Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil...

147
INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO Universidade Técnica de Lisboa Agilidade e Lean Construction Metodologia de Planeamento e Controlo da Produção baseada na integração de práticas ágeis com a filosofia Lean Andreia Luisa Henriques Costa dos Santos Neves Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Júri Presidente: Professor Doutor António Heleno Domingues Moret Rodrigues Orientador: Professor Doutor Francisco José Loforte Teixeira Ribeiro Vogais: Professor Pedro Miguel Dias Vaz Paulo Outubro de 2010

Transcript of Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil...

Page 1: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO

Universidade Técnica de Lisboa

Agilidade e Lean Construction

Metodologia de Planeamento e Controlo da Produção baseada na

integração de práticas ágeis com a filosofia Lean

Andreia Luisa Henriques Costa dos Santos Neves

Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil

Júri

Presidente: Professor Doutor António Heleno Domingues Moret Rodrigues

Orientador: Professor Doutor Francisco José Loforte Teixeira Ribeiro

Vogais: Professor Pedro Miguel Dias Vaz Paulo

Outubro de 2010

Page 2: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

II

Page 3: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

III

Agradecimentos

Em primeiro lugar, apresento o meu agradecimento ao Professor Francisco Loforte Ribeiro pela

disponibilidade demonstrada na orientação desta dissertação de mestrado, por todo o

acompanhamento, sugestões e incentivo nas diversas etapas.

Agradeço à OPWAY Engenharia S.A. que tornou possível a realização deste trabalho e, em

particular, ao Eng. Alexandre Almeida pela disponibilidade no acompanhamento deste trabalho,

pelo apoio e cooperação oferecidos e pelas críticas e sugestões que constituíram um forte

contributo para a minha formação académica e profissional. Agradeço ainda a toda a equipa de

produção da obra Palácio Estoril Residências pela forma como me receberam, pela constante

boa disposição e pelas dicas profissionais.

Por fim, deixo o meu agradecimento à minha família pela compreensão, contribuição

inestimável e incentivo constante e a todos os amigos que de alguma forma deram o seu

contributo.

Page 4: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

IV

Resumo

A indústria da Construção insere-se num ambiente dinâmico que a tem desafiado a aumentar a

sua competitividade. O dinamismo dos projectos de Construção tem sido crescente, através do

aumento da complexidade, incerteza e necessidade de uma produção mais rápida e

económica.

O pensamento Lean nasceu como forma de minimizar o desperdício durante o processo de

produção, através da redução de actividades que não agregam valor ao produto final. A difusão

deste pensamento por diversas indústrias e o sucesso alcançado tornaram-no atractivo para os

investigadores na Construção. A implementação da filosofia Lean Construction tem vindo a

melhorar o desempenho dos projectos de Construção, sendo o Last Planner System a técnica

mais popular e bem sucedida.

Por outro lado, a necessidade que as empresas têm em lidar com a incerteza e as inesperadas

alterações na sua envolvente estimula a proficiência destas na adaptação à mudança. A

eficácia das empresas a responder à incerteza representa a sua Agilidade.

Uma produção Agile permite responder a um mercado turbulento e com constante mudança de

requisitos. Esta produção baseia-se no conceito de Agilidade, à semelhança dos Métodos

Ágeis. Os Métodos Ágeis surgiram pela vontade de melhorar a forma do desenvolvimento de

Software. Estes métodos são considerados ágeis por possibilitarem uma rápida resposta face a

uma mudança de requisitos.

A escolha recaíu sobre o método Scrum por este ser um método de gestão que pode ser

utilizado noutros projectos além dos de desenvolvimento de software. Este método apresenta

uma infra-estrutura de comunicação que fornece flexibilidade, velocidade e qualidade às

empresas para reagirem com eficácia e em coordenação com as mudanças na sua envolvente.

Neste trabalho foi dada especial atenção à melhoria do planeamento e do controlo da

produção. Desta forma, foi definida uma metodologia que permita investigar a integração da

Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à

melhoria do controlo da produção.

Palavras-chave: Lean Construction, Last Planner System, Agilidade, Scrum, planeamento e

controlo.

Page 5: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

V

Abstract

The construction industry is part of a dynamic environment which has been permanently

challenged to increase its competitiveness. The dynamism of construction projects has been

leveraged through increasing complexity, growing uncertainty and acelerating production rate.

The Lean philosophy was born as a way to minimise waste during the productive process and,

at the same time, maximise value. Lean Thinking has diffused itself throughout several

industries. The success of the results obtained has lately become attractive for construction

investigators. The implementation of the Lean Construction practices has been improving the

performance of construction projects, being Last Planner System the most popular and

successful technique.

On the other hand, the need that companies have to deal with uncertainty and unexpected

changes in the environment stimulates those companies’ profficiency in adapting to change. To

respond effectively to uncertainty, companies must understang Agility.

An Agile production process gives the knowledge necessary to respond to a turbulent market in

which the requisites keep constantly changing. Agile production is based on the concept of

Agility, as are the Agile Methods. The Agile Methods have emerged by the desire to improve the

software development process. These methods were considered agile by allowing a rapid

response to changing requirements.

From within the several Agile Methods, it was chosen the Scrum method. Although the Scrum

method was intended for management of software development it can be used as a general

project management approach. This method presents a communication infrastructure which

provides companies with flexibility, speed and quality, as well as the ability to react effectively

and in coordination with any changes in the environment.

In this paper, special attention was given to planning improvement and production control.

Hence, this work defines a methodology that permits to investigate the integration of Lean

Construction tools with practices from Scrum at a Portuguese construction site, having in sight

the improvement of production control.

Keywords: Lean Construction, Last Planner System, Agility, Scrum, planning and control.

Page 6: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

VI

Índice

1. Introdução .......................................................................................... 1

1.1. Justificação e Motivação ....................................................................... 1

1.2. Campo de aplicação do trabalho de investigação .............................. 2

1.3. Objectivos da investigação ................................................................... 2

1.4. Metodologia de investigação ................................................................ 3

1.5. Organização da dissertação ................................................................. 4

2. Revisão e recensão bibliográfica .................................................... 5

2.1. Introdução .............................................................................................. 5

2.2. Processo de Pesquisa Implementado .................................................. 6

2.3. Evolução do conhecimento e análise de informação relevante ........ 7

2.3.1. LEAN PRODUCTION .......................................................................................... 7

2.3.1.1. Os pilares da Lean Production ................................................................... 8

2.3.2. LEAN THINKING ............................................................................................... 8

2.3.3. LEAN CONSTRUCTION ...................................................................................... 9

2.3.4. APLICAÇÃO DA LEAN CONSTRUCTION ............................................................. 12

2.3.4.1. Implementação do Last Planner System.................................................. 13

2.3.4.2. Outras Ferramentas e Aplicações Lean ................................................... 17

2.3.4.3. Aplicação do Just-in-Time na Construção................................................ 17

2.3.5. A AGILIDADE ................................................................................................. 18

2.3.5.1. História e Motivação da Agilidade ............................................................ 18

2.3.5.2. A Produção Agile e as Produções em Massa, Flexível e Lean ................ 19

2.3.5.3. Agilidade e Produção Agile ...................................................................... 21

2.3.6. MÉTODOS ÁGEIS DE DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE .................................. 26

2.3.6.1. Definição e Origem .................................................................................. 26

2.3.6.2. Factores Críticos de Sucesso dos Métodos Ágeis ................................... 28

Page 7: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

VII

2.3.7. GESTÃO ÁGIL DE PROJECTOS ........................................................................ 29

2.3.7.1. Evolução do conceito de Métodos Ágeis para Gestão Ágil de Projecto ... 29

2.3.7.2. Definição, Valores e Princípios da Gestão Ágil de Projectos ................... 30

2.3.7.3. Gestão Clássica de Projectos e Gestão Ágil de Projectos ....................... 31

2.3.7.4. A Gestão Ágil de Projectos e as Produções Lean e Agile ........................ 32

2.3.8. OS CONCEITOS DE AGILIDADE E A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO ....................... 33

2.3.8.1. Comparação entre Sistemas de Informação e Indústria da Construção .. 33

2.3.8.2. Os Métodos Ágeis e a Indústria da Construção ....................................... 34

2.3.8.3. Aplicabilidade da Gestão Ágil de Projectos na Construção ...................... 34

2.4. Conclusão ............................................................................................. 36

3. Caso de Estudo ............................................................................... 38

3.1. Introdução ............................................................................................ 38

3.2. Metodologia de recolha de dados ...................................................... 38

3.2.1. ANÁLISE DOCUMENTAL .................................................................................. 39

3.2.2. OBSERVAÇÃO DIRECTA .................................................................................. 39

3.2.3. INQUÉRITO ..................................................................................................... 39

3.2.3.1. Perfil dos Inquiridos ................................................................................. 39

3.2.3.2. Estrutura do inquérito .............................................................................. 40

3.2.3.3. Tipologia das perguntas .......................................................................... 41

3.2.3.4. Amostragem e limitações ........................................................................ 41

3.3. Descrição de Caso de Estudo ............................................................. 41

3.3.1. PALÁCIO ESTORIL RESIDÊNCIAS ..................................................................... 41

3.3.2. CARACTERIZAÇÃO DOS INQUIRIDOS ................................................................ 43

3.4. Análise e interpretação de dados ....................................................... 44

3.4.1. PLANEAMENTO / ESTRATÉGIA ........................................................................ 44

3.4.2. CADEIA DE PRODUÇÃO .................................................................................. 48

3.4.3. GESTÃO DA CONSTRUÇÃO / LEAN CONSTRUCTION .......................................... 52

3.4.4. AGILIDADE .................................................................................................... 53

Page 8: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

VIII

3.5. Conclusões ........................................................................................... 55

4. Metodologia proposta ..................................................................... 58

4.1. Introdução ............................................................................................ 58

4.2. Bases teóricas da metodologia .......................................................... 59

4.2.1. GESTÃO CLÁSSICA DE PROJECTOS E GESTÃO ÁGIL DE PROJECTOS ................ 59

4.2.2. LEAN CONSTRUCTION E MÉTODO SCRUM........................................................ 64

4.2.2.1. Planeamento ........................................................................................... 65

4.2.2.2. Monitorização e Controlo ......................................................................... 67

4.3. Justificação da implementação da metodologia ............................... 69

4.4. Descrição .............................................................................................. 69

4.4.1. PLANEAMENTO .............................................................................................. 72

4.4.1.1. Planeamento de médio prazo .................................................................. 72

4.4.2. MÉTODO ÁGIL SCRUM .................................................................................... 74

4.4.3. BREVE DESCRIÇÃO DO MÉTODO SCRUM .......................................................... 74

4.4.3.1. Ciclo do Scrum ........................................................................................ 75

4.4.3.2. Scrum Framework ................................................................................... 76

a. Artefactos do Scrum .......................................................................... 77

b. Papéis no Scrum................................................................................ 79

c. Reuniões no Scrum ............................................................................ 80

4.4.4. CONTROLO .................................................................................................... 82

4.4.4.1. Medição TMR e PPC ............................................................................... 82

4.4.4.2. Impedimentos e causas de não-conclusão .............................................. 83

4.4.4.3. Melhoria contínua .................................................................................... 83

4.4.5. RESUMO DA METODOLOGIA ............................................................................ 83

4.5. Implementação e Controlo .................................................................. 84

4.5.1. DIFICULDADES E OPORTUNIDADES ................................................................. 84

4.6. Conclusão ............................................................................................. 85

5. Aplicação da Metodologia proposta .............................................. 87

Page 9: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

IX

5.1. Introdução ............................................................................................ 87

5.2. Aplicação da Metodologia ................................................................... 87

5.2.1. SELECÇÃO DOS TRABALHOS A SEREM ACOMPANHADOS .................................. 87

5.2.2. DESCRIÇÃO DOS TRABALHOS ......................................................................... 87

5.2.3. PLANEAMENTO DE LONGO PRAZO ................................................................... 88

5.2.4. PLANEAMENTO DE MÉDIO PRAZO .................................................................... 92

5.2.5. ACOMPANHAMENTO DO PLANEAMENTO DE MÉDIO PRAZO ................................. 95

5.2.6. DESENVOLVIMENTO DE ITERAÇÕES ................................................................. 96

5.2.7. ACOMPANHAMENTO DO DESENVOLVIMENTO DO SPRINT ................................... 98

5.3. Conclusões ........................................................................................... 99

6. Conclusões .................................................................................... 101

6.1. Introdução .......................................................................................... 101

6.2. Conclusões ......................................................................................... 101

6.3. Avaliação da realização dos objectivos da dissertação ................. 103

6.4. Contribuições para o conhecimento e indústria ............................. 104

6.5. Limitações .......................................................................................... 105

6.6. Trabalhos Futuros ............................................................................. 106

Referências bibliográficas .......................................................................... 108

Page 10: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

X

Índice de Quadros

Quadro 2.1 – Sete tipos de desperdício (Marques, 2007). ......................................................... 10

Quadro 2.2 – Princípios para a gestão de processos (Koskela, 1992). ..................................... 11

Quadro 2.3 – Obstáculos a ultrapassar para obter um melhor planeamento (Ballard, 1994). ... 12

Quadro 2.4 – Principais funções do planeamento de médio prazo (Ballard, 2000). .................. 16

Quadro 2.5 – Requisitos para adjudicar actividades com qualidade (Ballard, 2000). ................ 16

Quadro 2.6 – Diferenças chave entre as produções em massa, Lean e Agile (Sharp et al., 1999)............... ............................................................................................................................ 20

Quadro 2.7 – Diferenças conceptuais entre as produções em massa, Lean e Agile (Sharp et al., 1999)............... ............................................................................................................................ 20

Quadro 2.8 – Distinção entre as produções Lean, Flexível e Agile (Ganguly et al., 2009). ....... 21

Quadro 2.9 – Descrição dos principais elementos do modelo de produção Agile (Sharifi e Zhang, 1999)... ............................................................................................................................ 25

Quadro 2.10 – Princípios dos Métodos Ágeis (Agile Alliance, 2001). ......................................... 27

Quadro 2.11 – Comparação entre Gestão Clássica e a Gestão Ágil de Projectos (Dias, 2005)............... ............................................................................................................................ 32

Quadro 2.12 – Comparação entre a Lean Construction e a Gestão Ágil de Projectos (Owen et al., 2006)...................................................................................................................................... 33

Quadro 3.1 – Caracterização dos inquiridos. .............................................................................. 44

Quadro 3.2 – Importância do desperdício. .................................................................................. 50

Quadro 3.3 - Motivos para a ocorrência de desperdício. ............................................................ 50

Quadro 3.4 - Classificação em termos de utilidade das várias práticas consideradas como meios para implementar Agilidade. ............................................................................................. 54

Quadro 4.1 – Características das metodologias da Gestão Clássica de Projectos. .................. 59

Quadro 4.2 - Práticas da fase de planeamento das abordagens ágeis (adaptado de Dias, 2005)............... ............................................................................................................................ 61

Quadro 4.3 – Prática da fase de monitorização e controlo da Gestão Ágil (adaptado de Dias, 2005)............... ............................................................................................................................ 63

Quadro 4.4 - Resumo descritivo dos artefactos do Scrum. ........................................................ 79

Quadro 4.5 - Resumo descritivo dos papéis desempenhados no Scrum. .................................. 80

Quadro 4.6 – Questões colocadas na reunião Scrum Meeting. ................................................. 81

Quadro 4.7 - Resumo descritivo das reuniões do método Scrum. ............................................. 82

Quadro 4.8 – Resumo das ferramentas utilizadas na metodologia. ........................................... 84

Page 11: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

XI

Quadro 5.1 – Lista das actividades nas varandas das fracções, para o período de aplicação definido............. ........................................................................................................................... 87

Quadro 5.2 - Lista de actividades principais do interior das fracções, para o período de aplicação definido. ....................................................................................................................... 88

Quadro 5.3 – Lista de Actividades da 1ª quinzena do PMP (12 a 25 de Julho de 2010). .......... 93

Quadro 5.4 – Actividades da 1ª quinzena do PMP, prontas para execução aquando da sua data de início........... ............................................................................................................................ 94

Quadro 5.5 - Actividades da 1ª quinzena do PMP, com início restringido.................................. 94

Quadro 5.6 – Actividades por iniciar precedentes às actividades não disponíveis da 1ª quinzena do PMP............ ............................................................................................................................ 95

Quadro 5.7 – Lista de actividades disponíveis para iniciar entre 12 a 25 de Julho de 2010. ..... 97

Quadro 5.8 – Quadro de Acompanhamento da Iteração de 12 a 25 de Julho de 2010. ............ 98

Page 12: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

XII

Índice de Figuras

Figura 1.1 – Fases da metodologia de investigação..................................................................... 3

Figura 2.1 - Cinco princípios do pensamento Lean (Womack e Jones, 2003) ............................. 9

Figura 2.2 - Estratégias e dificuldades para a implementação do LPS (Alarcón et al., 2002).... 13

Figura 2.3 – Sistema de Planeamento Clássica (Ballard, 2000) ............................................... 14

Figura 2.4 – Processo Last Planner (Ballard, 2000) ................................................................... 15

Figura 2.5 – Conceitos nucleares da produção Agile (Yusuf et al., 1999) .................................. 22

Figura 2.6 – Desenvolvimento de um sistema de produção Agile (Gunasekaran, 1999)........... 22

Figura 2.7 - Modelo conceptual da produção Agile de Vázquez-Bustelo (Vázquez-Bustelo e Avella, 2006)............ ................................................................................................................... 23

Figura 2.8 - Visão da Agilidade como uma capacidade organizacional (Kettunen, 2009). ........ 24

Figura 2.9 – Agilidade nas diferentes áreas da competência empresarial (Kettunen, 2009). .... 24

Figura 2.10 – Modelo conceptual de produção Agile (Sharifi e Zhang, 1999) ............................ 25

Figura 2.11 – Manifesto para o Desenvolvimento Ágil de Software. .......................................... 26

Figura 2.12 - Permissa base dos Métodos Ágeis de Desenvolvimento de Software e os benefícios preconizados por esses métodos (Highsmith, 2007; Schwaber, 2007 retirado de Kettunen, 2009b). ........................................................................................................................ 28

Figura 2.13 – Relação entre as plataformas de Gestão Clássica de Projectos e a Gestão Ágil de Projectos (Chin, 2004). ........................................................................................................... 29

Figura 2.14 – Quatro valores centrais da Gestão Ágil de Projectos. .......................................... 30

Figura 2.15 – Princípios da Gestão Ágil de Projecto (Dias, 2005). ............................................. 31

Figura 3.1 – Esquema das questões abordadas na ficha de inquérito. ...................................... 40

Figura 3.2 – Imagem de satélite da localização do Estaleiro da Empreitada do Palácio Estoril Residências (via Google maps). ................................................................................................. 42

Figura 3.3 – Organograma da Empreitada de Construção do Palácio Estoril Residências. ...... 43

Figura 3.4 – Experiência profissional da amostra considerada. ................................................. 44

Figura 3.5 – Resultado percentual das respostas dadas acerca da importância do planeamento........ ........................................................................................................................ 45

Figura 3.6 – Resultado percentual das respostas relacionadas com a satisfação dos inquiridos acerca do planeamento. .............................................................................................................. 46

Figura 3.7 – Percentagem de respostas acerca a possibilidade de melhoria do processo de planeamento... ............................................................................................................................. 46

Figura 3.8 – Intervalos percentuais como opção de resposta à percentagem média de não cumprimento do planeamento a cada data de controlo. ............................................................. 47

Page 13: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

XIII

Figura 3.9 - Resumo da informação que se pretendeu adquirir com o inquérito acerca do desperdício na cadeia de produção na Construção. .................................................................. 48

Figura 3.10 – Resultados acerca do impacto do desperdício na cadeia de produção nos termos apresentados.. ............................................................................................................................. 49

Figura 3.11 – Classificação em intervalos percentuais para a estimativa para o peso do desperdício...... ............................................................................................................................ 51

Figura 3.12 – Aspectos fundamentais para a melhoria da cadeia de produção. ........................ 51

Figura 3.13 – Resultados das respostas acerca dos factores de sucesso de um projecto. ....... 52

Figura 4.1 – Comparação entre as fases de planeamento da Gestão Clássica de Projectos e da Gestão Ágil de projectos. ............................................................................................................ 61

Figura 4.2 – Comparação entre a fase de monitorização e controlo da Gestão Clássica de Projectos e da Gestão Ágil de projectos. .................................................................................... 62

Figura 4.3 – Equilíbrio entre antecipação e adaptação de tarefas. ............................................ 63

Figura 4.4 – Protecção da produção dos efeito da incerteza nos inputs (adaptado de Hamzeh et al. 2007)....................................................................................................................................... 65

Figura 4.5 - Metodologia para o planeamento e controlo da Construção. .................................. 70

Figura 4.6 – Estrutura geral da metodologia. .............................................................................. 71

Figura 4.7 – Realce do procedimento do planeamento de médio prazo (Lookahead) do processo Last Planner. ................................................................................................................ 72

Figura 4.8 – Funcionamento do planeamento de médio prazo segundo o modelo Last Planner............ ............................................................................................................................ 73

Figura 4.9 - Quadro com o estado das actividades do plano de médio prazo. .......................... 73

Figura 4.10 – Ciclo do Scrum. ..................................................................................................... 75

Figura 4.11 – Escolha das tarefas do Product Backlog para o Sprint. ....................................... 76

Figura 4.12 – Framework do Scrum. ........................................................................................... 77

Figura 4.13 – Constituição do Product Backlog do método Scrum. ........................................... 77

Figura 4.14 – Processos do Scrum até ao Sprint. ...................................................................... 78

Figura 4.15 – Quadro de acompanhamento das tarefas do Sprint. ............................................ 78

Figura 4.16 – Aparência do quadro Scrum em três momentos do Sprint (início, meio e fim). ... 78

Figura 4.17 – Fluxo das reuniões do Scrum. .............................................................................. 81

Figura 4.18 – Ciclo PDCA. .......................................................................................................... 83

Figura 5.1 – Planeamento da fracção E, retirado do MS Project. ............................................... 89

Figura 5.2 – Planeamento da fracção D, retirado do MS Project. .............................................. 90

Figura 5.3 – Planeamento da fracção AD, retirado do MS Project. ............................................ 91

Page 14: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

XIV

Figura 5.4 – Pormenor do atraso na conclusão das actividades do planeamento das fracções, retirado do MS Project. ................................................................................................................ 91

Figura 5.5 – Amostra do planeamento geral das actividades no MS Project, com início entre 12 e 25 de Julho de 2010. ................................................................................................................ 92

Figura 5.6 – Início da aplicação do planeamento de médio prazo. ............................................ 95

Figura 5.7 – Progresso da calendarização do planeamento de médio prazo. ........................... 96

Page 15: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

XV

Lista de Abreviaturas

APM – Agile Project Management

ASD – Adaptive software development

CPM – Critical path method

DSDM – Dynamic systems development method

FDD – Feature-driven development

FIFO – First in, first out

GAP – Gestão Ágil de Projectos

IGLC – International group for lean construction

JIT – Just in time

LCI – Lean construction institute

LPDS – Lean project delivery system

LPS – last planner system

MS Excel - Microsoft Office Excel

MS Project – Microsoft Office Project

PDCA – Plan, do, check, act (Planear, executar, verificar, agir)

PERT – Program evaluation and review technique

PIB – Produto interno bruto

PMI – Project management institute

PMP – Planeamento de médio prazo

PPC – Percentage plan complete (percentagem de plano concluído)

SMED – Single minute exchange of dies

TMR – Tasks made ready (Tarefas prontas para execução)

TPM – Total preventive maintenance

TPS – Toyota Production System

TQM – Total quality management

WBS – Work breakdown structure

WWP – Weekly work plan

XP – Extreme programming

Page 16: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

1

CAPÍTULO 1

1. Introdução

1.1. Justificação e Motivação

A indústria da Construção tem um papel com grande destaque na economia nacional, à

semelhança do que acontece a nível mundial, tanto pela sua representatividade no PIB

nacional como pela criação de emprego. Por outro lado, a Construção é uma das indústrias

cuja economia se revela bastante vulnerável às variações do mercado interno.

A indústria da Construção insere-se num ambiente de negócio em mudança, no qual a

competição assume o papel principal. Esta elevada competitividade associada à crescente

redução das margens de lucro e crescente exigência dos clientes, conduz à procura de

melhores resultados em termos de custos, prazos e qualidade do produto final. Desta forma, a

capacidade de inovação e adaptação das empresas não é considerada uma opção mas uma

condição essencial à sua sobrevivência e crescimento (Marques, 2007).

A indústria da Construção tem sido alvo de análise e tem recebido críticas em relação aos seus

inúmeros problemas, nomeadamente, a falta de rendimento da produção (Porwal et al., 2010).

É necessário encontrar formas de reduzir o desperdício, os atrasos e o desvio de custos e

deixar de encarar estes acontecimentos como uma fatalidade (Matias e Cachadinha, 2010).

Assim, as empresas têm vindo a ser estimuladas na procura das melhores soluções. Em

Portugal, a adopção de tecnologias de produção para a melhoria da qualidade na Construção

ainda continua pouco difundida, apesar destas já serem investigadas e aplicadas em vários

países.

Os dois factores fundamentais nas empresas de Construção, que exercem forte influência no

êxito de qualquer empreendimento, relacionam-se com o planeamento e o controlo da

produção. A necessidade de aplicação de novas ferramentas para o planeamento e o

acompanhamento de obra, que visem o controlo de perdas no processo de produção, revela-se

como uma oportunidade para a aplicação da filosofia Lean Construction. Esta filosofia resulta

da aplicação do pensamento Lean na Construção.

A Lean Construction confere maior flexibilidade ao planeamento e permite reduzir a

variabilidade. À medida que o prazo de execução das tarefas se aproxima, aumenta o detalhe

do seu planeamento, o que permite reduzir o impacto da incerteza associada. Contudo, devido

às inesperadas modificações e alterações introduzidas pelo cliente da obra ou outras empresas

envolvida no projecto, existe a necessidade de melhorar a aptidão do planeamento às mesmas.

Page 17: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 1

2

O aumento do desempenho do planeamento implica rapidez na tomada de decisão. Os planos

de actividades são desenvolvidos com colaboração regular entre os clientes e todos os

envolvidos. Perante o aparecimento de alterações ao plano do projecto, dá-se prioridade às

decisões que solucionem essas alterações em detrimento do seguimento indiscriminado desse

plano. Numa metodologia de Gestão Ágil, à semelhança do que acontece nos processos

clássicos, o planeamento é considerado como uma ferramenta útil para o projecto. No entanto,

deve ser reconhecida a aptidão do planeamento para ser alterado, pois numa metodologia de

Gestão Ágil há flexibilidade e adaptabilidade às necessidades emergentes. A necessidade de

melhorar o processo de produção, no que respeita à Agilidade da cadeia de produção, revela-

se como uma oportunidade para a introdução do método Scrum.

A indústria da Construção apresenta características singulares e distintas de outras indústrias.

As suas peculiaridades associadas à grande inércia dos seus intervenientes e à falta de

abertura para a mudança de cultura laboral e aferição de novas práticas de trabalho dificultam

a introdução de inovações. Outra contribuição para a falta de inovação em Portugal, consiste

na escassez de dados relativos à análise de casos anteriores e, consequentemente, baixa

aprendizagem (Matias e Cachadinha, 2010).

1.2. Campo de aplicação do trabalho de investigação

O foco deste trabalho de investigação incide sobre o planeamento e o controlo da produção na

Construção, e é direccionado para os colaboradores com funções de gestão de

empreendimentos e obras. Estes profissionais têm um papel preponderante na introdução de

inovações nas empresas de Construção.

1.3. Objectivos da investigação

A presente dissertação tem como objectivo principal a avaliação do impacto da aplicação de

práticas de Métodos Ágeis de Desenvolvimento de Software e da Lean Construction, na cadeia

de produção e controlo de uma obra de construção civil corrente. Em particular, este estudo

debruça-se sobre a:

Pesquisa, revisão e recensão bibliográfica do tema Lean Construction e do conhecimento

actual acerca do conceito de Agilidade, Gestão Ágil e Métodos Ágeis, salientando o

método Scrum como Método Ágil de Desenvolvimento de Software.

Caracterização do estado de arte na OPWAY Engenharia, S.A., através do diagnóstico da

empreitada em estudo.

Elaboração de proposta de uma Metodologia, que considere uma integração dos

princípios e ferramentas Lean Construction com a introdução de princípios da Agilidade e

práticas do Método Ágil Scrum, tendo em vista a melhoria do controlo de produção.

Aplicação da Metodologia proposta em obra.

Page 18: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 1

3

1.4. Metodologia de investigação

A metodologia utilizada nesta investigação baseou-se na pesquisa pela acção e caso de

estudo e, pode ser tripartida em diferentes fases, representadas na Figura 1.1.

1ª Fase

Pesquisa, revisão e

recensão bibliográfica

Metodologia de investigação

2ª Fase

Estudo do caso

3ª Fase

Desenvolvimento e

aplicação da

metodologia

Figura 1.1 – Fases da metodologia de investigação.

A aplicação desta metodologia de investigação pretendeu a concretização da análise teórica

numa aplicação prática. Com a integação da investigadora numa empresa de Construção foi

possível o reconhecimento das problemáticas desta. Posteriormente, foram desenvolvidos

objectivos que fossem ao encontro das problemáticas encontradas.

A primeira fase da metodologia de investigação consistiu na pesquisa, revisão e recensão

bibliográfica, com incidência nos temas Lean Production, Lean Construction, Agilidade,

Métodos Ágeis de desenvolvimento de Software e Gestão Ágil de Projectos. No que respeita

aos dois primeiros temas, a informação foi recolhida de publicações e relatórios sobre Lean

Construction, em especial os publicados nas conferências anuais do International Group for

Lean Construction (IGLC) e os produzidos pelo Lean Construction Institute (LCI). Além disso,

também foi feita a pesquisa de todos os temas referidos em artigos científicos, dissertações de

mestrado, teses de doutoramento e alguns livros. Esta primeira fase permitiu criar uma base

sólida de definição do problema e fundamentação das técnicas utilizadas no desenvolvimento

do trabalho.

Na segunda fase da metodologia elaborou-se o diagnóstico do caso de estudo relativamente à

filosofia Lean e às práticas ágeis. Este diagnóstico foi feito através de um inquérito estruturado

e dirigido aos intervenientes no caso de estudo, observação directa e análise de documentos

da empresa.

Na terceira fase foi desenvolvida a formulação da metodologia de planeamento e controlo da

produção, baseada no caso de estudo e com base na informação recolhida na fase anterior.

Posteriormente, procedeu-se à aplicação da metodologia proposta na obra em estudo.

Page 19: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 1

4

1.5. Organização da dissertação

Em termos de organização, a dissertação foi estruturada em seis capítulos, de modo a

estabelecer um encadeamento lógico da investigação efectuada. A abordagem de cada

capítulo é exposta nos seguintes pontos:

Capítulo 1

No capítulo 1 é feita uma introdução da problemática da dissertação e são apresentados o

campo de aplicação, os objectivos e a descrição da metodologia de investigação utilizada.

Capítulo 2

O capítulo 2 consiste na revisão e recensão bibliográfica referente à filosofia Lean

Construction, ao conceito de Agilidade e aos Métodos Àgeis. Este capítulo integra o

enquadramento teórico dos temas, uma exposição dos fundamentos teóricos, a descrição da

evolução do conhecimento e as principais aplicações até à data actual, que serviram de base

ao desenvolvimento da aplicação prática.

Capítulo 3

No capítulo 3 é desenvolvida a caracterização do caso de estudo, através da recolha e análise

de dados por meio de inquérito aos participantes da empreitada. É realizada uma interpretação

dos dados e são expostas as conclusões baseadas na informação obtida.

Capítulo 4

O capítulo 4 descreve a proposta de uma metodologia de planeamento e controlo da produção

na Construção, em coerência com a filosofia Lean e com um método de gestão ágil, designado

por Scrum. São explicados os critérios base que estruturam a metodologia, as características

fundamentais e o modo de funcionamento.

Capitulo 5

No capítulo 5 procede-se à aplicação da metodologia proposta, tendo como base um caso de

estudo. É apresentada e analisada esta aplicação e são registadas as conclusões acerca da

mesma.

Capítulo 6

No capítulo 6 são apresentadas as principais conclusões sobre as disposições enunciadas nos

capítulos antecedentes, avaliados os objectivos e expostas as limitações do estudo. Também

são apontadas algumas recomendações para trabalhos futuros, que possibilitem colmatar as

lacunas da implementação da metodologia proposta ou outras complementares a esta.

Page 20: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

5

Capítulo 2

2. Revisão e recensão bibliográfica

2.1. Introdução

O pensamento Lean consiste numa filosofia de gestão que assenta na definição de valor para o

cliente, na melhoria da sequência dos processos e na criação de um fluxo de valor contínuo

(Gonçalves, 2009). Pretende promover a eliminação de desperdício, entendido não só como

perdas de material mas também como actividade humana que absorve recursos sem criação

de valor.

A aplicação do Lean Thinking na Construção originou a teoria da Lean Construction. A Lean

Construction apresenta um conjunto de ferramentas e princípios para o planeamento e

acompanhamento de obra, que pretendem controlar as perdas no processo de produção. O

crescente número de artigos e estudos realizados em vários pontos do mundo acerca da Lean

Construction, vem demonstrar as potencialidades deste novo paradigma da Construção.

Contudo, a dificuldade que as empresas têm revelado em atingir uma vantagem competitiva

sustentável ou mesmo em sobreviver face aos altos níveis de complexidade, dinamismo e

incerteza forçou a revisão das prioridades competitivas destas, com o desencadeamento de um

processo de transição em relação ao modelo de produção (Vázquez-Bustello e Avella, 2006).

Uma empresa com capacidade para se reconfigurar face a alterações repentinas de modo a

ser economicamente eficiente, oportuna, robusta e abrangente pode ser considerada como

ágil. A falta de uma definição exacta e uniforme do conceito de Agilidade permite a sua

existência em diferentes áreas de competência empresarial e possibilita a sua abordagem por

diferentes pontos de vista e a diferentes níveis com o objectivo geral na rentabilidade e

sustentabilidade.

Os conceitos Lean e Agile1 sobrepõem-se em determinados aspectos e diferem noutros, o que

justifica a sua possível complementariedade. Esta complementariedade é salientada através da

conjugação da elevada produtividade e qualidade da produção Lean com a elevada

capacidade de resposta, pro-actividade, robustez e aprendizagem da produção Agile. Desde o

surgimento do conceito de produção Agile como melhoria do desempenho dos sistemas de

produção, o conceito de Agilidade começou a ser largamente utilizado e amplamente estudado.

1 Ágil em português

Page 21: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

6

Como resposta ao baixo desempenho de grande parte dos projectos nos Sistemas de

Informação, surgiram os Métodos Ágeis de Desenvolvimento de Software. Estes métodos

foram considerados ágeis por possibilitarem a rápida resposta perante a mudança de

requisitos. A definição oficial de Desenvolvimento Ágil de Software2 foi contida na forma de

manifesto, designado por Manifesto para o Desenvolvimento Ágil de Software. Este manifesto

enunciou pressupostos e realçou a importância da contribuição humana, a colaboração com o

cliente e a capacidade de resposta à mudança para o sucesso dos projectos. A adopção dos

Métodos Ágeis requer a existência de actividades dedicadas à melhoria da geração de valor,

incluíndo a criação de capacitadores e a remoção de impedimentos.

Tal como acontece com o conceito de Agilidade, não existe uma definição única e exacta do

que significa o Desenvolvimento Ágil de Software. As várias definições deste Desenvolvimento

Ágil enfatizam a sua finalidade sem especificar os meios para o atingir. O Desenvolvimento Ágil

de Software pretendem integrar os mesmos propósitos que a produção Agile.

Mediante as iniciativas para expandir a aplicabilidade dos Métodos Ágeis à indústria da

Construção, o movimento para o Desenvolvimento Ágil de Software aumentou a sua

abrangência, sendo estendido à gestão de projectos. A Agile Project Management (APM) foi

criada a partir dos valores e princípios dos Métodos Ágeis de Desenvolvimento de Software.

Tanto a Lean Construction como a Agile Project Management podem ser encarados como

novos paradigmas que desafiam a visão clássica da gestão de projectos.

Neste capítulo é realizado um enquadramento teórico do pensamento Lean e Agile, no que

respeita a conceitos, fundamentos teóricos e a metodologias. Apresenta-se a evolução do

conhecimento e a possibilidade de aplicação prática na Construção. Seguidamente, revelam-se

as principais aplicações da Lean Construction, com destaque para o Last Planner System e a

possibilidade de aumentar a Agilidade na Construção, com o recurso a Métodos Ágeis de

Desenvolvimento de Software. A revisão bibliográfica pretende fundamentar as técnicas

utilizadas no desenvolvimento do trabalho.

2.2. Processo de Pesquisa Implementado

O processo de pesquisa implementado procurou o melhor enquadramento possível do tema e

o conhecimento da actualidade das publicações e aplicações realizadas.

A pesquisa foi dividida em duas parcelas complementares. Iniciou-se pelo conhecimento da

teoria fundamental e recensão da evolução do conhecimento, métodos e técnicas aplicadas e

seguiu-se a consulta de artigos com desenvolvimento de aplicações e casos de estudo que

permitissem o conhecimento actual do conhecimento e aplicações já realizadas. A primeira

parcela iniciou o debruçar sobre o tema do Lean Thinking e da Lean Construction. Na segunda

2 Original Agile Software Development

Page 22: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

7

parcela foi realizada uma pesquisa acerca do tema da Agile Production, Métodos Ágeis de

Desenvolvimento de Software e da Gestão Ágil de Projectos.

Em ambas as parcelas foram feitas pesquisas de artigos científicos do Science Direct e em

publicações nacionais e internacionais. A selecção bibliográfica foi feita pelo grau de

actualidade, relevância e reconhecimento dos respectivos autores. No que respeita à primeira

parcela, acrescenta-se a recolha de informação em artigos publicados nas conferências anuais

do International Group for Lean Construction – IGLC.

2.3. Evolução do conhecimento e análise de informação relevante

2.3.1. Lean Production

Após a primeira guerra mundial, Henry Ford desenvolveu um sistema de produção em massa,

designado por Ford Production System, que procurava maximizar a capacidade produtiva e

assim, reduzir o custo unitário. Baseado nestes conceitos, Taiichi Ohno desenvolveu uma nova

filosofia de produção, a Toyota Production System (TPS) (Abdelhamid, 2004).

Ohno compreendeu que, para enfrentar o cenário de escassez de recursos da época, era

necessário adaptar esses sistemas através da eliminação de actividades que menos

valorizavam a produção levando à redução de custos e desperdícios (Marques, 2007). Ohno

continuou o trabalho de Ford, no desenvolvimento da produção baseada no fluxo e desviou a

atenção dos sistemas de produção em massa e manual, uma vez que pretendia satisfazer as

exigências dos clientes. O objectivo consistia em produzir automóveis com base nos requisitos

do cliente, entregá-lo de imediato e sem ter de manter um stock ou armazenamento intermédio

(Howell, 1999).

As ideias introduzidas por Ohno foram desenvolvidas e redefinidas num longo processo de

tentativa e erro, sem o estabelecimento de uma base teórica sólida. Nos anos 90, foram

teorizados os princípios Lean numa série de publicações que chamaram a atenção das

empresas ocidentais. A implementação dos princípios Lean cresceu para as indústrias após a

publicação do livro da autoria de James Womack, designado por “The machine that changed

the world”. Nesta publicação, a produção Lean foi descrita como um sistema que permitia

melhorar a qualidade, a rapidez e o custo de produção, bem como reduzir a necessidade de

espaço, de stock e de horas de trabalho e evitar o desperdício (Morgan e Liker, 2006). Em

meados da década de 90, as melhorias na produção resultantes dos elevados níveis de

eficiência, competitividade, flexibilidade e tempo de resposta tornaram esta filosofia de gestão

popular, nas empresas de manufactura ocidentais (Peneirol, 2007).

A Lean Production combina as vantagens da produção em massa com as da produção manual

e, ao mesmo tempo, evita a rigidez da primeira e os elevados custos da segunda (Barlow,

Page 23: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

8

1997). Para poder produzir uma grande variedade de produtos, a Lean Production utiliza

trabalhadores multi-especializados a vários níveis da organização e maquinaria flexível.

A Lean Production continua a evoluir, no entanto o esquema básico é claro. Este esquema

consiste em dimensionar um sistema de produção que irá permitir a entrega de produto ao

cliente no instante do pedido e sem ter de manter um stock. Estes aspectos incluem: organizar

a produção como um fluxo contínuo; aperfeiçoar o produto e criar um fluxo fiável, através da

produção de produtos restrita ao número de pedidos (sistema pull) e da distribuição da

informação e da tomada de decisões; procurar a perfeição através da entrega de um produto

que vá ao encontro dos requisitos do cliente sem ter de manter um stock (Howell, 1999).

2.3.1.1. Os pilares da Lean Production

Os pilares da Lean Production são a Autonomação e o Just-In-Time (JIT).

A Autonomação consiste em dar autonomia ao operador ou máquina para paralisar o fluxo de

produção aquando da detecção de uma anomalia. A identificação de uma anomalia é feita

através de dispositivos (Poka-Yoke) que verificam com rapidez as dimensões e restantes

atributos dos produtos. Portanto, a Autonomação permite a inspecção a 100% e favorece o

aumento da qualidade através da diminuição da propagação de erros no processo (Marques,

2007).

O princípio fundamental do JIT consiste na minimização de stock. O JIT permite “puxar” a

produção, produzindo em cada instante apenas os produtos necessários, na quantidade certa e

no momento exacto. Este sistema que “puxa” a produção (sistema pull) difere do sistema que

“empurra” (sistema push) e origina grande quantidade de desperdício, principalmente em

tempo de espera e armazenamento. A minimização de stock obriga a redução da variabilidade

do fluxo e, em última análise, a melhoria continua do sistema produtivo, o que permite

aumentar o lucro (Ballard e Howell, 1995).

A principal ferramenta que permite aplicar o JIT é o kanban. O kanban consiste num sistema

simples de cartões que serve para controlar a quantidade de produção e garantir a produção

da quantidade necessária para reabastecer o processo (Marques, 2007).

2.3.2. Lean Thinking

A publicação “The Machine That Changed the World” teve uma enorme aceitação por parte das

empresas de manufactura, no entanto, a sua aplicação não era especificada. O livro “Lean

Thinking: Banish Waste and Create Wealth in your Organisation”, dos mesmos autores, surgiu

como resposta à necessidade de sumarizar os princípios do pensamento Lean (“Lean

Thinking”). Este livro revela os cinco princípios apresentados na Figura 2.1.

Page 24: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

9

Especificar

VALOR

Identificar a

CORRENTE DE VALOR

Criar um

FLUXO CONTÍNUO

Deixar o cliente

“PUXAR O PRODUTO”

Procurar a

PERFEIÇÃO

Figura 2.1 - Cinco princípios do pensamento Lean (Womack e Jones, 2003)

O Lean Thinking inicia pela tentativa consciente em definir com precisão valor, em termos de

produto com capacidades específicas, a um preço estabelecido através do diálogo com o

cliente.

A corrente de valor consiste num conjunto de acções específicas que são necessárias para

produzir determinado produto. No pensamento Lean, o princípio seguinte à especificação de

valor é a identificação de toda a corrente de valor para cada produto. Na maioria dos casos,

este segundo princípio permite identificar uma grande quantidade de desperdício que se pode

categorizar na seguinte forma: actividades que inequivocamente criam valor; actividades que

não criam valor per se, mas que são inevitáveis e indispensáveis para a tecnologia actual e

actividades que não criam valor e devem ser removidas de imediato.

O terceiro princípio sugere a organização das actividades remanescentes num fluxo contínuo

de passos que geram valor. Um fluxo contínuo permite a fluidez dos processos e actividades, a

redução da duração dos tempos de ciclo e garante maior eficiência.

Um sistema que “empurra” tem como resultado a acumulação de produtos e o aumento do seu

armazenamento, pois não considera a quantidade pedida pelos clientes. Ter em conta os

pedidos dos clientes e não produzir nada antes que o cliente o solicite, garante a redução do

armazenamento dos produtos, uma vez que o cliente pode pedir e “puxar” o produto. A

possibilidade do cliente “puxar” o produto consiste no quarto princípio Lean.

Por fim, a constatação da redução do esforço, prazo, custo, espaço e erros incentiva a

melhoria contínua do processo produtivo, a eliminação de desperdício e a permanente procura

da perfeição.

Estes princípios já haviam sido estudados por outros autores, mas não de forma tão completa

como Womack e Jones (2003).

2.3.3. Lean Construction

A Construção surgiu como candidato à aplicação do conceito Lean, contudo, as características

singulares desta indústria dificultaram a aplicação directa das ferramentas Lean. Tornou-se

necessário estender os conceitos, adaptar as ferramentas existentes e desenvolver

ferramentas específicas (Marques, 2007). Segundo Howell (1999), as características singulares

da Construção e a resistência à mudança dos seus intervenientes transformaram num grande

desafio a aplicação dos conceitos da Lean Production nesta indústria.

Page 25: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

10

Koskela (1992) elaborou o relatório “Application of new production philosophy in the

construction industry”, onde definiu onze princípios Lean baseados na Lean Production.

Segundo o autor, a Lean Construction altera o paradigma da gestão da Construção,

tradicionalmente baseado no modelo de conversão (transformação de inputs em outputs). Para

Koskela (1992), havia a necessidade de criar um novo modelo com base no modelo de

conversão mas que também considerasse os fluxos.

O trabalho de Koskela (1992) fomentou a necessidade de amadurecimento, fortalecimento e

difusão desta nova filosofia na Construção. Como resultado do trabalho de um grupo de

investigadores internacionais, foi criado o forúm designado por International Group of Lean

Construction (IGLC). Neste forúm é discutido e disseminado o conceito Lean num esforço para

aumentar progressivamente a robustez deste.

A aplicação da Lean Construction tem como principal objectivo melhorar a execução dos

projectos através da redução do desperdício. É considerado desperdício o que resta da

exclusão do tempo e custo necessário para realizar o produto. Segundo Hirota (2001), as

actividades podem ser categorizadas em actividades que agregam valor e actividades que não

agregam valor, mas são necessárias ao processo. As últimas podem ser eliminadas do

processo caso haja alteração significativa do método de trabalho. No Quadro 2.1 apresentam-

se os sete principais tipos de desperdício reconhecidos pela filosofia Lean, de acordo com

Linker e Lamb (2000 retirado de Marques, 2007).

Quadro 2.1 – Sete tipos de desperdício (Marques, 2007).

Desperdício

Sobreprodução: Produção em quantidade superior à necessária.

Espera: Material, equipamento ou mão-de-obra à espera gera custos e não acrescenta valor ao produto.

Transporte: Mover desnecessariamente os materiais gera custos e não acrescenta valor ao produto final.

Processamento: Processamento que não acrecenta valor ao produto final.

Excesso de stock: Ocupa espaço, custa dinheiro e corre o risco de não ser necessário, além de esconder problemas do processo de produção.

Defeitos: A elaboração de partes ou produtos defeituosos impede o fluxo contínuo da produção e desperdiça tempo e esforço.

Movimento: Movimentos desnecessários ao processo de produção consideram-se desperdício.

De acordo com Ramaswamy e Kalidindi (2009), a medição do desperdício é uma maneira

eficiente de aferir o desempenho dos sistema de produção, mas existe pouca pesquisa com

esse objectivo nos processos da Construção. Estes autores estabeleceram a seguinte

classificação de desperdícios: Material (excesso de stock e sobras de material), Qualidade (re-

trabalhos), Mão-de-obra e Equipamento (espera, inactividade, transporte, excesso de

processamento e excesso de movimentação). Identificar e quantificar os desperdícios de um

sistema de produção consiste num aspecto muito importante, uma vez que possibilita encontrar

Page 26: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

11

oportunidades de melhoria para a empresa e permite um maior controlo da produção (Marques,

2007).

Tal como foi referido anteriormente, Koskela (1992) elaborou onze princípios com base nos

conceitos da Lean Production. Esses princípios são descritos no Quadro 2.2.

Quadro 2.2 – Princípios para a gestão de processos (Koskela, 1992).

Princípios

Reduzir o número de actividades que não geram valor:

Este princípio permite melhorar a eficiência dos processos e reduzir as perdas, através do aumento da eficiência das actividades e remoção das que não agregam valor mas consomem tempo, recursos e espaço, não contribuíndo para a satisfação dos clientes.

Aumentar o valor do produto na perspectiva do cliente:

Gerar valor consiste em satisfazer as expectativas do cliente, recorrendo à identificação das necessidades dos clientes e da sua consideração no projecto e na gestão da produção. Os clientes a considerar são a actividade seguinte e o cliente final.

Reduzir a variabilidade:

Os produtos uniformes estão de acordo com as especificações dos clientes.

A variablidade aumenta as actividades que não acrescentam valor ao produto final.

Reduzir o tempo de ciclo

Relaciona-se com a metodologia Just-In-Time.

O tempo de ciclo compõe-se pelo tempo de transporte, espera, processamento e inspecção. A redução deve ter maior incidência nas acções de espera e inspecção por estas não acrescentarem valor ao produto final.

Ciclos mais rápidos permitem uma maior facilidade de detecção de erros.

Simplificar através da redução do número de passos ou partes;

Relaciona-se com a racionalização de processos.

Diminuir o número de passos de modo a eliminar aqueles que não acrescentam valor.

Aumentar a flexibilidade da saída;

Refere-se à possibilidade de alterar as caracterísiticas finais dos produtos tendo em consideração as necessidades dos clientes e sem provocar aumento significativo nos custos.

Aumentar a transparência do processo;

A transparência do processo torna os erros mais evidentes, facilitando a sua correcção. Aumenta a informação disponível e aumenta o envolvimento da mão-de-obra no desenvolvimento de melhorias.

Focar o controlo no processo global;

Uma percepção sistemática da produção permite detectar o efeito de qualquer modificação pontual no processo global.

Introduzir melhoria contínua no processo;

Reduzir desperdícios e aumentar o valor continuamente.

Monitorizar o desenvolvimento e as melhorias.

Promover o envolvimento das pessoas na organização.

Manter o equilíbrio entre melhorias de fluxos e conversões;

A eficiência dos processos está dependente da eficiência das conversões e da maneira como os fluxos são tratados. Um bom fluxo precisa de menor capacidade na actividade de conversão.

Benchmarking;

Consiste no processo de aprendizagem com empresas líder, através do levantamento das melhores práticas, compreensão de conceitos e sua adaptação à realidade da organização.

Page 27: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

12

Na Lean Construction, o planeamento e o controlo são considerados como processos

dinâmicos e complementares que são mantidos ao longo do projecto. O planeamento define o

critério e cria as estratégias necessárias para atingir os objectivos do projecto. Em simultâneo,

o controlo assegura que cada tarefa vai ocorrer de acordo com a sequência planeada. O re-

planeamento deve ocorrer quando a sequência estabelecida já não se aplica ou não é

conveniente à produção. A existência de feedback facilita a aprendizagem quando as tarefas

não ocorrem como planeado (Ballard, 2000; Howell, 1999). Howell (1999) argumenta que o

controlo é redefinido pela monitorização dos resultados para que as “coisas ocorram” como

previsto. O desempenho do sistema de planeamento é medido e melhorado para assegurar a

fiabilidade do fluxo de trabalho e do produto do projecto.

Ballard (1994) afirma que um melhor planeamento resulta da ultrapassagem de vários

obstáculos comuns na indústria da Construção, apresentados no Quadro 2.3.

De acordo com Hamedi et al. (2009), a Lean Construction consiste numa linha de pensamento

inovadora, cuja implementação fornece feedback que resulta em melhores acções e

consequentemente em novo conjunto de feedback, o que permite o reforço constante da

aprendizagem.

Quadro 2.3 – Obstáculos a ultrapassar para obter um melhor planeamento (Ballard, 1994).

Obstáculos

1. A gestão é focada no controlo que, por um lado previne mudanças negativas e, por outro, negligencia descobertas que promovem boas alterações.

2. O planeamento não é concebido como um sistema, mas entendido em termos de habilitações e talento do indivíduo encarregue do planeamento.

3. O planeamento consiste num horário e não considera a equipa de trabalho na sua elaboração.

4. Não é medido o desempenho do planeamento;

5. Não são analisadas as falhas do planeamento nem são identificadas as causas para se tomar acções.

2.3.4. Aplicação da Lean Construction

O trabalho de Koskela (1992) foi o ponto de partida para a procura de estratégias de

implementação desta filosofia. Nas conferências IGLC3 muitos artigos relatam o uso do LPS

(Ballard, 2000) indicando que este sistema tem sido implementado com sucesso num vasto

número de projectos e em diferentes países (Formoso e Moura, 2009).

Womack e Jones (2003) sugeriram que a implementação Lean deve ter início nas actividades

importantes e visíveis, por exemplo na produção, para que os seus benefícios sejam

percepcionados por toda a empresa (Neto e Alves, 2007). Assim, a aplicação Lean tem sido

maioritariamente feita ao nível da produção, deixando para segundo plano outras áreas como o

3 International Group of Lean Construction

Page 28: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

13

dimensionamento, a gestão da cadeia de fornecimento ou as sub-empreitadas. Esta infomação

é apoiada pela análise de 14 anos de conferências IGLC, realizada por Neto e Alves (2007).

Picchi e Granja (2004) sugerem que a implementação da Lean Construction pode ser feita a

três níveis: empresa, projecto e sector. Para Arbulu e Zabelle (2006), existem duas abordagens

de implementação, nomeadamente superfícial e ampla ou profunda e limitada. A primeira

resulta em perda de tempo e dinheiro, as pessoas podem impôr barreiras e resistir à mudança.

A segunda requer menor esforço em termos de orientação e coordenação e realiza-se num

projecto-base, estando alinhada com os princípios Lean, ao permitir rápido feedback e

resultados visíveis.

Alarcón et al. (2002) acrescentam que, para o sucesso da implementação da Lean

Construction, além da escolha da abordagem certa é importante considerar a colaboração

entre todos os intervenientes. Alarcón et al. (2005) realizaram um estudo sobre a

implementação da Lean Construction e identificaram as principais estratégias e dificuldades de

implementação, apresentadas na Figura 2.2.

ESTRATÉGIAS E DIFICULDADES PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO LPS

“Fortalecimento”

da organização

Falta de

crítica pessoalFalta de tempo Falta de treino

Figura 2.2 - Estratégias e dificuldades para a implementação do LPS (Alarcón et al., 2002)

Neto e Alves (2007) estudaram a implementação da Lean Construction em várias empresas e

concluiram que a mudança para as ferramentas Lean trouxe benefícios às empresas

investigadas. A aplicação sistemática do Last Planner pode trazer bastantes vantagens e

benefícios à gestão da Construção, particularmente ao planeamento (Alsehaimi et al., 2009).

Alsehaimi et al. (2009) identificaram os obstáculos que dificultam o aproveitamento em pleno

de todo o potencial do LPS. Os resultados obtidos por Alsehaimi et al. (2009) indicam que o

LPS resultou em inúmeros benefícios e significante melhoria na globalidade da gestão do

projecto.

2.3.4.1. Implementação do Last Planner System

O Last Planner System (LPS) surgiu devido a uma série de experiências industriais conduzidas

por Ballard e Howell (1998) e desde a sua primeira publicação em 1994, que o LPS tem tido

crescente utilização a nível mundial. O LPS tem vindo a revelar-se como uma ferramenta muito

útil para a gestão do processo de construção e contínua monitorização da eficiência do

planeamento, sendo considerada uma das melhores técnicas Lean (AlSehaimi et al., 2009).

Page 29: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

14

O LPS foi proposto para proteger os trabalhadores da incerteza no fluxo de trabalho,

funcionando como um “escudo” para evitar as incertezas das actividades no local de

construção (Peneirol, 2007; Ballard e Howell, 1998). Permite que uma actividade seja

executada sem perturbações e concluída de acordo com o planeado, através de procedimentos

e ferramentas que garantam a resolução dos pré-requisitos e condicionamentos dessa

actividade (Peneirol, 2007). A métrica do sistema Last Planner, designada por PPC4, funciona

como uma medida do desempenho do sistema de planeamento, e como uma ferramenta de

aprendizagem com as falhas do plano (Kim e Jang, 2006).

A introdução do LPS tem revelado grandes benefícios. A nível da produtividade, foi relatada

melhoria em cerca de 10% na indústria americana e germânica (Koskela e Howell, 2002).

Ballard (2000) mediu o aumento na produtividade de 10% para 40%. Também foram

reportados benefícios no que respeita à redução de tempos de ciclo e aumento da segurança

(Baadsgaard, 2001 retirado de Koskela e Howell, 2002). O Last Planner System permite que o

planeamento seja feito onde a incerteza é menor e oferece uma componente de controlo da

produção à Gestão Clássica de Projectos de Projectos (Marques, 2007). São estes dois

aspectos que os pontos seguintes pretendem explorar.

a. Estrutura do Processo

O sistema de controlo da produção Last Planner é na realidade uma filosofia, um conjunto de

regras e procedimentos, postos em prática com a ajuda de ferramentas. Em relação aos

procedimentos, o sistema tem duas componentes: controlo da unidade de produção e controlo

do fluxo de trabalho. A primeira pretende melhorar progressivamente a atribuição de

actividades aos trabalhadores, através da contínua aprendizagem e de acções correctivas. A

segunda procura manter o fluxo de trabalho na melhor sequência e ritmo (Ballard, 2000). O

LPS é uma forma de gerir a variabilidade, o que contraria os modelos convencionais de gestão

e controlo da Construção, que encaram a incerteza como algo que depende das actividades e

que está fora do seu controlo (Marques, 2007). Os sistemas tradicionais produzem uma

previsão do que pode ser feito (should) e depois comparam com o que realmente foi feito (did)

(ver Figura 2.3).

Objectivos

do Projecto

InformaçãoDeve acontecer

“should”

PLANEAMENTO

DO TRABALHO

EXECUÇÃO

DO PLANORecursos

Concluído

“did”

Figura 2.3 – Sistema de Planeamento Tradicional (Ballard, 2000)

4 Percentagem de Plano Concluído (Percent Planned Completed)

Page 30: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

15

No Last Planner System é necessário que o que deve ser feito esteja adaptado à realidade da

obra, e que no futuro, seja adaptado ao que pode (can) e será feito (will) (ver Figura 2.4) (Kim e

Jang, 2006).

Deve ser feito

“should”

Pode ser feito

“can”

Será feito

“will”LAST PLANNER

Figura 2.4 – Processo Last Planner (Ballard, 2000)

b. Níveis de Planeamento

A complexidade dos projectos de Construção e a variabilidade nos processos que os

constituem conduzem à necessidade de dividir o planeamento em diferentes níveis

hierárquicos (Marques, 2007). O processo de planeamento é estabelecido segundo uma

hierarquia com medidas e preocupações específicas consoante o nível de análise (Peneirol,

2007). O LPS funciona com três tipos de planeamento: longo, médio e curto prazo e os dois

últimos utilizam práticas da Lean Construction.

b1. Planeamento de Longo Prazo (Master Plan)

O planeamento de longo prazo envolve os objectivos gerais do empreendimento e algumas

estratégias para os alcançar. Em geral, efectua-se através do diagrama de Gantt, PERT – CPM

ou linha de balanço. Segundo Marques (2007), este planeamento integra as informações do

início e fim das actividades, esboça a previsão para a duração máxima do empreendimento e

deve ter pouco detalhe devido à incerteza do ambiente produtivo.

b2. Planeamento de Médio Prazo (Lookahead Planning)

O planeamento de médio prazo, chamado por Ballard (2000) de Lookahead Planning,

proporciona a ligação entre as decisões estratégicas do Master Plan e as acções operacionais.

Estabelece as actividades a ser executadas para um horizonte temporal de 3 a 4 semanas,

possibilita a sua preparação (em pacotes de trabalho) e a reprogramação daquelas que não

estão prontas para execução, assegurando o fluxo da produção (Marques, 2007; Peneirol,

2007; Olano et al., 2009).

Ballard (2000) identificou as principais funções do planeamento de médio prazo que se

apresentam no Quadro 2.4.

Page 31: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

16

Quadro 2.4 – Principais funções do planeamento de médio prazo (Ballard, 2000).

Planeamento de Médio Prazo (Lookahead plan)

6. Definição da sequência e ritmo do fluxo de trabalho;

7. Harmonização do fluxo de trabalho e da capacidade de produção;

8. Decomposição das actividades em pacotes de trabalho e operações;

9. Desenvolvimento de métodos detalhados para a execução dos trabalhos;

10. Desenvolvimento de uma reserva de pacotes de trabalhos para ser executada quando os não é possível realizar os trabalhos originalmente planeados;

11. Actualização e revisão dos programas dos níveis mais elevados.

Segundo Ballard (2000), com o Last Planner é realizada uma sondagem aos pré-requisitos das

actividades e estas não devem ser iniciadas enquanto não estiverem livres de

constrangimentos5 (produção protegida – shielding protection). Assim, é possível planear com

realismo, pois planeia-se o trabalho que pode mesmo acontecer e não o que deve acontecer

(Peneirol, 2007).

b3. Planeamento de Curto Prazo (Weekly Work Planning)

O planeamento de curto prazo serve para guiar a execução do trabalho. Fornece uma análise

mais detalhada do planeamento de médio prazo e informa acerca dos recursos físicos

necessários para as actividades planeadas (Campero e Alarcón, 2003 retirado de Olano et al.,

2009). É realizado pelo indivíduo que se situa na interface com a execução, ou seja, o último a

tomar a decisão na cadeia hierárquica - o Last Planner - (Koskela e Howell, 2002). Segundo

Ballard (2000), o planeamento das actividades de curto prazo deve ser feito com qualidade,

sendo esta obtida quando determinados requisitos das actividades são alcançados (Quadro

2.5).

Quadro 2.5 – Requisitos para adjudicar actividades com qualidade (Ballard, 2000).

Requisitos

Definição: definir as tarefas com especificidade suficiente para indicar o tipo e quantidade de material, coordenar o trabalho entre os agentes envolvidos e apontar a sua conclusão no final da semana.

Fiabilidade: tornar as tarefas fiáveis ao nível de pré-requisitos necessários ao seu arranque. A intenção consiste em livrar a actividade de constrangimentos antes da semana da sua data de início.

Sequência: a sequência das actividades deve ser realizada segundo a ordem de construção necessária e com base em tarefas fiáveis.

Tamanho: as tarefas adjudicadas devem ser pensadas em termos de tamanho conforme a capacidade de produção e possibilidade de execução dentro do prazo. É necessário saber se a produção está a acompanhar o tamanho e o formato suficientes para as necessidades da actividade seguinte.

Aprendizagem: análise e identificação das causas do atraso de actividades não concluídas.

5 Constrangimentos podem ser ao nível de: actividade(s) precedente(s), materiais, mão-de-obra, equipamento,

desenho e informação de projecto, espaço e condições externas (Ballard, 2000).

Page 32: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

17

Segundo Peneirol (2007), o trabalho do Last Planner gira em torno da criação de uma rede de

compromissos estabelecida em ciclos rotineiros de planeamento. Tal permite disseminar a

confiança e distribuir capacidade de avaliação, o que conduz à descentralização da tomada de

decisão em certas situações, bem como agilizar a resolução de problemas com benefícios para

o processo de produção (Peneirol, 2007).

c. Controlo

A medição da fiabilidade do plano de curto prazo é feita através do PPC. O PPC é um indicador

que mede a razão percentual entre o número de tarefas concluídas e o número de tarefas

planeadas num determinado período (Ballard, 2000), revelando a percentagem de pacotes de

trabalho ou actividades planeadas que foram executadas (Olano et al., 2009). O PPC é uma

inovação em termos de controlo da gestão do projecto pois dá informação mais relacionada

com a produtividade da produção e eficiência do seu planeamento, ao contrário da gestão

convencional que só controla a execução do projecto em termos de custos e prazos (Peneirol,

2007; Marques, 2007).

O plano de curto prazo permite medir a performance das actividades planeadas e executadas

na última semana, e as actividades planeadas para a semana seguinte, além de servir de

suporte à coordenação das actividades entre os diferentes participantes (Olano et al., 2009).

De acordo com Olano et al. (2009), o planeamento de curto prazo deve ser revisto em reuniões

semanais, com vista a determinar as causas que levaram à não conclusão de actividades

planeadas e, de modo proactivo, aplicar acções correctivas e preventivas.

2.3.4.2. Outras Ferramentas e Aplicações Lean

Além do Last Planner System foram estudadas outras aplicações da filosofia Lean

Construction. A escolha das metodologias e ferramentas básicas depende dos objectivos

pretendidos e da situação da empresa. São exemplos de outras ferramentas o Mapeamento do

Fluxo de Valor, a Linha de Balanço, os 5’S, o Kanban, o FIFO (First In-First Out), o Andon, o

Poka-Yoke, as Células de Trabalho, o SMED (Single Minute Exchange of Dies), o TPM (Total

Preventive Maintenance), a Gestão Visual e o TQM (Total Quality Management) (Gonçalves,

2009).

2.3.4.3. Aplicação do Just-in-Time na Construção

O JIT surgiu como um dos pilares do sistema TPS, e integra agora parte do paradigma da Lean

Construction. A ideia da aplicação do JIT na Construção tem como objectivo acabar com o

excesso de material armazenado que muitas vezes acaba danificado. Para a implementação

Page 33: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

18

do JIT é fundamental uma boa relação com fornecedores de modo a garantir que não existem

atrasos na entrega dos materiais (Marques, 2007).

Uma das limitações do JIT consiste no facto de poder haver interrupções por motivos

administrativos, revelando-se bastante problemático perante a não existência de stock (Corrêa

e Gianesi (1993) retirado de Gonçalves, 2009). Outra limitação do JIT consiste na necessidade

de haver estabilidade na procura. Na Construção o nível de estabilidade é menor do que na

manufactura onde a coordenação dos fluxos é estável (Marques, 2007).

A complexidade e incerteza na Construção obriga a que a implementação do JIT nesta

indústria seja bastante diferente da manufactura. Uma vez que na Construção é seguido um

planeamento que sofre alterações à medida que é executado, há a necessidade de criar

“amortecedores”, designados por buffers, que vão amortecer a incerteza e a variabilidade do

processo de produção (Ballard e Howell, 1995). O JIT está dependente do trabalho de equipa,

do compromisso e do envolvimento dos trabalhadores para atingir os resultados pretendidos.

2.3.5. A Agilidade

2.3.5.1. História e Motivação da Agilidade

Desde os anos 80 que os conceitos da Lean Production têm vindo a ser popularizados acerca

dos resultados que permitem obter (Barlow, 1997). A perseguição de uma maior flexibilidade

intoduziu o tema “manufactura flexível”. No entanto, a pressão competitiva tem forçado as

empresas a encontrar novos caminhos para melhor atender às necessidades dos seus clientes,

reduzir custos e aumentar a produtividade (Timóteo, 2007).

Na última década, as empresas de várias indústrias têm tido dificuldade em atingir vantagem

competitiva sustentável ou até mesmo assegurar a sua sobrevivência perante altos níveis de

complexidade, dinamismo e incerteza. Esta situação, que forçou as empresas a rever as suas

prioridades competitivas, desencadeou um processo de transição em relação ao modelo de

produção, acentuando o interesse em novos sistemas de produção, onde se inclui a produção

Agile (Vázquez-Bustelo e Avella, 2006).

O conceito de produção Agile surgiu pela primeira vez em 1991, no relatório do Instituto

Iaccoca da Universidade de Lehigh solicitado pelo Congresso americano, cujo tema assentava

sobre as estratégias futuras para a manufactura dos Estados Unidos (Sharifi e Zhang, 1999). O

relatório designado por ―21st Century Manufacturing Enterprise Strategy‖, sugeria a adopção de

novas formas de trabalho a partir de “empresas ágeis”, uma vez que a melhoria do

desempenho dos sistemas de produção em massa não estava a aumentar a competitividade

das empresas. A partir desta altura, o conceito de Agilidade começou a ser largamente

utilizado em diversos movimentos e amplamente estudado por vários autores (Timóteo, 2007).

Page 34: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

19

Segundo Timóteo (2007), a Agilidade foi definida como um sistema de produção com

potencialidades extraordinárias (potencialidades internas: tecnologias duras, recursos

humanos, gerência inovadora, informação) que se encontra com necessidades do mercado

(velocidade, flexibilidade, clientes, concorrentes, fornecedores, infra-estrutura,

responsabilidade). Consiste num sistema que permite alternar rapidamente entre modelos de

produto ou linhas de produto (flexibilidade) e que responda ao cliente em tempo real e de

acordo com as suas necessidades.

2.3.5.2. A Produção Agile e as Produções em Massa, Flexível e Lean

A produção Lean tem sido vista segundo duas perspectivas: como uma simples caixa de

ferramentas que proporciona soluções práticas e como uma nova e radical filosofia que abraça

todas as actividades da empresa (Barlow, 1997).

Segundo Barlow (1997), a adaptação da produção Lean é reduzida em situações em que o

mercado é turbulento, as necessidades dos clientes são alteradas rapidamente, a concorrência

é crescente e o mercado apresenta altas taxas de saturação. A produção Lean permite apenas

uma limitada variação no volume e conjunto de produtos e tende a ser mais eficiente para

produtos relativamente padronizados (Barlow, 1996).

As diferenças chave e as diferenças conceptuais entre a produção em massa, a produção Lean

e a produção Agile apresentam-se no Quadro 2.6 e Quadro 2.7, respectivamente. Uma

empresa com produção Lean é vista como produtiva e eficiente enquanto que uma empresa

com produção Agile é essencialmente caracterizada pela rápida e eficiente aprendizagem

(Sharp et al., 1999).

O sucesso da produção Agile depende largamente da inovação na empresa – a tecnologia por

si só não é suficiente para aumentar a competitividade (Sharifi e Zhang, 1999). O sistema

também requer o desenvolvimento de estruturas organizacionais flexíveis, um tipo de gestão

com menor hierarquização e uma força de trabalho com maior poder e habilitação.

A produção Lean favorece a larga escala e as operações globais, com as empresas a tentar

abranger várias funções e a produção Agile é fundada em modelos organizacionais

colaborativos e pode envolver empresas virtuais (Sharifi e Zhang, 1999).

O conceito Lean implica elevada produtividade e qualidade, mas não implica necessariamente

que exista capacidade de resposta à mudança. Por outro lado, o conceito Agile vinca a

importância de uma capacidade de resposta elevada de modo a ir ao encontro da totalidade

das necessidades do cliente, ao mesmo tempo que se esforça por ser Lean.

Page 35: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

20

Quadro 2.6 – Diferenças chave entre as produções em massa, Lean e Agile (Sharp et al., 1999).

Produção em massa Produção Lean Produção Agile

Indicadores

Preço

Economia de Escala

Mercados estáveis

Conduzida pela procura

Mercado

Economia do desperdício

Mercados previsíveis

Conduzida pela previsão

Cliente

Economia da diversidade

Mercados imprevisíveis

Conduzida pelas encomendas

Foco Equipamento

Instalações

Tecnologia

Sistemas

Pessoas

Informação

Fornecedores

Muitos

Baixo nível de confiança

Adversário

Relacionamento

Poucos

Alto nível de confiança

Longo prazo

Cooperação

Selecção entre muitos

Alto nível de confiança

Curto prazo

Risco partilhado

Organização Divisão do trabalho

Hierarquizada

Equipas

Horizontal

Multi-especializada

Delegação de poder

Produto Poucas opções

Qualidade inconsistente

Muitas opções

Alta qualidade

Personalizado

Adequado ao propósito

Processo Rígido

Trabalho manual

Flexível

Automatizado

Adaptativo

Base no conhecimento

Filosofia Autoritária Administrativa Liderança

Quadro 2.7 – Diferenças conceptuais entre as produções em massa, Lean e Agile (Sharp et al., 1999).

Produção em massa

Investimento em equipamento e instalações

Trabalho bastante manual

Especialização

Tomada de decisão lenta

Trabalhadores podem comprar produtos feitos por si mesmos

Tempo de desenvolvimento de produto contado em anos

Qualidade inconsistente

Produção Lean

Investimento em tecnologia

Camadas retiradas

Trabalhadores criam input

Estabelecimento de equipas

Maior depedência dos fornecedores

Processos estáveis

Tempo de desenvolvimento de produto contado em meses

Alta qualidade no momento da venda

Produção Agile

Investimento nos sistemas de informação das pessoas

Força de trabalho multi-especializada

Robusta, com equipas reconfiguráveis, equipamento e infra-estruturas

Parcerias em todos os pontos da produção

Equipas auto-geridas, gestão derrubadora de barreiras

Tecnologia eficaz e integração da informação

Tempo de desenvolvimento em semanas

Alta qualidade no produto ao longo da sua vida

Kidd (1994) e Montgomery e Levine (1994) argumentam que a produção Lean é necessária

para a Agilidade, mas não é per se fundamento suficiente. Baker (1996) afirma que a produção

Agile opõe-se a alguns dos princípios fundamentais da produção Lean (Sharifi e Zhang, 1999).

Page 36: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

21

Ambas procuram evitar a rigidez da produção em massa e os custos elevados da produção

manual. Na prática, ser Lean não implica ser Agile, mas ser Agile implica muitos principios e

técnicas Lean (Narasimhan et al., 2006). Segundo Ganguly et al. (2009), a produção Agile

engloba os conceitos Lean e Flexível. A distinção entre os três tipos de produção é feita no

Quadro 2.8.

Quadro 2.8 – Distinção entre as produções Lean, Flexível e Agile (Ganguly et al., 2009).

Distinção entre as produções Lean, flexível e Agile

Produção Lean

Um processo de produção que cobre toda a empresa; tem o objectivo de aumentar a qualidade, minimizar o desperdício através da eliminação de todas as actividades que não acrescentam valor, favorecer a melhoria contínua, a flexibilidade e as relações de longo prazo (Shields 1999 e Sarkis 2001).

Produção Flexível

Uma estrutura em oposição a uma estratégia que habilita a linha de produção a ser facilmente reconfigurada ou personalizada para produzir diferentes produtos (Sarkis 2001).

Produção Agile

Uma estratégia que aborda o mundo empresarial e incorpora em si mesma os conceitos da produção Lean e da produção flexível (Sarkis 2001).

A produção Lean tem como preocupação primária a minimização ou eliminação de desperdício

através de um processo de produção eficiente. Apesar da produção Agile também abraçar este

conceito Lean, fá-lo apenas na medida em que a sua capacidade para responder com eficácia

às inesperadas e súbitas mudanças não é afectada. A produção Agile envolve flexibilidade de

vários tipos e inclui a capacidade de fazer o que não estava planeado e responder a alterações

ou a pedidos únicos de clientes (Narasimhan et al., 2006). A produção Flexível baseia-se no

planeamento da resposta a contigências antecipadas (adaptação reactiva), enquanto que a

produção Agile apresenta comportamento proactivo, para prosperar num mercado com

contínua e constante mudança (Hezel, 2004 retirado de Ganguly et al., 2009). A flexibilidade da

produção Flexível por si só, não é suficiente para a globalidade da Agilidade da produção Agile

(Kettunen, 2009a).

2.3.5.3. Agilidade e Produção Agile

a. Definição e Modelos

Desde a publicação do relatório ―21st Century Manufacturing Enterprise Strategy‖, têm surgido

várias publicações acerca do conceito de Agilidade, com diferentes perspectivas que revelam a

complexidade desta abordagem. Não existe uma definição exacta do conceito de Agilidade e

as diferentes definições devem ser consideradas em simultâneo a fim de se obter uma melhor

compreensão da sua constituição (Kettunen, 2009a; Kettunen, 2009b).

Page 37: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

22

Yusuf et al. (1999) estabeleceram uma definição de Agilidade mais abrangente: “A Agilidade é

a exploração bem sucedida de todas as potencialidades da empresa (velocidade, flexibilidade,

inovação proactiva, qualidade), com a integração dos recursos e das tecnologias com as

melhoras práticas de enriquecimento de conhecimento, para fornecer produtos e/ou serviços

dirigidos a um cliente específico, num ambiente em rápida mudança”. Esta definição tem

conhecimento dos quatro principais conceitos da produção Agile (ver Figura 2.5): competição

baseada na gestão das competências do núcleo, formação de empresas virtuais, capacidade

de reconfiguração e gestão do conhecimento.

Produção

Agile

Gestão das

competências do

núcleo

Capacidade de

reconfiguraçãoEmpresa Virtual

Gestão do

conhecimento

Figura 2.5 – Conceitos nucleares da produção Agile (Yusuf et al., 1999)

Baseando-se na abrangente definição anterior, Gunasekaran (1999) desenvolveu um modelo

de um sistema de produção Agile que se encontra representado na Figura 2.6.

Sistema de

produção Agile

Parcerias rápidas Empresa virtual

PersonalizarReconfiguração

Sistemas

Estratégias

Tecnologias

Pessoas

Reconfiguração

Empresas virtuais

Competências do núcleo

Responsabilidade

Pessoas flexíveis

Alianças estratégicas

Integração

Engenharia

Hardware rápido

Controle da informação

Tecnologia de ponta

Multimédia

CAD

Comérico electrónico

Sistemas de Informação

Trabalho flexível

Conhecimento dos trabalhadores

Empenho

Suporte pela gestão

Figura 2.6 – Desenvolvimento de um sistema de produção Agile (Gunasekaran, 1999).

Page 38: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

23

Gunasekaran e Yusuf (2002) afirmaram que a Agilidade pode ser definida como a

potencialidade de uma empresa para responder às exigências do mercado em mudança, com

a minimização do custo dos bens e maximização da satisfação do cliente, para se tornar mais

competitiva num mercado global e para aumentar a sua hipótese de sobrevivência a longo

prazo, com o máximo de lucro. Este objectivo só é possível se for auxiliado por pessoas,

processos e tecnologias flexíveis.

Vázquez-Bustelo e Avella (2006) desenharam um modelo conceptual para a implementação da

produção Agile, apresentado na Figura 2.7, indicando que a Agilidade pode ser alcançada

através da integração de práticas nos seguintes domínios: recursos humanos, tecnologias e

sistemas de informação, organização interna e relações externas, usando mecanismos de

integração e coordenação da cadeia de valor, desenvolvimento de novos produtos e/ou

processo de gestão e gestão do conhecimento e da aprendizagem (Vázquez-Bustelo e Avella,

2006).

Ambiente Turbulento

Dinâmico

Holístico

Produção agileForça da manufactura

Custo

Flexibilidade

Qualidade

Entrega

Serviço

DESEMPENHO E

COMPETITIVIDADE NO

NEGÓCIOEngenharia simultânea

- Desenvolvimento simultâneo do

produto e do processo

- Equipas multi-funcionais

- Participação adiantada

- Colaboração apertada no processo

Tecnologias avançadas

- Tecnologias de projecto

- Tecnologias de produção

- Sistemas de informação integrados

com clientes e fornecedores

- Sistemas integrados de informação

na produção

- Sistemas de planeamento

Conhecimento de gestão

- Normas organizacionais que

suportam a experiência

- Bases de dados acessíveis

- Trabalho de equipa com acesso ao

conhecimento actualizado

- Mecanismos formais para difundir as

melhores práticas

Recursos Humanos

- Experiência

- Equipa de trabalho

- Motivação

- Sistemas orgânicos de recompensa

Integração da corrente de valor

- Cooperação interdepartamental

- Cooperação com clientes

- Cooperação com fornecedores

Figura 2.7 - Modelo conceptual da produção Agile de Vázquez-Bustelo (Vázquez-Bustelo e Avella, 2006).

As diferentes definições indicam que, no sentido mais amplo, a produção Agile consiste no

conceito de empresa integrada que compreende não só o planeamento e controlo da produção,

mas também outras áreas como interfaces do negócio, cadeia de fornecimento e factores da

força de trabalho (Vázquez-Bustelo e Avella, 2006).

Kettunen (2009b) considerou a visão da Agilidade como uma capacidade do sistema de uma

entidade organizacional para responder à competição do ambiente de negócio. A Figura 2.8

ilustra esta perspectiva, na qual a entidade pode ser a globalidade de uma empresa (virtual),

uma função interna de desenvolvimento de novos produtos ou uma equipa de projectos de

Software. Este é um sistema aberto e dinâmico (Kettunen, 2009b).

Page 39: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

24

A Agilidade pode ser decomposta nas seguintes dimensões respeitantes à interface entre uma

unidade organizacional e o seu ambiente de negócio (Ismail et al., 2006):

capacidade de resposta (reacção apropriada à mudança)

proactividade (preparação para mudança futura e, se possível, influenciar essa

mudança)

robustez (habilidade para lidar com imprevisíveis mudanças no exterior)

Entidade

(Projectos)

- Recursos

- Bens

- Estruturas

- Processos

- Valores

Outras

Organizações

(Projectos)

- Fornecedores

- Parceiros

Oferta

Motivadores

Agilidade

Unidade Organizacional

Capacidades da Agilidade

Ambiente

Competitivo

Figura 2.8 - Visão da Agilidade como uma capacidade organizacional (Kettunen, 2009).

Possuir Agilidade consiste em lidar com a incerteza e a aprendizagem ao longo do tempo. Uma

empresa que valorize a aprendizagem é proficiente na sua adaptação à mudança e, por isso,

importa que esta entenda o potencial das fontes de mudança e de alteração do seu ambiente

de negócio. A Agilidade pode abranger diferentes áreas da competência empresarial. Apesar

do objectivo global ser o mesmo, as diferentes áreas abordam-na de perspectivas e âmbitos

diferentes e estes podem sobrepôr-se parcialmente (Figura 2.9) (Kettunen, 2009).

Agilidade estratégica

Agilidade da empresa

Agilidade do negócio

ÁREA DE COMPETÊNCIA EMPRESARIAL

Organização ágil

Força de trabalho ágil

Agilidade nos sistemas de informação

Manufactura ágil

Cadeia de fornecimento ágil

Figura 2.9 – Agilidade nas diferentes áreas da competência empresarial (Kettunen, 2009).

b. Motivadores e Soluções

De acordo com Vázquez-Bustelo e Avella (2006), foram identificados três elementos chave

para a implementação e desenvolvimento da Agilidade: motivadores, possibilitadores e

resultados. O ambiente de negócio, sendo uma fonte de mudança e incerteza, foi considerado

Page 40: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

25

o principal motivador da Agilidade. Sharifi e Zhang (1999) desenvolveram um modelo de

produção Agile, apresentado na Figura 2.10, que consiste em três elementos principais: os

motivadores, as potencialidades e os meios para atingir a Agilidade, descritos no Quadro 2.9.

Motivadores da

Agilidade

Capacidades

da Agilidade

Meios para a

Agilidade

Necessidade de se

tornar ágil

Estatégia com a

intenção de se tornar

ágil

Estratégia para a

agilidade

Práticas

Métodos

Ferramentas

Organização

Tecnologia

Pessoas

Inovação

Capacidade de

resposta

Competência

Flexibilidade

Rapidez

Figura 2.10 – Modelo conceptual de produção Agile (Sharifi e Zhang, 1999)

Quadro 2.9 – Descrição dos principais elementos do modelo de produção Agile (Sharifi e Zhang, 1999).

Descrição dos elementos principais do modelo conceptual de produção Agile

Motivadores

Representam a mudança no ambiente de negócio que leva as empresas para uma nova posição no mercado e a procurar vantagem competitiva. As empresas são instigadas a rever e refazer a sua estratégia.

Capacidades

Consistem nas habilidades das empresas para responder à mudança.

Meios

São os meios através dos quais as potencialidades podem ser alcançadas e devem ser procurados nas seguintes quatro áreas: organização, pessoas, tecnologia e inovação.

Uma empresa com Agilidade em pleno deve integrar os princípios da Agilidade em todas as

suas áreas e analisar as possíveis melhorias nas diferentes áreas de competência empresarial

(Kettunen, 2009a). Segundo Vázquez-Bustelo e Avella (2006), o ambiente de negócio foi

definido como um conjunto de elementos contextuais fora do controlo da gestão, pelo menos a

curto prazo, o que apresenta oportunidades e ameaças. Os resultados das empresas são

consequência destes elementos. Quase três décadas de pesquisa empírica suportam esta

teoria, concluindo-se que os resultados estão correlacionados directamente com a habilidade

da empresa em se adaptar ao seu ambiente de negócio. A Agilidade tem sido considerada

como a chave para o sucesso de uma empresa num ambiente de negócio turbulento (Vázquez-

Bustelo e Avella, 2006).

Page 41: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

26

2.3.6. Métodos Ágeis de Desenvolvimento de Software

2.3.6.1. Definição e Origem

Os Métodos Clássicos de Desenvolvimento de Software deixaram de estar adequados a todas

as situações e os especialistas reconheceram a necessidade de criar novas práticas,

orientadas a pessoas e com flexibilidade suficiente para enfrentar o dinamismo do ambiente de

negócio (Cockburn e Highsmith, 2001a). Como resposta às crescentes pressões da inovação,

a prazos cada vez mais reduzidos, a constantes alterações de requisitos e ao mau

desempenho de grande parte dos projectos de desenvolvimento de Software, muitos

especialistas começaram a criar os seus próprios métodos em detrimento dos métodos

clássicos, chamados de métodos “leves” (Dias, 2005). Estes métodos “leves” passaram a ser

designados por Métodos Ágeis como melhoria da sua nomenclatura (Strode, 2005).

Os Métodos Ágeis implicam habilidade em sobreviver numa atmosfera em constante mudança

e a emergir com sucesso (Anderson, 2004). Para Schwaber, estes métodos devem aceitar a

mudanças e não dar ênfase à previsibilidade. Outros especialistas concluiram que a única

maneira de gerir problemas em ambientes complexos baseia-se em métodos considerados

ágeis por possibilitarem rápida resposta face à mudança (Cockburn e Highsmith, 2001a).

No início do ano de 2001, um grupo de notáveis metodologistas participaram numa reunião

com o objectivo de melhorar a forma de desenvolver Software. Os valores do Desenvolvimento

Ágil de Software foram contidos na forma de manifesto, designado por Manifesto para o

Desenvolvimento Ágil de Software (Agile Alliance, 2001) (Figura 2.11) e os seus princípios

listados (Quadro 2.10).

Indivíduos e interação entre eles mais que processos e ferramentas;

Software em funcionamento mais que documentação abrangente;

Colaboração com o cliente mais que negociação de contratos;

Responder a mudanças mais que seguir um plano.

Manifesto para o Desenvolvimento Ágil de Software

Figura 2.11 – Manifesto para o Desenvolvimento Ágil de Software.

O manifesto ressalta a importância da contribuição humana, colaboração com o cliente e

capacidade de resposta à mudança (Owen e Koskela, 2006b).

Os Métodos Ágeis para o desenvolvimento de Software têm gerado grande entusiasmo no

meio dos profissionais e dos investigadores (Turk et al., 2004). Actualmente, existe uma série

de métodos que podem ser designados por Métodos Ágeis de desenvolvimento de Software,

como por exemplo, o Extreme Programming (XP), Scrum, Feature-Driven Development (FDD),

Adaptative Software Development (ASD) e Dynamic Systems Development Method (DSDM)

Page 42: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

27

(Abrahamsson et al., 2002). Em geral, a permissa base diz que, pequenas e co-localizadas

equipas de trabalho ao trabalharem em conjunto com o cliente, podem criar produtos com

grande valor e com custo eficiente, através de pequenas e frequentes iterações (Kettunen,

2009a). O foco é mantido nas pessoas e na dinâmica das suas interacções, em vez de ser

unicamente no planeamento dos requisitos e em processos rígidos. O conceito chave

promovido pelo Manifesto assume que as pessoas são a base do processo de

desenvolvimento (Levy e Hazzan, 2009).

Quadro 2.10 – Princípios dos Métodos Ágeis (Agile Alliance, 2001).

Princípios dos Métodos Ágeis

1. A maior prioridade consiste na satisfação do cliente pela entrega rápida e contínua de Software útil;

2. As modificações são bem vindas, mesmo quando tardias no desenvolvimento;

3. Entrega frequente de Software que funciona no menor espaço de tempo;

4. Todos os envolvidos no desenvolvimento de Software devem trabalhar em colaboração diária e durante todo o projecto;

5. Construir o produto com equipas motivadas. Oferecer às equipas o ambiente e suporte necessários para que o trabalho seja executado;

6. O modo mais eficaz e eficiente de transmitir a informação é através da conversação cara-a-cara;

7. A medida principal do progresso é a existência de Software que funciona;

8. Os processos ágeis promovem um desenvolvimento sustentável;

9. A agilidade é facilitada se existir atenção à excelência técnica e a bons projectos;

10. Simplicidade – a arte de maximizar a qualidade do trabalho realizado;

11. As melhores soluções surgem de equipas auto-organizadas;

12. Em intervalos regulares a equipa reflecte sobre como ser mais eficiente e ajusta adequadamente o seu comportamento.

Não existe uma definição universal de Desenvolvimento Ágil de Software, tal como acontece

com o conceito de Agilidade da produção Agile. O Manifesto para o Desenvolvimento Ágil de

Software salienta certos princípios sobrepostos, mas não uma exacta definição (Conboy e

Fitzgerald, 2004). O Desenvolvimento Ágil de Software pretende integrar os mesmos

propósitos da produção Agile (Kettunen, 2009a). Os Métodos Ágeis podem ser considerados

como uma colectânea de diferentes técnicas e métodos, que compartilham os mesmos valores

e princípios básicos (Cohen et al. 2003, citado em Dias, 2005). Anderson (2004) caracteriza os

Métodos Ágeis, simplesmente, como mais proficientes do que os métodos tradicionais.

Highsmith ((2004) citado em Dias, 2005) define Agilidade em termos de capacidade de

resposta e criação de mudança enquanto se equilibra a flexibilidade e a estabilidade. Isto

alinha-se com as definições de Agilidade da produção Agile.

Cockburn e Highsmith (2001a) sumarizam os principais desafios que devem ser orientados

pelos Métodos Ágeis de Desenvolvimento de Software: a satisfação do cliente; a inevitabilidade

da mudança que deve ser encarada como uma oportunidade e o seu custo minimizado ao

longo do projecto; a eliminação da mudança que significa menosprezar condições importantes

do negócio; a espera pela inovação com alta qualidade e disponível em prazos cada vez

Page 43: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

28

menores. A Figura 2.12 apresenta a permissa base dos Métodos Ágeis de Desenvolvimento de

Software e os benefícios tipicamente preconizados.

Aumento da satisfação do cliente

Redução do tempo de ciclo

Aumento da qualidade

Melhoria do portfolio do projecto e da gestão do produto (tipo de projecto, características)

Melhoria da gestão do investimento no desenvolvimento do produto (controlo e flexibilidade)

Redução do desperdício (aumento da eficiência, produtividade e custo de desenvolvimento)

Melhoria na previsibilidade (Visibilidade)

Melhoria da gestão do risco (redução do risco)

Maior motivação da força de trabalho (satisfação e reconhecimento)

BENEFÍCIOS

PERMISSA BASE

Quando uma equipa pequena, co-localizada e auto-organizada trabalha conjuntamente com o(s)

cliente(s) pode criar produto de grande valor eficazmente, através de frequentes incrementos e

pequenas iterações. Pessoas habilitadas e aptas são a chave para esta permissa.

Figura 2.12 - Permissa base dos Métodos Ágeis de Desenvolvimento de Software e os benefícios

preconizados por esses métodos (Highsmith, 2007; Schwaber, 2007 retirado de Kettunen, 2009b).

Segundo Kettunen (2009b), os Métodos Ágeis de Desenvolvimento de Software esperam a

incerteza e consequentemente a mudança ao longo da vida do projecto. Assim, o clássica

planeamento baseado na previsão é substituído com outro baseado em feedback e no

planeamento de ciclos de entrega de valor (Kettunen, 2009b).

2.3.6.2. Factores Críticos de Sucesso dos Métodos Ágeis

Cockburn e Highsmith (2001b), autores que defendem uma visão dos Métodos Ágeis centrada

nas pessoas, identificaram a competência individual como o factor primordial para o sucesso

de projectos conduzidos de acordo com os Métodos Ágeis. Da análise aos factores críticos de

sucesso identificados por diversos autores, feita por Dias (2005), entendeu-se que estes

factores estão estritamente relacionados com a valorização da competência individual,

comunicação (Cockburn e Highsmith 2001b) e rápida entrega de valor (Lazarevic, 2003 citado

em Dias, 2005). Estes factores correspondem a características marcantes dos Métodos Ágeis

tal como da Gestão Ágil de Projectos.

A maioria dos estudos acerca das práticas dos Métodos Ágeis concluiram que existe facilidade

em adoptar e trabalhar com estes métodos e foram relatados os seguintes benefícios:

colaboração do cliente, processos de trabalho que lidam com os defeitos, aprendizagem,

possibilidade de previsão, foco no trabalho corrente e estimação do tempo (Dybå e Dingsøyr,

2008).

Page 44: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

29

2.3.7. Gestão Ágil de Projectos

2.3.7.1. Evolução do conceito de Métodos Ágeis para Gestão Ágil de Projecto

A Gestão Ágil de Projectos (GAP) ou Agile Project Management (APM) foi criada a partir dos

valores e princípios dos Métodos Ágeis de Desenvolvimento de Software, retratados no

Manifesto para o Desenvolvimento Ágil de Software. Mediante iniciativas relacionadas com a

indústria da Engenharia Civil e Aeroespacial (onde o cenário de complexidade e de incerteza é

comum), o movimento para o Desenvolvimento Ágil de Software aumentou a abrangência dos

seus métodos até à gestão de projectos (Highsmith, 2004 citado por Dias, 2005).

Para Chin (2004) deve ser alcançado o equilíbrio entre as necessidades do projecto e a

criatividade de uma equipa habilitada. Explica que o excesso de formalidade e de processos

tende a inibir e a bloquear a inovação na equipa, mas que a falta de estrutura pode afastar o

alcance dos objectivos. As empresas que adoptam uma Gestão Clássica de Projectos de

Projectos propuseram e implementaram expansões a esta gestão e deram continuidade ao

desenvolvimento da plataforma (Chin, 2004). A aproximação ao limiar da abrangência desta

gestão aumenta a visibilidade das suas restrições (presentes em qualquer plataforma) e o da

baixa eficiência do seu desempenho. Da proposta de Chin (2004) surge a Gestão Ágil de

Projectos (Figura 2.13), que pode ser vista como um novo elemento que vai suportar as

extensões da Gestão Clássica de Projectos e cujos praticantes possuem habilidade para gerir

com eficiência os projectos num ambiente de mudança e incerteza (Leal, 2008).

Plataforma da

Gestão Clássica

de Projectos

Plataforma

de Gestão

Ágil de

Projectos

Extensões à Gestão

Clássica de Projectos

Redução da eficácia e

eficiência da plataforma da

gestão clássica de projectos

Figura 2.13 – Relação entre as plataformas de Gestão Clássica de Projectos e a Gestão Ágil de Projectos

(Chin, 2004).

De acordo com Highsmith (2004) e Chin (2004), a Gestão Ágil de Projectos abandona uma

postura marcada pela antecipação, baseada apenas no planeamento prévio de actividades,

característica da Gestão Clássica de Projectos, e passa a procurar o desenvolvimento da visão

do futuro e da capacidade de exploração. Um bom processo de exploração necessita de cinco

objectivos principais: inovação contínua, adaptabilidade do produto, tempos de entrega

reduzidos, capacidade de adaptação do processo e das pessoas e resultados fiáveis

(Highsmith, 2004). Segundo Highsmith (2004), a GAP pode ser vista como a resposta às

crescentes pressões por constante inovação, à concorrência apertada, à necessidade de

Page 45: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

30

redução dos ciclos de desenvolvimento e implantação de novos produtos e à necessidade de

adaptação ao dinâmico ambiente de negócio.

2.3.7.2. Definição, Valores e Princípios da Gestão Ágil de Projectos

Highsmith (2004) define a Gestão Ágil de Projectos como um conjunto de valores, princípios e

práticas que auxiliam a equipa a entregar produtos ou serviços num ambiente desafiante. A

justificação da GAP é descrita através de valores e princípiios e a sua realização é feita por

meio de práticas. Esta nova gestão valida a necessidade de entregar produtos fiáveis aos

clientes, dentro das restrições de custo e prazo e pode ser considerada como uma atitude em

vez de um processo (Highsmith, 2004). A GAP define quatro os valores centrais (Figura 2.14).

As respostas às mudanças são mais importantes que o seguimento de um plano.

A entrega de produtos está acima da entrega de documentação.

Dar prioridade à colaboração do cliente sobre a negociação de contratos.

Gestão Ágil de Projectos – Valores Centrais

Os indivíduos e suas interacções são mais importantes que os processos e as ferramentas.

Figura 2.14 – Quatro valores centrais da Gestão Ágil de Projectos.

Estes valores dizem respeito à necessidade de criar e entregar produtos ágeis, adaptáveis e

com valor, e desenvolver e equipas de projecto com características semelhantes. Highsmith

(2004) afirma que o sucesso é alcançado através da valorização das pessoas e das suas

interacções em vez dos processos e das estruturas. A competência e habilidade de cada

indivíduo, a interacção entre as pessoas ou equipas com qualificações técnicas e a capacidade

de aprendizagem da equipa para aplicar os conhecimentos adquiridos são determinantes para

o sucesso de um projecto. Estes aspectos estão estritamente ligados ao atendimento das

expectativas do cliente (Dias, 2005).

Além dos valores expostos, a Gestão Ágil de Projectos possui um conjunto de principios

fundamentais que orientam a sua aplicação. De acordo com Larson e LaFasto ((1989) retirado

de Dias, 2005), a liderança baseada em princípios é uma das características mais importantes

das equipas de alto desempenho. Highsmith (2004) estabelece os seis principios divididos num

par de categorias (ver Figura 2.15) e apesar de confirmar a utilidade destes quando aplicados

isoladamente, é todo o conjunto que permite desenvolver um ambiente que encoraja e ajuda a

produzir melhores resultados.

Page 46: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

31

Estilo de gestão

baseado na

liderança e na

colaboração

Valor para o cliente

CATEGORIA

1. Entregar valor ao cliente;

2. Gerar entregas iterativas e baseadas em funcionalidades

3. Procurar a excelência técnica

4. Encorajar a exploração

PRINCÍPIO

5. Construir equipas adaptativas

6. Simplificar

Figura 2.15 – Princípios da Gestão Ágil de Projecto (Dias, 2005).

De maneira geral, a Gestão Ágil de Projectos apresenta grande preocupação com as pessoas

e com o relacionamento entre elas. Aconselha que a equipa deve trabalhar em prol de

objectivos comuns e deve ter uma visão partilhada do projecto. Os processos e as práticas

devem ser simples, a existência de feedback deve ser constante, a informação deve ser

partilhada por toda a equipa, os membros da equipa devem ter capacidade de decisão e

devem ser encorajadas regras simples. De acordo com Leal (2008), a Gestão Ágil de Projectos

apresenta uma maior concentração nas actividades de execução do que nas planeadas,

adaptando-se à mudança.

2.3.7.3. Gestão Clássica de Projectos e Gestão Ágil de Projectos

É interessante estabelecer uma comparação entre a Gestão Clássica de Projectos de Projectos

e a Gestão Ágil de Projectos. No Quadro 2.11 é feita uma comparação entre as principais

características dos grupos de processos propostos pelo PMI (2004) – Iniciação, Planeamento,

Execução, Monitorização e Controlo e Encerramento – e as fases da Gestão Ágil de Projectos

– Visão, Especulação, Exploração, Adaptação e Encerramento (Highsmith, 2004 retirado de

Dias, 2005).

As diferenças fundamentais entre a Gestão Clássica de Projectos e a Gestão Ágil de Projectos

assentam em dois pontos fundamentais: nas relações entre as fases de Planeamento e

Especulação e entre as fases de Monitorização e Controlo e Adaptação (Koppensteiner, 2003;

Highsmith, 2004; Chin, 2004 retirado de Dias, 2005).

A Gestão Clássica de Projectos de Projectos, estruturada segundo uma visão de processos

descritos pelo PMI (2004), confere grande importância ao planeamento detalhado do projecto e

aos processos formais de monitorização e controlo.

A Gestão Ágil de Projectos tranfere essa importância no planeamento e monitorização e

controlo para a especulação e adaptação, respectivamente. A primeira transferência visa a

Page 47: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

32

rápida entrega de valor ao cliente e a apresentação de resultados ao longo de todo o projecto e

a segunda permite realizar alterações no âmbito de cada iteração, para atender à mudança de

requisitos do negócio (Thomsett, 2002; Koppensteiner, 2003; Chin, 2004; Highsmith, 2004

retirado de Dias, 2005).

Quadro 2.11 – Comparação entre Gestão Clássica e a Gestão Ágil de Projectos (Dias, 2005).

GESTÃO CLÁSSICA DE PROJECTOS GESTÃO ÁGIL DE PROJECTOS

Iniciação Visão

Autorização de um novo projecto ou fase e definição do âmbito preliminar do projecto.

Determinação da visão do produto e do âmbito inicial do projecto.

Planeamento Especulação

Planeamento integral e detalhado do projecto. Desenvolvimento de um plano inicial do projecto, seguido por planeamentos individuais a cada iteração.

Execução Exploração

Execução do plano de projecto. Entrega dos produtos previstos a cada ciclo.

Monitorização e Controlo Adaptação

Ênfase no controlo do progresso dos trabalhos e no controlo e gestão de mudanças para minimizar os impactos no projecto.

Revisão dos resultados entregues e abertura para adaptações do âmbito, visando o antendimento aos novos requisitos do negócio.

Encerramento Encerramento

Execução do plano de projecto. Aceitação do cliente a cada ciclo e formalização do encerramento do projecto ao final dos trabalhos.

2.3.7.4. A Gestão Ágil de Projectos e as Produções Lean e Agile

É importante realçar que a Gestão Ágil de Projectos não é sinónimo de produção Agile nem

Lean, apesar de algumas raízes comuns e características similares. Para que uma empresa

seja considerada ágil deve ter uma estrutura apropriada que permita proactividade e rapidez na

adaptação à mudança e aproveitamento de tais oportunidades para melhorar os resultados

(Owen et al., 2006).

A Lean Construction acomoda alguns aspectos da produção Lean e Agile, e o método Last

Planner (Ballard, 2000) pode ser visto como parcialmente Agile. Naim e Barlow ((2003) citado

em Owen et al., 2006) para fazer alusão à sobreposição substancial no conteúdo de ambos os

paradigmas, fundiram os termos Lean e Agile, o que designaram de “Leagile”. Contudo, estas

abordagens não abraçam a Gestão Ágil de Projectos holisticamente, através do entendimento

geral dos fenómenos.

No Quadro 2.12 apresenta-se a análise comparativa das semelhanças e diferenças entre a

Lean Construction e a Gestão de Projectos Ágil (Owen et al., 2006).

Page 48: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

33

Quadro 2.12 – Comparação entre a Lean Construction e a Gestão Ágil de Projectos (Owen et al., 2006).

IGLC Lean Construction Agile Project Management

Base de evolução

Métodos de produção Toyota

Teoria do fluxo de valor Koskela

Teoria dos constrangimentos

Teoria da complexidade

Sistemas Thinking

Reacção aos sistemas de informação de baixo desempenho

Teoria da complexidade

Princípios Fundamentais

Redução do desperdício

Fluxo & valor

Valor emergente & rápido feedback

Métodos

Trabalho colaborativo e gestão distribuída (Last Planner)

Cliente “puxa o produto”

Cliente envolvido

Delegação de poder

Equipas multi-disciplinares

Base Confiança Confiança

Aprendizagem

Parcial (Dimensionamento & Last Planner)

Em evolução

Sim

Decisões no “último momento possível”

Parcial (Last Planner) Em evolução Sim

2.3.8. Os Conceitos de Agilidade e a Indústria da Construção

Apesar da quantidade de trabalho acerca dos conceitos da Agilidade e dos Métodos Ágeis

propostos por vários autores, existe uma impressionante ausência de aplicações reais desses

conceitos e métodos na indústria da Construção. As publicações realçam os aspectos teóricos

da Agilidade e não estabelecem relação com a realidade dos empresas (Loforte e Timóteo,

2009).

De acordo com Owen e Koskela (2006b), embora o real progresso da Gestão Ágil de Projectos

ocorra no domínio dos sistemas de informação, é possível deslocar as suas características

nucleares para outros domínios, incluíndo a indústria da Construção.

2.3.8.1. Comparação entre Sistemas de Informação e Indústria da Construção

Em ambos os domínios, o valor só é verdadeiramente entendido na prática, embora seja mais

fácil imaginar as limitações funcionais e oportunidades de um edifício do que as de um Sistema

de Informação (Owen e Koskela, 2006a). Uma das áreas mais comuns entre os dois domínios

é a necessidade de definição de requisitos. Na Construção, um briefing6 deve ser encarado

como parte integrante do processo não como um acontecimento ocasional. De acordo com

Owen e Koskela (2006a), na internacionalização dos projectos de Construção, as tentativas de

desenvolver um briefing dinâmico ao longo do projecto (Othman et al., 2004) são vistas como

uma necessidade particular (London et al., 2005).

6 Um briefing consiste numa reunião onde é passado um conjunto de informações para o desenvolvimento de um

trabalho. Deve originar um roteiro de acção para criar a solução que o cliente procura.

Page 49: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

34

Embora tenha sido reconhecida a necessidade de adoptar os Métodos Àgeis no

desenvolvimento de valor, o progresso da sua utilização ainda não atingiu os níveis de

utilização dos projectos dos Sistemas de Informação. Laplante e Neill (2004) relataram que

cerca de um terço das empresas de Sistemas de Informação ainda não utilizam os Métodos

Ágeis. Outra pesquisa levada a cabo por Shine (2003) relatou que mais de 95% dos inquiridos

pretendem continuar a utilizar os Métodos Ágeis ou começar a adoptá-los (Owen e Koskela,

2006a).

2.3.8.2. Os Métodos Ágeis e a Indústria da Construção

Segundo Vázquez-Bustelo e Avella (2006), a Agilidade não é exclusiva da manufactura, nem

do desenvolvimento de novos produtos ou Software. A indústria da Contrução tem

características que em separado são comuns a outras indústrias mas, quando combinadas

aparecem apenas na Construção (Timóteo, 2007). A indústria da Construção pode ser

caracterizada como uma indústria inserida num ambiente dinâmico com constantes avanços

tecnológicos e alta flutuação do produto. Este tipo de ambiente, pode conduzir à possível

aplicação dos Métodos Ágeis na indústria da Construção.

Os Métodos Ágeis são orientados por objectivos. As empresas podem adaptar os seus

processos às alterações sem aumentar significativamente o prazo estipulado para a execução

de determinado objectivo (Loforte e Timóteo, 2009). Estes métodos enfatizam o uso de equipas

pequenas, multi-especializadas, motivadas e com poder suficiente para responder com rapidez

às alterações feitas pelos clientes. A qualidade dos elementos da equipa e a sua motivação

pode ser alcançada através da contínua formação e avaliação periódica (Timóteo, 2007).

Face à mudança, a velocidade da resposta e a rapidez da reconfiguração aumentam quando

existe distribuição de poder pelas pessoas. Contrariamente, quando se tem de seguir

procedimentos rígidos definidos por uma cadeia de decisão demasiado longa e burocrática

esta velociade e rapidez decresce (Loforte e Timóteo, 2009). A tecnologia está associada à

melhoria da flexibilidade da organização da empresa, ao rápido acesso à informação, à rápida

resposta, à inovação e à melhoria da tomada de decisão (Tseng, 2007 retirado de Loforte e

Timóteo, 2009).

2.3.8.3. Aplicabilidade da Gestão Ágil de Projectos na Construção

A potencial contribuição da Gestão Ágil de Projectos na Construção é avaliada em seguida,

através de possíveis cenários alternativos aos tradicionais indicados por Owen et al. (2006).

Segundo Owen et al. (2006), o planeamento na Construção consiste na fase onde o conceito

gerado na fase de pré-dimensionamento será desenvolvido e transformado em soluções para

Page 50: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

35

orientar a construção, operação e manutenção do edifício. Assim, surgem duas questões

principais: a integração das fases de planeamento e execução e o processo dinâmico de

captura de requisitos. A possível contribuição da Gestão Ágil de Projectos é apresentada

segundo áreas com potencial para melhorar a Agilidade na construção.

A Gestão Ágil de Projectos, no que respeita à sua filosofia, enquadra-se na metafísica do

processo7. Na fase de planeamento, os métodos e as abordagens (por exemplo, Last Planner)

baseiam-se essencialmente no fornecimento de valor ao longo do processo (Owen et al., 2006)

e questões sobre a identificação de trade-offs8, processos de análise e síntese e tomada de

decisão. Portanto, a metafísica do processo é a base adequada para esta fase (Koskela;

Kagioglou, 2005 retirado de Owen et al., 2006). O desenvolvimento iterativo e incremental de

valor deve ser um processo natural, no entanto, adiar as decisões para “o último momento

possível” iria revelar-se problemático uma vez que pode implicar dificuldades na coordenação e

desenvolvimento (Clark e Fijimoto, 1991 retirado de Owen et al., 2006). Como na Construção

existe grande interacção entre várias equipas, deve ser avaliado o impacto da mudança nos

processos e no próprio produto (Crawford e Benedetto, 2000 retirado de Owen et al., 2006).

No planeamento, a Gestão Ágil de Projectos também espera que seja preparado um plano,

mas a um nível realista, onde os planeadores possam agir em curto prazo, a fim de entregar

valor mais cedo e mitigar os riscos sobre a totalidade do projecto. Existem vários métodos para

proceder ao planeamento e são categorizados em “leves” e “pesados” sendo o LPS (Owen et

al., 2006) considerado um método “leve”.

Para a Gestão Ágil de Projectos, a mudança durante um projecto é inevitável e, portanto, é

encarada como uma oportunidade para reforçar a percepção de valor pelo cliente. Na

Construção, a incerteza em relação aos detalhes do que vai ser construído prolonga-se até à

fase de execução. O planeamento deve ser definido apenas na medida em que se está

verdadeiramente capaz de compreender e priorizar as actividades e definir as perspectivas de

realização de valor e mitigação do risco (Owen et al., 2006). Deve recorrer à utilização de

pacotes de trabalho dinâmicos, nos quais se desenvolvem as prioridades que acrescentam

maior valor e facilitam uma estimação de tempo. Define-se uma carteira de prioridades

constituída por geração de valor e tarefas mitigadoras de risco, que pode sofrer alterações

durante o projecto com base na aprendizagem da empresa. Através de uma abordagem de

desenvolvimento do planeamento iterativa, é possível detectar erros mais cedo e

consequentemente, reduzir os defeitos que conduzem ao re-trabalho (Owen et al., 2006).

7 Metafísica do Processo remonta a Heráclito (535-475 aC), consiste no fluxo e mudança e aceita a ideia de que os

fenómenos são artefactos de tempo e espaço. 8 Trade-off envolve um sacrifício para obter determinado produto ao invés de outros produtos que utilizam os mesmos

recursos.

Page 51: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

36

De acordo com Owen et al. (2006), a adopção dos princípios da Gestão Ágil de Projectos na

fase de planeamento é muito apropriada para os desafios que a indústria da Construção

encara.

2.4. Conclusão

Ao longo do tempo, os modelos conceptuais tradicionais revelaram-se incapazes de entregar

os projectos no tempo, qualidade e orçamento desejados, caracterizando a indústria da

Construção pela baixa eficiência.

O pensamento Lean sugere a eliminação de actividades que não valorizam a produção

conduzindo à redução de custos e desperdício, sendo necessário o compromisso dos

trabalhadores. Este tipo de produção revelou eficácia na melhoria dos sistemas produtivos em

diversas indústrias. Apesar do ambiente da indústria da Construção ser considerado diferente

do ambiente de produção Industrial, foram realizados diversos estudos que corroboram a

existência de oportunidades para a aplicação do pensamento Lean na Construção. Essa

aplicação, designada por Lean Construction, implica uma mudança na maneira de

compreender, gerir e controlar a Construção com ganhos importantes para esta indústria.

A adopção deste modelo de produção Lean na Construção ainda não é considerável, não

sendo detectadas aplicações amplas e integradas, no entanto, a utilização de algumas

ferramentas Lean tem revelado ganhos significativos. A aplicação da Lean Construction tem

vindo a ser desenvolvida com o intuito de melhorar o controlo e a estabilidade do processo de

construção, tal como a contínua redução da variabilidade das actividades e do projecto e a

eliminação do desperdício. Da aplicação das ferramentas Lean é possível beneficiar não só da

redução do custo final e do custo de gestão, do tempo de projecto, de stock e das repetições

de trabalho como do aumento da percentagem de plano concluído (PPC).

A ferramenta mais utilizada para implementar a Lean Construction é o Last Planner. Os

estudos realizados com a aplicação desta ferramenta revelaram o aumento da confiança no

planeamento, a melhoria na estabilidade e o controlo do fluxo de trabalho.

Foi referido neste capítulo que, apesar da produção Lean implicar elevada produtividade e

qualidade, a sua adaptação é reduzida no combate a mercados turbulentos com alta taxa de

saturação, alterações nas necessidades dos clientes e crescente concorrência. Nesta situação,

uma empresa tem de se esforçar por ser Lean e Agile e necessita ter elevada capacidade para

responder com eficácia às inesperadas e súbitas mudanças.

A Agilidade consiste na exploração bem sucedida de todas as potencialidades da empresa

(velocidade, flexibilidade, inovação pró-activa, qualidade), com a integração dos recursos e

tecnologias com as melhores práticas de enriquecimento de conhecimento, para fornecer

Page 52: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 2

37

produtos e/ou serviços dirigidos a um cliente específico, num ambiente em rápida mudança

(Yusuf et al. 1999).

A aplicação dos Métodos Ágeis relaciona-se com a valorização da competência individual,

comunicação e rápida entrega de valor. Um grande número de estudos concluem que as

práticas dos Métodos Ágeis são fáceis de adoptar e utilizar e possibilitam a colaboração do

cliente, aprendizagem e possibilidade de previsão.

Existe a possibilidade de utilizar a aplicar os Métodos Ágeis na indústria da Construção. Esta

indústria apresenta características únicas mas, quando consideradas em separado, são

comuns a outras indústrias. As iniciativas da indústria da Construção permitem aumentar a

abrangência dos Métodos Ágeis à gestão de projectos. Esta nova plataforma habilita os seus

praticantes a gerir com eficiência os projectos num ambiente de mudança e incerteza. É

abandonada a postura marcada pela antecipação e passa a ser desenvolvida a visão do futuro

e capacidade de exploração.

A investigação da Agilidade em várias áreas do conhecimento têm conduzido a variadas

terminologias e diversos conceitos. A consulta de vários trabalhos permite afirmar que existe

um grande desenvolvimento teórico e pouco trabalho prático com empresas reais.

Tanto para a filosofia Lean como para a Agilidade, a implementação depende do compromisso,

motivação, cooperação, envolvimento e contribuição das pessoas ao nível global da

organização.

A principal barreira reconhecida relacionou-se com a vastidão do espaço de pesquisa em áreas

distintas, o que dificulta a percepção ampla do assunto.

Page 53: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

38

Capítulo 3

3. Caso de Estudo

3.1. Introdução

A indústria da Construção encontra-se sob grande pressão competitiva, devido à fragmentação

do mercado que é regido pelo preço em detrimento da diferenciação. Assim, esta indústria está

em constante procura de melhores resultados no âmbito de custos, prazos e qualidade. A

introdução da Lean Construction nas empresas pode ser encarada como um caminho para

melhorar a eficiência destas.

Por outro lado, as empresas têm de lidar com incerteza e inesperadas alterações na sua

envolvente. A Agilidade consiste em lidar com essa incerteza e defende uma aprendizagem ao

longo do tempo. A valorização da aprendizagem numa empresa é proficiente na adaptação à

mudança. Para responder com eficácia à incerteza uma empresa deve ter a capacidade de agir

rapidamente.

O presente capítulo pretende apresentar uma análise das técnicas de gestão implementadas

actualmente na Construção comparativamente à abordagem Lean e uma análise à cadeia de

produção, de modo a identificar pontos para o aumento da Agilidade. O estudo decorreu na

empreitada “Palácio Estoril Residências”, obra da empresa OPWAY Engenharia, S.A..

Com o acompanhamento, análise e recolha de dados na obra em causa procurou-se identificar

os pontos da filosofia Lean aplicados e as oportunidades de aplicação, com vista à melhoria da

gestão da cadeia de produção. Além disso, procurou-se identificar os pontos onde se pode

aumentar a Agilidade da cadeia de produção.

3.2. Metodologia de recolha de dados

Com o objectivo de identificar e analisar os processos associados à gestão da produção na

Construção procedeu-se à recolha de informação num caso de estudo. A informação recolhida

relaciona-se com quatro aspectos essenciais, nomeados em seguida:

1. Planeamento e Estratégia;

2. Cadeia de Produção;

3. Gestão da Construção / Lean Construction;

4. Agilidade da Empresa.

Page 54: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 3

39

A metodologia de recolha de informação e de dados foi realizada de três formas distintas:

análise documental, realização de inquéritos e observação directa. Adicionalmente, para

contextualizar o caso de investigação foi elaborada uma ficha de caso de estudo (ver Anexo 1)

que permitiu a compilação da informação recolhida.

A metodologia implementada tem como principal objectivo a avaliação da situação actual no

que respeita à filosofia Lean e à Agilidade da empresa, bem como encontrar oportunidades

para a sua aplicação futura.

3.2.1. Análise documental

A análise documental permitiu caracterizar a obra e evidenciar alguma informação obtida sobre

a empresa e respectivos processos. Entre os documentos analisados encontram-se os

procedimentos da empresa, projectos de execução e planeamento do caso de estudo. A

caracterização do caso de estudo foi elaborada com base nesta análise documental.

3.2.2. Observação directa

A observação directa feita em estaleiro de obra, consistiu em actividades informais de recolha

de dados e permitiu conhecer comportamentos, procedimentos e práticas correntes. Foi

observada a organização do estaleiro, o espaço social (escritórios), a interacção entre os

intervenientes na direcção de obra, a organização das frentes de trabalho e o local de

armazenamento de materiais.

3.2.3. Inquérito

O inquérito foi elaborado com o intuito de apurar a percepção dos vários intervenientes na

cadeia de produção, relativamente a aspectos da actual gestão da produção. Mais

concretamente, pretendeu-se obter informação acerca da opinião e sensibilidade relacionada

com aspectos da cadeia de produção e planeamento existentes. Também se desejou obter a

impressão dos inquiridos relativamente à filosofia Lean e ao aumento da Agilidade da empresa.

A ficha de inquérito, apresentada em anexo (ver Anexo 2), foi elaborada com base no

conhecimento preliminar do problema em causa e posteriormente aperfeiçoada.

3.2.3.1. Perfil dos Inquiridos

O público-alvo do inquérito foi composto por técnicos ligados à produção, em especial direcção

de obra e adjuntos de direcção de obra. No total foram inquiridas 24 pessoas e esta amostra foi

caracterizada em termos de função e experiência profissional.

Page 55: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 3

40

3.2.3.2. Estrutura do inquérito

O inquérito inicia-se com um breve relato acerca dos objectivos da pesquisa e garantia de

confidencialidade de dados. De seguida é reservado um espaço para os dados do inquirido,

nomeadamente o nome, a empresa, função na empresa, formação do inquirido e anos de

experiência profissional. No que respeita ao corpo do inquérito, a sua estrutura é dividida em

quatro grupos:

Grupo I – Planeamento e Estratégia: espaço onde é feita a análise da importância,

cumprimento e retorno do planeamento efectuado;

Grupo II – Cadeia de Produção: espaço onde é feita a análise da percepção e identificação

dos principais tipos de desperdício e motivação para a sua ocorrência;

Grupo III – Gestão da Construção / Lean Construction: espaço onde é obtida a opinião dos

inquiridos sobre os factores de sucesso e melhoria de gestão de projectos e expectativas

relativas à cultura Lean;

Grupo IV – Agilidade: espaço onde é obtida a opinião dos inquiridos sobre a adaptação da

empresa à mudança, a valorização das competências e habilidades individuais e a partilha de

informação por toda a equipa e a expectativa quanto ao possível aumento da Agilidade.

Os Grupos I, II e III apresentam 5 questões cada e o Grupo IV é composto por 6 questões.

Para evitar que o inquérito fosse demasiado extenso procurou-se que, em várias ocasiões, a

mesma questão permitisse obter mais que uma informação. O esquema da Figura 3.1 resume

e estrutura os pontos abordados no inquérito, permitindo adquirir uma quantidade importante

de informação e maximizar os resultados.

Caracterização do

inquirido

- Formação;

- Função;

- Experiência

profissional.

Planeamento e

Estratégia

- Importância do

planeamento;

- Periodicidade de

controlo;

- Cumprimento do

planeamento;

- Satisfação em relação

à eficácia da execução

e informação sobre o

planeamento.

Cadeia de Produção

- Importância do

desperdício;

- Motivação do

desperdício;

Impacto do desperdício;

- Aspectos de melhoria;

- Peso do desperdício.

Gestão da Construção/

Lean Construction

- Factores de sucesso

de um projecto;

- Possibilidade de

melhoria;

- Filosofia Lean.

Agilidade

- Evitabilidade e

impacto das alterações

no planeamento;

- Satisfação dos

intervenientes na

produção;

- Contribuição do

feedback;

- Utilidade de práticas

ágeis.

INQUÉRITO

Figura 3.1 – Esquema das questões abordadas na ficha de inquérito.

Page 56: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 3

41

3.2.3.3. Tipologia das perguntas

No que respeita ao tipo de perguntas, foram feitas perguntas de tipo aberto, fechado e semi-

aberto. A opção, de aplicação de vários tipos, teve o objectivo de melhorar a qualidade da

informação recolhida. Contudo, optou-se por colocar maioritariamente perguntas fechadas para

facilitar e estimular a resposta ao inquérito.

As perguntas fechadas permitem ao inquirido seleccionar a opção, de entre as apresentadas,

que mais se adequa à sua opinião, o que possibilita maior rapidez na resposta e também maior

simplicidade na análise das respostas.

Nas perguntas fechadas recorreu-se, com frequência, à escala de Likert, que permite medir a

atitude do inquirido face à questão colocada. A cada resposta é atribuido um número, de 1 a 5,

que possibilita a obtenção da apreciação do inquirido.

A colocação de questões abertas e semi-abertas permitem uma tradução mais objectiva da

opinião dos inquiridos e maior diversidade de resposta.

De modo a evitar interpretações dúbias tentou-se simplificar a forma de colocação das

questões. Além disso, procurou-se colocar as questões de uma forma lógica e iniciando-se

cada grupo com as perguntas mais fáceis e de resposta mais rápida.

3.2.3.4. Amostragem e limitações

A dimensão da amostra é importante para a validação dos resultados obtidos, pois a precisão

dos resultados aumenta com o aumento da dimensão da amostra. Tendo este estudo apenas

um caso único, a amostra é forçosamente reduzida. Assim, devido às características da

amostra não se procedeu a um tratamento estatístico exaustivo.

Contudo, não há dúvida que são estabelecidos importantes indicadores que vão funcionar

como ponto de partida para estudos mais extensos.

3.3. Descrição de Caso de Estudo

3.3.1. Palácio Estoril Residências

O caso de estudo da investigação deste trabalho foi a empreitada do Palácio Estoril

Residências, localizado na Avenida Clotilde, freguesia do Estoril, concelho de Cascais. A zona

de implantação apresenta-se assinalada na Figura 3.2.

Com este empreendimento pretende-se construir residências de luxo, modernas e de alta

qualidade. A construção de um túnel vai estabelecer a ligação entre estes edifícios e o

Complexo Termal do Estoril e o Hotel Palácio do Estoril. O processo de contratação do

empreiteiro é distinto do processo de realização do projecto. A adjudicação da empreitada geral

Page 57: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 3

42

de construção foi feita à OPWAY Engenharia S.A., com preço global de €13.000.000, sem

direito a reclamações de erros e omissões e a executar num prazo de 11 meses a contar da

data de consignação.

Figura 3.2 – Imagem de satélite da localização do Estaleiro da Empreitada do Palácio Estoril Residências

(via Google maps).

No início do estudo a execução da empreitada encontrava-se atrasada. As causas deste atraso

justificam-se pelas inúmeras incompatibilidades no desenho de projecto, as modificações nos

apartamentos vendidos, a aprovação por parte da gestão de projecto de trabalhos adicionais,

entre outras.

O empreendimento é composto por três edifícios com oito pisos cada, sendo dois deles abaixo

da cota de soleira. Os pisos enterrados vão constituir os dois pisos de garagem e onde vão ser

colocados os equipamentos das instalações. O piso ao nível térreo está destinado para o

comércio. Do primeiro ao sexto pisos serão construídos apartamentos de luxo. O quinto e sexto

pisos de cada edifício correspondem a um apartamento duplex. Os três edifícios apresentam

apartamentos com variadas tipologias, indo desde o T2 ao T5. A área de implantação é de

4.070 m2, e a área total de construção é de 20.389 m

2.

Quanto à tecnologia utilizada nos processos construtivos estamos perante uma execução

clássica com grau de repetição e de mecanização médio e industrialização de processos

média. A direcção da empreitada geral está organizada segundo uma estrutura funcional, como

se demonstra na Figura 3.3.

Page 58: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 3

43

Organograma da Empreitada

Director de

Coordenação de

Produção

Director de Obra

Qualidade e

Ambiente

Técnico de

Segurança e

Higiene no

Trabalho I

Preparador Medidor II

Técnico

Administrativo

de Obra

Técnico

de Obra

Assistente

TécnicoTécnico de

Instalações

Especiais

Encarregado

Geral

Encarregado

ArvoradoManobrador

Adjunto do

Director de Obra

Figura 3.3 – Organograma da Empreitada de Construção do Palácio Estoril Residências.

O nível de subcontratação por parte do empreiteiro geral encontra-se próximo dos 75%, com a

maioria dos trabalhos de especialidade adjudicados a subempreiteiros: instalação AVAC9,

águas e esgotos, instalação eléctrica, impermeabilizações, rede de incêndios, caixilharias,

serralharias, acabamentos de pavimentos, de paredes, de tectos e de fachadas, clarabóias,

entre outros.

3.3.2. Caracterização dos inquiridos

Neste caso de estudo foram questionadas 24 pessoas, em que 15 são intervenientes no

projecto em causa, com diferentes funções no processo de execução da obra. Este facto

permite obter um universo de resposta transversal e de diferentes pontos de vista em relação

ao projecto. Os restantes inquiridos são colaboradores da empresa, maioritariamente

directores de obra.

Os intervenientes no projecto exposto compreende director de obra, adjunto do director de

obra, medidor, preparador, assistente técnico, técnico da qualidade e ambiente, encarregado

geral, encarregado e arvorado. Pretendeu-se obter susceptibilidades de várias tarefas

complementares que fazem parte da cadeia de produção. Todos os intervenientes pertencem à

empresa OPWAY Engenharia, S.A. De seguida, apresenta-se no Quadro 3.1 a caracterização

dos inquiridos.

9 AVAC – Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado.

Page 59: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 3

44

Quadro 3.1 – Caracterização dos inquiridos.

Função N.º de Inquiridos

Obra Palácio Estoril Residências Outras obras

Directores de Obra 1 6

Adjunto de Director de Obra 1 2

Técnico da Qualidade e Ambiente 1 -

Técnico de Instalações Especiais - 1

Assistente Técnico 3 -

Preparador 1 -

Medidor 3 -

Encarregado geral 1 -

Encarregados 2 -

Arvorados 2 -

Na Figura 3.4 apresenta-se a divisão dos entrevistados por experiência profissional,

segmentada em 5 intervalos de cinco anos até aos 20 anos e valores superiores a 20. A

maioria dos inquiridos tem mais de 15 anos de experiência, grande parte tem entre 10 a 15

anos e os restantes têm menos de 5 anos de experiência, exceptuando um que se inclui no

intervalo de 5 a 10 anos de experiência profissional.

Experiência profissional

[N.º de Inquiridos]

[In

terv

alo

s e

m a

no

s]

0 1 2 3 4 5 6

0 - 5

5 - 10

10 - 15

15 -20

> 20

Outras obras

Obra Palácio Estoril

Residências

Figura 3.4 – Experiência profissional da amostra considerada.

3.4. Análise e interpretação de dados

3.4.1. Planeamento / Estratégia

No início da empreitada foi elaborado um plano de trabalhos que posteriormente foi aprovado

pelo cliente. Este plano de trabalhos é sujeito a revisão e a nova aprovação quando se

considera necessário realizar ajustes no que respeita a prazos e custos. O planeamento base

coincide com o planeamento aprovado pelo cliente.

O planeamento foi elaborado recorrendo ao Microsoft Project e foi feito no âmbito de prazos. A

calendarização foi desenvolvida com base na técnica CPM (Critical Path Method) o que levou à

existência de apenas uma estimativa para a duração de cada actividade.

Page 60: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 3

45

Inicialmente, a descrição do plano de trabalhos apresentava as actividades organizadas por

especialidades de construção, obtendo-se uma Work Breakdown Structure (WBS) com um

detalhe até ao sexto nível. O nível de maior detalhe referenciava o bloco de apartamentos em

que os trabalhos estavam a ser executados. Nesta calendarização eram descritas e

organizadas pelo programa de trabalhos cerca de 242 actividades.

Perante a necessidade e possibilidade de uma revisão do planeamento, houve uma

reorganização das actividades e da estrutura deste. A WBS passou a apresentar detalhe até ao

quarto nível. O nível de maior detalhe passou a referenciar cada apartamento em que se

executam os trabalhos. Este novo planeamento pretendeu inserir em cada apartamento um

conjunto de actividades, formando um pacote de actividades dinâmico. Deste modo, passou a

haver maior repetição de actividades na calendarização, agrupando um total de 894

actividades. Uma das razões para a alteração à estrutura do planeamento deveu-se às

constantes modificações feitas em cada apartamento em particular.

A aplicação de qualquer material em obra requer a aprovação prévia da fiscalização,

independentemente de quem vai executar o trabalho. Todos os materiais são aprovados em

obra, através de amostras de material e através de fichas técnicas, no caso de fornecimentos

mais específicos. Aquando do desenvolvimento do projecto, o surgimento de dúvidas leva à

necessidade de elaboração de pedidos de esclarecimento.

i. Importância do planeamento

Pretendeu-se obter a opinião dos inquiridos acerca da importância que atribuem ao

planeamento, em termos do bom decorrer do processo de produção da construção. A escala

de resposta foi desde Nada Importante (1) a Muito Importante (5).

A unanimidade de respostas acerca da importância do planeamento permitiu perceber com

clareza que o planeamento é tido como um elemento muito importante para o bom decorrer

dos trabalhos. Em termos de importância, as respostas foram todas positivas e classificadas

como muito importante (70%) e importante (30%) (Figura 3.5).

Importância do planeamento:

70%

30%

Muito

Importante

Importante

Figura 3.5 – Resultado percentual das respostas dadas acerca da importância do planeamento.

Page 61: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 3

46

ii. Satisfação com o planeamento

Também se pretendeu ter uma ideia da satisfação de cada inquirido em relação ao retorno que

o planeamento feito tem, em termos de eficácia da execução e se está satisfeito com a

informação que recebe sobre o planeamento.

No que respeita ao nível de satisfação com o planeamento, a maioria dos inquiridos (64%)

considerou satisfatório o retorno do planeamento existente em termos de eficácia da execução.

Por outro lado, 27% dos inquiridos afirmou estar pouco satisfeitos com o efeito do planeamento

praticado no desempenho da execução. Também a maioria dos inquiridos, cerca de 68%,

considerou estar satisfeito com a informação que recebe acerca do planeamento, contra 18%

que disse estar pouco satisfeito. Os resultados encontram-se na Figura 3.6.

Satisfação com:

· Planeamento existente em termos

de eficácia de execução

· Informação que recebe acerca do

planeamento

InsatisfeitoPouco

SatisfeitoIndiferente Satisfeito

Muito

Satisfeito

5%

-

18%

27%

5%

5%

68%

64%

5%

5%

Figura 3.6 – Resultado percentual das respostas relacionadas com a satisfação dos inquiridos acerca do

planeamento.

É de salientar que grande parte da percentagem que respondeu positivamente é constituída

por directores de obra e grande parte da percentagem que respondeu negativamente é

representada por funções com maior proximidade à execução da obra, nomeadamente

preparadores, medidores e encarregados.

iii. Possibilidade de melhoria do planeamento

De modo a obter a opinião acerca do processo de planeamento, foi questionado se esse

processo poderia ser melhorado e de que forma é que isso seria possível. O resultado é

revelado na Figura 3.7.

Possibilidade de melhoria do

processo de planeamento:

71%

29%

Sim

Não

Figura 3.7 – Percentagem de respostas acerca a possibilidade de melhoria do processo de planeamento.

Page 62: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 3

47

Apenas 30% dos inquiridos respondeu que o processo de planeamento não poderia ser

melhorado. Ou seja, cerca de 70% dos inquiridos considerou a existência de espaço para a

realização de melhorias no planeamento. Além disso, foram indicados alguns exemplos que

confirmam essa existência, tais como a realização de reuniões semanais, análise de riscos,

aumento do controlo através de maior monitorização e com maior frequência, maior

coordenação entre especialidades e maior adaptação a alterações de projecto. Bem como o

conhecimento do que se vai realizar em obra e análise de caminhos críticos, com a listagem

das actividades que são realmente importantes. Adicionalmente, foi apontada a melhoria do

conhecimento das ferramentas de planeamento, a delegação de poder para a tomada de

decisão e uma maior confiança na crescente especialização dos intervenientes.

Alguns dos inquiridos acreditam ser possível melhorar o processo de planeamento mas, apesar

de concordarem com essa possibilidade, não sabem de que forma é possível executar essa

melhoria.

iv. Cumprimento do planeamento

Outra informação considerada importante adquirir foi a percentagem de planeamento cumprido

a cada data de controlo. Nesta questão foram apontados cinco intervalos percentuais como

possíveis respostas, além da opção Não Sabe / Não Responde (6), como se apresenta na

Figura 3.8.

Percentagem média de não cumprimento do planeamento a cada data de controlo

< 20% 21 – 40% 41 – 60% 61 – 80% 81 – 100%

(1) (2) (3) (4) (5)

NS / NR1

(6)

Figura 3.8 – Intervalos percentuais como opção de resposta à percentagem média de não cumprimento

do planeamento a cada data de controlo.

No que respeita à percentagem de não cumprimento do planeamento observa-se que um

quarto do inquiridos não tem conhecimento da relação entre o que estava planeado e o que foi

realmente executado, uma vez que optaram pela resposta Não Sabe/Não Responde (6). No

entanto, aproximadamente um terço dos inquiridos respondeu que o valor percentual de

planeamento não cumprido a cada data de controlo está compreendido entre o intervalo 21 a

40%. Um sexto dos inquiridos achou que o valor incidia no intervalo de 41 a 60% e os restantes

inquiridos dispersaram as suas respostas nos restantes intervalos propostos.

Page 63: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 3

48

3.4.2. Cadeia de Produção

Neste grupo de questões pretendeu-se obter informações acerca do desperdício na cadeia de

produção. O conceito de desperdício é interpretado como algo que se traduz em ineficiência

dos trabalhos de execução e, deste modo, em ineficiência da própria cadeia de produção.

Na Figura 3.9 é apresentada a informação que se pretendeu obter acerca do desperdício na

cadeia de produção. No que respeita ao impacto do desperdício na cadeia de produção foi

estabelecida uma escala de cinco valores, variando de Irrelevante (1) a Muito Relevante (5).

Quanto à importância e causas do desperdício na cadeia de produção, estes foram igualmente

avaliados numa escala de cinco valores, variando de Nada Importante (1) a Muito Importante

(5). Os tipos de desperdício referidos foram definidos segundo a filosofia Lean. Em qualquer

um dos casos, foi deixado espaço para o possível acréscimo de situações que os inquiridos

considerassem interessante referir.

Impacto do desperdício na cadeia de produção em termos de:

- Resultados financeiros;

- Cumprimento de prazos;

- Qualidade;

Tipos de desperdício na cadeia de produção na Construção:

- Satisfação do cliente.

- Mão-de-obra à espera de material/equipamento de trabalho;

- Trabalho à espera de mão-de-obra;

- Correcção de erros de execução;

- Transporte e movimentos desnecessários;

- Aprovisionamento desnecessário de materiais;

- Mão-de-obra em estaleiro por utilizar.

- Alterações/Indefinições de projecto;

- Erros no planeamento;

- Erros na execução;

- Falha de comunicação interna;

- Falha de comunicação externa;

- Falha de segurança/acidentes;

Causas para o desperdício:

- Deficiente preparação dos trabalhos a executar.

Figura 3.9 - Resumo da informação que se pretendeu adquirir com o inquérito acerca do desperdício na

cadeia de produção na Construção.

Page 64: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 3

49

i. Impacto do desperdício na cadeia de produção

Neste ponto pretendeu-se obter informação acerca da relevância do impacto do desperdício na

cadeia de produção em termos de satisfação do cliente, qualidade, cumprimento de prazos e

resultados financeiros. As respostas acerca do impacto do desperdício na cadeia de produção

nos termos apresentados na Figura 3.9 são revelados na Figura 3.10.

Impacto do desperdício na cadeia de produção

em termos de:

· Resultados financeiros

· Cumprimento de prazos

· Qualidade

· Satisfação do cliente

Indiferente RelevanteMuito

Relevante

-

-

30%

17%

48%

39%

43%

52%

52%

61%

26%

26%

Figura 3.10 – Resultados acerca do impacto do desperdício na cadeia de produção nos termos

apresentados.

Os resultados financeiros e o cumprimento de prazos consitituiram os aspectos mais

valorizados. O impacto nestes dois aspectos foi considerado como muito relevante (52%) e

relevante (48%). Em termos de qualidade, o impacto do desperdício foi considerado como

relevante pela maioria e cerca de um quarto afirmou ser muito relevante. No entanto, nem

todos conferem relevância a este aspecto, pois quase um terço dos inquiridos considerou esse

impacto como indiferente.

Por fim, o impacto dos desperdícios em termos de satisfação do cliente foi considerado

relevante pela maioria dos inquiridos. Os restantes dividiram as suas respostas em muito

relevante (1/4 das respostas) e indiferente (1/6 das respostas).

ii. Importância do desperdício na cadeia de produção

Pretendeu-se saber qual a importância atribuída por cada inquirido aos vários tipos de

desperdício apresentados. De acordo com a filosofia Lean, foram consideradas como tipos de

desperdício as situações apresentadas na Figura 3.9 e no Quadro 3.2. Foi deixado espaço

para o possível acréscimo de situações que os inquiridos considerassem como desperdício. No

Quadro 3.2 revela-se a importância dada a cada tipo de desperdício pelos inquiridos.

Em média, 41% das respostas indicam como muito importante a existência de desperdício,

independentemente do tipo e 40% apontam para importante. Apenas 10% considera indiferente

a existência de desperdício. Portanto, observa-se que a globalidade dos inquiridos preocupa-se

com a existência de vários tipos de desperdício.

Page 65: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 3

50

Quadro 3.2 – Importância do desperdício.

Tipos de desperdício 1 2 3 4 5 Média Moda Mediana

Mão de obra à espera de material ou equipamento de trabalho

Frequência 0 1 2 7 13 4 5 5

% 0% 4% 9% 30% 57%

Trabalho à espera de

mão-de-obra

Frequência 0 1 1 13 8 4 4 4

% 0% 4% 4% 57% 35%

Correcção de erros de execução

Frequência 0 0 1 12 10 4 4 4

% 0% 0% 4% 52% 43%

Transporte e movimentos desnecessários

Frequência 0 3 4 10 6 4 4 4

% 0% 13% 17% 43% 26%

Aprovisionamento desnecessário de materiais

Frequência 0 4 3 8 8 4 5 4

% 0% 17% 13% 35% 35%

Mão de obra em estaleiro

por utilizar

Frequência 0 4 3 5 11 4 5 4

% 0% 17% 13% 22% 48%

Perante os resultados é possível afirmar que os tipos de desperdício considerados mais

importantes relacionam-se com as esperas, nomeadamente mão-de-obra à espera de material

ou equipamento de trabalho e mão-de-obra em estaleiro por utilizar. Os restantes tipos são

considerados, maioritariamente, importantes.

iii. Causas do desperdício

Também se pretendeu saber o que mais motiva os tipos de desperdício apresentados

anteriormente. Para isso, elaborou-se uma lista de possíveis causas apresentada no Quadro

3.3. Mais uma vez, foi deixado espaço aos inquiridos para acrescentar causas para o

desperdício. Os resultados apresentam-se no Quadro 3.3.

Quadro 3.3 - Motivos para a ocorrência de desperdício.

Desperdícios 1 2 3 4 5 Média Moda Mediana

Alterações / Indefinições de projecto

Frequência 0 0 0 5 18 5 5 5

% 0% 0% 0% 22% 70%

Erros no planeamento Frequência 0 2 5 12 4

4 4 4 % 0% 9% 22% 52% 17%

Erros na execução Frequência 0 1 3 10 9

4 4 4 % 0% 4% 13% 43% 39%

Falha de comunicação interna

Frequência 0 2 3 6 12 4 5 5

% 0% 9% 13% 26% 52%

Falha de comunicação externa

Frequência 0 1 8 7 7 4 3 5

% 0% 4% 35% 30% 30%

Falha de segurança / Acidentes

Frequência 0 4 6 7 6 4 4 4

% 0% 17% 26% 30% 26%

Deficiente preparação dos trabalhos a executar

Frequência 0 1 0 7 15 5 5 5

% 0% 4% 0% 30% 65%

Todas as causas de desperdício apresentadas foram classificadas como importante e muito

importante em cerca de 77%. As alterações de projecto foram destacadas pela maioria como

Page 66: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 3

51

causa muito importante (70% dos inquiridos), assim como a deficiente preparação dos

trabalhos a iniciar (65% dos inquiridos). Também foram fortemente considerados os erros no

planeamento (69%), erros na execução (82%) e falha de comunicação interna (78%), cujas

percentagens correspondem à soma das respostas das opções importante e muito importante.

Contudo, observa-se a existência de respostas que relegam para segundo plano os erros no

planeamento, com 30% das respostas abaixo do importante. Quase metade dos inquiridos não

confere importância à falta de segurança enquanto fonte motivadora de desperdício.

iv. Estimativa de desperdício

A estimativa de desperdício apontada por cada inquirido foi feita através de uma classificação

em intervalos percentuais, apresentada na Figura 3.11.

Hipóteses para a estimativa para o peso do desperdício na produção

< 10% 10 – 20% 20 – 40% 40 – 60% > 60%

(1) (2) (3) (4) (5)

NS / NR1

(6)

Figura 3.11 – Classificação em intervalos percentuais para a estimativa para o peso do desperdício.

Na estimativa para o peso do desperdício na produção, metade dos inquiridos apontou para o

intervalo de 10 a 20% e, aproximadamente um quarto indicou menos de 10%.

As anomalias e interrupções que ocorrem na execução das actividades não são registadas, o

que leva a uma análise circunstancial dos problemas. Por outro lado, verificou-se que as

interrupções dos trabalhos se deve principalmente a fontes externas, nomeadamente

alterações de projecto, o que dificulta a aplicação de medidas correctivas.

Alguns inquiridos sugeriram aspectos que consideraram fundamentais para a melhoria da

cadeia de produção e consequente diminuição de desperdício (Figura 3.12).

- Rigor no planeamento;

- Cumprimento do planeamento;

- Planeamento a vários níveis de detalhe;

- Maior controlo diário dos trabalhos;

- Aprovisionamento atempado e correcto;

Aspectos fundamentais para a diminuição do desperdício:

- Conhecimento do projecto, boa definição e

revisão de desenhos do projecto de execução;

- Comunicação a todos os níveis da cadeia de

produção;

- Utilização de mão-de-obra qualificada;

- Preparação eficaz dos trabalhos;

- Boa coordenação entre equipas;

- Informação aberta.

Figura 3.12 – Aspectos fundamentais para a melhoria da cadeia de produção.

Page 67: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 3

52

3.4.3. Gestão da Construção / Lean Construction

No que respeita ao controlo da produção, foram identificados processos de controlo em termos

de custos e prazos. O controlo de custos é feito mensalmente e o controlo de prazo é realizado

a nível semanal. Ao final do mês é apresentado um relatório de custos. Ao final de cada

quinzena, e se possível, é feito um levantamento do trabalho realizado e comparado com o que

deveria ter sido feito.

As despesas, os proveitos e o valor da produção realizada em determinado mês são

contabilizados e sintetizados num relatório. Posteriormente, este relatório é fornecido à

direcção de produção da empresa e com base neste relatório faz-se a comparação entre o

cenário real e o cenário planeado.

Quanto à gestão da construção, pretendeu-se saber a opinião dos inquiridos acerca dos

factores de sucesso de um projecto. Além disso, pretendeu-se saber se os inquiridos possuem

algum conhecimento sobre a Lean Construction.

i. Factores de sucesso de um projecto

Com uma escala de cinco valores, entre Irrelevante (1) e Muito Relevante (5), os inquiridos

classificaram os factores de sucesso sugeridos. Além disso, foi deixado espaço para o

acréscimo de outros factores considerados relevantes. Os quatro factores de sucesso

sugeridos foram os resultados financeiros, o cumprimento de prazos, a qualidade e a

satisfação do cliente.

Segundo as respostas fornecidas, todos os factores indicados foram considerados relevantes

ou muito relevantes. Como muito relevante foram vistos os resultados financeiros (80%). O

cumprimento de prazos também se destacou como muito relevante (60%). Os dois outros

factores, qualidade e satisfação do cliente, mantiveram-se divididos equatitativamente entre as

classificações relevante e muito relevante. Os resultados discutidos apresentam-se na Figura

3.13.

Factores de sucesso de um projecto:

· Resultados financeiros

· Cumprimento de prazos

· Qualidade

· Satisfação do cliente

RelevanteMuito

Relevante

21%

42%

54%

58%

79%

58%

46%

42%

Figura 3.13 – Resultados das respostas acerca dos factores de sucesso de um projecto.

Page 68: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 3

53

ii. Conhecimento sobre a Lean Construction

Relativamente ao conhecimento sobre a Lean Construction, 63% dos inquiridos respondeu não

ter qualquer conhecimento anterior a este estudo. Por outro lado, 38% admite possuir alguma

ideia sobre o assunto.

Todos os inquiridos que responderam positivamente à questão anterior dão importância às

mudanças introduzidas por esta filosofia, em que 78% indicou ser importante e os restantes

22% apontou para muito importante.

No que refere à expectativa de melhoria da cadeia de produção devido à contribuição da

cultura Lean, a maioria dos inquiridos encontra-se entre confiante e muito confiante em cerca

de 55%. Contudo, os restantes inquiridos afirmam ser indiferentes ou mesmo cépticos face à

expectativa de melhoria da cadeia de produção.

3.4.4. Agilidade

A re-estruturação do planeamento em pacotes de trabalho dinâmico permitiu torná-lo mais ágil,

pois a introdução de uma alteração inesperada acaba por ter menor impacto em termos de

prazo de execução de determinada actividade. No entanto, existem outras possibilidades de

melhorar a capacidade de resposta em termos de planeamento. Pretendeu-se saber a opinião

dos inquiridos acerca da Agilidade da cadeia de produção.

i. Alterações nas actividades do planeamento

No que respeita à possibilidade de evitar alterações ao planeado, as respostas foram bastante

dispersas. As respostas poderiam variar numa escala de cinco valores, entre Impossível (1) e

Sempre (5). É de notar que os inquiridos cuja função consiste na direcção de obra apontaram

as suas respostas para “impossível e rara” enquanto que, os inquiridos ligados à preparação de

obra e execução (nomeadamente encarregados, preparadores e medidores) responderam

maioritariamente “frequente”.

Nesta obra é comum o surgimento de alterações devido a incompatibilidades no projecto.

Assim, poderá justificar-se o facto de que quem esteja mais próximo da execução dos

trabalhos afirme ser frequente a possibilidade de evitar muitas das alterações existentes. Por

outro lado, os directores de obra que pertencem a várias obras distintas, aceitam as alterações

como algo difícil de evitar.

Além disso, pretendeu-se saber a significância atribuída pelos inquiridos ao impacto de uma

alteração a determinada actividade do planeamento, em termos de prazo de execução. As

respostas podiam variar entre Insignificante (5) e Muito Significante (5), numa escala de cinco

valores.

Page 69: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 3

54

Todos os inquiridos valorizaram como significativo o impacto que uma alteração numa

actividade do planeamento tem no cumprimento do seu prazo de execução.

ii. Contribuição do feedback para a melhoria do processo de planeamento

Questionou-se os inquiridos acerca da contribuição do feedback para a melhoria do processo

de planeamento. As hipóteses de opinião variavam numa escala de cinco valores, entre o

Irrelevante (1) e o Muito Relevante (5). Todas as respostas indicaram que o feedback tem

grande relevância, pois, facilita e reforça a aprendizagem quando as tarefas não ocorrem como

planeado e permite a melhoria futura do planeamento.

iii. Utilidade de várias práticas para aumentar a Agilidade na cadeia de produção

De entre várias práticas consideradas ágeis pelos Métodos Ágeis, foi pedido aos inquiridos

uma classificação ao nível da sua utilidade. Estabeleceu-se, assim, uma escala de cinco

valores, entre o Inútil (1) e o Muito Útil (5). As práticas referidas encontram-se listadas no

Quadro 3.4, assim como os resultados dos inquiridos.

Quadro 3.4 - Classificação em termos de utilidade das várias práticas consideradas como meios para

implementar Agilidade.

Práticas 1 2 3 4 5 Média Moda Mediana

Informação aberta Frequência 0 0 0 12 11

4 4 4 % 0% 0% 0% 52% 48%

Monitorização contínua do projecto

Frequência 0 0 0 12 11 4 4 4

% 0% 0% 0% 52% 48%

Comunicação frequente Frequência 0 0 1 3 13

5 5 5 % 0% 0% 4% 39% 57%

Reuniões diárias Frequência 2 3 11 6 1

3 3 3 % 9% 13% 48% 26% 4%

Processo visível a todos Frequência 0 0 4 16 3

4 4 4 % 0% 0% 17% 70% 13%

Tomada de decisão colectiva

Frequência 1 5 5 10 2 3 4 4

% 4% 22% 22% 43% 9%

Participação activa do cliente

Frequência 0 6 7 7 3 3 3 3

% 0% 26% 30% 30% 13%

Feedback frequente entre equipa e cliente

Frequência 0 2 2 14 5 4 4 4

% 0% 9% 9% 61% 22%

Fácil actualização da documentação

Frequência 0 0 2 10 11 4 5 4

% 0% 0% 9% 43% 48%

Todos os inquiridos afirmaram que, tanto a monitorização contínua do projecto como a

informação aberta têm utilidade para aumentar a Agilidade na cadeia de produção. Foram

fortemente considerados como úteis e muito úteis as práticas de comunicação frequente e fácil

actualização da documentação, com 96% e 91% de respostas, respectivamente. Cerca de 70%

dos inquiridos apontaram como útil a possibilidade de visualização do processo por todos os

Page 70: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 3

55

que nele intervêm. A existência de feedback frequente entre a equipa e o cliente também foi

tida em conta como útil, com 60% de respostas. Por outro lado, os resultados revelam que

grande parte dos inquiridos não atribuiu utilidade a reuniões diárias e à participação activa do

cliente.

iv. Agilidade

Por fim, pretendeu-se obter a opinião dos inquiridos acerca da contribuição da Agilidade. Os

inquiridos tiveram a oportunidade de responder mediante uma escala de cinco valores,

variando desde Muito Céptico (1) a Muito Confiante (5).

Assim, no que respeita à contribuição do possível aumento da Agilidade da empresa, 83% dos

inquiridos revelou estar confiante.

3.5. Conclusões

Após a análise da informação obtida ao longo do estudo deste caso, tornou-se evidente a

importância dada ao planeamento pelos agentes da construção. Apesar de ter sido referido que

o controlo do planeamento é realizado semanalmente, não existe uma ideia objectiva acerca da

percentagem de não cumprimento do planeamento entre os diversos inquiridos.

A maior parte dos inquiridos revelou estar satisfeito com o sistema actual, tanto ao nível da

eficácia do planeamento como do retorno da informação sobre o planeamento. Contudo, a

maioria dos inquiridos também concordou com a possibilidade de melhoria do processo de

planeamento.

As oportunidades de melhoria com maior referência relacionam-se com a melhoria do

conhecimento do que se vai realizar em obra, listagem das actividades que realmente são

importantes, maior adaptação a alterações de projecto, maior monitorização e com maior

frequência e melhoria do conhecimento das ferramentas de planeamento. Estas respostas vão

ao encontro da aplicação da filosofia Lean e das suas ferramentas, que possibilitam o

planeamento e o controlo da produção, permitindo melhorar o planeamento efectuado e o

acompanhamento mais próximo dos trabalhos.

Os tipos de desperdício considerados como mais importantes foram a correcção de erros de

execução, o trabalho à espera de mão-de-obra e a mão-de-obra à espera de material ou

equipamento de trabalho. As alterações e indefinições de projecto, a deficiente preparação dos

trabalhos a executar e os erros na execução foram indicados como principais motivos para a

ocorrência de desperdício. As paragens no processo produtivo não são devidamente tratadas

de forma a evitar a sua repetição.

O bom planeamento, o aprovisionamento atempado e correcto de materiais, a adequada

preparação dos trabalhos a iniciar, a qualidade do projecto e a comunicação e coordenação

Page 71: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 3

56

entre equipas consistem nos factores mais referidos para limitar a ocorrência de desperdício.

Estes factores levam à necessidade de novas formas de controlo e planeamento da produção

como forma de redução do desperdício.

Os principais factores de sucesso consistem nos resultados financeiros e no cumprimento de

prazos. Para a melhoria da gestão da construção foram referidos o planeamento, a adequação

dos projectos, o acompanhamento profundo da evolução da obra no que diz respeito ao

aprovisionamento de materiais e cumprimento dos prazos de execução e a melhoria da

comunicação entre os intervenientes.

A maior parte dos inquiridos desconhece a filosofia Lean, no entanto, mediante a divulgação do

conceito, acredita estar confiante na contribuição desta filosofia para a melhoria da cadeia de

produção.

Segundo os dados obtidos parece existir a necessidade de se minimizar o deperdício, através

de um processo de produção mais eficiente. Mas, notou-se a necessidade de se conseguir

responder às inesperadas e súbitas mudanças que surgem, tanto ao nível de alterações do

projecto de desenho como de pedidos únicos de clientes. Com o aumento da Agilidade, a

empresa pode adaptar os seus processos às alterações, sem ter de aumentar

significativamente o prazo estipulado para a execução de determinado objectivo. Contudo, para

isso é necessário que exista rápido acesso à informação e equipas motivadas e com poder e

conhecimento suficientes para permitir responder com rapidez às alterações feitas pelos

clientes.

A maioria dos inquiridos revela estar satisfeito no que respeita à comunicação na empresa e ao

seu poder de decisão, além de se considerar motivado para manter a qualidade do seu

trabalho. Contudo, um terço dos inquiridos afirma não estar satisfeito com esses aspectos. Por

outro lado, a maioria dos inquiridos considera não estar satisfeito no que respeita à valorização

da competência individual.

Tanto a filosofia Lean e como a Gestão Ágil de projectos defendem o planeamento baseado

em feedback, considerando-o como facilitador da aprendizagem. Todos os inquiridos afirmaram

que o feedback tem grande relevância e que deve ser constante, pois contribui de forma

decisiva para o aumento da transparência do processo produtivo e para reconhecer os motivos

de não cumprimento do planeamento. Perante este facto, torna-se possível elaborar acções

correctivas e preventivas que evitem a repetição de problemas.

A maioria dos inquiridos considerou importantes várias práticas apresentadas e consideradas

como meios para implementar a Agilidade. Assim, as oportunidades de aumentar a Agilidade

consideradas de maior utilidade foram a monitorização contínua do projecto, a informação

aberta a todos, a frequente comunicação, a facilidade de actualização da documentação, a

visualização do processo e a existência de feedback frequente entre a equipa e o cliente.

Page 72: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 3

57

Ao longo deste capítulo foi revelada a necessidade de diminuir o desperdício, estabilizar o fluxo

de produção, em simultâneo com a produção de valor e qualidade final do produto. Esta

necessidade é apontada como uma oportunidade de aplicação dos princípios e ferramentas da

Lean Construction. De modo a garantir a satisfação do cliente e a aumentar a competitividade

da empresa, a necessidade de conseguir responder com rapidez às alterações inesperadas

apresentou-se como uma oportunidade para a aplicação de práticas consideradas ágeis.

Page 73: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

58

Capítulo 4

4. Metodologia proposta

4.1. Introdução

O planeamento e o controlo da produção são dois factores fundamentais no êxito de qualquer

empreendimento. A necessidade de aplicação de novas ferramentas de controlo e

planeamento da produção é fundamental na indústria da Construção e apresenta-se como uma

oportunidade de aplicação da Lean Construction. O sistema Lean tem vindo a revelar-se como

uma ferramenta poderosa que requer sacrifícios e vontade de mudar, mas os benefícios

compensam o esforço desenvolvido.

A Lean Construction confere flexibilidade ao planeamento e reduz a variabilidade. De forma a

diminuir o impacto da incerteza, o detalhe do planeamento vai aumentando à medida que se

aproxima o prazo de execução. Contudo, há a necessidade de melhorar a aptidão do

planeamento à adaptação a alterações, com o aumento do seu desempenho. Para isso é

necessário que a tomada de decisão seja feita rapidamente.

Uma metodologia de Gestão Ágil tem de ser flexível e adaptável às necessidades emergentes

e não estruturado em padrões. Os clientes e todos os envolvidos no processo colaboram

regularmente e todas as soluções face à mudança ganham prioridade sobre cumprir o plano do

projecto. Não significa que se proponha um corte total com os modelos de Gestão Clássica de

Projectos, pelo contrário, existem muitos princípios que se podem adoptar com algumas

alterações e ajustes. Uma prática muito adoptada nos processos tradicionais e que pode ser

compatível com os modelos ágeis, é a elaboração do planeamento como ferramental útil para o

projecto, desde que seja reconhecida a sua aptidão para mudá-lo.

A metodologia que se propõe para aplicação neste caso de estudo tem alguma semelhança

aos Métodos Ágeis largamente utilizados no desenvolvimento de Software, especialmente o

Método Ágil Scrum. Este método não se contenta com o desenvolvimento do projecto dando

igualmente importância à gestão e ao planeamento.

O presente capítulo vai descrever a proposta de uma metodologia de planeamento e controlo

da construção coerente com a filosofia Lean e com as práticas de Métodos Ágeis, baseada na

revisão bibliográfica e no caso estudado anteriormente. Os principais objectivos desta

metodologia consistem em dar maior flexibilidade ao planeamento, reduzir a variabilidade e

melhorar a capacidade de resposta a alterações e mudanças ao plano.

Page 74: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

59

4.2. Bases teóricas da metodologia

4.2.1. Gestão Clássica de Projectos e Gestão Ágil de Projectos

O PMBOK® Guide 1996 serve como base para as empresas, no que diz respeito a processos

de gestão, mas não pode ser considerado como única referência. A experiência da equipa e do

próprio gestor é de grande valor no desenvolvimento de projectos. O PMBOK® Guide 1996

apresenta uma estrutura de processos, onde são definidas as áreas de gestão e as suas

actividades em termos de entradas, ferramentas utilizadas e saídas geradas. Cada uma das

áreas possui detalhe e âmbito específicos e estas áreas estão integradas umas com as outras,

formando um todo, único e organizado.

O PMBOK® Guide 1996 é moldado de acordo com as necessidades da organização que o

aplica e os seus componentes são restritos a estas. Pode ser aplicado em vários domínios do

conhecimento, desde a Construção Civil à produção de Software. O guia é considerado

bastante burocrático e rígido na sua aplicação.

Há uma preocupação com os problemas que podem ocorrer durante o projecto, sendo estes

geralmente caracterizados como riscos. Um risco é um evento ou uma condição incerta que, se

ocorrer, terá um efeito positivo ou negativo em pelo menos um objectivo do projecto. A gestão

deve estar preparada para lidar com os riscos e ter rápida resposta.

A Gestão Clássica de Projectos de Projectos trabalha com âmbito, tempo e custos fixos e tenta

adequar o controlo de qualidade ao processo de desenvolvimento. No Quadro 4.1,

apresentam-se algumas características, referenciadas por Magalhães et al. (2005) como

condizentes com as metodologias da Gestão Clássica de Projectos.

Quadro 4.1 – Características das metodologias da Gestão Clássica de Projectos.

Características das metodologias da Gestão Clássica de Projectos

Predictivas: Cada etapa de desenvolvimento do projecto é baseada na etapa anterior e funciona

bem quando não há alterações à concepção do projecto. Parte do princípio que os

requisitos são estáveis.

Orientadas a

processos:

Partem do princípio que devem ser impostos e executados processos bem definidos

para garantir a qualidade do produto resultante. As pessoas são tratadas como

recursos alocados, tal como os equipamentos e as ferramentas. Desconsidera o talento

pessoal, o que afecta a auto-estima e, em consequência, a produtividade da equipa.

Rígidas: Pressupõem que é possivel especificar em antemão todos os requisitos do projecto a

ser desenvolvido o que dificulta – e muitas vezes impede – a realização das alterações

e pode comprometer a evolução natural da solução.

Burocráticas: Geram muita sobrecarga no desenvolvimento a ser realizado e podem comprometer o

sucesso do projecto.

Page 75: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

60

Uma abordagem da Gestão Clássica de Projectos apesar de realizar o planeamento, o controlo

e o acompanhamento dos trabalhos, ainda se apresenta resistente às mudanças que ocorrem

devido à incerteza inerente a um projecto. Por outro lado, uma abordagem da Gestão Ágil é

adaptativa, orientada a pessoas, flexível, iterativa e procura a simplicidade. Neste contexto, a

Gestão Ágil de Projectos procura a simplicidade e a aplicação do conceito de Agilidade, que se

traduz em soluções rápidas, económicas e de valor para o cliente e equipa de desenvolvimento

e incentivo à construção de produtos de forma evolutiva e adaptativa.

É comum os clientes revelarem o desejo por determinado produto específico, com a

substituição da solução inicial. A necessidade em conseguir oferecer aquilo que o cliente

deseja e a urgência em obter resultados mais rápidos leva a que a forma do desenvolvimento

de projectos seja repensada.

A Gestão Clássica de Projectos possui restrições, como qualquer plataforma, que podem torná-

la menos eficaz. É neste ponto, onde a eficácia de uma abordagem de Gestão Clássica de

Projectos diminui, que uma abordagem de Gestão Ágil pode ser aplicada. A Gestão Clássica

de Projectos de Projectos é criticada pela sua utilização dificultar a sua adaptação a projectos

mutáveis. Em contrapartida, as metodologias de Gestão Ágil ganham cada vez mais uma maior

popularidade pela sua adaptabilidade.

Existem algumas metodologias de gestão que se baseiam no conceito de Agilidade, como por

exemplo, a Agile Project Management, a Agile Project Management Framework, o Extreme

Project Management e o Scrum. Estas metodologias baseiam-se fortemente nos princípios

evidenciados no Manifesto Ágil e têm em consideração as pessoas e o ambiente em que elas

estão inseridas. No entanto, nenhuma destas metodologias leva em consideração o PMBOK®

Guide como conjunto de práticas já utilizadas em gestão de projectos.

A Gestão Ágil de Projectos apresenta maior concentração nas actividades de execução do que

nas de planeamento, adaptando-se às mudanças. Além disso, aumenta a flexibilidade do

planeamento, a fácil adaptação e a visibilidade do processo e estabelece pontos de revisão

para a verificação da gestão.

A visibilidade e simplicidade do processo, a comunicação frequente realizada através de

reuniões, as iterações relativamente curtas e a maior focagem na execução incentivam à

cooperação e autodisciplina, à tomada de decisão colectiva e à participação do cliente. Uma

abordagem da Gestão Ágil não consiste estritamente numa metodologia, mas numa forma de

visão e um conjunto de atitudes, valores e princípios.

De acordo com Udo e Koppensteiner (2003), a maior diferença entre o PMBOK® Guide 1996 e

as metodologias ágeis fica visível nos processos de planeamento e controlo.

Page 76: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

61

Uma abordagem da Gestão Clássica de Projectos é fortemente dirigida ao planeamento e

defende que, para se obter sucesso, se deve planear o suficiente, rastrear as actividades

executadas de acordo com o plano do projecto e tomar acções correctivas quando o trabalho

se desviar do plano (Griffiths, 2004). Nas abordagens da Gestão Ágil, a ênfase da gestão

desloca-se do planeamento para a execução, pois é durante a execução que são tomadas as

decisões cruciais para o sucesso do projecto. Assim, as abordagens da Gestão Ágil priorizam

as actividades para as iterações frequentes de modo a que o plano de projecto se complete.

Na Figura 4.1 apresenta-se a comparação da fase de planeamento da Gestão Clássica de

Projectos e da Gestão Ágil.

Gestão Cláss ica Gestão Ági l

Planeamento integral

detalhado do projecto

Desenvolvimento de um

plano inicial do projecto,

seguido por planeamentos

individuais a cada iteração.

visa a entrega rápida de

valor ao cliente e a

apresentação de resultados

ao longo de todo o projecto

Planeamento

Figura 4.1 – Comparação entre as fases de planeamento da Gestão Clássica de Projectos e da Gestão

Ágil de projectos.

Para as abordagens da Gestão Ágil, no desenvolvimento do planeamento é reconhecido o

elevado grau de incerteza e de mudança. O plano resultante desta etapa é construído a partir

de informações da especificação e da arquitectura do produto, dos riscos envolvidos, do

padrão de qualidade ou do nível de defeitos estabelecido, das restrições do negócio e dos

marcos do projecto. As práticas da fase de planeamento das abordagens ágeis, repetidas a

cada ciclo ou iteração, são divididas em duas catergorias: estrutura analítica do produto e

planeamento de entregas (ver Quadro 4.2).

Quadro 4.2 - Práticas da fase de planeamento das abordagens ágeis (adaptado de Dias, 2005)

Categoria Prática Descrição

Estrutura

analítica do

produto

Lista de funcionalidades

do produto

Expandir a visão do produto. Expandir as actividades listadas

para tarefas necessárias à sua execução;

Cartões de

funcionalidades

Registo das tarefas para cada actividade e estimativa de

prazo para o seu desenvolvimento;

Requisitos de

desempenho

Verificação dos requisitos para o desenvolvimento dessas

tarefas;

Planeamento

das entregas

Plano de entregas,

marcos e iterações

Desenvolvimento de um plano que apresente o caminho a

ser seguido pela equipa de projecto para entregar o produto

do projecto, de acordo com os objectivos de âmbito, prazo e

restrições delineados. São planeados vários ciclos ou

iterações para refinamento do produto final do projecto.

Page 77: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

62

O planeamento torna-se mais ágil quando há maior incidência no próprio planeamento do que

no seguimento de um plano. O encorajmento à mudança também contribui para a agilidade do

planeamento pois resulta em planos com facilidade de alteração e difusão por todos os

intervenientes do projecto.

É grande a necessidade de feedback frequente para a validação das hipóteses assumidas. As

adaptações dependem do manuseio e do entendimento de uma vasta gama de informações,

que incluem o progresso do projecto, os riscos técnicos, a evolução dos requisitos do produto e

a análise do mercado.

No PMBOK® Guide 1996, os processos de controlo asseguram que os objectivos do projecto

são encontrados através da frequente monitorização e medição do progresso, para identificar

as variações do plano e tomar acções correctivas. Nas metodologias ágeis, as iterações são

utilizadas como um mecanismo de controlo para ajudar a tornar mais fácil a mudança de curso

durante o projecto, assim como, promover alguma estabilidade, pois não são realizadas

alterações durante as iterações. Na Figura 4.2 apresenta-se a comparação da fase de

monitorização e controlo da Gestão Clássica de Projectos e da Gestão Ágil.

Monitorização e

ControloGestão Cláss ica Gestão Ági l

Ênfase no controlo do

progresso dos trabalhos e no

controlo e gestão de

mudanças para minimizar os

impactos no projecto.

revisão dos resultados

entregues e abertura para

adaptações do âmbito,

visando o atendimento aos

novos requisitos do negócio.

permite realizar alterações

ao âmbito a cada iteração,

para atender a mudanças

de requisitos do negócio

Figura 4.2 – Comparação entre a fase de monitorização e controlo da Gestão Clássica de Projectos e da

Gestão Ágil de projectos.

A fase de monitorização e controlo das abordagens da Gestão Ágil de Projectos possui apenas

uma prática, designada por revisão do produto / projecto / equipa e acções de adaptação. Wsra

prática é descrita no Quadro 4.3, bem como a sua sub-divisão em sub-práticas.

Desta forma, a Gestão Ágil de Projectos abandona uma postura marcada pela antecipação,

baseada apenas no planeamento prévio das actividades e característica da Gestão Clássica de

Projectos, e passa a procurar o desenvolvimento da visão do futuro e da capacidade de

exploração.

Page 78: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

63

Quadro 4.3 – Prática da fase de monitorização e controlo da Gestão Ágil (adaptado de Dias, 2005)

Prática Descrição Sub-práticas

Revisão do

produto / Projecto /

equipa e acções

de adaptação

O objectivo desta prática

consiste em garantir que o

feedback constante e a

aprendizagem de alto nível

ocorram em todas as

dimensões do projecto.

Avaliação do desempenho da equipa de

projecto;

Relatório do progresso do projecto;

Acompanhamento do âmbito e do valor do

trabalho realizado a cada iteração;

Acompanhamento do cronograma a cada

iteração;

Acompanhamento dos custos e da utilização

dos recursos;

Acompanhamento da qualidade do produto;

Informação à equipa de projecto;

Acções de adaptação.

De acordo com Highsmith (2002), se uma empresa deseja tornar a produção mais ágil deve

procurar o equilíbrio apropriado entre a antecipação e a adaptação (ver Figura 4.3). É possível

antecipar tarefas que vão ser necessárias realizar. No entanto, como é impossível prever com

exactidão todas estas actividades, serão cometidos alguns erros e será necessário refazer

algum trabalho. Por vezes, surgem requisitos inesperados de clientes e a necessidade futura

passa por conseguir planear a sua adaptação (Cohn, 2009).

Antecipação

Adaptação

Tradicional

Antecipação

Adaptação

Scrum

Figura 4.3 – Equilíbrio entre antecipação e adaptação de tarefas.

Segundo Leal (2008), a tendência é o aparecimento de uma metodologia híbrida entre as

metodologias da Gestão Clássica de Projectos e as metodologias da Gestão Ágil, a fim de unir

as vantagens de ambas as abordagens, em prol do desenvolvimento de projectos bem

sucedidos do ponto de vista do cliente e da equipa de projecto. É provável que esta nova

abordagem não ocupe a totalidade do espaço da Gestão Clássica de Projectos. É esperado

Page 79: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

64

que ambas as abordagens se complementem de forma híbrida e trabalhem para o

aprimoramento do processo de gestão.

4.2.2. Lean Construction e Método Scrum

A metodologia proposta baseia-se na tentativa de aplicação de alguns princípios estabelecidos

por Koskela (1992), em especial aqueles relacionados com o planeamento e o controlo de

produção, assim como a tentativa de aplicação de prática ágeis do Método Ágil Scrum.

Os princípios da Lean Construction vão ser aplicados através do modelo Last Planner,

metodologia descrita por Ballard (2000). Pretende-se aplicar o Last Planner, adaptando-o à

realidade em causa e em conjunto com princípios ágeis.

O esforço do planeamento e do controlo da produção é de grande importância para o sucesso

de qualquer empreendimento. O objectivo de se realizar o planeamento é tornar o processo de

construção mais previsível e o controlo da produção consiste no acompanhamento das tarefas,

na avaliação da sua conformidade com o planeamento, fornecendo informações para a

preparação de planos futuros.

O planeamento e o controlo da produção têm sido a principal corrente de pesquisa da Lean

Construction e o resultado dessa pesquisa está traduzido no sucesso alcançado pelo Last

Planner. Segundo Bertelsen e Koskela (2004), o Last Planner é actualmente considerado como

uma importante ferramenta na gestão durante a fase de construção. Diversos trabalhos

evidenciam que, a implementação de um sistema de planeamento e controlo da produção

baseado no Last Planner, provoca efectivamente múltiplos benefícios.

Existe o risco de não ser possível usufruir das vantagens da metodologia Lean Construction em

toda a sua plenitude, devido às modificações e interferências do cliente da obra e das restantes

empresas envolvidas no projecto. É neste ponto que se pretende introduzir o método Scrum, e

usufruir dos seus benefícios de adaptação.

O Scrum é um exemplo de um Método Ágil e pode ser aplicado a qualquer projecto. Apresenta

um ciclo de vida simplificado e caracteriza-se como um conjunto de práticas de organização de

equipas e de distribuição de informação durante o projecto. O método Scrum oferece uma

estrutura e um conjunto de práticas que mantém o processo visível. Isto permite aos seus

praticantes saber exactamente o que está a acontecer e fazer os ajustes necessários para

manter o progresso das actividades. Existem actividades específicas de monitorização e

feedback, em geral reuniões breves e frequentes com toda a equipa, visando a identificação e

correcção de quaisquer deficiências ou impedimentos no processo de desenvolvimento.

Page 80: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

65

O Scrum não se caracteriza como um processo prescritivo e não descreve o que deve ser feito

em todas as ocasiões. É indicado para trabalhos complexos, nos quais é impossível prever

tudo o que irá ocorrer.

De acordo com Schwaber (2004), os princípios chave do Scrum são equipas de trabalho

pequenas, procurando a maximização da comunicação e da troca de conhecimento táctico e

informal, a adaptação às solicitações de mudanças técnicas ou do cliente e, a divisão do

trabalho e das responsabilidads da equipa de projecto em pequenos ciclos de entrega de

produto construído.

4.2.2.1. Planeamento

A incerteza e a variabilidade são endémicas de todos os sistemas de produção, incluíndo a

indústria da Construção. As empresas tentam vários métodos para acompanhar o fluxo de

produção e a proteger a produção da incerteza (Hamzeh et al. 2007).

A incerteza pode ser definida como a diferença entre a quantidade de informação necessário

ao desenvolvimento de uma actividade e a quantidade de informação existente (Bernardes,

2003). Á medida que os efeitos da incerteza se manifestam, o planeamento deve ser ajustado

de forma a garantir que o trabalho continue a ser executado de maneira eficiente (Tommelein,

1998 retirado de Bernardes, 2003).

A utilização de buffers permite amortecer a incerteza e a variabilidade do processo de

produção. De acordo com Hamzeh et al. (2007), a aplicação de buffers aos inputs da produção

permite assegurar a realização do trabalho planeado e tomar, antecipadamente, medidas

relacionadas com a remoção de restrições das actividades antes da data de início. Os inputs

normalmente necessários ao sucesso da execução das tarefas incluem informação relacionada

com a actividade, actividades precedentes, recursos humanos, espaço, material, equipamento

e condições externas.

Informações

Produção

Actividade(s)

Predecente(s)

Esp

aço

Recursos

humanos

Materiais

Equipamentos

Co

nd

içõ

es

exte

rna

s

Figura 4.4 – Protecção da produção dos efeito da incerteza nos inputs (adaptado de Hamzeh et al. 2007).

Page 81: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

66

O Last Planner System consiste num modelo de planeamento e controlo da produção e tem

sido implementado com sucesso em projectos de Construção. Permite o aumento da fiabilidade

do planeamento, do desempenho da produção e da previsibilidade do fluxo de trabalho

(Hamzeh et al. 2007). Bernardes (2003), baseado no modelo Last Planner, propõe que o

planeamento seja dividido em três níveis hierárquicos: planeamento de curto prazo

(operacional), planeamento de médio prazo (táctico) e o planeamento de longo prazo

(estratégico). O presente capítulo irá ser estabelecido, em parte, com base nesta proposta de

Bernardes (2003).

Geralmente, o planeamento de longo prazo é realizado recorrendo ao método CPM (Critical

Path Method). O método CPM baseia-se no conhecimento da duração das diversas

actividades, no entanto, essas durações são impossíveis de conhecer, uma vez que dependem

da pessoa que as irá executar e das circunstâncias em que isso acontece. Este aspecto

dificulta o controlo de um projecto tendo apenas por base o CPM (Macomber, 2002 retirado de

Marques, 2007). Para Huber e Reiser (2002 retirado de Marques, 2007), existem soluções que

devem ser equacionadas, nas quais o método CPM é complementado com ferramentas de

controlo e planeamento Lean.

O trabalho que não foi planeado ocupa muito tempo e requer muitos recursos, o que leva ao

atraso dos trabalhos planeados e ao desvio do caminho crítico. A prática de planeamento nos

diferentes níveis hierárquicos permite aumentar o compromisso dos envolvidos, melhorar a

confiança no fluxo produtivo e reduzir a variabilidade. A redução da variabilidade consiste num

dos princípios fundamentais da filosofia Lean, definidos por Koskela (1992). A medição da

variabilidade e a sua redução baseiam um dos passos para a melhoria contínua.

O planeamento de médio prazo procura vincular as metas fixas no plano de longo prazo ao

plano de curto prazo (Bernardes, 2003). Considerado como um elemento essencial na melhoria

da eficácia do plano de curto prazo e, consequentemente, para a redução de custos e duração

de tempos. Hamzeh et al. (2007) enfatiza o papel do planeamento de médio prazo como o

principal condutor ao sucesso do plano de curto prazo. De acordo com Bernardes (2003), a

quantidade de recursos disponíveis, bem como as restrições relacionadas ao desenvolvimento

dos trabalhos, também são consideradas neste nível de planeamento.

Para não comprometer o fluxo de trabalho, recorre-se à realização de acções que permitam

disponibilizar os recursos necessários à realização das actividades. Estas acções seguem um

mecanismo pull, que está relacionado com a programação de tarefas conforme a necessidade

e condições de desenvolvimento do projecto (Bernardes, 2003).

A cada nível de planeamento é conferido um grau de detalhe apropriado para a duração de

tempo que representa; Quanto mais próximo estiver o prazo de execução maior deverá ser o

detalhe, de forma a reduzir o impacto da incerteza (Bernardes, 2003). Os planos que

Page 82: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

67

apresentam demasiado detalhe podem revelar-se ineficientes perante uma situação de alta

incerteza, devido ao excessivo esforço necessário para o seu reajuste (Bernardes, 2003).

No entanto, o planeamento, além de flexível deverá ser adaptável às necessidades emergentes

e deverá demonstrar aptidão para ser alterado. A filosofia Lean baseia-se na antecipação dos

problemas de modo a reduzir a variabilidade, aumentar a transparência, garantir a estabilidade

da produção e aumentar a confiança no fluxo produtivo. A estes objectivos pretende-se

adicionar a capacidade de resposta a alterações que surjam na fase de execução do projecto e

fornecer capacidade de adaptação ao planeamento.

Uma empresa que deseje tornar-se mais ágil deverá procurar o equilíbrio apropriado entre a

antecipação e a adaptação (Highsmith, 2002). Existe a possibilidade de antecipar as tarefas a

realizar mas, sendo impossível fazer essa previsão com exactidão, a necessidade futura passa

por conseguir planear a adaptação assim que seja necessário (Cohn, 2009).

Ao contrário dos processos tradicionais, no Método Ágil Scrum, não é necessário que as

actividades estejam detalhadas no começo dos projectos. Estas actividades vão sendo

definidas com a evolução do projecto (Leal, 2008). As reuniões de planeamento do Scrum são

realizadas antes de cada iteração (execução de um pacote de actividades). Nestas reuniões,

são escolhidas as actividades que vão compôr a lista de actividades a ser executada durante

essa iteração, assim como a prioridade de cada actividade em relação às restantes. As

actividades novas que possam surgir não interferem com a execução das actividades da

iteração, sendo acrescentadas à lista de actividades por executar. Em suma, existe um

planeamento inicial seguido de pequenos planeamentos que são elaborados a cada iteração.

Segundo Muller (2004), tanto para a Gestão Clássica de Projectos como para a Gestão Ágil de

projectos, o planeamento é considerado como um passo crítico. Por este motivo, a importância

dada ao planeamento não deve estar concentrada apenas no início do projecto, uma vez que,

vão surgindo detalhes ao longo do projecto difíceis de prevêr. O planeamento deverá assentar

numa base de antecipação, para impedir a ocorrência de determinados problemas possíveis de

prevêr. Em simultâneo, deverá possuir a capacidade de adaptação à mudança, através do

planeamento iterativo das actividades prioritárias e da integração de novas actividades sem

causar grande impacto no prazo de execução do projecto.

4.2.2.2. Monitorização e Controlo

Bernardes (2003) revela a distinção entre o controlo e a monitorização. Enquanto que o

controlo pode ser encarado como um processo de supervisão com a verificação dos

resultados, considerando alguns padrões, especificados previamente, a monitorização consiste

apenas na comparação do executado com o planeado e a determinação das causas

fundamentais de ocorrência de falhas (Bernardes, 2003). O controlo da produção garante o

cumprimento das metas estabelecidas pelo planeamento, permite a avaliação da sua

Page 83: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

68

conformidade em relação ao planeado e fornece informações para a preparação de planos

futuros.

No Last Planner, a utilização de indicadores para medir o desempenho da produção promove

um controlo do projecto, para além do controlo de custos e prazos habitualmente utilizados. Os

indicadores do Last Planner conferem visibilidade ao planeamento, avaliam a confiança da

produção e promovem a adopção de medidas correctivas. A divulgação de resultados aumenta

a transparência do projecto, sendo este um dos princípios da Lean Construction, definidos por

Koskela (1992). A visualização da informação é um ponto importante na tomada de decisão e,

além disso, consiste numa forma de aumentar a informação disponível e promover a melhoria

contínua, princípios também defendidos por Koskela (1992).

Segundo Hamzeh et al. (2007), como medida de monitorização do desempenho do

planeamento de médio prazo existe a métrica Tasks Made Ready10

(TMR). O indicador TMR

mede o desempenho do planeamento de médio prazo no que se relaciona com a colocação de

tarefas livres assim que estas integrem as actividades do plano de médio prazo. Esta métrica

revela a habilidade da equipa de produção em planear bem a execução, nomeadamente, com

a remoção pró-activa de constrangimentos e priorização das tarefas para execução. A melhoria

das métrica TMR resulta no aumento do indicador PPC.

No método Scrum, para o desenvolvimento de actividades prioritárias, existem actividades

específicas de monitorização e feedback, nomeadamente reuniões durante o desenvolvimento

da iteração que visam a identificação e correcção de quaisquer deficiências ou impedimentos

no processo de desenvolvimento (Leal, 2008). Estas reuniões servem para acompanhar o

andamento do projecto. Permitem encontrar soluções de forma rápida, para os problemas que

impedem o progresso das actividades da iteração. Assim, são minimizadas as consequências

desses obstáculos e são evitados danos maiores ao projecto.

Com o decorrer do projecto é possível que ocorram atrasos na realização das tarefas. Para

perceber atrasos antes da sua ocorrência, o progresso das tarefas deve ser constantemente

monitorizado e o plano ajustado para contornar essas situações, na tentativa de não

comprometer os prazos do projecto. Assim, no método Scrum é elaborado um quadro de

acompanhamento que permite verificar se as actividades da iteração estão a correr como

planeado ou se não estão a seguir o plano e não vão conseguir terminar na data prevista. O

acompanhamento deste progresso permite tomar medidas de re-priorização das actividades

em atraso.

10

Tarefas prontas para execução, livres de constrangimentos.

Page 84: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

69

4.3. Justificação da implementação da metodologia

A introdução dos princípios da Lean Construction numa empresa pode ser feita através de

diferentes métodos e ferramentas, nomeadamente, o planeamento e o controlo da produção. O

estudo de estratégias para a implementação da Lean Construction, por parte de vários

investigadores, indica como primeiro passo, a estabilização do fluxo de trabalho e a redução da

variabilidade e da incerteza.

Por parte dos intervenientes nesta obra, foi identificada a existência de uma preocupação em

melhorar o controlo das actividades e em reconhecer os principais problemas e restrições ao

início de novas actividades. Na obra em causa, cada actividade é influenciada por um elevado

número de restrições, havendo a necessidade de ser estabelecida uma rotina de planeamento

e controlo da produção no estaleiro, para que se consiga executar o trabalho exigido nos

prazos desejados e com o cumprimento dos requisitos de qualidade.

Além disso, a necessidade de melhoria da capacidade de resposta a modificações e a novos

requisitos também foi outra inquietação identificada. Sendo este um empreendimento de luxo, o

aparecimento de alterações aos requisitos por parte dos clientes não pode ser evitado, mas,

pelo contrário, deverá ser integrado e adaptado ao planeamento das actividades, de modo a

responder rapidamente a essas modificações. Assim, o planeamento precisa de uma

componente iterativa e progressiva durante o projecto, guiado por um feedback do

desempenho actual do projecto.

A Lean Construction não pretende introduzir alterações profundas na forma de planear e

controlar a Construção, somente sistematizar alguns procedimentos intuitivos através da

antecipação de problemas. A impossibilidade em antecipar todos os problemas conduz à

necessidade de adaptação do planeamento a eventuais alterações. É nesta circunstância que

uma metodologia baseada no método Scrum complementa os benefícios da Lean Construction.

4.4. Descrição

Os objectivos da metodologia Lean consistem em dar maior flexibilidade ao planeamento. O

que se pretende é a proposta de uma metodologia de planeamento e controlo da produção que

integre a filosofia Lean Construction e os princípios do Método Ágil Scrum.

A metodologia proposta pretende estabelecer uma ferramenta que permita antecipar os

problemas, libertando as restrições das actividades cuja data de início se aproxima e,

desenvolver iterações de execução das actividades mais prioritárias. Também se procura

melhorar o controlo da produção e obter rápido feedback para posteriores acções correctivas.

Assim, a metodologia proposta envolve sobretudo o estabelecimento de um planeamento de

médio prazo, tendo como base o planeamento geral do empreendimento, um plano de

iterações com actividades retiradas do planeamento médio e com actividades modificadas ou

Page 85: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

70

que possam surgir e o controlo do progresso das actividades e os seus impedimentos durante

a execução. A estrutura geral da metodologia proposta está representado esquematicamente

nas Figura 4.5 e Figura 4.6.

Paneamento Gera l (CPM)

Planeamento de Longo Prazo;

Planeamento de Méd io Prazo

- Análise de constrangimentos ao arranque

das actividades planeadas;

- Programação de materiais;

A l t e r a ç õ e s

Actividades novas/alteradas

resultantes de modificações e

interferências do cliente da obra e

das restantes empresas envolvidas

no projecto;

Product back log

Lista de actividades de execução

Spr in t back log

Programação das tarefas da próxima

iteração, com a prioridade de execução

associada.

Pré

-S

prin

t

Plano do Spr in t

- Acompanhamento da execução das

tarefas;

- Identificação de impedimentos à execução

das tarefas;

Le

an

Co

ns

tru

ctio

n

Sp

rin

t

Ret rospec t iva do Spr in t

- Análise e identificação das causas de

não-conclusão das tarefas;

- Medição da percentagem de Plano

Completo (PPC);Pó

s-S

prin

t

to

do

Sc

ru

m

Figura 4.5 - Metodologia para o planeamento e controlo da Construção.

Page 86: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

71

o

ResponsávelActividades

Lo

ca

liza

çã

o

Planeamento de Médio Prazo

DESCRIÇÃO DAS ACTIVIDADES DO PMPPLANEAMENTO DAS ACTIVIDADES

ANÁLISE DE RESTRIÇÕES

Duração

(dias)

Data de

Início

Data de

Fim

Data de

Início

PREVISTO REAL

Data de

Fim

Desvio

de Fim

%

Comp.

Precedências por

iniciar

Material

em obra

Outras restrições/

necessidades

ES

TA

DO

Período do PMP: __ / __ / ____ a __ / __ / ____

Sim

Du

raç

ão

(d

)

S

ObservaçõesResponsávelActividades Semana:

T Q Q S S D S

Semana:

T Q Q S S D

Prioridade

Mês:

Lo

ca

liz.

DESCRIÇÃO DAS ACTIVIDADES E TAREFAS A

REALIZAR NO SPRINTPLANEAMENTO DO SPRINT

Razões para

NÃO

conclusão

Concluída?

CONTROLO

Plano Quinzenal e Análise PPCPERÍODO DE APLICAÇÃO DO SPRINT:

__ / __ / ____ a __ / __ / ____ _______%SPRINT N.º___

PPC

Quadro de Acompanhamento do Sprint

Planeamento de Longo Prazo

Figura 4.6 – Estrutura geral da metodologia.

Page 87: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

72

4.4.1. Planeamento

4.4.1.1. Planeamento de médio prazo

O planeamento de médio prazo é efectuado para um horizonte de quatro semanas. De acordo

com Ballard (2000), o número de semanas para o planeamento de médio prazo é decidido com

base nas características do projecto, fiabilidade do sistema de planeamento e tempo de

resposta para a aquisição de informação, material, mão-de-obra e equipamento.

Assim, a partir do planeamento geral da obra são verificadas as actividades que devem ter

início nas quatro semanas seguintes e indicados os respectivos materiais necessários.

Conjuntamente, são verificadas as restrições que podem comprometer o início de cada

actividade. Neste nível de planeamento é feita a verificação da sequência das actividades e a

verificação das restrições das actividades com a identificação daquelas que podem ser

realmente executadas.

Este procedimento permite antecipar problemas e proteger a produção relativamente à

incerteza. Além disso, a verificação da disponibilidade de materiais permite evitar encomendas

tardias e consequente atraso nas actividades por indisponibilidade de material.

O planeamento de médio prazo defende a manutenção de um stock de tarefas, para que no

caso de uma das tarefas previstas não possa ter lugar haja outra que avance para a execução.

O “output” deste processo de planeamento de médio prazo consiste na manutenção de um

conjunto de actividades que, para as duas semanas que se aproximam, estão livres de

constrangimentos, e, os constrangimentos das duas últimas semanas do plano estão a ser

solucionados. Resumidamente, o procedimento do planeamento de médio prazo consiste em

converter as tarefas do “should” para o “can” (ver Figura 4.7).

Deve ser feito

“should”

LAST PLANNERPode ser feito

“can”

Será feito

“will”

Figura 4.7 – Realce do procedimento do planeamento de médio prazo (Lookahead) do processo Last

Planner.

Page 88: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

73

De acordo com Ballard (1998), o planeamento de médio prazo é o ponto chave para a melhoria

do PPC e consequentemente para a redução do custo e duração do projecto. Na Figura 4.8

apresenta-se esquematizado o funcionamento do planeamento de médio prazo.

x+2 x+3 x+4 x+5

x+1 x+2x

2 semanas de

actividades sem

restrições

x+3 x+4 x+5

x+1 x+2

As actividades que vão ter início

nesta nova semana passam a

integrar o quadro de verificação

das condições de arranque de

actividades.

Semana x:

Semana x+1:

x+3 x+4

x+6

Esta semana

entra para o

planeamento de

médio prazo;

4 semanas de planeamento

de médio prazo;x+3

Figura 4.8 – Funcionamento do planeamento de médio prazo segundo o modelo Last Planner.

Para a realização do planeamento de médio prazo aconselha-se o uso de um plano no qual

são identificadas as actividades, a data de início prevista de acordo com o plano geral da obra,

as restrições e o material necessário. Ou seja, um quadro “checklist de arranque” no qual se

informa, resumidamente, o estado de cada actividade em relação aos seus constrangimentos.

O plano, adaptado de Bernardes (2003), encontra-se na Figura 4.9.

ResponsávelActividades

Transformad.Pav.madeira envernizar

Lo

ca

liza

çã

o

A3

Planeamento de Médio Prazo

DESCRIÇÃO DAS ACTIVIDADES DO PMPPLANEAMENTO DAS ACTIVIDADES

ANÁLISE DE RESTRIÇÕES

Duração

(dias)

5

Data de

Início

Data de

Fim

Data de

Início

PREVISTO REAL

Data de

Fim

Desvio

de Fim

%

Comp.

Precedências por

iniciar

Material em

obra

Outras restrições/

necessidades

ES

TA

DO

Período do PMP: __ / __ / ____ a __ / __ / ____

Figura 4.9 - Quadro com o estado das actividades do plano de médio prazo em termos de restrições.

Page 89: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

74

4.4.2. Método ágil Scrum

Os Métodos Ágeis consideram os conceitos Lean e diferenciam-se destes por se focarem em

como responder às constantes modificações. A grande atracção dos Métodos Ágeis consiste

na sua flexibilidade.

O Scrum é um dos vários Métodos Ágeis e foi criado por Ken Schwaber e Jeff Sutherland em

1996 (Leal, 2008). A escolha recaiu sobre este método uma vez que, segundo Schwaber

(2002), dá ênfase ao planeamento do projecto, sem referir aspectos específicos de

desenvolvimento de Software, o que permite estender a sua aplicação a outros tipos de

projectos.

4.4.3. Breve descrição do método Scrum

O Scrum junta os conceitos Lean com o desenvolvimento iterativo. Ao contrário dos processos

tradicionais, no método Scrum os requisitos podem ser actualizados com frequência e definidos

consoante a evolução do projecto. O Scrum preconiza a definição de um plano inicial com

progressivo aumento de detalhe à medida que se vai desenvolvendo o projecto.

Um princípio chave do Scrum consiste em reconhecer que os desafios emergentes não podem

ser resolvidos utilizando uma abordagem clássica de “controlo”. Assim, o Scrum adopta uma

abordagem empírica, aceita que os problemas não podem ser antecipados na sua totalidade e

foca-se na maximização da habilidade da equipa em responder de forma ágil aos desafios

emergentes.

O Scrum utiliza uma lista de funcionalidades designada por Product Backlog, na qual estão

definidas as actividades necessárias para a execução do projecto. Ao contrário dos processos

tradicionais, no Scrum os requisitos podem ser actualizados com frequência e definidos

consoante a evolução do projecto. Assim, com base na condição referida, o Product Backlog

integra as actividades do planeamento de médio prazo com actividades novas ou alteradas.

Desta lista de actividades são escolhidas as mais prioritárias, cujo critério se baseia em

actividades críticas do planeamento e actividades novas ou alteradas, com urgência de

execução. O resultado desta escolha são as actividades que vão ser desenvolvidas no próximo

Sprint. Um Sprint é uma iteração que segue o ciclo PDCA11

. A duração de um Sprint é de duas

semanas e não são permitidas mudanças nas tarefas em desenvolvimento.

No decorrer de um Sprint são propostas reuniões, neste caso com um período de dois dias e

com duração máxima de 15 minutos, onde a equipa indica o que vai fazer de seguida e analisa

os impedimentos. Assim, a equipa faz transparecer os problemas que são impeditivos e

permite a sua resolução. O Scrum fomenta uma prática de cultura participativa, com partilha de

11

PDCA – Ciclo de melhoria contínua (Plan-Do-Check-Act)

Page 90: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

75

informação o que ajuda a orientar as decisões. No final do Sprint, a equipa participa numa

reunião de retrospectiva e numa reunião de revisão. Enquanto a primeira tem o objectivo de

promover a discussão acerca das actividades executadas nesse Sprint e coloca em discussão

aspectos de melhoria das actividades dos próximos, a segunda serve para demonstrar aos

stakeholders12

o produto que foi gerado nesse Sprint (Leal, 2008)

O Scrum permite uma maior adaptação às mudanças nas actividades, fomenta a comunicação

entre todos os envolvidos, antecipa a detecção de impedimentos e fornece rápido feedback

(Schwaber, 2002).

4.4.3.1. Ciclo do Scrum

A estrutura do ciclo do Scrum divide-se em três fases: pré-Sprint, Sprint e pós-Sprint. Na Figura

4.10 é possível ver uma estrutura esquemática do ciclo do Scrum.

Sprint

backlog

backlog

Product

Tarefas do

backlog

expandidas

15 dias

2 dias

SPRINT PÓS-SPRINTPRÉ-SPRINT

Sprint

planning

meeting

Daily

Scrum

Sprint

review

meeting

Incremento

Sprint

Retrospective

Figura 4.10 – Ciclo do Scrum.

O pré-Sprint inicia-se com a construção do Sprint Backlog através da escolha das actividades

listadas no Product Backlog durante uma reunião de planeamento (Sprint Planning Meeting). A

escolha das actividades é feita de acordo com a prioridade de execução. Tal como foi referido

anteriormente, o critério de escolha baseia-se em actividades críticas do planeamento e

actividades novas ou alteradas, com urgência de execução. Este passo encontra-se

esquematizado na Figura 4.11.

A cada novo ciclo podem ser alterados os itens do Product Backlog, inseridas novas exigências

ou rejeitadas outras. As actividades definidas no planeamento de médio prazo, cujos

12

Todos os que estão envolvidos no projecto.

Page 91: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

76

constrangimentos já estão resolvidos, vão sendo acrescentadas ao Product Backlog. A

mudança de requisitos é aceite sem prejudicar o andamento do projecto.

Product Backlog Sprint 1 Backlog

Figura 4.11 – Escolha das tarefas do Product Backlog para o Sprint.

Fica definido o trabalho que será realizado no ciclo do Sprint e pode-se prosseguir para a fase

de desenvolvimento. A fase de Sprint consiste na fase de desenvolvimento. Uma vez iniciada

esta fase não poderão existir alterações às actividades especificadas, com a excepção de

casos particulares onde exista a necessidade de excluir uma actividade ou se perceba a

necessidade de alteração de determinada tarefa. Esta excepção visa a melhor adaptação ao

trabalho a ser realizado.

O objectivo do Sprint é concluir as tarefas do Sprint Backlog dentro do tempo previsto. Os

problemas e as necessidades que surjam são reportados ao Scrum Master, cuja função

consiste em resolver esses impedimentos.

Durante o Sprint realizam-se reuniões de Scrum, com a presença da equipa, onde é discutido o

andamento do Sprint. Com a maior brevidade é exposto o andamento dos trabalhos,

explicitados os problemas encontrados e informado a próxima actividade.

Para fechar o ciclo (pós-Sprint), é feita uma reunião acerca do Sprint, na qual é analisado o

progresso do projecto. Além disso, é feito um resumo das causas da não conclusão das

actividades do Sprint e medida a percentagem de tarefas completas, através do indicador PPC.

Após a conclusão do Sprint, inicia-se um novo Sprint.

4.4.3.2. Scrum Framework

A estrutura do Scrum apresenta-se na Figura 4.12.

Page 92: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

77

Scrum Master

Product Owner

Teams

Scrum

PapéisProduct Backlog

Sprint

Backlog

Scrum Task Board

Artefactos

Scrum

Meeting

Sprint Planning

Meeting

Sprint Review

Meeting

Reuniões

Client

Sprint

Retrospective

Figura 4.12 – Framework do Scrum.

a. Artefactos do Scrum

Segundo Schwaber (2002), o método Scrum apresenta os artefactos expostos de seguida.

Product Backlog (Backlog do Produto):

O Product Backlog consiste numa lista de funcionalidades exigidas no projecto, na qual são

especificados os requisitos, tarefas, funções e tecnologias a serem utilizados (ver Figura 4.13).

Representa a lista de tarefas a realizar com todos os equipamentos e/ou tecnologias

disponíveis. Os itens do Product Backlog são organizados em ordem de prioridade.

Product

Back log

Requ is i tos Tare fas

Funções Tecno log ias

Figura 4.13 – Constituição do Product Backlog do método Scrum.

Sprint Backlog (Backlog do Sprint):

O Sprint Backlog consiste numa lista de funcionalidades, actividades e tarefas a serem

executadas e desenvolvidas durante o Sprint. Marca o início de cada Sprint e é considerado

como uma colecção de actividades e tarefas extraídas do Product Backlog. Esta colecção é

seleccionada pela equipa Scrum, Scrum Master e Product Owner e vai consitituir o

desenvolvimento do Sprint. Na Figura 4.14 é possível ver o processo desde o levantamento

dos requisitos ao Sprint.

Page 93: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

78

R e q u i s i t o s

P r o d u c t

B a c k l o g

S p r i n t P l a n n i n g

M e e t i n g

S p r i n t B a c k l o g

S p r i n t

Figura 4.14 – Processos do Scrum até ao Sprint.

Scrum Task Board (Quadro de Acompanhamento do Sprint):

O Scrum Task Board consiste num quadro de acompanhamento das tarefas do Sprint, no qual

se revela todo o trabalho que está a ser feito durante o Sprint (ver Figura 4.15). A actualização

é feita de modo contínuo ao longo do Sprint. Se surgir uma nova tarefa considerada

necessária, acrescenta-se ao Product Backlog, e caso seja muito prioritária, selecciona-se para

o Sprint seguinte.

Sim

Du

raç

ão

(d

)

S

ObservaçõesResponsávelActividades Semana:

T Q Q S S D S

Semana:

T Q Q S S D

Prioridade

Mês:

Lo

ca

liz.

DESCRIÇÃO DAS ACTIVIDADES E TAREFAS A

REALIZAR NO SPRINTPLANEAMENTO DO SPRINT

o

Razões para

NÃO

conclusão

Concluída?

CONTROLO

Plano Quinzenal e Análise PPCPERÍODO DE APLICAÇÃO DO SPRINT:

__ / __ / ____ a __ / __ / ____ _______%SPRINT N.º___

PPC

Quadro de Acompanhamento do Sprint

Figura 4.15 – Quadro de acompanhamento das tarefas do Sprint.

A evolução das tarefas deverá ter a aparência da Figura 4.16. No início do Sprint as

actividades encontram-se todas na primeira coluna “para fazer”, à medida que o Sprint avança,

as tarefas vão caminhando para a coluna “em execução” e terminam na última coluna “feito”.

Scrum: Primeiro dia do sprint Scrum: A meio do Sprint Scrum: Último dia do sprint

“para

fazer”

“para

fazer”

“para

fazer”

“em

execução”

“em

execução”

“em

execução”“feito” “feito” “feito”

Figura 4.16 – Aparência do quadro Scrum em três momentos do Sprint (início, meio e fim).

Page 94: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

79

No Quadro 4.4 é apresentado um resumo dos artefactos do Scrum, acima descritos.

Quadro 4.4 - Resumo descritivo dos artefactos do Scrum.

Artefactos do Scrum

Product Backlog: Contém todas as funcionalidades a serem construídas, listadas por ordem de prioridade.

Sprint Backlog: Contém as funcionalidades a serem executadas e desenvolvidas durante o Sprint.

Scrum Task Board: Quadro de acompanhamento que apresenta o progresso do trabalho no Sprint.

b. Papéis no Scrum

Para qualquer Método Ágil, o papel das pessoas é bastante determinante para o sucesso do

projecto. De acordo com Schwaber (2002), no método Scrum são desempenhados os

seguintes papéis: Product Owner, Scrum Master, Scrum Team e Client.

Product Owner:

O Product Owner é o indivíduo ou entidade que representa o cliente e que tem como função

defender os interesses do negócio.

Scrum Master:

O Scrum Master garante a utilização de valores, práticas e regras do Scrum, sendo o

responsável pelo sucesso do Scrum. Relaciona-se com o Product Owner e com todos os

membros da equipa e é o representante desta. Deverá organizar as Scrum Meeting, gerir todo

o processo Scrum na organização e remover impedimentos do projecto. O Scrum Master

poderá ser o director de obra, o director de projecto ou o chefe de equipa.

O Scrum Master trabalha constantemente para reduzir a não conformidade do produto

entregue ao cliente, sendo que isto pode ser feito através de rápidas respostas aos prováveis

impedimentos que poderão surgir durante a execução do projecto.

Teams Scrum:

As Equipas Scrum consistem em pequenas equipas constituídas por poucos elementos, no

máximo sete pessoas. Representam as equipas envolvidas na construção do projecto. Uma

equipa Scrum, atráves de reuniões com o Scrum Master, é responsável pelas acções para

atingir os objectivos de cada Sprint. Além disso, revê os itens da lista do Product Backlog e

verifica os impedimentos que precisam ser retirados para o sucesso do projecto.

Client:

Como na maioria dos Métodos Ágeis, o cliente está presente directamente em todo o projecto,

com participação activa na elaboração dos itens que irão compôr o produto a ser construído. O

cliente pode ser o dono de obra ou o cliente final.

Page 95: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

80

No Quadro 4.5 é sumarizada a descrição dos papéis desempenhados no Scrum.

Quadro 4.5 - Resumo descritivo dos papéis desempenhados no Scrum.

Papéis no Scrum

Product Owner: Responsável pelo conteúdo, priorização e disponibilidade do Product Backlog.

Scrum Master: Responsável pela realização das tarefas, acompanhamento do progresso do Sprint e remoção de impedimentos.

Teams Scrum: Representam as equipas envolvidas na construção do projecto.

Client: Participante activo na elaboração dos itens que irão compôr o produto a ser construído.

c. Reuniões no Scrum

O método Scrum não requer ou fornece qualquer método específico para a execução das

tarefas, apenas estabelece conjuntos de regras e práticas de gestão que devem ser adoptadas

para o sucesso de um projecto (Leal, 2008). Inseridas nos conjuntos de regras e práticas de

gestão referidos encontram-se várias reuniões, com diferentes objectivos, nomeadamente,

Scrum Meeting, Sprint Planning Meeting, Sprint Review Meeting e Sprint Retrospective.

Sprint Planning Meeting (Reunião de Planeamento do Sprint):

Cada Sprint inicia com uma reunião designada de Sprint Planning Meeting que é uma reunião

de planeamento do Sprint e tem como objectivo analisar os itens do Product Backlog. Mediante

essa análise definem-se as actividades que vão compôr a lista Sprint Backlog e a ordem de

prioridade dessas actividades. Após esta definição, os itens escolhidos são transmitidos à

equipa e assim, ficam estabelecidos os objectivos do primeiro Sprint.

Antes de iniciar o Sprint os requisitos podem ser alterados, no entanto, após o início do Sprint

as mudanças não são possíveis, a não ser em casos particulares onde seja necessário excluir

uma actividade ou que se perceba a necessidade de alteração de determinada tarefa a ser

implementada. Este factor torna possível que o planeamento seja ajustado a novos requisitos e

que seja sempre mantido o objectivo final.

Scrum Meeting (Reunião de Acompanhamento do Sprint):

De acordo com Rising e Janoff (2000), as Scrum Meetings são reuniões que podem ocorrer

diariamente ou em dias alternados, com duração restringida a aproximadamente quinze

minutos, não podendo exceder o tempo limite máximo de trinta minutos. A brevidade destas

reuniões deve ser garantida pelo Scrum Master. Este tempo alocado para as reuniões

possibilita a identificação de obstáculos ou impedimentos ao projecto. Durante esta reunião, o

Scrum Master coloca três questões a cada membro da equipa, apresentadas no Quadro 4.6.

Page 96: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

81

Quadro 4.6 – Questões colocadas na reunião Scrum Meeting.

Funcionamento da Scrum Meeting

O que foi finalizado desde a última reunião?

Registo das tarefas terminadas e pendentes por parte do Scrum Master.

O que planeia finalizar para a próxima reunião?

O Scrum Master ajuda na escolha das tarefas mais importantes.

Quais foram as dificuldades encontradas durante o trabalho?

O Scrum Master regista todas as dificuldades encontradas e, posteriormente, procura resolvê-las.

Estas reuniões possibilitam que todas as pessoas fiquem informadas sobre o progresso e as

dificuldades encontradas e, permitem sincronizar o trabalho e as equipas envolvidas. No final

de cada reunião, o Scrum Master deve fazer um resumo rápido da reunião.

Sprint Review (Reunião de Revisão):

A Sprint Review é uma reunião que tem lugar no final do Sprint e tem como objectivo rever o

que foi feito. A equipa Scrum demonstra o trabalho que foi concluído nesse Sprint ao Product

Owner.

Sprint Retrospective (Reunião de Restrospectiva do Sprint):

O Sprint Retrospective é uma reunião que tem lugar no final do Sprint. A equipa Scrum e o

Scrum Master apresentam os resultados do Sprint, em termos de tarefas concluídas (PPC),

impedimentos encontrados e causas de não-conclusão das actividades. Posteriormente, é feita

a análise desses resultado e, mediante essa análise, podem ser acrescentadas novas

actividades para a melhoria do desempenho do próximo Sprint.

Na Figura 4.17 apresenta-se o fluxo das reuniões do método Scrum e no Quadro 4.7 é feito um

resumo descritivo das reuniões do método Scrum.

S

pri

nt

Pla

nn

ing

Me

eti

ng

S

pri

nt

Re

vie

w M

ee

tin

g

Daily Scrum

S

pri

nt

Pla

nn

ing

Me

eti

ng

Tempo

Sprint 1 Sprint 2

Daily Scrum

S

pri

nt

Re

tro

sp

ec

tiv

e

Figura 4.17 – Fluxo das reuniões do Scrum.

Page 97: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

82

Quadro 4.7 - Resumo descritivo das reuniões do método Scrum.

Reuniões do Scrum

Sprint Planning Meeting:

Reunião de planeamento do Sprint, na qual são definidas as actividades prioritárias que vão compôr o Sprint Backlog.

Scrum Meeting: Breves reuniões informais de acompanhamento do Sprint, realizadas em dias alternados e que possibilitam a identificação de obstáculos ou impedimentos.

Sprint Review Meeting:

Reunião que ocorre no final do Sprint e que serve para revelar o que foi concluído no Sprint e mostrar ao Product Owner esse resultado.

Sprint Retrospective

Meeting:

Reunião que ocorre no final do Sprint e que serve para ter conhecimento dos resultados do Sprint, dos problemas encontrados para que seja possível tomar medidas correctivas para os Sprints seguintes.

4.4.4. Controlo

O controlo da produção, através de uma componente de medição científica, permite perceber

em que situação é que se encontra a execução do projecto e com base nesses dados tomar

decisões e agir em conformidade com os objectivos. Pretende-se prevenir desvios em

detrimento da sua simples monitorização.

Tanto no enquadramento teórico da Lean Construction como dos Métodos Ágeis, as medidas

de performance e registo de causas de problemas do sistema têm um papel importante em

termos de fornecer transparência ao processo. Permite tornar visível aspectos que

normalmente estão ocultados e criar condições para maior descentralização do controlo.

4.4.4.1. Medição TMR e PPC

A avaliação do planeamento de médio prazo pode ser feita através da métrica TMR. Esta

métrica avalia a performance do planeamento de médio prazo no que respeita à sua

capacidade de remoção de constangimentos. O TMR traduz a relação entre o número de

actividades colocadas no planeamento de médio prazo e o número de actividades prontas para

execução aquando da sua data de início, resumida na seguinte expressão:

100

PMPsActividade

rontasPPMPsActividadeTMR

O indicador PPC consiste num indicador de desempenho que permite medir o desempenho da

produção. O PPC proporciona visibilidade aos responsáveis pelo planeamento e avalia a

confiança da produção. Traduz-se na relação entre o número de tarefas concluídas e o número

de tarefas previstas no planeamento, num dado período:

100

PlaneadasTarefas

ConcluídasTarefasPPC

Page 98: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

83

4.4.4.2. Impedimentos e causas de não-conclusão

Apesar do esforço em remover todos os constrangimentos ao arranque das actividades do

planeamento de médio prazo, podem sempre surgir impedimentos ao desenvolvimento das

tarefas do Sprint. Qualquer impedimento à execução das tarefas deve ser identificado e

removido o mais rápido possível, de modo a melhorar o processo. No final do Sprint, a análise

aos impedimentos encontrados ao longo do Sprint, possibilita a adopção de acções para

resolver, antecipadamente, a reincidência dessas contingências e obstáculos. Consegue-se,

assim, estimular ciclos de melhoria contínua.

A análise PPC das tarefas do Sprint permite medir a extensão de realização dos compromissos

e analisar e detectar as não conformidades da produção. Torna-se possível entender a raíz das

causas da não conclusão das tarefas do Sprint, podendo esta localizar-se ao nível da

organização, ao nível do processo ou ao nível da função.

4.4.4.3. Melhoria contínua

Pretende-se implementar um instrumento auxiliar ao planeamento e acompanhamento da

produção que vise a melhoria contínua. Este processo é baseado no Ciclo PDCA (ou Ciclo de

Deming), inicia-se no planeamento, segue-se da acção de acordo com o planeado e verificação

cíclica do desvio entre o executado e o planeado e, por fim, a tomada de acções para mitigar

ou eliminar defeitos na execução. Procura-se incrementar de forma consistente o

aperfeiçoamento da cadeia de produção, com a preocupação focada na criação de valor para o

cliente. Tanto a Lean Construction como os Métodos Ágeis têm por base o ciclo PDCA,

representado na Figura 4.18.

Plan

Act

Check

DoCiclo PDCA

Figura 4.18 – Ciclo PDCA.

4.4.5. Resumo da metodologia

A metodologia proposta foi estruturada de forma a agilizar as informações relativamente ao

planeamento táctico, mantê-las actualizadas e desenvolver as actividades desse planeamento

em conjunto com novas actividades, num ciclo iterativo.

Page 99: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

84

A metodologia proposta baseia-se na execução do planeamento de médio prazo, no

desenvolvimento iterativo de actividades prioritárias, no cálculo PPC e na elaboração de

relatórios de controlo, nos quais se sintetiza a informação resultante dos elementos referidos.

No Quadro 4.8 são descritas as principais ferramentas desta metodologia, descrevendo

resumidamente a sua constituição e função.

Quadro 4.8 – Resumo das ferramentas utilizadas na metodologia.

Ferramenta Constituição Função

Planeamento

de médio prazo

(Lookahead Planning)

Plano táctico para as actividades a

inciar nas quatro semanas

seguintes ao Sprint específico.

Análise dos constrangimentos ao

arranque das actividades planeadas;

Programação de materiais;

Medição do TMR;

Scrum

Ciclo de desenvolvimento de

tarefas iterativo, com horizonte

temporal de duas semanas.

Priorização de tarefas;

Acompanhamento da execução;

Identificação de impedimentos;

Medição do PPC;

Relatório de controlo Resumo do controlo da iteração

anterior.

Análise de impedimentos;

Análise das causas de não

conclusão;

Análise do TMR e PPC;

Esta metodologia configura a integração de conceitos Lean Construction com o Método Ágil

Scrum. Com a aplicação conjunta destas ferramentas pretende-se usufruir dos benefícios da

Lean Construction, no que respeita a antecipação de problemas e protecção da produção

relativamente à incerteza, e dos benefícios do Método Ágil Scrum, nomeadamente, adaptação

do plano a interferências e alterações nas actividades.

4.5. Implementação e Controlo

4.5.1. Dificuldades e Oportunidades

A elaboração de uma metodologia híbrida que integre conceitos da Lean Construction e de

práticas do Método Ágil Scrum e que usufrua dos benefícios de ambos, poderá melhorar o

processo de planeamento e controlo da produção.

O mundo actual caracteriza-se por um ambiente de constante mudança. Neste ambiente a

capacidade de adaptação das empresas não é uma opção, mas sim uma condição

fundamental para a sua sobrevivência. O processo de mudança atravessa diferentes estágios,

localizando-se a zona crítica entre a resistência à mudança e a sua exploração (Arbulu e

Zabelle, 2006).

Page 100: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

85

Após a resistência inicial que esta metodologia poderá causar nos intervenientes ligados à

produção, o seu envolvimento em actividades de melhoria estimula o trabalho em equipa e

facilita o processo de aperfeiçoamento contínuo. Além disso, promove a capacidade de

resposta a alterações e a Agilidade do processo de planeamento. Todos os envolvidos tomam

consciência da sua própria contribuição para o desempenho geral do projecto.

É importante que todos os envolvidos no projecto entendam como as comunicações afectam o

projecto como um todo e, deverá haver a certificação de que todos compreendem a mensagem

a ser transmitida. O objectivo é melhorar a comunicação entre os envolvidos promovendo

feedback constante e transparência durante o desenvolvimento. Em projectos ágeis, a

informação é o catalizador da mudança e adaptação. As interações entre as pessoas envolvem

a contínua troca de informação e a riqueza dessas interacções depende, em grande parte, do

nível de abertura.

Para os Métodos Ágeis as alterações são bem vindas, pois permitem o favorecimento da

adaptação à mudança e acabam por ser fortalecidos por esta. Não existe o seguimento de um

plano que pode abandonar a realidade à medida que os requisitos vão sendo alterados.

Existe a necessidade de equilibrar a capacidade de adaptação com a capacidade de

antecipação do planeamento. Esta necessidade leva à implementação de um planeamento de

médio prazo que vai facilitar a visualização das actividades a ser executadas num horizonte

maior do que o de curto prazo, permitindo, assim, a identificação e antecipação de possíveis

conflitos entre equipas. Além disso, este planeamento de médio prazo também pode facilitar a

identificação antecipada de recursos no médio prazo. Sem a utilização deste plano, torna-se

mais difícil a identificação de pacotes de trabalho que realmente podem ser executados no

curto prazo.

A implementação de indicadores para o controlo do planeamento e da produção permite

fornecer informações adicionais sobre o andamento do processo de produção.

4.6. Conclusão

Uma empresa que deseje tornar-se mais ágil deverá procurar o equilíbrio apropriado entre

antecipação e adaptação (Highsmith, 2002). É possível antecipar tarefas que vão ser

necessárias realizar, mas por vezes e já em fase de execução, é necessário ter eficaz

capacidade de resposta e proceder à adaptação do planeamento quando surgem alterações e

requisitos inesperados.

Neste capítulo procurou-se identificar e discutir a forma pela qual os princípios da Lean

Construction e as práticas dos Métodos Ágeis podem complementar-se e ser aplicados

conjuntamente. Pretendeu-se estabelecer um sistema de planeamento e controlo que procura

Page 101: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 4

86

complementar as ferramentas e documentação já em utilização pela direcção de obra, com

novas ideias e conceitos baseados no modelo do Last Planner e no método Scrum.

Para alcançar os objectivos Lean de maximização de valor e minimização de desperdício é

necessário ter um planeamento de confiança e realista. A fiabilidade do planeamento é o

fundamento da implementação Lean na produção na Construção. Para aumentar a fiabilidade

do planeamento e controlo da produção é imperativo enfrentar e remover a variabilidade.

De acordo com o modelo Last Planner, o trabalho só deve ser entregue para execução caso

haja um elevado nível de certeza em relação à exequibilidade. A atenção foca-se na resolução

de constrangimentos de arranque de uma tarefa, com antecedência e com base na experiência

e senso comum dos responsáveis. Por conversação são analisados e discutidos os meios de

acção conjunta, e, estabelecem-se compromissos entre os diversos participantes.

Contudo, a entrega de actividades para execução baseada apenas na sua exequibilidade pode

levar ao desvio do caminho crítico, pois, a quantidade de actividades atribuídas para execução

pode não estar a corresponder à quantidade necessária. Deste modo, a aplicação do método

Scrum pode colmatar esta lacuna, ao atribuir prioridades às actividades, além de ter a

vantagem de permitir acrescentar tarefas ao planeamento.

Tanto a Lean Construction como os Métodos Ágeis defendem a informação aberta. É essencial

uma aposta na comunicação e na informação, sobretudo visual, promovendo feedback

constante e transparência durante o desenvolvimento. A comunicação deve ser colaborativa e

directa de acordo com a proximidade entre todos os envolvidos no projecto.

As métricas de medição do desempenho proposto por esta metodologia consistem nos

indicadores TMR (Tasks Made Ready) e PPC (Percent Plan Complete). Estes indicadores vão

auxiliar o controlo do planeamento. A métrica TMR permitem medir o desempenho do

planeamento de médio prazo do modelo Last Planner. A métrica PPC possibilita avaliar o

desempenho do plano de curto prazo, sendo neste caso aplicada ao plano de iterações do

método Scrum. Deste modo, é possível avaliar a quantidade executada de actividades

planeadas para determinado Sprint. Adicionalmente, são monitorizados os obstáculos e os

impedimentos encontrados na execução das actividades das iterações. Estas medições

permitem encontrar e analisar razões para o não cumprimento dos objectivos e melhorar a

metodologia continuamente.

Page 102: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

87

Capítulo 5

5. Aplicação da Metodologia proposta

5.1. Introdução

O presente capítulo apresenta a aplicação da metodologia de planeamento e controlo da

produção na Construção proposta no capítulo 4. O processo foi desenvolvido tendo como base

a obra “Palácio Estoril Residências”, da empresa OPWAY Engenharia S.A. e caso de estudo

apresentado no capítulo 3.

A escolha do período para a aplicação desta metodologia recaíu sobre os meses de Julho e

Agosto, mais especificamente, de 12 de Julho a 8 de Agosto de 2010. Esta fase permitiu

verificar a aplicabilidade da metodologia proposta.

5.2. Aplicação da Metodologia

5.2.1. Selecção dos trabalhos a serem acompanhados

Esta metodologia foi aplicada às actividades de construção de um dos blocos de apartamentos

– bloco de apartamentos 3 - deixando à margem os restantes blocos e os trabalhos dos

arranjos exteriores. Esta selecção esteve relacionada com a existência de planeamentos gerais

distintos para cada um dos blocos de apartamentos e arranjos exteriores.

5.2.2. Descrição dos trabalhos

Os trabalhos relacionam-se com os acabamentos interiores e as actividades principais

encontram-se listadas no Quadro 5.1 e Quadro 5.2.

Quadro 5.1 – Lista das actividades nas varandas das fracções, para o período de aplicação definido.

Actividades Principais

Varandas das Fracções

1. Colocação de pavimento cerâmico

2. Capeamento dos muretes das varandas

3. Guardas das varandas

4. Lâminas das varandas de serviço

5. Deck

6. Pinturas

Page 103: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 5

88

Quadro 5.2 - Lista de actividades principais do interior das fracções, para o período de aplicação definido.

Actividades Principais

Interior das Fracções

1. Colocação de pavimento e rodapé de pedra

2. Colocação de pavimento e rodapé cerâmico

3. Colocação de pavimento e rodapé de madeira, afagamento e envernizamento

4. Execução de remates de estuque

5. Colocação de aduelas

6. Colocação de guarnições e portas interiores

7. Colocação de portas de entrada

8. Colocação de espelhos de aparelhagens e grelhas

9. Colocação de louças, torneiras e toalheiros

10. Colocação de resguardos e espelhos

11. Colocação de estores

12. Pinturas

13. Limpeza final

5.2.3. Planeamento de longo prazo

A descriminação do planeamento de longo prazo por fracções permite que determinada

actividade numa fracção com início impedido, possa ter início noutra e que essa informação

seja visível no acompanhamento do planeamento. Esta decisão poderá ser criticada por não

respeitar na totalidade a filosofia Lean, na medida que não considera a minimização do

desperdício como preocupação primária. No entanto, esta particularidade aumenta a Agilidade

do planeamento, pois permite responder com rapidez a alterações ao planeado e a dar

visibilidade a essa informação.

Por outro lado, a discriminação do planeamento de longo prazo por fracções conduz a um

elevado número de actividades. Este aspecto aumenta o nível de complexidade do

planeamento e sem o auxílio de planeamentos de médio e curto prazo, dificulta o transparente

acompanhamento do mesmo.

As actividades do planeamento geral são comuns a todas as fracções, excepto o apartamento

do último piso. O apartamento correspondente ao 5º e 6º pisos, por ser duplex e revelar

diferentes características dos anteriores, apresenta determinadas actividades específicas. No

entanto, apesar da grande maioria das actividades ser comum a todos os apartamentos,

existem algumas actividades específicas para determinados apartamentos, resultantes de

alterações introduzidas pelo cliente final e anteriores a este planeamento geral.

Page 104: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 5

89

A actualização do planeamento geral é feita mensalmente. Nesta actualização é detectada a

ocorrência de atrasos e a não correspondência do planeamento com a realidade da obra.

As frequentes modificações nas fracções vendidas leva a que o planeamento para essas

fracções se encontre, por vezes, distante da realidade. Mas, tanto nas fracções vendidas como

nas restantes, denota-se um afastamento entre as datas do que está planeado e a realidade da

obra. Toma-se como exemplo deste afastamento a análise de três fracções específicas,

nomeadamente as fracções E, D e AD. A fracção E corresponde ao apartamento modelo, a

fracção D corresponde a um apartamento por vender e a fracção AD corresponde a um

apartamento vendido. Nas Figura 5.1, Figura 5.2 e Figura 5.3 apresentam-se o planeamento

das actividades correspondente às fracções E, D e AD, respectivamente.

A Figura 5.1 permite verificar que, a maioria das actividades da fracção E tiveram real início na

data prevista. No entanto, a duração real dessas actividades não corresponde à duração

planeada o que demonstra o atraso na execução das mesmas. Esta discrepância pode ser

justificada pela falta de análise às restrições dessas actividades. As actividades são iniciadas

mas, não são verificadas as condições para que possam realmente ser executadas.

Figura 5.1 – Planeamento da fracção E, retirado do MS Project.

Ao analisar as actividades da fracção D, apresentadas na Figura 5.2, verifica-se que grande

parte das actividades encontra-se atrasada. Salienta-se o atraso de duas actividades críticas,

que exercem grande influência no prazo de conclusão do empreendimento. A execução dessas

duas actividades críticas deveria ser considerada como prioritária.

Page 105: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 5

90

Figura 5.2 – Planeamento da fracção D, retirado do MS Project.

No caso da fracção AD, as modificações solicitadas pelo comprador também são um forte

contributo para esta discrepância entre o planeado e a realidade. Da Figura 5.3, é possível

aferir que grande parte das actividades já deveria ter tido início e que a maioria dessas

actividades são críticas.

As actividades para a construção deste empreendimento sofreram, recentemente, um re-

planeamento. Este re-planeamento permitiu introduzir algumas das alterações feitas pelos

compradores, como por exemplo, a colocação de pedra em vez de mosaico cerâmico no

pavimento da cozinha da fracção AD. Existem outras alterações que não têm tradução num

planeamento de longo prazo mas, poderiam ser visíveis através de um planeamento de médio

prazo, contribuíndo para uma melhor visibilidade da informação.

Em geral, denotou-se a existência de algumas actividades cujas percentagens de execução se

mantinham nos 90% e 95%, por um longo período de tempo. Este facto deve-se à necessidade

de terminar pequenos pormenores, o que impede tomar a actividade como concluída. A

execução destes pequenos pormenores deveria ser considerada prioritária, pois apesar de

serem apenas detalhes, acabam por impedir o início ou a conclusão das actividades

sucessoras.

Page 106: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 5

91

Figura 5.3 – Planeamento da fracção AD, retirado do MS Project.

Todos os factores descritos anteriormente contribuem para o atraso na execução do bloco de

apartamentos. Estes problemas são transversais a todos as fracções, como se pode ver na

Figura 5.4.

Figura 5.4 – Pormenor do atraso na conclusão das actividades do planeamento das fracções, retirado do

MS Project.

Page 107: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 5

92

5.2.4. Planeamento de médio prazo

A aplicação do planeamento de médio prazo tem utilidade na identificação das actividades que

vão decorrer nas quatro semanas seguintes, quais as restrições ao seu início e identificação do

material necessário. Deste modo, a realização de um planeamento de médio prazo iniciou-se

com a elaboração de um mapa com as actividades que deveriam ter início no período de 12 de

Julho de 2010 a 8 de Agosto de 2010.

O planeamento de médio prazo foi elaborado quinze dias antes da sua data de início e com

base no planeamento geral da empreitada, em que as datas consideradas previstas

correspondem às datas da baseline do planeamento geral. Da ferramenta de planeamento

utilizada na obra (MS Project), foram extraídas as actividades que iriam compôr o planeamento

de médio prazo inicial (Figura 5.5). Uma vez que o planeamento escolhido como alvo desta

aplicação foi o planeamento correspondente ao bloco de apartamentos 3, a elaboração do

planeamento de médio prazo considera apenas as actividades deste bloco.

Figura 5.5 – Amostra do planeamento geral das actividades no MS Project, com início entre 12 e 25 de

Julho de 2010.

Após a extracção das actividades do bloco de apartamentos 3 com data de início na primeira

quinzena do PMP (12 a 25 de Julho de 2010), para o MS Excel, estas foram analisadas em

termos de restrições ao seu arranque para que pudessem ter início na data prevista. Esta

análise de restrições, apresentada no Quadro 5.3, foi feita ao nível de actividades precedentes,

material disponível em obra e outras restrições.

Page 108: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 5

93

Quadro 5.3 – Lista de Actividades da 1ª quinzena do PMP (12 a 25 de Julho de 2010).

DESCRIÇÃO DAS ACTIVIDADES

PLANEAMENTO DAS ACTIVIDADES ANÁLISE DE RESTRIÇÕES

Esta

do

Período do PMP: 12/07/2010 a 25/07/2010

Precedências por iniciar

Ma

teri

al

em

ob

ra

Ou

tra

s

Res

triç

õe

s

Actividades

Previsto Real

Duração Data de Início

Data de Fim

Data de Início

Data de Fim

Desvio de Fim

% Comp.

Bloco A3 98 d 20-4-10 2-9-10 20-4-10 22-9-10 14 d 39%

Fracção D - 1ºdto 74 d 20-4-10 30-7-10 20-4-10 16-8-10 11 d 38%

Pav. mad. envernizar 5 d 21-7-10 27-7-10 5-8-10 11-8-10 11 d 0%

Pintura final apart. Portas int. e guarnições Espelhos apar + grelhas Louças+torn.+toalh. Resguardos e espelhos Pav. mad. enverniz.(Z)

OK

Fracção L - 2º esq 74 d 22-4-10 3-8-10 22-4-10 18-8-10 11 d 46%

espelhos apar + grelhas 5 d 21-7-10 27-7-10 5-8-10 11-8-10 11 d 0% Pintura final apart. OK

Louças+torn.+toalh. 5 d 21-7-10 27-7-10 5-8-10 11-8-10 11 d 0% Pintura final apart. Base duche IS

OK

Resguardos e espelhos 5 d 21-7-10 27-7-10 5-8-10 11-8-10 11 d 0% Pintura final apart. Base duche IS

OK

Blackout 1 d 21-7-10 21-7-10 5-8-10 5-8-10 11 d 0% Pintura final apart. OK

Limpeza 3 d 22-7-10 26-7-10 6-8-10 10-8-10 11 d 0%

Blackout

Lâminas varanda serviço Deck

x

Fracção J - 2º dto 83 d 21-4-10 13-8-10 22-4-10 30-8-10 11 d 30%

espelhos apar + grelhas 5 d 19-7-10 23-7-10 6-8-10 12-8-10 14 d 0% Pintura final apart. OK

Louças+torn.+toalh. 5 d 19-7-10 23-7-10 6-8-10 12-8-10 14 d 0% Pintura final apart. Base duche IS

OK

Resguardos e espelhos 5 d 19-7-10 23-7-10 6-8-10 12-8-10 14 d 0% Pintura final apart. Base duche IS

OK

Blackout 1 d 19-7-10 19-7-10 6-8-10 6-8-10 14 d 0% Pintura final apart. OK

Fracção R - 3º esq 87 d 26-4-10 24-8-10 26-4-10 8-9-10 11 d 40%

Portas int. e guarnições 5 d 14-7-10 21-7-10 14-7-10 5-8-10 11 d 10% [SF] Pintura final apart. OK

Pintura final apartamento

10 d 21-7-10 3-8-10 5-8-10 18-8-10 11 d 0%

Caixa estore Remates estuque Portas entrada Pintura final apart. (L)

OK

Fracção Q - 3º dto 92 d 26-4-10 31-8-10 26-4-10 15-9-10 11 d 32%

Portas int. e guarnições 5 d 12-7-10 19-7-10 12-7-10 6-8-10 14 d 20% [SF] Pintura final apart. OK

Pintura final apartamento

10 d 19-7-10 30-7-10 6-8-10 19-8-10 14 d 0%

Pintura final apart. (J) Caixa estore Remates estuque Portas entrada

OK

Fracção Z - 4º esq 63 d 30-4-10 27-7-10 30-4-10 11-8-10 11 d 40%

Pav. mad. envernizar 5 d 14-7-10 20-7-10 29-7-10 4-8-10 11 d 0%

Pintura final apart. (Z) Espelhos apar + grelhas Louças+torn.+toalh. Resguardos e espelhos

OK

Limpeza 5 d 21-7-10 27-7-10 5-8-10 11-8-10 11 d 0%

Blackout Pav. mad. enverniz.

Laminas varanda serviço Deck

x

Fracção X - 4º dto 92 d 26-4-10 31-8-10 26-4-10 16-9-10 12 d 35%

Deck 5 d 12-7-10 16-7-10 12-7-10 16-7-10 0 d 0% Pintura varanda estar x

Portas entrada 2 d 19-7-10 20-7-10 6-8-10 9-8-10 14 d 0% [FF] Pav.pedra+rodapé OK

Remates estuque 2 d 21-7-10 22-7-10 10-8-10 11-8-10 14 d 0% Pav. pedra + rodapé OK

Aduelas 2 d 21-7-10 22-7-10 21-7-10 11-8-10 13,4 d 30% Pav. pedra+rodapé Pav. mad.+rodapé

OK

Fracção AD - 5/6 Piso 96 d 20-4-10 31-8-10 20-4-10 15-9-10 11 d 30%

Pav. mad. + rodapé 7 d 12-7-10 20-7-10 28-7-10 6-8-10 12,45 d 0% Prep. tectos e pared pintar

Guarda varanda 5 d 12-7-10 16-7-10 5-8-10 11-8-10 18 d 0% Montagem equipamento

Pintura varanda 5 d 19-7-10 23-7-10 12-8-10 18-8-10 18 d 0% Guarda varanda

Porta entrada 1 d 21-7-10 21-7-10 5-8-10 6-8-10 11,6 d 0% [FF] Pav.pedra+rodapé OK

Remates estuque 2 d 22-7-10 23-7-10 6-8-10 10-8-10 11,6 d 0% Pav. pedra+rodapé

Aduelas 3 d 22-7-10 26-7-10 6-8-10 11-8-10 11,6 d 0% Pav. pedra+rodapé Pav. mad.+rodapé

Elevador interior 20 d 22-7-10 18-8-10 6-8-10 2-9-10 11 d 0% [FF] Pintura final apart.

Page 109: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 5

94

A informação acerca das restrições que correspondem a actividades precedentes é salientada

através do sublinhado dessas precedências, no mapa do PMP. Colocam-se a negrito as

actividades precedentes que terminam mais próximo do início da sua sucessora, pois são

aquelas cuja data de término tem maior influência sobre a data de início da actividade que a

sucede. A encarnado salientam-se as actividades críticas deste período específico.

Ao terminar a análise de restrições, no final do mapa apresentado no Quadro 5.3, fica registado

a possibilidade de iniciar a actividade. É possível retirar desse mapa uma lista de actividades

que já se encontram disponíveis para execução na data planeada. Essa lista de actividades

para a quinzena de 12 a 25 de Julho de 2010 é apresentada no Quadro 5.4.

Quadro 5.4 – Actividades da 1ª quinzena do PMP, prontas para execução aquando da sua data de início.

Actividades Prontas – 12 a 25 de Julho de 2010

Actividades críticas Actividades não críticas

Fracção 3º esq:

- Pintura apartamento final

Fracção 5/6º piso:

- Porta de entrada

Fracção 1º dto:

- Pavimento madeira envernizar

Fracção 2º esq e Fracção 2º dto:

- espelhos aparelhagens e grelhas

- louças + torneiras + toalheiros

- Resguardos e espelhos

- Estores

Fracção 3º esq:

- Portas interiores e guarnições

Fracção 3º dto:

- Portas interiores e guarnições

- Pintura final apartamento

Fracção 4º esq:

- Pavimento de madeira envernizar

Fracção 4º dto:

- Portas entrada

- Remates estuque

- Aduelas

Fracção 5º/6º piso:

- Porta entrada

- Guarda varanda

- Pintura varanda

Por outro lado, a lista de actividades com início constrangido apresenta-se no Quadro 5.5. O

objectivo do planeamento de médio prazo consiste em conseguir libertar de restrições as

actividades que vão ter início na data planeada.

Quadro 5.5 - Actividades da 1ª quinzena do PMP, com início restringido.

Actividades Restringidas – 12 a 25 de Julho de 2010

Actividades críticas Actividades não críticas

Fracção 5/6º piso:

- Pavimento madeira + rodapé

- Guarda varanda estar

- Pintura varanda

- Remates estuque

- Elevador interior

- Aduelas

Fracção 2º esq:

- Limpeza

Fracção 4º esq:

- Limpeza

Fracção 4º dto:

- Deck

Page 110: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 5

95

Aquando da análise das actividades da primeira quinzena do PMP, verificou-se que grande

parte das actividades não se encontrava pronta para execução devido à não conclusão das

suas precedências. O atraso na execução de determinadas actividades conduziu ao atraso das

suas sucessoras. Além do atraso na execução de actividades precedentes ocorreram outros

impedimentos ao inicio das actividades planeadas. A falta de material em obra foi mais um dos

impedimentos ao início de certas actividades. Por outro lado, as várias alterações introduzidas

na sequência das actividades planeadas, resultantes dos pedidos de clientes, também

conduziram à interrupção dos trabalhos em determinados apartamentos.

As actividades com grande potencial para impedir o início das actividades planeadas para a

primeira quinzena do planeamento de médio prazo estão no Quadro 5.6. Também aqui houve o

cuidado de se salientar a actividade precedente cuja data de término apresentava maior

influência na data de início da sua sucessora, ou seja, aquela que acabasse mais perto da data

de início da actividade que a sucede.

Quadro 5.6 – Actividades por iniciar precedentes às actividades não disponíveis da 1ª quinzena do PMP.

Actividades por iniciar que precedem as actividades restringidas da primeira quinzena do PMP

Fracção 2º esq:

- Blackout

- Lâminas varanda serviço

- Deck

Fracção 4º esq:

- Blackout

- Pavimento madeira envernizar

- Lâminas varanda serviço

- Deck

Fracção 4º dto:

- Pintura varanda estar

Fracção 5º/6º piso:

- Preparação de tectos e paredes pintar

- Montagem equipamento

- Guarda varanda

- Pavimento pedra + rodapé

- Pavimento final apartamento

- Pavimento madeira + rodapé

5.2.5. Acompanhamento do planeamento de médio prazo

A análise ao mapa do PMP teve lugar quinze dias antes da data de início do mesmo (28 de

Junho de 2010). Foram estabelecidos quinze dias para resolver os impedimentos mais

relevantes que iriam influenciar as actividades da primeira quinzena do PMP (ver Figura 5.6).

28

Ju lhoJunho

4 5 11 12 18 19 25 26 1 2 8

Agos to

P l aneamento d e Méd i o P ra z o (4 s emana s )

Figura 5.6 – Início da aplicação do planeamento de médio prazo.

Page 111: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 5

96

Ao iniciar a primeira semana do planeamento de médio prazo, todos os dias, deve ser

verificado se o início das tarefas planeadas para esse dia é verdadeiramente possível. O

indicador TMR (Tasks Made Ready) mede a quantidade de actividades que foram colocadas

prontas para execução, não indicando se tiveram ou não, início real. Elabora-se um registo

diário das actividades prontas para execução e mede-se o indicador TMR (Tasks Made

Ready). No final de cada semana pode ser calculado o TMR ao nível semanal, descriminado

por fracção, bloco de apartamentos ou totalidade de blocos. O valor do indicador TMR vai

sendo registado diariamente, no mapa do planeamento de médio prazo afixado.

A descriminação do indicador TMR por bloco de apartamentos ajuda a saber qual o bloco que

se encontra mais atrasado, pois da análise às tarefas planeadas pode extrair-se que, a maior

parte das restrições ao início de cada actividade prende-se com a não conclusão das suas

precedências.

Em cada avanço de uma semana no planeamento de médio prazo, no final da semana, é

acrescentada uma nova semana de actividades (9 a 15 de Agosto) ao mapa e é feita nova

análise de restrições às actividades (ver Figura 5.7). As restrições das actividades do

planeamento de médio prazo correspondentes ao período de 12 a 25 de Julho de 2010 devem

estar resolvidas. Desta nova análise resulta uma lista de actividades disponíveis para

execução, de entre as quais se pode escolher aquelas consideradas mais prioritárias e que

devem compôr o mapa do próximo Sprint.

Ju lho

5 11 12 18 19 25 26 1 2 8

Agos to

P l aneamento d e Méd i o P ra z o (4 s emana s )

9 15

Figura 5.7 – Progresso da calendarização do planeamento de médio prazo.

5.2.6. Desenvolvimento de iterações

Com base no planeamento de médio prazo é possível definir um plano de iterações, com as

actividades a executar nos quinze dias seguintes. Tal como foi referido anteriormente, a partir

do planeamento de médio prazo é possível elaborar uma lista de actividades disponíveis e

desta lista ser feita a escolha das actividades que podem integrar o próximo plano de iterações.

Esta escolha tem lugar na reunião de planeamento do Sprint (Sprint Planning Meeting).

Uma vez que existem atrasos na execução das actividades, a lista de actividades disponíveis

integra actividades críticas e não críticas que deverão ter início nesses quinze dias (12 a 25 de

Julho de 2010) e actividades precedentes que ainda não foram iniciadas, mas já estão

disponíveis para o efeito. A lista de actividades disponíveis do Bloco de Apartamentos 3 para o

período de 12 a 25 de Julho de 2010, é apresentada no Quadro 5.7.

Page 112: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 5

97

Quadro 5.7 – Lista de actividades disponíveis para iniciar entre 12 a 25 de Julho de 2010.

Actividades Disponíveis – 12 a 25 de Julho de 2010

Actividades críticas

Fracção 3º esq:

- Pintura apartamento final

Fracção 5/6º piso:

- Porta de entrada

- Montagem equipamento

- Guarda varanda

Actividades não críticas

Fracção 1º dto:

- Pavimento madeira envernizar

Fracção 2º esq:

- espelhos aparelhagens e grelhas

- louças + torneiras + toalheiros

- Resguardos e espelhos

- Estores

Fracção 2º dto:

- Espelhos aparelhagens e grelhas

- Louças + torneiras + toalheiros

- Resguardos e espelhos

- Estores

Fracção 3º esq:

- Portas interiores e guarnições

Fracção 3º dto:

- Portas interiores e guarnições

- Pintura final apartamento

Fracção 4º esq:

- Pavimento de madeira envernizar

Fracção 4º dto:

- Portas entrada

- Remates estuque

- Aduelas

Fracção 5º/6º piso:

- Porta entrada

Durante a reunião de planeamento do Sprint (Sprint Planning Meeting), na presença do director

de obra, preparadores e encarregados, é feita a escolha das actividades consideradas mais

prioritárias e a executar nos quinze dias seguintes. A lista de actividades escolhida designa-se

por Sprint Backlog. Desta lista chega-se ao mapa de actividades a desenvolver na quinzena

seguinte e este é transmitido aos responsáveis pela sua execução.

Tal como foi referido no capítulo 4, associado a cada actividade deve estar o nível de

prioridade que pode variar entre prioridade muito alta, alta ou média. Deste modo, as

actividades críticas devem ser aquelas mais prioritárias (prioridade muito alta), bem como as

tarefas novas. As actividades que precedem as prioritárias devem estar associadas a

prioridade alta e as restantes integram a categoria de prioridade média. De seguida, no Quadro

5.8 é exposto o quadro de acompanhamento do Sprint para o período de 12 a 25 de Julho de

2010.

Page 113: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 5

98

Quadro 5.8 – Quadro de Acompanhamento da Iteração de 12 a 25 de Julho de 2010.

Sim

Du

raç

ão

(d

)

S

ObservaçõesResponsávelActividades Semana: 12/07/2010

T Q Q S S D S

Semana: 19/07/2010

T Q Q S S D

Prioridade

Mês: Julho

Lo

ca

liz.

DESCRIÇÃO DAS ACTIVIDADES E TAREFAS A

REALIZAR NO SPRINTPLANEAMENTO DO SPRINT

o

Razões para

NÃO

conclusão

Concluída?

CONTROLO

Plano Quinzenal e Análise PPCPERÍODO DE APLICAÇÃO DO SPRINT:

12 / 07 / 2010 a 25 / 07 / 2010 _______%SPRINT N.º 01

PPC

Quadro de Acompanhamento do Sprint

10Wallc.Pintura final do apartamento

2Transformad.Colocação de portas de entrada

3Sub.Montagem equipamento

5Martif.Colocação de guardas nas varandas

5A. Marq.Envernizamento do pav. de madeira

Mto

Alta

Mto

Alta

Mto

Alta

Mto

Alta

Alta

3ºesq

(A3)

5º/6º

(A3)

5º/6º

(A3)

5º/6º

(A3)

4ºesq

(A3)

5A. Marq.Envernizamento do pav. de madeiraMédia1ºdto

(A3)

No que respeita a alterações às actividades planeadas ou associadas a estas, é imperativo

resolver com eficácia e rapidez essas perturbações. Tornar as novas actividades disponíveis é

uma prioridade e esta acção deve decompôr-se em tarefas a integrar no mapa do Sprint. Logo,

às actividades no mapa do Sprint deveriam ser acrescida as tarefas necessárias para

disponibilizar as novas actividades para execução.

5.2.7. Acompanhamento do desenvolvimento do Sprint

O acompanhamento do desenvolvimento do Sprint é feito em dias alternados, numa reunião

designada por reunião de acompanhamento do Sprint (Scrum Meeting), na presença dos

responsáveis pelas tarefas planeadas e com a duração aproximada de 5 minutos. Houve

preferência por uma periodicidade de dois dias para a ocorrência da reunião Scrum em vez

desta ser diária porque achou-se que o avanço de um dia nos trabalhos não seria suficiente

para que esta fosse vista como útil, o que poderia levar à sua desvalorização. Todos os que

são responsáveis pelas tarefas do Sprint, designados por equipa Scrum, expõem o andamento

dos seus trabalhos em termos do que está feito e do que falta concluir e quais os impedimentos

encontrados. Esse andamento dos trabalhos fica registado no quadro de acompanhamento do

Sprint, apresentado anteriormente no Quadro 5.8.

O gestor do Sprint (Scrum Master), mais especificamente, o director de obra, tem a

responsabilidade de solucionar os impedimentos que a equipa expôs na reunião de

acompanhamento do Sprint (Scrum Meeting).

No final do Sprint tem lugar a reunião Sprint Retrospective. Nesta reunião é feita uma

retrospectiva do Sprint e são apresentados os resultados. Fica registado se as actividades

foram concluídas, e caso não tenham sido, qual foi o motivo. É obtido o valor do PPC (Percent

Page 114: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 5

99

Plan Complete) e verificada a fiabilidade do plano de iterações definido e o andamento global

dos trabalhos na obra. Esta reunião serve para fornecer feedback e permitir a aprendizagem.

Como foi referido anteriormente, a reunião Sprint Review Meeting também ocorre no final do

Sprint. O objectivo desta reunião é a apresentação do produto concluído resultante do Sprint à

entidade que representa e defende os interesses do dono de obra – o Product Owner.

5.3. Conclusões

Este capítulo permitiu aferir acerca da aplicabilidade da metodologia com evidência para os

seus pontos fortes e aspectos com necessidade de melhoria. As ferramentas sugeridas na

aplicação da metodologia são de fácil uso e baixo custo, permitem o controlo em tempo real,

acrescem informação disponível acerca do progresso da obra e viabilizam a adopção de

medidas correctivas durante a produção.

A aplicação da metodologia de planeamento e controlo da produção proposta aponta, com

transparência, os problemas ocorridos ao longo do fluxo produtivo. A aplicação desta

metodologia ultrapassa o simples planear, pois facilita a execução das actividades no tempo e

condições em que foram previstas.

Numa obra com estas características, as alterações introduzidas por parte de clientes e outras

entidades envolvidas constituem uma importante fonte de problemas e causa de desperdício,

cujo controlo e mitigação podem ser considerados difíceis. Ter em consideração a mitigação

destas alterações e a minimização do desperdício implicava que a obra tivesse sido concebida

segundo a filosofia Lean desde o seu projecto e que todos os envolvidos estivessem inseridos

num clima de parceria e motivação para a redução do mesmo. Contudo, houve necessidade

em lidar com a inevitabilidade de algumas dessas alterações. Para que o seu impacto no prazo

do projecto tivesse sido minimizado seria necessária a aplicação de práticas ágeis do método

Scrum desde o início do projecto.

A resistência à mudança foi a maior barreira encontrada, pois em qualquer processo de

mudança ocorre receio e desconforto em relação às alterações, o que dificulta a criação de

compromisso. A metodologia poderá ser entendida negativamente como forma de fiscalização

do trabalho de cada um.

O planeamento das actividades é feito em termos temporais. Não há planificação em termos de

recursos, pois, como a obra é constituída, maioritariamente, por subempreiteiros, os recursos

não são encarados como escassos, mas como disponíveis.

O acompanhamento da obra permitiu verificar que a falta de tempo, devido à pressão do dia-a-

dia, é apontada como factor mais condicionante na realização adequada do planeamento e do

controlo de produção. O pouco tempo disponível dos responsáveis pela construção, desde

Page 115: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 5

100

subempreiteiros a director de obra, associado à falta de cultura e de hábitos de planificação

foram importantes factores que limitaram o sucesso da implementação desta metodologia

nesta projecto que já se encontrava em execução.

Para o sucesso da implementação da metodologia seria necessária abertura para a mudança

de cultura laboral e para a aferição de novas práticas de trabalho. Seria essencial o apoio total

e liderança na implementação por parte da direcção de obra, sendo este último ponto

fundamental em termos de ser ou não bem sucedido o esforço de implementação. Seria

bastante importante a existência de uma equipa de implementação focada em auxiliar a

direcção no trabalho de planeamento e controlo da metodologia. Este facto iria criar

consistência na implementação e iria permitir uma quebra com os procedimentos e

mecanismos que integram a rotina de cada um. Além disso, deveriam ser usuais as actividades

de formação e organizadas reuniões de planeamento regulares.

Uma oportunidade de melhoria seria o faseamento da aplicação da metodologia. Este

faseamento permitiria obter resultados de cada uma das fases e levar a aprendizagem obtida

numa fase para a fase seguinte. Na primeira fase, o ênfase estaria na elaboração do

planeamento das iterações e na aplicação de todas as práticas do método Scrum. Na segunda

fase, a atenção estaria centrada na elaboração do planeamento de médio prazo sugerido pela

Lean Construction. Acredita-se que esta aplicação incremental favorecia uma gradual

minimização da resistência à mudança, além de ter permitir levar a aprendizagem da primeira

fase para a seguinte.

Para que fosse possível aferir acerca das reais potencialidades de aplicação desta metodologia

na empresa, seria necessário que a experimentação tivesse tido maior amplitude de

departamentos, abrangido um maior número de obras e que o período de estudo fosse mais

extenso. O principal contributo deste capítulo passou por explorar os conceitos da filosofia

Lean e as práticas do Método Ágil Scrum e, por sua vez, introduzir a aplicação integrada da

ferramenta Last Planner System com o Método Ágil Scrum.

Por fim, acredita-se que uma aplicação continuada da metodologia proposta pode conduzir a

um melhor desempenho e aumento de produtividade, uma vez que favorece a comunicação e

aproximação entre os intervenientes.

Page 116: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

101

Capítulo 6

6. Conclusões

6.1. Introdução

Neste último capítulo, pretende-se avaliar a concretização dos objectivos da presente

dissertação, evidenciar as limitações encontradas no decurso da mesma e analisar as

contribuições e aspectos inovadores do trabalho, com a exposição da contribuição para a

indústria da Construção e comunidade científica. Por último, serão sugeridas recomendações

para futuras investigações inseridas nesta área de conhecimento.

De um modo geral, as conclusões do trabalho desenvolvido encontram-se expostas ao longo

desta dissertação, na conclusão de cada capítulo. Assim, no presente capítulo apenas serão

expostos, de forma sucinta, os aspectos essenciais do trabalho desenvolvido e a sua

finalidade.

6.2. Conclusões

A partir da revisão bibliográfica são apresentadas as principais ideias relativas à filosofia Lean

Construction e aos princípios e conceitos que potenciam a Agilidade da empresa, mais

especificamente, no planeamento e controlo da produção.

Originária da Indústria, a filosofia Lean surgiu como forma de minimizar os desperdícios

durante o processo produtivo e reduzir as actividades que não agregam valor acrescentado ao

produto final. Apesar do ambiente da indústria da Construção ser considerado distinto dos

outros ambientes industriais, diversos estudos corroboram a existência de oportunidades de

aplicação do pensamento Lean na Construção.

As aplicações da Lean Construction têm vindo a ser desenvolvidas com o objectivo de

melhorar o controlo e a estabilidade do processo de construção, tal como a contínua redução

da variabilidade das actividades e do projecto e a eliminação de desperdício. Com a aplicação

das ferramentas Lean é possível beneficiar não só de reduções no custo final e custo de

gestão, no tempo de projecto, no stock e nas repetições de trabalho como no aumento da

percentagem do plano concluído. Diversos estudos revelam que o modelo Last Planner,

ferramenta mais utilizada para implementar a Lean Construction, permite aumentar a confiança

no planeamento, melhorar a estabilidade do processo de construção, reduzir a variabilidade e

controlar o fluxo de trabalho.

Page 117: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 6

102

Salienta-se que, o mundo actual caracteriza-se por um ambiente de constante mudança e,

neste ambiente, a capacidade de adaptação das empresas não é uma opção, mas sim uma

condição fundamental para a sua sobrevivência. Perante este facto, uma empresa deverá ter

capacidade de responder, com eficácia, às inesperadas e súbitas alterações. Em suma, uma

empresa deverá esforçar-se por ser Lean e Agile.

A Agilidade consiste na exploração bem sucedida de todas as potencialidades da empresa,

com a integração dos recursos e tecnologias com as melhores práticas de enriquecimento de

conhecimento para fornecer produtos e/ou serviços dirigidos a um cliente específico, num

ambiente com rápida mudança (Yusuf et al. 1999). Assentes neste conceito, surgem os

Métodos Ágeis, inicialmente orientados para o desenvolvimento de Software.

A aplicação de Métodos Ágeis relaciona-se com a valorização da competência individual,

comunicação e rápida entrega de valor. No que respeita ao planeamento, para os Métodos

Ágeis as alterações são bem vindas pois favorecem a adaptação à mudança e são fortalecidos

pela mesma.

Tanto a filosofia Lean como os Métodos Ágeis centram-se no conceito de melhoria contínua,

em que cada processo pode ser sempre aperfeiçoado. Não impõem novas tecnologias, mas

fomentam a optimização dos fluxos existentes entre as diversas actividades, apostam na

comunicação e informação sobretudo visual e promovem o feedback constante e a

transparência durante o desenvolvimento. Contudo, ambos os conceitos exigem uma mudança

na forma de interpretar e compreender a Construção.

Da análise feita à empresa, foi possível aferir acerca da potencialidade de aplicação dos

princípios da Lean Construction e das práticas do Método Ágil Scrum. Esta aferição é feita

através do levantamento dos problemas reais da obra e com os quais se deparam os gestores

da produção.

O resultado dos inquéritos realizados aos intervenientes na obra em causa e a outros

directores de obra da mesma empresa, evidenciou a importância dada ao planeamento pelos

agentes da Construção. Por outro lado, salientou a falta de controlo e transparência

relativamente aos problemas ocorridos durante a produção. A maioria dos inquiridos

considerou que o problema do planeamento prendia-se com o seu acompanhamento, que

deveria ser feito de forma contínua e não esporádica. Cientes deste facto justificado pela falta

de hábito devido à pressão diária, a maioria dos inquiridos valorizou a formalização dessa

prática de acompanhamento do planeamento. A maioria concordou com a possibilidade de

melhoria do processo de planeamento. Das respostas aos inquéritos, destaca-se ainda, a

necessidade de conseguir responder às inesperadas e súbitas mudanças que surgem, tanto ao

nível de alterações do projecto de desenho como a pedidos únicos de clientes.

Page 118: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 6

103

A metodologia de planeamento e controlo da produção apresentada, pretende integrar os

conceitos da Lean Construction com as práticas do Método Ágil Scrum e usufruir dos

benefícios de ambos. O objectivo da metodologia consiste em melhorar a comunicação entre

todos os envolvidos, aumentar o nível de abertura da informação, promover o feedback

constante e a transparência durante a produção e viabilizar a realização de medidas

correctivas.

Para poder aferir acerca das reais potencialidade de aplicação desta metodologia na empresa,

seria necessário uma maior amplitude e abrangência de experimentação, um período de

estudo mais extenso e uma maior aceitação e abertura à mudança de determinados hábitos. O

principal contributo deste trabalho passou pela exploração de conceitos da filosofia Lean e

integração dos mesmos com práticas do Método Ágil Scrum.

6.3. Avaliação da realização dos objectivos da dissertação

No que respeita aos objectivos propostos no início da presente dissertação, confirma-se que a

sua maioria foi atingida, embora alguns tenham sido atingidos com maior eficácia do que

outros. Esta dissertação procurou introduzir os princípios fundamentais da filosofia Lean

Construction e o conceito de Agilidade que baseia os Métodos Ágeis, na OPWAY Engenharia,

S.A..

O primeiro objectivo estabelecido correspondeu à pesquisa, revisão e recensão bibliográfica

dos modelos da Lean Construction, do conceito de Agilidade e produção Agile e dos Métodos

Ágeis de Desenvolvimento de Software. Esta pesquisa revelou-se bastante importante pois

permitiu a exposição da origem da Lean Construction e os seus princípios fundamentais, o seu

desenvolvimento e as principais aplicações existentes. Da mesma forma, permitiu expôr a

origem dos Métodos Ágeis de Desenvolvimento de Software, as diferentes definições do

conceito de Agilidade e a sua evolução e as principais aplicações. Procurou-se contribuir com a

sistematização de conhecimentos importantes relativos ao pensamento Lean e aos valores e

princípios dos Métodos Ágeis na Construção Civil, interpretação e discussão da sua

aplicabilidade.

A caracterização do estado de arte na empresa OPWAY Engenharia S.A. correspondeu ao

segundo objectivo da dissertação. Apesar de ter sido estudada e acompanhada apenas uma

obra, permitiu enriquecer a validação do ponto de partida para trabalhos futuros que envolvam

a análise da empresa nesta área de conhecimento.

Tendo por base o caso de estudo, foram identificadas oportunidades de introdução da filosofia

Lean e de aplicação de práticas sugeridas pelos Métodos Ágeis, como melhoria do processo

de planeamento e controlo da produção. Como terceiro objectivo, foi definida uma metodologia

de planeamento e controlo da produção, com recurso às ferramentas da Lean Construction e

às práticas do Método Ágil Scrum, adaptadas à Construção.

Page 119: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 6

104

Por fim, foi estabelecida a ligação entre as bases teóricas apresentadas e a realidade prática

da empresa, através da aplicação da metodologia proposta ao caso de estudo. A aplicação da

metodologia foi dificultada pela existência de algumas barreiras e limitações exploradas a

seguir.

6.4. Contribuições para o conhecimento e indústria

A Lean Construction e o Modelo Last Planner, conjuntamente com as práticas do Método Ágil

de Desenvolvimento de Software – Método Ágil Scrum, que favorece a Agilidade na cadeia de

produção – compõem um rumo inovador que auxilia a realização de projectos dinâmicos,

rápidos e complexos, sendo estes os projectos que mais emergem na actualidade. Tanto a

filosofia Lean e o Modelo Last Planner como as práticas do Método Ágil Scrum fortalecem a

habilidade de desenvolver novas soluções, de cumprir prazos e outros objectivos, de criar

dentro das empresas maior flexibilidade e capacidade de resposta e, de permitir encontrar o

equilíbrio necessário entre a antecipação e a adaptação de tarefas.

Na aplicação da metodologia no presente estudo, existe uma aposta explícita no

desenvolvimento da cultura Lean junto de todos os participantes na execução do projecto, ou

melhor, junto das pessoas. Destaca-se também, a incidência na aplicação de práticas

consideradas ágeis, através da valorização da competência individual e melhoria da

comunicação. Esta aposta permite aumentar a eficácia e coordenação, que são aspectos

determinantes para o sucesso dos projectos construção. Por sua vez, estes projectos são

extremamente dependentes do trabalho e da capacidade humana.

Este trabalho contribuiu para avaliação do actual estado do conhecimento relativamente à

filosofia Lean e para a introdução da aplicação do Método Ágil Scrum num ambiente de obra.

Ao longo da investigação denotou-se a inexistência de conhecimento no que respeita à filosofia

Lean e aos conceitos envolvidos, por parte da maioria dos participantes no projecto de

execução. A maioria das práticas apresentadas que integram o Método Ágil Scrum,

consideradas como meio para aumentar a Agilidade da cadeia de produção, foram

consideradas importantes, apesar de os envolvidos desconhecerem a existência deste método.

Assim, a pesquisa efectuada permitiu divulgar conceitos e princípios e aproximar os

profissionais da empresa às inovações que têm sido desenvolvidas no mundo académico.

A realização deste estudo pode ser considerada como um importante passo na difusão da

Lean Construction associada a práticas do Método Ágil Scrum, com a contribuição para o

aumento da eficiência da produção e Agilidade das empresas de Construção em Portugal.

Page 120: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 6

105

6.5. Limitações

Uma das maiores dificuldades encontradas foi a ambiciosa tentativa de aplicação integral da

metodologia. A aplicação desta metodologia deveria ter sido dividida em duas fases e no final

de cada fase deveria ter sido realizada uma avaliação dos resultados. Na primeira fase

procedia-se à aplicação do planeamento das iterações (Sprints) e de todas as práticas do

Método Scrum. Na segunda fase, acrecentar-se-ia a elaboração do planeamento de médio

prazo (Lookahead planning) sugerido pela Lean Construction. Acredita-se que uma aplicação

incremental da metodologia permitiria minimizar a resistência à mudança de forma gradual,

daria a oportunidade de avaliação de cada fase e possibilitaria levar a aprendizagem obtida na

primeira fase para a seguinte.

A tentativa de implementação desta metodologia foi impedida pela existência de barreiras e

limitações, expostas de seguida.

Salienta-se que, o pouco tempo disponível dos responsáveis pela Construção, desde

subempreiteiros ao director de obra, associado à falta de cultura e de hábitos de planificação

foi uma das principais limitações nesta dissertação.

O sucesso do esforço da implementação dependia, essencialmente, do apoio e liderança na

implementação por parte da direcção de obra, pois só assim seria possível realizar uma

implementação consistente e estabelecer uma mudança nos procedimentos e mecanismos da

rotina de cada participante. A inexistência de suporte e compromisso por parte da direcção de

obra foi também uma das principais limitações nesta dissertação.

Contudo, mesmo que a direcção de obra estivesse aberta à introdução dos princípios da Lean

Construction e aos valores e princípios do Scrum, esta não teria suficiente influência sobre

todos os envolvidos na cadeia de produção, desde a sua própria equipa até aos

subempreiteiros. A falta de liderança do director de obra seria uma limitação à eficácia da

aplicação desta metodologia.

A ausência de compromisso dos subempreiteiros para com o empreiteiro geral seria também

uma limitação à implementação da metodologia, pois estes não forneciam recursos (materiais e

humanos) suficientes para o cumprimento dos prazos estabelecidos.

A realização de acções de formação fornecidas aos participantes, acerca dos conceitos que

fundamentam a metodologia proposta, poderia ter sido um importante contributo para o

sucesso do esforço da implementação. Assim, a importância e interesse da metodologia

poderiam ter sido melhor compreendidos, a resistência à mudança minimizada e

consequentemente, uma maior possibilidade de criação de compromisso.

Page 121: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 6

106

Para que os conceitos que fundamentam a metodologia proposta integrassem a rotina de cada

um, seria necessário que a implementação da mesma se tivesse iniciado aquando do início da

obra. Teria sido importante efectuar um estudo mais extenso, desde o início até ao final da

execução do projecto. A obtenção de resultados favoráveis teria tido maior visibilidade e, seria

possível aferir acerca das reais potencialidades da aplicação da metodologia na empresa.

Salienta-se também que, permitiria que os envolvidos demonstrassem maior abertura para a

mudança de cultura laboral e para a aferição de novas práticas de trabalho, inserindo-se assim,

num clima de parceria e motivação para o sucesso da implementação.

6.6. Trabalhos Futuros

No desenvolvimento desta investigação, foram identificadas oportunidades de melhoria para

trabalhos futuros neste âmbito. Tal como é defendido pela filosofia Lean e pelos Métodos

Ágeis, os pontos a ser melhorados devem ser procurados, num processo contínuo de

aprendizagem em busca da perfeição. Deste modo, salientam-se em seguida os pontos de

melhoria identificados:

- Explorar a implementação dos princípios da Lean Construction na indústria da Construção em

Portugal;

- Explorar a possibilidade de transposição dos conceitos e práticas ágeis, oriundas dos

Métodos Ágeis de Desenvolvimento de Software, para o âmbito da Construção e explorar a

aplicabilidade dos fundamentos e princípios da Agilidade na gestão da Construção.

- Desenvolver estudos financeiros que visem avaliar o impacto que as alterações nas

actividades planeadas têm no custo final do projecto;

- Aumentar o número de inquiridos de modo a abranger mais pessoas pertencentes a

diferentes equipas e a diversas obras. Desta forma, a análise de resultados não seria afectada

e seria possível a generalização de resultados.

- Desenvolver a metodologia proposta num maior número de casos, de modo a permitir retirar

conclusões síncronas para diferentes cenários e equipas. Assim, seria possível a troca de

experiências entre projectos-piloto com o favorecimento da existência de feedback, o que seria

enriquecedor para a metodologia e potenciais resultados.

- Desenvolver um estudo que revele as alterações comportamentais dos gestores da

Construção perante a introdução dos princípios da Lean Construction e dos conceitos e

práticas do Método Ágil Scrum para o aumento da Agilidade das empresas.

- Aplicar os princípios da Lean Construction e práticas ágeis em várias fases para além da fase

de construção, nomeadamente desenho, aprovisionamento e gestão da produção.

Page 122: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

CAPÍTULO 6

107

- Implementar a filosofia Lean e difundir os conceitos e princípios onde assentam os Métodos

Ágeis, de modo global, em toda a empresa e projecto.

Tanto a Lean Construction como os princípios e conceitos que fundamentam os Métodos

Ágeis, constituem uma excelente forma de difundir boas práticas e consequentemente

aumentar o desempenho de toda a indústria da Construção. Esta direcção inovadora poderá

conduzir a melhorias significativas nas diversas áreas do ramo da Construção.

Page 123: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

108

Referências bibliográficas

Abdelhamid, T. 2004. Lean Production Paradigms in the Housing Industry. Proceedings of the

NSF Housing Research Agenda Workshop, Florida, EUA.

Abrahamsson, P.; Salo, O.; Ronkainen, J.; Warsta, J. 2002. Agile Software development

methods—review and analysis. Oulu, Finland: VTT Publications.

Agile Alliance. 2001. Manifesto for Agile Software Development. Retirado a 20 de Novembro de

2009 do sítio: http://www.agilemanifesto.org

Alarcón, F. L.; Diethelm, S.; Rojo, O.; Calderon. 2005. Assessing the impacts of implementing

Lean Construction. Proceedings of the 13th annual conference of IGLC, Sydney, Australia.

Alarcón, L. F.; Diethelm, S.; Rojo, O. 2002. Collaborative implementation of Lean planning

systems in Chilean construction companies. Proceedings of the 10th Conference of the IGLC.

Gramado, Brasil.

AlSehaimi, A.; Tzortzopoulos, P.; Koskela, L. 2009. Last Planner System: Experiences from

pilot implementation in the middle east. Proceedings of the 17th annual conference of IGLC,

Taipei, Taiwan.

Anderson, D. J. 2004. Agile Management for Software Engineering. New Jersey, USA: Prentice

Hall PTR.

Arbulu; Z. 2006. Implementing Lean Construction: How to succeed. Proceedings of the 14th

annual conference of IGLC. Santiago do Chile, Chile.

Ballard, G. 1994. The Last Planner. Northern California construction Institute, Monterey, EUA.

Ballard, G. 2000. The Last Planner System of production Control, Dissertação de

doutoramento, Universidade de Birmingham, UK.

Ballard, G.; Howell, G. 1995. Toward construction JIT. Proceedings of the 1995 ARCOM

Conference, Association of Researchers in construction Management. Sheffield, UK.

Ballard, G.; Howell, G. 1998. Shielding production: essential step in production control. Journal

of construction Engineering and Management, vol. 124, n.º 1, pag. 11-17.

Barlow, J. 1997. Partnening, Lean Production and The High Performance Workplace.

Proceedings of the 5th annual conference of IGLC, Gold Coast, Austrália.

Barlow, J., 1996. Partnering Lean Production and the high performance workplace. Occasional

Paper. School of construction, Housing and Surveying, University of Westminster.

Page 124: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

109

Chin, G. 2004. Agile project management: how to succeed in the face of changing project

requirements. New York: Amacon.

Cockburn, A.; Highsmith, J. 2001a. Agile Software Development: The Business of Inovation.

IEE Computer Magazine, vol. 34, n.º 9, pag. 131-133.

Cockburn, A.; Highsmith, J. 2001b. Agile Software Development: The People Factor. IEE

Computer Magazine, vol. 34, n.º 9, pag. 131-133.

Cohn, M. 2009. Succeeding with Agile: Software Development using Scrum. Addison-Wesley

Professional.

Conboy, K.; Fitzgerald, B. 2004. Toward a conceptual framework for Agile methods: a study of

agility in different disciplines. Proceedings of the ACM Workshop on Interdisciplinary Software

Engineering Research, pag. 37-44.

Dias, M. 2005. Um novo enfoque para o gerenciamento de projectos de desenvolvimento de

Software, Dissertação de mestrado, Universidade de São Paulo, Brasil.

Duncan, W. R. (Director, Standards Committee). 1996. A Guide to the Project Management

Body of Knowledge. Sylva, EUA: PMI Publications.

Dybå, T.; Dingsøyr, T. 2008. Empirical studies of Agile software development: A systematic

review. Information and Software Technology, vol. 50, issue 9-10, pag. 833-859.

Formoso, C.; Moura, C. 2009. Evaluation of the impact of the Last Planner System on the

performance of construction projects. Proceedings for the 17th Annual Conference of the

International Group for Lean Construction, Taipei, Taiwan.

Ganguly, A.; Nilchiani, R.; Farr, J. 2009. Evaluating agility in corporate enterprise. International

Journal of production Economics, vol. 118, issue 2, pag. 410-423.

Gonçalves, W. 2009. Utilização de Técnicas Lean e Just in Time na Gestão de

Empreendimentos e Obras, Dissertação de mestrado, Instituto Superior Técnico, Portugal.

Griffiths, M. 2004. Using Agile alongside the PMBOK. PMI Global Congress Proceeding.

Gunasekaran, A. 1999. Agile manufacturing: A framework for research and development.

International Journal of production Economics, vol. 62, issue 1-2, pag. 87-105.

Gunasekaran, A.; Yusuf, Y.Y. 2002. Agile manufacturing: a taxonomy of strategic and

technological imperatives. International Journal of production Research, vol. 40, issue 6, pag.

1357-1385.

Page 125: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

110

Hamedi, M.; Sharafi, Z.; Modarres, A. 2009. Standardization of fossil-fuel power plant projects

according to Lean Construction principles. Proceedings for the 17th Annual Conference of the

International Group for Lean Construction, Taipei, Taiwan.

Hamzeh, R.; Ballard, G.; Tommelein, I. 2007. Improving Construction Workflow – the connective

role of lookahead planning. Proceedings of the 15th annual conference of IGLC, Michigan, USA.

Highsmith, J. 2002. Agile Software Development Ecosystems. Addison-Wesley Professional.

Highsmith, J. 2004. Agile project management: creating innovative products. Boston: Addison-

Wesley.

Hirota, E. 2001. Desenvolvimento de competências para a introdução de inovações gerenciais

na construção através da aprendizagem pela acção. Tese de doutoramento, Programa de Pós-

graduação em Engenharia Civil Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil.

Howell, G. 1999. What is Lean Construction? Proceeding of the 7th annual conference of IGLC,

Califórnia, EUA.

Ismail, H.; Snowden, S.; Poolton, J.; Reid, I.; Arokiam. I. 2006. Agile manufacturing framework

and practice. International Journal of Agile systems and Management vol.1, n.º 1, pag.11-28.

Kalsaas, T.; Skaar, J.; Thorstensen, R. 2009. Implementation of Last Planner in a medium-sized

construction site. Proceedings for the 17th Annual Conference of the International Group for

Lean Construction.

Kettunen, P. 2009a. Adopting key lessons from Agile manufacturing to Agile software product

development – A comparative study. Tecnovation, vol. 29, issue 6-7, pag. 408-422.

Kettunen, P. 2009b. Agile Software development in large-scale new product development

organization: team-level perspective, Dissertação de doutoramento, Helsinki University of

Technology, Finland.

Kim, Y.; Jang, J. 2006. Applying organizational hierarchical constraint analysis to production

planning. Proceedings of the 14th annual conference of IGLC, Santiago, Chile.

Koskela, L. 1992. Application of the new production philosophy to construction. Technical

Report. Stanford University, USA.

Koskela, L.; Howell, G. 2002. The Theory of Project Management: explanation to novel

methods. Proceedings of the 10th annual conference of IGLC, Gramado, Brasil.

Leal, L. 2008. Uma Abordagem Ágil ao Gerenciamento de Projectos de Software Baseada no

PMBOK Guide, Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil.

Page 126: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

111

Levy, M.; Hazzan, O. 2009. Knowledge Management in Practice: The Case of Agile Software

Development. 31st International Conference on Software Engineering, Vancouver, Canadá.

Loforte, F.; Timóteo, M. 2009. Exploring Agile Methods in construction Small and Medium

Enterprises: A Case Study. Instituto Superior Técnico, Portugal.

Magalhães, A.; Rouiller, A.; Vasconcelos, A. 2005. O gerenciamento de projectos de software

desenvolvidos à luz das metodologias ágeis: Uma visão comparativa. Revista ProQualiti, vol.1.

Marques, S. 2007. Lean Construction and Just in Time - Introdução na construção portuguesa.

Dissertação de mestrado, Instituto Superior Técnico, Portugal.

Matias, J.; Cachadinha, N. 2010. Evaluating the potential benefits and challenges of LC

adoption in the Portuguese construction industry: a survey study. Proceedings of the 18th

annual conference of IGLC, Haifa, Israel.

Morgan, J. M., Liker, J. K. 2006. The Toyota Product Development system. New York, EUA:

Productivity Press.

Muller, E. 2004. Métodos Ágeis: Uma aplicação do Scrum no SIMUPLAN, Monografia para a

obtenção de grau de bacharel, Universidade Passo Fundo, Brasil.

Narasimhan, R.; Swink, M.; Kim, S. W. 2006. Disentangling Leanness and agility: An empirical

investigation. Journal of Operations Management, vol. 24, issue 5, pag. 440-457.

Neto, J.; Alves, T. 2007. Strategic issues in Lean Construction implementation. Proceedings for

the 15th Annual Conference of the International Group for Lean Construction, Michigan, USA.

Olano, R.; Alarcón, L.; Rázuri, C. 2009. Understanding the relationship between planning

reliability and schedule performance: a case study. Proceedings for the 17th Annual Conference

of the International Group for Lean Construction, Taipei, Taiwan.

Owen, R.; Koskela, L. 2006a. Agile Construction Project Management. 6th International

Postgraduate Research Conference in the Built and Human Environment, Delft, Netherlands.

Owen, R.; Koskela, L. 2006b. An Agile Step Forward in Project Management. 2nd

Specialty

Conference on Leadership and management in construction, Grand Bahama Island, Bahamas.

Owen, R.; Koskela, L.; Henrich, G.; Codinhoto, Ricardo. 2006. Is Agile Project Management

Applicable to construction? Proceedings of the 14th annual conference of IGLC, Santiago,

Chile.

Peneirol, N. 2007. Lean Construction em Portugal – Caso de estudo de implementação do

sistema de controlo da produção Last Planner, Dissertação de mestrado, Instituto Superior

Técnico, Portugal.

Page 127: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

112

Picchi, F.; Granja, A. 2004. Construction sites: Using Lean principles to seek broader

implementations. Proceedings for the 12th Annual Conference of the International Group for

Lean Construction, Copenhaga, Dinamarca.

Porwal, V.; Fernández-Solís, J.; Lavy, S.; Rybkowski, Z. K. 2010. Last Planner System

Implementation Challenges. Proceedings of the 18th annual conference of IGLC, Haifa, Israel.

Ramaswamy, K.; Kalidindi, S. 2009. Waste in Indian construction projects. Proceedings for the

17th Annual Conference of the International Group for Lean Construction, Taipei, Taiwan.

Rising, L.; Janoff, N. S. 2000. The Scrum Software Development Process for Small Teams.

IEEE Software, vol. 17, issue 4, pag. 2-8.

Schwaber, K. 2004. Agile Project Management with Scrum. Microsoft Press, USA.

Schwaber, K.; Beedle, M., 2001. Agile Software Development with Scrum. New Jersey, USA:

Prentice Hall PTR.

Sharifi, H.; Zhang, Z. 1999. A methodology for achieving agility in manufacturing organisations:

An introduction. International Journal of production Economics, vol. 62, issue 1-2, pag. 7-22.

Sharp, J.M.; Irani, Z.; Desai, S. 1999. Working towards Agile manufacturing in the UK industry.

International Journal of production Economics, vol. 62, issue 1-2, pag. 155-169.

Strode, D. 2005. The Agile Methods: An Analytical Comparison of Five Agile Methods and an

Investigation of Their Target Environment. Dissertação de mestrado, Massey University, New

Zealand.

Timóteo, M. 2007. Método de Gestão Ágil de Projectos e Construção, Dissertação de

mestrado, Instituto Superior Técnico, Portugal.

Turk, D.; France, R.; Rumpe, B. 2004. Assumptions Underlying Agile Software Development

Processes. Journal of Database Management, vol. 16, issue 4, pag. 62-87.

Vásquez-Bustelo, D.; Avella, L. 2006. Agile manufacturing: Industrial case studies in Spain.

Tecnovation, vol. 26, issue 10, pag. 1147-1161.

Womack, J. P., Jones, D. T. 2003. Lean Thinking – Banish Waste and Create Wealth in Your

Corporation. Londres, Reino Unido: Simon & Schuster.

Yusuf, Y.Y.; Sarhadi, M.; Gunasekaran, A. 1999. Agile manufacturing: The drivers, concepts

and attributes. International Journal of production Economics, vol. 62, issue 1-2, pag. 33-43.

Page 128: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

113

Page 129: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

i

Anexos

Anexo 1 – Ficha de Caso de Estudo

Anexo 2 – Ficha de Inquérito

Anexo 3 – Modelo do Plano de Médio Prazo

Anexo 4 – Modelo do Plano do Sprint

Page 130: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

ii

Page 131: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

iii

Anexo 1 – Ficha de Caso de Estudo

Page 132: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

iv

Page 133: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

v

Page 134: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

vi

Page 135: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

vii

Anexo 2 – Ficha de Inquérito

Page 136: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

viii

Page 137: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

ix

Page 138: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

x

Page 139: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

xi

Page 140: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

xii

Page 141: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

xiii

Anexo 3 – Modelo de Plano de Médio Prazo

Page 142: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

xiv

Page 143: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

xv

Re

sp

on

ve

lA

cti

vid

ad

es

ID

Pla

ne

am

en

to d

e M

éd

io P

razo

DE

SC

RIÇ

ÃO

DA

S A

CT

IVID

AD

ES

DO

PM

PP

LA

NE

AM

EN

TO

DA

S A

CT

IVID

AD

ES

AN

ÁL

ISE

DE

RE

ST

RIÇ

ÕE

S

Du

raç

ã

o

Da

ta d

e

Iníc

io

Da

ta d

e

Fim

Da

ta d

e

Iníc

io

PR

EV

IST

OR

EA

L

Da

ta d

e

Fim

De

sv

io

de

Fim

%

Co

mp

.

Pre

ce

nc

ias

po

r

inic

iar

Ma

teri

al e

m

ob

ra

Ou

tra

s r

es

triç

õe

s/

ne

ce

ss

ida

de

s

ESTADO

Page 144: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

xvi

Page 145: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

xvii

Anexo 4 – Modelo do Quadro de Acompanhamento

do Sprint

Page 146: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

xviii

Page 147: Agilidade e Lean Construction - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Lean Construction com o Método Ágil Scrum num estaleiro de obras português, com vista à melhoria do controlo da produção.

xix

Sim

Duração (d)

S

Ob

se

rva

çõ

es

Re

sp

on

ve

lA

cti

vid

ad

es

Se

ma

na

:

TQ

QS

SD

SSe

ma

na:

TQ

QS

SD

Pri

ori

da

de

s:

Localiz.

DE

SC

RIÇ

ÃO

DA

S A

CT

IVID

AD

ES

E T

AR

EF

AS

A

RE

AL

IZA

R N

O S

PR

INT

PL

AN

EA

ME

NT

O D

O S

PR

INT

Não

Ra

es

pa

ra

O

co

nc

lus

ão

Co

nc

luíd

a?

CO

NT

RO

LO

Pla

no

Qu

inze

na

l e

An

ális

e P

PC

PE

RÍO

DO

DE

AP

LIC

ÃO

DO

SP

RIN

T:

__

/ _

_ /

__

__

a

_

_ / _

_ / _

__

__

__

__

__

%S

PR

INT

N.º

__

_

PP

C

Qu

ad

ro d

e A

co

mp

an

ha

me

nto

do

Sp

rin

t