ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DO TRANSTORNO … · O tratamento medicamentoso, cujo objetivo é...

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UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES MARISA APARECIDA ALMEIDA E SILVA ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR Mogi das Cruzes, SP 2014

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UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES

MARISA APARECIDA ALMEIDA E SILVA

ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR

Mogi das Cruzes, SP 2014

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UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES

MARISA APARECIDA ALMEIDA E SILVA

ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR

Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade de Mogi das Cruzes, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Especialista em Acupuntura.

Orientadores: Profº. Luiz A. Alfredo

Profª. Bernadete Nunes Stolai

Mogi das Cruzes, SP 2014

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MARISA APARECIDA ALMEIDA E SILVA

ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR

Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade de Mogi das Cruzes, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Especialista em Acupuntura.

Aprovado em ...............................

BANCA EXAMINADORA:

Profº. Luiz A. Alfredo

UMC – UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES

Profª. Bernadete Nunes Stolai

UMC – UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES

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AGRADECIMENTOS

Agradeço sempre a Deus pela força presente em minha vida, a minha família e amigos que incentivaram a conclusão desse trabalho . Agradeço ao meu esposo e ao meu filho pela paciência, apoio e respeito. Agradeço aos pacientes pela contribuição tão importante na experiência prática. Agradeço aos professores pela dedicação e empenho, indispensáveis na realização desse trabalho.

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“Conheça todas as estórias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana” (C.G.Jung)

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RESUMO

O Transtorno Afetivo Bipolar é caracterizado por episódios de mania e depressão, que se alternam em diversos graus de intensidade, acarretando sofrimento para os portadores e seus familiares. Devido a incidência desse Transtorno na atualidade e o termo Bipolar estar comum no cotidiano; foi realizado este trabalho analisando os sintomas do Transtorno Afetivo Bipolar e sua relação na Medicina Tradicional Chinesa com o objetivo de verificar o uso da Acupuntura no tratamento. O resultado do trabalho fornece bases para a eficácia da Acupuntura como auxiliar no tratamento do Transtorno Afetivo Bipolar. Palavras-chave: Acupuntura, Transtorno Afetivo Bipolar, tratamento.

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ABSTRACT

The Affective Bipolar Disorder is characterized by episodes of mania and depression, which alternate in different degrees of intensity, causing suffering for patients and their families. Because the incidence of this disorder in the present and the term Bipolar be common in everyday life; This work was carried out by analyzing the symptoms of Bipolar Affective Disorder and its relationship in traditional Chinese medicine with the aim of verifying the use of acupuncture in the treatment. The result of this work provides basis for the efficacy of acupuncture as an adjunct in the treatment of Bipolar Affective Disorder. Key-words: Acupuncture, Bipolar Affective Disorder, treatment.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................09

2 METODOLOGIA.................................................................16

3 MEDICINA TRADICIONAL CHINESA................................17

4 O TRANSTORNO MENTALNA MTC .................................21

5 MENTE - NA CONCEPÇÃO CHINESA ..............................25

5 1 Mente Perturbada ..............................................................25

5 2 Mente enfraquecida...........................................................26

5 3 Mente Obstruída.................................................................26

6 TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR NA MTC...................27

8 TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR E ACUPUNTURA....29

9 CONCLUSÃO......................................................................38

REFERÊNCIAS...........................................................................40

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1 INTRODUÇÃO O Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), psicopatologia antigamente conhecida como

Psicose Maníaco Depressiva, é um transtorno psiquiátrico grave, recorrente e crônico,

em muitos casos com sintomas persistindo por longos períodos; e que acomete

pessoas em todo o mundo. É um transtorno caracterizado por alterações de humor que

se manifestam principalmente através de sintomas de tristeza e euforia, que estão

relacionados com estados de depressão e mania.

O TAB está classificado no sistema CID 10 (Código Internacional de Doenças)

como Transtorno do Humor (Afetivo), F30 – F39; caracterizado por alternâncias de

episódios de depressão e mania (estados de euforia e exaltação do humor), com

épocas de normalidade nos intervalos das crises. (OMS, 2007).

De acordo com o DMS-IV o TAB é dividido em dois tipos: tipo I e tipo II.(

No transtorno Afetivo bipolar Tipo I , a manifestação se dá de forma clássica, ou

seja, episódios maníacos alternados com crises depressivas ou vice-versa.

No Tipo II, a manifestação dos sintomas é marcada por um ou mais episódios

depressivos maiores, juntamente com pelo menos um episódio maníaco. (BALLONE,

2005).

No DSM-V lançado em maio de 2013 é acrescentado uma nova derivação do

transtorno bipolar, que é o Transtorno da Desregulação do Humor e do

Comportamento.

Trata-se de um novo diagnóstico para crianças que tem humor instável, mas que

não seguem todos os critérios para serem diagnosticadas como Transtorno Bipolar. O

“Transtorno da Desregulação do Humor”, pode ser apresentado por crianças que

apresentam irritabilidade freqüentes de surtos de comportamentos três ou mais vezes

por semana por mais de um ano. (ROHDE, 2013).

Os últimos relatórios da Organização Mundial da Saúde (OMS), apontam os

transtornos mentais, e entre eles também o Afetivo Bipolar, como problemas

importantes de saúde pública. (KING, 2011).

Segundo a Organização Mundial de Saúde o TAB é uma das 10 condições que

causam mais incapacidade. (KING, 2011).

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De acordo com a Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB) estima-se

que cerca de 1,8 a 15 milhões de brasileiros sejam portadores do Transtorno Afetivo

bipolar. (KING, 2011).

O início desse transtorno geralmente se dá em torno dos 20 a 30 anos de idade,

mas pode começar mesmo após os 70 anos. O início pode ser tanto pela fase

depressiva, como pela fase maníaca; iniciando-se gradualmente ao longo de semanas,

meses ou abruptamente em poucos dias, e em muitos casos com a presença de

sintomas psicóticos, o que muitas vezes se confunde com síndromes psicóticas.

Apresenta equivalência entre homens e mulheres, sendo mais freqüente entre

solteiros ou separados. Portadores do transtorno tem maiores taxas de desemprego e

estão mais sujeitos a utilizarem serviços médicos e hospitalização, acarretando prejuízo

e custo a nível individual e social.

A probabilidade de experimentar novos episódios de depressão ou mania

aumenta com cada episódio subseqüente apesar do tratamento. Aproximadamente

25% das pessoas com transtorno bipolar tipo I e até 60% dos bipolares tipo II, tentam

suicídio durante a evolução da doença. (JURUENA, 2000).

Além dos quadros depressivos e maníacos, há quadros mistos, caracterizados

por sintomas depressivos simultâneos aos sintomas maníacos. (POST,1992).

Nestes transtornos a perturbação fundamental é uma alteração do humor ou do

afeto; no sentido de uma depressão (com ou sem ansiedade associada) ou de uma

elação – expansão do “eu”. (DALGALARRONDO, 2008). A alteração do humor em geral

é acompanhada de uma modificação do nível global de atividade, e a maioria dos

outros sintomas é secundária a estas alterações do humor. Geralmente estes

transtornos tendem a serem recorrentes e a ocorrência dos episódios individuais pode

frequentemente, estar relacionada com situações ou fatos estressantes. (SANCHEZ,

MARSAL, JORGE, 2004).

No TAB, as oscilações no afeto, o comportamento e o temperamento

manifestam-se principalmente no pensamento, na percepção, na linguagem e na

cognição. As fortes mudanças no humor que ocorrem no comportamento bipolar

frequentemente provocam efeitos nos relacionamentos interpessoais. (GOODWIN e

JAMISON, 1990).

A fragilidade afetiva, a extravagância financeira, as oscilações nos níveis de

sociabilidade, as indiscrições sexuais e os comportamento violentos são todos

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claramente fonte de desordem, confusão e conflito, e se refletem naqueles que sofrem

dessa “doença”. (AKISKAL et al., 1997). Nos relacionamentos interpessoais observam-

se desajustes com familiares e amigos, no trabalho e na comunidade; acarretando um

sofrimento emocional grande no nível de convivência.

Embora haja dois sistemas de classificação dos transtornos mentais, o DSM e

CID 10; Paulo Dalgalarrondo em seu livro “Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos

Mentais”, fala da importância em se definir os quadros mentais através de uma

perspectiva sindrômica:

“identificar síndromes é o primeiro passo no sentido de orientar a observação psicopatológica dos sinais e dos sintomas dos pacientes. O diagnóstico sindrômico é um ato clínico modesto mas estrategicamente importante no raciocínio clínico.( DAL-

GARRONDO, 2008). Dalgalarrondo (2008) classifica o TAB por episódios de fases de mania e

depressão, que ocorrem de modo relativamente delimitado no tempo e com certa

freqüência:

Transtorno Bipolar Tipo I: caracterizado por episódios depressivos leves a

graves, intercalados com fases de normalidade e fases maníacas bem caracterizadas.

Transtorno Bipolar Tipo II: episódios depressivos leves a graves, intercalados

com períodos de normalidade e seguidos de fases hipomaníacas.

Transtorno Bipolar Tipo Ciclador Rápido: episódios com fases depressivas,

maníacas, hipomaníacas ou mistas em curto período; com período de remissão muito

breve entre as crises.

O autor cita ainda períodos de remissão, onde o “humor” do paciente torna-se

estabilizado e as alterações psicopatológicas regridem.

Já os autores Kaplan e Sadock (1999), dividem os transtornos afetivos em:

Transtorno Depressivo Maior: caracterizado por depressão unipolar, que pode

manifestar-se por um episódio único ou episódios recorrentes;

Transtorno Bipolar: que consiste de pelo menos um episódio de excitação

maníaca ou hipomaníaca.

De forma geral a alternância de estados depressivos com maníacos é a tônica

dessa patologia. O termo mania é popularmente entendido como tendência a fazer

várias vezes a mesma coisa; mas em psiquiatria “mania” significa um estado exaltado

de humor.

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O paciente quando na fase depressiva manifesta o humor depressivo. Os reflexos

mais típicos desse tipo de humor são os sintomas de angústia, tristeza, vazio,

desesperança, desânimo.

A depressão é caracterizada principalmente por alterações do humor, da

psicomotricidade, da cognição e das funções vegetativas. O quadro clínico do paciente

deprimido é bastante complexo, cheio de sinais e sintomas.

Geralmente no humor depressivo há alterações do apetite e do sono, dificuldades

de concentração e pensamentos de cunho negativo, incapacidade de sentir alegria ou

prazer, redução da energia, agitação psicomotora ou, ao contrário, lentificação,

podendo ocorrer também ideação suicida e/ou sintomas psicóticos.

Algumas vezes, de acordo com determinados traços de personalidade, o

paciente pode não manifestar sentimento de tristeza e concentrar suas queixas em

somatizações, em dores e outras queixas físicas, tais como: cefaléia, dor de estomago,

dor no peito, tonturas, etc.

Apesar disso, a atitude da pessoa com humor depressivo, mesmo sem as

queixas de tristeza, pode ser percebida indiretamente por sua expressão facial, pelo

olhar triste, fixo e sem brilho; pelos ombros caídos e por uma notável tendência ao

choro e hipersensibilidade sentimental. (BLEULER,1985, p.143).

Assim como a depressão, a euforia ou mania também se caracteriza por

alterações no humor, na cognição, na psicomotricidade e nas funções vegetativas;

porém com características opostas àquelas alterações observadas na depressão, ou

seja, a pessoa apresenta elevação do humor, aceleração da psicomotricidade, e

aumento de energia.

Os sentimentos de exagerada alegria, júbilo excitação são comuns, ocasionando

muitas vezes desinibição social e sexual, com comportamentos inadequados no meio

sociocultural, geralmente comportamentos que a pessoa não realizaria fora da fase

maníaca.

O humor torna-se exageradamente expansivo e juntamente com a aceleração no

ritmo do pensamento e agitação psicomotora podem ocorrer pensamentos de

grandiosidade.

Dependendo da gravidade do episódio eufórico pode-se confundir o quadro com

um surto esquizofrênico, onde a pessoa pode apresentar idéias de grandeza, de poder,

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de importância social, configurando delírios de grandeza e ainda pode apresentar

também alucinações auditivas. (MORENO, 2005).

Atualmente o tratamento consiste na interação do tratamento medicamentoso

com a psicoterapia.

O tratamento medicamentoso, cujo objetivo é controlar a sintomatologia, constitui-

se por antidepressivos, antipsicóticos atípicos e estabilizadores de humor, dentre eles,

o mais comum é o carbonato de lítio.

O tratamento deve ser contínuo, pois se interrompido, os sintomas podem

reaparecer.

Geralmente as pessoas afetadas não encaram o transtorno como um problema,

apresentando grande dificuldade em manter o tratamento, e com queixas em relação

aos sintomas adversos da medicação.

Apesar da disponibilidade de vários medicamentos no tratamento, muitas

pessoas que sofrem de transtorno bipolar têm apenas uma resposta parcial, ou referem

experiência negativa com efeitos adversos, ou recusa a tratamentos convencionais.

(MORENO, 2005).

É indicada a internação quando o paciente oferece riscos a sua integridade física

ou de outras pessoas. (MORENO, 2005).

A alternância dos episódios de mania com depressão requer um manejo contínuo

e atento quanto a medicação, uma vez que as diferenças dos sintomas em cada fase

do transtorno pode mudar o direcionamento do tratamento.

A psicoeducação também se torna um componente essencial no tratamento do

TAB e tem como proposta melhorar o insight sobre o transtorno, lidar com a

estigmatização, melhorar a adesão ao tratamento, ensinar o paciente e a família a

identificar os sinais precoces, promover hábitos saudáveis, buscar a regularidade no

estilo de vida, e evitar o abuso de substâncias. (SANCHEZ, MARSAL e JORGE, 2004).

Baseado na idéia de um tratamento mais efetivo, relacionando o

comprometimento de aspectos físicos e emocionais à doença em si; o tratamento

através da Acupuntura tem em sua filosofia a visão do individuo como um todo,

tentando resgatar o equilíbrio físico e mental do ser humano.

Uma das características fundamentais da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é a

ausência da dicotomia mente-corpo. (VECTORE, 2005).

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Encontramos nos clássicos da MTC, descrições de alterações somáticas

associadas às alterações mentais, sendo que estas seriam classificadas, como foi visto,

como transtornos mentais tanto pela CID-X quanto pelo DSM-IV (as principais

referências de classificação da psiquiatria moderna).

O mais antigo compêndio médico conhecido, o Cânone do Imperador Amarelo

(que provavelmente remonta a época do Imperador Amarelo 2600AC , com origem

comprovada na dinastia Zhou - 250AC) se divide nas “Questões Simples” (Su Wen) e

no “Eixo Espiritual” (Ling Shu). (WANG, 2001, p.21).

Trabalhos científicos comparando Acupuntura (especialmente com

eletroestimulação) com psicofármacos são abundantes na China.

O acesso a estes artigos é bastante dificultado tanto pelo idioma quanto pela

precariedade e controle governamental sobre a Internet (o principal meio de acesso a

trabalhos científicos há mais de uma década no mundo ocidental); no entanto, esforços

são feitos por médicos ocidentais que viajam para a China para traduzir e distribuir tais

trabalhos. (FLAWS, 2001, p.78).

Existem diversos estudos que mostram que o tratamento da depressão com

Acupuntura é eficaz como monoterapia. (COLBERT, 2000), (JIN-BO, 2003); a maior

parte deles comparando a ação da Acupuntura aos antidepressivos, mostrando que a

eficácia antidepressiva é equivalente, e sem os efeitos colaterais tão freqüentes dos

antidepressivos. (KAPLAN & SADOCK, 2005).

Queixas de insônia e ansiedade tão freqüentes entre os deprimidos e portadores

do TAB, também podem ser aliviadas com Acupuntura cuja potência sedativa já foi

equiparada à dos benzodiazepínicos. (LO, CHUNG, 1989).

Existe inclusive um estudo comparativo entre eletroacupuntura e amitriptilina

(medicação usada em sintomas depressivos) que encontrou superioridade da

eletroacupuntura quando havia comorbidade entre depressão e ansiedade. (LUO,

MENG, JIA, ZHAO, 1998).

Outras formas de estímulo dos pontos de Acupuntura (além da eletro-estimulação)

também foram investigadas e consideradas eficazes em sintomas de ordem emocional.

(QUAH-SMITH, 2005).

Um ponto importante é que pacientes que não toleram, não respondem ou têm

contraindicações formais para o uso de antidepressivos têm na Acupuntura uma

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possibilidade terapêutica eficaz. (MANBER, SCHNYER, ALLEN, RUSH, BLASER,

2004).

Dentro disso a proposta do presente estudo é verificar os efeitos da Acupuntura

como auxiliar no tratamento do Transtorno Afetivo Bipolar.

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2 METODOLOGIA

Neste trabalho foi realizado uma revisão crítica de literatura a respeito do tema

proposto, através do levantamento de literatura disponível na biblioteca da Universidade

de Mogi das Cruzes (UMC); e pesquisas de artigos científicos nacionais e internacionais

referente ao tema proposto.

Foi realizado também uma busca nas bases de dados Bireme, Scielo e Lilacs.

O texto foi produzido com base nas normas da ABTN e de acordo com o Manual

de Trabalhos Acadêmicos da UMC.

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3 MEDICINA TRADICIONAL CHINESA Na Medicina Tradicional Chinesa (MTC) o ser humano está intimamente

integrado à Natureza, ambos submetidos às mesmas influências e sendo partes

integrantes do Universo. Desse modo existe uma analogia entre os fenômenos da

natureza e a fisiologia do corpo humano. (YAMAMURA, 2001).

Nessa concepção reforça-se a importância da visão do ser humano como um

todo integrado em função de influências e determinações, que vai nortear o processo

diagnóstico em relação às manifestações da “doença”, entendida na MTC como

desarmonias.

A teoria de Yang-Yin e dos Cinco Elementos representam os fundamentos

básicos na formulação de um diagnóstico e consequentemente no tratamento.

”os princípios do Yin Yang estão presentes em todos os aspectos da teroria chinesa. São utilizados para explicar a estrutura orgâ- nica do corpo humano,suas funções fisiológicas, as leis referen- tes à causa e à evolução das doenças, e para servir de guia no diagnóstico e no tratamento clínico”. (AUTEROUCHE & NAVA- ILH, 1992, p.17).

A teoria Yang-Yin estabelece conceitos filosóficos bastante complexo, que

representam o processo de mudança e transformação de todas as coisas do Universo,

na relação de um com o outro, como opostos e como complementares dentro de um

ciclo.

Embora nada seja puramente Yin ou puramente Yang, podemos dizer que o Yin

corresponderia ao estado mais material e denso das substâncias, ao passo que o Yang

seria, em sua forma mais pura e rarefeita, energia, absolutamente imaterial.

(MACCIOCIA, 2007, p.6).

Os órgãos mais densos correspondem a estruturas de natureza Yin em relação

às vísceras, que vazias, correspondem a estruturas Yang, sendo que todo o organismo

e seus tecidos são constituídos pelas Substâncias Vitais, que efetuam o inter-

relacionamento energético, defensivo e nutritivo dentro do organismo.

Na teoria dos Cinco Elementos os chineses relacionam os fenômenos da

natureza com aspectos de desenvolvimento e mudanças de todas as coisas e de todos

os fenômenos, inclusive em relação ao corpo humano.

O ser humano é constituído por uma entidade energética, não suscetível de ser

dividido em seus aspectos físicos e psíquicos; o psiquismo não pode em momento

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algum ser dissociado do físico, sendo portanto, as desarmonias ou desequilíbrios , a

quebra dessa energia.

Segundo Macciocia (2007, p.407), o tratamento em Medicina Tradicional Chinesa

se inicia na elaboração de um diagnóstico adequado, a partir do qual será traçado uma

estratégia clínica:

Através dos séculos, a história médica chinesa tem (...)fornecido um sistema de princípios coerentes de tratamento. Na prática, esses princípios fornecem um quadro lógico de acordo com o qual o médico pode avaliar os objetivos do tratamento do pacien- te. Um princípio de tratamento deve ser estabelecido antes do início do mesmo. Isso é obtido através de uma análise rigorosa das manifestações clínicas, de uma síntese da condição do pa- ciente e das necessidades terapêuticas daquele determinado momento. Os princípios de tratamento seguem logicamente o estabelecimento de desarmonia de um padrão relevante.(MACCI- OCIA, 2007,p.407).

Esses padrões a que se refere Macciocia remetem às condições energéticas e

dizem respeito aos conceitos Yang-Yin.

A identificação correta dos Padrões de Desarmonia indica o diagnóstico em si e

o tratamento a ser seguido; portanto não se vê a doença de uma forma isolada através

dos sintomas, mas sim numa relação dinâmica do organismo, através de influências,

tanto externa, quanto internas. Dessa forma o “diagnóstico” em MTC precisa ser

continuamente refeito, sendo para isso utilizado vários métodos de investigação.

São métodos de investigação de padrões na MTC:

Sistemas Internos (Zang-Fu)

Esse método envolve a compreensão acerca das funções de cada um dos

órgãos e vísceras, na dinâmica de produção e circulação das Substâncias Vitais do

organismo. Os Zang-Fu constituem a essência da Medicina Tradicional Chinesa,

situando-se no centro da estrutura organizacional do corpo. A função dos Zang-Fu é a

de receber o ar, os alimentos e as bebidas do ambiente externo e transformá-los em

Substâncias. Além disso, os Zang-Fu são também responsáveis por manter uma

interação harmoniosa entre o corpo e o ambiente externo. (ROSS, 1994, p.62).

Substâncias Vitais

São os padrões relacionados à circulação das Substâncias Vitais do corpo, que

são classificadas com Qi (Energia), Xue (Sangue), Jing (Essência), Jin Ye (Fluidos

Corpóreos) e Shen (Mente). Nesse método é importante avaliar se cada uma das

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substâncias apresenta-se em quantidade adequada, se circulam normalmente ou foram

acometidas por algum fator patogênico. (MACCIOCIA, 2007, p.248).

Fatores Patogênicos

Este método está baseado nas alterações que acometem o organismo atingido

por fatores patogênicos que podem ser o Vento, a Umidade, o Frio, o Calor, a Secura e

a Fleuma. Os fatores patogênicos podem ter origem tanto interna quanto externa ao

organismo, resultantes, por exemplo, de mudanças climáticas. (MACCIOCIA, 2007,

p.228).

Oito Princípios

De acordo com os Oito Princípios os padrões podem ser relacionados às

categorias “Interior-Exterior”, “Frio-Calor”, “Cheio-Vazio”, “Yang-Yin”. Essas categorias

vão revelar a condição de equilíbrio ou desequilíbrio presente no organismo como um

todo, bem como em cada um dos sistemas de órgãos (Zang) e vísceras (Fu), e também

nos Vasos e Meridianos. Qualquer que seja a complexidade da evolução ou das

manifestações de uma doença pode-se classificar seus sintomas segundo os Oito

Princípios. (AUTEROUCHE & NAVAILH, 2010, p.243).

Meridianos

Este é o mais antigo sistema de identificação de padrões da Medicina Chinesa.

Ele considera que o Qi, o Xue e o Jing circulam externamente e internamente no

organismo por meio de vias energéticas. Essas vias apresentam articulações ou pontos

de concentração, onde é possível acessar as substâncias que circulam pelo Meridiano

e também os sistemas internos aos quais estão acoplados. (MACCIOCIA, 2007, p.231).

Cinco Elementos

O homem de acordo com a Medicina Oriental está em ligação permanente com o

meio exterior no qual vive, recebendo dele o Qi (Energia) e as informações para

assegurar a realização de suas funções vitais. A teoria dos Cinco Elementos constitui

uma das bases da teoria da MTC, e envolve compreensão dos elementos básicos

presentes na Natureza, como eles se inter-relacionam e se manifestam no homem. São

eles: a Água, a Madeira, o Fogo, a Terra e o Metal. Cada um destes Elementos está

relacionado a Sistemas Internos específicos e apresentam características típicas. A

Identificação dos Padrões de acordo com os Cinco Elementos é baseada nas

mudanças patológicas que ocorrem nas disfunções das sequências da Geração,

Excesso e Lesão dos Cinco Elementos. A teoria dos Cinco Elementos apresenta

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interesse capital nos processos diagnósticos e aplicações terapêuticas. (NGUYEN,

2011, p.11).

Seis Estágios

Este método descreve o padrão de alterações patológicas decorrentes de um

ataque de Frio exterior. Este ataque acomete os meridianos, sucessivamente, desde a

superfície do corpo (pele e músculo), passando pelo nível intermediário (tórax),

chegando ao sistema digestório (níveis Yang Ming e Tai Yin), ao circulatório e por fim,

provocando alterações de consciência. Este método é utilizado não somente para o

diagnóstico e tratamento das patologias do Frio exterior, mas também para as

condições de Calor interno. (MACCIOCIA, 2007, p.228).

Triplo Aquecedor

Os Três Aquecedores regem a chamada “Via das Águas” no organismo, de modo

que por meio deles é possível descrever o movimento de descendência das camadas

superiores em direção às inferiores. Em geral a repartição do Qi (Energia), do Xue

(Sangue) e do Jin Ye (Líquido Orgânico), dependem dos efeitos energéticos do Triplo

Aquecedor, assim como a digestão e a excreção dos produtos líquidos. As funções do

Triplo Aquecedor englobam o conjunto dos Sistemas Energéticos do corpo e são

divididos em três regiões distintas: Superior, Média e Inferior. (NGUYEN, 2011, p. 157).

Quatro Camadas

Trata-se das patologias associadas à invasão de Vento-Calor exterior e divide-se

em Quatro níveis: a camada Wei, mais superficial (acomete pele e Pulmão); a camada

Qi, que rege o interior e promove alterações no peito ( Pulmão, Estomago, Intestino e

Vesícula Biliar); a camada Ying, ligada a problemas de Yin do Coração e do Pericárdio;

e a camada Xue, resultante de uma penetração no Fígado e no Rim, que enfraquece e

agita o Xue. (MACCIOCIA, 2007, p.229).

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4 O TRANSTORNO MENTAL NA MEDICINA TRADICIONAL

CHINESA

A integração entre corpo e mente é uma das características mais importantes na

Medicina Tradicional Chinesa. (MTC).

Assim, entende-se que a doença não é um fenômeno alienado do corpo, de

modo que, “a Acupuntura compreende a interação entre mente e corpo como um circulo

de interação entre os sintomas internos e os aspectos emocionais, passível de ser

concretizado através da essência, do Qi e da mente”. (VECTORE, 2005,p.268).

O corpo e a mente são vistos como instâncias opostas, mas como partes

complementares, sendo portanto a saúde mental do individuo profundamente integrada

ao equilíbrio do organismo como um todo. A doença mental e/ou emocional pode afetar

o corp o da mesma forma que aspectos provenientes de causas não emocionais podem

afetar a mente.

Com relação aos fatores emocionais, a MTC estabelece uma inter-relação muito

importante entre as emoções e os padrões de desarmonias dos Zang-Fu, sendo a

teoria dos sistemas e emoções, um aspecto muito relevante na MTC, sendo que o

conceito de psique está ligado à atividade de vários órgãos.

Os Zang-Fu referem-se aos sistemas de órgãos e as funções que estes órgãos

exercem no corpo e na mente. (ROSS, 1994, p.60).

Conforme descreve MACCIOCIA (2007, p.124), a mente de um recém nascido

vem das essências Yin-Yang pré-natais de seus pais, sendo armazenada nos Rins

após o nascimento, proporcionando a base biológica da mente. A vida e a mente de um

recém nascido, também dependem da nutrição proveniente da essência pós-natal, que

é produzida pelos Pulmões, Estômago e Baço-Pâncreas.

A MTC entende que as doenças mentais tem em sua base uma desarmonia entre

as energias dos diversos órgãos do organismo, com destaque para as energias do

Coração e do Rim. (AUTEROUCHE & NAVAILH, 2010, p.102).

Enquanto o Shen pré-natal é derivado dos pais e o Shen pós-natal é constituído

pela integração de Jing e Qi; o Sangue do Coração e Yin do Coração fornecem a

moradia para o Shen (Mente), portanto na concepção da MTC, a consciência não

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reside no cérebro e sim no Coração. “O Shen vitaliza o corpo e a consciência fornece a

força da personalidade”. (ROSS, 1994, p.16).

Shen (Mente) = Coração

Qi (Energia) = Pulmão, Estômago, Baço-Pâncreas

Jing (Essência) = Rim

No entanto, a saúde mental do individuo está profundamente integrada à

condição geral do organismo, tanto em seus aspectos físicos quanto emocionais.

Como um todo complexo, o Shen (mente) está relacionado não apenas ao

Coração, onde reside, mas conecta-se a todos os outros sistemas (orgãos) internos,

principalmente aos sistemas Yin, que são, além do Coração, o Fígado, o Rim, o Pulmão

e o Baço-Pâncreas.

Cada um desses sistemas abriga um aspecto em especial do Shen, e expressa

uma emoção em particular.

Fígado = Raiva

Pulmão = Tristeza

Rim = Medo

Baço = Pensamento

Coração = Alegria

Na MTC o Shen é considerado o “espírito” do Coração, e também influencia os

aspectos espirituais de outros órgãos.

Apesar do Coração ter um papel fundamental nas atividades mentais, todos os

outros órgãos desempenham funções.

Cada órgão Yin “abriga” um aspecto mental e espiritual do ser humano:

Fígado - alma etérea (Hun)

Pulmão - alma corpórea (Po)

Rim - força de vontade (Zhi)

Baço-Pâncreas - inteligência (Yi)

Coração - mente (Shen)

A alma Etérea Hun (Fígado) corresponde basicamente ao conceito ocidental de

“alma”. Segundo a tradição chinesa, Hun penetra no individuo logo após a concepção,

sua natureza é etérea ou “imaterial”. É a origem da personalidade e das características

emocionais do individuo. Após a morte abandona o corpo.

23

Alma corpórea Po (Pulmão) é relacionada com a consciência corporal e com os

sentidos. Após a morte a alma corpórea dissolve-se com a decomposição do corpo.

Vontade Zhi (Rim) é a força motriz que impulsiona o individuo para vida, é

imaterial e forma-se na concepção e desaparece com a morte, mas é transferido para

os filhos através da Essência.

Inteligência Yi (Baço-Pâncreas) forma-se durante a vida, representa a criatividade

e inteligência, relaciona-se com o pensamento que é regulado pelo Baço.

Estes aspectos reunidos formam o “espírito” que é também o SHEN.

O termo Shen na MTC, numa concepção ampla significa o aspecto externo das

atividades vitais do corpo e em termos restritos significa o espírito, a consciência,

englobando a mente e o intelecto.

O Shen vitaliza o corpo e a consciência, e promove a força motriz da

personalidade. Quanto mais vigoroso e harmonioso for o Shen, maior será o brilho

espiritual, resultando em atividades mentais claras, calmas e pacificas e atividades

intelectuais consistentes e conduta adequada aos estímulos do meio ambiente.

O Coração (órgão/sistema) na MTC é tido como o mais importante dos órgãos e

vísceras (Zang-Fu) e é descrito como “monarca” dos sistemas internos. (MACCIOCIA,

2007, p.93).

Macciocia descreve a relação do estado emocional com o funcionamento do

Coração, da seguinte maneira:

Se o coração (Xin) é forte, a mente também o será e a pessoa será feliz. Se o coração (Xin) está debilitado, a Mente não terá vitalidade e a pessoa ficará triste e deprimida. Se o coração ( Xin) se encontra numa condição de excesso, a Mente é afeta- da e a pessoa pode apresentar sintomas de alterações emoci- onais, tais como a depressão maníaca.(MACIOCIA, 2007,p.95)

Assim todos os desequilíbrios que acometem o Coração e também o Xue,

resultarão em alterações mentais.

É importante reafirmar no entanto, que os sistemas internos do organismo

relacionam-se permanentemente uns com os outros, numa dinâmica fisiológica e

energética, sendo portanto a “saúde” dependente do equilíbrio mantido entre os órgãos

e consequentemente entre os sistemas.

Na medida em que o Coração fornece abrigo para o “Shen” (Mente), a atividade

mental dependerá da boa saúde do órgão. Da mesma forma a saúde mental do

indivíduo está profundamente integrada à condição geral do organismo.

24

Dentro disso a importância de se avaliar como os distúrbios emocionais e no caso

especificamente o Transtorno Afetivo Bipolar é concebido na Medicina Chinesa,

buscando como base a fisiologia das Substâncias Fundamentais e o inter-

relacionamento entre os órgãos e vísceras (Zang-Fu), particularmente o Coração

enquanto definido na MTC como “abrigo da Mente”. (MACCIOCIA, 2007, p.94).

25

5 “MENTE” NA CONCEPÇÃO DA MTC

Os transtornos mentais e emocionais podem afetar o Qi, o Sangue ou o Yin, da

mesma forma que uma desarmonia desses aspectos, não derivados de causas

emocionais, poderá afetar a Mente. (TORRADO, 2009, p.170).

As principais desarmonias do Shen consistem em perturbações do Shen e

deficiência do Shen.

Havendo perturbações do Shen ocorrerá agitação, insônia, memória fraca,

ansiedade e pânico. Em condições mais severas, produzir-se-á distúrbios de conduta,

como comportamento confuso, irracional, mania ou histeria. Nos casos externos,

complicações como insanidade mental, delírio e perda da consciência.

A deficiência do Shen é caracterizada por manifestações de individuo de

desânimo, apatia e melancolia.

Essas desarmonias da mente estão classificadas na MTC como: Mente

enfraquecida, Mente Perturbada e Mente Obstruída.

5 1 MENTE PERTURBADA

A deficiência de Yin do Coração , do Fígado e do Rim; a deficiência de Sangue

do Coração e a presença de fatores patogênicos como Estagnação de Qi, Estase de

Sangue, Fogo no Coração e no Fígado, Mucosidade no Estômago e no Coração e

Calor vazio podem perturbar a Mente.

A Mente Shen domina o “espírito” dos outros órgãos, assim pode-se observar que

os sinais e sintomas estão relacionados com as desarmonias desses órgãos.

As manifestações clínicas comuns da Mente perturbada são: ansiedade,

inquietação, insônia e agitação. Na alma etérea (Fígado) perturbada ocorrem

pesadelos, irritabilidade, distração, depressão, incapacidade de planejar a vida. Na

alma corpórea (Pulmão), observa-se ansiedade, dispnéia, sensação de aperto no tórax,

preocupação intensa, erupções e pruridos na pele.

A Mente perturbada pode ser relacionada com o diagnóstico ocidental de

estresse e ansiedade. (TORRADO, 2009, p.182).

26

5 2 MENTE ENFRAQUECIDA

Mente Enfraquecida é diagnosticada por padrões gerais de Deficiências que

levam ao esgotamento severo de Qi e da Essência no organismo. A Deficiência de Qi,

Deficiência de Sangue ou Deficiência de Yin são condições que causam o

enfraquecimento da Mente.

A depressão é uma das características principais da Mente Enfraquecida,

juntamente com exaustão física, perda da força de vontade, memória fraca, insônia,

ansiedade moderada, falta de vontade de falar e pessimismo.

Esses sintomas podem ser relacionados com distimia ou transtorno depressivo

unipolar na medicina ocidental. (TORRADO, 2009, p.180)

5 3 MENTE OBSTRUÍDA

Na Mente obstruída encontram-se os padrões de Excesso obstruindo a Mente

com estagnação de Qi do Fígado, do Coração e do Pulmão; a Estase de Sangue no

Coração, no Fígado e no Triplo Aquecedor e a Mucosidade-Calor esgotando a Mente.

Entre as manifestações clínicas gerais destacam-se a confusão mental, memória fraca,

tontura, incapacidade de encontrar palavras corretas, raciocínio lento, falta de

concentração, sensação de entorpecimento e incapacidade de expressar palavras. A

obstrução da Mente prejudica a compreensão, a memória, a conceitualização e o

pensamento podendo levar ao diagnóstico de uma confusão mental moderada ou até

uma doença psicossomática ou a esquizofrenia.

Podemos relacionar as manifestações clínicas da Mente obstruída aos

transtornos bipolares na medicina ocidental.

Com base nesses aspectos de Shen, podemos analisar o mundo emocional do

individuo, porém não existe um consenso para assumir a equivalência de estados

emocionais, com o envolvimento de certos órgãos e sua correlacão no "fisiológico".

Pode-se dizer que em MTC não existe sintomas psicossomáticos, porque não há

divisão entre somático e psíquico, ambos encontram-se inter-relacionados.(Torrado,

2009. (TORRADO, 2009)

27

6 TRANSTORNO BIPOLAR NA MEDICINA TRADICIONAL

CHINESA

Na visão oriental o comportamento psíquico é resultante da atividade de seus

órgãos e vísceras, portanto, para tratar os acometimentos emocionais e mentais, é

preciso harmonizar e regularizar os desequilíbrios dos órgãos e vísceras.

Como foi visto, as doenças são definidas a partir de métodos de investigação e

diagnóstico, que vão definir os desequilíbrios que acometem os órgãos e vísceras. A

doença, ou transtorno, como é o caso do Transtorno Bipolar, aqui estudado, é definido

então como desarmonias e/ou síndromes.

Segundo Campiglia (2010, p.119), as doenças mentais são vistas como frutos

dos desequilíbrios ligados ao coração, como moradia do Shen ou consciência, ou ao

Fígado, que é responsável pelo livre fluxo do Qi e das emoções.

“Praticamente, todas a síndromes mais importantes que incluem insônia, ansiedade, mania, depressão, histeria e psicose, têm como base alterações do Shen, do coração e do fígado”. (CAM- PIGLIA, 2010, p.119).

Na Medicina Tradicional Chinesa (MTC), as doenças mentais associadas ao TAB

são chamadas síndromes Dian Kuang e caracterizam alterações psiquiátricas.

O tipo Dian é o pólo depressivo, com características predominantemente Yin. A

pessoa não gosta de falar, não expressa suas emoções facilmente e as guarda para si.

Sente tristeza e chora bastante, tem hábitos repetitivos, pensamentos persecutórios,

perde o apetite, prefere ficar no escuro.

As síndromes Dian podem ser do tipo plenitude/excesso ( quando ocorre uma

obstrução do Qi do Fígado e produção de muco que se acumula no interior), ou do tipo

deficiência/vazio ( quando ocorre uma deficiência do Coração e do Baço).

Já no tipo Kuang, pólo maníaco, há excesso de atividade motora e/ou mental,

com sinais e sintomas tipicamente Yang.

Iniciam-se subitamente, ocorrendo agitação, verborréia, e preferência por

ambientes claros. A pessoa gosta de sair, ri facilmente, tem sensações persecutórias,

mas não se sente acuada (como na síndrome Dian), e sim, parte para o ataque,

podendo até mesmo ferir ou matar alguém.

28

As síndromes Kuang podem ser do tipo plenitude/excesso (quando a

mucosidade-fogo sobe e obstrui a Mente), ou do tipo deficiência/vazio (quando o fogo

consome o Yin).

O TAB, por possuir características de depressão e mania, também pode ser

enquadrado dentro dos distúrbios que envolvem mucosidade-frio e mucosidade-calor

obstruindo os orifícios do Coração. Estes distúrbios possuem como fator etiológico o

“dano emocional”.

No distúrbio depressivo, há estagnação de mucosidade e Qi, já no distúrbio

maníaco há estagnação de mucosidade com fogo.

Há inter-transformação e relação simultâneas entre ambos, pois a estagnação e

mucosidade em um caso depressivo prolongado podem gerar fogo, tornando-se um

quadro maníaco e, neste, pode haver dispersão do fogo estagnado com permanência

da mucosidade, ocasionando o primeiro distúrbio.

De acordo com a Medicina Tradicional Chinesa, o tratamento visa, além de

controlar os sinais e sintomas, estabilizar a causa do distúrbio, atuando na origem da

disfunção dos elementos. Ou seja, ao mesmo tempo em que se acalma a mente e se

harmoniza o fluxo das emoções, dissolve-se a mucosidade, e se restabelece o livre

fluxo de Qi nos meridianos envolvidos.

Desta forma, a Acupuntura torna-se um elemento importante no tratamento do

Transtorno Bipolar, uma vez que possibilita o equilíbrio geral do paciente, tratando não

somente do corpo ou da mente, mas sim da unidade funcional mente-corpo.

(CAMPIGLIA, 2010, p. 211).

29

7 TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR E ACUPUNTURA

Os primeiros resumos publicados da China e da antiga União Soviética

sugeriram que a Acupuntura pode ter beneficio no tratamento de Transtornos de Humor

(HAN, 1986; POLYAKOV, 1988; HU, 1996; MISCHOULON e FAVA, 2002).

Em pesquisa realizada no Departamento de Psiquiatria da Universidade do

Texas (DENNEHY, SCHNYER, BERNSTEIN, GONZALEZ, SHIVAKUMAR, KELLY,

SNOW, SUREDDI, SUPPES, 2009), foram avaliados dados preliminares sobre a

segurança, eficácia e aceitabilidade da Acupuntura adjuvante no tratamento agudo de

hipomania e depressão associada ao Transtorno Bipolar.

No método foram utilizados dois ensaios clínicos para avaliar os benefícios da

Acupuntura nos sintomas de depressão e hipomania em pacientes com Transtorno

Bipolar de acordo com a classificação - DSM-IV.

Para 20 pacientes com sintomas de hipomania, voltados para Acupuntura

(pontos específicos para os sintomas) foi comparado com pontos de Acupuntura fora do

meridiano, ao longo de 12 semanas.

Para os pacientes com sintomas de depressão, a Acupuntura foi alvo de

comparação com Acupuntura para preocupações com a saúde não psiquiátricas por

mais de 8 semanas.

As medicações psicotrópicas foram mantidas em doses estáveis durante a

participação no estudo.

Todos os participantes nestes estudos eram voluntários da comunidade, ou

pacientes recrutados já atendidos no programa de investigação “The Bipolar Disorders”.

Cada ensaio foi aprovado com consentimento informado por escrito, depois de

receber descrição completa verbal e por escrito do estudo pertinente. Os critérios de

inclusão foram relativamnete amplos, incluindo pacientes com o aspecto completo de

diagnósticos Bipolar, dada a falta de dados preliminares para orientar a seleção mais

precisa.

Estudo I: Acupuntura adjuvante para Elevação do Humor no Transtorno Bipolar. Este estudo foi de 12 semanas avaliando a segurança, aceitabilidade e eficácia

da Acupuntura adjuvante para 20 pacientes ambulatoriais com Transtorno Bipolar I, II,

ou pacientes experimentando sintomas de aumento da instabilidade do humor,

30

hipomania ou mania, como evidenciado por uma escala de Mania de Young (YMRS)

pontuação superior a 12.

Critérios de exclusão foram limitados àqueles pacientes com doença médica

instável.

Pacientes, médicos e assessores independentes foram cegados para o trabalho

de grupo; no entanto, os acupunturistas foram informados, a fim de planejar e executar

o tratamento em conformidade com o estudo.

Um grupo recebeu Acupuntura direcionada para pontos associados com

elevações de humor (ACU-ME) e outro recebeu tratamento em pontos fora dos

meridianos de Acupuntura (ACU-OM), sendo as agulhas inseridas, mas em pontos fora

de todo o meridiano . Este último grupo recebeu Acupuntura regular nas primeiras seis

semanas, e depois Acupuntura de forma espaçada por mais seis semanas.

O grupo de Acupuntura com pontos para elevação do humor recebeu tratamento

regular por até 12 semanas.

A Acupuntura foi administrado duas vezes por semana durante as primeiras 3

semanas de estudo.

Após as três primeiras semanas de participação no estudo, a freqüência a

Acupuntura caiu para de uma vez por semana, quando observado uma diminuição na

severidade dos sintomas.

Estudo II: Acupuntura adjuvante para a Depressão no Transtorno Bipolar

Este estudo avaliou os benefícios da Acupuntura para 30 pacientes com

Transtorno Bipolar I ou II com depressão moderada como medido por um inventário de

Sintomatologia Depressiva - Clínico Classificado (IDS-C) pontuação maior ou igual a 25.

Critérios de exclusão foram os episódios mistos atual, doença médica instável, ou

ativo abuso/dependência de substâncias.

Para entrada no estudo foi necessário um regime de medicação estável por

período mínimo de 30 dias. Os pacientes foram aleatoriamente designados para a

Acupuntura para a depressão (ACU-D) ou um tratamento de Acupuntura não

relacionada a sintomas psiquiatricos. (ACU-NP); ou seja, Acupuntura não envolvendo

pontos esfecificos para os sintomas psiquiátricos , mas direcionados pontos do corpo

relevantes para outros padrões, tais como alergias ou dores de cabeça.

Tal como aconteceu com Estudo I, pacientes, assistentes de pesquisa, e os

médicos que administram escalas de avaliação de rotina foram cegados para o estudo,

31

mas os acupunturistas estavam cientes quanto ao tratamento adequado podendo ser

projetado para pacientes individuais.

Este estudo incluiu 12 sessões de Acupuntura administrados ao longo de um

período de oito semanas. Aos pacientes que receberam ACU-NP foi oferecida a opção

de sessões gratuitas de Acupuntura para depressão depois de terem concluído o

julgamento de oito semanas e quando então, foram informados.

Em ambos os estudos, o diagnóstico bipolar foi confirmado por entrevista SCID

administrado por pessoal treinado para pesquisa. O tratamento com Acupuntura foi

adicionado ao estáveis tratamentos medicamentosos existentes.

No estudo I, em baixas doses, foi utilizado o uso a curto prazo de “lorazepan”,

medicação disponível para a crises de agitação aguda comumente associado com

hipomania e mania. No Estudo II foi necessário que os medicamentos permanecem

estáveis por um período mínimo de 30 dias antes da comparação com a Acupuntura.

Cada estudo de mecanismos específicos, foi considerado para a rescisão de

participação no estudo, no caso de um aumento nos sintomas, seja depressivo ou

hipomania. Os sintomas, efeitos colaterais, e satisfação com o tratamento foram

avaliados semanalmente por um avaliador independente cego, normalmente um

funcionário treinado por mestre em tempo integral na clínica de pesquisa acadêmica.

Os participantes também tiveram visitas regulares com psiquiatras do estudo ou

uma enfermeira psiquiátrica para monitorar a segurança dos tratamentos de Acupuntura

e para avaliar sintomas psiquiátricos e potenciais efeitos adversos.

Procedimentos de Acupuntura

Em ambos os estudos, os pacientes receberam tratamentos de Acupuntura nos

consultórios de acupunturistas independentes, autorizados pelo estado e treinados em

procedimentos do estudo.

No estudo I, os acupunturistas consultaram um especialista para identificar

pontos associados com a elevação do humor, agitação, excesso de energia e outros

recursos de hipomania ou mania. Aqueles que receberam a Acupuntura fora do

meridiano experimentou o mesmo número e duração dos estágios de agulhas, mas

para pontos padronizados que não estão em qualquer meridiano.

Pacientes completaram avaliação que permitiu que o acupunturista desenvolvese

um plano individualizado de tratamento, que incluía sete pontos de Acupuntura mais 3

pontos da orelha.

32

Dentre os pontos utilizados estavam : VC 4, VC 17, E 36, BP 6, C 7, CS 6,

Yintang, VG 20, F 3, F 2, F 14, CS 8, F 8 e R 3. Os pontos na orelha foram: Rim , Shen

Men e Simpático.

Indivíduos na condição ACUP-NP (Acupuntura não envolvendo pontos

especificos para sintomas psiquiátricos) experimentaram avaliação semelhante e

seleção de ponto, exceto o acupunturista identificando um outro padrão válido de

sintoma, como alergias ou dores de cabeça, e pontos de agulha selecionada

relacionados a esse distúrbio, ao invés da depressão ou elevação do humor.

Por causa da necessidade de fazer escolhas apropriadas para cada indivíduo, os

acupunturistas não estavam cegos para condicionar em nenhum dos estudos.

Durante todo o tratamento de Acupuntura, agulhas permaneceram colocado por

20 minutos.

Avaliação dos sintomas.

Pacientes completaram as avaliações de rotina de sintomas e efeitos colaterais

em uma base semanal. Estes incluíram o inventário de Sintomatologia Depressiva-

Clínico Classificado (IDS-C), Impressão Clínica Global (CGI-BP); (incluindo

classificações para a depressão, mania e sintomas gerais), e Escala de Avaliação de

Mania (YMRS), Avaliação Global do Funcionamento (GAF), e um questionário de

efeitos secundários.

Um instrumento de auto-avaliação dos pacientes, relatório de crenças sobre a

eficácia do tratamento de Acupuntura (Escala Acupuntura Crenças), foi concluída no

início do estudo no Estudo I, e na linha de base, de 4 a 8 semanas depois do Estudo II.

Análise estatística

Os grupos de Acupuntura específicos e comparação em ambos os estudos foram

comparados às características basais (sexo, idade, raça, diagnóstico bipolar, a idade de

início dos sintomas bipolares, número de episódios depressivos e maníacos /

hipomaníacos no ano anterior) usando um teste Sample para medidas contínuas (por

exemplo, idade) e de Fisher Exato de medidas categóricas (por exemplo, gênero).

Resultados

Estudo I: Acupuntura adjuvante para Elevação do Humor no Transtorno

Bipolar.

Vinte pacientes foram tratados com Acupuntura direcionada para a elevação do

humor ou nos meridianos de Acupuntura. Este grupo mostrou níveis moderados de

33

hipomania, com escores médios YMRS (Escala de Avaliação de Mania) de 20,9 +/- 5.8

para o grupo de Acupuntura com pontos associados com a elevação do humor (ACU-

ME); e 19,2 +/- 7.3 para o grupo de pontos fora dos Meridianos de Acupuntura (ACU-

OM).

Dos 20 pacientes, dez (50%) completaram o estudo de 12 semanas. De cada

grupo, 5 pacientes interromperam o estudo antes da finalização.

No grupo ACU-ME, três pacientes abandonaram o protocolo e dois tiveram piora

do humor em depressão. No grupo ACU-OM, dois pacientes tiveram piora de humor

(um agravamento em hipomania, uma em depressão), dois pacientes foram perdidos

para follow up, e um paciente era incompatível com o protocolo.

Os desfechos primários e secundários sobre as primeiras cinco semanas de

tratamentos eram essencialmente equivalentes entre os grupos.

Cada grupo experimentou um declínio nos sintomas maníacos e melhoria no

funcionamento, e não havia nenhuma evidência de quaisquer diferenças entre os

grupos ao longo do tempo

Em ambos os grupos, a maioria dos pacientes receberam doses estáveis de

medicamentos psiquiátricos. Os medicamentos mais comuns foram recebidos através

de valproato (n = 8) e de lítio (n = 6).

Os efeitos secundários que foram classificados, provável ou definitivamente

relacionadas com o tratamento foram relatados por 56% dos pacientes no grupo de

ACU-ME e em 60% dos pacientes no grupo ACU-OM.

Os efeitos colaterais relatados por dois pacientes no grupo ACU-ME foram

aumento do apetite, cansaço, aumento do interesse sexual, aumento de peso, e

zumbido nos ouvidos. Os efeitos colaterais reportados por 3 pacientes no grupo da

ACU-OM, foram aumento do apetite e aumento da sede, e relatada por 2 pacientes do

grupo de ACU-OM foram boca seca, prurido, aumento da frequência urinária, aumento

do interesse sexual, e a sonolência / sedação. Apenas três pacientes se queixaram de

efeitos colaterais relacionados diretamente à experiência Acupuntura. Estes incluíram

dor, hematomas e sangramento no local da inserção da agulha. O número médio de

efeitos colaterais relatados pelo grupo ACU-ME foi de 3,3 e para o grupo ACU-OM foi

de 2,2 (p = 0,44).

Estudo II: Acupuntura adjuvante para a depressão no Transtorno Bipolar.

Dos trinta pacientes que assinaram o termo de consentimento informado e

34

medidas iniciais concluídas, 26 pacientes foram direcionados para um de Acupuntura

específica para depressão (n = 13) (ACU-D) ou Acupuntura não específica para a

condição não-psiquiátrico (n = 13) grupo (ACU-NP).

Os participantes deste estudo demonstraram níveis moderados a graves de

depressão, com escores médios IDS-C na comparação de 32,2 +/- 9,8 para ACU-D e

33,0 +/- 7,9 para ACU-NP. Os dois grupos foram semelhantes demograficamente,

exceto que havia mais mulheres no ACU-D (sexo masculino N = 1) do que no grupo de

controle (ACU-NP; homens N = 7).

Dos 26 pacientes comparados, 19 (73%) completaram 8 semanas da fase de

tratamento ativo do estudo. Entre os que se retiraram antes da conclusão do

julgamento, quatro foram retirados devido a piora dos sintomas (dois de cada grupo),

dois foram perdidos para follow-up (1 de cada grupo); e um paciente fo retirados por

motivo "desconhecido" (do grupo ACUP-D).

Ambos os grupos mostraram uma melhoria ao longo do tempo no IDS-C, na GAF,

no CGI-depressão, e CGI-total (p <0,001). Escores médios de IDS-C basais foram 32,2

+/- 9,8 para o grupo ACU-D e 33,0 +/- 7,9 para o grupo ACU-NP. Nenhum dos dois

grupos apresentaram melhora mais relevante no YMRS ou escalas CGI-mania (p>

0,05).

Cinco pacientes do grupo de ACU-D e 9 pacientes no grupo ACU-NP relataram

efeitos colaterais que foram avaliadas como possível, provável ou definitivamente

relacionadas com o tratamento. Os efeitos colaterais experimentados por pelo menos

duas pacientes no grupo ACUP-D foram dor de cabeça, aumento da sudorese,

aumento do apetite, aumento da sede, ataxia, fadiga, constipação, diarréia, náuseas,

dor de estômago, tonturas / vertigens, visão turva, diminuição do interesse sexual,

insônia, sono excessivo, aumento de peso, zumbido nos ouvidos, e prejudicada

memória. Os efeitos colaterais experimentados por pelo menos duas pacientes no

grupo ACU-NP foram boca seca, aumento da sede, cansaço, diarreia, sensação

maçante, aumento do apetite, alteração no paladar, rigidez, dor de cabeça, náusea,

aumento do interesse sexual, sonolência / sedação e diminuição cognitiva. Dois

pacientes relataram efeitos adversos associados diretamente com a experiência de

acupuntura (dor no dedo e dor / hemorragia no local da inserção da agulha). Os

doentes no grupo da ACU-D experimentou uma média de 1,2 efeitos secundários

únicos cada um; pacientes no grupo NP-ACU obtiveram uma média de 1,1 efeitos

35

secundários únicos ao longo do período de duração do estudo (p = 0,83).

Este ensaio fornece conclusões de dois estudos piloto controlados e

comparados, que avaliam a eficácia da Acupuntura adjuvante para os sintomas de

humor associados com Transtorno Bipolar.

Eles representam os primeiros ensaios clínicos comparativos de Acupuntura para

o tratamento de qualquer elevação do humor ou depressão em pacientes com

Transtorno Bipolar.

Ambos os estudos fornecem suporte parcial para a aceitação da cupuntura como

tratamento adjuvante para pacientes com Transtornos Bipolares.

Os pesquisadores citam no entanto, a dificuldade para o recrutamento de

pacientes, levando à tempos mais longos e persistente de inscrição, apesar de anúncio

em jornais holísticos e mercearias especializadas em produtos orgânicos.

Isto pode ser relacionado, segundo os autores, em parte, devido a cronicidade e

gravidade do Transtorno Bipolar e os esforços de educação do paciente, que têm

enfatizado a necessidade de gestão farmacológico/médico dos sintomas desta doença.

Além disso, salientam a existência de muitos preconceitos sobre Acupuntura,

incluindo a idéia de que os procedimentos de inserção de agulha são dolorosos e

assustadores, o que pode ter reduzido o interesse.

Os autores colocam ainda a possibilidade dos pacientes que eventualmente se

voluntariaram, serem um pouco diferentes do que a média dos pacientes com

Transtorno Bipolar, em sua abertura e disposição para tentar abordagens alternativas

para tratar os sintomas bipolares.

Uma vez inscrito, no entanto, não houve diferença no tempo de tratamento

através de condições, sugerindo que a aceitação da Acupuntura específica e as

condições de controle foi semelhante para os participantes que estavam dispostos a

tentar a intervenção.

Pacientes também relataram considerações positivas e, em muitos casos, os

relatos entusiasmados de suas experiências de Acupuntura, independentemente da

participação do grupo.

Havia muito poucos efeitos adversos associados diretamente com a Acupuntura, e

nenhuma nota fora associada a efeitos adversos em nenhum dos julgamentos.

36

Além disso, todos os pacientes do estudo tinham interação regular e atenção dos

coordenadores da pesquisa, psiquiatras e acupunturistas, e este aumento de atenção

pode ter sido benéfica.

No geral, esses dois estudos-piloto sugerem que, para os pacientes que estão

interessados e abertos a experimentar Acupuntura adjuvante, o tratamento pode ser

benéfico.(DENNEHY et al, 2009).

Em outro estudo realizado na Colômbia foi avaliado o uso de alternativas e

práticas complementares, entre elas a Acupuntura, em pacientes com Transtorno

Afetivo Bipolar. (SUARE et al, 2010).

Nesse estudo foi utilizada uma amostra de pacientes adultos com diagnóstico de

TAB, que realizavam tratamento psiquiátrico nas instituições participantes do estudo.

Além da Acupuntura foram utilizadas outras práticas associadas ao tratamento

medicamentoso, tais como medicina homeopática, bioenergética, essências florais e

yoga. No estudo foi citada a dificuldade em formular um diagnóstico adequado e um

tratamento oportuno; e a insatisfação dos pacientes quanto ao tempo com os serviços

oferecidos, uma vez que a pesquisa foi realizada pelo sistema de atenção básica de

saúde.

No resultado obteve-se informação sobre 66 mulheres e 34 homens, com idade

média de 45,4 anos. Em 29,3% dos pacientes houve melhora dos sintomas

relacionados ao TAB.

Apesar de não ser definido nesse estudo uma conclusão objetiva sobre a

eficácia da Acupuntura no tratamento do TAB, é considerado a preocupação e busca de

alternativas, incluindo a Acupuntura, como coadjuvante no tratamento.

O estudo sugere mais pesquisas visando descobrir a expectativa e necessidades

dos pacientes, buscando a possibilidade de integração de recursos disponíveis para o

tratamento do TAB.

No artigo publicado por Andreescu (2008), aponta-se os poucos estudos que

envolvem pacientes com Transtorno Bipolar e Acupuntura, sendo a maioria dos ensaios

clínicos realizados em pacientes com diagnóstico de depressão maior.

O autor faz uma discussão de artigos onde foram publicados sete relatórios em

inglês sobre estudos da eficácia da acupuntura na depressão maior.

(ANDREESCU,2008).

37

A Acupuntura utilizada nos ensaios variou em termos de seleção de ponto , a

freqüência de tratamentos e número total de tratamentos

administrado. A maioria dos ensaios utilizaram um tratamento padronizado

por um protocolo com uma seleção de pontos fixos administrada em cada

sessão de Acupuntura.

A escolha dos pontos variaram e incluíram pontos de Acupuntura localizados

nos braços, pernas, abdômen e cabeça. Sete ensaios usado um protocolo de

tratamento semi-padronizado que consistiu de um conjunto pré-definido de pontos de

acupuntura (VC 17, CS 6, BP 6, R 3) usado em combinação com pontos selecionados

com base no diagnóstico e na identificação de um padrão sintomático. Para os

sintomas de elevação do humor acrescentou-se os pontos : C 3, C 8, VG 20. Para os

sintomas depressivos acrescentou-se os pontos: E 36, C 7, VC 4.

A maioria dos ensaios começou com tratamentos mais freqüentes

antes de reduzir a frequência de sessões semanais.

Em geral, estes ensaios incluíram 547 pacientes, mas o artigo aponta o uso de

uma variedade de modelos e intervenções de Acupuntura e significativas falhas

metodológicas. (SMITH e HAY, 2005)

Dados desses estudos apontam para um número crescente de pacientes que

vem buscando a experiência da medicina alternativa e complementar, frente aos efeitos

negativos e reações adversas aos tratamentos convencionais. (FLECK et al., 2005).

38

9 CONCLUSÃO

Observou-se nesta pesquisa dados a respeito da eficácia da Acupuntura

especificamente no tratamento do Transtorno Afetivo Bipolar.. Foi visto que na maioria

dos estudos a Acupuntura está associada às outras práticas alternativas de tratamento;

além disso, percebe-se a dificuldade em se estabelecer uma amostragem de pacientes

tratados exclusivamente com Acupuntura, podendo estabelecer um grupo de controle

para confrontação dos dados.

Dadas as limitações apresentatas nos estudos aqui relacionados, mais trabalhos

são necessários para determinar se a Acupuntura é útil no tratamento desse pólo da

doença bipolar.

No entanto, não há nenhuma evidência de que a Acupunctura adjuvante, na

presença de continuação farmacológica, é prejudicial para pacientes dom diagnóstico

de TAB.

Para os pacientes com depressão moderada, uma rotina regular de Acupuntura,

observado em alguns estudos foi útil na redução dos sintomas de leves a suaves,

sendo os efeitos secundários limitados; o que vem de encontro com um dos propósitos

deste estudo que seria ressaltar a importância da Acupuntura associada ao tratamento

medicamentoso, reduzindo os efeitos colaterais geralmente associados a prática

medicamentosa.

Como foi visto, na MTC o diagnóstico e tratamento estão articulados e inseridos

num mesmo processo, uma vez que o equilíbrio energético e fisiológico do organismo é

dinâmico, influenciado pelos padrões e pelos fatores internos e externos ao qual o

indivíduo está continuamente exposto; neste sentido o fato de se avaliar a eficácia do

tratamento com Acupuntura apenas pela melhora dos sintomas pré-estabelecidos, pode

ir contra toda a filosofia estudada aqui em relação a Medicina Chinesa.

Observa-se uma crescente procura por alternativas de tratamento nos sintomas

do Transtorno Afetivo Bipolar que possam contribuir para uma resposta mais eficaz e

com melhor aceitação pelo paciente.

Nesse sentido a Acupuntura desempenha um papel importante, aliada ao

tratamento medicamentoso e às outras práticas; uma vez que faz uma abordagem do

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indivíduo como um todo, e consegue abranger aspectos do paciente que talvez não

estejam presentes em determinados procedimentos de tratamento.

O tratamento em Acupuntura é realizado de acordo com as manifestações dos

pacientes, sendo em muitas vezes direcionado de acordo com as reações e

necessidades apresentadas, exigindo-se como foi visto, uma constante revisão dos

padrões de diagnósticos.

No tratamento com Acupuntura o paciente é individualizado de acordo com suas

necessidades, sendo auxiliado através de orientação quanto a alimentação saudável,

atividades corporais, exercícios físicos, psicoterapias e outras formas de terapias

complementares que possam resgatar a qualidade de vida e o seu equilíbrio energético,

perdido na instalação de um acometimento.

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