AUSÊNCIA
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S ã o P a u l o 2012
FLAVIA CRISTINA SIMONELLI
AUSÊNCIA
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Prefácio
Alzheimer: experiências possíveis…A Doença de Alzheimer é uma experiência devastadora. Para o doente, a perda gradual da memória é o apagar do mais
essencial que possuímos, do que nos define e nos diferencia, daquilo que faz de cada um de nós, humanos: nossa identidade.
Para o familiar, é a dor de um luto prolongado, pois, embora esteja vivo, aquele à nossa frente vai, pouco a pouco, deixando de ser quem um dia conhecemos e amamos.
Mas, a doença também pode ser uma experiência transformadora, um aprendizado diário de novas formas de relacionamento, a descoberta de outros meios de comunicação possíveis que independem da fala, do raciocínio, da razão: o olhar, o toque, o afeto.
E ainda, pode ser uma experiência que, transcendendo a realidade, serve como matéria-prima para a criação artística, alimento imprescin-dível para nosso espírito, por intermédio da qual podemos expressar, compartilhar e amenizar nossas dores, emoções e sentimentos.
A leitura deste romance, escrito por Flavia Cristina, nos propor-ciona essa possibilidade de transcendência.
Através de suas páginas, torna-se possível conhecer e compreender, ou ainda, identificar e reconhecer a dolorosa experiência que é aceitar e vivenciar o próprio diagnóstico de Alzheimer, ou o de um ente querido. Saber que ele nunca mais será o mesmo, mas, sim, uma outra pessoa com a qual teremos que aprender a conviver e a usufruir o melhor que
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ela tem a nos oferecer a cada dia, naquele momento, pelo maior tempo possível.
Cabe a nós preservar a memória desta pessoa querida e tudo o que sua existência significou em nossas vidas. E assim, quem sabe, sermos capazes de descobrir novos valores e significados para nossa própria existência e para nossas futuras experiências…
Carlos Moreno
Ator e Diretor de Divulgação da ABRAz-Associação Brasileira de Alzheimer. Há oito anos sua mãe foi diagnosticada com a Doença de Alzheimer mas, graças aos tratamentos atualmente disponíveis, perma-nence no estágio inicial da doença.
Maio 2012
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Capítulo I
“O que é um homem sem memória?” – escreveu Daniel no caderno de anotações, que há muito se tornou uma espécie de diário. “O que é um homem que não se reconhece mais em nenhum tempo, nenhum lugar, nenhum rosto?”.
No fim de tarde, o sol enviava oblíquos fachos de luz ainda quen-tes, através das cortinas semiabertas, alcançando a mesa de trabalho. Pensativo, largou a caneta e se levantou, indo até a janela como costu-mava fazer em momentos de inquietação interior. Olhou para a pai-sagem urbana do alto do décimo terceiro andar, a mesma de muitos anos, que tantas vezes serviu-lhe de escape quando a cabeça se tornou pequena demais para encontrar certas respostas.
Certas respostas que vêm quando não se faz mais pergunta alguma.
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