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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO SOCIEDADE E CULTURA NA AMAZÔNIA ATLAS DOS FALARES DO BAIXO AMAZONAS AFBAM VOLUME I ROSEANNY MELO DE BRITO MANAUS AM 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO SOCIEDADE E

CULTURA NA AMAZÔNIA

ATLAS DOS FALARES DO BAIXO AMAZONAS – AFBAM

VOLUME I

ROSEANNY MELO DE BRITO

MANAUS – AM

2011

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO SOCIEDADE E CULTURA

NA AMAZÔNIA

ROSEANNY MELO DE BRITO

ATLAS DOS FALARES DO BAIXO AMAZONAS – AFBAM

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Sociedade e Cultura na

Amazônia da Universidade Federal do

Amazonas para a obtenção do título de Mestre

em Sociedade e Cultura na Amazônia, linha de

pesquisa Linguagem e Comunicação na

Amazônia.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Luiza de Carvalho Cruz Cardoso

MANAUS – AM

2011

ROSEANNY MELO DE BRITO

ATLAS DOS FALARES DO BAIXO AMAZONAS – AFBAM

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Sociedade e Cultura na

Amazônia da Universidade Federal do

Amazonas para a obtenção do título de Mestre

em Sociedade e Cultura na Amazônia, linha de

pesquisa Linguagem e Comunicação na

Amazônia.

Aprovado em 31 de março de 2010.

BANCA EXAMINADORA

Ao meu querido filho Murilo,

meu companheiro de

todas as horas, Luiz Gustavo, e

aos meus amados pais

Sebastião e Raimunda.

Ao plano superior pela força invisível;

A minha orientadora, Maria Luiza de Carvalho Cruz Cardoso,

pelo acompanhamento constante;

Aos meus familiares pelo apoio;

À colega e amiga, Francinery,

que auxiliou na discussão da temática e

contribuiu no delinear do caminho;

À Universidade Federal do Amazonas pela oportunidade;

Ao Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas - FAPEAM pela

concessão da bolsa de estudo;

Aos colegas da turma que incentivaram.

AGRADEÇO

RESUMO

Os estudos lingüísticos voltados para a caracterização do português do Brasil são ainda pouco

expressivos. Algumas regiões têm elaborado atlas lingüísticos e conseguido caracterizar o

falar de algumas localidades. No Amazonas, muito há para se fazer, tendo em vista a ausência

de tradição em pesquisas diletoctológicas nessa região. Com a finalidade de suprir parte dessa

lacuna, elaborou-se o Atlas dos Falares do Baixo Amazonas – AFBAM por meio de uma

pesquisa dialetológica que tem como cerne o estudo e a análise fonético-fonológica de cinco

dos municípios que formam a micro-região do Baixo Amazonas: Barreirinha, Boa Vista do

Ramos, Nhamundá, São Sebastião do Uatumã e Urucará. Este trabalho foi realizado através

de pesquisa bibliográfica e de campo e conta com o apoio da metodologia da Sociolingüística,

uma vez que se pretendeu verificar se as manifestações lingüísticas são em decorrência de

fatores lingüísticos ou sociais. A pesquisa foi realizada com 06 informantes, em cada um dos

cinco pontos de inquérito, sendo um homem e uma mulher entre 18 e 35 anos, 36 e 55 anos e

56 anos em diante. Este trabalho utilizou o questionário fonético-fonológico que foi aplicado

no desenvolvimento do Atlas Lingüístico do Amazonas – ALAM, elaborado por Cruz (2004),

bem como o programa computacional do ALAM, que permite a inserção de todos os dados

coletados e gerar automaticamente cartas fonéticas. Através da elaboração deste atlas,

objetiva-se oferecer um panorama criterioso dos falares característicos do Baixo Amazonas e

propiciar um conhecimento sócio-cultural mais aprofundado dessa micro-região. Este atlas

pretende ainda contribuir com os registros fonéticos realizados no ALAM, tendo em vista o

adensamento dos pontos de inquérito na região do Baixo Amazonas, o que amplia o

conhecimento do modo de falar da região amazônica e, conseqüentemente, do português do

Brasil.

PALAVRAS-CHAVE: Variedades lingüísticas, Dialetologia, Sociolingüística.

ABSTRACT

The studies linguistic directed to the characterization of Portuguese in Brazil are still little

expressive. Some regions have elaborated atlas linguistic and derived characterize the talk

about some localities. In the Amazon, much to do, in view of the lack of tradition in research

dialetoctologics in the region. For the purpose of supply part of this gap, drafted-if the Atlas

of the Lower Amazon Speaker AFBAM by means of a search dialectológica that has as kernel

study and the analysis phonetic-phonological five of the municipalities that form the micro-

region of Lower Amazon: Barreirinha, Boa Vista do Ramos, Nhamundá, San Sebastian of

Uatumã and Urucará. This work was carried out through bibliographic research and field and

with the support of the methodology of Sociolinguistic, since it sought to check whether the

linguistic manifestations are due to factors or social origins. The research was performed with

06 informants, in each of the five points, being a man and woman between 18 and 35 years,

36 and 55 years and 56 years. This work shall use the questionnaire phonetic-phonological

was applied in the development of linguistic Atlas of Amazon ALAM, elaborated by Cruz

(2004), as well as the computational program of ALAM, which allows the inclusion of all the

data collected and generate automatically letters phonetic. Through the drawing up this atlas,

objectively-offers a scenery insightful of speaker characteristic of Lower Amazon and foster

um knowledge social and cultural without reason deepen of that micro-region. This atlas

seeks still contribute with the registers phonetic made in the ALAM, having in mind or

deepening two inquiry of points in the Region of the Lower Amazon, or that broad or

knowledge of mode of region amazonic Speakest and, consequently, of the portuguese of

Brazil.

KEYWORD: Linguistic Varieties, Dialetoctologics, Sociolinguistics.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Vista frontal da sede do município de Nhamundá ................................................. 25

Figura 2 – Vista frontal da sede do município de Urucará ..................................................... 27

Figura 3 – Vista frontal da sede do município de São Sebastião do Uatumã.......................... 29

Figura 4 – Vista frontal da sede do município de Boa Vista do Ramos ................................. 30

Figura 5 – Vista do porto da sede do município de Barreirinha ............................................. 31

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Distância dos cinco pontos de inquérito em relação à Manaus (via aérea) ......... 33

Gráfico 2 – Distância dos cinco pontos de inquérito em relação a Manaus (via fluvial) ....... 34

Gráfico 3 – Extensão territorial dos cinco pontos de inquérito .............................................. 34

Gráfico 4 – População dos cinco pontos de inquérito ............................................................ 35

Gráfico 5 – Percentual de ocorrência da vogal pretônica /e/ .................................................. 60

Gráfico 6 – Percentual de ocorrência da vogal pretônica /e/ com relação à variável sexo...... 61

Gráfico 7 – Percentual de ocorrência da vogal pretônica /e/ com relação à variável faixa

etária.................................................................................................................... 62

Gráfico 8 – Percentual de uso da vogal pretônica /e/ nos pontos de inquérito conforme a

variável sexo....................................................................................................... 63

Gráfico 9 – Percentual de uso da vogal pretônica /e/ nos pontos de inquérito conforme a

variável faixa etária ........................................................................................... .64

Gráfico 10 – Percentual de ocorrência da vogal pretônica /o/ ................................................ 65

Gráfico 11 – Percentual de ocorrência da vogal pretônica /o/ com relação à variável

sexo..................................................................................................................... 66

Gráfico 12 – Percentual de ocorrência da vogal pretônica /o/ com relação à variável faixa

etária ................................................................................................................... 67

Gráfico 13 – Percentual de uso da vogal pretônica /o/ nos pontos de inquérito conforme a

variável sexo ..................................................................................................... 68

Gráfico 14 – Percentual de uso da vogal pretônica /o/ nos pontos de inquérito conforme a

variável faixa etária ........................................................................................... 69

Gráfico 15 – Percentual de ocorrência de ditongos e monotongos ......................................... 70

Gráfico 16 – Percentual de ocorrência de ditongos e monotongos com relação à variável

sexo................................................................................................................... 71

Gráfico 17 – Percentual de ocorrência de ditongos e monotongos com relação à variável faixa

etária .................................................................................................................. 72

Gráfico 18 – Percentual de uso de ditongos e monotongos nos pontos de inquérito conforme a

variável sexo ..................................................................................................... 73

Gráfico 19 – Percentual de uso de ditongos e monotongos nos pontos de inquérito conforme a

variável faixa etária ............................................................................................ 73

Gráfico 20 – Percentual de ocorrência das vibrantes .............................................................. 75

Gráfico 21 – Percentual de ocorrência das vibrantes, em início de vocábulo, com relação à

variável sexo ...................................................................................................... 76

Gráfico 22 – Percentual de ocorrência das vibrantes, em início de vocábulo, com relação à

variável faixa etária ............................................................................................ 77

Gráfico 23 - Percentual de uso das vibrantes, em início de vocábulo, nos pontos de inquérito

conforme o sexo ................................................................................................. 78

Gráfico 24 – Percentual de uso das vibrantes, em início de vocábulo, nos pontos de inquérito

cf. a faixa etária ................................................................................................. 79

Gráfico 25 – Percentual de ocorrência das vibrantes, em início de sílaba, com relação à

variável sexo ......................................................................................................80

Gráfico 26 – Percentual de ocorrência das vibrantes, em início de sílaba, com relação à

variável faixa etária ............................................................................................81

Gráfico 27 – Percentual de uso das vibrantes, em início de sílaba, nos pontos de inquérito

conforme o sexo ................................................................................................. 82

Gráfico 28 – Percentual de uso das vibrantes, em início de sílaba, nos pontos de inquérito cf.

Faixa etária ......................................................................................................... 83

Gráfico 29 – Percentual de ocorrência das vibrantes, em final de sílaba, com relação à variável

sexo .................................................................................................................... 84

Gráfico 30 – Percentual de ocorrência das vibrantes, em final de sílaba, com relação à variável

faixa etária ...........................................................................................................85

Gráfico 31 – Percentual de uso das vibrantes, em final de sílaba, nos pontos de inquérito

conforme o sexo .................................................................................................86

Gráfico 32 – Percentual de uso das vibrantes, em final de sílaba, nos pontos de inquérito cf. a

faixa etária .......................................................................................................... 87

Gráfico 33 – Percentual de ocorrência das vibrantes, em final de vocábulo, com relação à

variável sexo ......................................................................................................88

Gráfico 34 – Percentual de ocorrência das vibrantes, em final de vocábulo, com relação à

variável faixa etária ............................................................................................89

Gráfico 35 – Percentual de uso das vibrantes, em final de vocábulo, nos pontos de inquérito

conforme o sexo ................................................................................................. 90

Gráfico 36 – Percentual de uso das vibrantes, em final de vocábulo, nos pontos de inquérito

cf. a faixa etária ................................................................................................. 91

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Ocorrência da vogal pretônica /e/ ......................................................................... 59

Tabela 2 – Ocorrência da vogal pretônica /e/ com relação à variável sexo ........................... 61

Tabela 3 – Ocorrência da vogal pretônica /e/ com relação à variável faixa etária ................ 62

Tabela 4 – Ocorrência da vogal pretônica /o/ ......................................................................... 65

Tabela 5 – Ocorrência da vogal pretônica /o/ com relação à variável sexo .......................... 66

Tabela 6 – Ocorrência da vogal pretônica /o/ com relação à variável faixa etária ................. 67

Tabela 7 – Ocorrência de ditongos e monotongos ................................................................. 69

Tabela 8 – Ocorrência de ditongos e monotongos com relação à variável sexo ................... 70

Tabela 9 – Ocorrência da vogal pretônica /o/ com relação à variável faixa etária ................ 71

Tabela 10 – Ocorrência das vibrantes .....................................................................................74

Tabela 11 – Ocorrência das vibrantes, em início de vocábulo, com relação à variável

sexo..................................................................................................................... 76

Tabela 12 – Ocorrência das vibrantes, em início de vocábulo, com relação à variável faixa

etária .................................................................................................................. 77

Tabela 13 – Ocorrência das vibrantes, em início de sílaba, com relação à variável sexo ........79

Tabela 14 – Ocorrência das vibrantes, em início de sílaba, com relação à variável faixa

etária.................................................................................................................... 80

Tabela 15 – Ocorrência das vibrantes, em final de sílaba, com relação à variável sexo ........ 83

Tabela 16 – Ocorrência das vibrantes, em final de sílaba, com relação à variável faixa

etária.................................................................................................................... 84

Tabela 17 – Ocorrência das vibrantes, em final de vocábulo, com relação à variável sexo ... 88

Tabela 18 – Ocorrência das vibrantes, em final de vocábulo, com relação à variável faixa

etária ................................................................................................................... 89

SUMÁRIO

VOLUME I

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 17

1. O Baixo Amazonas ............................................................................................................. 21

1.1. Um cenário amazônico .................................................................................................... 21

1.2 Pontos de inquérito ............................................................................................................ 23

1.2.1 Aspectos sócio-histórico-culturais ................................................................................. 23

1.2.1.1 Ponto de inquérito 1: Nhamundá ................................................................................ 25

1.2.1.2 Ponto de inquérito 2: Urucará ..................................................................................... 27

1.2.1.3 Ponto de inquérito 3: São Sebastião do Uatumã ......................................................... 29

1.2.1.4 Ponto de inquérito 4: Boa Vista do Ramos ................................................................. 30

1.2.1.5 Ponto de inquérito 5: Barreirinha ............................................................................... 31

1.3 Geografia e população ...................................................................................................... 33

2. Fundamentação teórica ....................................................................................................... 36

2.1 Fenômenos relativos às realizações dos fonemas vocálicos e consonantais ..................... 45

2.1.1 Vogais mediais pretônicas ............................................................................................. 46

2.1.2 Alteamento das vogais mediais pretônicas .................................................................... 46

2.1.3 Realização dos ditongos ................................................................................................. 47

2.1.4 Vibrantes ........................................................................................................................ 48

2.1.5 Laterais ........................................................................................................................... 49

2.1.6 Realização do /S/ ............................................................................................................ 51

2.1.7 Redução do grupo -nd a [n] ............................................................................................ 51

2.2 Os estudos dialetológicos no Amazonas e no Brasil: breve histórico ............................... 51

3. Procedimentos metodológicos ............................................................................................ 54

3. 1 Pesquisa bibliográfica ...................................................................................................... 54

3.2 Localidades ....................................................................................................................... 54

3.3 Informantes ....................................................................................................................... 54

3.4 Questionários .................................................................................................................... 55

3.5 Entrevistas ......................................................................................................................... 55

3.6 O programa computacional ............................................................................................... 56

3.7 As cartas ............................................................................................................................ 57

4. Falares do Baixo Amazonas: algumas considerações ......................................................... 58

4.1 A vogal medial pretônica /e/ ............................................................................................. 59

4.1.1 Fatores sociais que influenciam o uso da vogal medial pretônica /e/ ............................ 60

4.1.1.1 A variável sexo ........................................................................................................... 60

4.1.1.2 A variável faixa etária.................................................................................................. 62

4.1.1.3 Percentual de uso da vogal medial pretônica /e/ nos pontos de inquérito conforme a

variável sexo................................................................................................................ 63

4.1.1.4 Percentual de uso da vogal medial pretônica /e/ nos pontos de inquérito conforme a

variável faixa etária .................................................................................................... 63

4.2 A vogal medial pretônica /o/............................................................................................. 64

4.2.1 Fatores sociais que influenciam o uso da vogal medial pretônica /o/ ........................... 66

4.2.1.1 A variável sexo ........................................................................................................... 66

4.2.1.2 A variável faixa etária.................................................................................................. 67

4.2.1.3 Percentual de uso da vogal medial pretônica /o/ nos pontos de inquérito conforme a

variável sexo................................................................................................................ 68

4.2.1.4 Percentual de uso da vogal medial pretônica /o/ nos pontos de inquérito conforme a

variável faixa etária .................................................................................................. 68

4.3 A realização dos ditongos.................................................................................................. 69

4.3.1 Fatores sociais que influenciam a realização de ditongos ou monotongos..................... 70

4.3.1.1 A variável sexo............................................................................................................. 70

4.3.1.2 A variável faixa etária.................................................................................................. 71

4.3.1.3 Percentual de uso de ditongos e monotongos nos pontos de inquérito conforme a

variável sexo ............................................................................................................... 72

4.3.1.4 Percentual de uso de ditongos e monotongos nos pontos de inquérito conforme a

variável faixa etária .................................................................................................. 73

4.4 A realização das vibrantes ................................................................................................ 74

4.4.1 A realização das vibrantes em início de vocábulo ......................................................... 75

4.4.1.1 A variável sexo ........................................................................................................... 75

4.4.1.2 A variável faixa etária ................................................................................................ 77

4.4.1.3 Percentual de uso das vibrantes, em início de vocábulo, nos pontos de inquérito

conforme a variável sexo ........................................................................................ 78

4.4.1.4 Percentual de uso das vibrantes, em início de vocábulo, nos pontos de inquérito

conforme a variável faixa etária ................................................................................ 78

4.4.2 A realização das vibrantes em início de sílaba ............................................................. 79

4.4.2.1 A variável sexo .......................................................................................................... 79

4.4.2.2 A variável faixa etária ................................................................................................ 80

4.4.2.3 Percentual de uso das vibrantes, em início de sílaba, nos pontos de inquérito conforme

a variável sexo ............................................................................................................. 81

4.4.2.4 Percentual de uso das vibrantes, em início de sílaba, nos pontos de inquérito conforme

a variável faixa etária ................................................................................................. 82

4.4.3 A realização das vibrantes em final de sílaba ............................................................... 83

4.4.3.1 A variável sexo ........................................................................................................... 83

4.4.3.2 A variável faixa etária ................................................................................................. 84

4.4.3.3 Percentual de uso das vibrantes, em final de sílaba, nos pontos de inquérito conforme a

variável sexo ............................................................................................................... 85

4.4.3.4 Percentual de uso das vibrantes, em final de sílaba, nos pontos de inquérito conforme a

variável faixa etária ................................................................................................... 86

4.4.4 A realização das vibrantes em final de vocábulo .......................................................... 87

4.4.4.1 A variável sexo .......................................................................................................... 87

4.4.4.2 A variável faixa etária ................................................................................................ 89

4.4.4.3 Percentual de uso das vibrantes, em final de vocábulo, nos pontos de inquérito

conforme a variável sexo ......................................................................................... 90

4.4.4.4 Percentual de uso das vibrantes, em final de vocábulo, nos pontos de inquérito

conforme a variável faixa etária ................................................................................. 91

CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 92

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 95

VOLUME II

INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 100

1. Os pontos de inquérito .................................................................................................... 101

1.1. Ponto no mapa: 01 .......................................................................................................... 101

1.2. Ponto no mapa: 02 .......................................................................................................... 102

1.3. Ponto no mapa: 03 .......................................................................................................... 102

1.4. Ponto no mapa: 04 .......................................................................................................... 103

1.5. Ponto no mapa: 05 .......................................................................................................... 104

2. Os informantes .................................................................................................................. 105

2.1 Os informantes por ponto de inquérito .......................................................................... 105

2.1.1 Nhamundá – Ponto 01 ................................................................................................. 105

21.2 Urucará – Ponto 02 ...................................................................................................... 107

2.1.3 São Sebastião do Uatumã – Ponto 03 ......................................................................... 109

2.1.4 Boa Vista do Ramos – Ponto 04 ................................................................................. 111

2.1.5 Barreirinha – Ponto 05 ................................................................................................. 113

3. O Questionário Fonético-Fonológico (QFF) ..................................................................... 115

4. O sistema de transcrição fonética ...................................................................................... 126

5. O programa computacional ............................................................................................... 129

6. As normas de apresentação das cartas .............................................................................. 130

6.1. Gerais ............................................................................................................................. 130

6.2. Específicas ..................................................................................................................... 130

7. Índice das Cartas ............................................................................................................... 132

8. Cartas de Apresentação ......................................................................................................137

9. Cartas Fonéticas ............................................................................................................... 142

10. Notas referentes às cartas fonético-fonológicas ............................................................. 275

Anexos................................................................................................................................... 286

Anexo 1 – Ficha do Informante ............................................................................................ 287

Anexo 2 – Ficha da Localidade ............................................................................................. 288

Anexo 3 – Janelas impressas do programa computacional MVL-ALAM_BAIXO

AMAZONAS .......................................................................................................289

17

INTRODUÇÃO

O português falado no Brasil constitui um único sistema lingüístico, mas caracteriza-se

por apresentar diferentes falares que dão identidade própria aos habitantes de todas as regiões

brasileiras. Diante disso, faz-se necessário “voltar os olhos” para esse grandioso fenômeno,

que é a linguagem humana, a qual se caracteriza por ser, essencialmente, dinâmica e

heterogênea. E são justamente essas características as responsáveis pela diversidade não

apenas lingüística mas também cultural, haja vista que língua e sociedade se definem

mutuamente.

Por conseguinte, com a elaboração do Atlas dos Falares do Baixo Amazonas –

AFBAM, objetivou-se realizar um estudo dialetológico, a fim de melhor se estudar, analisar e

caracterizar os falares típicos da micro-região do Baixo Amazonas, a qual, segundo a divisão

político-administrativa do Estado do Amazonas, de 1989, abriga seis municípios:

Barreirinha, Boa Vista do Ramos, Nhamundá, São Sebastião do Uatumã, Urucará e

Parintins. O último município, entretanto, não será investigado nesta pesquisa, por já ter sido

objeto de estudo no Atlas Lingüístico do Amazonas – ALAM (CRUZ, 2004).

Para uma maior compreensão desses falares, pretendeu-se também, (a) registrar as

variantes correspondentes às variáveis gênero e faixa etária; (b) verificar o comportamento

lingüístico entre os sexos masculino/feminino, observando-se formas conservadora/inovadora;

(c) elaborar cartas fonético-fonológicas, a fim de caracterizar aspectos da fala do Baixo

Amazonas; (d) contribuir para a ampliação e consolidação dos registros fonéticos realizados

no Atlas Lingüístico do Amazonas –ALAM; (e) contribuir para o conhecimento das variantes

populares do Português do Brasil e para a delimitação das áreas dialetais brasileiras.

O interesse por essa área de atuação aflorou no primeiro período do curso de Letras-

Língua Portuguesa da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, quando do estudo da

disciplina Introdução à Lingüística. Esse interesse foi intensificado no segundo período da

18

graduação, com as disciplinas Lingüística I e Língua Portuguesa I. Nas aulas em que essas

disciplinas eram ministradas, a pesquisadora teve sua primeira experiência em análise

lingüística, pois, como atividade e avaliação exigida pelos professores, identificava,

transcrevia e registrava os falares característicos do Brasil (Língua Portuguesa I), bem como

os falares indígenas e de outros países (Lingüística I). Isso serviu de base mais tarde quando

passou a participar de Projetos de Iniciação Científica – PIBIC.

O amor pela Lingüística firmou-se mesmo durante a realização do primeiro projeto de

pesquisa, “Multilingüismo e Valor Funcional das Línguas Desana e Pira-tapuyo em Manaus”,

orientado pela Prof. Dra. Dulce do Carmo Franceschini, o qual, além de ter dado a

oportunidade de estudar a língua indígena, permitiu ter contato pela primeira vez com a

Sociolingüística, ciência que considera as variáveis extralingüísticas quando da análise do

fenômeno lingüístico, tendo em vista que postula o fato de a língua e de a sociedade estarem

ligadas entre si.

Com o término desse estudo, assume-se dois novos projetos, o primeiro intitula-se “A

língua Hixkaryána e seu valor funcional: um levantamento sociolingüístico” e o segundo,

“Análise descritiva da língua Hixkaryána” – ambos orientados pela Dra. Ana Carla dos

Santos Bruno e co-orientados pela Prof. Dra. Dulce do Carmo Franceschini. Aquele segue a

mesma linha do primeiro PIBIC, ou seja, é um estudo sociolingüístico, já este se detém nos

estudos fonéticos, fonológicos e sintáticos da língua Hixkaryána (família lingüística Karib).

Ambos os projetos permitiram, ainda, que se adquirisse alguma experiência em pesquisa de

campo no interior, pois, para efetuá-las, a pesquisadora teve que se deslocar até o município

de Nhamundá-AM (região em que residem os povos indígenas Hixkaryána), a fim de colher

dados de fundamental importância para o desenvolvimento das referidas pesquisas.

Diante dessas experiências adquiridas ao longo da vida acadêmica, foi possível ter

uma maior convicção quanto ao projeto de Mestrado: Atlas dos Falares do Baixo Amazonas –

19

AFBAM, cujo desenvolvimento se concretizou no Programa de Pós-graduação em Sociedade

e Cultura na Amazônia - PPGSCA.

Para a realização do projeto, foram feitas pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo.

Com a pesquisa bibliográfica, obteve-se informações históricas, econômicas, geográficas e

culturais sobre os municípios estudados e pressupostos metodológicos referentes à Fonética,

Fonologia, Dialetologia e Sociolingüística. Com a pesquisa de campo, que assumiu um papel

primordial neste estudo, pôde-se coletar dados lingüísticos e sócio-histórico-culturais dos

pontos de inquérito. A obtenção dos dados lingüísticos se deu através da aplicação de um

questionário fonético-fonológico. Esse questionário foi o mesmo utilizado para a elaboração

do ALAM, por suas questões já terem sido testadas com aprovação para esse tipo de pesquisa

in loco. Tais dados foram gravados com gravador e posteriormente transcritos, de acordo com

as normas do Alfabeto Fonético Internacional – IPA.

Em cada ponto de inquérito, contou-se com 06 informantes, num total de 30, sendo um

homem e uma mulher em três faixas etárias: 18 a 35 anos (faixa 01), 36 a 55 anos (faixa 02) e

56 anos em diante (faixa 03). Entretanto, em Urucará, não foi possível inquirir o informante

masculino da faixa etária 03 haja vista não se ter encontrado alguém que correspondesse a

todos os critérios exigidos.

Após transcritos, os dados foram organizados em Cartas Fonético-Fonológicas a fim

de constituir o Atlas dos Falares do Baixo Amazonas – AFBAM. Para o registro dos dados do

AFBAM, foi utilizado o Programa Computacional, elaborado para o ALAM, que permite a

elaboração de cartas lingüísticas quando são inseridos os dados transcritos. O programa do

ALAM, denominado Mapeamento de Variação Lingüística – MVL, recebeu alguns ajustes

para a apresentação do AFBAM.

20

Esta pesquisa se divide em dois volumes. No primeiro volume, são abordados quatro

capítulos.

No capítulo 1, são abordadas questões sociais, históricas e culturais do Baixo

Amazonas como um todo e, especificamente, dos municípios Barreirinha, Boa Vista do

Ramos, Nhamundá, São Sebastião do Uatumã e Urucará, a fim de que se possa conhecer

melhor a região em estudo.

No capítulo 2, é feito um aprofundamento teórico referente à Fonética, Fonologia,

Sociolingüística e Dialetologia, essenciais para a concretização do projeto, visto que permite

que se tenha uma maior segurança quando da efetivação da pesquisa de campo e do registro

dos dados lingüísticos coletados.

No capítulo 3, são fornecidos dados, de forma sintética, sobre os pontos de inquérito,

os informantes e os registros magnefônicos.

No capítulo 4, tecem-se considerações sobre alguns fenômenos expressos nas cartas

fonético-fonológicas.

A seguir, apresenta-se a conclusão da pesquisa.

Após a conclusão da pesquisa, listam-se todas as obras consultadas.

No segundo volume, são apresentadas informações sobre os pontos de inquérito, os

informantes, o Questionário Fonético-Fonológico, o sistema de transcrição fonética, o

programa computacional, as normas de apresentação das cartas, os índices das cartas, as

cartas de apresentação e as cartas fonéticas.

Nesse volume, as cartas fonéticas são apresentadas também em um cd-rom1, o qual

permiti a visualização e a audição do modo de falar do Baixo Amazonas.

O volume II é o AFBAM propriamente dito.

1 O cd-rom é compatível com o “Windows XP” e o “BrOffice”.

21

1. O Baixo Amazonas

1.1 Um cenário amazônico

A área em estudo está situada ao norte do Estado do Amazonas, mais especificamente

na micro-região do Baixo Amazonas (área cortada pelo rio Amazonas). O acesso a este local é

possível por via aérea e fluvial, sendo que este último é o mais viável, uma vez que apenas o

município de Parintins mantém vôos regulares para a capital Manaus. O Baixo Amazonas é

composto pelos municípios de Barreirinha, Boa Vista do Ramos, Nhamundá, Parintins, São

Sebastião do Uatumã e Urucará, dos quais apenas Parintins, por já ter sido estudado, não foi

objeto desta pesquisa.

Esta micro-região consagrou-se historicamente no século XVI, quando Francisco

Orellana, comandante de uma expedição que durou cerca de 2 (dois) anos, navegou por todo o

rio Amazonas. Durante esta empreitada, segundo o cronista da expedição Frei Gaspar de

Carvajal, a mesma foi atacada por um grupo de mulheres guerreiras na foz do rio Nhamundá,

afluente da margem esquerda do rio Amazonas. Pelo fato de essas mulheres lembrarem as

lendárias Amazonas da Grécia Antiga, os espanhóis passaram a denominar o rio, antes

chamado de Santa Maria de La Mar Dulce, de “Rio das Amazonas” (PONTES FILHO,

2000).

A expansão e a manutenção da Amazônia, no início de sua colonização, teve como

base a instalação de fortificações militares e de missões religiosas dirigidas por sacerdotes de

diversas congregações, as quais deram origem, em sua maioria, a muitos municípios

amazônicos. Ambos, militares e congregações religiosas, além de exercerem atividades

específicas (defesa e catequização, respectivamente), praticavam uma intensa atividade

econômica que tinha como cerne a exploração dos produtos extrativos da região. De acordo

com Figueiredo e Folha (1977), as primeiras fortificações, construídas em lugares

estratégicos, foram: Fortaleza de São José de Macapá, Fortaleza de São Joaquim, Forte de

22

São José de Marabitana, Forte de São Gabriel da Cachoeira, Forte de Tabatinga, Forte de

Bragança e Forte Príncipe da Beira. Com relação às missões religiosas, estas se

estabeleceram, dentre os muitos locais, às margens dos afluentes do rio Amazonas.

Além de servirem como fortalezas portuguesas na região, os primeiros

assentamentos coloniais também serviam como pontos de coleta das chamadas

“drogas do sertão”, recursos naturais recolhidos do interior, tais quais madeira,

especiarias, guaraná, tinturas, peles de animais e outras mercadorias primárias. As

ordens religiosas, especialmente os jesuítas, beneficiaram-se do comércio crescente

na região do Baixo Rio Amazonas, mais até mesmo do que a coroa portuguesa e os

comerciantes regionais. Isentos de taxas, as ordens religiosas controlavam os

recursos da floresta e o trabalho nativo nas vilas de missionários de onde as

mercadorias eram transportadas para Belém e então para Lisboa em troca de

mercadorias importadas (CORREA, 1991; HECHT; COCKBURN, 1989 apud

BROWDER; GODFREY, 2006, p. 78).

Considerando que pertence ao cenário mais amplo da Amazônia Brasileira, o Baixo

Amazonas não foge às características comuns deste espaço político, o qual mostra-se,

segundo Browder e Godfrey (2006), como um espaço social heterogêneo – já que constituído

por diversos grupos sociais e estruturas espaciais – que tem se configurado a partir do boom-

bust das atividades extrativas típicas da região, ou seja, o apogeu ou a queda de determinada

atividade extrativa determina a sua constituição política-econômica-cultural e determina,

também, um assentamento regional mais intenso em locais que melhor propiciam a

comercialização do produto do momento.

Tal assentamento evidencia um processo de urbanização na Amazônia2 que, segundo

Correa (apud BROWDER; GODFREY, 2006, p. 76), antes da configuração contemporânea,

passou por três principais períodos históricos: o período colonial após a fundação de Belém e

as vilas missionárias do século XVII; o período mercantil da Companhia do Grão-Pará e

Maranhão3 no final do século XVIII; e a explosão comercial da borracha de aproximadamente

1850 a 1920.

2 Browder e Godfrey (2006) recomendam que o processo de urbanização na Amazônia deve ser

entendido no contexto específico da região. 3 A Companhia do Grão-Pará e Maranhão era uma companhia de comércio do Estado do Grão-Pará e

23

Antes da metade do século XX, de acordo com Browder e Godfrey (2006), a

urbanização centrou-se em espaços localizados às margens do Rio Amazonas e seus

principais afluentes. A partir da segunda metade desse século, os seis Estados e antigos

territórios da Região Norte brasileira tornaram-se predominantemente urbanizados, pois, até o

ano de 2000, a população da região amazônica era aproximadamente 70% urbana.

A porcentagem da população urbana da região residindo em Belém e Manaus juntas

caiu de 67,9% em 1950 para 41,8% em 1991. Em outras palavras, o censo

demográfico (1991) indicou, pela primeira vez, que mais da metade da população

urbana da região reside fora das duas maiores áreas metropolitanas. Apesar de

Belém e Manaus terem alcançado tamanhos sem precedentes, a tendência regional

nos últimos anos indica uma desconcentração da área metropolitana (BROWDER;

GODFREY, 2006, p. 25).

1.2 Pontos de Inquérito

1.2.1 Aspectos sócio-histórico-culturais

Browder e Godfrey (2006) verificaram que a urbanização da Amazônia não está

relacionada com o processo de industrialização, como o vivenciado por alguns pontos do

sudeste do Brasil, mas com a exploração dos recursos naturais e com as migrações para os

locais que apresentam algum desenvolvimento econômico na região. Verificaram ainda que a

comercialização visa mais ao atendimento do mercado consumidor interno do que ao externo.

Tal constatação pode ser extendida aos cinco pontos de inquérito da presente pesquisa –

Barreirinha, São Sebastião do Uatumã, Urucará, Boa Vista do Ramos e Nhamundá –, pois os

mesmos não têm grandes projeções econômicas e o processo de urbanização que as sedes dos

municípios vivenciam são em decorrência de empregos públicos, comércio varegista e

atacadista, esporádicos eventos (festa da padroeira, dentre outras), pequenas indústrias

(serraria, olaria, carpintaria etc.), extrativismo vegetal etc. Embora essas atividades permitam

alguma circulação de dinheiro na região, não atingem, significativamente, o mercado externo.

Maranhão, o qual compreendia os atuais estados do Amazonas, Pará e Maranhão.

24

Um fato interessante com relação ao ponto de inquérito estudado é que, de acordo com

Beltrão (1998), os municípios de Nhamundá, São Sebastião do Uatumã e Urucará, juntos,

formam a maior reserva mineral do Brasil em bauxita e jazida de calcário, entretanto, não se

percebe na região qualquer indício que esta reserva contribua expressivamente para o seu

desenvolvimento econômico.

O Grupo João Santos detém o monopólio da produção de calcário para cimento na

região. Suas reservas atingem o montante de 1,2 bilhões de toneladas, produzindo

387.600 t/ano na região de Capanema (PA) e 396.000 t nas áreas de Itaituba (PA),

Jatapu (AM) e Nhamundá (Urucará, Nhamundá à São Sebastião do Uatumã). As

fábricas de Capanema e Manaus produzem 23,04 milhões de sacas de cimento por

ano (BELTRÃO, 1998, p. 18)

Quanto à infra-estrutura básica, os cinco municípios estão bem equiparados, tendo em

vista que possuem serviços de fornecimento de saneamento básico, energia elétrica, correio,

banco, telefonia fixa, hospital, escolas de nível fundamental e médio, delegacia, transporte

fluvial, comércio varejista, hotéis, restaurantes, clubes, dentre outros.

Durante a pesquisa de campo, foi possível constatar que todos possuem o serviço de

internet e telefonia móvel. Constatou-se ainda que, em Urucará, a população está tendo acesso

ao nível superior, graças a programas desenvolvidos pela UFAM.

Como é comum em toda a região amazônica, os urucaraenses, uatumaenses,

nhamundaeses, boavistenses e barreirinhenses costumam realizar atividades religiosas, como

a festa do(a) padroeiro(a) do local; atividades esportivas, como torneios de futebol, vôlei,

dentre outros; ou eventos festivos que fazem referência a produtos da fauna ou a da flora da

região, como a “Festa da Pesca ao Tucunaré”, realizada em Nhamundá e São Sebastião do

Uatumã.

25

1.2.1.1 Ponto de Inquérito 1: Nhamundá

Figura 1 – Vista frontal da sede do município de Nhamundá

FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.

As primeiras informações que se tem do município de Nhamundá datam do século

XVI, quando do suposto contato, na foz do rio Nhamundá, da expedição comandada por

Francisco Orellana com as guerreiras Amazonas ou, na língua indígena, Icamiabas. Mais

tarde, no século XVII, tem-se registro da fundação da missão religiosa “Santa Cruz do

Jamundá”, situada na atual cidade de Faro (Pará), cuja localização é às margens do rio

Nhamundá, no lado oposto à sede do município de Nhamundá (FIGUEIREDO; FOLHA,

1977).

Segundo Marajó (1992), Jamundá, Yamundá ou Nhamundá é um dos rios da

Amazônia que desperta maior interesse em virtude de sua importância como rio, de ser ele o

limite entre o estado do Pará e o estado do Amazonas e de estar ligado à tradição das

Amazonas, as quais deram o seu nome ao grande rio.

26

Diz a lenda que nas nascentes do Jamundá existe um formoso lago chamado Yaci-

Uaruá, consagrado à lua. Era n‟este lago que em dadas epochas e em certas phases

da lua se iam banhar as Icamiabas, ou mulheres sem marido. Depois de cumprida as

ceremonias expiatórias ou antes propiciatorias e quando a lua iluminava o lago,

banhavam-se e recebiam da mãe do muirakitan, as pedras chamadas assim, com as

formas que desejavam. Estas pedras eram extremamente rijas e polidas, e a crença

espalhada que enquanto debaixo da agua ficavam molles tomando todas as formas,

apenas fora d‟ella se tornavam rijas e impossiveis de serem trabalhadas.

Aos homens da tribu que annualmente as iam visitar presenteavam com estas pedras

que se diziam dotadas de propriedades maravilhosas como um verdadeiro amuleto

ou talisman (MARAJÓ, 1992, p. 257).

Mata (1967) defende que, embora a existência das Amazonas seja contestável, a

batalha entre os expedicionários, comandados por Francisco Orellana, e a tribo de Nhamundá

tem sua veracidade.

Do encontro, todavia, dos comandos de Francisco Orellana com as ameríndias de

cabelos longos, não subsiste o menor equívoco. Hordas sòmente de elementos do

sexo feminino – o que pode ser uma suposição – ou silvícolas iguais aos que

pervagam por toda a hinterlândia, evidente é que o combate se trava, com a

ferocidade dos idos coloniais. Assegura cunho de veracidade a tais acontecimentos o

próprio frei Gaspar de Carvajal, cuja obra tem resistido à ação demolidora do tempo

(MATA, 1967, p. 27).

A região que, de acordo com Albuquerque e Marinho (1999), tem como seus primeiros

habitantes os indígenas Jamundás, Cuniris, Uaboais e Guncari, só passou a ser elevada à

condição de município em meados do século XX, momento este em que foi então

desmembrada do município de Parintins.

Assim, no dia 19 de dezembro de 1955, pela Lei Estadual nº 96, Nhamundá, que antes

era reconhecido pelo nome de Ilha das Cotias4, é desmembrado de Parintins e passa a

constituir o município autônomo de Nhamundá, o qual vem a ser instalado, concretamente, no

dia 31 de janeiro de 1956 (BELTRÃO, 1998).

4 O nome Ilha das Cotias deveu-se, segundo os antigos moradores do município, ao fato de que, naquele

tempo, havia muitas cotias na ilha de Nhamundá, sede desse município.

27

1.2.1.2 Ponto de Inquérito 2: Urucará

Figura 2 – Vista frontal da sede do município de Urucará

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008.

A origem do município de Urucará remonta ao século XIX, quando da fundação

da povoação de Santana da Capela, em 1814, por Crispim Lobo de Macedo, a qual se

localizava na atual cidade de Urucará. Ainda nesse século, no dia 07 de setembro de 1887,

ocorreu a instalação do município. No século seguinte, entretanto, no dia 10 de dezembro de

1981, conforme Emenda Constitucional nº 12, Urucará perde parte de seu território em favor

do novo Município de São Sebastião de Uatumã (BELTRÃO, 1998).

O município, que teve como primeiros habitantes os indígenas Caboquenas, Buruburus

e Guanavenas, é sulcado, além do Amazonas, pelos rios Uatumã, Jatapú e Paraná de Silves. À

margem esquerda deste último, localiza-se a sede de Urucará (ALBUQUERQUE;

MARINHO, 1999).

28

Segundo Beltrão (1998), existem duas hipóteses para o significado da palavra que dá

nome ao município. A primeira delas defende que “urucará” quer dizer “cidade das garças” ou

“cidade tranqüila”:

Existe uma hipótese, que dá-nos da palavra com toda sua extensão e verdadeiro

significado: Urucará, ave acará. O vocábulo é composto de “Uru”, significando,

aves galiformes; Uacará, nome indígena dado ao peixe acará, que quer; (sic) dizer

tranqüilo, magnífico. O nome do peixe foi transmitido na íntegra, à garça, o

tranqüilo e magnífico Uacará, pernalta cismarenta dos nossos rios. O termo foi

muito bem aplicado pelo nativo e vem de ser a garça, uma ave que vive a beira dos

rios e lagos, qual o Acará de porte tranqüilo e magnífico. Daí surge o nome de

paraná de Urucará, rio das garças sofrendo modificação apenas em Uacará, que se

contraiu em Cará. Do paraná o nome se estendeu ao Município e a Cidade de

Urucará: que quer dizer: Cidade das Garças ou melhor Cidade Tranqüila

(BELTRÃO, 1998, p. 383, grifo do autor).

A outra hipótese diz significar essa palavra “costa de cará” ou “paneiro de inhame”:

[...] Urucará é um nome de origem nheengatu, que podemos explicar tomando por

base a palavra Uru, cesto ou paneiro com alças, ata-se um cordel, no qual se

pendura a pouca altura, ao alcance da mão. O Uru também é muito usado nos

interiores, para crianças aprenderem a andar, porém penduradas dentro deste, têm os

seus passos limitados a uma curta distância podendo descrever um pequeno circulo.

Cará, gênero de tuberosa é uma batata conhecida também com o nome de inhame.

Por este lado Urucará seria costa de Cará ou Paneiro de Inhame (BELTRÃO,

1998, p. 383, grifo do autor).

29

1.2.1.3 Ponto de Inquérito 3: São Sebastião do Uatumã

Figura 3 – Vista frontal da sede do município de São Sebastião do Uatumã

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008.

As origens do município de São Sebastião do Uatumã se prendem a Urucará, cuja

história remonta à fundação de Santana da Capela, em 1814, por Crispim Lobo de Macedo.

Em 10 de dezembro de 1981, pela Emenda Constitucional nº 12, São Sebastião e territórios

adjacentes da margem esquerda do rio Uatumã são desmembrados de Urucará e passam a

constituir o município de São Sebastião do Uatumã (BELTRÃO, 1999).

Em um dos principais rios do município, o Uatumã, segundo Albuquerque e Marinho

(1999), localizado acima da boca do rio Nhamundá, presume-se que muitas nações indígenas

tenham se refugiado, dentre as quais: Aroaquis, Cerecomás, Parquis, Sedahis e Anibas.

30

A notícia que encontro sobre este rio no diccionario de Araujo mazonas, é a mesma

que se acha no escripto de Baena, e por isso o transcrevo. Diz elle: «Rio de

Guyanna, margem esquerda do Amazonas, 3o legoas acima da bocca do rio

Jamundá, entre o lago Saracá e o ribeiro de Cararaucú. Cinco legoas acima de sua

foz recebe pela sua margem esquerda o Jatapú, e 35 acima d‟esta, o Pirapitinga pela

direita. Corre de N. a S, d‟essa altura para cima em um leito desigual e pedregoso.

Suas aguas são escuras e piscosas, e suas margens abundantes em breu, cravo e

cupahyba (ALBUQUERQUE; MARINHO, 1999, p. 253).

1.2.1.4 Ponto de Inquérito 4: Boa Vista do Ramos

Figura 4 – Vista frontal da sede do município de Boa Vista do Ramos

FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.

De acordo com o site portal amazônia (2005), a denominação Boa Vista do Ramos

deveu-se ao fato de, no local, ter havido uma casa comercial chamada Boa Vista, que era de

propriedade do Sr. Antero Roberto Pimentel, e também devido ao fato de este povoado

localizar-se às margens do Paraná do Ramos.

Boa Vista do Ramos eleva-se a condição de município em dois momentos. O primeiro

ocorreu em 1961, mantendo-se assim até 1964. O segundo foi em 1982, por força da Emenda

Constitucional nº 12, de 10 de dezembro de 1981. A fim de assumir tal configuração, que se

31

mantém até os dias atuais, desmembrou-se dos municípios de Maués, Urucurituba e

Barreirinha (BELTRÃO, 1998).

Podemos dizer que Boa Vista do Ramos, originou-se com as primeiras casas de

palha, ainda no século passado, onde se destacava como líder principal, o Sr. Antero

Roberto Pimentel, conhecido também como “Antero Gaivota”, comerciante,

proprietário da casa comercial “Boa Vista”. Daí o nome que deu origem a

Comunidade de “Vila de Boa Vista”. Já no início deste século ela adquiria

conotação de povoado com a chegada das famílias de Bento Barroso Pinheiro dos

Santos, Hermínio Rolim da Cruz, José Dinelly Pimentel e Graciliano Farias dos

Santos (BELTRÃO, 1998, p. 242).

1.2.1.5 Ponto de Inquérito 5: Barreirinha

Figura 5 – Vista do porto da sede do município de Barreirinha

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008.

O município de Barreirinha, de acordo com Beltrão (1998), originou-se no século XIX,

quando a atual sede do município começou a ser povoada, em 1830, e quando passou a ser

núcleo da Missão do Andirá, criada em 02 de novembro de 1848.

32

A razão de ser criada a Missão de Andirá foi a perseguição movida pelo índio

Crispim de Leão contra o proprietário Manoel de Silva Lisboa que se retirou da sua

localidade, a qual a Missão ocupou [...]

O nome de Andirá representava para os índios o morcego de asas pretas e cabeça

branca, que existia em grande número na propriedade. Espécie que deu nome ao

local e ao rio (ALBUQUERQUE; MARINHO, 1999, p. 160).

No século XX, no dia 09 de junho de 1881, pela Lei Provincial nº 539, foi criado o

município de Barreirinha, momento em que a sede do distrito de Andirá foi transferida para o

local chamado Barreirinha, o qual se situa às margens do Paraná do Ramos.

Esse município, segundo Albuquerque e Marinho (1999), teve, por algum tempo, uma

significativa projeção econômica em decorrência da exportação de produtos regionais como:

castanha, guaraná, borracha, cacau, pirarucu, juta, cumaru e madeira. Fato que lhe rendeu uma

Menção Honrosa na Exposição Universal de Bruxelas (Bélgica), em 1910, e uma medalha de

bronze na Exposição Internacional da Indústria de Lavoura, em Turim (Itália), em 1911.

Entretanto, nos anos 1920, por conta de invasões/saques e enchentes que devastaram

plantações de juta e cacau, houve a desestruturação da economia do município.

33

375 km

372 km

270 km

270 km

270 km

0 50 100 150 200 250 300 350 400

Nhamundá

Barreirinha

Boa Vista do Ramos

São Sebastião do Uatumã

Urucará

1.3 Geografia e população

Dentre os municípios do Baixo Amazonas em estudo, os que mais se aproximam da

capital Manaus, em linha reta, são Urucará, São Sebastião do Uatumã e Boa Vista do Ramos

(270 km) e o que mais se distancia é o município de Nhamundá (375 km). A distância deste

último é ainda maior por via fluvial (577 km), já Urucará e São sebastião do Uatumã, apesar

de um distanciamento um pouco maior com relação à capital, continuam sendo os municípios

mais próximos, ambos com 281 km, conforme graficos 1 e 2 a seguir.

Gráfico 1 – Distância dos cinco ponto de inquéritos em relação à Manaus (via aérea)

FONTE: Biblioteca Virtual do Amazonas, 2008.

34

577 km

281km

281km

367 km

420 km

0 100 200 300 400 500 600 700

Nhamundá

Barreirinha

Boa Vista do Ramos

São Sebastião do Uatumã

Urucará

Nhamundá

14.105,619 km2

Barreirinha

5.750,534 km2

Boa Vista do Ramos

2.586,829 km2

São Sebastião do

Uatumã

10.741,039 km2

Urucará

27.904,858 km2

Gráfico 2 – Distância dos cinco ponto de inquéritos em relação a Manaus (via fluvial)

FONTE: Biblioteca Virtual do Amazonas, 2008.

Com relação à extensão territorial, o município de Urucará tem a maior área

(27.904,858 km2), enquanto Boa Vista do Ramos tem a menor (2.586,829 km

2), conforme

gráfico 3 abaixo.

Gráfico 3 – Extensão territorial dos cinco pontos de inquérito

FONTE: IBGE, 2007.

35

Urucará

15.716 habNhamundá

17.553 hab

Barreirinha

26.645 hab

Boa Vista do Ramos

13.138 hab

São Sebastião do

Uatumã

8.731 hab

Quanto à população desses municípios, Barreirinha supera os demais

significativamente (26.645 hab) e São Sebastião do Uatumã configura-se como o que tem a

menor população (8.731 hab), conforme gráfico 4 abaixo.

Gráfico 4 – População dos cinco pontos de inquérito

FONTE: IBGE, 2007.

36

2. Fundamentação Teórica

Para esta pesquisa, teve-se como base os princípios que norteiam a Dialetologia, com o

apoio da Sociolingüística Variacionista, que permitem identificar, descrever e registrar os

falares característicos do Baixo Amazonas. Buscou-se investigar também, nas localidades em

foco, algumas hipóteses levantadas no Atlas Lingüístico do Amazonas – ALAM, apresentadas

no decorrer deste capítulo, objetivando-se consolidar o registro dos falares da região

amazônica. Para tanto, foi necessário utilizar conceitos essenciais de Fonética e Fonologia e

explicitar os princípios que fundamentam a Dialetologia e a Sociolingüística.

Com base na distinção entre língua e fala (dicotomia saussereana), Troubetzkoy (apud

FONTAINE, 1978, p. 60) define a diferença entre Fonética e Fonologia. Esta entendida como

a ciência dos sons da língua – código comum de comunicação entre todos os membros de uma

comunidade lingüística – e aquela, a ciência dos sons da fala – fato individual que representa

a realização concreta da língua.

Sabendo-se que a unidade básica da Fonologia é o fonema e que este pode ser

realizado numa dada língua por diferentes sons, os quais são denominados por Silva (2005)

alofones ou variantes, exemplifica-se sua realização, na palavra “Recife”: a vogal pretônica

de Recife “e” é um fonema que pode ser pronunciada de três formas – R[e]cife, R[ε]cife e

R[i]cife. Essas três formas, apesar de diferenciarem-se quanto à pronuncia não alteram o

significado de Recife, capital de Pernambuco, sendo, portanto, consideradas os alofones ou

variantes da vogal pretônica “e”.

Mas, apesar de necessária a distinção entre Fonética e Fonologia,

[...] elas se condicionam mutuamente em seu valor e desenvolvimentos. Por

exemplo, pretender descrever a fonologia de uma língua [...] sem considerar o

aspecto fonético seria absurdo. Do mesmo modo, o estudo da fonética de uma

língua, qualquer que seja, resulta pouco proveito, de alcance limitado, se não se

considera a função que os segmentos fônicos desempenham no sistema dessa língua

(MORI, 2003, p. 149-150).

37

Esses diferentes sons de um fonema, muitos dos quais condicionados pelos mais

diversos fatores sociais que permitem identificar as semelhanças e diferenças entre os falares,

configuram-se elementos essenciais de investigação dialetal, uma vez que a Dialetologia tem

por finalidade estudar as diversidades lingüísticas ou diferenças dialetais tão evidentes entre

seres humanos.

Toda língua apresenta uma estrutura fônica, gramatical e lexical que difere entre si de

modo diatópico (diferenças relacionadas a espaços geográficos), diastrático (diferenças

relacionadas a estratos socioculturais) e diafásico (diferenças relacionadas ao estilo

expressivo de cada falante). A essas diferenças correspondem três tipos de subsistemas:

unidades sintópicas (dialeto nordestino, de Fortaleza etc.), sinstráticas (linguagem culta, da

classe média, linguagem popular etc.) e sinfásicas (linguagem formal, familiar, literária etc.).

Tais unidades mantêm entre si uma relativa homogeneidade, a qual é garantida pela soma dos

traços lingüísticos que as constituem (FERREIRA; CARDOSO, 1994).

Embora considerada um ramo da Lingüística, Silva Neto (1955), grande defensor dos

estudos dialetológicos, insere a Dialetologia no campo de estudos da Etnografia, visto que a

linguagem é um entre os muitos aspectos da cultura humana, a qual designa um conjunto de

idéias, conhecimentos, técnicas e artefatos, padrões de comportamento e de atitude que

caracterizam um grupo humano. A vida em comum desse grupo faz com que ele apresente

certas particularidades lingüísticas que o diferenciam do falar de um grupo vizinho, fazendo

com que cada grupo reconheça as diferenças dialetais presentes no outro falar, perceptíveis no

sotaque, nos traços fonéticos e nos vocábulos.

Infelizmente, tais diferenças, fruto de uma cultura que tem o sabor particularista e

regional, encontram-se ameaçadas por uma civilização que é, essencialmente, universalista e

urbana. Ou seja, o fato de a humanidade estar, cada vez mais, perdendo o seu caráter isolado,

os seus costumes uniformes e cristalizados e a sua condição de pré-letrada tem contribuído

38

para que os grupos humanos percam a sua maior riqueza: a diversidade cultural. Daí a

urgência, já reclamada por Leite de Vasconcelos, nos primórdios do século XX, de se atentar

– a exemplo do que vinha acontecendo na Europa com o maior empreendimento cartográfico:

o Atlas Ítalo-Suíço, de Karl Jaberg e Jakob Jud – para os estudos dialetológicos no Brasil, pois

a escola primária, cuja finalidade é fazer com que o aluno aprenda a língua comum ou língua

padrão, a cada dia, vem desregionalizando àqueles que a freqüentam, visto que inibe as

manifestações lingüísticas regionais do falante, constituindo-se assim em uma grande ameaça

à diversidade lingüística do português do Brasil (SILVA NETO, 1957).

Apesar de alguns autores defenderem que cabe à Dialetologia somente o estudo da

diversidade diatópica, ficando a Sociolingüística com a diversidade diastrática, de acordo com

Ferreira e Cardoso (1994), a Dialetologia, já há muito tempo, interpreta os fatos lingüísticos

segundo diferenças tanto geográficas quanto sociais, profissionais, de nível de escolaridade,

faixa etária, de sexo etc.; o que evidencia um estudo voltado não apenas para esses dois tipos

de diversidades lingüísticas, mas voltado também para a heterogeneidade diafásica da língua.

Para adentrar no mundo surpreendente das variações lingüísticas, tem-se utilizado a

Geografia Lingüística, método consagrado de pesquisa dialetológica, que objetiva fazer o

registro cartográfico das variações dialetais localizadas numa ampla área geográfica. A partir

da interpretação dos fatos lingüísticos, conseguida por meio desse método de investigação, os

dialetólogos organizam esses fatos em um atlas lingüístico – reuniões de cartas em que o

material lingüístico é distribuído topograficamente – ou monografia, a fim de que se possa

conhecer mais amplamente a diversidade lingüística de um país como o Brasil, por exemplo;

o que não anula a unidade, dá-lhe apenas a verdadeira dimensão.

39

Com a finalidade de separar zonas que revelam diferenças com relação a um dado item

lingüístico, costuma-se estabelecer nas cartas linhas isoglóssicas, isto é, as fronteiras entre

duas regiões que diferem em algum traço lingüístico (um item lexical, a pronúncia típica de

uma palavra etc.) (MONTEIRO, 2000).

Embora, com extrema dificuldade, segundo Ferreira e Cardoso (1994), por meio de

uma linha isoglóssica, é possível fornecer um panorama dos contrastes ou semelhanças

lingüísticas existentes entre espaços geográficos (isoglossas diatópicas) e em uma mesma

comunidade de fala (isoglossas diastráticas e isoglossas diafásicas). Esses contrastes ou

semelhanças presentes na língua podem se dar nos níveis lexical (isoléxica), fônico (isófona),

morfológico (isomorfa) e sintático.

Partindo-se do entendimento de isoglossa define-se dialeto como um feixe de

isoglossas, ou seja, um conjunto de isoglossas que se somam e que, portanto,

mostram uma relativa homogeneidade dentro de uma comunidade lingüística em

confronto com outras. Essa relativa homogeneidade, demonstrada pelo conjunto de

isoglossas, leva ao entendimento de que não existem limites rígidos entre as línguas,

uma vez que toda língua histórica é constituída por um conjunto de dialetos

(FERREIRA e CARDOSO, 1994, p. 16).

Segundo Cruz (2004), a Geografia Lingüística ou Geolingüística, apesar de ter sido

aperfeiçoada e difundida há mais de cem anos por Jules Gilliéron, quando da publicação do

Atlas Lingüístico da França – ALF (entre 1902 e 1910), mostra-se, ainda hoje, eficaz para o

conhecimento das variantes populares do Português do Brasil. Com base nesse método de

investigação, pode-se reconstituir, segundo as repartições dos tipos geográficos atuais, a

história de palavras, flexões, agrupamentos sintáticos e camadas da língua. Tal reconstituição

é feita, primeiramente, com a aplicação de um questionário, o qual é previamente elaborado;

em seguida, elaboram-se mapas, onde se registram as formas lingüísticas usadas pelos

falantes investigados. A importância desses mapas não se limita apenas a registros

lingüísticos, uma vez que, por meio deles, pode-se obter informações sobre a história cultural

da região ou lugar estudado.

40

Desse modo, os atlas reúnem cartas em que o material lingüístico está distribuído

espacialmente e constitui um instantâneo dialetal da área explorada, podendo-se

observar a pronúncia e os meios de expressão de que dispõe o grupo humano

estudado (CRUZ, 2004, v. I. p. 20).

Para a efetivação de um trabalho dialetal, é necessário que o pesquisador, antes de

adentrar no terreno fecundo da pesquisa de campo, passe por um processo de preparação, que

consiste em escolher o ponto de inquérito, desenvolver um conjunto de estudos que servirão

de suporte ao trabalho, definir o perfil dos informantes a serem investigados e, por fim,

determinar o método de investigação que considere mais eficaz para a realização da pesquisa.

Após esses procedimentos, o dialetólogo poderá dar início à pesquisa de campo, a qual

permite que se colete os dados lingüísticos junto aos informantes no ponto de inquérito

previamente escolhido. Concluído o trabalho de campo, parte-se para uma análise do material

coletado a fim de que se possa organizar o resultado da pesquisa em um atlas ou em uma

monografia (FERREIRA; CARDOSO, 1994).

Segundo Silva Neto (1957), cada carta lingüística, por apresentar um instantâneo

dialetal da área investigada, permite que se observe, sincronicamente, todas as maneiras de

dizer, pronunciar, construir frases, enfim, todos os meios de expressão de que dispõe o grupo

humano estudado. Essas cartas podem ser organizadas em ordem alfabética ou podem ser

distribuídas por esferas semânticas.

Apesar de essencialmente sincrônica, a Dialetologia, de acordo com Monteiro (1989),

pode contribuir com os estudos diacrônicos da língua, uma vez que sendo resultante de uma

cadeia evolutiva, pode não só ratificar o que há de historicamente comprovado como pode,

também, tornar-se um método que permite a reconstituição de formas lingüísticas alteradas ou

mesmo desaparecidas. É o que aconteceu, por exemplo, com as vogais breves /e/ e /o/ do

latim vulgar que, segundo Frederico Diez, ditongavam-se nas línguas românicas, excetuando-

se o português. Entretanto, os estudos dialetais que se propuseram a verificar esse fenômeno

demonstraram que a ditongação não se processou com a amplitude preconizada por Diez.

41

Pode-se, ainda, por meio de um atlas lingüístico, fazer uma demarcação mais ou

menos precisa de linhas isoglóssicas que evidenciem traços de conservação ou de inovação

nos falares de uma determinada área geográfica, o que muito contribui para o estudo de fatos

diacrônicos. Tanto é assim que, através das cartas fonéticas ou lexicográficas, foi possível

perceber que as áreas de conservação de uma língua são geralmente isoladas por montanhas

ou rios, enquanto as de maior inovação são as planícies, as quais têm um acesso muito mais

fácil e rápido. Verifica-se, portanto, que estudos sincrônicos e diacrônicos não se excluem, ao

contrário, completam-se de tal modo que permitem uma melhor compreensão, por exemplo,

do português atual e do português da época em que o Brasil foi colonizado, possibilitando

assim a compreensão do fenômeno lingüístico em sua totalidade (MONTEIRO, 1989).

Antenor Nascentes, um dos eminentes dialetólogos brasileiro, observou que, no Brasil,

existem diferentes falares e que essas variações dialetais dividem o país em dois grandes

grupos: o falar do norte e o falar do sul. Nascentes chegou a essa conclusão observando

determinadas variáveis que eram realizadas de forma diferenciada nessas regiões, como por

exemplo, o uso das vogais médias pretônicas /a/ e /e/ que, no norte, são realizadas como

abertas, [] e [], e, no sul, como fechadas, [e] e [o]; o /s/ pós-vocálico realizado com a

sibilante [s] no norte e com a chiante [] no sul; as variações do –R em contexto pós-vocálico

medial e em final de vocábulos etc. (NASCENTES, 1958).

A partir dessas observações registradas por Nascentes, muitas pesquisas têm sido

realizadas, no sentido de se caracterizar os falares do português do Brasil. Mas muito há para

se fazer, especialmente na região norte, considerando-se a falta de registros do modo de falar

dessa região.

42

Muitos atlas têm sido elaborados no Brasil e no Exterior. No Brasil, há o mega projeto

Atlas Lingüístico do Brasil – ALiB, elaborado por uma equipe, que é coordenada pela Prof.

Dra. Suzana Alice Cardoso, com sede em Salvador (BA), mais especificamente, na

Universidade Federal da Bahia – UFBA

Enquanto o ALiB está em elaboração, sem data prevista para ser terminado,

considerando a vasta extensão territorial do Brasil, muitos Atlas regionais têm sido elaborados

no Brasil, já existem 07 (sete) publicados e outros tanto em fase de elaboração/publicação.

No Norte do Brasil, localidade regional que este projeto está inserido, já foi publicado

o atlas do Pará, com a denominação de Atlas Lingüístico e Sonoro do Pará – ALISPA,

elaborado por uma equipe, coordenado pelo Prof. Dr. Abdalla Razky. No Amazonas,

recentemente foi elaborado o Atlas Lingüístico do Amazonas – ALAM (CRUZ, 2004), ainda

em fase de publicação.

Este atlas foi elaborado como tese de doutorado pela Prof. Dr. Maria Luiza de

Carvalho Cruz Cardoso, em 2004, e apresentado na Universidade Federal do Rio de Janeiro –

UFRJ. É um trabalho que registra a fala de 09 (nove) municípios do Amazonas, oferecendo

um panorama de alguns traços que tipificam o conjunto dos falares amazonenses.

Destaca-se abaixo algumas hipóteses levantadas por Cruz (2004, p.139), as quais

caracterizam o falar do amazonense.

a) As vogais médias pretônicas, com tendência a serem realizadas como abertas [, ],

conforme observado por Nascentes, em relação ao falar do Norte, mas foram também

encontradas variantes fechadas [e, o] e abertas [i, u], com significativos índices de

freqüência;

43

b) O alteamento, em contexto tônico, da vogal posterior média fechada /o/, que, há

muito, vem sendo considerado típico dos falares do Amazonas e Pará, teve

baixíssimas representatividade na região;

c) Os ditongos /ey/, nos contextos considerados condicionadores da monotongação, e

/ow/ apresentam significativos índices de produtividade, diferindo do que já foi

registrado em outros falares do Brasil;

d) Há predominância do uso das variantes alveolares de –S pós-vocálico nos contextos

medial e final de vocábulo, mas observou-se que as variantes pós-alveolares

apresentam grande produtividade em três localidades: Barcelos, Itacoatiara e

Parintins;

e) O –R forte pré-vocálico inicial de vocábulo e intervocálico é produzido, quase que de

forma categórica, como fricativa glotal surda, variante que também predomina em

contexto pós-vocálico medial de vocábulo, sendo, no entanto, suplantada pelo

cancelamento na posição final de vocábulo;

f) O /l/, em contexto pós-vocálico, caracteriza-se como semivogal posterior /w/ e o /t/ e

/d/ realizam-se, categoricamente, como africadas pós-alveolares diante de [i] e como

oclusivas alveolares nos demais contextos.

Tendo em vista a necessidade de se considerar variáveis extralingüísticas na análise de

um fenômeno lingüístico quando da realização de estudos dialetológicos, decidiu-se aliar, a

exemplo do que vem sendo adotado por muitos pesquisadores, a Dialetologia à

Sociolingüística, por esta utilizar métodos eficazes de investigação ao procurar relacionar o

uso lingüístico a fatores sociais.

Partindo do princípio de que língua e sociedade estão ligadas entre si, a

Sociolingüística objetiva estudar a língua em situações reais de uso, a fim de identificar os

44

fatores sociais que condicionam as manifestações lingüísticas de um determinado grupo

social. Para tanto, o ponto de partida da Sociolingüística é a comunidade lingüística ou a

comunidade de fala5 que, para Labov (1974), é um grupo que segue as mesmas normas de

uso da língua, podendo ser as pessoas de uma rua, um bairro, uma cidade, um município, uma

região, um país etc.

Toda comunidade lingüística caracteriza-se por apresentar diferentes maneiras de falar,

o que Labov denomina variações lingüísticas. Tais variações ocorrem, normalmente, em

todos os níveis da estrutura lingüística: fonético, gramatical e lexical. De acordo com Fishman

(1971, p. 43), “mesmo pequenas comunidades bem circunscritas estabelecem uma distinção

entre os homens e as mulheres, entre as crianças e os adultos, entre os pais e os filhos, entre os

chefes e os subordinados”6.

Como a presente pesquisa pretende registrar e analisar os aspectos lingüísticos no nível

fonético-fonológico, foram levadas em consideração tanto as regras variáveis quanto as

variantes, presentes nas comunidades lingüísticas analisadas. Segundo Monteiro (2000, p. 23),

entende-se por variável lingüística “duas ou mais formas distintas de se transmitir um

conteúdo informativo” e por variante lingüística, “as formas alternantes, que expressam a

mesma coisa num mesmo contexto”.

É comum que, numa mesma comunidade lingüística, existam duas ou mais maneiras

de se transmitir a mesma coisa, o que culmina numa espécie de conflitos entre a variante mais

antiga (conservadora) e a variante mais recente (inovadora), que pode resultar na

substituição da conservadora pela inovadora. No entanto, segundo Monteiro (2000), quando

se trata do dialeto padrão, a variante conservadora é a que goza de maior prestígio, na

comunidade lingüística, e a variante inovadora, até ser aceita, sofre uma certa restrição ou

5 Labov utiliza o termo “comunidade de fala”, ao contrário de outros estudiosos que empregam o termo

“comunidade lingüística”. 6 «

Même de petites communautés bien circonscrites etablissent une distinction entre les parents et les

femmes, entre les enfants et les adultes, entre les parents et les enfants, entre lês chefs et les sujets. »

45

estigma: “Os membros de um determinado grupo social reagem positiva ou negativamente a

certas variedades e julgam os falares com referência a esses estereótipos, sem nada conhecer a

seu respeito” (LYONS apud MELLO, 1999, p. 29).

O uso de determinada variante pode ser influenciado por aquilo que Bright (1974)

chama de dimensões da sociolingüística: a identidade do emissor, a identidade do receptor e

o contexto, as quais estão relacionadas ao condicionamento da diversidade lingüística, ou

seja, “aos fatores socialmente definidos com os quais se supõe que a diversidade lingüística

esteja relacionada” (BRIGHT, 1974, p.18-19).

A exemplo da Dialetologia, a Sociolingüística pode estudar o fenômeno lingüístico

sincrônica e diacronicamente:

Tal como proposto por Labov, a concepção e o alcance do modelo sociolingüístico

são a um só tempo sincrônicos e diacrônicos: tanto a variação (situação lingüística

em um determinado momento; sincronia) como a mudança (situação lingüística em

vários momentos sincrônicos, avaliados longitudinalmente; diacronia) lingüísticas

devem ser estudadas. Ao avaliarmos, portanto, variantes da mesma natureza em

línguas diferentes, temos um objetivo duplo em mente: 1. descrever, analisar e

sistematizar o envelope de variação em cada uma das línguas; 2. comparar os

resultados das análises com vistas à projeção de possíveis rumos que as variantes

tomarão (TARALLO, 2003, p. 35-36,).

Dessa forma, tendo por base esses estudos, pretende-se ampliar o conhecimento

lingüístico da região amazônica, contribuindo para a delimitação das áreas dialetais brasileiras

e, conseqüentemente, para o conhecimento das variantes populares do Português do Brasil.

2.1 Fenômenos relativos às realizações dos fonemas vocálicos e consonantais

Dentre as muitas manifestações fônicas do português brasileiro, pretendeu-se verificar

mais especificamente nesta pesquisa: as vogais mediais pretônicas, o alteamento das vogais

mediais pretônicas, as realizações dos ditongos, das vibrantes, das laterais, do /S/ e a redução

do grupo -nd a [n].

46

2.1.1 Vogais mediais pretônicas

Geralmente, as vogais mediais /e/ e /o/, quando pretônicas, são pronunciadas de

maneira idêntica em qualquer variedade do português brasileiro: [e] e [o]. Entretanto, em

alguns dialetos do português, faz-se uso dos segmentos [] e [], conforme exemplo abaixo.

/e/ /o/

d[e]dal m[o]delo

d[]dal m[]delo

A variação entre os segmentos vocálicos [e,o]-[,] marca sobretudo variação dialetal:

“[...] costuma-se dizer que os falantes do nordeste brasileiro „abrem as vogais‟, enquanto os

falantes do sudeste/sul não o fazem” (MAIA, 1986, p. 209).

2.1.2 Alteamento das vogais mediais

Em algumas regiões do Brasil, ocorre alteamento das vogais mediais quando em

posição pretônica. Assim, em vez de se pronunciar as vogais [e,o] ou [,] em palavras como

“dedal” e “modelo”, pronuncia-se as vogais altas [i] e []: d[i]dal e m[]delo.

Callou, Leite e Coutinho (1991), ao pesquisar a ação da regra de harmonização

vocálica das vogais pretônicas na cidade do Rio de Janeiro, verificaram que a variável

intralingüística mais significativa que permite o alteamento das pretônicas é a presença de

uma vogal tônica alta, seja ela homorgânica [u] ou não-homorgânica [i]. Verificaram também

que, embora as variáveis extralingüísticas não se mostrem significativas, o alteamento é um

pouco mais freqüente na faixa etária 3 e é mais usado pelos homens. Verificaram ainda que o

alteamento é mais freqüente entre os locutores da Zona Sul que os da Zona Sul Suburbana e

os da Zona Norte. Isso é, então, um indicativo de estar havendo uma queda de produção do

47

alteamento das vogais pretônicas, determinadas pelo fator idade, o que sugere uma tendência

à diminuição do emprego da regra de harmonização vocálica.

Particularmente, no Amazonas, o alteamento das vogais em posição tônica é

considerado um fenômeno que caracteriza o falar da região, detectado ainda no início do

século XIX, como em “canoa” [k‟nu] e “boto” [„but].

O falar da região do Amazonas, por exemplo, apresenta algumas particularidades

(ver § 94), assim como do Pará, em que se diz canúa <<canoa>>, com a mudança de

ô em u, como nos Açores § 88) (VASCONCELLOS, 1975, p.134)7

Esse fenômeno foi investigado nos idos de 1980 em dois municípios do Amazonas,

Itacoatiara e Silves, ocasião em que ainda foi detectado seu uso, conforme demonstra

pesquisa de Corrêa (1980).

Em 2004, o Atlas Lingüístico do Amazonas – ALAM também se propôs investigar o

alteamento das vogais em posição tônica. No entanto, foi observado em seus dados que pode

ser um fenômeno em extinção, considerando a ocorrência mínima de sua realização.

Nesta pesquisa, esse fenômeno também foi investigado.

2.1.3 Realização dos ditongos

Segundo Bisol (1991), o português possui dois tipos de ditongo que se configuram de

acordo com a estrutura silábica: ditongos de uma só posição (ditongos leves) e ditongos

biposicionais (ditongos pesados). Enquanto estes se preservam, aqueles tendem a ser

substituídos por uma vogal, acarretando, portanto, o fenômeno chamado monotongação.

Alguns casos de monotongação podem caracterizar variações fonéticas, uma vez que,

nas situações em que há alternância entre o ditongo leve e a vogal simples, não ocorre

diferença de sentido: [„feyra ~ „fera]; [„faya ~ „faa].

7 A 1ª edição da obra é de 1901.

48

Variações dialetais desse tipo são perceptíveis, dentre outras situações, com a

semivogal antes de palatais ou com o ditongo [ey] no ambiente do tepe. A primeira situação

ocorre por um processo de assimilação e a segunda, por analogia.

Nos casos de semivogais antes de palatais, têm-se os seguintes exemplos:

[peyi ~ pei] (peixe)

[faya ~ faa] (faixa)

Nos casos do ditongo [ey] no ambiente do tepe, os exemplos podem ser classificados

em quatro tipos:

a) Relação - „ario -eiro. Ex: primário, primeiro;

b) Correspondência -a‟ria, -eiro. Ex: padaria, padeiro;

c) Nomes derivados de nomes, sem as mencionadas relações. Ex: carta, carteiro;

d) Em qualquer ambiente, incluindo a raiz. Ex: beira.

Neste trabalho, foi investigada a forma de realização dos ditongos na região do Baixo

Amazonas.

2.1.4 Vibrantes

Segundo Callou e Moraes (1995), o segmento /R/, em contexto de neutralização, pode

ocorrer nas seguintes posições silábicas:

1 - Pré-vocálico (a) inicial de vocábulo: roda.

(b) medial de sílaba em grupos consonantais: prato, fraco.

(c) medial de vocábulo: Israel, guelra, honra.

49

2 - Pós-vocálico: (a) medial de vocábulo: carne, carta.

(b) final de vocábulo: mar, comer.

De acordo com Cruz (2004), o /R/ pode concretizar-se, na região Norte, com os

seguintes segmentos fônicos:

[r] – vibrante alveolar múltipla;

[x] – fricativa velar surda;

[h] – fricativa glotal surda.

No final de vocábulo, pode ocorrer também o cancelamento desse segmento

consonantal: [ko‟heh ~ ko‟he].

A realização das vibrantes múltiplas também é objeto de investigação neste trabalho.

2.1.5 Laterais

A lateral alveolar /l/ manifesta-se foneticamente no português do Brasil de duas

maneiras, como uma lateral alveolar sonora [l] e como uma lateral alveolar sonora velarizada

[l]. Esta representa uma variação dialetal quando é alternada com a semivogal [w]: [sal ~

saw]. Aquela, quando faz-se alternância com a lateral alveolar palatalizada sonora []:

[„lim ~ „im].

Em um estudo dialetal, realizado em treze comunidades do Estado do Rio de Janeiro

Brandão (2007) constatou que, no português, a lateral palatal // é um dos segmentos menos

produtivos, visto que, em início de vocábulo, foram registradas apenas 17 manifestações

fônicas. Em contexto intervocálico, entretanto, ela apresenta significativa variação dialetal:

[], [] e [].

50

De acordo com esse estudo, constatou-se a seguinte ocorrência do //:

72% fazem uso da variante [] – [„ki] <quilha>;

17% fazem uso da variante [] – [„fi] <filho>;

5% fazem uso da variante [l] – [m‟l] <mulher>;

5% fazem uso da variante [y] – [ma„ye] <malheira>;

1% cancelam o segmento – [„mi] <milho>.

Fazendo um apanhado de 21 cartas fonéticas do Atlas Lingüístico da Paraíba, Atlas

Prévio dos Falares Baianos, Atlas Lingüístico de Sergipe e Esboço de um Atlas Lingüístico de

Minas Gerais, Brandão (2007) constatou a seguinte ocorrência do //:

53% fazem uso da variante [y] – [„oy] <olho>;

35% fazem uso da variante [] – [ori„va] <orvalho>;

10% cancelam o segmento – [bra‟gi] <braguilha>;

2% fazem uso da variante [] – [o„va] <orvalho>;

0% (uma ocorrência) faz uso da variante [l] – [o„va] <orvalho>.

Esses dados demonstram ocorrências significativas de variações da lateral palatal.

51

2.1.6 Realização do /S/

O segmento /S/ pode manifestar-se foneticamente como [z], [s] e []. Os dois últimos,

[s] e [], quando em posição final de sílaba, caracterizam variação dialetal.

O Atlas Lingüístico do Amazonas – ALAM levantou a hipótese de que pode haver

zonas dialetais diferentes entre os rios Amazonas, Negro e Solimões, na realização do /S/.

Isso também foi investigado neste trabalho.

2.1.7 Redução do grupo -nd a [n]

É comum entre os falantes do português do Brasil a pronúncia dos verbos no gerúndio

com a terminação -no no lugar da terminação -ndo. Às vezes, isso ocorre também com o

advérbio quando, que é pronunciado “quano”. Tal fenômeno manifesta-se na língua em

decorrência de um processo de assimilação, o qual é causado pelo fato de os fonemas dentais

/n/ e /d/ serem produzidos na mesma zona de articulação. Essa assimilação ocorreu primeiro

de -nd- para -nn- e depois para -n- (BAGNO, 2001).

2.2 Os estudos dialetológicos no Amazonas e no Brasil: breve histórico

No Amazonas, não há tradição em pesquisas dialetológicas. Até o momento, há apenas

uma pesquisa dialetológica como a que se pretende realizar com o AFBAM, como já

mencionado no item anterior, que é o Atlas Lingüístico do Amazonas – ALAM.

No entanto, desde o século XIX, segundo Ferreira e Cardoso (1994), já se faz sentir no

país estudos voltados para o português do Brasil, quando Domingos Borges de Barros, o

Visconde de Pedra Branca, no ano de 1826, escreveu um capítulo para o livro “Introduction à

l’Atlas ethnographique du globe”, no qual apontava características da língua do novo mundo.

A partir de então, os estudos dialetais no Brasil vivenciaram três grandes fases. A

primeira, entre 1826 e 1920, caracteriza-se pelo estudo do léxico e de suas especificidades no

52

português do Brasil, de que resultaram numerosos dicionários, vocabulários e léxicos

regionais. A segunda, que tem início em 1920, quando da publicação do livro “O dialeto

caipira”, de Amadeu Amaral, caracteriza-se pela continuação dos estudos de natureza léxico-

gráfica e pela predominância de trabalhos voltados para os estudos gramaticais. Nessa fase,

merece destaque, além de “O dialeto caipira”, obra em que se encontram as linhas gerais para

o estudo monográfico de uma região8, o livro “O linguajar carioca”, de Antenor Nascentes

(1922), cuja maior contribuição é o fato de apresentar uma proposta de divisão dos falares

brasileiros, estabelecendo, com base na realização das vogais médias pretônicas, uma linha

divisória entre o falar do Norte e o falar do Sul.

A terceira fase dos estudos dialetais é marcada pelo início das preocupações com o

desenvolvimento e implementação dos estudos de geografia lingüística no Brasil,

incentivados a partir do Decreto 30.643 de 20 de março de 1952, que assentava como

principal finalidade da Comissão de Filologia da Casa Rui Barbosa a elaboração do Atlas

Lingüístico do Brasil - ALiB. Nessa fase, merecem destaque: Antenor Nascentes, Serafim da

Silva Neto, Celso Cunha e Nelson Rossi, os quais propiciaram a disseminação dos estudos

dialetais no Brasil, seja com a produção de obras que orientavam estudos voltados para a

diversidade lingüística, seja com o acompanhamento da produção de atlas lingüísticos que

permitiram ter um maior conhecimento do português brasileiro, ou mesmo com a

implementação de estudos lingüísticos que objetivavam caracterizar o falar culto em algumas

capitais do país.

A intensificação dos estudos dialetais no Brasil pode ser percebida na expressiva

elaboração de atlas regionais como: Atlas Prévio dos Falares Baianos – APFB (1963),

Esboço de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais – EALMG (1977), Atlas Lingüísticos da

Paraíba – ALPb (1984), Atlas Lingüístico de Sergipe – ALS (1987/2004), Atlas Lingüístico e

8 O tratamento dado aos níveis fonético, lexical, morfológico e sintático fazem da obra um marco e um

modelo dos falares regionais do Brasil

53

Sonoro do Pará - ALISPA (2004), Atlas Lingüístico do Amazonas – ALAM (2004), dentre

muitos outros de extrema relevância para o conhecimento das variantes dialetais do português

do Brasil.

Para a realização de pesquisas dialetais, Brandão e Moraes (1995) elencam alguns

critérios que devem ser observados na escolha de localidades: histórico, geográfico,

demográfico e sócio-econômico. Para a execução deste trabalho, foi escolhida a micro-região

do Baixo Amazonas, obedecendo-se a todos os critérios acima, em especial, o histórico, e por

ser uma região sem registro dialetal.

O critério histórico deve-se ao fato de o Baixo Amazonas ter sido o cenário no qual,

supostamente, Francisco de Orellana se deparou com mulheres guerreiras, as quais ele

denominou Amazonas. Nome este que se estendeu, primeiro, ao maior rio da região e, mais

tarde, ao próprio Estado do Amazonas. Optou-se, ainda, por essa micro-região pelas seguintes

razões: a pesquisadora é originária do município de Nhamundá e almeja contribuir

cientificamente com a região, já tendo um certo conhecimento acerca dos demais municípios

que formam essa área.

Em princípio, já se sabia das dificuldades que se enfrentaria quando da realização de

uma pesquisa deste porte como: a dimensão territorial da micro-região, o custo financeiro,

dentre outras. Entretanto, tinha-se plena convicção que era preciso transpô-las a fim de

contribuir cientificamente com o estado do Amazonas como um todo. A elaboração do

AFBAM justifica-se, sobretudo, pela inexistência de estudos como este nos pontos de

inquérito em questão e pela possibilidade de oferecer um panorama criterioso dos falares

característicos do Baixo Amazonas. E mais, a exemplo do Atlas Lingüístico do Amazonas –

ALAM, oferecer um conhecimento sócio-cultural mais aprofundado da micro-região estudada,

visto que alia métodos tanto da Geolingüística quanto da Sociolingüística.

54

3. Procedimentos Metodológicos

3.1 Pesquisa bibliográfica

A pesquisa bibliográfica foi o primeiro passo para a concretização do AFBAM. Por

meio dela, pôde-se obter informações sócio-histórico-culturais acerca dos municípios

estudados e informações teórico-metodológicas referentes à Fonética, à Fonologia, à

Dialetologia e à Sociolingüística. Além disso, foi possível conhecer mais profundamente os

estudos e as pesquisas dialetológicas realizados em outros países, no Brasil e no Amazonas.

3.2 Localidades

Foi estudada a fala de 5 (cinco) municípios do Baixo Amazonas (micro-região do

Estado do Amazonas): Barreirinha, Boa Vista do Ramos, Nhamundá, São Sebastião do

Uatumã e Urucará.

Todos os dados lingüísticos relativos a esses municípios foram organizados em cartas e

apresentados através de um software, a fim de se ter o registro cartográfico dos falares dessa

micro-região.

3.3 Informantes

A escolha dos informantes obedeceu aos seguintes critérios geolingüísticos:

ser analfabetos ou ter cursado, no máximo, até a 4ª série (primeiro segmento)

do Ensino fundamental;

ser natural da localidade selecionada e ter, preferencialmente, pais e cônjuge da

região lingüística em estudo;

não se ter afastado da localidade por mais de 1/3 de sua vida;

apresentar boas condições de fonação.

55

Nos pontos de inquérito foram entrevistados 6 (seis) informantes em três faixas etárias:

18 a 35 anos (faixa 1), 36 a 55 anos (faixa 2) e 56 anos em diante (faixa 3), em Urucará,

entretanto, não foi possível inquirir um informante masculino da 3ª faixa etária, por não se ter

encontrado sujeito que correspondesse aos critérios exigidos.

3.4 Questionários

O questionário fonético-fonológico utilizado foi o do ALAM, previamente testado por

Cruz (2004) quando da elaboração do Atlas Lingüístico do Amazonas – ALAM e apresenta

159 questões.

Para a sua constituição, foram observados fenômenos relativos às realizações dos

fonemas vocálicos, especialmente as vogais mediais pretônicas; a realização dos ditongos,

questões relativas ao alteamento. Quanto aos fonemas consonantais, o questionário procura

contemplar, entre outros aspectos, a realização das vibrantes, das laterais, do /S/ e a redução

do grupo -nd a [n].

A aplicação do questionário foi direta, in loco.

3.5 Entrevistas

Com a finalidade de tornar a entrevista a mais informal possível, a pesquisadora

manteve com o informante uma conversa preliminar que objetivou deixá-lo descontraído e à

vontade para responder as questões.

As entrevistas foram realizadas nas residências dos informantes ou em locais como a

via pública, o que acabou por gerar alguns problemas de ruídos nas gravações. Apesar disso,

ganhou-se bastante na espontaneidade e informalidade, haja vista estarem os inquiridos em

seu meio ambiente.

Ao concordarem em realizar a entrevista, os informantes assinavam o documento de

56

anuência, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa – CEP.

Para a gravação das entrevistas, usou-se gravador portátil marca JWIN e 30 (trinta)

fitas microcassetes marcas TDK e PANASONIC, as quais suportavam até 60 minutos de

gravação.

As entrevistas gravadas em campo em fita microcassete e com gravador portátil foram

copiadas, por meio do programa de áudio Audacity 1.3.4-beta, para o computador portátil

marca ITAUTEC, no formato WAV.

Para a audição e transcrição dos dados, usou-se novamente o computador portátil

ITAUTEC, o programa de áudio Audacity 1.3.4-beta e head-phones estéreo marca JWIN.

Para o registro de fatos étnicos e sociais importantes para a pesquisa, utilizou-se uma

máquina digital marca NIKON, de 5.0 megapixels.

Para a transcrição fonética das entrevistas, utilizou-se o Alfabeto Fonético

Internacional - IPA

3.6 O programa computacional

Os dados coletados para a consecução do AFBAM são apresentados através do

software MVL, que foi elaborado para o ALAM. Esse software permite a inserção de todos os

dados, inclusive dados dos informantes, das localidades, do questionário e de todas as

respostas transcritas pelo IPA. Possibilita ainda gerar as cartas fonéticas. Esse programa, de

autoria das professoras Maria Luiza de Carvalho Cruz e Silvia Figueiredo Brandão, foi

elaborado pela firma JSK Consultoria e Treinamento, no Rio de Janeiro (RJ).

Para esta pesquisa, o MVL teve que sofrer alguns ajustes, como a inserção do mapa do

Baixo Amazonas e dos pontos de inquérito investigados, gerando uma nova versão, que se

denomina MVL-ALAM_Baixo Amazonas/2008, desenvolvida pela aluna de Ciência da

Computação, da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Ana Carolina Cabrinha Gama.

57

3.7 As cartas

A elaboração das cartas seguiu as normas utilizadas por Cruz (2004) no Atlas

Lingüístico do Amazonas – ALAM. Tendo como base as questões do QFF, elaborou-se 132

cartas fonéticas cujas normas, para sua leitura, estão expostas no volume II desta pesquisa.

58

4. Falares do Baixo Amazonas: algumas considerações

Este trabalho tem por objetivo caracterizar os falares do Baixo Amazonas. Diante

disso, procurou-se, neste capítulo, evidenciar as manifestações lingüísticas de alguns

fenômenos, atentando para o fato de eles sofrerem ou não variação.

Tendo como base os dados coletados, verificou-se que a lateral palatal // não

apresentam variação dialetal significativa, já que das 235 ocorrências, 231 informantes

fizeram uso da variante [] e apenas:

uma informante da 2ª faixa etária cancelou [ø] esse segmento quando da

pronúncia de “grelha”: [„g;

uma informante da 3ª faixa etária fez uso da variante [l] ao pronunciar o

conceito “colheita”: [ko‟let];

02 informantes fizeram uso da variante [y]. Um informante da primeira faixa

etária pronunciou [„gtranscrição do conceito “grelha”, e uma outra

informante da 3ª faixa etária pronunciou [„foyy], transcrição de “folha”.

Em contexto pós-vocálico, a lateral alveolar /l/ realiza-se como a vogal posterior [w].

O /S/, entretanto, não apresenta variação, pois, quando em posição final de sílaba, manifesta-

se apenas como []. Quanto à redução do grupo -nd a [n], verificou-se a não ocorrência desse

fenômeno entre os informantes da micro-região em estudo.

A seguir são expostos os fenômenos que apresentam variação significativa.

59

4.1 A vogal medial pretônica /e/

Como pode ser observado, na tabela e no gráfico a seguir, a vogal medial pretônica /e/

apresenta significativa variação, visto que registraram-se as variantes [e, ε , i, e, i , , ey] e o

cancelamento [ø] desse segmento vocálico. Dentre essas, a variante [e] ocorre com mais

freqüência (50,00%), seguida da vogal medial aberta [ε] (26,79%) e da vogal alta fechada [i]

(16,79%).

VARIANTES OCORRÊNCIAS PERCENTUAL EXEMPLO

[] 265 50,00% [] 142 26,79% [] 89 16,79%

[e] 2 0,37%

[i ] 18 3,39%

[] 3 0,56%

[] 5 0,94% [Ø] 6 1,13%

TOTAL 530 100%

Tabela 1 – Ocorrência da vogal pretônica /e/

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

60

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

40,00%

45,00%

50,00%[e

[ε]

[i

[

[e

[ø]

Gráfico 5 – Percentual de ocorrência da vogal pretônica /e/

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

Pode-se verificar que o /e/, em posição pretônica, sofreu um alteamento significativo

(16,79%), entretanto, em posição tônica, não foi registrado nenhum caso nas 15 cartas

fonéticas geradas9. Essa situação já havia sido prevista por Cruz (2004), uma vez que, durante

o seu estudo, constatou-se a pouca realização desse fenômeno.

4.1.1 Fatores sociais que influenciam o uso da vogal medial pretônica /e/

4.1.1.1 A variável sexo

De acordo com as informações expressas na tabela e no gráfico a seguir, as mulheres é

que fazem mais uso das variantes [e, ε]: 135 e 83 contra 130 e 59 ocorrências masculinas,

respectivamente.

9 Considerando que não houve variação, não se julgou necessário apresentar essa informação em um

capítulo específico.

[e

[i

61

VARIANTES

VARIÁVEL SEXO

MASCULINO FEMININO

Ocor. Perc. Ocor. Perc.

[] 130 24,52% 135 25,47%

[] 59 11,13% 83 15,66%

[] 45 8,42% 44 8,30%

[e] 1 0,18% 1 0,18%

[i ] 10 1,88% 8 1,50%

[] 2 0,37% 1 0,18%

[] 3 0,56% 2 0,37%

[Ø] 2 0,37% 4 0,75%

TOTAL 252 47,54% 278 52,45%

Ocorrência Total: 530 Percentual Total: 100%

Tabela 2 – Ocorrência da vogal pretônica /e/ com relação à variável sexo

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

[e] [ε] [i] [ey] [ø]

HOMEM

MULHER

Gráfico 6 – Percentual de ocorrência da vogal pretônica /e/ com relação à variável sexo

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

[e] [i] []

62

4.1.1.2 A variável faixa etária

Pode-se verificar que a variante [e] é a mais usada por todas as três faixas etárias,

seguidas pelas variantes [ε] e [i]. Na primeira faixa etária, é mais freqüente o uso das variantes

[e] e [ε], conforme tabela e gráfico abaixo.

VARIANTES

VARIÁVEL FAIXA ETÁRIA

F1 F2 F3

Ocor. Perc. Ocor. Perc. Ocor. Perc.

[] 99 18,67% 83 15,66% 83 15,66%

[] 48 9,05% 44 8,30% 40 7,54%

[] 29 5,47% 30 5,66% 30 5,66%

[e] - - 2 0,37% - -

[i ] 9 1,69% 5 0,94% 4 0,75%

[] 1 0,18% 1 0,18% 1 0,18%

[] - - 2 0,37% 3 0,56%

[Ø] 1 0,18% 2 0,37% 3 0,55%

TOTAL 187 35,28% 169 31,88% 164 30,94%

Ocorrência Total: 530 Percentual Total: 100%

Tabela 3 – Ocorrência da vogal pretônica /e/ com relação à variável faixa etária

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

0,00%

2,00%

4,00%

6,00%

8,00%

10,00%

12,00%

14,00%

16,00%

18,00%

20,00%

[e] [ε] [i] [ey] [ø]

F1

F2

F3

Gráfico 7 – Percentual de ocorrência da vogal pretônica /e/ com relação à variável faixa etária

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

[e] [i] []

63

0,00%

1,00%

2,00%

3,00%

4,00%

5,00%

6,00%

HOMEM MULHER HOMEM MULHER HOMEM MULHER HOMEM MULHER HOMEM MULHER

NHAMUNDÁ URUCARÁ S.S. DO UATUMÃ BOA V. DO

RAMOS

BARREIRINHA

[e]

[ε]

[i]

[ey]

[ø]

4.1.1.3 Percentual de uso da vogal medial pretônica /e/ nos pontos de inquérito

conforme a variável sexo

De acordo com o gráfico abaixo, a variante [e] é mais freqüente entre homens e

mulheres em todas as localidades pesquisadas. A variante [] é a segunda mais usada por

ambos os sexos em Nhamundá, Urucará, Boa Vista do Ramos, Barreirinha e pelas mulheres

de São Sebastião do Uatumã. Neste último município, a variante [i] é a segunda mais usada

pelos homens.

Gráfico 8 – Percentual de uso da vogal pretônica /e/ nos pontos de inquérito conforme a variável sexo

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

4.1.1.4 Percentual de uso da vogal medial pretônica /e/ nos pontos de inquérito

conforme a variável faixa etária

Observando o gráfico a seguir, verifica-se que a variante [e] é a preferida pelos

falantes de todas as faixas etárias de Nhamundá, Urucará, São Sebastião do Uatumã,

Barreirinha e pelas faixas etárias 1 e 2 de Boa Vista do Ramos. Nesta última localidade, é

usada com a mesma freqüência que a variante [] pela faixa etária 3. A variante [] é segunda

[e[i[

64

mais utilizada por todas as faixas etárias de São Sebastião do Uatumã e Barreirinha, pelas

faixas etárias 1 e 2 de Nhamundá e Urucará e pela primeira faixa etária de Boa Vista do

Ramos. Neste ponto de inquérito, esta variante tem a mesma freqüência de uso que a variante

[i] na faixa etária 2.

0,00%

0,50%

1,00%

1,50%

2,00%

2,50%

3,00%

3,50%

4,00%

4,50%

5,00%

F1 F2 F3 F1 F2 F3 F1 F2 F3 F1 F2 F3 F1 F2 F3

NHAMUNDÁ URUCARÁ S. S. DO UATUMÃ BOA V. DO

RAMOS

BARREIRINHA

[e]

[ε]

[i]

[ey]

[ø]

Gráfico 9 – Percentual de uso da vogal pretônica /e/ nos pontos de inquérito conforme a variável faixa etária

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

4.2 A vogal medial pretônica /o/

A vogal medial pretônica /o/ manifesta-se como as variantes [o, , , , ]. A vogal

medial fechada [o], com um índice de freqüência de 44,91%, aparece como a variante

preferencial em contraste com a vogal alta fechada [] e a vogal medial aberta [], que

atingem, respectivamente, o percentual 29,79% e 18,16%.

[e[i[

65

VARIANTES OCORRÊNCIAS PERCENTUAL EXEMPLO

[] 309 44,91% [] 125 18,16% [] 205 29,79% [] 3 0,43% [] 46 6,68% TOTAL 688 100%

Tabela 4 – Ocorrência da vogal pretônica /o/

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

40,00%

45,00%

[

[

[

[

[

Gráfico 10 – Percentual de ocorrência da vogal pretônica /o/

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

A segunda maior ocorrência de /o/, quando em posição pretônica, foi como vogal alta

fechada []. Tal fenômeno, apesar de pouco expressivo, também ocorreu em posição tônica

04 (quatro) vezes: [pe‟kus], [„but], [„prua] [„pup].

66

4.2.1 Fatores sociais que influenciam o uso da vogal medial pretônica /o/

4.2.1.1 A variável sexo

Conforme os dados evidenciados na tabela e no gráfico abaixo, o fator sexo é

significativo quando do uso da variante [], uma vez que, das 125 ocorrências, 78 mulheres

utilizam essa variante.

VARIANTES

VARIÁVEL SEXO

MASCULINO FEMININO

Ocor. Perc. Ocor. Perc.

[] 154 22,38% 155 22,52%

[] 47 6,83% 78 11,33%

[] 104 15,11% 101 14,68%

[] 1 0,14% 2 0,29%

[] 21 3,05% 25 3,63%

TOTAL 327 47,52% 361 52,47%

Ocorrência Total: 688 Percentual Total: 100%

Tabela 5 – Ocorrência da vogal pretônica /o/ com relação à variável sexo

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

[o]

MASCULINO

FEMININO

Gráfico 11 – Percentual de ocorrência da vogal pretônica /o/ com relação à variável sexo

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

[] [] [] [o

67

4.2.1.2 A variável faixa etária

As variantes [o], [] e [], as mais freqüentes, fazem parte do repertório lingüístico das

três faixas etárias, sendo que o seu uso segue a seguinte ordem: F2, F1 e F3, como pode ser

verificado na tabela e no gráfico a seguir.

VARIANTES

VARIÁVEL FAIXA ETÁRIA

F1 F2 F3

Ocor. Ocor. Perc. Perc. Perc

. Perc.

[] 109 15,84% 110 15,98% 90 13,08%

[] 41 5,95% 47 6,83% 37 5,37%

[] 69 10,02% 70 10,17% 66 9,59%

[] - - 2 0,29% 1 0,14%

[] 17 2,47% 15 2,18% 14 -

TOTAL 236 34,30% 244 35,46% 208 30,23%

Ocorrência Total: 688 Percentual Total: 100%

Tabela 6 – Ocorrência da vogal pretônica /o/ com relação à variável faixa etária

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

0,00%

2,00%

4,00%

6,00%

8,00%

10,00%

12,00%

14,00%

16,00%

[o]

F1

F2

F3

Gráfico 12 – Percentual de ocorrência da vogal pretônica /o/ com relação à variável faixa etária

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

[] [] [] [o

68

0,00%

1,00%

2,00%

3,00%

4,00%

5,00%

6,00%

HOMEM MULHER HOMEM MULHER HOMEM MULHER HOMEM MULHER HOMEM MULHER

NHAMUNDÁ URUCARÁ S.S. DO UATUMÃ BOA V. DO

RAMOS

BARREIRINHA

[

[

[

[

[

4.2.1.3 Percentual de uso da vogal medial pretônica /o/ nos pontos de inquérito

conforme a variável sexo

A variante [o] é usada com mais freqüência por homens e mulheres de todos os pontos

de inquérito, seguida pelas variantes [] e [], conforme gráfico a seguir.

Gráfico 13 – Percentual de uso da vogal pretônica /o/ nos pontos de inquérito conforme a variável sexo

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

4.2.1.4 Percentual de uso da vogal medial pretônica /o/ nos pontos de inquérito

conforme a variável faixa etária

De acordo com o gráfico abaixo, é predominante o uso de [o] nas três faixas etárias de

Nhamundá, Urucará, São Sebastião do Uatumã, Barreirinha e pelas primeira e terceira faixas

etária de Boa Vista do Ramos. A variante [] é mais freqüente na terceira faixa etária de Boa

Vista do Ramos.

69

0,00%

0,50%

1,00%

1,50%

2,00%

2,50%

3,00%

3,50%

4,00%

F1 F2 F3 F1 F2 F3 F1 F2 F3 F1 F2 F3 F1 F2 F3

NHAMUNDÁ URUCARÁ S. S. DO UATUMÃ BOA V. DO

RAMOS

BARREIRINHA

[

[

[

[

[

Gráfico 14 – Percentual de uso da vogal pretônica /o/ nos pontos de inquérito conforme a variável faixa etária

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

4.3 A realização dos ditongos

Cruz (2004), quando da elaboração do ALAM, verificou que, diferindo do detectado

em outras regiões do país, os falantes do Amazonas tendiam a pronunciar os ditongos /ey/ e

/ow/, entretanto, nesta pesquisa, constatou-se que é mais freqüente a monotongação entre os

falantes do Baixo Amazonas, conforme tabela e gráfico a seguir.

FENÔMENO OCORRÊNCIAS PERCENTUAL EXEMPLO

DITONGAÇÃO 175 38,20% MONOTONGAÇÃO 283 61,79% TOTAL 458 100%

Tabela 7 – Ocorrência de ditongos e monotongos

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

70

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

Ditongação

Monotongação

Gráfico 15 – Percentual de ocorrência de ditongos e monotongos

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

4.3.1 Fatores sociais que influenciam a realização de ditongos ou monotongos

4.3.1.1 A variável sexo

Conforme as informações evidenciadas a seguir, homens e mulheres parecem ter

preferência pela monotongação, dentro desse fenômeno, entretanto, o percentual de uso é

mais forte nos homens (32,09%).

FENÔMENO

VARIÁVEL SEXO

MASCULINO FEMININO

Ocor. Perc. Ocor. Perc.

DITONGAÇÃO 75 16,37% 100 21,83%

MONOTONGAÇÃO 147 32,09% 136 29,69%

TOTAL 222 48,47% 236 51,52

Ocorrência Total: 458 Percentual Total: 100%

Tabela 8 – Ocorrência de ditongos e monotongos com relação à variável sexo

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

71

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

Ditongação Monotongação

MASCULINO

FEMININO

Gráfico 16 – Percentual de ocorrência de ditongos e monotongos com relação à variável sexo

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

4.3.1.2 A variável faixa etária

A variável faixa etária não parece ser um fator condicionante para o uso de ditongos

ou monotongos, já que todas as três faixas etárias têm preferência pela monotongação,

conforme tabela e gráfico a seguir.

FENÔMENO

VARIÁVEL FAIXA ETÁRIA

F1 F2 F3

Ocor Perc Ocor Perc Ocor Perc

DITONGAÇÃO 67 14,62% 67 14,62% 41 8,95%

MONOTONGAÇÃO 95 20,74% 89 19,43% 99 21,61%

TOTAL 162 35,37% 156 34,06% 140 30,56%

Ocorrência Total: 458 Percentual Total: 100%

Tabela 9 – Ocorrência da vogal pretônica /o/ com relação à variável faixa etária

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

72

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

F1 F2 F3

Ditongação

Monotongação

Gráfico 17 – Percentual de ocorrência de ditongos e monotongos com relação à variável faixa etária

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

4.3.1.3 Percentual de uso de ditongos e monotongos nos pontos de inquérito

conforme a variável sexo

A monotongação é mais usada por homens e mulheres de Urucará, São Sebastião do

Uatumã, Boa Vista do Ramos e pelos homens de Nhamundá e Barreirinha. Nestas duas

últimas localidades, a ditongação é mais utilizada pelas mulheres, conforme tabela e gráfico a

seguir.

73

0,00%

1,00%

2,00%

3,00%

4,00%

5,00%

6,00%

F1 F2 F3 F1 F2 F3 F1 F2 F3 F1 F2 F3 F1 F2 F3

NHAMUNDÁ URUCARÁ S. S. DO

UATUMÃ

BOA V. DO

RAMOS

BARREIRINHA

DITONGAÇÃO

MONOTONGAÇÃO

0,00%

1,00%

2,00%

3,00%

4,00%

5,00%

6,00%

7,00%

8,00%

9,00%

HOMEM MULHER HOMEM MULHER HOMEM MULHER HOMEM MULHER HOMEM MULHER

NHAMUNDÁ URUCARÁ S.S. DO UATUMÃ BOA V. DO

RAMOS

BARREIRINHA

DITONGAÇÃO

MONOTONGAÇÃO

Gráfico 18 – Percentual de uso de ditongos e monotongos nos pontos de inquérito conforme a variável sexo

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

4.3.1.4 Percentual de uso de ditongos e monotongos nos pontos de inquérito

conforme a variável faixa etária

Salvo F2 de Nhamundá e Barreirinha, faz-se uso, com mais freqüência, da

monotongação nas demais localidades, em todas as faixas etárias, conforme gráfico a seguir.

Gráfico 19 – Percentual de uso de ditongos e monotongos nos pontos de inquérito conforme a variável faixa

etária

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

74

4.4 A realização das vibrantes

O /R/, além de realizar-se no falar do Baixo Amazonas como [r, x, h], sofreu um

processo de cancelamento [ø], nazalização [~] e ditongação, ao ser substituído por [w] após

um segmento vocálico. Para um melhor entendimento da realização das vibrantes, estas foram

analisadas de acordo com a sua posição no contexto: início de vocábulo, início de sílaba, final

de sílaba e final de vocábulo, conforme tabela e gráfico a seguir.

VARIANTES

INÍCIO DE

VOCÁBULO

INÍCIO DE

SÍLABA

FINAL DE

SÍLABA

FINAL DE

VOCÁBULO

Ocor Perc. Ocor Perc. Ocor Perc. Ocor. Perc.

[h] 165 25,34% 108 16,58% 164 25,19% 171 26,26%

[r] 2 0,30% 4 0,61% 5 0,76% - -

[] - - - - - - 1 0,15%

[~] - - - - - - 5 0,76%

[] - - - - 1 0,15% 23 3,53%

[w] - - - - 2 0,30% - -

Total 167 25,65% 112 17,20% 172 26,42% 200 30,72%

Ocorrência Total: 651 Percentual Total: 100%

Tabela 10 – Ocorrência das vibrantes

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

75

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

Início de Vocábulo Início de Sílaba Final de Sílaba Final de Vocábulo

[h[r]

[x]

[~]

[ø]

[w]

Gráfico 20 – Percentual de ocorrência das vibrantes

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

Observando as informações anteriores, pode-se inferir que o [h] é mais freqüente em

todas as posições. Pose-se inferir ainda que, embora em menor número, a substituição de /R/

pela nasalização é notável em final de vocábulo.

4.4.1 A realização das vibrantes em início de vocábulo

4.4.1.1 A variável sexo

Com base na tabela e no gráfico a seguir, é possível observar que a variável sexo não

apresenta influencia significativa no uso da vibrante alveolar múltipla. É possível observar

ainda que, apesar da pequena ocorrência, a variante [r] é falada apenas pelos homens.

76

VARIANTES

VARIÁVEL SEXO

EXEMPLO MASCULINO FEMININO

Ocor. Perc. Ocor. Perc.

[] 79 47,30% 86 51,49% [] 2 1,19% - - TOTAL 81 48,49% 86 51,49%

Ocorrência Total: 167 Percentual Total: 100%

Tabela 11 – Ocorrência das vibrantes, em início de vocábulo, com relação à variável sexo

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

[h] [r]

Masculino

Feminino

Gráfico 21 – Percentual de ocorrência das vibrantes, em início de vocábulo, com relação à variável sexo

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

77

4.4.1.2 A variável faixa etária

A variável faixa etária é expressiva quando da realização de [r], visto que apenas é

utilizada pelos falantes da 2ª e 3ª faixas etárias, conforme tabela e gráfico abaixo.

VARIANTES

VARIÁVEL FAIXA ETÁRIA

EXEMPLOS F1 F2 F3

Ocor. Perc. Ocor. Perc. Ocor. Perc.

[] 57 34,13% 57 34,13% 51 30,53% [] - - 1 0,59% 1 0,59%

TOTAL 57 34,13% 58 34,89% 52 30,20%

Ocorrência Total: 167 Percentual Total: 100%

Tabela 12 – Ocorrência das vibrantes, em início de vocábulo, com relação à variável faixa etária

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

[h] [r]

F1

F2

F3

Gráfico 22 – Percentual de ocorrência das vibrantes, em início de vocábulo, com relação à variável faixa etária

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

78

0,00%

2,00%

4,00%

6,00%

8,00%

10,00%

12,00%

HOMEM MULHER HOMEM MULHER HOMEM MULHER HOMEM MULHER HOMEM MULHER

NHAMUNDÁ URUCARÁ S.S. DO UATUMÃ BOA V. DO

RAMOS

BARREIRINHA

[h]

[r]

4.4.1.3 Percentual de uso das vibrantes, em início de vocábulo, nos pontos de

inquérito conforme a variável sexo

A variante [h] é a única usada por homens e mulheres de Urucará, São Sebastião do

Uatumã, Barreirinha e pelas mulheres de Nhamundá e Boa Vista do Ramos. A variante [r] se

faz presente, com pouca ocorrência, apenas entre os homens de Nhamundá e Boa Vista do

Ramos, conforme gráfico a seguir.

Gráfico 23 - Percentual de uso das vibrantes, em início de vocábulo, nos pontos de inquérito conforme o sexo

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

4.4.1.4 Percentual de uso das vibrantes, em início de vocábulo, nos pontos de

inquérito conforme a variável faixa etária

A variante [h] é a única utilizada por todas as faixas etárias de Urucará, São Sebastião

do Uatumã, Barreirinha, por F1 e F3 de Nhamundá e por F1 e F2 de Boa Vista do Ramos. A

variante [r] também se apresenta, com pouca ocorrência, na segunda faixa etária de Boa vista

do Ramos, de acordo com o expresso no gráfico a seguir.

79

0,00%

1,00%

2,00%

3,00%

4,00%

5,00%

6,00%

7,00%

8,00%

F1 F2 F3 F1 F2 F3 F1 F2 F3 F1 F2 F3 F1 F2 F3

NHAMUNDÁ URUCARÁ S. S. DO UATUMÃ BOA V. DO

RAMOS

BARREIRINHA

[h]

[r]

Gráfico 24 – Percentual de uso das vibrantes, em início de vocábulo, nos pontos de inquérito cf. a faixa etária

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

4.4.2 A realização das vibrantes em início de sílaba

4.4.2.1 A variável sexo

De acordo com a tabela e o gráfico a seguir, a variante [h] é mais usada pelas

mulheres. A variante [r], nas poucas ocorrências desse segmento, é usada apenas pelos

homens.

VARIANTES

VARIÁVEL SEXO

EXEMPLO MASCULINO FEMININO

Ocor. Perc. Ocor. Perc.

[] 49 43,75% 59 52,67% [r] 4 3,57% - - TOTAL 53 47,32% 59 52,67%

Ocorrência Total: 112 Percentual Total: 100%

Tabela 13 – Ocorrência das vibrantes, em início de sílaba, com relação à variável sexo

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

80

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

[h] [r]

Masculino

Feminino

Gráfico 25 – Percentual de ocorrência das vibrantes, em início de sílaba, com relação à variável sexo

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

4.4.2.2 A variável faixa etária

O que chama atenção, quando da realização das vibrantes em início de sílaba, é o fato

de a variante [r] ocorrer apenas na 3ª faixa etária. Quanto à variante [h], é mais freqüentes na

2ª faixa etária.

VARIANTES

VARIÁVEL FAIXA ETÁRIA

EXEMPLOS F1 F2 F3

Ocor. Perc. Ocor. Perc. Ocor. Perc.

[] 37 33,03% 40 35,71% 31 27,67%

[] - - - - 4 3,57%

TOTAL 37 33,03% 40 35,71% 35 31,24%

Ocorrência Total: 112 Percentual Total: 100%

Tabela 14 – Ocorrência das vibrantes, em início de sílaba, com relação à variável faixa etária

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

81

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

40,00%

[h] [r]

F1

F2

F3

Gráfico 26 – Percentual de ocorrência das vibrantes, em início de sílaba, com relação à variável faixa etária

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

Quando da realização de /R/, verificou-se que ocorre uma redução surpreendente de

fonemas com o conceito “fósforo” no falar do Baixo Amazonas, pois, dos 27 informantes

pronunciaram, 14 pronunciaram [„ff] e 04 pronunciaram [„f].

4.4.2.3 Percentual de uso das vibrantes, em início de sílaba, nos pontos de

inquérito conforme a variável sexo

Com base nas informações expressas no gráfico a seguir, a variante [h] é a mais usada

por homens e mulheres de Nhamundá, Urucará, Barreirinha e pelas mulheres de São

Sebastião do Uatumã e Boa Vista do Ramos. Nestes dois últimos locais, a variante [r], apesar

de sua pouca ocorrência, é a segunda mais usada pelos homens.

82

0,00%

2,00%

4,00%

6,00%

8,00%

10,00%

12,00%

HO

ME

M

MU

LH

ER

HO

ME

M

MU

LH

ER

HO

ME

M

MU

LH

ER

HO

ME

M

MU

LH

ER

HO

ME

M

MU

LH

ER

NHAMUNDÁ URUCARÁ S.S. DO UATUMÃ BOA V. DO

RAMOS

BARREIRINHA

[h]

[r]

Gráfico 27 – Percentual de uso das vibrantes, em início de sílaba, nos pontos de inquérito conforme o sexo

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

4.4.2.4 Percentual de uso das vibrantes, em início de sílaba, nos pontos de

inquérito conforme a variável faixa etária

Pode-se verificar, de acordo com gráfico a seguir, que a variante [h] é predominante

em todas as faixas etárias de Nhamundá, Urucará e Barreirinha e em F1 e F2 de São Sebastião

do Uatumã e Boa Vista. Nestes dois últimos pontos de inquérito, a variante [r], embora com

pouca ocorrência, é a segunda mais usada pelos falantes da terceira faixa etária.

83

0,00%

1,00%

2,00%

3,00%

4,00%

5,00%

6,00%

7,00%

8,00%

F1 F2 F3 F1 F2 F3 F1 F2 F3 F1 F2 F3 F1 F2 F3

NHAMUNDÁ URUCARÁ S. S. DO UATUMÃ BOA V. DO

RAMOS

BARREIRINHA

[h]

[r]

Gráfico 28 – Percentual de uso das vibrantes, em início de sílaba, nos pontos de inquérito cf. faixa etária

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

4.4.3 A realização das vibrantes em final de sílaba

4.4.3.1 A variável sexo

Em final de sílaba, é predominante o uso de [h], tanto pelos falantes masculinos como

femininos, sendo que as mulheres têm um percentual um pouco mais elevado (49,41%),

conforme tabela e gráfico a seguir.

VARIANTES

VARIÁVEL SEXO

EXEMPLO MASCULINO FEMININO

Ocor. Perc. Ocor. Perc.

[] 79 45,93% 85 49,41% [] 2 1,16% 3 1,74% [w] 2 1,16% - - [ø] - - 1 0,58% TOTAL 83 48,25% 89 51,74%

Ocorrência Total: 172 Percentual Total: 100%

Tabela 15 – Ocorrência das vibrantes, em final de sílaba, com relação à variável sexo

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

84

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

40,00%

45,00%

50,00%

[h] [r] [w] [ø]

Masculino

Feminino

Gráfico 29 – Percentual de ocorrência das vibrantes, em final de sílaba, com relação à variável sexo

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

4.4.3.2 A variável faixa etária

De acordo com a tabela e o gráfico a seguir, o [h] é predominante em todas as faixas

etárias, com a particularidade de ser mais freqüente em F2. O cancelamento do segmento

ocorre apenas em F1 e a sua substituição por [w], em F2 e F3.

VARIANTES

VARIÁVEL FAIXA ETÁRIA

EXEMPLOS F1 F2 F3

Ocor. Perc. Ocor. Perc. Ocor. Perc.

[] 56 32,55% 57 33,13% 51 29,65% [] 2 1,16% 2 1,16% 1 0,58% [w] - 1 0,58% 1 0,58% [ø] 1 0,58% - - - - TOTAL 59 34,30% 60 34,88% 53 30,81%

Ocorrência Total: 172 Percentual Total: 100%

Tabela 16 – Ocorrência das vibrantes, em final de sílaba, com relação à variável faixa etária

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

85

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

[h] [r] [w] [ø]

F1

F2

F3

Gráfico 30 – Percentual de ocorrência das vibrantes, em final de sílaba, com relação à variável faixa etária

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

4.4.3.3 Percentual de uso das vibrantes, em final de sílaba, nos pontos de

inquérito conforme a variável sexo

A variante [h] é utilizada por homens e mulheres, com predominância, em todas as

localidades, sendo que é a única variante usada por ambos os sexos em Nhamundá e pelas

mulheres em Urucará e Boa Vista do Ramos. O cancelamento [ø] do segmento só ocorre

entre as mulheres de São Sebastião do Uatumã, enquanto que a sua substituição pela variante

[w] só ocorre entre os homens de São Sebastião do Uatumã e Boa Vista do Ramos, conforme

gráfico a seguir.

86

0,00%

2,00%

4,00%

6,00%

8,00%

10,00%

12,00%

14,00%

HO

ME

M

MU

LH

ER

HO

ME

M

MU

LH

ER

HO

ME

M

MU

LH

ER

HO

ME

M

MU

LH

ER

HO

ME

M

MU

LH

ER

NHAMUNDÁ URUCARÁ S.S. DO UATUMÃ BOA V. DO

RAMOS

BARREIRINHA

[h]

[r]

[w]

[ø]

Gráfico 31 – Percentual de uso das vibrantes, em final de sílaba, nos pontos de inquérito conforme o sexo

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

4.4.3.4 Percentual de uso das vibrantes, em final de sílaba, nos pontos de

inquérito conforme a variável faixa etária

A variante [h] é a única utilizada por todas as faixas etárias de Nhamundá, por F1 e F3

de Urucará, por F1 e F2 de Boa Vista do Ramos e por F2 e F3 de Barreirinha. O

cancelamento [ø] do segmento ocorre apenas em F1 de São Sebastião do Uatumã. Nesta

localidade, ocorre ainda a realização de [w] em F2, fenômeno que se repete em F3 de Boa

Vista do Ramos, como se pode verificar no gráfico a seguir.

87

0,00%

1,00%

2,00%

3,00%

4,00%

5,00%

6,00%

7,00%

8,00%

9,00%

F1 F2 F3 F1 F2 F3 F1 F2 F3 F1 F2 F3 F1 F2 F3

NHAMUNDÁ URUCARÁ S. S. DO UATUMÃ BOA V. DO RAMOS BARREIRINHA

[h]

[r]

[w]

[ø]

Gráfico 32 – Percentual de uso das vibrantes, em final de sílaba, nos pontos de inquérito cf. A faixa etária

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

4.4.4 A realização das vibrantes em final de vocábulo

4.4.4.1 A variável sexo

Em final de vocábulo, chama atenção a nasalização [~] do segmento /R/ por homens e

mulheres, assim como o seu cancelamento [ø], mais comum entre as mulheres. Apesar dessas

ocorrências, a presença de [h] é mais freqüente, pois 43,00% dos homens e 42,50% das

mulheres fazem uso dessa variante, como pode ser constatado a seguir.

88

VARIANTES

VARIÁVEL SEXO

EXEMPLO MASCULINO FEMININO

Ocor. Perc. Ocor. Perc.

[] 86 43,00% 85 42,50% [x] - 1 0,50% [motox]

[~] 3 1,50% 2 1,00% [] 7 3,50% 16 8,00% [key’ma]

TOTAL 96 48,00% 104 52,00%

Ocorrência Total: 200 Percentual Total: 100%

Tabela 17 – Ocorrência das vibrantes, em final de vocábulo, com relação à variável sexo

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

40,00%

45,00%

[h] [x] [~] [ø]

Masculino

Feminino

Gráfico 33 – Percentual de ocorrência das vibrantes, em final de vocábulo, com relação à variável sexo

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

89

4.4.4.2 A variável faixa etária

As faixas etárias que mais apagam o /R/ são a 1ª e a 2ª e a nasalização desse segmento

é mais comum nas faixas etárias 1 e 2. Isso sugere que a F3 tende a manter esse segmento no

seu falar. Quanto ao [h], é mais freqüente na terceira faixa etária, conforme tabela e gráfico

abaixo.

VARIANTES

VARIÁVEL FAIXA ETÁRIA

EXEMPLOS F1 F2 F3

Ocor. Perc. Ocor. Perc. Ocor. Perc.

[] 56 28,00% 64 33,00% 51 25,50% [x] 1 0,50% - - - - [motox]

[~] 2 1,00% 2 1,00% 1 0,50% [] 11 5,50% 6 3,00% 6 3,00% [key’ma]

TOTAL 70 35,00% 72 36,00% 58 29,00%

Ocorrência Total: 200 Percentual Total: 100%

Tabela 18 – Ocorrência das vibrantes, em final de vocábulo, com relação à variável faixa etária

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

[h] [x] [~] [ø]

F1

F2

F3

Gráfico 34 – Percentual de ocorrência das vibrantes, em final de vocábulo, com relação à variável faixa etária

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

90

0,00%

2,00%

4,00%

6,00%

8,00%

10,00%

12,00%

HOMEM MULHER HOMEM MULHER HOMEM MULHER HOMEM MULHER HOMEM MULHER

NHAMUNDÁ URUCARÁ S.S. DO UATUMÃ BOA V. DO

RAMOS

BARREIRINHA

[h]

[x]

[~]

[ø]

4.4.4.3 Percentual de uso das vibrantes, em final de vocábulo, nos pontos de

inquérito conforme a variável sexo

A variante [h] é predominante entre homens e mulheres de todas as localidades

pesquisadas, sendo que, em Urucará, São Sebastião do Uatumã e Barreirinha, ela é a única

utilizada pelos homens. O cancelamento da vibrante [ø] é a segunda maior ocorrência entre as

mulheres de Nhamundá, Urucará, São Sebastião do Uatumã e Barreirinha. Em Boa Vista do

Ramos, o cancelamento [ø] tem a mesma freqüência de uso, entre os homens, da nasalização

do segmento [~], fenômeno este que também se faz presente entre os falantes femininos deste

mesmo ponto de inquérito e entre os falantes masculinos e femininos do município de

Nhamundá.

Gráfico 35 – Percentual de uso das vibrantes, em final de vocábulo, nos pontos de inquérito conforme o sexo

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

91

0,00%

1,00%

2,00%

3,00%

4,00%

5,00%

6,00%

7,00%

8,00%

F1 F2 F3 F1 F2 F3 F1 F2 F3 F1 F2 F3 F1 F2 F3

NHAMUNDÁ URUCARÁ S. S. DO UATUMÃ BOA V. DO

RAMOS

BARREIRINHA

[h]

[x]

[~]

[ø]

4.4.4.4 Percentual de uso das vibrantes, em final de vocábulo, nos pontos de

inquérito conforme a variável faixa etária

A variante [h] é a mais utilizada pelas três faixas etárias de todos os pontos de

inquérito, sendo que é a única variante utiliza pela terceira faixa etária de Urucará e por F1 e

F2 de Barreirinha. A variante [ø] é a segunda mais usada por todas as faixas etárias de

Nhamundá e São Sebastião do Uatumã e por F1 e F2 de Urucará e por F1 e F2 de Barreirinha.

A variante [~], embora com pouca ocorrência, é segunda mais utilizada pelos falantes de

todas as faixas etárias de Boa Vista do Ramos.

Gráfico 36 – Percentual de uso das vibrantes, em final de vocábulo, nos pontos de inquérito cf. A faixa etária

FONTE: Pesquisa de Campo, 2008/2009.

Além dos fenômenos expostos anteriormente, pôde-se verificar que, no falar do Baixo

Amazonas, o /o/, em contexto pós-vocálico, caracteriza-se como semivogal posterior /w/ e o

/t/ e /d/ realizam-se como africadas pós-alveolares diante de [i].

92

CONCLUSÃO

Sob a denominação língua portuguesa, há toda uma variedade de falares responsáveis

pela caracterização e identificação de seus usuários. Em decorrência disso, procurou-se

registrar, por meio de uma pesquisa dialetológica, a variedade lingüística do Baixo

Amazonas. Pesquisas deste cunho permitem que se apontem aspectos lingüístico-culturais de

suma importância para o registro e o resgate da identidade cultural de um povo.

Com a finalidade de verificar se dados extralingüísticos são responsáveis por

determinada manifestação lingüística, foram evidenciados no capítulo 1 aspectos sócio-

histórico-culturais do Baixo Amazonas.

Objetivando evidenciar os fenômenos lingüísticos que tipificam o falar da micro-

região em estudo, foram apresentados, no capítulo 4, com base nas 132 Cartas Fonéticas,

tabelas e gráficos que permitem uma melhor visualização da área dialetal do Baixo

Amazonas.

Os dados apresentados ao longo do capítulo anterior permitem que sejam feitas as

considerações abaixo:

(1) Ao contrário do que foi detectado por Antenor Nascente com relação às vogais médias

pretônicas, as quais, segundo o dialetólogo, realizavam-se como abertas [, ] no Falar

do Norte, verificou-se, na presente pesquisa, uma maior freqüência das variantes

fechadas [e, o];

(2) Como já havia sido constatado por Cruz (2004), o alteamento, em contexto tônico, da

vogal posterior média fechada /o/, que tem sido considerado um fenômeno típico do

Amazonas e Pará, mostrou-se pouco expressivo no Baixo Amazonas: apenas 04

(quatro) ocorrências;

93

(3) Ao contrário do que já foi registrado pelo ALAM, observou-se que os falantes do

Baixo Amazonas, como na maior parte do Brasil, tendem a monotongar;

(4) Quanto ao –S, em final de sílaba e em final de vocábulo, só se realizou como variante

pós-alveolar [];

(5) É predominante o uso da fricativa glotal surda [h] em início de vocábulo, início de

sílaba, final de sílaba e final de vocábulo;

(6) Também como constatado por Cruz (2004), a lateral alveolar /l/ e vogal medial /o/,

quando em contexto pós-vocálico, realiza-se como semivogal posterior /w/, já as

dentais /t/ e /d/ manifestam-se como as africadas pós-alveolares [t, d] diante de [i];

(7) Quanto à lateral palatal //, verificou-se que se realiza, em sua grande maioria, como

[], mas foi possível encontrar também o cancelamento [ø] desse segmento e o uso

das variantes [l] e [y];

(8) Pôde ser constatado ainda que não houve a redução do grupo -nd a [n].

Fazendo uma comparação com o Atlas Lingüístico do Amazonas – ALAM, pode-se

inferir que as realizações fonéticas dos falantes do Baixo Amazonas diferem das detectadas

por Cruz (2004) em apenas uma situação, quando da realização de ditongos, tendo em vista

que, enquanto no ALAM havia uma forte tendência à ditongação, no AFBAM, prevalece a

monotongação de segmentos.

94

A constatação desse fenômeno e outros tantos detectados demonstram a necessidade

de se continuar ampliando o registro das áreas dialetais do Amazonas e dos diversos falares

do Brasil, pois, de posse do resultado de uma pesquisa deste cunho, é possível caracterizar a

verdadeira dimensão da linguagem humana: a sua diversidade, a qual individualiza e

identifica cada um dos grupos sociais que formam o extenso e heterogêneo território

brasileiro.

Espera-se, por conseguinte, que o Atlas dos Falares do Baixo Amazonas – AFBAM

possa ampliar e consolidar os registros fonéticos realizados no ALAM e possa contribuir para

o conhecimento das variantes populares do Português do Brasil e para a delimitação das áreas

dialetais brasileiras.

95

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Londrina: Editora da Universidade Estadual de Londrina, 1998.

ALBUQUERQUE, Albertina Costa Rego de; Marinho, Helyde Albuquerque. Amazônia

Brasileira Ocidental: aspectos geográficos e históricos. Manaus: Editora da Universidade do

Amazonas, 1999.

ARAGÃO, Maria do S. S.; MENEZES, Cleuza P. B. de. Atlas Lingüístico da Paraíba. 2

vol. Brasília UFPB /CNPq., 1984.

BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: novela sociolingüística. 11 ed. São Paulo: Contexto,

2001.

BISOL, Leda. O ditongo em português. Boletim da Associação Brasileira Lingüística. Rio

Grande do Sul, n. 11, 51-58, junho 1991.

BELTRÃO, Otto. Realidade da Amazônia Brasileira. Vol. Amazonas. Fundação Biblioteca

Nacional: Ministério da Cultura, 1998.

BIBLIOTECA VIRTUAL DO AMAZONAS. Municípios do Estado. Disponível em:

<http://www.bv.am.gov.br>. Acesso em: 29 nov 2007.

BRANDÃO, Silva F. A geografia lingüística no Brasil. São Paulo: Ática, 1991.

______. Um estudo Variacionista sobre a lateral palatal. Letras de Hoje. Porto Alegre, v.

42, n. 3, p. 89-99, setembro 2007.

BRANDÃO, Silva F.; MORAES,. J. A de. Geolingüística no Brasil: resultados e

perspectivas. Terceira Margem, 3. Faculdade de Letras da UFRJ, 1995.

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