Baptista, J. Et. Al. (2013). Recuperação Desenvolvimental Após a Adoção

7/25/2019 Baptista, J. Et. Al. (2013). Recuperao Desenvolvimental Aps a Adoo

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Developmental Recovery After Adoption: Childand Adoptive Family's Characteristics

ARTICLE in PSICOLOGIA REFLEXO E CRTICA DECEMBER 2012

Impact Factor: 0.09 DOI: 10.1590/S0102-79722013000200020

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52

3 AUTHORS:

Joana Baptista

University of Minho

30PUBLICATIONS 39CITATIONS

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Isabel M.C Soares

University of Minho


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Margarida Henriques

University of Porto


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Available from: Isabel M.C Soares

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disponvel em www.scielo.br/prc

Recuperao Desenvolvimental Aps a Adoo:Caractersticas da Criana e da Famlia Adotiva

Developmental Recovery After Adoption: Child and Adoptive

Familys Characteristics

Joana Baptista,a, Isabel Soaresb& Margarida HenriquesaaFaculdade de Psicologia e de Cincias da Educao da Universidade do Porto, Porto, Portugal

& bEscola de Psicologia, Universidade do Minho, Braga, Portugal

Resumo

Clnicos e investigadores tm alertado para os efeitos problemticos das experincias precocesadversas, nomeadamente a da institucionalizao, no crescimento fsico, no desenvolvimento cog-nitivo e scio-emocional, bem como nas relaes de apego da criana. Aps a adoo, a recuperaonestes domnios parece ser evidente, observando-se uma curiosa heterogeneidade nos resultadosdesenvolvimentais. Este artigo de reviso apresenta uma sistematizao de resultados de estudos

que analisaram a influncia das caractersticas da criana e da famlia adotiva naquela recuperao.Pesquisou-se nas principais bases de dados eletrnicas e foram identificados estudos originais, dereviso e captulos de livros. Concluiu-se que um entendimento da recuperao exige a explorao dosfatores genticos, das experincias pr-natais e pr-institucionalizao, e das vivncias de cuidadosanteriores e posteriores adoo.Palavras-chave: Desenvolvimento, adoo, criana, famlia.

Abstract

Clinicians and researchers have been warning about the harmful effects of a history marked by earlyadverse experiences in shelter institutions in childs health, cognitive and socioemotional develop-ment as well as attachment. After adoption, the recovery in these domains seems to be clear andit is also observed a curious heterogeneity in developmental results. This paper review presents asummary of the main empirical findings about the characteristics of the child and of the adoptivefamily involved in the recovery process. The search was done in the major electronic databases andoriginal studies, review articles, and book chapters were identified. It is concluded that the recoveryrequires the identification of genetic, prenatal and pre-institutionalization factors, and also the careexperiences before and after the adoption.Keywords: Development, adoption, child, family.

As crianas adotadas, em comparao com os paresda comunidade, experienciaram, nos primeiros temposde vida, maior adversidade e risco ao nvel das compli-caes ao nascimento e/ou ao nvel das experincias de

perda da famlia biolgica (Rutter, 2005). Algumas foramainda institucionalizadas em contextos marcados por

cuidados no responsivos, com implicaes nefastas parao desenvolvimento posterior, em reas diversas, como ocrescimento fsico, o desenvolvimento neurobiolgico,cognitivo e emocional (Van IJzendoorn & Juffer, 2006).Diferentes estudos realizados em contexto institucional tm

Endereo para correspondncia: Faculdade de Psicologiae de Cincias da Educao, Universidade do Porto, RuaAlfredo Allen, Porto, Portugal 4200-135. E-mail: joana.bapti sta.mail@gmail. com, [email protected] t [email protected]

Este artigo foi redigido com o apoio da Fundao para aCincia e Tecnologia PTDC/PSI-PCL/101506/2008 eFundao Bial Bolsa 13/06

vindo a indicar que as instituies tendem a no apresentaras caractersticas de um contexto de cuidados capaz de

proporcionar criana a satisfao das suas necessidadesbsicas de proteo, de afeto e de explorao do ambiente.As instituies, devido (a) reduzida capacidade de abar-car as necessidades individuais, (b) ao baixo nmero de

cuidadores em proporo ao de crianas, e (c) s mudanasfrequentes de turno, tendem a promover a escassez deoportunidades para a realizao de atividades de promoodesenvolvimental e de interao entre a criana e um grupode cuidadores estvel (D. E. Johnson, 2000).

Estudos comparativos, desenhados para analisar as di-ferenas entre o contexto familiar e o institucional, relatamque as instituies frequentemente providenciam poucasoportunidades para a criana adquirir e praticar novascompetncias, sendo raras as ocasies em que as prticasinstitucionais so adaptadas s necessidades individuais.Gunnar e Kertes (2005), entre outros (e.g., Zeanah, Smyke,Koga, Carlson, & The Beip Core Group, 2005), consideram


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Psicologia: Reflexo e Crtica, 26(2), 396-404.

que mesmo em instituies que providenciam estimulaosensorial e social adequada, a ausncia de oportunidades

para a construo de uma relao consistente entre acriana e um adulto poder ser tambm um obstculo aodesenvolvimento futuro adaptado.

Aps a adoo, parece haver persistncia de dificul-dades, em domnios como o desenvolvimento scio-emo-

cional e o desempenho escolar (Van IJzendoorn, Juffer,& Klein-Poelhuis, 2005). Alm disso, as experinciasprvias em contexto institucional parecem contribuir parauma maior probabilidade de ocorrncia de determinados

problemas em crianas adotadas, tais como comporta-mentos atpicos (e.g., comportamentos estereotipados,caractersticas autsticas; Marcovitch, Cesaroni, Roberts,& Swanson, 1995), comportamentos perturbados de apego(OConnor & Zeanah, 2003) e falta de ateno/sobreativida-de (Rutter, Kreppner, OConnor, & The ERA Study Team,2001). Os termos falta de ateno/sobreatividade foramintroduzidos (Roy, Rutter, & Pickles, 2000) para denotara possibilidade de constiturem um problema diferente

do que est descrito no DSM-IV-TR (SHDA; AmericanPsychiatric Association, 2000). De acordo com Rutter etal. (2001), este problema estaria associado experinciade privao vivida anteriormente em contexto institucional,designando-o como sndrome da ps-institucionalizao.Autores tm vindo tambm a salientar o impacto de fatoresgenticos e de experincias pr-institucionalizao naquelese noutros domnios desenvolvimento (e.g., Simmel, 2007;Wiik et al., 2011).

Contudo, a recuperao desenvolvimental aps aadoo parece ser igualmente evidente em reas como ocrescimento fsico (e.g., D. E. Johnson, 2000), o desenvol-

vimento cognitivo e da linguagem (e.g., Cohen, Lojkasek,Zadeh, Pugliese, & Kiefer, 2008; Tan & Yang, 2005) e asegurana do apego (Juffer & Rosenboom, 1997). Estesresultados sugerem o efeito diferencial das experinciasde privao conforme o domnio do desenvolvimento,

bem como a presena de variaes individuais no grau derecuperao posterior.

Os estudos sobre o impacto da adoo tm dado par-ticular enfoque ao contributo exercido por duas variveisna recuperao desenvolvimental: o tempo de institucio-nalizao e o de permanncia na famlia adotiva. Todavia,a investigao tem vindo tambm a analisar a influnciade outras variveis possivelmente envolvidas nos meca-nismos explicativos da mudana ocorrida aps a adooe da variabilidade observada. Rutter (2005) salienta, paraalm das experincias pr-natais adversas e da qualidadedos cuidados prestados antes da adoo, a pertinncia deoutras variveis, tais como (a) caractersticas atribudas criana (e.g., o estatuto desenvolvimental no momentoda adoo, a suscetibilidade geneticamente programada privao ambiental); e (b) a qualidade do ambientefamiliar adotivo.

A privao precoce de cuidados parentais adequados um tema social de relevncia mundial. A este respeito,estima-se que cerca de oito milhes de crianas, prove-

nientes de 93 pases, estejam a viver em instituies (JointUnited Nations Programme on HIV [UNAIDS], United

Nations Childrens Fund [UNICEF], & United StatesAgency for International Development[USAID], 2004).Tendo por base uma perspectiva do desenvolvimento eco-lgico-sistmica, que descreve o desenvolvimento huma-no como a acomodao progressiva e mtua, ao longo da

vida, entre um organismo biopsicolgico complexo e ativoe as propriedades em mudana dos contextos imediatos edistais que o envolvem (Bronfenbrenner, 1993), os autorescolocaram as seguintes questes: quais as trajetrias dedesenvolvimento destas crianas, precocemente privadasde cuidados adequados, quando integradas num contextofamiliar? Quais sero as caractersticas individuais e ascomponentes deste contexto promotoras de mudana nodesenvolvimento? Com vista a contribuir para o delinea-mento de futuras investigaes, este artigo apresenta umasistematizao dos resultados de estudos que analisaram oimpacto das caractersticas atribudas criana e famliaadotiva nos domnios que tm sido objeto de interesse

por parte da comunidade cientfica, no estudo da adoo:crescimento fsico, desenvolvimento cognitivo e scio--emocional e relaes de apego da criana.

Mtodo

A estratgia de busca de referncias foi dividida emduas etapas. Durante a primeira etapa, pesquisou-se nas

principais bases de dados eletrnicas, nomeadamenteMEDLINE, PsycINFO e SciELO, entre os anos de 1945a 2011. Foram utilizados como descritores os termos:adoo (adoption), adotado (adoptee), famlia adotiva

(adoptive family), recuperao desenvolvimental aps aadoo (developmental recovery after adoption), crianasps-institucionalizadas (post-institutionalized children),crianas institucionalizadas (institution-reared children)e institucionalizao (institutionalization ). Alm disso,foram analisadas as referncias bibliogrficas dos artigos.A segunda etapa foi dedicada excluso dos artigos norelevantes pesquisa, atravs de uma anlise do resumo e,em seguida, de uma avaliao mais detalhada dos mesmos.

No que concerne aos critrios de incluso, foram identifi-cados estudos nacionais e internacionais, desde clssicosa atuais, que se debruaram sobre a anlise do impacto dascaractersticas da criana e da famlia adotiva em domniosespecficos, designadamente (a) no crescimento fsico, (b)no desenvolvimento cognitivo e (c) scio-emocional, e (d)nas relaes de apego.

Resultados

Do total, foram encontradas 149 produes possivel-mente relevantes e 46 foram selecionadas aps uma ava-liao detalhada (i.e., 40 estudos originais, trs estudos dereviso e trs captulos de livros). Com base na proposta deRutter (2005), os contedos de cada trabalho selecionadoforam organizados em duas categorias. A primeira foi


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Baptista, J. S., Soares, I. C. & Henriques, M. R. (2013). Recuperao Desenvolvimental Aps a Adoo: Caractersticas da Criana eda Famlia Adotiva.

considerados os fatores de risco ambiental vivenciadosno perodo pr-natal, para uma compreenso aprofunda-da da (in)adaptao posterior destas crianas. Todavia,os estudos mencionados foram elaborados com base emrelatos da famlia adotiva, verificando-se uma ausncia deinvestigaes, cujos dados tenham sido obtidos de formadireta e junto da famlia biolgica.

Experincias de Maus-Tratos e Histria de Cuida-dos. Antes da adoo, muitas das crianas foram vtimasde maus-tratos, negligncia e/ou abuso sexual por partedos pais biolgicos ou da famlia extensa, podendo estascircunstncias terem-se constitudo como o motivo queconduziu retirada da criana do lar biolgico. Todavia,constatou-se uma notria falta de estudos sobre o impactodos maus-tratos no desenvolvimento da criana adotada.Este fato deve-se escassez de informao sobre a histriaque antecedeu a adoo. Simmel (2007) identificou, numaamostra j mencionada neste artigo, percentagens eleva-das de crianas que tinham sido vtimas de negligncia

(42%), abuso sexual (13%) e maus-tratos fsicos (22%).Constatou ainda que aquelas vtimas de negligncia ede abuso sexual estavam em maior risco de apresentar

problemas de internalizao e externalizao, o que consistente com outros estudos (Van IJzendoorn & Juffer,2006). Por sua vez, Kertes, Gunnar, Madsen e Long (2008)identificaram uma associao significativa entre a histriade abuso e negligncia da criana adotada (medida com

base nos relatos retrospectivos dos pais adotivos norteamericanos) e dficits ao nvel do crescimento fsicono momento da adoo. A amostra era constituda porcrianas provenientes de instituies da Europa do Leste,sia e Amrica do Sul.

Aqueles resultados so indicadores de que a histriade cuidados que antecede a adoo poder exercer umainfluncia considervel em diferentes domnios do desen-volvimento da criana adotada. A este respeito, importarealar os resultados de estudos, mais e menos recentes,que analisaram a associao entre os cuidados prestadosem contexto institucional e o desenvolvimento da criana.Tizard, Cooperman, Joseph e Tizard (1972) explorarama relao entre a qualidade dos cuidados prestados eminstituies Inglesas e o desenvolvimento da linguagem,tendo verificado que as crianas que estavam institucio-nalizadas nas estruturas de melhor qualidade (i.e., maior

estabilidade em termos destaffe cuidadores experientes)apresentavam resultados mdios no desenvolvimento dalinguagem acima dos valores de referncia. Variveis como(a) o comprimento mdio das frases dos cuidadores, (b) acomplexidade das mesmas, e (c) o envolvimento em ati-vidades de estimulao estavam tambm associadas a ummelhor desempenho na linguagem. Smyke et al. (2007),

por sua vez, identificaram uma associao positiva entrea sensibilidade do cuidador em instituies Romenas e odesenvolvimento cognitivo da criana. As crianas expos-tas a cuidados de maior qualidade apresentavam menos

problemas externalizados.

Estes resultados apontam para a relevncia da quali-dade dos cuidados prestados em contexto institucional.Todavia, constatou-se uma preocupante ausncia deestudos dedicados anlise da influncia exercida pelascaractersticas estruturais e relacionais das instituies nodesenvolvimento da criana, meses e anos aps a adoo.Esta circunstncia deve-se ao reduzido nmero de estudos

longitudinais, dedicados monitorizao da trajetria dedesenvolvimento da criana, desde a sua integrao na ins-tituio at anos aps a adoo. A acumulao de evidnciaemprica acerca do impacto do acolhimento institucionalna infncia ainda hoje, essencialmente, indireta, baseadanos relatos da famlia adotiva e em variveis como o tempode institucionalizao e idade na adoo.

Alguns investigadores (e.g., Roy et al., 2000) hipoteti-zaram que as crianas que antes da adoo experienciaramcuidados em famlias de acolhimento apresentam resulta-dos mais favorveis do que as crianas que estiveram ins-titucionalizadas, na medida em que o acolhimento familiar

tende a caracterizar-se pela possibilidade de ocorrncia deum maior nmero de interaes entre a criana e um cuida-dor primrio, bem como possibilita que a criana usufruade cuidados mais consistentes e individualizados. Em umestudo levado a cabo com crianas adotadas por famliasnorte americanas, Miller, Chan, Comfort e Tirella (2005)constataram que as crianas que anteriormente tinham esta-do institucionalizadas na Guatemala apresentavam valoresinferiores de comprimento, peso e permetro ceflico nomomento da adoo, em comparao com crianas quetinham estado em famlias de acolhimento. Por sua vez,Loman, Wiik, Frenn, Pollack e Gunnar (2009) compararamdois grupos de crianas: (a) o primeiro grupo era composto

por crianas adotadas que estiveram institucionalizadasdurante mais de 75% das suas vidas e que foram integradasem famlias adotivas norte americanas quando tinham 12ou mais meses de idade; (b) o segundo grupo era composto

por crianas adotadas com oito ou menos meses de idade,que no estiveram institucionalizadas durante mais de doismeses, sendo que 65% experienciaram apenas cuidadosem famlias de acolhimento antes da adoo. As crianasque tinham estado em instituies eram provenientes daEuropa do Leste, sia, Amrica do Sul e frica. Os autoresconstataram que, no momento da adoo, as crianas queexperienciaram cuidados institucionais apresentavam va-

lores inferiores de peso e comprimento, comparativamentecom as crianas adotadas antes dos oito meses de idade.Entre os oito e os 11 anos de idade, as crianas foram rea-valiadas: para o peso e para o desenvolvimento cognitivoe da linguagem, as crianas que tinham estado em institui-es continuavam a revelar valores mais baixos do que ascrianas que tinham estado em famlias de acolhimento.Quanto s dificuldades de ateno e hiperatividade, Wiik etal. (2011) verificaram que as crianas que tinham estado emacolhimento institucional antes da adoo apresentavamnveis mais elevados de problemas, do que as crianas que

previamente tinham estado em famlias de acolhimento.


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Os resultados identificados nos estudos anteriores tm sidoconsistentemente apoiados por outras investigaes (e.g.,Wilson, Weaver, Cradock, & Kuebli, 2008).

Tempo de Institucionalizao e Idade na Adoo. Oenfoque colocado em estudos sobre a adoo internacio-nal, realizados com crianas provenientes de pases onde

prticas como a institucionalizao so comuns, conduziu

ao uso recorrente da varivel tempo de institucionalizao(associada idade na adoo e quantidade de fatores derisco) como uma medida representativa da adversidade

precoce ao nvel dos cuidados (Gunnar & Kertes, 2005).Em termos do crescimento fsico, do desenvolvimentocognitivo e aprendizagem ampla a evidncia acerca dasrelaes existentes entre o tempo de institucionalizaoe dficits nestes domnios, meses e anos aps a adoo(e.g., Van IJzendoorn & Juffer, 2006; Van IJzendoorn etal., 2005). Este padro de resultados tem sido identificadonoutros domnios, como no desenvolvimento da linguagem(Glennen & Maters, 2002) e motor(Londen, Juffer, & Van

IJzendoorn, 2007). Alm destes, num estudo piloto com 14adolescentes adotados por famlias do Reino Unido, e quetinham estado institucionalizados na Romnia (Mehta etal., 2009), verificou-se que o volume da amgdala esquerdaestava correlacionado com o tempo de institucionalizao:os adolescentes que evidenciavam um menor volumeeram os que tinham permanecido durante mais tempoinstitucionalizados.

Relativamente aos problemas de comportamento,verificou-se que crianas adotadas tendiam a evidenciarmais problemas de internalizao, quanto mais tempotinham estado em acolhimento institucional (Wiik et al.,2011). Alguma literatura (e.g., Stevens et al., 2008) temigualmente sugerido que crianas com histria de insti-tucionalizao mais prolongada esto em risco particularde apresentarem dificuldades de ateno e hiperatividade.Outros demonstraram que crianas adotadas depois dainfncia apresentavam mais problemas de externalizao(Merz & McCall, 2010). Contudo, um estudo anteriorcontraria este resultado (Rutter et al., 2001), no qual severificou que, aos seis anos de idade, crianas Romenasadotadas tardiamente por famlias do Reino Unido noevidenciavam mais problemas, quando comparadas comcrianas adotadas antes dos seis meses de idade. Com efei-to, a evidncia emprica no conclusiva a este respeito,

o que denota a importncia da realizao de mais estudos,permitindo compreender a complexidade do tema.

Quanto segurana do apego, numa meta-anliseconcluiu-se que as crianas que foram adotadas antesdos 12 meses de idade no se diferenciavam dos paresda comunidade (Van den Dries, Juffer, Van IJzendoorn,& Bakermans-Kranenburg, 2009). Numa publicaorecente foi divulgado que a integrao numa famlia deacolhimento antes dos 24 meses de idade parece funcionarcomo um fator protetor para a formao de relaes deapego seguras (Smyke, Zeanah, Fox, Nelson, & Guthrie,2010). Este resultado, bem como os anteriores, podero

ser indicadores da importncia da integrao da criananuma famlia durante um perodo sensvel para a forma-o de uma relao de apego e adaptao posterior, bemcomo da relevncia da brevidade da exposio ao contextoinstitucional.

Apesar da consistncia dos resultados anteriores, ou-tros autores (e.g., Castle et al., 1999) argumentam ainda

que a relao entre a idade no momento da adoo e odesenvolvimento posterior persiste nos casos em que acriana experienciou antes da adoo cuidados de menorqualidade, sendo nestes casos que a adoo mais tardia

prediz piores resultados desenvolvimentais. Se assim ,consideramos que no s a idade no momento da adoose reveste de importncia. A anlise dos efeitos da idadeda criana no momento em que foi institucionalizada igualmente relevante. Num estudo, constatou-se que ascrianas institucionalizadas precocemente, na Coreia, devi-do a abandono eram as que evidenciavam mais problemasde externalizao quando comparadas com crianas que

foram institucionalizadas mais tarde (Lee, Seol, Sung, &Miller, 2010). R. Johnson, Browne e Hamilton-Giachritsis(2006) concluram que crianas institucionalizadas antesdos 24 meses de idade apresentavam mais comportamen-tos perturbados de apego de tipo indiscriminado do quecrianas que foram institucionalizadas mais tarde. Assimsendo, quanto mais precocemente a criana for exposta aexperincias de privao, mais traumtica essa experincia

parece ser; e quanto mais tempo a criana estiver expostaa tais condies, menos completa ser a recuperao fsicae psicossocial posterior.

Estatuto Desenvolvimental Prvio. Qual o impacto doestatuto desenvolvimental da criana anterior adoo nosganhos posteriores?Pormerleau et al. (2005) verificaramque, ao longo dos primeiros seis meses de integrao nafamlia adotiva, as crianas que apresentavam ganhos maisacentuados no domnio cognitivo e motor eram as que evi-denciavam um desempenho inicial inferior, ou seja, no mo-mento de chegada famlia adotiva. Tambm Judge (2003)identificou resultados que vo nesta direo, apurando queo nmero de dficits no desenvolvimento no momentoda adoo era um preditor dos ganhos efetuados entre achegada famlia e o sexto ms de integrao. Destacamosainda o estudo de Croft et al. (2007), no qual se constatouque a presena de linguagem na adoo estava associada

ao funcionamento cognitivo posterior. No momento emque foram adotadas, a maioria das crianas apresentavadficits ao nvel do desenvolvimento da linguagem. Po-rm, aquelas que tinham pelo menos 18 meses de idade eeram capazes de se envolver em comportamentos verbaisde imitao foram as que apresentaram resultados mais

positivos em termos de funcionamento cognitivo aos 11anos de idade. Na medida em que a competncia lingusticaestava associada qualidade do contexto institucional, osautores sugeriram que as variaes no desenvolvimentoda linguagem seriam uma consequncia da qualidade daexperincia institucional.


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Os resultados dos estudos anteriores indicam que amudana para um contexto familiar pode proporcionaroportunidades para a recuperao em domnios distintosdo funcionamento da criana. Alertam tambm para o fatode que as experincias institucionais podem exercer umainfluncia considervel no grau de recuperao posterior.Caractersticas institucionais que podem afetar os resulta-

dos do desenvolvimento da criana ps-institucionalizadadevem ser, assim, consideradas, como, por exemplo, anutrio inadequada, a ausncia de momentos privilegia-dos de estimulao e a inexistncia de relaes de apegoseletivas.

Contributos do Contexto Familiar Adotivo

O nmero de estudos que examinaram os componentesda qualidade do ambiente familiar envolvidos nos ganhosdesenvolvimentais aps a adoo consideravelmentemenor do que o nmero de estudos dedicados aos resulta-dos desenvolvimentais da criana. Todavia, que variveis

demogrfi

cas e que competncias dos pais adotivos pare-cem contribuir para a heterogeneidade desenvolvimentalidentificada na criana adotada? No que diz respeito relao entre a idadedos pais e o desenvolvimento, osinvestigadores no tm identificado associaes significa-tivas, o mesmo acontecendo com o nvel socioeconmicoe a escolaridade (e.g., Wilson et al., 2008). Contudo, ainvestigao com adotantes tem-se caracterizado pelafalta de heterogeneidade entre participantes, nas variveisreferidas.

Sensibilidade Parental. De acordo com Ainsworth,Bell e Stayton (1974), as diferenas individuais evidencia-das ao nvel da qualidade da organizao do apego estoassociadas a histrias distintas de interao da criana coma sua figura de apego: um apego seguro est relacionadocom cuidados mais sensveis; um apego inseguro-evitanteest associado a cuidados rejeitantes e no responsivos; eum apego inseguro-ambivalente relaciona-se com cuidadosinsensveis e inconsistentemente responsivos. A sensibi-lidade parental pode ser definida como a competncia doadulto para perceber os sinais da criana e responder deforma adequada e pronta (Ainsworth et al., 1974). Almdisto, a investigao tem realado que o comportamentoresponsivo essencial para o desenvolvimento das com-

petncias lingusticas, cognitivas, sociais e emocionais

(Landry, Smith, Miller-Loncar, & Swank, 1997).Num estudo longitudinal com famlias adotivas holan-

desas, constatou-se que a sensibilidade materna aos seismeses de idade da criana um preditor do desenvolvi-mento cognitivo aos sete anos de idade (Stams, Juffer,Rispens, & Hoksbergen, 2000). Quanto ao apego, aquelaequipe de investigadores constatou que a sensibilidadematerna no estava associada significativamente (des)organizao do apego, ao contrrio da hiptese formulada

pelos autores (Londen et al., 2007). Curiosamente, noutroestudo observou-se que os dficits cognitivos e a presenade problemas de comportamento em crianas adotadas

tendiam a fazer emergir nos pais adotivos comportamen-tos menos positivos. Estes comportamentos, por sua vez,sofreram uma diminuio ao longo do tempo, a par coma evoluo positiva das competncias da criana (Croft etal., 2001). Estes autores vieram realar a influncia dascaractersticas da criana na qualidade da relao criana/

pais adotivos, colocando um enfoque na natureza interativa

e dinmica dos mecanismos envolvidos na mudana.Modelos Internos de Funcionamento. Estudos tmsalientado a relevncia dos modelos internos de funcio-namento do adulto (i.e., representaes mentais acerca do

self, das figuras de apego e das relaes entre os dois) naformao de uma relao segura de apego. Representaes(in)seguras esto associadas a (in)sensibilidade parentale a uma relao de apego (in)segura entre a criana e oadulto (Van IJzendoorn, 1995). Num estudo conduzido emPortugal, Verssimo e Salvaterra (2006) identificaram umaassociao positiva entre a segurana do apego da crianae o modelo interno de funcionamento da me adotiva: as

crianas cujas mes adotivas evidenciaram a utilizaode umscriptde base segura tendiam a apresentar valoresde segurana.

Aquela varivel foi alvo de anlise num estudo Espa-nhol (Palacios, Romn, Moreno, & Lon, 2009), no qualforam observadas diferenas significativas entre os paisadotivos e os pais da comunidade ao nvel do modelointerno de funcionamento, apresentando os pais da comu-nidade resultados mais favorveis. Os autores sugeriramque este resultado pode ser um reflexo da influncia dasexperincias adversas vividas anteriormente pela crianano modelo interno de funcionamento dos pais adotivos.Estudos com famlias de acolhimento tm revelado oimpacto das caractersticas da criana na qualidade darelao criana/pais, evidenciando que no perodo inicialde formao de uma relao de apego entre a criana e a fa-mlia, os comportamentos de resistncia e de evitamento dacriana contribuem para o emergir de comportamentos derejeio no adulto, mesmo em adultos seguros/autnomos(Stovall-McClough & Dozier, 2004). Os resultados dosestudos mencionados sugerem que dificuldades da crianaadotada podem ser um desafio, mesmo para adultos comcapacidades parentais consideradas adequadas. Serviosde ps-adoo so, desta forma, fundamentais.

Concluso

Os resultados dos estudos mencionados no presenteartigo vo ao encontro da proposta de Rutter (2005),segundo a qual a investigao sobre o impacto da adoodever estar assente na combinao de trs fatores - expe-rincias pr-natais, de cuidados anteriores e posteriores adoo, e a constituio gentica. A heterogeneidade nograu e tipo de dficit uma caracterstica dos resultadosdesenvolvimentais de crianas adotadas que estiveram

privadas de cuidados parentais adequados. Em algumas seconstata, por exemplo, que a institucionalizao prolon-


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gada pode levar a dficits fsicos e cognitivos acentuadose/ou a problemas de comportamento. Outras crianas noevidenciam dificuldades. Recursos ambientais, genticose temperamentais podem estar envolvidos nas diferenasobservadas. Neste sentido, fundamental o estudo da inte-rao entre as caractersticas da criana e as caractersticasdos contextos nos quais aquela se movimenta, tanto antes

como depois da adoo. Um olhar sobre as interaes en-tre crianas resilientes e diferentes facetas dos contextospoder levar ao entendimento sobre como melhorar a vidainstitucional e familiar.

Todavia, consideramos que as razes subjacentes heterogeneidade observada no desenvolvimento no soainda plenamente compreendidas, no se esgotando nasvariveis referidas neste artigo. H necessidade de maisinvestigaes dedicadas anlise da influncia de expe-rincias especficas de cuidados no desenvolvimento dacriana adotada, em culturas distintas. Dficits nos cuida-dos, em particular na prestao de cuidados responsivos

e estveis em contexto institucional, permanecem comoquestes de interesse. Aquela anlise revela-se prementepara a identificao de fatores de risco e proteo capazesde esclarecer a possibilidade dos seus efeitos variaremconforme a idade no momento de integrao na famliaadotiva, o tempo de institucionalizao e a vulnerabilidadegentica. A identificao dos fatores explicativos daquelaheterogeneidade, que moderam os caminhos entre o riscoe a desordem, representa uma etapa fundamental para acompreenso cientfica do fenmeno, bem como para amelhoria das prticas clnicas junto destas crianas e suasfamlias.

Apesar da descrio dos resultados do desenvolvimen-to aps a adoo ser necessria, consideramos que esta

perspectiva desligada de um entendimento dos processosque ocorrem no seio da famlia, no permite alcanar umacompreenso aprofundada das dinmicas envolvidas nofenmeno da adoo. Estudos futuros devem obter infor-maes detalhadas sobre caractersticas diversas dos paisadotivos (e.g., motivaes subjacentes adoo, prticaseducativas parentais), de outras variveis indicadoras daqualidade da relao (e.g., ateno partilhada, comuni-cao afetiva), bem como informaes acerca da famlia

biolgica, nomeadamente acerca de fatores genticos eambientais (e.g., experincias de maus-tratos). Uma anlise

aprofundada de resultados especficos de domnios maisamplos de funcionamento da criana (e.g., dficits deateno, enquadrados nos problemas de externalizao),em subamostras de adotados, poder ser uma estratgia

promissora, bem como a anlise do perodo de surgimentode diferentes tipos de problemas.

A investigao sobre a adoo deve-se pautar pelaocorrncia de outras movimentaes, como de estudostransversais para longitudinais. Devido ao seu cartermenos dispendioso, os investigadores tm recorrido a de-senhos transversais. Contudo, tais desenhos so limitadosna procura de um entendimento acerca das trajetrias de

desenvolvimento da criana adotada. Entendemos comoessencial a realizao de estudos longitudinais, com inciono momento de chegada da criana instituio, possibili-tando a anlise das experincias anteriores instituciona-lizao e da prpria institucionalizao. Esta elaborao

poder ser ainda um veculo privilegiado para testar se arecuperao no crescimento fsico, no desenvolvimento

cognitivo e scio-emocional, e se a construo de relaesseguras de apego est limitada pelo nvel de privaovivenciado precocemente.

Alm disto, a investigao sobre a adoo tem estadocentrada na comparao entre crianas adotadas e seus

pares da comunidade. Todavia, esta estratgia poder noser a mais adequada, devido ao fato de condies desiguaisestarem a ser alvo de comparao. Consideramos mais

pertinente a comparao entre crianas adotadas e as quepermaneceram institucionalizadas, pois ambas estiveramexpostas a experincias adversas e a histrias de separa-o parental, mas as segundas no foram integradas num

contexto familiar adotivo.A investigao com famlias adotivas reveste-se deinmeros desafios, dada a diversidade de influncias que

podem ocorrer na famlia, bem como devido ao fato de cadacriana levar consigo para o novo lar histrias distintas decuidados. Sugerimos a possibilidade de se constituir uma

base de dados conjunta, entre vrios pases, de forma apermitir comunidade cientfica explorar os efeitos davarivel cultural, bem como desenvolver estudos focadosem caractersticas particulares de diferentes tipos de fa-mlias e de crianas.

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Recebido: 04/08/2011

1 reviso: 13/01/2012

2 reviso: 27/04/2012

Aceitefinal: 30/04/2012

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