Atlas de Portugal (IGP 2005)

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    APRESENTAO 17

    UM PAS DE REA REPARTIDA 19 A IMPORTNCIA DO MAR E A LOCALIZAO DO ESPAO PORTUGUS 20

    O MAR QUE NOS ENVOLVE 25 A MORFOLOGIA DOS FUNDOS 25

    CORRENTES OCENICAS 26

    O MAR E A ATMOSFERA 28

    VARIAES DE TEMPERATURA 29

    A TERRA QUE HABITAMOS 36UNIDADES MORFOESTRUTURAIS 38 EVOLUO GEOLGICA DO OESTE PENINSULAR 38O RELEVO DO CONTINENTE 43FISIONOMIA DAS REGIES AUTNOMAS 43

    CLIMA E SUAS INFLUNCIAS 50 ELEMENTOS CLIMTICOS 50 A IRREGULARIDADE DO TEMPO NO CONTINENTE 54 AS ONDAS DE CALOR 59O CLIMA DAS ILHAS 59 A REDE HIDROGRFICA 61OS SOLOS 64 A VEGETAO NATURAL 65

    TIPOS DE PAISAGEM 66DIVERSIDADE E GRUPOS DE PAISAGEM 66 REAS PROTEGIDAS 70 AS ILHAS 73REDE NATURA 2000 77 REAS DE PROTECO DE AVIFAUNA 77

    OS HOMENS E O MEIO 80TERRITRIO, SUPORTE DAS GENTES 82

    A POPULAO 86 EVOLUO RECENTE 86UMA DISTRIBUIO DESIGUAL 86BAIXOS NVEIS DE NATALIDADE E FORTES SALDOS

    MIGRATRIOS 93UM ENVELHECIMENTO PROGRESSIVO 93 A EMERGNCIA DE NOVOS COMPORTAMENTOS 93 EDUCAO 94

    TERRA DE MIGRAES 98 A EMIGRAO 98O REGRESSO 100 A IMIGRAO 102

    UMA POPULAOQUE SE URBANIZA 104UMA LEITURA CLSSICA DO SISTEMA URBANO

    NACIONAL 104UMA AVALIAO RECENTE 106

    MUDANAS RECENTES 110LISBOA E PORTO COMO REFERNCIAS 110PRODUZIR CIDADE 111

    COMUNICAES E MOBILIDADEDA POPULAO 120REDES DE COMUNICAO 120SISTEMA DE TRANSPORTES 123

    NDICE

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    O PAS SOCIOECONMICO 130 ECONOMIA PORTUGUESA: ARTICULAO DIFCIL ENTRE MUDANAS INTERNAS E AS EXIGNCIAS COMPETITIVAS 132

    ACTIVIDADES DA TERRA 138 A AGRICULTURA 139 AGRICULTURA EM MODO DE PRODUO BIOLGICO145PECURIA 145ORGANIZAO DO TRABALHO 149PRODUTOS TRADICIONAIS 150

    A FLORESTA 154 A CAA 162 A EXPLORAO DOS RECURSOS EXTRACTVEIS 164

    RECURSOS VIVOS MARINHOS 168UM SECTOR ESTRATGICO 168O SECTOR DAS PESCAS 172

    ECONOMIA E DESENVOLVIMENTOREGIONAL 176CRESCIMENTO ECONMICO 176OS SECTORES DE ACTIVIDADE E A DIFERENCIAO

    REGIONAL 177

    MERCADO EXTERNO E COMPETITIVIDADE 183 A COESO SOCIAL 186O DESENVOLVIMENTO HUMANO 189

    TEMPO DE TURISMO 190O TURISMO BALNEAR 191NOVOS PRODUTOS 192UM SECTOR ESTRATGICO DE FUTURO 195

    POLTICAS DO TERRITRIO 198 A ADMINISTRAO 198O PLANEAMENTO 202 A QUALIFICAO E O DESENVOLVIMENTO

    SUSTENTVEL 204

    PORTUGAL NUM MUNDODE RELAO 210 A LNGUA PORTUGUESA: UM TRAO DE UNIO RODA DO MUNDO 212

    COMUNIDADES PORTUGUESAS216TESTEMUNHOS DE UM PASSADO LONGNQUO 216 EVIDNCIAS CULTURAIS DE HOJE 217

    IDENTIDADE E CULTURA EM TEMPOS DE MUDANA 222RIQUEZA E DIVERSIDADE DE CULTURAS 222FRONTEIRAS DE UM PORTUGAL CULTURAL 223 ACTUAL SUPORTE CULTURA 223

    PORTUGAL NA UNIO EUROPEIA 228PORTUGAL NA EUROPA 229 A INTEGRAO DA EUROPA 229TRANSFORMAES NA UE-15 230PRIORIDADES SOCIAIS DA UE 230DESENVOLVIMENTO TECNOLGICO

    E NVEL DE VIDA 231 ENERGIA: A MAIOR FRAGILIDADE DA UE 232PRESIDNCIA PORTUGUESA NA UE 233

    O ALARGAMENTO DA UE 234UMA CONSTITUIO PARA A EUROPA 235

    O ATLAS E O POSICIONAMENTO ESTRATGICODE PORTUGAL 236

    ANEXOS 239PLANTAS ESPONTNEAS, SUBESPONTNEAS

    E ORNAMENTAIS MAIS COMUNS EM PORTUGAL240CARTA DE PORTUGAL CONTINENTAL ESCALA 1: 550 000

    CARTA DAS REGIES AUTNOMAS DOS AORES E DA MADEIRA ESCALA 1: 200 000 242

    NDICE ONOMSTICO 260

    DIVISO ADMINISTRATIVA POR CONCELHOS 268NOTAS BIOGRFICAS DOS AUTORES 272BIBLIOGRAFIA 273CRDITOS 274

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    Editor Instituto Geogrfico Portugus

    Coordenao CientficaRaquel Soeiro de Brito

    Coordenao GeralRui Pedro Julio Jos Norberto Fernandes

    Assistente de CoordenaoCarlos Alberto Simes

    Autores dos textos introdutrios Augusto Mateus Ernni Rodrigues LopesNuno Vieira MatiasRaquel Soeiro de Brito Vasco Graa Moura

    Textos e preparao dos temasCarlos Pereira da SilvaDulce PimentelFtima AzevedoFernando Ribeiro Martins

    Henrique Souto Joo Carlos SilvaLourdes PoeiraMaria Assuno GatoNuno Pires SoaresRaquel Soeiro de BritoRui Pedro Julio

    Reviso dos textosCristina Sousa Meneses

    MapasMunicpia

    Criao e concepoPaz Comunicao Estratgica DesignInteractGrafismo e paginao Jorge Silva Infografia Joaquim GuerreiroCapaInteract Impresso Editorial do Ministrio da Educao

    Parceiros Institucionais ACIME Alto Comissariado para a Integrao das Minorias tnicas AGROBIO Associao Portuguesa de Agricultura Biolgica ANACOM Autoridade Nacional de ComunicaesCCDRA Comisso de Coordenao e Desenvolvimento Regional do AlentejoCCDRAlg Comisso de Coordenao e Desenvolvimento Regional do AlgarveCCDRC Comisso de Coordenao e Desenvolvimento Regional do CentroCCDRLVT Comisso de Coordenao e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do TejoCCDRN Comisso de Coordenao e Desenvolvimento Regional do Norte

    CP Caminhos de Ferro PortuguesesCTT Correios de PortugalDGAL Direco-Geral das Autarquias LocaisDGEEP Direco-Geral de Estudos, Estatstica e PlaneamentoDGEMN Direco-Geral dos Edifcios e Monumentos NacionaisDGGE Direco-Geral de Geologia e EnergiaDGOTDU Direco-Geral de Ordenamento do Territrio e Desenvolvimento UrbanoDGRF Direco-Geral dos Recursos FlorestaisDGT Direco-Geral do TurismoDGTT Direco-Geral dos Transportes TerrestresIA Instituto do AmbienteIC Instituto CamesICN Instituto da Conservao da NaturezaIDRHa Instituto de Desenvolvimento Rural e Hidrulica EP Estradas de Portugal

    IGeoE Instituto Geogrfico do ExrcitoIH Instituto HidrogrficoIM Instituto de MeteorologiaINAG Instituto da guaINE Instituto Nacional de EstatsticaINETI Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e InovaoINIAP Instituto Nacional de Investigao Agrria e das PescasME Ministrio da EducaoMS Ministrio da SadePOS_Conhecimento Programa Operacional Sociedade do ConhecimentoSEF Servio de Estrangeiros e FronteirasSREA Servio Regional de Estatstica dos AoresSREM Servio Regional de Estatstica da Madeira

    Parceiros FinanceirosCaixa Geral de Depsitos

    Agradecimentos Academia de Marinha

    ISBN972-8867-14-X Ttulo: ATLAS DE PORTUGALTipo de encadernao: BData: 2005 Editor: Instituto Geogrfico PortugusMorada: R. Artilharia Um, 107Localidade: LisboaCdigo Postal: 1099-052Correio Electrnico: [email protected]

    Telefone: 213 819 600Fax: 213 819 699

    Depsito Legal235 667/05Tiragem da 1. Edio:15 000 Exemplares

    Projecto co-financiado pelo FEDER

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    Portugal sofreu nos ltimos anos grandes transformaessociais e econmicas e uma profunda evoluo das suasestruturas territoriais. At data, este grande dinamismono foi acompanhado de um registo geogrfico de sntesee anlise do passado recente que perspectivasse uma viso dofuturo da realidade nacional. Foi esta lacuna que nos

    propusemos preencher com este projecto.Os atlas so hoje obras que extravasam, completamente,a parca definio de coleco de mapas ou cartas geogrficas.O Atlas de Portugal uma excelente sinopse que,por traduzir a realidade do nosso espao geogrfico,se constitui num valioso e indispensvel veculo detransmisso de informao de suporte e apoio deciso.O Instituto Geogrfico Portugus promoveu e acarinhoueste projecto em conjunto com uma equipa cientfica derenome nacional e internacional coordenada pela ProfessoraCatedrtica Raquel Soeiro de Brito. Do resultado desse afnasceu uma obra mpar e de referncia que integrainformao geogrfica existente no Sistema Nacional

    de Informao Geogrfica e em vrios organismos da Administrao Pblica Portuguesa, e que, em conjunto,representa uma viso coerente do Portugal de hoje,

    simultaneamente numa perspectiva multi-sectoriale territorial. A reflexo sobre a realidade social, sobre a forma comoas populaes se organizam e se relacionam com o meioambiente, sobre o seu posicionamento no sistemaeconmico nacional e internacional, assim como o seu

    modo de vida e trajectrias culturais, constitui umimportante instrumento para a definio de polticase estratgias adequadas ao nosso tempo. A anlise cientfica destes temas permite encontrar novassolues e potencialidades, identificando e/ou localizandofenmenos perturbadores susceptveis de estrangularo desenvolvimento do Pas. Este documento, ao traar deforma isenta e inequvoca um perfil de Portugal, constituiuma referncia para analisar, hierarquizar e justificarintenes de investimento bem como servir de base investigao das transformaes ocorridas. O Atlas dePortugal, sendo um documento nico no panorama nacional,ir servir tambm de suporte s actividades de vrias

    Instituies Pblicas e de Privados, dos estabelecimentosde ensino, do processo de avaliao dos programascomunitrios e, naturalmente, do cidado em geral.

    APRESENTAO ARMNIO DOS SANTOS CASTANHEIRA PRESIDENTE DO IGP

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    Portugal Continental

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    8/307

    Regio Autnoma dos Aores, Grupo Oriental

    So Miguel

    0 5 10 km

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    9/307

    Santa Maria

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    Faial

    Pico

    Regio Autnoma dos Aores, Grupo Central

    0 5 10 km

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    11/307

    So Jorge

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    12/307

    Regio Autnoma dos Aores, Grupo Central

    Graciosa

    Terceira

    0 5 10 km

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    13/307

    Regio Autnoma dos Aores, Grupo Ocidental

    Corvo

    Flores

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    Regio Autnoma da Madeira

    Ilhas Selvagens

    Madeira

    0 5 10 km

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    Ilhas Desertas

    Porto Santo

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    A IMPORTNCIA DO MAR E A LOCALIZAO DO ESPAO PORTUGUS

    O MAR QUE NOS ENVOLVE A MORFOLOGIA DOS FUNDOSCORRENTES OCENICASO MAR E A ATMOSFERA VARIAES DE TEMPERATURA

    A TERRA QUE HABITAMOSUNIDADES MORFOESTRUTURAIS EVOLUO GEOLGICA DO OESTE PENINSULARO RELEVO DO CONTINENTEFISIONOMIA DAS REGIES AUTNOMAS

    CLIMA E SUAS INFLUNCIAS ELEMENTOS CLIMTICOS A IRREGULARIDADE DO TEMPO NO CONTINENTE AS ONDAS DE CALORO CLIMA DAS ILHAS A REDE HIDROGRFICA OS SOLOS A VEGETAO NATURAL

    TIPOS DE PAISAGEMDIVERSIDADE E GRUPOS DE PAISAGEM REAS PROTEGIDAS AS ILHASREDE NATURA 2000 REAS DE PROTECO DE AVIFAUNA

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    UM PASDE REA REPARTIDA

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    A Nao portuguesa encontrou no mar a causa primeira da suaconsolidao, deve aos oceanos o motivo da sua expanso universalista eter de continuar a retirar deles a fora e a identidade que a forjou etemperou, ao longo de quase nove sculos de existncia. O mar poder s

    tambm um potenciador pujante da economia portuguesa, mas ,igualmente, merecedor de atenes de segurana colectiva, incluindo a dpopulao, dos bens e do ambiente. Estes pontos constituem um conjuntode razes, historicamente concatenadas, em que vale a pena reflectir. ureflexo que merece seguramente dimenses vastas, profundidade eabertura, pelo interesse prospectivo de que se reveste. Contudo, pormotivos evidentes, apenas sero aqui afloradas com o intuito de estimulao seu estudo. Na fase de formao de Portugal, no sculo XII, a populaodo reino em nascimento apontada, normalmente, como essencialmenteagrria, com franjas dedicadas pesca e ao comrcio e, como tal, semdistino do seu vizinho que justificasse o traado da fronteira a Leste.Trata-se de um conceito que, sem suscitar uma oposio frontal, mereceuma interpretao clarificadora.

    A IMPORTNCIA DO MAR E A LOCALIZAO DO ESPAO

    PORTUGUSNUNO VIEIRA MATIAS

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    De facto, o mar comeou, mesmo antes dessa altura, aexercer os seus efeitos sobre as gentes do futuro CondadoPortucalense. As que se dedicavam agriculturaperceberam que perto da costa e dos rios que seencontram as melhores condies de clima para essaactividade, devido s temperaturas amenas que o marpropicia e humidade e chuva transportadas pelos ventos

    martimos que sopram quase todo o ano. Na verdade, asuperfcie do mar mantm uma temperatura normalmenteacima dos 15C, o que evita frios intensos na faixa costeira,inibidores de muitas culturas. So factos que mesmo paraa populao do arado constituram motivo de atraco pelaproximidade do mar. Este deu tambm origem a umacomunidade de pescadores que cedo descobriu aimportncia do alimento que podia retirar das guas, assimcomo motivou os mercadores a instalarem-se perto dele e,sobretudo, nas reas dos portos mais abrigados.No incio, o pequeno territrio apenas dispunha na Fozdo Douro de um porto frequentado por embarcaesprovenientes de paragens distantes, mas depois, com o

    avano da reconquista crist, as fozes do Tejo e do Sado e abaa de Lagos juntaram-se ao Douro, na mltipla funo delocais de refgio do mau tempo, fontes de apoio logsticoe entrepostos de trocas comerciais. Isto , o territrio que viria a ser Portugal e que fora referido em 561 porLucrcio, Bispo de Braga, no conclio realizado nessacidade, como no prprio extremo do mundo e nasregies mais longnquas da provncia da Hispnia, teveo seu isolamento de finisterraquebrado pelo contacto commarinheiros de outros povos que por aqui iam passando,tais como os Fencios, sobretudo no Sul, Gregos,Romanos, Normandos, rabes, Genoveses, etc. Apesar destes factores que influenciaram positivamente o

    tropismo das populaes pela faixa costeira, outracircunstncia houve que teve sinal negativo. Foi ainsegurana provocada pelas incurses de navios das maisdiversas origens, que praticavam actos violentos,aproveitando as sempre abertas portas da fachada atlntica. A atenuao desta dificuldade comeou a ser conseguidacom a reconquista crist, pela utilizao, de D. AfonsoHenriques a D. AfonsoIII, dos navios dos Cruzados queacompanharam a progresso militar portuguesa para Sul eapoiaram as conquistas de Lisboa, Alccer, Silves, etc., atao final da tomada do Algarve, em 1249. Curiosamente,

    esta conjuno de esforos, no mar e em terra, facilitou oavano mais rpido dos Cristos na faixa costeira do que nointerior da Pennsula, onde o ltimo baluarte muulmano,Crdova, s cairia 242 anos depois daquela data.Pode-se, assim, atribuir valor ao mar na gnese da Naoportuguesa pela forte atraco que exerceu sobre aspopulaes agrcolas, concentradas junto costa, pelas

    actividades de pesca e de comrcio que possibilitou, pelaquebra de isolamento que originou, pelo desenvolvimentocultural que induziu e pelo favorecimento que fez aoavano da reconquista crist.O mar ficou, pois, como marca original, gentica,indelvel, no pas acabado de criar, Portugal, referido, naexpresso feliz de Oliveira Martins, como um anfiteatrolevantado em frente do Atlntico, que uma arena. A vastido do circo desafia e provoca tentaes nosespectadores, arrastando-os afinal laboriosa empresadas navegaesPara essa empresa muitas causas podero ter contribudo,mas nenhuma ter sido, certamente, to forte como a

    localizao geogrfica, directamente apoiada na curiosidadecientfica e na coragem dos Portugueses de ento.O anfiteatro portugus, isolado no finisterrada Euro-sia,dispunha de um horizonte difcil no seu lado tardoz.Difcil pela distncia agreste a percorrer at aos principaiscentros urbanos do Continente e, mais difcil ainda,quando Europa humilhada o castelhano impe a lei coma espada e o mosquete, repetindo Oliveira Martins. Aparentemente entalados entre a espada castelhana e aparede do mar, os Portugueses no se furtaram a enfrentarcom coragem bem sucedida o ao toledano, quandonecessrio, mas, por opo estratgica, decidiram derrubaros obstculos do mar, provenientes de lendas de caudal

    crescente, desde a fonte bblica at aos fantasmas medievais,mas formados igualmente pelas barreiras da ignornciatcnica e cientfica e pelo desconhecimento do que estariapara alm do mar de que havia notcia. A parede que nos separava do mar foi tambm ajudada ademolir pelas condies meteorolgicas do nosso territrio,com realce para o regime de ventos, assim como pelacaracterstica morfologia da costa. Sem dvida que os ventos de Noroeste que na Primavera e no Vero soprambonanosos, durante a manh, e, por vezes fortes, tarde,em toda a costa continental, a conhecidanortada, so como

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    que um convite para velejar com proa nos quadrantesde Sul. como, sadas as barras dos portos, deixar-se irna corrente do vento. Se percorrermos as listas de datas delargada das expedies martimas dos nossos antepassados,ser evidente que era a partir de Maro que os navios saamem faina, barra fora.Por outro lado, a costa continental portuguesa limpa

    de baixios, batida por uma gua mexida, s vezes dura,prpria para marinheiros viris, mas tem carcter lealporque no esconde escolhos ou recifes traioeiros.Os portos e abrigos do lado Oeste no so muitonumerosos, mas a qualidade nutica do esturio do Tejoe o abrigo da baa de Lagos compensam o reduzido recorteda costa. Podemos dizer, hoje, que a orientao da costae a dos ventos, em metade do ano, as guas de fundosirrestritos e a vontade corajosa e curiosa de conquistara distncia formaram a rampa de lanamento da nossaexpanso multi-continental.Porm, a coragem de partir implicava tambm a ousadiade ser capaz de voltar. Mas, como voltar, se vinda o vento

    soprava quase sempre contrrio e, quando pudesse ser afavor, no Inverno, crescia frequentemente a tempestuoso,capaz de ensacar os navios e de os atirar para cima de terra? A curiosidade tcnica e a estrutura cientfica criada pelosPortugueses deram a resposta. Entenda-se que o marinheiro de qualquer poca , poradaptao profissional, muito curioso. A curiosidade bemmarcada quando procura nos navios e embarcaes dosoutros aquilo que diferente no seu. Ciumento do que vmelhor em navio estranho, mas orgulhoso daquilo em queo seu possa ser superior, procura apreender tantoas diferenas de material, como as tcnicas e osprocedimentos. No admira, por isso, que a frequncia dos

    nossos portos por navios estrangeiros nos tenha trazido asnovidades que iam aparecendo na construo naval, como,por exemplo, o leme central montado no cadaste, usadomuito cedo no Bltico e na China em substituio do lemede esparrela ( steering oar ), ou as velas triangulares (hojechamadas de latinas), empregues no Mediterrneo e quepermitiam aos navios de casco de boa finura, ou boarelao comprimento / boca, navegar at um ngulo limitede 40 a 50 entre o eixo do navio e a linha do vento. Eramos caravos ou caravelas (do rabe qarib). A posio de Portugal favoreceu esses contactos com

    regularidade por ser quase o promontrio finisterrada Europa, que era preciso dobrar entre o Norte e o Sul.Por outro lado, uma situao que lhe confere um climade influncia atlntica e mediterrnea, capaz deproporcionar muitas noites de cu limpo convidativasao estudo dos astros e que tem um regime de ventos que,sabiamente aproveitados, permitiu, mesmo s grandes naus

    de pano redondo, ir e voltar sempre a favor do vento.De facto, uma das grandes descobertas dos Portuguesesfoi a circulao do vento em torno dos anticiclones do Atlntico Norte e do Atlntico Sul. A Norte, era como se,por altura dos Aores, se situasse o centro de uma enormecorrente circulatria de vento no sentido dos ponteirosdo relgio que, uma vez apanhada a Norte do Equador,permitia, descrevendo uma enorme rota, quasecircunferncia, chegar a Portugal, navegando semprecom o vento nos sectores da popa dos navios.Os vastos conhecimentos cientficos e as tcnicasdesenvolvidas em vrias reas do saber, a organizaoestabelecida, ligando cientistas, financeiros, comerciantes,

    marinheiros, militares, populao e elites dirigentes, bemcomo a posio geogrfica lanaram-nos mar a dentroa descobrir os caminhos para juntar oceanos, culturase gentes. O mar da nossa geografia marcou-nos com umcarcter prprio, granjeou-nos prestgio em todo o mundo,deu-nos grandeza e algum ouro e levou o Portugus, raae lngua, a mais trs continentes fora do de bero.Curiosamente, Portugal sentiu e viveu a importncia domar de forma muito mais marcante entre duas revolues,a de 1383 e a de 1974, que claramente assinalaram as fasesde ascenso e de declnio da maritimidade portuguesa. Esta, a de profunda queda, pode encontrar uma explicao,apenas muito parcial, na independncia dos territrios

    ultramarinos de expresso portuguesa e na necessriaadeso Unio Europeia (UE). De facto, outros factores degrande importncia deveriam ter impedido uma to bruscae gravosa recesso. que, embora por motivos diferentesdos de ontem, o mar tem hoje e ter seguramenteamanh um valor de dimenso vital para o Pas, se forconvenientemente utilizado. uma mais valia assinalvel em trs aspectos: na afirmaoda identidade nacional, capaz de distinguir marcadamentea Nao portuguesa no seio de uma Europa sem fronteirase de um generalizado processo de descaracterizao de

    A IMPORTNCIA DO MAR E A LOCALIZAO DO ESPAOPORTUGUS

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    culturas; na contribuio para a economia nacional comoum dos seus pilares fundamentais; e na segurana e defesanacional, correlacionada com a dos nossos aliados.Sobre a primeira questo, interessa ter presente quea soberania tradicional do Estado-Nao portugus, talcomo de outros estados-naes, est a sofrer um aceleradoprocesso de mudana, devido transferncia para aUE

    de poderes de deciso, legislativos, judiciais e monetrios etambm por fora da inevitvel globalizao, para a qual, deresto, os Portugueses deram forte contributo ao ligarem, nosculo XVI, pela primeira vez, os oceanos. Acresce aindaa estes processos o facto de a enorme fora da informaoglobal simultnea, do turismo e das migraes, entre outrosfactores, poderem ser descaracterizadores da culturanacional. A compensao para estes processos tem de ser encontradana valorizao dos factores de identidade nacional, comrealce para a Histria, a Lngua, a Cultura e a Geografia. Em todos, note-se, est omnipresente o mar. Ele ,realmente, uma presena constante para todos os

    Portugueses que em esmagadora maioria o tm pertode casa, na faixa litoral do Continente e nas onze ilhasatlnticas e ainda o podem ver, mais a Sul, a partir doparaso ecolgico das Ilhas Selvagens. tambm o meiofsico que constitui o elo de ligao do nosso territrio,profundamente disperso num amplo tringulo atlntico. Ao mesmo tempo, confere-nos centralidade atlntica capazde compensar a posio de periferia continental eestabelece uma via de comunicao com o resto do Mundoonde se encontram muitos dos amigos e aliados, incluindo190 milhes de pessoas que falam o Portugus. O mardeve, por isso, funcionar como marcador indelvel donosso carcter, como aglutinante da nossa identidade

    colectiva e como potenciador do amor prprio e doorgulho dos Portugueses. Esta importncia, geoestratgica para o Estado e moral paraa Nao, continua-se no campo econmico pelo valoractual e potencial das riquezas que o mar contm em si epelas actividades que viabiliza, directamente, no seu espaofsico tridimensional e, indirectamente, nas proximidadesdas suas margens. Em termos genricos, o mar forma asgrandes vias de comunicao usadas pelos transportesmartimos; acolhe, nos portos, actividades comerciais,industriais e de servios muito diversificadas; origina a

    necessidade de indstrias de reparao e de construonaval e outras de tecnologia ocenica; produz, dentro de si,animais marinhos, de forma natural ou forada, usadosna alimentao; tem um fundo de onde se podem extraircombustveis fsseis e minrios de metais, como omangans, o zinco, o cobre, o cobalto, etc.; disponibiliza asua gua salgada para a produo de gua potvel e de sais

    minerais, sobretudo o cloreto de sdio; contm uma vastadiversidade de produtos genticos para uso comerciale industrial, incluindo o farmacutico; uma fonte deenergias renovveis, atravs das ondas, das correntes,das mars, do vento e da massa trmica que transporta;propicia inmeras actividades de lazer aquticas, razode ser do turismo martimo; atrai, pela sua beleza, fluxostursticos para a zona costeira e constitui, por fim,elemento de inesgotvel interesse cientfico e cultural.Portugal, Continental e Insular, porque exerce soberaniae jurisdio sobre trs enorme reas de mar que totalizam1 830 milhares de quilmetros quadrados, ou seja, vinte vezes a superfcie da sua componente terrestre, tem

    a possibilidade de desenvolver todas essas actividadeseconmicas e cientficas, embora com potenciais diversose com prazos diferenciados.De entre elas, o turismo, nas suas duas componentesde linha de costa e ocenico, apresenta, simultaneamente,o maior valor econmico actual e encerra a capacidade decrescimento mais significativa. De facto, o da faixa litoralcorresponde a 90% do total nacional e , s por si,responsvel por 10% doPIB. O turismo ocenico tem aindareduzido peso, mas pode desenvolver se fortemente, peloaproveitamento mais intenso das condies naturais e dascrescentes infra-estruturas, nas actividades de cruzeiros, vela de recreio, regatas, surf, windsurf e kite-surf , remo,

    canoagem, pesca desportiva, observao de mamferos,peixes e aves marinhas em santurios, mergulho, pescasubmarina, arqueologia turstica martima, etc. A posio geogrfica de Portugal, junto s principais rotasde navegao, entre o Norte e o Sul, o Leste e o Oeste, acaracterstica profundidade das suas guas e a ausncia deobstculos navegao nas zonas costeiras so factores quepodem contribuir para o desenvolvimento do transportemartimo e dos servios porturios, sobretudo noContinente. So, contudo, actividades que tm estado emdeclnio nas ltimas dcadas, em contra-ciclo com o que se

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    passa no mundo, apesar de a nossa costa dispor de portosmagnficos, como o de Sines, com condies para poder serum dos maiores, seno o maior da Europa, capaz deacolher os maiores navios de transporte de mercadorias.Para passageiros, existem, nas trs parcelas do territrio,infra-estruturas porturias e pontos de interesse turstico,no mar e em terra, capazes de justificarem uma forte

    actividade de visitas. Os navios de cruzeiro frequentamcada vez mais os nossos portos e correspondem a ummercado em forte expanso. Mais uma vez a posiogeogrfica foi prdiga em boas condies.Outro sector capaz de gerar riqueza o da construo e dareparao naval, tambm ele beneficiando da proximidadedas rotas de navegao e da existncia do melhor estaleirode reparaes da Europa, em Setbal, e de um bomestaleiro de construo em Viana do Castelo, para alm deoutras infra-estruturas tcnicas de menor dimenso. Estas so parte de um todo a exigir reformas deredimensionamento, de renovao tcnica e de inovaotecnolgica e cientfica.

    Os hbitos ancestrais de convivncia com o mar fizeramdos Portugueses grandes apreciadores de peixe, de talforma que o seu consumo cerca de o triplo da mdia, per capita, naUE. Contudo, o excesso de capturas praticadonas nossa guas, sobretudo num passado recente, levou diminuio das populaes pisccolas e consequentereduo das capturas. Por isso, Portugal importa mais demetade do peixe que consome. previsvel que as medidasrestritivas da pesca possam ajudar a recuperar a faunamartima, nalguma medida. No entanto, no campoda aquacultura que reside a possibilidade de um aumentosustentado da produo de peixe.O fundo dos mares portugueses no parece ser rico em

    hidrocarbonetos, pelo menos a fazer f na prospecoe pesquisa petrolferas feitas at hoje. Estas investigaesconfirmam a existncia de petrleo, mas nunca foramidentificadas quantidades que justificassem a suaexplorao. No entanto, as condies naturais do nossomar fazem admitir a probabilidade de se encontraremsignificativas quantidades de hidratos de metano, sobretudoa partir dos 1 000 metros de profundidade. Entre as energias renovveis susceptveis de seremaproveitadas por ns, a das ondas a de maior potencial,face contnua agitao na costa ocidental do Continente

    e da generalidade do mar das Ilhas. um recursoprospectivo da ordem dos 15GW/ano, no Continente e decerca de 6GW/ano, nos Arquiplagos, com interessecrescente, que est a ser objecto de investigao cientficacom boas esperanas.Os oceanos, incluindo a parte que nos respeita, tm umaenorme potencialidade para a biotecnologia, ou seja, a

    utilizao de organismos vivos para produzir ou modificarprodutos, nomeadamente, microorganismos para finsespecficos. Trata-se de um vasto acervo de substncias eprodutos para uso em medicina, agricultura, aquacultura,saneamento, etc., que encontram nas fontes termais deprofundidade locais privilegiados para a sua obteno. Assim, tambm na rea da produo de riqueza, o marconstitui uma impressionante fonte de recursos naturaispara o Pas, certamente a mais importante de todas. A suaexplorao requer uma viso integradora que percorratransversalmente todas as actividades, a articular num verdadeiro cluster . um forte desafio para o futuro,a encarar como as Novas Descobertas, pelas geraes

    de hoje.Trata-se, contudo, de um repto que exige, desde o incio,a satisfao de um pressuposto essencial, traduzidona imperativa gesto integrada do Oceano de formaecologicamente sustentvel. , de facto, uma condio quea no ser convenientemente entendida e praticada comrigor por todos os agentes, pblicos e privados, comcapacidade de interveno no sistema martimo, conduziriano s impossibilidade de desenvolvimento da economiamartima, como tornaria invivel a que j existe.Na verdade, no imaginvel incrementar, nem sequermanter, o turismo de cariz martimo, a produo pisccola,a extraco de produtos de biotecnologia e a qualidade de

    vida nas zonas costeiras, se o ecossistema marinho no forbem preservado. E h at que contar, neste aspecto, com o vcio adquirido pela nossa populao, ao longo de geraes,de lanar no mar os subprodutos da sua actividade,habituada grande capacidade de assimilao das profundase dinmicas guas do Oceano que a posio geogrficade Portugal nos ps porta. Este mau hbito, a presso urbana, o desenvolvimentodas infra-estruturas da orla costeira e o funcionamentodas indstrias martimas colocam cada vez mais exignciase dificuldades manuteno da linha de costa e do Oceano,

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    que j vtima, em termos de sade e de produtividade, deprticas passadas pouco cuidadosas, no planeadas, nointegradas, nem cientificamente investigadas. Estas soprecaues a tomar para no seguirmos o exemplo negativode muitas partes do mundo, envolvidas numa espiraldescendente de degradao do mar. A investigao e as cincias do mar so essenciais

    proteco ambiental do oceano e tornam-se igualmenteindispensveis explorao econmica e ao seu uso parafins de segurana e de defesa. uma necessidade evidente,se atentarmos na circunstncia de o oceano continuar a serrazoavelmente desconhecido, apesar de usado desde longadata. Faz-se mesmo a comparao dos 5% a 7% do fundodos oceanos cobertos por imagens pticas ou acsticas como disponvel conhecimento integral da superfcie da LuaHoje, tal como no passado histrico, no pode haverinvestigao cientfica nem desenvolvimento daseconomias baseadas no ambiente marinho sem liberdadedo uso do mar e sem a interdio desse espao a actividadescondenadas pela lei internacional. Para isso, cada estado

    costeiro de per siestende a autoridade soberana, ou apenasa jurisdio, as reas da sua competncia, da mesma formaque os estados, enquanto comunidade global, procuram velar pelo cumprimento da lei internacional no alto mar,ou seja, no grande espao no sujeito a qualquer vnculode um s estado. Alm disso, o mar pode tambm ser palcode conflitos violentos entre estados, originados por disputasde interesses cujo objecto tanto pode radicar nele comoem terra. Existe, pois, a necessidade de os estados costeirospreservarem a sua segurana e defesa contra riscose ameaas configurveis no mar. Aqueles e estas tm, comos tempos, vindo a tornar-se mais amplos, imprevisveis

    e intensos, mesmo fora dos quadros de conflito, como, porexemplo, o terrorismo, a pirataria, o trfico de armas, dedrogas e de pessoas, a imigrao clandestina, o derrameacidental ou intencional de substncias perigosas, etc.Tambm as ameaas clssicas impem a necessidade deserem dissuadidas ou contrariadas pela fora, o que leva osestados a considerarem, isoladamente ou em alianas,o estabelecimento de uma componente martima da suadefesa.

    Portugal no pode constituir excepo, por ser um estadosoberano, quase arquipelgico, detentor de vastas reasmartimas de grande importncia geoestratgica eeconmica e ainda por ter a responsabilidade de uma longalinha de fronteira martima daUE. Precisa, por isso,de exercer autoridade no mar, em misses de paz dirias,fazendo cumprir a sua lei e tambm a internacional, e de

    proteger os utilizadores do mar dos efeitos agressivos doambiente marinho, assim como tem necessidade de estarpreparado para, isoladamente, ou como membro dasalianas que integra, defender os interesses que lhe soprprios, dentro das suas alargadas fronteiras de defesa. Ao seguir-se, assim, o percurso histrico de Portugal,desenhado a partir da posio geogrfica de finisterra, verificamos que o mar esteve presente, de forma marcante,na estruturao inicial do pas, como elemento aglutinantedas suas gentes, como meio de rotura do isolamentocomercial e tcnico-cientfico a que a geografia continentalo obrigava e como factor de mais valias estratgicasda reconquista crist. Depois, a posio de frente atlntica

    do territrio, a morfologia da costa, a opo estratgica domar, a sabedoria, a organizao e a coragem das suas gentesconstituram a plataforma de lanamento para a gestados descobrimentos. O Mar, transformado por ns emOceano, foi caminho de expanso, de encontro de culturase de engrandecimento do Povo que no quis caberno bero em que nasceu.Hoje, o Mar-Oceano assume nova importncia vital paraa Nao ao oferecer-lhe a marca de identidade que adistingue numa regio e num mundo em homogeneizaoe ao proporcionar-lhe recursos econmicos inesgotveis.O Mar foi, e ser generoso para os Portugueses, masexige deles uma contrapartida importante. A de ser

    protegido contra novas e velhas ameaas, provenientes querde prevaricadores compulsivos, quer de cidados ignorantesdo ambiente.Foi nessa linha de rumo que o Mar da nossa geografialigou o passado de Portugal ao seu presente e vai, se nsquisermos, ser a ponte ocenica para um futuro de boaesperana.

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    UM PAS DE REA REPARTIDA

    Portugal, finisterra a sudoeste do continente euro-asitico, deve sua

    posio os traos que mais o distinguem na Pennsula Ibrica, ondeest inserido e de que parte integrante, pelas suas estruturas geolgicae oro-hidrogrfica. O mar, que o enfrenta a Oeste e a Sul, serviu-lhesempre de via de ligao humana e de comrcio, primeiro com o ocideneuropeu, sculos depois na sua expanso pelos Novos Mundos, aventuraem que foi pioneiro e de que restam, ainda, na sua soberania, osarquiplagos dos Aores e da Madeira. A grande parcela do territrioportugus, no canto sudoeste da Europa, bem, como dizia OrlandoRibeiro, mediterrnea por natureza, atlntica por posio. Mas o Pasno se confina a estes escassos 89 000km2: prolonga-se por cercade 1 100 milhas para ocidente e um total de mais de 3 000km2,diferentemente repartidos pelas nove ilhas aorianas e pelas duasprincipais madeirenses (nicas habitadas), o que confere toda alegitimidade expresso de Adriano Moreira ao falar da maritimidadee continentalidade de Portugal.

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    APRESENTAO 17

    UM PAS DE REA REPARTIDA 19 A IMPORTNCIA DO MAR E A LOCALIZAO DO ESPAO PORTUGUS 20

    O MAR QUE NOS ENVOLVE 25 A MORFOLOGIA DOS FUNDOS 25

    CORRENTES OCENICAS 26

    O MAR E A ATMOSFERA 28

    VARIAES DE TEMPERATURA 29

    A TERRA QUE HABITAMOS 36UNIDADES MORFOESTRUTURAIS 38 EVOLUO GEOLGICA DO OESTE PENINSULAR 38O RELEVO DO CONTINENTE 43FISIONOMIA DAS REGIES AUTNOMAS 43

    CLIMA E SUAS INFLUNCIAS 50 ELEMENTOS CLIMTICOS 50 A IRREGULARIDADE DO TEMPO NO CONTINENTE 54 AS ONDAS DE CALOR 59O CLIMA DAS ILHAS 59 A REDE HIDROGRFICA 61OS SOLOS 64 A VEGETAO NATURAL 65

    TIPOS DE PAISAGEM 66DIVERSIDADE E GRUPOS DE PAISAGEM 66 REAS PROTEGIDAS 70 AS ILHAS 73REDE NATURA 2000 77 REAS DE PROTECO DE AVIFAUNA 77

    OS HOMENS E O MEIO 80TERRITRIO, SUPORTE DAS GENTES 82

    A POPULAO 86 EVOLUO RECENTE 86UMA DISTRIBUIO DESIGUAL 86BAIXOS NVEIS DE NATALIDADE E FORTES SALDOS

    MIGRATRIOS 93UM ENVELHECIMENTO PROGRESSIVO 93 A EMERGNCIA DE NOVOS COMPORTAMENTOS 93 EDUCAO 94

    TERRA DE MIGRAES 98 A EMIGRAO 98O REGRESSO 100 A IMIGRAO 102

    UMA POPULAOQUE SE URBANIZA 104UMA LEITURA CLSSICA DO SISTEMA URBANO

    NACIONAL 104UMA AVALIAO RECENTE 106

    MUDANAS RECENTES 110LISBOA E PORTO COMO REFERNCIAS 110PRODUZIR CIDADE 111

    COMUNICAES E MOBILIDADEDA POPULAO 120REDES DE COMUNICAO 120SISTEMA DE TRANSPORTES 123

    NDICE

    http://atlas-1.pdf/http://atlas-1.pdf/http://atlas-1.pdf/http://atlas-1.pdf/http://atlas-2.pdf/http://atlas-2.pdf/http://atlas-2.pdf/http://atlas-2.pdf/http://atlas-2.pdf/http://atlas-3.pdf/http://atlas-3.pdf/http://atlas-3.pdf/http://atlas-3.pdf/http://atlas-3.pdf/http://atlas-4.pdf/http://atlas-4.pdf/http://atlas-4.pdf/http://atlas-4.pdf/http://atlas-4.pdf/http://atlas-4.pdf/http://atlas-4.pdf/http://atlas-4.pdf/http://atlas-5.pdf/http://atlas-5.pdf/http://atlas-5.pdf/http://atlas-5.pdf/http://atlas-5.pdf/http://atlas-5.pdf/http://atlas-6.pdf/http://atlas-6.pdf/http://atlas-6.pdf/http://atlas-6.pdf/http://atlas-6.pdf/http://atlas-6.pdf/http://atlas-6.pdf/http://atlas-6.pdf/http://atlas-6.pdf/http://atlas-6.pdf/http://atlas-7.pdf/http://atlas-7.pdf/http://atlas-7.pdf/http://atlas-7.pdf/http://atlas-8.pdf/http://atlas-8.pdf/http://atlas-8.pdf/http://atlas-8.pdf/http://atlas-8.pdf/http://atlas-8.pdf/http://atlas-8.pdf/http://atlas-8.pdf/http://atlas-9.pdf/http://atlas-9.pdf/http://atlas-9.pdf/http://atlas-9.pdf/http://atlas-9.pdf/http://atlas-9.pdf/http://atlas-9.pdf/http://atlas-8.pdf/http://atlas-8.pdf/http://atlas-8.pdf/http://atlas-8.pdf/http://atlas-8.pdf/http://atlas-8.pdf/http://atlas-7.pdf/http://atlas-7.pdf/http://atlas-7.pdf/http://atlas-7.pdf/http://atlas-6.pdf/http://atlas-6.pdf/http://atlas-6.pdf/http://atlas-6.pdf/http://atlas-6.pdf/http://atlas-6.pdf/http://atlas-6.pdf/http://atlas-6.pdf/http://atlas-6.pdf/http://atlas-5.pdf/http://atlas-5.pdf/http://atlas-5.pdf/http://atlas-5.pdf/http://atlas-5.pdf/http://atlas-5.pdf/http://atlas-4.pdf/http://atlas-4.pdf/http://atlas-4.pdf/http://atlas-4.pdf/http://atlas-4.pdf/http://atlas-4.pdf/http://atlas-4.pdf/http://atlas-4.pdf/http://atlas-3.pdf/http://atlas-3.pdf/http://atlas-3.pdf/http://atlas-3.pdf/http://atlas-3.pdf/http://atlas-2.pdf/http://atlas-2.pdf/http://atlas-2.pdf/http://atlas-2.pdf/http://atlas-2.pdf/http://atlas-1.pdf/http://atlas-1.pdf/http://atlas-1.pdf/
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    O PAS SOCIOECONMICO 130 ECONOMIA PORTUGUESA: ARTICULAO DIFCIL ENTRE MUDANAS INTERNAS E AS EXIGNCIAS COMPETITIVAS 132

    ACTIVIDADES DA TERRA 138 A AGRICULTURA 139 AGRICULTURA EM MODO DE PRODUO BIOLGICO145PECURIA 145ORGANIZAO DO TRABALHO 149PRODUTOS TRADICIONAIS 150

    A FLORESTA 154 A CAA 162 A EXPLORAO DOS RECURSOS EXTRACTVEIS 164

    RECURSOS VIVOS MARINHOS 168UM SECTOR ESTRATGICO 168O SECTOR DAS PESCAS 172

    ECONOMIA E DESENVOLVIMENTOREGIONAL 176CRESCIMENTO ECONMICO 176OS SECTORES DE ACTIVIDADE E A DIFERENCIAO

    REGIONAL 177

    MERCADO EXTERNO E COMPETITIVIDADE 183 A COESO SOCIAL 186O DESENVOLVIMENTO HUMANO 189

    TEMPO DE TURISMO 190O TURISMO BALNEAR 191NOVOS PRODUTOS 192UM SECTOR ESTRATGICO DE FUTURO 195

    POLTICAS DO TERRITRIO 198 A ADMINISTRAO 198O PLANEAMENTO 202 A QUALIFICAO E O DESENVOLVIMENTO

    SUSTENTVEL 204

    PORTUGAL NUM MUNDODE RELAO 210 A LNGUA PORTUGUESA: UM TRAO DE UNIO RODA DO MUNDO 212

    COMUNIDADES PORTUGUESAS216TESTEMUNHOS DE UM PASSADO LONGNQUO 216 EVIDNCIAS CULTURAIS DE HOJE 217

    IDENTIDADE E CULTURA EM TEMPOS DE MUDANA 222RIQUEZA E DIVERSIDADE DE CULTURAS 222FRONTEIRAS DE UM PORTUGAL CULTURAL 223 ACTUAL SUPORTE CULTURA 223

    PORTUGAL NA UNIO EUROPEIA 228PORTUGAL NA EUROPA 229 A INTEGRAO DA EUROPA 229TRANSFORMAES NA UE-15 230PRIORIDADES SOCIAIS DA UE 230DESENVOLVIMENTO TECNOLGICO

    E NVEL DE VIDA 231 ENERGIA: A MAIOR FRAGILIDADE DA UE 232PRESIDNCIA PORTUGUESA NA UE 233

    O ALARGAMENTO DA UE 234UMA CONSTITUIO PARA A EUROPA 235

    O ATLAS E O POSICIONAMENTO ESTRATGICODE PORTUGAL 236

    ANEXOS 239PLANTAS ESPONTNEAS, SUBESPONTNEAS

    E ORNAMENTAIS MAIS COMUNS EM PORTUGAL240CARTA DE PORTUGAL CONTINENTAL ESCALA 1: 550 000

    CARTA DAS REGIES AUTNOMAS DOS AORES E DA MADEIRA ESCALA 1: 200 000 242

    NDICE ONOMSTICO 260

    DIVISO ADMINISTRATIVA POR CONCELHOS 268NOTAS BIOGRFICAS DOS AUTORES 272BIBLIOGRAFIA 273CRDITOS 274

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    28 ATLAS DE PORTUGALIGP

    Henrique Souto

    O MAR QUE NOS ENVOLVE

    D

    M

    MC

    A

    Morfologia dos fundos do Oceano Atlntico Norte

    A AORESM MADEIRAMC MARGEM CONTINENTAL PORTUGUESAD DORSAL MDIO-ATLNTICA

    A morfologia dos fundos

    As dorsais mdio-ocenicas (como a Atlntica) correspon-dem aos locais a partir dos quais os fundos ocenicos se propa-gam, pela injeco de material magmtico (da serem ssmica e vulcanicamente activas), resultando elevaes baslticas que ori-ginaram ilhas. Atravessadas por falhas transversais, ditas trans-formantes, estas regies so, do ponto de vista geolgico, extre-mamente complexas.

    Na imagem que configura o fundo do oceano AtlnticoNorte destaca-se a dorsal mdio-atlntica (D) e respectivasfalhas; na rea que interessa a Portugal, o arquiplago dos Aores ( A ) na microplaca homnima, que se localiza na junodas placas Norte-Americana, Euroasitica e Africana, o arquip-

    lago da Madeira (M) na placa Africana e a Margem ContinentalPortuguesa (MC). So igualmente visveis vrias formas subma-rinas, como bacias (plancies abissais) e montes (bancos). Asilhas que constituem os arquiplagos dos Aores e da Madeira,de origem vulcnica, mas formadas em diferentes pocas, sofre-ram aos longo dos tempos (e os Aores ainda sofrem) vriosfenmenos de sismicidade e de vulcanismo; foram formadas eerodidas, passaram por perodos de transgresso e de regressomarinha... A batimetria junto aos arquiplagos vigorosa, pas-sando-se rapidamente para grandes profundidades.

    A topografia do fundo do Arquiplago dos Aores extre-mamente complexa. Assente num planalto com uma profundi-

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    UM PAS DE REA REPARTIDA O mar que nos envolve

    dade mdia de -1 500m, sobre o qual se formaram as ilhas, possvel encontrar nesta rea fossas profundas e montes (bancos)a pouca profundidade. Entre as primeiras merece destaque afossa Hirondelle, com mais de 3 000m de profundidade; de entreos segundos, merecem destaque o Banco D. Joo de Castro,entre as ilhas de So Miguel e da Terceira, e os Bancos Aor ePrincesa Alice, a sudoeste da Ilha do Pico.

    Ao invs, os fundos ocenicos junto ao continente portugusrevelam a sua origem continental, pois que o contacto entre ascrostas de origem ocenica e continental se faz ao largo e no junto linha de costa, num domnio designado por margemcontinental; no caso portugus, esta margem de tipo passivo. Apresenta a configurao normal, ou seja, uma plataformacontinental de declive suave (at aos 200m de profundidade),seguindo-se-lhe a vertente continental, de declive maisacentuado, que liga a primeira aos grandes fundos ocenicos.

    A plataforma continental portuguesa estreita e cindida pordiversos vales e canhes submarinos, dos quais se destacam oscanhes da Nazar, do Tejo (Lisboa) e do Sado (Setbal). Otalude continental, que liga a plataforma s plancies abissaisapresenta declives variveis, sendo mais vigorosos entre o Valede Aveiro e o Canho da Nazar e mais suaves no esporo da Estremadura. O sop do talude continental corresponde a umarea de acumulao de sedimentos, essencialmente de origemterrgena, que faz a ligao s grandes plancies abissais,localizadas a mais de 2 000m de profundidade, ou a sistemasmais complexos, como o do Banco Gorringe.

    Correntes ocenicas A circulao das massas de gua superficiais no Oceano

    Atlntico Norte dominada por um largo giro (com aproxima-damente 1 000km de dimetro e que roda no sentido dosponteiros do relgio). Para os territrios nacionais a circulao anorte do referido giro a mais importante. Nela esto contidos: A Corrente do Golfo (CG)

    A CG uma das mais fortes correntes ocenicas (atinge velo-cidades da ordem dos 2,5m/s, transporta at 150Sv e tem umalargura superior a 200km); transfere calor das regies tropicais,mais quentes, para as latitudes mais altas. Esta corrente temincio no Golfo do Mxico, desloca-se ao longo da costa lestedos Estados Unidos at Baa de Chesapeake, de onde partepara o interior do Atlntico at atingir as ilhas britnicas. Emboraperca naturalmente calor na sua viagem, ainda conserva osuficiente para moderar o clima do Norte da Europa (razo porque, mesma latitude, a costa norte-americana apresenta sem-pre valores da temperatura do ar inferiores s registadas nasregies europeias mais prximas do oceano). A CG vai-se divi-dindo em vrios ramos, dando origem, entre outras, Correntedo Atlntico Norte, deriva do Atlntico Norte (que se dis-tribui entre as latitudes 50 e 64N e que no tem nenhuminfluncia nos territrios portugueses) e Corrente dos Aores.

    Correntes de superfcie no Oceano Atlntico Norte

    CG

    SCP

    CC

    CA

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    UM PAS DE REA REPARTIDA O mar que nos envolve

    1. Afloramentos rochosos na costa Norte da ilha da MadeiraSonografia (imagem acstica) obtida com um sonar de varrimentolateral, a 400kHz, na costa Norte da ilha da Madeira, na qual possvel observar afloramentos rochosos com vrios metros dealtura, tpicos de zonas de origem vulcnica.

    2. Sedimentos na costa Norte da ilha da MadeiraSonografia (imagem acstica) obtida com um sonar de varrimentolateral, a 400kHz, na costa Norte da ilha da Madeira. A imagemcorresponde a uma zona aplanada onde se observam manchas maisescuras, correspondentes a depsitos de sedimento fino, que cobremparcialmente o fundo de areia grosseira. A areia apresenta fissurassedimentares que se desenvolvem transversalmente corrente,indicadoras de transporte pelo fundo, designadasripples.

    3. Perfil da costa Sul da ilha da MadeiraPerfil de reflexo ssmica de elevada resoluo obtido na costa Sul dailha da Madeira com um sistema tipo sparker . A cobertura sedimentar,onde se pode observar uma sequncia progadante, assenta sobre umasuperfcie rochosa, aplanada durante a subida do nvel do mar.

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    UM PAS DE REA REPARTIDA O mar que nos envolve

    Batimetria do Oceano Atlntico Norte na zona do mar portugus

    Corrente dos Aores (CA) A CA tem origem num ramo da Corrente do Golfo, na reados Grandes Bancos (40N, 45W). Supe-se que no Invernoesta corrente consiste num fluxo nico, enquanto no Vero sesubdivide em dois ramos: o mais setentrional desloca-se directa-mente para a regio dos Aores enquanto o mais meridionalcontorna o arquiplago pelo sudoeste, vindo a juntar-se, a suldeste, com o ramo norte.

    Muito complexa e varivel, aCA tem uma largura de cercade 150km e 1 000m de profundidade. Caracteriza-se tambmpor possuir grandes gradientes termohalinos (isto , bruscas variaes da temperatura e da salinidade). Calcula-se que ofluxo da corrente principal seja da ordem dos 10 a 12Sv.

    Corrente das Canrias (CC) A CC flui ao longo da costa africana de Norte para Sul entre30 e 10 de latitude Norte e, para o largo, at 20 de longitudeOeste, influenciando as guas do arquiplago da Madeira. umacorrente larga (cerca de 1 000km), lenta (10 a 30cm/s), de guasrelativamente frias e com uma profundidade de cerca de 500m.

    A CC d origem a uma corrente de ressurgncia (upwelling)costeira.Sistema de Correntes de Portugal (SCP)

    O SCP caracterizado, genericamente, por um fluxo desentido Norte-Sul, desde os 46 e os 36 de latitude Norte e,

    para o largo, at aos 24 de longitude Oeste. um sistema com-plexo e de difcil definio espacial, devido s interaces entrecorrentes costeiras e do largo, batimetria e massas de gua.

    Constitudo por vrias correntes (a Corrente de Portugal, aCorrente Costeira de Portugal e a Contracorrente Costeira dePortugal), oSCP dominado pelo giro do Atlntico Norte, quese caracteriza por ser uma regio de circulao lenta entre aCorrente do Atlntico Norte e a Corrente dos Aores.

    A Corrente de Portugal propriamente dita marca,grosseiramente, o limite norte da Corrente das Canrias etem uma largura estimada de 300km. Transporta cerca de2Sv a uma velocidade mdia de 1,6cm/s.

    O mar e a atmosfera

    Dada a sua posio em latitude, o territrio portugus influenciado no Inverno pelas massas de ar hmidas que atra- vessam o Atlntico em conformidade com a circulao geral daatmosfera, de oeste para leste; no Vero, a subida para norte doanticiclone dos Aores funciona como obstculo penetraodas referidas massas de ar no territrio nacional, tornando otempo quente e seco; as estaes de transio (Primavera eOutono) alternam os estados de tempo, ora com dias quentes

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    UM PAS DE REA REPARTIDA O mar que nos envolve

    Batimetria do Canho da Nazar A imagem do Canho da Nazar foi obtida atravs de um sistemamultifeixes de modo a mostrar a morfologia detalhada do canho nos seusprimeiros 5km at uma profundidade de 330m. A imagem foi obtida peloInstituto Hidrogrfico no mbito do Projecto SECNA (Estudo Morfo-dinmico da Cabea do Canho da Nazar) com uma ecosonda de feixesmltiplos SIMRAD EM 950 instalada no UAM Coral. O sistema possuiuma largura de feixe de 3.3x 3.3 e um total de 60 feixes, com um ngulode cobertura de 130. A rea coberta de aproximadamente 15km2.Cdigo colorido de 0 a 330m. Grelha de resoluo de 3m.

    Escala vertical exagerada 3 vezes.

    Corrente do Golfo A imagem, obtida por infravermelhos num dia sem nuvens, mostra atemperatura das guas, sendo as de cor prpura as mais frias (cerca de7C), seguindo-se-lhe, por ordem de temperatura, o azul, o verde, oamarelo e o vermelho (representando esta cor temperaturas da ordem dos22C). Na imagem so visveis movimentos giratrios de guas quentes( eddies ) no sentido dos ponteiros do relgio. Estes movimentos aumentamas trocas de calor e de gua entre as zonas costeiras e o largo.

    e secos ora com dias chuvosos e com muito vento. O estadodo mar acompanha de perto o estado da atmosfera, mas comnuanceslocais e regionais importantes.

    Na costa ocidental (entre o rio Minho e o Cabo de So Vicente) ocorrem, em cerca de 80% do ano, situaes com vagaassociada aos ventos de norte e de noroeste, o que no Veroocasiona o regime de nortada, com importante variao diurna(maiores alturas e perodos para o fim da tarde) enquanto todasas reas abrigadas de noroeste tm estados de mar muito calmos,razo por que todos os portos da costa ocidental esto protegidosdeste quadrante. No Inverno e nas estaes de transio so,porm, comuns situaes de mar de sudoeste associadas adepresses ou superfcies frontais que originam reas de geraode sudoeste, o que torna a entrada e a sada dos portos difcil, por vezes durante vrios dias. Todavia, para a navegao a maiorlimitao a ocorrncia de temporais de oeste, no Inverno, o

    que ocasiona o encerramento da maioria dos portos: associada descida em latitude de frentes polares, origina ondulao forte deoeste (at 8m de altura) e persiste durante 8 ou mais dias.

    Na costa sul (do Cabo de So Vicente ao rio Guadiana),dada a sua orientao Oeste/Este e a sua menor latitude, o mar mais calmo e apresenta em mais de 70% do ano ondas dealtura inferior a 1m. Na maior parte do ano, a costa algarviaapresenta o designado mar de brisa, gerado localmente e commarcada periodicidade diurna: de manh o mar apresenta-seencrespado de sudoeste e pequena vaga (0,5m), rodando como vento para norte e tornando-se para o fim da tarde de cerca

    de 1m de altura, para depois cair at de madrugada. Na costaalgarvia, as situaes mais problemticas para a navegaoprendem-se com o mar de levante, quando o vento sopra desudeste e a altura das ondas chega a ultrapassar os 3m; o ventoe a vaga associados a esta situao aparecem em poucas horas eso provenientes do estreito de Gibraltar. Para alm dassituaes de Levante, tambm a ocorrncia de nortadasorigina problemas navegao pois d origem a alturas de ondacrescentes com a distncia a terra (0,5m a 5 milhas da costa e1,5m a 20 milhas). As situaes associadas a temporal de oeste,na costa ocidental, originam na costa sul agitao martima desudoeste, com 2 a 3m de altura, a qual diminui para sotavento.

    Variaes de temperatura

    A temperatura da gua de superfcie apresenta uma variaolatitudinal normal, isto , com a diminuio da temperatura desul para norte: no Inverno, entre os 15-16C na costa sul e os12-13 nas guas mais setentrionais; no Vero, entre os 20-21do sul e os 17-18 C do norte. Este padro geral , no entanto,complicado quando ocorrem ventos de nortada, situao emque a temperatura das guas junto costa diminui, comoconsequncia do ressurgimento (upwelling) de guas maisprofundas, e mais frias, que compensam o deslocamento paraoeste das guas superficiais. Pode esperar-se uma diminuio de2 a 3C na temperatura das guas.

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    Perfis orobatimtricos da costa portuguesa

    Este ressurgimento de guas, por trazer para a superfcieguas mais ricas em nutrientes, potencia a produtividadeprimria das guas (aumenta a biomassa de fitoplncton), comreflexos em toda a cadeia alimentar.

    Inversamente, pode ocorrer um aumento de 1 a 2Cquando ocorrem ventos fortes dos quadrantes de sudoeste, coma consequente deriva para a zona costeira de guas mais quentes.

    As caractersticas das guas marinhas condicionam a ocorrn-cia da vida no oceano, nomeadamente os nveis de luminosidade(e respectivo fotoperodo), a temperatura e a disponibilidade de

    nutrientes nas guas superficiais. Dependente da fotossntese,como sobre os continentes, a elaborao de matria orgnicapelos organismos produtores (no caso dos oceanos,essencialmente o fitoplncton) tem caractersticasmarcadamente estacionais, com um pico na Primavera. A uma maior biomassa destes organismos corresponder maiszooplncton, e, consequentemente, maior quantidade depeixes planctfagos, como os pequenos pelgicos como asardinha (Sardina pilchardus), repercutindo-se, assim, na maiorou menor biomassa passvel de ser explorada pela pesca.

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    Perfil NE-SW

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    Perfil NE-SW

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    m

    Costa alentejana Banco Gorringe

    Serra da Arrbida Canho de Setbal

    Nazar Canho da Nazar

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    DezNovOutSetAgoJulJunMaiAbrMarFevJan

    %

    1,49 0,362,13

    16,16

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    39,7938,73

    21,11

    5,40 6,55

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    DezNovOutSetAgoJulJunMaiAbrMarFevJan

    10,41

    2,35

    11,34

    31,84

    24,76

    42,66

    49,6752,98

    37,46

    21,6423,04

    14,38

    %

    DezNovOutSetAgoJulJunMaiAbrMarFevJan

    %

    40,0033,88

    57,8169,01

    81,5689,1992,64

    95,82

    85,50

    64,4869,43

    34,93

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    Leixes

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    Peniche

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    Praia da Rocha

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    Cabo de S . Maria

    D e z e m

    b r o

    N o v e m

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    O u t u b r o

    S e t e m

    b r o

    A g o s t o

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    J u n

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    F e v e r e

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    J a n e

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    Santa Marta

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    15o

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    Sines

    Leixes

    Peniche

    Santa Marta

    Sines

    Praia da Rocha

    Cabo de Santa Maria

    Temperatura mdia mensal da guado mar superfcie, s 09h00 TU Altura das ondas inferior a 1mCosta Ocidental

    Zona da foz do rio Minho ao Cabo RasoOcorrncia nos diferentes meses; registos: Cabo da Roca,1976/1980

    Costa OcidentalZona do Cabo Espichel ao Cabo de So VicenteOcorrncia nos diferentes meses; registos: Sines, 1974/1980

    Costa SulZona do Cabo de Sagres foz do Rio GuadianaOcorrncia nos diferentes meses; registos: Faro, 1976/1980

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    Florao de fitoplncton ao largo de PortugalNa imagem visvel uma florao fitoplanctnica (bloom) ao largo da costa de Portugal; estas floraesocorrem com mais frequncia no incio da Primavera.Observao no dia 23 de Abril 2002.

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    APRESENTAO 17

    UM PAS DE REA REPARTIDA 19 A IMPORTNCIA DO MAR E A LOCALIZAO DO ESPAO PORTUGUS 20

    O MAR QUE NOS ENVOLVE 25 A MORFOLOGIA DOS FUNDOS 25

    CORRENTES OCENICAS 26

    O MAR E A ATMOSFERA 28

    VARIAES DE TEMPERATURA 29

    A TERRA QUE HABITAMOS 36UNIDADES MORFOESTRUTURAIS 38 EVOLUO GEOLGICA DO OESTE PENINSULAR 38O RELEVO DO CONTINENTE 43FISIONOMIA DAS REGIES AUTNOMAS 43

    CLIMA E SUAS INFLUNCIAS 50 ELEMENTOS CLIMTICOS 50 A IRREGULARIDADE DO TEMPO NO CONTINENTE 54 AS ONDAS DE CALOR 59O CLIMA DAS ILHAS 59 A REDE HIDROGRFICA 61OS SOLOS 64 A VEGETAO NATURAL 65

    TIPOS DE PAISAGEM 66DIVERSIDADE E GRUPOS DE PAISAGEM 66 REAS PROTEGIDAS 70 AS ILHAS 73REDE NATURA 2000 77 REAS DE PROTECO DE AVIFAUNA 77

    OS HOMENS E O MEIO 80TERRITRIO, SUPORTE DAS GENTES 82

    A POPULAO 86 EVOLUO RECENTE 86UMA DISTRIBUIO DESIGUAL 86BAIXOS NVEIS DE NATALIDADE E FORTES SALDOS

    MIGRATRIOS 93UM ENVELHECIMENTO PROGRESSIVO 93 A EMERGNCIA DE NOVOS COMPORTAMENTOS 93 EDUCAO 94

    TERRA DE MIGRAES 98 A EMIGRAO 98O REGRESSO 100 A IMIGRAO 102

    UMA POPULAOQUE SE URBANIZA 104UMA LEITURA CLSSICA DO SISTEMA URBANO

    NACIONAL 104UMA AVALIAO RECENTE 106

    MUDANAS RECENTES 110LISBOA E PORTO COMO REFERNCIAS 110PRODUZIR CIDADE 111

    COMUNICAES E MOBILIDADEDA POPULAO 120REDES DE COMUNICAO 120SISTEMA DE TRANSPORTES 123

    NDICE

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    O PAS SOCIOECONMICO 130 ECONOMIA PORTUGUESA: ARTICULAO DIFCIL ENTRE MUDANAS INTERNAS E AS EXIGNCIAS COMPETITIVAS 132

    ACTIVIDADES DA TERRA 138 A AGRICULTURA 139 AGRICULTURA EM MODO DE PRODUO BIOLGICO145PECURIA 145ORGANIZAO DO TRABALHO 149PRODUTOS TRADICIONAIS 150

    A FLORESTA 154 A CAA 162 A EXPLORAO DOS RECURSOS EXTRACTVEIS 164

    RECURSOS VIVOS MARINHOS 168UM SECTOR ESTRATGICO 168O SECTOR DAS PESCAS 172

    ECONOMIA E DESENVOLVIMENTOREGIONAL 176CRESCIMENTO ECONMICO 176OS SECTORES DE ACTIVIDADE E A DIFERENCIAO

    REGIONAL 177

    MERCADO EXTERNO E COMPETITIVIDADE 183 A COESO SOCIAL 186O DESENVOLVIMENTO HUMANO 189

    TEMPO DE TURISMO 190O TURISMO BALNEAR 191NOVOS PRODUTOS 192UM SECTOR ESTRATGICO DE FUTURO 195

    POLTICAS DO TERRITRIO 198 A ADMINISTRAO 198O PLANEAMENTO 202 A QUALIFICAO E O DESENVOLVIMENTO

    SUSTENTVEL 204

    PORTUGAL NUM MUNDODE RELAO 210 A LNGUA PORTUGUESA: UM TRAO DE UNIO RODA DO MUNDO 212

    COMUNIDADES PORTUGUESAS216TESTEMUNHOS DE UM PASSADO LONGNQUO 216 EVIDNCIAS CULTURAIS DE HOJE 217

    IDENTIDADE E CULTURA EM TEMPOS DE MUDANA 222RIQUEZA E DIVERSIDADE DE CULTURAS 222FRONTEIRAS DE UM PORTUGAL CULTURAL 223 ACTUAL SUPORTE CULTURA 223

    PORTUGAL NA UNIO EUROPEIA 228PORTUGAL NA EUROPA 229 A INTEGRAO DA EUROPA 229TRANSFORMAES NA UE-15 230PRIORIDADES SOCIAIS DA UE 230DESENVOLVIMENTO TECNOLGICO

    E NVEL DE VIDA 231 ENERGIA: A MAIOR FRAGILIDADE DA UE 232PRESIDNCIA PORTUGUESA NA UE 233

    O ALARGAMENTO DA UE 234UMA CONSTITUIO PARA A EUROPA 235

    O ATLAS E O POSICIONAMENTO ESTRATGICODE PORTUGAL 236

    ANEXOS 239PLANTAS ESPONTNEAS, SUBESPONTNEAS

    E ORNAMENTAIS MAIS COMUNS EM PORTUGAL240CARTA DE PORTUGAL CONTINENTAL ESCALA 1: 550 000

    CARTA DAS REGIES AUTNOMAS DOS AORES E DA MADEIRA ESCALA 1: 200 000 242

    NDICE ONOMSTICO 260

    DIVISO ADMINISTRATIVA POR CONCELHOS 268NOTAS BIOGRFICAS DOS AUTORES 272BIBLIOGRAFIA 273CRDITOS 274

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    UM PAS DE REA REPARTIDA

    Raquel Soeiro de Brito

    A TERRA QUEHABITAMOSPortugal Continental forma um rectngulo muitoalongado no sentido Norte-Sul (848km decomprimento por uns escassos 250km de largura,entre 429' e 3657' de latitude Norte e 611' e930' de longitude Oeste). As Regies Autnomasdispem-se em dois grupos em pleno Atlntico:o arquiplago dos Aores (2 333km2) formado por nove ilhas situadas, grosso modo, latitude de Sines, entre 1 400km e 2 000km aoeste desta costa alentejana; o da Madeira, no seuconjunto abrange 793km2, composto por duasilhas principais Madeira e Porto Santo localizadas a pouco mais de 1 000km a sudoeste deLisboa, latitude do Cabo Branco, na costaafricana, da qual dista uns 800km, e tambm pelosilhus das Desertas e pelo grupo das Selvagens,localizados mais a sul, pela latitude de Agadir.

    A posio de fachada atlntica da Pennsula Ibricainfluencia decisivamente a fisionomia de Portugal Continen-tal pelas condies naturais que lhe imprime: a persistnciade um clima mais hmido que no resto do Pas, solos maisprofundos, possibilidade de existncia de maior variedade deespcies cultivadas, presena de uma estreita faixa plana quedesde cedo foi aproveitada como eixo de comunicao Norte--Sul por uma populao densa e dispersa e que, medida dasua cultura, soube aproveitar estes recursos naturais; mas,tambm, o favorecimento de uma larga sada para o mar que,sendo muitas vezes traioeiro, foi um elemento de primordial

    importncia ao longo da nossa Histria.Contudo, o cariz atlntico que domina todo o ocidente dopas vai-se esvaindo medida que se caminha para leste: o climatorna-se mais seco e menos temperado, os campos tornam-sedourados no incio do Vero, quente e seco, a populaodiminui e agrupa-se: o Portugal quase continental, a norte, emediterrnico, a sul.

    A posio insular das Regies Autnomas, aliada suanatureza vulcnica, confere aos arquiplagos aspectosespecficos, dos quais, para j, se salientam as acessibilidades ea ocupao do espao. Portugal Continental, fachada atlntica da Pennsula Ibrica

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    UM PAS DE REA REPARTIDA A terra que habitamos

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    UM PAS DE REA REPARTIDA A terra que habitamos

    Unidades morfoestruturais

    Portugal faz parte da maior unidade morfoestrutural daPennsula, o Macio Antigoque, de Espanha, entralargamente no nosso pas, onde ocupa todo o Minho e Trs--os-Montes e a maior parte das Beiras e do Alentejo,formando um conjunto de troos aplanados. A sua altitudemdia ronda os 800-900m a norte da Serra da Estrela, amaior elevao em Portugal (1 990m), no horstque forma aCordilheira Central e faz a separao entre os troos da

    MesetaNorte e a do Sul, a qual no ultrapassa os 300-200m,descaindo para sudoeste.

    So cerca de sete dcimos do territrio continental cons-titudos por um conjunto de rochas pr-cmbricas epaleozicas, com predomnio de xistos, granitos e quartzitos,enrugados ou deslocados por vrios ciclos orognicos, deentre os quais os movimentos hercnicos imprimiriam aorientao de conjunto a afloramentos primrios das cristasquartzticas, especialmente no Norte, mais fortementeafectado por estes movimentos orognicos.

    Nas suas bordaduras, centro-oeste e sul, encontram-se asOrlas Sedimentares, cujos sedimentos variados, sobretudocalcrios e margas, assentam num substrato pouco profundo esofreram vrias fases sucessivas de enrugamentos e eroso.O limite da Meseta com a Orla Sedimentar de Oeste, grossomodo, de Aveiro at Tomar, segue a direco Norte--Noroeste da linha de costa, em contacto abrupto, rectilneo;a partir da rea de Tomar, e sempre para ocidente, o contactopassa a fazer-se de forma muito irregular e recortada,atingindo, a Meseta, de dois a trs quintos da largura dePortugal ao longo do Alentejo com as Bacias Cenozicas doTejo e Sado, grandes reas de abatimento, cuja subsidncia foisendo gradualmente compensada pelo preenchimento commateriais detrticos; estes so essencialmente continentais(arenosos, cascalhentos, argilosos, calcrios lacustres, aluviesfluviais e fluvio-marinhos...) pouco deslocados e trans-bordando sobre as rochas do Macio Antigo. A partir de Sinese at Orla Sedimentar do sul do Algarve, o Macio Antigoestende-se de novo quase at ao mar, separado deste porestreita fmbria de areias; e no Algarve alarga-se de ls a ls,tendo como limite o sop sul da Serra Algarvia, onde entra, denovo, em contacto com calcrios e margas mesozicas.

    Evoluo geolgica do Oeste Peninsular

    As rochas mais antigas de Portugal formam gruposlitolgicos muito heterogneos, profundamente transformadosdevido aos sucessivos agentes tectnicos e erosivos que osafectaram; so de idade pr-cmbrica, quer seja designada porsrie negra, como alguns gneisses, quartzitos e vulcanitos doNordeste Alentejano, ou complexo xisto-grauvquico comgrandes extenses de xisto na Beira e no leste do Douro.

    FaCa

    M o d e taco

    B do Or M

    Esquema morfoestrutural

    Esquema das principais falhas activas

    Bacias cenozicas do Tejo e Sado(Tercirio-Quaternrio)Orlas Sedimentares (Secundrio)

    Macio Antigo FalhasCavalgamento

    Morfoestruturalmente,o Continente portugus foidividido pelos especialistasnestas trs reas bem diferentes,tanto quanto natureza litolgica

    como quanto estrutura.

    Falha comprovada Falha provvel

    Consideram-se activas as falhas que tenham sofridomovimentaes nos ltimos

    2 milhes de anos.

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    Carta geolgicade Portugalcontinental

    UM PAS DE REA REPARTIDA A terra que habitamos

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    Uma das caractersticas fsicas do Continente a grande variedadelitolgica e as inmeras

    falhas que o atravessam.

    N

    0 25 50 km

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    Esturios do Tejo e SadoSetembro 1998

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    Carta hipsomtrica

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    m 2 0001 100600400

    200100

    50

    N

    0 25 50 km

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    Ria de Faro, Setembro 1998

    No decurso do Paleozico ocorreram prolongados e com-plexos ciclos orognicos, de entre os quais se dever salientara orognese hercnica.

    Ao longo do Mesozico, inicia-se o ciclo da orogenia alpina,embora os principais impulsos compressivos ocorressem noCenozico, sendo muito atenuado nesta rea da Pennsula Ib-rica (devido ao afastamento do centro de actividade); apenas socaractersticos nos relevos da Arrbida, essencialmente pela suadireco Este Nordeste-Oeste Sudoeste e pelo intenso dobra-mento dos seus materiais. ainda no decurso do Mesozicoque se sucedem avanos e recuos do nvel marinho, dos quais

    resultaram vrias fases de transgresso e regresso, originandodiferentes tipos de calcrios, margas e argilas, materiais das orlassedimentares.

    Na passagem do Mesozico para o Cenozico, d-se umaacentuada actividade magmtica originando os macios de Sin-tra, Sines e Monchique e, um pouco posteriormente, na regiode Lisboa, derrames de lava basltica e episdios de fases explo-sivas. Este final de perodo foi ainda marcado por uma emersogeneralizada do territrio, que continuaria a ser retocado poragentes vrios, entre os quais os paleoclimticos Quaternriosso de grande importncia pelas marcas ainda hoje visveis:praias levantadas e terraos fluviais, vales em U e depsitosgrosseiros (raas)... enquanto, ainda no Pliocnico se estabe-

    leciam a plataforma litoral e a actual rede hidrogrfica.O Miocnico foi caracterizado por vrias incurses marinhasque atingiram bacias litorais, nomeadamente a do Tejo e a doSado, atingindo reas hoje to longe do mar como Vendas Novase Ferreira do Alentejo. A partir do final deste perodo, as tensestectnicas, resultam do choque entre a placa euro-asitica e a afri-cana, originando o basculamento da Pennsula para sudoeste.

    A energia libertada pelas numerosas falhas activas que atra- vessam o territrio ou se encontram na sua vizinhana podemoriginar sismos de intensidade varivel, sendo Portugal consi-derado como rea de risco ssmico moderado, embora tenha

    havido alguns de elevada intensidade. O mais catastrfico, foio histrico de 1 de Novembro de 1755; o ltimo importante,ocorreu a 28 de Fevereiro de 1969, com uma magnitude de 7,2na escala de Richter, e foi sentido em todo o Continente, emespecial na costa atlntica e no ocidente do Algarve. Emborao risco ssmico a que a rea continental do pas est sujeita sejamoderado, numerosos so os abalos de pequena e mdiaintensidade.

    Nos Aores a sismicidade muito elevada, seja de origemtectnica ou vulcnica. Pelo contrrio, na Madeira, situada numarea de baixa intensidade ssmica, estes fenmenos so raros.

    O relevo do Continente

    Todo o relevo o resultado, num dado momento geol-gico, da eroso sobre as estruturas. A Pennsula Ibrica , noseu conjunto, uma rea de terras altas, fendidas pelas baciasdos rios mais importantes; em Portugal, no Norte monta-nhoso concentram-se 95% das reas de altitude superior a400m e todos os altos cimos para alm dos 1000m, que pelamaior parte das vezes se erguem bruscamente apenas a unsescassos 50km da costa actual; no Sul predominam as terrasbaixas e aplanadas onde, acima de 500m, s persistem algunsrelevos mais resistentes eroso os sinclinais de SoMamede e as cristas de quartzite de Marvo, no Nordestealentejano, as corneanas de vora e o macio eruptivo deMonchique-Fia, no Sudoeste algarvio.

    Fisionomia das Regies Autnomas

    As ilhas que formam as Regies Autnomas dos Aores e daMadeira so todas de origem vulcnica, diferindo umas dasoutras pelo tipo de vulcanismo que as originou, pelo tempo deexposio aos elementos erosivos a que esto sujeitas e pela sua

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    Carta de declives

    %

    25158

    3

    N

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    posio em latitude, responsvel pela variao da quantidade dechuva e sua distribuio ao longo do ano.

    Nos Aores, a estrutura mais simples pode ser exemplificadapela ilha do Corvo, a mais complexa pela ilha de So Miguel.

    O Corvo apresenta-se, hoje, como um cone dissimtricoque se eleva do mar sempre bordejado por arribas que atingema oeste, alturas superiores a 400m, truncado por uma caldeira,no fundo da qual se encontram pequenos cones secundrios

    A ilha mais complexa a de So Miguel, formada por qua-tro macios eruptivos sucessivamente mais jovens de lestepara oeste: Povoao, Furnas, Fogo e Sete Cidades, separadosuns dos outros por plataformas de superfcies e alturas dife-rentes, todas crivadas por grande nmero de cones secund-rios; a de Ponta Delgada a mais extensa e mais baixa. O lito-ral todo de arriba, encontrando-se os troos mais elevados(300-400m) no macio de leste e os mais baixos na plataformade Ponta Delgada. A ltima erupo no arquiplago ocorreu em1957/58, ao largo da ilha do Faial. Na madrugada do dia 27 de

    Setembro nascia um vulco, quilmetro e meio a Oeste dosIlhus dos Capelinhos (da o seu nome); comeou como umaerupo submarina, com a projeco de jactos de gua e gases, aque se seguiu a de outros materiais com predominncia decinzas, e finoslapilli, em jactos pontiagudos normalmenteacompanhados por altssimas nuvens brancas, de vapor de gua. A acumulao deste material rapidamente originou uma clssicailha em ferradura, bem visvel j a 5 de Outubro; aps umasucesso de episdios no Outono de 1958, a erupo foi dadacomo extinta.

    No arquiplago da Madeira h muito que terminaram asmanifestaes eruptivas. A ilha principal muito complexa e asformas vulcnicas provenientes dos grandes focos eruptivos dointerior foram totalmente desmanteladas pela eroso (tal comoacontece no macio da Tronqueira, na ilha aoriana de SoMiguel); restam alguns cones no contorno da ilha e os doisarcos da Calheta e de So Jorge que sero o que resta de velhas caldeiras demolidas pela abraso.

    So JorgePlanalto vulcnico crivadode cones e utilizado parapastagens

    Santa MariaInterior de uma velha caldeiraaberta para o mar, ocupada por vinhas e casas de veraneio

    DesertasBarreira de basaltolevantando-se do mar

    SelvagensBaixas plataformasbaslticas

    Intensidade ssmica(escala de Richter) Compilao de dados

    ssmicos, do ano 63 aC

    a 1989 dC, na margemOeste da Pennsula Ibrica,segundo a teoriade Keilis-Borola

    X IX VIII VII VI V

    IV

    Magnitudes

    4 567

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    UM PAS DE REA REPARTIDA A terra que habitamos

    Sismos sentidos nos Aores com intensidade mxima superiora V na escala de Mercalli, 1974/2001

    2001

    1999199819971996

    1993

    199019891988

    19841983

    19811980

    1977

    1974

    Arriba inferior a 200m Arriba entre 200 e 400m Arriba su perior a 400m

    Cones secu ndriosCaldeira

    Plataforma meridional Lagoa Arriba fssil

    5 0

    5 0 05 0 0

    3 5 0

    2 0 0

    6 5 0

    5 0 0

    Esboo morfolgico da ilha do Corvo

    C u rvas envolventes do relevo,equ idistantes de 100m Plataformas su bestr u tu raisCaldeira frescaCaldeiras erodidasConju ntos er u ptivos erodidosCones er u ptivosCornija de lava Plataformas de abraso provveis Arriba com mais de 100m de altu ra Arriba inferior a 100mC u rsos de gu a mu ito encaixados

    BretanhaMosteiros

    Ferraria

    RelvaLagoa

    gua de Pau Caloura

    Povoao

    Vila Franca

    FaialFaj doCalhau

    Nordeste

    Achada

    RibeiraGrande

    MaiaCapelas

    Sete Cidades

    L. do FogoFurnas

    Rosto do Co

    Pta da Ajuda

    Pta Formosa

    Pta do Cintro

    Fteiras

    Ponta Delgada

    Esboo morfolgico da ilha de So Miguel

    V

    VI

    VII

    VIII

    IX

    0 5 10 km

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  • 8/3/2019 Atlas de Portugal (IGP 2005)

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