A Ultima Geracao Revista Adventista

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  • 8/19/2019 A Ultima Geracao Revista Adventista

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    Revista Adventista // Novembro 201540

    AÚLTIMA

    DESCUBRA POR QUE DEUS NÃO DEPENDE DA

    PERFEIÇÃO DOS CRISTÃOS PARA VINDICARO PRÓPRIO CARÁTER NO JUÍZO

    ISAAC MALHEIROS 

    A “teologia da última geração”é uma influente interpretaçãoque envolve conceitos escato-lógicos e de santificação. Deacordo com M. L. Andreasen, um dos

    nomes mais importantes dessa corrente,a justificação do próprio Deus diante dasacusações de Satanás é o assunto de maiorrelevância no Universo, e isso acontecerápor meio da demonstração de fidelidadeda última geração.

    Segundo Andreasen, o grande conflito“decidir-se-á na vida do povo de Deus.Este em nós confia como confiou em Jó”

    (O Ritual do Santuário, p. 258). Em suma,após Jesus terminar sua obra de intercessão

    no santuário, a última geração de santosvai provar que é possível obedecer à lei deDeus, refutando as alegações contrárias

    de Satanás.Essa teoria baseia-se principalmente

    em textos de Ellen White e tem profundosdesdobramentos na teologia e na práticaadventista. Ela apresenta pontos positivos,como a exaltação da lei divina e o incen-tivo à santificação. No entanto, há algunspontos que apresentam dificuldades emerecem reflexão.

    GERAÇÃO

    LOGOS

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    (The Review and Herald , 23 de maiode 1899), removendo “cada uma dasalegações” e “cada argumento queSatanás pudesse levantar” sobre alei (Signs of the Times, 21 de maio de1912, p. 11). Quaisquer questões que

    permaneçam sem resposta após a cruzserão de natureza suplementar e nãoessencial para a vindicação de Deus.

    O sacrifício de Cristo é o grande ar-gumento divino, e não o comportamentoda última geração. É através do sanguederramado que Deus é considerado“justo e justificador” (Rm 3:25, 26).De acordo com Romanos 3:21-26, ajustiça de Deus já se manifestou e foidemonstrada em Cristo.

    DEMONSTRAÇÕES DE OUTRAS PESSOAS

    Ellen White também apresenta Eno-que como uma evidência já fornecidade que a lei pode ser obedecida. Elefoi escolhido para mostrar ao mundoque é possível guardar a lei de Deus edemonstrar ao Universo “a falsidadedas acusações de Satanás de que sereshumanos não podem guardar a lei deDeus” (Cristo Triunfante, p. 51). Segundoela, Enoque e Elias são representantes“nobres e santos”, “imaculados” e de“caráter perfeitamente justo” (No Deserto

    da Tentação, p. 31, 32).Além deles, em cada geração desdeAdão há aqueles poucos que têm resis-tido aos artifícios de Satanás e perma-necido como nobres representantes devida santa (ibid., p. 31). Com o acúmulodo número desses poucos de cadageração, Deus já possui um rol signifi-cativo de pessoas que demonstraram afalsidade da acusação de Satanás. Dessaforma, tanto o critério de “um homem”quanto o de “um ou mais seres” já fo-ram preenchidos, e a última geraçãofaria uma demonstração repetitiva.

    ÊNFASES DIFERENTESApesar de todas as demonstraçõesde fidelidade já fornecidas, HerbertDouglass escreveu que na última gera-ção, “pela primeira vez na história domundo, Deus será capaz de dizer semmedo de ser envergonhado: ‘Dê uma boa olhada nas pessoas que guardamminha lei’” (The Unique Contributionof Adventist Eschatology , p. 25).

    Essa utilização de superlativos paradescrever a última geração revela umaperspectiva distorcida. No livro O Ri-tual do Santuário, Andreasen afirmaque a última geração será a “maiordemonstração” de obediência (p. 251),

    a “manifestação suprema” (p. 255), a“demonstração mais vasta e conclu-dente de todas as épocas” (p. 244).Ele dedica inúmeros adjetivos paradescrever a última geração e apenasuma vez afirma que a demonstraçãode Cristo foi superior.

    Obscurecer os temas teológicos cen-trais e supervalorizar temas periféricosleva a distorções e ênfases não encon-tradas nos escritos inspirados originais.O pesquisador dos escritos de EllenWhite deve manter os temas na pers-pectiva correta.

    VÁRIAS ACUSAÇÕES DE SATANÁSSegundo a teoria aqui analisada, a úl-tima geração eliminará qualquer acusa-ção que Satanás tenha apresentadocontra Deus. O problema é que existemvárias acusações de Satanás que nãopodem ser respondidas apenas pelocomportamento impecável da últimageração. São acusações a respeito da leie do caráter de Deus que exigem uma

    resposta mais incisiva e irrefutável: avida e morte de Cristo (O Desejado deTodas as Nações, p. 22, 32, 539-541;O Grande Conflito, p. 618).

     Jesus é a resposta a todas as acusa-ções de Satanás. No juízo, a vida deCristo “será um argumento irrefutávelem favor da lei de Deus [...] vindicandoa justiça de Deus” (Nos Lugares Celes-tiais, p. 38). Assim, a alegação de quea última geração “eliminará qualqueracusação de Satanás” torna-se forte-mente questionável.

    INVERSÃO DE PAPÉISEm última instância, em vez deuma igreja aguardando a manifes-tação poderosa de Deus, a teologiada última geração apresenta Deusesperando pela impressionante mani-festação de huma nos perfeitos. Oresultado é a superênfase na últimageração como figura central da vin-dicação universal de Deus, em detri-mento de Cristo.

    Ao se apresentar Deus sendo “jul-gado”, é preciso muito cuidado para nãodescrevê-lo como alguém vitimizado,que tem a obrigação de prestar contasde seus atos. Quem poderia questio-nar Deus ou repreendê-lo? (Jó 40:2; Is

    45:9-11; Dn 4:35). Quem poderia anularo juízo do Senhor? (Jó 40:8). Seus juí-zos são insondáveis, e ele jamais pre-cisou de conselheiros (Rm 11:33, 34).Não há ninguém a quem Deus preciseprestar contas.

    Literal e juridicamente falando, nin-guém julga Deus; ele é quem julga todos.É claro o ensino bíblico a respeito dasoberania do Juiz (Jó 9:3, 4, 14, 15). Qual-quer explicação dada por Deus às suascriaturas será por sua misericórdia. Deusé “julgado” metaforicamente, nas men-tes das criaturas inteligentes. Ele não éarrastado a um tribunal para ouvir umasentença baseada em uma norma supe-rior à dele, mas voluntariamente permitea avaliação universal de seu governoe caráter. O gentil convite para “arrazoar-mos” com ele (Is 1:18) é fruto de sua bon-dade, não uma obrigação legal inevitável.

    No Apocalipse, as declarações dereconhecimento da justiça de Deusfeitas por remidos ou por anjos sãomotivadas pelas obras e pelo caráter

    do próprio Deus, e não da última gera-ção (Ap 15:3, 4; 16:5-7; 19:1, 2). Apóso milênio, é diante da recordação dosacrifício de Cristo e seus resultadosuniversais que o próprio “Satanás securva e confessa a justiça de sua sen-tença” (O Grande Conflito, p. 670, 671).

    Há uma clara relação entre a humi-lhação de Cristo e a vindicação divinaperante o Universo (Fp 2:5-11). Na his-tória da redenção, Jesus é o princípioe o fim (Ap 1:8; 21:6; 22:13). A cruztem que estar no centro e ser o fun-damento de qualquer ensino sobre ojuízo, e nela o cristão deve se gloriar(Gl 6:14). Ela silencia todas as acusa-ções contra Deus; nela a “benigni-dade e a fidelidade se encontraram; ajustiça e a paz se beijaram” (Sl 85:10).O Senhor vindicou a si mesmo. E, comodiz Apocalipse 1:6, “a ele a glória e odomínio, pelos séculos dos séculos”.

    ISAAC MALHEIROS , mestre em Teologia, é pastor

    no IACS, em Taquara (RS)

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    CRITÉRIOSUm dos problemas dessa teoria é defi-nir o critério para a demonstração defidelidade. Quantas demonstraçõessão necessárias? Uma pessoa seriasuficiente? E quem estabeleceu esse

    critério? Não fica claro, nessa teoria, sehá uma quantidade mínima requeridade pessoas perfeitas.

    Segundo Andreasen, Deus teriaque apresentar “um homem que tenhaguardado a lei, e sua causa está ganha.Na ausência de tal caso, Deus perde eSatanás ganha. O resultado depende,portanto, de um ou mais seres queguardem os mandamentos divinos”(O Ritual do Santuário, p. 255). Logoapós estabelecer esse critério mínimo, o

    autor passa a apresentar a última gera-ção como a definitiva resposta de Deus.

    Por sua vez, Herbert Douglass fala queé preciso “uma parcela significativa”do povo remanescente (The End , p. 73).Não é fácil descobrir a origem bíblicade tais critérios, que parecem ter sidoarbitrariamente estabelecidos.

    VINDICAÇÃO DE CRISTOEm lugar de uma última geração de san-tos, Ellen White identifica várias vezesCristo como aquele que já vindicou ocaráter e a lei de Deus. Segundo ela, “por

    sua vida e morte, provou Cristo que a

    justiça divina não destrói a misericórdia,mas que o pecado pode ser perdoado, eque a lei é justa, sendo possível obedecer-

    lhe perfeitamente. As acusações deSatanás foram refutadas” (O Desejadode Todas as Nações, p. 540, 541).

     Jesus veio patentear o engano sa-tânico, dar exemplo de obediência eprovar ser possível obedecer à lei deDeus. “Por meio da obra redentorade Cristo, o governo de Deus fica jus-tificado. [...] As acusações de Satanássão refutadas, e revelado seu caráter”(ibid., p. 12-14).

    Cristo veio à Terra para “considerara lei de Deus como devia ser conside-rada” e “reivindicar o caráter de Deus

    perante o Universo” (Patriarcas e Pro- fetas, p. 68). A morte de Cristo provouque o governo de Deus não tem máculanenhuma. “A acusação de Satanás emrelação aos conflitantes atributos dejustiça e misericórdia foi para sempreresolvida de uma vez por todas” (Ma-nuscrito 128, 1897).

    Diante disso, qual seria a necessi-dade de se enfatizar a existência deuma última geração perfeita e obe-diente para refutar o que já foi refutadoe provar o que já foi provado? Jesus é agrande demonstração de obediência.

    Ele já provou que Satanás está erradoem suas acusações.

    Deus também é vindicado e honradoatravés de seu povo, mas a fidelidade daigreja é um argumento a mais, e não oúnico ou o mais importante. A perfeiçãode seu povo é (já no presente) o “suple-mento de sua glória, sendo ele mesmoo grande centro” (O Desejado de Todasas Nações, p. 482).

    Deus não é refém da igreja, nemdependente dela. No término da mis-são, anjos desempenharão um grandepapel (Eventos Finais, p. 207). No fim,

    Deus será vindicado por sua própriainiciativa. Ele mesmo vai “intervir ereivindicar sua honra” (Testemunhos

    Para a Igreja, vol. 5, p. 208).Alguns autores ensinam que a cruz

    não teria respondido todas as perguntas

    do Universo a respeito da lei de Deus.Mas Ellen White apresenta a vida e amorte de Cristo como “o argumentoconvincente e eterno” (Manuscrito58, 1897), o “inexplicável argumento”

    A cruz, onde “a justiça e a paz se beijaram”,

    silencia todas as acusações contra Deus