhecimento (estado da arte) que serão abordadas no artigo. Métodos. Deve conter descrição clara e sucinta dos procedimentos adotados; universo e amostra; fonte de dados e critérios de seleção; instrumentos de medida, tratamento estatístico, dentre outros. Re-sultados. Deve se limitar a des crever os resultados encontrados sem incluir interpretações e comparações. Sempre que possível, os resul-tados devem ser apresentados em tabelas ou figuras, elaboradas de forma a serem autoexplicativas e com análise estatística. Discussão. Deve explorar, adequada e objetivamente, os resultados, discutidos à luz de outras observações já registradas na literatura. É importante assinalar limitações do estudo. Deve culminar com as Conclusões, indicando caminhos para novas pesquisas ou implicações para a prá-tica profissional.agradecimentos: podem ser registrados agradecimentos, em pará-grafo não superior a três linhas, dirigidos a instituições ou indivíduos que prestaram efetiva colaboração para o trabalho.

conflito de interesses

Devem incluir relações com conflitos financeiros, como empregos, vín-culos profissionais, financiamentos, consultoria, propriedade, partici-pação em lucros ou patentes relacionados a empresas, produtos comer-ciais ou tecnologias envolvidas no manuscrito; b) conflitos pessoais: relação de parentesco próximo com proprietários e empregadores de empresas relacionadas a produtos comerciais ou tecnologias envol-vidas no manuscrito; c) potenciais conflitos: situações ou circunstân-cias que poderiam ser consideradas como capazes de influenciar a interpretação dos resultados.

referências bibliográficas As referências devem ser listadas ao final do artigo, numeradas consecutivamente, seguindo a ordem em que foram mencionadas a primeira vez no texto, baseadas no estilo Vancouver (consultar: “Uniform Require ments for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals: Writing and Editing for Medical Publication” [http://www.icmje.org]). Nas referências com até seis autores, citam-se todos os autores; acima de seis autores, citam-se os seis primeiros autores, seguido de et al. As abreviaturas dos títulos dos periódicos citados deverão estar de acordo com o Medline. A exatidão e a adequação das referências a trabalhos que tenham sido consultados e mencio-nados no texto do artigo são de responsabili dade do autor.

livrosKane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics. 5th

ed. New York: McGraw Hill; 2004.

capítulos de livrosSayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do

idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de Janeiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8.

artigos de periódicosOuslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med. 1981;

135 (2):482-91.

Dissertações e tesesMarutinho AF. Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacien-

tes idosos portadores de Doença de Chagas [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003.

trabalhos apresentados em congressos, simpósios, encon-tros, seminários e outros Petersen R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vitamin

E as treatments for mild cognitive impairment. In: Annals of the 9th International Conference on Alzheimer´s Disease and Related Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract O1-05-05.

artigos em periódicos eletrônicosBoog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para cur-

so de enfermagem. Rev Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado em 2002 Jun 10];15(1). Disponível em: http://www.scielo.br/rn

textos em formato eletrônicoInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas da saúde:

assistência médico-sanitária. http://www.ibge.gov.br (acessado em 05/Fev/2004).

Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available from URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Accessed in 1996 (Jun 5).

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 105 14/09/2009 18:01:10

Page 62: brailian - SBGG

background

Geriatria & Gerontologia (Brazilian Geriatrics & Gerontology) — G&G is a quarterly scientific publication by Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) (Brazilian Geriatrics and Gerontology Society) aim ing the publication of articles on Geriatrics and Geronto-logy, including their several subareas and interfaces. G&G accepts article submissions in Portuguese, English, and Spanish. The print content is available for SBGG members, and the online content can be accessed at: www.sbgg.org.br.

instructions for manuscript sending

Papers should be sent either by e-mail to: [email protected]; [email protected] or by mail in CD or DVD to: Seg-mento Farma / Geriatria & Gerontologia – Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – São Paulo, SP. The corresponding author will receive message acknowledging the paper receipt; should this do not occur up to seven working days from the sending, the author should get in touch with the journal. Concurrently, the author should send by mail a declaration stat ing that the manuscript is being submitted only to Geriatria & Gerontologia and that he(she) agrees with the cession of copyright.

manuscript evaluation by peer review Manuscripts that regard the editorial policy and the instructions for authors will be referred to editors who will evaluate the their scien-tific merit. Manuscripts will be submitted to at least two reviewers with expertise in the addressed theme. Accepted manuscripts might return for authors’ approval of in case of changes made for editorial and standardization purposes, according to the journal style. Manus-cripts not accepted will not be returned, unless they are requested by the respective authors within three months.Published manuscripts are journal ownership, so either reproduction, even partial, in other journals or translation into another language is unauthorized.

conflict of interest

Conflict of interest includes: a) financial conflict, such as employment, professional liaisons, funding, consulting, ownership, profit or patent shar ing related to marketed products or technology involved in the manu script; b) personal conflict: close relatedness to owners and em-ployers in companies connected to marketed products or technology involved in the manuscript; c) potential conflict: situations or circu-mstances that could be considered capable of influencing the result interpretation.

research involving human subjects

Articles related to research involving human subjects should indicate whether the procedures followed were in accordance with the ethical standards of the responsible committee on human experimentation (in stitutional or regional) accredited by the Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde (Health Ministry National

Research Ethics Committee). In addition, a clear statement of com-

pliance with ethical principles outlined in Helsinki Declaration (2000)

shall appear in the last paragraph of Methods section, as well as

fulfillment of specific law requirements of the nation the research

was performed in. The subjects included in the research should have

signed a Free and Informed Consent Term.

categories of manuscripts

G&G accepts the following submissions:

original articles. Contributions aiming at release of unpublished

research results considering the theme relevance, its range and the

knowl edge generated for research purposes. Original articles should

contain 2,000 to 4,000 words, excluding illustrations (tables, figures

[not exceed ing 5]) and references [not exceeding 30].

review articles. Critical and systematic evaluation of literature on

a certain subject containing a comparative review of papers in that

area, discussing methodological limitations and ranges, indicating

further study needs for that research area, and containing conclu-

sions. The proceedings adopted for the review, as well as search,

selection, and article evaluation strategies should be described, in-

forming the limits of the theme. They should not exceed 5,000 words

and 50 references.

Brief communications. These manuscripts are short articles aiming

at release of preliminary results of research; study results involving

low complexity methodology; relevant unpublished hypotheses in Ge-

riatrics and Gerontology. They should not exceed 800 to 1,600 wor-

ds (tables, figures and references [not exceeding 10] excluded). The

structure should follow what is requested in an original article.

case reports. These manuscripts report unpublished and interesting

clinical cases. They should follow an abstract structure with Introduc-

tion, Case Report (describing the patient, clinical examination results,

follow-up, diagnosis), Discussion (showing similar data in literature),

and Conclusion. They should contain the bibliography consulted and

should not exceed 1,500 words and 15 references.

letters to the editor. Section designed for publication of comments,

discussion or any article reviews. They should not exceed 1,000 wor-

ds and 5 references.

instructions for manuscript preparation

Manuscripts should be typed in Word for Windows [(including ta-

bles); fig ures should be supplied as JPG file and a minimum of 300 dpi

resolution].

Manuscripts should be prepared according to the sequence below:

a) paper full title in Portuguese and English not exceeding 90 characters;

b) paper short title not exceeding 40 characters (spaces included) in Portu-

guese and English; c) authors’ and coauthors’ complete name, indicating

institutional affiliations for each one of them; d) corresponding author

data, including name, address, telephone and fax numbers, and e-mail.

abstract: all manuscripts should be submitted with an abstract in

Portuguese and in English having no more than 150 to 250 words.

inStructionS For autHorS

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 106 14/09/2009 18:01:10

Page 63: brailian - SBGG

For original articles and brief communications, abstracts should be structured to include objective, methods, results, and conclusions. For other man uscript categories, abstract models could be narrative, but rather carrying the same information. Abstracts should not contain quotations and abbreviations. At least three and at most six key words should accompany the Abstracts, being extracted from the vocabulary Descritores em Ciências da Saúde (DeCS – www.bireme.br) when ac-companying abstracts in Portuguese and from Medical Subject Headin-gs – MeSH (http://www.nlm.nih.gov/mesh/) when accompanying abstracts in English. If no descriptor is available to cover the manuscript theme, words or expressions of known use might be indicated.text: except for Review Articles, papers should assume formal structure of a scientific text: Introduction. The introduction should contain updated literature review, being appropriate to the theme, suitable to the problem introduced, and enhancing the theme relevance. The introduction should not be extensive, but define the problem studied, synthesizing its impor-tance and stressing the knowledge gaps addressed in the article. Metho-ds. This section should have clear and brief description of proceedings adopted; sampling; data source and selection criteria; measurement instruments; statistical analysis, among other features. Results. This sec-tion should be limited to describing the results found without including interpretation and comparison. Whenever possible, results should be displayed in tables or figures designed to be self-explanatory and having statistical analysis. Discussion. The discussion should properly and objec-tively explore the results, discussed in the light of further observation al-ready registered in literature. It is important to point out the study limita-tions. The discussion should culminate by conclusions indicating avenues for new research or implications for professional practice.acknowledgements: Acknowledgments may be written in a no more than 3-line paragraph towards institutes or individuals that effectively contributed to the paper.References should be listed at the end of the manuscript and numbered in the order they are first mentioned in the text, following Vancouver style (v. Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedic-al Journals. Writing and Editing for Medical Publication [http://www.icmje.org]). List all authors up to 6; if more than six, list the first 6 follo-wed by et al. The titles of journals should be abbreviated according to style used in Medline. Authors are responsible for the accuracy and completeness of references consulted and cited in the text.

Examples of reference style:

BooksKane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics. 5th

ed. New York: McGraw Hill; 2004.

Book chaptersSayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do

idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de Janeiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8.

Journal articlesOuslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med.

1981;135 (2):482-91.

essays and thesesMarutinho AF. Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacien-

tes idosos portadores de Doença de Chagas [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003.

Papers introduced in congresses, symposiums, meetings, se-minars etc.Petersen R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vitamin

E as treatments for mild cognitive impairment. In: Annals of the 9th International Conference on Alzheimer´s Disease and Related Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract O1-05-05.

articles from electronic journalsBoog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para cur-

so de enfermagem. Rev Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado em 2002 Jun 10];15(1). Disponível em: http://www.scielo.br/rn

texts in electronic formatInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas da saúde:

assistência médico-sanitária. http://www.ibge.gov.br (acessado em 05/Fev/2004).

Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available from URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Accessed in 1996 (Jun 5).

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 107 14/09/2009 18:01:10

Page 64: brailian - SBGG

Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – São Paulo, SP. Fone: 11 3093-3300 www.segmentofarma.com.br • [email protected]

Diretor geral: Idelcio D. Patricio Diretor executivo: Jorge Rangel Gerente financeiro: Andréa Rangel Gerente comercial: Rodrigo Mourão editora-chefe: Daniela Barros MTb 39.311 Diretor de criação: Eduardo Magno Gerentes de negócios: Claudia Serrano, Eli Proença, Marcela Crespi Diretora de arte: Renata Variso coordenador editorial: Alexandre Costa Designer: Eduardo Vargas Sales revisoras: Glair Picolo Coimbra e Cristina Moratto Produtor gráfico: Fabio Rangel cód. da publicação: 8671.09.09

OS 8671 Geriatria 3_2.indd 108 14/09/2009 18:01:10