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22
Coleção ANTROPOLOGIA SOCIAL diretor: Gilberto Velho O RISO E O RISÍVEL CARISMA Verena Alberti Charles Lindholm MOVIMENTO PUNK NA CIDADE AUTORIDADE & AFETO Janice Caiafa • Myriam Lins de Barros O ESPÍRITO MILITAR ILHAS DE HISTÓRIA OS MILITARES E A REPÚBLICA Marshall Sahlins Celso Castro OS MANDARINS MILAGROSOS Elizabeth Travassos VELHOS MILITANTES Ângela Castro Gomes, ANTROPOLOGIA URBANA Dora Flaksman, DESVIO E DIVERGÊNCIA Eduardo Stotz INDIVIDUALISMO E CULTURA PROJETO E METAMORFOSE DA VIDA NERVOSA SUBJETIVIDADE E SOCIEDADE Luiz Fernando Duarte A UTOPIA URBANA Gilberto Velho GAROTAS DE PROGRAMA Maria Dulce Gaspar • O MUNDO FUNK CARIOCA • O MISTÉRIO DO SAMBA NOVA LUZ SOBRE Hermano Vianna A ANTROPOLOGIA Clifford Geertz BEZERRA DA SILVA: PRODUTO DO MORRO O COTIDIANO DA POLÍTICA Letícia Vianna Karina Kuschnir • O MUNDO DA ASTROLOGIA Luís Rodolfo Vilhena CULTURA: UM CONCEITO ANTROPOLÓGICO ARAWETÉ: OS DEUSES CANIBAIS Roque de Barros Laraia Eduardo Viveiros de Castro Roque de Barros Laraia CULTURA Um conceito antropológico 14ª edição Jorge Zahar Editor Rio de Janeiro

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Col

eção

A

NTR

OP

OLO

GIA

SO

CIA

L di

reto

r: G

ilber

to V

elh

o

• O

RIS

O E

O R

ISÍV

EL

• C

ARIS

MA

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Alb

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C

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les

Lin

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ADE

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yria

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arro

s

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ILH

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TÓR

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ando

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aspa

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A • •

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TÉR

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A

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erm

ano

Via

nn

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raia

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o

Roq

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arro

s La

raia

CU

LTU

RA

U

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once

ito a

ntro

poló

gico

14

ª ed

ição

Jorg

e Za

har E

dito

rR

io d

e Ja

neiro

Este

s trê

s ex

empl

os m

ostra

m q

ue n

ão é

pos

síve

l adm

itir

a id

éia

do d

eter

min

ism

o ge

ográ

fico

, ou

sej

a, a

adm

issã

o da

"a

ção

mec

ânic

a da

s fo

rças

nat

urai

s so

bre

uma

hum

anid

ade

pura

men

te r

ecep

tiva"

. A p

osiç

ão d

a m

oder

na a

ntro

polo

gia

é qu

e a

"cul

tura

age

sel

etiv

amen

te",

e n

ão c

asua

lmen

te, s

obre

se

u m

eio

ambi

ente

, "ex

plor

ando

det

erm

inad

as p

ossi

bilid

ades

e

limite

s ao

des

envo

lvim

ento

, par

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qual

as

forç

as d

ecis

ivas

es

tão

na p

rópr

ia c

ultu

ra e

na

hist

ória

da

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ra".3

As

dife

renç

as e

xist

ente

s en

tre o

s ho

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s, p

orta

nto,

não

po

dem

ser

exp

licad

as e

m t

erm

os d

as l

imita

ções

que

lhe

s sã

o im

post

as p

elo

seu

apar

ato

biol

ógic

o ou

pel

o se

u m

eio

am-

bien

te.

A g

rand

e qu

alid

ade

da e

spéc

ie h

uman

a fo

i a

de

rom

per

com

sua

s pr

ópri

as l

imita

ções

: um

ani

mal

frá

gil,

prov

ido

de i

nsig

nifi

cant

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rça

físi

ca, d

omin

ou t

oda

a na

tu-

reza

e s

e tr

ansf

orm

ou n

o m

ais

tem

ível

dos

pre

dado

res.

Sem

as

as, d

omin

ou o

s ar

es;

sem

gue

lras

ou

mem

bran

as p

rópr

ias,

co

nqui

stou

os

mar

es.

Tudo

ist

o po

rque

dif

ere

dos

outr

os

anim

ais

por

ser

o ún

ico

que

poss

ui c

ultu

ra.

Mas

que

é

cultu

ra?

3. A

NTE

CED

ENTE

S H

ISTÓ

RIC

OS

DO

C

ON

CEI

TO D

E C

ULT

UR

A

No

fina

l do

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lo X

VII

I e n

o pr

incí

pio

do s

egui

nte,

o te

rmo

germ

ânic

o K

ultu

r er

a ut

iliza

do p

ara

sim

boliz

ar t

odos

os

aspe

ctos

esp

iritu

ais

de u

ma

com

unid

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enq

uant

o a

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vra

fran

cesa

Civ

iliza

tion

refe

ria-s

e pr

inci

palm

ente

às

real

izaç

ões

mat

eria

is d

e um

pov

o. A

mbo

s os

ter

mos

for

am s

inte

tizad

os

por

Edw

ard

Tylo

r (1

832-

1917

) no

voc

ábul

o in

glês

Cul

ture

, qu

e "t

omad

o em

seu

am

plo

sent

ido

etno

gráf

ico

é es

te t

odo

com

plex

o qu

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clui

con

heci

men

tos,

cre

nças

, ar

te,

mor

al,

leis

, co

stum

es o

u qu

alqu

er o

utra

cap

acid

ade

ou h

ábito

s ad

quir

idos

pel

o ho

mem

com

o m

embr

o de

um

a so

cied

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.1 C

om e

sta

defi

niçã

o Ty

lor

abra

ngia

em

um

a só

pal

avra

toda

s as

pos

sibi

lidad

es d

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aliz

ação

hum

ana,

alé

m d

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arca

r fo

rtem

ente

o c

arát

er d

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rend

izad

o da

cul

tura

em

opo

siçã

o à

idéi

a de

aq

uisi

ção

inat

a,

tran

smiti

da

por

mec

anis

mos

bi

ológ

icos

. O

co

ncei

to

de

Cul

tura

, pe

lo

men

os

com

o ut

iliza

do

atua

lmen

te,

foi

port

anto

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inid

o pe

la p

rim

eira

vez

por

Ty

lor.

Mas

o q

ue e

le f

ez f

oi f

orm

aliz

ar u

ma

idéi

a qu

e vi

nha

cres

cend

o na

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te h

uman

a. A

idé

ia d

e cu

ltura

, com

efe

ito,

esta

va g

anha

ndo

cons

istê

ncia

tal

vez

mes

mo

ante

s de

Joh

n Lo

cke

(163

2-17

04)

que,

em

169

0, a

o es

crev

er E

nsai

o ac

erca

do

ent

endi

men

to h

uman

o, p

rocu

rou

dem

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rar

que

a m

ente

hu

man

a nã

o é

mai

s do

que

um

a ca

ixa

vazi

a po

r oca

sião

do

desc

ende

ntes

cor

no u

ma

hera

nça

sem

pre

cres

cent

e. (O

gr

ifo

é no

sso.

)

Bas

ta a

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s a

retir

ada

da p

alav

ra e

rudi

ta p

ara

que

esta

af

irm

ação

de

Turg

ot p

ossa

ser

con

side

rada

um

a de

fini

ção

acei

táve

l do

co

ncei

to

de

cultu

ra

(em

bora

em

ne

nhum

m

omen

to f

aça

men

ção

a es

te v

ocáb

ulo)

. Es

ta d

efin

ição

é

equi

vale

nte

às q

ue f

oram

for

mul

adas

, m

ais

de u

m s

écul

o de

pois

, po

r B

roni

slaw

Mal

inow

ski

e Le

slie

Whi

te,

com

o o

leito

r con

stat

ará

no d

ecor

rer d

este

trab

alho

. Je

an J

acqu

es R

ouss

eau

(171

2-17

78),

em s

eu D

iscu

rso

sobr

e a

orig

em e

o e

stabe

leci

men

to d

a de

sigu

alda

de e

ntre

os

hom

ens,

em

177

5, s

egui

u os

pas

sos

de L

ocke

e d

e Tu

rgot

ao

atri

buir

um

gra

nde

pape

l à

educ

ação

, ch

egan

do m

esm

o ao

ex

ager

o de

acr

edita

r qu

e es

se p

roce

sso

teri

a a

poss

ibili

dade

de

com

plet

ar a

tra

nsiç

ão e

ntre

os

gran

des

mac

acos

(ch

im-

panz

é, g

orila

e o

rang

otan

go) e

os

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ens.3

Mai

s de

um

séc

ulo

tran

scor

rido

des

de a

def

iniç

ão d

e Ty

lor,

era

de s

e es

pera

r qu

e ex

istis

se h

oje

um r

azoá

vel

acor

do e

ntre

os

antr

opól

ogos

a r

espe

ito d

o co

ncei

to.

Tal

expe

ctat

iva

seri

a co

eren

te c

om o

otim

ism

o de

Kro

eber

que

, em

195

0, e

scre

veu

que

"a m

aior

rea

lizaç

ão d

a A

ntro

polo

gia

na p

rim

eira

met

ade

do s

écul

o X

X fo

i a a

mpl

iaçã

o e

a cl

arif

i-ca

ção

do c

once

ito d

e cu

ltura

" ("

Ant

hrop

olog

y",

in S

cien

tific

A

mer

ican

, 18

3).

Mas

, na

ver

dade

, as

cen

tena

s de

def

iniç

ões

form

ulad

as a

pós

Tylo

r se

rvir

am m

ais

para

est

abel

ecer

um

a co

nfus

ão d

o qu

e am

plia

r os

lim

ites

do c

once

ito. T

anto

é q

ue,

em 1

973,

Gee

rtz

escr

eveu

que

o t

ema

mai

s im

port

ante

da

mod

erna

teor

ia a

ntro

poló

gica

era

o d

e "d

imin

uir

a am

plitu

de

do c

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ito e

tra

nsfo

rmá-

lo n

um i

nstr

umen

to m

ais

espe

-ci

aliz

ado

e m

ais

pode

roso

te

oric

amen

te".

Em

ou

tras

pa

lavr

as,

nasc

imen

to,

dota

da a

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s da

cap

acid

ade

ilim

itada

de

obte

r co

nhec

imen

to, a

trav

és d

e um

pro

cess

o qu

e ho

je c

ham

amos

de

endo

cultu

raçã

o. L

ocke

ref

utou

for

tem

ente

as

idéi

as c

orre

ntes

na

épo

ca (

e qu

e ai

nda

se m

anif

esta

m a

té h

oje)

de

prin

cípi

os

ou

verd

ades

in

atas

im

pres

sos

here

dita

riam

ente

na

m

ente

hu

man

a, a

o m

esm

o te

mpo

em

que

ens

aiou

os

prim

eiro

s pa

ssos

do

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tivis

mo

cultu

ral

ao a

firm

ar q

ue o

s ho

men

s tê

m

prin

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os

prát

icos

op

osto

s:

"Que

m

inve

stig

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cuid

ados

amen

te a

his

tóri

a da

hum

anid

ade,

exa

min

ar p

or to

da

a pa

rte

as v

ária

s tr

ibos

de

hom

ens

e co

m in

dife

renç

a ob

serv

ar

as s

uas

açõe

s, s

erá

capa

z de

con

venc

er-s

e de

que

rar

amen

te

há p

rinc

ípio

s de

mor

alid

ade

para

ser

em d

esig

nado

s, o

u re

gra

de v

irtud

e pa

ra s

er c

onsi

dera

da...

que

não

sej

a, e

m a

lgum

a pa

rte

ou o

utra

, m

enos

prez

ado

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nden

ado

pela

mod

a ge

ral

de t

odas

as

soci

edad

es d

e ho

men

s, g

over

nada

s po

r op

iniõ

es

prát

icas

e r

egra

s de

con

duta

s be

m c

ontr

ária

s um

as à

s ou

tras

."

(Liv

ro 1

, cap

.II, §

10.)

Fina

lmen

te,

com

ref

erên

cia

a Jo

hn L

ocke

, go

star

íam

os

de c

itar

o an

tropó

logo

am

eric

ano

Mar

vin

Har

ris (

1969

) qu

e ex

pres

sa b

em a

s im

plic

açõe

s da

obr

a de

Loc

ke p

ara

a ép

oca:

`n

enhu

m o

rdem

soc

ial

é ba

sead

a em

ver

dade

s in

atas

, um

a m

udan

ça

no

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ente

re

sulta

nu

ma

mud

ança

no

co

mpo

rtam

ento

.2

Mei

o sé

culo

dep

ois,

Jac

ques

Tur

got

(172

7-17

81),

ao

escr

ever

o

seu

Plan

o pa

ra

dois

disc

urso

s so

bre

hist

ória

un

iver

sal,

afir

mou

:

Poss

uido

r de

um

tes

ouro

de

sign

os q

ue t

em a

fac

ulda

de

de m

ultip

licar

inf

inita

men

te,

o ho

mem

é c

apaz

de

asse

-gu

rar

a re

tenç

ão d

e su

as i

déia

s er

udita

s, c

omun

icá-

las

para

out

ros

hom

ens

e tr

ansm

iti-l

as p

ara

os s

eus

No

perí

odo

que

deco

rreu

ent

re T

ylor

e a

afi

rmaç

ão d

e K

roeb

er,

em 1

950,

o m

onum

ento

teó

rico

que

se

dest

acav

a pe

la s

ua e

xces

siva

sim

plic

idad

e, c

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ruíd

o a

parti

r de

um

a vi

são

da n

atur

eza

hum

ana,

ela

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da n

o pe

ríodo

ilu

min

ista

, fo

i de

stru

ído

pela

s te

ntat

ivas

pos

terio

res

de c

larif

icaç

ão d

o co

ncei

to.

A r

econ

stru

ção

dest

e m

omen

to c

once

itual

, a

part

ir d

e um

a di

vers

idad

e de

fra

gmen

tos

teór

icos

, é u

ma

das

tare

fas

prim

ordi

ais

da a

ntro

polo

gia

mod

erna

. N

este

tra

balh

o, e

n-tre

tant

o, s

egui

rem

os a

pena

s os

pro

cedi

men

tos

bási

cos

dest

a el

abor

ação

.

o un

iver

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conc

eitu

a)

tinha

at

ingi

do

tal

dim

ensã

o qu

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om u

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cont

raçã

o po

deri

a se

r no

vam

ente

col

ocad

o de

ntro

de

uma

pers

pect

iva

antr

opol

ógic

a.

Em 1

871,

Tyl

or d

efin

iu c

ultu

ra c

omo

send

o to

do o

co

mpo

rtam

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apr

endi

do,

tudo

aqu

ilo q

ue i

ndep

ende

de

uma

tran

smis

são

gené

tica,

com

o di

ríam

os h

oje.

Em

191

7,

Kro

eber

aca

bou

de r

ompe

r to

dos

os la

ços

entr

e o

cultu

ral e

o

biol

ógic

o, p

ostu

land

o a

supr

emac

ia d

o pr

imei

ro e

m d

etri

-m

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do

se

gund

o em

se

u ar

tigo,

ho

je

clás

sico

, "O

Su

pero

rgân

ico"

(in

Am

eric

an A

nthr

opol

ogis

t, vo

l.XIX

, n°

2,

1917

).4 C

ompl

etav

a-se

, en

tão,

um

pr

oces

so

inic

iado

po

r Li

neu,

que

con

sist

iu i

nici

alm

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em

der

ruba

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hom

em d

e se

u pe

dest

al s

obre

natu

ral

e co

locá

-lo

dent

ro d

a or

dem

da

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reza

. O s

egun

do p

asso

des

te p

roce

sso,

inic

iado

por

Tyl

or

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o po

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er,

repr

esen

tou

o af

asta

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to

cres

cent

e de

sses

doi

s do

mín

ios,

o c

ultu

ral e

o n

atur

al.

O "

anjo

caí

do"

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dife

renc

iado

dos

dem

ais

anim

ais

por

ter

a se

u di

spor

dua

s no

táve

is p

ropr

ieda

des:

a p

ossi

bilid

ade

da

com

unic

ação

or

al

e a

capa

cida

de

de

fabr

icaç

ão

de

inst

rum

ento

s, c

apaz

es d

e to

rnar

mai

s ef

icie

nte

o se

u ap

arat

o bi

ológ

ico.

Mas

, es

tas

duas

pro

prie

dade

s pe

rmite

m u

ma

afir

-m

ação

mai

s am

pla:

o h

omem

é o

úni

co s

er p

ossu

idor

de

cultu

ra.

Em s

uma,

a n

ossa

esp

écie

tin

ha c

onse

guid

o, n

o de

corr

er

de

sua

evol

ução

, es

tabe

lece

r um

a di

stin

ção

de

gêne

ro e

não

ape

nas

de g

rau

em r

elaç

ão a

os d

emai

s se

res

vivo

s.

Os

fund

ador

es

de

noss

a ci

ênci

a,

atra

vés

dess

a ex

plic

ação

, tin

ham

rep

etid

o a

tem

átic

a qu

ase

univ

ersa

l do

s m

itos

de o

rigem

, poi

s a

mai

oria

des

tes

preo

cupa

-se

mui

to m

ais

em e

xplic

ar a

sep

araç

ão d

a cu

ltura

da

natu

reza

do

que

com

as

espe

cula

ções

de

orde

m c

osm

ogôn

ica.

seu

cam

po e

spec

ial d

e tr

abal

ho, a

uni

dade

da

natu

reza

, a

perm

anên

cia

de s

uas

leis

, a d

efin

ida

seqü

ênci

a de

cau

sa

e ef

eito

atr

avés

da

qual

dep

ende

cad

a fa

to.

Apó

iam

fir

mem

ente

a d

outri

na p

itago

riana

da

orde

m n

o co

smo

univ

ersa

l. A

firm

am,

com

o A

rist

ótel

es,

que

a na

ture

za

não

é co

nstit

uída

de

epis

ódio

s in

coer

ente

s, c

omo

uma

trag

édia

. C

onco

rdam

com

Lei

bniz

no

que

ele

cham

ou

"meu

axi

oma,

que

a n

atur

eza

nunc

a ag

e po

r sa

ltos"

, ta

nto

com

o em

seu

"gr

ande

pri

ncíp

io, c

omum

ente

pou

co

utili

zado

, de

que

nad

a ac

onte

ce s

em s

ufic

ient

e ra

zão"

. N

em m

esm

o no

est

udo

das

estr

utur

as e

háb

itos

das

plan

tas

e an

imai

s,

ou

na

inve

stig

ação

da

s fu

nçõe

s bá

sica

s do

ho

mem

, sã

o id

éias

de

scon

heci

das.

M

as

quan

do f

alam

os d

os a

ltos

proc

esso

s ci

o se

ntim

ento

e d

a aç

ão

hum

ana,

do

pe

nsam

ento

e

lingu

agem

, co

nhe-

cim

ento

e a

rte,

um

a m

udan

ça a

pare

ce n

os t

ons

pred

o-m

inan

tes

de o

pini

ão.

O m

undo

com

o um

tod

o es

frac

amen

te p

repa

rado

par

a ac

eita

r o

estu

do g

eral

da

viel

a hu

man

a co

mo

um r

amo

ela

ciên

cia

natu

ral..

.. Pa

ra

mui

tas

men

tes

educ

adas

par

ece

algu

ma

cois

a pr

esun

çosa

e

repu

lsiv

a o

pont

o de

vi

sta

de

que

a hi

stór

ia

da

hum

anid

ade

é pa

rte

e pa

rcel

a da

his

tóri

a da

nat

urez

a,

que

noss

os p

ensa

men

tos,

des

ejos

e a

ções

est

ão e

le a

cord

o co

m le

is e

quiv

alen

tes

àque

las

que

gove

rnam

os

vent

os e

as

ond

as,

a co

mbi

naçã

o el

os á

cido

s e

das

base

s e

o cr

esci

men

to d

as p

lant

as e

ani

mai

s.3

N

este

sen

tido,

ain

da n

a se

gund

a m

etad

e do

séc

ulo

XIX

, Ty

lor

se d

efro

ntav

a co

m a

idé

ia d

a na

ture

za s

agra

da d

o ho

mem

, da

í as

sua

s af

irm

açõe

s no

fin

al d

o te

xto

acim

a e

a su

a pr

eocu

paçã

o ex

pres

sa n

o se

guin

te:

4. O

DES

ENVO

LVIM

ENTO

DO

C

ON

CEI

TO D

E C

ULT

UR

A

A p

rimei

ra d

efin

ição

de

cultu

ra q

ue f

oi f

orm

ulad

a do

pon

to

de v

ista

ant

ropo

lógi

co,

com

o vi

mos

, pe

rten

ce a

Edw

ard

Tylo

r, no

pri

mei

ro p

arág

rafo

de

seu

livro

Pri

miti

ve C

ultu

re

(187

1). T

ylor

pro

curo

u, a

lém

dis

to, d

emon

stra

r qu

e cu

ltura

po

de s

er o

bjet

o de

um

est

udo

sist

emát

ico,

poi

s tr

ata-

se d

e um

fen

ômen

o na

tura

l qu

e po

ssui

cau

sas

e re

gula

rida

des,

pe

rmiti

ndo

um e

stud

o ob

jetiv

o e

uma

anál

ise

capa

zes

ele

prop

orci

onar

a f

orm

ulaç

ão d

e le

is s

obre

o p

roce

sso

cultu

ral e

a

evol

ução

.1O

seu

pen

sam

ento

pod

e se

r mel

hor c

ompr

eend

ido

a pa

rtir

da

leitu

ra d

este

seu

trec

ho:

Po

r um

lado

, a u

nifo

rmid

ade

que

tão

larg

amen

te p

erm

eia

entre

as

civi

lizaç

ões

pode

ser

atri

buíd

a, e

m g

rand

e pa

rte,

a Li

ma

unifo

rmid

ade

de

ação

de

ca

usas

un

iform

es,

enqu

anto

, po

r ou

tro

lado

, se

us v

ário

s gr

aus

pode

m s

er

cons

ider

ados

co

mo

está

gios

de

de

senv

olvi

men

to

ou

evol

ução

...2

B

usca

ndo

apoi

o na

s ci

ênci

as n

atur

ais,

poi

s co

nsid

era

cul-

tura

com

o um

fenô

men

o na

tura

l, Ty

lor e

scre

ve e

m s

egui

da:

N

osso

s in

vest

igad

ores

mod

erno

s na

s ci

ênci

as d

e na

tu-

reza

inor

gâni

ca te

ndem

a re

conh

ecer

, den

tro

e fo

ra d

e

Mas

out

ros

obst

ácul

os p

ara

a in

vest

igaç

ão d

as l

eis

da

natu

reza

hum

ana

surg

em d

as c

onsi

dera

ções

met

afís

icas

e

teol

ógic

as.

A n

oção

pop

ular

do

livre

-arb

ítrio

hum

ano

envo

lve

não

som

ente

a l

iber

dade

de

agir

de

acor

do c

om

mot

ivaç

ões,

mas

tam

bém

o p

oder

de

queb

rar

a co

nti-

nuid

ade

e de

agi

r se

m c

ausa

— u

ma

com

bina

ção

que

pode

ser

gro

ssam

ente

ilu

stra

da p

ela

anal

ogia

de

uma

bala

nça,

al

gum

as

veze

s ag

indo

de

m

odo

usua

l, m

as

tam

bém

pos

suin

do f

acul

dade

de

agir

por

ela

pró

pria

a

favo

r ou

con

tra

os p

esos

. Es

te p

onto

de

vist

a de

um

a aç

ão a

nôm

ica

dos

dese

jos,

que

é i

ncom

patív

el c

om o

ar

gum

ento

cie

ntíf

ico,

sub

exis

te c

omo

opin

ião

man

ifes

ta

ou l

aten

te n

a m

ente

hum

ana,

e a

feta

for

tem

ente

a s

ua

visã

o te

óric

a da

his

tóri

a....

Fel

izm

ente

não

é n

eces

sári

o ad

icio

nar

mai

s na

da à

list

a de

dis

sert

açõe

s so

bre

a in

ter-

venç

ão s

obre

natu

ral

e ca

usaç

ão n

atur

al, s

obre

lib

erda

de,

pred

estin

ação

e r

espo

nsab

ilida

de.

Pode

mos

rap

idam

ente

es

capa

r da

s re

giõe

s da

fi

loso

fia

tran

scen

dent

al

e da

te

olog

ia, p

ara

inic

iar

uma

espe

ranç

osa

jorn

ada

sobr

e um

te

rren

o m

ais

prát

ico.

Nin

guém

neg

ará

que,

com

o ca

da

hom

em

conh

ece

pela

s ev

idên

cias

de

su

a pr

ópri

a co

nsci

ênci

a, c

ausa

s na

tura

is e

def

inid

as d

eter

min

am a

s aç

ões

hum

anas

.4

Apó

s di

scut

ir a

s qu

estõ

es a

cim

a, T

ylor

rea

firm

a a

igua

l-da

de

da

natu

reza

hu

man

a,

"que

po

de

ser

estu

dada

co

m

gran

de p

reci

são

na c

ompa

raçã

o da

s ra

ças

do m

esm

o gr

au d

e ci

viliz

ação

".

Mai

s do

que

pre

ocup

ado

com

a d

iver

sida

de c

ultu

ral,

Tylo

r a

seu

mod

o pr

eocu

pa-s

e co

m a

igu

alda

de e

xist

ente

na

hum

anid

ade.

A d

iver

sida

de é

exp

licad

a po

r ele

com

o o

resu

ltado

da

desi

gual

dade

de

está

gios

exi

sten

tes

no p

roce

sso

de e

volu

ção.

Ass

im, u

ma

das

tare

fas

da a

ntro

polo

gia

seri

a a

de "

esta

bele

cer,

gros

so m

odo,

um

a es

cala

de

civi

lizaç

ão",

si

mpl

esm

ente

col

ocan

do a

s na

ções

eur

opéi

as e

m u

m d

os

extr

emos

da

séri

e e

em o

utro

as

trib

os s

elva

gens

, dis

pond

o o

rest

o da

hum

anid

ade

entr

e do

is li

mite

s. M

erci

er5 m

ostr

a qu

e Ty

lor

pens

ava

as "

inst

ituiç

ões

hum

anas

tão

dis

tinta

-men

te

estr

atif

icad

as q

uant

o a

terr

a so

bre

a qu

al o

hom

em v

ive.

Ela

s se

suc

edem

em

sér

ies

subs

tanc

ialm

ente

uni

form

es p

or t

odo

o gl

obo,

inde

pend

ente

men

te d

e ra

ça e

ling

uage

m —

dif

eren

ças

essa

s qu

e sã

o co

mpa

rativ

amen

te

supe

rfic

iais

, m

as

mod

ulad

as p

or u

ma

natu

reza

hum

ana

sem

elha

nte,

atu

ando

at

ravé

s da

s co

ndiç

ões

suce

ssiv

amen

te

mut

ávei

s da

vi

da

selv

agem

, bár

bara

e c

ivili

zada

".

Para

ent

ende

r Ty

lor,

é ne

cess

ário

com

pree

nder

a é

poca

em

que

viv

eu e

con

seqü

ente

men

te o

seu

bac

kgro

und

inte

lec-

tual

. O

seu

liv

ro f

oi p

rodu

zido

nos

ano

s em

que

a E

urop

a so

fria

o im

pact

o da

Ori

gem

das

esp

écie

s, d

e C

harle

s D

arw

in, e

qu

e a

nasc

ente

an

trop

olog

ia

foi

dom

inad

a pe

la

estr

eita

pe

rspe

ctiv

a do

evo

luci

onis

mo

unili

near

.6A

déc

ada

de 6

0 do

séc

ulo

XIX

foi r

ica

em tr

abal

hos

dest

a or

ient

ação

. Um

a sé

rie d

e es

tudi

osos

ten

tou

anal

isar

, sob

ess

e pr

ism

a, o

des

envo

lvim

ento

das

inst

ituiç

ões

soci

ais,

bus

cand

o no

pas

sado

as

expl

icaç

ões

para

os

proc

edim

ento

s so

ciai

s da

at

ualid

ade.

Ass

im,

Mai

ne e

m A

ncie

nt L

aw (

1861

) pr

ocur

ou

anal

isar

o

dese

nvol

vim

ento

da

s in

stitu

içõe

s ju

rídi

cas;

o

mes

mo

ocor

reu

com

Bac

hofe

n, q

ue e

m D

as M

uste

rrec

ht

dese

nvol

veu

a id

éia

da p

rom

iscu

idad

e pr

imiti

va e

con

se-

qüen

tem

ente

da

inst

ituiç

ão d

o m

atri

arca

do.7 E

em

Pri

miti

ve

Mar

riag

e (1

865)

M

cLen

nan

estu

da

a in

stitu

ição

do

m

atri

môn

io a

par

tir d

os c

asam

ento

s po

r ra

pto.

Por

det

rás

de

cada

um d

este

s es

tudo

s pr

edom

inav

a, e

ntão

, a

idéi

a de

que

a

cultu

ra d

esen

volv

e-se

de

man

eira

uni

form

e, d

e ta

l for

ma

que

era

de s

e es

pera

r qu

e ca

da s

ocie

dade

per

corr

esse

as

etap

as

que

tinha

m

sido

pe

rcor

ridas

pe

las

"soc

ieda

des

mai

s av

ança

das"

. D

esta

man

eira

era

fác

il es

tabe

lece

r um

a es

cala

ev

olut

iva

que

não

deix

ava

de s

er u

m p

roce

sso

disc

rim

inat

ório

, at

ravé

s ci

o qu

al

as

dife

rent

es

soci

edad

es

hum

anas

er

am

clas

sific

adas

hie

rarq

uica

men

te,

com

níti

da v

anta

gem

par

a as

cu

ltura

s eu

ropé

ias.

Etn

ocen

tris

mo

e ci

ênci

a m

arch

avam

en-

tão

de m

ãos

junt

as.

Stoc

king

(19

68)

criti

ca T

ylor

por

"de

ixar

de

lado

toda

a

ques

tão

do r

elat

ivis

mo

cultu

ral

e to

rnar

im

poss

ível

o m

o-de

rno

conc

eito

da

cultu

ra".

A p

osiç

ão d

e Ty

lor

não

pode

ria

ser

outr

a,

porq

ue

a id

éia

de

rela

tivis

mo

cultu

ral

está

im

plic

itam

ente

as

soci

ada

à de

ev

oluç

ão

mul

tilin

ear.

A

unid

ade

da e

spéc

ie h

uman

a, p

or m

ais

para

doxa

l qu

e po

ssa

pare

cer

tal

afir

maç

ão,

não

pode

ser

exp

licad

a se

não

em

term

os d

e su

a di

vers

idad

e cu

ltura

l. M

erci

er c

onsi

dera

Tyl

or u

m d

os p

ais

do d

ifus

ioni

smo

cultu

ral.

Low

ie,

em s

ua T

he H

isto

ry o

f Et

hnol

ogic

al T

heor

y (1

937)

, fa

z no

en

tant

o um

a op

ortu

na

ress

alva

: "O

qu

e di

stin

gue

Tylo

r do

dif

usio

nism

o ex

trem

o é

sim

ples

men

te s

ua

capa

cida

de d

e av

alia

r as

evi

dênc

ias.

Rec

usan

do a

ssum

ir a

pr

iori

qu

e to

da

sem

elha

nça

resu

lta

da

disp

ersã

o,

aplic

a cr

itério

s de

finiti

vos

para

a s

oluç

ão d

a qu

estã

o."

Com

o A

dolf

Bas

tian

(182

6-19

05),

Tylo

r ac

redi

tava

na

"uni

dade

psí

quic

a da

hum

anid

ade"

. Ta

l fa

to l

he f

oi ú

til p

ara

não

cair

nas

ar

mad

ilhas

cio

dif

usio

nism

o (c

omo

vere

mos

pos

teri

orm

ente

), m

as c

onst

ituiu

em

sua

fal

ha o

fat

o de

"nã

o re

conh

ecer

os

múl

tiplo

s ca

min

hos

da c

ultu

ra".

O s

eu g

rand

e m

érito

na

tent

ativ

a de

ana

lisar

e c

lass

ifica

r cu

ltura

foi

o d

e te

r su

pera

do o

s de

mai

s tr

abal

hado

res

de

gabi

nete

, at

ravé

s de

um

a cr

ítica

arg

uta

e ex

aust

iva

dos

rela

tos

dos

viaj

ante

s e

cron

ista

s co

loni

ais.

Em

ve

z el

a ac

eita

ção

táci

ta

dess

as

info

rmaç

ões,

Ty

lor

sem

pre

ques

tiono

u a

vera

cida

de d

as m

esm

as.

Ao

cont

rári

o de

Joh

n Lu

bboc

k (1

872)

, rec

usou

ace

itar

a af

irm

ação

de

que

dive

rsos

gr

upos

tri

bais

, en

tre

eles

os

abor

ígin

es b

rasi

leir

os,

eram

de

spro

vido

s de

re

ligiã

o. T

ais

afir

maç

ões,

co

nclu

i Ty

lor,

base

iam

-se

"sob

re

evid

ênci

as

freq

üent

emen

te

erra

das

e nu

nca

conc

lusi

vas"

. A

pri

ncip

al r

eaçã

o ao

evo

luci

onis

mo,

ent

ão d

enom

inad

o m

étod

o co

mpa

rativ

o, in

icia

-se

com

Fra

nz B

oas

(185

8-19

49),

nasc

ido

em

Wes

tfál

ia

(Ale

man

ha)

e in

icia

lmen

te

um

estu

dant

e de

fís

ica

e ge

ogra

fia

em H

eide

lber

g e

Bon

n. U

ma

expe

diçã

o ge

ográ

fica

a B

affi

n La

nd (

1883

-188

4),

que

o co

loco

u em

con

tato

com

os

esqu

imós

, mud

ou o

cur

so d

e su

a vi

da,

tran

sfor

man

do-o

em

ant

ropó

logo

. Ta

l fa

to p

rovo

cou,

ta

mbé

m,

a su

a m

udan

ça p

ara

os E

stad

os U

nido

s, o

nde

foi

resp

onsá

vel

pela

for

maç

ão d

e to

da u

ma

gera

ção

de a

ntro

-pó

logo

s. A

pose

ntou

-se,

em

193

6, p

ela

Uni

vers

idad

e de

Co-

lum

bia,

da

cade

ira

que

hoje

tem

o s

eu n

ome.

A

sua

cri

tica

ao e

volu

cion

ism

o es

tá,

prin

cipa

lmen

te,

cont

ida

em s

eu a

rtig

o "T

he L

imita

tion

of t

he C

ompa

rativ

e M

etho

d of

Ant

hrop

olog

y",8 n

o qu

al a

trib

uiu

ã an

trop

olog

ia a

ex

ecuç

ão d

e du

as ta

refa

s:

a)

a re

cons

truç

ão d

a hi

stór

ia d

e po

vos

ou re

giõe

s pa

rti-

cula

res;

b)

a co

mpa

raçã

o da

vid

a so

cial

de

dife

rent

es p

ovos

, cu

jo d

esen

volv

imen

to s

egue

as

mes

mas

leis

.

Alé

m d

isto

, in

sist

iu n

a ne

cess

idad

e de

ser

com

prov

ada,

an

tes

de

tudo

, a

poss

ibili

dade

de

os

da

dos

sere

m

com

para

dos.

E p

ropô

s, e

m l

ugar

do

mét

odo

com

para

tivo

puro

e s

impl

es, a

com

para

ção

dos

resu

ltado

s ob

tidos

atr

avés

do

s es

tudo

s hi

stór

icos

da

s cu

ltura

s si

mpl

es

e da

co

mpr

eens

ão d

os e

feito

s da

s co

ndiç

ões

psic

ológ

icas

e d

os

mei

os a

mbi

ente

s.

São

as in

vest

igaç

ões

hist

óric

as —

rea

firm

a B

oas—

o q

ue

conv

ém p

ara

desc

obri

r a

orig

em d

este

ou

daqu

ele

traç

o cu

ltura

l e

para

int

erpr

etar

a m

anei

ra p

ela

qual

tom

a lu

gar

num

dad

o co

njun

to s

ocio

cultu

ral.

Em o

utra

s pa

lavr

as, B

oas

dese

nvol

veu

o pa

rtic

ular

ism

o hi

stór

ico

(ou

a ch

amad

a Es

cola

Cul

tura

l Am

eric

ana)

, seg

undo

a q

ual c

ada

cultu

ra s

e-gu

e os

seu

s pr

ópri

os c

amin

hos

em f

unçã

o do

s di

fere

ntes

ev

ento

s hi

stór

icos

que

enf

rent

ou.

A p

artir

daí

a e

xplic

ação

ev

oluc

ioni

sta

da c

ultu

ra s

ó te

m s

entid

o qu

ando

oco

rre

em

term

os d

e um

a ab

orda

gem

mul

tilin

ear.9

Alf

red

Kro

eber

(18

76-1

960)

, an

trop

ólog

o am

eric

ano,

em

seu

art

igo

"O s

uper

orgâ

nico

"10

mos

trou

com

o a

cultu

ra

atua

sob

re o

hom

em, a

o m

esm

o te

mpo

em

que

se

preo

cupo

u co

m a

dis

cuss

ão d

e um

a sé

rie d

e po

ntos

con

trove

rtido

s, p

ois

suas

exp

licaç

ões

cont

rari

am u

m c

onju

nto

de c

renç

as p

opu-

lare

s. I

nici

ou,

com

o o

titul

o el

e se

u tr

abal

ho i

ndic

a, c

om a

de

mon

stra

ção

de q

ue g

raça

s à

cultu

ra a

hum

anid

ade

dist

an-

ciou

-se

do m

undo

ani

mal

. M

ais

do q

ue i

sto,

o h

omem

pa

ssou

a s

er c

onsi

dera

do u

m s

er q

ue e

stá

acim

a de

sua

s lim

itaçõ

es o

rgân

icas

.

Tem

sid

o m

odo

de p

ensa

men

to c

arac

terí

stic

o de

nos

sa

civi

lizaç

ão o

cide

ntal

um

a fo

rmul

ação

de

antít

eses

com

-pl

emen

tare

s,

um

equi

líbri

o de

co

ntrá

rios

qu

e se

ex

clue

m.

Um

des

ses

pare

s el

e id

éias

com

que

o n

osso

mun

do v

em

lidan

do

cerc

a de

do

is

mil

anos

se

ex

prim

e na

s pa

lavr

as c

orpo

e a

lma.

Out

ro p

ar q

ue j

á te

ve a

sua

ut

ilida

de,

iria

s de

que

a c

iênc

ia e

stá

agor

a m

uita

s ve

zes

se e

sfor

çand

o po

r de

scar

tar-

se,

pelo

men

os e

m c

erto

s as

pect

os, é

a d

istin

ção

entr

e o

físi

co e

o m

enta

l. H

á um

a te

rcei

ra d

iscr

imin

ação

que

é e

ntre

o v

ital

e o

soci

al,

ou e

m o

utra

s pa

lavr

as,

entr

e o

orgâ

nico

e o

cu

ltura

l. O

rec

onhe

cim

ento

im

plíc

ito d

a di

fere

nça

entr

e qu

ali-

dade

s e

proc

esso

s or

gâni

cos

e qu

alid

ades

e p

roce

ssos

so

ciai

s ve

m d

e lo

nga

data

. Con

tudo

, a d

istin

ção

form

al é

re

cent

e. D

e fa

to,

pode

diz

er-s

e qu

e o

plen

o al

canc

e da

im

port

ânci

a da

an

títes

e es

apen

as

raia

ndo

sobr

e o

mun

do. P

ara

cada

oca

sião

em

que

alg

uma

men

te h

uman

a se

para

niti

dam

ente

as

forç

as o

rgân

icas

e s

ocia

is,

deze

nas

de o

utra

s ve

zes

em q

ue n

ão s

e co

gita

da

dife

-re

nça

entre

ela

s, o

u em

que

oco

rre

uma

real

con

fusã

o de

du

as id

éias

.11

A

pre

ocup

ação

de

Kro

eber

é e

vita

r a

conf

usão

, ain

da t

ão

com

um,

entr

e o

orgâ

nico

e o

cul

tura

l. N

ão s

e po

de i

gnor

ar

que

o ho

mem

, m

embr

o pr

oem

inen

te e

la o

rdem

dos

pri

ma-

tas,

dep

ende

mui

to d

e se

u eq

uipa

men

to b

ioló

gico

. Pa

ra s

e m

ante

r vi

vo,

inde

pend

ente

do

si

stem

a cu

ltura

l ao

qu

al

pert

ença

, ele

tem

que

sat

isfa

zer

um n

úmer

o de

term

inad

o de

fu

nçõe

s vi

tais

, co

mo

a al

imen

taçã

o, o

son

o, a

res

pira

ção,

a

ativ

idad

e se

xual

etc

. M

as,

embo

ra e

stas

fun

ções

sej

am c

o-m

uns

a to

da h

uman

idad

e, a

man

eira

de

satis

fazê

-las

varia

de

uma

cultu

ra p

ara

outra

. E e

sta

gran

de v

arie

dade

na

oper

ação

el

e um

núm

ero

tão

pequ

eno

ele

funç

ões

que

faz

com

que

o

com

o um

ant

ílope

; se

m a

for

ça d

e um

tig

re;

sem

a a

cuid

ade

visu

al d

e um

lin

ce o

u as

dim

ensõ

es d

e um

ele

fant

e; m

as, a

o co

ntrá

rio

de

todo

s el

es,

dota

da

de

uni

inst

rum

enta

l ex

trao

rgân

ico

de a

dapt

ação

, qu

e am

plio

u a

forç

a de

seu

s br

aços

, a s

ua v

eloc

idad

e, a

sua

acu

idad

e vi

sual

e a

uditi

va e

tc.

E o

mai

s im

port

ante

, ta

is

mod

ific

açõe

s oc

orre

ram

se

m

nenh

uma

(ou

quas

e ne

nhum

a) m

odif

icaç

ão a

natô

mic

a.

Alg

uns

répt

eis,

por

exe

mpl

o, b

usca

ram

o r

efúg

io d

os

ares

par

a su

pera

r as

dif

ícei

s co

ndiç

ões

de c

ompe

tição

exi

s-te

ntes

no

solo

. Par

a is

to, t

iver

am q

ue s

e su

bmet

er a

inte

nsas

m

odif

icaç

ões

biol

ógic

as,

atra

vés

de n

umer

osas

ge

raçõ

es.

Perd

eram

esc

amas

e g

anha

ram

pen

as;

troc

aram

um

par

de

mem

bros

por

um

par

de

asas

; um

sis

tem

a de

san

gue

frio

por

um

de

sa

ngue

qu

ente

; al

ém

de

outr

as

mod

ific

açõe

s an

atôm

icas

e

fisio

lógi

cas.

G

anha

ndo

a lo

com

oção

rea,

af

inal

se

tran

sfor

mar

am e

m a

ves.

O h

omem

obt

eve

o m

esm

o re

sulta

do p

or o

utro

cam

inho

:

Não

faz

mui

tos

anos

que

os

sere

s hu

man

os a

tingi

ram

ta

mbé

m o

pod

er d

a lo

com

oção

aér

ea.

Mas

o p

roce

sso

pelo

qua

l ess

e po

der

foi a

lcan

çado

, e o

s se

us e

feito

s, s

ão

com

plet

amen

te d

ifer

ente

s da

quel

es q

ue c

arac

teri

zara

m

a aq

uisi

ção,

pel

os p

rim

eiro

s pá

ssar

os,

da f

acul

dade

de

voar

. N

osso

s m

eios

de

voar

são

ext

erio

res

aos

noss

os

corp

os. O

pás

saro

nas

ce c

om u

m p

ar d

e as

as; n

ós in

ven-

tam

os o

aer

opla

no.

O p

ássa

ro r

enun

ciou

a u

m p

ar

pote

ncia

l de

mão

s pa

ra o

bter

as

suas

asa

s; n

ós, p

orqu

e a

noss

a fa

culd

ade

não

é pa

rte

de

noss

a co

nstit

uiçã

o co

ngên

ita,

cons

erva

mos

tod

os o

s ór

gãos

e c

apac

idad

e de

nos

sos

ante

pass

ados

, ac

resc

enta

ndo-

lhes

a n

ova

ca-

paci

dade

. O

pr

oces

so

cio

dese

nvol

vim

ento

da

ci

viliz

ação

hom

em s

eja

cons

ider

ado

um s

er p

redo

min

ante

men

te c

ultu

-ra

l. O

s se

us

com

port

amen

tos

não

são

biol

ogic

amen

te

dete

rmin

ados

. A s

ua h

eran

ça g

enét

ica

nada

tem

a v

er c

om a

s su

as a

ções

e p

ensa

men

tos,

poi

s to

dos

os s

eus

atos

dep

ende

m

inte

iram

ente

de

um p

roce

sso

de a

pren

diza

do. P

or i

sto,

con

-tin

ua K

roeb

er:

To

dos

sabe

m q

ue n

asce

mos

com

cer

tos

pode

res

e ad

qui-

rimos

out

ros.

Não

é p

reci

so a

rgum

enta

r pa

ra p

rova

r qu

e al

gum

as c

oisa

s de

nos

sas

vida

s e

cons

titui

ção

prov

êm d

a na

ture

za p

ela

here

dita

ried

ade,

e q

ue o

utra

s co

isas

nos

ch

egam

atr

avés

de

outr

os a

gent

es c

om o

s qu

ais

a he

re-

dita

ried

ade

nada

tem

que

ver

. N

ão a

pare

ceu

ning

uém

qu

e af

irm

asse

ter

uni s

er h

uman

o na

scid

o co

m o

con

he-

cim

ento

ine

rent

e da

táb

ua d

e m

ultip

licaç

ão,

nem

, po

r ou

tro

lado

, que

duv

idas

se d

e qu

e os

filh

os d

e um

neg

ro

nasc

em n

egro

s pe

la a

tuaç

ão d

e fo

rças

her

editá

rias.

Con

-tu

do, c

erta

s qu

alid

ades

de

todo

indi

vídu

o sã

o cl

aram

en-

te

suje

itas

a de

bate

e

quan

do

se

com

para

o

dese

nvol

vim

ento

da

ci

viliz

ação

co

mo

um

todo

, a

dist

inçã

o do

s pr

oces

sos

envo

lvid

os a

pres

enta

mui

tas

veze

s fa

lhas

.12

O

hom

em,

com

o pa

rte

do r

eino

ani

mal

, pa

rtic

ipa

do

gran

de p

roce

sso

evol

utiv

o em

que

mui

tas

espé

cies

suc

um-

bira

m e

deix

aram

alg

uns

pouc

os v

estíg

ios

fóss

eis.

As

espé

cies

re

man

esce

ntes

ob

tiver

am

esta

co

ndiç

ão

porq

ue

fora

m c

apaz

es d

e su

pera

r um

a fu

rios

a co

mpe

tição

e s

upor

tar

mod

ific

açõe

s cl

imát

icas

rad

icai

s qu

e pe

rtur

bara

m e

norm

e-m

ente

as

cond

içõe

s m

esol

ógic

as c

omo

um to

do.

A e

spéc

ie h

uman

a so

brev

iveu

. E, n

o en

tant

o, o

fez

com

un

i equ

ipam

ento

físi

co m

uito

pob

re. I

ncap

az d

e co

rrer

é cl

aram

ente

acu

mul

ativ

o: c

onse

rva-

se o

ant

igo,

ape

sar

da

aqui

siçã

o do

no

vo.

Na

evol

ução

or

gâni

ca,

a in

trod

ução

de

novo

s tr

aços

é ge

ralm

ente

pos

síve

l m

edia

nte

a pe

rda

ou a

mod

ific

ação

de

órgã

os o

u fa

cul-

dade

s ex

iste

ntes

13A

bal

eia

não

é só

uni

mam

ífer

o de

san

gue

quen

te, m

as é

re

conh

ecid

a co

mo

o de

scen

dent

e re

mot

o de

an

imai

s te

rres

tres

carn

ívor

os.

Em a

lgun

s m

ilhõe

s de

ano

s ...

ess

e an

imal

per

deu

suas

per

nas

para

cor

rer,

suas

gar

ras

para

se

gura

r e

dila

cera

r, se

u pê

lo o

rigi

nal

e as

ore

lhas

ext

er-

nas

que,

no

mín

imo,

nen

hum

a ut

ilida

de te

riam

na

água

, e

adqu

iriu

nad

adei

ras

e ca

uda,

um

cor

po c

ilínd

rico

, um

a ca

mad

a de

ban

ha e

a f

acul

dade

de

rete

r a

resp

iraç

ão.

Mui

ta c

oisa

per

deu

a es

péci

e, m

ais,

tal

vez,

em

con

junt

o do

que

gan

hou.

L c

erto

que

alg

umas

de

suas

par

tes

dege

nera

ram

. M

as

houv

e um

no

vo

pode

r qu

e el

a ad

quir

iu: o

de

perc

orre

r ind

efin

idam

ente

o o

cean

o.

Enco

ntra

mos

o

para

lelo

e

tam

bém

o

cont

rast

e na

aq

uisi

ção

hum

ana

da m

esm

a fa

culd

ade.

Não

tra

nsfo

r-m

amos

, po

r al

tera

ção

grad

ual

de p

ai a

filh

o, n

osso

s br

aços

em

nad

adei

ras

e nã

o ad

quir

imos

um

a ca

uda.

Nem

pr

ecis

amos

abs

olut

amen

te e

ntra

r na

águ

a pa

ra n

aveg

ar.

Con

stru

ímos

un

i ba

rco.

E

isto

qu

er

dize

r qu

e pr

eser

vam

os

inta

ctos

no

ssos

co

rpos

e

facu

ldad

es

de

nasc

imen

to, i

nalte

rado

s co

m r

elaç

ão a

os d

e no

ssos

pai

s e

dos

mai

s re

mot

os

ance

stra

is.

Os

noss

os

mei

os

de

nave

gaçã

o m

aríti

ma

são

exte

rior

es

ao

noss

o eq

uipa

-m

ento

nat

ural

. N

ós o

s fa

zem

os e

util

izam

os,

ao p

asso

qu

e a

bale

ia o

rigi

nal

teve

de

tran

sfor

mar

-se

ela

mes

ma

em b

arco

. Fo

ram

-lhe

pre

cisa

s in

cont

ávei

s ge

raçõ

es p

ara

cheg

ar à

sua

con

diçã

o at

ual.

Todo

s os

indi

vídu

os q

ue

não

logr

aram

con

form

ar-s

e ao

tip

o nã

o de

ixar

am d

es-

cend

ente

alg

um,

ou n

enhu

m q

ue e

stej

a no

san

gue

das

bale

ias

de n

osso

s di

as.14

Es

tes

dois

exe

mpl

os d

e K

roeb

er m

ostr

am q

ue o

hom

em

crio

u o

seu

próp

rio

proc

esso

evo

lutiv

o. N

o de

corr

er d

e su

a hi

stór

ia,

sem

se

subm

eter

a m

odifi

caçõ

es b

ioló

gica

s ra

dica

is,

ele

tem

sob

revi

vido

a n

umer

osas

esp

écie

s, a

dapt

ando

-se

às

mai

s di

fere

ntes

con

diçõ

es m

esol

ógic

as.

Kro

eber

pro

curo

u m

ostr

ar q

ue,

supe

rand

o o

orgâ

nico

, o

hom

em d

e ce

rta

form

a lib

erto

u-se

da

natu

reza

. Ta

l fa

to

poss

ibili

tou

a ex

pans

ão d

a es

péci

e po

r to

dos

os r

ecan

tos

da

Terr

a. N

enhu

m o

utro

ani

mal

tem

tod

a a

Terr

a co

mo

o se

u há

bita

t,15 a

pena

s o

hom

em c

onse

guiu

est

a pr

oeza

:

De

fato

, o

que

faz

o ha

bita

nte

hum

ano

de l

atitu

des

incl

emen

tes,

não

é d

esen

volv

er u

m s

iste

ma

dige

stiv

o pe

culia

r, ne

m t

ampo

uco

adqu

irir

pêl

o. E

le m

uda

o se

u am

bien

te e

pod

e as

sim

con

serv

ar i

nalte

rado

o s

eu c

orpo

or

igin

al.

Con

stró

i um

a ca

sa

fech

ada,

qu

e o

prot

ege

cont

ra o

ven

to e

lhe

perm

ite c

onse

rvar

o c

alor

do

corp

o.

Faz

uma

fogu

eira

ou

acen

de u

ma

lâm

pada

. Es

fola

um

a fo

ca o

u um

car

ibu,

ext

rain

do-l

he a

pel

e co

ra q

ue a

se

leçã

o na

tura

l, ou

ou

tros

pr

oces

sos

de

evol

ução

or

gâni

ca,

doto

u es

ses

anim

ais;

sua

mul

her

faz-

lhe

uma

cam

isa

e ca

lças

, sa

pato

s e

luva

s, o

u du

as p

eças

de

cada

um

; el

e os

usa

, e

dent

ro d

e al

guns

ano

s, o

u di

as,

está

pr

ovid

o de

pro

teçã

o qu

e o

urso

pol

ar e

a l

ebre

árt

ica,

a

zibe

lina

e o

tetr

az,

leva

m l

ongo

s pe

ríod

os a

adq

uiri

r. D

emai

s,

o se

u fi

lho

e o

filh

o de

se

u fi

lho,

e

seu

cent

ésim

o de

scen

dent

e na

scer

ão t

ão n

us e

fis

icam

ente

o de

sarm

ados

com

o el

e e

o se

u ce

ntés

imo

ance

stra

l.16

e nu

nca

proc

urar

á ar

ranh

ar, t

al c

omo

viu

a m

ãe a

dotiv

a fa

zer.

Um

long

o re

tiro

pode

priv

á-lo

da

vist

a, d

o so

m o

u do

che

iro

de o

utro

s cã

es.

Mas

se

acon

tece

r ch

egar

-lhe

ao

s ou

vido

s um

lat

ido

ou g

anid

o, e

i-lo

tod

o at

ento

mai

s do

que

a q

ualq

uer

som

em

itido

pel

os g

atin

hos

seus

co

mpa

nhei

ros.

Que

se

repi

ta o

latid

o, e

ent

ão o

inte

ress

e da

rá l

ugar

à e

xcita

ção,

e e

le l

atir

á ta

mbé

m,

tão

cert

o co

mo,

pos

to e

m c

onta

to c

om u

ma

cade

la, m

anife

star

-se-

ão n

ele

os i

mpu

lsos

sex

uais

de

sua

espé

cie.

Não

pod

e ha

ver

dúvi

da d

e qu

e a

lingu

agem

can

ina

cons

titui

, de

m

odo

inex

tirpá

vel,

part

e da

nat

urez

a do

cac

horr

o, t

ão

plen

amen

te n

ele

cont

ida

sem

tre

ino

ou c

ultu

ra,

quan

to

faze

ndo

inte

iram

ente

par

te d

o or

gani

smo

cani

no,

com

o os

den

tes,

pés

, es

tôm

agos

, m

ovim

ento

s ou

ins

tinto

s.

Nen

hum

gra

u de

con

tato

com

os

gato

s, o

u pr

ivaç

ão d

e as

soci

ação

com

a s

ua p

rópr

ia e

spéc

ie,

fará

com

que

o

cão

apre

nda

a lin

guag

em d

o ga

to,

ou p

erca

a s

ua,

nem

ta

mpo

uco

o fa

rá e

nrol

ar o

rab

o em

vez

de

aban

á-lo

, es

freg

ar o

s fla

ncos

no

seu

dono

em

vez

de

salta

r ne

le, o

u ad

quir

ir b

igod

es e

leva

r as

orel

has

eret

a.

Tom

emos

um

beb

ê fr

ancê

s, n

asci

do n

a Fr

ança

, de

pa

is fr

ance

ses,

des

cend

ente

s es

tes,

atr

avés

de

num

eros

as

gera

ções

, de

ance

stra

is q

ue f

alav

am f

ranc

ês. C

onfi

emos

es

se b

ebê,

imed

iata

men

te d

epoi

s de

nas

cer,

a um

a pa

jem

m

uda,

com

ins

truç

ões

para

que

não

per

mita

que

nin

-gu

ém f

ale

com

a c

rian

ça o

u m

esm

o ve

ja d

uran

te a

vi

agem

que

a l

evar

á pe

lo c

amin

ho m

ais

dire

to a

o in

te-

rior

da

Chi

na.

Lá c

hega

ndo,

ent

rega

ela

o b

ebê

a un

i ca

sal

de c

hine

ses,

que

o a

dota

m l

egal

men

te,

e o

cria

m

com

o se

u pr

ópri

o fi

lho.

Su

ponh

amos

ag

ora

que

se

pass

em

Enqu

anto

o u

rso

pola

r nã

o po

de m

udar

de

seu

ambi

ente

, po

is n

ão s

upor

tari

a un

i gra

nde

aum

ento

de

tem

pera

tura

, um

es

quim

ó po

de tr

ansf

erir-

se d

e su

a re

gião

gel

ada

para

uni

paí

s tr

opic

al e

em

pou

co t

empo

est

aria

ada

ptad

o ao

mes

mo,

ba

stan

do a

pena

s tr

ocar o

seu

equ

ipam

ento

cul

tura

l pe

lo

dese

nvol

vido

no

novo

hab

itat.

Ao

invé

s de

uni

iglu

cap

az d

e co

nser

var

as m

enor

es p

arce

las

de c

alor

pre

feri

ria,

ent

ão,

ocup

ar t

ini

apar

tam

ento

ref

rige

rado

, ao

mes

mo

tem

po e

m

que

troc

aria

sua

s pe

sada

s ve

stim

enta

s po

r ro

upas

mui

to

leve

s ou

qua

se in

exis

tent

es.

Vim

os q

ue n

a ev

oluç

ão a

nim

al p

ara

cada

nov

a ca

ract

e-rí

stic

a ad

quir

ida

ocor

ria

a pe

rda

de L

ima

ante

rior

. C

om o

ho

mem

, uni

a ve

z pe

lo m

enos

est

e fa

to t

orno

u-se

ver

dade

iro.

Ao

adqu

irir

cul

tura

per

deu

a pr

opri

edad

e an

imal

, ge

netic

a-m

ente

det

erm

inad

a, d

e re

petir

os

atos

de

seus

ant

epas

sado

s,

sem

a n

eces

sida

de d

e co

piá-

los

ou d

e se

sub

met

er a

um

pr

oces

so d

e ap

rend

izad

o. U

m j

ovem

lob

o, s

epar

ado

de s

eus

sem

elha

ntes

no

m

omen

to

do

nasc

imen

to,

sabe

uiva

r qu

ando

nec

essá

rio;

sab

erá

dist

ingu

ir e

ntre

mui

tos

odor

es o

ch

eiro

de

uma

fêm

ea n

o ci

o e

dist

ingu

ir,

entr

e nu

mer

osas

es

péci

es

anim

ais,

aq

uela

s qu

e lh

e sã

o am

isto

sas

ou

adve

rsár

ias.

Kro

eber

nos

mos

tra

que

com

o h

omem

, m

ais

uma

vez,

o p

roce

sso

é di

fere

nte:

Um

cac

horr

inho

rec

ém-n

asci

do é

cri

ado

com

um

a ni

-nh

ada

de

gatin

hos

por

uma

gata

. C

ontr

aria

men

te

às

aned

otas

fam

iliar

es e

aos

tóp

icos

de

jorn

ais,

o c

acho

rri-

nho

latir

á e

rosn

ará,

não

mia

rá.

Fie

nem

mes

mo

expe

ri-

men

tará

mia

r. A

prim

eira

vez

que

se

lhe

pisa

r na

pat

a el

e ga

nirá

e n

ão g

uinc

hará

, tã

o ce

rto

com

o, q

uand

o fi

car

enfu

reci

do,

mor

derá

, co

mo

o fa

ria

a su

a m

ãe d

esco

nhe-

cida

,

três

, de

z ou

tri

nta

anos

. Se

rá n

eces

sári

o de

bate

r so

bre

que

língu

a fa

lará

o jo

vem

ou

adul

to fr

ancê

s? N

em u

ma

pala

vra

de f

ranc

ês, m

as o

pur

o ch

inês

, sem

um

ves

tígio

de

sot

aque

, e c

om a

fluê

ncia

chi

nesa

, e n

ada

mai

s.17

Este

é t

alve

z o

pont

o em

que

a n

oção

de

cultu

ra m

ais

cont

raria

o p

ensa

men

to l

eigo

. É

com

um,

entre

os

dife

rent

es

seto

res

de n

ossa

pop

ulaç

ão,

a cr

ença

nas

qua

lidad

es (

posi

ti-va

s ou

neg

ativ

as) a

dqui

rida

s gr

aças

ã tr

ansm

issã

o ge

nétic

a.

"Ten

ho a

fís

ica

no s

angu

e" —

diz

ia u

ma

alun

a qu

e pr

eten

dia

mud

ar a

sua

opç

ão d

e ci

ênci

as s

ocia

is p

ara

a de

sica

, inv

ocan

do o

nom

e de

um

anc

estr

al.

"Meu

filh

o te

m m

uito

jei

to p

ara

a m

úsic

a, p

ois

herd

ou

esta

qua

lidad

e do

seu

avó

." É

est

e um

out

ro e

xem

plo

com

um.

Mui

to

cont

ribu

iu

para

af

irm

açõe

s de

ste

tipo

a di

vulg

ação

da

te

oria

de

C

esar

e Lo

mbr

oso

(183

5-19

09),

crim

inal

ista

ita

liano

, qu

e pr

ocur

ou c

orre

laci

onar

apa

rênc

ia

físi

ca c

om t

endê

ncia

par

a co

mpo

rtam

ento

s cr

imin

osos

. Po

r m

ais

absu

rda

que

nos

poss

a pa

rece

r, a

teor

ia d

e Lo

mbr

oso

enco

ntro

u gr

ande

rec

eptiv

idad

e po

pula

r e,

até

rec

ente

men

te,

era

min

istr

ada

em a

lgun

s cu

rsos

de

dire

ito c

omo

verd

ade

cien

tific

a. E

m n

osso

s di

as o

mau

uso

da

soci

obio

logi

a te

m

exer

cido

o m

esm

o pa

pel.

O p

erig

o de

sses

tip

os e

le e

xplic

açõe

s é

que

faci

lmen

te

asso

ciam

-se

com

tipo

s de

dis

crim

inaç

ões

raci

ais

e so

ciai

s, nu

ma

tent

ativ

a de

just

ifica

r as

dife

renç

as s

ocia

is. A

ssim

, até

mes

mo

o su

cess

o em

pres

aria

l pa

ssa

a se

r ex

plic

ado

com

o um

a fo

rma

de

dete

rmin

ação

gen

étic

a e

é ilu

stra

do c

om a

enu

mer

ação

das

di

fere

ntes

din

astia

s de

indu

str iais

ou

empr

esár

ios.18

O h

omem

é o

res

ulta

do d

o m

eio

cultu

ral

em q

ue f

oi

soci

aliz

ado.

Ele

é u

m h

erde

iro

de u

m l

ongo

pro

cess

o ac

u-m

ulat

ivo,

que

ref

lete

o c

onhe

cim

ento

e a

exp

eriê

ncia

adq

ui-

rida

s pe

las

num

eros

as

gera

ções

qu

e o

ante

cede

ram

. A

m

anip

ulaç

ão a

dequ

ada

e cr

iativ

a de

sse

patr

imôn

io c

ultu

ral

perm

ite a

s in

ovaç

ões

e as

inv

ençõ

es.

Esta

s nã

o sã

o, p

ois,

o

prod

uto

da a

ção

isol

ada

de u

m g

ênio

, m

as o

res

ulta

do d

o es

forç

o de

tod

a um

a co

mun

idad

e. N

o pa

rágr

afo

segu

inte

, K

roeb

er d

iscu

te o

tem

a:

Se

gund

o um

dito

que

é q

uase

pro

verb

ial,

e ve

rdad

eiro

na

med

ida

em

que

pode

m

ser

verd

adei

ros

tais

lu

gare

s-co

mun

s, o

esc

olar

mod

erno

sab

e m

ais

que

Ari

stót

eles

; m

as e

sse

fato

, so

ubes

se o

esc

olar

mil

veze

s m

ais

que

Ari

stót

eles

, ne

m

por

isso

o

dota

de

um

a fr

ação

do

in

tele

cto

do

gran

de

greg

o.

Soci

alm

ente

é

o co

nhec

imen

to, e

não

o d

esen

volv

imen

to m

aior

de

tini o

u ou

tro

indi

vídu

o,

que

vale

, do

m

esm

o m

odo

que

na

men

sura

ção

da v

erda

deir

a fo

rça

da g

rand

eza

da p

esso

a, o

ps

icól

ogo

ou o

gen

etic

ista

não

lev

a em

con

side

raçã

o o

esta

do

cio

escl

arec

imen

to

gera

l, o

grau

va

riáv

el

do

dese

nvol

vim

ento

lig

ado

à ci

viliz

ação

, pa

ra f

azer

sua

s co

mpa

raçõ

es.

Cet

ra

Ari

stót

eles

pe

rdid

os

entr

e no

ssos

an

cest

rais

hab

itant

es d

as c

aver

nas

não

seri

am m

enos

A

rist

ótel

es

por

dire

ito

do

nasc

imen

to;

mas

te

riam

co

ntri

buíd

o m

uito

men

os p

ara

o pr

ogre

sso

da c

iênc

ia d

o qu

e do

ze e

sfor

çada

s m

edio

crid

ades

no

sécu

lo v

inte

. U

m

supe

r-A

rqui

med

es n

a id

ade

do g

elo

não

teri

a in

vent

ado

nem

arm

as d

e fo

go n

em o

tel

égra

fo.

Se t

ives

se n

asci

do

no C

ongo

ao

invé

s de

um

a Sa

xôni

a, n

ão p

oder

ia B

ach

ter

com

post

o ne

m m

esm

o um

fra

gmen

to d

e co

ral

ou s

onat

a,

se b

em

que

poss

amos

con

fiar

igua

lmen

te e

m q

ue e

le t

eria

ecl

ip-

sado

os

seus

com

patr

iota

s em

alg

uma

espé

cie

de m

úsic

a.

Qua

nto

a sa

ber

se e

xist

iu a

lgum

dia

uni

Bac

h na

Áfr

ica,

é

outr

a qu

estã

o —

ã q

ual

não

se p

ode

dar

uma

resp

osta

ne

gativ

a m

eram

ente

por

que

nenh

um B

ach

jam

ais

por

apar

eceu

, qu

estã

o qu

e (l

evem

os r

azoa

velm

ente

adm

itir

não

ter

tido

resp

osta

, mas

em

rel

ação

ã q

ual

o es

tudi

oso

da c

ivili

zaçã

o, a

té q

ue s

e ap

rese

nte

uma

dem

onst

raçã

o,

não

pode

dar

mai

s qu

e um

a re

spos

ta e

ass

umir

um

a só

at

itude

: su

por,

não

com

o um

a fi

nalid

ade

mas

com

o um

a co

ndiç

ão d

e m

étod

o, q

ue e

xist

iram

tais

indi

vídu

os; q

ue o

nio

e a

capa

cida

de

ocor

rem

co

m

freq

üênc

ia

subs

tanc

ialm

ente

reg

ular

, e q

ue to

das

as r

aças

ou

grup

os

bast

ante

gr

ande

s de

ho

men

s sã

o em

m

édia

su

bsta

ncia

lmen

te ig

uais

e tê

m a

s m

esm

as q

ualid

ades

.19

Em

outr

as

pala

vras

, nã

o ba

sta

a na

ture

za

cria

r in

diví

duos

al

tam

ente

in

telig

ente

s,

isto

el

a o

faz

com

fr

eqüê

ncia

,20

mas

é

nece

ssár

io

que

colo

que

ao

alca

nce

dess

es i

ndiv

íduo

s o

mat

eria

l qu

e lh

es p

erm

ita e

xerc

er a

sua

cr

iativ

idad

e de

um

a m

anei

ra r

evol

ucio

nári

a. S

anto

s D

umon

t (1

873-

1932

) nã

o te

ria s

ido

o in

vent

or d

o av

ião

se n

ão ti

vess

e ab

ando

nado

a s

ua p

acho

rren

ta P

alm

ira,

no

fina

l do

séc

ulo

XIX

, e

se t

rans

feri

do e

m 1

892

para

Par

is.

Ali

teve

ace

sso

a to

do o

con

heci

men

to a

cum

ulad

o pe

la c

ivili

zaçã

o oc

iden

tal.

Em

Palm

ira,

o

seu

cére

bro

priv

ilegi

ado

pode

ria

talv

ez

real

izar

out

ras

inve

nçõe

s, c

omo

por

exem

plo

um e

ixo

mai

s ap

erfe

içoa

do p

ara

carr

os d

e bo

is,

mas

jam

ais

teri

a tid

o a

opor

tuni

dade

de

prop

orci

onar

à h

uman

idad

e a

capa

cida

de d

a lo

com

oção

aér

ea.

Alb

ert

Eins

tein

(18

79-1

955)

não

ter

ia

dese

nvol

vido

a te

oria

da

rela

tivid

ade

se t

ives

se n

asci

do e

m u

ma

dist

ante

lo

calid

ade

do H

imal

aia

e lá

per

man

ecid

o. M

as,

por

outr

o la

do,

se A

lber

to S

anto

s D

umon

t tiv

esse

mor

rido

em

sua

pr

imei

ra i

nfân

cia,

fat

o co

mum

no

luga

r e

époc

a em

que

na

sceu

, e

se A

lber

t Ei

nste

in t

ives

se s

ido

cons

umid

o pe

la

vora

gem

de

unia

das

gue

rras

eur

opéi

as d

o fi

nal

do s

écul

o X

IX,

a hu

man

idad

e te

ria

que

espe

rar

um p

ouco

mai

s, t

alve

z,

pela

s su

as d

esco

bert

as.

Mas

cer

tam

ente

não

fic

aria

pri

vada

da

teor

ia d

a re

lativ

idad

e e

do a

erop

lano

, poi

s ou

tros

cie

ntis

-ta

s e

inve

ntor

es e

star

iam

apt

os p

ara

utili

zar

os m

esm

os

conh

ecim

ento

s e

real

izar

as

mes

mas

faç

anha

s. A

afi

rmaç

ão

acim

a no

s le

va a

faz

er a

lgum

as b

reve

s co

nsid

eraç

ões

sobr

e as

inv

ençõ

es s

imul

tâne

as,

obje

to d

e in

tens

as p

olêm

icas

pel

a es

cola

dif

usio

nist

a. A

o m

esm

o te

mpo

em

que

San

tos

Du-

mon

t te

ntav

a re

aliz

ar o

seu

vôo

com

um

apa

relh

o m

ais

pesa

do q

ue o

ar,

do o

utro

lad

o do

oce

ano,

doi

s ir

mão

s,

utili

zand

o os

mes

mos

con

heci

men

tos

e a

mes

ma

expe

riên

cia,

te

ntav

am e

con

segu

iram

o m

esm

o fe

ito.

O m

esm

o oc

orre

u co

m c

erto

mat

emát

ico

que,

ao

term

inar

de

redi

gir

a su

a te

se

de d

outo

ram

ento

e s

e pr

epar

ar p

ara

editá

-la,

des

cobr

iu e

m

uma

revi

sta

euro

péia

um

ar

tigo,

es

crito

po

r un

i ou

tro

mat

emát

ico

com

o q

ual

não

teve

o m

enor

con

tato

, qu

e si

ntet

izav

a to

da a

sua

tese

. A e

xplic

ação

par

a ta

l fat

o é

mui

to

sim

ples

: com

para

ndo-

se a

bib

liogr

afia

util

izad

a po

r ca

da u

m

desc

obri

u-se

ser

em a

mba

s m

uito

sem

elha

ntes

. Ass

im, d

iant

e de

um

m

esm

o m

ater

ial

cultu

ral,

dois

ci

entis

tas

agin

do

inde

pend

ente

men

te c

hega

ram

a u

ni m

esm

o re

sulta

do.

Mes

mo

quan

do e

ntre

doi

s in

vent

ores

sim

ultâ

neos

exi

ste

a se

para

ção

da

dive

rsid

ade

cultu

ral,

a ex

plic

ação

é

mui

to

sim

ples

(m

ais

sim

ples

do

que

a in

terv

ençã

o de

ser

es e

xtra

-te

rres

tres

ou s

obre

natu

rais

par

a ex

plic

ar a

oco

rrên

cia

de p

irâm

ides

no

Egito

e n

o M

éxic

o): p

ara

algu

ns ti

pos

de p

robl

emas

exi

stem

de

term

inad

as li

mita

ções

de

alte

rnat

ivas

que

pos

sibi

litam

que

in

venç

ões

igua

is

ocor

ram

em

cu

ltura

s di

fere

ntes

. U

ma

cons

truç

ão e

stá

limita

da p

elas

for

mas

geo

mét

rica

s e

esta

s sã

o lim

itada

s, p

orta

nto

nada

exi

ste

dem

ais

que

em d

uas

part

es d

o m

undo

ela

s as

sum

am i

ndep

ende

ntem

ente

for

mas

pi

ram

idai

s.

Res

umin

do,

a co

ntrib

uiçã

o de

Kro

eber

par

a a

ampl

iaçã

o do

con

ceito

de

cultu

ra p

ode

ser

rela

cion

ada

nos

segu

inte

s po

ntos

:

1. A

cul

tura

, mai

s do

que

a h

eran

ça g

enét

ica,

det

erm

ina

o co

mpo

rtam

ento

do

hom

em e

jus

tific

a as

sua

s re

aliz

a-çõ

es.

2. O

hom

em a

ge d

e ac

ordo

com

os

seus

pad

rões

cul

tu-

rais

. Os

seus

inst

into

s fo

ram

par

cial

men

te a

nula

dos

pelo

lo

ngo

proc

esso

evo

lutiv

o po

r qu

e pa

ssou

. (V

olta

rem

os a

es

te p

onto

mai

s ad

iant

e.)

3. A

cul

tura

é o

mei

o de

ada

ptaç

ão a

os d

ifer

ente

s am

-bi

ente

s ec

ológ

icos

. Em

vez

de

mod

ific

ar p

ara

isto

o s

eu

apar

ato

biol

ógic

o, o

hom

em m

odif

ica

o se

u eq

uipa

men

to

supe

rorg

ânic

o.

4. E

m d

ecor

rênc

ia d

a af

irm

ação

ant

erio

r, o

hom

em f

oi

capa

z de

rom

per

as b

arre

iras

das

dif

eren

ças

ambi

enta

is e

tr

ansf

orm

ar to

da a

terr

a em

seu

háb

itat.

5. A

dqui

rind

o cu

ltura

, o

hom

em

pass

ou

a de

pend

er

mui

to m

ais

do a

pren

diza

do d

o qu

e a

agir

atr

avés

de

atitu

des

gene

ticam

ente

det

erm

inad

as.

6. C

omo

já e

ra d

o co

nhec

imen

to d

a hu

man

idad

e, d

esde

o

Ilum

inis

mo,

é

este

pr

oces

so

de

apre

ndiz

agem

(s

ocia

lizaç

ão

ou e

ndoc

ultu

raçã

o, n

ão i

mpo

rta

o te

rmo)

que

det

erm

ina

o se

u co

mpo

rtam

ento

e a

sua

cap

acid

ade

artís

tica

ou

prof

issi

onal

. 7.

A

cul

tura

é u

m p

roce

sso

acum

ulat

ivo,

res

ulta

nte

de

toda

a e

xper

iênc

ia h

istó

rica

das

ger

açõe

s an

teri

ores

. Est

e pr

oces

so li

mita

ou

estim

ula

a aç

ão c

riat

iva

do in

diví

duo.

8.

O

s gê

nios

são

ind

ivíd

uos

alta

men

te i

ntel

igen

tes

que

têm

a o

port

unid

ade

de u

tiliz

ar o

con

heci

men

to e

xist

ente

ao

seu

dis

por,

cons

truí

do p

elos

par

ticip

ante

s vi

vos

e m

orto

s de

seu

sis

tem

a cu

ltura

l, e

cria

r um

nov

o ob

jeto

ou

um

a no

va t

écni

ca.

Nes

ta c

lass

ific

ação

pod

em s

er

incl

uído

s os

ind

ivíd

uos

que

fize

ram

as

prim

eira

s in

ven-

ções

, tai

s co

mo

o pr

imei

ro h

omem

que

pro

duzi

u o

fogo

at

ravé

s do

atri

to d

a m

adei

ra s

eca;

ou

o pr

imei

ro h

omem

qu

e fa

bric

ou a

pri

mei

ra m

áqui

na c

apaz

de

ampl

iar

a fo

rça

mus

cula

r, o

arco

e a

fle

cha

etc.

São

ele

s gê

nios

da

mes

ma

gran

deza

de

Sant

os D

umon

t e

Eins

tein

. Se

m a

s su

as p

rim

eira

s in

venç

ões

ou d

esco

bert

as,

hoje

con

side

-ra

das

mod

esta

s, n

ão t

eria

m o

corr

ido

as d

emai

s. E

pio

r do

que

ist

o, t

alve

z ne

m m

esm

o a

espé

cie

hum

ana

teri

a ch

egad

o ao

que

é h

oje.

Gos

taría

mos

, ag

ora,

ant

es d

e fin

aliz

arm

os e

ste

capí

tulo

, de

vol

tar

a di

scut

ir d

ois

pont

os q

ue p

arec

em,

ao s

enso

co

mum

, mai

s co

ntro

vert

idos

: O

pri

mei

ro d

eles

ref

ere-

se a

o of

usca

men

to d

os i

nstin

tos

hum

anos

pel

o de

senv

olvi

men

to d

a cu

ltura

. Na

verd

ade,

nem

to

dos

os i

nstin

tos

fora

m s

upri

mid

os;

a cr

ianç

a ao

nas

cer

busc

a o

seio

mat

erno

e in

stin

tivam

ente

faz

com

a b

oqui

nha

o m

ovim

ento

de

sucç

ão. M

ais

tard

e, m

ovid

a ai

nda

Com

o fa

lar

em i

nstin

to f

ilial

, qu

ando

sab

emos

que

os

esqu

imós

con

duzi

am o

s se

us v

elho

s pa

is p

ara

as p

laní

cies

ge

lada

s pa

ra s

erem

dev

orad

os p

elos

urs

os?

Ass

im f

azen

do,

acre

dita

vam

que

os

pais

ser

iam

rei

ncor

pora

dos

na t

ribo

qu

ando

o u

rso

foss

e ab

atid

o e

devo

rado

pel

a co

mun

idad

e.

Com

o fa

lar

em i

nstin

to s

exua

l? M

uito

s sã

o os

cas

os

conh

ecid

os d

e ad

oles

cent

es,

cres

cido

s em

con

text

os p

urita

-no

s, q

ue d

esco

nhec

iam

com

plet

amen

te c

omo

agir

em

rel

ação

ao

s m

embr

os

do

outr

o se

xo,

sim

ples

men

te

porq

ue

não

tiver

am a

pos

sibi

lidad

e de

pre

senc

iar

um a

to s

exua

l e

nin-

guém

os

ter e

scla

reci

do s

obre

tais

atit

udes

.21C

oncl

uind

o, t

udo

que

o ho

mem

faz

, ap

rend

eu c

om o

s se

us s

emel

hant

es e

não

dec

orre

de

impo

siçõ

es o

rigi

nada

s fo

ra d

a cu

ltura

. (A

est

e re

spei

to,

cons

ulte

o n

osso

Ane

xo 1

"U

ma

expe

riên

cia

absu

rda"

.) O

se

gund

o po

nto,

qu

e co

stum

a ap

rese

ntar

al

gum

as

cont

rové

rsia

s, r

efer

e-se

ao

item

7 a

cim

a, o

u se

ja,

a cu

ltura

co

mo

um p

roce

sso

acum

ulat

ivo.

Atr

avés

da

disc

ussã

o de

ste

pont

o po

dem

os e

nten

der

mel

hor

a di

fere

nça

que

exis

te e

ntre

o

hom

em e

seu

s pa

rent

es m

ais

próx

imos

, os

pon

gíde

os.

Aco

mpa

nhan

do o

des

envo

lvim

ento

de

uma

cria

nça

hum

ana

e de

um

a cr

ianç

a ch

impa

nzé

até

o pr

imei

ro a

no d

e vi

da, n

ão s

e no

ta m

uita

dif

eren

ça:

amba

s sã

o ca

paze

s de

apr

ende

r, m

ais

ou m

enos

, as

mes

mas

coi

sas.

Mas

qua

ndo

a cr

ianç

a co

meç

a a

apre

nder

a f

alar

, co

isa

que

o ch

impa

nzé

não

cons

egue

, a

dist

ânci

a to

rna-

se i

men

sa.

Atr

avés

da

com

unic

ação

ora

l a

cria

nça

vai

rece

bend

o in

form

açõe

s so

bre

todo

o

conh

ecim

ento

acu

mul

ado

pela

cul

tura

em

que

viv

e. T

al f

ato,

as

soci

ado

com

a s

ua c

apac

idad

e de

obs

erva

ção

e de

inve

nção

, fa

z co

m

que

ela

se

dist

anci

e ca

da

vez

mai

s de

se

u co

mpa

nhei

ro d

e in

fânc

ia.

por

inst

into

s, p

rocu

rará

util

izar

os

seus

mem

bros

e c

onse

-gu

irá p

rodu

zir

sons

, em

bora

ten

da a

im

itar

os e

miti

dos

pelo

s ad

ulto

s qu

e a

rode

iam

. M

as,

mui

to c

edo,

tud

o o

que

fize

r nã

o se

rá m

ais

dete

rmin

ado

por

inst

into

s, m

as s

im p

ela

imita

ção

dos

padr

ões

cultu

rais

da

soci

edad

e em

que

viv

e.

As

perg

unta

s qu

e co

mum

ente

se

colo

ca: M

as o

nde

fica

o

inst

into

de

cons

erva

ção?

O i

nstin

to m

ater

no?

O i

nstin

to

filia

l? O

inst

into

sex

ual?

etc

. Em

pri

mei

ro l

ugar

, ta

is p

alav

ras

expr

imem

uni

err

o se

mân

tico,

poi

s nã

o se

ref

erem

a c

ompo

rtam

ento

s de

term

i-na

dos

biol

ogic

amen

te,

mas

sim

a p

adrõ

es c

ultu

rais

. Po

is s

e pr

eval

eces

se o

pri

mei

ro c

aso,

tod

a a

hum

anid

ade

deve

ria

agir

igu

alm

ente

dia

nte

elas

mes

mas

situ

açõe

s, e

ist

o nã

o é

verd

adei

ro. V

ejam

os:

Com

o fa

lar

em i

nstin

to d

e co

nser

vaçã

o qu

ando

lem

bra-

mos

as

faça

nhas

dos

cam

icas

es j

apon

eses

(pi

loto

s su

icid

as)

dura

nte

a Se

gund

a G

uerr

a M

undi

al?

Se o

ins

tinto

exi

stis

se,

seri

a im

poss

ível

aos

arr

ojad

os p

iloto

s gu

iare

m o

s se

us a

viõe

s de

enc

ontro

às

torr

es d

as b

elon

aves

am

eric

anas

. O

mes

mo

é ve

rdad

eiro

par

a os

índ

ios

das

plan

ície

s am

eric

anas

, qu

e po

ssuí

am a

lgum

as s

ocie

dade

s m

ilita

res

nas

quai

s os

seu

s m

embr

os j

urav

am m

orre

r em

com

bate

e a

ssim

ass

egur

ar u

m

mel

hor l

ugar

no

outr

o m

undo

. C

omo

fala

r em

inst

into

mat

erno

, qua

ndo

sabe

mos

que

o

infa

ntic

ídio

é u

m f

ato

mui

to c

omum

ent

re d

iver

sos

grup

os

hum

anos

? To

mem

os o

exe

mpl

o da

s m

ulhe

res

Tapi

rapé

, tri

bo

Tupi

do

Nor

te d

o M

ato

Gro

sso,

que

des

conh

ecia

m q

uais

quer

cnic

as a

ntic

once

pcio

nais

ou

abor

tivas

e e

ram

obr

igad

as,

por

cren

ças

relig

iosa

s,

a m

atar

to

dos

os

filh

os

após

o

terc

eiro

. Ta

l at

itude

era

con

side

rada

nor

mal

e n

ão c

riav

a ne

nhum

se

ntim

ento

de

cu

lpa

entr

e as

pr

atic

ante

s do

in

fant

icíd

io.

É in

tere

ssan

te o

bser

var

que

não

falta

ao

chim

panz

é a

mes

ma

capa

cida

de d

e ob

serv

ação

e d

e in

venç

ão,

falta

ndo-

lhe

poré

m a

pos

sibi

lidad

e de

com

unic

ação

. A

ssim

sen

do,

cada

obs

erva

ção

real

izad

a po

r um

ind

ivíd

uo c

him

panz

é nã

o be

nefic

ia a

sua

esp

écie

, poi

s na

sce

e ac

aba

com

ele

. No

caso

hu

man

o, o

corr

e ex

atam

ente

o c

ontr

ário

: to

da a

exp

eriê

ncia

de

um

indi

vídu

o é

tran

smiti

da a

os d

emai

s, c

rian

do a

ssim

um

in

term

ináv

el p

roce

sso

de a

cum

ulaç

ão.

Ass

im s

endo

, a

com

unic

ação

é u

m p

roce

sso

cultu

ral.

Mai

s ex

plic

itam

ente

, a

lingu

agem

hum

ana

é um

pro

duto

da

cultu

ra, m

as n

ão e

xist

iria

cul

tura

se

o ho

mem

não

tiv

esse

a

poss

ibili

dade

de

de

senv

olve

r um

si

stem

a ar

ticul

ado

de

com

unic

ação

ora

l.

5. ID

ÉIA

SO

BR

E A

OR

IGE

M D

A C

UL

TU

RA

Um

a da

s pr

imei

ras

preo

cupa

ções

dos

est

udio

sos

com

rel

ação

à

cultu

ra r

efer

e-se

a s

ua o

rige

m. E

m o

utra

s pa

lavr

as, c

omo

o ho

mem

ad

quir

iu

este

pr

oces

so

extr

a-so

mát

ico

que

o di

fere

ncio

u de

to

dos

os

anim

ais

e lh

e de

u um

lu

gar

priv

ilegi

ado

na v

ida

terr

estr

e?

Um

a re

spos

ta s

impl

ific

ada

da q

uest

ão s

eria

a d

e qu

e o

hom

em a

dqui

riu,

ou

mel

hor,

prod

uziu

cul

tura

a p

artir

do

mom

ento

em

que

seu

cér

ebro

, m

odif

icad

o pe

lo p

roce

sso

evol

utiv

o do

s pr

imat

as,

foi

capa

z de

ass

im p

roce

der.

Não

re

sta

dúvi

da d

e qu

e se

tra

ta d

e um

a re

spos

ta i

nsat

isfa

tóri

a,

com

um

odo

r ta

utol

ógic

o, e

que

não

dei

xa d

e no

s co

nduz

ir a

un

ia o

utra

per

gunt

a: m

as c

omo

e po

r qu

e m

odif

icou

-se

o cé

rebr

o do

pri

mat

a, a

pon

to d

e at

ingi

r a

dim

ensã

o e

a co

mpl

exid

ade

que

perm

itira

m o

apa

reci

men

to d

o ho

mem

? Se

gund

o di

vers

os a

utor

es,

entre

ele

s R

icha

rd L

eack

ey e

R

oger

Lew

in,1 o

iní

cio

do d

esen

volv

imen

to d

o cé

rebr

o hu

-m

ano

é um

a co

nseq

üênc

ia d

a vi

da a

rbor

ícol

a de

seu

s re

mo-

tos

ante

pass

ados

. Es

ta v

ida

arbo

ríco

la,

onde

o f

aro

perd

eu

mui

to d

e su

a im

port

ânci

a, f

oi r

espo

nsáv

el p

ela

eclo

são

de

uma

visã

o es

tere

oscó

pica

. Est

a, c

ombi

nada

com

a c

apac

ida-

de d

e ut

iliza

ção

das

mão

s, a

briu

par

a os

pri

mat

as, p

rinc

ipal

-m

ente

os

supe

rior

es,

uni

mun

do t

ridi

men

sion

al,

inex

iste

nte

para

qua

lque

r ou

tro

mam

ífer

o. O

fat

o de

pod

er p

egar

e

exam

inar

um

obj

eto

atri

bui a

est

e si

gnif

icad

o pr

ópri

o. A

form

a e

a co

r pod

em s

er c

orre

laci

onad

as c

om a

resi

stên

cia

e o

peso

(nã

o de

ixan

do a

inda

de

lado

a t

radi

cion

al f

orm

a de

in

vest

igaç

ão d

os m

amífe

ros:

o o

lfato

), fo

rnec

endo

um

a no

va

perc

epçã

o.

Dav

id P

ilbea

m2 r

efer

e-se

ao

bipe

dism

o co

mo

uma

ca-

ract

erís

tica

excl

usiv

a do

s pr

imat

as e

ntre

tod

os o

s m

amíf

e-ro

s. "

Qua

se t

odos

os

prim

atas

viv

os s

e co

mpo

rtam

com

o bí

pede

s de

vez

em

qua

ndo"

, af

irm

a el

e. A

seg

uir

cons

ider

a qu

e o

bipe

dism

o fo

i, pr

ovav

elm

ente

, o r

esul

tado

de

todo

um

co

njun

to d

e pr

essõ

es s

elet

ivas

: "p

ara

o an

imal

par

ecer

mai

or

e m

ais

intim

idan

te,

para

tra

nspo

rtar

obj

etos

(al

imen

tos

ou

filh

otes

), pa

ra

utili

zar

arm

as

(cac

ete

ou

lanç

a)

e pa

ra

aum

enta

r a v

isib

ilida

de."3

Ken

neth

P. O

akle

y de

stac

a a

impo

rtân

cia

da h

abili

dade

m

anua

l, po

ssib

ilita

da p

ela

posi

ção

eret

a, a

o pr

opor

cion

ar

mai

ores

est

ímul

os a

o cé

rebr

o, c

om o

con

seqü

ente

des

envo

l-vi

men

to d

a in

telig

ênci

a hu

man

a. A

cul

tura

ser

ia,

entã

o, o

re

sulta

do d

e um

cér

ebro

mai

s vo

lum

oso

e co

mpl

exo.

4

Dei

xand

o de

lad

o as

exp

licaç

ões

de p

aleo

ntol

ogia

hu-

man

a, é

opo

rtun

o to

mar

con

heci

men

to d

o pe

nsam

ento

de

dois

im

port

ante

s an

trop

ólog

os

soci

ais

cont

empo

râne

os

a re

spei

to d

o m

omen

to e

m q

ue o

pri

mat

a tr

ansf

orm

a-se

em

ho

mem

. C

laud

e Lé

vi-S

trau

ss,

o m

ais

dest

acad

o an

trop

ólog

o fr

ancê

s, c

onsi

dera

que

a c

ultu

ra s

urgi

u no

mom

ento

em

que

o

hom

em c

onve

ncio

nou

a pr

imei

ra r

egra

, a

prim

eira

nor

ma.

Pa

ra L

évi-S

traus

s, e

sta

seria

a p

roib

ição

do

ince

sto,

pad

rão

de

com

port

amen

to

com

um

a to

das

as

soci

edad

es h

uman

as.

Toda

s el

as p

roíb

em a

rel

ação

sex

ual

de u

m h

omem

com

ce

rtas

cat

egor

ias

de m

ulhe

res

(ent

re n

ós, a

mãe

, a

filh

a e

a ir

mã)

.

Lesl

ie W

hite

, an

trop

ólog

o no

rte-

amer

ican

o co

ntem

po-

râne

o, c

onsi

dera

que

a p

assa

gem

do

esta

do a

nim

al p

ara

o hu

man

o oc

orre

u qu

ando

o c

éreb

ro d

o ho

mem

foi

cap

az d

e ge

rar s

ímbo

los.

Todo

com

port

amen

to h

uman

o se

ori

gina

no

uso

de

sím

bolo

s. F

oi o

sím

bolo

que

tran

sfor

mou

nos

sos

ance

s-tra

is a

ntro

póid

es e

m h

omen

s e

fê-lo

s hu

man

os. T

odas

as

civi

lizaç

ões

se e

spal

hara

m e

per

petu

aram

som

ente

pel

o us

o de

sím

bolo

s ...

. Tod

a cu

ltura

dep

ende

de

sím

bolo

s.

É o

exer

cíci

o da

fac

ulda

de d

e si

mbo

lizaç

ão q

ue c

ria

a cu

ltura

e o

uso

de

sím

bolo

s qu

e to

rna

poss

ível

a s

ua

perp

etua

ção.

Sem

o s

ímbo

lo n

ão h

aver

ia c

ultu

ra,

e o

hom

em s

eria

ape

nas

anim

al,

não

um s

er h

uman

o....

O

com

port

amen

to h

uman

o é

o co

mpo

rtam

ento

sim

bólic

o.

Um

a cr

ianç

a do

gên

ero

Hom

o to

rna-

se h

uman

a so

men

te

quan

do

é in

trod

uzid

a e

part

icip

a da

or

dem

de

fe

nôm

enos

sup

eror

gâni

cos

que

é a

cultu

ra.

E a

chav

e de

ste

mun

do, e

o m

eio

de p

artic

ipaç

ão n

ele,

é o

sím

bo-

lo.5

Com

efe

ito,

tem

os d

e co

ncor

dar

que

é im

poss

ível

par

a um

ani

mal

com

pree

nder

os

sign

ific

ados

que

os

obje

tos

rece

bem

de

cada

cul

tura

. C

omo,

por

exe

mpl

o, a

cor

pre

ta

sign

ific

a lu

to e

ntre

nós

e e

ntre

os

chin

eses

é o

bra

nco

que

expr

ime

esse

sen

timen

to. M

esm

o um

sím

io n

ão s

aber

ia fa

zer

a di

stin

ção

entr

e um

ped

aço

de p

ano,

sac

udid

o ao

ven

to,

e um

a ba

ndei

ra d

esfr

alda

da.

Isto

por

que,

com

o af

irm

ou o

pr

ópri

o W

hite

, "t

odos

os

sím

bolo

s de

vem

ter

um

a fo

rma

físic

a,

pois

do

co

ntrá

rio

não

pode

m

pene

trar

em

noss

a ex

peri

ênci

a, m

as o

seu

sig

nifi

cado

não

pod

e se

r per

cebi

do

pelo

s se

ntid

os".

Ou

seja

, par

a pe

rceb

er o

sig

nifi

cado

de

um

sím

bolo

é n

eces

sári

o co

nhec

er a

cul

tura

que

o c

riou

. V

imos

alg

umas

exp

licaç

ões

sobr

e o

apar

ecim

ento

da

cultu

ra.

Expl

icaç

ões

de n

atur

eza

físi

ca e

soc

ial.

Alg

umas

de

las

tend

em i

mpl

ícita

ou

expl

icita

men

te a

adm

itir

que

a cu

ltura

apa

rece

u de

rep

ente

, nu

m d

ado

mom

ento

. U

m v

er-

dade

iro

salto

da

natu

reza

par

a a

hum

anid

ade.

Tal

pos

tura

im

plic

a a

acei

taçã

o de

um

po

nto

críti

co,

expr

essã

o es

ta

utili

zada

por

Alf

red

Kro

eber

ao

conc

eber

a e

clos

ão d

a cu

ltura

co

mo

um a

cont

ecim

ento

súb

ito,

um s

alto

qua

ntita

tivo

na

filo

geni

a do

s pr

imat

as: e

m u

m d

ado

mom

ento

um

ram

o de

ssa

fam

ília

sofr

eu u

ma

alte

raçã

o or

gâni

ca e

tor

nou-

se c

apaz

de

"exp

rim

ir-s

e, a

pren

der,

ensi

nar

e de

faz

er g

ener

aliz

açõe

s a

part

ir d

a in

fini

ta c

adei

a de

sen

saçõ

es e

obj

etiv

os is

olad

os".

Em

ess

ênci

a, a

exp

lana

ção

acim

a nã

o é

mui

to d

ifer

ente

da

for

mul

ada

por

algu

ns p

ensa

dore

s ca

tólic

os,

preo

cupa

dos

com

a c

onci

liaçã

o en

tre

a do

utri

na e

a c

iênc

ia,

segu

ndo

a qu

al o

hom

em a

dqui

riu

cultu

ra n

o m

omen

to e

m q

ue r

eceb

eu

do C

riad

or u

ma

alm

a im

orta

l. E

esta

som

ente

foi

atr

ibuí

da a

o pr

imat

a no

mom

ento

em

que

a D

ivin

dade

con

side

rou

que

o co

rpo

do m

esm

o tin

ha e

volu

ído

orga

nica

men

te o

suf

icie

nte

para

tor

nar-

se d

igno

de

uma

alm

a e,

con

seqü

ente

men

te,

de

cultu

ra.

O p

onto

crí

tico,

mai

s do

que

um

eve

nto

mar

avilh

oso,

é

hoje

con

side

rado

um

a im

poss

ibili

dade

cie

ntíf

ica:

a n

atur

eza

não

age

por s

alto

s. O

pri

mat

a, c

omo

iron

izou

um

ant

ropó

logo

sico

, nã

o fo

i pr

omov

ido

da n

oite

par

a o

dia

ao p

osto

de

hom

em. O

con

heci

men

to c

ient

ífic

o at

ual

está

con

venc

ido

de

que

o sa

lto

da

natu

reza

pa

ra

a cu

ltura

fo

i co

ntín

uo

e in

criv

elm

ente

lent

o.

Clif

ford

Gee

rtz,

ant

ropó

logo

nor

te-a

mer

ican

o, m

ostr

a em

seu

art

igo

"A t

rans

ição

par

a a

hum

anid

ade"6 c

omo

a pa

leon

tolo

gia

hum

ana

dem

onst

rou

que

o co

rpo

hum

ano

form

ou-s

e ao

s po

ucos

. O

Aus

tral

opite

co A

fric

ano

(cuj

as

data

ções

rec

ente

s re

aliz

adas

na

Tanz

ânia

atr

ibue

m-l

he u

ma

antig

üida

de m

uito

mai

or q

ue 2

milh

ões

de a

nos)

, em

bora

do

tado

de

um c

éreb

ro 1

/3 m

enor

que

o n

osso

e u

ma

esta

tura

o su

peri

or a

1,2

0m,

já m

anuf

atur

ava

obje

tos

e ca

çava

pe

quen

os a

nim

ais.

Dev

ido

à di

men

são

de s

eu c

éreb

ro p

are-

ce, e

ntre

tant

o, i

mpr

ováv

el q

ue p

ossu

ísse

um

a lin

guag

em, n

a m

oder

na a

cepç

ão d

a pa

lavr

a.

O

Aus

tral

opite

co p

arec

e se

r, po

rtan

to,

uma

espé

cie

de

hom

em q

ue e

vide

ntem

ente

era

cap

az d

e ad

quiri

r al

guns

el

emen

tos

da c

ultu

ra —

fab

rica

ção

de i

nstr

umen

tos

sim

ples

, caç

a es

porá

dica

, e ta

lvez

um

sis

tem

a de

com

u-ni

caçã

o m

ais

avan

çado

do

qu

e o

dos

mac

acos

co

ntem

porâ

neos

, em

bora

mai

s at

rasa

do d

o qu

e a

fala

hu

man

a —

, po

rém

inc

apaz

de

adqu

irir

out

ros,

o q

ue

lanç

a ce

rta

dúvi

da s

obre

a te

oria

do

pont

o cr

ítico

.7

O f

ato

de q

ue o

cér

ebro

do

Aus

tral

opite

co m

edia

1/3

do

noss

o le

va G

eertz

a c

oncl

uir

que

"log

icam

ente

a m

aior

par

te

do c

resc

imen

to c

ortic

al h

uman

o fo

i po

ster

ior

e nã

o an

teri

or

ao i

níci

o da

cul

tura

". A

ssim

, con

tinua

: "O

fat

o de

ser

err

ô-ne

a a

teor

ia d

o po

nto

críti

co (

pois

o d

esen

volv

imen

to c

ultu

-ra

l já

se v

inha

pro

cess

ando

bem

ant

es d

e ce

ssar

o d

esen

vol-

vim

ento

org

ânic

o) é

de

impo

rtân

cia

fund

amen

tal

para

o

noss

o po

nto

de v

ista

sob

re a

nat

urez

a do

hom

em q

ue s

e to

rna,

as

sim

, nã

o ap

enas

o

prod

utor

da

cu

ltura

, m

as

tam

bém

, nu

m s

entid

o es

peci

fica

men

te b

ioló

gico

, o p

rodu

to

da c

ultu

ra."

A c

ultu

ra d

esen

volv

eu-s

e, p

ois,

sim

ulta

neam

ente

com

o

próp

rio

equi

pam

ento

bio

lógi

co e

é,

por

isso

mes

mo,

com

-pr

eend

ida

com

o um

a da

s ca

ract

erís

ticas

da

espé

cie,

ao

lado

do

bip

edis

mo

e de

um

ade

quad

o vo

lum

e ce

rebr

al.

6. T

EOR

IAS

MO

DER

NA

S SO

BR

E C

ULT

UR

A

Vim

os,

no i

níci

o de

ste

trab

alho

, qu

e um

a da

s ta

refa

s da

an

trop

olog

ia m

oder

na t

em s

ido

a re

cons

truç

ão d

o co

ncei

to

de c

ultu

ra, f

ragm

enta

do p

or n

umer

osas

refo

rmul

açõe

s. N

este

ca

pítu

lo p

rocu

rare

mos

sin

tetiz

ar o

s pr

inci

pais

esf

orço

s pa

ra

a ob

tenç

ão d

este

obj

etiv

o. A

nos

sa m

issã

o se

rá fa

cilit

ada

com

a

utili

zaçã

o do

esq

uem

a el

abor

ado

pelo

ant

ropó

logo

Rog

er

Kee

sing

em

se

u ar

tigo

"The

orie

s of

C

ultu

re"1

, no

qu

al

clas

sifi

ca a

s te

ntat

ivas

mod

erna

s de

obt

er u

ma

prec

isão

co

ncei

tual

. K

eesi

ng r

efer

e-se

, in

icia

lmen

te,

às t

eori

as q

ue c

onsi

de-

ram

a c

ultu

ra c

omo

um s

iste

ma

adap

tativ

o. D

ifun

dida

por

ne

o-ev

oluc

ioni

stas

com

o Le

slie

Whi

te,

esta

pos

ição

foi

re-

form

ulad

a cr

iativ

amen

te

por

Sahl

ins,

H

arri

s,

Car

neir

o,

Rap

papo

rt,

Vay

da

e ou

tros

qu

e,

apes

ar

das

fort

es

dive

rgên

cias

que

apr

esen

tam

ent

re s

i, co

ncor

dam

que

:

1. "

Cul

tura

s sã

o si

stem

as (

de p

adrõ

es d

e co

mpo

rtam

ento

so

cial

men

te t

rans

miti

dos)

que

ser

vem

par

a ad

apta

r as

co

mun

idad

es

hum

anas

ao

s se

us

emba

sam

ento

s bi

o-ló

gico

s. E

sse

mod

o de

vid

a da

s co

mun

idad

es i

nclu

i te

cnol

ogia

s e

mod

os d

e or

gani

zaçã

o ec

onôm

ica,

pad

rões

de

es

tabe

leci

men

to,

de

agru

pam

ento

so

cial

e

or-

gani

zaçã

o po

lític

a, c

renç

as e

prá

ticas

rel

igio

sas,

e a

ssim

po

r dia

nte.

"

2. "

Mud

ança

cul

tura

l é

prim

aria

men

te u

m p

roce

sso

de

adap

taçã

o eq

uiva

lent

e à

sele

ção

natu

ral."

("O

hom

em é

um

ani

mal

e,

com

o to

dos

anim

ais,

dev

e m

ante

r um

a re

laçã

o ad

apta

tiva

com

o m

eio

circ

unda

nte

para

sob

re-

vive

r. Em

bora

ele

con

siga

est

a ad

apta

ção

atra

vés

da

cultu

ra,

o pr

oces

so ê

dir

igid

o pe

las

mes

mas

reg

ras

de

sele

ção

natu

ral

que

gove

rnam

a a

dapt

ação

bio

lógi

ca."

B.

Meg

gers

, 197

7)

3. "

A

tecn

olog

ia,

a ec

onom

ia

de

subs

istê

ncia

e

os

elem

ento

s da

org

aniz

ação

soc

ial

dire

tam

ente

lig

ada

à pr

oduç

ão

cons

titue

m

o do

mín

io

mai

s ad

apta

tivo

da

cultu

ra.

É ne

ste

dom

ínio

que

usu

alm

ente

com

eçam

as

mud

ança

s ad

apta

tivas

qu

e de

pois

se

ra

mif

icam

. Ex

iste

m, e

ntre

tant

o, d

iver

gênc

ias

sobr

e co

mo

oper

a es

te

proc

esso

. Es

tas

dive

rgên

cias

pod

em s

er n

otad

as n

as

posi

ções

do

mat

eria

lism

o cu

ltura

l, de

senv

olvi

do p

or

Mar

vin

Har

ris,

na d

ialé

tica

soci

al d

os m

arxi

stas

, no

ev

oluc

ioni

smo

cultu

ral

de E

lman

Ser

vice

e e

ntre

os

ecol

ogis

tas

cultu

rais

, com

o St

ewar

d."

4. "

Os

com

pone

ntes

ide

ológ

icos

dos

sis

tem

as c

ultu

rais

po

dem

ter

con

seqü

ênci

as a

dapt

ativ

as n

o co

ntro

le d

a po

pula

ção,

da

subs

istê

ncia

, da

man

uten

ção

do e

coss

is-

tem

a et

c."

Em

seg

undo

lug

ar,

Rog

er K

eesi

ng r

efer

e-se

às

teor

ias

idea

lista

s de

cul

tura

, qu

e su

bdiv

ide

em t

rês

dife

rent

es a

bor-

dage

ns.

A p

rim

eira

del

as é

a d

os q

ue c

onsi

dera

m c

ultu

ra

com

o si

stem

a co

gniti

vo,

prod

uto

dos

cham

ados

"n

ovos

et

nógr

afos

".

Esta

ab

orda

gem

an

trop

ológ

ica

tem

se

di

stin

guid

o pe

lo e

stud

o do

s si

stem

as d

e cl

assi

fica

ção

de

folk

,2 is

to

é,

a an

alis

e do

s m

odel

os

cons

truí

dos

pelo

s m

embr

os d

a co

mun

idad

e

a re

spei

to

de

seu

próp

rio

univ

erso

. A

ssim

, pa

ra

W.

Goo

deno

ugh,

cul

tura

é u

m s

iste

ma

de c

onhe

cim

ento

: "c

on-

sist

e em

tu

do

aqui

lo

que

algu

ém

tem

de

co

nhec

er

ou

acre

dita

r pa

ra o

pera

r de

man

eira

ace

itáve

l de

ntro

de

sua

soci

edad

e."

Kee

sing

co

men

ta

que

se

cultu

ra

for

assi

m

conc

ebid

a el

a fi

ca s

ituad

a ep

iste

mol

ogic

amen

te n

o m

esm

o do

mín

io d

a lin

guag

em,

com

o um

eve

nto

obse

rváv

el.

Daí

o

fato

de

que

a an

trop

olog

ia

cogn

itiva

(a

pr

atic

ada

pelo

s "n

ovos

et

nógr

afos

")

tem

se

ap

ropr

iado

do

s m

étod

os

lingü

ístic

os, c

omo

por e

xem

plo

a an

ális

e co

mpo

nenc

ial.

A s

egun

da a

bord

agem

é a

quel

a qu

e co

nsid

era

cultu

ra

com

o si

stem

as

estr

utur

ais,

ou

se

ja,

a pe

rspe

ctiv

a de

senv

olvi

da p

or C

laud

e Lé

vi-S

trau

ss,

"que

def

ine

cultu

ra

com

o um

sis

tem

a si

mbó

lico

que

é um

a cr

iaçã

o ac

umul

ativ

a da

men

te h

uman

a. O

seu

trab

alho

tem

sid

o o

de d

esco

brir

na

estr

utur

ação

dos

dom

ínio

s cu

ltura

is —

mito

, art

e, p

aren

tesc

o e

lingu

agem

— o

s pr

incí

pios

da

men

te q

ue g

eram

ess

as

elab

oraç

ões

cultu

rais

."

Kee

sing

é m

uito

suc

into

na

anál

ise

dest

a ab

orda

gem

, que

em

um

dad

o m

omen

to t

eve

uma

gran

de a

ceita

ção

no m

eio

acad

êmic

o br

asile

iro.

Lév

i-St

raus

s, a

seu

mod

o, f

or-m

ula

uma

nova

teor

ia d

a un

idad

e ps

íqui

ca d

a hu

man

idad

e. A

ssim

, os

par

alel

ism

os c

ultu

rais

são

por

ele

exp

licad

os p

elo

fato

de

que

o pe

nsam

ento

hu

man

o es

subm

etid

o a

regr

as

inco

nsci

ente

s, o

u se

ja,

um c

onju

nto

de p

rinc

ípio

s —

tai

s co

mo

a ló

gica

de

cont

rast

es b

inár

ios,

de

rela

ções

e tr

ansf

or-

maç

ões

— q

ue c

ontro

lam

as

man

ifest

açõe

s em

píric

as d

e um

da

do g

rupo

. A

últi

ma

das

três

abor

dage

ns, e

ntre

as

teor

ias

idea

lista

s, é

a

que

cons

ider

a cu

ltura

co

mo

sist

emas

si

mbó

licos

. Es

ta

posi

ção

foi d

esen

volv

ida

nos

Esta

dos

Uni

dos

prin

cipa

lmen

te

mem

bros

do

sist

ema

cultu

ral)

ent

re e

les,

mas

não

den

tro

dele

s. S

ão p

úblic

os e

não

pri

vado

s. C

ada

um d

e nó

s sa

be o

qu

e fa

zer

em d

eter

min

adas

situ

açõe

s, m

as n

em t

odos

sab

em

prev

er o

que

far

iam

nes

sas

situ

açõe

s. E

stud

ar a

cul

tura

é

port

anto

est

udar

um

cód

igo

de s

ímbo

los

part

ilhad

os p

elos

m

embr

os d

essa

cul

tura

. A

ssim

pro

cede

ndo,

Gee

rtz

cons

ider

a qu

e a

antr

opol

ogia

bu

sca

inte

rpre

taçõ

es.

Com

ist

o, e

le a

band

ona

o ot

imis

mo

de

Goo

deno

ugh

que

pret

ende

cap

tar

o có

digo

cul

tura

l em

um

a gr

amát

ica;

ou

a pr

eten

são

de L

évi-S

traus

s em

des

codi

ficá-

lo.

A i

nter

pret

ação

de

um t

exto

cul

tura

l se

rá s

empr

e um

a ta

refa

di

fíci

l e v

agar

osa.

D

avid

Sch

neid

er t

em u

ma

abor

dage

m d

istin

ta,

embo

ra

em m

uito

s po

ntos

sem

elha

nte

à de

Gee

rtz.

O p

onto

de

vist

a de

Sch

neid

er s

obre

cul

tura

est

á cl

aram

ente

exp

ress

o em

sua

in

trod

ução

do

seu

livro

Am

eric

an K

insh

ip:

A C

ultu

ral

Ac-

coun

t3 : "C

ultu

ra é

um

sis

tem

a de

sím

bolo

s e

sign

ific

ados

. C

ompr

eend

e ca

tego

rias

ou

unid

ades

e r

egra

s so

bre

rela

ções

e

mod

os

de

com

port

amen

to.

O

stat

us

epis

tem

ológ

ico

das

unid

ades

ou

`coi

sas'

cultu

rais

não

dep

ende

da

sua

obse

rva-

bilid

ade:

m

esm

o fa

ntas

mas

e

pess

oas

mor

tas

pode

m

ser

cate

gori

as c

ultu

rais

."

Nes

te p

onto

, o

leito

r já

dev

erá

ter

com

pree

ndid

o qu

e a

disc

ussã

o nã

o te

rmin

ou —

con

tinua

ain

da —

, e

prov

avel

-m

ente

nun

ca t

erm

inar

á, p

ois

uma

com

pree

nsão

exa

ta d

o co

ncei

to

de

cultu

ra

sign

ific

a a

com

pree

nsão

da

pr

ópri

a na

ture

za h

uman

a, t

ema

pere

ne d

a in

cans

ável

ref

lexã

o hu

-m

ana.

Ass

im,

no f

inal

des

ta p

rim

eira

par

te,

só n

os r

esta

af

irm

ar m

inei

ram

ente

com

o M

urdo

ck (

1932

): "

Os

antr

opó-

logo

s sa

bem

de

fato

o q

ue é

cul

tura

, m

as d

iver

gem

na

man

eira

de

exte

rior

izar

est

e co

nhec

imen

to."4

por

dois

ant

ropó

logo

s: o

conh

ecid

o C

liffo

rd G

eert

z e

Dav

id S

chne

ider

. O

prim

eiro

del

es b

usca

um

a de

finiç

ão d

e ho

mem

bas

ea-

da n

a de

fini

ção

de c

ultu

ra.

Para

ist

o, r

efut

a a

idéi

a de

um

a fo

rma

idea

l de

hom

em,

deco

rren

te d

o ilu

min

ism

o e

da

antr

opol

ogia

clá

ssic

a, p

erto

(Ia

qua

l as

dem

ais

eram

dis

tor-

ções

ou

apro

xim

açõe

s, e

ten

ta r

esol

ver

o pa

rado

xo (

cita

do

no i

níci

o de

ste

livro

) de

um

a im

ensa

var

ieda

de c

ultu

ral

que

cont

rast

a co

m a

uni

dade

da

espé

cie

hum

ana.

Par

a is

to,

a cu

ltura

dev

e se

r co

nsid

erad

a "n

ão u

m c

ompl

exo

de c

ompo

r-ta

men

tos

conc

reto

s m

as u

m c

onju

nto

de m

ecan

ism

os d

e co

ntro

le, p

lano

s, re

ceita

s, r

egra

s, in

stru

ções

(qu

e os

técn

icos

de

co

mpu

tado

res

cham

am

prog

ram

a)

para

go

vern

ar

o co

mpo

rtam

ento

" . A

ssim

, pa

ra G

eert

z, t

odos

os

hom

ens

são

gene

ticam

ente

apt

os p

ara

rece

ber

um p

rogr

ama,

e e

ste

pro-

gram

a é

o qu

e ch

amam

os d

e cu

ltura

. E

esta

for

mul

ação

que

cons

ider

amos

um

a no

va m

anei

ra d

e en

cara

r a

unid

ade

da e

spéc

ie —

per

miti

u a

Gee

rtz

afir

mar

que

"um

dos

mai

s si

gnif

icat

ivos

fat

os s

obre

nós

pod

e se

r fi

nalm

ente

a c

onst

a-ta

ção

de q

ue t

odos

nas

cem

os c

om u

m e

quip

amen

to p

ara

vive

r m

il vi

das,

mas

ter

min

amos

no

fim

ten

do v

ivid

o um

a só

!" E

m o

utra

s pa

lavr

as, a

cri

ança

est

á ap

ta a

o na

scer

a s

er

soci

aliz

ada

em q

ualq

uer

cultu

ra e

xist

ente

. Est

a am

plitu

de d

e po

ssib

ilida

des,

ent

reta

nto,

ser

á lim

itada

pel

o co

ntex

to r

eal e

es

pecí

fico

ond

e de

fato

ela

cre

scer

. V

olta

ndo

a K

eesi

ng,

este

nos

mos

tra

que

Gee

rtz

cons

i-de

ra a

abo

rdag

em d

os n

ovos

etn

ógra

fos

com

o um

for

mal

is-

mo

redu

cion

ista

e e

spúr

io,

porq

ue a

ceita

r si

mpl

esm

ente

os

mod

elos

con

scie

ntes

de

uma

com

unid

ade

é ad

miti

r qu

e os

si

gnifi

cado

s es

tão

na c

abeç

a tia

s pe

ssoa

s. E

, pa

ra G

eertz

, os

mbo

los

e si

gnif

icad

os s

ão p

artil

hado

s pe

los

ator

es (o

s

Segu

nda

part

e

CO

MO

OPE

RA

A C

ULT

UR

A