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México, Distrito Federal I Marzo-Abril 2009 I Año 4 I Número 19 Mujeres en la literatura. Escritoras Página605 AS MÃES E AS FILHAS E AS AVÓS E AS NETAS NAS NARRATIVAS GENEALÓGICAS Lélia Almeida Universidade Federal do Rio Grande do Sul AS MÃES E AS FILHAS E OS ROMANCES DA MATERNIDADE árbara Ozieblo 1 Ozieblo repete a mesma pergunta feita por Virginia Woolf chamou de um un vínculo poderoso a relação mãe e filha, que é o tema central da literatura de autoria feminina em todo o mundo. O Movimento Feminista que antecede em até quinze anos este fenômeno editorial, e a publicação de grande número de autoras é, direta ou indiretamente, determinante pela escolha de deter-minados temas. 2 1 Ozieblo, Barbara (ed.). El vínculo Poderoso: Madres e hijas en la literatura norteamericana. Granada: Universidad de Granada, 1998. 2 Woolf, Virginia. Um teto todo seu. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1982, p.21. ao indagar sobre a ausência de uma herança feminina que não nos deixou nenhum tipo de patrimônio, seja intelectual ou material. Para Ozieblo o surgimento, na literatura contemporânea de muitos países e, especificamente, na norte-americana, do par mãe e filha, é uma novidade já que, ao longo da história este par esteve excluído: […] la pareja madre-hija no existe en nuestra cultura; aseveración lógica puesto que no existe la madre. No debemos olvidar que la madre y la maternidad son conceptos del patriarcado, construidos para impedirle a la mujer la conciencia de su poder. (p. 10) B

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AS MÃES E AS FILHAS E AS AVÓS E AS NETAS

NAS NARRATIVAS GENEALÓGICAS

Lélia Almeida Universidade Federal do Rio Grande do Sul

AS MÃES E AS FILHAS E OS ROMANCES DA MATERNIDADE

árbara Ozieblo1

Ozieblo repete a mesma pergunta feita por Virginia Woolf

chamou de um un vínculo poderoso a relação mãe

e filha, que é o tema central da literatura de autoria feminina em

todo o mundo. O Movimento Feminista que antecede em até

quinze anos este fenômeno editorial, e a publicação de grande

número de autoras é, direta ou indiretamente, determinante pela escolha

de deter-minados temas. 2

1 Ozieblo, Barbara (ed.). El vínculo Poderoso: Madres e hijas en la literatura norteamericana. Granada: Universidad de Granada, 1998. 2 Woolf, Virginia. Um teto todo seu. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1982, p.21.

ao indagar

sobre a ausência de uma herança feminina que não nos deixou nenhum

tipo de patrimônio, seja intelectual ou material. Para Ozieblo o surgimento,

na literatura contemporânea de muitos países e, especificamente, na

norte-americana, do par mãe e filha, é uma novidade já que, ao longo da

história este par esteve excluído:

[…] la pareja madre-hija no existe en nuestra cultura; aseveración lógica puesto que no existe la madre. No debemos olvidar que la madre y la maternidad son conceptos del patriarcado, construidos para impedirle a la mujer la conciencia de su poder. (p. 10)

B

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Antonia Domínguez Miguela3

Para Domínguez os romances que resgatam a linhagem materna são

uma novidade já que figuras como a mãe ou a avó apareciam de forma

inexpressiva n começo da literatura escrita por mulheres (p. 34) e, ainda

que tenham começado a aparecer paulatinamente, muitos romances

representavam os conflitos relativos a mães e filhas referentes ao que

Rich

que investiga sobre o tema da

recuperação da linhagem materna nas autoras latinas nos Estados

Unidos, chama de literatura matrilineal esta literatura, para ela, riquíssima

em formas e técnicas. Mesmo seguindo a tradição de outros países, em que

a herança feminina, registrada oralmente ou na literatura escrita

encontra-se dispersa em diários esquecidos ou manuscritos perdidos,

percebe-a como muito mais complexa:

[…] en el caso de las latinas esta tradición es eminentemente oral y también desvela muchos otros aspectos comunes a la literatura femenina, tales como la experimentación formal, la narración acronológica, la fragmentación textual, la transformación y nuevo empleo de géneros literarios como la autobiografía y el género epistolar, la perspectiva múltiple, la polifonía, la feminización del lenguaje y del discurso literario a través de la inclusión de temas eminentemente femeninos que hasta ahora no se ajustaban al canon literario establecido. (p. 40)

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Os romances e contos que tratam das genealogias femininas, em

especial os que tratam do tema da maternidade, aparecem num primeiro

momento, especialmente, nos anos 50 e 60, como denúncia das difi-

culdades e frustrações históricas herdadas pelas filhas de suas mães e

assim, sucessivamente, num movimento espiral, ao contrário. As mães e

filhas, nestes romances, são inimigas, opõem-se e, para as filhas, as

denominou de matrofobia, em que as relações entre mãe e filha são

essencialmente conflitantes.

3 Domínguez Miguela, Antonia. Esa imagen que en mi espejo se detiene. La herencia femenina en la narrativa de latinas en Estados Unidos. Huelva: Universidad de Huelva, Servicio de Publicaciones, 2001. 4 Rich, Adrienne. Nacemos de mujer: la maternidad como experiencia e institución. Madrid: Ediciones Cátedra, 1976.

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responsáveis pela repressão ou pelo sentimento de desvalor das filhas

seriam as mães que, aliadas à ideologia patriarcal desqualificaria suma-

riamente as mulheres.

A literatura de autoria feminina escrita neste primeiro momento e,

que também é tema recorrente em diferentes épocas, denominou-se de

matrofobia e consistia, nestas narrativas, numa representação de filhas

mulheres que rejeitavam veementemente suas mães como modelos

identitários. Para Adrienne Rich, uma das teóricas mais importantes sobre

o assunto,

[...] La matrofobia, como la ha denominado la poeta Lynn Sukenick, no es sólo el miedo a la propia madre o a la maternidad, sino a “convertirse en la propia madre”. Miles de hijas consideran que sus madres, que han ejemplarizado la resignación y el autodesprecio de los que las hijas están luchando por liberarse, han sido las transmisoras forzosas de las restricciones y degradaciones carac-terísticas de la existencia femenina. Es mucho más fácil rechazar y odiar abiertamente a la madre que ver, más allá, las fuerza que sobre ella actúan. Pero en un odio a la madre que llegue al extremo de la matrofobia, puede subyacer una fuerza de atracción hacia ella, un terror de que si se baja la guardia, se produzca la identificación completa con ella. Una adolescente puede vivir en guerra con la madre, pero usar sus perfumes y vestidos. Su manera de llevar su propia casa, una vez abandonado el hogar familiar, puede ser la negación del estilo de su madre: no hacer nunca las camas o dejar los platos sin lavar; es decir, un reverso inconsciente de la casa inmaculada propia de una mujer de cuya órbita necesita salir. (p.339) […] La matrofobia se puede considerar la escisión femenina del yo, el deseo de expiar de una vez por todas la esclavitud de nuestras madres, y convertirnos en seres libres. La madre representa la víctima que hay en nosostras, a la mujer sin libertad, a la mártir. Nuestras personalidades parecen mancharse y superponerse peli-grosamente a la de nuestra madre. (p.340)

No Brasil, alguns contos de Tânia Faillace, nos anos 70 e alguns

romances de Lya Luft, mesmo que sejam dos anos 80, são ainda

representativos desta tendência que relata uma total incomunicabilidade

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entre mães e filhas, em que esta relação é desastrosa para as duas e é

libertadora quando o vínculo se desfaz ou arrefece. Esgotado este primeiro

momento, em que a revolta ou a raiva, as frustrações, os sentimentos de

impotência e desvalorização são expressados pelas personagens das filhas

em relação a suas mães, a literatura de autoria feminina toma outros

rumos no que se refere ao tema das genealogias e à representação do par

mãe e filha.

O contrário da mãe que rejeita ou abandona e que, ainda referenda

os mandatos patriarcais que negam importância ou legitimidade às

mulheres seria, em alguns casos, o que Domínguez chamou de la musa-

familiar (p. 38), como um personagem artístico e criativo que estabelece a

transmissão da herança através da arte, de cuidar de um jardim, de cantar

ou de contar histórias.

Ciplijauskaité5

Marcela Lagarde

chamou de novelas de la maternidad (p. 63) aos

romances em que a figura materna é central e percebe a experiência da

maternidade na existência das protagonistas, gratificantes ou não, como

geradoras de importantes processos de concientização. 6

As mulheres, vitimizadas historicamente pela idelogía del amor (p.

161) deverão cuidar dos outros antes que de si mesmas. Os outros seriam

[…] hombres y mujeres con quienes se relacionan esencialmente para

em seu trabalho Los cautiverios de las mujeres:

madresposas, monjas, putas, presas y locas, afirma que a maternidade

como é concebida pela sociedade patriarcal é, para as mulheres, uma

forma de cativeiro:

[…] cautiverio es la categoría antropológica que sintetiza el hecho cultural que define el estado de las mujeres en el mundo patriarcal: se concreta políticamente en la relación específica de las mujeres con el poder y se caracteriza por la privación de la libertad, (p. 151)

5 Ciplijauskaité, Biruté. La novela femenina contemporánea (1970-1985). Hacia una tipología de la narración en primera persona. Barcelona: Anthropos, 1988. 6 Lagarde, Marcela. Los cautiverios de las mujeres: madresposas, monjas, putas, presas y locas México: Universidad Autónoma de México, 1997.

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existir: las criaturas, los niños, los jóvenes, los adultos, los viejos y los

ancianos, los enfermos y los minusválidos, los aptos, los desamparados y

los muertos (p. 249). Esta mãe que nutre e cuida de todos, mas que, ao

viver relações de dependência vital, dá a sua filha como herança, sua

carência e não se constitui ela mesma, como um modelo ou exemplo

afirmativo.

Carentes do afeto materno, as filhas repetem assim, o mesmo

modelo de cuidadoras que procuram, sem encontrar, a sua própria

realização, nos outros. O que a filha recebe como herança da mãe é o que

ela não tem, já que ela não es por sí misma (p. 429). Para Lagarde, toda

relação materna é ambivalente,

[…] Esta doble significación la caracteriza, tanto para los hijos hombres como mujeres. La madre es buena y mala a la vez, porque en su omnipotencia adulta y nutricia frente a la carencia infantil, da y niega, estimula y reprime: internaliza la cultura y con ella el poder. […] a la aceptación positiva de la madre de la cual se nutre, se suma el hecho de que el hijo se identifica con el padre, cuya figura social es poderosa y plena. La madre se realiza como ser objeto en esta relación con el hijo convertido en cónyuge filial, que no puede establecer con su cónyuge. En cambio, la madre debe transmitir a su hija aquello que la anula y somete, el contenido opresivo de su ser adherido a tal punto a su identidad genérica, que se confunde con ella. Así, en esta relación con la hija, la madre dadora y nutricia también es carencia erótica, sumisión. (p. 429)

As mães e filhas que aparecem protagonizadas na literatura de

autoria feminina atualizam estes temas e estes conflitos presentes na vida

das mulheres contemporâneas, que, por sua vez, repetem e reproduzem

conflitos que, historicamente, se fazem presentes na vida das mulheres. E,

atualizam também, a necessidade da construção de uma genealogia

feminina que sirva de modelo e exemplo, em que as mulheres se sintam

legitimadas em seus desejos, dúvidas e questionamentos.

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Basaglia7

As relações genealógicas das mulheres com outras mulheres, irmãs

ou outras, ou de amizade entre as mulheres atualizaria o vínculo das

filhas com as mães, revelando-o em suas contradições e peculiaridades.

Orbach y Eichenbaum

denomina de Madre-niña-sin-madre as mulheres que vivem

este estado de orfandade que gera uma solidão característica da condição

feminina no mundo patriarcal. A solidão das mães-meninas-sem-mãe é

herdada também pelas filhas de suas mães:

[…] se ha hablado de las mujeres como niñas sin madre, y esto da lugar a otras consideraciones que podrían explicar la capacidad de soledad de la mujer con respecto al hombre. Este estado de orfandad significa que para muchas mujeres no hay posibilidad de regresión al seno materno por no haber nunca una madre a la cual recurrir en busca de apoyo… (p.431)

8

A idéia de que as mulheres são essencialmente cuidadoras teria sua

origem na relação aparentemente indissociável do corpo feminino com a

maternagem como uma relação que se estabelece a partir de uma

naturalidade essencial na existência das mulheres, como bem observa

Massi:

ao aproximar estas duas relações que se

estabelecem projetivamente, observam o caráter ambivalente destas

relações entre as mulheres e suas amigas já que reeditam, muitas vezes,

as relações de aceitação e rejeição que têm com suas próprias mães.

Ainda segundo as autoras, a possibilidade que as mulheres têm de

colocar-se no lugar das outras ou de desenvolver esta capacidade tem a

ver com o fato delas possuírem verdadeiras antenas emocionais, e ao fato

de que as mulheres têm sido sempre cuidadoras contumazes e estar

permanentemente respondendo às demandas emocionais dos outros (pp.

56-57).

9

7 Basaglia cit. por Lagarde, op. cit., p. 431. 8 Orbach, Susie & Eichenbaum, Luise. Agridulce. El amor, la envidia y la competencia en la amistad entre mujeres. Autoayuda y superación. México: Grijalbo, 1989. 9 Massi, Marina. Vida de Mulheres. Cotidiano e imaginário. Rio de Janeiro: Imago, 1992.

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[...] Na vida das mulheres a maternação (ou maternagem) é de vital importância devido ao enorme envolvimento feminino na esfera privada e, como já vimos anteriormente, à responsabilidade que lhes cabe pela sobrevivência física e emocional dos bebês e das crianças, além da socialização até quase a fase adulta. Essa tarefa que a mulher moderna cumpre solitariamente tem sido motivo de crise e angústia, com conflitos conjugais e individuais; as mulheres sentem a necessidade de repensar esse encargo social aceito durante séculos que, finalmente, está em plena revisão. (p. 141)

Esta relação das mulheres com seus outros pares tem sua origem na

relação primeira das mulheres com suas mães, num movimento de

espelhamentos caracterizada, para Orbach y Eichenbaum, pela

[...] fusión. Y la ligazón que produce y que experimenta tanto la madre como la hija, es al mismo tiempo maravillosa y problemática [...] En la intimidad de la relación madre-hija está la impronta de las leyes sociales que las madres deben transmitirnos. Lo que una madre ambiciona transmitir a su hija y la prepara para eso, es que pueda vivir con alguna armonía como individuo cuando tome su lugar en el mundo. (p. 59)

O vínculo entre mãe e filha pareceria estar sempre entre dois

caminhos que se bifurcam entre a independência e a dependência, entre a

valorização do modelo materno e a rejeição a este mesmo modelo. Não é

outra a história das mulheres com suas mães, feita de todo tipo de

ambigüidades, contradições e necessidades imperiosas.

Orbach e Eichenbaum denominam também a relação de mãe e filha

de agridulce (p. 59) e chamam a atenção para a tensão permanente entre

parecer-se e diferenciar-se que provocaria uma sensação de inconsistência

na relação entre as duas, levando-se em conta os desencontros e as

necessidades impossíveis de satisfazer entre elas.

A natureza desta relação que as autoras denominam de uma ligação

por fusão (p. 61) é ambivalente e se apresenta de maneira especialmente

acentuada na relação da mãe com a filha ―diferentemente da relação da

mãe com o filho― na medida em que la madre se ve en la hija (p. 62).

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A mãe, também ela originária de uma relação semelhante com sua

mãe, em que a subjetividade feminina se dá no sentido de estar em

conexão, em relação com os outros é, fundamentalmente, uma cuidadora.

A filha, que, como a mãe, cuida mais dos outros que de si mesma, e que

quase sempre deixa de lado suas próprias necessidades e desejos, herda

das suas ancestrais uma ética do cuidado e do sacrifício que lhe é

outorgada como uma naturalidade.

Victoria Sau10

A conexão entre a mãe e a filha é fundamental para a firmação da

personalidade feminina, mas o que uma herda da outra é uma dificuldade

quase atávica de cuidar de si mesma e, da mesma maneira, uma mesma

nega a naturalidade e o essencialismo que reduz a

capacidade das mulheres aos cuidados com os outros. Ao falar sobre as

cuidadoras observa que

[...] La crítica ―cínica cuando procede de hombres, ignorante cuando procede de mujeres― de que las mujeres no exportan sus valores y cualidades y los reservan para el círculo íntimo de la familia y las amistades, en la práctica no se puede desmentir. Pero esto no es una acusación sino la consecuencia lógica de una organización sociopolítica que coloca el hacer de los hombres en el exterior, a pesar de que también mandan en el interior, al que han sido empujadas por la fuerza, también la fuerza de la costumbre […] Las mujeres cuidadoras se han dedicado a ello obligadas por la división sexual del trabajo, que todavía hoy distingue entre hermana y hermano a la hora de atender a los padres de ambos, salvo las excepciones de rigor. Otra cosa es que algunas, o muchas, hayan puesto en la tarea un empeño personal añadido, una actitud de afecto y hasta de altruismo, lo cual siempre es positivo. Puesto que hay que hacer algo, mejor que a regañadientes es hacerlo con interés, demostrando lo que se sabe en la materia, y disfrutando del trabajo bien hecho. Esto no impide que la tarea haya sido dura, gratuita como el propio trabajo llamado doméstico, y en muchas ocasiones, enajenante. La Iglesia católica ayudó simbólicamente a las mujeres a realizar su tarea cuidadora rodeándolas de ejemplos de vírgenes que representaban su misión en este mundo. (pp. 91-92)

10 Sau, Victoria. Diccionario Ideologico Feminista. (Vol. I) (2ª ed.). Barcelona: Icaria, 1981.

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dificuldade de poder responder a suas necessidades mais profundas. Esta

ligazón por fusión, simbiótica, da maneira como ocorre ao longo da história

das mulheres, responde, fundamentalmente, a seus desejos de depen-

dência e às dificuldades que elas enfrentam com a construção de condutas

autônomas, já que o modelo existente é também dependente e pouco

afirmativo. A necessidade de cuidar e prover o outro se traduz numa

necessidade imperiosa de ser cuidada, mesmo que estes sentimentos não

apareçam de forma objetiva.

Seriam estas algumas das dificuldades que as mulheres imprimiriam

nas suas relações com outras mulheres,

[…] Y a medida que la hija se acerca a la adultez tiene una experiencia equivalente. No sólo retiene la presencia de la madre dentro de sí, no sólo es consciente, en forma aguda, de la necesidad de la madre, no solamente se siente responsable por mantener la ligazón que la madre necesita, sino que en forma inconsciente lleva esa responsabilidad a sus futuras relaciones con amigas y amantes. (p. 65)

Esperava-se que o Feminismo pudesse garantir ou promover algu-

mas facilidades no caminho da liberação das mulheres em relação a suas

mães, mas, de acordo com as autoras, pode-se constatar de maneira

surpreendente que quanto mais liberadas se sentiam as mulheres, maiores

e mais significativos eram os conflitos com suas mães e também com suas

filhas.

Porque os sentimentos que permeiam esta relação têm a ver,

justamente, com a dificuldade de estabelecer limites próprios entre a

necessidade de semelhança e diferenciação entre elas. Esta dificuldade

aparece através de uma equação quase sempre muito pouco clara sobre o

valor da maternidade na nossa sociedade y na nossa cultura. Se, por um

lado, as mulheres são idolatradas e supervalorizadas pela função materna,

que vê a feminilidade como sinônimo de maternidade, é esta mesma

função materna que desvaloriza as mulheres. As mulheres, porque têm de

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cuidar da casa, dos filhos e da família não têm condições que as permitam

cuidar de outras coisas ou atividades e problemas externos a esfera

doméstica.

Tal ambivalência, sobre a desvalorização e valorização dos papéis

femininos, em especial o da maternidade, criada pela ideologia patriarcal,

mantém as mulheres, historicamente, numa espécie de esquizofrenia

passiva, numa armadilha permanente, que cria sentimentos ambivalentes

na vida das mulheres, criando identidades fraturadas fazendo com que

elas necessitem resgatar-se e recompor-se com base em novos valores.

As mulheres não querem parecer-se com suas mães a quem o

mundo público do trabalho ou da livre expressão de sua sexualidade foi

vetada, rejeitam veementemente este modelo depois das grandes

conquistas relacionadas à anti-concepção, ao direito de poder estudar,

escolher uma profissão, ter ou não ter filhos. E querem parecer-se com

suas mães ao desejarem um mundo diferente quando querem viver a

experiência da maternidade sem as pressões e estereótipos que degradam

as mulheres.

As mulheres encontram-se numa encruzilhada entre um caminho

cheio de conquistas e outro cheio de repetições. Atrás das dificuldades que

aparecem como sintomas nos comportamentos que se repetem estão, sem

dúvidas, as dificuldades que as mulheres têm de relacionar-se com suas

mães e como desejam tê-las ou não como modelos. As exigências dos

meios de comunicação sobre as medidas corporais, a dessexualização do

corpo feminino, por um lado, ao desejá-lo esquálido e andrógino, e sua

exacerbada sexualização ao vê-lo, pensá-lo e expô-lo somente desta

maneira, cria todo tipo de situações difíceis para as mulheres. Os

transtornos alimentares, a supervalorização da sexualidade, que tem como

imagem central o corpo feminino, o medo aos abusos sexuais fazem com

que as mulheres repitam comportamentos de outros tempos.

A repressão da sexualidade feminina se repete aproximando a

mulher dos dias atuais com as heroínas do século XIX que padeciam de

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anemia, pneumonia, doenças nervosas y outras, porque cuidavam de seus

corpos de maneira inadequada e não podiam expressar livremente seus

desejos e suas necessidades.

As mudanças na vida das mulheres ainda se processam, se as

imagens das mães confinadas ao mundo doméstico e ao silêncio já não

servem, também o mundo com o qual sonhou a utopia feminista, de uma

irmandade entre mulheres, não se concretizou. Para algumas a reva-

lorização do vínculo entre mães e filhas poderia ser decisivo para o

questionamento de determinadas normas e papéis que desvalorizam as

identidades femininas na sociedade patriarcal.

Com a publicação do romance da escritora chilena Isabel Allende,11

Outros personagens femininos importantes no texto de Allende que

são importantes para uma reflexão sobre os papéis femininos da

maternidade ou das cuidadoras, são Férula e a ama, duas solteironas

desvalidas e desamadas, que vivem para os outros e que criam também

A casa dos espíritos, pode-se observar claramente uma tendência que

norteia a narrativa de autoria feminina, que é a da criação de uma

genealogia feminina.

No romance de Isabel Allende a repetição dos nomes femininos

correspondentes a diferentes cores brancas, tentam criar uma genealogia

que estabelece, ao mesmo tempo, uma cronologia das diferentes gerações e

uma identidade entre as mulheres da família, através da influência de

umas sobre as outras e do desejo da criação de uma identidade comum.

Uma identidade francamente afetiva e afirmativa para todas elas. De todas

maneiras no texto de Allende, o grande protagonista é, todavia, o patriarca

Esteban Trueba, ao redor de quem se desenvolve o destino das

personagens femininas. Allende propõe o plano de uma genealogia

feminina mas termina por não cumpri-lo já que a função protagônica é

cumprida por Trueba e não pelos personagens femininos.

11 Allende, Isabel. A casa dos espíritos. Rio de Janeiro: Bertrand, 1993.

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genealogias assimétricas com as demais mulheres do romance.

Personagens como os de Férula ou da Ama sinalizam para as questões de

classe ou de raça, como em outros romances, que caracterizariam as

relações específicas entre as mulheres na literatura latino-americana.

Em A República dos Sonhos da brasileira Nélida Piñon12

Em Ojo de Pez, a venezuelana Antonieta Madrid

(1984),

como em Allende, a genealogia feminina se estabelece entre avó, mãe e

filha, nas figuras de Eulália, Esperança e Bretã, ainda que, neste texto, a

figura central seja, como no texto de Allende, Madruga, com quem todas,

bem ou mal, terminam por se relacionar. 13

O romance da brasileira Lya Luft,

constrói um relato

em que as linhas geracionais se dão através das personagens femininas

que se assemelham não só através dos nomes próprios, Mamabella,

Mamatchka, Mamá Ina, mas também nos traços físicos, umas mais belas

do que as outras, criando também um movimento de comparações,

espelhamentos e desdobramentos em que a protagonista-narradora se

indaga sobre sua própria identidade. 14 As parceiras (1980) conta a

história de Anelise que volta a casa da família depois da morte de seu

único filho, num momento crucial de decisões e reflexões, em que ela

começa a contar a história da família, uma família de mulheres

consideradas loucas, malsinadas, perdedoras, irmanadas pela dor. Em A

asa esquerda do anjo (1982) também de Luft,15

12 Piñon, Nelida. A República dos Sonhos. Rio de Janeiro: Francisco Alves Editora, 1984. 13 Madrid, Antonieta. Ojo de pez. Caracas: Planeta, 1990. 14 Luft, Lya. As Parceiras. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980. 15 Luft, Lya. A asa esquerda do anjo. Rio de Janeiro: José Olympio, 1981.

as dificultades da

protagonista aparecem através do sentimento de inadaptação de sua mãe

que é estrangeira numa família de alemães e pela ambigüidade do nome da

protagonista: Gisela ou Guísela. O amor materno se contrapõe à

hostilidade da avó, fazendo com que a protagonista construa uma difícil

genealogia rejeitando a avó e tentando parecer-se a mãe.

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Da mexicana Laura Esquivel,16

Em Mal de Amores de Ángeles Mastreta

o romance Como água para chocolate

(1989), trata de uma história que tem como núcleo central o amor entre

Pedro e Tita. Mas a construção do personagem feminino central, Tita se

estabelece a partir de suas relações com as demais mulheres da narrativa,

de sua casa, da família. Os jogos especulares vão traçando o perfil de Titã

que tem uma relação de competição com suas irmãs, de hostilidade e

rejeição com a mãe que não quer que ela se case, e de afeto com Nacha,

que cumpre com o papel de mãe afetuosa. O eixo genealógico mais

importante, no entanto, é o de Tita com a sobrinha-neta Esperança, que

herda o caderno de receitas da tia. A relação de Tita com a mãe é de

abandono e rejeição e, em alguns momentos da vida das duas poderíamos

considerar que é a filha quem cumpre com a função materna em relação a

Mame Elena. 17

Margo Glantz,

(1996), a protagonista

Emilia cresce sob os olhos cuidadosos da mãe, Josefa Sauri e da tia

Milagros Veytia, irmã de Josefa, que são apresentadas como antagônicas,

mas as duas essenciais para o crescimento da protagonista que as vê, em

seus defeitos e qualidades, como complementares. Ainda que o dado

histórico, da Revolução Mexicana, se imponha como central na narrativa, o

plano genealógico se estabelece entre as relações da mãe com a filha, da

mesma forma, da tia com a sobrinha e entre as duas irmãs. 18

16 Laura Esquivel. Como água para chocolate. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1986.

em Genealogías (1996), ainda que privilegie na

narração de sua genealogias a história de seus pais que chegam ao

México, um país exuberante que termina por ser o cenário da biografia

familiar, com as especificidades de sua origem judia, fazendo do casal seu

núcleo central, termina sua narrativa atendendo a sua genealogia mais

importante,

17 Mastreta, Ángeles. Mal de amores. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997. 18 Glantz, Margo. Genealogías. México: Alfaguara, 1996.

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[...] Mi padre murió el 2 de enero de 1982. Mi madre, el 13 de mayo de 1997. Tenía casi 95 años. Murió con la dignidad, la finura, la paciencia, el sentido de humor, los gestos que la habían carac-terizado siempre. ¿Cómo pudo sobrevivir a mi padre tanto tiempo? ¿En dónde encontró su territorio? Es más que probable que su verdadero territorio, el de ella, y el de mi padre, fuese su propio cuerpo, ese cuerpo finito, reducido, llagado con el que murió, ese cuerpo que alguna vez fuera armónico y hermoso, ese cuerpo en el que me alojé alguna vez, ese cuerpo que me permitió ser lo que soy. La lloro, la admiro, me lleno de culpas, vuelvo a llorarla, a admi-rarla, a llenarme de culpas y escribo estas precarias palabras insuficientes para recordarla y para ponerle un punto final, ahora sí, a mis genealogías. (p. 240)

Em Antigua Vida Mía de Marcela Serrano,19

Também em Para que no me olvides de Marcela Serrano,

ainda que o eixo central

da narrativa seja a história de amizade entre Violeta Dasinski e Josefa

Ferrer, as duas personagens femininas têm em suas mães, Carlota e

Marta, importantes referências já que as duas, de alguma maneira,

cumprem com as expectativas maternas. Uma seguindo uma carreira bem-

sucedida como arquiteta e a outra seguindo suas orientações artísticas

como uma consistente alavanca de ascenção social. Também a relação das

protagonistas com suas filhas é importante na trama, Jacinta e Celeste, já

que o jogo especular se repete e é significativo no desenvolvimento da

identidade de todas elas. Para Violeta Dasinski, o reencontro com a mãe

perdida, em Antigua, o reencontro com a história de sua mãe, inaugura a

segunda parte da história de sua vida, em que ela pode escolher seus

caminhos e viver de acordo com suas necessidades e desejos. 20

19 Serrano, Marcela. Antigua vida mía. Madrid: Alfaguara, 1998. 20 Serrano, Marcela. Para que no me olvides. Santiago de Chile: Editorial Los Andes, 1997.

Blanca

tem uma difícil relação com a mãe que a rejeita. Mesmo que o romance

também estabeleça como eixo central a história das três amigas, Blanca,

Victoria e Sofia, é a relação afetiva de Blanca com o irmão, que substitui

em parte o afeto materno e que é quem a aproxima das amigas, que será

determinante para seu enfrentamento com uma nova identidade. A relação

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de competição de Blanca com a irmã Piá e de afeto com a filha Trinidad

também aparecem como importante e afirmativa na narrativa.

No romance A mãe da mãe de sua mãe e suas filhas, de Maria José

Silveira,21

A genealogia mãe-filha é também central no romance La “Flor de

Lis”, de Elena Poniatowska,

uma genealogia de mãe, filha, avó, neta, bisneta e muitas mais,

percorre alguns séculos da história do Brasil, pelo imenso território do

país, inventariando-se fatos históricos e os diferentes costumes que

abarcam períodos da história brasileira que vão de 1500 aos dias atuais. A

história de Sahy, Maria Cafuza, Maria Taiôba, Guillermina e Jacira, entre

outras, conecta-se pela herança de uma pequena caixa de guardar jóias

que passa entre as mulheres da família como um legado. A protagonista

final desta longa genealogia, Flor,cresce ao lado da avó, depois de perder a

mãe na luta armada contra a ditadura no Brasil, inclui este romance entre

alguns em que o tema da solidariedade entre as mulheres aparece como

central e se dá em função das questões históricas e políticas vigentes.

22

em que a relação entre mãe e filha, Mariana

e Luz, uma relação cheia de distâncias e idealizações, se desdobra na vida

da protagonista, Mariana, em relações significativas que ela estabelece

com outras mulheres, como suas avós, serventes, criadas, amigas, a

criada Magda e sua irmã Sofia. As frustrações advindas desta relação de

marina com sua mãe, uma figura materna infantil e distante, confirma-se

para a filha, como uma total falta de consistência e insegurança em

relação a si mesma. Para Mariana, os sentimentos de inadaptação, de

insegurança se misturam com suas dificuldades de estabelecer um vínculo

gratificante com a mãe imatura e com o fato de ser estrangeira:

[...] ¿Es ésta la herencia abuela, bisabuela, tatarabuela, es éste el regalo que me dejaron además de sus imágenes en el espejo, sus gestos inconclusos? No puedo con sus gestos fallidos, su desidia, su frustración. (p. 259)

21 Silveira, Maria José. A mãe da mãe de suas mães e suas filhas. São Paulo: Globo, 2002. 22 Poniatowska, Elena. La "Flor de Lis". México: Ediciones Era, 1997.

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[...] No sé dónde poner los ojos... ¿Cuántas horas estamos solas mirando por la ventana, mamá? Es entonces cuando te pregunto, mamá, mi madre, mi corazón, mi madre, mamá, la tristeza que siento, ¿ésa dónde la pongo? ¿Dónde, mamá? (p. 261)

Autoras como Maria Amparo Escandón,23 Ana Maria Shua,24 Gra-

ciela Beatriz Cabal25 ou Valesca de Assis26

Um dos elos fundamentais na corrente das narrativas das genealogias

femininas é a figura da avó, em geral, da avó materna. Se verificarmos a

e seus romances também

representam a complexa relação mãe-filha, narrativas genealógicas que

trazem a público as necessidades, tanto das mães como das filhas sobre

este afeto absoluto na construção da identidade feminina para as duas.

Ao deslocar o eixo dos relacionamentos das mulheres que, histo-

ricamente, era representado como relativo às figuras parentais masculinas

(pais, irmãos, filhos, maridos, namorados, noivos ou amantes), em que as

mulheres eram figuras secundarias, para o eixo das genealogias femininas,

outras necessidades começam a aparecer. A representação deste

deslocamento que no imaginário literário aparece na necessidade da

construção das genealogias femininas. As mulheres estariam assim,

revitalizando de maneira ressignificada, novas relações entre as mulheres,

em que se estabeleceria um processo identificatório mais afirmativo entre

elas.

À literatura de autoria feminina que trata do tema das relações

genealógicas entre mães e filhas como significativas para um importante

desenvolvimento na vida das mulheres, aceitando-o ou rejeitando-o,

chamou-se, de diferentes maneiras de literatura matrilinear, romances de

maternidade, etc.

AS AVÓS E AS NETAS

23 Escandón, Maria Amparo. A caixa de santinhos de Esperanza. Rio de Janeiro: Rocco, 2000. 24 Shua, Ana María. Los amores de Laurita. Buenos Aires: Sudamericana, 1984. 25 Cabal, Graciela Beatriz. Secretos de Familia. Buenos Aires, 1997. 26 Assis, Valesca. A colheita dos dias. Porto Alegre: Editora Movimento, 1992.

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simbologia da avó no imaginário literário, do mais antigo ao mais

contemporâneo, a figura da avó nos remete à figura da anciã, da velha

senhora, que quase sempre é uma figura positiva, afirmativa, com

significados importantes. No Dicionario de Símbolos de Gheerbrant y

Chevalier,27

As figuras femininas das avós na literatura de autoria feminina têm

também sua identificação com o imaginário literário de todos os tempos e

com o arquétipo da anciã. É mulher mais velha, protetora, muitas vezes

seu nome será também o nome de sua filha e de sua neta, e sua função no

relato, freqüentemente, é o de transmitir um conhecimento importante

o significado da anciã nos remete à idéia da sabedoria e

confiança que seriam características da velhice e da maturidade:

[....] Se a velhice é um sinal de sabedoria e de virtude (os presbíteros são originalmente anciãos, i.e., sábios e guias), se a China desde sempre honrou os velhos, é que se trata de uma prefiguração da longevidade, um longo acúmulo de experiência e de reflexão, que é apenas uma imagem perfeita da imortalidade. [...] Mas escapar às limitações do tempo pode ser expresso tanto no passado quanto no futuro-, ser um velho é existir desde antes da origem; é existir depois do fim desse mundo. (p. 934)

E se pensarmos na tradição literária dos mitos e dos contos de

fadas, a figura da anciã é uma figura relacionada com aquela que é a

guardiã da sabedoria, por um lado e, aquela que pode transmitir um dado

conhecimento, por outro. Fada ou bruxa, a anciã costuma cuidar dos

outros (ou não cuidar), ser sábia (ou bruta, ignorante, avarenta) e guardar

um conhecimento que é importante (ou não compreendê-lo). E o

conhecimento importante que a anciã costuma guardar é, sem dúvidas, o

conhecimento de uma tradição que se perde no tempo e que quase sempre

foi transmitido oralmente. Este é o arquétipo da anciã, o de alguém que

estabelece sua autoridade com o passar dos anos, tem experiência e é essa

antiguidade e experiência que a fazem sábia e confiável.

27 Chevalier, Jean & Gheerbrant, Alain. Dicionário de Símbolos. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1988.

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relativo à tradição da experiência feminina. A presença da figura da avó

pode dar-se através da memória da filha o da neta ou através de uma

herança que pode aparecer nas cartas guardadas ou escondidas, diários

íntimos, etc. A avó, figura intermediária entre a mãe e a filha, pode servir

como mediadora entre as duas, distensionando os conflitos e tensões

naturais entre elas ou como um elo que consolida a relação ou a

identificação entre as três, afirmando positivamente a identidade de cada

uma.

Natalie Angier28

Angie insiste no fato de que as avós são figuras imprescindíveis e

que ajudam suas filhas quando elas têm seus filhos e que, desta maneira

observa a importância do que ela chama de uma

relação de matrilinearidade (p. 18) entre as mães, filhas e avós percebendo-

a como a imagem das bonecas russas, as matryoshka, assinalando a

importância destas relações no desenvolvimento da personalidade das

mulheres. A importância das avós para a família quando nascem as netas

e sua importância como mediadoras e intermediárias quando as linhas da

ancestralidade de estendem:

[...] A mulher idosa é alguém que conhecemos desde sempre. Ela está lá no cantinho do inconsciente feminino, quieta, feroz, amorosa, obliterante. Ela explica alguns dos impulsos que nos perturbam e nos confundem. (p. 250, 2000)

[...] Se as mulheres jovens há muito precisam das mulheres mais velas, e se essa necessidade era um princípio organizador da sociedade humana primitiva, nossa ânsia inerente por nossas mães não pode e não deve se encerrar na puberdade. Ela é muito mais forte que isso. É como um rio de nossas vidas. Ele corre e nós temos de navegá-lo, ele se enchapela, marulha e cai, mas não acaba nunca e temos de nos deixar levar. Se uma mulher mais velha tomou conta de seus filos, ela era como seus filos: profundamente amada e querida, uma parte de você mesma. (p. 252, 2000)

28 Angier, Natalie. Mulher, uma geografia íntima. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2000.

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fazem possível a continuação da família e compartilham ensinamentos

importantes da própria experiência familiar.

Em seu ensaio Grandes madres y abuelas, David L. Miller29

Para Antonia Domínguez Miguela

observa

a equivalência entre as expressões Grande Mãe e Avó, já que as duas

corresponderiam com propriedade à expressão latina Magna Mater (p. 135,

1994). Para ele as avós estariam muito próximas da experiência das mães

de uma maneira quase indistinta:

[...] el discurso teórico construye una especie de cuento de hadas académico que no es fiel a las experiencias de las fuentes femeninas. Pero puede haber un tropo que nos informe acerca de las maneras según las que, sin darnos cuenta, hemos comenzado a pensar y sentir sobre la madre y serlo, porque dentro de la imagen arquetípica de la “gran madre” residen muchos grandes mitos, muchas abuelas, cada una de las cuales ofrece diversas posi-bilidades para imaginar la fuente femenina y su riqueza de recursos. (p. 136, 1994)

Miller lembra o importante papel que cumpre Rea, avó de Perséfone,

que vai negociar o deslocamento de Perséfone que devera ficar a quarta

parte de seu tempo nas profundidades com Hades e as outras três quartas

partes de seu tempo na luz com Deméter (p. 137, 1994). É a sabedoria e

experiência de Rea que garante o êxito da negociação entre a desesperação

da mãe e a inexperiência da filha. 30

29 Miller, David L. “Grandes madres y abuelas”, en Downing, Christine. Espejos del yo. Imágenes arquetípicas que dan forma a nuestras vidas. Barcelona: Kairós, 1994. 30 Domínguez Miguela, Antonia. Esa imagen que en mi espejo se detiene. La herencia femenina en la narrativa de latinas en Estados Unidos. Huelva: Universidad de Huelva. Servicio de Publicaciones, 2001.

que investiga a herança feminina

nas narrativas latinas nos Estados Unidos, a figura da avó nos relatos

estudados, é uma figura quase mítica, responsável pela recuperação de

uma herança feminina e cultural. Segundo Domínguez Miguela o

personagem da avó cumpriria algumas funções que se repetem nos relatos:

a avó como agente cultural (p. 170, 2001), a avó como modela de fortaleza

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e resistência (p. 173, 2001) e a avó como modelo criativo e literário (p. 117,

2001).

No primeiro, a avó se transformaria num ser idealizado, identificado

com a terra e o país de origem, o que atribui uma força telúrica expressada

numa rica oralidade e uma sabedoria ancestral. A figura da avó está, neste

caso, relacionada com o país de origem, a um passado quase mítico,

idealizado, já que as filhas ou netas que lembram dela partiram para o

exílio voluntário ou obrigatório. Através da figura da avó e do que ela conta

é possível conectar-se com uma identidade ou passado cultural.

A função da avó como modelo de fortaleza e resistência

corresponderia a avó como mediadora entre a mãe, que em geral espera

que a filha cumpra com os papéis da feminilidade impostos pela ideologia

patriarcal, e a neta que quer fazer suas próprias escolhas que nem sempre

são as mesmas esperadas pela mãe. A avó transmite à neta uma maneira

de buscar sua própria identidade avalizando valores femininos que

transcendem as demandas sociais, os valores que importam para a

realização de uma trajetória de auto-descobrimento e auto-realização. A

avó seria para uma figura de poder e resistência já que sua longevidade e

sabedoria a fizeram ser capaz de construir e criar suas próprias crenças e

fazer suas próprias escolhas.

A avó como modelo criativo e literário, proposta por Domínguez

Miguela teria sua figura arquetípica em muitos pares de avós e netas,

personagens que contam e escutam contos e histórias ao longo da história

da literatura, Mas, sem dúvidas, as figuras paradigmáticas que cumprem o

papel proposto por Domínguez Miguela seriam a avó e a neta que abrem o

conto de Isak Dinesen, La página em blanco:

[...] ―¿Queréis un cuento, señora gentil, caballero? He contado mu-chas, muchas historias, mil y una más, desde los tiempos en que dejaba que los muchachos me contasen a mí el cuento de la rosa roja, los dos suaves capullos de azucena y las cuatro serpientes sedosas, cimbreantes y mortalmente enlazadas. Fue la madre de mi

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madre, la bailarina de ojos negros a quien tantos poseyeron, la que hacia el fin de su vida, arrugada como una manzana de invierno y escondida detrás del piadoso velo, me enseñó el arte de relatar historias. La madre de su madre se lo había enseñado a ella, y ambas eran mejores narradoras que yo. Pero esto ahora no tiene importancia, porque, para las gentes, ellas y yo somos la misma y me tratan con gran respeto, puesto que vengo contando historias desde hace doscientos años. (p. 103, 1985)

Para Domínguez Miguela o poder da transmissão dos contos

corresponde ao poder da ficção e da criatividade, numa trajetória quase

arqueológica para a recuperação de um conhecimento e de uma sabedoria

que expressa as vivências e experiências de um conhecimento e de uma

sabedoria que expressa as vivências e experiências femininas. Mesmo que

seu trabalho seja sobre as autoras latinas nos Estados Unidos, é correto

afirmar que a identificação destes relatos com as autoras hispano-

americanas é bastante grande e também a semelhança das avós que

aparecem em todas estas narrativas.

Na narrativa latino-americana poderíamos citar o exemplo dos

romances de Elena Poniatowska, Rachel Jardim, Maria José Silveira ou

Cristina García, entre outras, se pensarmos a figura da avó com as

características de uma figura que remete à força da terra e da contadora

de histórias que transmite a tradição cultural de seu povo ou das

mulheres.

As avós, tanto a européia como a mexicana, expressam no romance

de Poniatowska este simbolismo com a terra, o que é significativo na obra

já que o deslocamento de Mariana e sua família da França ao México é a

ponte que se estende na passagem da infância à adolescência da menina.

As duas avós cumprem com este simbolismo telúrico e são, de acordo com

a proposta de Domínguez Miguela, as que transmitem uma cultura oral,

própria entre elas, às filhas e às netas. A avó paterna tenta suavizar a

ausência do pai e transmite a língua estrangeira e suas normas. A

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materna tenta dirimir as ausências da mãe e lhe dá as chaves da pátria de

adoção, a língua e a conexão com a natureza.

Em A mãe da mãe da sua mãe e suas filhas de Maria José Silveira, a

linha genealógica aparece com Inaiá, que vive entre 1500 e 1514 até as

três últimas gerações de mulheres da mesma família, Rosa Alfonsina, que

nasce em 1926 e permanece viva até o final da narrativa. Lígia, filha de

Rosa alfonsina, que nasce em 1945 e morre sob tortura na ditadura militar

em 1871 e a neta que nasce em 1968 e permanece viva ao lado da avó, que

cumpre com a função materna para a neta, constroem os elos desta

genealogia.

Em O Penhoar Chinês, de Rachel Jardim31

A escritora cubana Cristina García, publica em 1992, Sonhos

Cubanos, um romance que conta a história de três gerações de mulheres

representadas pela matriarca Célia, que vive nos arredores de La Habana e

é absolutamente fiel à Revolução Cubana, até a atualidade. A narrativa se

desenvolve entre os anos 70 e 80. Lourdes, filha de Célia sai de cuba e

abre uma padaria no Brooklyn e nega, por sua vez, a vida cubana, sua

cultura e a revolução. Pilar, filha de Lourdes e neta de Célia é quem vai

juntar as pontas deste intrincado jogo de espelhos, apresenta as diferenças

e semelhanças que também são relativas às questões políticas e aos

questionamentos sobre a identidade feminina de cada uma delas. Grande

parte das experiências das três, grande parte de suas decisões se

relacionam com vivências relativas ao corpo, à sexualidade, às suas

, três gerações de

mulheres, avó, mãe e filha, são as protagonistas do romance e, mesmo que

o conflito se estabeleça entre a mãe e a filha, as três têm o mesmo nome, e

o mesmo nome da Villa em que acontece a história. Elisa será, assim, o

nome das mulheres e da casa que funciona como um gineceu e que quase

sempre aparece também, como um outro personagem feminino.

31 Jardim, Rachel. O Penhoar Chinês. Rio de Janeiro: José Olympio Editora.

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histórias de amor ou desamor, numa relação especular em que elas podem

escolher parecer-se ou diferenciar-se entre elas.

Pode-se afirmar, a partir de alguns exemplos, que a figura da avó

nas narrativas estudadas, quase sempre tem um caráter positivo e se

constituem enquanto modelos identitários, como afirmativas e gratificantes

em suas relações com as jovens netas, facilitando, desta maneira uma

mediação possível e prazerosa entre a complexa relação mãe e filha.

A necessidade da construção de uma genealogia feminina,

representada amplamente nos romances contemporâneos, os de autoria

feminina, e que se dá através da recorrência de uma narrativa em que se

conta a história de uma mãe, de uma filha, de uma avó ou de uma neta,

ou mesmo entre irmãs, sobrinhas e tias, etc., tem como objetivo que a

protagonista descubra a sua própria identidade. Este processo acontece na

medida em que a protagonista, ao conectar-se com a sua própria história,

através do reconhecimento de suas semelhanças e diferenças com a

história de outras mulheres de sua família, possa se conectar com o seu

próprio corpo, semelhante ou diferente dos pares em questão, real ou

simbolicamente, e assim com seus próprios desejos e sua expressão, que,

no mais das vezes é semelhante ao das suas iguais. Tornam-se, desta

maneira, todas elas, herdeiras de uma genealogia, criando entre as

diferentes gerações, um movimento incessante de indagação e

questionamentos que possibilita uma trajetória de descobertas e auto-

conhecimento.

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