Bakunin e a Corrupção Do Estado

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  • 7/25/2019 Bakunin e a Corrupo Do Estado

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    A CORRUPO DE ESTADO NAS LENTES DE BAKUNINFelipe Corra

    Novamente, possvel constatar a acuidade e a atualidade da teoria do Estado deBakunin.[1] Nesta conjuntura, ela pode ser utilizada, dentre outras coisas, para subsidiar

    anlises crticas corrup!"o e apontar sadas aos dilemas sur#idos em rela!"o ao Estadobrasileiro.

    $e#undo sustenta Bakunin, o Estado, este instrumento das classes dominantes, %uncionasob uma determinada lica, inscreve 'istoricamente determinadas re#ras em suaestrutura, em rela!"o s (uais a a!"o 'umana possui severos limites. ) essa capacidadeestrutural (ue possui condi!*es de criar uma das classes dominantes, a burocracia, (ue,em #eral, concerta+se com outras para oprimir e eplorar os trabal'adores e adapta+se sre#ras %orjadas institucionalmente muito mais do (ue as modi%ica. -ara o revolucionriorusso, n"o se trata de sustentar um estruturalismo determinista, mas de assumir (ue, nasrela!*es sociais (ue se d"o na institucionalidade do Estado, a probabilidade de sua

    estrutura, de sua lica e do sistema 'istoricamente %orjado determinarem a a!"o daburocracia imensamente maior do (ue os movimentos em sentido contrrio.

    Em Estatismo e /nar(uia0 12345, Bakunin eplica, ao contrapor a ideia de Estadooperrio, se#undo ele de%endido pelo marismo[6]7 $ob (ual(uer 8n#ulo (ue se estejasituado para considerar esta (uest"o, c'e#a+se ao mesmo resultado eecrvel7 o #overnoda imensa maioria das massas populares por uma minoria privile#iada. Esta minoria,

    porm, dizem os maristas, compor+se+ de operrios. $im, com certeza, de anti#osoperrios, mas (ue, t"o lo#o se tornem #overnantes ou representantes do povo, cessar"ode ser operrios e colocar+se+"o a observar o mundo proletrio de cima do Estado, n"omais representar"o o povo, mas a si mesmos e a suas pretens*es a #overn+lo.0

    9esse modo, mesmo (ue um trabal'ador bem intencionado eleja+se ou tome com outroso Estado, na medida em (ue se tornar um #overnante ser convertido, pela %or!a dascoisas, num burocrata e, assim, num inimi#o de classe dos trabal'adores. /nalisando a'ist&ria #lobal : nela includa eemplos como as trajet&rias do -artido dos;rabal'adores no Brasil e o -artido

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    maquiaveliano. Este @ltimo, amplamente ensinado nas institui!*es (ue %ormam aburocracia brasileira e etensamente aceito e praticado pelos polticos em #eral,preconiza, dentre outras coisas, atuar de acordo com as regras da poltica e justificar-sede acordo com os pressupostos da tica vigente. u seja, em bom portu#u=s, %azer umacoisa e dizer (ue %az outra. /s recentes surpresas e indi#na!*es da burocracia em

    rela!"o s den@ncias de corrup!"o s"o o maior eemplo disso.

    Aual(uer um mais in%ormado sabe de al#o (ue j completamente not&rio : e osrecentes acontecimentos con%irmam isso para (uem ainda n"o sabia : (ue, no Brasil, acorrup!"o elemento constituinte do EstadoC %az parte das re#ras do jo#o, da licadeste Estado. E n"o surpreende (ue, mesmo sendo a corrup!"o uma ei#=ncia para seoperar com e%iccia neste Estado, (uando ela eposta ao p@blico, os polticos em #eral%injam surpresa e indi#na!"o.

    Nesse sentido, imprescindvel (ue a corrup!"o n"o seja discutida na mencionadac'ave moral, mas como ela realmente se apresenta7 um elemento de carter estrutural e

    sist=mico do Estado. Essa outra c'ave permite compreender (ue a corrup!"o n"odepende da boa ou m vontade, da boa ou m inten!"o dos burocratas. Ela possuicondi!*es muito mais propcias para corromper do (ue para ser modi%icada oucombatida.

    ;endo+se tornado 'istoricamente um pilar do sistema de Estado brasileiro, a corrup!"on"o se solucionar com a substitui!"o das pe!as do jo#o poltico. $ubstituir osmoralmente maus0 pelos bons0, realizar impeachment e?ou novas elei!*es etc. n"o%ar mais do (ue dar continuidade ao (ue a#ora se apresenta. Nesse momento, o (ueur#e o (uestionamento e o en%rentamento direto e pro%undo das re#ras desse jo#o e domodus operandido tabuleiro em (ue ele est sendo jo#ado.

    No campo das re%ormas, as solu!*es s& podem vir por meio das mudan!as (ueenvolvam as estruturas e re#ras polticas institucionais. No campo revolucionrio, elas

    passam, necessariamente, por uma re%le"o apro%undada acerca do papel do Estado nasociedade. Em ambos os casos, a burocracia n"o pode ser aliada, em %un!"o de seus

    pr&prios interesses, (ue tendem continuidade dostatu-quo.

    ;ambm em um e outro caso, a %erramenta mais e%icaz de trans%orma!"o n"o seencontram dentro, mas %ora do Estado. $"o os or#anismos de poder popular, ou seja,associa!*es de trabal'adores, vizin'os, estudantesC movimentos populares (ue, na base

    da press"o e separados da burocracia, est"o em condi!*es reais de impor suasreivindica!*es.

    9eve+se lembrar, com base em (ual(uer teoria sria da estrat#ia, (ue a %orma dessasor#aniza!*es e lutas : ou seja, seus meios : determinar necessariamente seus %ins./(uilo (ue se aspira para uma %utura sociedade deve nortear o modelo or#anizativodesses movimentos. -artindo de uma perspectiva libertria e i#ualitria, emer#em comomandat&rios princpios como a unidade e a independ=ncia de classe : e, assim, ocombate burocratiza!"o, domina!"o poltico+partidria, patronal, reli#iosa etc. :, aor#aniza!"o pela base, a articula!"o e a dele#a!"o por meio do %ederalismo, a devidavincula!"o entre reivindica!*es imediatas e um pro#rama poltico mais abran#ente para

    o %uturo.

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    Nem deveria ser necessrio mencionar (ue combater a corrup!"o0 e %azer o combateao Estado ei#e, necessariamente, (ue se abandonem muitas das prticas vi#entes emsindicatos e outros movimentos burocratizados.

    Notas:

    1. /l#uns dos tra!os %undamentais da teoria bakuniniana do Estado podem sercon'ecidos no meu arti#o / Dica do Estado em Bakunin0['ttps7??it'anar(uista.ordpress.com?6F1G?FH?64?%elipe+correa+a+lo#ica+do+estado+em+

    bakunin?]. -ara um apro%undamento, recomendo meu livro ;eoria Bakuniniana doEstado Intermezzo?Ima#inrio, 6F1G5.

    6. Essa posi!"o (ue Bakunin atribui aos maristas0 re%ere+se, na realidade, no!"o deEstado popular0 de Dassale, a (ual, na(uele momento, ao menos publicamente, era

    con%undida com as posi!*es de Jar e a social+democracia alem" em #eral.

    So Palo! "ar#o $e %&'(