A Producao Do Lazer Para a Metropole

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  • 7/25/2019 A Producao Do Lazer Para a Metropole

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    www.mercator.ufc.br DOI: 10.4215/RM2015.1404.0009

    Mercator, Fortaleza, v. 14, n. 4, Nmero Especial, p. 123-136, dez. 2015.

    ISSN 1984-2201 2002, Universidade Federal do Cear. Todos os direitos reservados.

    A PRODUO DO LAZER PARA A METRPOLEE OS CONDOMNIOS DE CHCARAS

    the production of leisure for metropoles and country house condominiums

    Tadeu Alencar Arrais *

    Resumo

    Os estudos sobre os ambientes metropolitanos tradicionalmente versavam sobre os arranjos institucionais,as dinmicas de mobilidade/centralidade e os deslocamentos da populao de baixa renda para a franjametropolitana. Essas perspectivas de anlise associavam-se ao reconhecimento do crescimento das metr-poles e seu transbordamento para a periferia, o que atribuiu centralidade preocupao com a produo doespao. A discusso sobre o lazer, por sua vez, ganhou destaque com a modernidade, no que se convencionouchamar lazer de massa. O lazer comeou a ser compreendido, nessa concepo, a partir da relao com otrabalho, motivo pelo qual sua genealogia remonta Europa urbana e industrial do sculo XIX. Surgem, apartir dessas aproximaes, duas proposies que permitem reconhecer a simbiose entre metrpole e lazer.A primeira a de que a urbanizao, associada evoluo dos meios de transporte, aumentou a demandapela produo de espaos de lazer. A segunda a de que as atividades de lazer exigiram arquiteturas fun-

    cionais para servir, especialmente, aos interesses dos grupos abastados. Ao mirar a anlise na produo doespao, enxergamos o lazer como atividade programada pelos atores ligados ao mercado imobilirio, quese aproveitam dos estoques de terra fora do polo metropolitano para implantar condomnios de chcaraspara segunda residncia.

    Palavras-chave: Metrpole; Lazer; Condomnios de chcaras

    Abstract

    Studies on metropolitan environments have traditionally focused on institutional arrangements, on mobility/centrality dynamics, and on the commutes of the lower classes to metropolitan fringes. These analyticalperspectives stem from acknowledging the growth of metropoles and their suburban sprawl, factors whichmade the concern over the production of space a central topic of debate. Discussing leisure, in turn, gainedrenown with the advent of modern times, being commonly referred to as mass leisure. From this perspec-tive, leisure began to be viewed in its relationship to work, which is why its origins can be traced back tonineteenth-century urban and industrial Europe. Two propositions stemming from this relationship make it

    possible to endorse the metropolis and leisure symbiosis. The rst is that urbanization, combined with theevolution of transportation, increased the demand for leisure spaces. The second is that leisure activitiesrequired functional architectures that mainly served the interests of wealthy groups. By focusing on theproduction of space, this paper regards leisure as an activity programmed by real estate actors, who takeadvantage of land stocks available outside metropolitan centres to establish country house condominiumsas second homes.

    Key words: Metropolis, Leisure, Country House Condominiums

    Resumen

    Los estudios sobre los entornos metropolitanos, tradicionalmente, han versado sobre los arreglos institu-cionales, las dinmicas de movilidad/centralidad y los movimientos de la poblacin de bajo ingreso para laperiferia metropolitana. Estas perspectivas de anlisis se asociaron con el reconocimiento del crecimiento dela metrpoli y su propagacin a la periferia, lo que se convierte en una preocupacin con la produccin delespacio central. Ya la discusin sobre el ocio gan centralidad a travs de la modernidad, que es convencio-

    nalmente lhamado ocio de masa. El ocio comienza a ser entendido, en esta concepcin, por medio de surelacin con el trabajo, por lo que su genealoga se encuentra en la Europa urbana y industrial del siglo XIX.Surgen, a travs de estos enfoques, dos propuestas para el reconocimiento de la simbiosis entre la metrpoliy el ocio. La primera es que la urbanizacin, junto con la evolucin del transporte, he aumentado la demandade produccin de espacios de ocio. La segunda es que las actividades de ocio se requieren arquitecturasfuncionales que sirven, sobre todo los intereses de los grupos ricos. Al mirar el anlisis en la produccin delespacio, vemos el ocio como una actividad programada por los actores vinculados al mercado inmobiliarioque se aprovechan de las areas fuera del polo metropolitano para la implantacin de condomnios cerradosde chacras para segunda residencia.

    Palabras clave: Metrpoli, Ocio, Condominio cerrado de Chacras.

    (*) Prof. Dr. da Universidade Federal de Gois, Bolsista Produtividade do CNPq - Conjunto Itatiaia, CEP: 74630040, Goinia,(GO), Brasil. Tel: (+55 62) 5211170 - [email protected]

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    INTRODUO

    Metrpole e metropolizao so termos ans, mas no equivalentes. Por isso, no comumfalar nesta sem remeter quela. Metropolizao denota, quase sempre, a presena de uma estruturahierrquica, isto , o protagonismo da metrpole que exerce fora centrpeta em relao s reascircundantes. O destaque econmico traduzido pela centralidade da indstria ou das atividadestercirias. A metrpole tambm concentra funes de ordem poltico-administrativa. Essas duascaractersticas determinam a relao com os entornos imediatos, o que torna esses espaos com-

    plementares para a expanso da indstria e do mercado de habitao, alm de estoque de mo deobra. O conceito de metropolizao, consequentemente, remete a esses espaos de desencaixe entreas fronteiras institucionais e o movimento das foras econmicas e sociais.

    O interesse em denir ou mesmo classicar a metrpole no novo. Os estudos clssicossobre ecologia urbana, por exemplo, j manifestavam essa preocupao. Pode-se dizer que a aten-o maior voltou-se para os polos metropolitanos e, em um segundo momento, para as relaes decomplementaridade com a periferia metropolitana.

    Ainda persistem, no entanto, muitos desaos para a anlise da metropolizao contempor-nea, especialmente em relao ao reconhecimento dos diferentes padres espaciais metropolitanos,

    o que nos distancia da narrativa da subordinao dos espaos perifricos que hoje so, cada vezmais, complementares. Lencione (2013) destaca, entre outras questes, que a anlise do mercadode terras no processo de metropolizao possibilita compreender o padro territorial disperso. Esseargumento interessante, pois a anlise dos padres espaciais permite estabelecer as diferenasentre metrpole e metropolizao. O padro espacial imposto pelo processo de metropolizao ,de certo modo, a traduo do processo de integrao do mercado de terras, especialmente nos mu-nicpios metropolitanos, determinado pelas diferentes demandas econmicas e sociais da metrpole.O maior exemplo a fragmentao do espao urbano e/ou rural desses municpios, marcado peladescontinuidade e pela presena de enclaves.

    Esses enclaves so caracterizados pela localizao das indstrias e dos assentamentos para

    a populao de baixa renda e por um conjunto de atividades de lazer, como estabelecimentos depesque-pague, hotis-fazendas, retiros para locao de festas e, o que nos concerne aqui, condom-nios de chcaras. Tal padro territorial descontnuo operado a partir da metrpole, bastando paraisso vericar a forma de organizao do sistema virio em contraposio valorizao imobiliriadiferencial no espao metropolitano. por isso que a relao de complementaridade sempre hie-rrquica, pois a metrpole concentra e dispersa os excedentes de capital. A anlise de Harvey (1980,

    p. 204) pertinente: As cidades so formas criadas e produzidas para mobilizao, extrao econcentrao geogrca de quantidades signicativas de produto excedente socialmente denido.

    Harvey (1980) argumenta que existem, nas cidades, condies favorveis para a acumulaodo excedente, dentre elas a concentrao populacional, a fcil comunicao, a alta produtividade

    etc. O excedente drenado, reinvestido, no setor produtivo, no mercado nanceiro e no mercadoimobilirio (circuito imobilirio e/ou circuito fundirio) com o to de auferir renda ou mesmo for-mar poupana. A terra, nas franjas metropolitanas, transforma-se em fator de acumulao para osatores do mercado imobilirio assentados na metrpole. A premissa de que a circulao do capitaltambm implica movimento espacial (Harvey, 2011) ilustra, concretamente, essa drenagem de renda.

    As condies favorveis citadas pelo autor criam, continuamente, uma demanda por espaopara diversas atividades, dentre as quais o lazer. O limite espacial, articial, na metrpole faz daoferta de espao, que outrora respondeu pela expanso da indstria, por exemplo, um fator decisivo

    para novas formas de moradia associadas ao lazer. Mas isso no ocorre de forma aleatria, poisa localizao dessas reas obedece a alguns predicados, como a disposio de extensas glebas deterras rurais baratas e de rodovias que permitem ligao a determinadas fraes da metrpole. As

    demais amenidades, a exemplo de cobertura vegetal e gua, so criadas com facilidade pelo urba-

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    nismo empreendedor. A produo desses espaos, como argumentaremos adiante, responde por umconjunto de atividades de lazer relacionadas com a metrpole.

    SEGUNDA RESIDNCIA E PRODUO DE ESPAOS DE LAZER

    Espaos de lazer produzidos na metrpole ou para a metrpole? Se entendermos que produo,

    para alm do campo material, envolve um conjunto de representaes, ento podemos dizer queambas as concepes esto corretas. Na metrpole so criadas, estimuladas e reproduzidas repre-sentaes negativas que resultam no surgimento de necessidades associadas ao lazer privativo, asquais demandam espaos com segurana e abundncia de natureza. Esses espaos arquitetnicos,chamados de condomnios de chcaras, atendem a demanda da metrpole, ou seja, existem para ametrpole.

    O vnculo do lazer com a cidade no novo. Isso no signica que o lazer tenha surgido a partirda cidade, mas apenas que, em diferentes perodos histricos, especialmente com a emergncia dascidades industriais europeias, ele foi fortemente inuenciado pelas demandas da urbanizao, como

    pode ser vericado em Urry (2001). O lazer, para alm da voluntariedade e da disposio de tempolivre, resulta de um conjunto de mediaes culturais que demandaram a construo de espaosespeccos para sua realizao. Insere-se, portanto, em um mundo marcado pela fragmentao dotempo e do espao. Como prtica cultural, associa-se, de modo diferencial, a cada momento histrico.Como prtica espacial, funcionaliza e cria, em cada momento histrico, espaos que ambicionamoferecer uma experincia singular. Foi assim com as vilas romanas e os balnerios europeus em

    praias e montanhas, e assim com os resorts tropicais contemporneos.Em um primeiro momento, oportuno assinalar que o lazer exigiu estruturas espaciais que

    envolvessem a produo de espao. Essa anlise, por um lado, afasta dele o status de mera decisoindividual, e, por outro, o situa historicamente, retirando sua centralidade da modernidade e de suaoposio ao trabalho. Em seu clssico trabalho, Dumazedier (2008) localiza o nascimento do lazera partir da Revoluo Industrial. Segundo o autor, ele no a ociosidade, no suprime o trabalho;

    o pressupe. Corresponde a uma liberao peridica do trabalho no m do dia, da semana, do anoou da vida de trabalho (Dumazedier, 2008, p. 28).

    Essa compreenso natural, uma vez que ocorreu no mbito das anlises sobre a modernidade;para utilizar a expresso de Arendt (2014, p. 5), trata-se de uma gloricao terica do trabalho.Essa gloricao teve o tempo como noo central e a metrpole como lugar do trabalho fabril.A fbrica apresentava-se como local da disciplinarizao dos corpos a partir de uma espcie deeconomia do tempo. Thompson (1998, p. 272) salienta, citando o ambiente londrino, que o tempo agora moeda: ningum passa o tempo, e sim o gasta.

    A disciplinarizao do tempo exigiu a presena de estruturas espaciais no interior da fbrica eda cidade e nas regies circundantes. Minas, fbricas, cortios e a estrada de ferro, como demonstra

    Mumford (1998), foram agentes de transformao da nova cidade que impuseram uma experinciatemporal e espacial indita. Os ganhos de tempo, resultado das histricas lutas pela diminuio dajornada de trabalho, o direito ao descanso semanal, a poltica de frias, revelam-se ganhos urbanosque demandaram a construo de espaos programados de lazer. Rybczynski (2000) avalia que anova estrutura de tempo afeta tanto o quando quanto o como descansamos. Alm disso, ela afetouo onde descansamos.

    Lefebvre (2006) ensina que, ao decifrarmos o espao, compreendemos a prtica espacial deuma sociedade. O autor expe como o Mar Mediterrneo atendeu as demandas por lazer da Europaindustrial a partir da manipulao do espao. O veraneio martimo, nesse perodo, respondeu busca

    por novas formas de sociabilidade e de prazer. O territrio vazio (mar), marcado ora pelo medo orapelo curismo (Corbin, 1989), foi refuncionalizado para receber, de tempos em tempos, uma massade entusiastas pelo sol e pelos banhos de mar que fugiam tanto do smog quanto do spleen. A cidade

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    , sem dvida, a principal origem dessa massa aparentemente homognea que periodicamente pro-cura os campos, os balnerios, as praias, as montanhas, os campings, para gastar seu tempo livre.

    O conceito de segunda residncia, como espao privativo e formalmente distinto do lar principal,denota um lugar onde, por excelncia, gasta-se o tempo livre e que expressa a condio privilegiadade renda dos proprietrios. A segunda residncia tema de estudo em vrios pases, como reve-lam os trabalhos de Aledo Tur (2008), Contreras (2010) e Hiernaux (2005). No Brasil, os estudos

    de Dantas (2009, 2011), Assis (2012), Fonseca (2012) e Arrais (2013) evidenciam esse processo.Em termos conceituais, alguns autores como Tulik (2001) consideram a segunda residnciacomo um tipo de alojamento turstico. Se esta for compreendida como turismo residencial, entoo proprietrio pode receber a denominao de turista, independentemente do contexto espacial oudo raio de deslocamento. Fonseca e Lima (2012) expem com clareza as diferenas entre o turistae o usurio da segunda residncia, destacando os vnculos afetivos, a situao de vizinhana e asociabilidade como fatores que os distinguem.

    No Brasil, as pesquisas que versam sobre a segunda residncia apresentam em comum a uti-lizao de dados do Instituto Brasileiro de Geograa e Estatstica IBGE (2011), que dene essetipo de domiclio como uma moradia ocasional, para ns de semana ou frias. Em 2010, existiam3.932.990 domiclios de uso ocasional no Brasil (Instituto Brasileiro de Geograa e Estatstica,2010), o que correspondia a 5,82% do total de domiclios. Nas reas litorneas que se encontramas maiores concentraes, em razo, fundamentalmente, da vilegiatura martima. Mas o fenmeno registrado tambm na hinterlndia brasileira.

    So dois os fatores que explicam o padro de disperso espacial da segunda residncia no Brasil.O primeiro refere-se s condies ambientais dos stios municipais. As reas com presena de gua,sejam associadas a praias, margens de rios ou represas, registram elevados percentuais de segundaresidncia. Os casos de Porto Rico (PR), s margens do rio Paran, e de Ibina (SP), s margens darepresa de Itupararanga, exemplicam esses processo. Em 2010, 26% e 27% dos domiclios foramregistrados como de uso ocasional nos dois municpios, respectivamente. O carter cnico do re-levo, especialmente nas regies serranas, tambm explica os elevados percentuais de participao

    da segunda residncia no total dos domiclios. Os municpios uminenses de Terespolis e Petr-polis encaixam-se nesse exemplo. Os dois somaram 20.606 domiclios de uso ocasional em 2010.Trata-se, como demonstra Dias (2013), de reas tradicionais de veraneio desde o perodo imperial.

    O segundo fator que explica a incidncia de segundas residncias a proximidade entre grandescentros urbanos e rodovias que facilitam o acesso rpido, uma vez que os deslocamentos ocorrem,em especial, nos nais de semana. H, portanto, uma rea indutora, densamente povoada e commaior renda mdia domiciliar, e uma rea receptora, menos povoada e com menor renda mdiadomiciliar. notrio que o rendimento mdio mensal das pessoas de 10 anos de idade ou mais(com rendimento), nas capitais metropolitanas, sempre superior renda dos municpios com maiorconcentrao de segunda residncia no mesmo arranjo metropolitano. Na Regio Metropolitana

    de Vitria, a diferena entre a renda da capital e dos municpios com maior proporo relativa desegunda residncia chega a 2,17 em favor do polo metropolitano. Na Regio Metropolitana do Re-cife, o rendimento mdio mensal da capital 3,03 vezes maior que aquele registrado nos municpioscom maior concentrao de domiclios de segunda residncia (Arrais, 2014).

    As 39 regies metropolitanas do Brasil concentravam, em 2010, 1.402.388 domiclios de usoocasional, o que correspondeu a 35,6% do total registrado no pas (Instituto Brasileiro de Geogra-a e Estatstica, 2010). Esse dado, apesar de signicativo, no corrobora a hiptese desenvolvida,

    pois deixa de revelar o local de residncia dos proprietrios. Encontramos em Tulik (2001), Macari(2009), Dantas (2011), Batista (2012) e Lima (2014), entre outros autores, referncias esparsassobre a relao entre posse da propriedade e sua centralizao nas metrpoles e/ou cidades mdias.

    O controle imobilirio da segunda residncia ocorre em quatro escalas. A primeira intramu-nicipal, demonstrada pelo deslocamento de proprietrios para chcaras na zona rural do prpriomunicpio. At mesmo as capitais ainda possuem estoques de reas rurais usadas como propriedades

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    para lazer. Em So Paulo, por exemplo, aproximadamente 14% do territrio composto por reasrurais (Sistema Ambiental Paulista, 2014). A segunda escala intrametropolitana, com propriedadeslocalizadas em um raio que pode ultrapassar 60 km a partir do polo metropolitano. O deslocamento

    para Rancho Queimado, na Regio Metropolitana de Florianpolis, enquadra-se nesse exemplo.Em 2010, 31% dos domiclios desse municpio foram classicados pelo IBGE como de uso oca-sional. A terceira escala regional-estadual, resultante de um raio de deslocamento mais amplo.

    Nesse exemplo enquadram-se os deslocamentos de paulistanos para condomnios localizados emJoanpolis (SP), na regio da represa Jaguari, que dista 108 km da capital paulista. Tambm pode-mos citar Icapu, a 120 km de Fortaleza (CE), ou Xangri-L, a 131 km de Porto Alegre. Segundoo IBGE, 71% de domiclios desse ltimo municpio eram de uso ocasional em 2010. Por m, aquarta escala internacional, que ocorre de forma mais expressiva nos espaos litorneos. A possede propriedades de segunda residncia pelos europeus merece destaque, muito embora o mercadoseja bastante sensvel s crises econmicas.

    CONDOMNIOS DE CHCARAS E A BUSCA DA NATUREZA PERDIDA

    Os condomnios de chcaras e/ou de stios de lazer so caracterizados por extensas reas com

    permetro cercado localizadas em municpios metropolitanos e fragmentadas em lotes, denominadoschcaras e/ou stios, que ultrapassam os tradicionais gabaritos urbanos. So espaos privativos delazer em reas rurais ou reas urbanas descontnuas com predomnio da segunda residncia. So,

    portanto, pouco povoados. A terminologia chcara e/ou stio, muito embora distinta em termosde rea, das relaes de trabalho e do sistema de produo dos tradicionais stios e/ou chcaras,especialmente no Centro-Oeste brasileiro, frequentemente estimulada pelo mercado imobilirioe aceita, sem nenhum tipo de reticncia, pelos proprietrios dos lotes nos condomnios fechados.Antes de aprofundarmos a hiptese de que a expanso desse tipo de assentamento urbano atende ademanda da metrpole por lazer, pertinente assinalar duas questes.

    A primeira questo refere-se legalidade dos condomnios localizados em reas rurais. su-

    ciente, para os propsitos desta reexo, apontar que parte signicativa desses condomnios estem situao fundiria irregular, ou seja, vrias de suas chcaras no tm escriturao. Levando-seem considerao a Lei n 6.766, de 19 de dezembro de 1979 (Brasil, 1979), que dispe sobre o

    parcelamento do solo urbano, a prpria denio de condomnio fechado, mesmo em reas urbanas, passvel de discusso, como assinalam Souza (2008) e Rua (2013). J o parcelamento das reasrurais regulamentado pela Lei n 4.504, de 30 de novembro de 1964 (Brasil, 1964), e pela Lei n5.868, de 12 de dezembro de 1972 (Brasil, 1972). O texto de 1964 dene imvel rural, no Artigo4, com base na presena de explorao extrativista agrcola, pecuria ou agroindustrial, estandolocalizado em reas urbanas ou rurais. O Artigo 65 salienta que o imvel rural no divisvelem reas de dimenso inferior constitutiva do mdulo de propriedade rural. Existe, portanto,

    normatizao para o fracionamento das propriedades rurais a partir do que o Instituto Nacionalde Colonizao e Reforma Agrria (Incra) denominou Frao Mnima de Parcelamento (FMP),que corresponde ao mdulo de explorao hortifrutigranjeira (Instituto Nacional de Colonizaoe Reforma Agrria, 2014). Nos municpios da Regio Metropolitana de Goinia (RMG), a FMP de dois hectares (Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria, 2014), rea equivalente avinte mil metros quadrados. Essa denio coloca a maior parte dos condomnios de chcaras emsituao irregular, o que no deixa de ser funcional para os proprietrios, uma vez que o ImpostoTerritorial Rural (ITR) continua incidindo sobre a totalidade da gleba rural parcelada. Em um doscondomnios analisados, localizado em Bela Vista de Gois e detentor de uma rea de 54 hectares,o ITR referente a 2014, segundo informaes do sndico, foi de 43 reais.

    A segunda questo diz respeito representao do rural estimulada pelo mercado imobilirio.

    O campo e a cidade, como nos ensina Williams (1989), sempre remeteram a um conjunto de atitudesemocionais contraditrias. O campo como forma natural, marcado pelas virtudes simples, e a

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    cidade como centro de realizaes formam representaes positivas desde a Antiguidade clssica.Por outro lado, como ainda destaca o autor, a mundanidade e ambio da cidade fez par com oatraso e a ignorncia associados ao campo. A denio de campo, portanto, se deu como nega-o da cidade. Tal representao ilustrativa, no sculo XIX, dos impactos das formas de produofabris e do regime de apropriao do tempo.

    A noo de tempo, bem como sua experincia, mudaram radicalmente, o que impacta nega-

    tivamente a populao egressa do campo. O desencaixe entre o tempo produtivo e disciplinar dafbrica e o tempo produtivo do campo, mediado pelas estaes, denidor das tenses polticas naInglaterra vitoriana, como pode ser vericado em Williams (1989) e Thompson (1998). Howard(2002) reconheceu essas tenses e condenou, ao mesmo tempo, a cidade e o campo, propondo aquiloque cou conhecido como cidade-jardim. Seu diagrama dos Trs Ims , ao mesmo tempo, a ne-gao completa da cidade e do campo e a reconstruo, romntica, de um novo mundo harmnico.Essa viso fundamental, uma vez que dela, pode-se dizer, brotou a ideia de subrbio. Esse ruralque agora aparece retrata uma imagem idealizada, como um ambiente sem conito, de naturezaintocada, onde se produz e reproduz a vida de forma singular.

    Muito embora existam estudos sobre a expanso dos condomnios de chcaras de segundaresidncia em ambientes metropolitanos, a exemplo de Macari (2009) e Lima (2014), salutarreconhecer que as pesquisas sobre essa temtica nos espaos litorneos, ainda que foquem domi-clios individuais, so hegemnicas. Macari (2009), em dissertao sobre o municpio de RanchoQueimado, na Regio Metropolitana de Florianpolis, constatou que 22 condomnios fechadosocupavam 5,05% do territrio municipal. Campos Jnior e Bergamim (2007) estimaram que oscondomnios de chcaras em quatro municpios da Regio Serrana do Esprito Santo ocupavamuma rea de aproximadamente cinco milhes de metros quadrados. Lima (2014) elaborou umacartograa da evoluo dos condomnios de chcaras na RMG, salientando as formas de atuaodos atores do mercado imobilirio. Em uma perspectiva distinta, mas admitindo a centralidade daquesto fundiria, analisaremos a presena dos condomnios de chcaras na RMG a partir de trs

    parmetros. O primeiro a posio, o que implica vericar a localizao em funo da centralidade.

    O segundo o urbanismo, o que exige dedicar espao para aspectos ligados segurana e urba-nizao. O terceiro o cotidiano, o que demanda considerar as formas de apropriao do espaoe os conitos resultantes dessa apropriao. A coleta e o mapeamento das informaes ocorreramentre o segundo semestre de 2014 e o primeiro semestre de 2015 e basearam-se em depoimentosde sndicos, funcionrios, corretores imobilirios e, em menor nmero, proprietrios. Em algunscondomnios foi possvel o acesso aos regimentos internos e s atas de reunies condominiais.

    O conceito de posio, primeiro parmetro de nossa anlise, est associado questo da cen-tralidade. Spsito e Ges (2013, p. 121) argumentam que a centralidade a relao entre espaoscom maior densidade de meios de consumo, coletivos ou individuais, e o que representam essesespaos em termos de valor histrico e simblico, bem como as possibilidades de se ter acesso a

    eles. A melhor centralidade aquela que possibilita o acesso dos proprietrios aos equipamentosde consumo localizados na metrpole, interferindo, com isso, no valor comercial das chcaras. Aassociao entre amplos estoques de reas rurais e o acesso s partes mais valorizadas do polo me-tropolitano, por meio de rodovias duplicadas, inuencia a oferta dos condomnios de chcaras. BelaVista de Gois e Hidrolndia so os municpios com maiores estoques de reas rurais, com 130.043hectares e 90.807 hectares, respectivamente (Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria,2010). Alm disso, os dois municpios tm acesso, via rodovias duplicadas (GO-020 e BR-153),s regies sul e sudeste de Goinia, justamente as mais valorizadas do ponto de vista imobilirio.Dos 39 condomnios pesquisados, dezoito esto localizados s margens dessas rodovias e/ou emreas de acesso a elas, ocupando aproximadamente 17.530.135 metros quadrados. A acessibilidade,denida como condio favorvel para acionar a centralidade da metrpole, explica tal posio,uma vez que os deslocamentos para lazer ocorrem, com mais frequncia, nos nais de semana, noapenas nas frias ou feriados prolongados.

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    Figura 1 - Localizao e rea dos condomnios de chcaras na RMG

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    Os condomnios mais extensos ocupam reas superiores a 1,8 milho de metros quadrados,como os condomnios Alto da Boa Vista (Senador Canedo), Encontro das guas e guas da Serra(ambos em Hidrolndia), com reas de 1,9, 2,9 e 4,1 milhes de metros quadrados, respectiva-mente. Aqueles com as menores reas foram Bela Vista (Santo Antnio de Gois), Dolce Vitta(Hidrolndia) e Nova Itlia (Nova Veneza), com aproximadamente noventa mil, 182 mil e 217 milmetros quadrados, respectivamente. A dimenso do empreendimento condiciona a oferta das reas

    internas. O mais extenso, o guas da Serra, tem seiscentos lotes, e o menos extenso, o Ribeiro dasCachoeiras, 37 lotes. Tal dimenso permite tambm a disposio de reas verdes, lagos e espaos derecreao, como campos de futebol, atributos que favorecem, teoricamente, o uso coletivo. Segundoinformaes dos memoriais descritivos, o condomnio guas da Serra dispe de aproximadamenteum milho de metros quadrados de reas verdes, e o Village Recanto da Mata, de 316 mil metrosquadrados de mata nativa.

    O urbanismo, segundo parmetro de nossa anlise, pressupe, como indica Lefebvre (2008),uma estratgia global de produo do espao. No por acaso que encontramos simetrias entre oscondomnios de chcaras e os condomnios urbanos. Esse urbanismo pode ser analisado em escalaexterna e interna. Na escala externa, o destaque para a segurana, demonstrada pelos muros de

    alvenaria, alambrados e um conjunto de dispositivos semelhantes aos descritos por Caldeira (2000).A morfologia externa revela que a segurana no um servio, mas um modo de urbanismo, umpredicado to importante quanto a natureza ou a qualidade de vida. A ideia de tranquilidade noest associada apropriao do ritmo do tempo rural, e sim possibilidade de segurana privativa.A segurana , pois, condio sine qua non para as atividades de lazer. A presena de rondas, cercasinternas nas chcaras, cachorros, alarmes etc. reproduz os sistemas de segurana comuns nos bairrosurbanos. Mesmo localizados em reas rurais e/ou reas de expanso urbanas descontnuas e pouco

    povoadas, esses condomnios traduzem uma arquitetura do medo, para lembrar Bauman (2009).A segurana, no obstante as pontuais ocorrncias de furtos e atos de vandalismo, sempre

    uma reivindicao constante nas reunies condominiais, como pode ser atestado na leitura das atasde reunies dos condomnios Portal do Cerrado, em Bela Vista de Gois, e Villa Verde, em Sena-dor Canedo. O vigilante de um condomnio localizado em Senador Canedo relatou a ocorrncia,no condomnio vizinho, de seis furtos e/ou tentativas de furtos em residncias. Identicamos certaconcorrncia que pode ser vericada nas informaes depreciativas fornecidas por funcionrios emrelao aos condomnios localizados nas mesmas regies. Investir em dispositivos de segurana(ronda noturna, sistema de comunicao a rdio, cerca eltrica etc.), entretanto, gera custos para ocondomnio, fator de frequentes reclamaes para os proprietrios de reas no edicadas. Dos 39condomnios pesquisados, 32 dispem de portaria 24 horas e dezenove contam com ronda interna

    peridica de motocicleta. A presena desses mecanismos de segurana tanto maior quanto maisocupado for o condomnio, o que resulta na reduo de custos para a contratao de empresasespecializadas.

    Figura 2 - Fachada externa dos condomnios Recanto di Veneza, em Nova

    Veneza, e Valle dos Lrios, em HidrolndiaFonte: Lima (2014).

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    Na escala interna, o urbanismo no apresenta novidades. O primeiro ato, ironicamente, quebrar os antigos usos rurais. Parte dos condomnios de chcaras situam-se em antigas reas de

    pastagem e, portanto, contam com pouca cobertura vegetal original. O urbanismo ocupa-se, assim,em criar espaos que simulem uma relao primria com a natureza, o que justica uma espciede investimento na toponmia, que remete a certa topolia (Tuan, 2000). Os nomes de dez dos 39condomnios de chcaras destacam a palavra gua ou vale: Vale dos Sonhos, Estncia das

    guas, gua das Serras, Valle dos Lrios, Ribeiro das Cachoeiras etc. Outros topnimos remetemaos nomes de antigas fazendas (Califrnia, Talism, Terra do Boi I e II etc.) ou, no caso daqueleslocalizados em Nova Veneza, colonizao italiana (Recanto Di Veneza, Nova Itlia e RecantoDi Itlia). Com a toponmia denida, o urbanismo mira a ordenao do espao, prometendo, parao investidor, cercamento do permetro, arruamento, redes de energia e de gua. Esses predicados,

    presentes na maior parte dos condomnios, so estreitamente associados ao lazer, uma vez que olazer no campo no pode abster-se das comodidades urbanas. Nesse ponto, h poucas diferenasem relao aos condomnios urbanos, exceo para o sistema de coleta de esgoto sanitrio e oescoamento uvial. A fossa sptica com sumidouro o sistema mais comum. J o escoamento

    pluvial, por meio de galerias, menos presente. Ocorre que o custo do sistema de galerias plu-

    viais, bem como do asfalto ou outro tipo de capeamento das ruas, maior que o investimento nasredes de energia e de gua. gua um elemento central no marketing comercial. Em 26 dos 39condomnios investigados, existem pequenos cursos ou represamentos dgua. A associao entrelazer e gua no passa de simulao do paisagismo, uma vez que essas reas so pouco utilizadascomo espaos de uso coletivo.

    Figura 3 - Condomnios guas da Serra, em Hidrolndia,e Villa Verde, em Senador CanedoFonte: Google Earth (set. 2014).

    O cotidiano, terceiro parmetro de nossa anlise, , sem dvida, a parte mais difcil neste tipode pesquisa, pois envolve a anlise das diferentes formas de apropriao dos espaos, o que exige,

    primeiramente, um esforo para categorizar os proprietrios. H trs modalidades de proprietriosna RMG: os que residem em Goinia e deslocam-se nos nais de semana; os que residem no pr-

    prio condomnio, mas trabalham em Goinia; os proprietrios de reas no edicadas. Lima (2014)estimou em 24% a taxa de ocupao dos condomnios de chcaras, o que indica, de partida, que solocais pouco povoados. Os condomnios com maior ocupao, seja segunda ou primeira residncia,so Alto da Boa Vista e Alta Vista, Encontro das guas, Vale das Cachoeiras, Portal do Cerradoe Recanto das guas. Muito embora os condomnios, no momento da comercializao, possamindicar os mesmos predicados urbansticos, h diferenas signicativas entre eles. As discrepnciasinternas, considerando-se o padro das edicaes, so menores que as de um condomnio paraoutro, especialmente no que tange centralidade. possvel reconhecer, em vrios condomnios,certa popularizao, denunciadas pelo tipo de edicao, pela precariedade das formas de controledo acesso e pelo valor monetrio das chcaras. Em um dos ltimos condomnios lanados na RMG,

    em Trindade, chamado Portal dos Ventos, identicamos um padro de construo das casas tpi-cas de loteamentos populares, muito embora a estratgia de marketing seja a de divulgar imagens

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    aprazveis do local, fato distante da realidade.O cotidiano do proprietrio de segunda residncia transcorre em um tempo (nal de semana)

    e em um espao (interior das chcaras) especcos, onde se desenvolvem as atividades de lazer. comum ver, na divulgao comercial dos condomnios em outdoors rodovirios, frases salientan-do uma representao idealizada do campo, sempre associada segurana: Chcaras desejadas

    por todos e reservadas para voc!, Diverso, conforto e segurana para voc e sua famlia, A

    tranquilidade do campo com tudo o que voc precisa, Lazer, descanso e contemplao. Umaresposta padro, quando perguntamos aos vrios corretores o que os condomnios ofereciam parao investidor, : tranquilidade e contato com a natureza. Esses atributos, ao que tudo indica, sodenidos como termos opostos experincia metropolitana. Ocorre que, ironicamente, o prprioordenamento de uso do solo imita as tradicionais regulaes urbanas. Trata-se do desejo de simularum espao rural a partir de uma realidade que nunca existiu, em qualquer que seja a latitude ou otempo histrico.

    A incurso no paisagismo interno das chcaras oferece pistas para a compreenso das atividadesdesenvolvidas nos nais de semana. A primeira questo o cercamento do permetro das chcaras,frequentemente feito com alambrados e/ou cercas vivas, conforme indica a Figura 4. No interior

    de cada rea privativa possvel reconhecer a presena de frutferas, jardins, hortalias, pequenoscultivos de milho ou mandioca e, em alguns casos, pequenas criaes (galinhas ou codornas). Area mdia das chcaras, com variao frequente de mil a cinco mil metros quadrados, impe limi-tes para a arborizao interna, especialmente quando se registra a presena de piscinas e edculas.So essas caractersticas que promovem na teoria o encontro com a natureza e o rural.As atividades desenvolvidas esto geralmente circunscritas a jardinagem, trato das hortalias (emmenor grau) e uma espcie de lazer receptivo, traduzido no acolhimento de parentes e amigos nosnais de semana. comum a referncia a um lugar para receber os amigos. Em um condomniolocalizado em Bela Vista de Gois, a proprietria relatou o costume de fazer pamonha para osamigos e parentes. Essas atividades so, em geral, desenvolvidas pelos proprietrios. Muito emboraa pesquisa no tenha estabelecido um perl scio-ocupacional dos proprietrios, possvel, a partirdas observaes feitas, destacar a presena majoritria de prossionais liberais e aposentados. Umaespcie de nostalgia, bem traduzida na opinio de um proprietrio de chcara em Terespolis deGois, residente em Braslia, que s espera a aposentadoria sair para se mudar denitivamente

    para o local.A baixa ocupao, no entanto, no signica que o cotidiano no seja permeado de conitos.

    As situaes mais frequentes, segundo relatos de sndicos e proprietrios, refere-se distino dosinteresses de proprietrios de residncias (segunda ou primeira) e de proprietrios de reas noedicadas. As propostas de rateio das despesas com investimentos xos geralmente so objeto dereclamao por parte dos proprietrios de lotes e/ou investidores. Fonseca e Lima (2012) expem adupla nalidade das reas de segunda residncia: servir como local de descanso/lazer e investimento

    rentvel, dada a presena de um mercado de locao. No caso dos condomnios de chcaras, noregistramos esse mercado, o que signica que a ideia de investimento rentvel deve ser relativi-zada. Um proprietrio de um condomnio localizado em Bela Vista de Gois relatou que adquiriusua chcara, de 1,5 mil metros quadrados, em junho de 2010, por 32 mil reais. Em abril de 2015,segundo sua avaliao, a chcara poderia ser comercializada por 62 mil reais. Uma valorizaoaparentemente formidvel. Contudo, necessrio contabilizar os custos com o condomnio, o queinclui a diviso das despesas de investimento. Nesse caso, em abril de 2015, o valor da taxa condo-minial era de 320 reais. fcil perceber, considerando-se o valor do condomnio desde o perodode aquisio, que o custeio da chcara comprometeu a aparente valorizao.

    Duas prticas, que ocorrem fundamentalmente nos nais de semana, so recorrentes na di-

    nmica de conitos cotidianos nos condomnios de chcaras. A primeira refere-se ao barulho asreclamaes sobre som automotivo so constantes em alguns condomnios. Muito embora no

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    haja um mercado de locao, frequente em alguns condomnios a cesso de uso das chcaraspara amigos e parentes em ocasies festivas. Essa situao gera conitos entre proprietrios desegunda residncia e de primeira residncia e mesmo entre os proprietrios de segunda residncia.Como o lazer mais frequente no ocorre nos espaos coletivos, difcil contornar problemas comsom automotivo e barulho. Tambm h queixas de alarmes, como relata um proprietrio de umcondomnio localizado em Bela Vista de Gois. Mesmo com os aparatos de segurana, as residn-

    cias so dotadas de cercas eltricas com alarme. Diante da presena de pssaros e roedores, fcilperceber como eles so acionados com frequncia. Em uma reunio de condminos, presenciamosuma reclamao curiosa em relao ao barulho provocado por um cortador de grama nos nais desemana. O proprietrio argumentou que no teria outro momento para podar a grama, atividadeque lhe dava prazer, a no ser nesses dias.

    Figura 4 - Aspectos do cercamento do permetro interno dos condomnios Portal do Cerrado,em Bela Vista de Gois, e Portal dos Ventos, em Trindade

    Foto: O autor (2015).

    A criao de animais outra prtica geradora de conito. Em dois condomnios vericamos apresena de pneis. A maior parte dos condomnios no probe animais domsticos nem pequenascriaes. Em um condomnio situado em Santo Antnio de Gois, o assunto tem gerado polmica,uma vez que, segundo alguns proprietrios, tal prtica fere a losoa ecolgica do condomnio.Ademais, como argumentaram em carta aberta aos associados, h o inconveniente do barulho e dascaminhadas. Esse assunto tambm foi tema de debate em um condomnio situado em Bela Vistade Gois. De fato, na maior parte dos condomnios, a criao de animais domsticos permitida.A tendncia que os conitos aumentem na mesma proporo em que os condomnios forem maisocupados.

    Em razo da natureza das atividades, que em pouco se diferenciam daquelas registradas nametrpole, possvel deduzir que, diferentemente da fuga to anunciada, os condomnios de chcarasoferecem, no mximo, uma aparente pausa do cotidiano. O contato com a natureza e a ambinciarural so, em muitos casos, simulaes que remetem negao da experincia urbana em sua ple-

    nitude, mas acabam por reforar as fobias to prprias do nosso modelo urbano. No h um idealcomunitrio, formador de uma possvel identidade, especialmente quando comparamos o jogo deinteresses entre proprietrios de primeira e de segunda residncia e proprietrios de chcaras noedicadas.

    CONSIDERAES FINAIS

    O padro de ocorrncia e expanso dos condomnios de chcaras potencializa os efeitos dafragmentao do espao nos municpios e comprova seu vnculo umbilical com os polos metro-

    politanos. A fragmentao espacial corresponde, de igual modo, estraticao de renda. O lazer,nesse processo, aparece como uma estratgia para o consumo do espao e, portanto, para a amplia-o dos lucros do mercado imobilirio, bastando para isso lembrar que j foram incorporados, namodalidade condomnios de chcaras de lazer, mais de trinta milhes de metros quadrados de rea

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    na RMG. Cinco pontos reforam essa compreenso:

    a) A produo desse tipo de assentamento urbano voltado para o lazer, dado o intenso processode incorporao de reas rurais, revela uma tendncia geral de atuao do mercado imobilirio.Tradicionalmente, a reproduo do espao nos ambientes metropolitanos foi compreendidacomo um sintoma da demanda por moradia popular ou pela expanso da atividade industrial.

    No contexto atual, diante dos limites da produo do espao assinalados por Harvey (1980),da deteriorao da qualidade de vida e da concentrao de renda na metrpole, os estoquesde rea dos municpios metropolitanos passam a ser acionados para atender a demanda dasegunda moradia para lazer, entendido como atividade individual vinculada s condies derenda e ao monoplio imobilirio.

    b) O lazer individual, como tendncia indiscutvel, s pode ocorrer em espaos privativos, oque exige um distanciamento articial da metrpole. A disseminao desse tipo de empreen-dimento coloca em risco a possibilidade do lazer como experincia pblica, construdo a partirda diversidade da cidade. O lazer de enclave, de espaos extensos e pouco povoados, reforaas caractersticas de uma sociedade intimista, nos moldes assinalados por Sennett (1998).

    c) Os efeitos econmicos da implementao dos condomnios de chcaras para os municpiosdevem ser objeto de anlise. notrio o pouco envolvimento dos proprietrios, tanto de pri-meira quanto de segunda residncia, com os entornos dos condomnios, o que resulta em baixoimpacto para a economia local, considerando-se o consumo de bens durveis e no durveis. interessante assinalar que a maior parte dos condomnios est localizada em reas de fcilacesso para os grandes atacadistas sediados em Goinia. No h um mercado de trabalhoconsolidado de caseiros, por exemplo, uma vez que a segurana ofertada pelos condomniosdispensa essa demanda. Para a gesto municipal, parte signicativa desses empreendimentos,

    por estarem em situao irregular, no passvel de cobrana do Imposto Predial TerritorialUrbano (IPTU).

    d) Os impactos ambientais devem ser avaliados, especialmente em relao gesto e ao aces-so aos recursos hdricos. recorrente a ampliao do nmero de condomnios fechados paralazer em reas prximas s represas, o que faz com que o uso do lazer, de certo modo, tambmconcorra com o abastecimento basta, para isso, vericar a localizao de muitos condomnioss margens das represas paulistanas.

    e) A disposio espacial dos condomnios de chcaras, incrustados em espaos rurais e/oureas de urbanizao descontnuas, reduz sua visibilidade, sendo compreendida, muitas vezes,como um processo pontual e pouco articulado com a metrpole. No entanto, esse modelo de

    produo do espao aparece plenamente vinculado ao mercado imobilirio metropolitano,

    seja porque ambiciona reproduzir padres urbansticos dos atuais condomnios fechados, sejaporque a comercializao e a posse imobiliria e fundiria esto centralizadas na metrpole.A noo de produo do espao, para alm da morfologia e assentada na relao de condio,meio e produto da reproduo social, como nos ensina Carlos (2011), nos ajuda a compreender,ao mesmo tempo, a globalidade e as consequncias locais desse fenmeno.

    Enm, os condomnios de chcaras, distantes de um ideal comunitrio, revelam que o foco nolazer resultado de um investimento do mercado imobilirio que promete oferecer uma experinciadiferencial de apropriao do tempo e do espao na periferia metropolitana. A promessa, no entanto,no se concretiza, em funo, principalmente, do fato de que a produo do lazer est circunscrita

    lgica de produo das metrpoles.

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    AGRADECIMENTOS

    Este artigo apresenta resultados nais de pesquisa nanciada pelo CNPq, Edital CinciasHumanas, Chamada 43/2013.

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    Trabalho enviado em dezembro de 2015Trabalho aceito em janeiro de 2016