AlainBihr Da Grande Noite a Alternativa

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  • ISlJN 85-85934-26-3

    Copyright 1998 da traduo brasilei raBouempo Editorial

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    193551

    17

    ....... 273

    6769'83

    105123

    .............. .. 143163

    SUMRIO

    PARTE 11 - Os desafios atua is ..Captulo 4 .. A rupt ura do compromisso fordistaCapitu lo 5 - A frag me ntao do proletariadoCaptulo 6 - A transnac ionalizao do capital ....Captulo 7 - A crise ecolgica .Captu lo 8 - A crise da sociabilidadeCaptu lo 9 - A crise cul tu ral ......

    INTRODUO .

    PARTE I - A herana .. .Captulo 1 - O modelo social-democrata do

    movimento operrio.Captulo 2 - O compromisso fo rdista .Captulo 3 - A "massificao do proletariado"

    CONCLUSOAtualidade do p rojeto comunista .

    PARTE III .. As vias de renovao ..... . . 183Capitu lo 10 .. Os objetivos a perseguir. 185Captu lo 11 .. A estratgia a seguir ..... 215

    . Captu lo 12 - As organizaes a (re)construir. 229Captulo 13 - Rumo a um modelo neo-social-democrata

    do movimento operrio? 247

    COI. E Mundo do Trabalho

    CoordenaoRicardo Antunes

    Tradu oWanda Caldeira Brant

    Esta edio contou com apoio do Sindicatodos Meta lrgicos de Campinas e Regio .

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro podeser utilizada ou reproduzida sem a autorizao da editora.

    Revi soAlice Kobayasbi, Lucia Leal Ferreira e Priscla rsula dos Santos

    Fotoli tosPost Scrtpt

    Impresso e acabamentoBanira Grfica e Editora

    DiagramaoZAP Desgn

    1~ edio: agosto de 19981 reimpresso: fevereiro de 1999

    CapaIuana jinkings e Fl vio valoerae Garott

    (sobre reproduo de cartazes franceses publicados emPou r l'histoire de notre temps, ja nv.vsept. 1988.)

    JINKINGS EDITOH ES ASSOCIADOS LTDA .Rua Ministro Sinsio Roc ha, 785 - Perdi zes

    05030-000 . So Paulo - SPTclefax (01I) 3865 6947

    E-mai l: bo itempo@ ensino .net

    C1'1'-00133103-3

    IUNiDADE .. 1FC H IN .o CHAMASA.3.:~L.S.q CC! 'i. D (L?~.!.d... j

    v _ EX ..;c...&~~. Copyright 1991, by Alain lJihri~:_~~:: O BC! ~l-l~._ . Ttulo original

    I' . ...

  • INTRODUO

    Durante os mais ou menos qua-tro anos de tra ba lho q ue dediquei a es te es tudo , tive o p o r-

    tunidade de falar sobre ele co m um grande nme ro de pessoas,

    na maior pa rte das vezes e m res posta a qu estes a respei to doassunto atual de minhas preocupaes. E quando eu lhes respon-dia: "Estou prepa rando uma obra sobre a crise do movimentooperrio ", via na mai oria das vezes em sua Fisiono mia um ar ao

    mesmo tempo pensativo e irnico, marcado por um "ah !" dos

    mais express ivos. Os mais francos acres ce ntavam de uma maneirafalsame nte interrogativa: "Voc acha que isso ainda vale a pe na?"

    que tudo o que tange ao movimento operrio, sua situa-o atual O ll sua histria rece nte suscita , hoje , na melhor dashipteses, um desinteresse ed ucado , q uando no uma hos tili-

    dade declarada . Ocupa r-se do movi me nto o per rio faz vo c

    pa ssar, gera lmente , por um u t pico atra sado que, co nforme seutemperamento e se u grau de co nform ismo poltico , seu inter-

    locuto r inte rp reta r co mo ca rac tersuca de doce so nhad or quese prende nostalgicamente s a nt igas iluses, o u de per igoso

    adepto da "luta de classes ", pronto par a perturba r a quietude dapa z civil. De qua lquer man eira , co mo algum "ant iquado ", para

    co nsiderar um dos vocbu los preferid os da " ideo lo gia-soj?" , que

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  • se rve como base de pen sam ento pa ra um bom nmero de nos-sos con tempor neos .'

    Evid e ntemente , h forte s razes para lima sit uao comoessa. Na Frana, assim como em outros lugares no Ocidente, hun s quinze a nos (grosso modo, desde a abertura ofic ial da "cri-se"), vi vemos um a contra-revo luo "moder ada", qu e levou auma inverso completa da re lao de foras que prevalecia noincio dos anos 70 .

    Lemhrein-se ! Naquele momento, a ordem socia l desenvol-vida pelo model o oc identa l do capitali sm o se d ebatia n o scont ra a re volta d e uma parte d o prol e tari ado , co nsti tu d asob re tudo por jo vens e imigra ntes , q ue no es ta va m mais di s-posto s a "perder sua vida p ar a ga nh-Ia", mas tambm con traoutros movimentos socia is - ecol gicos, antinucleares , regio-nalistas, urbanos , femini stas -, qu e co ntes tavam o co njunto daorganiza o do modo de vida cap italista. Foi esse conjunto demovimentos que a crise econmica freou e definitivamenterompeu . Jamais se r suficienteme nte denunciado o papel d is-ciplinar dessa crise, com se us co le tivos de trabalho e de vidadispersos ao sab or das rees truturae s econmicas, co m seufluxo cr esc ente de desempregados , de trabalhadores perdendoa estab ilidad e , de "nov os pobres ", sobretudo com suas seqe-las psi copolticas: o medo do amanh , o isolamento, a exa-ce rbao da luta co ncorre ncial entre os indivduos, a int ensi-ficao dos processos de excluso que atingem certas catego-rias da popula o , a tentao de solues autoritrias , tudopara maior benefcio de nosso soberano, o cap ital.

    Sem dvida, essa co ntra-revoluo preventiva pde contarcom intermediaes e apoios aparentemente inesperados decertas foras sociais e polticas que haviam tido participao ativano s movimentos co ntestat ros anteriormente evocados. Almdisso, mostrei como o trabalho de normalizao da vida polti-ca e social fran cesa , por exemplo , encontrou zelosos agentes nospartidos de esq ue rda , particularmente entre 1981 e 1986 , mastambm de modo mais amplo na base sociolgica desses ltimos,a classe do staff administrativo capitalista .'

    I Cf. F.-B. HUYGHE e P. BAIW"ES, La Scft -tdot ogte, Paris, Laffont, 1987.1 Cf. La Force Tranquille, Paris, Spa nacus, 1986; sobre a natureza de classe do

    quadro ad min is trat ivo ca pi talis ta , c f. Ent re bou rgeoiste et prcltartcu.l'en cadrement capttattste. Pari s, L'Harmattan , 1989 .

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    No entanto , se ess a co ntra-revol uo triunfou com ta nta fa-cilida de, se as organizaes sindica is e polticas de esque rda pu -d e ram desempenhar to despreocu pad ame nte se u pa pe l defo ra suple tiva do ca p ita l, no de se es pe ra r, ainda co m maisrazo , que o movime nto o pe rrio se encontre hoje consi dera-velmente e nfraquecido, na Fran a e em todo o Ocidente? No de se espe rar qu e e le atravesse uma das crises mai s gra ves desua histria j secula r?

    Do mesmo modo, pos svel ad mitir sem rodeios : a situaoatual do movimento operrio ocidental n o brilhante . Tom e-mos uma viso panormica , pa ssando rapidamente em revistaseus principais ele mentos cons titutivos aos quais precisar emosvo ltar detalhad amente no co rpo da obra.

    Do ponto de vista do plano es tratgico, o movimento ope-rri o ocidental encontra -se, hoj e , nu . As estratgias re volu -cionrias (de tipo anarco-sindicalista ou de tipo leninista) , elabo-radas no final do sculo passado ou no incio deste , no resisti-ram p rova do compromisso fordis ta que se rviu de fu nda me n-to ao modelo de desenvolvime nto do ca pitalismo ocid en tal doperiodo ps-gu erra . Mas a estratgi a reformista (de inspiraosocial-democ rata) , adotad a pelo movimento ope rrio no cursod esse mesm o perodo dentro dos limite s desse co m promisso,tambm cad ucou co m a entrada em crise desse modelo de de-senvolvimento" E essa ausncia de qualquer es tratgia eficaz con-dena-o impotncia e provoca a debandada do "salve -se qu empuder" em suas prprias fileiras .

    Nessas condi es, no de se espantar qu e as o rgan iza- es (p o lticas , sindicais , associativas) do movimento o pe r-rio ex perimentem uma grave crise de representatividade, mar-ca d a pela diminuio de interesse por ela s: a queda dos efe-tivo s, a fraqueza d o mili tantismo, a incapacidade de mobili-zar os trabalhadores no cessaram de se agravar n o cursod esses ltimos anos .

    Mas esses fenmenos tambm podem se r explicados pelopapel de integrao do proletariado, desempenhado por essasorganizaes durante todo o periodo ps-guerra. Marcando p ro-fundamente su as formas de luta e d e o rganizao, es se papeltorna-as hoje incapazes de enfrentar os novos dados da situao.E foi ele tambm que delas alienou uma boa parte das camadasprol etrias (as menos favorecidas pelos "be ne fcios" do compro-misso fordis ta - operrios especializados, mulheres, jovens, imi-

    ~

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  • grantes - , a ntes mesmo das "vtimas da crise" -..:.-. desemprega-dos, instve is, "novos pob res") .

    Enfim, essa crise de re presentatividade das orga nizaes domovime nto o pe rrio depende de um ce rto nmero de trans for-maes mais ge rais qu e afe taram a sociedade em se u co nju ntoso b a influncia crescente das re laes sociais ca pitalistas : d isso-luo de identi dades coletivas , asce nso do individu alismo , perdage ne ralizada de direo, etc.

    De modo que, ausncia de qu alquer estratg ia e crise derepresentativid ade de suas orga nizaes, soma-se, e nfim, o de-clnio irre versvel de todas as referncias ideolgicas tradiciona isdo movimento o pe rrio. Assim, todos os modelos sociopolticosco m o s quais esse movimento se ide ntificou no curso de suahistria e ncontram-se ho je :

    seja esquecidos: o caso, basica mente, dos diferen tes mode-los de autonomia pro letria enca rnados pelo anarqu ismo, pelosindica lismo revolucionrio, pelo "comunismo de conse lhos"; se ja rejeitados: o caso espec fico do "socialismo de Esta-do " (ou "socialismo b urocrtico") que, aps ter constitud opor dcadas intei ras um verdadeiro co ntras te, inclusive nose io do mov imento operrio , ele mesm o reconhece sua fa-lncia histrica, precipitand o-se na via de um capitalismo moda ocidenta l; seja caducos: o caso do refo rmismo social-democrata cls-sico, condenado ao mesmo tempo por se u xito (que o fezmostrar com clareza o que defende: uma part e integrante doco ma ndo do capital sob re o proletariad o) e po r seu fracasso(sua inca pacidade de prever a crise atual, e em seguida de seopo r a ela) .Decididam ente , parece que, para continuar a ter interesse no

    movi me nto operrio ocidental na fase atua l d e sua hist ria, p reciso ter vocao para c~usas perdidas. E as reaes ir nicasda ma ior parte de meus interlocu tores tinham todas uma apa rn-cia ,de serem de bom senso ,

    Portan to , no se trata de nega r a s ituao d e crise q ue oco nju nto do movimento ope rrio ocidental at ravessa hoje . Mastampouco trata-se de ceder a esse pse udo-realismo q ue somen-te capitula diante da realidade.

    Pois essa no a p rimei ra crise global (nem provavelm entea ltima) que atravessa o movimento o per rio . No h mais

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    mot ivo , hoje , pa ra ca ir em um desespero rad ical em relao aose u futuro , como logo aps a derrota da Comuna de Par is oucomo e m pleno triunfo da co ntra-revo luo fascista na Eu ropa .Todas as vezes, a part ir de seus prprios escombros, o movimentoope rrio se reconstru iu sob novas formas, impondo um rspidodesmen tido a todos aq ueles que o haviam e nterrado prematura -me nte .

    Alm disso, co mo pode ria se r de outro mo do? Como imagi-nar que as es trut ura s ca pitalistas de o presso possam se manter,so b fo rmas todo o tempo renova das, se m q ue e las faam nasce r,en tre suas principais vtimas, o desejo de lhes ofe recer resistn -c ia e a vontade de acabar co m elas por meio da luta e da orga-nizao co letivas? Sem dvida, as formas e modalidades dessasl tima s s pode m se transfo rma r, para e nfre ntar as pr p riasco nd ies em mudana da luta de classes. Ao mesmo tempo , inevitvel que a histr ia do movimento ope rrio seja regularme n-te de co mposta em fases de crise, no curso da s quais o velho (asanti gas formas de luta , de organizao e de consci ncia) morreco nvulsivamente enqua nto o novo (as novas formas de luta , deo rganizao e de conscincia) s chegam a se co nsolida r commuito esforo . Mas, e mbo ra possam ser vividas todas as vezesco mo catstrofes , essas fases crticas no significam o fim do mo-vime nto o per rio , e sim, no m ximo, o fim de uma de suas for-mas his toricame nte determinadas .

    E a idia d iret riz desta obra qu e nos encontramos precisa-mente ho je em U !!13 dessas fases crticas, em que o movime ntooperrio es t e nc urralado pela s transfor maes do cap ita lismo(nas qua is, alm disso , ele ter participado intensamente) paramu da r comple tame nte de ca ra, de ma nei ra radica l. Ma is pre ci-sa me nte , eu me pr o ponho a mostrar qu e uma pgina de suahistria es t prestes a se r virada , aqu ela qu e co meou a se r es-c rita no ltimo tero do sculo XIX, com a fo rmao do qu echamarei se u mode lo social-d emocrata, do qual a social-demo -cracia no se ntido es trito e o leninismo constituram as duas prin-cipais variantes. esse mod elo qu e , hoje , entra defini tivam enteem crise, ao mesmo te mp o qu e assistimos ao na scim ento ainda ..tm ido, incerto, hesitante de uma nova forma do movimento dee ma ncipao do proletariado.

    A primeira parte , qu e intitularei "A herana", distingui r ostraos est ruturais desse mod elo hoje ago niza nte d o movi mentooperrio , suas va ria ntes hist ricas e geogrficas, enfim, as con-

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  • dies que torna ram possve l sua formao e que favorecera mseu xi to sobre seu modelo co ncorrente (o sindicalismo revo lu-cio nrio) . Em seguida, ana lisa r a transfo rmao no se io doco mpro misso fo rdista , que se rviu de estrutura e fundamento aodese nvo lvimento do capitalismo ps-guerra , mostrando qu e essecompro misso ter ao mesmo tempo assegu rado se u triunfo ,ap ogeu, ap erfei oamento e ainda favorecido seu declnio, esva-ziamento , e degenerao .

    Intitulada "Os desafios atuais", a seg unda parte visa r entoelu cidar sistema ticamente os prob lem as co m os quais o movi-me nto o pe rrio oc ide ntal hoje se co nfronta , indo dos ma is ime-diatos e mais circunscritos aos mais distantes e gera is. Isolaremosassim o conjunto de fatores de desestabilizao que provocam suacrise atual, e as disputas do perodo que ele precisa assumir im-perativamente se quiser renas cer enquanto for a socia l e a fortiorienquanto fora revolucionr ia .

    A ltima pa rte , que se int itula "As vias de renovao", ten-tar formular, co m base em anlises anter io res, proposies paratrabal ha r po r um renascimento , O ll mel ho r, pa ra uma refor-rnu lao da luta de emanci pao do proletariado , exa minandosempre a eme rgnc ia de elementos qu e prefiguram a ex ploraode vias pa ralelas. Essas proposies ab rangero todos os aspec-tos da luta de classes: se us objetivos distan tes assim co mo suasre ivind icaes imediatas, sua estratg ia e suas form as de luta , ostip os de o rganizao a que o prole tariado deve se dedi car, asnovas formas de sua co nsci ncia de classe , e tc. Co nstataremosento que, apesar da enorme crise qu e atravessa , o mov ime ntoo perrio oc idental dispe hoje de uma conside rvel expe rinciah ist rica e de um rico sabe r adqu irido , nos qua is e le pode seapo iar para resp on der aos desafios do pe rodo .

    Depo is dessa breve ap rese ntao, ainda cabe preci sar que,longe de co nsiderar a luta ~e classe do proletariado co mo umaantiguidade histrica, este estudo se baseia no pressup osto de queela co ntinuar a co ns titu ir o co mpone nte ce ntra l de to do omovimento de emancipao hu man a nas prximas dcadas. E,co mo qu alquer pre ssuposto , este te r de justificar-se pela pe r-tinncia das an lises que ele subentende e cujo de senvolvimentoele permite.

    De man eira mais ge ral, e co m o risco de parece r mais um avez medieval, minha anlise far gra ndes ap elos aos co nceitos,hipteses, diret rizes, mtodos de an lises de diversas correntes

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    do pensame nto marxista, sem entre tanto a eles se limitar. Po is,se ess e pensamento no pe rmite , nem de lon ge, resolve r o con-junto dos problemas encontrados por toda a an lise da realida-de social co ntempornea e por toda a poltica que procura trans-form-la em um sentido emancipador, tam bm ce rto qu e umaan lise e uma poltica como essas so simplesmente inconceb-veis fora de seu mbito. E este estudo pret ende tambm demons-trar isso .

    Este livro a verso resumida de uma tese de douto rado em so-cio log ia, defendida na univers idade Paris-VII. Nela, pod er se r encon-trado um apa rato crtico co mp leto e uma bibliografia.

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  • PARTE I

    A H ERA N A

  • Captulo I

    o MODELO SOCIAL-DEMOCRATADO MOVIMENTO OPERRIO

    P or modelo do moviment o oper-rio, entendemos uma certa configurao deste, caracterizada ao

    mesmo tempo por formas organizacionais, inst i tucionais e ideo-lgicas determinadas, assim como por seu arranjo de acord o comuma estru tu ra caracteristica. Essas fo rmas e esse arran jo co r-respo ndem se mpr e a uma es trat gia dominante na luta de clas-se do pro letariado, a um a concret izao histr ica parti cul ar deseu projeto de emanc ipao, em relao a um aspe cto particu-la r da luta de classes, dando nascime nto a u ma forma originalde desenvolvimento do capi talsmo ,

    O mo delo do movimento ope rrio de que trata este ca pitu-lo tira sua denominao de suas origens hist ricas . Ele apa rece ,

    de fato , nas formaes capita li stas ocident ais (pr inc ipalmenteeuro p ias) em uma poca (o ltimo qu arto do sculo XIX c antesda Primeira Guerra Mundial) em que o conjunto do moviment ooperri o vai ser p rogressivamente dominado por foras po lt icase ideolgicas que se identi ficam , ent o , na den ominao desocia l-democracia, apesar de suas divergncias e enfrentarnentosfreqentemente severos.

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  • Pois , desd e essa poca , apa recem impo rtantes pa rt cu la-ridades nacionais ne sse modelo. ligadas s particularidades das

    h i s~ ri: s nacio na is ma is globa is da s quais o mo vimento ope-rrio nao es ca pa . Esta hetero ge neid ade que. longe de colocarem,q uesto o modelo. desdobra todas as suas potenc ialidades.se ra ai nda ace ntuada, logo aps a Prim e ira Guerra Mund ial:om a ecl oso da 11 In ternacio na l e do Komintern . Naque l;epoca , .ma mfesta ram-se conjuntamente du as variantes funda -mentais desse mesmo modelo , uma reformista e out ra "re-vol ~cionria" . Entre ta nto , s a pr imei ra co ntinua r, a partir dee n~ao , a se valer da social-de mocracia enquanto , na linguage mveiculada pelas foras polticas ligadas segunda ve rso . essemesmo t~rmo torna r-se - progressivamente uma in jria co mfl~ no d e a ntema, au tojuslifica o e sobretudo a d ege ne ra-ao de qualquer paternidade com a vers o decla rada do mo -de lo social-democra ta.

    1) Seus componentes estruturais

    S p odem os Fala r de mod e lo do mo vim e nto o pe r rio medida que possve l colocar e m evid ncia que suas diferentescaracte rsticas (estratgicas, organ izacio na is, ideolgicas) respon-dem a uma mesma frmu la qu e ga ra nta sua estabilidade es -trutural, apesar da s inev itveis diferen as c parti cularidades h s-t ricas e geopolticas.

    . Nesse sentido, a existncia e a origina lidade do modelo 50 -cia l-dc rnoc rata est rela cion ada , e m prime iro lugar, a seu curto-

    s~ projeto que prope ao pro leta riado ema ncipar-se do cap ita-lismo de Esta do. emancipando o Esta do do cap ita lismo. Emou~ras pa lavras, ~sse projeto baseia-se na id ia de que o pro le-tafiado pode se libe rtar de sua explora o e sua dominao pe locapital (o u pode , pelo menos, em um primeiro momen to aliviarco nside rave lme nte se u pes o) conqu ista ndo e exercendo (porre prese ntantes po lticos inte rmedirios) pode r do Estado, to-mando esse pode r da burguesia e de seus a liados po lt cos. Eleaprese ntar se mpre e por toda a parte o Estado como a via obri-gat rtae inevitvel da emancipao do p roletariado. E a soc ie-dade sup ostamente resultante dessa rev olu o po ltica (o socia-lismo) ento assimi lada a um processo mais ou menos radica-lizado de estattzao do capitalismo .

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    A partir dessa mes ma f rmu la bsica , facilm en te e nco nt ra-mos as duas var iantes fundamentaiSdo mode lo so cial-de mocra-1.1 do movimento o perrio citadas . A var ian te re fo rmista , antesde mais nada , soc ia l-de mocrata no se ntido co rre nte do te rmo ,que limita suas ambies a "re formas de estru tura", segundoll' rminologia proposta pos teriormente por Henri de Man: nacio-nalizaes de monoplios industriais chaves, controle mais oume nos direto de grandes grupo s financei ros, mun icipalizaodo so lo ; organizao da assi stncia social pel o Estado ; legi sla-

    o do trabalho visando regulamentar as co nd i es de exp lo-rao ca pita lista e conlraw alizar as re laes entre ca pital e tra -halbo : reduo da s de sigualdades sociais por meio da dernocra-uza o do sis tema fiscal e do ensino , e tc, Essas reformas so ,em princpio, favorveis a cenas interesse s imedia tos do pro-IC13riad o (visto q ue, por exemplo , e las limita m a exploraoca pitalista o u ga rantem sua assis tn cia soci a l) , cuidadosa me n-te orga niza ndo ao mesmo tempo , pelo menos, os nreresses dafrao modernista da bu rgu esia . Poi s n o se trat a , ento , derecolocar em questo se u pod er , mas mu ito ma is de abri r o es-pao de um compro misso po ssve l co m e la .

    Nessas condies, tenta-se conqu istar o pode r de Estado pe lavia legal (ele ito ral). e se u e xe rccio e fetuado em um q uadroinstituc io na l burgus (pa rlamenta r). Da as ca rac te rsticas dapr tica po ltica des sa variante reform isra ( Iega iisrno, juridicidade ,parlamentarismo para o part ido: bu sca de contratos coletivos paraos sindicatos) . Quanto ao sociali smo , progressivamen re redu-zido, nessa via , a u ma simp les democrati zao da so cie dadecap ita lista , co nc re tizao , na sociedade civil, dos dire itos eideais da de moc racia poltiCa (libe rdade . igualdade . fraternid ade).que as reformas de estrutura s ante rio rmente indi cadas devemrea lizar progressi vamente .

    No que d iz respeit o varian te "revo lucio n ria" (da qua l oleninismo _ mais e xata me nte o bolchev ismo - co nstituiu a for-ma acabada) , visa a exp ropriao da burguesia e de seus aliados(as outras classes propriet rias) pela estauza o do co njunto dosmeios de prod uo, destinada a lan ar as bases de um desenvol-vime nto autocentrado. planificado pel o aparelho de Esta do.Nessas co ndies, a co nq uista do poder de Estado sup e um aruptu ra violenta com as fo rmas institucionais da democraciaparlamentar e na maior parte da s vezes s6 pode ser efetuada pe lavia insurrecional, por me io de uma mobi lizao e de um enqua-

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  • drarnento po ltico-militares das massas populares (principalmenteo proletariado e o campes inato) . .

    Talvez cause espanto ver-nos apresentar, como duas vanantesdo mesmo modelo do movimento o perrio, a social-de mocracia(no se ntido corre nte) e o lenin ismo , uma vez qu e se co mbate-ram tan to no curso deste sc ulo. Mas a as pe reza de sua rivalida-de se mpre foi a de dois irmos inimigos alimentados no mesmose io e que se o puse ram um contra o outro na pa rtilha da mes-ma herana. Pois exatamente a mesma atitude em relao lutade classe do proletariado (sua colocao sob tutela poltica e es -tatal) e a mesma finaldade propos ta para essa luta (a estatizaodo capitalsmo atravs da co nquista do aparelho de Estado) queencontramos tanto em um a co m? na outra ve rso do modelosocial-demcrata do movimen to o pe rrio.

    Se ndo ass im, nad a d e surp re e ndente e m se u comum fe -tichismo do Estado, apesar das d iferenas de nfase dada a esteltimo por cada u ma dessas ve rses. A verso refo rmista a pre-se nta o Estad o co mo um rgo neutro coloc ado acima das elas-ses, po rtan to como um instrumen to que pode se r co locado ind i-ferentemente a se rvio de uma p oltica burgu esa ou de umapo ltica proletria. A ve rso re vo lucion ria re toma em ce rto sen-tido es sa te mti ca , ao a prese ntar o Estado co mo transce ndentee reso lve ndo as co ntradies inerente s acumulao do ca pital(e m pa rticula r, aquela entre a socia lizao cresce nte da produ-o e a propriedade privada dos meios de produo). Nos doiscasos, a inerncia do Estado ao capital co mo relao so cial ig-norada , ao mes mo tempo qu e o p rprio papel qu e ele des e m-penha na reprodu o dessa relao (po rtanto na manuteno dasrelaes capitalistas de explo rao e de dominao) oc ultada .

    De correm logicam ente desse pro jeto e dessa estrat g ia , ca-racte rizados pelo felichismo do Estado , os traos organizacionaisprp rios desse mo delo do movi mento oper rio .

    Em ge ra l, es te ltimo rea gru pa ria trs dife rente s tipos deo rganizao: pa rtidos polt icos, sindicatos (esse ncialme nte sind i-catos da indstria e m o posi o aos sindicatos de ofcio) e, en fim,uma abundncia de movimentos coo pe rativos e mutualistas. En-tretan to, da necessidade da conquista do pod er do Estado decorrea pr imazia dada o rganizao do proletariado em um apare lhode tomada e de exerccio do dito poder, em ltima a nlise suao rganizao em um co ntra-Estado que reproduz as caracte rsti-cas do prprio Estado: centralizao da ao, de legao do poder,

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    hiera rqui zao b urocrt ica , segredo e m torno do s vrtices daorganizao, etc. Da a preeminncia da organizao partidria so-bre as o rganizaes sindic ais e os movimentos mut ualistas e coo-perativos.

    No se pode dizer que o modelo social-de mocrata do movi-me nto o per rio no atribua uma grande importncia ao sin-dica lismo , assim co mo ,aos movime ntos coo perativos e rnutua-listas co mo formas de mobilizao e de organizao da classe.Mas sua ca racterstica peculiar, apesa r de tudo , a colocao sobtutela poltica dessas diferentes formas de organizao, cuja ao,co nside rada insuficiente, necessariame nte deve se r substitudaco mple tada e coroad a po r aq ue la do part ido poltico . Pois esteltimo exatame nte o nico cujos dirigentes podem co nqu ista ro pod~r de Estado e ocupar os v rtices de seu apa re lho , o ni- ~ . : ,::::h de do transdesenvolvi mento de uma em out ra (for-::1-....i:i: devi da a Kautsky e inte gralmente retomada por Le nin).: -:- ::- ;:":: ::irio s e defensores desse mod elo do movimento ope-:lr".J: ~o de fato convencidos qu e, dei xado a si prprio , o pro-

    ~--l : o inc a paz de ultrapassar o nvel da co nscincia rne-:i~;- ; .i d e seus inte resses eco nmicos e polti cos imediat os) ,~ ~ exprimir na organizao e na p rtica sind icais (ou co -~:. --]. 5 e rnutualis tas ) .

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  • Do ponto de vista de les, uma conscinc ia maior e mais pro-funda de sua situao e de seus interesses, das necessidades e pos-sib ilidades de sua luta de classe s pode chegar ao proletar iadovinda de fora , dos famosos "i ntelectuais revo lucionrios", os ni-cos q ue possu am a ci nc ia 'da socieda de e da hist ria e que , po risso, ao se junta rem s fileiras do prole tariado, podiam legitima-mente aspirar d ireo de sua lu ta . Da, ~recisamente . a neces-sidade de um partido dirigente, verdad eiro "estado-maior" do pro-letariado em luta, fo rmalmente distinto das organizaes (sindicais,coo perativas ou mutualistas) que o proletariado pode constituir p?rsi 56 ou qu e podem ser desenvolvidas diretamente sob a mcuaaoe o co ntrole do partido . E, sob re esse ponto decisivo , que resultadiretamente de sua opo estratgica e de seu projeto esta tista, asduas ve rses do model o social-democrata do movimento oper-rio tm estado sempre perfeitamen te de acordo entre si.

    Dando as costas ao projeto co munista de uma sociedade emque o pode r poltico se ria co letiva e igualitari~mente e xe rcidopelo co njunto de seus me mbros, o modelo sOCIal -~emocrata domovimento o perrio no ultra passa , de fato , o hori zon te de umasociedade que , por es ta r dividida em mltiplas esfe ras o postase riva is, no chega a reco nstituir sua prpria unidad e se no nae pela co nstruo de um aparelho de Estado fo ra e acima del a.Ho rizonte que co nstitui, para se mp re , o da prtica e pensamen-to polticos prprios do uni verso capi talista .

    lgico tambm que esse mo delo do movimento ope rrioveicular, co nte ntando-se em desloc-los e "de fo rm-los ", osgra ndes temas da ide ologia burguesa da idad e clssica , qu e cons-tituram tantas fetichizaes das relae s socia is capitalistas, entreas qua is o fetichismo do Estado ca pitalista somente se u resu -mo . Ou seja:

    o "mito" da objetivao histrica , a imagem de uma his-tori cidade auto mt ica , que imp lica a crena na ex istncia dele is e de um se ntido da histria . A esse "mito " se incorpo raa afirmao da ne cessidade do desmo roname nto do cap ita-lismo e da inevitabilidade do socialismo e do co munismoco mo fim da hist ria . O que contrad it rio co m o vo lun -tarismo inerente es tratgia estat ista dese nvolvida po r es semodelo do movimento operrio ; o "mito"dop rogresso, aqui estendido ao mito do carte r im-petuoso ti revolucio n rio do desenvolvimento da s foras pro-dutivas , que acabar fazendo ex plodir o q uad ro es treit o do

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    modo de produo capitalista, lanando as bases materiai s dosocialismo ; o "m ito" da classe fun din do-se co m o da nao co mo su-jeito salvador da hu man idade (alm disso, na ma io r parte dasveze s Com a 5ubordina.o ou, pelo men os, a ide ntificaodos interesses da pri meira aos da segunda , apesar da afirma-o regular de posies tericas inve rsas) ; o "mito"do partido, reforando o do Estado como demiurgoda histri a, he ran a da co rre nte radica l da revo luo demo-crtico -burguesa (jacobinism o); e nfim, exatamente o "mito"da reuolu o (mesmo en tre osrefor mistas ond e esta imagem mtica brandida para ser ime-diatame nte recusada) como apoca lipse , inve rso violenta ebrusca da antiga ordem social, da qual emergeria espontanea-me nte uma nova o rdem, de acordo co m uma representao ,

    _ela prpria mistificad a , da Revol uo Fran cesa , send o a re-voluo proletria sempre conce bida confo rme o modelo deuma revoluo bu rguesa reduz ida s suas pe ripcias polti-cas as mais espetaculares.

    Econo micismo (com seus corolrios: O produt ivism o e o cien-.i fici srno) , estatismo (co m SUa sombra quase inevitvel projeta-da . que o nacionalismo) , e finalmente progressism o (se ndo o

    .progresso ge ralmente ass imilado, de um lado, ao cresc imento das~ :: ;- a 5 produtivas , de outro, influ ncia do Estado so bre a eco-:"". J :11:3 e a SOciedade) constituiro assimos ingredi entes mais co-=:: ': :15 da ideo log ia produ zida pelo modelo social-de mocrata do::::':ime nto operrio .

    2) Sua alternativa histrica: o sindicalismorevolucionrio

    :>e ~-:lto. aq uele modelo co mea a toma r forma no final do- ,.. -:.: sculo e leva r dcadas para co mear a se firmar no seio.:.: :7'.: '.'j rnento ope rrio ocid ental, integran do e/ ou neu trali zan -a : -= _t:7'.e :"'.tos que a p riori lhe eram hostis o u simplesmente es--:-..c_-.\:'~ E. flnal rnente , s aps a Segunda Gue rra Mundial, ele vai~ =-;.:: ampla e p rofundamente o bastante para se identificar-= .;:,: ....::-.en to operrio , no co njunto dos pa ses ca pitalistas de-

    ~ - : -.. ::~ a t as vspe ras da atua l crise do cap italismo.

  • Entretanto , nesse .intervalo de tempo, ele precisar enfrentare vence r um outro modelo do movimento operrio , qu e co oco:-re u se ria me nte com ele , pe lo meno s a t 1914 , em um ce rtonmero de pases do sul da Europa (Frana, lt lia, e principa l-me nte Espa nha), mas tambm nos Estados Unidos (com os IWW:In ternational Worke,,; ofthe WorldJ, os famo sos wohblies. Trata-se do sind ica lismo revolucionrio, que re presentou a nica al-ternativa que o movimento operrio ocidental desenvo lveu his-tor icamente ante o modelo social-de moc rata .

    No plano estratgico ante s de mais, nada. Pois , de acordoco m sua inspirao anarquista (de onde tambm sua den omma-o imprpria de anarco-sindicalismo), o sindicalismo revo lucio-nrio evide nte mente era rigorosamente contra qua lquer ato derecorrer ao Estado para garantir a salva o do pro letariado. Dese u ponto de vista , o Estado um rgo parasitr io , e m relaoao co rpo social, que preciso erradicar e su primir, se ndo o obje-tivo da revol uo p roletr ia fazer desaparecer de finitivam e ntequ alqu er espcie de aparelho de Estado . Alm disso, longe dese efet ua r pe lo Estado (a tomada e o exerccio do poder de Es-tad o), ela de ve ao co ntrrio se voltar contra o Estad o. Segundoos sindicalistas revolucionrios, no se poderia de for ma algumapreparar e co nstruir uma socieda de ema nci pa da recorrendo-sea esse aparelho de opresso que o Estado.

    Ao princpio est at ista ,.que anima a estratgia do modelosocia l-democrata , o sindicalismo revolu cionrio opu nha, ento ,o princpio da ao direta do proletariado l co nforme a expres-so proposta porF. Pelloutier. Da a den omina o , tambm , desindica lismo de ao direta da qual ele se valeu .

    Bem ant es da emergncia do sindicalismo revolucionrio, oprincpio da ao dire ta havia sido clara mente enunciado por FloraTristan , em uma fala clebre retom ada no prembulo dos estatu-tos da I Internacional: "A ema ncipao dos trabalhadores ser ob rados prprios trabalh ado res". Estes no devem esperar sua reden-o de nenhum "Salvador su premo" externo a eles (Estado, par-tido , homem providencial ou pro feta genial) ; somente de sipr prios qu e deve m extrair as foras pa ra conduz ir sua luta declasse , e somente eles podem se da r os meios pa ra isso . Conse-qentemente, so me nte a e les cabe di rigir suas lutas , for mar eco ntrolar suas organizaes, garantir sua educ.."ao poltica .

    Da a recusa de qualquer "substtutsmo ": nada nem ningum,nem mesmo um partido revolucionrio, pode substituir o pro-

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    letariado para efetuar, em seu lugar, suas tarefas polticas, mesmo seele pr6 prio vier a no cumpri-las. Qualquer tentativa cond uzidafora do proletariado e qu e pretenda emancip -lo s6 pode ser umaenganao e leva, em ltima anlise, a renovar, sob outras formas,as estruturas de sua prpria opresso. Do ponto de vista da histriadeste sculo, esta advert ncia lanada pelos sindicalistas no final dosculo passado ter tido valor de verdadeira profecia.

    Quanto s modalidades pr ticas da ao direta , imaginadas oupra ticadas pe los sindicalistas revolucionrios, eram mu ito variadas:alm da greve, evidenteme nte, que sua forma eminente, elespreconizam o boicote (dos patres mais severos) e o selo de quali-dade assinad o pelo sindicato (que o oposto disso), a sabotagem

    , (prod uo dilap idada, produo defeituosa, etc.), agitao, a ma-nifestao , sem exclu ir a sublevao popular, tudo dirigido no 56co ntra os inimigos diretos dos trabalhadores, que so os pat res,mas tambm contra seu aparelho de rep resso e de enganao que o Estado.

    No plano organiz acional, o pr incpio da ao d ireta levavao sindicalismo revolucionrio a privilegiar as formas em qu e oproletariado tende esponta neamente a se o rganiza r, ou se ja, osmo vime ntos cooperativos e rnutu alistas e, evide nte me nte Isobre-tudo a organizao sindical. ba sicam ente desta ltima que e leespe rava a emancipao do proletaria do ; da I alm disso, suadeno minao de sindicalismo revo lucionrio .

    Nesse se ntido I duas idias influe ntes d istingui am , de imedia-:0. o sindica lismo revolucionrio do sindica lismo so b a hege-mo rna social-de mocrata:

    1. O sindicato no era conce bido por ele apenas como uma:rga nizao qu e permitisse ao proletariad o se impor en quanto:~: .;a so cia l: agru par-seI c rganiza r-se, lutar por se us inte resses:.-:-,ediatos, educar-se, etc. A estrutura sind ical era mais radicalmente,:o :1cebida c0f!lo o embrio da organiza o da f utura sociedades- iarqtusta-comuntsta. Pois, nesta, a o rganizao sindical es tavazes tinada a se tornar o rgo de direo, de administrao e de,:o c,::ole da produo social e do conjunto da vida socia l.

    Da a import nci a qu e e le a trib u a s es trutu ras int erpro-:"' ;''C aa s de base (confronte, por exemplo , as bo lsas de trabalho' ,

    :':L'-lS de trabalh e so reun ie s de membros de d iversos sindicatos de uma':"'~~ odade ou regio , co m o objetivo de se organizarem para defender seusra e-es ses e de organizarem servios de interesse co letivo . (N.T.)

    27

  • de onde nasceu a CGT francesa), verdadeiro nicho da so lida rieda-de de cla sse e c lula feder ativa e aut ogerada da socieda de deaman h. Essa prefe rn cia atribuda s e~tru turas "horizo ntais" ca-racter izar se mpre o sind icalismo revolucionrio em opos io aosindicalismo sob a hegemonia socia l-de moc rata, que favorecerao co ntrrio as estru turas "ve rticais" (as federaes profi ssionais,seja m de o fcio sejam da indstria) , fonte intrnseca da hu rocra-tza o dos sind icatos .

    2. Al m das lutas cotid ianas que a defesa dos interesses ime-diatos do proletariado ex ige , a o rganizao sindica l dever ia pre-parar po r si mesma a revoluo. E isso da nica forma que umaorga nizao sindical. de acordo com o princpio da ao direta, lhepu desse dar, O ll seja , a greve geral insurreciona l. Concebida comoo meio da revoluo soc ial, esta ltima no era ento en carada co-mo uma simples sus pe nso ge ne ralizada do trabalh o; ela de veriase r tamb m a ocas io de derrubar o capi talismo pela reapropriaocoletiva direta dos meios de prod u o , e de instaura r, sobre essabase , uma de mocracia direta dos produtores associados, garantindotoda a organ izao social: tratava-se , ento, de uma greve expro-priado ra e enca rregada da gesto, de ca rter necess ariam en te in-surrecio nal. I

    Conseqe nte mente, uma co nduta co mo essa s pode ria daras costas , de ma neira deliberada , s me di aes polticas d ou nive rso capitalista , ao . se ja refor mista se ja "revo lucionria",dos partidos, co nquista e ao exe rccio do poder do Estad o . ~oco ntr rio , a greve ge ral insu rrcciona l deveria te r como efe itop rincipal o des man telamento do aparelho de Estado , no deixan-do subs istir outro poder po ltico seno o do pro leta riado o rga-nizado , que se reapropria ria dos meios sociais de produo e ,co nseqente mente , reo rgani zar ia toda a vida so cial.

    Ou se ja, po r trs dessa recusa do primado poltico , o que serecusava era a sepa rao e ntr e o rganizao e nc arregada dos in-

    I Apesar do ar uagorusmo de seu meio e de seu fim, as co ncep es da revolu- o desenvo lvidas pelo sindic alismo revo lucionrio , de u m lad o , e pelomodelo soc ial-democ rata (pelo menos , em sua verso "revolucton rta") , deoutro, apresentam um po nto comum, que merece ser ressaltado . seu carterapocalipuco. Seja sob a forma 'da greve gera l msu rrecona l ou da tomada dopoder de Estado , enco ntramos nos dois casos \~ mito da "Grande Non e'", aimagem de um alo que instaura um corte radical-na tempora lidade histrica.

    Legrand sair uma exp resso que se refere noite da re voluo social. (N.T.)

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    te resses imediatos e organizao com a res ponsabilidade dosinteresses hist ricos do pro letariad o , um dos princ pios ca rd i-nais do modelo soc ial-demo crata. Nesse plan o , o sind ica lismorevolucionrio ca rac te rizava-se pe la afirm ao de qu e a pa ssa-gem de uns para os out ros podia ser ga ra ntida na e pe la aosindica l, se m que fosse necessrio recorrer a uma me di aopo ltica ex te rna ao p rprio prol e tar iado . A difere n a rad icale ntre sindicalismo revo lucionrio e sind ica lismo so cia l-de mo-cra ta dava-se , de fato , neste po nto essencial: a auto no mia es-tratgica , organ izacional e cultura l dos s ind icatos reconhecid apelo p rime iro e negada pelo segundo que, e m ltima anlise ,redu zia os sindicatos fun o de "corre ia de tra nsmisso " dopa rtido, de acordo co m a frmula bem co nhecida de Lenin , masque a so cial-democrac ia ante rio r a 1914 j sou be ra co loc ar e mprt ica.

    Ao mesm o tempo, o sindica lismo revo lucionr io afirm avaresolutame nte que no h separao intranspon vel entre a co ns-cincia proletria es pontnea e a co nscincia revolucionria queseria O apa ngio d os "inte lectua is re vo lucio n rio s". Pa ra o-ind icalismo revo lucion rio, a rev oluo p roletr ia s pode rJ.:ontecer se o p role ta riado adq uirir por si s a co nsci ncia ela-:':l da situao de opresso no cap ita lismo e da necessidade de.::na de rrubada revolucionria das relaes socia is q ue a geraram.E ele pode adquirir ta l conscincia pela dinmica e ex perincia:t ~U3 luta de classe , assim como dese nvolvendo suas p rp rias

    ::'~ :l ni zaes e instituies autno mas. O pap el dos "intelec tua isrevol uc ionrios" s pode se r o de favor ecer um p rocesso co mo7:::-': . dele participan do , e no de reivindi car pa ra si a direo do,::-.::imento de e ma ncipao de classe.'

    Dos princp ios de a o e de organiza o anteriores decorriam:-:. ;::~:1 cipa is temas dese nvolvidospelo sindicalismo revo luco-:-:...i :: : ;'0 p lan o ideolgico. Ainda nesse caso, es te ltimo, co m

    : " :'.;-.;;'::llistas revolucion rios no ignoravam nem su best imavam o risco;,::--~:-;e:-;:e de deriva reformi sta do sind icalismo , Inerente necessria fun-

    -.: .:-= cefe sa dos Inte resses imediatos do p rolera rlad o pel a orgarnza o-c . .;. : :: :-:0 ':;disso . defenderam ainda a necessidade da exsr nc a de uma:rz~ -...::.J..;j~ pol tica. de inspi rao ou mes mo de cultura anarq uista, guardi":r:-< : : ~;-.:~ ~ l CJ S revoluc ton rtos, distinta ela o rgan za o sind ical, mas que no:~-= :': ; ~ :':' e por isso desempenha r um papel di rige nte e m rela o a esta

    ~~ .: .: ::: ~ no mod elo social-democ rata). Cf. as rela es ent re a CNT e a: ._- -:~ ~~;a !"'.h3 pr -franqusta.

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  • freqncia, crres pond ia exatamente ao oposto ~o mode lo so-cial-democrata .

    Em parti cular, de acordo com sua inspirao ana rquista , osindicalismo revolucionrio caracterizava-se por um antiestatismo

    de mltiplas facetas: ant ilegalismo e antiparlamenta rismo eviden-

    temente , mas tambm antimilitarismo e antipatrio tismo . De modo

    mais ge ral, o sind icalismo revo lucion rio era portador de um es-

    prito a ntiau to rtrio , qu e se e nco ntrava es pecia lme nte e m sua

    desconfiana em relao a po lticos e intelectu ais , a todos aque-

    les qu e, no fazen do parte do proletariado e no participando desua s lutas cotidianas, pretendiam no e nta nto dar-lhe lies ou

    dirigi-lo, ainda que fosse no sentido de sua suposta liberao. Oque nem sempre aco ntecia sem um ce rto antiintelectua lismo nemsem um pouco de demagogi a obrerista. '

    Por outro lad o , o sindicalismo revol ucionrio no pa rava de

    en fatizar a importn cia da educao do p roletariado. Alm doesforo de formao poltica e geral levada s organizaes einstituies do proletariad o, na realidade, toda a ao deste l-timo , se gundo o sindicalismo revolucionrio, devia sempre se r

    conc ebida e co nduzida de tal forma qu e tivesse tam bm, alm

    de seu prprio objetivo, uma extenso pedaggica mais geral, en-sina ndo es pecialme nte aos trabalhado res a s co ntarem co nsigo .

    A auto-atividade do proletariado que ex prime o princpio da ao

    direta implicava tambm, pa ra eles , sua au to-edu cao po r meio

    de su a pr pr ia ao: e ra ne la e por ela qu e o p ro le tariado deviano s to mar co nsc incia de sua ca pa cidade pol tica , mas a ind a

    a pre nder a del a se to rnar mestre e dela se servir co m eficcia.

    3) As razes de seu xito

    Por que o modelo social-de moc rata se imp s histori camen-[e ao movimento operrio nas formaes capitalistas oci dentais?Em pa rticu lar, por qu e tr iunfou sob re se u rival diret o , o s in-

    dicalismo revolucionrio? Questes que raramente tm sido tra-

    j O ant au to ruar tsmo do sind icalismo revolucion rio falhou , entr etan to . na\q uest o da opress o secu lar contra as mulh eres. LOnge de se p reocupa r com

    o problema, o sindicalismo revolucionrio no estava isento de um certo anti-

    femin ismo , ao conside rar q ue a melhor mane ira de defende r as mulhe res

    era mant -Ias a certa dist ncia da produo .

    30

    radas , poi s a iden tificao do mo vim ento o per rio Co m se umodelo social-democrata tem sido co ns iderada bva.

    O sucesso do modelo social-democrata do movimento ope-rrio e xp lica do, e m prim ei ro luga r, pela impregnao dof etich ismo do Estado no prp rio seio do proletariad o e do mo-vime nto operrio, fetich ism o q ue, co mo vimos, co nst itu i o prin-cpio diretor do modelo so cia l-democrata.

    Em toda socied ade dividida em classes, a un idade social tomanecessa riamente a forma de um poder de Estado formalmentedistinto da prp ria sociedade. Do p onto de vista de todas as

    class es, o poder estatal ap arece , ento , como a nica forma de

    .:ornn io de uma evoluo social que escapa ao co nt role colet -

    .,-"] precisame nte po rqu e a soci eda de e ncontra-s e di vidida e m':.a sses sociais com int e resses riva is. E d o ponto de vista das

    ':....i5:;es dominadas, esse mesmo Estad o ap arece, ento , co m fre-

    ~::~ncia , co mo o recurso supre mo co nt ra o excesso d e se us-;:-: prios do mina dores .

    :"0 modo de p rodu o ca pi talista, essas iluses so a inda

    l o=c.:'cadas pelas forma s prprias ao Estado capi talista. Especifi-::L7 .:: ::te

    _: ~or sua forma de poder p blico impessoal, que no pode~~: ravo recer o fet ichi sm o de Estad o , sua apa rncia de poder:' : l :''::::'::: 0 acima da sociedade, rep resentan do o conj un to desta:;-:.: :-::::l.3ndo os interesses part icular es ao interesse geral. E as l.-:..-,: r:::~ .igadas a essa fo rma pude ram em muito pouco tempo~e:e_-::. :- no seio do pro letariado por um duplo vis:

    :::= um lado, o dos apa relhos de inculcao ideolgica, tais=::::,) J imprensa ou a escola, pelos quais o proletariado pode-c: cesvado da luta por se us interesses prprios, sendo co n-

    ."".:::c'''o pa rticularmente da superioridade da unidade do~'-l': :-13 o sobre todas as d ivises de classe ou de parti-a: : .; CJ pr ima zia dos objetivos "progress istas" o u "demo-=-~ .: : ~ . sobre os objetivos p rop riame nte dos proletrios... ::: : ';::0 . 3 legalizao debu tante do mov imento ope rrio,.:t:s:.:"'..:.:. =-:. .:. resolver a "questo social" por vias pacficas: o re-

    =r:.~::"'"7:=:-. ro mas tambm a regulame ntao do direito de~''':: e :-= -:C3.JiZ30; o dese nvolVime nto do direito do traba-h:: . _7. -= ::-.j~ 3. 0 de assistncia social (le is sobre as aposenta-.3:r-l: : ,; -=:-..L-..1S.). ou mesmo uma assistncia social j relativa-=>= ==:::":)1"'00 (na Alemanha, por exemplo); o desenvol-

    31

  • vmento da habitao social. etc . E com a integrao deb utantede um a pa rte do movimento o pe rrio na sociedade civil e noEstado, a organizao de estruturas de negociao iria favo re-ce r o processo de bu rocrati zao das organizaes ope rrias,o apa recimento de "uma burocracia operria" com interessesrapi damente divergentes daqueles do restante da classe.

    2. Aos efeitos anterio res se juntaram os s fo rma paramen-tar do Estado, impl icando que a ao das foras sociais (blocossociais com pos tos por alianas de classes, fraes , camadas so-ciais) (ornasse uma forma estatal, ou melhor, uma forma partid riaimplica ndo tambm que o Estado (e particularmente o Parlamen-t?) fosse considerado como o lugar "natural" da resoluo pac-fica dos conflitos sociais (da co ntrad io dos interesses de clas-se) no sentido da busca de um "equ ilbrio de compromisso" entreelas. O sufrgio un iversal, alm de explicitamente concebido po ralgu ns de se us prom otores (po r exemplo. Ga mbe rta, na Frana )como um elemento de paci ficao da vida po ltica, e ainda aslu tas para obt-lo contrib uram especialmente para esse pro ces-so de in tegrao do prole tar iado e do movi mento operrio nojogo insti tucional da democracia representativa.. ,. Todos esses efeitos conjugaram-se para [ornar p lausvel aid ia de qu e a so luo dos proble mas e nco ntrados pela luta declasse do proletariado, e at a via de sua emancipao, encon-travam-se no Estado; e que convinha, ento, dar forma po lt ica(o u melhor, estatal) a ess a luta.

    Mas o fetichismo do Estado jamais poderia garantir uma in-fl uncia com o essa no movimento operrio, se no tivesse en-contrado um intermedirio de qualidade na person ifi cao daclasse do slag-admin tstrauuo. Pois o triunfo do mode lo social-democrata do mo vimento operrio no pode ser compreendidosem a interveno dessa l tima no mov imento operrio.

    Mostramos, em outra pu blca o", que os interesses pr pr iosdo stag-a dm inistrativo ( modernizao ca pita lista da soci edade

    ra ciona li~ao de seu desenvolvimento econmico e moraliza~de sua di reo poltica, de mocratizao de suas estruturas epart icu lar mente . dos apa relhos de Estad o) levam essa classe ;apoiar, e at a impulsionar, um processo de estarizao do capita-

    cr. Entre bou rgeo tste et p rottarta t. t 'encaarement cap uauste op cir es _ . I . , peclal meru e os captulos VI e VII.

    32

    II lllO (ou se ja. de "so luo " estatal das contrad ies do ca-pll ,llismo); most ramos tamb m po r que uma poltica como essallt ld e levar essa classe (o u, pelo menos, suas camadas ou fraesque se encarregam dos interesses do conj unto da classe) a fazer

    hana com o pro letariado, garantindo para si a hegemonia nol' IO dessa alia na, em lt ima anlise, objetivando tomar a di re-

    ,. o do mov ime nto operrio.Foi essa hegemonia que, desde o hi mo qua rtel do sculo

    1'.lssado . com a cobertura da ideologia socialista (e m toda a di-versidade de suas variantes , mas pnncipa lrnen te a de inspiraomarx ista), as elites polit icas do staf] administrativo e tiCUSult'610gos orgnicos procuraram garantir para si. foram eles que,lorjando uma teoria poltica ad hoc, imp useram a idia de que

    emancipao do proleta riado passa pela via da co nquista e doxcrcicio do poder de Estado . Fo ram eles q ue. e m ligao com

    ,.t "burocracia operria" nascente no seio dos movtrnentos coo-pcralivos e mutuahstas, mas tambm das organizaes sindicais ,suscitaram a formao dos partidos socialistasou social-democra-\, IS , tomando evidentemente sua direo e cuidan do de subordi-11;lr-lhes esses movimentos e organizaes. Enfim, foram eles que,certos de sua "cincia socialis ta" da sociedade e da histria, jus-ufcararn o conjunto desse pro cesso de ca ptao do poder pelospretensos " intelectu ais revo lucionrios" (i sto , por seus pares) ,(micos aptos a gui ar o pr ol etariado em sua luta de classe, porserem os n icos capazes de lhe fornecer uma consci ncia declasse adeq uada . Em resumo, fo ram eles qu e " inventaram" omodelo soc ial-democrata do movim ento operr io , no algu masde suas formas organi zacionais, institucionais e ideo lg icas quemuitas vezes lhe preex istir am, mas sua articulao orig inal emtor no do princpio estati sta.

    No en tanro, preciso reconhecer que os dois fatores prece-dentes revelam limites que o desenvolvimento da auto-ativid a-de do proletariado pode encontrar, e mesmo contradies estru-turais que ele precisou ultrapassar e nas quais pode tropear. Dois[atores suple menlares refo rariam essas dificuldades. T rata-se:

    de um lado , de um caminho espec fico (Ornado pela luta declasses nas for maes capita listas ocidentais, aps a Prim eiraGuerra Mundial , do qual iriam resultar a possibi lidade e atmesmo a necessidade de um comp romisso en tre o capital e oproletariado, cujo quadro scio-inswcional garantiu O triun -fo definitiva do modelo social -democ rata;

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  • de outro, da transformao da composio do proletariadotan~o no plano "tcnico" (socoproflssonal) como no plan~poltico, com a tendncia ao desaparecim ento do operrio deofiClO: figura hegemnica no seio do pro letariado at a vsperada Pri meira Guerra Mun dial e ator chave do sindicalismo re-

    vol~cion rio, e a emergncia do "oper rio-massa "que , ao (00-trrio, fornecer os enormes batalhes das organizaes de tiposocial-democrata.

    E~bor~ seus efeitos no se tenham manifestado plenamen-te s~nao aps o perodo histrico que nos interessa diretamenteaqui 0 880-1930) , podemos avaliar retrospecti vamente que essesd OIS fatores, alm de ligados estreitamente entre si, j atuavamno curso deste e nele desempenharam um pape l importante. Va-mos abord -los deta lhada rnente nos pr ximos captu los.

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    Captulo Il

    o COMPROM ISSO FORDISTA

    o con ceito defordismo nasceudll'" tra ba lhos de uma equipe de economistas franceses (M.AHlic ll a, R. Boyer, A. Lpie tz , etc.), reali zados a partir da segun-tl l metade da dcada de 70 para analisar o modelo de desen-vulv lmento seguido pejo cap italismo ocidental no perodo ps-uerra. Como claramente indica a denominao que acabou lhesI mio atribuda - "escola da regulao"- , esses economistas

    i.ivam fundame ntalmente preocupados em compreender comoti ra pita lismo ocidental pudera conhecer trs dcadas de cres-, uncnto econmico quase ininterrup to, mas tambm por que ost1U'n lnismos reguladores que haviam tornado possvel esse cres-, nncnto pareciam agir no vazio.

    Pode-se dizer tambm q ue o conceito de fordi smo com-prom etido pelo econom icismo. Isso se reve la espedalmente11 lo privilgio atrib udo, sistematicamente, em suas anlises, su.uisforrnaes econmicas, em detrimento das transformaesocrais, institucionais e ideolgicas do capitalismo psguerra ;

    obretudo por um relativo desconhecimento do processo daIUI:! de classes que, sozinho, explica, em ltima anlise, o nas-I lI11CmO, a din mica e a crise final desse modelo de desen vol-vuue nto .

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  • Em terceiro lugar , esse compromisso no se deu d iretarne n-14 ' en tre os mem bros das prp rias classes, mas entre int erm e-di rios orga n iz ac iona is e in stitucion ais que lhes serv iram de re-presentanres o ficiais, adqu irind o o u reforando esse sta tus nes-

    ,I ocasio: o rganizaes sind ica is e po lticas do mov imen too perrio , de um lado, o rganizaes profissiona is do patrona to,de outro, co m o Estado en tre elas, p resente ao mesmo tem pocomo juiz (responsvel, rbit ro) e co mo parte interessada: fica-1I i\ encarregado de co loc-lo em prtica visando ao interesse geraldo capita l, cuidando par a que fosse apli cad o e res pe itado pormeio das o rga nizaes re prese nta tivas de cada uma da s du asclasses em luta. Co nseqe nte mente , a for ma acabada e oficialdesse co mpromisso foi a altern ncia, na direo do Esrado , decoal zes do minadas s vezes por pa rtidos social-dernocra tas, ou-tras vez es por partidos "bu rgueses".

    Em ltimo lugar, finalmente , esse co mpromisso no acabouro rn a luta de classes, co m o en frent amento entre o prol eta riadoc a burguesia . No mx imo, ele te r circunscrito a d isputa ins-r.i ura o do compro misso , defi nio de seus [e rmos e ti de-limitao de se u ca mpo de apl icao .

    Rer rospc crivarne nre, e co nside rando-o do po mo de vista doprolcranado, esse co mpromisso pode ser com parado a uma espciede imensa barganha, pela qual o proletariado renunci ou "aven-tura histrica" em troca da garantia de sua "seguridade social".

    Renunciar "aventura his trica'? ren un ciar luta revolu -cio nria, luta pela transform ao comunista da soc iedade ; re-nuncia r co ntestao legi timid ade do poder da classe domi-na nre sobre a soc iedade, es pecia lme nte sua apropria o dosmeios sociais de produo e as finalida des assim impostas sforas produtivas. , ao mesmo tempo, aceita r as novas fo rmascapitalistas de do minao que vo se desenvolver ps-guerra, ouse ja, o conjunto das transformaes das co ndi es de trabal ho e,em sentido mais amplo, de existncia que o desenvolvimento docapita lismo vai impor ao proletariado nesse perodo .

    Em contrapartida a essas renncia s, o proletar iado ob tinhaa garantia da seg uridade soc ial. Quer dizer, no s6 sua assistn-cia soc ia l, mas no se ntido ma is amplo, a satisfao de seus inte-resses de classe mais imedia tos e, portanto, tambm mais vitais:lima relat iva est abili dade de em prego; um crescime nto de se u"nve l de vida"; lima red uo de seu tempo de trabalho; a sa-tisfao de um certo nmero de suas necessidades fundarnen -

    1) Os termos gerais do compromisso

    I Evide n tem e nte , Impo ssve l d ar co nta aqu i das especificidades nactonatsdo comprom isso fordis ta, tant o do pon to de vista de suas cond ies de es-rabelecrnemo (l igad as s especificidades da s histri as naciona is) , qu an to do~onro d e vis ta de suas imp licaes e conseq nctas soc iopolilicas (em p ar-ucular nos blocos begem ntcos no se io dos qua is esse compro misso se de ue que d e co ntribuiu pa ra solda r) .

    Ao co ntrrio, na pe rspectiva que adotamos aqu i, p rinci-pa lmente por esse processo q ue vamos nos Interessa r, a pa rtirda seguinte hiptese di retriz: o modelo de desen volvimento queo capitalismo ocidental p s-guerra seguiu foi funda mentalmenteco ndicio nado pel o co mpromisso entre bu rgues ia e prole ta ria-do em que a p recedente c rise estrutu ral dos an os 30 e 40 de-sem bo cara.

    Certame nte no se deve comp reende r um comprom issoco mo esse co m base no mode lo da relao contratual en tre doisind ivd uos, tal co mo codificada pe lo direito civil: ele no resultado de duas vontades livres, que se engajam reciprocamentede man eira clara e refletida uma em relao outra.

    Em primeiro lugar, esse co mpromisso foi imposto a cada umdos dois pro tagonistas pe la pr pr ia "16gica" do des envo lvimen-to ante rio r do cap italismo. Do mesmo modo qu e o foi, po r ou-tro lado , pelo equilbrio relativo na relao de foras entre bu r-gu esia e pro letariado que acabo u se instau rando no final de d-cadas de lutas , cujo curso ge ral e vicissitudes particu lares co ns-tituram a histria p rpria de cada formao nacional durante aprimeira metade deste scu lo .I

    Em segundo lugar, mesmo onde foi oficial e declarad o (es -pecialmente nos pases da Europa setentrional), esse com prom is-so res ultou de um processo m u itas vez es cego e, p ortanto, ta m -b m ilus rio para se us protagonistas. Ele ve io sanciona r certo es-tado da rela o de fo ras entre as duas classes, depois de spe-ras lutas, no final de multo tempo de incerteza , no foi o resultadode barganhas e discusses em torno de uma dispu ta clara. As ne-gociaes entre protagon istas 56 se produz iram mais tard e, paraocupa r o "espao" aberto pelo co mpromisso , para administrarsuas con seq n cias e fixa r suas part icu laridades,

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  • tais ( habitao, sade , edu cao, formao profiss iona l, cu ltu-ra, la ze r, e tc .) .

    Em resumo, a pe rspectiva de sa ir da misria, da instabili-dade , da incerteza do futuro e da opresso desen frea da , qu e ba-sicame nte caracterizaram at aqu ele momento a"con dio pro-letria . junt amente a garan tia de adquirir d ireitos , no s for-mais (direitos cvicos e polticos) mas reais (direitos sociais) , cujorespeito seria garantido pe lo Estado, e de ter acesso a uma vida

    - se no agradvel, pelo me nos suportvel (aceitvel).Finalmente, assim poderia ser resumida a ambiva ln cia do

    co mp romisso fo rdista para O proletariado ocid ental : este perde,co m ele, sua negatiuida de de "classe da sociedade civil que n o um a classe da sociedade civi l, C. ') de esfera qu e possui umcarter unive rsal po r seus sofrimentos universais e no reivi ndi-ca um direito particula r'? e que po de, en to , pensa r em liberta rtoda a humanidad e , ao se libertar de sua prpria opresso; e isso ,para se a firma r positiva mente no quad ro dessa sociedade, nolimite dos interesses e dos dire itos pa rticulare s que ela reconhececo mo dele e lhe permite satisfaze r. Assim se r roda a amb iva-lncia da legalizao do prol etar iado que o compro misso fordistato rnar possve l: o Estado proporc ionar satisfao ou suste nta-o a a lgu mas d e suas reivind icaes na exata medida em qu eisso lhe permitir melhor integr -lo na so ciedade civil e po lticae, portanto , melhor control-lo .

    Mas esse co mp romisso no ser me nos amb valen te para aclasse dominante; pois , e mbo ra e le lhe d uma trgua, la na-lhetam b m um des afio . Sem dvida, permite-lhe sa ir da "zona detempesta des", escapa r da ameaa permanente sob a q ua l a ag i.rao revol ucion ria a fize ra vive r no cu rso das dcadas ante -rio res. De fato , esse co mp romisso permite burgues ia neutrali-zar em boa pa rte o conflito p ro letrio , ao fazer da satisfao da snecess idades fundamen tais do proletar iado no s fonte de sualegitimidade, co mo ta mb m o prprio moto r do regime de acu-mulao do capital, co mo veremos mais adiante .

    E exatame nte por isso que esse com promisso lana tam bmum desa fio classe dominante . Po is, de um lado, e le implic a quesua dominao n o seja absol uta, que ela reconhea aos do mi-

    1 K. MARX , Contrtbutcton la crtuque dela p ttosop te b glenne du arott,traduo fran cesa de M. RUBEl. , Par is , Ga lt ima rd , "Btblt o tb q ue de laPliade ". tern o m, p. 396.

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    n.ulos, e m ce rta medida , o dire ito de neg ociar as co nd ies deIl ,l domi nao . De outro, essa do minao s se r reconhecid a

    I orno legtima pe lo proletariad o medida qu e garantir a realiza-\, () de seus nreresses imediatos. Em ou tras palavras, o compro-IIll!'iSO fordista s podia ser renovado e nq uanto o pr prio mede-111 de desenvolvimento do ca pitalismo ocidental que ele tor na-11 ,_ possve l fosse vive l.

    l ) Compromisso fordista e dinmica do capitalismo

    A parti r d o ltimo tero do sculo XIX, as co ndi es deexplorao capitalista tend em sensivelmente a se tran sfor mar noseio da grande indstria . Surgem dois novos princp ios de orga-nzao do processo de traba lho , que se ge ne raliza ro no co n-[unto da indstria ca pitalista :

    o taylorism o, te rmo de rivado do nome de seu inventor, oengenhe iro a me ricano Taylor (1865-1915) , baseado na estn-la sep arao ent re as ta refas de concepo e de execuo,aco mpanhada de uma pa rce lizao da s ltimas, de vendo cadao pe r rio, e m ltima an lise , executar a pe nas algu ns gestoselementares; po r ou tro lado, co m bas e nos princ pios taylons tas , a me -caniz ao doprocesso de trabalho, um verdadei ro siste ma demquinas qu e garante a unidad e (a recomposio) do pro-cesso de trabalho parce lado , ditando a cada o pe r rio seusgestos e sua cad ncia (se ndo sempre a cade ia de montagema forma extre ma desse princ pio) . o que posterio rme nteser de no minado "ford ismo", tendo sido He nry Fo rd o pri-meiro a introd uzir, a partir de 1913, uma cade ia de mon tagemem suas ind strias au to mobil sticas de Det ro t.

    Para o ca pital, po r um lado , trata-se de se aprop riar do as-pecto intelectual do trabalbo operrio, do saber e da ha bilidadeat en to requeridos pe la manip ulao da ferramenta ou mesmoda mqui na, q ue o o pe rrio de ofcio possu a e ass umia co mo rgulho e nos quais ele se ap oiava pa ra co ntesta r o co mandoca pita lista so bre o proce sso de traba lho . No tay lo risrno e nolo rd ismo . ao co ntrrio , o sabe r e a habi lida de oper rios tende ma se r monopolizados pel o stajJadmi nistrativo ou at mesmo a se rdiretamente incor porad o s ao sistema de mq uinas , provocando

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  • a expropriao dos o perrios em relao ao domnio do processode tra ba lho e uma maior de pendncia em relao organizaocap ita lista do trabalho / _

    Os operrios de ofcio no se deixaram engana r com isso ,lutaram pa sso a passo contra a int roduo desses princpios deorgan izao do proce sso de trabalho . Fo i pr eciso es pe rar ass itua es de exceo engendradas pela Prim eira Guerra Mun-dial (permitindo a ce ntra lizao do co mando capita lista, a mi-litarizao da s ind strias de arma me nto , o apelo mo-de-obrafemin ina ao f!l esm o tempo menos qu alificada e menos com-bativa), ass im co mo as pe rdas das ofensivas operrias logo apsa guerra , para que esses mtodos de o rganizao d o tra balh opudessem generalizar-se durante a d cada de 20. Foi ento con-tornando o movimento operrio da Belle Epoque, estruturadoem to rno da figura do o per rio de o fcio, ap elan do para umneo prolet ari ado de mu lhe res, de tra ba lhadores ru rais e de imi-grantes qu e o taylor ismo e, de modo mais amplo, o fordismopuderam ser intr odu zidos.

    E essa consolidao da dominao do capital sobre o proces-so de trabalho vai pe rmitir, por outro lado , a intensificao da ex-plorao da fora de trabalho operria. A parcelizao do traba-lho ope rrio permite au mentar a dest reza de cada operrio, suahabilidade na execuo de alguns gestos elementares, mas tam-bm reduz o "tempo morto"; em resumo, aumenta a intensidadedo traba lho. Quanto mecaniza o fordista do trabalho, acentuatambm esses,efe itos, mas seu objetivo especfico aumenta r aprodutividade do traba lho operrio propriamente dito .

    Assim se instalam progressivamente as co ndies de um novoregime de acumulao do capita l. O regime anterior e ra de ca-racterstica don\inante extensiva, ba seado essencialmente nafo rmao da mais-valia absoluta: na ext rao do trabalho exce-dente pel o simples prolongamento da du rao do trabalho almdo tempo de traba lho necessr io e pe lo aumento de sua inten-sidade . A ele sucede um regime com ca racte rstica domi na nteintensiva, prioritariamente orientad o para a fo rma o da mais-

    / valia relativa: o aumento do trabalho excedente pe la dim inuiodo tempo de trabalho ne cessrio rep rod uo da fora de tra-balho do proletari ad o , gra as ao aumento contn uo da pro-du tiyjdade mdia do traba lho social.

    ( Mas esse novo regime de acumulao intensiva"do capita l,baseado na busca e obteno incessant es de novos ga nhos de

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    produt ividade , iria se chocar ime diatam ent e co m um enormeobstcu lo . Por definio, ele tende de fato :

    .. por um lado , a inchar a demanda de meios de produo,pela converso de uma massa crescente de mais-valia em ca-pital constante (e especia lme nte fixo: mquinas, instalaes,etc.) adic iona l, nic o meio para aumentar a produtividade dotrabalh o; por outro , a lim itar a demanda de meios de consumo (es-pecialme nte de meios de co nsumo essenciais ) em relao capacidade de produo que se a.cumula nesse se tor.

    Em ou tras palavras, a acumulao co m ca racterstica domi-nante inte nsiva tende a dese nvolver as fo ras produ tivas dasociedade sem levar em conta as p ropores a serem resp era-das entre os diferent es ramos da produo social, nem tampou coa capacidade tota l de co nsumo da soc iedade: de manda solven te.Ela co rre pe rma ne ntemente o risco de desembocar em uma cri-se de superproduo , de vido a uma insuficincia de meios de ga-rantir a venda de produ tos.,1

    E foi exatame nte o que -aconteceu nos anos 20. No curso des-sa dcada, co m baseem uma primeira o nda de taylorizao e demecanizao fordista , a produtividade do trabalho cresce emritmo extraordinrio, em uma mdia de 6% ao ano nas econ omiascapitalistas ocid entais (principalmente nos Estados Unidos), rom-pendo com o fraco crescimen to da o rdem de 2% que co nheceraat ento . Mas, simultaneamente , po r sua vez , os sa lrios ope-rrios co ntinuam a crescer em md ia apenas 2%, seguindo a lon gatendncia iniciada em meados do sculo XIX. Nessas condies,os lucros pode m ating ir picos hist ricos (da ordem de 30% a35%), levando a um "boom espec ulativo" sem precedentes en-tre 1926 e 1929. Esses "anos loucos" iriam desembocar, entretanto,inevitavelmente no crash de 1929-1930, expresso direta noplano financeiro da cresc ente distoro entre as capacidades deprodu o acumulad as e a de manda so lvente , que ess a p rimeiratentativa de um regim e com carac te rstica dominante intensivano so ubera desenvolver proporcionalmente.

    A crise dos anos trinta marca , ento, os lin-- tes da o nda deac umulao co m ca racterstica dominante intensiva da dcadade vinte . Esta , em ltima anlise , fo i bloqueada pela taxa de ex -plorao demasiadamente elevada que a tornara possvel: porum crescimento dos sal rios reais insuficien te para equ ilib rar a

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  • acumu lao do ca p ital poss ibi litada pelo cresc ime nto abusivodos lucros .

    Assim , essa crise, que ia se estend er funda me ntalme nte atlogo aps a Segunda Guerra Mundial, colocava bem em evidnciaqu e um regime de acumu lao como aquele s vivel co m aco nd io expressa de que o crescime nto dos lucros possibilita-do pelos ga nhos de produtividade se ja acompanhado de um cres-cime nto p roporcional dos salrios reais (p ortanto do "poder deco mp ra" dos assalariados); em outras pal avras, com a condiode que os ganhos de produtividade se dividam "eqitativa men-te "entre 'salrios e lucros."

    Foi o que logo compree nde ram os cap ita listas modernista s ,e ntre os quais Hemy Pord, que no hesitou em pa ssar O salriodirio de seus ope rrios de 3 para 5 dlares ao mesmo tempo emqu e introduzia, por outro lado , o trabalho e m cade ia; segundarazo de ligar se u nome a esse regime de acumula o. Mas , nocontexto poltico e ideo lgico da d cad a de vinte , isso significavap regar no deserto .

    Para pressionar a classe dominante e co nve nc-Ia a adotar odispositivo instucional suscetvel de garantir a diviso dos gan-hos de produ tividade en tre salrios c lucros, nico meio de regu-lar o reg ime de acumulao com caracterstica dominante inten-s iva, foi preciso uma srie de fato res: a ter rvel experincia da"grande depresso" dos an os trinta; as lutas resolutas do pr oleta-riado pa ra imp or reformas da relao sa larial to essenc iais quantoa institui o de um salrio mnimo , a co nclus o de acordos cole-tivos, a introduo dos primeiros elementos de sa lrio indireto (se -guros sa de e ve lhice ); a vitria de foras polticas (o blo corooseveltiano nos Estad os Unidos, a so cial-democracia na Europase tent rional, a Frente Popular na Frana) suste ntadas eleitoralmentepelo p roletariado e capazes de impor refor mas de es trutura comoessas; o contexto de am pliao e de aprofundamento da dem ocra-cia po ltica ligada luta vitor iosa contra o fasc ismo; e nfim , os im-pe rat ivos eco nmicos e sociais da reconstruo do perod o ps -guerra , acompanhada de uma nova onda de lutas operrias.

    j So bre as co ntrad ies da acurnula o do capital que leva ram crise da d-cada de 30, cf R. BOYER, " La crise actuelle : une mse au paiol co perspectvehsto rtqu e" in Critiques de tconomiepo ittque. n. 7/ 8 , Paris, Masp ro . p. 31-42 ; e LORE NZI , PASTRE, TOL EDAN , La crise du X.\"" s icl e, Paris,Eco no rnlc a. 1980, p . 70-100.

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    A diviso dos ganhos de produtividade sup unha , de qualquerma neir a,p rofundas transformaes da relao salarial: ou se ja,das co ndies econmicas, sociais e jurdicas q ue regia m a tro-ca e o uso da fora de trabalho do p roletariad o no processo detrabalho e tambm sua re produo fora desse processo , Espe ci-ficamente , era preciso : J

    garanti r a todo operrio um salrio mn imo, corresponden-te a uma norma de co nsumo co nsiderada irredutvel; e sobre-tud o um crescimento dos salrios reais, por me io da indexaodo salrio nominal aos preos (instituio da "escala mvel desalrios") e levando em conta, implc ita ou explicitamente, osganhos de produtividade previstos na empresa, no ramo oumesmo em toda a econo mia nacional; o que significava am -pliar a norma de co nsumo do proletariado no ritmo do de-senvolvime nto da produtividade do trabalho social; instituir p rticas eprocedim entos de negocia o coletiva porramo s e em nvel nacional, chegando adoo de contratoscoletivos co m fora co nstrangedora para os age ntes econmi-cos indi viduai s (emp regadores e assa lariados) , de modo apermitir o controle pactuado (entre pa tro nato e sindicatos su-pervisionados pelo Estad o) da massa sa larial global; pa ra garantir a regu lao da acum ulao intensiva (a conti-nu idade de seu processo de circula o e, po rtanto , de seu pro-cesso de produo), instituirum salrio indireto (ou sa lriosoc ial) financiado por recolhim ent os ob rigatrios (impostos elou co tizaes sociais) ; o u se ja, um co njunto de bene ficiossociais (e m es pcie ou in natura), co loca ndo o ass alariado eos seus ao abrigo dos acasos naturais ou sociais da existncia(doena, invalidez, desemprego, velhice , sobrecargas ligad as ed ucao das crianas), garantindo-lhe a possibil idade derep rod uzir sua fora de trabalho (d e acordo com no rmas so -ciais determinadas ) e m todas as circunstncias.Assim, se , de um lado , colocar em prtica o modelo tc nico-

    organizacional da acumu lao intensiva supunha a aceita o peloproletar iado da dominao do ca pital sob re o processo de traba-lho (e de ma ne ira geral sobre toda a socie dade) , inversame nte ,3. reg ulao desse mesmo regime de ac umulao no s torna-','3. possvel , mas tambm necessria a satisfao de alguns de seusinteresses mais imediatos: aqueles ligados pre cisamente su a"seguridade social" no sentido em que a inte rpretam os ante rior-

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  • mente . Em outras pa lavras , a acumulao com carac te rsticadomi na nte intensiva s podia de senvolver sua dinmica de ex-panso cont~ua co m base no quadro institucional definido pel oco mpromisso entre bu rgues iae pro letariado , cu jos traos essen-ciais es boamos anteriormente.'

    3) A integrao do movimento operrioPor e la, entendemos o processo pelo qual o moviment o ope-

    rrio torna-se uma engrenagem do poder capitalista , inclusive emsua capacidade de se opor a e le e de limit-lo . O qu e significaque , ao mesmo tempo que est fundament almente subordinadoao co mando do capital, co nserva uma autono mia em relao aele. A integrao do movimento o pe rrio rep resenta assim umaest rutu ra o rigina l do pode r ca p ita lista , d ifere nte tanto de suaforma libera l clss ica (na qual o moviment o o per rio excludode qu alqu er pa rticipao da s estruturas de co mando do capita l)como de su as formas corpo rativistas, por exemplo, fascista oupopulista (nas quais o movimento operrio ce rtame nte integra-do a essa s est ru tu ras , mas p rivado de qualqu er auto nomia ,mesmo aparente).

    Um p rocesso como esse to rnou-se necessrio devido aoco mpromisso fordista e ao regime de acumulao intensiva docapital a que ele de u origem. De fato estes su punham:

    ~ qu e as organizaes co nst itutivas do movimen to ope rrio(pa rtidos, sindicatos, associaes) impusessem a negociaocoletiva como modo de so luo dos co nflitos de classe tan-to sua/base pro letria quanto classe dominante em suasdi, /ntes inst ncias de comando;

    4 Sem dvida, a regulao da acumulao com caracte rst ica dom inan te inten-siva, e co nseqentemente o fordismo co mo mod? de desenvolvimento docapita lismo , req uereram OUl, d S condies mpo nantes. entre as qua is pre-ciso ass ina lar a instituio da moeda de crd ito (co m o s iste ma bancr iocor res po nde nte) ; o papel regulador do Estado (no quad ro do qu e se te mma is ou men os imp ro p riame nte de no mi nado as po lticas keyne sianas) :enfim, a hegem onia ame ricana' gart.m undo um sistema monetrio inte rna cio-nal estvel (pelo me nos , at a segund a meta de da d cada de 60) . Mas , pormais impo rtantes que fo ssem, toda s es sas condies era m secund rias emrela o qu esto social que acabamos de definir C' cuja tnstuu to s o com-promisso en tre burgues ia e proletariado permitiu e ga rantiu .

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    ~ que essas organizaes se institu ssem, cada uma em se univel e em seu campo de atividade prpria , diant e dos capi-talistas ind ividua is, mas tambm diante de toda a classe ca-pita lista , enfim perante o Estado , co mo medi aes obrigat-rias em sua relao com o proletariado. O que imp licava aconquista de sua legitimidad e co mo med iadoras, e o reconhe-cime nto de seu papel pel os dive rsos protagonistas; q ue essas organizaes fossem assim progressivamente in-tegradas aos aparelhos de dominao do capital sobre o pro-letariado e sobre 'toda a sociedade (des de a empresa at o Es-tad o), tornando-se ve rdadeiros co-g estoras do process o glo-bal de reproduo do capital.

    Em certo sentido, uma integrao co mo essa no pd e se pro-duzir se m o apoio, mesmo que parcial e co ntraditrio, do prpriopro letariado. De fato, ela ter correspondido ao qu e poderamoschamar a "estra tgia de integra o" ma joritariamente adotad apelo proletariado ocidental no qu adro do co mpro misso ford ista ,q ue consistia basica mente em ampliar e apro fundar, por meio desuas lutas, o compromisso estabelecido co m a classe dom inan te.

    Inicialmente , pa ra ampliar se u campo de ap licao . No qua-d ro ge ral desse com promisso, foi nos seto res que se rviram demotor acumu lao intensiva

  • Mas , por o utro lado, atravs de sua integ rao, mo vime n-to ope rrio se ria progressivamen te trans for mado e m estrutu ramediadora do comando cio cap ital sobre o proletariado. Foi as-sim qu e , ao lo ngo de todo perodo fo rdista, as organizaes sin-dicais e polt icas te ntaram canal iza r a co nfl itualidade proletria,pro pondo-lhe e/ o u impondo-lhe objetivos e perspectivas com-patveis co m os termos do d ito co mpromisso, e co mbatendo vio-lentamente qualquer te ntativa de exploso do quadro desse com-p rom isso . Po r exemplo, as orga nizaes s ind ica is responderams lutas, que algum; elementos do pr oleta riad o oci dental conti-nuaram a co nduzir contra sua expropri ao crescente e m relaoao processo de trahalho , co m reivindicae s relati vas ao s sal-rios, cla ssificaes, ca rreiras , etc., tornando-se ass im aliadas, seno cmplices das direes cap italistas . Alm disso, o mov imentoope rrio no podia se integrar s estr utu ras de comando do ca -pital , se no co m a condio de provar sua capacidade de "e nqua-drar" o proleta riado.

    Assim , se em ce rto se ntido a integrao do movi me nto ope-rrio es tava de aco rdo com a estratg ia ma joritariamente seguidapelo 'p ro letariado oc idental dura nte a fase fo rdis ta , ao mes molcm ryo tra nsfo rmava suas organi zaes e m "c es d~ guarda" doca p ital, a pa rtir do mo me nto em que o pro let a ria do tenta varcdixcutir os te rmos do pr pr io compromisso fo rdista .

    A integra o do mo vimento oper rio inerente a esse co m-p ro misso e ra e nto um processo profundnmente cont raditrio.E essa co ntrad io vai fo rjar o destino' cio modelo soc ia l-demo-crata d o mo vime nto o pe rrio du rante esse p erodo : e m bo rate nh a mar cado seu apog eu , garantind o seu triunfo definitivo , ocompromisso e m questo marcari a tam b m se us limi tes, con-du zin do-o via do decl n io L , e m pa rte , at da d egen erao .

    A idia de que a co nqu ista do pod er de Estado permite , seno se liberar do jug o do ca pita lismo, pelo menos aliviar se upeso, s podia recebe r u m grande refo ro no contexto socio-ins titucio na l do fo rdismo. Assim, en co nt rava -se aparentementeco nfirmada e co nseq e m c me ruc refora da a legitimidade doestatismo co ns titutivo do p roje to e da estratgia do modelo so-cia l-democrata do movi me nto o pe rrio ,

    qu e o co mpro misso fordista torn ava necessria a passage m-de um Estado circunscrito, aparentem ente co locad o e m situacode exteri oridade em relac o ao livre "jogo" de mercado e da socie-dad e civil, simples garantia do respeito s regras desse "jogo" e r-

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    b tro dos confl itos que nele pudessem surgir, a um Estado inserido.qu e interviesse diretamente nesse "jogo" para definir suas regras.' Afinalidade gemi dessa interve no crescente do Estado, qu e teriaca racte rizado o pe rodo fordista, e ra apenas garantir o estabeleci-men to e a consolida o dos termos do compromisso. E com esseobjetivo que o Estado tomar-se- o verdadeiro mest re-de -obras doprocesso de reproduo do capital, encarregando-se de funes todiversas como estas: a produo de de terminados meios de produ-o (por exemplo, as infra-estruturas industriais ou a produo deene rgia) ou de consumo (os eq uipamentos e se rvios co letivos); areproduo da fora social de traba lho , ao ge rir o co njunto da rela-o salarial; a regulao da acumulao (p or suas polticas monet-ria e oramentria); enfim, a animao e o enquadrame nto pe rma-nentes do "dilogo social", esfora ndo-se para manter um "equil-hrio de compromisso " entre "parceiros soc iais".

    Nessas co nd ies, o exerccio do poder de Estado s podiapa recer aos dive rsos protagonista s do compromisso fordi sta omeio pri vilegiado de mudar se u rumo em direo a se us prpriosinteress es. E isso era ainda ma is certo pa ra o proletariado , poisos termos do co mpromisso tinham reforado sua depend nciap rt ica e id eol gi ca e m re la o ao Estado, fazendo d este oinstituidor e a ga rantia de sua "segurida de social", O esta tismonatural do movime nto oper rio de inspirao social-democratade via, ass im, necessariamente se r reforado co m os efei tos feti-chistas do Estado , que o comp romisso fo rdista no podia deixarde desenvolver em seu se io, ass im co mo no seio de sua prpriabase so cial.

    Simultaneame nte , as/armas de organiza o do proletariad opr prias do mode lo so cia l-democra ta do movimento oper rioencontrara m na int egrao deste ltimo as co ndies de se udese nvolvime nto pleno . O car te r pro priame nte es tratgico daco nquista e do exerccio do poder de Estado just ificava ao mes-mo te mp o a existnc ia de partidos polticos de massa , represen-[ando os interesses do mundo salaria l (m isturando o proletaria-do co m o staffadministrativo), suas p rticas legalistas (e le ito-ralisrno , parlamentar ism o, jurid icdade) c , po r fim, ev identemen-:e, sua preeminncia sobre as organizaes sind ica is.

    Tomo emprestado os con ce itos de Estado ctrcunscrttoe d e Estado inseridode A:"JDRE e R. nELOR--,~E , CHIai et l 'conomte. Paris, Le Seuil, 1983.

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  • Essas ltimas no foram entreta nto reduzidas mera so bre-vivncia pelo compromisso fordista . Muito pelo co ntrrio , ao ele -var a negociao co letiva condio de princpio institu cional,tanto no nvel de cada e mpresa como no nvel dos ramos pro-fiss io nais e me smo de toda a forma o naciona l, ele abria-lhesum campo de a tivida de co ns idervel. E da va ao mesmo tempo,aos operrios, um forte mo tivo para ader irem aos sind icatos c,de modo mais amplo , co locarem-se sob sua dependncia orga -ni zaciona l e ideolgica.

    Simultaneamente, o compromisso fordista ter acentuado osasp ec tos mais detestveis dessas o rganizaes, ao transforma r anego ciao e m fina lidade exclus iva de sua prt ica e "instru-mentalizando-as" como engrenagem do co mando capitalista sobreo proletariado. Assim, por supor uma centralizao da atividade sin-dica l em todos os nveis; porque , por defin io, so me nte os diri-ge ntes sindicais neg ociam; enfim, por implicar uma tecnicidade eum profissionalismo cada ve} ma iores dos negociadores (emmatria jurdica, co ntvel ou econmi ca), a prtica sistemtica danegociao s podia favo rece r as tendncias se pa rao entre abase e o topo inerentes a ess as o rganizaes, a crescente au tono-mia das direes e a conseqente reduo das iniciativas da base ,em sntese, a burocrat izao das organi zae s sindicais. Do mes-mo modo , a prtica de negociao necessariamente favo recia oco rporativismo, lima vez que tinha tendncia a se e fetua r empre-sa por empresa ou ramo a ramo .

    Q uanto sua integra o nos aparelhos das e mp resas ou nosa pa relhos de Estado , ge rindo a reproduo da fora de trabalh o(por exe mplo , os co mits da e mpresa ou os rgos de ass istn-cia social) , s podia dar lugar ao c/iente/ismo e, o qu e pio r, corrup o. Enquanto as orga nizaes se burocratizavam, os di-rige ntes no eram ma is co locados sob o co nt role d e sua base,ten d iam a se to rnar membros remune rados inamovve is dos s in-dicatos, e , co m isso, adquiriam interesses prprios di stintos dosde sua ba se .

    Enfim, nesse co ntexto socioins titucio na l, o s temas ideolgi-cos veiculados pelo modelo social-democrata do movime ntoope rrio encontraram assunto pa ra se alimenta re m. A sustenta-o da da a um crescimento incond iciona l e ilimitado das forasprodutivas (med ido pelo vo lume do PNB e pelos n d ices deprodutividade) co rria menos risco de ser contestada porqu e St:USfrutos era m mais a mplamente (s e no mais igu alit ari amente)

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    d ivididos. Por outro lad o , acaba mos de ve r que algumas co ndi -es favo rveis be neficiaram o culto do Estad o e das mediaespolticas em ge ral, dando a imp resso de qu e o "crescimento" doEstado garantia o crescim ento econmico e vice-versa. E esse du -plo cresciment9 pa recia co nstituir a imagem moderna do progres-so, associa do ao acesso ao bem-esta r mate rial, a um a reduo dasdesigualdad es fundada na redistribu io de renda , enfim garan-tia de assistnc ia soci al. Tamb m o economicismo , o estatismoe o re formismo evolucionista pud era m se desenvolve r von ta-de no movimento operrio ocide ntal durante toda a fase fordista.E, ao mesmo tempo, a ideolog ia veic ulada por esse ltimo noiria mai s se distingu ir essencialmente da ideologia dominante ,qu a ndo no se confun dia pura e simples me nte co m ela.

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  • Cap tulo IJI

    A "MASSI FI CA O " DOPROLETARIADO

    E nfado de se~ discurso, degene-ra o bu roc rtica de suas organizaes, evol uo de suas prti-cas de compromisso em direo ao compro metimento, co rrupode a lgu ns de seus dirigentes: se o co mpromisso fordsta assegu-rou, em certo sentido, o triunfo do modelo social-democrata domovim ento operrio , tambm precipitou se u declnio e criou al-gumas das co ndies de sua crise posterior. Particularme nte . eleo to rnou incapaz de se adaptar s novas for mas da luta do pr o-leta riado oc ide ntal que resultam do prprio fordi smo.

    1) As transformaes da condio proletria

    Atravs do mod elo de dese nvolvimento do capitalismo qu e eletomou possvel, o compromisso ford ista de fala transformou pro-fundame nte a prpria condio proletr ia em diversos aspectos.

    a) A parceliza o e a mecanizao do p rocesso de trabalhoalteraram profundamente a composio socioprofissional (ali "tc-nica") do proletariad o oc ide ntal: a antiga dupla formada pe lo

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  • contramestre e seu operrio no especializado substituda por

    uma naval formada pelo engenheiro ou tcnico(portanto, po r um

    me mbro do staf]adminis trat ivo) e pelo o pe rrio es pec ializado,

    o perrio desq ua lificad o , cu ja co mpetncia fo i red uzida, pelataylo-

    nza o , ao domnio de alguns gestos elementaresque definiam um

    "posto de trabalho" , O o perrio profissional,dotado de qualifica-

    o tcnica reduzida, no mais subsiste, senoa ttul o marginal

    (pa ra a manuteno ou reparo do sistema de mquinas)nas ind s-

    trias fo rd stas, ou se concentra seja acima dessas lt imas (nos se-

    tores que prod uzem os siste mas de mquinasabsorvidos po r elas) ,

    seja margem dessas indstrias (nos ramos ou setores emque os

    m todos fordistas no pude ram ser introduzidos) .

    O perodo fordista , ass im, ma rcado po r umdesdobramen-

    to da an tiga classe operria. d e um lado, a ca mada dos ope r-

    ri os qualificados, herde iros dos oper rios de ofcio, constituindo

    uma "aristoc racia o perria" po r ser a p rincipal benefici ria do

    compromisso fo rd ista, bem representada e bem defendida pe las

    organizaes sindicais das quais forma a base; de outro, O cont in-

    gente crescente dos operrios desqualificados, que suportam roda

    a carga do fordi smo na fbr ica, benefi ciam-semu ito pouco de

    suas vantagens fora da fbr ica, e so mal integrados nas orga-

    nizaes sindicais e mal defendidos por elas. Di viso que se agra-

    var ainda mais, qu ando combinada com diferenas de sexo ,

    idade, nacion alidade ou raa.Paralelamente, o fordismo estende as fron tei

    ras do proleta-

    riado alm dos limit es tradicionais da antiga classe operria, nela

    integrando bo m nmero dos empregados do comrcio e de es-

    critrio s, rapidamente prc lerarizados pela submisso diret a de

    uma parte do setor de servios dominao docapital elou pela

    in troduo ne sse setor dos mtodos ca p itali st as de tra ba lho

    ( pa rce liza o e me cani za o) .O conjunto desse processo levou a um enf raquecimento da

    funo socioecon mica do proleta rtado, uma vez que sua fora

    social de agente imed iato do p rocesso de trabalho, at ento ba -

    seada em sua fun o produtiva, fo i recolocadaem questo. Ain-

    da maisque essemesmoprocesso tend ia a d issolver as a ntigas iden-

    tidadesprofissionais. os of cios, constitu tivos de redes de sociali -

    zao e de sol idariedade em qu e se apoiavama organizao e a

    combatividade do conjunto da classe durante a fase anterio r.

    Nessas condies, a iden tidade ideolgica, aten to cons-

    tiruda em torn o da tica do trabalho e do amor ao ofcio, serv indo

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    tifO mediado ra para a identi ficao ao conjunto da classe, spodia

    'I 'f abalada. Para o operrio de ofcio , o trabalho podia consti -

    tuir a maior referncia e o maior valo r em torno dos quais se

    construa sua prpria represe ntao em suasrelaes co m os

    outros e com o mu ndo social. Isso no era mais o caso para o

    operrio especi alizado, para quem o trabalhoera simp lesmente

    11m "ganha-po", um "inferno" de onde o melhor era mesmo fugir

    Il ;l pri meira opor tun idade.b) Porm, mais que as transformaes do processo de trab

    a-

    lho, so as que afetaram o processo de consumo que vo modi-

    llcar a con di o proletria durante o perodo ford ista, com a in-

    h'gra o total do processo de consu mo doproletariado relao

    salari a l. O que impli cou ao mesmo tempo:

    o desaparecimento da produ o domstica no seio do pro-

    letariado, ainda importante na fase pr -fo rdsta, quando a

    faml ia pro letria deixa de ser defin iti vamenteuma unidade

    de produo (artesanal e agrcola) para tornar-seessencialmen-

    re uma unidade de consumo (mercantil) : a imposio de uma norma mdia de consumo

    , estru turada

    em torno