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ANÁLISE DA COMPACTAÇÃO DO SOLO EM DIFERENTES SISTEMAS DE MANEJO NO ECÓTONO CERRADO-FLORESTA AMAZÔNICA MARANHENSE ANÁLISIS DE LA COMPACTACIÓN DEL SUELO EN DIFERENTES SISTEMAS DE GESTIÓN EN EL BOSQUE AMAZÓNICO DE MARANHENSE ANALYSIS OF SOIL COMPACTION IN DIFFERENT MANAGEMENT SYSTEMS IN THE MARANHENSE AMAZON FOREST Apresentação: Pôster Diego Freire Almeida; Cristiane Matos da Silva; Wilson Araujo da Silva Introdução O solo é um meio poroso constituídos por espaços que permitem o movimento de água e gases, além de ambiente favorável ao crescimento das raízes (IMHOFF, 2000). Já a qualidade do solo é conceituada como “os atributos inerentes ao solo”, os quais são inferidos de características ou observações indiretas, como compatibilidade, erodibilidade e fertilidade do solo (CURI et al., 1993). A utilização de práticas não sustentáveis resultantes da implantação de sistemas agrícolas tem acarretado alterações nas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo e, consequentemente, redução na capacidade dinâmica e vital deste recurso, diminuindo a sua qualidade e, muitas vezes, dificultando a sua recuperação (CUNHA et al., 2008). Nessa narrativa, Maranhão é um exemplo de estado que nas últimas décadas sofreu mudanças drásticas, como consequência da sua incorporação ao processo produtivo. Tais mudanças têm causado impactos negativos do ponto de vista ambiental, em função da substituição de vegetações nativas pelo estabelecimento de cultivos agrícolas e pastagem (FREIRE et al., 2015). Partindo dessa premissa, o objetivo desse trabalho é comparar o comportamento do uso do solo nos atributos físicos do solo em diferentes tipos de sistemas de produção em relação a uma floresta como referência de solo ideal. Fundamentação Teórica O solo é um “organismo vivo” e natural que é condicionado por diversos fatores. Este elemento físico é variável quanto à sua formação e constituição, assegurando à vegetação uma base sólida e resistente que permita a circulação de ar, água e estimule a penetração das raízes (COSTA, 1985). A qualidade do solo não pode ser mensurada diretamente, mas pode

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ANÁLISE DA COMPACTAÇÃO DO SOLO EM DIFERENTES SISTEMAS DEMANEJO NO ECÓTONO CERRADO-FLORESTA AMAZÔNICA MARANHENSE

ANÁLISIS DE LA COMPACTACIÓN DEL SUELO EN DIFERENTES SISTEMAS DEGESTIÓN EN EL BOSQUE AMAZÓNICO DE MARANHENSE

ANALYSIS OF SOIL COMPACTION IN DIFFERENT MANAGEMENT SYSTEMSIN THE MARANHENSE AMAZON FOREST

Apresentação: Pôster

Diego Freire Almeida; Cristiane Matos da Silva; Wilson Araujo da Silva

Introdução

O solo é um meio poroso constituídos por espaços que permitem o movimento de

água e gases, além de ambiente favorável ao crescimento das raízes (IMHOFF, 2000). Já a

qualidade do solo é conceituada como “os atributos inerentes ao solo”, os quais são inferidos

de características ou observações indiretas, como compatibilidade, erodibilidade e fertilidade

do solo (CURI et al., 1993).

A utilização de práticas não sustentáveis resultantes da implantação de sistemas

agrícolas tem acarretado alterações nas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo e,

consequentemente, redução na capacidade dinâmica e vital deste recurso, diminuindo a sua

qualidade e, muitas vezes, dificultando a sua recuperação (CUNHA et al., 2008).

Nessa narrativa, Maranhão é um exemplo de estado que nas últimas décadas sofreu

mudanças drásticas, como consequência da sua incorporação ao processo produtivo. Tais

mudanças têm causado impactos negativos do ponto de vista ambiental, em função da

substituição de vegetações nativas pelo estabelecimento de cultivos agrícolas e pastagem

(FREIRE et al., 2015). Partindo dessa premissa, o objetivo desse trabalho é comparar o

comportamento do uso do solo nos atributos físicos do solo em diferentes tipos de sistemas de

produção em relação a uma floresta como referência de solo ideal.

Fundamentação Teórica

O solo é um “organismo vivo” e natural que é condicionado por diversos fatores. Este

elemento físico é variável quanto à sua formação e constituição, assegurando à vegetação

uma base sólida e resistente que permita a circulação de ar, água e estimule a penetração das

raízes (COSTA, 1985). A qualidade do solo não pode ser mensurada diretamente, mas pode

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ser estimada a partir de indicadores de qualidade do solo (KARLEN e STOTT, 1994).

Nos últimos anos a preocupação com a qualidade do solo vem aumentando, na

medida em que o uso intensivo da terra tem acarretado diminuição de sua capacidade em

manter uma produção sustentável. Nesse contexto, as maiores mudanças de ambiente são

causadas pela degradação dos solos, podendo-se citar a erosão do solo como uma das maiores

ameaças relacionadas com a perda de solo fértil (PETAN et al., 2010).

Observa-se que, por meio de práticas agropecuárias inadequadas, uma vez ocorrida a

remoção da cobertura vegetal, inicialmente, provoca redução de processos de ciclagem de

nutrientes e aceleração da decomposição da matéria orgânica (ZALAMENA, 2008),

modificando características físicas do solo como a densidade, estrutura e a porosidade.

Um dos grandes problemas associados a essas práticas não conservacionistas é o

processo de compactação do solo, que pode alterar a estrutura do solo, aumentar a sua

densidade, diminuir a porosidade, reduzir a permeabilidade (ar e água) e alterar o padrão de

crescimento radicular (BATEY e MCKENZIE, 2006). A resistência do solo à penetração tem

sido frequentemente utilizada para avaliar sua compactação, por ser um atributo diretamente

relacionado ao crescimento das plantas e de fácil e rápida determinação (STOLF, 1991).

Metodologia

O estudo foi realizado na Fazenda Monalisa, que apresenta área de 153 alqueires, no

município de São Francisco do Brejão. A Fazenda localiza-se no Sudoeste do Estado do

Maranhão (05° 07' 22" S, 47° 23' 09" O), no ecótono Cerrado-Floresta Amazônica. O clima é

caracterizado como AW’, segundo classificação de Köppen, tropical quente e úmido, com

precipitações mal distribuídas, e duas estações: a da chuva, que vai de dezembro a abril, e a

da seca, que vai de maio a novembro. Quanto ao relevo, este é caracterizado como suave e

ondulado. O solo apresenta características de Argissolo Vermelho Amarelo.

O estudo consistiu em dois sistemas de produção e uma área adjacente com floresta

nativa, sendo um manejado sob o sistema silvipastoril e outra área de pastagem convencional

(Figura 01). A primeira área avaliada se encontra sob o sistema silvipastoril (SSP), formado

por meio da regeneração de espécies nativas e pastagem Braquiaria brizantha cv Marundu.

Anteriormente a área era manejada com pastagem em sistema convencional de monocultura.

Ao lado do sistema silvipastoril, encontra-se uma área com pastagem de braquiária,

monocultura, em estádio inicial de degradação (P). Um fragmento de floresta original

adjacente ao experimento foi utilizado como tratamento controle (F), como referencial dos

parâmetros edáficos antes de ser submetido às alterações antrópicas.

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Figura 01 - Mapa de localização – Fazenda Monalisa

Fonte: Autor (2019).

Para a resistência à penetração (índice de compactação) o equipamento utilizado foi

penetrômetro, que tem como princípio de funcionamento a penetração de uma haste com

ponteira com uma área de projeção no solo através do impacto de um êmbolo de massa

conhecida a uma altura constante (Figura 02). A cada impacto mede-se a penetração da haste

no solo (CARBONERA, 2007).

Figura 02 – Representação da coleta de dados com o penetrômetro no sistema silvipastoril.

Fonte: Autor (2019).

Foram feitas duas coletas de amostras, uma no período chuvoso e outra no período

seco em cada sistema para o índice de compactação. Os dados obtidos em cada área

experimental (SSP, P e F) foram comparados entre os sistemas em cada período (chuvoso e

seco) por meio de gráficos.

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Resultados e Discussões

Os dois sistemas produtivos apresentaram resistência a penetração acima de 1MPa

(Megapascal), enquanto que na floresta essa resistência não chegou a 1MPa. Os principais

motivos para compactação são o pisoteio animal e o grande movimento de maquinários

agrícolas, as duas formas são encontradas na pastagem convencional estudada. Já a pastagem

com sistema silvipastoril pode se dizer que a entrada de maquinários agrícolas é quase

inexistente, porém o pisoteio animal ainda causa grandes índices de compactação no local. A

floresta por não apresentar nem maquinário e nem animais se apresenta como um fator de

comparação pois nela o índice de compactação é baixíssimo.

Em primeiro momento, no período chuvoso, temos os gráficos a seguir:

Figura 03 – Gráfico representativo do índice de compactação no período chuvoso em 3-A a

pastagem associada ao sistema silvipastoril, 3-B a pastagem convencional e em 3-C a floresta.

Fonte: Autor (2019). Já no período seco há uma grande diferença quanto ao período chuvoso e entre os

tratamentos (Figura 04).

Figura 04 – Gráfico representativo do índice de compactação no período seco em 4-A a

pastagem associada ao sistema silvipastoril, 4-B a pastagem convencional e em 4-C a floresta.

Fonte: Autor (2019).

A B

A B

C

C

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De acordo com Ekwue e Stone (1997), a posição do ponto máximo da curva de

compactação é influenciada pelo teor de argila, matéria orgânica e areia. Em todas as

camadas a pastagem convencional apresentou resistência à penetração de até 3,58 MPa. Na

camada de 0,0 a 0,10 m, a pastagem associada ao sistema silvipastoril foi observada

resistência de 1,86 Mpa e na floresta foi de 0,42 para a mesma profundidade. Para a camada

de 0,10 a 0,20 m, a pastagem com SSP o observado foi de 1,86 Mpa e na floresta obteve

resistência de 0,56 MPa. Na camada de 0,20-0,30 m, a pastagem convencional e a pastagem

com SSP apresentaram valores de 3,58 Mpa, já a floresta apresentou valores máximos de 0,71

MPa. Nas camadas superiores a 0,30 m foi observado que na pastagem associada ao SSP a

resistência a penetração foi de no máximo 1,28 MPa, já a floresta apresentou valores de 0,82

MPa. Os dados aqui obtidos são comparáveis com Dias Junior e Estanislau (1999) e Suzuki

(2005) que apresentaram diferenças entre os sistemas de manejo, onde o sistema com práticas

agroecológicas ou conservacionistas se sobressaiu sobre o sistema de pastagem convencional.

As diferenças aqui encontradas de acordo com o período chuvoso ou seco, é uma

tendência esperada e também constatada por Araújo et al. (2004) e Genro Júnior et al. (2004),

que encontraram maiores valores de resistência a penetração quando os solos se encontravam

mais secos e decréscimo linear da RP com o incremento da umidade. Quando se compara os

resultados no período seco os índices de compactação aumentam drasticamente, o que pode

ser explicado tanto pela falta de chuva quanto pelo tipo e textura do solo, onde solos mais

argilosos apresentam maiores índices de compactação quando secos. Na época chuvosa, as

áreas de mata praticamente não apresentaram resistência à penetração, e na época da seca os

valores de RP sofreram ligeiro aumento (IAREMA et al., 2011).

Conclusões

Com base nos resultados obtidos através da pesquisa, pode-se afirmar que o sistema

silvipastoril melhora a qualidade física do solo, porém a floresta ainda se torna a frente

quanto referência as melhores condições quanto a compactação do solo. Torna-se interessante

a continuidade do monitoramento desta área experimental para acompanhar a evolução do

sistema silvipastoril e suas interações para com o solo atendendo assim demandas locais de

informação do uso da terra, bem como outros estudos paralelos quanto a outras variáveis que

existem no estudo do solo.

Referências

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BATEY, T.; MCKENZIE, D.C. Soil compaction: identification directly in the field. Soil Useand Management, v.22, n.2, p.123-131, 2006.

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