AS POLÍTICAS PÚBLICAS E O DESENVOLVIMENTO...
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Encontro da Rede Brasileiro de Monitoramento e Avaliação
16 e 18 de junho de 2010. Banco do Nordeste do Brasil (BNB) Fortaleza, Ceará
AS POLÍTICAS PÚBLICAS E O DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Cláudia B. Marques, MSc. Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento
Regional- UNISC- e-mail: [email protected].
Carlos Honorato Schuch Santos, Dr. Professor do da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC)
e-mail: [email protected].
Resumo:
O objetivo deste artigo é discutir a participação do Estado e da comunidade nos resultados das
políticas públicas, no cenário brasileiro, como origem de desigualdade social e econômica.
Mostra como é possível romper o ciclo da pobreza e possibilitar a combinação de elementos
estruturais e compensatórios na gestão da ambiente público, capazes de atuar na inserção da
região no ciclo do desenvolvimento continuado. Analisa os efeitos econômicos e sociais
ocasionados pelas políticas públicas focalistas, e também apresenta os resultados possíveis
através de políticas aplicadas com eficiência, eficácia e efetividade. Mas o maior desafio
consiste em superar a condição de política pública de governo para tornar-se uma política
pública de Estado e de bem-estar, capaz de proporcionar a redução da pobreza. Por fim,
propõe-se um modelo capaz de monitorar e identificar a escolha de cada ator e visualizar os
possíveis resultados das políticas públicas para o desenvolvimento local.
Palavras-chave: Políticas Públicas; Políticas Econômicas; Estado; Desenvolvimento;
Pobreza.
THE PUBLIC POLITICS AND THE REGIONAL DEVELOPMENT
Abstract:
The aim of this paper is to discuss the participation of the community and the results of public
policies in Brazilian society, with origins in social and economic inequality. Shows how you
can break the cycle of poverty and enable the combination of structural components and
compensation in the management of public environment, which is capable of acting for the
insertion of the region in the cycle of continued development. Analyzes the economic and
social effects caused by public policies focalized. It also presents the results possible through
policies implemented with efficiency, efficacy and effectiveness. But the biggest challenge is
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to overcome the condition of public policy for government to become a public policy of state
and well-being, capable of reducing poverty. Finally, we propose a model to monitor and
identify the choice of each actor and see the possible outcomes, public policies for local
development.
Key-words: Public Politics; Economic Policies; State; Development; Poverty.
INTRODUÇÃO
O Estado, tradicionalmente calcado no modelo burocrático de administração,
foi submetido a grandes questionamentos a partir da década de 1970 que, de alguma forma,
colocaram esse modelo em xeque no mundo todo sob o ponto de vista econômico, social ou
administrativo. Foi um período em que os países atravessaram aguda crise fiscal, com os
governos encontrando dificuldades para o financiamento e a população se insurgindo contra o
aumento de impostos. Depois de longos anos de protecionismo, em função da crise de 1929,
das duas grandes guerras mundiais e da guerra fria, entre outras, a globalização voltou e com
ela as inovações tecnológicas foram fortemente alavancadas enfraquecendo o controle dos
Estados em relação aos fluxos financeiros e comerciais. Diferente da globalização do final do
século XIX, que foi mais “comercial”, a nova globalização do século XXI atingiu com mais
intensidade os diferentes aspectos da vida das regiões. Com ela os governos começaram a ter
menos poder e menos recursos, mas, por outro lado, as demandas da população por serviços
públicos aumentaram (WOLF, 2006; SHAPIRO, 2008; FORRESTER, 2000).
Durante as décadas de 1980 e 1990 os modelos de gestão, em geral, eram focadas em
políticas de ajuste estrutural inspiradas no neoliberalismo. Isto se deu em função dos ventos
neoliberais que começaram a soprar mais fortemente em todo o mundo no início dos anos
1970. Eles foram impulsionados de um lado pela crise do paradigma keynesiano (KEYNES,
1996) de política econômica vigente desde o pós-guerra e, de outro, pela desestruturação da
União Soviética, que marcou o fim do conflito bipolar e demarcou, concomitantemente, a
configuração do poder econômico mundial e a “nova ordem” internacional.
As políticas de ajuste estrutural no Brasil manifestaram-se em um contexto de crise
interna, instabilidade macroeconômica e profundas mudanças em nível mundial, obrigando
arrastando o país a aceitar incondicionalmente a ortodoxia neoliberal, representada pela
abrupta abertura econômica, financeira e comercial. Com isto, se impôs uma reestruturação
produtiva nos moldes do que Schumpeter (1982) chamou de “destruição criadora”, com
desregulamentação, privatização, reformas fiscal e monetária, restauração da taxa natural de
desemprego, rígida disciplina orçamentária e contenção de gastos sociais.
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A partir dos anos 1990, verificou-se uma “nova” mudança na arena política
internacional por conta do elevado nível de pobreza e miséria no mundo, resultante do
ajustamento estrutural. Isto porque a consolidação do processo de regionalização e
globalização econômica não se sustenta num ambiente de instabilidade social que, aliado a
outros fatores de ordem macroeconômica, alimenta o risco sistêmico, minando as bases da
estabilidade econômica e política.
A grande questão passou a ser a capacidade dos gestores públicos de ser eficientes
com: a) orçamentos cada vez mais reduzidos; b) necessidades crescentes das populações e,
por outro lado; c) necessidade de se ajustar as mudanças econômicas tais como: ajuste fiscal,
privatização e desregulamentação. Dito isto, tem-se que, além de serem eficientes, os gestores
precisam, hoje, ser eficazes. Paralelamente, a questão ideológica voltou à tona, principalmente
relacionada com as históricas perguntas de saber: para que serve o Estado?; a quem o Estado
serve?; quem é o Estado? Tudo isso se misturou fortemente às questões do gerenciamento da
máquina pública, fazendo com que o gestor público tenha neste início de século XXI,
dificuldades de visualizar os objetivos de sua gestão.
Esse caminho percorrido pelos governos variou nos Estados em que ocorria, ao longo
do tempo, e também se deu de maneira diversa entre os países, mas a transformação mundial
da administração pública foi, de qualquer maneira, um fato incontestável.
Enquanto muitos países eram sacudidos por essa verdadeira revolução, o Brasil
atravessou a década de 1980, alheio ao processo. Caminhou até em sentido contrário, como se
viu em 1988, quando a Nova Constituição se voltou para buscar soluções burocráticas. Se a
Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) significou grande avanço, em muitos aspectos,
como na questão dos direitos sociais e individuais, representou um retrocesso no que se refere
à administração pública. Esse retrocesso é compreensível, contudo. Geralmente, quando se
instala uma Assembléia Constituinte, ela visa a mudar a situação vigente até então. Em outras
palavras: há uma tendência de considerar todo o regime anterior arcaico. Com isso, alguns
avanços importantes advindos do regime militar foram jogados na vala comum de
“retrógrados ou ditatoriais”. Desse modo, a Nova Carta ignorou os pressupostos da
administração gerencial e reforçou procedimentos burocráticos.
Ao mesmo tempo em que a Constituição de 1988 procurou se insurgir contra as
práticas clientelistas e patrimonialistas observadas no País, também significou a manutenção
de privilégios corporativistas injustificáveis. Num momento em que o Brasil necessitava
urgentemente reformar sua administração pública, para torná-la mais eficiente e de melhor
qualidade, e assim ganhar competitividade no mercado globalizado, o serviço público tornou-
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se mais ineficiente e mais caro, e, ao mesmo tempo, o mercado de trabalho público afastou-se,
cada vez mais, do mercado de trabalho privado.
A partir de 1995 entrou em pauta, no cenário nacional, a reforma do aparelho do
Estado e, nesse contexto, também a reforma administrativa. Apesar de aparecer de maneira
bastante tímida na campanha presidencial de 1994 e de não ser prioridade do Governo
Fernando Henrique Cardoso (FHC), não contava com o apoio entusiástico do grupo de
ministros mais fortes, composto de Clóvis Carvalho (Casa Civil), Pedro Malan (Fazenda) e
José Serra (Planejamento). O tema da reforma administrativa foi colocado na agenda nacional
devido à habilidade do ministro Luís Carlos Bresser Pereira, que comandava o Ministério da
Administração e Reforma do Estado (MARE).
O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado foi apresentado em novembro de
1995 com a proposta da adoção do modelo gerencial de administração pública no Brasil, mas
enfrentou grandes dificuldades. O maior êxito da reforma administrativa se deu na revisão do
marco legal, especialmente com a aprovação da Emenda Constitucional nº 19, de 4 de junho
de 1998, que possibilitou a adoção de inúmeras inovações na seara pública.
Entre suas principais alterações, é possível elencar: a) adoção do “Princípio da
Eficiência” na administração pública brasileira; b) reserva percentual de cargos em comissão
para servidores de carreira; c) teto máximo para subsídios dos servidores; d) incentivo ao
controle social sobre a administração pública; e) critérios diferenciados de remuneração,
admissão e demissão de servidores; f) contratos para os órgãos públicos; g) incentivos à
economia com despesas correntes; e h) flexibilização da estabilidade do servidor público, com
a insuficiência de desempenho podendo ser punida até com perda de cargo.
A edição da Emenda Constitucional nº 19 (1998) significou, portanto, uma verdadeira
mudança de paradigma para a gestão pública e a possibilidade de importantes avanços nesse
campo, uma vez que, a partir dela, tinha-se a permissão legal para se adotar, no Brasil, as
reformas gerenciais.
1 Eficácia, Eficiência e Efetividade da Política Pública
O princípio da eficiência foi introduzido na administração pública brasileira em 1998
através da Emenda Constitucional nº 19/1998, mas, para alguns, o mais interessante seria
buscar o princípio da eficácia e, para outros, o da efetividade. A administração pública deve
sim agir sempre de forma eficiente, porém, o que requer a nova concepção da eficiência
administrativa é que esse princípio seja observado de forma privilegiada no atuar do gestor
público, ou seja, que a eficiência oriente todos os demais conceitos constitucionais
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necessários ao bom desenvolvimento da atividade administrativa e ao alcance do resultado
pretendido.
Silva (2001) define eficiência como a ação, aquilo que é feito, e eficácia como
resultado, aquilo que é alcançado de maneira e no tempo certo. Para Motta (2005), o termo
eficiência relaciona-se ao meio e o termo eficácia refere-se ao fim, ao resultado e ao objetivo.
A eficácia é uma medida normativa do alcance dos resultados, de seu sucesso, enquanto a
eficiência é uma medida normativa da utilização dos recursos nesse processo. É uma relação
entre custos e benefícios. A eficácia, por outro lado, preocupa-se com o resultado, em fazer a
“coisa certa” e não a “coisa da forma certa”, características básica da eficiência.
A eficiência procura maximizar a utilização dos recursos, procura controlar os “meios”
e não os fins das atividades organizacionais. Drucker (1978) propôs o julgamento do
desempenho de um administrador através dos critérios gêmeos de eficácia, a capacidade de
fazer as coisas certas, e eficiência. Desses dois critérios, pelo que sugere o autor, a eficácia é o
mais importante, já que nenhum nível de eficiência, por maior que seja, pode compensar a
escolha dos objetivos equivocados.
Modernamente a sociedade científica passa-se a incorporar um terceiro conceito, mais
complexo que eficiência e eficácia. Trata-se da efetividade, que é especialmente válida para a
administração pública. A efetividade, na área pública, afere em que medida os resultados de
uma ação trazem benefício ao público-alvo. Ela é mais abrangente que a eficácia, na medida
em que essa indica se o objetivo foi atingido, enquanto a efetividade mostra se aquele objetivo
trouxe melhorias para a população visada. Para Torres (2004), efetividade é o mais complexo
dos três conceitos, pois a preocupação central é de averiguar a real necessidade e
oportunidade de determinadas ações estatais, deixando claro que sempre alguns setores são
beneficiados em detrimento de outros.
Essa averiguação da necessidade e oportunidade deve ser a mais democrática, a mais
transparente e responsável possível, buscando sintonizar e sensibilizar a população para a
implementação das políticas públicas. O conceito de efetividade não se relaciona estritamente
com a idéia de eficiência, que tem uma conotação econômica muito forte, pois nada é mais
impróprio para a administração pública do que fazer com eficiência o que simplesmente não
precisa ser feito.
Torres (2004), afirma que deve ocorrer relação entre os conceitos de eficiência e
efetividade nas reformas gerenciais. À medida que aumentam as preocupações com a
melhoria da qualidade do Estado, as preocupações com eficiência e efetividade vão se
sobrepondo às limitadas questões de ajuste fiscal. Ainda, segundo o autor, a eficiência tem
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foco na relação do custo e do benefício, enquanto efetividade se concentra na qualidade do
resultado e na própria necessidade de certas ações públicas.
Na gestão pública, por possuir um sistema organizacional diferenciado das empresas
privadas, as estratégias para a implementação de mudanças, algumas vezes precisam passar
por modificações, ou ser adaptadas para tornar viável sua implementação no setor público.
Mesmo possuindo um sistema organizacional particular, existem necessidades no setor
público que se equivalem às do setor privado. Uma delas é a mudança de foco do material
para a preocupação com a pessoa. Esta mudança pode gerar resistência. Muitas vezes essas
resistências podem não ser intencionais, e sim uma resposta involuntária em relação à
insegurança gerada pelas mudanças que virão. Neste sentido Lisondo (2005) afirma que as
resistências podem ser potencializadas ou amenizadas pela cultura organizacional, os modelos
de gerenciamento e o estilo de liderança, principalmente na relação entre gestores e
colaboradores.
O problema da mudança depende do modo pelo qual os sistemas lidam com as
variações que influenciam as respectivas maneiras habituais de operação. Os sistemas tentam
manter a identidade ignorando ou neutralizando flutuações ameaçadoras que podem levar ao
surgimento de novas formas organizacionais (MORGAN, 1996). Essa mudança
comportamental pode acontecer de uma maneira mais fácil quando é consciente. Seldin et
al.(2003) consideram que o processo de mudança é natural, pois além de todas as
organizações estarem sujeitas à mudança, o próprio processo de mudança faz parte da
estrutura da organização.
Seja qual for à orientação político-ideológica do Estado, hoje (2010), a gestão pública
precisa mudar e deixar de ser apenas eficiente. A busca da eficácia e efetividade é uma
necessidade em todos os níveis de gestão do Estado. Não basta mostrar o percentual de gasto
do orçamento direcionado, por exemplo, para saúde. É necessário que se analise o resultado
final da utilização deste recurso. Quando se faz isto, está se buscando a eficácia.
Paralelamente, a efetividade trabalha com a acessibilidade e o impacto das políticas
relacionadas com o conjunto de fatores determinantes da dimensão “pobreza”. A efetividade,
desta forma, está relacionada ao acesso à educação, à qualificação, ao trabalho, à saúde, à
renda, à segurança alimentar.
2 Desenvolvimento e Pobreza
Na economia, desenvolvimento e pobreza são categorias antinômicas, não podendo
haver pobreza, quando ocorre desenvolvimento. Entretanto, uma correlação inversa sugere a
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redução e não a sua erradicação. Em última instância, ela é intrínseca ao desenvolvimento
capitalista e coexiste como a outra face da mesma moeda.
O desenvolvimento na teoria econômica teve sua origem nos mercantilistas, para os
quais a riqueza das nações baseava-se no acúmulo de metais preciosos. Embora não houvesse
preocupação com a pobreza, acreditava-se que o bem-estar estivesse assegurado pelo Estado
regulador e centralizador das relações econômicas e sociais.
As Escolas Fisiocrata e Clássica (século XVIII) trouxeram novos impulsos teóricos
acerca do desenvolvimento. A primeira considerava a terra a única fonte de riqueza e a
segunda entendia que não eram os metais preciosos nem a terra os determinantes da riqueza,
mas sim o trabalho produtivo com alocação eficiente de capital, tecnologia, divisão do
trabalho e ampliação dos mercados.
David Ricardo (1772-1823) preocupou-se com a questão da distribuição dos
rendimentos. Para ele, a agricultura constituía um entrave ao desenvolvimento econômico,
porque era incapaz de produzir alimentos baratos para o consumo dos trabalhadores, elevando
os salários nominais e os fundos para o custeio dos mesmos, inviabilizando o investimento,
fundamental para o aumento da produção e melhoria do quadro social. O princípio da
população de Robert Thomaz Malthus (1766- 1834) foi outra contribuição importante no
campo da concepção clássica de desenvolvimento. De acordo com a teoria malthusiana a
pobreza era inexorável, uma vez que a população cresce mais proporcionalmente que o
aumento da produção. Entretanto, o avanço tecnológico parece que acabou refutando esse
princípio.
Os clássicos admitiam que a trajetória intertemporal do desenvolvimento, ocorria com
o declínio da taxa de lucro e com o conflito distributivo. A idéia do pensamento marxista,
porém divergente em termos de perspectiva, já que os clássicos acreditavam no equilíbrio
geral por meio da interação dos mercados, enquanto Marx acreditava na autodestruição do
capitalismo, em função da exploração, pobreza, conflito na relação capital e trabalho e
tendência decrescente da taxa de lucro no longo prazo.
A teoria keynesiana de desenvolvimento enfatizou o princípio da demanda efetiva e a
participação do Estado na economia como fatores preponderantes para o equilíbrio de curto
prazo e para a redução da pobreza. Por seu turno, a abordagem schumpeteriana argumentou
que o desenvolvimento ocorre em condições de desequilíbrio macroeconômico, progresso
técnico e destruição criadora, impulsionado por inovações tecnológicas, disponibilidade de
crédito, empresários audaciosos e empreendedores, onde não havia preocupação com a
pobreza.
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A visão da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), por seu
turno, considerou impossível o desenvolvimento por meio da especialização e exportação de
produtos primários em razão da deterioração dos termos de intercâmbio, transferência de
renda dos países pobres para os países ricos, relações assimétricas e desequilíbrios
permanentes no balanço de pagamentos (LINHARES, 2002). A condição para o
desenvolvimento seria a industrialização através do processo de substituição de importações e
proteção do Estado à indústria nascente (SOUZA, 2005).
Essa concepção de desenvolvimento exerceu forte influência na industrialização do
Brasil, onde as características do modelo CEPALINO por substituição de importações são
marcantes, assim como os níveis de pobreza e desigualdade. A questão freqüente no debate
acerca do desenvolvimento consiste em determinar suas relações com o crescimento, o
desenvolvimento e a pobreza.
Para Myrdal (1997) o desenvolvimento assume característica perversa quando os
fatores de produção se deslocam para economias dinâmicas com tendência ao
empobrecimento. Entretanto, provoca efeitos benéficos com a ampliação dos mercados e o
progresso tecnológico, impulsionando o desenvolvimento das economias atrasadas e, por
conseqüência, a redução da pobreza.
Por muito tempo se acreditou que o crescimento levaria inexoravelmente ao
desenvolvimento, e que aquele era suficiente para a existência deste. No modelo de
desenvolvimento juscelinista (Presidente Juscelino Kubitschek), por exemplo, acreditava-se
que era possível desenvolver as regiões do país a partir de um centro dinâmico irradiador de
desenvolvimento.
3 A Desigualdade e a Pobreza
Acredita-se que o planeta não suporta o padrão de consumo das sociedades
desenvolvidas, consolidando a ideia de que o desenvolvimento deve levar em conta a
satisfação e o bem-estar das gerações presentes sem o comprometimento das gerações futuras,
chamando a atenção para o equilíbrio social e ambiental (BECKER, 1997). Todavia, o
desenvolvimento tem sido focado sob a ótica da alocação eficiente dos fatores de produção.
Diz-se que a eficiência poderá ser alcançada por meio da demanda agregada e do aumento do
valor agregado nacional, tendo como coadjuvante a escolaridade e a qualificação da mão-de-
obra. Deste modo, uma estratégia de desenvolvimento poderia alcançar maior êxito se
estivesse voltada à maximização do emprego e da renda, mas isto depende do grau de
incorporação da força de trabalho e da sua produtividade na economia.
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A preocupação com o ambiente, paralelamente, ocupou um papel importante no pós-
guerra. “Em janeiro de 1951, o presidente Truman instituiu a Comissão de Políticas Materiais
para estudar o que descreveu um dos problemas cruciais que a nação tem de enfrentar”
(FRIEDMAN, p.44, 2009). A questão, na época, era que a deteoriorização das condições
ambientais poderia comprometer o crescimento econômico americano. Uma década mais
tarde passa-se a ter um novo rumo com as preocupações ambientais sendo que muitos autores,
políticos, artistas e personalidades públicas se engajaram na luta para mostrar as
conseqüências, para os seres humanos, do mau uso ou do uso desmedido dos recursos
naturais. Com isto, o ambiente, a sua preservação e sua gestão passaram a fazer parte
definitiva dos debates sobre desenvolvimento. Neste cenário Diamond (2005) mostra como
diferentes sociedades trataram seus recursos naturais e como isto impacta no seu sucesso ou
no seu colapso.
Klare (2001), menos pragmático, estuda alguns dos mais importantes recursos para a
atual sociedade (petróleo, energia e água) e alerta para possíveis conflitos armados no século
XXI em função da posse ou não desses. A estratégia de desenvolvimento, entretanto, pode
tornar-se suscetível à influência política das diferentes regiões. Em virtude disso, provocar
assimetria no âmbito das relações econômicas em benefício das camadas sociais de renda
elevada, impedindo o desenvolvimento não apenas em relação ao incremento do PIB per
capita, mas principalmente no que se refere à qualidade de vida, melhoria nos indicadores
sociais e redução da pobreza.
Os modelos de convergências de rendas per capita sustentam que, supondo retornos
decrescentes da acumulação de capital, países pobres e ricos convergiriam. Paralelamente,
pode-se perceber, a partir da evolução histórica das economias consideradas desenvolvidas,
que essas cresceram mais rapidamente que as economias pobres, e essas, muitas vezes,
apresentaram relativa estagnação e pobreza. Para Jones (2000), mudanças ocorrem em
velocidades díspares, impedindo a materialização do crescimento convergente. Evidências
mostram que, vigorando a hipótese de retornos constantes ou crescentes para o capital, o mais
provável é a existência de clubes de convergência.
As teorias de convergência não consideram o efeito conjunto das desigualdades entre
países e em cada um deles. A esse respeito, Bougignon e Morrison (2002) empregaram um
conceito mais amplo, focando a análise sobre os cidadãos e não sobre os países, como os
modelos de convergência sugerem. Nesta perspectiva, a teoria do crescimento “Pró-Pobre”,
embora não tendo uma definição precisa desse conceito, traz uma noção mais clara acerca da
qualidade do crescimento, desenvolvimento e pobreza.
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A redução das desigualdades torna-se, de acordo com esse conceito, dependente de
sete condições. A primeira refere-se ao aspecto espacial do crescimento: potencialmente a
atividade econômica reduz a pobreza conforme ela estiver distribuída, sendo pouco provável
sua redução, se a concentração desta estiver numa determinada região e o crescimento ocorrer
em outra região.
A segunda condição está no padrão setorial de crescimento: o efeito sobre a redução
da pobreza depende do grau de abertura dos setores aos pobres, como, por exemplo, o
crescimento do setor agrícola. Conforme a estrutura fundiária, o crescimento neste setor
exerce potencial significativo na redução da pobreza rural, como Datt e Ravallion (1998)
mostram para o caso da Índia, onde 85% da redução da pobreza rural devem-se ao
crescimento na agricultura.
A terceira condição relaciona-se à intensidade e ao uso dos fatores de produção. Se a
economia for abundante no fator-trabalho, quanto mais trabalho-intensivo utilizar maior
impacto terá o crescimento econômico sobre a redução da pobreza.
A quarta condição considera que as economias homogêneas convergem e as
heterogêneas divergem em termos de renda per capita. Para a CEPAL (LINHARES, 2002)
existe uma relação entre o nível de desigualdade de renda e a riqueza: quanto maior o grau de
concentração de renda menor será a capacidade do crescimento econômico em reduzir a
pobreza.
A quinta condição consiste na dimensão não-renda. Para que o crescimento promova
bem-estar deve-se considerar o grau de acessibilidade dos indivíduos às políticas públicas tais
como saúde, educação e mercado de trabalho. A existência de restrições dessas dimensões
não-econômicas tende a reduzir a capacidade do crescimento e o impacto sobre a pobreza. A
sexta condição para que o crescimento reduza a pobreza está na qualidade do gasto público.
Como articulador das políticas públicas de crescimento e desenvolvimento, o governo detém
os principais mecanismos de distribuição e redistribuição de renda. Dessa forma, a redução da
pobreza terá maior ou menor alcance, dependendo do nível de responsabilidade social da
administração pública no direcionamento e monitoramento dos recursos, evitando políticas
públicas ineficientes.
Por fim, a sétima condição diz respeito ao meio ambiente. O crescimento econômico
pode causar externalidades negativas, como a degradação ambiental e a poluição dos recursos
naturais, afetando proporcionalmente os mais pobres, e assim privando-os das condições de
sobrevivência. Não se pode, nestas circunstâncias, esperar que os benefícios distributivos
tenham impacto sobre a redução da pobreza, e em tais circunstâncias, as desigualdades
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aumentariam.
Não menos importante, entretanto, é o fato de que as nações modernas caracterizam-se
pelas economias de mercado, e que, portanto, a dimensão renda afeta diretamente o bem-estar
das famílias, já que o Estado não garante o acesso aos serviços básicos como alimentação,
vestuário, transporte e lazer. Paralelamente, sabe-se que o nível de pobreza está fortemente
associado à desigualdade na distribuição de renda, de modo que a mudança neste indicador
constitui uma condição fundamental à existência de crescimento “Pró-Pobre”. Não se quer
com isso sobrepor a dimensão renda às outras dimensões da pobreza, mas considerá-la como
um fator essencial à sua redução.
Uma mostra disso é observar o caso brasileiro, através dos Índices de
Desenvolvimento Humano (IDH) e Exclusão Social (IE). Nesses indicadores a renda é
determinante, sendo que uma melhor distribuição teria impactos significativos sobre a
pobreza. Um exame detalhado dessa questão mostra que nos últimos anos os índices
educacionais e de saúde alcançaram maior desempenho do que os índices de renda. Portanto,
para que esses indicadores continuem mostrando um panorama de desenvolvimento positivo,
não se pode desprezar o fator renda.
Cabe lembrar também que pobreza e desigualdade não são sinônimas, (BLUM e
ROSSI, 1969; WILBER, 1975; OSTER, 1978; ROCHA, 1997; 2003; HAAN, 1999; RAMOS
e VIEIRA, 2000; FERREIRA, LANJOUW E NERI, 2001; MESTRUM, 2002;
SCHWARTZMAN, 2004, além de outros). Tais aspectos podem ser de naturezas diversas,
relacionando-se a processos socioeconômicos. Por outro lado, não há um sentido
unidimensional acerca do que vem a ser pobreza, contudo, uma noção geral desse conceito
está associada a situações de carência a que indivíduos e ou populações estão impedidos, por
sua restrição orçamentária, de alcançar um nível de consumo mínimo para a sua
sobrevivência.
Outra abordagem mais ampla relaciona a pobreza com privações de capacidades, sem
a negação da renda como uma dimensão essencial. A desigualdade vista pelo âmbito
econômico refere-se ao processo de geração e distribuição de renda e riqueza e revela os
aspectos estruturais do desenvolvimento, expresso pelo nível de concentração. Portanto, pode-
se considerar a desigualdade como o principal fator gerador da pobreza.
4 Política Econômica versus Política Pública
Política econômica versus política pública social é uma falsa dicotomia. Políticas
Públicas são atributos do desenvolvimento capitalista. Compreendê-las implica um exame
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atento acerca dos fundamentos teóricos que orientam sua elaboração e execução. Fatores
como concepção política e ideológica, estrutura de Estado e o modelo de desenvolvimento
exercem grande influência sobre as políticas públicas, chegando a definir, em determinadas
circunstâncias, tanto o seu caráter como o seu conteúdo. Podem, inclusive, ser universais
quando envolvem toda a sociedade ou sua parcela, ou podem ser voltadas para atender
segmentos em condições especiais.
As políticas econômicas, no entanto, dependem das ações tomadas pelo governo, que,
utiliza instrumentos econômicos, para atingir determinados objetivos macroeconômicos. O
setor público, enquanto um agente econômico de peso dentro do sistema, procura atuar sobre
determinadas variáveis e através delas alcançar determinados fins tidos como positivos para a
população. A política econômica tem como objetivo afetar a economia como um todo. Logo,
o planejamento econômico no processo de desenvolvimento é algo necessário por parte dos
governantes, tendo como finalidade promover e alavancar o desenvolvimento, pois se torna
necessário coordenar as atividades quando se busca um crescimento sustentável.
As políticas públicas e as políticas econômicas podem ser democratizadoras e
elementos importantes para construção do Estado, porque partem do reconhecimento de um
novo ator social e político: o movimento da economia sustentável e o bem-estar social. Ainda
que sejam incipientes e descontinuadas é fundamental o papel da comunidade organizada para
que essas políticas respondam, cada vez melhor, a tais perspectivas.
A relação comunitária repousa no sentimento de pertencer ao mesmo grupo e a relação
associativa num ajuste ou acordo de interesses, sendo as comunidades políticas aquelas que
têm na “seriedade da morte que o indivíduo, eventualmente, deve enfrentar, no interesse da
comunidade” (WEBER, p.24, 2004). A eficiência da política econômica e a eficácia da
política pública se interconectam de múltiplas formas e em duplo sentido formando uma rede
complexa de relações (DINIZ, 2005). Para a escolha de modelos de políticas públicas e de
políticas econômicas é necessário estudar sobre seus determinantes e as relações de
causalidade estabelecidas no cenário local. Muitas vezes consiste em sanar o conflito
distributivo existente entre a concentração do produto e de privilégios individuais a restritos
grupos hegemônicos, e a garantia de justiça social na distribuição do produto e no bem estar
coletivo da ampla maioria da população.
A gestão pública considera que a estrutura socioeconômica em que os indivíduos estão
inseridos e as evidências de imperfeições nos mercados de fatores impõem consideráveis
restrições aos efeitos distributivos de um processo de desenvolvimento. Com o
amadurecimento das instituições, os riscos e as incertezas podem ser reduzidos, gerando um
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ambiente de bem estar social, no qual descobertas e invenções passam a ser mais freqüentes.
Como conseqüência desse processo, pode-se ter, dentro das regiões e das próprias
instituições, agora mais maduras, um incentivo próximo para a dinâmica econômica e a
qualidade de vida dos cidadãos. As políticas públicas, em tese, buscaram cumprir o papel de
promover a segurança coletiva e as condições de reprodução do sistema social. Elas devem
ser entendidas no âmbito das contradições do Estado e, sobretudo, como parte deste.
Expressam as dimensões política, institucional, econômica, social e ambiental, e devem estar
integradas à política econômica e à estratégia governamental.
Esta perspectiva analítica reconhece o mérito da interdisciplinaridade. No debate das
escolhas das políticas públicas devem considerar a questão dos direitos, mais especificamente,
os direitos humanos, muito em voga atualmente no campo da ciência política, como abordado
por Bucci (2006). A política pública, para a autora, tem o sentido de afirmação e
concretização dos direitos humanos. Esta concepção torna falsa a dicotomia entre política
econômica e política social.
Esse enfoque é relevante para diferenciar o conceito de política pública e política
social. Ambos originaram-se no contexto do Estado, por meio do aparato jurídico
institucional, e caracterizados pela intervenção estatal como função intransferível. A política
pública, no entanto, traz o sentido universalista, enquanto que a política social assume
normalmente caráter focalista, geralmente voltada a corrigir as falhas de mercado ou atender
situações específicas de pobreza.
5 As Políticas Públicas
A análise das políticas públicas constitui um campo muito controverso no âmbito da
ciência política e econômica, especialmente nos países em desenvolvimento como o Brasil.
Contribui para isso a falta de um instrumental teórico analítico voltado à realidade
desses países. Os instrumentais instituídos servem para análise dos países desenvolvidos, por
serem mais adequados às suas realidades históricas. Nesses países, instituiu-se o método de
“Policy Analysis”, que correlaciona os efeitos das políticas públicas com as instituições
políticas, o processo político e os conteúdos das políticas. No caso do Brasil, esses estudos
ganharam força na década de 1990, com ênfase nas estruturas setoriais, instituições e
negociações de políticas específicas, porém com um grau restrito de análise, diversidade
metodológica e pouco embasamento teórico (FREY, 2000).
Para abordar “Policy Analysis”, Frey (2000) utiliza os conceitos de “Polity”, “Politics”
e “Policy” para designar respectivamente as instituições políticas, os processos políticos e os
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conteúdos das políticas. O primeiro conceito refere-se à dimensão institucional, demarcado
pelo sistema político, jurídico e administrativo. O segundo, de ordem processual, dimensiona
o processo político que, por sua vez, está em conflito com os objetivos, os conteúdos e as
decisões políticas, especialmente no que tange aos aspectos alocativo e distributivo. O terceiro
diz respeito à concretização dos conteúdos, os programas propriamente ditos, a estrutura de
gestão e execução das políticas públicas. Essas especificidades não desconsideram suas
influências mútuas, já que são interdependentes e não-estáticas. Nesta perspectiva, a “Policy
Analysis” corrobora a idéia de que a metodologia para análise de políticas públicas não deve
se limitar aos parâmetros puramente quantitativos, dado o grau restrito de explicação. Sugere
que um exame mais detalhado requer uma investigação intensa sobre o processo político-
administrativo, de modo a identificar, no âmbito interno da estrutura governamental, as causas
dos possíveis sucessos ou fracassos das políticas públicas, sejam elas de caráter universal ou
focalista.
Frey (2000) propõe-se acrescentar ao método de “Policy Analysis” as categorias
“Policy Networks”, “Policy Arena” e “Policy Cycle”. A primeira procura caracterizar “as
interações entre as diferentes instituições e grupos tanto do executivo, do legislativo como da
sociedade na gênese de uma determinada política pública” (Heclo, p.102, 1978). Na prática,
os autores referem-se às “redes de relações sociais” conveniadas, menos rígidas e não
disciplinadas pela institucionalidade. A “Policy Arena” ou arena política busca apreender a
dinâmica social e a relação com os atores relevantes na definição das políticas públicas.
Questões como externalidades provocadas por uma ação política, produzem reações
preliminares quanto aos efeitos das políticas, dando, assim, o tom e a dinâmica social do
processo político, reações embasadas em expectativas racionais de ganhos ou de perdas.
A categoria “Policy Cycle” consiste no chamado ciclo político, associado ao prazo de
validade das políticas públicas que levam em conta os tempos políticos governamentais.
Sendo assim, elas são passíveis de modificações a partir dos processos políticos e
administrativos. Portanto, a temporalidade constitui uma variável estratégica para avaliar os
efeitos de uma determinada política. Considera-se ainda, como método para análise de
políticas públicas, o neoinstitucionalismo. Este método ganhou espaço no âmbito da ciência
política em contraposição à metodologia “Policy Analysis”, com a crítica ao excessivo peso
dado aos processos políticos e aos conteúdos das políticas, bem como pelo pressuposto de que
os processos políticos são determinados pelo conteúdo das políticas.
Para os países em desenvolvimento, que possuem instituições políticas pouco
consolidadas, os processos políticos e o conteúdo das políticas são atrelados às estruturas
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político-institucionais, e, em última instância, determinados por elas, configurando-se em uma
importante fonte de análise para avaliação das políticas públicas. Este cenário é adequado
para o uso de método do neoinstitucionalismo.
Tem-se, portanto, que a “Policy Analysis”, embora apropriada para avaliação de
políticas públicas, exige, para o caso do Brasil, complementaridade do neoinstitucionalismo,
uma vez que pode considerar que as instituições políticas ainda são frágeis. Paralelamente,
são de caráter exclusivamente delegativas e o seu grau de fluidez são grande, condições sobre
as quais atuam interesses de grupos e os arranjos de cúpula em detrimento do fortalecimento
das instituições e dos atores sociais. Fica incompleto proceder a uma análise com ênfase
apenas nos conteúdos das políticas, como sugere a metodologia de “Policy Analysis”.
6 O Ambiente Brasileiro
O esgotamento da estratégia “industrialista substitutiva de importação” (TAVARES,
1972), e a estagnação econômica praticamente inviabilizaram o princípio da universalização e
concretização das políticas públicas como direito social, instituindo, como Pinheiro (1995)
denominou de “regressividade dos benefícios sociais”, privilegiando os setores de classe
média com maior poder de intervenção na estrutura administrativa do Estado.
Com advento da crise dos anos 1980, o Estado passou a ser asfixiado pelos interesses
privados e corporativos no aparelho estatal. Até então as políticas públicas buscaram
fortalecer a classe média, pois acreditava-se que esta dinamizaria o mercado de consumo
interno. Ao mesmo tempo, a oligarquia faria “crescer o bolo” industrial criando condições de
geração de emprego e renda. Já nesta época as políticas públicas oportunizaram a utilização
do “voto” como moeda de troca para a continuidade da oligarquia político-urbano-industrial.
O acesso à seguridade social e aos benefícios previdenciários obedeceu à hierarquia e aos
privilégios dos grupos inseridos na burocracia estatal. Com isto, o Estado foi empurrado, aos
poucos, para a falência fiscal e o déficit público crônico, alimentado pelo déficit social, em
conseqüência das discrepâncias no acesso às políticas públicas. Agravou-se a crise das dívidas
externa e interna, desemprego, e estagflação. A estrutura produtiva oligopólica se tornou
pouco competitiva e se criou a necessidade de financiamento e investimento para retomada do
desenvolvimento e redução da pobreza.
Nos anos 1990 a orientação se modificou radicalmente. Abandonou-se o critério que
priorizava a universalização hierarquizada e a nova prioridade passou a ser “os pobres” como
população-objetivo.
Neste modelo o Estado passou a interagir mais fortemente com diferentes atores
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sociais: setor privado, organizações filantrópicas e ONGS. Prevaleceu à descentralização em
contraposição à centralização do modelo anterior. Com relação à decisão sobre alocação de
recursos, a nova orientação privilegiou decisões com ênfase em projetos, o que difere do
modelo anterior, centrado numa espécie de burocracia estatal, impedindo a participação de
atores sociais como ONGs, instituições de pesquisa e Universidades. A política social anterior
estava centrada nos “meios” com ampliação da oferta de serviços públicos e o indicador
principal era o gasto público. O novo modelo privilegia os “fins” e o parâmetro de avaliação
passou a ser a relação custo-impacto sobre a população-objetivo, tornando relevante a análise
de efetividade social.
As diretrizes deste novo modelo de política pública social usaram como base a
proposta da CEPAL. Essa proposta serviu de base para elaboração da Política de Assistência
Social do Governo FHC, concretizada nos Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
(PETI), Programa Bolsa Escola, Programa Nacional de Acesso à Alimentação.
Este modelo teve como características básicas as políticas compensatórias e focalistas,
e, embora, teoricamente bem diferente, continuou quase sempre atrelado a alguns grupos
oligárquicos em função da fragilidade das instituições políticas e dos atores sociais. As
políticas compensatórias e focalistas deste período acabaram alimentando o discurso e a ação
populista da classe política via ligação direta ”povo” dirigente político. A moeda de troca, o
voto, foi conseqüência desta orientação das políticas públicas. Paralelamente, alguns
indicadores foram habilmente manipulados para justificar a efetividade de trair políticas. Um
exemplo, talvez o mais claro, é o da educação: os índices de analfabetismo diminuíram, mas a
qualidade do ensino, especialmente o público, despencou e, hoje (2010), é um dos piores do
mundo, segundo relatório da ONU (Relatório das Nações Unidas, 2007). Tem-se, portanto,
que esta orientação teoricamente compensatória, de fato oportunizou que as políticas públicas
fossem utilizadas para blindar interesses populistas dos feudos políticos partidários, das mais
variadas origens ideológicas.
Shapiro (2009) mostra como algumas regiões e países, especialmente Irlanda, Suécia e
Finlândia, conseguiram saltar da periferia para o centro do mundo em pouco tempo depois de
implementarem políticas de investimentos pesados em conhecimento e tecnologia, ao mesmo
tempo em que flexibilizaram as relações do Estado com a sociedade civil. Para o autor, o
“tamanho” do Estado não é um fator limitador, pois tanto Índia e China, e especialmente esta
última, estão trilhando caminhos mais eficazes do que qualquer Estado latino-americano.
Diante disto, as políticas públicas precisam ser pensadas a curto e longo prazo
simultaneamente e, também, precisam ser pensadas de uma forma “generalista”. Para isso, é
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fundamental pensar as seguintes questões: a) aonde se quer chegar? b) quais são os recursos
que precisam ser desenvolvidas? c) como isto pode ser feito?
Só com esta visão generalista da “coisa pública” pode-se discutir, por exemplo, quais
as implicações Futuras dos Programas dos governos FHC e Lula (Programa Bolsa Escola,
Programa Nacional de Acesso à Alimentação). Todos esses programas são politicamente
corretos e desejáveis, mas o que eles estão gerando e o que eles gerarão no futuro?
7 Políticas Públicas: o modelo proposto
O modelo proposto parte de necessidade da definição clara do público-alvo, elemento
fundamental quando se busca efetividade e não só eficiência. Paralelamente, este público-alvo
deve desenvolver a capacidade (estimulada ou não) de perceber tanto a sua situação atual
como a sua situação desejada no curto e longo prazo. Este público-alvo deve possuir
instrumentos de pressão suficientemente eficazes de mostrar e cobrar dos seus governantes a
diferença do atual em relação ao desejado. Esta diferença corresponde o que se chama de
“gap”, (Fig.1).
Figura 1 Modelo da Gestão de Políticas Públicas Socioeconômicas
Fonte: Elaborado pelos autores, 2010
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A questão central do modelo proposto são os “gaps” que o governo precisa gerenciar e
reduzir em um determinado horizonte de tempo. Estes “gaps” de funcionamento de uma
determinada comunidade são função da interação permanente de três elementos são eles: a)
redes de relações entre os diferentes atores da comunidade (executivo legislativo e sociedade);
b) a dinâmica social existente para definição das políticas públicas e seus programas
específicos; e c) elementos de gestão consolidados na comunidade (sistema jurídico-político-
administrativo, processo político e conteúdo histórico dos programas desenvolvidos). Estes
elementos podem ser vistos na figura 2.
Figura 2- Elementos de definição dos “gaps”
Fonte: Elaborado pelos autores, 2010.
Como mostra a figura 2, os “gaps” são as diferenças entre a situação percebida em um
determinado período e a situação desejada nos diferentes futuros (de curto e longo prazo).
Gerir os “gaps” é de alguma forma, abandonar as tomadas de decisão oportunista e casuísticas
e orientar a gestão para um “futuro desejado” (Marques et al, 2010).
Como se pode observar no modelo (fig. 1), o elemento de decisão (gaps/G) precisa
convergir para as condições estruturais e conjunturais que se tem e o que se deseja para a
região, mas precisa, paralelamente, buscar negociar com o Estado a disponibilidade destas
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condições. É de vital importância que os resultados do desempenho dos programas de
políticas públicas impactem positivamente nas condições atuais e colaborem com o futuro
desejado pelo público alvo. Esta avaliação precisa ser usada, então, tanto para avaliar a
redução dos “gaps” no momento em que alteram as condições atuais, como para mostrar para
o Estado a efetividade relacionada aos recursos empregados. A avaliação dos resultados
precisa gerar, desta forma, dois eixos de retroalimentação no modelo. A partir disto, cria-se
uma dinamicidade que torna o modelo sistêmico.
Neste sistema podem ser identificados diferentes ciclos. O primeiro envolve o Estado,
as condições estruturais e conjunturais e os resultados das ações políticas implementadas.
Pode-se chamar este ciclo de “legitimação”, pois o Estado, ao implementar suas políticas
públicas de minimização dos “gaps”, busca invariavelmente sua perpetuação e legitimação,
enquanto agente que orienta a disponibilidade dos diferentes recursos (financeiros e não
financeiros) da comunidade e do próprio Estado (proveniente eventualmente de outras
comunidades). A cada “volta” do ciclo o Estado reforça sua imagem de estado (legitimação
virtuosa) ou perde credibilidade (legitimação viciosa).
Um segundo ciclo diferente envolve as condições atuais, a determinação dos “gaps”,
as mudanças das condições estruturais e conjunturais conduzidas pelo Estado e os seus
resultados. Este segundo ciclo, ao se fechar nas novas condições atuais percebidas pelo
público-alvo, mostra como este último percebe a ação estatal. Pode ser chamado, então, de
“resultados percebidos”.
Figura 3- Avaliação através da percepção dos stakeholders
Fonte: Elaborado pelos autores.
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Os dois ciclos se tocam (fig. 3) nos elementos, modificação das condições conjunturais e
estruturais e como estas impactaram no atingimento da redução dos “gaps” percebidos pelo
público-alvo. Quando se tem resultados percebidos positivos, o Estado, automaticamente,
reforça sua legitimidade e quando o Estado reforça sua legitimidade o público-alvo percebe a
efetividade das ações estatais. Tem-se, portanto, que estes dois ciclos podem se reforçar
mutuamente de forma positiva. De outra forma, os dois ciclos podem também, se reforçar de
forma negativa quando os resultados esperados, tanto pelo Estado como pelo público-alvo não
são atingidos.
A implementação pode ser compreendida como o conjunto de ações realizadas por
grupos ou indivíduos de natureza pública ou privada, as quais são direcionadas para a
consecução de objetivos estabelecidos mediante decisões anteriores quanto às políticas. Em
outras palavras, trata-se das ações para fazer uma política sair do papel e funcionar
efetivamente. Este processo precisa ser acompanhado pelos atores sociais e pelos gestores
públicos, entre outras coisas, para que seja possível identificar porque muitas coisas dão certo
reforço positivo, enquanto muitas outras dão reforço negativo errado entre o momento em que
uma política é formulada e implementada.
Efetivamente, em especial quando uma política envolve diferentes níveis de governo -
federal, estadual, municipal - ou diferentes regiões de um mesmo país, ou ainda, diferentes
setores de atividade, a implementação pode se mostrar uma questão problemática, já que o
controle do processo torna-se mais complexo. Mesmo quando se trata apenas do nível local,
há que se considerar, ainda, a importância dos vínculos entre diferentes organizações e
agências públicas no nível local para o sucesso da implementação.
Considerações Finais
Os modelos de política pública são muito importantes para o desenvolvimento
regional, pois favorece o bem estar da sociedade. Para isso, se torna essencial que se
compreenda a sistematização da formulação, a implementação e a avaliação da política
pública, principalmente, com a participação das articulações dos atores sociais e dos atores
gestores da política pública. As verbas precisam ser direcionadas para viabilizar os recursos
que sustentam os projetos sociais, econômicos, institucionais e ambientais. Muitas vezes,
devido à externalidades ou fatores do mercado econômico, os recursos podem tornar-se
escassos e em função disto é essencial planejar para se poder direcionar o uso desses recursos,
buscando a maior eficiência, eficácia e efetividade possível.
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O Brasil não apresenta nenhum procedimento de formulação de política pública
padrão. A partir do modelo apresentado, é possível analisar quais políticas apresentam maior
efetividade. Com isto, os gestores públicos podem ser instrumentalizados para as suas
tomadas de decisão.
As políticas públicas voltadas ao desenvolvimento do país se tornam necessárias para
promover as metas do governo. Um desafio que se apresenta hoje (2010) é conseguir um
crescimento acompanhado de desenvolvimento, já que para estimular o crescimento o
governo poderia, por exemplo, ser mais maleável e estimular o crédito, facilitar novos
investimentos e diminuir as taxas de juros. Necessário seria, no entanto, como avaliar o
impacto positivamente, ou não, de tais medidas em uma determinada região.
Outra questão importante está relacionada às políticas de desenvolvimento, que se
tornaram necessárias à elaboração de planos e estratégias de longo prazo para garantir a
continuidade de desenvolvimento humano. Com isto, as regiões poderiam se tornar menos
dependentes de programas sociais. Nesse sentido, por exemplo, a educação é de vital
importância para dar condições e capacidade para esta superação.
As políticas públicas voltadas ao crescimento e desenvolvimento econômico do país se
tornam necessárias para promover as metas do governo. Neste sentido, entende-se que o papel
da desigualdade na redução da pobreza, e das duas sobre o crescimento econômico, e vice-
versa, deve ser considerado simultaneamente na elaboração de qualquer plano de
desenvolvimento que seja sustentável. Esta sustentabilidade é considerada ao longo do tempo,
tanto do ponto de vista econômico como da justiça social. Alcançando este equilíbrio, em
princípio, um Estado ou uma região poderia percorrer um ciclo virtuoso de prosperidade e
bem estar social desejado.
O modelo neste artigo propôs tratar do efeito da desigualdade social e do crescimento
econômico sobre a pobreza, que é vista como condição insustentável de vida, principalmente
diante dos avanços tecnológicos e científicos acumulados pela humanidade. Para isto se
propõe a gerir o que se chamou de GAP que é a diferença entre a situação atual e a situação
desejada. A gestão das políticas públicas tem que estar atenta ao efeito da pobreza sobre a
desigualdade social e ao crescimento da economia, que estabelece em muitas situações graves
de limites ao processo de desenvolvimento socioeconômico regional.
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