Ao Correr Do Teclado_ O Boca Maldita

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27/06/2016 Ao correr do teclado: O Boca maldita. http://robertomenezes.blogspot.com.br/2010/05/obocamaldita.html 1/5 O tempora! O mores! Ubinam gentium sumus? In qua urbi vivimus? Quam republicam habemus? (Cicero) Ao correr do teclado Roberto Rodrigues de Menezes QUARTAFEIRA, 26 DE MAIO DE 2010 O Boca maldita. Gregório de Matos, um dos expoentes da literatura brasileira barroca do século XVII, foi uma figura controvertida em sua vida, como também nos seus versos. De família abastada, nasceu no ano de 1636 em Salvador, na Bahia, tendo na juventude ido para Portugal, formandose em Cânones na Universidade de Coimbra. Voltando a Salvador, ocupou cargos na magistratura e no serviço público da Coroa portuguesa mas, de vida desregrada e de gênio difícil, não se mantinha neles. Entrando em desgraça com os poderosos do vicereinado, foi degredado para Angola, voltando um anos depois para Recife, Pernambuco, onde morreu próximo dos sessenta anos. *************** De poesia satírica e mesmo erótica, o que lhe rendeu inúmeros desafetos, ao fim da vida seus versos se transformaram em lirismo e arrependimento. Voltouse para Deus, pedindo perdão pela vida nada correta que levara. **************** Seus versos estão dispostos em diversas Antologias poéticas. Vejamos alguns excertos: A um certo frade que galanteava repetidamente uma moça, o que causava muito desconforto, mandou ela uma panela com excrementos. O poeta a defendeu: Se vos mandara primeiro o mijo num panelão, não ficáreis vós então, mui longe do mijadeiro. Mas a frade malhadeiro que não sente a sua perda, Início PÁGINAS 2016 (33) 2015 (34) 2014 (46) 2013 (134) 2012 (93) 2011 (139) 2010 (108) Dezembro (17) Novembro (11) Outubro (7) Setembro (9) Agosto (8) Julho (15) Junho (15) Maio (20) Igrejas e localidades da Grande Florianópolis. A sombra de Moscou sobre a Espanha. Pílulas X Millor e os militares. As proezas de João Grilo e Zé Pitada. Marcelino Pão e Vinho. O Boca maldita. A voz do século que passou. Poemas divertidos. O Apocalipse. Coronel Edmundo expoente das letras. A EsFO Escola de Formação de Oficiais. Uma biografia de fé. Eclesiástico. As origens da Língua Portuguesa Parte II O livro Provérbios. Cantiga da Ribeirinha. A FORMIGA E O GAFANHOTO. O terror teatralizado em 1969. As origens da Língua Portuguesa. Roberto Campos. ARQUIVO DO BLOG 0 mais Próximo blog» Criar um blog Login

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Poesia maldita

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O tempora! O mores! Ubinam gentium sumus? In qua urbi vivimus? Quam republicam habemus? (Cicero)

Ao correr do teclado

Roberto Rodrigues de Menezes 

QUARTAFEIRA, 26 DE MAIO DE 2010

O Boca maldita.

Gregório de Matos, um dos expoentes da literatura brasileira barroca do século XVII, foiuma  figura  controvertida  em  sua  vida,  como  também  nos  seus  versos.  De  famíliaabastada, nasceu no ano de 1636 em Salvador, na Bahia,  tendo na  juventude  ido paraPortugal,  formandose em Cânones na Universidade de Coimbra. Voltando a Salvador,ocupou cargos na magistratura e no serviço público da Coroa portuguesa mas, de vidadesregrada  e  de  gênio  difícil,  não  se  mantinha  neles.  Entrando  em  desgraça  com  ospoderosos  do  vicereinado,  foi  degredado  para  Angola,  voltando  um  anos  depois  paraRecife, Pernambuco, onde morreu próximo dos sessenta anos.

***************

De poesia satírica e mesmo erótica, o que lhe rendeu inúmeros desafetos, ao fim da vidaseus versos se transformaram em lirismo e arrependimento. Voltouse para Deus, pedindoperdão pela vida nada correta que levara.

****************

Seus versos estão dispostos em diversas Antologias poéticas. Vejamos alguns excertos:

  A  um  certo  frade  que  galanteava  repetidamente  uma  moça,  o  que  causava  muitodesconforto, mandou ela uma panela com excrementos. O poeta a defendeu:

Se vos mandara primeiroo mijo num panelão,não ficáreis vós então,mui longe do mijadeiro.Mas a frade malhadeiroque não sente a sua perda,

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►  Junho (15)

▼  Maio (20)Igrejas e localidades da GrandeFlorianópolis.

A sombra de Moscou sobre aEspanha.

Pílulas X  Millor e os militares.

As proezas de João Grilo e ZéPitada.

Marcelino Pão e Vinho.

O Boca maldita.

A voz do século que passou.

Poemas divertidos.

O Apocalipse.

Coronel Edmundo  expoente dasletras.

A EsFO  Escola de Formação deOficiais.

Uma biografia de fé.

Eclesiástico.

As origens da Língua Portuguesa Parte II

O livro Provérbios.

Cantiga da Ribeirinha.

A FORMIGA E O GAFANHOTO.

O terror teatralizado em 1969.

As origens da Língua Portuguesa.

Roberto Campos.

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seu descrédito ou desar,que havia a Moça mandar,senão merda com mais merda?(desar: desgraça)

***************SE os cagalhões são duros,tão gordos, tão bem dispostos,é porque hoje são postose ainda estão mal maduros.Repartamse nos monturos,nas enxurradas dos tais,é de crer que abrandem mais,porque a Moça cristamentenão quer que quebreis um dente,mas deseja que os comais.

***************Uma senhora tinha o hábito da flatulência.O poeta fez dela a sua musa:Cota, o vosso arcabuzparece ser encantado,pois sempre está carregadodisparando tantos truz.Ela, jamais sem pararfaz tão grande bateria,que de noite nem de diapode tal c. descansar.

***************Gregório  fez  corte  insistente  a  uma moça.  Ela  cedeu,  enfim,  mas  com  a  condição  deprimeiro se lavar e ele também. Gregório não deixou por menos:A que se esfrega amiúdo,se há de amiúdo lavar,porque lavar e esfregarquase a um tempo se faz tudo.Se vós, por modo sisudo,o quereis sempre lavado,passai e tomai cuidadode lavar o vosso cujo.Por meu esfregão ser sujojá me dou por agravado.

As damas que mais lavadascostumam trazer as peçase disso se prezam, essassão as damas mais deslavadas.Porque vivendo aplicadasa lavar e mais lavarse,deviam desenganarsede que não se lavam bem,porque mal se lava quemse lava para sujarse.Lavar para me sujar,isso é sujar em verdade.Lavar para a sujidade,fora melhor não lavar.De que serve, pois andar,lavando sem que me deis?Lavaivos quando o sujeis,e porque vos fique o ensaio,depois de meter lavaio,mas antes não o laveis.

***************

Gregório  desejava  muito  uma  certa  dama  de  Salvador.  Ela,  esperta,  acenoulhe  comalguma possibilidade, desde que o poeta lhe presenteasse com um craveiro, uma plantarara com haste ereta e uma flor vermelha na ponta. O poeta aproveitou:

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O craveiro que quereis,não volo mando, senhora,só porque não tem agorao vaso que mereceis.Por que se vós o quereis,quando por vós eu me abraso,digo em semelhante caso,sem ser nisso interesseiro,que vos darei o craveiro,depois que me der o vaso.

***************A uma dama que tinha uma corcunda:Laura minha, o vosso amante,não sabe, por mais que faz,quando ides para trásnem quando para diante.

***************A uma mulher que cheirava mal:Afirmo que a vossa quilha,em chegando a dar a bomba,se muito vos fede a tromba,muito vos fede a cavilha.A mim não me maravilhaque exaleis esses vapores,porque se os cheiros melhores,caçoula formam conjuntos,de muitos fedores juntosnasce o fedor dos fedores.(caçoula: vaso com plantas odoríferas).

***************Ao sair de Coimbra escreveu:Adeus, Coimbra inimiga,dos mais honrados madrasta,que me vou para outras terrasonde viva mais à larga.Adeus, prolixas escolas,com reitor, meirinho e guarda,lentes, bedéis, secretários,que tudo somado é nada.

***************Lamentava a sua situação já no Brasil:Era eu em Portugalsábio, discreto, entendido.Poeta melhor que alguns,douto como os meus vizinhos.Queremme aqui todos mal,mas eu quero mal a todos.Eles e eu, por vários modos,nos pagamos tal por qual.

***************Sua pena era pessimista:Todos somos ruins, todos perversos.Só nos distingue o vício e a virtudede que uns são comensais, outros adversos.

**************Passou  a  vida  semeando maledicência  e  colhendo  tempestades.  E  se  reconhecia  comtalento para a sátira:Noutras obras de talentosó eu sou o asneirão,mas sendo sátira, então,só eu tenho entendimento.

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Postado por RRM às quartafeira, maio 26, 2010 

Sua moral era bem eclética:Oh, não aguardes que a madura idadete converta essa flor, essa beleza,em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada!

***************Assim retratou o governador da Bahia, que tinha um nariz um tanto grande:Nariz de embonocom tal sacada,que entra na escadaduas horas primeiro que seu dono.

***************Numa  lide  jurídica,  Gregório  defendeu  um  homem  que  tratara  por  Vós  um  juiz  meiosimplório. Como se chamava assim a El Rei, o juiz tomou o dito por um insulto e queriaprendêlo. Gregório defendeu o homem desse modo:Se a Deus se trata Tue se chama El Rei de Vós,como chamaremos nósao juiz de Iguaraçu?Tu e vós e vós e tu...

***************Irreverente  ao  extremo,  chamou  a Sé  da Bahia  de  "presepe  de  bestas",  ofendendo  osclérigos.  Fez  numa  roda  uma  observação  maliciosa  a  respeito  do  Vicerei  AfonsoMendonça Furtado: "Nunca vi um Mendonça que não tenha Furtado".

**************Ao fim de sua vida se arrependeu e procurou Deus:Meus Deus, que estais presente num madeiro.Em cuja fé protesto de viver.Em cuja santa lei hei de morrer,amoroso, constante, firme, inteiro.***************Neste transe, por ser o derradeiro,pois vejo a minha vida anoitecer,é, meu Jesus, a hora de se vera brandura de um pai, manso Cordeiro.***************Mui grande é o vosso amor e o meu delito.Porém, pode ter fim todo pecar,mas não o vosso amor, que é infinito.***************Essa razão me obriga a confiar,que por mais que pequei, nesse conflito,espero em vosso amor de me salvar.

***************Bibliografia: Curso de Literatura Brasileira  Ébion de LimaEditora Coleção F.T.D Ltda. Gregório de Matos  Antologia  L&PM Pocket.

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