ACERVO TÊXTIL DÖHLER: MEMÓRIA TECIDA HÁ MAIS · PDF fileModa...
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Moda Documenta: Museu, Memria e Design 2015
ISSN: 2358-5269 Ano II - N 1 - Maio de 2015
ACERVO TXTIL DHLER: MEMRIA TECIDA H MAIS DE CEM ANOS
Textile collection Dhler: woven memory to more than one hundred years
Valdirene Gruber (UNIVILLE) [email protected]
Resumo: O artigo faz parte da pesquisa em andamento no Programa de Mestrado em Design, estuda a Dhler - indstria txtil catarinense com 134 anos, contextualizada na histria de Joinville, onde est instalada. A abordagem qualitativa, exploratria e participante na interao entre o pesquisador, acadmico de design/moda e a indstria. Pretende-se a instalao do acervo de memria txtil na instituio de ensino Univille. Palavras-chave: Txtil, Memria e Moda. Abstract: The article is part of ongoing research in the Master's Program in Design, studying Dhler - Santa Catarina textile industry with 134 years, contextualized in the history of Joinville, where it is installed. The qualitative approach, exploratory and participant in the interaction between the researcher, academic design / fashion and industry. It is intended immersing the textile memory acquis in Univille educational institution. Keys-words: Textile, memory and fashion.
Palavras iniciais
Na linha de pesquisa Produo do Design e Contexto Sociocultural do Programa de Mestrado
Profissional em Design da Universidade da Regio de Joinville1, a autora investiga o material ou
produto txtil, tecido para indstria do vesturio e decorao, representativo na economia e no
contexto sociocultural do polo txtil catarinense.
Estuda especificamente a Dhler, situada em Joinville-SC /Brasil, uma das sete maiores
empresas na indstria txtil nacional. O polo txtil catarinense se destaca com as indstrias, sendo
fator que contribui para a formao de profissionais na rea do design e moda, atuando em
diferentes setores nas empresas txteis e moda vesturio.
1 Mestrado em Design Univille: orientadora professora Dra. Adriane Shibata dos Santos.
mailto:[email protected]
Moda Documenta: Museu, Memria e Design 2015
ISSN: 2358-5269 Ano II - N 1 - Maio de 2015
Entretanto, as instituies de ensino so reconhecidas como produtoras do conhecimento
do saber e demandam de materiais para pesquisas, fontes bibliogrficas atualizadas, estudos
sobre a tecnologia e inovao aplicadas nas indstrias, para que os futuros profissionais possam
atuar com conhecimento prtico no mercado de trabalho.
A Universidade da Regio de Joinville do Estado de Santa Catarina, completa seus
cinquenta anos e o Curso de Design, quinze anos. Atualmente o curso apresenta cinco linhas de
formao: Moda, Grfico, Produto, Animao e Interiores. Na linha de formao em moda, uma
das disciplinas denominada Materiais e Processos Txteis, na qual se desenvolve uma atividade
com amostras txteis, intitulada glossrio de tecidos sob a orientao da autora.
Com o avano tecnolgico e a busca constante pela inovao nas indstrias txteis, muita
informao vai se perdendo com o passar do tempo. E a carncia bibliogrfica atualizada na rea,
prejudica o ensino aprendizagem, o conhecimento da tecnologia txtil e sua relao de uso nos
produtos.
Surge ento, a necessidade de um acervo txtil na instituio de ensino com bandeiras
txteis e registro de informaes tcnicas dos seus processos criativos e produtivos. A pesquisa
objetiva propor um espao fsico de memria txtil na instituio de ensino, com registro das
bandeiras txteis e suas receptivas informaes tcnicas, que possibilite a pesquisa de
acadmicos e comunidade em geral.
Para tanto, o estudo segue um mtodo interdisciplinar, integrando conhecimentos na rea
de Design, Moda e Museologia2. A pesquisa aplicada na prtica dos dados coletados com
abordagem qualitativa, exploratria e participante na interao entre o pesquisador, acadmico e
a indstria, segundo o autor GIL (2010).
A pesquisa baseia-se na sntese de leituras tericas dos principais autores: Andrade
(2006); Azzi (2010); Bourdier (1996); Calanca (2008); Cury (2012) e Cury (2014); Nora (1993);
Pezzolo (2007); Santanna (2007); SantAnna (2002); Udale (2011) e outros.
Neste artigo confrontam-se o material txtil no contexto da moda, memria e museologia,
categorias diferentes para organizao do acervo e um breve histrico do estudo de caso da
empresa Dhler.
Material txtil no contexto sociocultural
2 Mestrado em Patrimnio Cultural - Grupo de Estudos Museus e Representaes Univille: coordenadora professora
Dra. Sandra Paschoal Leite de Camargo Guedes.
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ISSN: 2358-5269 Ano II - N 1 - Maio de 2015
O produto ou material txtil, bem como sua ornamentao, uma das mais antigas manufaturas
do homem que entrelaava as folhas de palmeiras, curtia e costurava as peles de animais para
cobrir seu corpo. As atividades de produzir e manusear esto ligadas ao seu modo de viver que
se desenvolveu h milhes de anos. Com o tempo o Homem aprendeu a manusear a fibra e
transform-la em fios, tecidos e acabamento com o uso da industrializao e tecnologia (UDALE,
2011).
Na sociedade moderna, a moda como um fenmeno social, articula as relaes entre os
indivduos por meio da aparncia, busca referncias no passado para criar o presente e instaura
o novo (SANTANNA, 2007). Essa influncia do passado traz elementos de inspirao para os
tecidos, presentes nas padronagens, estampas, superfcies e bordados, com caractersticas
culturais da regio em que se produz.
Pezzolo (2007) tambm cita a moda como um fenmeno sociocultural que traduz a
expresso dos povos por meio das mudanas de estilo, ligada aos costumes, arte, economia,
e a moda tem o poder de comunicar os posicionamentos sociais. E Bourdier (1996) menciona a
moda como prtica cultural, o gosto esttico do indivduo e a propenso para uma ou outra
tendncia da moda, so resultados de origem e oportunidades sociais vivenciadas.
Na histria social da moda, Calanca (2008, p.1) compreende o termo moda como [...] o
fenmeno social da mudana dos costumes e dos hbitos, das escolhas e do gosto, coletivamente
validado e tornado quase obrigatrio. No incio da Idade Moderna, na sociedade europeia, o
dinamismo econmico e social do campo era regulado pela demanda dos ricos mercadores e
proprietrios de terras agrcolas (CALANCA, 2008). Pode-se dizer que essa oportunidade de
interao entre o indivduo do campo e da cidade, proporciona uma troca de conhecimentos
culturais e experincias, possibilita o comrcio agrcola, produtos ou artefatos artesanais e txteis.
Andrade (2006) defende que os artefatos apresentam uma vida social cultural e poltica,
mantm relaes dos objetos com as pessoas e devem ser preservados como fonte de informao
histrica. Afirma que, o museu no sentido de preservar, conservar, torna acessveis os acervos
txteis e de indumentria pesquisa e incentiva que a prtica do estudo seja inserida pelos
professores e alunos de moda.
SantAnna (2007) ressalva que no momento em que um vesturio-moda faz parte do
acervo em uma instituio cultural ele compreendido como um objeto txtil tridimensional, fonte
primria para o conhecimento histrico, artstico e cultural e ainda, possibilita analisar as tcnicas
empregadas para a sua concepo e construo.
Moda Documenta: Museu, Memria e Design 2015
ISSN: 2358-5269 Ano II - N 1 - Maio de 2015
No ponto de vista do vesturio-moda ser um objeto txtil, constitudo por tecido, o acervo
de amostras txteis nas instituies de ensino e museolgicas, auxilia os professores e
acadmicos de moda, como forma de comunicao.
Memria cultural e museologia
O vesturio ganhou seu espao na representao de uma memria cultural e social: As roupas
eram destacadas por meio de pranchas, antologias e desenhos que tinham como objetivo mostrar
as riquezas e a diversidade da criao humana (AZZI, 2010, p.13).
O txtil, assim como o vesturio, uma forma de comunicao da histria no contexto
sociocultural de uma sociedade, pode ser considerado como cultura material, carregado de
significados e valores, que passa a ser um contador de histria da moda e do desenvolvimento
industrial.
SantAnna (2008) comenta que o Museu Histrico Nacional fundado em 1922, abriga
vestes da famlia real entre outros vesturios culturais, porm, ressalva que no era o vesturio-
moda o acervo importante na sua formao. A partir da dcada de 90 o museu aplica tratamentos
especiais s colees Por ser um museu histrico as vestes sempre foram presentes em sua
coleo, j que a cultura material vestimentar compreendida como uma importante forma de
acesso aos conhecimentos histricos de um povo (SANTANNA, 2008).
As primeiras instituies museolgicas que demonstraram interesse pelo acervo de
colees do vesturio e tecidos, segundo Azzi (2010) foi na segunda metade do sculo XIX. Na
Inglaterra foi instalada uma das primeiras instituies que uniu arte e indstria denominada de
Victoria and Albert Museum. Em 1864 na Frana surgiu o Muse des Tissus et des Arts Dcoratifs
de Lyon instituio dedicada histria dos tecidos e produo txtil, vinculado Cmara de
Comrcio da Frana (AZZI, 2010).
A museloga Marlia Cury define museu como uma instituio de comunicao e a
museologia dialoga com a rea da comunicao, sai da rea de conforto e compartilha